modelo - a polêmica do samba entre noel rosa e wilson batista

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  • 8/17/2019 Modelo - A Polêmica Do Samba Entre Noel Rosa e Wilson Batista

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    A polêmica do samba entre Noel Rosa e Wilson Batista: a

    intertextualidade e os meandros da composição / Samba controversy

    between Noel Rosa and Wilson Batista: intertextuality and the meanders

    of composition

     Leandro Moreira da Luz *

     Bruno Flávio Lontra Fagundes**

     Mônica Luiza Sócio Fernandes1***

    RESUMOO presente artigo tem como objetivo analisar os meandros da composição e suasintertextualidades na polêmica do samba entre Noel Rosa e Wilson atista! observandoo dialogismo na interação verbal e musical entre os autores e os diversos textos dad"cada de #$%&' (o apurar os ouvidos sobre a )polêmica do samba* observa+se ,ue ascomposiç-es revelam tens-es inexor.veis entre um mundo /estivo do )malandro* e oslimites da realidade da "poca' 0esse modo! com suporte em estudos ,ue tratam destetema! busca+se tra1er 2 tona um insight sobre este )duelo* musical ,ue est.! certamente!muito mais disseminado na sociedade ,ue restrito a ,uest-es puramente est"ticas'3(4(5R(S+67(5E: Samba8 3olêmica8 9ntertextualidade

     ABSTRACT 

    The resent aer has as ai! to anal"ze the !eander o# the co!osition and their 

    interte$tualities in the ole!ic o# the sa!%a %et&een 'oel Rosa and (ilson Batista)

    o%serving the dialogis! in the ver%al and !usical interaction %et&een the actors and 

    the several te$ts o# the 1+,s- (hen the ears are er#ected a%out the ole!ic o# the

     sa!%a it is o%served that the co!ositions reveal ine$ora%le tensions %et&een the

     #estive &orld o# the .scala&ag/ and the li!its o# the realit" o# the age- Li0e this) &ith

    %ase on studies that treat this the!e) &e see0 to sho& an insight a%out this !usical .duel/ that is) certainl") !uch !ore disse!inated in the societ" than restricted to

    uestions urel" aesthetics-

     234(5R6S7 Sa!%a8 9ole!ic8 :nterte$tualities

    Introdução

    #: ;aculdade 9ntegrado < 6 9ES! 6ampo Mourão! 3aran.! rasil8 pro/essorleandromoreira=gmail'com:: Universidade Estadual do 3aran. + UNES3(R! 6ampo Mourão! 3aran.! rasil8  parabrunos=gmail'com::: Universidade Estadual do 3aran. + UNES3(R! 6ampo Mourão! 3aran.! rasil8

    msocio/ernandes=gmail'com 

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]

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    O nascer da rep>blica brasileira rea/irmou! e/etivamente! a necessidade de

    desenvolvimento social e est"tico da nossa m>sica popular' 0urante a 6ol?nia não

    @ouve m>sica popular ,ue se pudesse c@amar de brasileiraA os poucos documentos

    existentes mostram ,ue os negros! portugueses e os Bndios /a1iam cada um a sua

    mani/estação musical' No /im do s"culo C5999! 2s v"speras da independência!

    começaram+se a delinear certas /ormas e constDncias musicais como o lundu! a modin@a

    e a sincopação (N0R(0E! #$FGH' E! apenas no /im do s"culo C9C e começo do

    s"culo CC com o advento da Rep>blica! a m>sica popular urbana! com grandes

    in/luências da m>sica /olclIrica e erudita! começa a arraigar+se em meio a tens-es

    sociais e lutas culturais N(3O49J(NO! G&&GH'

    (s mani/estaç-es culturais no inicio do s"culo CC trouxeram 2 tona os reisados!as danças dram.ticas! os congos e congados! os cabocolin@os! os caiapIs! o bumba meu

     boi etc'! muitos deles arranjados na letra e na m>sica por m>sicosKpoetas urbanos

    an?nimos! em contraponto com as m>sicas eruditas dos grandes sal-es' E " neste

    contexto ,ue a modin@a passa dos )pianos dos sal-es* para os )viol-es das es,uinas*!

     junto com o maxixe e o samba! dando base 2 /ormação de grupos seresteiros! aos

    conjuntos de c@or-es! aos m>sicos de toadas e das danças rurais' 0este ponto em diante!

    a m>sica popular de/iniu+se com extrema rapide1 e tornou+se a caracteri1ação mais belada nossa cultura (N0R(0E! #$FGH'

    Em meio a esta )de/inição*! entre estes grupos seresteiros e conjuntos de

    c@or-es! j. prIximo ao Loverno 3rovisIrio de Let>lio 5argas! surge um m>sico e poeta

    ,ue captou o /en?meno de )invenção* da m>sica popular brasileiraA Noel Rosa ,ue!

    segundo Mara 3into GG! p' #HA

    Jeve a sensibilidade para captar um /en?meno social e artBstico ,ueestava surgindo como a possibilidade! >nica na @istIria da canção popular at" a,uele momento! de se /a1er ouvir em nBvel nacional umavo1! ainda /raca ,uando começou a produ1ir em #$G$! de umcompositor de sambas ,ue iniciava sua trajetIria de pro/issionali1ação'

    Em #$%#! Noel /inalmente vai se dedicar exclusivamente a sua carreira artBstica'

    Jal decisão /oi /undamental para o samba ,ue no plano est"tico teve! a partir dele e de

    outros artistas! seus contemporDneos! uma pontuação mais elaborada livrando+os das

    caracterBsticas marcantes @erdadas de outros ritmos musicais como o maxixe e as

    G

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    marc@in@as S(N0RON9! #$$H! al"m da incorporação de traços prosaicos! entoação da

    /ala! vocabul.rio prIprio! sintaxe! encenação de interlocução! marcas de oralidade etc'!

