modelo de defesa preliminar 1 - lucas

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ITAPETININGA/SP. Processo nº 3008235-20.2013.8.26.0269 LUCAS DE JESUS SOLTO, já qualificado nos autos da ação penal em epígrafe, em tramitação por este respeitável Juízo, que lhe move o MINISTÉRIO PÚBLICO, por seu advogado dativo abaixo assinado, vem, mui respeitosamente á presença de Vossa Excelência, interpor DEFESA PRELIMINAR, com fundamento nos Artigos 396 e 396-A do Código de Processo Penal, em razão da Ação Penal que lhe move a Justiça Pública, pelas razões de fato e de direito que passa a expor. DOSFATOS LUCAS DE JESUS SOLTO está sendo denunciado pelos crimes previstos nos artigos 155, caput, e 157, caput, c.c o artigo 69, todos do Código Penal Brasileiro, conforme informado nos autos por ter supostamente praticado o crime de furto e roubo em concurso de material contra pretensa vítima. O acusado foi preso temporariamente no dia 26 de Novembro de 2013. Possui residência própria e também tem condições de provar 1

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Page 1: Modelo de Defesa Preliminar 1 - Lucas

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ITAPETININGA/SP.

Processo nº 3008235-20.2013.8.26.0269

LUCAS DE JESUS SOLTO, já qualificado nos autos da ação penal em epígrafe, em tramitação por este respeitável Juízo, que lhe move o MINISTÉRIO PÚBLICO, por seu advogado dativo abaixo assinado, vem, mui respeitosamente á presença de Vossa Excelência, interpor DEFESA PRELIMINAR, com fundamento nos Artigos 396 e 396-A do Código de Processo Penal, em razão da Ação Penal que lhe move a Justiça Pública, pelas razões de fato e de direito que passa a expor.

DOSFATOS

LUCAS DE JESUS SOLTO está sendo denunciado pelos crimes previstos nos artigos 155, caput, e 157, caput, c.c o artigo 69, todos do Código Penal Brasileiro, conforme informado nos autos por ter supostamente praticado o crime de furto e roubo em concurso de material contra pretensa vítima.

O acusado foi preso temporariamente no dia 26 de Novembro de 2013.

Possui residência própria e também tem condições de provar sua renda, todos com comprovantes em anexo, (residência e carteira de trabalho).

O mesmo não apresentou nenhuma resistência á prisão por ser pessoa de bem e nem saber do que se tratava.

Não há provas elencadas no processo que comprove a veracidade, em relação ao crime de roubo, porém há a confissão do acusado, em relação ao crime de furto, que subtraiu para si a quantia de R$ 400,00 (quatrocentos reais) assim como os requisitos para a prisão temporária.

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DO DIREITO

Conforme fatos narrados, Caio está sendo acusado pelos crimes tipificados nos artigos 155, caput, e 157, caput, ambos do Código Penal, “in verbis”:

Furto

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Roubo

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Foi preso temporariamente por policiais militares no dia 26 de Novembro de 2013 conforme fls 31 (trinta e um) dos autos.

No entanto, ao observarmos a acusação e a prisão com base no que nos diz a lei, percebemos que:

Não há provas que o acusado LUCAS tenha praticado o crime de Roubo, eventualmente crime defurto.

Da mesma maneira, não há provas de que o acusado praticou a violência ou grave ameaça, bem como consta no processo dados do inquérito policial que a tal arma mencionada não foi encontrada.

De acordo com as imagens captadas, fls 06 (seis), não houve nenhuma testemunha que presenciou o momento do crime, ou seja, a subtração da res furtivae.

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Em relação à sua prisão, tendo em vista que o acusado não se encontra em nenhuma das situações elencadas no artigo 302, I, II, III, IV do código de processo penal que versa sobre o flagrante delito, deverá ser considerada ilegal, uma vez que nos autos do processo não há relatos de que os objetos estavam na posse do acusado.

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Em relação ao pedido de conversão da prisão em flagrante em preventiva, não estão presentes os requisitos do artigo 312 e 313, I, do Código de Processo Penal, pois Caio não oferece nenhuma ameaça a ordem pública, pois é réu primário e também não oferece impedimento da aplicação da lei penal, além de que não está presente os requisitos exigidos para tal pedido que são prova da existência do crime e indicio de autoria.

