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MODELO DE GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS FABRICANTES DE EMBALAGEM Antonio Carlos Dantas Cabral (IMT) [email protected] Flávio Siqueira (IMT) [email protected] Celso Rodrigues Batista (IMT) [email protected] Rafael Risso de Barros (IMT) [email protected] O objetivo deste trabalho foi desenvolver um modelo de gestão da sustentabilidade em empresas fabricantes de embalagem que permita orientar as suas atividades e decisões de forma sistêmica. O modelo está alicerçado num conjunto de indicadorres dispostos de tal maneira que o gestor pode visualizar e monitorar, simultaneamente, a situação da empresa e a de cada um dos pilares da sustentabilidade - social, ambiental e econômico. Seu desenvolvimento ocorreu em 5 passos: 1) todas as características quantitativas especificas da empresa foram identificadas e agrupadas; 2) no segundo passo, esses valores são convertidos em indicadores, através de um grupo de tabelas de classificação, estruturadas de modo que a cada intervalo da unidade em questão, a característica assume um valor de 1 a 5; 3) esses indicadores são a seguir ponderados conforme característica do setor específico dando origem ao gráfico do nível 2; 4) os conjuntos de indicadores de cada um dos pilares têm suas médias ponderadas calculadas a partir de pesos previamente determinados. Essas médias são consolidadas no gráfico do nível 1, que representa a situação atual da empresa e a distância em que se encontra da mínima desejável, considerando os três pilares da sustentabilidade; 5) esse passo, opcional, permite que a empresa represente num só número, o indicador de sustentabilidade, a média ponderada das notas calculadas para cada um dos pilares. O modelo foi aplicado experimentalmente numa empresa fabricante de embalagens, validando a sua exequidade. Dada a sua estrutura lógica poderá ser adaptado a empresas de outros setores. Palavras-chaves: sustentabilidade; modelo de gestão; XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão. Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

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MODELO DE GESTÃO DA

SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS

FABRICANTES DE EMBALAGEM

Antonio Carlos Dantas Cabral (IMT)

[email protected]

Flávio Siqueira (IMT)

[email protected]

Celso Rodrigues Batista (IMT)

[email protected]

Rafael Risso de Barros (IMT)

[email protected]

O objetivo deste trabalho foi desenvolver um modelo de gestão da

sustentabilidade em empresas fabricantes de embalagem que permita

orientar as suas atividades e decisões de forma sistêmica. O modelo

está alicerçado num conjunto de indicadorres dispostos de tal maneira

que o gestor pode visualizar e monitorar, simultaneamente, a situação

da empresa e a de cada um dos pilares da sustentabilidade - social,

ambiental e econômico. Seu desenvolvimento ocorreu em 5 passos: 1)

todas as características quantitativas especificas da empresa foram

identificadas e agrupadas; 2) no segundo passo, esses valores são

convertidos em indicadores, através de um grupo de tabelas de

classificação, estruturadas de modo que a cada intervalo da unidade

em questão, a característica assume um valor de 1 a 5; 3) esses

indicadores são a seguir ponderados conforme característica do setor

específico dando origem ao gráfico do nível 2; 4) os conjuntos de

indicadores de cada um dos pilares têm suas médias ponderadas

calculadas a partir de pesos previamente determinados. Essas médias

são consolidadas no gráfico do nível 1, que representa a situação atual

da empresa e a distância em que se encontra da mínima desejável,

considerando os três pilares da sustentabilidade; 5) esse passo,

opcional, permite que a empresa represente num só número, o

indicador de sustentabilidade, a média ponderada das notas calculadas

para cada um dos pilares. O modelo foi aplicado experimentalmente

numa empresa fabricante de embalagens, validando a sua exequidade.

Dada a sua estrutura lógica poderá ser adaptado a empresas de outros

setores.

Palavras-chaves: sustentabilidade; modelo de gestão;

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.

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1. Introdução

O objetivo deste trabalho foi o de desenvolver um modelo de gestão da sustentabilidade em

empresas fabricantes de embalagem que permita orientar as suas atividades e decisões de

forma sistêmica.

