modulo 4 - fundamentos politicos, sociais, historicos cos e culturais

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mdulo fundamentos PoLtICos, soCIaIs, HIstRICos, eConmICos e CuLtuRaIs

Professor MSc. Ademir Cavalheiro Leite Professora MSc. Dina Maria da Silva Professora MSc. Mrcia Rita Trindade Leite Malheiros Professora MSc. Vivina Dias Sol Queiroz

Unidade Didtica Formao Scio-Histrica do Brasil

apresentaoQueridos alunos e queridas alunas, estimveis colegas de trabalhos, com imensa satisfao que oferecemos um pouco de nosso conhecimento sobre a Formao Scio-Histrica do Brasil, com o firme propsito de mantermos um dilogo franco e aberto, pois no pretendemos ser as donas do saber histrico, mas dividirmos os sucessos e derrotas dessa temtica, com cada um(a) de vocs. Com essa inteno, fizemos a opo por uma histria, que considera cada pessoa inserida no seu contexto histrico. Descartamos as possibilidades de apresentar na nossa unidade didtica a tradicional histria dos heris, com demarcao do tempo e espao atravs dos reis, presidentes, governadores etc., em favor da histria dos povos. Colocamos acima de tudo, o nosso amor e dedicao pela histria dos oprimidos, dos diferentes, dos excludos, de uma maneira geral, na essencial Histria do Brasil. Assim, realizamos a escrita desse material dividindo a responsabilidade entre as professoras Dina Maria, Marcia Rita e Vivina D. S. Queiroz, sabendo da importncia de escolher um caminho, de selecionar contedos, de definir metodologias, procurando respeitar a histria de todas as pessoas. Desviaremos nosso olhar da rota de que a histria do Brasil, no passado, era apenas uma disciplina tediosa, na qual se responsabilizava em transmitir nomes e datas. E sem abrir mo do rigor cientfico, colocando como protagonista da Histria, a vida dos seres humanos em consonncia com a natureza, demarcando costumes e prticas sociais, embrenhando-se pelas questes econmicas, geogrficas, demogrficas e culturais de cada poca. Nessa perspectiva, apresentaremos em nossas aulas, a concepo da histria como processos, destacando na Histria do Brasil: a herana colonial e a constituio do Imprio brasileiro, a Repblica Velha e o colapso do Estado Novo. A industrializao, urbanizao e surgimento de novos sujeitos polticos. Contexto histrico do processo de insero dependente do Brasil no sistema capitalista mundial. A modernizao conservadora no ps-1964 e seu desfecho nos fins da dcada de 1970. Transio democrtica e neoliberalismo. Pretendemos com esta Unidade Didtica propiciar aos estudiosos da rea Social a reflexo sobre a importncia da Histria na evoluo e desenvolvimento da humanidade, bem como, na identificao de elementos sociais presentes nessa Histria. Durante as aulas vocs sero convidados a imprimirem suas reflexes, pois acreditamos que a histria deve ser escrita por todos(as). Um forte abrao! Professora MSc. Dina Maria da Silva Professora MSc. Mrcia Rita Trindade Leite Malheiros Professora MSc. Vivina Dias Sol Queiroz

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auLa 1 Histria: Definies, Concepes e Necessidades

auLa ____________________HIstRIa: defInIes, ConCePes e neCessIdadesContedo Explicaes da histria e suas contribuies para a construo da sociedade A Histria como cincia em construo Definies do termo

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Competncias e habilidades Perceber a histria enquanto trajetria humana, observando as contribuies desta rea de estudo para o desenvolvimento da vida em sociedade Compreender a formao scio-histrica do Brasil, a partir de sua prpria atuao social ancorada nas relaes entre memria particular e contexto histrico

Textos e atividades para auto-estudo disponibilizados no Portal PACHECO, Vavy Borges. O que histria. So Paulo: Brasiliense, 1995.

Durao2 h/a via satlite com o professor interativo 2 h/a presenciais com o professor local 6 h/a mnimo sugerido para auto-estudo

HISTRIA: DEFINIES, CONCEPES E NECESSIDADES

O mais importante para iniciar a discusso sobre Formao Scio-histrica do Brasil falar sobre a prpria Histria. Isso vai alm de apontar os significados e interpretaes, mas fundamentalmente, compreender a Histria como produo humana. Entendendo que esta histria preocupa-se com o estudo dos diferentes processos histricos, das relaes que os grupos humanos estabelecem entre si em diferentes tempos e espaos. Mas pode-se dizer que a Histria conjuga-se entre dois significados: Histria da vida real realidade histrica; e o co-

nhecimento histrico observao subjetiva, que definimos como Histria escrita. A Histria escrita est imbuda de representaes, de vises de mundo. Depende da posio poltica, filosfica, cultural, religiosa etc., assumida por cada historiador. Nesse caso, importante interrogar: esta Histria foi escrita por quem? Para quem? Assim, estamos diante da historicidade, situando o historiador no seu mundo e no seu tempo. importante compreender que nenhuma Histria pode estar desvinculada do seu contexto. Sob este prisma veremos a histria, sempre a partir do presente, possibilitando a compreenso da realidade em que vivemos.

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unidade didtica formao scio-Histrica do Brasil

Unidade Didtica Formao Scio-Histrica do Brasil

A definio geral de Histria seria o estudo do passado, um olhar para trs, pelo que foi e contra o que foi. Tomando emprestada a idia de (AQUINO, 1980, p. 17), no um olhar para as coisas mortas, mas de quem quer compreender a vida. Portanto olhar para trs ser captar a dinmica da Histria, pois a Histria vida, transformao, movimento. Isso implica em ter conscincia histrica, identificado-se como indivduos do meio social. Em qualquer poca, as pessoas sentem necessidades de conhecer a Histria, para nela atuarem com conscincia. Essa conscincia histrica se constri a partir da luta pela satisfao das necessidades vitais. Por ser uma cincia em construo, significa a prpria evoluo do ser humano; nunca est pronta, mas em pleno desenvolvimento, aprendendo com os erros, melhorando a vida material e intelectual das pessoas. Tem como objeto de estudo, as relaes entre os seres humanos. Esse objeto no algo que podemos estudar como observadores, externos a ele, pois nos encontramos dentro dele. O conhecimento histrico no se d sobre algo que est fora de ns, mas sobre ns mesmos. Por isso, mais que conhecimento, ele conscincia conscincia que temos de ns no mundo. Da conscincia adquirida mediante o conhecimento histrico decorre a participao do indivduo na sua realidade concreta, como agente de transformao. A realidade concreta em que vivemos corresponde determinada formao econmico-social, cujos elementos devem ser objeto de conhecimento para a formao da conscincia histrica. Conhecer a realidade presente no significa somente sistematizar os dados da observao, mas apreender as condies objetivas da vida, utilizando os dados tericos de situaes vividas por outros homens em outros tempos e em outros lugares. Significa, tambm, compreender a realidade na sua historicidade, isto , compreend-la como construo do homem ao longo do tempo. Na acepo do termo, Histria uma palavra de origem grega e significa investigao, informao. Na antiguidade grego-romana, historiadores como Tucdides esforava-se para obter rigor metodolgico no campo da Histria, mas nesse momento, a

Histria no passava de experimentao que provava o que todos j sabiam. Assim como Herdoto, Tucdides voltou o seu olhar para a histria poltica e para os campos de batalhas. Suas narrativas visavam a glorificao da coragem, da inteligncia e da astcia dos gregos fundamentando-se do inconsciente coletivo da poca. Com o propsito de estudar essa evoluo historiogrfica, j a partir desta primeira aula, convidamos voc para percorrer conosco os caminhos que a Histria tomou ao longo dos sculos, promovendo ampla discusso sobre nosso contexto histricosocial, sobre o qual estabelecemos nossas bases para o entendimento e a (re)construo de nossa prpria identidade. Nesta perspectiva, a histria se faz presente como forma de trazer luz o inconsciente ideolgico que nos conduz a reflexo de nosso papel social e evite, de alguma forma, a alienao. Assim, esta unidade didtica, oportuniza a discusso e a percepo da ideologia que subjaz s nossas prticas sociais, construdas historicamente e consolidadas nas aes cotidianas.ALGUMAS DEFINIES DE HISTRIA

Como j afirmamos, os gregos foram os primeiros a utilizar o termo histria ou histor, aquele que aprende pelo olhar, aquele que testemunhou com seus prprios olhos um acontecimento. His + oren, significava apreenso pelo olhar daquilo que sucede dinamicamente. O historiador era aquele que testemunhava acontecimentos da sua realidade. No havia pesquisas rigorosas para relatar um episdio. Ento, dependia do ponto de vista de quem relatava o fato. Assim, muitos relatos favoreciam aos reis e imperadores da poca. Com o tempo, a palavra Histria adquiriu outros significados. A partir das pesquisas de Herdoto, considerado o pai da Histria, esta terminologia passou a significar, busca de conhecimento das coisas humanas, de saber histrico. Mas ainda, no havia comprovao de resultados. E a Histria no passava de narrativas de contos hericos. At os dias de hoje, pode-se muito bem, questionar este termo. O que Histria? a histria de um grupo ou de

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auLa 1 Histria: Definies, Concepes e Necessidades

um povo? Quem escolhe os acontecimentos para elaborar todo o material da pesquisa escrita? Isso positivo, porque no permite passividade diante do assunto. E fazer Histria questionar, perguntar, ter dvidas sobre tudo. So as dvidas que levam a verdade. E o bom investigador est sempre perguntando, por qu?HISTRIA NA SOCIEDADE PRIMITIVA

cedente econmico, assumindo o poder de coao sobre os demais. Esses elementos para melhor administrar o excedente sentiram a necessidade de escrever para registrar os dados importantes. Essa racionalizao foi uma forma de dominao, uma vez que as informaes no eram mais compartilhadas com todos do grupo.HISTRIA ANTIGA

Os homens sempre procuraram entender o seu meio, especialmente quando dependiam totalmente da natureza para adquirir a sobrevivncia, devido ao enfrentamento dirio com animais de grande porte e com outros seres humanos que viviam ao seu redor. Isso exigia conhecimento da localidade e busca de compreenso dos fenmenos. Ento, a vida na era primitiva j era um conjunto de por qus. Esses homens criaram um conjunto de smbolos que representavam a realidade, que nada mais era do que o desejo de compreender e apreender o mundo na tentativa de compreender a realidade. Esse aspecto foi de fundamental importncia para se compreender a sociedade da poca. Essa tentativa de compreenso da realidade denomina-se cultura. Na chamada sociedade primitiva a organizao social e econmica, baseava-se na propriedade coletiva dos meios de produo, evoluindo para outras formas de organizao como a Revoluo Urbana,1 quando a riqueza comeou a se concentrar nas mos de poucos, originando a Propriedade Privada, as Classes Sociais, o Estado e a Famlia. Quando grupos humanos, vivendo sob o regime da comunidade primitiva, conseguiram atravs de aperfeioamento tcnico, produzirem um excedente econmico, criou-se condies para a primeira diviso do trabalho; conseqentemente, elementos de um grupo passaram a ter o controle desse ex1

A grande transformao econmica da Idade do Bronze d-se o nome de Revoluo Urbana. Correspondeu passagem das comunidades agrcolas auto-suficientes para cidades com comrcio e artesanato especializado. A agricultura continuou como principal atividade econmica, mas a economia, antes agrcola e pastoril, ganhou maior diversidade e complexidade com a multiplicao dos ofcios e profisses e com o estabelecimento de um sistema regular de trocas. (AQUINO, Rubim Santos Leo de et all. Histria das Socie dades: das comunidades primitivas s sociedades medievais. Rio de Janeiro: Ao Livro Tcnico, 1980).

