modul ii psicologia

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  • CENTRO UNIVERSITRIO DE JOO PESSOADCJ COORDENAO DO CURSO DE DIREITO

    CONCEITOS BSICOS DE PSICOLOGIA GERAL

    Rildsia Silva Veloso GouveiaPSICOLOGIA JURDICA

    1

  • 22

    Como j foi discutido em aulas anteriores, a Psicologia Jurdica

    uma especialidade da Psicologia que tem por objetivo ajudar o

    Direito a atingir os seus fins. Portanto, a Psicologia Jurdica :

    Uma Psicologia para o Direito. Isso indica que a Psicologia Jurdica o ramo de conhecimento ou a disciplina cientfica da Psicologia que

    auxilia o Direito.

    A Psicologia Jurdica no est autorizada ou dotada de capacidade para questionar o Direito ou interrog-lo em seus

    alicerces epistemolgicos. (Fig 1)

    Mesmo se colocando servio do Direito, importante que se diga que a Psicologia Jurdica segue sendo Psicologia. Neste sentido,

    estuda os mesmos processos psicolgicos bsicos e conceitos desta

    disciplina. (Fig 2)

    O propsito desta aula introduzir aos potenciais operadores do Direito alguns conceitos-chave da Psicologia. No pretende formar

    psiclogos, mas informar os estudantes de Direito.

    INTRODUO

  • 3Fig 1: A expresso alicerces epistemolgicos quer dizer a base doconhecimento, o sentido que tem uma rea, seus pressupostos emodelos tericos. Isso significa que a Psicologia Jurdica no podequestionar os fundamentos do conhecimento do Direito.

    Fig 2: importante no confundir os papis. O psiclogo jurdicono , em essncia, um operador do Direito. Ele no , porexemplo, um advogado, mas um profissional da Psicologia queempresta seu conhecimento aos operadores do Direito.

  • 4Inicialmente, importante indicar que existem diferentes

    perspectivas ou correntes tericas na Psicologia (por exemplo,

    behaviorismo, humanismo, cognitivismo). Contudo, sendo

    consistente com o livro-texto escolhido para orientar esta disciplina, a

    nfase nesta aula ser nos fundamentos derivados, principalmente,

    da Psicanlise. Os seguintes aspectos sero abordados: (Fig. 3)

    Personalidade. Este um tema-chave da Psicologia, permitindo entender como as pessoas so parecidas com outras em alguns

    aspectos, mas tambm diferentes em outros.

    Mecanismos de defesa. Estes so recursos empregados para enfrentar conflitos psicolgicos.

    Desenvolvimento humano. importante saber que a cada etapa da vida so esperados padres especficos de conduta.

    Hereditariedade versus Ambiente. Dilema antigo, importante conhecer que ambos ajudam a entender a conduta.

    INTRODUO

  • 5Fig. 3: Embora existam diversas obras no mercado, o livro de JorgeTrindade, por j ter sido adotado previamente neste curso, foiassumido como a referncia principal. Seguramente no expressatodas as correntes de pensamento em Psicologia Jurdica, mas seuvalor inegvel para introduzir o estudante na Psicologia Jurdica.

  • 66

    Personalidade um conjunto biopsicossocial dinmico que

    possibilita a adaptao do homem consigo mesmo e com seu meio,

    numa equao de fatores hereditrios e vivenciais (Fig 4).

    Os fatores inatos (hereditrios) interagem com o meio para dar sentido formao da personalidade das crianas, que vai se

    consolidando a partir da agregao das experincias nos cinco

    primeiros anos de vida, em que as vivencias com pais e educadores

    em geral tm importncia acentuada. (Fig 5)

    As bases do funcionamento mental so estabelecidas nos primeiros anos de vida. As mudanas se tornam mais difceis quanto

    mais duradouras, centrais e patolgicas forem as caractersticas.

    Quanto s caractersticas patolgicas, o DSM-IV fala de transtornos de personalidade quando traos significativos da

    personalidade do indivduo o tornam inflexvel ou desadaptado no

    seu contexto. (Fig 6)

    Personalidade

  • 7Fig. 4: De acordo com esta definio, a personalidade no estticaou completamente hereditria. Contrariamente, ela elaborada,construda a partir das vivncias, embora fundamentada em fatoreshereditrios, e tem um papel funcional: adaptar o homem ao meioe permitir que ele se reconhea, seja coerente consigo mesmo.

