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Terapia comportamental

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Page 1: Modelação do comportamento de mentir
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Revista PsicologAno 2, Volume 2, Número 1

ISSN 1983-6872

EditorCarlos Henrique da Costa Tucci

Ribeirão Preto - SP - Brasil 2009

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Modelagem do comportamento de falar a verdade em sessõesde terapia.

Ana Beatriz Dornellas Tabbal Chamati 1, Nicolau Kuckartz Pergher 2

1Paradigma – Núcleo de Análise do Comportamento

2Paradigma – Núcleo de Análise do Comportamento /Universidade Presbiteriana Mackenzie.

[email protected]

Abstract. Saying the truth and lying are behaviors that may be reinforced, pu-nished, extinguished and can be put under discriminative control like manyother behaviors. This paper will report a case study about an 8 years old boywho often emitted reports incompatible with reality. His parents were orientedto reduce social attention to lying reports and to reinforce truthful reports. Intherapy sessions, the intervention goals were: 1) Help to discriminate varia-bles related to greater lying probability; 2) Reduce social attention contingenton lying reports; 3) Reinforce truthful reports; 4) Discriminate feelings peoplehave when lies are revealed to them; 5) Help to discriminate fantasy from rea-lity; 6) Admit to have lied and 7) Substitute lying reports for truthful ones. It wasobserved that truthful reports increased and lying reports diminished. The cli-ent started to verbally describe that his lies were controlled by social attention.Instead of lying, the client started to report "wishing to"have or to know how todo something else. Therapist interventions may also help the client’s expressionof emotions and worries (considering that lying works as an escape behavior)and may facilitate the intimacy and durability of the client’s social relations.Key-words: Shaping, verbal – non verbal correspondence, saying the truth,lying, case study

Resumo. Falar a verdade e mentir são comportamentos passíveis de serem re-forçados, punidos, extintos e de passar por processos de discriminação, assimcomo muitos outros comportamentos. O presente artigo relatará o caso clínicode um menino de 8 anos, que frequentemente emitia relatos incompatíveis com arealidade. Os pais do cliente foram orientados a diminuir a atenção contingentea relatos mentirosos e a valorizar relatos verdadeiros. Nas sessões de terapia,as intervenções tiveram como objetivos: 1) Auxiliar na discriminação das va-riáveis ambientais que aumentavam a probabilidade de mentir; 2) Reduzir aatenção social contingente a relatos fantasiosos; 3) Valorizar relatos verdadei-ros; 4) Discriminar sentimentos gerados pela deflagração de uma mentira; 5)Auxiliar na discriminação entre fantasia e realidade; 6) Admitir que contoumentiras e 7) Substituir relatos fantasiosos por relatos precisos. Observou-seque a frequência de relatos verdadeiros aumentou, diminuindo a ocorrência dementiras. O cliente passou a descrever verbalmente que suas mentiras eramcontroladas por reconhecimento social e passou a falar que “gostaria de” terou saber fazer algo, ao invés de mentir. Acredita-se também que as interven-ções realizadas possam facilitar a expressão de sentimentos e preocupações(considerando que a emissão de mentiras funcione como esquiva) e que possamfavorecer a ocorrência de relações sociais mais íntimas e duradouras.

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Palavras-chave: Modelagem, correspondência verbal – não verbal, verdade,mentira, estudo de caso.

Muitas das respostas verbais são mo-deladas por meio de reforçamento providopor outros indivíduos. A comunidade ver-bal tem interesse na formação de pessoasque possam contar sobre acontecimentos,sobre seus estados internos e que possamanalisar contingências. A partir de um re-pertório inicial de respostas que descrevemcontingências, o indivíduo pode, inclusive,descrever eventos inéditos, emitindo res-postas verbais novas (SÉRIO, et al., 2004).

Alguns relatos verbais guardam coerên-cia com os eventos que estão sendo descri-tos. Entretanto, a depender da audiênciae de histórias de reforçamento particula-res, os relatos verbais podem ser distorci-dos, exagerados ou podem ser classificadoscomo mentiras, quando não correspondemaos eventos.

O presente trabalho tem como objetivorelatar um caso clínico onde foi verificadaa ocorrência de respostas verbais que nãocorrespondiam aos acontecimentos viven-ciados. Além disso, pretende-se apresentaras análises funcionais realizadas para ex-plicar a emissão dos relatos fantasiosos eenumerar algumas intervenções implemen-tadas com o objetivo de tornar as verbaliza-ções do cliente coerentes com eventos aosquais elas se referiam.

O caso clínico descrito a seguir é de ummenino de 8 anos atendido em um Insti-tuto particular que oferece serviço de tera-pia analítico-comportamental à população.A criança será chamada, daqui em diante,de “G.”. G. é filho único de R. (mãe, 41anos, professora de inglês) e de M. (pai,43 anos, representante de vendas). A pri-meira sessão foi realizada com os pais, naqual a terapeuta realizou uma anamnese esolicitou que os pais descrevessem por queavaliavam que o filho precisaria de terapia.

