modelos de francesco di giorgio

109
estudo de projeto e análise de edifícios renascentistas prescritos por Francesco di Giorgio em seu Tratado de Arquitetura MODELOS DE FRANCESCO DI GIORGIO

Upload: mariana-vetrone

Post on 08-Apr-2016

230 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

Caderno didático produzido pela equipe do LabTri FAUUSP, coordenado pelo prof. dr. Mário Henrique D'Agostino.

TRANSCRIPT

Page 1: Modelos de Francesco di Giorgio

estudo de projeto e análise de edifícios renascentistas prescritos por Francesco di Giorgio em seu Tratado de Arquitetura

MODELOS DE

FRANCESCODI GIORGIO

Page 2: Modelos de Francesco di Giorgio
Page 3: Modelos de Francesco di Giorgio

MODELOS DE FRANCESCO DI GIORGIO

estudo de projeto e análise de edifícios renascentistas prescritos por Francesco di Giorgio em seu rtado de Arquitetura

LABTRI 2012

Page 4: Modelos de Francesco di Giorgio

PROJETO INTEGRADO DE MODELOS TRIDIMENSIONAIS

para estudos de arquitetura renascentista

Modelos de Francesco di Giorgio (Templos e Colunas)

Pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório de Modelos Tridimensionais nos anos

de 2010 a 2012

PROJETO APROVADO E FINANCIADO PELO CNPQ

bolsas de pesquisa para iniciação científica no período de setembro

de 2011 a agosto de 2012

LABTRI - Laboratório de modelos Tridimensionais da FAU - USP

Coordenação:

Prof. Dr. Mário Henrique Simão DAgostino

Professores:

Dra. Andea Buchidid Loewen

Dr. Luis Antonio Jorge

Dra. Ana Paula G. Pedro

Pesquisadores:

Gabriela Lotuffo Oliveira e Mariana Lunardi Vetrone

Page 5: Modelos de Francesco di Giorgio

O desenvolvimento deste trabalho, desde as primeiras etapas de leitura do Tratado, até a

elaboração dos produtos finais, incluindo o presente caderno, só foi possível graças ao Prof.

Dr. Mário Henrique Simão D’Agostino. Agradecemos a sua paciência e amizade, sobretudo

nos momentos desafiadores compartilhados, e por ter nos apresentado um modelo de pro-

fessor e pessoa a ser seguido.

Da mesma forma, agradecemos à Prof. Dra. Andrea Buchidid Loewen, e em especial, à Prof.

Dra. Ana Paula G. Pedro, que auxiliaram o projeto desde seu início, compartilhando conosco

seus conhecimentos e descobertas a respeito do tratadista aqui estudado.

Agradecemos às outras pesquisadoras do laboratório: Bruna Bertuccelli, Carolina Junqueira e

Gabriela Bacelar, cujo trabalho desenvolvido em paralelo possibilitou construtivas trocas ao

longo do percurso. Também àqueles que de uma forma ou de outra foram imprecindíveis

para que a pesquisa fosse concluída: Tatiane Teles, Rodolfo Macedo, Lucas Frech, Beatriz Lo-

tuffo Oliveira, Bruno Dalera e a Família Azevedo: Tomás, José Osório e Cristina.

Pelo apoio dado não somente nos momentos difíceis, mas também em todo decorrer do

processo de execução deste trabalho, agradecemos a Desirée C. Lotuffo Oliveira, Jorge M.

Palamin Oliveira; Laura Maria Lunardi e Luiz Carlos Vetrone, pais das pesquisadoras Gabriela e

Mariana, respecivamente.

Agradecimentos

Page 6: Modelos de Francesco di Giorgio
Page 7: Modelos de Francesco di Giorgio

Prefácio

Introdução: Francesco di Giorgio, tratado e proporção

Parte I: Colunas e Pilastras

Colunas

Base

Fuste

Capitel

Pilastras

Parte II: Templos

Tratado I

Tratado II

Parte III: Estudos de modelagem

Projetos e modelagem eletrônica

Modelo Físico

Crédito das Imagens

Bibliografia

Índice

7

11

15

17

20

26

30

46

51

54

58

77

79

90

105

107

Page 8: Modelos de Francesco di Giorgio

6

Page 9: Modelos de Francesco di Giorgio

O projeto Modelos de Francesco di Giorgio Martini consiste em um “Kit

pedagógico” destinado a alunos de graduação em Arquitetura, a fim de

propiciar material de suporte ao estudo e entendimento das principais ver-

tentes históricas da denominada Arquitetura Clássica do Renascimento Ital-

iano. Composto por Libreto sobre o tratadista e suas prescrições arquitetôni-

cas, DVD e Maquetes, o produto resulta de pesquisas de iniciação científica

desenvolvidas junto ao Laboratório de Modelos Tridimencionais da Faculdade

de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - LABTRI-FAUUSP.

Dando continuidade ao projeto Modelos de Vitrúvio, o presente debruça-se

sobre os Trattati di Architettura, Ingegneria e Arte Militare martinianos, elaboran-

do jogos de modelagem física e eletrônica, exercícios gráficos com estudos de

proporção das espécies de colunas e simulações com animação em 3D dos

esquemas compositivos de templos prescritos por Francesco di Giorgio Martini.

A equipe de pesquisadores responsável pela viabilização do produto final

contou com o apoio financeiro da Reitoria da USP (bolsas de iniciação cientí-

fica), sendo composta pelas alunas Gabriela Lotuffo Oliveira e Mariana Lu-

nardi Vetrone. A coordenação do projeto coube ao prof. Dr. Mário Henrique

Simão D’Agostino, contando também com a colaboração dos professores

Dra. Andrea Buchidid Loewen, Dr. Luís Antônio Jorge e Dra. Ana Paula G. Pedro.

Prefácio

7

Page 10: Modelos de Francesco di Giorgio
Page 11: Modelos de Francesco di Giorgio
Page 12: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 1: Foto panorâmica da cidade de urbino

10

Page 13: Modelos de Francesco di Giorgio

Nascido em Siena, em 1439, Francesco di

Giorgio Martini inicia sua produção teóri-

ca com o propósito de traduzir a obra De

Architectura (c. 27 a.C.) de Vitruvio, único

remanescente da antiguidade que tratava

de arquitetura. Junto de outros arquitetos

e estudiosos a ele contemporâneos, como

Leon Battista Alberti, Martini inicia uma nova

leitura do tratado vitruviano. Distancian-

do-se de sua utilização até então fragmen-

tada, com viés filológico, passam a estudar

o escrito em sua totalidade, vinculando-o

ao exercício da arquitetura propriamente

dito, de maneira inovadora.

A primeira tentativa de elaborar um tratado

de maior envergadura, iniciada por di Gi-

orgio em 1476 na cidade de Urbino, apre-

senta muitos equívocos, possuindo ainda

uma ligação muito forte com o texto anti-

go. Na tentativa de transcrever trechos de

Vitrúvio, o autor chega, constantemente, a

resultados insatisfatórios e a uma redação

obscura, muitas vezes suprimindo frases in-

teiras do tratado antigo, o que impossibilita

IntroduçãoFrancesco di Giorgio,tratado e proporção

a compreensão total do texto. As enormes

dificuldades de exegese do escrito vitru-

viano e a constituição de uma terminolo-

gia extremamente sofisticada pelo próprio

tratadista dilatam, pois, os desafios de in-

terpretação da obra e a compreensão de

seu lugar no quadro do pensamento ar-

quitetônico da época.

Interrompendo seu primeiro trabalho em

1487, o tratadista inicia uma nova com-

posição logo em seguida. Decisivo para a

consumação do projeto foi o contato tar-

dio de di Giorgio com o escrito De Re Ae-

dificatoria (1452), de Leon Battista Alberti,

ocorrido, possivelmente em torno de 1485,

após a chegada de uma cópia do tratado

albertiano à biblioteca de Urbino, em 1483.

“O tratado moderno desempenha tal pa-

pel, seja por realizar uma leitura do texto an-

tigo, não apenas filológica, mas motivada

pelo interesse no entendimento da Arquite-

tura, seja por Alberti ser um dos poucos ar-

quitetos do Quatrocentos que dispunha da

erudição necessária para atenuar as difi-

culdades do enfrentamento filológico que

o escrito vitruviano exigia. Seu De Re Aed-

ificatoria foi usado como instrumento que

amparou a leitura e interpretação do De

Architectura pelos arquitetos que o suce-

deram.“ (PEDRO, 2010, p. 35)

11

Page 14: Modelos de Francesco di Giorgio

A comparação de seu próprio tratado

com aquele produzido por Alberti, que por

igual auxiliava na melhor compreensão do

escrito de Vitrúvio, deixa evidente a sua in-

ferioridade. Francesco observa, então, a

necessidade de reelaborar seu trabalho,

ambicionando, desta vez, a realização de

um tratado mais moderno que o albertiano.