    Fig 5. Neste ponto importante observar dois aspectos: (1) os anosiniciais de vida so fundamentais para a estruturao dapersonalidade. Talvez seja mais fcil resolver conflitos e orientarcrianas pequenas; e (2) a personalidade, mesmo estruturada, no imutvel; depois dos 30 anos de idade ainda se percebem mudanas.

    Fig 6. O DSM-IV a quarta verso do Manual Diagnstico e Estatstico,da Associao Americana de Psiquiatria. Expressa um consenso entrepsiquiatras empenhados em definir distrbios mentais, caracterizando-os a partir dos atributos ou sintomas mais crticos.

  • 88

    A personalidade pode ser entendida como uma parte do complexo sistema psquico, representando um construto ou uma inferncia

    terica. (Fig 7)

    Apesar do antes comentado, no incio do sculo dezenove Freud apresentou uma concepo tpica do aparelho mental. Sua Primeira

    Tpica distinguia trs sistemas:

    Inconsciente: Representa os instintos e as pulses, podendo ser metaforicamente visto como um depsito escuro onde so guardados

    contedos censurados, inaceitveis, no admissveis. (fig 8)

    Pr-consciente: Este sistema est ligado ao inconsciente e realidade, compreendendo, metaforicamente, um arquivo em que se

    encontram informaes que podem ser acessadas com um esforo

    pequeno (por exemplo, lembrar de uma professora da infncia, as

    brincadeiras infantis).

    Consciente: Concebido como rgo sensorial localizado no limite entre os mundos externo e interno, atuando como receptor das

    informaes destes mundos. (Fig 9)

    Personalidade

  • 9Fig 7. Em princpio, a personalidade uma propriedade, umatributo que ajuda a descrever o comportamento. Ela no est emum lugar especfico nem pode ser vista diretamente; como afragilidade de um copo, parte de um todo. Chamamospersonalidade caractersticas que diferem as pessoas, que serefletem no comportamento.

    Fig 8. Estes contedos so armazenados quando o aparelhopsquico se sente incapaz de lidar com as emoes que produzem.Portanto, o inconsciente tem a funo de proteo. O contedoinconsciente aparece em sonhos, atos falhos (ia dizer uma coisa edisse outra; por exemplo, troca o nome do namorado, revelandoainda gostar do ex), esquecimentos etc.

    Fig 9: Este sistema tem dupla funo: (1) permite guardarinformaes inofensivas e (2) serve de barreira para os contedosinconscientes no admitidos (por exemplo, uma violao sexual nainfncia), atuando como um mediador que autoriza sua passagemde forma disfarada (por exemplo, sonhos).

  • 1010

    Freud elaborou um novo modelo do aparelho psquico nos anos 1920, denominando-o de Segunda Tpica, tambm com

    trs instncias:

    Id: a parte impulsional, primitiva e selvagem do psiquismo, sendo totalmente inconsciente. irracional, ilgico e amoral.

    Compreende a busca pela satisfao biolgica imediata, sem

    avaliar as conseqncias. Corresponde ao Princpio do Prazer.

    Ego: Compreende o conjunto de reaes que tenta conciliar os esforos e as demandas do id com as exigncias da realidade,

    interna ou externa. O ego apresenta funo adaptativa, sendo

    responsvel pela integridade psquica. Equivale ao Princpio da

    Realidade.

    Superego: a expresso da interiorizao das interdies e exigncias da cultura e da moralidade, representada pelos pais.

    quase totalmente inconsciente, apresentando uma pequena parte

    consciente. Nele se inscreve a lei primria, o que leva a pessoa a

    valorizar o que bom e se afastar do que ruim.

    Personalidade

  • 111111

    Representao esquemtica do Id, Ego e Superego

    O Id, o Ego e o Superego podem ser representados, em termos

    metafricos, com referncia a uma iceberg no oceano.

    Personalidade

    Fig. 10: Nesta figura a partemais profunda do oceanorepresenta o ID, totalmenteimerso no inconsciente(bilinalti). Acima dele est oEGO, que o impede de vir superfcie, a realidade(kiilik). O EGO ocupa o pr-consciente (bilinncesi) e arealidade. O SUPEREGOcontrola o ID e o EGO,estando a maior parte noinconsciente, mas tambmno pr-consciente e mesmoconsciente.

