modelo de capa anpec_maio_2012 _2

38
SÉRIES WORKING PAPER BNDES/ANPEC PROGRAMA DE FOMENTO À PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO - PDE UMA ANÁLISE DO CRÉDITO BANCÁRIO PARA PESSOAS JURÍDICAS A PARTIR DE UM PAINEL DE DADOS REGIONAL: 2000-2008 Carmem Feijó Edileuza Vital Galeano Leonardo Dondoni Dutra Marcos Tostes Lamonica Working Paper no. 36 BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL Avenida República do Chile, 100 – Centro 20031-917 -Rio de Janeiro, RJ ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTROS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA Rua Tiradentes, 17 – Ingá 24210-510 - Niterói, RJ Março/2012 Esse paper foi financiado com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos (FEP) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Por meio desse fundo o BNDES financia, na modalidade não-reembolsável, a execução de pesquisas científicas, sempre consoante ao seu objetivo de fomento a projetos de pesquisa voltados para a ampliação do conhecimento científico sobre o processo de desenvolvimento econômico e social. Para maiores informações sobre essa modalidade de financiamento, acesse o site http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/Programas _e_Fundos/fep.html . O conteúdo do paper é de exclusiva responsabilidade do(s) autore(s), não refletindo necessariamente, a opinião do BNDES e/ou da ANPEC.

Upload: vuonganh

Post on 07-Jan-2017

230 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

SÉRIES WORKING PAPER BNDES/ANPEC

PROGRAMA DE FOMENTO À PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO - PDE

UMA ANÁLISE DO CRÉDITO BANCÁRIO PARA PESSOAS JURÍDICAS A PARTIR DE UM PAINEL DE DADOS REGIONAL: 2000-2008

Carmem Feijó Edileuza Vital Galeano

Leonardo Dondoni Dutra Marcos Tostes Lamonica

Working Paper no. 36

BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL Avenida República do Chile, 100 – Centro

20031-917 -Rio de Janeiro, RJ

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTROS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA Rua Tiradentes, 17 – Ingá

24210-510 - Niterói, RJ

Março/2012

Esse paper foi financiado com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos (FEP) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Por meio desse fundo o BNDES financia, na modalidade não-reembolsável, a execução de pesquisas científicas, sempre consoante ao seu objetivo de fomento a projetos de pesquisa voltados para a ampliação do conhecimento científico sobre o processo de desenvolvimento econômico e social. Para maiores informações sobre essa modalidade de financiamento, acesse o site http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/Programas_e_Fundos/fep.html.

O conteúdo do paper é de exclusiva responsabilidade do(s) autore(s), não refletindo necessariamente, a opinião do BNDES e/ou da ANPEC.

Page 2: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Uma análise do crédito bancário para Pessoas Jurídicas a partir de um painel de dados regional: 2000-2008 Carmem Feijó, Edileuza Vital Galeano, Leonardo Dondoni Dutra, Marcos Tostes Lamonica Série Working Paper BNDES/ANPEC No. 36 Março/2012

RESUMO O objetivo deste artigo é apresentar um estudo empírico sobre o comportamento do crédito bancário para a pessoa jurídica a nível regional no período 2000-2008. Com base nas estatísticas do banco de dados Estatísticas Bancárias por Municípios – ESTBAN, e do Sistema Gerenciador de Séries Temporais do Banco Central do Brasil estimou-se as variáveis do modelo econométrico desenvolvido para explicar os determinantes do crédito às empresas por regiões. Apoiado na literatura pós keynesiana, os resultados do modelo confirmaram a importância da preferência pela liquidez da firma bancária para explicar a oferta de crédito às empresas, assim como da concentração do sistema bancário para reforçar as desigualdades regionais. Palavras-chave:firma bancária, desigualdade regional, preferencia pela liquidez

ABSTRACT The aim of this paper is to present an empirical study about bank credit to firms at a regional level in Brazil during 2000-2008. Based on statistical data bank Estatísticas Bancárias por Municípios – ESTBAN and Sistema Gerenciador de Séries Temporais, both from the Brazilian Central Bank, an econometric model has been developed to explain the determinants of bank credit in the Brazilian regions. Based on the post keynesian literature, the results of the model confirm the importance of the liquidity preference to explain the supply of credit to firms, and the concentration of the bank system to reinforce regional inequalities. Keywords: banks, regional inequality, liquidity preference

Carmem Feijó Filiação: Professora Associada do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense, Pesquisadora Nível I do CNPq, PhD pelo University College London, Inglaterra Email: [email protected] Endereço: R. Tiradentes, 17, Niterói, RJ CEP 24220-510 Edileuza Vital Galeano Filiação: Doutorada em Economia pela Universidade Federal Fluminense – UFF Email:[email protected] Endereço: R. Gelu Vervloet dos Santos, 560, apto 212, Jardim Camburi – Vitória – ES, CEP: 29.090-100 Leonardo Dondoni Dutra Filiação: Mestre em Economia pela Universidade Federal Fluminense – UFF Email: [email protected] Endereço: Travessa Carlos Cruz nº 61 , Nova Cidade - São Gonçalo – RJ, CEP: 24450-250 Marcos Tostes Lamonica Filiação: Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense, Doutorado em Economia pela Universidade Federal Fluminense – UFF Email: [email protected] Endereço: R. Tiradentes, 17, Niterói, RJ CEP 24220-510

Page 3: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Uma análise do crédito bancário para Pessoas Jurídi cas a partir de um painel de dados regional: 2000-2008

1.Introdução

A concessão de crédito é considerada na tradição keynesiana como de fundamental importância para o funcionamento de economias modernas. O investimento na expansão do estoque de capital assim como o crescimento da renda seriam deprimidos se só dependessem da acumulação de poupança prévia. O agente que concede crédito é o banco, e neste sentido pode-se dizer que bancos assumem papel proeminente no processo de crescimento e no desenvolvimento econômico de um país ou região. Ao ofertar crédito, o banco, utilizando de sua prerrogativa singular de captador de depósito junto ao público, cria moeda. Na tradição keynesiana a moeda não é neutra, pois afeta o nível de produção e, consequentemente, o volume de emprego e renda. Ademais, reconhece que mesmo que a autoridade monetária injete moeda na economia, nada garante que os volumes de emprego e renda gerados sejam os de equilíbrio de pleno emprego, pois uma característica importante de economias monetárias é que a oferta de crédito e moeda dependem da preferência pela liquidez dos agentes, principalmente do sistema bancário. Assim, economias monetárias são propensas a gerar desemprego e tanto maior será esta propensão quanto maior for a preferência pela liquidez de bancos implicando maior racionamento do crédito. Keynes (1930) discutiu com profundidade o papel dos bancos e o problema da liquidez mostrando que bancos não são meros repassadores de poupança, mas têm uma atuação ativa no sistema produtivo. Com a introdução do princípio da demanda efetiva na Teoria Geral do Emprego, Juro e da Moeda (1936), pelo qual o nível de emprego e renda da economia dependem dos gastos autônomos, em particular dos investimentos, e que o consumo ampliaria o impulso autônomo através do multiplicador, Keynes inverteria o papel da poupança como fonte de fundos para o investimentos1 em relação ao pensamento econômico dominante à época. Esta inversão na relação de causalidade entre poupança e investimento trouxe profundas consequências para o entendimento de como bancos e firmas interagem, e portanto sobre o papel do sistema bancário no desenvolvimento de um país ou região2. Keynes e seus seguidores assumem assim que a oferta de crédito é um importante propulsor do crescimento econômico na medida em que fornece corpo de sustentação à 1Vale mencionar que no final do século XIX e início do XX, Wicksell e Schumpeter chamavam a atenção para o papel dos bancos no sistema econômico. Para Wicksell, a teoria quantitativa clássica omitia a existência de bancos e de depósitos criados como contrapartida de empréstimos (Carvalho, 2001). Já Schumpeter dedicou atenção especial ao papel do crédito bancário na realização do investimento colocando o papel da poupança em segundo plano. 2 Vale mencionar, conforme Missio, Jayme Jr e Oliveira (2009, p. 10), que a literatura econômica moderna apresenta dois distintos postulados sobre a relevância do papel do banco em um sistema econômico. Proponentes da teoria convencional postulam que existe uma relação inversa entre o desenvolvimento do sistema financeiro e o crescimento econômico. Neste caso, a atividade bancária é irrelevante visto que seria resultado natural do aumento das transações que decorrem do crescimento do produto, ou seja, é o crescimento da atividade econômica que causaria o desenvolvimento (e crescimento) do setor financeiro. Outra linha postula que o desenvolvimento da intermediação financeira pode ser promotor do crescimento econômico, na medida que intensifica a alocação de capital. Ou seja, eficiência do setor financeiro leva ao crescimento do produto, que, por sua vez, gera demandas adicionais por depósitos e serviços financeiros. Ambas as interpretações vão em direção distinta da proposta por Keynes e seus seguidores.

Page 4: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

demanda agregada, e via investimento produtivo, propicia o aumento da produtividade da economia. Tratando-se da questão do crescimento desigual entre regiões de um mesmo país, a literatura keynesiana, em particular a pós keynesiana, supõe que regiões mais desenvolvidas tendem a apresentar menor preferência pela liquidez e melhores oportunidades de investimento e consequentemente de expansão da riqueza. Da mesma forma, a alocação mais eficiente de crédito deve elevar a produtividade da economia nas diversas regiões. Assume-se assim que o desempenho das instituições financeiras na concessão de crédito, seguindo a preferência pela liquidez dos bancos nas diversas regiões onde atuam, influencia o volume de crédito a ser ofertado e consequentemente sua capacidade de gerar mais ou menos desenvolvimento. O objetivo deste artigo é apresentar um estudo empírico sobre o comportamento do crédito bancário para a pessoa jurídica em nível nacional e regional no período 2000-2008. Limitou-se o estudo até 2008 pela disponibilidade de dados. Partindo da hipótese de que a preferência pela liquidez seja diferente entre as regiões, desenvolve-se uma equação econométrica para ser testada com dados em painel para explicar os determinantes do crédito para empresas nas regiões. As questões que este artigo se propõe a responder são quais (i) as variáveis determinantes do crédito para pessoa jurídica no Brasil e nas regiões geográficas; (ii) as principais diferenças regionais quanto às explicações para determinar a oferta de crédito; e (iii) as implicações dos comportamentos diferenciados da oferta de crédito a pessoas jurídicas sobre a desigualdade regional. O presente artigo é composto de seis seções, incluindo esta introdução. Na segunda seção é apresentado o referencial teórico para discutir o papel dos bancos em economias monetárias com racionamento do crédito. Na terceira seção é tratado o papel dos bancos no desenvolvimento regional. Na quarta seção é apresentada uma breve análise descritiva da distribuição regional do crédito no Brasil. Na quinta seção estão os procedimentos metodológicos e os resultados do modelo econométrico. Por fim, apresenta-se uma consideração final. Três apêndices completam este artigo com a definição da base de dados utilizada, a construção das variáveis e o resultado de testes econométricos. 2. O papel dos bancos em economias monetárias e o r acionamento do crédito Teoricamente na visão keynesiana, o processo de financiamento às firmas, em particular ao investimento, é entendido através do circuito finance- investimento- poupança-funding, tendo em vista que se assume que não é necessário que a poupança preceda o investimento para que este se realize. Os recursos iniciais para a execução de novos planos de investimento não necessariamente dependem de poupança prévia, pois podem ser oriundos da criação de meios de pagamentos pelos bancos. Dado que a poupança não é o ponto de partida para a explicação do processo de financiamento às empresas, a ênfase passa a ser colocada em como recursos podem ser alocados em ativos de maturidades diversas, os quais apresentam diferentes taxas de retorno e graus de liquidez. Assim entende-se que a maior ou menor preferência pela liquidez, que explica a postura dos bancos na oferta de crédito, nada mais é do que um reflexo da racionalidade dos agentes que operam em economias monetárias. Para discutir estas questões esta seção está dividida em duas subseções. A primeira trata do circuito financeiro e a segunda da preferência pela liquidez dos bancos.