Figura 2: Estudos de di Giorgio sobre a proporção hu-mana

Além da segunda versão da obra, a qual

será concluída em torno de 1490, apre-sen-

tar-se mais clara e compreensível em diver-

sos trechos, nela Martini propõe e desen-

volve um tipo de arquitetura sacra da maior

relevância para a história da Arquitetura do

Renascimento: a combinação do esquema

de planta central com o esquema basilical.

Nas duas versões do tratado martiniano, a

figura humana é tida como o basilar para

a concepção de edifícios ou cidades. Re-

iterando a clássica analogia entre os ele-

mentos arquitetônicos e o corpo humano,

considerada por Vitrúvio a mais perfeita

dentre as obras da natureza, o autor cria

uma sistematização própria do léxico ar-

quitetônico e dos gêneros de templos, fran-

queando novas perspectivas, próprias ao

seu momento histórico.

“E porque como é dito, a figura humana é

a mais proporcionada e perfeita que ex-

iste, decidiu-se assimilar daquela o que era

possível para essa [arquitetura].” (MARTINI,

1967, p. 375)

Apesar da figura humana ter sido consid-

erada como referência para as medidas uti-

lizadas na arquitetura desde a Antiguidade,

em nenhum outro tratadista a questão antro-

12

Page 15: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 4: Interpretação de Leonardo da Vinci do ho-mem vitruviano (c. 1490).

pométrica foi levada a tal grau de de-

talhamento como em di Giorgio. Todos

os gêneros de edificação são por ele

considerados a partir das medidas do cor-

po humano, diretriz para os posteriores estu-

dos renascentistas, como o homem vitruvia-

no de Leonardo da Vinci.

13

As homologias entre micro e macrocos-

mo, entre corpo, ordem da natureza e

edificação consolidam amplamente a

normativa da linguagem clássica da ar-

quitetura e dão lastro ao florescimento

pleno da renovatio artística do Renasci-

mento italiano.

Figura 3: Desenho de di Giorgio do homem inserido no círculo e no quadrado.

Page 16: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 5: Detalhe das colunas na Igreja de São Bernardino, Urbino.

Page 17: Modelos de Francesco di Giorgio

Parte IColunas e Pilastras

15

Page 18: Modelos de Francesco di Giorgio
Page 19: Modelos de Francesco di Giorgio

ColunasAs três espécies de colunas

No seu segundo tratado Martini prescreve três

espécies de colunas: dórica, jônica e coríntia.

Narrando sobre sua origem mítica, explica a

transmissão das proporções humanas às dife-

rentes colunas.

Segundo o tratadista, Doro, edificando um

templo a Juno, na cidade antiga de Argo

localizada no Peloponeso, cria, a princípio

em forma de templo, o estilo denominado

dórico. Para as colunas inseridas posterior-

mente nessas tipologias de edificação, uti-

lizou-se a proporção humana na intenção

de transmitir-lhes um belo aspecto. Assim,

aplicou-se na coluna dórica a relação pro-

porcional encontrada no homem entre o

tamanho de seu pé e a altura total do cor-

po. O diâmetro de sua base passou a cor-

responder a um sexto da altura total (Figura

6), assemelhando-se a um corpo mascu-

lino e viril. Posteriormente, em decorrência

da aparência grosseira desta espécie, de-

liberou-se que sua proporção seria de um

diâmetro de largura para sete diâmetros de

altura. (Figura 7)

Figura 7: Coluna dórica com altura de sete diâmetros Figura 6: Coluna dórica com altura de seis diâmetros

17

Page 20: Modelos de Francesco di Giorgio

Da mesma maneira, di Giorgio memora o

relato vitruviano da edificaçõ de um tem-

plo a Diana, no qual foram utilizadas as

proporções do corpo de uma mulher para,

assim, transmitir-lhe um aspecto mais gra-

cioso.

Com a medição do pé feminino, desco-

briu-se que esse correspondia a um oitavo

da altura total da mulher, transmitindo-se

para a coluna a mesma proporção. Esse

segundo estilo de coluna, sendo concebi-

do na Jônia, foi denominado jônico. (Fig-

ura 8)

Figura 8: Coluna jônica com sua respectiva proporção

Para a terceira espécie de coluna, denomi-

nada coríntia, buscou-se a semelhança ao

corpo de uma jovem, o qual se apresenta

mais delgado e esbelto que o de uma mu-

lher de mais idade. Por esse motivo, partin-

do da coluna jônica, acrescentou-se um

diâmetro em altura, obtendo-se para a

coríntia a proporção de um diâmetro de

base para nove de altura.

Consoante o mesmo princípio, Francesco

di Giorgio considera que a base, o fuste e

o capitel, elementos constituintes das colu-

nas, remetem também a figura humana.

O capitel, localizado na parcela supe-

rior da coluna representa a cabeça do

homem, o fuste, adquire caneluras na

coluna jônica como forma de represen-

tar as vestes femininas e, por fim, a base

está para a coluna como os pés para o

ser humano.

Convém observar que, no De Architetura,

Vitrúvio, não prescreve base para as colu-

nas dóricas, tal como originalmente eram

construídas em solo helênico.

18

Page 21: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 9: Colunas dórica, jônica e coríntia. (direita para esquerda)

Capitel

Fuste

Base

19

Page 22: Modelos de Francesco di Giorgio

As bases prescritas por Francesco di Gi-

orgio Martini podem ser de dois tipos:

simples ou duplas, sendo a última re-

latada em menor grau. No que diz res-

peito às bases simples, são descritas

ColunasBase

ao todo quatro tipologias. Dentre elas, ape-

nas uma será estudada neste caderno, por

apresentar proporções mais costumeiras em

relação às três restantes.

As quatro diferenciam-se apenas em sua

largura, pois no que diz respeito à altura pos-

suem as mesmas dimensões: meio diâmetro

de altura acrescido de um plinto, com al-

tura de três sétimos de diâmetro, disposto

abaixo da base.

Figura 10: Base com projeção de 1/4 de diâmetro Figura 11: Base com projeção de 3/8 de diâmetro

Figura 12: Base com projeção de 5/12 de diâmetro Figura 13: Base com projeção de 1/2 de diâmetro

20

Page 23: Modelos de Francesco di Giorgio

A base martiniana é composta por elemen-

tos assim distribuídos: plinto, toro inferior, as-

tragolo e toro superior. O plinto apresenta

forma quadrada, sem ornamentação. O

toro é a parte convexa e o astragolo, as-

sim denominado pelo tratadista, porém co-

nhecido como escócia, é a parte cônca-

va. Sobre cada uma dessas partes é aloca-

do um troquilo, como designa Francesco,

elemento nomeado por outros tratadistas

como listel.

Já em relação a base dupla, devido à

vaga especificação do tratadista, sabe-se

apenas que é composta pelo dobro dos

elementos presentes na base simples, pos-

suindo, portanto, o dobro de sua altura, ou

seja, um diâmetro inteiro. De forma seme-

lhante, possui um plinto com as mesmas

dimensões. A projeção de seus elementos

também dobra, atingindo meio diâmetro

em cada lado da base, ou seja, uma largu-

ra total da base de 2 diâmetros.

Plínto

Astragolo

Toro / Bastone

Toro

Troquilo

Figura 14: Base com a indicação de seus elementos Figura 15: Base dupla

21

Page 24: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 17: Imagem de uma base retirada do tratado.

Figura 19: Imagem de uma base retirada do tratado.

Figura 16: Modelo tridimensional da base.

Figura 18: Modelo tridimensional da base.

22

Page 25: Modelos de Francesco di Giorgio

Contudo, enquanto Vitrúvio inclui o plinto

na altura total da base, de meio diâmetro,

Francesco exclui tal elemento, resultando

em uma base com altura maior que aque-

la proposta pelo primeiro tratadista. Ainda

assim, as bases descritas por Francesco são

os elementos constituintes das colunas que

mais se aproximam dos escritos de Vitrúvio.

Figura 20: Base ática como prescrita por Vitrúvio.

A base descrita anteriormente possui a

mesma projeção da base ática descrita

por Vitrúvio, ou seja, um quarto de diâme-

tro de cada lado, resultando em uma lar-

gura total de um diâmetro e meio de lar-

gura. Di Giorgio não ignora nenhum dos

ornamentos da base vitruviana, modifican-

do apenas suas alturas.

23

Page 26: Modelos de Francesco di Giorgio

Para realizar a projeção da base para

além do fuste, divide-se sua dimensão

maior em 4 partes iguais.

Acrescenta-se uma dessas partes em

cada lado da base, resultando em

uma projeção de 1/4 de diâmetro.

As 9 parcelas inferiores são reservadas

ao toro inferior. Acima desse, uma par-

te é dada ao troquilho.

1 2

3 4Para a inserção dos elementos da

base, divide-se sua altura total, igual a

½ diâmetro, em 28 partes.