Referente às imagens anexadas no processo não há que se falar em recebê-las como prova de autoria do crime pelo qual Caio é acusado, visto que tais imagens não provam que o acusado foi o autor da ação. Logo de acordo com o artigo 155 do Código de Processo Penal, não há possibilidade de o juiz formar sua livre convicção, pois não se pode fundamentar exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação.

Ainda, segundo o entendimento doutrinário do Des. Adalberto José Q. T. de Camargo Aranha,

"a sentença condenatória somente pode vir fundada em provas que conduzem a uma certeza. Até mesmo a alta probabilidade servirá como fundamento absolutório, pois teríamos tão-só um juízo de incerteza que nada mais representa que não a dúvida quanto à realidade" (Da prova no Processo Penal, 1994, pág. 64).

Da jurisprudência temos que:

"PROVA - Existência de indícios de autoria - Condenação - Impossibilidade: - Indícios de autoria são insuficientes a embasar édito de condenação, mister que se produza prova inconcussa, não bastando sequer alta probabilidade, sendo certo que estando o ânimo do Julgador visitado por dúvida razoável, outra decisão, que não a absolutória, não há que ser emanada, posto que o Processo Penal lida com um dos bens maiores do indivíduo: a liberdade. " (Apelação n° (.275.247/2 – São Paulo - 5a Câmara - Rei. Desembargador MAPJANO SIQUEIRA - 12/12/2001 - M. V. TACrim - Ementário n° 30, JUNHO/2002, pág. 24).

Prova-Insuficiência-Meros indícios que não bastam para a condenação criminal - Autoria que deve ser concludente e estreme de dúvida-Absolvição decretada. Em matéria de condenação criminal, não bastam meros indícios. A prova da autoria deve ser concludente e estreme de dúvida, pois só a certeza autoriza a condenação no juízo criminal. Não havendo provas suficientes a absolvição do réu deve prevalecer" (TJMT - 2o C. - Rec. em AP - j . 12.5.93 - Rei. Inácio Dias Lessa - RT 708/339).

O conjunto probatório nebuloso, impreciso e confuso não autoriza decreto condenatório, sem uma prova plena e eficaz, da culpabilidade do réu, não é possível reconhecer a sua responsabilidade penal.

Finalmente, o princípio da presunção de inocência, e “in dúbio pro reo”, encontram-se guaridos no artigo 5°, da Constituição Federal, sendo cláusula pétrea, o que demonstra sua superioridade e relevância para o Estado Democrático de Direito, devendo servir de baliza permanente na aplicação da lei. O sistema penal se assenta, como é cediço, na presunção de inocência do réu. Assim sendo, para a condenação do réu a prova há de ser plena e convincente, ao passo que para a absolvição basta a dúvida, consagrando-se o

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princípio do “in dúbio pro reo”, contido no artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal.

DA INEXISTÊNCIA DE GRAVE AMEAÇA OU DE VIOLÊNCIA EXERCIDA PELO ACUSADO IMPRESCINDÍVEIS PARA A REALIZAÇÃO DO TIPO PENAL DESCRITO NA DENÚNCIA

O delito imputado ao réu é de extrema gravidade, visto que, nada obstante diminuir o patrimônio da vítima, à luz das elementares indispensáveis do tipo, quais sejam, violência ou grave ameaça, ainda a leva a experimentar momentos de tensão e temor, às vezes, temer pela própria vida.

Razão pela qual, o legislador anotou, para os realizadores deste tipo penal, uma pena significativa, e em casos da mesma infração penal, porém, na sua forma circunstanciada, equipara-a a crime hediondo, com conseqüências seríssimas como é do conhecimento de V. Exa.

Cumpre realçar, ainda, que o legislador, implicitamente, quando discorreu acerca da pena, dedicou atenção ao bem jurídico tutelado(patrimônio), capaz de colocá-lo num patamar de maior preocupação que o bem “vida”, este tutelado pelo art. 121, e parágrafos, do CP.

Sobre essa parte, deve-se registrar que o autor de homicídio privilegiado(art. 121, § 1º, do Código Penal), em atenção a sua vida pregressa, e circunstâncias atenuantes, pode receber reprimenda de 04(quatro) anos, ou seja, a mesma pena que recebe quem viola o art. 157, "caput", do mesmo diploma.

De sorte que, desejou o legislador, atendendo aos apelos de seus representados, impor significativa punição aos autores do crime de roubo.