  • 12

    Fig 11: Procura-se nesta figura resumir a ao, a localizao e os resultados do ID,EGO e SUPEREGO. O ID implica libertar prazer e aventuras, estando localizado noinconsciente e seu comprometimento pode resultar em psicose (TOC). O EGO visaadministrar os impulsos e a realidade, sendo pr ou consciente, primando pelanormalidade. O SUPEREGO procura policiar, seguir leis e normas, parte selocalizando no consciente e seu comprometimento pode resultar em neurose.

  • 13

    Fig 12: Psicose um termo genrico que se refere a um estado mental em que existe uma "perda decontacto com a realidade". Em perodos de crises intensas podem ocorrer alucinaes ou delrios,desorganizao psquica que inclua pensamento desorganizado, acentuada inquietude psicomotora,sensaes de angstia intensa e opresso, e insnia severa. frequentemente acompanhado por falta de"crtica que se traduz na incapacidade de reconhecer o carter estranho ou bizarro do comportamento.

    Fig 13: Neurose um quadro patolgico psicognico (ou seja, de origem psquica), muitas vezes ligado asituaes externas na vida do indivduo, que provoca transtornos na rea mental, fsica e/ou dapersonalidade. Na psicanaltica, a neurose fruto de tentativas ineficazes de lidar com conflitos etraumas inconscientes. O que distingue a neurose da normalidade : (1) a intensidade do comportamentoe (2) a incapacidade do doente de resolver os conflitos internos e externos de maneira satisfatria

  • 141414

    Como foi dito antes, a Psicanlise o foco central da obra que embasa a disciplina. Contudo, so reconhecidas outras

    abordagens, como as duas descritas a seguir:

    Behaviorismo. Segundo este modelo, a cada estmulo corresponde uma resposta. Indica-se que o comportamento pode

    ser modelado por reforos positivos (o estimulam a gratificao)

    e/ou negativos (o inibem). A personalidade vai sendo estruturada

    por modelagem (esquemas de reforos) e aproximaes

    sucessivas.

    Humanismo. Um exemplo tpico a teoria maslowniana. Esta supe que o homem um ser benvolo, que se orienta por

    necessidades bsicas, em uma seqncia hierrquica; a

    satisfao de necessidade de nvel inferior condio para a

    satisfao daquela de nvel superior.

    PersonalidadeEsta figura apresenta a hierarquia das necessidades de Maslow. Primeiro apessoa precisa satisfazer suas necessidades mais bsicas, como as fisiolgicas(comida, sono), antes de apresentar necessidades mais elevadas, como as desegurana e sociais.

  • 151515

    Como as trs teorias prvias explicam a criminalidade:

    Psicanlise: Segundo esta abordagem, o criminoso poderia ser visto como algum com uma personalidade orientada pelo princpio

    do prazer (Id), com ego e superego pouco desenvolvidos. Sem

    controle externo, o indivduo no tem outra orientao que a busca

    da satisfao pessoal.

    Behaviorismo: Esta pode explicar em razo de algum ser recompensado por apresentar comportamentos desviantes. Na

    ausncia de punio ou reforos positivos para ato criminoso e

    recompensas para aqueles delitivos, forma-se uma personalidade

    criminosa.

    Humanismo: A falta de meios para atingir determinadas metas (por exemplo, dinheiro, bem-estar) poderia levar a comportamentos

    desviantes, procurando assegurar as necessidades bsicas.

    Personalidade

  • 16

    Fig 14: Na verdade, esta uma extrapolao da concepo de Maslow. Embora omesmo reconhea a possibilidade da agresso como resultado de no ter sidosatisfeita uma necessidade, sua concepo sugere que o homem um serbenvolo, uma pessoa boa, que caminha para a auto-realizao, isto , satisfaoconsigo mesmo, realizar o que est destinado a ser (por exemplo, um policial,um mdico).

    Fig 15: Uma crtica que se faz teoria de Maslow que algumas pessoas podemsatisfazer necessidades mais elevadas, mesmo quando no tenham assegurado asmais bsicas. Por exemplo, as vezes vemos um lixeiro feliz, cantando, fazendo omelhor no seu trabalho, dando um exemplo de estar auto-realizado, mesmoquando suas condies fisiolgicas no esto plenamente atendidas.