ProcedimentoBase simples com 1/4

de projeção

1/2

1 1 1/4 1/4

24

Page 27: Modelos de Francesco di Giorgio

O toro superior ocupa 7 partes no to-

tal, acima dele é posicionado o tro-

quilho supremo.

5 6O astrágalo localiza-se acima do tro-

quilho, ocupando nove partes. Sobre

ele vem um novo troquilho.

Por último, a definição do plinto, situa-

do abaixo da base, contendo 12 par-

tes de altura.

7 Cumprem-se assim as 7 etapas do pro-

cedimento para a configuração inte-

gral da base.

8

25

Page 28: Modelos de Francesco di Giorgio

Para configurar o fuste das colunas, Vitrúvio

descreve dois principais procedimentos: as

caneluras e a entasis. Os mesmo procedi-

mentos são citados por di Giorgio, embora

com níveis de detalhamento diferentes.

O processo de redução da coluna, a enta-

sis, tem como objetivo a compensação óp-

tica das distorções do olho humano. Após

a aplicação da entasis no fuste, o diâmetro

superior do fuste (sumoscapo) é um sexto

menor do que o diâmetro inferior (imos-

capo), que descansa na base.

ColunasFuste: caneluras e entasis

Figura 22: Representação do arranque do fuste com 24 caneluras.

O procedimento apresentado por Mar-

tini difere muito do proposto por Vitrúvio.

Pode-se afirmar que a diferença maior

está no fato de o arquiteto antigo realizar

o processo de entasis como abaulamento

aplicado no fuste inteiro, enquanto Mar-

tini mantém um terço inferior do fuste in-

tacto, reduzindo o diâmetro apenas nos

dois terços superiores. Entretanto, ambos

se aproximam ao reduzir o diâmetro su-

perior do fuste (sumoscapo) em um sexto.

Já as caneluras são concavidades pre-

sentes nos fustes das colunas jônicas. No

começo de seu tratado, Francesco cita a

existência de tais concavidades, que re-

presentariam nas colunas jônicas as vestes

femininas. Entretando, posteriormente, na

descrição específica dessas colunas, ignora

a existência de tal procedimento.

Figura 21: Esquema de explicação da redução do fuste.

26

Page 29: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 24: Coluna dórica sobreposta ao processo de realização da entasis.

Figura 23: Colunas jônicas lisa (esquerda) e com cane- luras (direita).

27

Page 30: Modelos de Francesco di Giorgio

A partir de um círculo com dimensões

equivalentes ao immoscapo da col-

una (diâmetro inferior), divida seu

diâmetro, em seis partes iguais.

Deve-se então traçar um círculo con-

cênctrico ao primeiro, cujo diâmetro

seja de quatro das partes resultantes

da divisão anterior.

Unir as marcações com retas paralelas

a AB, de modo que a primeira mar-

cação conecte-se a última, a segunda

a ante-penúltima, e assim por diante.

Traçar uma linha reta AB, tangente ao

círculo construído, dividindo o menor

arco resultante (marcado em azul)

com 17 marcações equidistantes.

1 2

3 4

ProcedimentoEntasis

28

Page 31: Modelos de Francesco di Giorgio

A redução da coluna será resultado

da ligação entre as retas paralelas

traçadas a partir do cículo e as sete

porções superiores da divisão do fuste.

Partindo do fuste, divida-o em três par-

tes iguais (a). Mantenha a parte infeior

intacta, dividindo as duas porções su-

periores em 7 partes iguais (b).

A conexão dos pontos de intersecção

entre as linhas traçadas no círculo e

as divisões do fuste, resultará em seu

contorno com a aplicação da entasis.

5 6

7 O mesmo procedimento deve ser res-

peitado nos fustes dos três gêneros de

colunas. O resultado, após a redução,

é mostrado abaixo.

8

29

a b

Page 32: Modelos de Francesco di Giorgio

ColunasCapitel

Para cada umas das três espécies de colu-

nas descritas, tem-se uma tipologia de capi-

tel, que se diferenciam em seus ornamentos

e dimensões.

Na coluna dórica, o capitel possui a altura

de um terço de diâmetro, na jônica dois

terços e na coríntia um diâmetro inteiro. Já

a largura é a mesma para os três capitéis,

ou seja, 2/3 de diâmetro, considerando o

fuste com entasis.

Figura 25: Modelo eletrônico do capitel jônico.

Figura 26: Modelo eletrônico do capitel coríntio.

Figura 27: Modelo eletrônico do capitel dórico.

30

Page 33: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 33: Capitel dórico retirado do tratado.

Figura 31: Capitel jônico retirado do tratado.

Figura 29: Capitel coríntio retirado do tratado.

2/3

1

Figura 28: Capitel coríntio.

2/3

2/3

2/3

1/3

Figura 32: Capitel dórico.

Figura 30: Capitel jônico.

31

Page 34: Modelos de Francesco di Giorgio

Dentre as três espécies, o capitel coríntio

é o mais detalhado pelo tratadista. Seus

ornamentos, compostos por folhas de

acanto, volutas, gavinhas e caulículos,

dispõem-se no capitel de modo a seguir

as proporções encontradas na face hu-

mana.

ColunasCapitel Coríntio

Figura 36: Capitel coríntio.Figura 34: Modelo eletônico do capitel coríntio.

32

Ábaco

Voluta

Folhas de Acanto

Gavinha

Caulículo

Figura 35: Desenhos de di Giorgio sobre a proporção humana no capitel coríntio.

Page 35: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 38: Modelo eletrônico da coluna coríntia.

No que diz respeito às proporções específi-

cas do capitel coríntio Francesco segue,

em parte, o escrito de Vitrúvio. Ambos di-

videm a altura do capitel em sete partes ig-

uais, sendo que a espessura do ábaco cor-

responderá à sétima parte superior, como

afirma Vitrúvio no primeiro capítulo do quar-

to livro do De Architectura.

Diferem-se, entretanto, no que diz respeito

à disposição das folhas de acanto. Vitrúvio

reserva duas partes para cada uma das

camadas de folhagem enquanto Frances-

co di Giorgio atribui apenas uma parte para

a camada superior.

Figura 37: Capitel corítnio do Templo de Serapis, Roma.

33

Page 36: Modelos de Francesco di Giorgio

1 2

3 4

ProcedimentoCapitel Coríntio

Inicialmente, deve-se dividir a altura do

capitel, equivalente a 1 diâmetro de

base (imoscapo), em 7 partes iguais.

Reserva-se a parcela superior ao ába-

co, equivalente no homem à distância

entre topo da testa ao topo da cabeça.

As seis parcelas restantes, onde serão

alocados os ornamentos, são dividi-

das em três partes iguais.

Vista FrontalVista Superior

Sumoscapo

Vista FrontalVista Superior Vista FrontalVista Superior

Recomenda-se ainda a inserção do

rotondo fiore (flor redonda) no ábaco,

esquematizado na imagem abaixo.

Vista FrontalVista Superior

34

Page 37: Modelos de Francesco di Giorgio

5 6

7

Na porção inferior é posicionada a

primeira camada de acantos, com-

posta por 8 folhas.

As volutas, gavinhas e caulículos situ-

am-se desde a metade da parcela inter-

mediária até o final da parcela superior.

A segunda camada de folhagem

possui uma altura maior, atingindo a

metade da parcela intermediária.

Vista FrontalVista SuperiorVista FrontalVista Superior

Vista FrontalVista Superior

Após a conclusão das 7 etapas do

procedimento, tem-se então o capitel

finalizado.

8

35

Page 38: Modelos de Francesco di Giorgio

ColunasCapitéis Dórico e Jônico

Diferente do que prescrevem Vitrúvio e

praticamente todos os tratadista renas-

centistas, Francesco di Giorgio insere volu-

tas tanto no capitel dórico quanto no jôni-

co. Como expunha o tratadista antigo,

esse ornamento representava os cabelos

femininos na coluna jônica. Em contra-

partida o capitel dórico caracterizava-se

pela ausência de ornamentos, asseme-

lhando-se a virilidade masculina.

Figura 39: Capitéis dórico (esquerda) e jônico (direita) com as indicações de seus ornamentos.

Diversamente, os capitéis dórico e jônico

martinianos são extremamente semelhan-

tes entre si, divergindo apenas em sua al-

tura e no acréscimo de alguns ornamentos

ao primeiro.

Esses capitéis podem ser divididos em três

partes principais: as volutas, o ábaco e o

equino, onde são dispostas algumas or-

namentações como os óvalos. No caso

do capitel jônico, acrescentam-se ainda

caneluras abaixo do equino.