Registre-se, contudo, que não nos colocamos contrariamente a esta severa punição, uma vez que há lugares/cidades que já não suporta mais tanta violência, de modo que se deve punir, e com rigor, aqueles que a praticam.

Todavia, por se tratar de séria punição, mister se faz muito cuidado ao aplicá-la, pois certamente mudará o curso da história destes apenados. De modo que, para aplicação da sanção penal, inicialmente imprescindível que o acusado realize o tipo penal prescrito.

Nessa esteira de raciocínio, para a aplicação da reprimenda, posto que o papel ressocializador, na atual conjuntura do sistema penitenciário, é utopia, faz-se mister que a subtração tenha ocorrido mediante violência ou grave ameaça, sem as quais, não há que se falar em roubo.

Neste diapasão, são unânimes doutrina e jurisprudência, visto que ambas asseveram que para a ocorrência do crime de roubo, imprescindível que o agente tenha empregado violência ou grave ameaça.

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Assinalam, outrossim, que o emprego da grave ameaça tem que ter o condão de intimidar; de causar temor à vítima. Se a grave ameaça não cumprir este papel, impossível se falar em roubo.

O enovado Professor Julio Fabbrini Mirabete, em recomendada obra, ao discorrer sobre a violência exigida para a realização do tipo penal do art. 157, do CP, assinala:

"A violência (vis physica) consiste no desenvolvimento de força física para vencer resistência real ou suposta, de quem podem resultar morte ou lesão corporal ou mesmo sem a ocorrência de tais resultados (vias de fato), assim como ocorre na denominada "trombada" (item 157.6). No caso do roubo, é necessário que a violência seja dirigida à pessoa (vis corporalis) e não à coisa, a não ser que, neste caso, repercuta na pessoa, impedindo-a de oferecer resistência ‘a conduta da vítima"(Código Penal Interpretado. 1. ed. 1999; 3ª tiragem 2.000; São Paulo. Atlas). (grifos e negritos nossos).

Ao comentar acerca da ameaça, como condição sine qua non, para a ocorrência do crime de roubo, anota:

"A ameaça, também conhecida como violência moral (vis compulsiva ou vis animo illata), é a promessa de prática de um mal a alguém, dependendo da vontade do agente, perturbando-lhe a liberdade psíquica (v. item 147.2). Pode-se ameaçar por palavras, escritos, gestos, postura etc. Também não se configura o crime se a vítima está atemorizada por outra razão e não pela conduta do agente, restando residualmente o furto". (obra citada acima)(grifos e negritos nossos).

No mesmo diapasão a posição do Procurador de Justiça Aposentado Professor Damásio E. de Jesus, posto que ao tecer comentários acerca da violência ou grave ameaça, exigida para a realização penal do delito de roubo, declina que:

"Sujeito passivo que se sente atemorizado por causa estranha à conduta do agente: Há furto e não roubo(RT, 523:401)"

A posição de nossos Tribunais, não é diferente, conforme anotado anteriormente. Senão vejamos:

"Inexistência de grave ameaça – TACRSP: "Sem fazer o autor qualquer gesto insinuando que esteja armado ao exigir dinheiro, nem encostar na vítima, o temor desta, por si só, não se presta para a perfeita tipificação do delito de roubo, que reclama a ocorrência da violência ou grave ameaça" (RJDTACRIM 91/300).(grifos e negritos nossos).

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TACRSP: "Para que se configure a grave ameaça, é preciso que ela seja séria e efetiva, a fim e impedir que as vítimas resistam, sendo certo que, a simples ordem de entrega de objetos, ainda que aliada ao número de agentes, não se mostra bastante e suficiente para configurar o crime de roubo" (RJDTACRIM 23/298). (grifos e negritos nossos).

TACRSP: "Para fins de tipificação de roubo, não se pode considerar grave uma ameaça verbal de morte recebida de agente visivelmente embriagado, que afinal, foi até apontado como dependente do álcool" (JTACRIM 98/281). (grifos e negritos nossos).

TACRSP: Temor da vítima por outra razão: inexistência de roubo – "O temor da vítima, no roubo, deve ser produzido pelo sujeito ativo. Se ela se achar aterrorizada por motivos que são estranhos ao agente, não haverá roubo, mas furto"(RT 523/401).(grifos e negritos nossos).

DAS DECLARAÇÕES PRESTADAS PELA VÍTIMA NO PROCEDIMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL

A vítima Francislene, quando inquirida pela Autoridade Policial, às fls. 07, asseverou que:

"referido indivíduo começou a entrar do lado de dentro do balcão e em determinado momento o mesmo subtraiu quatro relógios que estavam no balcão....”.