Sob o ponto de vista dos modelos de gestão, o que realmente importa são as idéias, porém os

modelos e técnicas de gestão oferecem meios de reduzir as complexidades e incertezas

envolvidas e não apenas as soluções para problemas organizacionais (HAVE, 2003). Segundo

esse autor, muitos desses modelos funcionam apenas como auxílios para a memória, meios

úteis para ordenar a realidade e dar suporte à tomada de decisões. Basicamente, servem como

ferramenta de análise de determinada situação, identificando possíveis linhas de ação, em

busca da melhoria contínua do funcionamento das organizações. Assim sendo, devem ser

vistos como uma ferramenta que, combinada com o conhecimento e experiência de gerentes e

tomadores de decisões, pode ajudar na busca de soluções para determinados problemas.

O conceito de sustentabilidade está diretamente relacionado com a continuidade dos aspectos

econômicos, sociais e ambientais da sociedade humana. Busca-se assim a melhor maneira de

atender às necessidades da sociedade, dos seus membros e das suas economias, e de preservar

a biodiversidade e os ecossistemas naturais, planejando e agindo para se atingir a máxima

eficiência na manutenção desses ideais.

Para que qualquer empreendimento humano possa ser considerado sustentável, tem de ser:

ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito. Em

síntese, sustentabilidade é prover o melhor para as pessoas e para o ambiente tanto agora

como para um futuro indefinido ou, então, suprir as necessidades da geração presente sem

afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas. (RELATÓRIO BRUNDTLAND,

1991).

Mesmo com toda a atenção dada ao tema, não existe um padrão que defina se uma empresa é

ou não sustentável, nem uma ferramenta estruturada para avaliá-la desse ponto de vista.

Provavelmente, obstáculos como o alto custo de implementação e a complexidade necessária

para a coordenação tenham impedido ações mais contundentes por parte dos dirigentes. No

entanto, dado o crescente impacto ambiental advindo de todas as ações empresariais, aliado à

incorreta percepção do público sobre a embalagem, é imperioso agir vigorosamente para

reverter essa tendência.

O modelo proposto nesse trabalho está alicerçado num conjunto de indicadores dispostos de

tal maneira que o gestor pode visualizar e monitorar, simultaneamente, a situação da empresa

e a de cada um dos pilares da sustentabilidade - social, ambiental e econômico.

2. Os pilares da sustentabilidade

2.1. Pilar ambiental

O pilar ambiental da sustentabilidade considera impactos gerados no ambiente ao redor de

determinada organização e as interferências geradas nos ecossistemas, nos seres vivos, na

terra, nas vegetações, no ar e na água.

Esse conceito de trabalho requer uma compreensão dos indicadores como membros de um

sistema sócio-ambiental complexo, em que várias responsabilidades diretas ou indiretamente

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relacionadas com as mudanças necessárias ao bem-estar do ser humano e manutenção do

ecossistema (adaptado de FREITAS, 2007).

Segundo BRAGA (2002), o modelo de desenvolvimento escolhido pela sociedade

(esquematizado na Figura 1) representa um sistema aberto, linear, que depende de um

suprimento contínuo e inesgotável de matéria-prima e energia que, depois de utilizada, é

devolvida ao meio ambiente. Para que esse sistema, representado na figura a seguir, funcione

hoje e sempre, o planeta deveria agir como fonte inesgotável de energia e matéria (algo que

não é!), além de ter capacidade infinita para reciclá-la e absorver os resíduos do processo.

Figura 1 - Modelo atual de desenvolvimento: O enfoque linear humano (BRAGA, B. P. F., 2002)

Tendo em vista tal cenário, BRAGA (2002) discute a necessidade de rever esse modelo que,

se não for alterado, levará o planeta ao colapso. Assim, surge a necessidade da adoção de um

modelo de desenvolvimento sustentável, que adote a visão sistêmica; que atenda às premissas

de um uso mais racional da energia e da matéria, em contraposição ao desperdício; da

promoção da reciclagem e do reuso dos materiais e de um eficiente controle da poluição,

gerando menor quantidade de resíduos.

Com isso, medir os impactos gerados na coleta de insumos ou no descarte de subprodutos

tem-se tornado cada vez mais importante para as organizações. Tal medição deve ser feita

primeiramente num aspecto mais genérico. Posteriormente, há que se buscar indicadores

específicos para os setores em que atuam para se criarem efetivos mecanismos de

monitoração desses impactos.

