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Page 1: Modulo IV Media

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Page 2: Modulo IV Media

Índice

1 SUMÁRIO ............................................................................................................................... 1

2 ENQUADRAMENTO GERAL .................................................................................................... 2

3 CARACTERÍSTICAS E LINGUAGEM NA RÁDIO ........................................................................ 3

3.1. Características ............................................................................................................... 3

3.2. Linguagem radiofónica .................................................................................................. 5

4 A REPORTAGEM RADIOFÓNICA............................................................................................. 6

5 “RADIOMORFOSE” ................................................................................................................ 7

6 PODCASTING E EDUCAÇÃO ................................................................................................... 9

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 12

Anexo 1 – A notícia e a entrevista na rádio................................................................................. 13

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1 SUMÁRIO

A rádio é um dos mais populares meios de comunicação social. Nascida no século

XX, a partir da criação da telefonia sem fios (TSF), a rádio suscitou, desde sempre, um

grande fascínio, o que tem sido atribuído ao caráter mágico da palavra transmitida no

éter.

A oralidade é uma das principais características da rádio, mas existem outras, como

o imediatismo, a instantaneidade, a invisibilidade, a sincronia e a irrepetibilidade. Ao

transmitir informação em tempo real e apenas com base no som, a rádio tem de usar

uma linguagem própria, distinta da linguagem de outros meios, privilegiando a

simplicidade e a clareza. As frases devem ser curtas, as expressões devem ser comuns

e o ritmo da locução não pode ser demasiado rápido nem demasiado lento, sob pena

de se “perder” o ouvinte.

Os géneros jornalísticos podem ser classificados como os de outros meios de

comunicação, sendo que a reportagem continua a ser considerada como o género

nobre.

Ao longo dos tempos, a rádio enfrentou vários desafios, que foi conseguindo

superar. Quando a televisão surgiu, vaticinou-se o fim da rádio. A verdade é que ela

continua bem viva, nos dias de hoje.

Com a evolução da tecnologia e o surgimento do multimédia, a rádio tem

procurado adaptar-se, numa espécie de “radiomorfose”, de modo a manter a sua

audiência, por regra bastante fiel, e a captar a atenção de uma nova geração, a dos

nativos digitais, que vive permanentemente na “rede”. A transposição da rádio para a

Internet e o consequente uso de outros formatos, incluindo a publicação de podcasts,

são uma realidade insofismável. A rádio deixa de ser síncrona e adapta-se a um público

que quer, cada vez mais, assumir o controlo sobre os conteúdos e que valoriza a

interatividade.

O podcast é a prova de que o áudio continua a apaixonar as pessoas, não sendo

substituível por outros formatos. A sua utilização nos mais diversos contextos,

incluindo na educação, indica que o som, além de ser um instrumento estruturante na

informação e no entretenimento, pode ser muito útil no ensino e na aprendizagem.

Palavras-chave: rádio, reportagem radiofónica, “radiomorfose”, podcast

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2 ENQUADRAMENTO GERAL

A rádio é um meio de comunicação com elevado alcance público. As características

da rádio tornam-na especialmente adequada para a transmissão da informação, tendo

condições de o fazer mais rapidamente do que qualquer outro meio.

Tradicionalmente, a rádio é considerada tecnicamente mais simples do que a

televisão e a imprensa, podendo transmitir imediata e instantaneamente todo o tipo

de mensagens, desde uma festa de bairro a uma conferência internacional, com baixos

custos de produção/emissão (e de receção) (Rodrigues, 1997).

As suas características, designadamente a oralidade, fazem com que a rádio esteja

particularmente próxima, física e emocionalmente, do ouvinte. Basta recordar que,

nos primórdios da rádio, a comunicação radiofónica, sem fios, era encarada como

mística e encantatória, tendo mesmo chegado a ser utilizada para tentar comunicar

com os mortos e com extraterrestres (Meditsch, 1999).

Foi percorrido um longo caminho, de mais de cem anos, até à atualidade, com

diferentes e constantes desafios que a rádio tem vindo a enfrentar e a superar.