“e que a todo momento colocava uma mão na região da cintura, dando a impressão que portava algum tipo de arma na cintura...”

Contudo, Culto Magistrado, em um certo momento, no vídeo captado em folhas 06, o acusado levanta a sua camiseta perante a vítima mostrando e cientificando a mesma que não portava absolutamente nenhuma espécie de arma, sendo assim, a vítima não pode alegar que ficou constrangida pela tal ameaça, pois estava bem ciente de que o acusado não portava absolutamente nada. Portanto, este vídeo de fls 06 (seis) prova que o acusado não portava nenhum tipo de arma.

E continua, a vítima, às mesmas fls. 70, asseverando que:

"em certo momento a declarante ficou amedrontada e muito nervosa, pois estava sozinha na loja, vindo assim a sair para fora

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da loja, a fim de pedir ajuda para alguém e depois de alguns instantes referido indivíduo fugiu da loja com uma bicicleta..., que tinha do lado de fora, vindo a declarante constatar que o referido indivíduo roubou da gaveta do caixa da loja a quantia de R$ 430,00 em dinheiro...”

Entende-se, neste depoimento, que a vítima não viu o momento em que o acusado subtraiu o dinheiro, e sim que vistou só o momento em que o agente fugiu da loja com uma bicicleta, e, somente após constatou que foi “roubado” a quantia de 430 reais.

Não consta, às fls. 70, que houve agressão física por parte do acusado.

Depreende-se das declarações da vítima que em momento algum, embora o acusado tivesse lhe furtado os relógios, foi empregada qualquer tipo de violência ou grave ameaça , a fim de se obter a posse da res furtivae.

Ora, não houve agressão, simulação de porte de arma, violência, ou até mesmo emprego de tom de voz capaz de intimidá-la.

No que diz respeito ao fato da vítima sentir-se amedrontada, é fato subjetivo, não provocado pelo acusado, pois, conforme informações prestada pela Senhora Vera Lúcia Camargo Solto, em conversa com Lucas, em nenhum momento Lucas ameaçou Francislene, no sentido de “você não sabe quem eu sou” e “você ainda vai trombar comigo na rua”, e sim apenas mencionou que não iria embora enquanto não devolvesse certa quantia, tendo em vista que tal rádio tinha sido adquirido da referida loja e que apresentava problemas.

Conforme assinalado inicialmente, quando o legislador prescreveu severa pena para àqueles que realizam o tipo penal do roubo, exigiu a ocorrência de violência ou grave ameaça. Seguramente não realizada pelo acusado.

Portanto, por não realizar o tipo penal descrito na denúncia; por não constituir crime a sua conduta; por falta das elementares do tipo, data venia, razão não assiste para a procedência da ação penal promovida pela justiça pública em face de Lucas.

Da Desclassificação da Infração Imputada ao Réu

Para se falar em violência ou grave ameaça, mister se faz a ocorrência de conduta ativa capaz de assustar, ou retirar da vítima possibilidade de esboçar qualquer reação, pois, quando existir possibilidade de reação, seja através de qualquer meio em tudo se pode falar, menos em violência ou grave ameaça.

O Egrégio Tribunal de Justiça desse Estado, na ânsia de pacificar o assunto, anotou o seu conceito de violência física. A saber:

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"A violência física no crime de roubo consiste no constrangimento físico da vítima, retirando-lhe os meios de defesa, para subtrair o bem" (RT 608/442).

No mesmo diapasão, manifestou-se o Festejado Tribunal de Alçada Criminal desse Estado. Senão vejamos:

"A violência física que tipifica o roubo consiste em ação física, que impossibilita, dificulte ou paralise a possibilidade de a vítima evitar a subtração da coisa móvel de que é detentora, possuidora ou proprietária" (RT 542/374).

Assim, inegável que, no caso em tela, esta não ocorreu, pois a suposta vítima informou que o acusado somente se utilizou de palavras, sem, em nenhum momento chegar manifestar-se, verbal ou fisicamente de forma a intimidá-la.

No que tange à ameaça, também denominada de violência moral, caracteriza-se quando ocorre a promessa de um mal a alguém, dependente da vontade do agente.

Deve, ainda, a ameaça ser contundente, ser capaz de intimidar alguém por si só, e não assustar alguém que já está assustado por outras razões.