Quanto ao desenvolvimento do filho, ospais descreveram que G. nasceu prematuro,com septicemia, hipertensão pulmonar ebroncopneumonia. Permaneceu na UTI ne-onatal por 15 dias. G. teve convulsão aos3 anos, mas não foram encontradas causasorgânicas nos exames realizados. Tomouanticonvulsivo (Trileptal) por dois anos.Quando G. tinha quatro anos, seu pai tevecâncer e permaneceu hospitalizado durante14 meses, período em que G. foi criado pelaavó materna, que se mudou para a casa dafilha para cuidar do neto. G. já teve seispneumonias, sendo que a última ocorreu nofinal de 2007, quando precisou ser inter-nado. Os pais relataram que o filho apre-senta sobrepeso, miopia (que requer o usode lentes corretivas) e dificuldades psico-motoras.

Como queixas, os pais relataram queo filho estava muito agressivo com o pai(quando contrariado, o agredia verbal-mente, elevando o tom da voz e desobede-cendo), desde que este voltou a fazer quimi-oterapia, em janeiro de 2008. Descreveramque G. tem apresentado ciúme excessivode R., mãe do cliente. R. relata não poderdar atenção a outras pessoas quando o fi-lho está por perto, descrevendo que o filhoa “sufoca” (SIC). Os pais ainda relataramque G. sente medo do escuro, fica doentecom facilidade e que dorme no quarto dospais há mais de quatro anos, desde que opai retornou do hospital (G. dorme em umcolchão ao lado da cama do casal e de mãodada com a mãe). Ao final dessa primeirasessão, foi explicado que a terapia seriarealizada semanalmente com a criança e,oportunamente, com os pais. A terapeutaentregou–lhes duas vias de um termo deconsentimento livre e esclarecido para serassinado. Nesse termo, constava uma auto-rização para publicações cientificas referen-

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tes ao caso atendido, mediante garantia dosigilo dos participantes. Uma via assinadaficou sob a guarda da instituição, e outra,com os pais do cliente.

Avaliação dos Comportamentos do Cli-ente.

Foram realizadas trinta e uma sessões,no período de onze meses, sendo oito ses-sões de orientação aos pais. As sessões ti-nham duração média de cinquenta minutos,sendo realizado o registro manuscrito dassessões pela terapeuta, após cada atendi-mento. As estratégias de intervenção foramdiscutidas e orientadas por um supervisor.O cliente continua em atendimento.

Durante todo o processo terapêutico, G.não apresentou comportamentos agressivosnas sessões. G. mostrou-se solícito e obedi-ente (aceitava participar das atividades pro-postas, contava muito sobre si e respondiaas perguntas da terapeuta). Por este motivo,levantou-se a hipótese de que a terapeutafuncionava como estímulo discriminativopara respostas diferentes daquelas emiti-das na presença dos pais. Segundo os pais,fora do ambiente escolar, G. não convivecom outras crianças de sua idade. Possivel-mente, a atenção provida pela terapeuta eos jogos propostos funcionaram como re-forçadores do comportamento de brincaramigavelmente. A partir das verbalizaçõesdo cliente, foi possível observar a valoriza-ção de coisas materiais. O cliente relatou:

“Minha casa tem um lustre enorme, umapia enorme, tem um sofá retrátil. Meuquarto é muito grande. Eu tenho o Nin-tendo, Playstation... Comprei um robô na‘A’ [nome da loja]. Eu que comprei, minhamãe me emprestou o cartão de crédito delae eu comprei. Outro dia eu estava na minhacasa e ele fez o que eu mandei. Ele é do ta-manho de um gato, ele obedece a comandode voz. Tem um espaço enorme na minhacasa. Eu tenho uma casa em I. [cidade do

interior do Estado] também.”

Esse tipo de relato do cliente fez comque a terapeuta levantasse a hipótese de queobjetos materiais e obtenção de dinheiro de-vem ser valorizados por seus pais, por suaavó ou pelos pares da escola em que estuda.Além disso, os próprios pais, ao ostenta-rem os bens que possuem, poderiam estarfuncionando como modelos para o cliente,que teria aprendido a emitir esses compor-tamentos por modelação.