Page 5: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

2.1 - o circuito finance-funding No Treatise on Money (1930), Keynes mostra a evolução do sistema monetário partindo da idéia de como os bancos comerciais, como simples receptores de poupanças, se transformam nos principais supridores de meios de pagamentos, capazes de criar crédito por um simples instrumento contábil, independente da existência de poupanças prévias. Portanto em economias empresariais3 os bancos cumpririam um papel fundamental através da capacidade de expandir a liquidez e o crédito bancário para que o empresário tivesse sob seu comando uma quantia apropriada de moeda para aplicação em capital. É neste sentido que se entende que para Keynes “a decisão de investir precede a criação de renda, portanto a poupança agregada é determinada e não determinante do investimento” (1936, p. 210). Assim, parte do público – os empresários – demanda moeda para financiar investimento em capital fixo. Nesse caso, estes agentes demandam moeda para antecipar o poder de compra destinado a cobrir o hiato temporal entre a decisão de investir e sua efetivação. Mas, essa demanda de moeda se depara com a disposição dos bancos em conceder crédito. De acordo com a teoria de Keynes, os bancos atuam em função de sua preferência pela liquidez através da escolha de seu portfólio, combinando rentabilidade com liquidez. Desse modo, a demanda e a oferta de crédito são afetadas pela preferência pela liquidez de bancos e firmas, que por sua vez, esta relacionada às expectativas em relação aos retornos futuros que formam em um ambiente de incerteza não probabilística. Quanto maior o grau de incerteza, maior a preferência pela liquidez de bancos, e assim menor a oferta de crédito e vice-versa. Keynes ainda destaca o caráter volátil da demanda por moeda em função das políticas monetárias e a organização do sistema bancário, que determinam a oferta de moeda. Assim, a preferência pela liquidez do público é o principal determinante da taxa de juros4. Empresários que desejam investir devem ter acesso ao crédito bancário para a mobilização de recursos iniciais, o que em uma economia monetária de produção, seria realizado através de um fundo rotativo – denominado de finance, administrado pelos bancos comerciais. Tais recursos não são obtidos via quantias previamente poupadas simplesmente porque os bancos comerciais têm a prerrogativa de criar moeda por meio de um instrumento contábil. O investimento é um compromisso de longo prazo, um produto não disponível para o consumo da comunidade e um ativo ilíquido para a instituição financiadora, o que se

3 Para uma apresentação do conceito de economia empresarial ver Feijó, 1993, dentre outros. 4 Diferentemente da teoria keynesiana, a teoria clássica dos fundos de empréstimo é caracterizada dentro de um sistema monetário primitivo, onde o papel do banco nada mais é do que um simples gestor de poupanças passadas e presente. A distinção entre o ato de poupar e investir teoricamente não é relevante e conseqüentemente o financiamento do investimento é diretamente atribuído a poupanças individuais. Nesse modelo, os passivos dos bancos não exercem o papel de meio de pagamento, ou seja, os bancos recebem depósitos e esses representam as poupanças passadas acumuladas. Não há criação de moeda escritural e conseqüentemente expansão do crédito e da base monetária. É uma visão compatível como uma etapa de desenvolvimento embrionária do sistema monetário onde a moeda apenas cumpre o papel de meio de pagamento. O dinheiro facilita as trocas, mas em nada afeta as condições de produção e distribuição, ou seja , o empreendedor que deseja realizar um investimento e não possui poupanças prévias a adquire por intermédio dos bancos, desde que, haja disponibilidade de poupanças acumuladas para a realização do objetivo que é a expansão da capacidade produtiva.

Page 6: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

traduz em um problema de compatibilização entre estruturas ativas e passivas dos diversos agentes envolvidos no processo de intermediação financeira. Assim, projetos de maturação mais elevada necessitam de um alongamento na estrutura do seu passivo de forma a adequá-lo ao prazo de maturação do investimento, uma vez que, só depois de maturado o investimento, o empresário obterá as receitas necessárias para quitar suas dívidas. Esse processo Keynes denominou de funding. Portanto, a poupança não é determinada ex ante e sim ex post ao processo de geração de renda, não exercendo uma restrição ao processo de investimento, que em uma economia monetária é financiado pelos bancos comerciais. Esse investimento, uma vez realizado, gera como contrapartida um volume de poupança idêntico ao finance inicial e que servirá de base para o funding. Essa transformação do finance em funding não é automática e depende da compatibilização de prazos e taxas, implicando risco que é inerente à natureza especulativa do empresário em sua decisão de investimento. Desse modo, o papel dos bancos na economia, a partir da abordagem keynesiana, é avaliado a partir de duas premissas: (i) o circuito finance-investimento-poupança-funding o qual o investimento precede a poupança, e (ii) este mesmo circuito tem como parâmetro institucional um modelo particular de sistema financeiro onde bancos não são agentes passivos, meramente repassadores de poupança previamente acumulada, mas que interferem nas decisões de investimento produtivo através de sua preferência pela liquidez. Ao realizar o investimento, o processo do multiplicador gera expansão da renda e, por conseguinte, expansão da poupança agregada. No modelo do circuito finance-funding, esta expansão de poupanças deve se transformar em compra de títulos de empresas em mercados primários de títulos financeiros, permitindo a essas empresas transformar suas obrigações de curto prazo (empréstimos bancários) em passivos de longo prazo (debêntures e ações). Nesse sentido, a necessidade de um mercado financeiro desenvolvido que permita às empresas colocarem seus títulos de longo prazo, reduzirá a vulnerabilidade financeira dos investidores e da economia como um todo. Quanto menos desenvolvido o mercado financeiro, menor o funding, e assim maior será o problema de descasamentos entre ativos e passivos aumentando o risco imposto ao processo. A questão do grau de desenvolvimento do mercado financeiro não deve ser confundida com o peso que o sistema financeiro pode apresentar dentro da estrutura produtiva. Isto porque, é possível observar em muitas economias, em particular em desenvolvimento, que o peso dos ativos bancários no total de riqueza seja elevado, e isto pode não significar que recursos estejam sendo alocados para o circuito finance-investimento-poupança-funding. Studart (2005) apresenta uma qualificação importante ao papel dos bancos, e do sistema financeiro, para o entendimento do funcionamento do circuito financeiro em economias em desenvolvimento. Esse autor introduz a idéia de funcionalidade desse sistema, ou seja, que o seu grau de desenvolvimento seja medido pelo seu papel funcional em fornecer finance e funding aos setores produtivos e não pelo seu tamanho. Dessa forma, reforça-se a idéia de que o papel do sistema financeiro no crescimento econômico ultrapassa a mera alocação de recursos poupados e do tamanho do sistema bancário (bank deepening). A existência de um sistema bancário funcional para o circuito produtivo permite a alocação e o posterior gerenciamento das maturidades de dívidas por parte dos inversores. Ou seja, o atendimento de funding é necessário para o alongamento do perfil das dívidas de curto prazo das empresas

Page 7: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

produtivas. Dessa forma, uma economia sem sistemas de funding adequados possui pouco fôlego financeiro para o crescimento econômico (Dutra, 2010, p.41). Um contraponto do circuito keynesiano finance-funding à luz da literatura novo-keynesiana pode ser vista na análise entre sistema financeiro e crescimento econômico proposta pela literatura conhecida como finance-growth nexus. Neste contexto, enfatiza-se a relação positiva do grau de profundidade do sistema financeiro (bank deepening) e o desenvolvimento econômico (Levine, 2010). Em conseqüência, advoga-se que a eficiência microeconômica da alocação ótima de recursos acabe por levar à eficiência macroeconômica. Essa linha de pesquisa teve origem no trabalho seminal de Stiglitz e Weiss (1981). Estes autores reconhecem a existência de assimetria de informações como uma das principais falhas de mercado e que tem efeitos particulares no mercado bancário ou financeiro. A assimetria de informações entre emprestadores e tomadores se acentua por meio da seleção adversa5 e do risco moral6. A combinação de ambos produz um setor financeiro que, deixado aos princípios das leis de mercado, atingirá um resultado menos que perfeito, impondo restrições ao crédito, dificultando, assim, o acesso aos recursos necessários para a realização de novos projetos de investimentos. Crocco et all (2011, p. 301), dentre outros, argumentam que a atuação da firma bancária microeconomicamente eficiente, não conduz necessariamente a uma melhor eficiência na alocação dos ativos bancários. Ou seja, sob uma interpretação pós-keynesiana, é plausível que se admita que as agências bancárias administrem seus ativos de forma a reduzir riscos e alcançar a maior rentabilidade possível dado o ambiente em que estão localizadas. Dessa forma, toma-se como dado a intransitividade da eficiência microeconômica por parte da firma bancária em ser funcional do ponto de vista da geração recursos para o desenvolvimento econômico. Ademais, dado o peso bancário na estrutura produtiva pode ser possível que o sistema bancário possua um total de ativo elevado em relação ao PIB e que parcela considerável desse esteja alocada no circuito financeiro ao invés de no circuito produtivo, ou seja, não possuindo papel funcional tal como o argumento de curto alcance dado à eficiência microeconômica do banco em uma economia monetária de produção. Assim, na discussão sobre o papel dos bancos nas regiões de um país, a literatura pós-keynesiana irá enfatizar que a atuação da intermediação financeira pode explicar em grande parte a existência e persistência de desigualdade entre as regiões. Ou seja, embora as raízes de diferenças de renda regionais possam ser atribuídas a fatores estruturais, variáveis monetárias e o próprio comportamento da firma bancária

5 Se o excesso de demanda por crédito fosse eliminado via aumento das taxas de juros - como suposto pela teoria convencional - automaticamente seriam eliminados do mercado aqueles tomadores de empréstimo cujos projetos são menos arriscados, permanecendo somente os projetos mais arriscados. Para evitar isto, o emprestador evita elevar as taxas de juros e o resultado é o racionamento de crédito. 6 O risco moral se traduz no risco do tomador do empréstimo empregar tal recurso em projetos distintos para o qual foi concedido o crédito. Se o projeto não "sobreviver", o tomador não conseguirá honrar seus compromissos, acarretando problemas de inadimplência generalizada e reforçando todo o sistema de atuação bancária, tornado estes mais seletivos ainda. Esses dois problemas juntos, seleção adversa e risco moral, levam ao aumento dos custos de transação que em determinados mercados podem ocasionar barreiras nas negociações privadas e até mesmo ao colapso financeiro.

Page 8: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

podem contribuir para a manutenção e ampliação dessas diferenças quando se adota a abordagem da não neutralidade da moeda no longo prazo7. 2.2 - oferta de crédito e preferência pela liquidez dos bancos 8 Bancos, como qualquer firma capitalista, apresentam como objetivo fundamental de suas atividades a obtenção de lucros monetários. Para isso, administram as opções de aplicações de seus recursos, como também elaboram técnicas e estratégias de gerenciamento de seus passivos. É por isso que são importantes criadores de meios de pagamentos e de crédito. No processo de criação de moeda e de crédito, bancos afetam as condições de financiamento da economia e com isso o nível de gastos dos agentes e, consequentemente, o produto agregado. Assim, as posturas dos bancos em relação ao ambiente de incerteza e aos riscos dos negócios podem se traduzir em maior ou menor preferência pela liquidez baseado no estado das expectativas em relação às oportunidades de ganhos futuros. Nesta linha de raciocínio, assume-se que bancos possuem discricionariedade na concessão do crédito baseados em sua percepção de riscos e ganhos, ou seja, na administração de seus portfólios se defrontam com o trade-off liquidez e rentabilidade. A preferência pela liquidez expressará a precaução dos bancos relacionada à sua percepção sobre o grau de confiança nos resultados a serem alcançados. Neste sentido, a estratégia dos bancos é definida de acordo com as suas percepções de risco e oportunidades de lucro. De Paula e Alves, Jr.(2003) enfatizam que bancos, com preferência pela liquidez, poderão não acomodar passivamente a demanda por crédito, pois buscarão comparar os retornos esperados com os prêmios de liquidez de todos os ativos que podem ser comprados. Isto implica que a disponibilidade de crédito poderá diminuir devido à maior preferência pela liquidez, sem estar necessariamente relacionada diretamente aos riscos inerentes aos empréstimos, fazendo com que o racionamento de crédito possa surgir independentemente dos retornos esperados dos projetos de investimento. Assim, do ponto de vista da oferta de crédito, as expectativas e o estado de confiança dos bancos desempenham papéis fundamentais na determinação da composição de seus portfólios de aplicações. Quando, por exemplo, as incertezas e os riscos aumentam, fazendo o grau de confiança nas expectativas se deteriorar, bancos tendem a privilegiar a liquidez, reduzindo o montante de ativos que possuem um maior grau de maturidade, e vice-versa. Ademais, de acordo com o contexto, refletidos por meio de sua preferência pela liquidez, poderão ser mais ou menos, exigentes na forma de avaliar riscos. Se, por exemplo, a avaliação do risco é elevada, o risco do emprestador – expresso nos contratos de empréstimo – é capaz de se manifestar na ocorrência de taxas de juros mais elevadas, na duração mais curta dos prazos, no montante de recursos disponível, nas exigências estipuladas e nas cláusulas de segurança adicionais. Isto sugere que o risco do empréstimo não se reflete integralmente na taxa de juros, podendo estar subjetivamente expresso em outros

7 Ademais, ao discorrer sobre o papel do banco em uma economia monetária de produção, a literatura pós-keynesiana toma como princípio que a oferta de moeda é endógena ao ambiente econômico. Nesse contexto, a proposição da endogenia da moeda deve ser tratada pela atuação da firma bancária via otimização do portfólio de sua estrutura financeira combinando rentabilidade e liquidez. Ou seja, dado o desenvolvimento do sistema financeiro a moeda escritural passa a ter importância como meio de pagamento. Com isso, tal prerrogativa abre uma lacuna quanto a dependência da oferta da moeda em relação a demanda de crédito (Crocco, 2010, p. 24). 8 Esta seção é uma adaptação de parte de Montes e Feijó, 2011.