2.2. Pilar social

DAVIS (1960) sugere que responsabilidade social estava associada a decisões e ações de

negócios tomadas por razões que iam além dos interesses econômicos e técnicos de

determinada empresa.

Com o passar do tempo, essa visão foi se alterando. Como aponta CARROLL (1991), o

conceito de responsabilidade social deixou de ser uma simples noção das obrigações,

motivações e ações que as empresas deveriam adotar. Passou a assumir um papel mais ativo

no cotidiano do mercado, em que as empresas são muito mais proativas em relação às ações a

serem implementadas com vistas a conceitos sociais.

Ainda em CARROLL (1991), para que a responsabilidade social corporativa seja realmente

aceita por uma determinada empresa, quatro tipos de responsabilidades devem ser entendidos

e administrados: o econômico, o legal, o ético e o filantrópico. A sustentabilidade social é

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baseada na cooperação entre os subsistemas industrial, governamental, comunidade e

ecossistema (adaptado de CURTIS, 2008).

Segundo ANDREAZZA (2007), do ponto de vista macroeconômico, o investimento no fator

humano passa a significar um dos determinantes básicos para o aumento da produtividade e

elemento de superação do atraso econômico. Do ponto de vista microeconômico, constitui-a

explicação das diferenças individuais de produtividade e de renda e, conseqüentemente, da

mobilidade social.

FRIGOTTO (1996) explica que o componente da produção, decorrente da instrução, é um

investimento em habilidades e conhecimentos que aumenta futuras rendas e, desse modo,

assemelha-se a um investimento em (outros) bens de produção.

Em suma, medir a evolução temporal dos efeitos da ação empresarial sobre a comunidade da

empresa e sobre o entorno é tarefa árdua e esse trabalho pretende contribuir, como uma

ferramenta útil, na orientação das ações que tenham por objetivo melhorar o bem estar da

sociedade.

2.3. Pilar econômico

Dos pilares da sustentabilidade, o econômico-financeiro sempre foi considerado o mais

imprtante nas organizações. É à luz dele que se observam e analisam os resultados e os

impactos das ações das empresas sobre toda a sociedade.

O desempenho econômico-financeiro é fundamental para entender a fundo o negócio, assim

como seus fluxos monetários, um ponto chave dos shareholders e de grande interesse dos

stakeholders. Dentre os pilares da sustentabilidade este é o que apresenta maior riqueza de

indicadores.

De acordo com o GRI (2006), são necessários relatos concisos dos aspectos econômicos:

desempenho econômico, presença no mercado e impactos econômicos indiretos. Ainda

segundo o GRI, para compreender o desempenho organizacional, deve-se comparar os

resultados econômicos obtidos com as metas propostas; deve-se prever os principais riscos e

oportunidades, assim como as mudanças do sistema no período e rever as estratégias de

implementação de políticas e obtenção de desempenho.

No mundo capitalista, a competitividade é cada vez mais influente e necessária para o sucesso

das empresas. A primeira categoria dentro dos indicadores de desempenho a ser avaliada,

chamada Lucro, envolve o lucro propriamente dito, além da receita, margem, retorno do

investimento e dividendos. São também inclusos: produtividade no trabalho, taxas e

fornecedores, todos abrangendo os principais aspectos relacionados com a sustentabilidade.

Muitas das informações deste pilar são exploradas pelas demonstrações financeiras, porém,

utilizando o modelo de gestão proposto, foram selecionados os indicadores mais voltados para

a sustentabilidade.

3. Indicadores da sustentabilidade

Indicador é um parâmetro ou valor derivado de parâmetros que aponta ou fornece informação

sobre o estado do fenômeno, meio ou área com uma significância estendida maior que a

obtida diretamente pela observação das propriedades (WETERINGS, 1994).

De acordo com a ONU (2007), os indicadores podem guiar para melhores decisões e ações

mais eficientes, simplificando ou agregando as informações disponíveis à conduta da

empresa.

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Segundo AMARAL (2004), normalmente os indicadores são descritivos - refletem as

condições reais, como o estado do meio ambiente ou a pressão sobre ele - e normativos -

medem as distâncias entre as condições reais e as de referência, ou comparam as condições

reais com as de referência.