Em relação às volutas observa-se certa

contradição entre as descrições e os de-

senhos do tratadista. No texto, Francesco di

Giorgio diz que a projeção do capitel, ou

Ábaco

VolutaEquino

Óvalo

Caneluras

2/3 1/31/3 de 2/3 1/3 de 2/3 1/32/3

2/3 1/31/3 de 2/3 1/3 de 2/3 1/32/3

36

Page 39: Modelos de Francesco di Giorgio

seja, o espaço onde a voluta deve se inse-

rir é de um terço do diâmetro da extremi-

dade superior da coluna, enquanto no

desenho a projeção do mesmo ornamen-

to é de um terço do diâmetro da extremi-

dade inferior. Essa diferença ocorre, prova-

Figura 40: Capitel dórico com as duas interpretações de voluta.

velmente, porque nos desenhos o arquite-

to representa o capitel mais largo do que

deveria ser ao desconsiderar a entasis, e

consequentemente a redução do diâme-

tro superior da coluna, um sexto menor do

que o inferior.

2/3 1/31/3 de 2/3 1/3 de 2/3 1/32/3

2/3 1/31/3 de 2/3 1/3 de 2/3 1/32/3

Figura 41: Capitel jônico com as duas interpretações de voluta.

37

Page 40: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 44: Modelo eletônico da coluna jônica.

Figura 42: Capitel jônico do Teatro de Marcelo, Roma.

Figura 43: Modelo eletônico do capitel jônico.

38

Page 41: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 47: Modelo eletônico da coluna dórica.

Figura 45: Capitel dórico do Teatro de Marcelo, Roma.

Figura 46: Modelo eletônico do capitel dórico.

39

Page 42: Modelos de Francesco di Giorgio

1 2

3 4

ProcedimentoCapitel Coríntio

Para o capitel com projeção menor,

divide-se o diâmetro em três partes

iguais, acrescentando uma dessas a

cada lado do capitel.

Posteriormente, acrescenta-se as vo-

lutas, cujo procedimento construtivo,

assim como dos demais ornamentos,

não é detalhado pelo tratadista.

O ábaco, posicionado acima do

capitel, também não é detalhado por

Francesco, sendo apenas citado no

tratado.

O ornamentos dispostos no equino

(óvalos, caulículos, etc.) foram retira-

dos dos desenhos presentes na segun-

da edição do tratado.

40

Page 43: Modelos de Francesco di Giorgio

5 6

7

A execução do capitel jônico utiliza

o mesmo procedimento. Após acres-

centar 1/3 de sua largura a cada lado

do capitel, colocam-se as volutas.

Posteriormente, é posicionado o

restante dos ornamentos, incluindo

os já citados anteriormente, como os

óvalos e as caneluras .

Tem-se então os dois capitéis finaliza-

dos. O primeiro, dórico, sem canelu-

ras, possui, como dito acima, volutas,

afastando-se de Vitrúvio.

Após a colocação do colarinho estria-

do (caneluras do capitel) e a con-

clusão das etapas precedentes, tem-

se então o capitel finalizado.

8

41

Page 44: Modelos de Francesco di Giorgio

ColunasElementos complementares:

estilóbata

Além das colunas, Francesco di Giorgio

também prescreve outros dois elementos

complementares: a estilóbata e o enta-

blamento.

A estilóbata é um corpo cúbico disposto

abaixo da coluna quando se deseja pro-

porcionar maior altura a essa. Em sua des-

crição, devido à insuficiência de detalhes

propiciados pelo autor, especifica-se ape-

nas o tamanho total, largura e altura, seja

da estilobata como de sua cornija e base,

sem menção às dimensões ou projeções dos

elementos próprios à cornija ou base.

Seu detalhamento, portanto, foi aqui rea-

lizado considerando o desenho que di Gio-

rgio (ou melhor, o copista) apresenta no

tratado.

Além disso, o tratadista constantemente utili-

za ambas as palavras estilóbata e esterióba-

ta como sinônimas, embora as diferen-

cie nas imagens do tratado, como pode ser

observado ao lado.

Cornija

Base

Figura 49: Modelo eletônico da estilóbata.

Figura 48: Desenho da estilóbata retirada do tratado.

42

Cornija

Base

Page 45: Modelos de Francesco di Giorgio

1 2

3 4

ProcedimentoEstilóbata

Inicialmente divide-se o corpo cúbico

da estilobata, com dimensão de 1 diâ-

metro e meio, em seis partes iguais.

Dá-se uma dessas partes à cornija da es-

tilobata, localizada acima do corpo cúbi-

co e com projeção de 1/3 de diâmetro.

Tem-se então a estilóbta finalizada,

correspondente, em Francesco di Gior-

gio, ao pedestal da coluna.

Para a base, localizada abaixo do

corpo cúbico, dá-se uma e um quarto

dessas seis partes.

1 e

1/2

1 e 1/2 1/3 1/3 1 e 1/2

1/3 1/3 1 e 1/2

43

Page 46: Modelos de Francesco di Giorgio

ColunasElementos complementares:

estilóbata

Acima das colunas encontra-se o entab-

lamento, constituído por um epistilo ou

arquitrave, zofaro ou friso e uma cornija.

Essa última é composta por dentículos,

44

corona e cimácios. Em relação a dis-

posição e quantidade desses elementos,

Francesco segue, em sua essência, o mé-

todo vitruviano.

Diferencia-se dele, porém, em alguns di-

mensionamentos desses ornatos, bem

como troca o nome de alguns, embo-

ra visualmente o entablamento final de

di Giorgio apresenta-se muito próximo

daquele proposto por Vitrúvio.

Figura 50: Imagem do entablamaneto, retirado do tratado

Figura 51: Imagem do entablamaneto, retirado do tratado

Page 47: Modelos de Francesco di Giorgio

45

Figura 52: Entablamento com indicação de seus ele-mentos.

Epistilo

DentículoCimácio

Zoforo

Corona

Gola/ Sima

Cimácio superior

Acrotério

Cimácio

Cornija

Figura 53: Entablamento do Teatro de Marcelo, Roma.

Figura 54: Maquete eletrônica do entablamento.

Page 48: Modelos de Francesco di Giorgio

Pilastras

Além das colunas há também aquilo que

Francesco denomina colunas angulares,

elementos arquitetônicos que se diferen-

ciam das primeiras por possuírem o corpo

quadrado. Tais “colunas” possuem lados

com dimensão de um diâmetro e um quar-

to, sendo que seus fustes não sofrem entasis,

mantendo a mesma largura por toda sua

altura.

De acordo com o autor, essas pilastras an-

gulares deveriam ser dispostas nos cantos

dos templos. Di Giorgio estabelece para

cada espécie de coluna sua respecti-

va pilastra angular, respeitando as pro-

porções definidas para base, fuste e ca-

pitel.

Contudo, o detalhamento do capitel e

da base da pilastra, com todas as suas

relações métrico-proporcionais, não é

fornecido pelo tratadista, utilizando-se

para a reconstituição aqui apresentada

as mesmas partições referentes às colu-

nas.

Posto que o tratado não define integral-

mente a pilastra e os ajustes decorrentes do

aumento de largura do fuste, optou-se pela

manutenção do diâmetro da coluna. Con-

siderando que a pilastra possui face plana,

utilizou-se para sua execução as prescrições

das colunas, não aplicando o processo de

entasis, ou seja, mantendo igual largura em

toda a extensão do fuste.

Figura 55: Pilastra presente na Igreja Sta Chiara, Urbino.

46

Page 49: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 56: Pilastra dórica.

47

Figura 57: Modelo eletr6onico da pilastra dórica.

Page 50: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 58: Pilastra jônica.

48

Figura 59: Modelo eletrônico da pilastra jônica.

Page 51: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 60: Pilastra coríntia.

49

Figura 61: Modelo eletrônico da pilastra coríntia.

Page 52: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 62: Igreja de São Bernardino, Urbino.

Page 53: Modelos de Francesco di Giorgio

Parte IITemplos

51

Page 54: Modelos de Francesco di Giorgio
Page 55: Modelos de Francesco di Giorgio

Templos

Assim como muitos outros arquitetos de sua

época, Francesco di Giorgio concebe o

templo em analogia com as proporções hu-

manas. Os procedimentos por ele adotados

para o estudo dos templos assemelham-se,

dessa maneira, ao das colunas, “em que a

figura antrópica é sobreposta aos desenhos

arquitetônicos” (PEDRO, 2011, p. 180).

Os templos martinianos possuem pro-

porções fixadas através da métrica das

colunas. Entretanto, seu esquema cons-

trutivo é o mais flexível em relação a seus

contemporâneos, possibilitando “variada

inventividade” ao arquiteto, sem perder,

no entanto, a perspectiva antropométrica.

Na primeira versão de seu tratado, Fran-

cesco trabalha com duas espécies for-

mais de templos: a basilical e o tem-

plo de planta central. Na segunda

versão, quando seus estudos são apro-

fundados, o tratadista apresenta sua

solução de maior relevância: a combi-

nação do esquema de planta central

aos esquemas basilicais. Trabalha, tam-

bém, a classificação de templos em

três partes distintas e discorre sobre

procedimentos geométricos para a

elaboração das plantas e a obtenção de

módulos de construção da estrutura física

dos templos.