O cliente apresentou frequentemente ouso de fantasias e mentiras. Entende-se porfantasia, as ações ou verbalizações que ex-trapolam os limites físicos do brinquedo,brincadeira ou jogo, por meio de repre-sentação de papéis, imaginação, simulação,faz-de-conta, etc. As fantasias podem en-volver: animismo, objetos, elaboração deestórias, incorporação de personagens, de-sempenho de papéis (DEL PRETTE, 2006).As mentiras poderiam ser definidas comorelatos verbais não coerentes com a ver-dade, frequentemente emitidos proposita-damente. No presente trabalho, ambos ostermos (“fantasias” e “mentiras”) serão uti-lizados indiscriminadamente, dada a difi-culdade prática de identificar a intenciona-lidade nos relatos imprecisos emitidos pelocliente. Por exemplo, na primeira sessão, ocliente relatou:

“Eu tenho uma arara, dois gatos, eu tinhapeixes que morreram. Eu tinha um hamstere uma tartaruga que caiu da minha casa. Eumoro no último andar, e ela foi andando ecaiu da sacada. Eu tinha uma cobra tam-bém, só que ela fugiu da jaula que era devidro e matou meu tio. A cobra enforcoumeu tio, ele foi picado e, então, tive que darminha cobra”.

“(...) Eu vi o Cristo Redentor. Jogueiuma pedra nele e até ficou um racho... Jáviajei para seis países: França, Alemanha,Estados Unidos, Paris... No final do ano,

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vou viajar para outro país. Sabia que euganhei na loteria? 876 milhões. Compreium ‘Corsinha’, comprei vários carros. Voucomprar uma Ferrari. Eu posso comprar oque eu quiser. Sabia? Sabia que eu possocomprar o que eu quiser? Vou comprar umalimosine, cabem umas 22 pessoas. Tem atégeladeira dentro. No meu quarto tem umaTV de plasma, cor viva, sabe? E um hometheater, eu ganhei. Na sala também temuma TV de plasma e um home theater”.

“(...) Minha vovozinha, ela mora emuma mansão, ela mora na minha rua. A mi-nha casa também é uma mansão. Na casadela também tem um sofá retrátil, é do ta-manho dessa casa aqui, cabe quase nessacasa inteira, é muito grande”.Ao mentir ou fantasiar, o cliente contavasituações nas quais se destacava, por fa-zer ou possuir algo fora do convencional.Alguns outros relatos imprecisos foram deque comeu uma barata, matou um rato e ocomeu, fez uma cirurgia para colocar umaparelho na cabeça para ficar mais inteli-gente, que seu avô foi o primeiro homema pisar na Lua - o astronauta americanoNeil Armstrong, que o sítio da tia era seu,relatou que chocou ovos de avestruz, quepossui uma fazenda de formigas e que viuuma formiga nascer, etc. A partir dessesrelatos, levantou-se a hipótese de que G. re-cebia atenção quando contava fantasias oumentiras e, dessa forma, os relatos impre-cisos eram mantidos, conforme sugeriramPergher (2002) e Pergher e Sadi (2003).

Além disso, adotar uma posição de des-taque parecia ser algo relevante para ocliente. Na escola, G. destaca-se por al-guns comportamentos (como iniciar uma“guerra” de purê no refeitório) e por con-tar aos amigos e professora sobre ter coisasmateriais. Dessa forma, pôde-se hipotetizarque G. recebia atenção na escola, dos co-legas e professores, ao emitir o comporta-mento de contar algumas mentiras. Porém,

o uso frequente e prolongado de mentiraspoderia levar o cliente a rupturas sociais,especialmente gerando descrédito em rela-ção a si, o que faria com que as pessoas seafastassem do cliente.

Segundo Oaklander (1980), mentir seriaum sintoma de algo que está confuso para acriança. O emprego de mentiras pode indi-car que as crianças estão com medo e comdúvidas em relação a si mesmas e/ou em re-lação ao mundo que as cerca. Pode indicartambém que estão com uma auto-imagempobre ou sentindo-se culpadas. Nesses ca-sos, mentir seria um comportamento defen-sivo: a criança cria uma fantasia que lheseja aceitável. A fantasia tornar-se-ia ummeio de expressar aquilo que ela possuidificuldade em admitir como realidade. Se-gundo Oaklander (1980), as crianças cons-tróem um mundo de fantasia porque julgamseu mundo real difícil de viver.

Considerando o que fora proposto porOaklander (1980) e considerando que a do-ença do pai de G. tenha sido um eventoaversivo, levantou-se a hipótese de que G.não expressou os sentimentos em relação àdoença do pai e suas decorrências. Assim,mentir seria uma forma de esquivar-se deentrar em contato com eventos aversivos re-lacionados à doença do pai ou com algumtipo de recriminação social. Segundo Re-gra (2000), algumas crianças têm medo deverbalizar sobre sentimentos e receber de-saprovação do terapeuta, supondo que essessentimentos possam não ser aceitos social-mente. Em alguns casos, as crianças ficampreocupadas que esses sentimentos possamser relatados aos pais, com quem, muitasvezes, já existe uma história de punição.Seguindo a proposta de Oaklander (1980),o cliente precisaria passar a descrever seusreais sentimentos, sem a utilização de men-tiras. Abaixo, serão descritas as principaisorientações fornecidas nas sessões com ospais e serão apresentadas algumas ativida-

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des realizadas com o cliente, bem como osresultados obtidos com as intervenções. Asatividades tiveram como objetivo geral au-mentar a frequência de relatos fidedignos ediminuir a frequência de relatos fantasiosose mentirosos.