Page 9: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

termos da negociação entre tomador e emprestador, como por exemplo, no montante de recursos que é disponibilizado. No que diz respeito à administração dos ativos por parte dos bancos, o problema a ser resolvido é como formar um portfólio que balanceie a rentabilidade e a liquidez da carteira como um todo. A escolha dos ativos dependerá do estado de expectativas do banco quanto ao retorno esperado de cada ativo, da análise quanto ao risco associado a cada ativo e do estágio do ciclo em que a economia esteja. Para aqueles ativos com um menor grau de liquidez e maior rentabilidade esperada, como os empréstimos concedidos para a execução de planos de investimentos, os riscos associados dependem em grande medida do estágio do ciclo econômico.9 Por outro lado, os bancos não tomam decisões relacionadas apenas à composição de seus portfólios de ativos. Realizam escolhas também entre os diversos tipos de obrigações que podem emitir para financiar suas atividades. Nesse sentido, existe uma relação entre o perfil da carteira de ativos composta pelos bancos e o perfil das obrigações que compõem o passivo dos bancos. A opção por um ativo ou outro depende, portanto, da natureza das obrigações criadas. Isto é, na medida em que são diversificadas as obrigações e, assim, as fontes de captação, são abertas novas possibilidades de aplicação. Dito de outra forma, bancos, ao administrarem dinamicamente seus balanços – tanto no lado do ativo quanto no lado do passivo – e por serem capazes de possuir diferentes graus de preferência pela liquidez (adequados a cada contexto), assumem um papel de destaque na determinação das condições de liquidez e financiamento da economia. Tais condições ao se modificarem, explicadas pela postura e pelo ativismo bancário, afetam as decisões de gastos dos agentes econômicos e, por conseguinte, o nível de atividade econômica. Desta forma, as relações entre bancos e firmas não são passivas, dado que a demanda por empréstimos nem sempre é atendida. Bancos concedem empréstimos influenciados pela sua preferência pela liquidez, a qual é também influenciada pela avaliação acerca da capacidade das firmas honrarem seus compromissos. Como destaca Minsky (1986, p. 232): “Before a banker lends, he needs to have a clear vision of how the borrower will operate in the economy to get the money to repay the loan”. 3. O papel dos bancos na literatura do desenvolvime nto regional sob a ótica pós-keynesiana. Teoricamente, assume-se que a disponiblidade de crédito regional seja um importante propulsor do crescimento econômico na medida em que impulsiona a demanda agregada nas diferentes regiões de um país. Dessa forma, um ambiente financeiro funcional ao crescimento econômico deve apresentar estabilidade e previsibilidade para que a atuação de bancos e firmas, dada as expectativas e o grau de confiança nelas, possam incentivar a produção e o investimento em ativo fixo. A partir dos anos 1980, foram feitos vários estudos versando sobre temas como o impacto diferenciado das taxas de juros e dos fluxos inter-regionais de fundos sobre as regiões, e sobre a disponibilidade regional de crédito em geral. Estudos, em sua maioria de caráter pós-keynesiano (Chick, 1986; Dow, 1982, 1990; Rodríguez-Fuentes, 1996, dentre outros), argumentaram que, os bancos locais influenciam de forma positiva ou negativa o desenvolvimento regional ao afetarem a disponibilidade

9 Como sugere Minsky (1982, 1986).

Page 10: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

local de crédito. Portanto, as finanças atuariam também de modo indireto sobre o desenvolvimento regional10. O trabalho pioneiro de Dow (1982) mostra que o sistema financeiro regional juntamente com condicionantes do lado real da economia podem promover padrões de desenvolvimento regional desiguais. Isto decorre de dois fatores: bancos privados podem emprestar menos para as regiões menos desenvolvidas, dada sua estrutura econômica e o controle sobre as suas filiais, e os bancos privados regionais para regiões menos desenvolvidas preferirão manter um elevado nível de reservas e restringir os empréstimos locais, resultado de uma maior preferência pela liquidez. A partir da abordagem seminal de Dow, a variável crédito assume papel relevante nos estudos econômicos regionais contemporâneos. Estudos empíricos recentes sobre o papel dos bancos em nivel regional a serem comentados na próxima subseção podem apresentar finalidades, metodologia e objetivos distintos desse artigo, mas mostram como seguem caminhos de análise dos determinantes do crédito aliados à temática da desigualdade regional em sua distribuição. A interdependência entre oferta e demanda de crédito regional é ponto-chave da teoria pós-keynesiana para defender o desenvolvimento de sistemas financeiros regionais. A oferta de crédito é influenciada tanto pela preferência pela liquidez quanto pelo estágio de desenvolvimento bancário (Cavalcante, et all, 2007, p.92). Nesse contexto, dada expectativas, firmas bancárias criam moeda escritural ofertando crédito localmente, e consequentemente, ampliam sua base de depósitos. Dessa forma, podem alterar a liquidez de seu ativo em resposta a uma demanda de financiamento, afetando a economia real, e por conseguinte, o crescimento econômico regional. Como visto na tradição keynesiana, condiciona-se a possibilidade da moeda afetar as decisões e preferências dos agentes e que, dado um ambiente de maior incerteza e de menor dinamicidade econômica, os agentes se refugiarão para a forma mais líquida de riqueza. Nesse contexto, a firma bancária pode não promover novas rodadas de financiamento, via geração de crédito, à luz de uma maior preferência por liquidez em um momento de elevada incerteza ocasionando portanto o racionamento de crédito, chegando a um limite de ruptura do finance. Uma suposta consequência dessa ampliada preferência pela liquidez em regiões economicamente menos desenvolvidas é que os bancos localizados nestas áreas perdem mais reservas do que os bancos que estão localizados nas áreas mais dinâmicas11. Por isso, emprestam menos e a uma taxa de juros mais elevada, o que inibe o investimento em capital fixo e torna a economia menos dinâmica, reforçando o ciclo de uma maior preferência pela liquidez e baixo crescimento.

10 Conforme apontado por Crocco (2010), as mudanças ocorridas no sistema financeiro internacional a partir dos anos 1970 geraram maior interesse pelos aspectos do desenvolvimento financeiro das regiões. Segundo o autor, estudos, em sua maioria de caráter pós-keynesiano, argumentam que, sob mobilidade imperfeita de capitais, os bancos locais influenciam o desenvolvimento regional ao afetarem a disponibilidade local de crédito. Conclui, portanto, que a estrutura do sistema financeiro atuaria também sobre o desenvolvimento regional. 11 A centralização do sistema bancário brasileiro impõe que todo o recurso destinado às outras aplicações que não o crédito seja concentrado na sede da instituição. Dessa forma, como o depósito à vista é a única fonte de recursos geridos pela agência, essas firmas bancárias em regiões menos dinâmicas estariam menos propensas a emprestar sob o risco de ficarem ilíquidas. Daí o problema do racionamento de crédito enfrentado pelos agentes demandantes desse instrumento de financiamento.

Page 11: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Dessa forma, infere-se que a disponibilidade de crédito e o crescimento econômico estão diretamente relacionados e, quanto mais desenvolvido o sistema financeiro, maior deverá ser o potencial explicativo do crédito no crescimento. Consequentemente, quanto maior o volume de crédito oferecido, mais dinamismo é injetado no processo produtivo. Nesse contexto, recorre-se a contribuição de Myrdal (1968), que desenvolve um processo de causação circular cumulativo para explicar a divergência no processo de crescimento econômico entre países e regiões. Myrdal também reconheceu que os bancos desempenham papel relevante no processo de desenvolvimento. Para ele, os bancos tanto poderiam exercer um papel negativo, ampliando as desigualdades regionais ao transferirem poupança das regiões mais pobres para as mais ricas, como poderia também exercer um papel positivo ao estender os efeitos da expansão econômica do centro desenvolvido para as outras regiões menos desenvolvidas. Como exemplo de papel negativo, toma-se como dada a relação de causalidade entre crédito-depósito. Dessa forma, o crédito concedido às famílias e empresas, por meio do depósito bancário denominado de “secundário” financia os gastos em consumo e investimentos das mesmas cujas rendas destes dispêndios se transformam em “depósitos primários”. No entanto, este mecanismo não possui relação direta entre a geração do crédito e sua posterior alocação de depósito primário “dentro” da mesma região. Ou seja, no caso da região ser importadora de bens e serviços as operações de crédito para o pagamento dos fornecedores irão originar depósitos primários na região exportadora que em geral é a região mais desenvolvida. Desse modo, observa-se o vazamento de depósito da região menos dinâmica para a mais dinâmica onde a curto prazo afetará o multiplicador de meios de pagamento, e que a longo prazo, levará à manutenção e ampliação do processo de divergência do crescimento econômico entre as regiões. Por outro lado, como interpretação de papel positivo à la Myrdal, pode-se argumentar que o aumento de liquidez em regiões mais pobres poderia contribuir para reduzir disparidades econômicas. De acordo com Amado (1997) o processo cumulativo da desigualdade econômica pode ser rompido por intermédio da atuação de políticas governamentais. A autora justifica assim a atuação dos bancos públicos em regiões de menor dinamismo econômico complementando o hiato de liquidez a fim de frear o aumento da preferência por liquidez. A atuação de bancos públicos promove a desconcentração do crédito para as regiões menos dinâmicas, estimulando o desempenho dessas regiões, supondo-se que ocorra elevação do investimento, aumentando o emprego e gerando renda. Cria-se assim um processo de causação circular cumulativo positivo, onde a maior oferta de moeda e o maior otimismo com as condições econômicas aos poucos faz diminuir a preferência pela liquidez da região. 4 – A oferta regional do crédito no Brasil A grande disparidade no desenvolvimento econômico entre as regiões, onde mais de 70% do PIB nacional é produzido nas regiões Sudeste e Sul, é também observada na distribuição do volume de crédito, uma vez que as regiões mais desenvolvidas recebem maior volume justamente por serem as com maior participação no volume de produção e geração de renda. Mais ainda, a concentração regional do crédito é maior do que a da produção, dado que as regiões Sudeste e Sul concentravam 79% do crédito em 2000 e 84% em 2008, contra 75% e 73% do PIB, respectivamente (Tabela 1). Observa-se também que em termos de evolução ocorreu uma ligeira desconcentração da produção e um aumento na concentração da distribuição do crédito. Conforme Tabela 1, das regiões menos desenvolvidas, a Norte foi a que

Page 12: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

apresentou maior ganho de participação na oferta total de crédito; a região Centro Oeste ganhou participação em termos do PIB e perdeu participação na oferta de crédito e a região Nordeste manteve sua participação no PIB e perdeu participação na oferta agregada de crédito.

Tabela 1: Participação % das operações de crédito e do PIB por regiões,

2000 e 2008 2000 2008

Regiões Oferta de

Oferta de

Crédito PIB Crédito PIB

SE 66,8 57,8 70,8 56,0

S 11,7 17,6 12,8 16,6

N 1,3 4,6 2,6 5,1

NE 8,2 13,1 5,5 13,1

CO 11,9 7,0 8,2 9,2

Fonte: BCB- ESTBAN e IBGE- Contas Regionais. A distribuição regional do crédito pelo sistema BNDES, caracterizando a oferta de financiamento de longo prazo na economia, segue em grande medida o padrão de distribuição do total de crédito do Sistema Financeiro Nacional. A Tabela 2 mostra que as regiões Sudeste e Sul concentravam 75% do total de desembolsos nos anos 2000 e 2008. Tabela 2: Participação % das regiões no desembolso anual do Sistema BNDES

2000 e 2008 Regiões 2000 2008 SE 56,4 56,1 S 18,5 19,2 N 4,0 5,4 NE 12,1 8,4 CO 9,0 10,9

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do BNDES Apesar da elevada desigualdade na distribuição regional do crédito, o impacto do crédito do sistema BNDES no PIB das regiões é relativamente próximo. A Tabela 3 mostra que a média dos desembolsos no período 2000-2008 no PIB das regiões variou em torno de 2%, sendo que o Nordeste apresentou o pior percentual (1,7%). Comparando a Tabela 3 com a 2, observa-se que a participação dos desembolsos do BNDES para esta região decaiu de 12,1% em 2000 para 8,4% em 2008. Considerando que a regiões menos desenvolvidas contam com Fundos Constitucionais de Fomento (FNO-N, FNE-NE e FCO-CO), como um instrumento de política de combate à desigualdade econômica, na segunda coluna da Tabela 3 somou-se os recursos desembolsados por estes fundos aos créditos concedidos pelo sistema BNDES. Como estes fundos não abrangem as regiões Sudeste e Sul, os percentuais do crédito nestas regiões não mudaram, e das demais regiões aumentou.

Page 13: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Tabela 3: Participação % do Crédito no PIB por regi ão, média do período 2000-2008

Regiões

Desembolsos Sistema BNDES

BNDES+Fundos Constitucionais

SE 2,4 2,4

S 2,6 2,6

N 2,0 3,0

NE 1,7 2,5

CO 2,3 3,2

Fonte: Elaboração própria a partir dos Relatórios de Informações Gerenciais do Ministério da Integração Nacional e BNDES

As informações das três tabelas acima permitem concluir que o crédito no país é desigualmente distribuído acompanhando o perfil desigual de distribuição da produção e da renda no território nacional. No entanto, seu impacto no PIB das regiões, pelo menos considerando os desembolsos do sistema BNDES, não é muito diferenciado, o que pode indicar que há muito espaço para o financiamento do desenvolvimento reduzir as diferenças econômicas entre as regiões do país. 4.1- atuação dos bancos em um contexto de elevada d esigualdade regional: indicadores selecionados Um indicador síntese da desigualdade na distribuição do crédito no país é o índice regional de crédito (IRC)12. Este índice compara a participação de uma região no total de crédito concedido no país com a participação da mesma no PIB nacional. Quando o IRC é igual a unidade, a proporção de crédito aplicado na localidade é idêntica à proporção do PIB naquela localidade. Quando é maior que a unidade, a região tem uma participação na distribuição do crédito superior à sua participação na distribuição do PIB, e quando o IRC é menor que a unidade a região tem uma participação na distribuição do crédito menor que sua participação na distribuição do PIB. O Gráfico 1 apresenta a evolução do IRC para as regiões do país, considerando o Centro-Oeste com e sem o Distrito Federal. O Distrito Federal, por concentrar as instituições públicas dos poderes legislativo, executivo e judiciário do país, apresenta características econômicas específicas, com elevado nível de renda per capita, fazendo com que os indicadores bancários desta região sejam muito influenciados por outros fatores que não ligados à atividade produtiva, justificando assim sua exclusão da região Centro Oeste para fins comparativos com outras regiões. A região Sudeste apresentou uma participação relativa do crédito superior à participação na distribuição da riqueza total em todo o período, como esperado. As demais regiões apresentaram participação na distribuição do crédito menor que sua participação na distribuição do PIB, à exceção da região Centro Oeste com a inclusão do Distrito Federal. Sem o Distrito Federal o indicador do Centro Oeste ficou abaixo de 1 e muito próximo da região Sul.