Com o processo de desagregao, as comunidades primitivas evoluram no sentido da formao do sistema escravista: a propriedade coletiva foi substituda pela propriedade privada, acarretando a formao de classes sociais e na formao do Estado, com o poder de legitimar este novo sistema e de manipular a produo intelectual para reforar o seu poder. Ainda no sculo VII a.C., surgiram as cidades gregas, que necessitavam de um sistema de cdigo de escrita mais aprimorado. No chamado Antigo Oriente Prximo, a organizao das sociedades foi baseada no modo de produo asitico, caracterizado pela servido coletiva. No Egito e na Mesopotmia, o Estado controlava a explorao da terra, planejava a produo, distribua o excedente, realizava o intercmbio comercial, obrigando os camponeses servido coletiva e ao pagamento dos impostos. Na Antigidade Clssica Greco-Romana (4000 a.C. sculo V d.C.), o sistema de produo era escravista, onde uns poucos indivduos detinham em regime de propriedade privada, a terra e os instrumentos de trabalho, sendo o trabalhador reduzido a condio de escravo. Esse processo resultou da acumulao das riquezas provenientes principalmente dos saques s populaes vencidas nas guerras, onde populaes inteiras foram escravizadas. Podemos dizer que a historiografia grega primou pela glorificao de alguns homens. Este pensamento foi reforado por Scrates, Plato e Aristteles, o homem era a medida de todas as coisas. Em Plato, o homem aparece como elemento ativo do conhecimento, mas se encontra preso em uma caverna. E somente o filsofo teria condies de sair dessa caverna para conhecer a verdade que estava l fora. Essa viso de Histria era elitista. Dependia

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de uma pessoa, que era a dona do saber, para fazer a interpretao dos fatos e repassar a populao. Durante o perodo medieval, a Igreja Catlica retomou este pensamento como base e fundamentos para sua sntese teolgica.HISTRIA NA IDADE MDIA

O cristianismo triunfou, impondo efetivamente, uma nova viso de mundo. No ambiente de instabilidade e insegurana gerado pela desagregao do Imprio Romano, o Cristianismo foi o porto seguro para o novo pensamento, desta vez, unificado pela f crist. Os elementos eclesisticos acabaram sendo a nica classe letrada no perodo medieval. Essa historiografia classificava-se em Histria dos Santos. Enquanto no sistema produtivo, tem-se a implantao do Feudalismo. Modo de produo que caracterizou-se pelo processo de ruralizao, dividindo a Europa em feudos, grandes propriedades rurais descentralizadas, que se estruturaram nos sculos V e X, quando ento viveu seu apogeu, at desencadear na sua primeira crise nos sculos XIV e XV. As relaes sociais feudais desenvolveram-se em torno da terra, e, os trabalhadores (camponeses que mantinham laos de servido com seu amo) tinham o direito de usufru-la, ocup-la e pagar as taxas fixadas pelos costumes sobre os produtos ou sobre as terras, que eram de propriedade do senhor feudal. O feudalismo, fenmeno histrico europeu, foi produto das invases brbaras e da decadncia do Imprio Romano. Suas principais caractersticas foram: a economia agrria, o poder poltico nas mos dos grandes proprietrios rurais, conhecidos como senhores feudais. Essa sociedade foi hierarquizada atravs da hegemonia ideolgica e cultural da Igreja Catlica. Essa Igreja desempenhou importante papel na formao do novo sistema, pois sendo grande proprietria de terras, inculcou no homem medieval a viso de mundo que interessava sociedade da poca. Detentora de poder e de conhecimento, a Igreja Catlica lanou as bases do pensamento moderno ocidental. Com estrutura fortemente

hierarquizada, concentrando saber e poder, atuou em todos os nveis da vida social, estabelecendo normas, orientando comportamentos e imprimindo nos ideais do homem medieval os valores da cultura religiosa. O clero transmitia populao uma viso de mundo que lhe era conveniente e adequada. Justificava a pobreza e a riqueza segundo o desgnio de Deus. Essa mentalidade reforou o predomnio dos senhores feudais (clero e nobreza) justificando seus privilgios terrestres, confortando o povo com a garantis do paraso celeste aps a morte. Entre os sculos V e VIII, parte do clero passou a conviver com os fiis, constituindo o clero secular e parte formou o clero regular formado por monges que viviam afastados do mundo material, recolhidos em mosteiros, praticando votos de obedincia, pobreza e castidade. Esses mosteiros acabaram-se tornando os centros da vida intelectual da Idade Mdia alm de cumprirem importantes funes econmicas e polticas. A partir dos sculos XI e XIII a Igreja passou por diversas crises mudanas e reformas, culminando na grande diviso dos catlicos no sculo XVI, com a Reforma Protestante. As crises vividas pela igreja coincidiram tambm com as crises sociais, econmicas, culturais e polticas da Europa que contriburam para mudanas na sociedade feudal, que comeava a sentir os efeitos do surgimento de outras atividades econmicas independentes da economia feudal. Com a decadncia do feudalismo, a Europa foi marcada pela falta de dinheiro. De um lado os proprietrios de terras sem dinheiro, de outro os que tinham o dinheiro, mas no possuam as terras. Era o incio da fase pr-capitalista. Essa transio do feudalismo para o capitalismo, perodo denominado didaticamente de Idade Moderna, em termos econmicos foi marcada pelo predomnio do capital comercial e das manufaturas, que criaram as condies materiais para o surgimento do capitalismo, com seus dois elementos essenciais: Capital e Trabalho. O capital dos donos dos meios de produo, e o trabalho das pessoas que possuam um nico bem, a fora de trabalho, paga atravs dos salrios.

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auLa 1 Histria: Definies, Concepes e Necessidades HISTRIA NA POCA MODERNA

As transformaes do mundo moderno atravs das navegaes mudam o pensamento ocidental. Eram novos horizontes, com viagens ultramarinas em lugares com outras culturas. Era o homem conquistando o novo mundo. Essas transformaes refletem diretamente na historiografia, surgindo o humanismo e o Renascimento, que colocavam novamente o homem no centro de tudo. As revolues burguesas e o modo de produo capitalista tornou-se o modo de produo predominante no Mundo Ocidental. A concretizao do modo de produo capitalista ocorreu com a Revoluo Industrial no sculo XVIII na Inglaterra, em decorrncia de reunir nesse pas fatores econmicos, sociais e polticos que possibilitaram o desenvolvimento da indstria, que por suas vez, provocou problemas sociais, como as condies sub-humanas dos trabalhadores, que trabalhavam nas fbricas de 16 a 18 horas dirias, recebendo baixos salrios, sem direito a frias, aposentadoria, auxlio-doena etc. Tais condies acentuaram as lutas de classe, de um lado os donos do capital, de outro os donos da fora de trabalho, culminando nas greves e na criao de leis sociais que garantissem alguns direitos aos trabalhadores. Tendo como alvo as seqelas do conjunto de problemticas sociais, polticas e econmicas que se manifestam dentro da sociedade capitalista com o surgimento da classe trabalhadora (operria), na sociedade contempornea as polticas sociais tm se manifestado sob a forma de benefcios e servios oferecidos pelo Poder Pblico para minimizar as necessidades sociais.HISTRIA DO SCULO XIX E XX

ta da histria, muito forte no final do sculo XIX e incio do sculo XX. Esta corrente empenhava-se para manter a neutralidade cientfica e a elaborao apurada dos fatos. Outra concepo do sculo XX foi a corrente dos Annales, movimento de idias mais influentes no sentido da construo da Histria como cincia. Entre a corrente marxista e a dos annales, existem pontos de vistas em comum, o caso da conceituao do estudo da Histria que segundo Ciro Flamarion Cardoso (1981, p. 39-40):Os historiadores abandonaram a viso anterior de uma Histria voltada para fatos singulares, em favor de uma concepo das sociedades humanas como estruturas globais historicamente especficas, totalidades organizadas complexas mais cognoscveis, sujeitas a regularidades e determinaes. Nesse caso, Histria um processo de seleo que se realiza atendendo-se a relevncia histrica, que vai do estudo singular para a teoria teoria e singular, demonstrando que o estudo particular ou local sofre influncias e reflexos no mundo Global.

O clima de insatisfao social gerados no bojo do sistema capitalista crises, desemprego, misria em meio a abundncia, favoreceu para o desenvolvimento de novas concepes sobre a realidade humana e, conseqentemente sobre a maneira de escrever a Histria do sculo XIX. Assim podemos considerar a teoria marxista e as que vieram do seu meio. No podendo esquecer da corrente positivis-

E o contexto vivido no mundo global, no incio do sculo XX, foi de extrema tenso. A produo aumentou, necessitando de novos mercados consumidores e fontes de matrias-primas. Ento os capitalistas conquistaram e dividiram o mundo. Essa conquista despertou dios e guerras, culminando na primeira grande Guerra. Essas crises transformaram em crises de paradigmas, gerando insatisfao entre os tericos da Histria, e conseqentemente uma forte reflexo sobre o real papel da Histria. Nesse caso, voltamos ao comeo, reafirmando que a Histria consiste essencialmente em ver o passado atravs dos olhos do presente. Com os problemas sociais e econmicos que temos. Isso avaliar, ponderar e registrar aquilo que de fato pertence ao povo. Atividade Para realizar as atividades necessrio que voc tenha lido e refletido sobre o texto da aula, e mais, necessrio que voc se entenda como um sujeito

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histrico, que faz histria, que constri o mundo e que se concretiza enquanto sujeito social. Assim, leia os textos e responda as questes propostas abaixo. 1. Faa um texto sobre o papel da Histria, da sua importncia e da sua evoluo ao longo dos sculos.

2. Tomando como base a necessidade de oportunizar a reflexo e a tomada de conscincia social e histrica, discuta com seus colegas como vocs tm construdo e contribudo para a formao da conscincia histrica. A partir dessa discusso elaborem frases que descrevam essa construo e apresentem em um painel integrado.

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anotaes

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auLa 2 O Brasil e a Construo de sua Histria

auLaunidade didtica formao scio-Histrica do Brasil

____________________o BRasIL e a ConstRuo de sua HIstRIaContedo As navegaes martimas europias Populaes indgenas

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Competncias e habilidades Compreender o processo de mudanas ocorrido na Europa com a decadncia do feudalismo e da expanso das atividades comerciais e os motivos que levaram os europeus a empenharem-se nas grandes viagens martimas, conquistando, explorando e escravizando as populaes indgenas

Textos e atividades para auto-estudo disponibilizados no Portal Texto seguido de roteiro de leitura: A histria e o tempo no Brasil. IN: CAMPOS, Raymundo. Estudos de histria do Brasil. So Paulo: Atual, 1999. p. 4-5.