Orientação aos Pais.

Compreender como a história de vidada criança favoreceu o desenvolvimentode determinados conceitos, como o com-portamento da criança está sob controle dedeterminados contextos e como alguns deseus comportamentos são governados ver-balmente pode ajudar na identificação demuitas variáveis que controlam determina-dos comportamentos-problema (REGRA,2000).

Analisou-se que as doenças que G. játeve, somadas ao câncer do pai, fizeramcom que os pais o vissem como “coitadi-nho” e fossem mais permissivos com o fi-lho, inclusive permitindo e até valorizandorelatos falsos. Os pais foram orientados anão dar atenção ao filho quando percebes-sem que ele estivesse fantasiando dema-siadamente, com o objetivo de diminuir adensidade de reforço social contingente àsmentiras. Eles deveriam tentar entender omotivo de G. estar contando uma determi-nada mentira, perguntando por que estavafalando daquela forma e sugerindo análisese dando modelo de verbalizações alternati-vas.

A terapeuta descreveu que as mentiraspoderiam ocorrer porque G. não sabe di-zer que “gostaria que fosse verdade” aquiloque contava, de modo que o filho acabavarelatando os eventos como se, de fato, elestivessem ocorrido. Os pais foram orienta-dos a supervalorizar quando percebessemque G. estava contando a verdade, o quepoderia fazer com que o comportamento de“contar a verdade” aumentasse em frequên-cia, conforme sugere Ribeiro (1989). Os

pais também foram orientados a dar atençãoquando G. dissesse que “não se lembrava”de algo ou que “não sabia” responder umadeterminada pergunta, pois esses são com-portamentos incompatíveis com mentir. Asorientações aos pais foram fornecidas paraque outras pessoas, no ambiente natural, re-forçassem a mesma classe de respostas queeram reforçadas pela terapeuta. Assim, asmudanças que ocorrem dentro do contextoda relação terapêutica poderiam ser genera-lizadas para o ambiente natural, conformedescreve Regra (2004).

Intervenções Realizadas no Atendimentocom o Cliente e Resultados Obtidos.

1) Auxiliar na discriminação das variáveisambientais que aumentam a probabilidadede mentir.

2a sessão:

Foi desenvolvida uma brincadeira ao es-tilo do jogo “super trunfo”. A terapeutalevou figuras de pessoas recortadas de re-vistas. O cliente deveria escolher uma dasfiguras e a terapeuta outra. Ambos deve-riam colar a figura em uma folha sulfite eescrever uma profissão, idade, três descri-ções sobre o “jeito de ser” da pessoa e trêsdescrições do que a pessoa gostava.

Cada jogador que acertasse a descriçãofeita pelo outro, ganharia um ponto. Du-rante o jogo, G. verbalizou frequentementeque a terapeuta não havia acertado as des-crições do personagem feitas por ele. Aofinal do jogo, a terapeuta pediu para ver asdescrições de G., e ele recusou. O clientemudou de assunto e a terapeuta pediu no-vamente para ver a folha do cliente. Então,ele verbalizou:

G. – Se você olhar a minha folha você vaifazer muitos pontos (silêncio). Vamos fazeroutro? Quero fazer outro.T. – Posso ver a sua folha antes, G.?

O cliente entregou a folha à terapeuta.

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A terapeuta pôde verificar que havia feitodescrições coerentes com o que o clientehavia escrito, o que evidenciou que o cli-ente havia mentido sobre a incorreção dasadivinhações da terapeuta. O cliente foi atéa caixa onde estavam os outros brinquedose, mexendo neles, sem olhar para a tera-peuta, disse:

G. – Eu menti.T. – Porque você mentiu, G.?G. – Porque eu não queria perder.T. – Ah, então quando você está perdendo,você não gosta e por isso acaba mentindo.É isso?

2) Reduzir a atenção social contingente arelatos fantasiosos.

Ao observar a ocorrência de relatos fan-tasiosos, a terapeuta procurava parar deolhar na direção do cliente e evitava rir ousorrir. Essa intervenção tinha como objetivocolocar em extinção os relatos fantasiosos.

7a sessão:

Enquanto fazia um desenho, o cliente fa-lou para a terapeuta:

G. – Entraram duas baratas na minha casa.Minha mãe ficou com medo e subiu na ca-deira. Eu peguei meu sapato e matei umabarata e dei pro vira-lata comer.T. – Vira-lata?G. – É. Tem lá na frente da minha casa. De-pois a outra, eu matei e comi.

