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GESTÃO DO CONHECIMENTO Para citar este texto: GOMIDE, Natércia Guimarães. Gestão do Conhecimento e do Capital Intelectual. Departamento de Extensão e Pós-Graduação. Valinhos, SP: Anhanguera Educacional, 2011. PÓS-GRADUAÇÃO 2011 LEITURA FUNDAMENTAL AULA 1 GESTÃO DO CONHECIMENTO E DO CAPITAL INTELECTUAL NATÉRCIA GUIMARÃES GOMIDE © DIREITOS RESERVADOS Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, da Anhanguera Educacional. Publicação: Março de 2011. DIRETORIA DE EXTENSÃO E PÓS- GRADUAÇÃO Silvio Cecchi Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000, Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181, Tel.: 19 3512-1700 PREPARAÇÃO GRÁFICA Lusana Veríssimo Renata Galdino Wellington Lopes PARECER TÉCNICO Yaeko Osaki REVISÃO GRAMATICAL Alexandre Rocha

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GESTÃO DO CONHECIMENTO

Para citar este texto:

GOMIDE, Natércia Guimarães. Gestão do Conhecimento e do Capital Intelectual. Departamento de

Extensão e Pós-Graduação. Valinhos, SP: Anhanguera Educacional, 2011.

PÓS-GRADUAÇÃO – 2011

LEITURA FUNDAMENTAL – AULA 1

GESTÃO DO CONHECIMENTO E DO CAPITAL INTELECTUAL

NATÉRCIA GUIMARÃES GOMIDE

© DIREITOS RESERVADOS

Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, da Anhanguera Educacional.

Publicação: Março de 2011.

DIRETORIA DE EXTENSÃO E PÓS-

GRADUAÇÃO

Silvio Cecchi

Correspondência/Contato

Alameda Maria Tereza, 2000, Valinhos, São Paulo

CEP. 13.278-181, Tel.: 19 3512-1700

PREPARAÇÃO GRÁFICA

Lusana Veríssimo

Renata Galdino

Wellington Lopes

PARECER TÉCNICO

Yaeko Osaki

REVISÃO GRAMATICAL

Alexandre Rocha

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GESTÃO DO CONHECIMENTO E DO CAPITAL INTELECTUAL

1. INTRODUÇÃO À GESTÃO DO CONHECIMENTO

A gestão do conhecimento é um tema novo no contexto empresarial; contudo, já

comprovou a sua importância para o desenvolvimento organizacional, através da

geração de capital intelectual no ambiente corporativo. Esta nova vertente de gestão

surgiu no início da década de 1990, e não se constitui em mais um modismo de

eficiência operacional; mais do que isto, faz parte da estratégia empresarial do mundo

pós-moderno. Desta forma, fica explícito o seu valor como uma técnica de gestão que

auxilia as organizações a se posicionar competitivamente frente aos desafios

mercadológicos contemporâneos.

No século XX houve uma grande transformação no macro ambiente sócio-econômico,

podendo este, ser considerado um período revolucionário no que se refere às formas

de produção e relações de trabalho. Todas essas mudanças mundiais impactaram

significativamente no ambiente corporativo, gerando novas necessidades, dentre elas

a de se fazer a gestão do conhecimento, com o objetivo de aumentar as competências

distintivas das organizações.

Os modelos sócio-econômicos anteriores não concediam grande ênfase ao

conhecimento. Nas economias de natureza agrícola, a terra era a principal fonte de

riqueza; posteriormente, na era industrial, a tecnologia passou a ter fundamental

importância, fazendo com que o capital se tornasse a força motriz do desenvolvimento

econômico. Na atualidade a revolução da comunicação e a informatização obrigaram

as empresas a se adaptar à realidade vigente; para isso; foi necessário criar novos

modelos de gestão empresarial e práticas gerenciais.