As origens da rádio remontam ao século XIX, pela mão de Marconi, Fessenden e

Lee de Forest, entre outros. Alguns dos momentos decisivos foram a invenção da

telegrafia sem fios (TSF), por Marconi, em 1896, a emissão de espetáculos musicais em

finais da década, por Lee de Forest, e o surgimento de radioamadores. A partir da

Primeira Guerra Mundial (1914), a tecnologia que permitia a “apropriação” do éter foi

vedada aos civis e controlada pela marinha americana (Rosa, 2008).

Fatores económicos, tecnológicos e sociais fizeram, entretanto, com que a rádio

deixasse de ser vista como um instrumento destinado a assuntos ditos sérios e

passasse a ser encarada como um meio de comunicação em si mesmo (idem).

A rádio também teve uma profunda influência sobre a sociedade. Considera-se que

a rádio contribuiu para a uniformização social por chegar a um grupo indiferenciado de

pessoas através da compra de dispositivos de receção simples e baratos (idem). A

posição do emissor (com poder económico e acesso à inovação tecnológica, a quem

era atribuída uma licença) e do recetor eram fixas e irredutíveis.

Tradicionalmente, a rádio tem sido definida como um meio de comunicação

sonoro, invisível, síncrono, que emite em tempo real (Meditsch, 1999). Na rádio,

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3

emissão e receção dão-se em simultâneo, o que, para Meditsch (1999), é essencial na

caracterização da rádio. Segundo Reis (2009, p. 69), “a rádio é um meio efémero, fugaz,

volátil, imediato, instantâneo, irrepetível, de fluxo contínuo, um meio do presente com

linguagem no presente, o meio da informação do aqui e agora, do direto”. O conceito

de temporalidade está intrinsecamente ligado à própria definição de rádio.

Ao longo de cem anos de história, a rádio manteve-se, segundo Meneses (2012, p.

162), como “um conteúdo sonoro (palavra e/ou música) predeterminado por alguém

(a direção do programa ou o autor) para ser ouvido (através de difusão hertziana

terrestre ou outra, como o cabo, o satélite ou a Internet) por muitos”, em diferentes

suportes (telemóvel, placa de som do computador), de forma passiva, sendo “o fluxo

linear, irrepetível e não manipulável” (idem).

Neste manual, exploramos as características e a linguagem radiofónica, aspetos

que é importante ter em mente, quando se constrói uma reportagem para este meio.

Abordamos, ainda, a “radiomorfose” motivada pela emergência das novas tecnologias

da comunicação. Por fim, damos destaque ao podcasting, o qual poderá ser útil em

contexto de sala de aula.

3 CARACTERÍSTICAS E LINGUAGEM NA RÁDIO

3.1. Características

A rádio enquanto meio de comunicação possui características próprias que a

distinguem dos outros meios. Algumas das principais características da rádio são a

oralidade (a palavra falada), a sensorialidade, a individualidade/intimidade, a

mobilidade, o baixo custo, o imediatismo e a instantaneidade.

A oralidade da rádio assenta no recurso ao som (o som continua a distinguir a rádio

dos outros média na Internet), mais especificamente, à voz, à palavra falada e aos

efeitos sonoros típicos do discurso oral. A sonoridade primordial das conversas em que

assentam as relações humanas, que precedem a aprendizagem da leitura e da escrita,

confere uma natural proximidade à rádio.

Por sensorialidade entenda-se a capacidade de construir e/ou evocar imagens na

mente do ouvinte a partir da palavra falada (Meditsch, 1999), além de outros

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elementos sonoros, como é o caso da música. Embora a rádio seja para ser ouvida por

um conjunto de indivíduos, a mensagem é apreendida individualmente, como algo

pessoal e íntimo.

A rádio ganha vantagem em relação a outros meios, sobretudo porque é portátil e

ubíqua, ou seja, porque pode ser levada para todo o lado (para dentro dos nossos

carros e de nossas casas).

A portabilidade e a ubiquidade da rádio tornam-na mais próxima de nós do que

qualquer outro meio, sobretudo com a progressiva miniaturização dos aparelhos ou

plataformas user-friendly (ou até pela “descorporização”, com a cloud radio 1 ),

possibilitando o multitasking, isto é, a realização de várias tarefas em simultâneo. Não

podemos ler um jornal ou ver televisão enquanto conduzimos o nosso carro ou

enquanto arrumamos a casa, mas podemos facilmente ouvir rádio e fazer estas

atividades ao mesmo tempo.