  • 17171717

    O Ego possui mecanismos inconscientes de defesa para proteger o psiquismo, garantindo a homeostase (o equilbrio) da personalidade. Os

    seguintes mecanismos de defesa so comuns: (fig 16)

    Represso (recalcamento): Consiste em expulsar da conscincia desejos, sentimentos, idias ou fantasias desprazerosas. comum nos

    neurticos, sobretudo nas neuroses histricas. (Fig 17 e 18)

    Regresso: Caracteriza-se pela fuga ou o retorno a uma fase anterior do desenvolvimento, adequada para evitar o desprazer e a

    frustrao. (fig 19)

    Projeo: Consiste em atribuir aos outros os sentimentos ou as caractersticas no admitidos em si mesmo. Neste sentido, no

    precisa negar tais sentimentos, mas atribu-los a outra pessoa. (Fig

    20)

    Introjeo: Um objeto interno (uma caracterstica) introjetado, tomado e assimilado como parte do prprio indivduo. (Fig 21)

    Identificao: Fundamental para o crescimento do ego. Por meio dele a criana interioriza caractersticas do objeto (por exemplo, pai)

    para desenvolver sua prpria personalidade. (Fig 22)

    Mecanismos de Defesa do Ego

  • 18

    Fig 16 Mecanismos de defesa so maneiras inconscientes utilizadas frente sdiversas situaes com vista a repelir ou reduzir a ansiedade decorrente,procurando assegurar a estabilidade da personalidade. Por exemplo, diante deuma m notcia (morte de um ente querido) a pessoa pode negar o ocorrido.

    Fig 17: Ocorre, por exemplo, quando uma guarda no inconsciente sentimentose experincias desprazerosas decorrentes de uma violao sexual.

    Fig 18 Neurtico no sinnimo de loucura. Significa que a pessoa reage vida com reaes vivenciais no normais, quer no sentido de tais reaesserem desproporcionais, muito duradouras ou por existirem mesmo que noexista uma causa vivencial aparente.

    Fig 19: Um exemplo quando a pessoa, em crise nervosa, curva seu corpo emposio fetal, como se estivesse no tero da me. Ocorre ainda quando umacriana, diante de dificuldades, muda a voz, parecendo ter voltado a ser umbeb.

  • 19

    Fig 20: Este o caso, por exemplo, de algum que, sendo muito medroso, dizque o outro medroso. Portanto, projeta, transfere para o outro o seusentimento.

    Fig 21: Por exemplo, algum que simplesmente mete na cabea que burro,incapaz ou que no tem valor, no serve para nada.

  • 20202020

    Isolamento: Trata-se de uma separao intrapsquica entre oafeto e seu contedo. Neste caso, um evento traumtico pode ser

    facilmente recordado, mas ser isolado de qualquer sentimento

    intenso. (Fig 22)

    Anulao: Compreende ato determinado que procura apagar,desfazer ou anular simbolicamente o ato anterior; um tipo de

    pensamento mgico, tpico do TOC. (Fig 23)

    Negao: A realidade externa considerada como no existentepor ser desagradvel ou penosa ao ego. Reinterpreta-se a situao

    geradora de ansiedade como algo inocente. (Fig 24)

    Formao reativa: Leva o ego a realizar o oposto do desejo, isto, uma pulso proibida transformada em seu oposto. (Fig 25)

    Racionalizao: So explicaes baseadas na razo para umcomportamento determinado por motivos no reconhecidos,

    tornando o inaceitvel argumentativamente aceitvel. (Fig 26)

    Mecanismos de Defesa do Ego

  • 21

    Fig 22: Compreende, por exemplo, o caso de algum que passou por umaseparao complicada, lembrando dos fatos mas isolando-os de sentimentos evivncias intensos poca desagradveis.

    Fig 23: Neste caso, por exemplo, a pessoa pensa na morte da me e acreditaque se der trs pulinhos o ato se desfar.

    Fig 24: Acontece, algumas vezes, quando ocorre a perda de um ente querido ea pessoa nega, reinterpreta a situao, sugerindo que ela fez uma viagemlonga.