Figura 63: Esquema de proporção para plantas basil-icais e frontispício retirado do tratado.

53

Page 56: Modelos de Francesco di Giorgio

TemplosTratado I

Em seu primeiro Tratado, Martini abor-

da a classificação dos templos segun-

do as prescrições vitruvianas quanto ao

gênero (in antis, próstilos, anfipróstilos,

perípteros, pseudodípteros, dípteros e hí-

petros) e ao intercolúnio (picnostilo, sisti-

lo, diastilo, aerostilo e eustilo). Tais clas-

sificações foram abordadas no projeto

Modelos de Vitrúvio, desenvolvido pelo

LABTRI-FAUUSP.

Com base nas proporções humanas, Martini

classifica as basílicas em: nave única (sen-

za navi), com ou sem transepto (a croce ou

senza croce), e nave tripartida (tre navi).

Classifica também os templos de planta

central em poligonais (a faccia) e circulares

(rotondo), sendo o último considerado a

forma mais perfeita.

Todas essas classificações estabelecidas

no Livro I vêm acompanhadas por diversos

desenhos como exempla, que ilustram al-

gumas soluções possíveis dentro de cada

caso. Os desenhos mostraram-se de ex-

trema importância para o desenvolvimento

da presente pesquisa, pois, além de ilustra-

rem possibilidades de composição de plan-

tas dentro das classificações abordadas e

Figura 64: Imagens de basílicas de nave única com e sem transepto, retiradas do tratado.

54

Figura 65: Imagens de basílicas de nave única com transepto, retiradas do tratado.

Page 57: Modelos de Francesco di Giorgio

esclarecerem alguns pontos obscuros do

Tratado, trazem ainda soluções inovadoras

que não são incluídas no texto, como se

pode observar nas imagens a seguir, obtidas

a partir de uma versão do códice Saluzzia-

no, integrante da Biblioteca Real de Turim.

55

Figura 66, 67 e 68: Imagens de basílicas de nave trioartida com e sem transepto, retiradas do tratado.

Figura 69: Imagens de soluções de templos com plantas centrais, retiradas do tratado.

Page 58: Modelos de Francesco di Giorgio

Os desenhos, além de ilustrarem possibili-

dades de composição de plantas dentro

das classificações abordadas e esclare-

cerem alguns pontos obscuros do Trata-

do, trazem ainda soluções inovadoras não

encontradas no texto, como é o caso de

basílicas com diversas cúpulas.

Além da variedade de desenhos de plan-

tas, Francesco di Giorgio apresenta, no

quarto capítulo do Livro I, outras imagens

com dimensionamento da capela-mor

segundo as proporções da cabeça hu-

mana e alguns exemplos de fachadas.

(Figuras 73, 74 e 76)

56

Figura 70: Imagens de soluções de templos com plantas centrais, retiradas do tratado.

Figura 71: Imagens de soluções de templos com plantas centrais, retiradas do tratado.

Page 59: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 75: Base. Fonte: Martini, 1967

57

Figura 72: Imagens de soluções complementares de basílicas com várias cúpulas, retiradas do tratado.

Figura 74: Imagens com exemplos de fachadas, retiradas do tratado.

Figura 73: Imagens com exem-plos de fachadas, retiradas do tratado.

Figura 76: Imagens com exemplos de fachadas, retiradas do tratado.

Page 60: Modelos de Francesco di Giorgio

TemplosTratado II

A segunda versão do Tratado detalha as

formas de composição de templos, nos

quais se combinam plantas central e ba-

silical, solução considerada de maior rele-

vância para a História da Arquitetura do Re-

nascimento.

Martini trabalha a classificação de templos

em três partes distintas: exteriores (esteriori),

interiores (interiori) e médio (medie). Cada

uma dessas partes possui suas respectivas

subdivisões, sintetizadas no esquema gráfi-

co a seguir.

Figura 77: Divisões dos edifícios sacros, presentes no Livro II.

58

Abóbada

Capelas

Nave

Capela-Mor

Combinada

Basilical

CentralDeambulatório

Podium

Pórtico

Médio (Cela)

InteriorExterior

Vestíbulo

Page 61: Modelos de Francesco di Giorgio

TemplosExteriores

Pórtico

“é um ornamento de colunas

com teto ou cobertura, que an-

tecede as portas principais, sem

paredes laterais. Este pode ser

de duas formas: simples (quan-

do há apenas uma série de

colunas) ou duplo (quando há

duas). Como melhor se manifes-

tar no desenho.” (MARTINI, 1967,

p.391)

Ante

“é um deambulatório, ou espaço

entre as colunas e a parede da

cela, o qual circunda todo o tem-

plo, cujo pavimento deve seguir

aquele do templo (se este for

elevado, o ante também deverá

ser elevado ou “in piano”). Pode

ser feito de quatro formas: simples,

como já foi dito; fazendo um para-

peito alto, de cerca de 3 pés, no

qual se colocam as colunas; fa-

zendo a esteriobata sob as colu

nas; ou fazendo com as colunas

sem a esteriobata e depois mu-

rando o espaço entre as colunas,

e deixando janelas proporcionais

a cada espaço. A altura continua

sendo a mesma da cela e a largu-

ra é proporcional a três quintos de

sua altura.” (MARTINI, 1967, p. 392)

Vestíbulo

“é uma simples cobertura e re-

duto anterior às portas principais,

com duas colunas ou quatro,

ou com paredes e janelas, ou

com arcos de abóbodas, [...]

cuja altura deve seguir a mesma

das paredes da cela.” (MARTINI,

1967, p.391)

Poggio

“o poggio é um deambulatório,

ou espaço circundante de todo o

templo, sem nenhuma coluna, des-

de onde termina a parede da cela

até um parapeito, onde se tem

uma ampla escadaria ornamenta-

da.” (MARTINI. 1967, p.393)

59

Page 62: Modelos de Francesco di Giorgio

TemplosMédio (Cella)

Planta Central

“a primeira e mais perfeita forma”

“com todas as figuras compostas

de linhas retas provenientes do cír-

culo, como a hexagonal e a pen-

tagonal, infinitamente multiplican-

do os ângulos e não decrescendo”

(MARTINI, Trattati. 196, p.395)

Basilical

“composta de linhas mais retas”

“com todas as outras figuras que

a essa se assemelham” (MARTINI,

Trattati. 1967, p.395)

Solução Combinada

“composta destas duas e como um

meio de uma e de outra participa”

“aquela que participa de uma e

de outra” (MARTINI, Trattati. 1967,

p.395) Figura 80: Templo de planta com solução combinada.

Figura 79: Templo de planta basilical.

Figura 78: Templo de planta central.

60

Page 63: Modelos de Francesco di Giorgio

Cúpula (Tolo/Cupola)

“sempre, sem exceção, sua altura

deve ser a metade do diâmetro

de sua largura” (MARTINI, 1967,

p.396)

Lanternim (Lanterna/Puteo)

“posto sobre a cúpula para

ornar e decorar o templo seu

diâmetro corresponde a 1/5 do

diâmetro do templo, sua altu-

ra é 3/10 do diâmetro do tem-

plo (sem a cúspide).“ (MARTINI,

1967, p.399)

Figura 82: Vista interior da cúpula de Sta Chiara, Urbino.

Ainda sobre a cella, são descritas as pro-

porções de elementos específicos:

Transepto (Croce)

“adicionar um espaço transversal

similar e em memória da cruz pela

qual a sabedoria de Deus encar-

nou para resolver os pecados que

a natureza humana por sua culpa

merecia, que nenhum homem puro

pode apoiar e satisfazer. Segue em

altura e largura a proporção da

nave principal, e em comprimento

pode ter 3, 4 ou 5 vezes a largura

da nave principal.” (MARTINI, 1967,

p.404)

Figura 81: Igreja de Sta Maria delle Grazie, Cortona.

61

Page 64: Modelos de Francesco di Giorgio

TemplosInteriores

Capelas (capelle)

“Seja o templo circular ou oblon-

go, deve ser dividido em cape-

las. As capelas que há no circular

são obviamente parte da figura

circular, semi-círculos ou porções

da circunferência. [...] Mas as

capelas dos quadrangulares, de-

vem ser quadradas.” (MARTINI,

1967, p.409)

Simulacro ou Capela Mor (Capella Maggiore)

“sendo o templo oblongo, não

há dúvida de que seu local deve

ser ao final do templo, oposto à

porta principal. [...] Mas quando

o templo for redondo, ou central,

surge então uma dúvida quanto

a sua localização, mas obvia-

mente próximo ao centro deste.”

(MARTINI, 1967, p.408)

Capelas

Capela Mor

Figura 83: Planta da Igreja de São Bernardino, Urbino.