12 Desenvolvido em Crocco (2010) e Crocco et all (2011). Conforme Crocco et all (2011), a metodologia aplicada ao IRC é uma adaptação do conhecido “quociente locacional”, amplamente utilizado na literatura de economia regional para determinar a existência ou não de especialização produtiva em uma região específica. O Apêndice A apresenta a fórmula de cálculo do IRC.

Page 14: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Gráfico 1: Índice Regional de Crédito – IRC 2000 a 2008

0,000

0,200

0,400

0,600

0,800

1,000

1,200

1,400

1,600

1,800

2,000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Região Sul Região Sudeste Região Nordeste

Região Norte Região Centro-Oeste Região Centro-Oeste S/ DF

Fonte: BCB- ESTBAN-BCB e IPEADATA.

A razão Ativo das instituições bancárias sobre o PIB (Gráfico 2) mostra o peso da atividade bancária em cada região. Esta razão é utilizada como um indicador do grau de desenvolvimento do setor bancário localmente. No Gráfico 2 as regiões Sudeste e Centro Oeste foram as que apresentaram o indicador Ativo/PIB acima da média nacional, sendo que quando se retira o Distrito Federal da região Centro-Oeste tem-se a menor razão Ativo/PIB. A evolução deste indicador mostra que a partir de 2003/2004 houve uma tendência de essa razão aumentar até 2006 em todas as regiões, à exceção da Sudeste, que declinou ligeiramente. Todas as regiões mostraram queda ou estabilidade no indicador em 2008.

Gráfico 2: Razão Ativo/PIB % por Região e Brasil 20 00 a 2008

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Região Sul Região Sudeste Região Nordeste

Região Norte Região Centro-Oeste Região Centro-Oeste S/ DF

Brasil

Fonte: BCB- ESTBAN e IPEADATA.

Page 15: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Os dois indicadores vistos até aqui mostram, por um lado, que a má distribuição do crédito está relacionada à má distribuição da riqueza no país, conforme o IRC, e por outro, que a evolução do peso do setor bancário numa região acompanha a distribuição regional do PIB. Este último indicador não informa sobre se o aprofundamento da atividade bancária (bank deepening, ou seja, aumento no percentual de Ativo/PIB) é funcional para o desenvolvimento da região. Isto porque é possível observar um total de ativo bancário elevado no PIB da região, mas pouco se sabe sobre qual a parcela desse recurso que está de fato alocada no circuito produtivo na região. Como visto na seção 2, bancos são agentes ativos que administram os dois lados de seus balanços com o objetivo de maximizar lucros, e assim suas aplicações devem equilibrar rentabilidade com risco, conforme expectativas e o grau de confiança a ela associados. Não só os ativos podem estar sendo alocados fora do circuito produtivo, como também regiões mais dinâmicas tendem a apresentar mais oportunidades de negócios, e neste sentido o bank deepening tende a reforçar desigualdades regionais e não diminui-las. Outros indicadores devem ser observados para melhor qualificar a atuação dos bancos nas regiões. O Gráfico 3 mostra a proporção do Ativo bancário alocada fora do circuito produtivo, ou seja, no circuito financeiro. Esta razão (TVM/Ativo) mede o peso das operações com títulos e valores mobiliários e instrumentos financeiros derivativos sobre Ativo total. Quando esta razão aumenta, indica a preferência da firma bancária por aplicações especulativas no mercado financeiro de títulos públicos e privados, em relação às operações de crédito, e quando cai indica maior aplicação no circuito produtivo. Esta razão situou-se acima da média do Brasil para as regiões Nordeste e Norte até meados da década, indicando baixa funcionalidade relativa da atividade bancária nestas regiões neste período. A partir de 2006 a razão aumentou em todas as regiões, à exceção da Centro Oeste sem Distrito Federal. O aumento é bem acentuado em 2008, frente ao reposicionamento das instituições bancárias em direção à ativos menos arriscados dado o aumento da incerteza com o advento da crise financeira internacional. A região Sudeste apresentou participação da razão TVM/Ativo menor que a média verificada para o Brasil para o período 2000-2006. Na região Sul esta razão ficou abaixo da média do Brasil todo o período. A menor participação desta razão nestas regiões vis-à-vis as regiões Nordeste e Norte está vinculada ao maior dinamismo da atividade bancária via geração de crédito no Sudeste e no Sul relativamente. Isto pode ser explicado pela queda da taxa Selic a partir de 200313 bem como o maior desafio concorrencial vivido pelos bancos comerciais nacionais dado o processo de internacionalização do sistema bancário14.

13 Dutra (2010, p. 69) reforça tal análise ao observar que após o aperto monetário vivido pela economia logo nas primeiras semanas de janeiro de 2003, a queda da taxa Selic verificada no período 2003/2008 acabou por impactar negativamente o carregamento de títulos públicos por parte dos bancos, incentivando o redirecionando de suas estratégias operacionais em direção ao crédito. Ou seja enquanto a taxa Selic teve uma queda da ordem de 65% no período 2003/2008, a evolução do crédito/PIB no mesmo período apresentou um crescimento da ordem de 203,65%, isto é, mais que dobrou em termos de participação. 14 Conforme Dutra (2010, p.69), os bancos privados expandiram de forma ativa o crédito por intermédio de mudanças nos seus portfólios, corroborando não somente a reação dos bancos nacionais frente ao maior desafio concorrencial, mas também pela nova conjuntura macroeconômica propiciada pelo crescimento do PIB no primeiro mandato do governo Lula e sancionada pela maior disposição por parte dos bancos nacionais em aumentar seu market share.

Page 16: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Gráfico 3: Razão Títulos e Valores Mobiliários/Ativ o por

Região e Brasil 2000 a 2008

0,000

0,005

0,010

0,015

0,020

0,025

0,030

0,035

0,040

0,045

0,050

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Região Sul Região Sudeste Região Nordeste

Região Norte Região Centro-Oeste Região Centro-Oeste S/DF

Brasil

Fonte: Fonte: BCB- ESTBAN

Pelo lado do passivo, o Gráfico 4 apresenta a distribuição do passivo exigível (isto é a soma dos depósitos à vista privado, depósitos à vista dos governos e depósitos à prazo) por região. Os dados mostram que a região Sudeste concentrou a maior parcela do volume de depósitos, alcançando mais de 60% do total em média no período. Tal concentração é um indício de que as regiões menos dinâmicas sofrem um enfraquecimento do crédito local, na medida em que tende a ocorrer o vazamento de depósitos. Ou seja, dado uma geração primária de crédito, a moeda escritural criada poderá “ser transferida” para a região provedora de bens e serviços que na maioria dos casos é a região mais dinâmica.

Gráfico 4: Participação do Volume de Depósitos por Região 200 0 a 2008

0,000

0,100

0,200

0,300

0,400

0,500

0,600

0,700

0,800

0,900

1,000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Região Sul Região Sudeste Região Nordeste Região Norte Região Centro-Oeste

Fonte: BCB- ESTBAN.

Page 17: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Nesse contexto, observa-se que as desigualdades estruturais reforçam-se em desigualdades financeiras tendendo a ampliar as primeiras. Poder-se-ia intuir que, tanto a curto como a longo prazo, os multiplicadores dos meios de pagamento em níveis regionais serão afetados pelos vazamentos de fluxos financeiros das regiões menos desenvolvidas para a mais desenvolvida, com efeitos positivos sobre a oferta de crédito nestas últimas e negativos nas regiões menos dinâmicas. Desse modo, também pode-se concluir que esse processo a longo prazo reforça o caráter de divergência do crescimento das regiões ampliando as desigualdades existentes. O indicador de preferência de liquidez (definida como depósito à vista do setor privado e do governo, dividido pelas operações de crédito total), é apresentado no Gráfico 5. A menor preferência de liquidez entre as regiões é observada na região Sudeste, sendo seguido pela região Sul. A região Norte apresentou a maior preferência de liquidez, que evoluiu de forma decrescente após 2002. Já a região Nordeste, registrou crescimento da preferência pela liquidez até 2002 e ratificou a manutenção desse patamar até o final do período. Os acréscimos da preferência de liquidez nessa região são pari passu acompanhados por aumento da escassez relativa de crédito, conforme já observado na Tabela 1 pela queda na participação do crédito da região no crédito total em 2008. No geral, o comportamento dos índices de preferência pela liquidez permite confirmar a hipótese segundo a qual a preferência de liquidez tende a ser maior em regiões menos desenvolvidas. Teoricamente isto se justifica pois em regiões de menor grau de desenvolvimento, as agências bancárias tendem a ser mais cautelosas em ofertar crédito devido à maior possibilidade de se perder reservas em relação às filiais que estão localizadas em áreas mais dinâmicas.

Gráfico 5: Índice de Preferência pela Liquidez 2000 a 2008

0,0000

0,1000

0,2000

0,3000

0,4000

0,5000

0,6000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Região Sul Região Sudeste Região Nordeste

Região Norte Região Centro-Oeste Região Centro-Oeste S/ DF

Fonte: BCB-ESTBAN A evolução do número de agências bancárias indica em que medida está avançando a capilaridade do atendimento bancário nos municípios brasileiros. A Tabela 4 mostra um avanço do número total de agências para as regiões Nordeste, Norte. No entanto, em nível de Brasil a totalidade de agências bancárias pouco se alterou de 2000 a 2008, ou seja, o crescimento verificado nessas regiões foi pulverizado pelo decréscimo de participação das agências bancárias nas regiões Sul e Sudeste. Apesar da queda

Page 18: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

de participação das agências localizadas na região Sudeste, esta continuou reunir mais de 50% do volume de agências bancárias no país.

Tabela 4: Número de Agências Bancárias por Região e Brasil 2000, 2004 e 2008

Regiões 2000 2004 2008

SE 8898 9300 8700

S 3365 3482 3242

N 557 643 872

NE 2317 2495 2542

CO 1190 1303 1188

Brasil 16327 17223 16544

Fonte: BCB-ESTBAN O Gráfico 6 complementa a Tabela 4 mostrando qual a participação do Ativo médio por agência em relação à média do Brasil. Apesar do número de agências bancárias ter aumentado nas regiões Nordeste e Norte, a razão ativo médio destas regiões em relação ao Brasil caiu a metade. As agências bancárias da região Sul mantiveram a proporção do volume médio de ativos em relação à média nacional, considerando os anos extremos, e a região Sudeste, cujo ativo médio era o dobro do nacional em 2000, aumentou sua proporção em 50%, em 2008. Gráfico 6: Participação % do Ativo médio por agênci a em relação à média Brasil

e participação % do número de agências por regiões 2000, 2004 e 2008

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Proporção

Ativo/no.

agencia em

relação Brasil

2000

no. agencias Proporção

Ativo/no.

agencia em

relação Brasil

2004

no. agencias Proporção

Ativo/no.

agencia em

relação Brasil

2008

no. agencias

Região Sudeste Região Sul Região Norte Região Nordeste Região Centro-Oeste S/DF

Fonte: BCB-ESTBAN Em suma, o conjunto de evidências empíricas mostradas nesta seção confirmam a manutenção da forte concentração bancária na região mais desenvolvida nos anos 2000, reforçando o caráter da desigualdade regional. Como argumentado na seção 3, esta concentração implica que estratégias de atuação da firma bancária são traçadas conforme a percepção de oportunidades das regiões mais desenvolvidas, perpetuando as desigualdades econômicas e limitando a funcionalidade do sistema bancário para reduzir a desigualdade regional.

Page 19: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

5. Determinantes da oferta de crédito à pessoa jurí dica por região nos anos 2000-2008 A literatura recente sobre oferta de crédito regional no Brasil permite extrair um conjunto de variáveis explicativas para elaborar um modelo de determinação do crédito à empresas com dados em painel a nível regional15. O ponto de partida para o modelo teórico pode ser expresso como:

Cit= c + β1 X it + εit (5.1)

Na equação (5.1) o subscrito i indica a unidade federativa, t o tempo e � é o termo que representa o erro da estimativa. A variável dependente C - média anual do volume de operações de crédito da pessoa jurídica é explicada por um termo c , constante, e um vetor X que representa o conjunto de variáveis explicativas a serem testadas. A discussão teórica apresentada nas seções 2 e 3, sobre o circuito finance-funding e a teoria da preferência pela liquidez dos bancos a nível regional, de inspiração pós keynesiana, fornece um guia para a escolha do conjunto apropriado de variáveis para se estimar os determinantes da oferta de crédito para as pessoas jurídicas nas regiões do Brasil nos anos de 2000 a 2008. A base desta teoria é o argumento de que bancos interagem com firmas ofertando recursos conforme sua percepção de ganhos monetários. Esta percepção envolve basicamente dois condicionantes: de um lado, as expectativas e grau de confiança associado aos ganhos futuros, e de outro, avaliações sobre aplicações alternativas dos recursos. O conceito de preferência pela liquidez atende ao primeiro condicionante, e deve ser traduzido em uma medida que expresse o quanto a instituição bancária está disposta a comprometer seus ativos líquidos (depósitos à vista) em operações de empréstimo. Supõe-se que à medida em que a percepção sobre o futuro seja mais pessimista e o grau de confiança sobre as expectativas mais incerto, o comportamento racional dos bancos é aumentar sua preferência pela liquidez, ou seja, mover-se para aplicações mais líquidas e de menor risco. Expectativas mais otimistas sobre o futuro e com menor grau de incerteza, ou seja, mais confiança, deve mover instituições bancárias na direção de ofertar mais crédito. De acordo com Cavalcante (2006), uma medida de preferência pela liquidez dos bancos deve captar o quanto o banco decide disponibilizar de seus ativos de maior prazo em relação a suas obrigações mais imediatas. Esse indicador é amplamente utilizado nos modelos que tratam dos determinantes do crédito. A decisão sobre o montante de recursos a disponibilizar para empréstimo depende também da alocação alternativa dos recursos. Neste sentido a avaliação sobre aplicações alternativas deve levar em conta a taxa básica de juros da economia, pois é ela a referência para empréstimos entre instituições financeiras e para a remuneração de títulos públicos16. Além de variáveis que captam o princípio básico que move a motivação das instituições bancárias para ofertar crédito às empresas, cabe considerar também fatores especifícos do desenvolvimento do sistema bancário. Neste sentido assume-se que a oferta de crédito depende também do grau de desenvolvimento do sistema

15 Ver por exemplo, Cavalcante, Crocco e Jayme Jr (2006), Romero e Jayme Jr (2009), Fucidji e Mendonça (2009), Freitas e De Paula (2010), Crocco (2010), Crocco et all (2011), entre outros. 16 Esta variável foi utilizada por Fucidji e Mendonça (2009).