A evolução dos meios de produção fez com que o trabalho braçal fosse substituído

pelas máquinas e o mental de certa forma passou a ser realizado pelos computadores;

diante disso, o trabalhador assumiu um novo papel neste cenário, que foi o de

contribuir com ideias, gerando ações inovadoras com o objetivo de maximizar o

desenvolvimento organizacional. Estas demandas são consequência do aumento da

comunicação entre os países, do desenvolvimento de novas tecnologias, e também

das mudanças da base econômica, que deixaram de se apoiar apenas na produção

agrícola e industrial, sendo também necessária a produção de informação, serviços e

conhecimentos.

No período industrial a principal premissa se constituía no trabalho rápido e na

produção em grande escala; porém, a globalização transformou os níveis de exigência

do mercado, e a quantidade cedeu espaço à qualidade. Com isso, as empresas

precisaram aprender a trabalhar de forma inteligente, ampliando a necessidade do

aprendizado para a realização do trabalho. A geração de informações e a distribuição

do conhecimento se fizeram necessárias, rompendo com os modelos antigos de

reserva do mercado sobre o saber.

Na sociedade do conhecimento, o serviço, a qualidade e a criatividade são alguns dos

principais elementos que asseguram o sucesso de uma organização. As ideias

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passaram a ser moeda corrente e o conhecimento se tornou um dos fatores de

produção mais importantes.

Na atualidade, as atividades que geram mais valor e produzem riqueza para indivíduos

e sociedade são as provenientes da inovação, ou seja, da capacidade de utilizar o

conhecimento agregado aos produtos e serviços oferecidos, e é isto, que concede

destaque ao trabalho intelectual e à gestão do conhecimento. Desta forma, a era da

informação tem como base a comunicação e o conhecimento, e o seu principal

personagem é o homem. Na Sociedade do Conhecimento é necessário que este seja

incorporado não apenas como mais um fator de produção, mas sim, como fator

essencial do processo de produção e geração de riqueza.

No modelo econômico contemporâneo o capital intelectual de uma empresa

representa diferencial de mercado, demonstrando a importância de se adotar um papel

proativo para o desenvolvimento das competências críticas humanas, maximizando a

inteligência organizacional requerida para o sucesso do negócio.

Na era da informação, o conhecimento é novo motor da economia mundial, fazendo

com que o capital humano passe a representar o maior ativo corporativo, a partir do

seu conhecimento e know-how. As pessoas se constituem no principal diferencial

competitivo, considerando que são elas que aprendem e podem abrir espaço para o

compartilhamento do saber nas empresas, contribuindo assim para que o aprendizado

coletivo se transforme em capital intelectual. Para que isso aconteça, as empresas

precisam promover o aprendizado em seu ambiente, gerando possibilidade de

desenvolvimento contínuo, assegurando a sustentação de suas vantagens

competitivas, oportunizando o crescimento pessoal e o desenvolvimento profissional.

Na sociedade do conhecimento, a educação para o “pensar” é o que promove a

prosperidade, tornando a aprendizagem organizacional uma necessidade. Dentro

deste novo conceito, o valor não está na aprendizagem adaptativa, mas

principalmente na generativa, que expande a capacidade da organização para a

criação do futuro.

A gestão do conhecimento é definida por Angeloni (2002, p. XVI) como sendo “um

conjunto de processos que governa a criação, a disseminação e a utilização de

conhecimentos no âmbito das organizações”.

A gestão do conhecimento abrange várias áreas temáticas que se inter-relacionam,

como a gestão por competências, a educação corporativa e a aprendizagem

organizacional, as quais contribuem para o desenvolvimento do capital intelectual da

empresa, maximizando a sua inteligência competitiva.