    /orjando uma sonoridade in"dita at" então ,ue tornou o sambaA )um lugar ideal para

    manobrar o canto na tangente da /ala*! segundo Jatit G&&! p' G&H'

     Nesta toada! entre os diversos personagens comuns do morro e da peri/eria ,ue

    /oram paulatinamente se tornando con@ecidos nacionalmente pela ampli/icação da

    m>sica popular brasileira atrav"s do r.dio em sintonia com o processo populista de

    urbani1ação da polBtica de Let>lio 5argas ,ue dava ên/ase 2 comunicação radio/?nica e

    associava o samba como sBmbolo da identidade nacional 59(N(! G&&GH! a visão

    analisadora e classi/icadora dos pes,uisadores deste trabal@o buscou extrair!

    arti/icialmente! o espBrito do )malandro* ,ue! carregado de romantismo! /oraimortali1ado pelas letras dos sambas na primeira metade do s"culo CC'

    Este personagem tra1 um apelo %on vivant  em contraponto 2 /ormalidade dos

    )tempos modernos* e por isso! de acordo com Mara 3into GG! p' #$HA )@. indicação

    de tens-es inexor.veis entre o /estivo mundo do malandro e as limitaç-es da realidade*A

    O vi"s crBtico do @umor ,uanto da ironia ser. a t?nica de umaenunciação marcada pela oposição sistem.tica aos valores

    dominantes' Os valores econ?micos! por exemplo! são expostos a umconstante deboc@e de sua cultivada importDncia social! o ,ue acontecegeralmente por interm"dio da vo1 de personagens ,ue estão /ora do padrão o/icial de boa conduta < o sambista! o malandro! o vagabundo!as mul@eres ,uase sempre tra1idas na condição de amantesH! gigol?s!e at" mesmo a conduta @omossexual c@egou a ser contraponto para padr-es vigentes numa canção de Noel'2

    P sobre esta /igura )/ora do padrão o/icial de boa conduta* e! possivelmente

    entre estas tens-es inexor.veis! ,ue surge a )polêmica*3 musical entre Noel Rosa ,ue j.

    /a1ia sucesso na "poca e ,ue! de acordo com 0orival 6ammiA )Q''' reunia uma porção

    de ,ualidades! mas era! principalmente! o poeta* 67E09(! G&&$! p' #H e Wilson

    atista ,ue estava no inBcio de sua carreira! e segundo J.riT de Sou1a G&&%! p' ###HA

    )diplomou+se com louvor nos v.rios /ormatos de samba* apIs a polêmica' 3olêmica

    esta ,ue " o objeto de estudo deste trabal@o'

    G Jrata+se de Mulato Ba!%a) uma @omenagem a Madame Satã! malandro @omossexual! con@ecido na vida boêmia do sub>rbio carioca na "poca de Noel'%

     Jra1ida 2 tona como polêmica pela primeira ve1 no long la" .3olêmica*! lançado pela gravadoraOdeon em #$ L(S3(ROJJO! G#H'

    %

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    Sumariando! o ,ue se pretende na /eitura deste " analisar a relação intertextual

    entre as obras criadas no contexto supracitado! observando o dialogismo decorrente da

    interação entre os autores e suas interaç-es com os muitos textos da cultura do rasil da

    d"cada de #$%&'

    1 A olêmica do !amba

    Em #$%%! na vo1 de Silvio 6aldas o samba 4enço no 3escoço ) de Wilson atista

    d. inBcio 2 /amigerada polêmica musical com Noel RosaA

    Meu c@ap"u de lado K Jamanco arrastando K 4enço no pescoço K Naval@a no bolso K Eu passo gingando K 3rovoco e desa/io K Eu ten@oorgul@o em ser vadio K Sei ,ue eles /alam desse meu procederK Eu vejo,uem trabal@aK (ndar no miserê K Eu sou vadio K 3or,ue tiveinclinaçãoK Eu me lembro era criançaK Jirava samba+canção'" 

    Segundo Roc@a G&&a! p' #GH )@ouve um tempo em ,ue o uso de determinada

    roupa era tamb"m um modo de di1er se o indivBduo era ou não malandro Q''' andar bem

    vestido /a1ia parte do ethos do malandro* e a rua era a sua passarela' 0esse modo! o

    tema da indument.ria! com intertextualidade! por exemplo! no prIprio Noel Rosa no

    samba 6om ,ue roupa; (4M9R(NJE! #$FFH8 e do comportamento vadio do

    malandroA tema ,ue dialoga com v.rios textos! entre elesA Me!órias de u! Sargento de

     Millimitaç-es da realidade* dão a Wilson atista! em #$%%! instrumento e inspiração

    necess.ria para o inBcio de sua composiçãoA pois esta /ala! explicitamente! sobre estes

    investimentos simbIlicos e materiais do malandro'Wilson atista! apropriando+se dos temas e contexto supracitados! retrata o jeito

    maroto do malandroA .3asso gingandoK 3rovoco e desa/io/ e termina a letra /a1endo

      Len=o no 9esco=o- Wilson atistaH Lravação de 6laudia 5entura e Rodrigo (l1uguir' O Samba cariocade Wilson aptista' iscoito ;ino' G%' 0isco G' ;aixa ##'

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    uma provocaçãoKre/erência a )4ei da 5adiagem*#! segundo S945( G%H! ,ue tipi/icava

    o malandro como criminoso e o sancionava prisão e trabal@o na "pocaA

    O controle da malandragem! Q''' o controle e a tutela policiais nas/estas populares! como o carnaval! e a exaltação ao cidadão pacato e 2/amBlia /a1iam parte do cotidiano policial' Segundo os conceitoscriminais! a sociedade voltava+se contra o vadio! indivBduoeconomicamente passivo! por temer a sua periculosidade' (explicação diretaA ,uem não dispun@a de uma renda para manter+seestava automaticamente integrado 2 categoria de vagabundos! por,ueexistia uma tendência a satis/a1er suas necessidades pelo )ardilcriminoso e da violência*! por isso a vadiagem era um estadosocialmente perigoso por excelência 6(N6E449! #$$%! p'%%H'

    Jamb"m " possBvel notar na canção uma crBtica social de maneira implBcita e

    ir?nica 2s polBticas trabal@istas e de ascensão econ?mica do perBodo polBtico em

    vigênciaA )Eu vejo ,uem trabal@aK(ndar no Miserê*$! demonstrando a liberdade do

    autor em se situar /ora da )vida cotidiana*! o ,ue! segundo aT@tin #$$F! p' G&HA o

    exp-e com o espBrito de artista sendo )Q''' a,uele ,ue não se limita a participar da vida

    pr.tica! social! polBtica! moral! religiosaH e a compreendê+la apenas do seu interior! mas

    a,uele ,ue tamb"m a ama do exterior Q'''*'

    Jal procedimentoKcanção causou /uror na mBdia da "poca! /a1endo com ,ue

    Orestes arbosa! em sua coluna no Vornal )( 7ora* ) dissesseA )num momento em ,ue

    se /a1 a @igieni1ação po"tica do samba! a nova produção de Silvio 6aldas! pregando o

    crime por m>sica! não tem perdão* 3(R(N7OS! G&&%! p' #H! sinali1ando )tens-es*

    no ambiente por onde transitava o sambista' Neste contexto! 0ealtr G#! p' ##H

    comentaA

    (o mesmo tempo em ,ue identi/ica esse sujeito! a/irmando suaidentidade em meio a massa de an?nimos trabal@adores miser.veis!