    Fig 25: Costuma ocorrer com emoes extremas. Por exemplo, o que diopassa a ser manifesto como um amor exagerado.

    Fig 26: um tipo de justificao, uma forma de argumentar algo que no eraantes aceito. Por exemplo, um namorado que agride sua namorada e procuraracionalizar, dizendo que a ama demasiadamente, que tem medo de perd-la.

  • 2222222222

    Somatizao: Transferncia de sentimentos dolorosos para o corpo, com prejuzo orgnico. (Fig 27)

    Dissociao: Diviso da conscincia em partes boas e ms e a pessoa no consegue perceber que algum pode ser bom o mau.

    (Fig 28)

    Sublimao: Energia psquica de material reprimido canalizada a objetivos socialmente aceitveis. (Fig 29)

    Intelectualizao: Produz-se uma teorizao do afeto, enfocando aspectos objetivos e no emocionais da situao. (Fig 30)

    Deslocamento: Sentimentos ligados a uma fonte so redirecionados a outra. (Fig 31)

    Converso: Deslocamento de um conflito psquico para o corpo, sem prejuzo orgnico. Pode ocorrer na histeria, no caso de

    paralisias corporais ou desmaios. (Fig 32)

    Mecanismos de Defesa do Ego

  • 23

    Fig 27: comum, por exemplo, na hipocondria e anorexia. Tambm ocorre quandoalgum, vivenciando problemas, transfere isso para o estmago, a cabea etc.

    Fig 28: Neste caso, por exemplo, algum ser maravilhoso at que setransforme em uma pessoa ruim.

    Fig 29: Por exemplo, a agressividade excessiva pode ser canalizada paracarreira cirrgica, o desejo sexual para a produo intelectual.

    Fig 30: como procurar se mostrar frio, distante na situao, avaliando-a deforma objetiva, intelectualizada, racional, sem vestgios de sentimentos.

    Fig 31: Neste caso, o afeto de uma idia deslocado para outra, o que costumaocorrer em fobias, quando a ansiedade ligada fonte inconsciente deslocadapara uma consciente (e.g., tenho medo de cachorro porque morde).

    Fig 32: Histeria uma neurose complexa, caracterizada pela instabilidadeemocional, em que os conflitos interiores se manifestam em sintomas fsicos,como paralisia do corpo, cegueira ou surdez temporrias.

    Neurose uma desordem mental que, apesar de causar tenso, no interferecom o pensamento racional ou a capacidade funcional da pessoa.

  • 2424242424

    Noes de Psicologia do DesenvolvimentoO estudo do desenvolvimento fundamental por ao menos duas

    razes: (1) permite compreender as mudanas psicolgicas que os

    indivduos sofrem no decorrer dos anos e (2) possibilita reconhecer

    em cada etapa algumas especificidades.(Fig 33)

    Tratar do desenvolvimento humano sugere considerar separadamente os aspectos fsico, cognitivo e psicossocial.

    Contudo, apenas didaticamente isso possvel. As mudanas no

    corpo, no crebro, na capacidade sensorial e nas habilidades

    motoras fazem parte do desenvolvimento fsico, mas podem afetar

    outros aspectos do desenvolvimento.

    O ciclo vital, compreendido como seqncia de desenvolvimento, implica alguns estgios que tm sido reconhecidos ampla e

    consensualmente na literatura, como a seguir se procura descrever,

    situando a idade aproximada em que tem lugar cada estgio,

    embora se reconhea que pode haver alguma alterao de pessoa

    para pessoa.

  • 25

    Fig 33: Procurando retratar as especificidades, criaram-se diversos documentoslegais: (1) Estatuto da Criana e do Adolescente, (2) Cdigo Penal e (3) Estatutodo Idoso. O primeiro e o ltimo refletem etapas especficas, que definem,respectivamente, as preocupaes com as crianas e os adolescentes, por umlado, e os idosos, por outro. O Cdigo Penal define a idia de maior idade.

  • 262626262626

    Noes de Psicologia do DesenvolvimentoFases de Desenvolvimento (Helen Bee, citada em Trindade, 2009):

    Estgio Pr-natal (concepo at o nascimento) Formao da estrutura e rgos corporais; vulnerabilidade ao ambiente.

