mkt politico em taubate

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LETÍCIA MARIA PINTO DA COSTA NA CONTRAMÃO DO MARKETING POLÍTICO: AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE TAUBATÉSP, EM 2004 Universidade Metodista de São Paulo Programa de PósGraduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo, 2007

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Comunicação Social - Mkt Politico Em Taubate

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  • LETCIAMARIAPINTODACOSTA

    NACONTRAMODOMARKETINGPOLTICO:

    ASELEIESMUNICIPAISDETAUBATSP,EM2004

    UniversidadeMetodistadeSoPauloProgr amadePsGraduaoemComunicaoSocial

    SoBernardodoCampo,2007

  • 2

    LETCIAMARIAPINTODACOSTA

    NACONTRAMODOMARKETINGPOLTICO:

    ASELEIESMUNICIPAISDETAUBATSP,EM2004

    Tese apresentada em cumprimento parcial sexignciasdoProgramadePsGraduaoemComunicaoSocialdaUMESPUniversidadeMetodista de So Paulo, para a obteno dograudeDoutor.Orientador: Prof. Dr. Adolpho CarlosFranosoQueiroz.

    UniversidadeMetodistadeSoPauloProgr amadePsGraduaoemComunicaoSocial

    SoBernardodoCampo,2007

  • 3

    FOLHADEAPROVAO

    A tese Na contramo domarketing poltico: as eleiesmunicipaisdeTaubatSP,

    em 2004, elaborada por Letcia Maria Pinto da Costa, foi defendida no

    dia.........de.........................de................,tendosido:

    ()Reprovada

    ( )Aprovada,mas deve incorporar nos exemplares definitivosmodificaes sugeridaspela

    bancaexaminadora,at60(sessenta)diasacontardadatadadefesa.

    ()Aprovada

    ()Aprovadacomlouvor

    Bancaexaminadora:

    _____________________________________

    _____________________________________

    _____________________________________

    _____________________________________

    _____________________________________

    readeconcentrao:ProcessosComunicacionais

    Linhadepesquisa:ComunicaoMassiva

    Projetotemtico:EleiesnoBrasilnaticadapropagandapoltica

  • 4

    Luciana,minhamaiorrealizao.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Aosmeuspais,NelmaeRaul,poracreditarememmim,simplesmentepormeamarem.

    Aomeuorientador,prof.Dr.AdolphoCarlosFranosoQueiroz,quemeincentivouemtodas

    asfasesdestapesquisa,mesmoquandoeuparecianomerecer.

    Universidade deTaubat, pela concessodebolsa deestudoquemepossibilitou todoo

    desenvolvimentodestetrabalho.

    Ao prof. Dr. CidovalMorais de Sousa, por todo o apoio dado ao desenvolvimento desta

    pesquisa.

    Aos entrevistados, Antnio Mrio Mattos Ortiz, Roberto Peixoto, Jos Bernardo Ortiz e

    DimasSoares,protagonistasdesteestudo.

    Ao jornalista e amigo Luiz Carlos Batista, pela disposio de sempre me ajudar, com

    informaespreciosassobreapolticadeTaubat.

    Aos marqueteiros polticos Carlos Colonnesi, Carlos Manhanelli e Francisco Gaudncio

    Torquato do Rego, que colaboraram para o meu maior entendimento sobre as questes

    prticasdomarketingpoltico.

    AFernandoXavier, queme cedeu todo omaterial audiovisual, essencial para a realizao

    desteestudo.

    AFelipeVargas,quededicouvriosdeseusdiasparatranscodificaromaterialdevdeoem

    DVD.

    AosamigosFranciscoOliveiraJnior(Chiquinho)eAlexandrePaschoa,daSupernovaMdia

    e Comunicao, e ao colega jornalista Carlos Peixoto, presidente da CmaraMunicipal de

    Taubat,queviabilizaramimportantescontatoscomfontesparaestapesquisa.

  • 6

    reitoradaUniversidadedeTaubat,profa.Dra.MariaLucilaJunqueiraBarbosa,queabriu

    modemeutrabalhoemalgumasocasies,comosuaassessora,paraqueeupudessefinalizar

    estapesquisa.

    Aos colegas da Universidade de Taubat, profa. Dra. Edna Chamon, profa. Dra. Monica

    Franchi Carniello, prof. Dr. Isnard deAlbuquerque Cmara Neto, prof. Dr. Fbio Ricci e

    profa.Ms.ElviraAparecidaSimesdeArajo, pelaslongasconversassobreotemaepelas

    dicasmetodolgicas.