     No 6Idigo 3enal rasileiro de #$& 0ecreto nX F! de ## de Outubro de #$&H encontramos o tipo penal nos capBtulos C99 )0OS MEN09LOS E PR9OS* e C999 )0OS 5(09OS E 6(3OE9R(S*! comono exemplo do (rt' %$$! in verbisA 0eixar de exercitar pro/issão! o/Bcio! ou ,ual,uer mister em ,ue gan@ea vida! não possuindo meios de subsistência e domicBlio certo em ,ue @abite8 prover subsistência por meiode ocupação pro@ibida por lei! ou mani/estamente o//ensiva da moral e dos bons costumes*' 3ena < )de

     prisão cellular por ,uin1e a trinta dias*' 0isponBvel emA @ttpAKKYYYG'camara'leg'brKleginK/edKdecretK#G+#$$Kdecreto+F+##+outubro+#$&+&%&+publicacaooriginal+#+pe'@tml  (cessado em #FK&KG 2s#&@rsFmin' Num tempo em ,ue viver de m>sica não era considerado trabal@o! o trabal@o para Wilson atista era

    motivo de descr"dito! como na sua cançãoA )5ocê con@ece o pedreiro Waldemar Q''' ;a1 tanta casa e nãotem onde morar*'

    http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-503086-publicacaooriginal-1-pe.htmlhttp://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-503086-publicacaooriginal-1-pe.htmlhttp://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-503086-publicacaooriginal-1-pe.htmlhttp://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-503086-publicacaooriginal-1-pe.htmlhttp://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-503086-publicacaooriginal-1-pe.html

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    ele igualmente ecoa a /ala da sociedade ,ue via no sambista sin?nimode malandro' Esse " o /io da naval@a pela ,ual transita o sambistada,uela "poca' Se por um lado! a identi/icação entre sambista e osamba assegura visibilidade ao sujeito vindo das camadas populares!so/rendo com a restrita mobilidade social! por outro lado! avisibilidade ,ue esses compositores alcançam os torna uma ameaça aoEstado ,ue! mesmo antes de Let>lio 5argas c@egar ao poder! tin@a a preocupação de controlar o imagin.rio circulante entre as classesexcluBdas do processo de moderni1ação do paBs'

    O discurso e a repercussão de 4enço no pescoço  c@egam aos ouvidos do

    compositor Noel Rosa e o motivam a responder em poesia no samba Rapa1 ;olgado!

     provavelmente por causa da melodia copiada por Wilson atista nos versos .Sei ,ue

    eles /alam desse meu procederK Eu vejo ,uem trabal@aK (ndar no miserê*correspondentes a melodia da canção de Noel! Malandro Medroso %! nos versos .(

    consciência agora ,ue me doeuK Eu evito concorrênciaK Zuem gosta de mim sou eu*

    67E09(! G&&$! p' GH! eKou! de acordo com ;enericT G&&FH! por conta ,ue a letra de

    Wilson atista p-e em con/lito a visão boêmia do autor! pelo menos " o ,ue se pode

    a/irmar no plano de super/Bcie' Ou ainda! pode+se di1er! ,ue outro motivo plausBvel para

    a motivação responsiva pode estar no Dmbito pessoal! pois Noel tin@a perdido uma

    disputa amorosa por uma )jovem morena do 6abaret Novo M"xico*! ,ue Wilson atistatomou a /rente LOMES! #$HA

    0eixa de arrastar o teu tamanco K 3ois tamanco nunca /oi sand.lia K Etira do pescoço o lenço branco K 6ompra sapato e gravata K Voga /oraesta naval@a ,ue te atrapal@a K 6om c@ap"u do lado deste rata K 0a polBcia ,uero ,ue escapes K ;a1endo um samba+canção K V. te dei papel e l.pis K (rranja um amor e um violão K Malandro " palavraderrotista K Zue sI serve pra tirar K Jodo o valor do sambista K3ropon@o ao povo civili1ado K Não te c@amar de malandro K E sim de

    rapa1 /olgado'

    &

    ( desconstrução do personagem anterior por Noel Rosa )indica um movimento

    revision.rio consubstanciado numa complementação antit"ticaA o poeta e/ebo preserva

    os termos do poema+antecedente! mas altera seu signi/icado* N9JR9N9! G&&&! p' #GH!

    em outras palavras! nos termos de 7arold loom aud Nitrini G&&&H! o poeta lança mão

    F  Malandro Medroso- Noel RosaH Noel pela primeira ve1' Lravadora 5elasK;unarte' G&&&' 0isco #' ;aixa'

      Raaz Folgado- Noel RosaH Lravação de 6laudia 5entura e Rodrigo (l1uguir' O Samba carioca deWilson aptista' iscoito ;ino' G%' 0isco G' ;aixa #G'

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    de uma /erramenta de criação denominada Tessera! destituindo! neste caso em

     particular! o personagem de seus signos externosA )elementos imprescindBveis a ,uem

    /a1 do corpo um sin?nimo de identidade* 0E(4JR[! G#! p' ##H'

    Este desvio re/lete uma reversibilidade no tema originalA ao introdu1ir um

    malandro )bem apresent.vel* )6ompra sapato e gravata*H! e o c@amando para a

    inserção na sociedade como compositor de samba )V. te dei papel e l.pis*H! Noel

    aproxima a e reveste o malandro de outra identidadeA a do )malandro+sambista*!

    encontrado nos meios populares a/astados do morro L(S3(ROJJO! G#H'

    O contraponto entre o )malandro* de Wilson e o )malandro+sambista* de Noel!