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2. DIFERENÇA ENTRE DADO, INFORMAÇÃO E

CONHECIMENTO

Para se compreender a gestão do conhecimento, é de suma importância estabelecer a

diferenciação conceitual entre dado, informação e conhecimento. O dado pode ser

considerado uma sequência de símbolos, sejam códigos decifráveis ou não. As letras,

imagens, sons e animação são considerados dados, que podem ser descritos através

de representações formais, estruturais. Contudo, os dados não são somente códigos

agrupados, são também uma base ou uma fonte para a formação das informações. Os

dados se constituem no registro dos aspectos de um fenômeno estudado, captado por

um investigador, correspondendo a uma anotação direta das observações; porém,

trazem consigo pouca elaboração ou tratamento, permitindo apenas a compreensão

dos acontecimentos concretos.

Para Santiago Jr. (2004, p. 28),

os dados, no contexto organizacional, são descritos como registros de

transações, pois apenas descrevem parte daquilo que aconteceu. Não

fornecem julgamento, nem interpretação e tão pouco, qualquer base

sustentável para a tomada de ação ou decisão. Dados não dizem nada

sobre a sua própria importância, porém são importantes para a

organização, a partir do momento que são a matéria-prima essencial

para a criação da informação.

Os dados são uma sequência de números e/ou palavras, sob nenhum contexto

específico. Para que tenham valor e sejam compreendidos, precisam ser

transformados em informação; para isso, precisam ser operacionalizados logicamente.

A informação é a decodificação dos dados, organizando-os, analisando-os e

transformando-os. Uma vez tratados, os dados permitem deduções e inferências

lógicas confiáveis. Desta forma, a informação é a leitura daquilo que o conjunto de

dados parecem indicar, sendo uma abstração informal, que apresenta significado para

alguém por meio de textos, imagens, sons ou animação.

A informação, normalmente, é desprovida de significado e o seu valor é baixo.[...] A informação tem por finalidade exercer algum impacto sobre o julgamento do destinatário. Ela deve informar, por isto pode ser considerada como sendo o dado que faz a diferença, pois ao contrário deste, ela possui relevância e propósito. Dados só se tornam informação a partir dos seguintes métodos:

. contextualização – definição da finalidade dos dados coletados; . categorização – conhecimento da unidade de análise; . cálculo – análise matemática dos dados; . correção – eliminação das imprecisões e erros; . condensação – sumarização dos dados existentes. (SANTIAGO Jr., 2004, p. 28)

As informações servem de base para construção do conhecimento, e todo esse

processo se dá através da interação e da comunicação, o que significa dizer, que as

informações absorvidas, representam aquilo que o indivíduo captou de alguma forma

em algum processo de comunicação.

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O conhecimento por sua vez, é a interpretação de uma informação, sendo uma

abstração interior, relacionada a alguma coisa existente no mundo real com o qual se

tem uma experiência direta. O conhecimento representa os argumentos e explicações

sobre a interpretação de um conjunto de informações, que formam conceitos e

raciocínios lógicos essencialmente abstratos, que interligam e dão significado a fatos

concretos. Desta forma, o conhecimento é pessoal, e se refere a algo que foi

experimentado por um indivíduo, sendo, portanto, difícil de ser descrito na íntegra.

O conhecimento está associado a uma intencionalidade, ou seja, é uma informação

com propósito ou utilidade; por isso, não depende apenas de uma interpretação

pessoal, requerendo vivência do objeto do conhecimento. O conhecimento é subjetivo,

e somente o indivíduo é consciente de seu próprio conhecimento, sendo o único capaz

de descrevê-lo de forma parcial e também conceitualmente em termos de informação.

O conhecimento pode ser aprendido como um processo ou como um produto, quando

se refere à acumulação de teorias, ideias e conceitos. Um produto é resultado de um

processo, que representa a atividade intelectual através da qual é feita a apreensão de

algo exterior ao indivíduo. O conhecimento inclui, mas não se restringe a descrições,

hipóteses, conceitos, teorias, princípios e procedimentos, e é constituído a partir do

encontro da consciência (sujeito) com o objeto, ou seja, é aquilo que se conhece de

algo ou alguém. O conhecimento é a relação que se estabelece entre o indivíduo que

conhece ou deseja conhecer, e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer.