De facto, um estudo de 2010, conduzido pelo Observatório da Comunicação

(referido em Meneses, 2012), indica que mais de 80% dos ouvintes em Portugal

valorizam a rádio como companhia e que são bastante fiéis às estações da sua

preferência, sendo que o locutor é importante para essa fidelização.

Tendo em conta que, na rádio, a voz é uma matéria-prima essencial (o locutor tem

um papel importante na escolha da estação, segundo o mesmo estudo), ela deve ser

trabalhada para cumprir a sua função. Mas não basta dominar as técnicas de

respiração e de dicção para que a voz seja audível e percetível. A entoação é

fundamental. O locutor não deve ser um declamador, o que soaria ridículo, mas sim

alguém que, sabendo previamente o que vai ler, acentua as frases ou as

palavras-chave da mensagem e faz as pausas nos momentos corretos. As inflexões e

modulações da voz devem sinalizar o mais importante na informação. Do mesmo

modo, o ritmo não deve ser muito rápido nem muito lento, sob pena de causar

ansiedade no ouvinte ou, pelo contrário, de o fazer adormecer, respetivamente.

É certo que cada pessoa tem o seu modo de falar e que os estilos são pessoais e

intransmissíveis. De todo o modo, o ritmo deve ser vivo (e não monocórdico). O

1 Cloud Radio é um novo tipo de rádio que permite ouvir e gravar rádio na Internet. A Cloud (do inglês, com tradução para português como nuvem) permite o acesso a ficheiros e aplicações, por exemplo, em qualquer lugar, qualquer que seja a plataforma, sem necessidade de instalação de programas ou armazenamento de dados num disco rígido de um computador.

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ouvinte percebe se alguém está simplesmente a ler ou se está ciente daquilo que lê e a

importância do papel da locução para a compreensão correta da informação.

3.2. Linguagem radiofónica

O jornalismo radiofónico segue as mesmas regras da escrita jornalística, com as

necessárias adaptações ao meio de comunicação em concreto.

Como a rádio assenta no som, na palavra, a mensagem tem de ser transmitida de

um modo simples, claro, breve e direto. A linguagem é oral, coloquial e corrente, sem

abdicar do rigor, da correção e da exatidão.

O jornalista deve facilitar ao máximo a compreensão da mensagem por parte de

quem ouve, seja um iletrado ou um professor universitário (Santos, S.d), sabendo que

ela é efémera, irrepetível e que é percebida apenas através da audição.

No jornalismo radiofónico, a informação deve ser apresentada de forma a captar a

atenção do ouvinte desde a primeira à última frase. A informação mais importante é a

primeira a ser transmitida ao ouvinte.

No momento da redação de textos jornalísticos para rádio, é importante ter

especial atenção à chamada regra dos 3 Cês: claro, correto e conciso (Reis, 2009).

Assim, as frases devem ser curtas e a cada frase deve corresponder uma ideia. A

construção frásica tem de ser básica: sujeito, predicado e complementos (Herreros,

1995). Por exemplo, considera-se correta a frase “Incêndios são mais frequentes,

devido às alterações climáticas”, em vez de “Devido às alterações climáticas, são mais

frequentes os incêndios”.

Os verbos são usados no presente e na voz ativa, reforçando o imediatismo,

simultaneidade e instantaneidade da rádio (Herreros, 1995).

Quanto à estrutura, existem duas técnicas, a técnica de espiral e a lei da

redundância, apenas utilizadas na escrita para rádio, e que estão relacionadas com o

imediatismo da informação que existe neste meio. A técnica de espiral é uma técnica

que volta a referir, no fecho da peça jornalística, as informações essenciais. A lei da

redundância permite que a ideia central se mantenha ao longo da notícia, para facilitar

à audiência a retenção das informações fulcrais. É por esta razão que se repetem

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palavras-chave ao longo de toda a notícia. Desta forma, desenvolvem-se mecanismos

de memorização no ouvinte (Soengas, 1996; Reis, 2009).