    tamb"m tra1 como pressuposto! ,uando se observa o intertexto implBcito! um con/lito

    social estabelecido nas dicotomias pobreKrico! negroKbranco! morroKas/altoA o )sambamalandro* " analisado por v.rios pes,uisadores como uma resistência dos )ex+

    escravos* ao trabal@o regular! j. ,ue estes ao se sentirem marginali1ados pela sociedade

     buscavam na m>sica uma /orma de expressão LOMES! #$$$H' 3or outro lado! o

    )malandro+sambista* tra1 no verso .Jodo o valor do sambista/  e na proposta de

    inserção social como compositor de samba! o trabal@o e a prIpria )venda do trabal@o*

    como instrumento de ascensão! valori1ação e civili1ação do cidadão em consonDncia

    com o discurso varguista de incorporação das classes popularesA

    O trabal@ador! mesmo sendo pobre! era um @omem bom e @onesto'Suas di/iculdades e sua pobre1a não deviam ser associadas a /al@asmorais! mas 2s condiç-es estruturais do sistema socioecon?mico! ,ue podiam ser vencidas' ( ascensão social do trabal@ador estava! portanto! relacionada 2 intervenção do poder p>blico e na dependênciadeste! >nica /orça capa1 de superar os enormes problemas ,uecondicionavam e impediam sua reali1ação pessoal' Era o Estado! personi/icado na /igura de 5argas! ,ue possibilitaria o acesso dostrabal@adores aos instrumentos de reali1ação individual e social'0esde então! no rasil! a relação @omem do povoKEstado /undou+se!em grande medida! nessa mitologia do trabal@ador e do trabal@o como/onte de ri,ue1a! /elicidade e ordem social LOMES! #$$$! p' F#H' 

    3ortanto! notam+se similaridades no discurso de ascensão do )malandro+

    sambista* atrav"s do trabal@o em Noel Rosa com os ideais personi/icados na ideia de

    )produção* como um meio de servir a p.tria'

    (o /inal do samba! no verso .3ropon@o ao povo civili1ado/) Noel direciona seu

    discurso a um p>blico mais amploA ao )povo civili1ado* ,ue via o malandro como

    F

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    sin?nimo de perigo! propondo uma nova identidade passBvel de anuência pela )boa

    sociedade*! isto "! @. uma sugestão de troca para um signo linguBstico )mais aceit.vel*

    socialmente em contraponto com o signo ,ue insiste em marcar sua identidade atrav"s

    de um discurso ,ue atrai para si a repressão! isto "! uma identidadeA )negra! marginal e

    avessa ao trabal@o* 0E(4JR[! G#! p' ##H'

    (lgo importante a salientar tamb"m " ,ue ,uando se lança o ol@ar sobre a

    estrutura pro/unda do intertexto! nota+se ,ue Noel Rosa utili1a as caracterBsticas do

    malandro! anteriormente citadas em 4enço no 3escoço )  em v.rios de seus sambas

    anteriores' e! tamb"m! ,ue " amigo de grandes malandros )vadios* da "poca como \"

    3retin@o! Meia Noite! id 3epe etc M]C9MO8 0909ER! #$$&H' Ou seja! vê+se a,ui

    ,ue o autor desloca+se do sujeitoA )o sujeito perde o papel de centro e " substituBdo por di/erentes ainda ,ue duasH vo1es sociais! ,ue /a1em dele um sujeito @istIrico e

    ideolIgico* (RROS! G&&%! p' #H' 3ortanto! observamos ,ue a consciência do autor 

    a,ui " preenc@ida por elementos exteriores a ela! necess.rios 2 reali1ação do di.logoA )a

    relação de um criador com seu personagem Q''' não pode nunca ser inteiramente de

    identi/icaçãoA deve manter a dimensão exterior pela ,ual esse personagem dialoga com

    o autor tanto ,uanto o autor com ela* S(MO[(U4J! G&&! p' G&H'

    Jocando em /rente! na polêmica do samba! Wilson atista! ouvindo ecompreendendo no 6a/" Nice1(  o ,ue Noel @avia /eitoA )o ,ue /oi ouvido e

    compreendido encontrar. um eco no discurso ou no comportamento subse,uente do

    ouvinte* (7J9N! #$$F! p' G$#H' RespondeKecoa em /orma de composição musical

    com o samba Mocin@o da 5ila7

    5ocê ,ue " mocin@o da 5ila K ;ala muito em violão! barracão e outrascoisas mais K Se não ,uiser perder o nome K 6uide do seu micro/one e

    deixe K Zuem " malandro em pa1 K 9njusto " seu coment.rio K ;ala demalandro ,uem " ot.rio K Mas malandro não se /a1 K Eu de lenço no pescoço desacato e tamb"m ten@o o meu carta1'11 

    $ 6omo! por exemplo! no samba  Malandro Medroso7 )Eu devoK Não ,uero negarK mas te pagarei ,uando puder se o jogo permitirK se a polBtica consentirK e se 0eus ,uiser Q'''*'#& O mais /amoso ca/" da era do r.dio! locali1ado na (venida Rio ranco' 3onto de encontro de cantores ecompositores comoA N.ssara! Orestes arbosa! 7erivelto Martins! 0onga! 5adico! (taul/o (lves! NoelRosa! ;rancisco (lves! Wilson atista! entre outros' 59(N(! #$$! p' ##&H##

      Mocinho da >ila- Wilson atistaH Lravação de 6laudia 5entura e Rodrigo (l1uguir' O Samba cariocade Wilson aptista' iscoito ;ino' G%' 0isco G' ;aixa #%'

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     Nesta tr"plica! o tBtulo da canção Mocin@o da 5ila! de inBcio! j. sugere um

    descredenciamento de Noel a uma cultura ,ue seria originalmente a cultura do morro e

    da peri/eria! e não a dos bairros de classe m"dia na ,ual ele estava inserido' Observa+se

    a,ui! a introdução de um intertexto substituindo o sujeito por di/erentes vo1es sociais

    /a1endo dele um sujeito @istIrico e ideolIgico ,ue representaria um segmento ou classe

    social excluBda! no contexto do poema! da posição de di1er )o ,ue " a cultura

     brasileira*' No entanto! 3aran@os G&&! p' #GGH relata sobre a di/iculdade de se

    estabelecer delimitaç-es culturais e sociais claras entre as partes ,ue comp-em o

    discursoA

    ( oposição entre o batente e a batucada não se apresentava aossambistas de /orma linear! com dois polos ou dois @ori1ontes de vida,ue não se tocam' O espel@o na ,ual se enxergam os criadores dosamba urbano carioca re/letia imagens partidas e justapostas de protagonistas de uma @istIria ,ue muitas ve1es não podiam dar+se aoluxo de viverem simplesmente ao bel+pra1er' ^s voltas com uma,ueda+de+braço permanente com as necessidades do dia+a+dia! vistoscomo pessoas de atitudes suspeitas! ,ue parcelas )respons.veis* dasociedade procuravam recuperar para o mundo do trabal@o! não " detodo surpreendente ,ue o discurso do abandono da orgia e doc@amado ao batente se entrecru1asse com a exaltação damalandragem'