Santiago Jr. (2004, p. 29) afirma que

o conhecimento é uma mistura fluida de experiências, valores,

informações contextualizadas e insights. Ele possibilita a existência

de uma estrutura que permite a avaliação e incorporação de novas

experiências e informações. [...] Nas organizações ele está presente

não apenas em documentos, mas também em rotinas, processos e

práticas.

O conhecimento é a matéria-prima que permite o desenvolvimento organizacional, e

por isso, passou a se constituir em um ativo importante e indispensável para todas as

empresas. Entretanto, Santiago Jr. (2004, p. 27) comenta que

o entendimento sobre a importância do conhecimento em uma

organização passa necessariamente pela clareza de alguns conceitos,

dentre os quais é possível destacar, o da criação e registro dos

conhecimentos relevantes para a organização e o mapeamento das

pessoas que „possuem‟ esses conhecimentos.

Segundo Davenport e Prusak (1998) apud Santiago Jr. (2004, p. 29), a transformação

da informação em conhecimento é possível a partir da:

comparação – entendimento sobre como as informações relativas a um

determinado assunto podem ter alguma relação ou aplicação em outras situações;

consequência – implicação que determinada informação pode trazer para a

tomada de alguma decisão e/ou ação;

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conexão – relação entre a informação adquirida e um conhecimento já existente;

conversação – interpretação daquela informação a partir do entendimento sobre o

que as pessoas pensam sobre ela.

O processo de construção do conhecimento envolve originalmente os dados, que são

considerados, como a matéria-prima, que permite que operações lógicas os

transformem em informações, as quais, após interpretação, geram o conhecimento.

Essa trajetória forma uma ponte entre o empírico e o teórico, como mostra a Figura 1.

Figura 1 – Processo de construção do conhecimento

OPERAÇÕES LÓGICAS INTERPRETAÇÃO

DADOS INFORMAÇÃO CONHECIMENTO

Fonte: Adaptada pela autora - http://www.vademecum.com.br/iatros/Saber.htm

Resumindo, a diferença fundamental entre dados, informação e conhecimento é que

dados são elementos que descrevem um evento; a informação envolve coleta,

classificação e aglutinação de dados para se alcançar determinado objetivo; e o

conhecimento é a interpretação de um conjunto de informações logicamente

interligadas a fatos.

2.1 CATEGORIAS DE CONHECIMENTO

O conhecimento se forma na busca da decodificação de uma dada realidade, e pela

diversidade, complexidade e amplitude desta, é possível classificar o conhecimento

em uma série de categorias: empírico, científico, filosófico e teológico.

Conhecimento empírico – também conhecido como popular, é proveniente do senso

comum, conforma-se com a aparência, sem compromisso com uma análise

metodológica. É subjetivo, sendo que o próprio sujeito organiza suas experiências e

conhecimentos, não visando a sua sistematização. Não pressupõe reflexão, haja vista

que é uma forma de apreensão passiva, acrítica e superficial.

Conhecimento científico – lida com ocorrências e fatos, procurando provas

concretas e explicações, prezando pela apuração e constatação, alicerçando-se em

metodologias. É um estudo sistemático, ordenado logicamente, que forma um sistema

de ideias. Suas proposições ou hipóteses são validadas pela experimentação, sendo

que o desenvolvimento de novas técnicas pode reformular o acervo das teorias

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existentes. Busca por leis e sistemas, com o objetivo de explicar de modo racional o

objeto de estudo.

Conhecimento filosófico – é de cunho valorativo, associado à construção de ideias e

conceitos, buscando por verdades do mundo por meio da indagação e do debate,

formando um conjunto de enunciados correlacionados logicamente. Visa uma

representação coerente da realidade estudada, na tentativa de apreendê-la em sua

totalidade. Procura responder às grandes indagações do espírito humano, buscando

leis mais universais que englobem e harmonizem as conclusões da ciência.