O cliente ficou olhando fixamente para aterapeuta, que havia desviado olhar e apósum momento de silêncio ele falou:

G. – Você já comeu barata? Você estávendo agora alguém que comeu uma ba-rata. Nas férias do ano passado, que euestava em Nova Iorque, apareceu um rato.Daí ele me mordeu aqui, olha essa marqui-nha! Daí apareceu um gato e eu peguei umafaca e matei ele assim, olha! E comi.

A terapeuta permaneceu em silêncio,sem olhar para o cliente.

3) Valorizar relatos verdadeiros.

8a sessão:

G. – Hoje não trouxe os cards (do Narutos)porque minha mãe não deixou.T. – Que estranho, G., ela sempre deixa.Eu pensei que você tivesse escolhido trazeroutros brinquedos e quis deixar os cards emcasa. (Silêncio).G. – É, eu não quis trazer os cards hojeporque tinha muitos e escolhi trazer outrosbrinquedos.T. – Que bom que você voltou atrás no quevocê me falou, G.. Você pode pensar no quefalou e falar diferente quando percebe quese enganou! Parabéns!

4) Auxiliar na discriminação de sentimen-tos gerados pela deflagração de uma men-tira.

10a sessão:

Nessa sessão, a terapeuta utilizou o li-vro: “Não fui eu! Aprendendo sobre ho-nestidade” de Brian Moses e Like Gordon(1999). Primeiramente, algumas perguntasque constam no livro foram feitas ao cli-ente. Em seguida o livro foi lido. Algumasquestões sobre a história do livro foram fei-tas ao cliente, e ele deveria responder se es-tavam corretas. Quando acertava, o clienteganhava um card do Narutos. Essa inter-venção tinha como objetivo reforçar relatoscoerentes com a história original. Duranteessa sessão, houve o seguinte diálogo:

T. – Dizem que a mentira é como umabola de neve que cresce rolando montanhaabaixo. Você pode imaginar por que?G. – Existe um ditado que se chama “amentira tem perna curta”. Isso significaque você não consegue “segurar” por muitotempo.T. – E quando um amigo mente pra você,como você se sente?

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G. – Eu me sinto chateado porque aqueleamigo em quem eu confiei está mentindo.

5) Auxiliar na discriminação entre fantasiae realidade.

12a sessão:

Nesta sessão, o cliente deveria escolherum tema para fazer um desenho. Poste-riormente, deveria contar uma história arespeito do desenho e caracterizar os perso-nagens. Ao longo da atividade, terapeuta ecliente iriam discriminar o que é possível eo que não é possível de acontecer na vidareal.

Relatando do sítio no interior, o clientedisse:

G. – Eu encontrei na chácara da minha tiaum ovo de avestruz. Eu que choquei o ovo,ovo de avestruz é valioso.T. – Sabe, G., às vezes contamos algumasfantasias e precisamos perceber o que é fan-tasia e o que é realidade. Na fantasia, tudopode, G., mas em situações reais nós nãofazemos tudo o que conseguimos imagi-nar. Quando você me contar alguma coisapossível de acontecer, quero que você meavise se realmente aconteceu. Vou ficarmuito contente com sua coragem de me di-zer quando você inventou uma história quenão é possível e vou ver que a sua imagina-ção foi interessante. Algumas vezes, usara imaginação é necessário, como na brin-cadeira que fizemos hoje, desenhando seusamigos e usando a imaginação para pensarcom o que eles se parecem. Nós vamos jun-tos perceber o que é possível de acontecerna vida real. Pode ser, G.? Vamos combinarassim?

O cliente prestou atenção e ficou umtempo em silêncio. Em seguida falou:

G. – Isso que eu contei do avestruz é umafantasia.

A terapeuta elogiou o cliente.

14a sessão:

Na atividade dessa sessão, o cliente de-veria escolher seis figuras, levadas pela te-rapeuta, para contar duas histórias. Umadas histórias deveria conter fantasia e a ou-tra deveria ser real, possível de acontecer.Após contar a história com fantasia o cli-ente deveria identificar as fantasias. O cli-ente inventou a seguinte história:

“A mãe perguntou para o pai: ‘porquea gente só teve dois filhos? Eu queria tertrês’. Era um dia, o pai e a mãe estavampasseando com os dois filhos e um pergun-tou para o outro. E um dos bebês disse parao irmão: ‘Já sei que isso vai dar briga’. Aío outro bebê disse para o outro irmão: ‘Euque o diga, olha que eu detesto briga’. Ooutro bebê falou: ‘Concordo com você’.FIM.”