    5oltando a an.lise do ,ue est. explBcito em Mocin@o da 5ila ) nota+se ,ue Wilson

    /a1 uma alusão ao repertIrio de Noel citando a canção Meu arracão7 .7oje /a1 ,uase

    um anoK Zue eu não vou visitarK Meu barracão l. da 3en@a. 67E09(! G&&$! p' H ) e

    sobre a sua /ama na "poca! para ,ue! deste modo! todos soubessem de ,uem Wilson

    estava /alando' E! ao /inal da canção! reveste sua indument.ria de malandro!

    descontruBda em Rapa1 ;olgado aproximando+se! dessa /orma do @erIiA )Q''' o autor se

    aproxima do @erIi ,uando sua consciência est. incerta de seus valores! ,uando est. sob

    o domBnio da consciência do outro! ,uando recon@ece seus prIprios no outro ,ue tem

    autoridade sobre ela Q'''* (7J9N! #$$F! p' G&%H' O texto! portanto! situa+se no

    Dmbito social e @istIrico do personagem em relação com a sociedade em ,ue este est.

    inserido! seus condicionantes e os da m>sica em an.lise! não se congelando num

    sentido! ou ponto /ixoA )constitui um cru1amento de super/Bcies textuaisA a do escritor!

    do destinat.rio ou personagemH! do contexto atual ou anterior* N9JR9N9! G&&&! p'

    #$H'

    $

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    Em revide! Noel! em parceria com 5adico! apelido como era con@ecido o

    compositor OsYaldo Logliano! comp-e um samba ,ue obteve muito sucessoA ;eitiço da

    5ila ) cuja versão original /oi interpretada por Voão 3etra de arros! em #$%A

    Zuem nasce l. na 5ila K Nem se,uer vacila K (o abraçar o samba KZue /a1 dançar os gal@os K 0o arvoredo e /a1 a lua K Nascer maiscedo K 4.! em 5ila 9sabel K Zuem " bac@arel K Não tem medo de bamba K São 3aulo d. ca/" K Minas da leite K E a 5ila 9sabel d.samba K ( 5ila tem um /eitiço sem /aro/a K Sem vela e sem vint"m KZue nos /a1 bem K Jendo o nome de princesa K Jrans/ormou o samba K Num /eitiço decente ,ue prende a gente K O sol da 5ila " triste KSamba não assiste K 3or,ue a gente imploraA K Sol! pelo amor de0eus K Não vem agora K 3or,ue as morenas K 5ão logo embora K Eu seitudo o ,ue /aço K Sem por onde passo K 3aixão não me ani,uila K Mas!

    ten@o ,ue di1er K Mod"stia 2 parte K Meus sen@ores K Eu sou da 5ila_12

    ( atitude responsiva ativa de Noel contraria Wilson! demonstrando a relação

     positiva entre a 5ila e o sambaA vale observar a bele1a da imagem dos gal@os

     balançando ao som do samba e a importDncia dada 2 5ila 9sabel por Noel ,ue a compara

    com São 3aulo e com Minas Lerais' 9sto "! para Noel! o samba! vis?@?vis com o leite e o

    ca/"! vira )produto* de consumo com a ind>stria /onogr./ica e o r.dioA

     Nada mais propBcio para o samba carioca! mais tarde tido como brasileiro! /inalmente se de/inir como estilo musical' Em sua prIpriacidade! j. @avia r.dios! as gravadoras e o interesse polBtico ,ue/acilitariam mas não determinariam < isso " outro problemaH suaadoção como nova moda em ,ual,uer cidade brasileira' O samba tem)tudo* a seu dispor para se trans/ormar em m>sica nacional59(NN(! G&&G! p' ##&H'

    ^ /rente no samba ;eitiço da 5ila! " not.vel! tamb"m! uma resposta direta e

     pessoal aos insultos e ameaças de WilsonA )Zuem " bac@arel K Não tem medo de bamba'* Em resposta 2s /rases de )Mocin@o da 5ila*7 )se não ,uiser perder o nome* e

    )/ala de malandro ,uem " ot.rio/-

     Noel continua o poema /a1endo @omenagens a 5ila 9sabel com o )/eitiço

    decente* podendo ter a intenção de au/erir positividade ,uando observado como

    )encantamento* ,ue pedia ao sol não nascer por,ue neste caso as morenas iriam

    embora' Mas! tamb"m! em conjunto com as palavrasA /aro/a! vela e vint"m8 )/eitiço

    #G

      Feiti=o da >ila- Noel RosaH Lravação de 6laudia 5entura e Rodrigo (l1uguir' O Samba carioca deWilson aptista' iscoito ;ino' G%' 0isco G' ;aixa #'

    #&

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    decente* soa como um ata,ue aos sBmbolos do lócus do )malandro* de Wilson atistaA

    o morro8 no ,ue tange aos costumes a/ros religiosos pertencentes! principalmente! 2

     peri/eria do Rio de Vaneiro! neste caso em particular! uma ve1 ,ue a /aro/a! a vela e o

    vint"m são usados nas o/erendas 2s entidades religiosas na cultura a/ro+brasileira

    4O0[! G&&%H'

     No entanto! Silva e Silva G&! p' GF#H advertemA

    Q''' " importante re/letir sobre os signi/icados das palavras e ocontexto em ,ue a m>sica /oi composta! para não nos limitarmos nosenso comum' Nesse sentido! pelo prisma do senso comum! a ideia de)/eitiço* designaria justamente algo negativo! associado aoencantamento manipulado atrav"s das religi-es a/ro+brasileiras ou

    europeias como os ciganos e as bruxas+/eiticeiras'

    0esse modo! não se atendo apenas ao )senso comum* e observando o contexto

    da polêmica entre Noel e Wilson! temos a,ui! nesta an.lise interpretativa! a utili1ação

    destes conceitos como um ata,ue ao lócus do )malandro* como personagem ,ue se

    con/unde entre autor e o @erIi ata,ue este ,ue! obviamente! não esconde a dicotomia

    negroKbranco! ricoKpobre e morroKas/altoH e! ao mesmo tempo! uma exaltação ao

    encantamento da 5ila e sua correspondência com o samba! os malandros e a boemia

    com seus costumes e in/luências' 3or /im! ressalta+se a,ui o comportamento ambBguo do

    autor! ,ue continua con/undindo+se com o @erIi! em seu )estilo de vida* longe das