Page 20: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

bancário nas regiões, que pode ser avaliado, dentre outras medidas, pelo volume de depósitos à vista. Esta medida estaria expressando não só a disponibilidade de serviços bancários, mas também o grau de confiança do público nas instituições bancárias17. A elevada desigualdade na distribuição do crédito no país, implica assumir, conforme o princípio da causação circular cumulativa, que regiões mais desenvolvidas economicamente devem receber maior volume de crédito justamente por serem mais desenvolvidas. Na medida em que isto se verifica, mais se acentua a desigualdade econômica. Neste sentido, uma medida que expresse a desigualdade na distribuição do crédito deve ser incluída no modelo. Além disso, a demanda por crédito também exerce efeito sobre a oferta, e da mesma forma terá impacto diferenciado por região. O efeito demanda pode ser captado pelo tamanho da economia, ou seja, pelo PIB do país/região18. Uma primeira aproximação sobre as variáveis a serem testadas no modelo empírico de oferta de crédito às empresas, de acordo com os argumentos acima, pode ser escrito como19:

Cit= c + β1PLit + β2 SELICit + β3 DVit + β4IRCit + β5 PIBit + εit (5.2) - C - volume de operações de crédito à pessoa jurídica; - PL - preferência pela liquidez, - SELIC - taxa básica de juros da economia; - DV - volume depósitos à vista do setor privado; - IRC – índice regional de crédito - PIB – Produto Interno Bruto de cada estado da federação. 5.1. Procedimentos Metodológicos: base de dados e m étodo de estimação Uma das contribuições desta pesquisa é a utilização das informações primárias obtidas a partir do balanço de agências bancárias disponíveis no banco de dados Estatísticas Bancárias por Municípios – ESTBAN, do Banco Central do Brasil para a construção de parte das variáveis explicativas utilizadas no modelo empírico. Esta fonte apresenta dados mensais de agências bancárias presentes em 3.465 municípios do país, a partir dos anos 200020. Como os dados estão disponíveis mensalmente foram calculadas médias anuais. As informações de oferta de crédito discriminado em pessoas jurídicas e pessoas físicas só estão disponíveis por estado, e foram extraídas do Sistema Gerenciador de Séries Temporais – SGS – do Banco Central do Brasil21. Para compatibilizar as informações do ESTBAN com as do SGS, agrupou-se os dados de municípios por 17 Ver exemplos em Cavalcante, Crocco e Jayme Jr (2006), Romero e Jayme Jr (2009), Fucidji e Mendonça (2009). 18 Esta variável foi utilizada por Cavalcante, Crocco e Jayme Jr (2006). 19 Para a descrição detalhada da construção das variáveis empíricas ver Apêndice B. 20 A base de dados inicia em 1994, porém entre 1994 e 1999 somente são apresentados os dados do mês de dezembro e de apenas 6 contas, enquanto que no período de 2000 a 2008 são apresentado dados mensais e para 83 contas. É uma fonte empírica ainda pouco explorada para estudos de estimativa da oferta de crédito. Ver Apêndice B para maiores detalhes sobre as contas utilizadas. 21 Estas informações foram compatibilizadas com as da base ESTBAN, ver Apêndice B para detalhes. Vale mencionar ainda que no banco de dados ESTBAN consta apenas a informação sobre o volume total de crédito sem a distinção entre pessoa física e jurídica.

Page 21: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

estados. As séries referentes ao PIB das unidades federativas e da taxa de juros SELIC foram retidas do IPEADATA. O banco de dados construído para gerar o painel de dados para a análise empírica abrange o período 2000-2008, totalizando no máximo 243 observações para cada uma das variáveis selecionadas. Uma vez construída a base de dados, seguindo Morettin (2004), foram feitas as transformações necessárias nas séries antes de utilizá-las. O teste de raiz unitária (resultados no Apêndice C) indicou a presença da mesma em todas as séries Portanto, utilizou-se as informações em primeira diferença e aplicou-se o logaritmo neperiano (Ln) das variáveis para minimizar a variância. Para as estimativas em nível nacional o custo para realizar tal procedimento implicou perda de 27 observações, ficando a amostra com 216 observações remanescentes. No caso das regressões para as regiões a perda de observações na amostra é proporcional ao número de estados em cada região. A região Sul, com apenas 3 estados, apresentou o menor número de observações. O método de estimação usado foi o de regressões com dados em painel, que são estimativas que combinam dados em séries temporais com cross-section (Greene, 1997). O método para estimar as regressões utilizado foi por mínimos quadrados generalizados – MQG. Este método foi escolhido porque a estimação por MQG é mais robusta aos problemas de heterocedasticidade e de correlação em série (Wooldrige, 2002). A técnica consiste na transformação do modelo original em relação à tendência heterocedástica, com o objetivo de obter um novo termo de erro, não auto-correlacionado e homocedástico22. A matriz de variância dos coeficientes foi estimada com a versão robusta à presença de heterocedasticidade através dos períodos. Em uma análise de painel, algumas alternativas de modelagem podem ser utilizadas, dentre elas modelos de efeito fixo e de efeito aleatório. A estimação por efeitos fixos possibilita levar em conta a individualidade de cada estado brasileiro. Neste caso os coeficientes angulares são constantes, porém o intercepto varia entre as unidades de análise, ou seja, entre as unidades da federação. O modelo possibilida levar em conta a existência de fatores não observáveis ligados as idiossincrazias de cada estado tais como aspectos históricos, culturais e sociais, que não variam no tempo e são correlacionados com as variáveis explicativas, fazendo com que as informações não sejam independentemente distribuídas. Já na estimação com efeitos aleatórios o intercepto é suposto ser aleatório, sendo descrito por uma distribuição de probabilidade, ou seja, o tamanho do efeito populacional é uma variável aleatoriamente distribuída com média e variância próprias. A escolha do modelo mais consistente (efeitos fixos ou efeitos aleatórios) é feita com a utilização do teste de Hausman. 5.2 Resultados Os resultados das regressões estão apresentadas nas Tabelas 5 e 6. Na Tabela 5, apresenta-se os resultados das estimações para o Brasil para os dois períodos (2000-2008 e 2005-2008). A Tabela 6 apresenta os resultados para as regiões, os quais foram estimados para o período de 2000-2008. 5.2.1 Resultados para o Brasil

22 De acordo com Wooldridge (2002) a utilização de MQG transforma a equação orginal em um estimador não viesado e, portanto, consistente.

Page 22: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

A Tabela 5 apresenta duas estimativas para o período 2000-2008 e três para o período 2005-2008. A diferença entre elas diz respeito à introdução de novas variáveis explicativas na equação (5.2) na intenção de melhorar a explicação do comportamento do crédito às empresas. Nesse sentido foram testadas: - a razão Depósitos à prazo sobre Passivo - DPP; - a razão Ativo total sobre PIB – ATPIB e - o volume de crédito à pessoa física CPF. No primeiro caso o objetivo foi avaliar a hipótese de que uma maior proporção de depósitos à prazo indica maior disponibilidade de crédito. Vale observar que testou-se a razão Depósito à vista sobre Passivo na especificação para Brasil, e o resultado não foi significativo. No segundo caso o objetivo foi testar se uma alta participação do ativo dos bancos no PIB, indicando uma maior consolidação do sistema financeiro na estrutura produtiva, implica uma maior disponibilidade de crédito23. Por fim, o volume de crédito à pessoa física foi introduzido para se avaliar se a concessão de crédito nesta modalidade concorre com o crédito à pessoa jurídica. Neste caso, diferentemente das outras duas variáveis, a expectativa é que a relação seja negativa. A representação do modelo econométrico empírico para o Brasil é:

Cit= c + β1PLit + β2 SELICit + β3 DVit + β4IRCit+ β5 PIBit + β6DPPit + β7ATPIBit + β8CPFit + fi + εit (5.3)

Na equação (5.3) fi é o efeito específico de cada unidade federativa. Para a escolha da técnica mais apropriada – se efeitos fixos ou efeitos aleatórios- aplicou-se o teste de Hausman. Sob a hipótese nula, os estimadores do modelo com efeitos aleatórios (estimação MQG) são consistentes e eficientes. Sob a hipótese alternativa, os estimadores MQG com efeitos aleatórios são não consistentes, mas os estimadores com efeitos fixos são. O resultado do teste de Hausman24 rejeita a hipótese nula de que o modelo de efeitos aleatórios é consistente tanto para o período de 2001-2008 como para o período de 2005-2008. Sendo rejeitada a hipótese de que o modelo de efeitos aleatórios é consistente, então o modelo de efeitos fixos é consistente.

23 Crocco et all (2011, p. 298), seguindo argumentos de Dow e Fuentes (2006), utilizam esta razão (ATPIB) para medir a relação entre desenvolvimento do sistema financeiro e crescimento econômico de uma região. 24 No Apêndice C (Tabela C2) encontram-se os resultados para Brasil por efeitos aleatórios.

Page 23: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Tabela 5: Resultados das estimações para o Brasil p or MQG – efeitos fixos Variável dep.: Crédito Pessoa 2001-2008 2005-2008 Constante -0,0218 -0,0241 -0,0301 -0,0258 0,0793 (-3,233)* (-3,490)* (-3,641)* (-3,116)* (7,289)* Preferência pela liquidez (PL) -0,3065 -0,3459 -0,2380 -0,1783 -0,1587 (-5,032)* (-5,430)* (-2,873)* (-3,026)* (-2,878)* Selic (SELIC) -0,1619 -0,1063 -0,1762 -0,1764 -0,3391 (-4,964)* (-4,280)* (-3,423)* (-4,847)* (-12,119)* Depósitos a Vista (DV) 0,2639 0,2719 0,3574 0,2259 0,1578 (2,335)* (2,347)* 3,5178* (2,618)* (2,107)** Índice Regional de Crédito (ICR) 0,7125 0,7014 0,8205 0,9051 1,5724 (8,303)* (9,051)* (9,571)* (17,456)* (18,116)* PIB (PIB) 0,6034 0,6078 1,1916 1,2039 1,8726 (7,271)* (8,575)* (7,037)* (6,214)* (10,584)* Ativo/PIB (ATPIB) 0,0336 0,0525 0,0366 (2,867)* (3,705)* (3,037)* Depósitos a Prazo/Passivo (DPP) 0,0751 0,0888 0,0812 (5,352)* (4,774)* (5,167)* Crédito Pessoa Física (CPF) -0,6803 (-8,537)* N 216 216 108 108 108 R2 0,90 0,92 0,90 0,93 0,96 DW 1,96 2,00 2,08 2,13 2,36 SSR 1,0229 0,8396 0,3126 0,2003 0,1104 F 55,51 64,73 22,12 30,72 60,01 Prob.(F) 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000

Fonte: Elaboração própria, resultados das estimações. * Significativo a 5%. ** Significativo a 10%. *** Significativo a 20%.

Todos os coeficientes das variáveis da primeira especificação do modelo (eq. 5.2) foram significativos e os sinais encontrados foram os esperados. As estatísticas t são apresentadas entre parênteses. A variável preferência pela liquidez (PL), na primeira coluna (2001-2008), com o coeficiente de –0,3065, indica que um aumento de 1% no índice de preferência pela liquidez leva a uma queda de 0,3065% no montante de crédito destinado à pessoa jurídica. Comparando os coeficientes do primeiro subperíodo com o do segundo, nota-se que houve uma queda no seu valor absoluto, indicando que o efeito negativo dessa variável passou a ser menor nos últimos anos em relação ao período que inicia em 2001. Este resultado é consistente com a melhora no ambiente macroeconômico de maior crescimento, ou seja, bancos devem reduzir sua preferência pela liquidez na medida em que percebam um cenário macroeconômico com maior crescimento e maior estabilidade. Quanto ao efeito negativo da taxa de juros (SELIC), diferente da variável PL, comparando os coeficientes encontrados no período de 2001 a 2008 com aqueles encontrados no período de 2005-2008 nota-se que houve aumento no seu valor absoluto no segundo período. Isto implica dizer que nos últimos anos o efeito negativo da taxa de juros sobre as operações de crédito para a pessoa jurídica foi maior em relação ao período que iniciou em 2001. Vale lembrar que após 2003 houve queda na taxa SELIC até 2007, a partir de quando esta taxa volta a subir. No entanto, os resultados dos coeficientes da taxa de juros mostram que essa queda não resultou em efeito de melhora na relação com o volume de operações de crédito destinado à pessoa jurídica.