T. – G., me conta agora qual a fantasia dessahistória?G. – Os pais desejarem ter outros filhos. Aminha mãe tem só eu de filho e ela é feliz(silêncio). Além dos bebês falarem, porquebebê não fala, né?T. – É verdade G., eu concordo com vocêque é fantasia os bebês falarem, porque narealidade bebês não falam. Mas, pensa co-migo, G., na realidade pode haver casaisque queiram ter outros filhos, não pode?Pode ter casais, como os seus pais, quenão desejem ter outros filhos, mas tambémpode haver casais que desejem ter mais fi-lhos, que tenham um e queiram ter maisum, mais dois. Isso pode acontecer de ver-dade. O que você acha?

O cliente ficou pensativo e, após um mo-mento, disse que “sim”. Ele verbalizou queentendeu que pode ser real os casais dese-jarem ter mais filhos.

Antes de iniciar a segunda história, pe-gou na mão uma figura de uma criança todapintada de tinta e falou:

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G. – O menino jogar vídeogame e depois sepintar todo de tinta é fantasia?T. – Vamos pensar juntos: isso pode acon-tecer de verdade?G. – Eu acho que pode.T. – Isso, G., então você acha que é umahistória com fantasia ou que pode ser real?G. – Que pode ser real.T. – Muito bem, G.! Pode ser real, é possí-vel de acontecer. Pode contar a sua história.

6) Incentivar e reforçar o comportamentode admitir que contou mentiras.

19a sessão:

A atividade realizada na sessão tinhacomo objetivo treinar habilidades sociais,atendendo às queixas dos pais de G. de queele mostrava-se muito tímido, não olhavapara as pessoas e não respondia perguntasfeitas a ele. Havia 16 sentimentos escritosem tiras de papel. O cliente deveria sorteá-los e expressá-los através de uma careta.Posteriormente, deveria fazer um desenhodo sentimento sorteado. Ao longo da ativi-dade, o cliente foi orientado a identificar re-latos que não fossem verdade. A terapeuta,por sua vez, valorizava relatos que assumis-sem alguma mentira contada anteriormente.

Após a terapeuta explicar a atividade, G.falou:

G. - É igual na semana passada? Assim:“eu tenho um gato” e aí eu desenho um ga-tinho?T. – Isso, G., mas hoje não são frases, éapenas uma palavra.G. – Sabia que nesse fim de semana eu voubuscar outro gatinho? Eu vou com a minhamãe lá na casa da cunhada dela e vamospegar outro gatinho.

O cliente continuou a falar sobre ou-tros assuntos e contou que viajou para LasVegas nas férias de julho. A terapeuta (sa-bendo que essa viagem não ocorrera) nãodeu atenção ao relato do cliente e continuou

a atividade. Ele pegou o primeiro papel, noqual estava escrito “ANGUSTIADO”. Elefez uma expressão facial coerente com estesentimento e, antes de desenhar, falou:

G. – Eu sei fazer cara de cachorrinho semdono, olha!

O cliente fez a cara de cachorrinho semdono e colocou as mãozinhas na frente,como se fossem as patas do cachorro. Aterapeuta o elogiou.

Ao pegar o segundo papel, antes de abrí-lo, G. disse em voz baixa:

G. – Eu preciso te dizer uma coisa.

A terapeuta não entendeu o que o clientehavia falado e pediu que ele repetisse:

G. – Eu preciso te falar uma coisa.T. – Pode dizer, estou ouvindo.G. – É que eu nunca fui pra Las Vegas –falou com a cabeça baixa, sem olhar para aterapeuta.T. – G.! Que legal o que você está me di-zendo! Parabéns, cara! Nossa, eu vou atéte dar um abraço, posso te dar um abraço?– A terapeuta levantou e abraçou o cliente.– Eu estou muito feliz com o seu compor-tamento! Você mais uma vez teve muitacoragem e voltou atrás, G., você é muitocorajoso! – o cliente sorria e foi recíprocoao abraço da terapeuta.G. – É que, na verdade, meu pai que metrouxe algumas coisas de Las Vegas, e eleque começou a me ensinar inglês, eu pedi aele.T. – Entendi, G., entendi! Muito bem! Vocêfoi 10 hoje com o nosso combinado!

21a sessão:

O cliente deveria fazer perguntas sobre ahistória que a terapeuta levou para a sessãoescrita em um papel, com o intuito de des-cobrir toda história escrita pela terapeuta.Quando o cliente fizesse alguma perguntaque a terapeuta não teria a resposta escrita,

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a terapeuta deveria dizer que não havia essaresposta. Posteriormente, os papéis na brin-cadeira se inverteriam. Ao criar a história,o cliente tomaria como modelo a história daterapeuta, respondendo perguntas às quaisnão escreveu a resposta, dizendo “não ter aresposta”, o que evitaria o cliente fantasiare inventar.