    )paix-es* e! ao meu tempo! apaixonado pela 5ila 9sabel em um contexto social do

    rasil da d"cada de #$%&'

     ;oi neste diapasão! ,ue a letra de ;eitiço da 5ila /oi acrescida por Noel no

    3rograma 6as" 6(SP! #$$H' 0esta ve1! o autor retorna 2 in/Dncia! num tempo em ,ue

    a 5ila tin@a /ama de atrair ladr-es' Mas! a/irma ,ue isso j. @avia passado e ,ue agora

     por ali imperava a tran,uilidade e a boemia M]C9MO8 0909ER! #$$&HA

    Zuem nasce pra sambar K 6@ora pra mamar K Em ritmo de samba K Eu j. sai de casa ol@ando a lua e at" @oje estou na rua K ( 1ona maistran,uila K P a nossa 5ila K O berço dos /olgados K Não @. um cadeadono portão K 3or,ue na 5ila não @. ladrão' 

    Jal tema! provavelmente deve ter sido instigado pelo apresentador do 3rograma!

     j. ,ue! Noel era voltado ao repenteA

    ##

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    ( mesma boca ,ue encontrava di/iculdades em reali1ar a prosaicatare/a da mastigação era capa1 de ruminar o imponder.vel! o inaudito!o impensado' E assim ele /oi crescendo! valendo+se de sua @abilidade

    linguBstica para solucionar todos os problemas 67E09(! G&&$! p'#&H'

    Wilson! sem perder tempo! aproveita o adendo para tentar c@amar a atenção de

     Noel Rosa! ,ue a este tempo est. em muita evidência no cen.rio nacional e comp-e

    6onversa ;iada7

    P conversa /iada K 0i1erem ,ue o samba K Na vila tem /eitiço K Eu /uiver pra crer K E não vi nada disso K ( 5ila " tran,uila K 3or"m " preciso

    cuidadoA K (ntes de irem dormir K 0eem duas voltas no cadeado K Eu/ui l. na 5ila ver o arvoredo se mexer K E con@ecer o berço dos/olgados K ( lua nessa noite demorou tanto K (ssassinaram+me umsamba K 0ai veio o meu pranto'13 

    P Wilson ,ue! desta ve1! /a1 um movimento revision.rio! como Noel /e1 com a

    indument.ria e o comportamento do malandro em Rapa1 ;olgado )  por"m agora " em

    relação 2 )casa* do malandro de Noel Rosa! ou mel@or! 2 5ila' O autor desconstrIi

    citando! e alterando o sentido do texto anterior ;9OR9N! G&&%H' Em suma! para Wilson!

    em 6onversa ;iada não @. /eitiço da 5ila! a 5ila não " tran,uila e o samba ,ue /a1 o

    arvoredo se mexer para os /olgados " de m. ,ualidade'

    Jal provocação sobre a grande )paixão* de Noel ,ue não se ani,uila por 

     paix-esH! num samba com melodia e ritmo muito bem elaborados! /a1 novamente o

    autor dialogar com Wilson! em #$%! com um samba intitulado 3alpite 9n/eli17

    Zuem " você ,ue não sabe o ,ue di1` K Meu 0eus do c"u ,ue palpite

    in/eli1 K Salve Est.cio! Salgueiro e Mangueira K OsYaldo 6ru1 eMatri1 K Zue sempre souberam muito bem K Zue a 5ila não ,uer aba/ar ningu"m K SI ,uer mostrar ,ue /a1 samba tamb"m K ;a1er  poema l. na 5ila " um brin,uedo K (o som do samba dança at" oarvoredo K Eu j. c@amei você pra ver K 5ocê não viu por,ue não ,uis KZuem " você ,ue não sabe o ,ue di1` K ( 5ila " uma cidadeindependente K Zue tira samba mas não ,uer tirar patente K 3ra ,ueligar a ,uem não sabe K (onde tem o seu nari1` K Zuem " você ,uenão sabe o ,ue di1`1"

    #% Conversa Fiada- Wilson atistaH Lravação de 6laudia 5entura e Rodrigo (l1uguir' O Samba cariocade Wilson aptista' iscoito ;ino' G%' 0isco G' ;aixa #'#

      9alite :n#eliz- Noel RosaH Lravação de 6laudia 5entura e Rodrigo (l1uguir' O Samba carioca deWilson aptista' iscoito ;ino' G%' 0isco G' ;aixa #'

    #G

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     Noel volta 2 discussão e! desta ve1! " ele ,uem aproxima o autor do @erIi!

    /a1endo+se respons.vel pelo acontecimento existencial na /ronteira do mundo ,ue est.

    criando (7J9N! #$$FH! e ressalta a /alta de notoriedade no meio do samba de

    Wilson atistaA )Zuem " você ,ue não sabe o ,ue di1`*-

    Jal ,uestão repercute! tamb"m! o momento da carreira de Noel Rosa! sinali1ando

    um deslocamento do lugar social do samba! isto "! não sI o morro' 3ois apesar de di1er 

    )Zue a 5ila não ,uer aba/ar ningu"m* ao mesmo tempo ele descredencia Wilson a se

    meter nas coisas do sambaA )3ra ,ue ligar pra ,uem não sabe K (onde tem o seu nari1`*!

    ,ue se insere em um intertexto onde " o sujeito! ,ue desta ve1! " substituBdo por 

    di/erentes vo1es sociaisA as ,ue não estão no )lugar social do samba*'Este jogo de credenciamento e descredenciamento em relação ao samba e seus

     personagens demonstra no di.logo entre os segmentos da sociedade carioca ,ue o

    samba j. não era encarado apenas como pertencendo exclusivamente a um grupo "tnico

    ou social! o ,ue " interessante ao projeto do Estado como propaganda e sBmbolo da

    nacionalidade! por unir as classes em torno de um sBmbolo nacional 59(NN(! G&&GH'

    E! de /orma antag?nica! re/orça a mani/estação do samba como /orma de resistência e

    a/irmação dos valores culturais dos negrosA

    ( imagem da )roda de samba* voltaria a cena musical em v.riosmomentos da @istIria da m>sica brasileira! sempre utili1ada comoimagem crBtica 2 industriali1ação e a individuali1ação da criação eaudição musicais' ( )roda de samba* seria o lugar de /ala musicalcoletiva! )pura*! )espontDnea*! onde a criatividade da,uele gruposocial ,ue estaria na origem do samba! era recolocada! ,uase comoum rito de origem N(3O49J(NO e W(SSERM(N! G&&&! p' #F&H'