ZHAO (1999) relata que indicadores de sustentabilidade medem a distância entre o impacto

ambiental real e aquilo que a biosfera pode aceitar. Por exemplo, se uma região quiser se

desenvolver de uma maneira sustentável, quais os tipos de impactos ambientais, sociais e

econômicos ela poderá receber? Serão estes impactos aceitáveis? Será que a região estará

caminhando na direção do desenvolvimento sustentável? Um indicador de sustentabilidade

deve ser baseado numa situação de referência.

BRADLEY (1998) menciona que, em longo prazo, as companhias devem trabalhar de

maneira construtiva, como os reguladores, e devem participar de um debate confiável com a

sociedade, para que sejam atendidos objetivos comuns para todas as partes. Com isso, suas

práticas e ações evitam riscos financeiros desnecessários associados a investimentos que não

atendem a critérios de sustentabilidade.

BEAVER (2000) menciona que os indicadores de sustentabilidade devem ser simples de usar

e fáceis de serem entendidos; ser complementares a programas de acompanhamento legais

existentes; ter facilidade de coleta e custo viável; ser úteis como ferramenta de gestão. O autor

informa, também, que existe uma carência de medidas e indicadores amplamente aceitos para

uma companhia industrial ou do setor comercial avaliar seu desempenho relativo a praticas de

sustentabilidade empresarial.

Em síntese, todos os indicadores selecionados devem levar em consideração o ambiente no

qual a empresa está inserida. Essa é a essência do modelo proposto neste trabalho.

Os indicadores selecionados não devem ser entendidos como um guia para a indústria de

embalagem, que devem ser adaptados às condições específicas de cada empreendimento. O

gestor deve-se valer deles e monitorar as ações e as conseqüências dessas ações numa ótica

temporal. Em outras palavras, cada medida é uma espécie de fotografia e somente várias

dessas fotografias, tiradas em intervalos regulares de tempo, podem adicionar movimento,

permitir desenho de cenários e guiar decisões sábias e sustentáveis.

A seguir são apresentados os principais indicadores utilizáveis no modelo.

Indicadores ambientais:

Consumo e efetivo aproveitamento de energia (inclui fornecedores e subfornecedores);

Consumo e efetivo reaproveitamento de água e efluentes;

Consumo de materiais, produtivos e não produtivos (inclui fornecedores e

subfornecedores);

Emissões - quantidade e tratamento dado (inclui fornecedores e subfornecedores);

Número e efetividade de projetos ambientais em desenvolvimento (inclui fornecedores e

subfornecedores);

Transporte, incluindo consumo de combustível e emissões. A seleção desse indicador

deveu-se à concentração dos principais fabricantes nos grandes centros, especialmente nas

regiões dul e sudeste fato que gera grande consumo de combustível e considerável

emissão de resíduos para a atmosfera;

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Uso da terra e biodeiversidade;

Cumprimento das leis. Embora as leis existam para serem cumpridas, há uma quantidade

considerável de empresas que não têm recursos para fazê-lo e isso deve ser quantificado.

Indicadores sociais:

Qualidade da gestão, como por exemplo, grau de conhecimento do colaborador sobre a

visão organizacional da empresa;

Segurança e saude, incluindo número de acidentes e incentivo à prevenção de doenças e

qualidade de vida;

Salários e benefícios em relação ao mercado;

Não discriminação ou inserção de minorias;

Treinamento e educação;

Trabalho forçado (por exemplo, número de reclamações por sofrimento feitas por

trabalhadores);

Trabalho infantil;

Incentivos ao desenvolvimento pessoal e familiar dos trabalhadores;

Desenvolvimento comunitário, como por exemplo, empregados da região / Total de

empregados;

Indicadores econômcos:

Lucro;

Investimentos;

Gastos com pessoal;

Produtividade no trabalho;

Taxas;

Fornecedores;

É importante salientar que essa divisão dos indicadores através dos três pilares mencionados

não é mais explicita em grande parte das referências atuais, incluindo publicações da ONU.

Essa mudança enfatiza a natureza multidimensional do desenvolvimento sustentável e mostra

a importância na integração dos pilares, fundamental para o bom funcionamento do modelo

de gestão proposto.