Ao iniciar a sessão, mesmo antes de ini-ciar a atividade programada, G. assumiuas fantasias e mentiras que contou duranteas sessões anteriores. Ao entrar na sala deatendimento, o cliente falou:

G. – É que eu preciso te contar uma coi-sinha – o cliente falou sem olhar para aterapeuta.T. – Pode falar, estou ouvindo, G.G. – Você lembra... Quando eu te falei...Que eu era milionário? – o cliente conti-nuou sem olhar nos olhos da terapeuta.T. – Lembro sim, G.G. – Então... É mentira. Eu não sou mi-lionário... Eu também te falei que ganheina loteria. É mentira (o cliente contou pa-recendo envergonhado, sem olhar para aterapeuta, com a cabeça baixa e com risos“sem graça” durante a fala).T. – Que legal o que você está me contando,G.!G. – Eu também falei que tenho um apar-tamento em Nova Iorque, e é mentira. Mi-nha mãe não comprou um apartamento emNova Iorque, é que ela disse que, se umdia ela tiver dinheiro, ela vai comprar, masnão comprou. Eu também não comprei umterreno em I.. Minha tia é que é rica. Eunão sou rico. Eu também nunca fui pra LasVegas, pra China nem pra nenhum desseslugares.

A terapeuta levantou e abraçou o cliente,falando estar muito feliz com a atitude dele,pois ele havia aprendido a dizer a verdade.Elogiou o cliente como das outras vezespela coragem e disse ficar feliz com a con-fiança do cliente.

T. – Parabéns por tudo que você está mecontando! Fico muito contente! Aconteceualguma coisa esses dias que você quis mefalar tudo isso hoje?G. – É que nós estamos trabalhando tudoisso faz tempo, né? Eu tinha que aprendero que é fantasia e realidade.

A terapeuta voltou a elogiar o cliente.Ao longo da sessão e durante a atividadeG. lembrou outras mentiras que falou paraterapeuta em sessões anteriores.

7) Orientação e modelação para substituirrelatos fantasiosos por relatos precisos

22a sessão:

Nesta sessão, o cliente foi solicitado arelembrar oralmente algumas mentiras con-tadas à terapeuta. A partir disso, deveriaverbalizar e escrever maneiras precisas derelatar os eventos. A terapeuta dava mode-los de verbalizações alternativas às menti-ras. Os relatos precisos emitidos pelo cli-ente foram consequenciados com elogios.

T. – O que você acha, G., de tentarmos pen-sar juntos em algumas dessas coisas quevocê me contou e tentarmos ver o porquêde você ter falado, pensando de que outraforma você poderia falar?G. – Tudo bem.T. – Legal! É assim, então, G., na semanapassada você lembrou que havia me ditoque possuía um apartamento em Nova Ior-que, mas isso era uma fantasia. E entãovocê me disse que, na verdade, sua mãefalou que gostaria de ter dinheiro para com-prar um apartamento lá.G. – É verdade. E na verdade, eu nunca vineve, eu queria ver neve. Você já viu neve?T. – Isso, G.! Muito bem! É assim mesmoque vamos fazer!G. - Você já viu neve?T. - Já vi sim, G. Então vamos escreverassim (a terapeuta escreveu em uma folhasulfite):

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GOSTARIA DE TER UM APARTA-MENTO EM NOVA IORQUE PARA PAS-SAR O INVERNO COM A FAMÍLIA.GOSTARIA DE VER NEVE.

G. – Lembrei de outra.T. – Pode falar, G.G. – Eu te falei que já comi uma barata.T. – Vou escrever aqui.G. – Mas não é que eu gostaria de ter co-mido uma barata – risos.T. – Ah! É, né? Imagina! [risos] - Vamospensar juntos porque será que você falouque comeu barata G.?G. – Para impressionar as pessoas. Nin-guém come baratas.T. – Legal, G.! Legal você me falar isso.Vamos escrever:

DISSE QUE COMEU UMA BARATAPARA IMPRESSIONAR AS PESSOAS.

G. – Eu também te disse que comi um rato.T. – Ah. É mesmo.G. – Eu disse para as pessoas ficarem es-pantadas, quase perderem o fôlego, ficaremembasbacadas, porque ninguém come ra-tos: dá doença, eu morreria.T. – Certo, G.! Vamos escrever:

DISSE QUE COMEU UM RATO PARAAS PESSOAS FICAREM ESPANTADAS,QUASE PERDEREM O FÔLEGO, FICA-REM EMBASBACADAS.

G. – Eu te falei que eu tinha um terreno emI., é que a mamãe tinha uma amiga que po-deria ajudar a conseguir comprar, mas elasnão se falaram mais. Mamãe disse que es-tava tudo combinado, mas passaram dois,três anos e elas não se falaram mais.T. – Entendi o que aconteceu, G.G. – Eu gostaria de ter um terreno em I.