    5oltando 2 letra! Noel con/raterni1a com o )novo espaço social* deste )samba*em ascensãoA Est.cio de S.! Salgueiro! Mangueira! OsYaldo 6ru1 e Matri1! voltando a

     provocar Wilson ,uando coloca a 5ila como o )berço* do samba com sua musicalidadeA

    )eu j. c@amei você pra verK você não viu por,ue não ,uis*'

    Em meio a tal provocação o prIximo passo de Wilson! como veremos! " /ocar a

    discussão! agora mais do ,ue nunca! na /igura do autorK@erIi Noel Rosa com um golpe

     baixoA deboc@ando da /eiura de Noel Rosa no samba ;ranTenstein da 5ilaA

    #%

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    oa impressão nunca se tem K Zuando se encontra um certo algu"m KZue at" parece um ;ranTenstein K Mas! como di1 o ri/ão K 3or umacara /eia perde+se um bom coração K Entre os /eios "s o primeiro da/ila K Jodos recon@ecem l. na 5ila K Essa indireta " contigo K E depois

    não v.s di1er ,ue não sei o ,ue digo K Sou teu amigo'

    1#

    Wilson! neste samba! compara Noel ao personagem do livro publicado em #$%#

    e trans/ormado em /ilme em #$%% de Mar S@elle' 3ois Noel era )magrin@o e sem

    ,ueixo* 67E09(! G&&$! p' #&H' Neste di.logo tamb"m podemos ver uma crBtica

    ir?nica de Wilson ,uanto a um Noel )produto* das mBdias da "poca! pois assim como a

    ind>stria /onogr./ica e o r.dio cresciam! tamb"m @avia polBticas /avor.veis ,uanto ao

    interesse dos importadores e distribuidores de cinema no rasil ,ue gan@ava cada ve1

    mais espaço S9M9S! #$$H! tornando o circuito da cultura um circuito de massa! com

     jornais! revistas! r.dios! /ilmes etc'

     No /im da canção Wilson tra1 para o )pessoal*A )E depois não v.s di1er ,ue eu

    não sei o ,ue digo*!  /a1endo uma citação direta ao samba 3alpite 9n/eli1 de Noel' E!

    diante deste desa/oro! Noel! musicalmente ou poeticamente! resolve não responder ou!

    talve1! responde com o silêncio' 3essoalmente! j. não se pode di1er o mesmo! pois

    Wilson d. pistas de ,ue @ouve uma tentativa de resposta nos bastidores da polêmica do

    samba na letra de Jerra de 6egoA )Não deves apelar K 3ara um barul@o na mão K Emversos podes bem desaba/ar K 3ois não /ica bonito K Um bac@arel brigar*A 

    3erde a mania de bamba K Jodas sabem ,ual " K O teu diploma nosamba K Ps o aba/a da 5ila! eu bem sei K Mas em terra de cego K Zuemtem um ol@o " rei K 3ra não terminar a discussão K Não deves apelar K3ara um barul@o na mão K Em versos podes bem desaba/ar K 3ois não/ica bonito K Um bac@arel brigar '1$ 

    Wilson! ainda! aproveita para al/inetar Noel! rebaixar a sua musicalidade e

    desmerecer mais uma ve1 a 5ilaA )Em terra de 6ego K Zuem tem um ol@o " rei* - 3or 

    /im )  Noel! para desconversar a intriga lança mão de um Clina!e! N9JR9N9! G&&&H )

    isto "! desvia+se dos temas ,ue cercam o malandro na polêmicaA a indument.ria! o

    comportamento! o lócus! a posição social! a aparência e a musicalidade'

    0iplomaticamente! o bac@arel do samba! tra1 Wilson atista para uma parceria musical

    #  Fran0enstein da >ila- Wilson atistaH Lravação de 6laudia 5entura e Rodrigo (l1uguir' O Sambacarioca de Wilson aptista' iscoito ;ino' G%' 0isco G' ;aixa #F'#

     Terra de Cego- Wilson atistaH Lravação de 6laudia 5entura e Rodrigo (l1uguir' O Samba carioca deWilson aptista' iscoito ;ino' G%' 0isco G' ;aixa #'

    #

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    como estrat"gica de p?r /im 2 polêmica' O tema! desta ve1 " uma antiga paixão dos dois

    malandrosA 6eci'1% 0esse modo! com a m>sica de Wilson atista1& e a 4etra de Noel

    Rosa nasceu o sambaA 0eixa de ser convencidaA

    0eixa de ser convencida K Jodos sabem ,ual " K Jeu modo de vida K Psuma per/eita artista! em bem sei K Jamb"m /ui do trap"1io K (t" saltomortal K No arame j. dei muita medal@a eu gan@ei_H K E no picadeirodesta vida K Ser.s a /era abatida K 6on@eço bem acrobacia K 3ois issonão /aço /" K Em amor! em amor de parceria'1' 

    3ortanto! desviando+se totalmente dos temas anteriores tratados na polêmica e

    criando uma parceria ,uando coloca letra sobre uma melodia de Wilson atista o

    )bac@arel do samba* Noel Rosa encerra a polêmica )desconversando*! mas não encerra!obviamente! os di.logos entre os dois poetas e entre os v.rios temas trabal@ados nesta

    discussão' V. ,ue! o contexto e as muitas vo1es ,ue entrecru1aram os textos

    supracitados continuam ecoando nos sentidos dos destinat.rios com os ,uais

    estabeleceramKestabelecem algum tipo de relação! e per/a1em novamente novos

    di.logos'

    )onsideraç*es +inais

    (o compararmos a composição musical na polêmica do samba entre Noel Rosa

    e Wilson atista ao )discurso*! em nBvel de desenvolvimento de pensamento!

     para/raseando liTstein (RROS! G&&%H e! tamb"m! em nBvel de an.lise sobre odesenvolvimento da sociedade brasileira! podemos di1er ,ue as composiç-es musicais!

     principalmente a,uelas em ,ue a sociedade se identi/ica! comp-em um continuu!

    interligado e indivisBvel ,ue se estende por muitas vo1es entrecru1adas no tempo e no

    espaço! suportada por toda uma intertextualidade'

    #F  NOE4' 3oeta da 5ila' 0ireçãoA Ricardo 5an Steen' 3roduçãoA 3aulo 0antas' São 3auloA Movi(rt8\o@ar 6inema! G&&' # 050 $ minH! Yidescreen! color '# Sobre a melodia do Samba )Jerra de 6ego*-#$

      6ei$a de ser convencida- Wilson atistaKNoel RosaH Lravação de 6laudia 5entura e Rodrigo (l1uguir'O Samba carioca de Wilson aptista' iscoito ;ino' G%' 0isco G' ;aixa #$'

    #

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    Este suporte intertextual movido pela multiplicidade tra1 na polêmica do samba

    o espBrito do artista ,ue deu baluarte a uma visão exterior do cotidiano situando+se no

    Dmbito social e @istIrico do personagem analisado em relação com a sociedade em ,ue

    este est. inserido! seus condicionantes e os da m>sica em estudo' 0entro da polêmica do

    samba este apoio artBstico! causador e re/lexo das tens-es inexor.veis da sociedade!