Durao2 h/a via satlite com o professor interativo 2 h/a presenciais com o professor local 6 h/a mnimo sugerido para auto-estudo

Nesta aula ser apresentada uma breve contextualizao sobre as viagens martimas empreendidas pelos portugueses, dando o incio a outro modelo de sociedade pautado no lucro e na razo. Essas viagens levaram os europeus a lugares completamente diferentes da paisagem europia mudando suas concepes de mundo calcadas na mentalidade medieval. Desse encontro do europeu com povos diferentes de si, nasceu na mentalidade do colonizador a figura do outro que precisava ser domado, traduzido e dominado. Entre tantos outros, surgiu povo brasileiro.

CONHECENDO A HISTRIA DO BRASIL PELOS OLHOS DE PORTUGAL

Por que Portugal iniciou pioneiramente a expanso, no comeo do sculo XV? Segundo Boris Fausto (2000, p. 21-23), Portugal se firmava no conjunto da Europa como um pas autnomo, com tendncia a voltar-se para fora. J tinha experincia acumulada ao longo dos sculos XIII e XIV, no comrcio de longa distncia. E no incio do sculo XV, a expanso correspondia aos interesses diversos das classes, grupos e instituies que compunham a sociedade portuguesa. Para os comerciantes era a perspectiva

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de um bom negcio; para o rei era a oportunidade de criar novas fontes de receita em uma poca em que os rendimentos da Coroa tinham diminudo muito, alm de ser uma boa forma de ocupar os nobres e motivo de prestgio; para os nobres e os membros da Igreja, servir ao rei ou servir a Deus cristianizando povos brbaros. E tudo isso resultava em recompensas e em cargos cada vez mais difcil de conseguir na Metrpole portuguesa. Para o povo significava tentar uma vida melhor, fugir do sistema de opresses. Da a expanso ter-se convertido em uma espcie de grande projeto nacional, ao qual quase todos, aderiram e que atravessou sculos. A atrao pelo ouro e pelas especiarias moveu o esprito de aventura dos portugueses no primeiro momento de expanso. O fcil interesse pelo ouro deveu-se ao fato de ser uma moeda confivel, empregado na decorao de templos e palcios e na confeco de roupas. As especiarias eram atrativas e muito cara, eram usadas como remdios, condimentos e perfumes.A CONSTRUO DE UM NOVO MUNDO

O Brasil tem sua histria vivida e construda a partir da chegada dos primeiros povoadores do territrio (que no se tem certeza de suas origens) milhares de anos antes do branco europeu, assim, no podemos falar em descobrimento, porque d a idia de que no havia presena humana anterior chegada dos portugueses ao Novo Mundo. Mas nos sculos XV e XVI, integra-se ao sistema capitalista mundial na condio de dependente das decises polticas, sociais e econmicas emanadas dos pases capitalistas mais desenvolvidos no cenrio internacional. Dessa forma, para estudarmos a Histria do nosso pas fundamental um mnimo de conhecimento da histria dos pases centrais do sistema capitalista internacional. Isso oportuniza o entendimento do desenvolvimento das bases materiais que marcaram as sociedades no decorrer da histria da humanidade, e o modo como essas mudanas influenciaram setores da populao mundial ao longo dos sculos. Essas mudanas foram gradativas e aos poucos foram se alastrando. Uma das mais importantes foi

o desenvolvimento do comrcio. Desde o sculo XI o comrcio europeu foi se desenvolvendo lentamente. O fortalecimento do comrcio fez com que o sistema de trocas, fosse aperfeioado, houvesse aumento e diversificao das mercadorias e nas trocas fossem utilizadas as cartas de crdito, as letras de cmbio, dando origem a criao das bolsas de valores. Tornando-se o elemento mais importante, o comrcio trouxe vida, prosperidade e beleza s cidades onde as mercadorias eram produzidas e negociadas, visando satisfazer as exigncias do mercado em expanso, bem como, dos habitantes das cidades que tinham necessidades e exigncias prprias. Com o enfraquecimento dos senhores feudais e o (re)fortalecimento do poder dos reis, surgiu na Europa alguns reinos como o de Portugal, da Espanha, da Frana, da Inglaterra etc., que se constituiriam nos chamados Estados Nacionais. Necessitando de poder e riqueza, os reis, interessaram-se pelos comerciantes e associaram-se a eles. Em troca, os comerciantes financiaram as principais despesas dos reinos. Essas transformaes alteraram vrios aspectos da vida na Europa que refletiram em novas formas de produo de riquezas, de explorao da terra, de governar e de concepo de mundo, destruindo a velha concepo medieval baseada na imaginao e no misticismo. Diante dessas mudanas, durante os sculos XV e XVI, navegadores portugueses e espanhis, apoiados pelo poder real e financiados pelos comerciantes, lanaram-se em direo ao que conhecemos hoje como Oceano Atlntico. Nessas viagens quatro imensos continentes denominados na atualidade de frica, sia, Amrica e Oceania, foram conquistados, dando incio dominao europia a esses povos. Depois disso, a viso de mundo calcada em valores medievais foi definitivamente suplantada. Surpresos com a extenso dos continentes, bem como, com a fauna e flora encontradas, os europeus compreenderam que havia um mundo diferente daquela Europa arrasada por guerras, fome, pestes e misria. Nas viagens realizadas, os europeus conheceram as montanhas asiticas com picos brancos de neve,

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auLa 2 O Brasil e a Construo de sua Histria

assim como as da Europa, alm de terem contato com as antigas civilizaes chinesa e hindu, que possuam alto grau de conhecimento em diversos campos da expresso humana, como as artes, a filosofia e as cincias. Na frica, tomaram contato com negros politestas e rabes muulmanos. Viram terras alagadas e desertos escaldantes, ao mesmo tempo em que puderem contemplar as belezas naturais do rio Nilo. Conheceram tambm as savanas africanas habitadas por zebras, girafas, lees etc. Conheceram tambm grupos humanos isolados do chamado mundo civilizado, preocupados apenas com sua sobrevivncia. Na Amrica, desfrutaram das belezas das florestas tropicais. Era tanta beleza que eles acreditavam ter encontrado o to prometido paraso celeste aqui mesmo na terra. Depararam ainda com grupos humanos que possuam caractersticas fsicas variadas e em diferentes nveis de desenvolvimento tcnico. Nesse mesmo continente encontraram habitantes de pele avermelhada e cabelos lisos que usavam poucos adereos como vestimentas, quando no estavam nus. Eram povos que acreditavam em vrios deuses, sem conhecimento do ferro, da plvora, do vidro, do arado, dos animais de carga e da roda. Habitando nesse mesmo espao geogrfico, porm diferente no tempo histrico, viviam os astecas no atual Mxico e os incas no atual Peru, com uma organizao social, poltica, econmica e cultural bem desenvolvida, despertando a ganncia do europeu sobre suas riquezas. Essas viagens martimas realizadas pelos europeus foram muito lucrativas e provocaram um choque cultural entre os diferentes grupos que, impulsionados por um novo modelo econmico, conhecido como capitalismo, obrig-los ia a estabelecer relaes sociais e comerciais, atravs do qual, o mais forte culturalmente, politicamente e economicamente imporia seu domnio sobre o menos forte. A ganncia pelos metais preciosos e por todos os produtos valorizados na poca, fez com que os europeus dizimassem populaes inteiras nos continentes por eles encontradas. Os primeiros habi-

tantes da Amrica foram mortos, em combate ou por doenas. Os da Oceania dizimados no primeiro contato com os brancos. Na frica, grande parte dos negros foram assassinados ou aprisionados para serem vendidos como mo-de-obra escrava. Nem todos os europeus da poca concordaram com os mtodos utilizados para a conquista, porm, eram vozes isoladas que de nada adiantavam. Os interesses comerciais falavam mais alto. A conquista europia sobre as terras descobertas no apenas continuou, como mais tarde se fortaleceu, atravs do processo de colonizao.O IMPACTO DA COLONIZAO

Durante muito tempo, a conquista da Amrica foi contada a partir da viso do europeu. A historiografia tradicional apresentava somente os fatores positivos da expanso europia. Assim como a historiografia grega, tratava da glorificao dos heris, dos benefcios e do progresso trazido pelo conquistador. Transmitia uma viso herica dos feitos e em lugar de conquista, utilizava-se a expresso descobrimento. A conquista da Amrica, como j afirmamos, decorrncia de todo um processo de expanso do nascente capitalismo comercial. E de acordo com Caio Prado Jr. (1979, p. 31-32), o sentido da colonizao, no seu conjunto, toma um aspecto de empresa comercial, com o carter de explorar os recursos naturais de um territrio virgem em proveito do comrcio europeu. O Brasil resultante desse processo de explorao. E se vamos a essncia da nossa formao, veremos que na realidade nos constitumos para fornecer acar, tabaco, alguns outros gneros; mais tarde ouro e diamantes; depois, algodo e, em seguida caf. Essa foi a formao inicial do Brasil, voltada para a produo do comrcio exterior. Assim veio o Portugus para especular, realizar um negcio, recrutando mo-de-obra indgena ou negra.POVOS INDGENAS

No contato com o colonizador europeu, o ndio foi vitima de trs tipos bsicos de violncia: militar, econmica e cultural, com a destruio de suas

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crenas e costumes. A escravido indgena predominou ao longo de todo o primeiro sculo de colonizao do Brasil. Milhares de ndios foram incorporados por esta via sociedade colonial. Segundo Darcy Ribeiro (1995, p. 100), incorporados no para se integrarem nela na qualidade de membros, mas para serem desgastados at a morte. Cada vez que se abria uma nova frente de expanso, deparava-se com novas tribos, e, logo fazia-se delas um manancial de trabalhadores cativos e mulheres capturadas para o trabalho agrcola, para gestao de crianas e para o cativeiro domstico. Nesse caso, o aprisionamento sempre foi tido como prtica louvvel e at mesmo como tcnica de converso. Achegada dos europeus, de acordo com Boris Fausto (2000, p. 40), representou para os ndios uma verdadeira catstrofe. Vindos de muito longe, com enormes embarcaes, os portugueses, e em especial os padres, foram associados na imaginao dos tupis aos grandes xams (pajs), que andavam pela terra, de aldeia em aldeia, curando, profetizando e falando de uma terra de abundncia. E ainda retomando Boris Fausto, os ndios que submeteram ou foram submetidos sofreram violncia cultural, as epidemias e mortes. Do contato com o colonizador, resultou uma populao mestia. Mas muitos resistiram ao processo de integrao cultural. Uma das formas de resistncia foi o isolamento, em limites muito estreitos, isso permitiu a preservao de uma herana biolgica, social e cultural. Entretanto, milhes de ndios que viviam no Brasil na poca da conquista, apenas existem cerca de 250 mil nos dias de hoje. Desse contato, o colonizador aprendeu com o ndio a classificar e a usar as plantas existentes na floresta tropical para fins medicinais e para alimentao. Conheceu tcnicas de cultivo e preparo de produtos agrcolas. Aprendeu caar, pescar, fazer peas em cermica, esteiras, cestos, redes de dormir, tipias, construir mocambos, canoas etc. No incio, o europeu pensava que os ndios fossem iguais entre si; falassem a mesma lngua, acreditassem nas mesmas coisas, utilizassem as mesmas tcnicas de trabalho e obedecessem s mesmas nor-