Pois bem, afastando-se a violência e a grave ameaça, para que se possa condenar o réu, e só para argumentar, pois não cometeu delito algum, PODERIA SE FALAR EM FURTO e nunca em roubo, pois aquele dispensa a violência e a grave ameaça.

Ora, se não houve violência, e nem grave ameaça, poderia Francislene oferecer resistência, ou, ainda, não se sentir ameaçada.

Nesse sentido, oportuno anotar, mais uma vez, a manifestação do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo. Que assim o fez;

"Possibilidade de resistência: inexistência de roubo: A violência física, exigida para a configuração do roubo, é aquela que reduz o ofendido à impossibilidade de resistência. Um soco desviado pela vítima não interfere como expediente hábil a enquadrar a violência física para responsabilizar o réu pela prática de roubo" (JTACRIM 75/365).

"Possibilidade de resistência: desclassificação para furto: O roubo nada mais é do que um apossamento mediante violência ou grave ameaça, porém, para que seja reconhecido, é necessário que o meio material ou o inibitório usados pelo agente sejam hábeis e aptos a reduzir a resistência da vítima, colocando-a em condições de passividade. Se não for de tal ordem pode-se apenas falar em furto" (JTACRIM 72/326).(grifos e negritos nossos).

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"Temor da vítima por outra razão: inexistência de roubo – TACrSP: o temor da vítima, no roubo, deve ser produzido pelo sujeito ativo. Se ela se achar aterrorizada por motivos que são estranhos ao agente, não haverá roubo, mas furto" (RT 523/401).

DO JUÍZO DE REPROVAÇÃO FACE A CONDUTA DO RÉU

O juiz de direito, especialmente o criminal, julga o homem, à luz de sua conduta, em tese, criminosa, mas o julga em atenção a todos os seus problemas pessoais, sociais, e em observância às suas aflições.

Portanto, para a aplicação da lei penal, através da prestação jurisdicional, nos casos em se tenha a absoluta certeza do cometimento do crime, que não é o caso, será preciso especial atenção aos motivos e razões que o levaria a cometer a infração penal.

Nesta esteira de raciocínio, poderá o juiz, em atenção ao princípio da culpabilidade, entender ser desnecessário censurar a conduta do agente infrator. Isto, considerando-se a realização de uma conduta criminosa.

No caso em tela, nada obstante o acusado não realizar o tipo penal, Art. 157, caput, descrito na peça inaugural, o que, por si só, afasta qualquer possibilidade de condenação a este crime, é certo que a abordagem se deu por razões outra que não a de subtrair bens da vítima.

A conduta do acusado em momento algum demonstra intenção de impor medo ou violência à vítima, seja qual for a sua modalidade, de modo que aplicar a ele a sanção penal prevista seria violar o princípio da culpabilidade, posto que não há pena e nem crime sem a presença desta.

Portanto, deverá, desta feita, em atenção à sua culpabilidade, por absoluta insuficiência probatória, ser absolvido da grave imputação que sobre o acusado paira.

DA INSIGNIFICÂNCIA OU BAGATELA

Na hipótese tratada, o acusado confessou perante a autoridade policial que subtraiu apenas a quantia de R$ 400,00 (quatrocentos reais), em fls. 31, contribuindo assim com a justiça e a investigação policial.

As circunstâncias, mais, demonstraram que o Acusado sempre estivera supervisionado por câmaras de vigilância.

Face ao quadro fático ora exposto, sustentamos em favor do Réu, nesta defesa (resposta do acusado), preliminarmente, a ausência de tipicidade.

Para tanto, de pronto há nestes autos o depoimento do acusado, bem como as declarações da pretensa vítima na fase investigativa, comprovando o adequamento a

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todos os requisitos para o acolhimento desta pretensão, de acordo com a visão mais precisa dos Tribunais e da doutrina.

A res furtiva não alcançava, à época dos fatos, sequer 65%(sessenta e cinco por cento) do salário mínimo.

Sendo assim, segundo o sólido entendimento de doutrina e jurisprudência, remetia-se à aplicação do princípio da insignificância.

Neste tocante foram insertas as lições de doutrina de Cezar Roberto Bitencourt, Rogério Greco e Guilherme de Souza Nucci.

Agregou-se às notas doutrinárias, julgados específicos de vários Tribunais, sobretudo do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal.