4. O modelo proposto

O desenvolvimento do modelo de gestão foi baseado no controle da sustentabilidade e no

atendimento das metas estipuladas na Agenda 21 brasileira (CREA-MG, 2004), cujas ações

prioritárias são as seguintes:

incentivar a produção e o consumo sustentáveis;

promover campanha nacional contra o desperdício de água e energia;

restringir a produção de descartáveis;

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incentivar a Ecoeficiência nos processos;

adotar políticas de responsabilidade social das empresas;

promover parcerias para melhoria de produtos;

preservar as bacias hidrográficas;

difundir a consciência de que a água é um bem finito e mal distribuído;

difundir tecnologias de reutilização da água industrial;

incentivar o uso eficiente e a conservação de energia;

pesquisar novas fontes de sobre energia renovável;

transmitir informação e gerar conhecimento;

estabelecer alianças estratégicas com universidades e centros públicos de pesquisa;

incentivar a utilização de fontes energéticas alternativas, limpas e seguras;

promover a agricultura sustentável;

adotar práticas de manejo de solo que controlem a erosão;

implantar política florestal e controlar o desmatamento;

respeitar a legislação ambiental, não promovendo queimadas;

fomentar a inclusão social;

melhorar o índice de distribuição de renda no País, a qualidade de vida e a justiça

social.

A elaboração do modelo proposto segue os passos esquematizados na Figura 2, e detalhados a

seguir:

Passo 1:

Todas as características quantitativas específicas da empresa devem ser identificadas e

agrupadas tendo por base os indicadores relacionados no item 3 desse trabalho. Essa etapa

corresponde ao maior nível de detalhamento do modelo.

Passo 2:

No segundo passo, esses valores são convertidos em indicadores, através de um grupo de

tabelas de classificação, estruturadas de modo que a cada intervalo da unidade em questão, a

característica assume um valor de 1 a 5, como é exemplificado nas Tabelas 1, 2 e 3.

A lógica adotada na elaboração dessa escala de 1 a 5, é a seguinte:

o 5: a prática da empresa atende as exigências do desenvolvimento sustentável;

o 4: planos e atividades estão sendo implementados corretamente desde o início dos

projetos;

o 3: planos e programas acordados em calendários, mas atividades atuais tendem a

concentrar-se em ações corretivas;

o 2: empresa faz o mínimo exigido por lei;

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o 1: inexistem políticas ou planos voltados à sustentabilidade.

NOTA DEFINIÇÃO

5 Mais de 50%

4 De 31% a 50%

3 De 21% a 30%

2 De 10% a 20%

1 Menos de 10% Tabela 1: Energia gerada pela empresa (kW) / Energia total consumida (kW)

NOTA DEFINIÇÃO

5 Existem técnicas eficientes de reaproveitamento da água e essas são suficientes para

abastecer todas as dependências da empresa

4 Existem técnicas eficientes de reaproveitamento da água

3 Existem técnicas para reaproveitamento da água, porém a taxas muito baixas de

eficiência

2 Não existem técnicas para reaproveitamento de água, mas estão sendo desenvolvidos

estudos para analisar a viabilidade de determinados casos

1 Não existem técnicas para reaproveitamento de água Tabela 2: Reaproveitamento de água

NOTA DEFINIÇÃO

5 São fornecidos todos os benefícios previstos por lei, mais adicionais

4 São fornecidos todos os benefícios previstos por lei

3 São fornecidos alguns dos benefícios propostos por lei e a empresa possui um

planejamento para adequar-se à legislação

2 São fornecidos alguns dos benefícios propostos por lei

1 Não são fornecidos quaisquer tipo de benefícios

Tabela 3: Benefícios de pensão e saúde fornecidos aos empregados

A leitura atenta das tabelas mostra que a nota máxima premia aquelas empresas cujas ações

refletem a preocupação com a sustentabilidade. Esses dois passos compõem o chamado Nível

3 da Figura 2.

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Figura 2 – O modelo proposto.

Passo 3:

Esses indicadores são a seguir ponderados conforme característica do setor específico

(embalagens flexíveis, por exemplo) para dar origem aos componentes do Nível 2. A Tabela

4 mostra essa ponderação em todos os níveis do modelo. O peso do indicador refere-se ao

nível 3.