4 A REPORTAGEM RADIOFÓNICA

A rádio adotou a classificação dos géneros jornalísticos da imprensa, o primeiro

meio de comunicação a surgir, distinguindo entre notícia, reportagem, entrevista,

artigo de opinião, editorial e crónica (ver parte II do manual do módulo II). Alguns

autores notam, contudo, que as especificidades da rádio (a sua oralidade e sonoridade)

obrigariam a uma classificação própria dos géneros jornalísticos neste meio (Reis,

2009).

Neste manual, abordamos, muito concretamente, as características principais da

reportagem radiofónica. As especificidades da notícia e da entrevista em rádio podem

ser consultadas no Anexo 1.

A reportagem é considerada, recorde-se, como o género nobre do jornalismo. A

rádio não é exceção. Se a notícia é, em todos os meios e por natureza, um texto breve,

sintético, onde se condensa a informação essencial, tal acontece particularmente na

rádio, onde a rapidez é apanágio. A reportagem, pelo contrário, requer tempo para ser

contada e ouvida, implica um ritmo diferente, uma predisposição para a escuta maior

e uma atenção totalmente distinta.

O que distingue a reportagem da notícia é, não apenas o caráter mais desenvolvido,

mas a técnica. A reportagem não tem de ter a mesma estrutura rígida prescrita para o

lead e para o corpo da notícia, vivendo muito mais da criatividade e do talento do

jornalista. O importante é que o jornalista dê logo uma ideia do tema que irá abordar e

cative a atenção, para que não haja a tentação de o ouvinte mudar de estação, seja

caracterizando o cenário de fundo, seja criando um tom de expectativa, seja

dirigindo-se diretamente ao leitor, independentemente do tema e do ângulo escolhido.

O interesse humano deve ser salientado, convocando os protagonistas, que falarão

em discurso direto, à presença do ouvinte. Essa é, no fundo, a grande vantagem da

rádio em relação a meios textuais: podermos conhecer a voz de quem tem uma

história para contar, o que permite uma identificação emocional.

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Na rádio, a reportagem, sobretudo, ganha muito com a adição de elementos

sonoros reais alusivos ao tema. Por exemplo, numa reportagem sobre erosão costeira,

poderão ser adicionados, na edição, sons do mar a bater nas rochas e ruídos típicos de

uma praia. Uma reportagem radiofónica sobre a importância da mitigação das causas

das alterações climáticas será beneficiada pela inclusão de sons de buzinas de

automóveis ou de ruídos típicos da indústria. Já uma reportagem sobre os efeitos das

alterações climáticas na agricultura pode ser “ilustrada” com um som associado a

atividades agrícolas e ao campo, como o de uma enxada a cavar a terra.

Estes sons que acompanham a reportagem são especialmente importantes como

pausas, ajudando o ouvinte a identificar elementos-chave e a recriar a narrativa por via

auditiva, enquanto apela a uma memória auditiva coletiva.

Igualmente importante, na reportagem radiofónica, é o último parágrafo, pois é

aquilo que “fica no ouvido”. Como tal, a forma como se conclui a reportagem deve ser

cuidadosamente preparada.

5 “RADIOMORFOSE”

A Internet trouxe novos desafios para a rádio, que aposta cada vez mais em

narrativas digitais, em que aos trechos de áudio se juntam o texto e a imagem, em

reportagens mais alargadas e aprofundadas2.

Na atualidade, a tecnologia multimédia e a Internet levam a que muitos autores

proponham uma reinvenção ou reconfiguração do conceito de rádio (Martinez-Costa,

2004), um hibridismo (Shaw, 2005), de modo a abarcar novas técnicas, como o

podcasting (ver o ponto 4.3 deste manual), on demand (interatividade e não

linearidade) e, mesmo, a incorporar outros formatos, como o vídeo.

Prata (2008) fala mesmo em “radiomorfose”, conceito que remete para o facto de

a rádio ter superado o advento da televisão, quando muitos vaticinavam a sua morte,

e que indica a capacidade de a rádio se adaptar, agora, à emergência das novas

tecnologias digitais e da web. O termo deriva da expressão “mediamorphosis”,

cunhada por Fidler (1997), retratando as mutações constantes nos meios de 2 Ver, por exemplo, a seguinte reportagem multimédia: http://rr.sapo.pt/o-meu-quintal-e-o-mar/default.html

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comunicação social que fazem despontar novos meios. No caso da rádio, dar-se-á uma

“radiomorfose”, uma evolução da rádio tradicional, hertziana, para uma nova rádio,

transhertziana, que resulta da evolução da própria tecnologia e da apropriação e

(re)invenção de outras linguagens, suportes e modos de relação e interação (Cardoso,

2013). A tabela 1 sistematiza as diferenças entre a rádio convencional e a “nova” rádio.