    Primeira infncia (nascimento at 3 anos) Recm-nascido dependente, mas com algumas competncias. Sentidos funcionam

    e se desenvolve rapidamente a linguagem. Dependncia inicial de

    pais e familiares, comeando a despertar para outras crianas.

    Segunda infncia (3 a 6 anos) Foras e habilidades aumentam, predominando comportamento egocntrico. Imaturidade

    cognitiva leva a idias ilgicas sobre o mundo (e.g., a veracidade

    dos desenhos animados, onde no existe a morte). A famlia segue

    sendo importante, embora haja indcios de independncia.

    Terceira infncia (3 a 12 anos) Menor crescimento fsico, mas aumentam e se aperfeioam as habilidades fsicas e cognitivas.

    Menos egocentrismo e os amigos assumem importncia

    fundamental, incrementando-se sua socializao.

  • 27272727272727

    Noes de Psicologia do Desenvolvimento Adolescncia (12 a 20 anos) Mudanas fsicas so rpidas e profundas, atingindo-se maturidade reprodutiva. Desenvolve-se

    capacidade de pensar abstratamente e se d a busca da identidade.

    Isso justifica a vida em grupos, a adoo de modelos e

    comportamentos que vo do convencional ao anticonvencional.

    Jovem adulto (20 a 40 anos) Sade fsica atinge o pice, passando a decair na fase posterior. Habilidades cognitivas so

    mais complexas, definindo-se as escolhas vocacional e laboral. Em

    geral, constri-se uma nova famlia.

    Adulto de meia-idade (40 a 60 anos) Deterioro da sade e diminuio de habilidades fsicas, embora as cognitivas podem ser

    beneficiadas pela experincia acumulada. A busca pelo sentido da

    vida fundamental, e o casal se volta mais para si, uma vez que os

    mais jovens passam a formar novas famlias.

    Terceira idade (60 anos em diante) Tempo de reao diminui, comprometendo o funcionamento cognitivo e fsico. Enfrentam-se

    perdas, como do emprego (aposentadoria) e de amigos (mortes).

  • 2828282828282828

    Noes de Psicologia do Desenvolvimento

    O quadro geral anteriormente apresentado uma caricatura, reflete padres que comumente so observados. Mas, pode variar

    de pessoa para pessoa e ainda ser alterado em razo de mudanas

    macrossociais.

    Seguramente no foram sempre assim os ciclos de vida. A adolescncia, por exemplo, parece ter sido reconhecida como tal

    apenas a partir do Renascimento (entre 1300 e 1650). As melhores

    condies de vida conquistadas a partir dos sculos dezenove e

    vinte tambm resultaram em modificaes. As pessoas hoje, por

    terem melhor alimentao e sade, vivem mais, tornando possvel

    pensar na terceira idade como uma fase menos comprometedora

    da sade fsica e psquica.

    possvel que nos prximo sculos se configurem mudanas nas etapas de desenvolvimento, vendo como menos deteriorada a fase

    adulto de meia-idade e, quem sabe, se defina a terceira idade

    como a melhor idade, que deve antecipar uma quarta idade, a

    partir do limite de esperana de vida, isto , a partir dos 75 anos.

  • 292929292929292929

    Noes de Psicologia do DesenvolvimentoApesar do esquema anteriormente estabelecido ser consensual,

    outros tm sido igualmente apresentados. Por exemplo, na

    Psicanlise fala-se de estgios de desenvolvimento psicossexual,

    como seguem:

    Fase Oral (0 a 1 ano). Uma das principais caractersticas a dependncia da criana do mundo adulto, especialmente da me. A

    zona de prazer a boca e a criana se satisfaz com a suco

    (mamar). Portanto, o maior conflito o desmame. A fixao nesta fase

    pode implicar em que, diante de uma frustrao, a pessoa adulta

    regrida a esta etapa do desenvolvimento, buscando alvio na comida,

    no sono ou drogas (em forma patolgica). (Fig 34)

    Fase Anal (1 a 3 anos). Uma das principais caractersticas controle. A zona de prazer passa a ser o anus, procurando reter ou

    expulsar as fezes. Mas, o prazer vai mais alm disso, situando-se na

    importncia que os pais do a este processo, evidenciando seu afeto.