62

Page 65: Modelos de Francesco di Giorgio

Nave de colunata (navate di colo-nne)

“A nave pode ser aplicada aos

templos circulares e, da mesma

forma, aos oblongos. [...] É da

largura do templo oblongo que

se retira a proporção das colu-

nas de sua nave, assim como nos

templos circulares deve-se pro-

ceder da mesma forma.” (MAR-

TINI, 1967, p.410)

Figura 85: Abóbada de São Bernardino, Urbino.

Abóbodas (volte/tegumenti)

“As abóbodas que nos tem-

plos se faz, podem ser de tantas

razões quanto seja necessário

em cada caso: em forma de bar-

ris, similares a pratos, de cruzeiro,

bacia, de luneta ou de vela. Po-

dem ser ornadas com quadros e

figuras diversas. [...] A inventivi-

dade pode ser infinita.” (MARTINI,

1967, p.411)

Figura 84: Vista da nave de São Bernardino, Urbino.

63

Page 66: Modelos de Francesco di Giorgio

TemplosTratado II: Procedimentos

Geométricos

Também no Livro II, Martini discorre sobre

procedimentos geométricos, de sua auto-

ria, para a elaboração das plantas e para

a obtenção de módulos de construção da

estrutura física dos templos.

Tais esquemas foram minuciosamente

estudados durante a primeira fase da

pesquisa, possibilitando um maior enten-

dimento de sua lógica métrico-proporcio-

nal para o desenvolvimento de projetos

posteriores.

A partir das prescrições dos procedimen-

tos contidos no texto original de Martini, fo-

ram desenvolvidos desenhos passo-a-passo

(p. 69 - ss), para facilitar a compreensão das

construções geométricas, tornando seu

aprendizado mais claro e preciso, já que o

texto, em alguns trechos, mostra-se de difícil

interpretação.

Primeiro esquema

O primeiro esquema consiste nas pro-

porções de alturas presentes na elevação

da basílica, sobretudo na basílica com

nave tripartida. Partindo do quadrado,

semicírculos e diagonais definem largu-

ra e altura das naves, dimensões das

abóbadas, cúpula, lanternim (puteo) e

porta principal. A figura a seguir ilustra

esse esquema:

Figura 86: Esquema de altura do templo basilical, reti-rado do tratado.

64

Page 67: Modelos de Francesco di Giorgio

Segundo esquema

O segundo esquema possui duas versões

possíveis e trás o método geométrico para di-

mensionamento proporcional sobretudo de

basílicas, mas também pode ser aplicado em

plantas centrais, principalmente nos dimen-

sionamentos de altura. Ambos são baseados

nas propriedades construtivas do quadrado,

partindo, assim como no anterior, de diago-

nais e semicírculos dentro do mesmo. Martini

prescreve, dessa forma, que todas as pro-

porções e estruturas do templo devem ser

projetadas a partir de um único método in-

tegrado, de forma que até mesmo a espes-

sura das paredes é obtida em módulo por

esse procedimento. A segunda versão do

método é descrita passo-a-passo no texto

e foi escolhida para o desenvolvimento da

pesquisa por conter mais detalhes e proprie-

dades métrico-proporcionais sobre os tem-

plos, incluindo as soluções com transepto.

Figura 87: Esquema de proporção para planta basili-cal, retarido do tratado.

Figura 88: Esquema de proporção para planta basili-cal, retarido do tratado.

65

Page 68: Modelos de Francesco di Giorgio

Terceiro esquema

Também partindo do quadrado, mas des-

sa vez conjugado ao círculo, o terceiro

esquema proposto por Francesco di Gior-

gio consiste na obtenção do templo de

planta central.

Este é possivelmente o mais versátil dentre

todos os esquemas apresentados, possibili-

tando a composição de diferentes tipos de

plantas centrais, sejam elas circulares ou

poligonais.

Quarto esquema

O quarto esquema corresponde à planta

longitudinal e é baseado num diagrama do

corpo humano com 7 módulos de altura,

tendo como módulo toda a cabeça.

A largura total do templo possui 4 módulos e

estão dimensionadas também as projeções

da cúpula e do altar mor. Este esquema

pode ser relacionado também a outro que

dimensiona as proporções existentes no fron-

tispício do templo a partir da mesma lógica.

Figura 89: Esquema de proporção para plantas cen-trais retirado do tratado.

Figura 90: Esquema de proporção para plantas basil-icais e frontispício retirado do tratado.

66

Page 69: Modelos de Francesco di Giorgio

Quinto esquema

Finalmente, o quinto esquema trás a

solução combinada de planta central

juntamente com a basilical, contendo

também um esquema de relações antro-

pométricas.

Tal esquema é dimensionado em uma

proporção de 1:9, a partir da razão en-

tre a cabeça (até o nariz) e a altura total

do corpo humano. Há, no entanto, uma

adição na parte inferior de 1/3 de módu-

lo, correspondente aos pés da figura hu-

mana.

Este método possui uma clara visuali-

zação da solução combinada entre plan-

ta central e basilical, evidenciando as

marcações já estudadas nos métodos

apresentados previamente e ainda rela-

ciona graficamente o esquema propor-

cional ao corpo humano. Por esta razão,

foi o esquema escolhido para servir de

base ao desenvolvimento da maquete

física.

Em todos os casos, Martini se baseia em

grades modulares para obter as pro-

porções corretas entre os espaços, sem-

pre destacando as relações com as pro-Figura 91: Esquema de proporção para a solução combinada retirado do tratado.

67

porções do corpo humano. É importante

ressaltar que esses esquemas não são fixos,

mas passíveis de variações por adições

de módulos ou continuação da lógica

geométrica inicial.

Page 70: Modelos de Francesco di Giorgio
Page 71: Modelos de Francesco di Giorgio

1 2

ProcedimentoAltura das naves

Para demonstrar algumas outras pro-

porções e medidas do templo de

nave oblonga (basilical), é feito pri-

meiramente um quadrado de lados

iguais, no qual, de ângulo a ângulo

traça-se duas linhas diagonais.

A base do quadrado se divide em

quatro partes iguais, e das partições C

e D, traçam-se duas linhas retas que

terminam nas linhas diagonais com

uma transversal AB, definindo o es-

paço da nave principal.

A B

C D

69

Page 72: Modelos de Francesco di Giorgio

ProcedimentoA altura das naves

3 4Depois, traça-se um semicírculo a

partir das extremidades dos ângu-

los da base, de modo que sua altura

passe através da interseção da das

linhas diagonais em X. Onde a linha

do semicírculo cruza M e N (pontos

dos segmentos AC e BD respectiva-

mente), traça-se uma linha transver-

sal, que será a justa altura e largura

das naves laterais.

Em seguida, traça-se uma linha que

passa pelo meio do maior e do menor

quadrado e duas outras linhas retas que

partem do ponto médio da base (pon-

to Q) e interceptam as retas e diago-

nais (no mesmo ponto) e seguem até

encontrar a extremidade da porção

do semicírculo. Aquela parte que so-

bra dentro da porção, ou seja EF, será

módulo para todo o templo.

A B

M N

X

C D

A B

M N

EF

X

C Q D

70

Page 73: Modelos de Francesco di Giorgio

5 6 A mesma largura se dá ao lanternim

superior da cúpula. Porque o diâmetro

da base de todo o templo se divide

em sete pelo módulo EF, de modo que

a altura do menor retângulo ABCD

será 5 ½ deste. Na altura 4 ½ traça-se

a linha OP, e no meio desta se colo-

ca o centro da circunferência que es-

tende-se até P. E esta será a altura de

todo o templo.

O próximo passo, do estabeleci-

mento da porta principal, respeita

relações de proporção definidas a

partrir do retângulo ABCD. Duas linhas

partem do já mencionado ponto Q e

seguem até a altura do ponto B, in-

terceptando U e S (não assinalados

no desenho de Francesco di Giorgio).

Deste modo se obtem a largura e al-

tura da porta principal.

A B

M N

EF

O P

X

A B

M N

EF

X

C Q D

71

Page 74: Modelos de Francesco di Giorgio

1 2

ProcedimentoAs proporções dos templos

Na construção seja do templo longi-

tudinal seja do circular, para dar-lhe

a devida altura e para garantir que

a largura proporcionalmente pos-

sua correspondência, forma-se pri-

meiramente um quadrado de lados

iguais, em seguida deve-se dividi-lo

em quatro partes.

Depois traça-se duas linhas de ângulo a

ângulo e duas outras linhas que toquem

todas as divisões do quadro, ou seja

TSVX (no desenho original T correspon-

de a D), e faz-se um outro quadrado

(com as extensões das linhas TV e SX) no

ângulo ZD, e que este seja dividido em

quatro como o maior quadrado.

Z D

V X

ST

72

Page 75: Modelos de Francesco di Giorgio

3 4Na linha média, no ponto Q, traça-se

um semicírculo que, entre as linhas,

fará uma porção de círculo, no

meio da qual se traça uma linha do

ponto Q ao ponto G, chamada AB.