Conhecimento teológico – também chamado de conhecimento religioso, parte do

princípio de que as verdades tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em

revelações da divindade, do sobrenatural. Compreende um conhecimento sistemático

do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra do criador divino,

apoiando-se em doutrinas que contêm proposições sagradas, valorativas. Baseia-se

em experiências espirituais, históricas, arqueológicas e coletivas que lhes dá

sustentação. O conhecimento teológico é considerado infalível, dogmático e exato.

3. DEFINIÇÕES DE CONHECIMENTO TÁCITO E EXPLÍCITO

A capacidade de pensar diferencia o ser humano dos demais organismos vivos.

Nesse aspecto, é importante refletir sobre as ideias de Piaget (apud CAMPOS, 2010),

sobre a atividade intelectual, que é um exemplo de adaptação biológica do ser

humano ao ambiente. As estruturas cognitivas não são formações biogeneticamente

determinadas, mas estão programadas para interação ambiental e iniciam seu

desenvolvimento a partir das experiências de uma criança ao seu ambiente. Todos os

organismos vivos acionam os processos de organização e adaptação durante sua

interação com o ambiente. No campo do pensamento, ocorrem os processos de

assimilação e adaptação. No processo de assimilação, o organismo manipula o

mundo exterior para poder torná-lo semelhante a si próprio. Para essa adaptação,

ocorre a acomodação, modificando-se para se tornar semelhante ao ambiente. A

assimilação e a acomodação são processos que se complementam. Então, a

adaptação resulta do equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, o que Piaget

chama de equilibração.

As ideias de Piaget parecem estar relacionadas às ideias de Takeuchi e Nonaka

(2008) a respeito da criação e utilização do conhecimento.

O conhecimento pode ser apresentado de duas formas: tácito ou explícito (TAKEUCHI

e NONAKA, 2008).

O conhecimento tácito vem do latim tacitus e significa “não expresso por palavras”. É

o conhecimento adquirido ao longo da vida, e está na cabeça das pessoas, sendo

difícil ser formalizado, explicado ou externalizado por intermédio de palavras para

outras pessoas. É inerente às habilidades de uma pessoa, é o seu know-how, isto

ocorre pelo fato de ser um conhecimento subjetivo e não mensurável adquirido com o

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passar dos anos através da experiência de vida. Este tipo de conhecimento é valioso,

de difícil captura, registro e divulgação, e a melhor forma de transmiti-lo é através da

convivência, dos contatos e interações estabelecidas nos grupos. Como exemplo,

podemos citar os habitantes das regiões rurais que, a partir da observação do céu, ou

do cheiro da mata conseguem saber se vai ou não chover; ou ainda, o pescador que,

mesmo descendo um rio pela primeira vez, consegue identificar os tipos de peixe

comuns naquele tipo de água, e os locais mais prováveis para a sua pesca.

O conhecimento explícito vem do latim explicitus e significa “formal, explicado,

declarado”. É o conhecimento formal, claro, fácil de ser comunicado, e geralmente

está guardado em bases de dados ou publicações, sendo registrados nos livros,

manuais, documentos, desenhos, diagramas etc. Alguns autores consideram que este

tipo de conhecimento é a própria informação, ou seja, informações que alguém em

algum momento, escreveu, publicou e tornou acessível. Exemplos de conhecimento

explícitos podem ser considerados os manuais, livros, POPs (procedimento

operacional padrão), livros de receitas, dentre outros.

Para diferenciar os dois tipos de conhecimento é necessário considerar o que uma

pessoa faz muito bem, e que a torna especial, como um craque nos esportes, que

consegue se diferenciar e destacar em uma partida. Esse conhecimento pode ser

observado; contudo, é difícil de ser copiado, é como se a pessoa simplesmente

soubesse. Por outro lado, aprender a cozinhar, dirigir ou utilizar o computador, é um

conhecimento mais fácil de ser repassado através de um manual ou um roteiro de

instrução.

Os dois tipos de conhecimento se relacionam e se complementam, sendo

praticamente impossível mensurá-los distintamente.