    /riccionou e deu /orça motri1 ao movimento de nove atos! nos ,uais estiveram em

    evidência a indument.ria! o comportamento! o local! a paixão! a aparência e a

    musicalidade tanto dos autores ,uanto do @erIiA @ora um! @ora outro! e 2s ve1es os dois

    ao mesmo tempo'

     Neste diapasão! entre estes atosKcomposiç-es @ouve construç-es!

    desconstruç-es! identi/icaç-es! aproximaç-es! opini-es! paix-es! contradiç-es! pessoalidades! insultos! ameaças! @istIrias! estIrias! ideologias! ambiguidades!

    desconversa e at" parcerias' Judo isso! mergul@ado num ambiente de pro/unda

    musicalidade e criatividade ,ue inventariou identi/icaç-es entre os enunciadores e os

    destinat.rios'

    Sumariando! em nBvel de labor cientB/ico! o ajuste de /oco no prisma da grande

     polêmica do samba nos anos #$%&! nos trouxe 2 tona o dialogismo entre os diversos

    textos da "poca! tendo como pano de /undo as motivaç-es responsivas dos autores esuas /erramentas de composição ,ue! por sua ve1! re/letiram um contexto @istIrico e

    social da "poca em ,ue estavam inseridosA a divisão social em classes! a intervenção

    ideolIgica do Estado! a integração paulatina do negro na sociedade brasileira e a

    ascensão da ind>stria e do com"rcio midi.tico brasileiro'

    RE;ERN69(S

    (4M9R(NJE! 7enri,ue ;' 0' 'o te!o de 'oel Rosa- G'ed- Rio de VaneiroA 4ivraria;rancisco (lves! #$FF'

    (N0R(0E! M.rio' 3nsaio so%re !sica %rasileira' São 3auloA 4ivraria Martins! #$G'

    (N0R(0E! M.rio' 0anças 0ram.ticas! introdução e primeira versãoA Aruivo Máriode Andrade! São 3aulo! 9EKUS3! #$%'

    (7J9N! MiT@ail'  9ro%le!as da 9otica de 6ostoivs0i' Rio de Vaneiro! ;orenseUniversit.ria! #$#'

    #

  • 8/17/2019 Modelo - A Polêmica Do Samba Entre Noel Rosa e Wilson Batista

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     '  3sttica da cria=o ver%al ' G' Ed'! São 3auloA Martins ;ontes!#$$F'

    (RROS! 0iana 4' 3' 0ialogismo! 3oli/onia e Enunciação,  9nA (RROS! 0'4'3' e

    ;9OR9N! V' 4' orgsH' 6ialogis!o) 9oli#onia e :nterte$tualidade e! Torno de Ba0htin' G'Ed' São 3auloA Editora da Universidade de São 3aulo! G&&%! p' #+$'

    (J9SJ(! Wilson' 0iscos 3rojeto (lmirante' (cervo online' 0isponBvel emAQ@ttpAKKYYY'/unarte'gov'brKbrasilmemoriasartesKacervoKdiscos+projeto+almiranteKYilsonbatistaK (cesso em #& jun' G'

    49SJE9N! 91idoro' 9ntertextualidade e poli/oniaA o discurso do 3lano rasil Novo'9nA (RROS! 0'4'3' e ;9OR9N! V' 4' orgsH'  6ialogis!o) 9oli#onia e :nterte$tualidadee! Torno de Ba0htin' G' Ed'! São 3auloA Editora da Universidade de São 3aulo! G&&%! p'+'

    6(N6E449! Eli1abet@' 5 !undo da violDncia7 a olargas' São 3auloA4ivraria Martins! #$G'

    6(SP! Ra/ael' 9rogra!a Cas E 5 rádio co!e=ou aui' Rio de VaneiroA Mauad! #$$'

    67E09(! (lmir' Song%oo0 'oel Rosa' 5ol' G' São 3auloA 9rmãos 5itale! G&&$'

    0E(4JR[! Liovana' Malandros! /olgados e valentesA (proximaç-es entre Noel Rosa!Wilson atista e Marcelo 0G' 9potesi' Vui1 de ;ora! v'#! n'G! p' #+#G%! jul'Kde1' G#'

    ;ENER96! Vos" (driano' SambaA tradição e modernidade na m>sica popular  brasileira' ResgateA Revista 9nterdisciplinar de 6ultura' 6ampinas! v'#! n'#! p' %+$!G&&F'

    ;9OR9N! Vos" 4' 3oli/onia textual e discursiva'   9nA (RROS! 0'4'3' e ;9OR9N! V' 4'orgsH'  6ialogis!o) 9oli#onia e :nterte$tualidade e! Torno de Ba0htin' São 3auloAEditora da Universidade de São 3aulo! G&&%! p' %&+%'

    L(S3(ROJJO! 4ucas' 6e .Raaz Folgado/ a .Malandro?sa!%ista?ro#issional/A (apropriação da malandragem em sambas de Wilson atista e Noel Rosa' 9nA  : 

     3ncontro 3stadual de Gistória- VulKGG' Rio Lrande' Gistória) Me!ória e 9atri!ônio'Rio LrandeA Universidade ;ederal do Rio Lrande! GG! p' #G#+#G%#'

    LOMES! ngela de 6astro' 9deologia e trabal@o no Estado Novo' 9nA Repensando oEstado Novo' 9nA 3(N0O4;9! 0ulce Org'H'  Reensando o 3stado 'ovo-  Rio deVaneiroA ;undação Let>lio 5argas! #$$$! p' %+FG'

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  • 8/17/2019 Modelo - A Polêmica Do Samba Entre Noel Rosa e Wilson Batista

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