DISSE QUE TINHA UM TERRENOEM I., PORQUE A MÃE TINHA UMAAMIGA QUE PODERIA AJUDAR ACONSEGUIR COMPRAR, MAS ELASNÃO SE FALARAM MAIS.

G. – Te falei dos gatinhos. Eu disse quemeus gatos tinham dado cria. Eu gostariaque os gatos tivessem dado cria.

DISSE QUE OS GATOS TINHAM DADOCRIA PORQUE GOSTARIA DE TEROITO GATOS.

T. – Eu lembro, G., que você falou pra mimdo parque aquático.G. – Eu nunca fui a um parque aquático.Eu tenho medo. Gostaria de saber nadar, eunão sei. Falam que eu sou “frutinha” por-que não sei nadar.T. – Ah, G., você pode aprender. Tem vá-rias crianças que na sua idade não sabemnadar.G. – Eu tenho medo dos tobogãs. Mas eunão vou desistir de aprender. Agora estouatarefado com a escola, mas nas férias euvou ter tempo pra aprender.T. – Isso, G.! Não pode desistir mesmo, agente pode errar, mas não podemos desistirde nada.G. – Igual ao homem que não desistiu enão voltou atrás. A atitude dele foi legal esaiu até no jornal. Conseguiu passar numconcurso do Banco Bradesco. Um baitaexemplo.

DISSE QUE HAVIA IDO AO PARQUEAQUÁTICO PORQUE GOSTARIA DESABER NADAR E DE NÃO TER MEDODOS TOBOGÃS.

G. – Lembrei outra. Que já fui pra váriospaíses, mas na verdade eu gostaria de terandado de avião. Eu nunca andei. Você jáandou de avião?T. – Já andei de avião, G.G. – Mas também assusta. Eu tenho medode acidente. Sabe aquele do ataque terro-rista das duas torres?T. – Sei sim, G. Aquele não foi um acidente,G.G. – É, sei que não foi um acidente. Eutenho medo também.

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DISSE QUE JÁ FOI PRA VÁRIOS PAÍ-SES PORQUE GOSTARIA DE TER VIA-JADO DE AVIÃO.

G. – Eu te disse que eu tenho um PSP, maseu não tenho.T. – O que é um PSP, G.?G. – Um Playstation portátil.T. – Ahn.G. – Eu vou pedir de Natal, mas eu não te-nho. Eu disse também que tenho uma TVde plasma, mas é mentira. Eu não tenho,talvez a mamãe troque de televisão, mas eunão tenho TV de plasma.T. – Então você gostaria de ter o videogameportátil e de ter a TV de plasma. É, G., ima-gina como seria legal né. Acho que quasetodas as pessoas gostariam de ter uma TVde plasma.G. – Eu também acho.

Ao final da sessão o cliente contou quetem um amigo que fantasia muito:

T. – Como chama esse amigo?G. – É o L.T. – E o que você pensa quando ele te contafantasia?G. – Nossa! Que baita fantasia!T. – Ah! Olha só. Sabe, G., acho quequando você ainda não tinha aprendido tudoisso, pode ser que as pessoas que ouviamvocê contar as fantasias deviam se sentirassim como você se sentiu ao ouvir a fanta-sia do L.G. – Agora, quando eu falo fantasia, eudigo que estou contando uma fantasia.T. – Parabéns! Você aprendeu! Sabe G.,acho que o L. não sabe dizer que gostariade ter algo. Igual quando você também nãosabia. Você pode tentar ensinar ele também,tentar conversar com ele, os amigos podemajudar um ao outro.

Conclusão

Falar a verdade e mentir são compor-tamentos passíveis de serem reforçados,punidos, extintos e de passar por proces-

sos de discriminação, assim como muitosoutros comportamentos. Ao longo da te-rapia, o comportamento de falar a verdadeaumentou de freqüência, indicando efeitodas intervenções realizadas pela terapeutae, provavelmente, dos pais do cliente, queforam orientados a valorizar relatos fide-dignos. Além de falar a verdade, o com-portamento de assumir as mentiras conta-das anteriormente foi valorizado pela tera-peuta, o que pode favorecer relações sociaismais íntimas e duradouras. O cliente foiauxiliado na discriminação da importânciada atenção social como reforçador para ocomportamento de fantasiar e foi auxiliadona aquisição de repertório alternativo parafalar que “gostaria de” ter ou saber fazeralgo, o que é incompatível com algumasdas mentiras que vinha emitindo. Seguindoa hipótese de que as mentiras eram emitidascomo esquiva de falar sobre uma eventualpreocupação em relação à doença de seupai, será importante, no prosseguimento daterapia, que o cliente consiga falar direta-mente sobre seus sentimentos e pensamen-tos em relação ao que pode acontecer comseu pai, algo que será programado para assessões seguintes de terapia.

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