4. A ESPIRAL DO CONHECIMENTO

A partir da compreensão do conhecimento tácito e explícito, Nonaka e Takeuchi (1997)

desenvolveram a espiral do conhecimento, que é um modelo dinâmico que demonstra

como o conhecimento humano se inova e se expande por meio da interação social.

Considerando o conhecimento como resultado do processamento de informações, os

autores partiram da premissa de que o conhecimento é criado e ampliado através da

interação entre os conhecimentos tácitos e explícitos. As relações sociais

estabelecidas entre as pessoas de uma organização processam o conhecimento tácito

e explícito, expandindo-o tanto em termos de qualidade quanto de quantidade.

Para explicar este modelo teórico são propostos quatro processos de conversão

existentes entre esses dois tipos de conhecimento:

. socialização – que é a transformação de conhecimento tácito em tácito;

. externalização - que é a transformação do conhecimento tácito em explícito;

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. combinação – que é a transformação de conhecimento explícito em explícito; e

. internalização - que é a transformação do conhecimento explícito em tácito.

A espiral do conhecimento se baseia no comprometimento pessoal nos quatro modos

de conversão entre conhecimento tácito e explícito, e envolve o indivíduo, o grupo, a

organização e o ambiente. A Figura 2 apresenta os quatro processos de conversão do

conhecimento.

Figura 2 – Os quatro processos de conversão do conhecimento

Fonte: Adaptado de Takeuchi e Nonaka, 2008, p. 60.

A socialização ocorre quando há interação entre conhecimentos tácitos entre duas

ou mais pessoas. Normalmente o conhecimento é compartilhado quando acontece o

diálogo, a comunicação “face a face”. É a troca de experiências e modelos mentais

entre pessoas ou grupos. Por meio da socialização, as experiências são

compartilhadas e o conhecimento tácito surge a partir de novas estruturas cognitivas,

novos modelos mentais e/ou o desenvolvimento de habilidades técnicas. A experiência

constitui a essência desse modo de aprendizagem.

A externalização é um dos mais relevantes processos de conversão do

conhecimento, pois oportuniza a multiplicação do saber. A externalização é a

conversão de parte do conhecimento tácito do indivíduo em algum tipo de

conhecimento explícito. O compartilhamento do conhecimento conceitual acontece por

meio de representação simbólica do conhecimento tácito, através de modelos,

conceitos e hipóteses, construídos por meio de dedução/indução ou

metáforas/analogia, utilizando planilhas, textos, imagens, figuras e relatos orais, se

valendo também da linguagem figurada, na tentativa de externalizar a maior fração de

conhecimento tácito.

A combinação é o que possibilita o agrupamento e o registro do conhecimento. É o

processo de interação entre conhecimentos explícitos, gerando novos conhecimentos,

e ocorre quando são abordadas teorias ligadas ao processamento da informação. Este

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conhecimento sistêmico acontece por meio de agrupamento, classificação,

sumarização e processamento de diferentes conhecimentos explícitos. Esse é o

processo pelo qual o conhecimento é combinado por meio de troca de documentos,

reuniões, conversas ao telefone ou em redes de comunicação.

A internalização é o processo de incorporação do conhecimento explícito ao

conhecimento tácito, e se relaciona diretamente com o “aprender fazendo”. O

aprendizado ocorre a partir de consultas aos registros do conhecimento, convertendo

parte do conhecimento explícito da organização em conhecimento tácito para o

indivíduo. A operacionalização do conhecimento é obtida através de leituras de

documentos, textos, imagens, dentre outros, requerendo a re-interpretação e re-

experimentação individual de vivências e práticas.

Estes modelos de conversão transformam o conhecimento tácito e o explícito,

possibilitando que o aprendizado individual se torne coletivo e vice-versa, permitindo

efetuar tarefas que não poderiam ser realizadas isoladamente.