Tabela 1: Rádio convencional versus “nova” rádio.

Rádio convencional “Nova” rádio

- Baseada na emissão hertziana

- Emissão linear e não manipulável

- Som/palavra

- Emissão de massas: de um para muitos

- Broadcasting3

- Reduzida hipótese de interatividade

- Baseada na Internet

- Multilinear e personalizado

- Som, texto, foto, vídeo, etc.

- De muitos para um

- Narrowcasting4, “hipersegmentação”

- Elevada interatividade

Segundo Reis (2009, p. 69), a temporalidade foi a dimensão da rádio que mais

sofreu com “a entrada da rádio na rede”. “Da rádio tradicional auditiva, linear,

sequencial, instantânea e imediata passamos para uma rádio multimédia, multilinear,

multisequencial e com conteúdos permanentes” (Reis, 2009, p. 3).

A concorrência tem levado a rádio para novos territórios, designadamente para o

online. As empresas de rádio têm seguido novos modelos de negócio, num contexto

multimédia, havendo uma interpenetração de suportes que anteriormente eram

estanques.

Do mesmo modo que a rádio marca presença online, recorrendo à palavra escrita,

antes apanágio da imprensa, e recorrendo ao vídeo, antes exclusivo da televisão,

também a imprensa usa cada vez mais o áudio, a linguagem oral, nos websites e nas

redes sociais.

Na rádio tradicional, o som é o protagonista. Na Internet, é apenas um dos

componentes, deixando, assim, de ser o único elo entre a rádio e o ouvinte (Reis,

2009). O produto jornalístico final vai resultar da navegação e exploração que o

utilizador vai fazer da informação publicada.

3 Broadcasting, do inglês to broadcast (“transmitir”) ou radiodifusão é o processo pelo qual se transmite informação para um público indiferenciado. 4 Narrowcasting reporta-se ao broadcasting, mas tendo como alvo uma audiência restrita ou limitada.

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A individualização das audiências, a fragmentação de conteúdos, a possibilidade de

utilização de recursos multimédia, a procura de uma informação específica e a

necessidade de interatividade são vários fatores que mudaram e mudam a rádio, que

tem de se adaptar e adequar os seus conteúdos (Reis, 2009).

Até agora, a rádio tem demonstrado grande resiliência, mudando e moldando-se

ao mundo digital. Resta saber como irá adaptar-se, no futuro, às exigências dos

anunciantes e das novas audiências (caso dos nativos digitais), salientando as suas

mais-valias, como o alcance amplo, a ubiquidade, a instantaneidade, a eficácia, a

flexibilidade e a fidelidade dos ouvintes, num contexto de crescente personalização e

interatividade.

Tudo indica que a rádio continuará a fazer o seu caminho, mas não sozinha ou

isolada, antes migrando para outras plataformas, complementando conteúdos e

explorando as potencialidades da intercomunicabilidade.

Segundo Meditsch (1999), Bertold Brecht, contemporâneo dos primórdios da rádio,

defendia que esta seria, mais do que um meio de distribuição, um verdadeiro meio de

comunicação, capaz de emitir e de receber informações dos ouvintes. Esta utopia

afigura-se cada vez mais próxima da realidade.

6 PODCASTING E EDUCAÇÃO

Tradicionalmente, como vimos, uma das características da rádio é a emissão

síncrona (linear, única e irrepetível). Um ouvinte que queira parar a emissão e voltar

atrás, de modo a esclarecer melhor um determinado aspeto ou a ouvir novamente

uma notícia ou reportagem, simplesmente não pode fazê-lo. Pelo menos, não na rádio

antes da Internet. Depois do streaming5, que veio permitir que a emissão radiofónica

deixasse de ser apenas sincrónica, chegou o podcasting, permitindo controlar o modo

como se vê os conteúdos, sem gate keeping6.