mas sociais. Com a intensificao da colonizao, conheceram diversas naes indgenas, com crenas, lnguas tcnicas e costumes diversos. Alguns historiadores, utilizando a lngua como critrio, classificaram os ndios brasileiros em quatro grupos principais: Tupi, J ou Tapuia, Nuaruaque e Caraba. A nao Tupi,vivia no litoral brasileiro e em algumas regies do serto nordestino. A nao JouTapuia, vivia na Regio Central do Brasil. A nao Nuaruaque,vivia na Regio da Amaznia e do Estado de Mato Grosso. A nao Caraba, vivia no Norte da Regio Amaznica. Mesmo com algumas diferenas culturais, as naes indgenas compartilhavam de algumas caractersticas comuns. As mais importantes eram: Os bens materiais como a terra e os alimentos, pertenciam a todos. Alguns poucos objetos, como as armas e os enfeites eram individuais. A moradia dos ndios eram as cabanas (ocas), construdas com folhas de sap ou de palmeira. Em uma oca abrigava-se toda a famlia. A disposio das ocas em crculos, favorecia a existncia de uma rea livre (ocara), que era destinada s cerimnias religiosas e s festas. Vrias ocas formavam uma aldeia (ou taba). Muitas aldeias formavam uma tribo. Muitas tribos formavam uma nao indgena. A diviso do trabalho era determinada pelo sexo e pela idade. As mulheres cuidavam das crianas, do preparo da comida, do artesanato, da coleta de frutos, da plantao e colheita de produtos agrcolas, como o milho e a mandioca (aipim, macaxeira). Os homens guerreavam, caavam, pescavam, construam cacas e canoas. O trabalho era feito coletivamente e os frutos desse trabalho eram divididos entre todos. Entre os indgenas, o chefe (cacique) no impunha sua vontade. Seu poder estava na sabedoria e no na violncia. Sua funo consistia em manter a paz e praticar a generosidade.

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auLa 2 O Brasil e a Construo de sua Histria

!

ImPoRtante

No endereo: voc acessa a biografia e textos de Gilberto Freyre. Vale a pena mergulhar neste contexto!

A partir do texto da aula, elaborem as atividades abaixo: 1. Por qual motivo afirmamos no incio do texto que a partir das viagens exploratrias construiu-se um modelo de sociedade pautado no lucro e na razo? 2. Faa uma lista das mudanas ocorridas a partir da crise do sistema feudal. Procure, na medida do possvel, articular tais mudanas com a sociedade atual. 3. Organize no quadro abaixo algumas prticas imposta pelo colonizador a populao indgena e costumes dos ndios assimilados pelos habitantes da colnia:

Atividade Para realizar as atividades necessrio que voc tenha lido e refletido sobre o texto da aula, e ainda que se entenda como resultado de uma miscigenao de raas e culturas que construram esse pas. A ttulo de sugesto, recomendamos dois filmes, que indicam a construo de nossa identidade latino americana: 1. 1492: Adescobertadoparaso: retrata a preparao da viagem e a vinda de Colombo s ndias, sua chegada Amrica, e ainda, a colonizao de explorao e o papel poltico da Igreja na poca. 2. A misso: apresenta o trabalho dos jesutas junto aos indgenas na Amrica e a perseguio aos mesmos pela Coroa Portuguesa e Espanhola.

Europeus

ndios

4. A partir do Mapa do Brasil, localize as tribos indgenas que constituram o Brasil, segundo o apresentado no texto da aula. Escreva no mapa sua localizao. Leitura sugerida BUENO, Eduardo. A viagem do descobrimento: a verdadeira histria da expedio de Cabral. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.

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anotaes

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auLa ____________________unidade didtica formao scio-Histrica do Brasil

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a foRmao da soCIedade BRasILeIRa no PeRodo CoLonIaLContedo A formao da sociedade colonial brasileira Trabalho escravo e resistncia negra A estrutura da sociedade aucareira As caractersticas da sociedade mineradora

Competncias e habilidades Compreender o processo de formao da sociedade colonial e o desenvolvimento da atividade mineradora na regio de Minas Gerais, analisando as transformaes ocorridas na colnia em decorrncia da atividade aurfera. Apontar e diferenciar os aspectos da sociedade que se formou na regio mineradora dos aspectos da sociedade que se estruturou no nordeste aucareiro

Textos e atividades para auto-estudo disponibilizados no Portal Criana esquecida das Minas Gerais. In: DEL PRIORE, Mary. Histria das crianas no Brasil. So Paulo: Contexto, 2006.

Durao2 h/a via satlite com o professor interativo 2 h/a presenciais com o professor local 6 h/a mnimo sugerido para auto-estudo

A base econmica da sociedade colonial pautou-se basicamente na explorao da mo-de-obra escrava na lavoura canavieira e no trabalho de minerao. Apesar do lucrativo comrcio aucareiro desenvolvido ao longo do sculo XVI, o colonizador portugus, jamais desistiu de encontrar metais preciosos nas terras coloniais. No decorrer do sculo XVII, os portugueses lanaram-se para o interior da colnia em busca do to sonhado metal. Finalmente

no sculo XVIII, encontraram as regies de minrios do Brasil.A SOCIEDADE BRASILEIRA NO PERODO COLONIAL

A sociedade colonial brasileira formou-se em meio s diferentes relaes sociais do perodo. Produto de uma economia baseada na agro-manufatura do acar utilizou a fora de trabalho do negro

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auLa 3 A Formao da Sociedade Brasileira no Perodo Colonial

escravo para a sedimentao dessa riqueza, que por sua vez resultou na valorizao da grande propriedade rural que se estabeleceu como unidade produtora e tambm como ncleo social, poltico e cultural. Essa sociedade caracterizou-se pela valorizao exarcebada do sexo masculino, representada pela figura do pai e do filho primognito; ficando as mulheres em segundo plano, mesmo fazendo parte da famlia. As famlias se constituam por convenincia econmica atravs dos casamentos arranjados entre os conhecidos ricos ou ento entre os parentes da mesma classe social; garantido assim, a manuteno e ampliao do patrimnio. Sendo a lavoura canavieira a base econmica da sociedade colonial, as famlias viviam na zona rural e eram formadas pelo marido, mulher, filhos, no entorno das quais mantinham agregados, afilhados, escravos que viviam nas senzalas, e outros tantos domsticos. Nesse cotidiano, o grande proprietrio rural transformou-se no poderoso Senhor de Engenho e a propriedade pela sua auto-suficincia, a expresso viva do poder poltico, social e econmico que marcou um setor da sociedade denominado sociedade aucareira, por ter o engenho de acar como base da produo.POPULAES NEGRAS

com suas cores fortes a nossa cultura e reproduzindo-se como mo de obra. Tendo sido capturados nas mais de centenas tribos africanas, os negros tinham cultos religiosos diferentes, dialetos e lnguas no inteligveis entre si. A diversidade lingstica e cultural desses negros, a poltica de no concentrao de escravos pertencentes a uma mesma etnia em um mesmo local, dificultou a manuteno da cultura africana. Espalhados no novo mundo, os negros eram iguais uns aos outros na cor da pele, no tipo de cabelo, nas caractersticas fsicas, no trabalho escravo, mas bem distintos uns dos outros na religio, na lngua falada e na constituio grupal, se viram obrigados a assimilar e incorporar os valores de uma outra sociedade. Sem conhecerem a lngua portuguesa e sem falarem a mesma lngua, criaram mecanismos de comunicao entre si e com os outros habitantes da Colnia nos locais em que trabalharam como mode-obra escrava; chegando inclusive a influenciar a cultura dessas localidades, como o nordeste canavieiro e o centro sul minerador, saindo da condio de boal para a condio de ladino. Alm da lavoura canavieira, os negros trabalharam tambm, na lavoura algodoeira e cafeeira; na execuo de atividades domsticas, no comrcio de rua, na confeco de artesanato etc.RESISTNCIA NEGRA

Trazidos principalmente da costa ocidental africana, chegaram ao Brasil na condio de escravos, os negros Yorub, conhecidos como Nag, os Dahomey, conhecidos como Geg e os Fanti-Ashanti, conhecidos como minas. Em menor nmero, vieram os negros da Gmbia, Serra Leoa, Costa da Malagueta e Costa do Marfim, conhecidos como Male, na Bahia e como Aluf, no Rio de Janeiro trazendo para o Brasil culturas africanas islamizadas. De Angola e Moambique, ex-colnias portuguesas, vieram os Bantu do grupo congo-angols. Visto pelo colonizador como mo-de-obra escrava, inicialmente foi fundamental na lavoura canavieira, incrementando a produo aucareira. Alm do acar o negro, foi responsvel pela produo de quase toda riqueza da Colnia, marcando

Com base nas informaes de Del Priore e Renato Venncio (2001, p. 72), ao percorrer o Brasil, como em Mato Grosso, Maranho, Bahia, Minas Gerais e at mesmo na Amaznia, encontraremos localidades denominadas Quilombo ou Quilombola. Trata-se de comunidades originalmente constitudas por negros fugidos. E o maior Quilombo colonial foi Palmares. Este Quilombo como tantos outros espalhados pelo Brasil, conviviam pacificamente com brancos pobres e ndios que tambm fugiam das perseguies econmicas, polticas, culturais e religiosas do sistema colonial. As mulheres negras tiveram um papel fundamental na luta pela resistncia da populao negra. Elas eram excelentes vendedoras e praticavam diversas

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formas de atividades comerciais. Embora em menor nmero, as mulheres quilombolas destacaram-se na manuteno material de suas comunidades. A Elas cabia cuidar de roas e de animais domsticos, assim como preparar a comida. Segundo Del Priore a funo religiosa da mulher negra era preponderante: atravs de rituais ancestrais, fortaleciam o esprito combativo dos homens. Acompanhavam os quilombolas em caadas ou enfretamentos com os temidos capites-do-mato. Muitas delas sustentavam at senhoras brancas cuja famlia passava por dificuldades financeiras. Alm de amamentar e criar filhos dos senhores de engenhos. Assim, a cultura negra atravs das canes religiosas e cantigas de ninar iam muito alm das senzalas. Mas no significa que tenha ocorrido harmoniosamente a mistura das raas. Devido ao encontro das trs raas branco, ndio e negro, alguns autores, entre eles Gilberto Freyre, concluram que o Brasil foi palco de uma verdadeira democracia racial. Na verdade, concordando com Gilberto Cotrim (1997, p. 66), essa harmonizao no aconteceu, pois os laos da dominao Metrpole-Colnia no se restringiram ao setor econmico, alcanaram tambm o aspecto sociocultural, desprezando o legado cultural do ndio e do negro. Contudo, muitos elementos culturais do ndio e do negro se perpeturam porque se incorporaram aos costumes do povo, sem consentimento da classe dominante. Submetidos violncia fsica e cultural, os negros tiveram seus padres de comportamento e existncia aviltados e destrudos. Hoje a questo racial ainda continua levantando polmicas. Como tentativa de minimizar as mazelas que vitimaram os negros na histria do Brasil, as polticas sociais na atualidade implementaram aes afirmativas de valorizao dos descendentes de negros, denominados hoje de afro-brasileiros ou afro-descendentes.A SOCIEDADE AUCAREIRA

Seu poder extrapolava a dimenso econmica, influenciando a poltica local. Sustentada pela riqueza da terra e pelo trabalho do escravo negro, a sociedade aucareira era polarizada. De um lado o senhor de engenho, de outro o escravo negro. Entre esses plos extremos, situavam-se alguns trabalhadores livres e os religiosos. De maneira geral, a sociedade aucareira foi marcada pela vida rural, pelo poder patriarcal e pela rgida separao de classes que no permitia a mobilidade social. A terra, propriedade da Coroa portuguesa era ocupada e administrada pelos poucos habitantes ricos da colnia. Essa situao comeou mudar no decorrer do sculo XVIII, com a crise da lavoura aucareira, que foi perdendo espao para um outro tipo de segmento social em formao; a sociedade mineradora.A SOCIEDADE MINERADORA

Por sua caracterstica eminentemente latifundiria, o engenho de acar produziu uma sociedade rural fechada e engessada. O senhor de engenho constituiu-se na autoridade mxima de sua propriedade e de toda a regio ao redor do engenho.