Ao analisarmos a espiral do conhecimento, é possível observar uma sequência lógica,

através da socialização; o conhecimento tácito é trocado e posteriormente convertido

em explícito através da externalização, iniciando assim o processo de combinação

deste novo conhecimento ao anteriormente adquirido, gerando novos conhecimentos

para a organização, e finalmente este novo conhecimento será internalizado e

transformado em manuais, documentos, normas etc. O aspecto dinâmico e contínuo

deste processo é o que caracteriza a espiral do conhecimento, pois quando um ciclo

se fecha, inicia-se um novo ciclo que permite que o conhecimento se efetive.

A conversão do conhecimento requer pessoas envolvidas e motivadas para que haja

plena disseminação do conhecimento na empresa, promovendo um ambiente propício

à colaboração.

5. ATIVOS TANGÍVEIS E INTANGÍVEIS E AS RELAÇÕES COM

O CONHECIMENTO

A sociedade do conhecimento é uma economia onde a criação e o uso do

conhecimento se constitui no ponto focal das decisões e do crescimento econômico, e

a valorização do conhecimento transformou a percepção sobre os ativos

organizacionais.

A intensificação da tecnologia e do conhecimento fez com que os bens e serviços que

produzimos e consumimos sejam cada vez mais intangíveis. É importante ressaltar

que isso não se refere apenas às indústrias de software, computação ou similares,

mas sim a capacidade de inovar, criando novos produtos e serviços, explorando novos

mercados, o que se aplica a todos os tipos de indústria, comércio e serviços, sem

distinção. Isto demonstra que a competitividade se baseia cada vez mais na

capacidade de transformar informações em conhecimento, e conhecimento em

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decisões e ações estratégicas de negócio, diferenciando o valor dos produtos pela

capacidade de inovação, tecnologia e inteligência a eles incorporada.

Os ativos tangíveis são visíveis, como equipamentos, espaço físico etc. Possuem valor

de mercado expresso no balanço patrimonial, e pode ser mensurado pelo modelo

contábil. Os ativos intangíveis são os componentes do capital intelectual, como:

conhecimentos, experiência e expertise dos colaboradores, patentes, competências,

informações estratégicas, dentre outras. Os ativos intangíveis não são visíveis, mas

são percebidos pelo mercado, embora sejam mais complexos de avaliação, por se

tratar de conceitos, serviços, modelos, sistemas administrativos, os processos, dentre

outros.

A inteligência organizacional é um ativo intangível, pois transforma informações

desagregadas em conhecimento estratégico, melhorando o posicionamento de

mercado e o desempenho organizacional. Por isso, é necessário que a empresa

concilie o interesse de todos os agentes envolvidos na empresa, identificando e

resolvendo os problemas, empreendendo ações coletivas que visem captar situações

que consigam aperfeiçoar, conceber, implantar e operacionalizar o aperfeiçoamento

de seus sistemas, utilizando recursos intelectuais, materiais e/ou financeiros.

A administração moderna se preocupa com o monitoramento do conhecimento

organizacional, pois compreende que os ativos intangíveis representam vantagem

competitiva. Os ativos intangíveis estão respaldados na habilidade intelectual das

pessoas, na aprendizagem organizacional, e no investimento em pesquisa e

desenvolvimento que promovem a criatividade e a inovação, e fazem com que a

organização se torne competitiva em ambientes cada vez mais desafiadores. Uma

organização do conhecimento precisa investir em estruturas de conhecimento,

fazendo com que os seus ativos intangíveis sejam maiores que os tangíveis.

O aumento do desempenho de uma empresa tende a ser diretamente proporcional ao

aprendizado organizacional. Por isso, é importante monitorar continuamente o

conhecimento organizacional. A habilidade intelectual das pessoas, a aprendizagem, a

criatividade e a inovação representam vantagem competitiva. Quando pessoas e/ou

equipes estão aprendendo, a perspectiva é de que o seu desempenho melhore.