5 Streaming é uma forma de distribuição de dados frequentemente utilizada para disseminar conteúdos multimédia através da Internet, sendo que os dados são apresentados ao utilizador ao mesmo tempo que são transmitidos pelo emissor. 6 Nos estudos dos média, o conceito de gate keeping refere-se ao processo de seleção do que é notícia/noticiável, com base em fatores objetivos e subjetivos inerentes aos jornalistas e às suas hierarquias.

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O podcasting é descrito como uma técnica de divulgação de arquivos digitais,

designadamente áudio, na Internet. Por podcast entende-se o próprio arquivo de

áudio. A palavra tem origem em outras duas: iPod, um dispositivo da Apple para áudio

digital, e broadcast, método de transmitir ou distribuir dados. O podcast é um ficheiro

alojado num servidor, a partir do qual pode ser acedido e descarregado. Alguns

consideram que o podcast, sendo híbrido (porque junta a rádio à Internet) e

possibilitando um fluxo de dados de áudio não sincrónico, é verdadeiramente

disruptivo.

Sem entrar na discussão sobre se o podcasting é rádio ou se é um novo média,

matéria sobre a qual as opiniões divergem, o importante é verificar que o podcast veio

provar, uma vez mais, o fascínio do ser humano pelo som enquanto base da

comunicação.

Atualmente, o podcast está a ser utilizado em diversos contextos, nomeadamente

o da rádio e o da informação jornalística e, é claro, o do entretenimento. Os factos de

não ser síncrono e de poder ser descarregado a qualquer momento facilitam o acesso.

Já não temos de estar dependentes dos horários de outros, para ouvir um conteúdo, e

podemos sempre “voltar atrás”, quando se justificar. A educação é um dos contextos

em que o podcast tem vindo a ser utilizado para ajudar no ensino e na aprendizagem

(Campbell, 2005). “Podcasting encoraja a transpor as fronteiras da sala de aula

tradicional, permitindo que estudantes e professores apresentem material

suplementar de uma forma conveniente” (Haworth & Hopkins, 2009, p. 19).

Em Portugal como noutros países, o ensino tem estado muito assente no texto

escrito. O podcast dá ao suporte de áudio algo que a rádio não proporcionava:

portabilidade, conveniência e escolha (Haworth & Hopkins, S.d.).

Depois de se ter negligenciado o papel do áudio no ensino, as instituições de

ensino têm, hoje, uma oportunidade única para aproveitar as potencialidades que o

podcast oferece, com impactos positivos na literacia, designadamente na literacia

científica (Haworth & Hopkins, 2009).

A proposta de estratégia de ensino “Antes mitigar do que remediar!”, presente

neste módulo, inclui um quadro que sintetiza as principais vantagens do uso do áudio

no ensino. Aconselhamos a consulta do mesmo para a exploração do tema.

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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Campbell, G. W. (2005). There's Something in the Air: Podcasting in education. Educause Review, 40(6), pp. 32-47. Acedido de: http://www.educause.edu/ero/article/theres-something-air-podcasting-education

Cardoso, G. (2013). A Sociedade dos Ecrãs. Lisboa: Edições Tinta da China.

Fidler, R. (1997). Mediamorphosis: Understanding New Media. Londres: Sage.

Haworth, M. & Hopkins, S. (S.d.). Radio Restated: Podcasting in Education. British Columbia: The University of British Columbia. Acedido de: http://blogs.ubc.ca/etec540sept09/files/2009/11/hopkins_haworth_etec540_majorproject.pdf

Haworth, M. & Hopkins, S. (2009). On the air: Educational Radio, its history and effect on literacy, and educational technology implementation. Acedido a 13 de abril, 2015, de: http://blogs.ubc.ca/etec540sept09/2009/10/28/on-the-air-educational-radio-its-history-and-effect-on-literacy-and-educational-technology-by-michael-haworth-stephanie-hopkins/

Herreros, M. (1995). Información Radiofónica. Mediación técnica, tratamiento y programación. Madrid: Editorial Síntesis.