Tendo a atividade aucareira ficado para segundo plano a partir do sculo XVIII, a base econmica da Colnia deslocou-se do nordeste para o centro sul do Brasil na regio em que foram encontradas as minas de ouro no atual Estado de Minas Gerais. A descoberta desse metal incitou pessoas de diversas localidades da colnia e da Europa a iniciarem uma maratona em busca de um quinho. Com a descoberta do ouro, outras atividades econmicas tambm perderam seu espao. Os vendedores de ndios como mo-de-obra escrava para as regies onde havia falta da mo-de-obra do escravo negro; os senhores de engenho, que viviam da exportao do acar e os comerciantes coloniais que intermediavam essa exportao. A metrpole portuguesa dona por direito da colnia brasileira, para no perder o controle de to vasta rea, implantou um rigoroso sistema de distribuio de terras e de arrecadao de impostos, almejando garantir a sua parte no quinho e amenizar os possveis conflitos sociais entre os caadores de ouro. Para tanto, cada filo de ouro que fosse descoberto, deveria o descobridor informar imediatamente

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auLa 3 A Formao da Sociedade Brasileira no Perodo Colonial

a Coroa portuguesa atravs da Intendncia (instituio representativa do Rei de Portugal na regio mineradora), que fazia a interveno imediata, delimitando a rea e dividindo-a em datas.2 Ao descobridor do filo caberiam duas datas, ao Rei de Portugal uma data, ao Guarda-Mor da Intendncia uma outra data. O que sobrasse da rea era sorteado entre os peticionrios que haviam solicitado o direito a terra ao intendente. O interesse da coroa em garantir o recolhimento dos impostos era o determinante da extenso territorial de cada data concedida. Conforme a capacidade de explorao medida pelo nmero de escravos que cada candidato a minerador declarava, estabelecia-se o tamanho da data. Ao receber a terra, o minerador deveria iniciar a sua explorao num prazo mximo de 40 dias, caso contrrio perderia o direito concedido. Enquanto a economia aucareira exigia grandes capitais, como terra, dinheiro e escravos, a economia mineradora no exigia comprovao de riqueza. Considerando os instrumentos tecnolgicos da poca, os mineradores conseguiam extrair os metais depositados nas superfcies a cu aberto, representava a possibilidade concreta de qualquer pessoa ter acesso a essa riqueza das minas, fazendo com que a populao migrasse constantemente em busca de outros veios aurferos. Com isso, os homens livres da colnia despossudos de grandes extenses territoriais vislumbraram com a chance real de ascenderem na pirmide social rigidamente estratificada, determinada pela sociedade aucareira. Esse semi-nomadismo refletiu no aumento populacional do perodo, que passou de 300 mil habitantes em 1700 para cerca de 3 milhes em 1800, provocando tambm uma distribuio de renda mais eqitativa, o que favoreceu o crescimento do mercado interno e o desenvolvimento de centros urbanos. Alm dos mineradores, a regio das minas atraiu outros profissionais como os artesos, os comer2

ciantes de alimentos, ferramentas e escravos; os tropeiros com suas tropas de muares; os vaqueiros tocando os rebanhos bovinos, tudo isso em funo de, no centro minerador, todas as atenes estarem voltadas para a minerao. Contudo, conforme assevera Celso Furtado, o mercado consumidor da regio mineradora, no conseguiu ter suas necessidades satisfeitas, em decorrncia principalmente da precariedade da infraestrutura alimentar.[...] a fome acompanhava sempre a riqueza nas regies do ouro. A elevao dos preos dos alimentos e dos animais de transporte nas regies vizinhas constituiu o mecanismo de irradiao dos benefcios econmicos da minerao (FURTADO apud ALENCAR, 1985, p. 59.)

De acordo com Alencar (1985), com a explorao do ouro na regio mineradora a sociedade brasileira se complexificou:Surgiram novos grupos sociais, com funes distintas das desempenhadas por senhores e escravos. O desenvolvimento do comrcio, do artesanato e da prestao de servios forma a camada mdia, eminentemente urbana, de funcionrios, militares, artesos, profissionais liberais, literatos, clrigos e comerciantes. exceo destes, maiores beneficirios do monoplio, os outros setores sero bastante influenciados pela ideologia liberal-burguesa, tendo, por isso, grande participao nos movimentos contra a explorao metropolitana e naqueles que, ao final do sculo XVIII, proporo a ruptura total com Portugal (ALENCAR, 1985, p. 59).

As datas eram propriedades de no mximo 30 braas quadradas. 1 braa media 2,20m. (ALENCAR, Francisco et al., Histria da socieda de brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Tcnico, 1985, p. 58).

Todavia, os negros continuaram na condio de escravos, por vezes at mais explorados que nos canaviais, uma vez que trabalhar sem os grilhes no significava liberdade no sentido literal da palavra. O trabalho era realizado em condies insalubres para os negros que permaneciam nas minas escuras e midas em mdia de 16 horas por dia. A literatura aponta que devido a essas condies de trabalho, a vida til de um escravo variava entre 2 e 5 anos, atingindo no mximo 10 nos de trabalho produtivo. Alencar pontua ainda, que a presena negra na sociedade emergente do atual Estado de Minas Ge-

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rais criou alguns tipos lendrios, entre eles Chica da Silva e Chico Rei, que inspiraram a produo do cinema nacional contemporneo ao retratar o cotidiano da vida colonial da sociedade mineradora.A FORMAO DAS PRIMEIRAS VILAS COLONIAIS

O deslocamento populacional dos habitantes da colnia na regio mineradora fez surgir arraiais e vilas como fatores importantes e decisivos para a sobrevivncia dos viajantes, que em sua maioria andavam a p, seguidos de escravos ndios e escravos negros que carregavam a bagagem dos viajantes. Quem dispunha de melhores condies econmicas, viajava utilizando animais como meios de transporte, principalmente mulas e burros; que alm de conduzir pessoas, transportavam atravs de caminhos abertos pelos ndios, mercadorias e metais preciosos. Alm dos caminhos abertos em meio s picadas da mata, houve tambm os caminhos atravs dos rios, que ficaram conhecidos como mones. Os utilitrios desses caminhos foram chamados de monoeiros. Entre os principais rios utilizados pelos monoeiros, estavam o rio So Francisco e o rio das Velhas cujas guas seguiam o curso em direo s minas localizadas em Minas Gerais, e, o rio Tiet que seguia em direo s minas de Cuiab, descobertas no sculo XVIII. Entre os caminhos percorridos, o mais procurado pelos exploradores, viajantes e mercadores do sculo XVIII foi o denominado Caminho Velho ou Caminho Real. Atravs dele os viajantes cruzavam a Serra da Mantiqueira, prximo de Guaratinguet, atual Estado de So Paulo. Depois de passarem pela fiscalizao e arrecadao do imposto do carregamento na cidade do Rio de Janeiro, os minerais preciosos eram transportados rumo ao porto de Parati, atravs do qual eram exportados para Portugal. Para garantir uma eficaz vigilncia, por volta de 1704, foi construda uma estrada ligando diretamente as zonas mineradoras ao Rio de Janeiro. Essa estrada ficou conhecida como Caminho Novo. Com a queda da produo aurfera, a partir de 1706, para no diminuir a arrecadao tributria,

o rei de Portugal mandou intensificar ainda mais a cobrana de impostos. Para tanto, em 1715, a coroa portuguesa elevou a colnia brasileira condio de Vice-Reino e mudou a sede do Vice-Reino de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, transformando o Rio de Janeiro na cidade colonial mais importante da Amrica Portuguesa e o principal porto exportador de ouro.AS PRINCIPAIS CIDADES DO PERODO MINERADOR

Alm do Rio de Janeiro, outras localidades como Vila Rica (atual Ouro Preto), Congonhas do Campo, Sabar, Mariana e So Joo Del Rey, Diamantina etc., se transformaram em importantes centros urbanos, tornando-se excelentes plos consumidores e produtores de artefatos oriundos da minerao. Conheceremos agora um pouco da Histria de 3 (trs) dessas cidades, Rio de Janeiro, Ouro Preto e So Joo Del Rey. Com a transferncia da sede da colnia para o Rio de Janeiro, foram adotadas na cidade, medidas de higiene como: a isolao de leprosos em abrigos e a determinao do destripamento de baleias longe da praia. Porm, com a intensificao do trfico negreiro em decorrncia da minerao e da produo aucareira no litoral fluminense, a cidade foi crescendo e, crescendo tambm os problemas com a limpeza. Contrastando com a baa de guas azuis, cercada de rochosas montanhosa, animais domsticos como porcos e ces viviam nas ruas em busca de restos de comida espalhados pelo cho. Os servios urbanos eram desempenhados pelos escravos e pela populao livre. Aos escravos era reservado o servio de utilizao da fora fsica como o transporte da liteira de aluguel ou particular e tambm o servio considerado sujo como o transporte dos barris com lixo domstico, que era enterrado nas areias das praias. No entorno das igrejas ou nos becos da cidade amontoavam-se os mendigos, pessoas doentes e/ou desprovidas de renda, famlia e ofcio, que sem ajuda das autoridades governamentais, viviam e morriam pelas ruas da cidade.