Page 24: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

A variável volume de depósitos à vista (DV) é positivamente relacionada ao volume de operações de crédito para pessoa jurídica, pois quanto maior o volume de depósitos, maior tende a ser o volume de crédito disponível. Ademais, independentemente do destino dos recursos, estes são computados como depósitos à vista para os agentes receptores do crédito. Assim, os bancos, reforçando o argumento pós keynesiano da oferta de moeda endógena, fornecem poder de compra às empresas via geração do crédito bancário através da criação de moeda escritural. Os resultados apresentados na primeira coluna mostram que para cada 1% de aumento nos depósitos a vista o volume das operações de crédito para pessoa jurídica cresce 0,2639%. Comparando os coeficientes do primeiro subperíodo com o do segundo (terceira coluna) nota-se que este passa a ser relativamente maior, 0,3574. Já no modelo que inclui as variáveis ATPIB e DPP (segunda e quarta colunas) os coeficientes apresentam valores relativamente menores. O sinal esperado para a variável índice regional de crédito (IRC) é ambíguo. Se positivo, indica que quanto maior for o IRC maior tenderá a ser o volume de operações de crédito, reforçando a concentração do crédito. No entanto, um crédito muito concentrado pode implicar menos oportunidades de ganho devido à maior concorrência, e portanto sinalizar na direção da busca de outras oportunidades, e se em direção ao circuito financeiro, ratifica a esterilidade dessas instituições como fonte provedora de recursos para o financiamento produtivo. O resultado encontrado foi positivo, mostrando que a maior concentração do crédito nos dois períodos analisados favorece a sua expansão. Tal resultado confirma a hipótese de que as regiões mais desenvolvidas recebem maior volume de crédito justamente por serem mais desenvolvidas. É bastante significativo também o fato de que o coeficiente desta variável é maior no período de maior crescimento, corroborando mais uma vez a idéia de que o sistema financeiro, altamente concentrado nas regiões mais economicamente desenvolvidas, reforça a desigualdade na distribuição do crédito à pessoas jurídicas. A variável PIB, juntamente com IRC, apresenta impacto relativamente elevado na explicação do comportamento da oferta de crédito às empresas. O coeficiente encontrado na primeira coluna indica que um aumento de 1% no PIB gera um aumento de 0,6034% no volume de operações de crédito para pessoa jurídica. Este coeficiente aumenta em relação ao período 2005-2008 indicando, coerentemente, um maior efeito da demanda agregada sobre a oferta de crédito às empresas a medida em que a economia apresentou maior dinamismo. Na segunda especificação do modelo para o período 2001-2008 (segunda coluna), além das variáveis presentes na equação (5.2), incluiu-se também a variável depósitos à prazo sobre o Passivo (DPP) para se avaliar a importância da captação de depósitos à prazo sobre a oferta de crédito à pessoas jurídicas. Como esperado, os resultados mostram que esta variável tem uma relação positiva com o volume de operações de crédito para pessoa jurídica, porém seu coeficiente é relativamente baixo em todas as especificações. Essa indicação sugere que os depósitos a prazo não são utilizáveis de forma robusta para o alongamento dos prazos dos empréstimos, ou seja, enfraquecendo o funding de origem privado no circuito financeiro. Também na segunda especificação do modelo para o período 2001-2008 (segunda coluna), assim como nas duas últimas para o período 2005-2008 (quarta e quinta colunas), incluiu-se a variável ativo total sobre o PIB (ATPIB). O sinal obtido foi o esperado, ou seja, uma maior participação do ativo dos bancos no total de riqueza gerada implica uma maior disponibilidade de crédito. Apesar de significativo, os coeficientes encontrados foram relativamente baixos. Nesse contexto, ratifica-se a

Page 25: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

desconstrução da tese voltado para o tamanho do sistema bancário para explicar a dinâmica da oferta creditícia. A última variável testada foi o crédito para pessoa física (CPF) (última coluna). Esta variável foi incluída para avaliar em que medida o crédito à pessoa física, estimulado pelo crédito consignado após 2005, concorre com o crédito a pessoa jurídica. O resultado mostra que para o período de 2005 a 2008 para cada 1% de aumento no crédito destinado a pessoa física ocorre redução de 0,6803% no crédito destinado a pessoa jurídica. Esta variável não só passou a ter o maior peso negativo para explicar o comportamento da oferta de crédito às empresas, como também afetou o coeficiente da variável SELIC que passou a ser maior do que o da PL. Dessa forma, intue-se que os bancos se lançaram em direção à preferência por rentabilidade visto que o crédito à pessoa física possui taxas de juros mais elevadas que a do setor empresarial. Uma avaliação geral da estimação dos determinantes do crédito para pessoa jurídica para Brasil em ambos os períodos permite concluir que as variáveis com maior impacto positivo para explicar o comportamento do crédito bancário às empresas foram o PIB, o índice regional de crédito (IRC) e o depósito a vista (DV). Esse resultado confirma que o crédito no país é concentrado e que sua dinâmica depende do dinamismo da economia, em particular das regiões mais desenvolvidas. Apesar da taxa de juros real do Brasil ser uma das mais elevadas do mundo, a variável taxa de juros (SELIC) não foi a de maior peso negativo para explicar o comportamento do crédito às empresas e sim a variável preferência pela liquidez (PL), à exceção da estimativa com especificidade para o crédito à pessoas físicas. A maior importância relativa da preferência pela liquidez para explicar o comportamento do crédito às empresas reforça a idéia de que o principal guia a orientar decisões de alocação de recursos das instituições bancárias é a avaliação quanto a sua percepção sobre retorno esperado. 5.2.2 Resultados para as Regiões A Tabela 6 apresenta os resultados das estimativas para as cinco regiões do país, para o período 2000-2008. Foram listados apenas os coeficientes da equação 5.3 que se mostraram significativos. As variáveis regredidas foram as mesmas apresentadas na equação para Brasil, com exceção da região Sudeste, onde a variável IRC não se mostrou significativa e foi substituída pela variável indicador de gap regional de crédito - IGRC.25 Esta variável, assim como o IRC, é uma medida da desigualdade26 entre a proporção do crédito de uma região e do PIB regional em relação ao Brasil.

25 Para a descrição de como esta variável foi construída, ver Apêndice A. 26 Em um sistema bancário com elevada concentração regional a relação entre a variável indicador de gap regional de crédito - IGRC e a oferta de crédito é positiva.

Page 26: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Tabela 6: Resultados das estimações para as Regiões – 2001-2008 Variável dep.: Crédito Pessoa SE S N NE CO Efeitos Fixos (EF)/Efeitos Aleatórios (EA) EF EA EF EF EF Constante -0,0033 -0,0184 -0,0378 -0,0191 -0,0260 (-1,632)*** (-9,086)* (-6,156)* (-2,590)* (-3,229)* Preferência pela liquidez (PL) -0,7804 -0,9508 -0,2824 -0,3532 -0,8833 (-53,573)* (-12,838)* (-5,503)* (-4,914)* (-46,944)* Selic(SELIC) -0,1306 -0,0703 -0,2317 (-3,192)* (-4,827)* (-8,673)* Depósitos a Vista(DV) 0,5859 0,9314 0,3175 0,9354 (9,019)* (10,319)* (7,484)* (37,268)* Índice Regional de Crédito(IRC) 0,8045 0,4602 (15,831)* (5,223)* PIB(PIB) 0,1892 0,5989 0,4061 0,0885 (3,001)* (11,744)* (1,910)** (1,532)*** Ativo/PIB(ATPIB) 0,0102 0,0331 0,0509 0,0730 (3,493)* (1,987)** (3,574)* (4,685)* Depósitos a Prazo/Passivo(DPP) 0,0437 0,0718 0,0720 0,0616 (2,496)* (3,662)* (3,163)* (2,441)* Indicador de Gap de Crédito(IGRC) 1,2374 (11,433)* N 32 24 56 72 32 R2 0,98 0,95 0,99 0,83 0,97 DW 2,74 1,27 2,00 1,72 1,82 SSR 0,0175 0,0127 0,1472 0,2300 0,0850 F 120,69 91,710 229,36 19,55 82,36 Prob.(F) 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 Hausman-Chi2 0,334 Prob.>Chi2 0,987

Fonte: Elaboração própria, resultados das estimações. * Significativo a 5%. ** Significativo a 10%. *** Significativo a 20%.

O resultado do teste de Hausman para as estimações para as regiões rejeita a hipótese nula de que o modelo de efeitos aleatórios é consistente, com exceção da região Sul27, e neste caso os resultados foram estimados pelo modelo de efeitos aleatórios, e demais regiões pelo modelo com efeitos fixos. Em relação à região Sudeste no período 2000-2008, as variáveis preferência pela liquidez (PL), SELIC, depósitos à vista (DV) e índice de gap de crédito (IGRC) e depósito a prazo sobre passivo (DPP) foram significativas. IGRC apresentou o maior coeficiente com impacto positivo para explicar o crédito na região no período, ou seja, um aumento de 1% na participação do crédito dos estados mais ricos da região em relação aos seus respectivos pesos na economia implica um aumento de 1,2374% no volume de crédito às empresas. A segunda variável com impacto positivo foi DV, indicando como significativa a interação bancos e público na região, como era de se esperar. A variável DPP também se mostrou significativa, porém com impacto menor. O coeficientes da preferência pela liquidez (PL) foi relativamente alto, quando comparado com as estimativas para Brasil no mesmo período. A taxa básica de juros (SELIC) apresentou coeficiente próximo das estimativas para Brasil. Na região Sul a variável taxa de juros SELIC não foi significativa, e portanto a preferência pela liquidez PL foi quem capturou o impacto negativo sobre o crédito às empresas: um aumento de 1% na preferência pela liquidez leva a uma queda de 27 Ver resultados dos coeficientes do modelo de efeitos aleatórios para as demais regiões do Brasil no Apêndice C (Tabela C3).

Page 27: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

0,9508% no volume de operações de crédito para a pessoa jurídica. O destaque para a preferência pela liquidez na estimação dos coeficientes para a região Sul pode ser interpretado como expressão da especificidade da economia da região, que mesmo sendo relativamente desenvolvida, apresenta como característica a forte presença da agropecuária, agroindústrias e de indústrias ligadas a setores tradicionais. A concessão do crédito às empresas apresenta assim uma dinâmica diferenciada em relação à região Sudeste, mais diversificada, e onde se concentra o centro financeiro do país. O maior valor absoluto do coeficiente da variável PL na região Sul em relação à Sudeste confirma a hipótese de que em regiões menos desenvolvidas relativamente a preferência pela liquidez tende a ser maior. A variável DV, indicadora da forte atividade bancária na economia da região, foi a de maior valor a contribuir positivamente para a oferta de crédito às empresas, seguida de PIB e ATPIB. A variável IRC não foi significativa. A região Norte apresentou coeficientes significativos para todas as variáveis. A variável preferência pela liquidez (PL) foi a de maior coeficiente a influir negativamente no crédito às empresas, porém, seu valor absoluto foi menor do que o observado nas regiões Sudeste e Sul, porém próximo da estimativa para Brasil. Para qualificar melhor a observação em relação às regiões Sudeste e Sul deve-se levar em conta a importância da penetração da atividade bancária na região, que é indicada no modelo pela variável depósito à vista (DV). O coeficiente desta variável foi o terceiro em importância para explicar o comportamento do crédito a pessoas jurídicas, ficando atrás do IRC e do PIB. Desse modo, seria possivel que a sensibilidade da medida de PL como um indicador de racionamento de crédito dependesse de uma medida de grau de bancarização na região. Como este grau pode ser relativamente baixo na região Norte, o crédito à atividade produtiva deve ser concentrado em atividades consolidadas, com retorno menos incerto. Se este raciocínio pode ser sustentado, então a conclusão é que a preferência pela liquidez deve ser relativamente baixa, o que não significa um maior direcionamento do crédito para atividades produtivas na região, nem tampouco menor racionamento do crédito relativamente às regiões mais desenvolvidas. Corrobora esta observação também o fato de o coeficiente do IRC ser elevado. Os coeficientes de ATPIB e DPP também foram significativos, porém com menor importância explicativa, assim como a variável SELIC, esta com sinal negativo. Na região Nordeste assim como na região Norte, o coeficiente para preferência pela liquidez (PL) foi relativamente baixo comparado com as regiões Sudeste e Sul. Uma diferença contudo em relação ao modelo da região Norte é que a variável depósito à vista (DV) não foi significativa. Vale registrar também que o coeficiente da variável taxa de juros, SELIC, foi o mais elevado em comparação às demais regiões. O coeficiente de IRC apontou para a importância na concentração econômica entre os estados da região, com efeito positivo para a expansão do crédito às empresas, assim como o coeficiente da variável PIB. Os coeficientes das variáveis ATPIB e DPP também foram significativas, porém com valores absolutos relativamente menor também. A região Centro Oeste apresenta como característica econômica importante a concentração da administração pública federal, o que distorce as estatísticas bancárias na região que são fortemente influenciadas pela elevada renda dos residentes no Distrito Federal. Com isso o poder explicativo dos coeficientes é reduzido, dado que parte significativa da renda e riqueza geradas no Centro Oeste não se originam da atividade produtiva. De fato, apenas as variáveis PL, DV, ATPIB e DPP mostraram ser significativas, sendo os coeficientes das duas primeiras com valores absolutos relativamente maiores.