De outro compasso, ainda sob o enfoque no pedido de absolvição sumária, sustentamos a defesa que os acontecimentos levam a hipótese de crime impossível (CP, art. 17), também denominado pela doutrina de tentativa inidônea, inadequada ou quase-crime.

Notas de jurisprudência foram insertas na peça, destinadas a fundamentar a tese da concorrência para o crime impossível.

Como pedido subsidiário, se acaso fosse afastada a tese do princípio da insignificância, a defesa pleiteia o acolhimento de pedido da incidência do privilégio legal ao crime de furto.(CP, art. 155, § 2º)

Alicerçado nas lições de doutrina de Cleber Masson, a defesa levantos considerações quanto à diferença entre coisa de pequeno valor e coisa de valor insignificante. Assim, sucessivamente pedimos que fosse aplicada tão somente a pena de multa em seu patamar mínimo.

Ainda subsidiariamente, no enfoque de furto privilegiado, pleiteamos a substituição da pena de reclusão pela de detenção, sem aplicação de multa e com redução no seu percentual máximo.

Se não forem atendidos os pedidos retromencionados, requer-se, sucessivamente, a aplicação da pena de reclusão, todavia com redução no percentual máximo previsto em lei.

Na eventualidade da aplicação da pena de multa, esta deverá ser proporcional com as condições financeiras do Acusado (CP, art. 60, caput).

Neste enfoque específico, ou seja, pela necessidade de condução de provas nos autos para demonstrar a real situação financeira do Réu, anotou-se novamente a doutrina de Cezar Roberto Bitencourt.

Tratando-se de ação sob o Rito Comum Ordinário, pediu-se a oitiva de testemunhas no número máximo legal. (CPP, art 394, inc. I c/c art. 401)

Inseridas notas de jurisprudência do ano de 2013.

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Jurisprudências Atualizadas desta Petição

HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO SIMPLES CONSIDERADO PRIVILEGIADO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. MÍNIMO DESVALOR DA AÇÃO. VALOR ÍNFIMO DA RES FURTIVA. IRRELEVÂNCIA DA CONDUTA NA ESFERA PENAL. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DESTA CORTE. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.

1. A conduta imputada ao Paciente - tentativa de furto de uma peça de picanha, com peso de 1,3 kg (um quilograma e trezentos gramas), avaliada em R$ 24,00 - insere-se na concepção doutrinária e jurisprudencial de crime de bagatela. Precedentes.

2. O furto não lesionou o bem jurídico tutelado pelo ordenamento positivo, excluindo a tipicidade penal, dado o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento do agente, o mínimo desvalor da ação e o fato não ter causado maiores conseqüências danosas.

3. Habeas corpus concedido para absolver o Paciente. (STJ - HC 250.574; Proc. 2012/0162440-7; SP; Quinta Turma; Relª Minª Laurita Vaz; Julg. 18/12/2012; DJE 01/02/2013)

DO PEDIDO

Diante do exposto, requer-se:

1.) a desclasifição, em relação crime de roubo pelo qual é acusado, com fundamento no artigo 383 do Código de Processo Penal;

2.) seja concedido o relaxamento da prisão ilegal, com fundamento no artigo 5° LXV da Constituição Federal e considerando a falta de requisitos exigidos pelo artigo 302 do Código de Processo Penal, bem como a imediata expedição de alvará de soltura;

3.) analisadas as provas anexadas, quais sejam, comprovante de endereço e Carteira de Trabalho.

4.) Outrossim, protesta pelas oitivas das mesmas testemunhas arroladas pelo Ministério Público na peça exordial de fls. 04 (quatro).

5.) Que seja requisitada pelo Exl. Magistrado a folha de antecedentes criminais (FAC) e a certidão de antecedentes criminais (CAC) aos órgãos competentes, a fim de serem devidamente expedidas e juntadas a este processo para posterior análise deste patrono.

6.) Que o acusado seja absolvido sumariamente por este Douto Magistrado, tendo em vista que não resta dúvidas de que se trata de crime bagatela.

Por estas razões, e outras do convencimento de Vossa Excelência, deverá ser DESCLASSIFICADO o crime de roubo imputado na denuncia para o do art. 155,

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"caput", do Código Penal, por falta de prova da materialidade, aplicando o principio universal “in dúbio pro reo”.

Nestes termos,

pede e espera deferimento.

Itapetininga, 27 de Janeiro de 2014.

Paulo Roberto Campos de Camargo Oab/SP nº.204345

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