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auLa 3 A Formao da Sociedade Brasileira no Perodo Colonial

Ao contrrio do Rio de Janeiro, e das demais cidades litorneas, como Salvador por exemplo, Ouro Preto, So Joo Del Rey e demais cidades mineiras eregiram-se entre vielas, travessas e becos. As primeiras habitaes eram construdas com madeira (pau a pique) cobertas com telhas do barro. Com a riqueza da minerao, as casas mineiras foram ganhando uma arquitetura condizente com o poder aquisitivo de seus proprietrios. As casinhas de pau-a- pique foram substitudas por casares com mais d0e um piso trreo. As capelas substitudas por suntuosas igrejas decoradas com ouro. Edifcios pblicos como cadeia e cmara municipal foram construdos. Com o desenvolvimento das atividades urbanas, as residncias serviam tambm para a instalao de uma atividade comercial na parte trrea da casa. Lar e trabalho ocupavam um mesmo espao. Assim, as casas possuam escadas que ligavam o piso inferior aos demais cmodos, como a sala, os quartos, a cozinha e a alcova (quartinho de banho e de depsito dos barris que recebiam os dejetos orgnicos para serem jogados em locais distante da casa). Observe que nessa poca a colnia no dispunha de servios sanitrios nas reas urbanas. Na parte externa da casa, no quintal, localizava-se a horta familiar. Na parte inferior da casa; no poro, galinhas e arreios das cocheiras dividiam o espao onde os escravos dormiam. A partir da segunda metade do sculo XVIII, com a prosperidade da vida urbana mineira, houve um incremento arquitetnico nas construes com a insero de sacadas rendilhadas em pedra-sabo nas fachadas das casas, alm de soleiras, grades e jardins. As casas dos mais ricos ganharam beirais que ostentavam a riqueza do proprietrio. Os beirais alm de marcar a posio social, serviam tambm para proteger as paredes das guas da chuva. As igrejas passaram de simples igrejinha (capela) a condio de suntuosos espaos sagrados com altares construdos em um grande salo, ornamentados com peas em ouro e pinturas feitas por etapas e por artistas diferentes.

Apesar de ser um local sagrado, as igrejas mineiras foram os exemplos concretos da separao das classes. Havia a igreja catlica para os ricos, brancos e livres e a igreja catlica para os escravos. Atividade 1. Como se constituiu a sociedade colonial brasileira. 2. Faa uma reflexo sobre a sua histria. Quem voc? Quais elementos tnicos contriburam para a sua constituio. Faa essa atividade em um texto dissertativo intitulado Quem Sou Eu? Registre essa atividade no seu portflio. 3. Faa uma comparao entre a constituio da sociedade aucareira e a constituio da sociedade mineradora. 4. Em sua opinio o preconceito e a discriminao racial esto presentes em nossa atual sociedade. Faa um debate sobre o tema. A partir desse debate redija uma reflexo sobre o tema, intitulado: Eu sou preconceituoso(a)? Aps discutir com a turma a reflexo sobre preconceito, reveja seu texto e registre no portflio.

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anotaes

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a ConstItuIo do ImPRIo BRasILeIRoContedo A crise do sistema colonial A sociedade imperial A economia imperial

Competncias e habilidades Conhecer o significado da Histria enquanto disciplina que pode contribuir para a sua formao profissional na rea de Servio Social, compreendendo a Histria como mecanismo de luta da humanidade pelos seus direitos sociais

Textos e atividades para auto-estudo disponibilizados no Portal NCLEOS URBANOS NA PRIMEIRA METADE DO SCULO XIX. In: COSTA, Emlia Viotti da. Da Monarquia Repblica: momentos decisivos. 7. ed. So Paulo: Editora Unesp, 1999.

Durao2 h/a via satlite com o professor interativo 2 h/a presenciais com o professor local 6 h/a mnimo sugerido para auto-estudo

Como vimos nas aulas anteriores a Histria tem como objeto de estudo a temporalidade, ou seja, as transformaes provocadas pelos homens em sociedade ao longo dos anos. Para tanto, precisamos ter clareza das condies histricas desses homens em sociedade, conhecer suas diferentes formas de organizao, produo de idias e objetos, bem como, suas necessidades de sobrevivncia para entendermos as transformaes ocorridas no Brasil ao longo do sculo XIX que alou da condio de Colnia a um Estado Monrquico, substitudo pela Repblica. Nesta aula, analisaremos as relaes que se formaram no emaranhado dessas mudanas.

DA COLNIA AO IMPRIO

O sculo XVIII presenciou o nascimento de idias liberais e libertrias na Europa que contradiziam com a poltica colonialista implantada na Amrica desde o sculo XV pelos pases europeus. Os ventos liberais de ruptura com o antigo modo de produo feudal e com o regime absolutista geraram uma inexplicvel contradio. A funo da Colnia de produzir para a Metrpole e pela Metrpole estava sendo questionada. A exemplo de outras colnias americanas, no Brasil colonial tambm comeou a se formar um

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auLa 4 A Constituio do Imprio Brasileiro

contingente populacional, cuja identidade no europia lutava pelas idias de liberdade poltica, social e econmica. Em termos polticos, o Brasil logo no incio do sculo XVIII, havia sido elevado a condio de ViceReino, sendo inclusive a sede do vice-reinado transferida de Salvador para o Rio de Janeiro conforme estudamos anteriormente. Em termos sociais e econmicos, os grupos que aqui se formaram constituram-se ao longo de trs sculos de colonizao na chamada elite colonial, cujos interesses divergiam da elite metropolitana portuguesa. Essas divergncias geraram conflitos e tenses expressas nas rebelies ocorridas em vrias partes da colnia, cujos objetivos diversos iam desde a separao poltica da metrpole quelas que queriam apenas maior liberdade econmica. Apesar das rebelies apresentarem caractersticas e objetivos diferentes, elas so ilustrativas da crise pela qual estava passando o sistema colonial.A MUDANA DA FAMLIA REAL DE PORTUGAL PARA O BRASIL

Em um perodo efervescente de movimentos libertrios, o Brasil constituiu-se na nica monarquia da Amrica, mantendo inclusive a mo-de-obra escrava; o que contrariava as mudanas que estavam ocorrendo na Europa, como a idia de liberdade poltica, social e econmica, representadas pela Revoluo Industrial na Inglaterra e pela Revoluo Francesa.

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dICa Sugerimos que assistam:

Carlota Joaquina, Princesa do Brasil. Dirigido por Carla Camurtati em 1995, estrelado por Marieta Severo, Marco Nanini, Ludmila Dayer, Maria Fernanda, Marcos Palmeira, Antonio Abujamra, Vera Holtz, Ney Latorraca, narra em linguagem cinematogrfica e humorstica o cotidiano da Famlia Real Portuguesa desde os antecedentes de sua chegada ao Brasil.

A REVOLUO INDUSTRIAL E O IMPRIO BRASILEIRO

Na primeira dcada do sculo XIX, em 1808, o rei D. Joo VI, a rainha D. Carlota Joaquina e a corte portuguesa chegam de mudana capital da colnia, transformando o Rio de Janeiro em complexo administrativo e poltico da metrpole. A populao urbana sofreu as conseqncias dessa chegada. A cidade se modernizou, o custo de vida encareceu e os pobres foram empurrados para regies distantes do centro poltico e administrativo. Estando instalada na colnia, a coroa portuguesa poderia comercializar diretamente com outras metrpoles de seu principal porto colonial, o que determinou na prtica que a elite colonial brasileira poderia ter seus ganhos ampliados. Em 1820, como o rei D. Joo VI no apresentasse indcios de querer regressar com sua famlia a Portugal, foi pressionado pelos parlamentares portugueses, a optar pelo retorno; entretanto deixou, como garantia de continuidade poltica, seu filho, o prncipe D. Pedro I, que decretou colnia brasileira um estado monrquico, a partir de 1822.

Em decorrncia do avano cientfico e tecnolgico, a Inglaterra reuniu at meados do sculo XVIII, as condies polticas, econmicas, sociais e culturais necessrias ao desenvolvimento da indstria e do capitalismo industrial. Os inventos mecnicos para o setor industrial comearam a se multiplicar em meados do sculo XVIII: em 1733, John Kay inventou a lanadeira mecnica ou volante, aumentando a rapidez na fiao e John Wyatt e Lewis Paul inventaram a primeira mquina de fiar; em 1765, James Hargreaves criou sua mquina de fiar, a spinning-jenny (com ela o operrio poderia controlar oito fusos, chegando mais tarde a oitenta); em 1768 R. Arkwright inventou o tear hidrulico (water-frame); em 1779, Samuel Crompton criou uma nova mquina que combinava as invenes de Hargreaves e Arkwright com capacidade de produo confeco de fios resistentes; em 1785 o reverendo E. Cartwright adaptou a mquina a vapor ao tear, aumentando a produo fabril com menos esforo humano.

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Com a industrializao, as atividades produtivas adquiriram mais rapidez e eficincia, porque o trabalho se tornou cada vez mais mecanizado e repetitivo, agilizando e aumentando a produo. Com a especializao do trabalho industrial instrumentos e mquinas realizavam vrias tarefas ao mesmo tempo, substituindo com vantagem o trabalho realizado manualmente pelos homens. A diviso do trabalho na indstria foi descrito por Adam Smith na sua obra clssica a Riqueza das Naes:Um operrio desenrola o arame, outro e endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocao da cabea do alfinete; para fazer uma cabea de alfinete requerem-se 3 ou 4 operaes diferentes [...]. Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete est dividida em aproximadamente 18 operaes distintas [...]; pode-se considerar que cada [operrio] produzia 4 800 alfinetes diariamente. Se, porm, tivessem trabalhando independentemente um, do outro [...] certamente cada um deles no teria conseguido fabricar 20 alfinetes por dia, e talvez nem mesmo um [...] (SMITH, 1988, 27-28).

Estando a Europa a vivenciar os reflexos da Revoluo Industrial, pases como Inglaterra e Frana em processo de industrializao, passaram a incentivar a produo agrcola nos pases dependentes da economia europia industrializada, de modo a instaurarem um ciclo de venda de produtos industrializados para esses pases e compra de produtos agrcolas, que eram a matria prima da indstria. O Brasil, que havia iniciado a explorao da lavoura cafeeira na segunda metade do sculo XVIII, quando ainda era Colnia de Portugal, agora na condio de Monarquia instaurada na estrutura social e econmica do perodo colonial, contava com farta mo-de-obra escrava para o trabalho rentvel de exportao do caf.O IMPRIO DO CAF

Para Marx (apud SMITH, 1988) esse tipo de trabalho alienava o operrio do processo de produo. Se antes o arteso tinha o domnio da tcnica e do produto desde o incio da sua produo at a sua comercializao final, a diviso do trabalho industrial tirava o operrio do processo geral de produo, colocando-o na linha de montagem; isto , o trabalhador especializava-se em um tipo de trabalho e somente sabia realizar aquela tarefa, alm de ter sua fora de trabalho explorada pelos donos dos meios de produo. Estando alienado do processo produtivo, o produto do trabalho torna-se estranho e distante do operrio que o produziu; fazendo da atividade laboral apenas num meio de sobrevivncia para o trabalhador. A partir dessa revoluo um novo tipo de homem, um novo tipo de trabalhador e um novo modo de vida, estruturou-se na sociedade urbana e industrial.