    Fixar-se nesta fase pode produzir rejeio ou apego para com outras

    pessoas ou objetos, resultando em avareza, por exemplo. (Fig 35)

  • 30

    Fig 34: Insistindo, fixar-se ou prender-se nesta fase pode fazer com que apessoa desenvolva hbitos de sugar, ingerir, como podem ser fumar e comerem demasia.

    Fig 35: Os pais podem desenvolver uma relao afetiva prxima da crianaquando encaram o expulsar as fezes como algo natural, e uma comunicaoque a criana procura estabelecer. Expulsar as fezes pode representar umpresentear, dar ao outro algo que poder ser aceito de forma gratificante.

  • 31313131313131313131

    Noes de Psicologia do Desenvolvimento

    Fase Flica (3 a 5 anos). O prazer se desloca para as genitlias (pnis e clitris). A criana comea a vivenciar sua capacidade

    afetiva com os pais, porm ainda h confuso entre a afetividade

    parental e a sexualidade. D-se a identificao com um papel

    sexual. (Fig 36)

    Fase de Latncia (6 a 10). Tem origem na dissoluo do Complexo de dipo / Electra. So caractersticas marcantes nesta

    fase os sentimentos de insegurana, ambivalncia e culpa

    inconscientes. interrompido o impulso sexual da criana. (Fig 37)

    As fases de desenvolvimento, como teorizadas por Freud, se restringem a uma fase inicial do desenvolvimento. Uma contribuio

    importante no mbito da Psicanlise foi dada por Erick Ericson,

    quem ampliou e detalhou ditas as fases do desenvolvimento at a

    terceira idade. Vale a pena resumir seu modelo.

  • 32

    Fig 36: Nesta fase tm lugar os complexos de pido (menino) e Electra(menina), que significam a identificao da criana com o genitor do mesmosexo, procurando conquistar aquele do sexo oposto. o caso quando o meninoquer se parecer com o pai, e a menina com a me, procurando agradar ooutro.

    Fig 37: Esta fase pode ser divida em dois perodos: primeiro (5 a 8 anos): a criana impede os impulsos erticos e agressivos. Em seu momento de lazer e nas horas vagas utiliza rituais mgicos, simpatia e etc. Seria uma forma de consolidar o seu superego; e segundo (8 a 10 anos): a criana passa a ter menos conflitos, porque o seu superego j est estabilizado, com isso passa a ser independe e est pronta para encarar a realidade. Nessa fase torna-se mais justa, desejando que as outras crianas usufruam das mesmas vantagens que ela.

  • 33333333333333

    Noes de Psicologia do DesenvolvimentoOito fases de desenvolvimento de Erik H. Erikson:

    1. Confiana X Desconfiana (at 1 ano). A criana dependente das pessoas que cuidam dela, requerendo ateno

    quanto alimentao, higiene, locomoo, aprendizado de palavras

    e seus significados, bem como estimulao para perceber que

    existe um mundo em movimento ao seu redor. O amadurecimento

    ocorrer de forma equilibrada se ela sentir que tem segurana e

    afeto, adquirindo confiana nas pessoas e no mundo.

    2. Autonomia X Vergonha e Dvida (2 e 3 anos). A criana passa a ter controle de suas necessidades fisiolgicas e responder

    por sua higiene pessoal, o que d a ela grande autonomia,

    confiana e liberdade para tentar novas coisas sem medo de errar.

    Se, no entanto, for criticada ou ridicularizada desenvolver vergonha

    e dvida quanto a sua capacidade de ser autnoma, provocando

    uma volta ao estgio anterior, ou seja, a dependncia.

  • 3434343434343434

    Noes de Psicologia do Desenvolvimento 3. Iniciativa X Culpa (4 e 5 anos). A criana passa a perceber as diferenas sexuais, os papis desempenhado por mulheres e

    homens na sua cultura (conflito edipiano para Freud) entendendo de

    forma diferente o mundo que a cerca. Se a sua curiosidade sexual e intelectual, natural, for reprimida e castigada poder desenvolver

    sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa de explorar novas

    situaes ou de buscar novos conhecimentos.