Esta porção será o módulo de tudo

no edifício, com o qual se parte

a linha diagonal.

Em várias partes do edifício encon-

trar-se-á essa porção AB, como na

definição da espessura das paredes.

Também adicionando um módulo

deste seguimento à base obtem-se

a justa relação proporcional de al-

tura e largura, seguindo a ordem da

presente figura.

A

B

Z D

QV X

G

ST

A

B

Z D

QV X

G

ST

73

Page 76: Modelos de Francesco di Giorgio

1 2

3 4

ProcedimentoAs plantas centrais

Também se faz um quadrado de lados

iguais e cada face é dividida em qua-

tro e traça-se uma linha de uma di-

visão a outra (através do quadrado).

Traça-se um outro quadrado (con-

tra-quadrado), de forma que os pontos

médios de cada face do quadrado

maior sejam os vértices do menor (ABCD).

Tira-se quatro outras contra-linhas nas

quais se traça quatro semi-círculos,

com centros nos pontos dos vértices

ABCD.

Quatro outras linhas intermediarias

são traçadas para cada lado deste

(contra-quadrado). As contra-linhas

são EFMIL.

A

BC

D

A

BC

D A

BC

D

E

LI

HG

F

NM

74

Page 77: Modelos de Francesco di Giorgio

5 6 Para a cúpula, traça-se uma circun-

ferência no centro dos quadrados.

Figuras similares podem ser traçadas

para outras formas de templos.

Linhas transversais são traçadas pelos

pontos EF, GH, MI e LN. Traça-se então

quetro semi-círculos, proporcionais

àuqeles de ABCD.

A

BC

D

E

LI

HG

F

NM

A

BC

D

E

LI

HG

F

NM

75

Page 78: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 92: Maquete física da basílica de nave única com transepto.

Page 79: Modelos de Francesco di Giorgio

Parte IIIEstudos de Modelagem

77

Page 80: Modelos de Francesco di Giorgio
Page 81: Modelos de Francesco di Giorgio

Projetos e modelagem eletrônica

A partir das prescrições de Francesco di

Giorgio, foram desenvolvidos projetos das

três tipologias de templos (central, basili-

cal e combinada), que contemplam inte-

gralmente a relação entre esquemas pro-

porcionais e a articulação das ordens de

colunas. Os estudos aqui apresentados

respeitam rigorosamente os esquemas

proporcionais detalhados pelo arquiteto

nas duas edições do Tratado.

A articulação de todas as prescrições em

um mesmo projeto, que engloba os ele-

mentos construtivos reais, não é uma tarefa

simples, ainda mais considerando-se que

Martini, ao contrário da maior parte dos

tratadistas, não prescreve formas fechadas

e finalizadas para seus templos, a exemplo

de Alberti e Vitrúvio.

Seus esquemas proporcionais abrem um

leque de possibilidades compositivas, dei-

xando o projeto em si a cargo da inventivi-

dade e engenho do arquiteto. Nas palavras

do próprio Martini, extraídas da introdução

do capítulo sobre Templos do Livro I de seu

Tratado:

“Os templos sagrados são feitos das mais

variadas formas segundo a invenção,

sutileza, engenho e razão do arquiteto,

sempre observando as medidas e pro-

porções a estes indicadas, as quais, do

corpo humano, extraídas são.”

(MARTINI, 1967. p. 36)

Foi essa a metodologia adotada para o

desenvolvimento de projetos para os tem-

plos, em plantas e cortes, que possibilita a

espacialização das prescrições métrico-pro-

porcionais e a visualização das soluções ar-

quitetônicas características do período re-

nascentista.

No entanto, muitas vezes há problemas no

cruzamento das proporções prescritas com

a realidade construtiva, principalmente no

que diz respeito a trechos obscuros do Trata-

do, sendo necessário um estudo mais apro-

fundado para solucioná-los, até mesmo por

meio do cotejo com soluções adotadas em

obras de outros mestres do período, como

Filippo Brunelleschi e Leon Batista Alberti.

Em sequência vêm apresentados os proje-

tos em plantas, cortes e modelagens tridi-

mensionais.

79

Page 82: Modelos de Francesco di Giorgio

Templo de Planta Central

Figura 93: Planta (sem escala)

80

Page 83: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 94: Corte (sem escala)

81

Page 84: Modelos de Francesco di Giorgio

Templo de Planta Basilical

Figura 95: Planta (sem escala)

82

Page 85: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 96: Corte (sem escala)

83

Page 86: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 97: Planta (sem escala)

Templo de Planta com Solução Combinada

84

Page 87: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 98: Corte (sem escala)

85

Page 88: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 99: Vista da nave principal do modelo eletrônico.

86

Page 89: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 100: Vista da cúpula do modelo eletrônico.

Figura 101: Vista da nave lateral do modelo eletrônico.

87

Page 90: Modelos de Francesco di Giorgio

88

Figura 102: Vista da capela-mor do modelo eletrônico.

Page 91: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 103: Detalhe da nave lateral do modelo eletrônico.

89

Page 92: Modelos de Francesco di Giorgio

Modelo Físico

Cruzando as proporções encontradas nos

esquemas de plantas e também no de ele-

vações, o modelo físico que compõe o

kit didático permite a articulação dos di-

versos tipos de templos prescritos em volu-

metria, mantendo suas principais relações

métrico-proporcionais.

O conjunto é composto por uma base

quadrada de madeira e 58 peças modu-

lares, de 15 tipos, com as quais é possível

montar oito diferentes configurações de

templos, sendo uma basílica de nave única

sem transepto, uma com transepto, duas

de nave tripartida com transepto, dois tem-

plos de planta central e duas soluções com-

binadas.

Figura 104: Modelo eletrônico das peças utilizadas no modelo físico.

90

Page 93: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 105: Modelo físico do templo de planta central.

Figura 107: Peças utilizadas na montagem do modelo físico.

Figura 106: Modelo físico do templo de planta basilical.

91

Page 94: Modelos de Francesco di Giorgio

Base

A partir dos módulos (1:9) existentes na

solução de planta combinada de Martini

e considerando o esquema antropométri-

co nele inserido, optou-se por manter o

desenho original do homem, eliminando,

no entanto, algumas das linhas presentes

no esquema, como o posicionamento das

colunas e das capelas, que possibilitou uma

melhor visualização da grade.

Adotou-se a medida de 3 cm para o módu-

lo, de modo que as peças pudessem ser di-

mensionadas de maneira satisfatória para

seu manuseio e montagem. Adicionou-se

uma sub-grade de módulos (em cinza),

para facilitar o posicionamento das peças

menores. Por fim, somaram-se dois módu-

los de cada lado do esquema para a mar-

cação dos transeptos das basilicas e mais

meio modulo em cada extremidade para

as capelas, obtendo-se uma base quadra-

da de 27 cm de lado.

Figura 108: Base do modelo físico. Figura 109: Base do modelo físico.

92

Page 95: Modelos de Francesco di Giorgio

Figura 110: Desenho utilizado na base do modelo físico.

93

Page 96: Modelos de Francesco di Giorgio

Peças

Cada uma das 15 tipologias de peça foi

desenvolvida a fim de representar um ele-

mento compositivo da volumetria dos tem-

plos prescritos por Martini. Em alguns casos

é possível utilizar a mesma peça para mais

de uma função.

As figuras abaixo demonstram como as

peças respeitam a relação métrico-pro-

porcional de altura e largura presentes nos

esquemas construtivos já apreentados an-

teriormente.

Peça Dimensões Quantidade

1 6 x 6 x 6 cm 7 peças

2 6 x 6 x 1,5 cm 9 peças

3 6 x 4,5 x 3 cm 4 peças

4 4,5 x 3 x 3 cm 2 peças

5 6 x 3 x 1,5 cm 1 peça

6 6 x 6 x 3 cm 5 peças

7 6 x 3 x 3 cm 7 peças

8

9 3 x 3 x 1,5 cm

10 3 cm de diâmetro 4 peças

11 1,5 cm de raio 4 peças

12 6 cm de diâmetro x 2 cm de altura 1 peça

13 3 cm de diâmetro x 1,5 de altura 4 peças

14 6 cm de diâmetro 1 peça

15 6 x 6 x 3 cm 1 peça

Total

Forma

Cubo

Paralelepípedo

Paralelepípedo

Paralelepípedo

Paralelepípedo

Meio cilíndro

Meio cilíndro

Meio cilíndro

Meio cilíndro

Meia esfera

Meia esfera

1/4 esfera

cilindro

cilindro

paralelepipedo com pontas arredondadas

PEÇAS EM MADEIRA

4 peças

6 x 3 x 3 cm 4 peças

58 peças

Figura 112: Peças do modelo físico.Figura 111: Peças do modelo físico.