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Indicador -

Nível 3

Categoria -

Nível 2

Pilar -

Nível 1

A.01 2

A.02 2

A.03 2

A.04 2

A.05 5

A.06 5

A.07 4

A.08 4

A.09 4

A.10 5

A.11 4

A.12 4

Transporte A.13 3 3

Uso da terra e biodiversidade A.14 5 2

Cumprimento de Leis A.15 4 2

Energia

Água e Efluentes

Materiais

Emissões

2

2

1

3

PESOS

Categoria Indicador

3

Tabela 4: Fatores de ponderação do pilar ambiental

Para a definição dos pesos, foram consideradas três faixas de classificação: 1, 2 e 3. Para

indicadores com o mesmo grau de importância em relação a uma determinada categoria (ou

ao respectivo pilar), ambos recebem o peso 2 (médio). Caso algum indicador seja mais

relevante para a empresa em relação aos demais, ele recebe o peso 3. Conseqüentemente,

àqueles indicadores que não são tão importantes dentro da área de atuação da empresa, é

atribuído o peso 1. A Tabela 5 exemplifica a ponderação do pilar ambiental no nível 3.

NOTAS PESOS NOTAS *

PESOS

MÉDIAS

A.01 2 2 4

A.02 2 2 4

A.03 2 2 4

A.04 2 3 6

A.05 5 2 10

A.06 5 3 15

A.07 4 3 12

A.08 4 2 8

A.09 4 3 12

A.10 5 2 10

A.11 4 2 8

A.12 4 2 8

Transporte A.13 3 1 3 4,0

Uso da terra e biodiversidade A.14 5 1 5 4,0

Cumprimento de Leis A.15 4 1 4 5,0

Emissões

PONDERAÇÃO NÍVEL 3

2,0

4,6

4,3

4,2

Categoria Indicador

Energia

Água e Efluentes

Materiais

Tabela 5: Fatores de ponderação do pilar ambiental no nível 3

Para a adequada visualização das condições da empresa, o gráfico da Figura 3 mostra o

conjunto de indicadores ambientais da empresa, denominado Gráfico Nível 2. A área em azul

evidencia a situação atual da empresa e qual a distância da linha verde, que delimita os

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requisitos mínimos estipulados para determinado período de tempo.

Figura 3 – Representação gráfica do conjunto de indicadores ambientais da empresa – Gráfico Nível 2.

Passo 4:

No passo 4, os conjuntos de indicadores de cada um dos pilares têm suas médias ponderadas

calculadas a partir de pesos previamente determinados, como mostrado anteriormente na

Tabela 4. Essas médias são consolidadas num gráfico denominado Gráfico Nível 1,

exemplificado na Figura 4, que representa a situação atual da empresa e a distância em que se

encontra da mínima desejável, considerando os três pilares da sustentabilidade.

Figura 4 – Representação gráfica da sustentabilidade da empresa – Gráfico Nível 1.

Figura 4 – Representação gráfica da sustentabilidade da empresa – Gráfico Nível 1.

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As médias podem também ter tratamento histórico individual, como na Figura 5, mostrando

tendências e auxiliando na tomada de decisões.

Figura 5 – Exemplo de evolução histórica da situação da empresa considerando os pilares da sustentabilidade.

A empresa pode optar pela consolidação, numa só folha, mostrada na Figura 6, dos gráficos

níveis 1 e 2, evidenciando a facilidade com que o gestor pode avaliar quão distante está a

empresa do seu objetivo.

EmpresaEmpresa

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Figura 6 – Relatório gráfico consolidado da situação da empresa.

Passo 5:

Esse passo, opcional, permite que a empresa represente num só número a sua

sustentabilidade. Esse número é a média ponderada das notas calculadas para cada um dos

pilares. Esse último passo consolida todas as informações no indicador de sustentabilidade do

Nível 0, que deve ser entendido como referencial e que deve ser monitorado ao longo do

tempo.

Validação

O modelo foi aplicado experimentalmente numa empresa fabricante de embalagens, de onde

foram retirados os dados mostrados nos gráficos e tabelas, validando a sua exequidade na

indústria de embalagem e sugerindo ser possível aplicá-lo em para empresas de outros setores.

5. Conclusões

Foi desenvolvido um modelo de gestão da sustentabilidade em empresas fabricantes de

embalagem que permite orientar as suas atividades e decisões de forma sistêmica. O modelo é

consistente e pode ser aplicado a outras empresas do setor de embalagens. Dada a sua

estrutura lógica poderá ser adaptado a empresas de outros setores.

Referências

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