Contudo, é importante ressaltar que o desempenho é exigido no curto prazo, e o

aprendizado por ser processo, só aparece no médio e longo prazo. Desta forma, as

organizações baseadas na aprendizagem precisam investir continuamente na

promoção, geração e disseminação do conhecimento, para que o aprendizado de hoje

transforme o desempenho de amanhã.

O capital intelectual se expande a partir da identificação, captura, disponibilização e

utilização extensiva da informação e do conhecimento, e à medida que estas questões

vão se estabelecendo na prática, a empresa vai adquirindo inteligência e aumentando

o seu potencial para transformação, como forma de diferencial competitivo. Para isso

é importante identificar os recursos intelectuais de acordo com a proposição das

estratégias para se desenvolver a inteligência organizacional.

As empresas inteligentes precisam ser criativas e inovadoras, para superar os

desafios impostos pelo ambiente de alta competitividade, gerando novas soluções,

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concedendo um atendimento diferenciado, desenvolvendo novos produtos e serviços,

criando processos exclusivos com o objetivo de satisfazer sua cadeia de valor. Essas

ações fazem com que o capital intelectual se constitua como uma competência

distintiva.

6. CONCLUSÕES

Como vimos, o conhecimento é um emaranhado de significados que o indivíduo

constrói ao longo da vida, por meio da interpretação da realidade, fixando explicações

e relacionando-as a outras. A mescla de experiências, valores, informações

contextualizadas e insights possibilitam a existência de novas estruturas, e permitem a

avaliação e incorporação de novas experiências e informações.

A gestão do conhecimento e a geração de capital intelectual são fundamentais para

que a organização supere seus desafios externos e transponha seus obstáculos

internos. A inteligência organizacional se apóia na criação do conhecimento

organizacional, e precisa ser potencializada por intermédios do aprendizado contínuo,

se adaptando e inovando em uma ação dinâmica e dialética.

A formação da inteligência organizacional é interativa e agregadora, constituindo-se

em uma complexa coordenação das inteligências humanas, redes e sistemas em prol

de resultados positivos. A interação entre pessoas e pessoas; pessoas e máquinas; e

máquinas e máquinas constituem-se em um ciclo contínuo de atividades em interação.

O capital intelectual de uma empresa se forma a partir da geração coletiva do

conhecimento e se constitui em um ativo intangível de inestimável valor. O

conhecimento, a experiência aplicada, as tecnologias organizacionais, relacionamento

com clientes e competências profissionais concedem vantagem competitiva no

mercado. Embora não tenha valor contábil e seja de difícil mensuração, aumenta o

potencial de mercado concedido a uma empresa, quando se converte em um ativo de

geração de valor para a organização.

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7. REFERÊNCIAS

ANGELONI, Maria Terezinha (coord.). Organizações do conhecimento: infra-estrutura,

pessoas e tecnologias. São Paulo: Saraiva, 2002.

CAMPOS, Dinah Martins de Souza. Psicologia e desenvolvimento humano. Petrópolis:

Vozes, 2010.

NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de conhecimento na empresa: como as

empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

______. Gestão do conhecimento. Porto Alegre: Bookman, 2008.

SANTIAGO Jr., José Renato Sátiro. Gestão do conhecimento: a chave para o sucesso

empresarial. São Paulo: Novatec Editora, 2004.

SAPIRO, Arão. Inteligência empresarial: a revolução informacional da ação competitiva.

Revista de Administração de Empresas, 33, p. 106-124, maio-jun. 1993.

SVEIBY, K. E.. A nova riqueza das organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

STEWART, Thomas A. Capital intelectual: a nova vantagem competitiva das empresas. Rio de

Janeiro: Campus, 1988.

TERRA, José Cláudio Cyrineu. Gestão do conhecimento: o grande desafio empresarial. Rio

de Janeiro: Negócio, 2000.

______. A criação de portais corporativos de conhecimento. In: Simpósio Internacional de

Gestão do Conhecimento e Gestão de Documentos, Curitiba, 2001. Anais. Curitiba: PUC-

PR/CITS.