94

Page 97: Modelos de Francesco di Giorgio

Peça 1 – Módulo para nave principal de to-

dos os tipos de templo, com altura referente

à basilica de nave simples.

Peça 2 – Ajuste de altura da nave principal

para basilicas de nave tripartida; comple-

mento para finalização da nave principal.

Peça 3 – Módulo para naves laterais de ba-

silicas tripartidas.

Peça 4 - Módulo complementar para naves

laterais de basilicas tripartidas.

Peça 5 – Ajuste de altura da nave principal

para basilicas de nave tripartida.

Peça 6 – Módulo para abóbada de nave

principal de todos os tipos de templo.

Peça 7 – Módulo para abóbada de nave

lateral de basilicas tripartidas; modulo para

capelas.

Figura 113: Peças do modelo físico.

Peça 8 – Módulo complementar para

abóbada de nave principal de todos os ti-

pos de templo.

Peça 9 – Módulo complementar para abóba-

da de nave lateral de basilicas tripartidas.

Peça 10 – Cúpula pequena para templos

de planta central e combinada.

Peça 11 – Meia cúpula para capelas.

Peça 12 – Tambor grande para todos os ti-

pos de templo.

Peça 13 – Tambor pequeno para templos

de planta central e combinada.

Peça 14 – Cúpula grande para todos os ti-

pos de templo.

Peça 15 – Perchina (transição de nave para

tambor) para todos os tipos de templo.

95

Page 98: Modelos de Francesco di Giorgio

basílica de nave simples sem transepto

x 1

x 1x 1x 3 x 2 x 3 x 3

Basílica de nave simples sem transepto

Figura 115: Modelo eletrônico. Figura 116: Projeção do modelo físico na base.

Figura 114: Peças utilizadas.

96

Page 99: Modelos de Francesco di Giorgio

Basílica de nave tripartida com transepto de módulo 3

x 1x 1

x 1

x 6 x 8 x 1 x 5x 2x 4

x 7 x 1 x 2 x 3

Basílica de nave tripartida com transepto de módulo 3

Basílica de nave tripartida com transepto de módulo 3

x 1x 1

x 1

x 6 x 8 x 1 x 5x 2x 4

x 7 x 1 x 2 x 3

Basílica de nave tripartida com transepto de módulo 3

x 1x 1

x 1

x 6 x 8 x 1 x 5x 2x 4

x 7 x 1 x 2 x 3

Figura 118: Modelo eletrônico. Figura 119: Projeção do modelo físico na base.

Figura 117: Peças utilizadas.

97

Page 100: Modelos de Francesco di Giorgio

Basílica de nave tripartida com transepto de módulo 4

x 1x 1

x 1

x 7 x 9 x 1 x 5x 2x 4

x 7 x 3 x 2 x 3

Basílica de nave tripartida com transepto de módulo 4

Basílica de nave tripartida com transepto de módulo 4

x 1x 1

x 1

x 7 x 9 x 1 x 5x 2x 4

x 7 x 3 x 2 x 3

Basílica de nave tripartida com transepto de módulo 4

x 1x 1

x 1

x 7 x 9 x 1 x 5x 2x 4

x 7 x 3 x 2 x 3

Figura 121: Modelo eletrônico. Figura 122: Projeção do modelo físico na base.

Figura 120: Peças utilizadas.

98

Page 101: Modelos de Francesco di Giorgio

Basílica de nave única com transepto

x 1x 1x 1

x 6 x 2 x 5 x 3 x 1 x 3

Basílica de nave única com transepto

Figura 124: Modelo eletrônico. Figura 125: Projeção do modelo físico na base.

Figura 123: Peças utilizadas.

99

Page 102: Modelos de Francesco di Giorgio

Templo de Planta Central – Tipo 1

x 1x 1

x 1

x 4

x 4 x 4 x 4 x 4 x 4

Templo de Planta Central - Tipo 1

Figura 127: Modelo eletrônico. Figura 128: Projeção do modelo físico na base.

Figura 126: Peças utilizadas.

100

Page 103: Modelos de Francesco di Giorgio

Templo de Planta Central – Tipo 2

x 1x 1

x 1x 4 x 4 x 4 x 4 x 4

Templo de Planta Central - Tipo 2

Figura 130: Modelo eletrônico. Figura 131: Projeção do modelo físico na base.

Figura 129: Peças utilizadas.

101

Page 104: Modelos de Francesco di Giorgio

Templo de planta combinada com nave tripartida

x 1x 1x 1

x 4

x 6 x 2x 4 x 7 x 4 x 4

x 3

Templo de Planta Combinada com nave tripartida

Figura 133: Modelo eletrônico. Figura 134: Projeção do modelo físico na base.

Figura 132: Peças utilizadas.

102

Page 105: Modelos de Francesco di Giorgio

Templo de planta combinada com nave única

x 1x 1x 1

x 4

x 6x 2 x 3 x 4 x 4

x 3

Templo de Planta Combinada com nave única

Figura 136: Modelo eletrônico. Figura 137: Projeção do modelo físico na base.

Figura 135: Peças utilizadas.

103

Page 106: Modelos de Francesco di Giorgio
Page 107: Modelos de Francesco di Giorgio

Crédito das Imagens

1: Foto de Martim Passos (arquivo pessoal)

2, 3, 4: PEDRO, Ana Paula Giardini. A ideia de ordem: symmetria e decor nos tratados de Filarete, Francesco di Giorgio e Cesare Cesariano. Tese (Doutorado em Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – USP, 2011.

6, 7, 8: VITRUVIO. Tratado de Arquitectura. Tradução do latim, introdução e notas por M. Jus-tino Maciel, Lisboa, Copryright Ist Press, 2006

17: MARTINI, Francesco di Giorgio. Trattati di architettura ingegneria e arte militare. Milano, Il Polifilo, 1967.

19: MARTINI. Op. Cit.

20, 21: VITRUVIO. Op. Cit.

29: MARTINI. Idem.

31: MARTINI. Idem.

33: MARTINI. Idem.

35: MARTINI. Idem.

37: NORMAND, Charles Pierre Joseph. Normand’s parallel of the orders of architecture : Greek, Roman and Renaissance / edited by R.A. Cordingley. London : Alec Tiranti, 1959.

105

Page 108: Modelos de Francesco di Giorgio

42: NORMAND. Op Cit.

45: NORMAND. Idem.

48: MARTINI. Idem.

50, 51: MARTINI. Idem.

53: NORMAND. Idem.

55: Foto de Ana Paula G. Pedro (arquivo pessoal)

61: Foto de Ana Paula G. Pedro (arquivo pessoal)

62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75: MARTINI. Idem.

81: Disponível em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/fd/Calcinaio.jp-g/220px-Calcinaio.jpg. Acesso em de 2012.

82: Foto de Ana Paula G. Pedro (arquivo pessoal)

84, 85: Foto de Ana Paula G. Pedro (arquivo pessoal)

86, 87, 88, 89, 90, 91: MARTINI. Idem.

92: Foto de Mariana L. Vetrone (arquivo pessoal)

105, 106, 107, 108, 109: Foto de Mariana L. Vetrone (arquivo pessoal)

106

Page 109: Modelos de Francesco di Giorgio

Bibliografia

ALBERTI, Leon Battista. De Re Aedificatoria. Tradução de Javier Fresnillo Núñez. Akal, Madrid, 1991.

BETTS, Richard J. Structural Innovation and Structural Design in Renaissance Architecture. The

Journal of the Society of Architectural Historians, Vol. 52, No. 1. 1993

BRUNELLESCHI, Filippo. Brunelleschi : the complete work / Tradução de Eugenio Battisti. Lon-

don: Thames and Hudson, 1981.

MARTINI, Francesco di Giorgio. Trattati di architettura ingegneria e arte militare. Milano, Il

Polifilo, 1967.

D’AGOSTINO, Mário Henrique. A Beleza e o Mármore. O tratado De Architectura de Vitrúvio

e o Renascimento, São Paulo: Annablume, 2010

MUSSINI, Massimo. Francesco di Giorgio e Vitruvio. Le Traduzioni Del “De Architectura” nei

Codici Zichy, Spencer 129 e Magliabechiano II.1.141. Mantova: Leo S. Olschki/Fondazione

Centro Studi L.B. Alberti, 2003.

PEDRO, Ana Paula Giardini. A ideia de ordem: symmetria e decor nos tratados de Filarete,

Francesco di Giorgio e Cesare Cesariano. Tese (Doutorado em Pós-graduação em Arquite-

tura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – USP, 2011.

VIGNOLA, Giacomo Barozio da. Tratado de los cinco ordenes de arquitectura. Buenos Aires:

Construcciones Sudamericans, 1948.

VITRUVIO. Tratado de Arquitectura. Tradução do latim, introdução e notas por M. Justino

Maciel, Lisboa, Copryright Ist Press, 2006

107