Page 28: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Uma avaliação geral da estimação dos determinantes do crédito para pessoa jurídica para as regiões mostrou que a única variável presente em todas as estimativas foi a preferência pela liquidez. Esta medida é um indicador do grau de racionamento de crédito e portanto ratifica que todas as regiões estão sujeitas a algum grau de racionamento pela atuação da firma bancária. Além disso, esta variável foi a que apresentou o maior coeficiente negativo em todas as especificações à frente da taxa de juros SELIC, que não foi significativa no Sul e no Centro Oeste. Observou-se também que o coeficiente da variável PL foi maior nas regiões Sudeste e Sul e menor nas regiões Norte e Nordeste, ou seja, 1% de aumento nesta variável nas regiões mais desenvolvidas apresenta um impacto mais negativo sobre a oferta de crédito às firmas nestas regiões do que nas menos desenvolvidas. Como teoricamente supõe-se que a preferência pela liquidez seja maior nas regiões menos desenvolvidas, uma explicação para tal resultado pode ser a de que a penetração da atividade bancária ainda é relativamente pequena nas regiões Norte e Nordeste (como visto na Tabela 1, observando ainda que a região Centro Oeste, também com baixa penetração bancária, tem um comportamento bancário diferenciado pela presença do Distrito Federal) e portanto a atuação dos bancos deve se concentrar em negócios já consolidados, com retornos e garantias mais certos. Assim, o menor coeficiente da PL nas regiões Nordeste e Norte, na realidade pode estar representando uma maior exclusão financeira nestas regiões. Um indicativo de maior exclusão financeira pode também ser visto pelo impacto diferenciado da taxa de juros SELIC nas regiões Sudeste e Nordeste, como apontado no modelo de regressão. Os resultados mostram que na região Sudeste para cada 1% de aumento na taxa SELIC ocorre uma queda de 0,1306% no volume de operações de crédito para a pessoa jurídica, e de 0,2317% na região Nordeste. Ou seja, variações no custo do crédito impactam mais a região menos desenvolvida. Neste contexto entende-se que regiões menos desenvolvidas apresentam maior tendencia dos bancos a buscar a maximização de lucros via circuito financeiro (ver, por exemplo, o comportamento da razão TVM/Ativo, no Gráfico 3, nas regiões Norte e Nordeste até 2005), reduzindo sua atuação no circuito produtivo. A variável depósitos à vista, DV, com efeito positivo sobre o volume de operações de crédito, foi significativa em todas as regiões menos no Nordeste. O maior coeficiente nas regiões Sudeste e Sul em relação ao Norte indica que o processo de criação de moeda escritural nas regiões mais dinâmicas tende a ficar contido nestas regiões. Assim, o aumento de 1% nos depósitos à vista no Sudeste, por exemplo, tem um impacto positivo de 0,5859% no volume de operações de crédito para pessoa jurídica na região, enquanto o mesmo impacto no Norte é de 0,3175%, indicando que pode ocorrer vazamento de depósito para outras regiões. O elevado grau de concentração do crédito levou a que se testasse a variável índice regional de crédito, IRC, que foi significativa no Sudeste (com a variável IGRC), Norte e Nordeste, e com sinal positivo, ou seja, um aumento no crescimento da região tende a aumentar a oferta de crédito à firmas da região. O PIB, como proxy da demanda por crédito, foi significativo em todas as regiões, menos na Sudeste, sendo seu impacto maior nas regiões Norte e Nordeste. Demais variáveis testadas, ATPIB e DPP, pouco diferenciaram o comportamento do crédito à pessoas jurídicas entre as regiões. 6. Consideração Final A determinação da oferta de crédito às empresas nas regiões do país nos anos 2000 foi analisada à luz da teoria da firma bancária pós keynesiana. Neste contexto teórico, o entendimento é o de que um sistema financeiro desenvolvido cumpre a função de

Page 29: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

prover liquidez em volume, prazos e condições de forma a satisfazer às necessidades de financiamento de firmas, ou seja, deve ser funcional. A firma bancária neste modelo teórico não é uma mera alocadora de poupança previamente acumulada, mas tem a capacidade de criar oportunidades de financiamento, de acordo com suas expectativas em relação aos retornos esperados. Esta perspectiva de análise teórica enfatiza a interdependência entre oferta e demanda por crédito, assumindo que a oferta de crédito é influenciada tanto pela preferência pela liquidez dos bancos quanto pelo estágio de desenvolvimento bancário na região. Dito de outra forma, esta perspectiva analítica abre espaço para se discutir se, em um ambiente econômico de elevada desigualdade no grau de desenvolvimento entre as regiões, as estratégias bancárias nacionais são adequadas ao desenvolvimento regional. Com este pano de fundo teórico, a análise empírica dos condicionantes da oferta de crédito às firmas nos anos 2000, levando em conta as diversidades do ambiente econômico nas regiões, permitiu identificar diferenças significativas na lógica de atuação dos bancos nas regiões, conforme apresentado ao longo do artigo. Neste sentido, este artigo apontou os determinantes do crédito para pessoa jurídica no Brasil e nas regiões geográficas, assinalando diferenças regionais nas explicações para determinar a oferta de crédito, bem como nas implicações dos comportamentos diferenciados sobre a desigualdade regional. Estas diferenças permitem que se argumente que em função da preferência pela liquidez as firmas bancárias, sob a ótica regional, não atuam de forma funcional, ou seja, reforçam as desigualdades regionais. Se este é o caso, uma consideração final é a de que no contexto atual de desenvolvimento do sistema bancário nacional há espaço para bancos públicos, visando contribuir para a diminuição das desigualdades regionais, aumentar o volume de empréstimos às regiões menos desenvolvidas acrescentando recursos aos fundos constitucionais de fomento. Do ponto de vista do princípio da causalidade cumulativa, o crescimento da oferta de crédito regional às empresas através dos empréstimos públicos poderia induzir a uma redução nas disparidades entre as regiões e contribuir para romper o ciclo de vazamento dos depósitos criados via concessão de crédito nas regiões menos desenvolvidas para as mais dinâmicas. Referências AMADO, A. Disparate Regional Development in Brazil: a monetary production approach, Ashgate, 1997. CARVALHO,F.J.C.et al. Economia Monetária e Financeira. Teoria e Política,. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. CAVALCANTE, A, T.M.; CROCCO, M; BRITO, M. L. A. Impactos macroeconômicos na variação regional da oferta de crédito. Análise Econômica, Porto Alegre, ano 25, n. 47, p. 85-120, mar. de 2007. CAVALCANTE, A.; CROCCO, M.; JAYME JR., F. G. Preferência pela liquidez, sistema bancário e disponibilidade de crédito regional. In: Crocco, Marco; Jayme Jr., Frederico G. Moeda e território: uma interpretação da dinâmica regional brasileira. Belo Horizonte: autentica. p. 295-315, 2006. CAVALCANTE, A. Financiamento e desenvolvimento local: Um estudo sobre arranjos

Page 30: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

produtivos. Master’s thesis, Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. CHIC,V. The evolution of the banking system and the theory of saving, investment and interest, Economic et Sociétes (Ahiers de I'Ismea, Série Monnaire et production,nº 3), 1986. CROCCO, M. A. Moeda e Desenvolvimento Regional e Urbano: uma leitura Keynesiana e sua aplicação ao caso Brasileiro. Tese submetida ao Concurso de Professor Titular, CEDEPLAR, abril 2010. CROCCO, M. A.; NOGUEIRA, M.; ANDRADE, C. M. C.; DINIZ. G. F. C. O Estudo do gap regional de crédito e seus determinantes, sob uma ótica pós-keynesiana. Economia. V. 12. n.2, p.281-307, mai/ago 2011. DE PAULA, L F R e ALVES JR, A J. Comportamento dos bancos, percepção de risco e margem de segurança no ciclo minksiano, Análise Econômica, ano 21, no. 39, março, 2003. DOW, S. C. The regional composition of the money multiplier process, Scottisch, Journal of Political Economiy, vol. 29, n. 1, 1982. ____________Financial Markets and regional economic development: the Canadian experience, Aldershot, Avebury. 1990. DOW, S.; FUENTES, C. J. R. Um “survey” da literatura de finanças regionais. In Crocco, M. A. & Jayme Jr, F. G., editors, Moeda e Território: Uma Interpretação da Dinâmica Regional Brasileira. Autêntica, Belo Horizonte, 2006. DUTRA, L. D. O Financiamento do Investimento na Literatura Econômica e a Evolução do Finance e do Funding na Economia Brasileira no Período 1988-2008. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2010. FEIJÓ, C. A. Decisões Empresariais numa Economia Monetária de Produção: notas para uma teoria pós- keynesiana da firma. Revista de Economia Política, São Paulo, v. 13, n. jan-mar, p. 82-100, 1993. FREITAS, A.P.G.; PAULA, L.F.R. Concentração Regional do Crédito e Consolidação Bancária no Brasil: Uma Análise Pós-Real. EconomiA, Brasília, v.11, n.1, p.97–123, jan/abr 2010. FUCIDJI, J. R.; MENDONÇA, D. P. Determinantes do crédito bancário: uma análise com dados em painel para as maiores instituições. Análise Econômica, Porto Alegre, v. 27, n. 52, set. 2009. GREENE, W. Econometric Analysis. Prentice Hall, 3 ed. 1997. KEYNES,J.M. "The Treatise on Money; the Pure Theory of Money Collect Writing"s, D.E.Maggridge and E.Johnson, Macmillam for the Royal Econommic Society, Vol V, 1971, 1930. KEYNES,J.M.” The General Theory of Employment, Interest and Money,”. Nova York: Hartcourt Brace and World, 1936.

Page 31: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

LEVINE, R. Finance and Growth: theory and evidence. NBER Working Papers Series, 0766, National Bureau of Economic Research, 2004. Disponível em: http://www.nber.org/papers/w10766> Acesso em: 10 de abril 2010. MINSKY,H.P. The financial-instability hypothesis: capitalist processes and the behavior of the economy. In Kindleberger e Laffargue, eds, Financial Crises, Cambridge University Press., 1982. MINSKY,H.P. "Stabilizing na Unstable Economy". New Haven: Yale University Press., 1986. MISSIO, F.J.; JAYME JR. F.G.; OLIVEIRA, A. M. H. C. Desenvolvimento financeiro e crescimento econômico: Teoria e Evidência Empírica para os Estados Brasileiros (1995-2004). Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2009. Texto para discussão nr 379. Disponível em: http://www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/td/TD%20379.pdf. Acesso em: 20/04/2010. MONTES G. C.; FEIJÓ C. A. Credibilidade, política monetária e racionamento do crédito. Revista Economia Contemporânea, v. 15, p. 5-29, 2011. MORETTIN, P.A., TOLOI, C.M.C. Análise de séries temporais. São Paulo: Edgard Blücher, 2004. MYRDAL, Gunnar. Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas. Rio de Janeiro: Saga, 1968. RODRÍGUEZ-FUENTES, C. J. Credit Availability and Regional Development. Proceedings of the European Regional Science Association, 36th European Congress, Zurich, August 1996. ROMERO, J.P. JAYME JR. F. G. Crédito, preferência pela liquidez e desenvolvimento regional: o papel dos bancos públicos e privados no sistema financeiro brasileiro (2001-2006). In: Encontro Nacional de Economia Política. XIV ENEP, 2009, São Paulo. Anais do XIV ENEP, 2009. Disponível em: http://ufmg.academia.edu/FJaymeJr/Papers/371323/Credito_Preferencia_Pela_Liquidez_e_Desenvolvimento_Regional_O_Papel_dos_Bancos_Publicos_e_Privados_no_Sistema_Financeiro_Brasileiro. Acessado em: 13/01/2011. STIGLITZ,J. & WEISS,A. Credit rationing in Markets with Imperfect Information, American Economic Review, Vol.71,nº 3, June,1981 STUDART,R. “Financiamento do Desenvolvimento”. In. GIAMBIAGI, F.et AL(orgs), Economia Brasileira Contemporânea: 1945-2004, Rio de Janeiro, Elsevier, 2005. WOOLDRIDGE, J. M.. Econometric Analysis of Cross Section and Panel Data. MIT Press, 2002. Referências das fontes de dados BCB – Banco Central do Brasil. Estatísticas Bancárias por municípios – Estban. Disponível em: <http://www4.bcb.gov.br/fis/cosif/estban.asp>. Acesso em 02/01/2012. BCB – Banco Central do Brasil. Sistema Gerenciador de Séries Temporais SGS –

Page 32: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Economia Regional. Disponível em: https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries. Acesso em 02/01/2012.

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Disponível em www.bndes.gov.br/. Acesso em 02/01/2012. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 15/01/2012. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em: www.ipeadata.gov.br. Acesso em 15/01/2012. Ministério da Integração Nacional. Relatórios de Informações Gerenciais. Disponível em: http://www.integracao.gov.br/fundos/. Acesso em 02/01/2012.

Page 33: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

APÊNDICE A

Cálculo do índice regional de crédito - IRC:

IRCi = (CREDi/CREDbr)/ (PIBi/PIBbr) = 1 (1) Na Equação (1) é apresentado o crédito para estado “i” (CREDi), o crédito do Brasil (CREDbr), o PIBi do estado “i” (PIBi) e o PIB do Brasil (PIBbr). Formando, portanto, o IRC do estado “i” (IRCi). O cálculo do IRC para as regiões segue o mesmo procedimento. A partir da equação acima, Crocco (2010) e Crocco et all (2011) apresentam o conceito de gap regional de crédito como sendo o volume de crédito necessário para igualar a participação da localidade no total de crédito concedido no país à sua participação no PIB nacional. Conforme Crocco (2010), para se chegar a este valor deve-se calcular primeiramente o montante de crédito necessário para que determinada região receba um volume de crédito exatamente proporcional ao peso do seu PIB em relação ao Brasil. Essa variável foi denominada CRÊDi. O volume do gap regional de crédito é definido como:

Gap = CREDi – CRÊDi (2)

Seguindo a mesma idéia do IRC, um indicador de gap regional de crédito - IGRC é definido como:

IGRC = 1-[(PIBi /PIBbr) – (CREDi/ CREDbr)] (3)

Um indicador de IGRC menor que a unidade revela que a região recebe menos crédito do que sua participação relativa no PIB. Já um indicador superior a unidade revela que a região recebe mais crédito do que sua participação relativa no PIB.