Martinez-Costa, M. (2004). La Radio Digital en Europa: perspectivas y evolución. Quaderns del CAC, 18, pp. 3-12. Acedido de: http://www.cac.cat/pfw_files/cma/recerca/quaderns_cac/Q18mtinezcosta_ES.pdf

Meditsch, E. (1999). A Rádio na Era da Informação – Teoria e Técnica do Novo Radiojornalismo. Coimbra: Livraria Minerva Editora.

Meneses, J. (2012). Estudos sobre a Rádio. Passado, Presente e Futuro. Porto: Mais Leituras – editora.

Prata, N. (2008). Webrádio: Novos Gêneros, Novas Formas de Interação (Tese de Doutoramento). Faculdade de Letras da UFMG, Belo Horizonte. Acedido de: http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/AIRR-7DDJD8/nair_prata_tese.pdf?sequence=1

Rodrigues, A. (1997). As Técnicas da Comunicação e da Informação. Lisboa: Editorial Presença.

Reis, A. (2009). O Áudio no Jornalismo Radiofónico na Internet. Braga: Universidade do Minho.

Rosa, A. (2008). A Comunicação e o Fim das Instituições: Das Origens da Imprensa aos Novos Media. Lisboa: Edições Universitárias Lusófonas.

Santos, H. (S.d). Manual de Jornalismo de Rádio. Lisboa: Edição Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (Cenjor). Acedido de: http://opac.iefp.pt:8080/images/winlibimg.aspx?skey=&doc=73221&img=452

Shaw, H. (2005). The Digital Future of Radio: Broadcasters and Economics; Users and Content. European Communication Conference. Amsterdam, Nov 24-26. Acedido de: http://www.athenamedia.ie/admin/report_images/digital%20future%20of%20Radio%20Shaw%20-%20May%202006.doc.

Soengas, X. (1996). Os informativos na radio. Santiago de Compostela: Lea.

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Anexo 1 – A notícia e a entrevista na rádio

A notícia

Seguindo a distinção clássica, a notícia, considerada como “mãe de todos os

géneros” e “espinha dorsal do jornalismo” (Santos, S.d.), é o género de excelência para

comunicar rapidamente, ou mesmo em direto, todo e qualquer acontecimento. Neste

campo, a rádio apresenta uma clara vantagem relativamente à imprensa ou à televisão.

Embora a tecnologia tenha vindo a esbater algumas diferenças, a rádio continua a

ter uma posição privilegiada para dar notícias de última hora, em tempo real,

comparativamente com a televisão, cuja logística é mais pesada, ou com a imprensa,

que, por razões intrínsecas à sua própria natureza, é mais lenta a chegar ao seu público.

Existem várias tentativas de definir notícia. “Notícia é o homem que mordeu o cão”,

sintetizava Amus Cummings, nos anos 1940, no jornal New York Sun (Santos, S.d.). A

fórmula remete para os valores-notícia, isto é, para os fatores que o jornalista valoriza

quando tem de decidir aquilo de que fará notícia. Além, obviamente, da

atualidade/tempo e da novidade, também o inesperado e o controverso são alguns

dos valores-notícia que farão com que o jornalista olhe para um acontecimento como

noticiável ou não (ver parte II do manual do módulo II).

Mais importante do que discorrer sobre as diferentes definições de notícia é

perceber que todas as características deste género jornalístico, apresentadas na parte

II do manual do módulo II, se mantêm, evidentemente, na rádio. Aqui, porém, não será

tão fácil ao jornalista responder às seis perguntas essenciais (O quê?, Quem?, Quando?,

Onde?, Como?, Porquê?) logo no início da notícia. A rádio parece estar em

desvantagem, neste ponto. Se o jornalista tornar o lead demasiado complexo, o

ouvinte pode não conseguir entender de imediato e, ao contrário do que acontece

quando lê o jornal, não pode voltar atrás. O ritmo de escuta da rádio não é ditado pelo

ouvinte, o que pode dificultar a compreensão e assimilação da mensagem. Se o ritmo

for demasiado lento ou demasiado rápido, o ouvinte pode desinteressar-se e perder “o

fio à meada”. Para evitar que tal aconteça, uma das regras, na rádio, é que as frases

sejam curtas e que haja pausas para que o ouvinte descanse e apreenda o que lhe é

transmitido.