    4. Construtividade X Inferioridade (6 a 11 anos). A criana est sendo alfabetizada e freqentando escola (s), o que propicia o

    convvio com pessoas que no so seus familiares, exigindo maior

    socializao, trabalho em conjunto, cooperao e outras habilidades

    necessrias. Caso tenha dificuldades o prprio grupo ir critic-la,

    passando a viver a inferioridade em vez da construtividade.

    5. Identidade X Confuso de Papeis (12 a 18 anos). O jovem experimenta desafios que envolvem suas atitudes para consigo,

    com amigos e pessoas do sexo oposto; comeam os amores e a

    busca de profisso. Se resolve tais questes, desenvolve identidade

    pessoal, caso contrrio pode se desorganizar e perder a referncia.

  • 353535353535353535

    Noes de Psicologia do Desenvolvimento 6. Intimidade X Isolamento (jovem adulto). O interesse, alm de profissional, gravita em torno da construo de relaes profundas e

    duradouras, podendo vivenciar momentos de grande intimidade e

    entrega afetiva. Caso ocorra uma decepo a tendncia ser o

    isolamento temporrio ou duradouro.

    7. Produtividade X Estagnao (adulto de meia idade). Pode aparecer uma dedicao a sociedade sua volta e realizao de

    contribuies valiosas, ou grande preocupao com seu conforto

    fsico e material.

    8. Integridade X Desesperana (terceira idade, velhice). Se o envelhecimento ocorre com sentimento de produtividade e

    valorizao do que foi vivido, sem arrependimentos e lamentaes

    sobre oportunidades perdidas ou erros cometidos, haver

    integridade e ganhos; caso contrrio, um sentimento de tempo

    perdido e a impossibilidade de comear de novo trar tristeza e

    desesperana.

  • 36363636363636363636

    Hereditariedade versus AmbienteEmbora sendo todos da mesma espcie, os seres humanos diferem

    no que se refere ao seu patrimnio hereditrio e quanto s

    influncias que recebem do meio. Portanto, a combinao entre

    estes dois fatores (hereditrios e ambientais) resultar em

    diferenas individuais e comportamentos complexos.

    O inato e o aprendido interagem continuamente para forma o homem, sua personalidade.

    Doenas mentais contam com incidncia superior a 80% em gmeos idnticos, e de menos de 20% nos gmeos fraternos.

    Outros dados sugerem incidncia menor em gmeos idnticos, na

    ordem de 50%. Assim, os achados no so conclusivos.(Fig 38)

    importante considerar a possibilidade de predisposio gentica, que pode ser acentuada ou instigada por fatores

    ambientais.

  • 37

    Fig 38: Os gmeos idnticos (univitelinos) provm do mesmo vulo e sonormalmente do mesmo sexo e cpia exata do outro, diferenciando em certosaspectos apenas. Por outro lado, os gmeos fraternos (bivitelinos) tm origemem vulos independentes e muitas vezes de sexos diferentes e aparnciasdistintas. Estes so irmos como outros quaisquer, apenas gestatados namesma poca.

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    Hereditariedade versus Ambiente Embora no se possa avaliar com igual preciso o efeito do ambiente, como se faz no caso da gentica ao comparar gmeos,

    sabe-se que o ambiente tem impacto no comportamento.

    Os vnculos que tm lugar na primeira infncia, como ficou evidente previamente, so fundamentais para assegurar uma

    personalidade ajustada.

    O melhor desempenho escolar e a menor incidncia de problemas emocionais tm sido relacionados a infncia vivida em

    famlia intactas, com bom relacionamento entre os pais.

    A influncia mais importante do ambiente familiar no desenvolvimento das crianas a atmosfera social e psicolgica

    construda no lar.

    Portanto, no possvel pensar os fatores hereditrios e ambientais como separados ou mesmo contraditrios. Eles

    interagem para fazer possvel a adaptao do indivduo.

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    Trindade, J. (2009). Manual de Psicologia Jurdica para operadores

    do Direito. 3 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora.

    Erikson, E. (1994). Identity and the life cycle. New Yor: W. W. Norton &

    Company (Originalmente publicado em 1959).

    Srivastava, S., John, O. P., Gosling, S. D., & Potter, J. (2003).

    Development of personality in early and middle adulthood: Set like

    plaster or persistent change? Journal of Personality and Social

    Psychology, 84, 1041-1053.

    Referncia Bsica

    Referncias Complementares

  • 40

    Muito obrigada!!