Page 34: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

APÊNDICE B

Descrição da base de dados: A base de dados Estatísticas Bancárias por Municípios – ESTBAN, disponível no Banco Central do Brasil, disponibiliza dados financeiros apresentados em 83 contas. Os dados estão disponíveis a preços correntes. Os dados foram tabulados e somados por Unidades Federativas. Foram utilizadas as médias anuais dos dados. Para construção das variáveis utilizadas no modelo foram utilizadas as seguintes contas: 1) Operações de crédito (160) 2) Total do Ativo (399) 3) Depósitos a vista do governo ( 400) 4) Depósitos a vista do setor privado (410) 5) Depósitos a prazo (432) 6) Total do Passivo (899) Outra base de dados utilizada foi o Sistema Gerenciador de Séries Temporais – SGS do Banco Central. Dessa base de dados foram retirados os dados de crédito referentes à economia regional, que só estão disponíveis mensalmente por unidade federativa, a preços correntes. Foram utilizadas as médias anuais dos dados de crédito disponíveis nas seguintes séries: 7) Saldo das operações de crédito – pessoa física 8) Saldo das operações de crédito – pessoa jurídica 9) Saldo das operações de crédito – total As séries referentes ao PIB das unidades federativas e da taxa de juros Selic foram retidas do IPEADATA. Foram utilizadas as seguintes séries: 10) PIB estadual a preços correntes 11) PIB estadual a preços constantes do ano de 2000 – Deflacionado pelo deflator implícito do PIB nacional. 12) Taxa de juros Over – Selic Descrição das variáveis utilizadas no modelo: Preferência pela liquidez : ln{[(Depósitos a vista do governo (400) + Depósitos a vista do setor privado(410) / Operações de crédito(160)]*100} Depósitos à vista do setor privado : ln(Depósitos a vista do setor privado (410) Observação: Antes de usar a série, a mesma foi deflacionada para o ano de 2000 pelo mesmo deflator do PIB nacional. Depósitos a prazo sobre o total do passivo : ln[(Depósitos a prazo (432) / total do Passivo (899)*100] Selic : ln(Taxa de juros Over – Selic) em percentual PIB: ln(PIB a preços constantes de 2000) Total do Ativo sobre o PIB : ln[(Total do Ativo (399)/ PIB a preços correntes)*100]

Page 35: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Índice Regional de Crédito : ln{[(Crédito do estado/total crédito Brasil)/(PIB do estado/PIB Brasil)]*100} Gap Regional de crédito : ln{{1-[(PIB do estado/PIB Brasil) – (Crédito do estado/total crédito Brasil)]}*100} Crédito Pessoa Jurídica : Para construção dessa série foi verificada qual a participação do crédito pessoa jurídica de cada unidade federativa no total do crédito nacional. Para fazer essa verificação foram utilizadas as séries do SGS 14029 e 14056. Tendo as participações de cada unidade federativa no total do crédito nacional, essa participação foi aplicada na série de operações de crédito (160) do ESTEBAN. As séries do SGS estão disponíveis somente após 2004. Para a construção da série no período de 2000 a 2003 foram utilizadas as mesmas participações do ano de 2004. Assim como nas demais séries, foi utilizado o ln dos valores. Observação: Antes de usar a série, a mesma foi deflacionada para o ano de 2000 pelo mesmo deflator do PIB nacional. Crédito Pessoa Física : Para construção dessa série foi verificada qual a participação do crédito pessoa física de cada unidade federativa no total do crédito nacional. Para fazer essa verificação foram utilizadas as séries do SGS 14002 e 14056. Tendo as participações de cada unidade federativa no total do crédito nacional, essa participação foi aplicada na série de operações de crédito (160) do ESTEBAN. As séries do SGS estão disponíveis somente após 2004. Para a construção da série no período de 2000 a 2003 foram utilizadas as mesmas participações do ano de 2004. Assim como nas demais séries, foi utilizado o ln dos valores. Observação: Antes de usar a série, a mesma foi deflacionada para o ano de 2000 pelo mesmo deflator do PIB nacional.

Page 36: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

APÊNDICE C 1) Teste de raiz unitária para dados em painel

Tabela C1:Teste de raiz unitária nas séries Unit root test: Summary Sample: 2000-2008 Cross- Method Statistic Prob.* sections Obs Serie: Crédito Pessoa Jurídica (1) Levin, Lin & Chu t -0.58707 0.2786 27 202 (1) Breitung t-stat 0.07733 0.5308 27 175 (2) Im, Pesaran and Shin W-stat 1.68625 0.9541 27 202 (2) ADF - Fisher Chi-square 53.6518 0.4878 27 202 (2) PP - Fisher Chi-square 52.0928 0.5483 27 216

Serie: Preferência Pela Liquidez (1) Levin, Lin & Chu t -17.1951 0.0000 27 198 (1) Breitung t-stat -0.26876 0.3941 27 171 (2) Im, Pesaran and Shin W-stat -6.08482 0.0000 27 198 (2) ADF - Fisher Chi-square 145.767 0.0000 27 198 (2) PP - Fisher Chi-square 164.861 0.0000 27 216

Serie: Depósitos a vista (1) Levin, Lin & Chu t 3.81278 0.9999 27 209 (1) Breitung t-stat -1.18526 0.1180 27 182 (2) Im, Pesaran and Shin W-stat 6.21249 1.0000 27 209 (2) ADF - Fisher Chi-square 19.0899 1.0000 27 209 (2) PP - Fisher Chi-square 17.7756 1.0000 27 216

Serie: PIB (1) Levin, Lin & Chu t -0.96906 0.1663 27 204 (1) Breitung t-stat -2.12571 0.0168 27 177 (2) Im, Pesaran and Shin W-stat 3.57526 0.9998 27 204 (2) ADF - Fisher Chi-square 35.6636 0.9744 27 204 (2) PP - Fisher Chi-square 31.6378 0.9935 27 216

Serie: Índice regional de crédito (1) Levin, Lin & Chu t -15.3906 0.0000 27 202 (1) Breitung t-stat -1.10284 0.1350 27 175 (2) Im, Pesaran and Shin W-stat -4.24851 0.0000 27 202 (2) ADF - Fisher Chi-square 112.661 0.0000 27 202 (2) PP - Fisher Chi-square 116.504 0.0000 27 216

Serie: Depósito a prazo sobre passivo (1) Levin, Lin & Chu t -1.34150 0.0899 27 196 (1) Breitung t-stat -1.57132 0.0581 27 169 (2) Im, Pesaran and Shin W-stat -1.11148 0.1332 27 196 (2) ADF - Fisher Chi-square 83.2437 0.0065 27 196 (2) PP - Fisher Chi-square 24.3084 0.9998 27 216

Serie: Ativo sobre PIB (1) Levin, Lin & Chu t -3.58798 0.0002 27 200 (1) Breitung t-stat -2.54503 0.0055 27 173 (2) Im, Pesaran and Shin W-stat -2.07094 0.0192 27 200 (2) ADF - Fisher Chi-square 82.0413 0.0082 27 200 (2) PP - Fisher Chi-square 31.0949 0.9948 27 216

Serie: Crédito Pessoa Física (1) Levin, Lin & Chu t -0.23591 0.4067 27 198 (1) Breitung t-stat -4.17882 0.0000 27 171 (2) Im, Pesaran and Shin W-stat 2.49979 0.9938 27 198 (2) ADF - Fisher Chi-square 61.5791 0.2233 27 198 (2) PP - Fisher Chi-square 9.13983 1.0000 27 216

Serie: Selic (1) Levin, Lin & Chu t 0.65832 0.7448 27 216 (1) Breitung t-stat -3.92989 0.0000 27 189 (2) Im, Pesaran and Shin W-stat 2.24524 0.9876 27 216 (2) ADF - Fisher Chi-square 18.5143 1.0000 27 216 (2) PP - Fisher Chi-square 18.5143 1.0000 27 216

Serie: Indicador de Gap regional de crédito (1) Levin, Lin & Chu t -20.7817 0.0000 27 204 (1) Breitung t-stat -1.36658 0.0859 27 177 (2) Im, Pesaran and Shin W-stat -6.46827 0.0000 27 204 (2) ADF - Fisher Chi-square 134.267 0.0000 27 204 (2) PP - Fisher Chi-square 134.974 0.0000 27 216

Notas: Grupo (1): Null: Unit root (assumes common unit root process). Grupo (2): Null: Unit root (assumes individual unit root process).

*Probabilities for Fisher tests are computed using an asympotic Chi-square distribution. All other tests assume asymptotic normality.

Page 37: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

2) Resultado das estimações com efeitos fixos e efeitos aleatórios Observar que a escolha dos modelos seguiu o procedimento disponível no Eviews que fornece as estatísticas do Chi2 e da probabilidade. Critério de seleção: se Prob.>Chi2 aceitar o modelo com efeitos aleatórios. O modelo com efeitos fixos não é, nesse caso, mais apropriado. Tabela C2 : Resultados das estimações para o Brasil por MQG – Efeitos Aleatórios

Variável dep.: Crédito Pessoa Jurídica 2001-2008 2005-2008 Constante -0,0113 -0,0131 -0,0127 -0,0158 0,0811 (-1,449)*** (-1,880)** (-1,026) (-1,684)** (7,131)* Preferência pela liquidez (PL) -0,4181 -0,3860 -0,2347 -0,1995 -0,1463 (-4,730)* (-4,553)* (-1,753)** (-1,920)** (-2,3457)* Selic (SELIC) -0,1506 -0,1455 -0,1151 -0,1537 -0,3332 (-3,080)* (-3,881)* (-1,978)** (-3,655)* (-10,527)* Depósitos a Vista (DV) 0,3170 0,2443 0,3404 0,2328 0,1518 (2,001)* (1,712)** (2,846)* (2,2979)* (2,037)* Índice Regional de Crédito (ICR) 0,6410 0,6656 0,7613 0,8210 1,516 (5,881)* (6,359)* (6,901)* (9,727)* (14,578)* PIB (PIB) 0,4542 0,4914 1,083 1,0744 1,759 (5,534)* (6,104)* (4,969)* (5,129)* (7,453)* Ativo/PIB (ATPIB) 0,0518 0,0594 0,0376 (3,381)* (3,807)* (2,511)* Depósitos a Prazo/Passivo (DPP) 0,0953 0,0959 0,0789 (4,996)* (4,743)* (4,311)* Crédito Pessoa Física (CPF) -0,635 (-8,855)* N 216 216 108 108 108 R2 0,87 0,89 0,87 0,91 0,95 DW 1,73 1,89 1,22 1,39 1,46 SSR 1,147 0,9504 0,473 0,3142 0,1717 F 287,26 251,42 137,02 145,51 251,15 Prob.(F) 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 Hausman-Chi2 1,2682 3,153 18,289 20,629 22,658 Prob.> Chi2 0,9382 0,8705 0,0026 0,0044 0,0038

Fonte: Elaboração própria, resultados das estimações. * Significativo a 5%. ** Significativo a 10%. *** Significativo a 20%.

Page 38: Modelo de Capa ANPEC_maio_2012 _2

Tabela C3: Resultados das estimações para as Regiõe s – 2001-2008

Variável dep.: Crédito Pessoa SE S N NE CO EA EF EA EA EA Constante -0,0023 -0,0295 -0,0307 -0,0100 -0,0158 (-0,3157) (-3,431)* (-3,568)* (-1,094) (-1,375)* Preferência pela liquidez (PL) -0,7819 -0,9475 -0,2567 -0,3899 -0,8843 (-26,253)* (-38,048)* (-4,844)* (-5,058)* (-33,334)* Selic(SELIC) -0,1534 -0,0661 -0,2514 (-3,009)* (-1,302)*** (-8,911)* Depósitos a Vista(DV) 0,5541 0,9785 0,3435 0,8977 (5,858)* (21,356)* (5,477)* (17,032)* Índice Regional de Crédito(IRC) 0,0510 0,8202 0,4136 (2,247)* (15,146)* (5,894)* PIB(PIB) 0,2376 0,5241 0,2816 0,0695 (7,113)* (8,474)* (1,497)* 0,8272 Ativo/PIB(ATPIB) 0,0141 0,0735 0,0881 (2,536)* (4,457)* (2,702)* Depósitos a Prazo/Passivo(DPP) 0,0467 0,0454 0,0951 0,0993 (5,500)* (6,824)* (3,789)* (3,135)* Indicador de Gap de Crédito(IGRC) 1,3549 (14,269)* N 32 24 56 72 32 R2 0,96 0,99 0,96 0,83 0,91 DW 2,41 1,34 2,01 1,71 1,60 SSR 0,0191 0,0126 0,1979 0,248 0,1007 F 146,17 353,63 197,18 53,38 54,61 Prob.(F) 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 Hausman-Chi2 1,365 3,308 1,398 2,983 Prob.> Chi2 0,928 0,769 0,965 0,702

Fonte: Elaboração própria, resultados das estimações. * Significativo a 5%. ** Significativo a 10%. *** Significativo a 20%, ***