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Cabe, portanto, ao jornalista distribuir as respostas às tais seis questões da

maneira mais facilmente percetível para quem vai ouvir, “agarrando” a atenção desde

o início. O jornalista deve pensar sempre de que forma consegue atrair o ouvinte,

contando o essencial, logo no início, no lead, com o mínimo de palavras possível e

“empurrando” os chamados “narizes de cera”, os dados menos importantes, para o

final. Muitas notícias não são escutadas porque, justamente, começam com os “narizes

de cera”.

Apresentamos, de seguida, um exemplo da construção da notícia de forma correta

e outra da errada:

Correta: O Presidente da República pediu aos mais jovens para plantarem mais

árvores. O apelo surgiu nas comemorações do Dia Internacional da Floresta, que

decorreram no dia 21 de março, na Escola António Silva, em Silveirinha. Nas palavras

do responsável, as árvores são os nossos pulmões e ajudam a combater as alterações

climáticas. Os alunos desta escola participaram nas comemorações, no âmbito de um

projeto da Universidade da Noruega.

Errada: Os alunos da Escola António Silva, em Silveirinha, no âmbito de um projeto

da Universidade da Noruega, estão a desenvolver um trabalho que consiste em fazer

uma notícia. Por isso, estiveram a comemorar o Dia Internacional da Floresta, uma vez

que as árvores são importantes para o clima. Foi no dia 21 de março, pelas 10 da

manhã, e o Presidente da República esteve nas comemorações, dizendo que os jovens

têm de plantar mais árvores, porque são os nossos pulmões e ajudam a combater as

alterações climáticas.

Quando existem declarações, estas devem ser intercaladas com o texto do

jornalista. Assim, no exemplo acima, poderia haver declarações das autoridades ou dos

residentes na vila. As declarações, mesmo sendo curtas, são importantes para conferir

credibilidade à informação.

Em suma, a informação deve iniciar com uma frase de “lançamento”, que cative o

ouvinte, passando-se depois ao relato, onde, se possível, haverá declarações

intercaladas com a voz do jornalista. Em “rodapé”, informativo ou recuperativo,

poder-se-á informar ou recuperar o que foi dito anteriormente, sintetizando (Santos,

S.d.).

Page 17: Modulo IV Media

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Entrevista

Enquanto género jornalístico e, simultaneamente, método de recolha de

informação para todos os outros géneros, a entrevista tem a especificidade de

transmitir apenas a voz humana, remetendo-nos para um universo íntimo e pessoal.

A entrevista em direto, na rádio, comporta vários perigos para os quais o jornalista

terá de se precaver, estudando previamente o tema e não deixando que o

entrevistado tome o controlo. Como se diz na gíria jornalística, o jornalista não pode

ser um “pé de microfone”, isto é, não é um elemento passivo que serve apenas para

que o entrevistado transmita as suas ideias. Contudo, é fundamental avisar o

entrevistado sobre a decisão de transmitir a entrevista em direto, pois nada será dito

off the record. As declarações off the record são precisamente isso, declarações

prestadas com a condição de não serem gravadas e exibidas publicamente pelas fontes

(sobre as fontes de informação, ver o Anexo 1, da parte II do manual do módulo II).

Um género de entrevista muito comum na rádio chama-se vox pop e consiste na

recolha de vozes com informações e opiniões de transeuntes sobre um determinado

tema. Normalmente é vista como a “voz do povo”. É especialmente útil na rádio,

podendo conferir vivacidade e dinamismo a uma reportagem, mas não deve ser

apresentada como uma amostragem científica, pois não o é.

Quando não se transmite a informação em direto, a edição permitirá obviar

percalços. A edição é a fase da criação da peça jornalística em que o jornalista

seleciona, ordena e trata a informação que recolheu (incluindo declarações diretas, o

texto que escreveu, um vox pop, etc.) sobre determinado tema, de acordo com um

ângulo estabelecido, num tempo determinado.

Referências bibliográficas

Santos, H. (S.d). Manual de Jornalismo de Rádio. Lisboa: Edição Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (Cenjor). Acedido de: http://opac.iefp.pt:8080/images/winlibimg.aspx?skey=&doc=73221&img=452