O elevado consumo do caf na Europa e nos Estados Unidos, o alto preo do produto no mercado europeu, aliado s condies climticas, a mo-de-obra farta e barata primeiro os escravos negros, depois os imigrantes europeus e asiticos a disponibilidade de capital financeiro dos habitantes de centros urbanos, foram fatores decisivos para o sucesso da lavoura cafeeira, que pde ser comparada a uma criana nascida na colnia, adulta no Imprio e moribunda na Repblica como veremos posteriormente. O capital proveniente da lavoura cafeeira alm de melhorar o maquinrio pde ser investido na recuperao de estradas e instalao de ferrovias, que barateavam o escoamento do produto e aumentavam os lucros. Apoiado no trip: mo-de-obra escrava em abundncia, grande propriedade rural e demanda do mercado externo, o caf reinou absoluto at 1831 quando a mesma Inglaterra que incentivou os pases dependentes a se dedicarem a agricultura; agora, alegando questes humanitrias, preocupava-se em fazer com que os pases escravocratas substitussem a escravido pelo trabalho assalariado, de maneira a beneficiar o mercado consumidor. Submetido aos interesses ingleses, o imprio brasileiro proibiu o comrcio negreiro que continuou acontecendo, apesar da proibio oficial. No satisfeita, em 1845, a Inglaterra proibiu o trfico negreiro,

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prevendo severas penas aos infratores. Contudo, o negro continuou sendo trazido clandestinamente e vendido a preos ainda mais elevados. Em 1850, o governo brasileiro, atravs da lei Eusbio de Queirs, decretou o fim do trfico negreiro. Em contrapartida, um intenso comrcio interprovincial de trfico de escravos negros do nordeste, por algum tempo, resolveu o problema da falta de mode-obra nas lavouras cafeeiras do sudeste do pas. Em 1864 com o incio da Guerra com o Paraguai, o Imprio brasileiro se v frente a um dilema; necessitava de homens para o exrcito, mas a maior parte da populao era mo-de-obra escrava nas fazendas de caf. Terminada a guerra em 1870, o Imprio Brasileiro alm do desgaste poltico e financeiro, encontravase pressionado por grupos polticos liberais, intelectuais e fazendeiros progressistas que lideraram o movimento de abolio da escravido negra. Em 1871 e 1885 foram aprovadas as leis do Ventre Livre e a Saraiva Cotegipe, tambm conhecida como lei dos sexagenrios. Com tanta presso, o escravo se tornou um investimento caro e escasso. A estrutura cafeeira entra em crise e os fazendeiros de caf dividem-se em dois blocos distintos. Os do vale do Paraba, defensores da escravido e os do Oeste paulista mais abertos s mudanas, viam a introduo da mo-de-obra assalariada como uma sada vivel e necessria.O TRABALHO NO ESCRAVO

condio de escravos endividados. Os fazendeiros por sua vez, acostumados com o trabalho escravo, sentiam-se prejudicados com o investimento. A partir de 1870 o problema da mo-de-obra se agravou. A explorao do caf continuava a demandar mo-de-obra. Diante dessa necessidade, o governo imperial investiu alto para trazer o trabalhador estrangeiro para o Brasil. Os primeiros a chegarem foram os chineses, depois os italianos, que estavam no mesmo perodo enfrentando problemas de crise de desemprego com as lutas internas de reunificao da Itlia. Para fugir da misria, os italianos deixaram sua terra natal em busca de melhores condies de vida e de trabalho. So Paulo registrou no ano de 1877, a chegada de 2000 (dois mil) italianos para trabalhar na cafeicultura.URBANIZAO DO PERODO IMPERIAL

Para substituir a mo-de-obra do escravo negro, o imprio brasileiro em parceria com fazendeiros que acreditavam no trabalho no escravo, incentivou a vinda de pessoas da Europa que quisessem e soubessem trabalhar na lavoura. O senador Nicolau de Campos Vergueiro, foi o primeiro a atrair imigrantes portugueses e germnicos para sua fazenda em Limeira, interior do atual Estado de So Paulo, ainda na primeira metade do sculo XIX. O imigrante vinha trabalhar na lavoura cafeeira, atravs do sistema de parceria que teoricamente mostrava-se lucrativo, mas que na prtica os reduzia

A expanso da economia cafeeira, transformou a paisagem geogrfica, econmica e social do pas e colocou o Brasil nos mesmos patamares da economia dos grandes pases industrializados; com a implementao do mercado interno, instalao de vias frreas, introduo da mo-de-obra livre, das primeiras indstrias e do sistema de crdito. Nas cidades beneficiadas pelo caf o progresso pde ser visto nas obras pblicas construdas como chafarizes e praas. Estes ncleos urbanos estando atrelados demanda mundial se modernizaram, contrastando com o restante do pas que permaneceu atrasado, mergulhado na precariedade de uma estrutura rural arcaica. Com a instalao das vias frreas, o transporte da produo cafeeira, antes feito nos lombos dos muares, passou a ser realizado pelas ferrovias. Com a estrada de ferro veio o progresso. As distncias encurtaram, os fazendeiros puderam construir seus palacetes nas cidades, a exemplo de So Paulo que ficou conhecida como a capital dos cafeicultores. Paralelamente s cidades nascidas com o caf, outros ncleos urbanos previamente existentes e que se desenvolveram em funo de outras atividades econmicas, acabaram por se consolidar de fato em funo da cultura cafeeira. Outras prosperaram por

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estarem localizadas no trajeto das ferrovias, como Campinas, Rio Claro, Pindamonhangaba e Ribeiro Preto. O oposto tambm aconteceu, Areias, Bananal, So Jos do Barreiro, afastadas do eixo ferrovirio, declinaram. Em meio a esse emaranhado uma outra sociedade estava se constituindo.A SOCIEDADE IMPERIAL

2. Estabelea um paralelo entre a constituio do Imprio Brasileiro e a Revoluo Industrial Inglesa. 3. Discorra sobre a importncia da mo-de-obra escrava na lavoura cafeeira. 4. Quais os sentidos e significados da substituio do trabalho escravo pelo trabalho livre? Por que e para quem era vantajoso e desvantajoso? 5. Quais as razes que obrigaram os italianos a procurar novas fontes de trabalho? 6. Qual a importncia da ferrovia para o progresso da regio cafeicultora? 7. Discorra sobre os centros urbanos e a sociedade que se constituiu no apogeu do caf? Quais os reflexos dessa sociedade em formao o fim do Estado Monrquico Brasileiro? Registre sua atividade de auto-estudo desta aula no seu portflio.

Nessa sociedade em formao, os escravos continuaram escravos, o fazendeiro de caf transformouse no baro do caf com poderes ainda mais amplos. Todavia, uma camada mdia urbana formada por profissionais liberais, como os bacharis em direito, mdicos, professores, funcionrios pblicos, comerciantes, comea a se organizar e exigir mudanas polticas e sociais que fossem condizentes com as idias que estavam circulando na Europa e nos Estados Unidos da Amrica desde o sculo XVIII, que de fato atendesse s reivindicaes dessa camada em formao no sculo XIX. As idias de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, disseminadas com a Revoluo Francesa ocorrida em 1789, passaram a ser objetivos dessa camada mdia urbana, que organizada em grupos ou partidos defendia a abolio da escravatura e o fim da monarquia. Em 1888, a escravido negra foi abolida por decreto real e o Imprio enfraquecido foi substitudo pela Repblica, proclamada em 15 de novembro de 1889, por ato dos militares, com a participao dos cafeicultores paulistas que ansiavam pelo poder poltico, conforme veremos na prxima aula. Atividade A lavoura cafeeira no Brasil expressa momentos decisivos no processo de transformaes sociais, polticas e econmicas na histria do pas. Saindo do campo para a cidade, uma nova sociedade e um outro regime poltico foi implantado. Partindo dessas reflexes, faa as atividades a seguir: 1. Quais os antecedentes histricos que conduziram a Colnia Brasileira condio de Imprio?

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anotaes

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auLa 5 A Constituio da Repblica Brasileira

auLa ____________________a ConstItuIo da RePBLICa BRasILeIRaContedo A Repblica A sociedade republicana A economia republicana

Competncias e habilidades Analisar as contribuies de Repblica para mudanas na estrutura social, poltica e econmica do Pas, a partir do conhecimento das estruturas sociais, polticas e econmicas da Repblica Cafeeira

Textos e atividades para auto-estudo disponibilizados no Portal Uma Repblica velha? In: DEL PRIORE, Mary; VENANCIO, Renato Pinto. O livro de ouro da histria da Brasil.Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

Durao2 h/a via satlite com o professor interativo 2 h/a presenciais com o professor local 6 h/a mnimo sugerido para auto-estudo

De 1889 at 1930, a Repblica na histria do Brasil foi marcada pela economia que se fundamentava na exportao do caf e por uma sociedade representada por grandes fazendeiros, que controlavam o poder poltico por meio de eleies fraudulentas. O capital agrcola, de incio gerado pela lavoura cafeeira, transformou-se pela sua mercantilizao em capital comercial, que mais tarde investido em indstrias e no mercado de aes produziu o capital industrial e financeiro. Nesta aula analisaremos as relaes histricas e sociais produzidas no perodo que ficou conhecido como a Repblica do Caf.

A GNESE DA REPBLICA

Como vimos na aula anterior, a Repblica Brasileira nasceu do desejo das camadas mdias urbanas, dos militares e de segmento dos cafeicultores vidos de poder poltico. Oficialmente a Repblica foi proclamada pelo Marechal Deodoro da Fonseca em 15 de novembro de 1889. Entretanto, no bastava proclam-la, era necessrio instaur-la. A estruturao desse novo regime de governo dividiu os setores aliados antes de sua proclamao em dois blocos distintos. De um lado, os cafeicultores paulistas, mineiros e gachos advogavam uma estrutura republicana fe-

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derativa, com autonomia s provncias, a exemplo dos Estados Unidos da Amrica. Acreditavam que as provncias autnomas teriam maior poder regional. Por sua vez, os militares discordavam. Defendiam a estrutura republicana com amplos poderes para o Poder Executivo. Em suas concepes, o Executivo forte evitaria amarraes ao Poder Legislativo. Em meio a essas discrdias, instalou-se um governo provisrio que ficou a cargo dos militares; estes permaneceram no comando da repblica de 1889 a 1894, perodo que ficou conhecido como Repblica da Espada. Sob o comando do Marechal Deodoro da Fonseca, algumas providncias foram adotadas pelo Governo Provisrio, entre as quais destacaram-se: O Federalismo com a transformao das provncias imperiais em unidades federadas e a capital da Repblica em Distrito Federal. A Separao entre Igreja e Estado com a instituio do casamento civil e do registro de nascimento. Os Trs Poderes com a instituio dos Poderes Executivo, Legislativo e Judicirio, os quais deveriam atuar de forma independente e harmoniosa entre si. Naturalizao com o decreto de naturalizao de todos os estrangeiros residentes no Brasil. Bandeira da Repblica foi criada a bandeira republicana com os dizeres Ordem e Progresso. Assemblia Constituinte com a convocao de uma Assemblia Nacional Constituinte, cuja misso era elaborar a primeira constituio republicana. Todavia, essas providncias no representaram transformaes sociais e econmicas em benefcio da populao que continuou a margem das grandes decises e de fora do bolo da riqueza, concentrada nas mos dos grandes fazendeiros que continuaram a explorar a monocultura cafeeira visando ao mercado externo. Concluda a Constituio Republicana em 1891, a Assemblia Constituinte transformada em Congresso Nacional, tinha agora a tarefa de eleger o presidente e o vice-presidente da Repblica. Com apoio dos militares, o Marechal Deodoro da Fonseca era o candidato natural, tendo como vice o Almirante Eduardo Wandenkolk. Os cafeicultores por sua vez, lanaram a candidatura de Prudente de

Morais Presidncia da Repblica e como seu vice, o Marechal Floriano Peixoto. Em 1891, o Marechal Deodoro da Fonseca foi eleito presidente e o Marechal Floriano Peixoto vice. Apesar da vitria, o Marechal Deodoro da Fonseca encontrava forte oposio dos cafeicultores no Congresso Nacional, levando-o a renunciar o mandato no mesmo ano em que foi eleito. O Marechal Floriano Peixoto, vice do Marechal Deodoro da Fonseca assumiu o poder com apoio dos cafeicultores congressistas e no-congressistas, manteve-se na presidncia no perodo de 1891 a 1894, com a oposio dos militares que exigiam a convocao de uma nova eleio, visto que o Marechal Deodoro da Fonseca no havia cumprido nem metade de seu mandato. Como o Marechal Floriano Peixoto no atendeu s exigncias das Foras Armadas, alguns militares rebelaram-se no Rio de Janeiro em 1893, movimento que ficou conhecido como revolta da Armada. Alm da Revolta da Armada, ocorreu no sul do pas, uma outra rebelio em paralelo, que ficou conhecida como a revoluo federalista, fruto das insatisfaes polticas, dos militares do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran; revoluo essa que tomou propores nacionais. Contudo, o Marechal Floriano Peixoto conteve essas revoltas; atitudes que lhe valeram o ttulo de marechal de ferro.OS PRIMEIROS PRESIDENTES CIVIS

Estando controlada a situao poltica e militar ocorrida no governo do Marechal Floriano Peixoto, em 1893 os cafeicultores vislumbravam a chance real de assumirem plenamente o poder poltico, ao articularem a candidatura de Prudente de Morais, importante civil, que representava os interesses dos cafeicultores paulistas. Com a ascenso de Prudente de Morais (18941898) presidncia da Repblica, a oligarquia cafeeira assumiu plenamente o poder poltico e excluiu as possibilidades de conquistas sociais e econmicas da maioria da sociedade brasileira. Nesse contexto, eclodiu a Revolta de Canudos no serto da Bahia.

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Como havia divergncias no interior das foras oligrquicas, o presidente enfrentou a oposio de algumas elites estaduais ao seu governo; no conseguindo programar uma poltica que consolidasse o poder almejado pelas oligarquias. Foi Campos Sales (1898-1902), poderoso cafeicultor paulista, quem idealizou uma poltica de permanncia e dominao das oligarquias nacionais; atravs da poltica de valorizao do caf e da poltica dos governadores, cujo objetivo era evitar choques polticos entre o governo federal e representantes das oligarquias estaduais no congresso.A POLTICA DE VALORIZAO DO CAF E A POLTICA DOS GOVERNADORES

neiro, constituia-se no representante legtimo dessas oligarquias e dava estabilidade ao sistema republicano oligrquico cafeeiro.O CORONELISMO NA REPBLICA OLIGRQUICA

Para garantir o domnio permanente da mquina administrativa por parte da oligarquia cafeeira, era fundamental que essas elites se entendessem. Nesse sentido, o presidente Campos Sales props um acordo com as oligarquias regionais, que consistia no seguinte: o governo federal se comprometia em apoiar e respeitar as decises dos governos estaduais; que em troca, comprometiam-se em eleger para o Congresso Nacional, deputados aliados do governo. Como o voto no era secreto, esse acordo permitia fraudar a eleio e garantir a vitria de uma maioria governista; e se fosse preciso, o deputado opositor que por ventura fosse vitorioso no era diplomado nem empossado na Cmara Federal. Sem oposio, essa poltica garantia a permanncia de um mesmo grupo no poder, mantido pela troca de favores entre os aliados polticos.A POLTICA DO CAF-COM-LEITE

Os chefes polticos regionais eram chamados de coronis; Latifundirio, que tinha sob seu domnio uma vasta clientela de parentes diretos e indiretos, ligados ao Coronel por conseguirem empregos e favores. Com essas garantias, os coronis na poltica local e/ou regional mobilizavam seus seguidores e decidia o resultado das eleies. Fraude, corrupo e violncia fsica faziam parte do processo eleitoral na Repblica Oligrquica.A ECONOMIA REPUBLICANA

Com o trmino do mandado do presidente Campos Sales em 1902 a repblica oligrquica cafeeira encontrava-se politicamente estvel. Essa estabilidade, que durou at mais ou menos 1920, foi conseguida pelo acordo firmado entre os dois maiores estados produtores da Repblica, So Paulo com a cafeicultura e Minas Gerais com a pecuria leiteira. Como conseqncia, no cenrio poltico nacional, o maior nmero de congressistas eram oriundos desses dois Estados; e o Presidente, ora paulista, ora mi-

O caf continuou na base econmica da Repblica at 1930. Entretanto, a intensa produo de caf no final do sculo XIX, produziu um superavit que gerou crise nos preos. Tanto o mercado interno, quanto o mercado externo ficaram saturados. Para garantir o alto preo do caf no mercado nacional e internacional, o governo federal, representante legtimo da oligarquia cafeeira, reuniu em 1906 na cidade de Taubat, representantes dos estados de So Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro para permitir a esses governos, a contrao de emprstimos no exterior para a compra do excedente da safra e regularizar a oferta. Esse Convnio representou na prtica uma poltica de valorizao do caf, que virou regra na Repblica. A toda e qualquer superproduo e quedas no preo, o governo federal bancava o excedente, garantindo a lucratividade dos cafeicultores em detrimento de outros setores da economia nacional e da sociedade. Essa situao se prolongaria at o final da dcada de 1920, quando no foi mais possvel ao governo federal continuar implementando tal poltica.DA CAFEICULTURA RURAL AO PROCESSO DE URBANIZAO

Na passagem do sculo XVIII para o sculo XIX, as condies bsicas necessrias para o desenvolvi-

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mento do setor industrial estavam sendo consolidadas. O caf, carro chefe das exportaes do perodo colonial e imperial, criou as relaes sociais e comerciais que favoreceram o setor de servios urbanos; estimulando a modernizao das cidades as quais se formavam na rota cafeeira. At 1930, o caf se manteve como a principal atividade econmica do pas, responsvel pela gerao de riqueza da sociedade republicana em formao. Com o advento da primeira Guerra (1914-1918), a indstria nacional foi impulsionada a se desenvolver porque o conflito armado dificultou as importaes de produtos industrializados dos pases europeus e as exportaes de produtos agrcolas para estes. Com capital acumulado atravs da explorao da mo-de-obra escrava negra, e da exportao agrria monocultora desde o perodo colonial; da mo-deobra do imigrante europeu no sculo XIX, aliado s mudanas internacionais no setor de produo, as condies materiais para a indstria haviam sido criadas na regio sudeste do pas; em especial So Paulo e Rio de Janeiro, com destaque para a indstria txtil e de alimentos. Paralelo ao desenvolvimento industrial, ocorreu o processo de urbanizao do pas, determinado por trs fatores bsicos: xodo rural, migrao e imigrao para o Sul e Sudeste e modernizao das cidades. Entretanto, as cidades, ainda pequenas e desestruturadas, mantinham as caractersticas do perodo colonial; apresentavam problemas de espao, obrigando as pessoas a viverem em espaos restritos e desestruturados. Conseqentemente, as condies de vida eram pssimas para a maior parte dessa populao. Sem planejamento, o espao urbano nas cidades era limitado; tanto para os antigos quanto para os novos habitantes que chegavam em busca de um emprego. Como no havia emprego para todos, os trabalhadores eram explorados. Aqueles que no conseguiam um emprego formal, trabalhavam em setores da informalidade. Tambm nesse perodo inexistia uma legislao trabalhista e, as organizaes de trabalhadores, quando existiam, eram omissas.

Com o crescimento demogrfico nos centros urbanos, vieram tambm os problemas sociais.Geralmente os velhos centros das cidades se deterioravam; as ruas e ruela dificultavam o trnsito; o transporte e a iluminao pblica no cresciam na mesma proporo da populao; o abastecimento. A falta de gua e de alimentos tornava-se difcil e pobreza multiplicava-se a olhos vistos. Apesar das experincias planejadoras, as grandes cidades brasileiras cresceram de maneira desordenada e tumultuada. Por isso, boa parte delas comeou a necessitar de profundas transformaes, algumas chegaram inclusive a sofrer autnticas plsticas urbanas produzindo novas cidades sobre os velhos centros, como em So Paulo e, principalmente, no Rio de Janeiro. Nesse ritmo acelerado de crescimento e de reformas, at cidades planejadas, como Belo Horizonte, surgiriam no final do sculo XIX (MOARAES, 1998, p. 372).

Como tentativa de minimizar os problemas, os principais centros urbanos, como o Rio de Janeiro por exemplo, receberam obras pblicas como boule vards que embelezariam a paisagem deteriorada pelas mazelas sociais.A REPBLICA DO CAF ENTRA EM CRISE

A partir da dcada de 1920 a Repblica Oligrquica Cafeeira comea a dar sinais de crise nos aspectos econmico, poltico e social. No aspecto social, a sociedade urbana se diversificava. Formaram-se movimentos sociais e organizaes de classe, como os sindicatos e o Partido Comunista Brasileiro. No aspecto poltico, as oligarquias que estavam fora da poltica do caf com leite comearam a criticar e a questionar a hegemonia de So Paulo e Minas Gerais, aliadas a setores das camadas mdias urbanas, descontentes com a poltica eleitoral corrupta, violenta e fraudulenta do perodo. No aspecto econmico, as sucessivas crises do caf apontavam que o reinado desse produto estava chegando ao fim. Todavia, o elemento-chave que desencadeou a crise da Repblica oligrquica

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cafeeira, originou-se entre os militares, que insatisfeitos com a Repblica que ajudaram a construir, acreditavam que os ideais republicanos s poderiam ser levados a efeito por uma instituio sria; livre da corrupo que havia tomado conta dos polticos civis.A CRISE ECONMICA DE 1929

voltou ao mercado internacional com seu preo valorizado de acordo com os preos da balana comercial de exportao, conforme veremos na prxima aula. Atividade Aps a leitura do texto desta aula e do texto disponibilizado no portal para auto-estudo, elabore as seguintes atividades: 1. Que relaes podem ser estabelecidas entre o processo de urbanizao e industrializao ocorrido na Repblica Oligrquica Cafeeira e a formao de outros setores sociais? 2. Faa uma reflexo sobre as condies de vida da populao urbana e a necessidade de uma poltica de Assistncia Social. 3. Aps a reflexo, discuta com seus colegas sobre a hiptese de atuar como profissional do Servio Social em uma sociedade marcada pelas mazelas sociais, polticas e econmicas, como foi a Repblica Cafeeira das primeiras dcadas do sculo XX. Registre, na forma de um texto, o seu entendimento sobre a discusso ocorrida na aula local.

A crise na agricultura cafeeira teve seu colapso no ano de 1929 com a crise do capitalismo internacional; marcada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, quando em um nico dia, milhes de ttulos no tendo sido vendidos fo