    Ao amigo, prof. Ms. Luzimar Goulart Gouva, que, alm de fazer a reviso de lngua

    portuguesadestetrabalho,mepropiciouimportantesdiscussessobreotema.

    Aosmeusexorientadores,prof.Dr.RobsonBastosdaSilvaeprofa.Dra.CicliaM.Khrollin

    Peruzzo,porteremmeajudadoaescalarasetapasdaminhavidaacadmicaeporteremdado

    importantescontribuiesparaaminhaqualificaonodoutorado.

    s funcionrias da Secretaria de Psgraduao daUniversidadeMetodista de So Paulo,

    especialmenteMrciaPitton,pelaatenoduranteosltimos3anos.

    minhaprofessoradeingls,LuciaPacheco,quesoubeconduzirsuasaulasdeacordocom

    asnecessidadesdocursoqueeuaindapretendiafazer.

    Aosmeusqueridosalunoseestagirios,JorgeHenrique,MayraSalles,SabrinaOliveira,Joo

    GabrieldeCastro,HenriqueAlbertoSilva,pelaajudaoperacional.

    Aos pessoal da ACOM, em especial, ao Anderson C. S. Santos, Ceclia Guimares,

    AlessandraSerra,EdwigesMoraeseaoLucasRodrigues,peloapoioecarinhonafaseda

    defesadestatese.

    minhaamigaDeborahMeister,porsempremeajudarnos45dosegundotempo.

    Ao publicitrioNelson Campos, daAprova Associao dasAgncias de Propaganda do

    ValedoParabapelosdadossobreomercadodapropagandaregional.

  • 7

    Aoscolegas,prof.Dr.BeneditoDonizetiGoularteprof.EdsonWanderleyAlves,pelosbate

    paposinformais,quemuitoauxiliaramestapesquisa.

    scolegaseamigasngelaLoures,SelmaRochaeSimoneMariaArgollo,porcuidaremde

    detalhesimportantesenquantoeuestavamergulhadanatese.

    professoraDra. Dbora Tavares, porme conceder prontamente osoriginais de sua tese,

    quandoeuconstruaomeureferencialterico.

    amiga Ceclia Guedes, bibliotecria do Departamento de Comunicao Social da

    UniversidadedeTaubat,porgarimparverdadeirostesourosbibliogrficos.

    amigaIranidaSilvaSiqueira,pelaajudaoperacionalepelaconstantetorcidaparaqueeste

    trabalhofossefinalizado.

    A Jos Hlio do Nascimento Jnior, Lcia Fogaa do Nascimento e Jos Hlio do

    Nascimento,pelas tantas retaguardasduranteessesltimosanoseporcuidaremtobemda

    minhapequenaLuciana,paraqueeupudesseterforasparaprosseguir.

    Cidinha, minha fiel escudeira, por suas oraes, por arrumar minhas bagunas e,

    especialmente,porcuidarcomtantadedicaodaminhaLuciana.

    Ao jovem jornalista, pesquisador nato e grandeamigo, Francisco deAssis, por incontveis

    motivos:pelaforanosmomentosemqueeupareciaquasedesistirenosemqueeuqueria

    me superar pelas horas em que se dedicou amergulhar comigo nas interminveis pginas

    destateseeporpermanecersempredomeulado,apostandonaminhacapacidade.

    Atantosoutrosamigos,quetorceramparaqueeupudesseterminarmaisesteprojeto.

    AoEricoDias,peloincentivoaomeutrabalho,peloapoiooperacionale,especialmente,pela

    pacinciaemmeesperarvoltarvida.

    ADeus,quecolocoutodasessaspessoasaomeuredor,merenovandoacadaumdesses1.460

    diasdededicao.

  • 8

    RESUMO

    Este estudo trata da investigao das estratgias de propaganda poltica utilizadas nos

    programasdeTVdeRobertoPeixotoedeAntnioMrioMattosOrtiz,queconcorrerams

    eleies para prefeito domunicpio deTaubatSP, noano de 2004.Oobjetivocentral da

    pesquisa entender a interferncia dos modelos globais da propaganda poltica de TVno

    contexto local, em uma poca em que se tornou comum a contratao de agncias de

    publicidade de renome para a realizao de campanhas eleitorais em cidades do interior.

    Utilizouse, como metodologia, pesquisas histrica, documental e bibliogrfica, alm de

    anlise de contedo dos programas de TV de ambos os candidatos e entrevistas semi

    estruturadascompolticoseprofissionaisdareademarketingpoltico.Dentreasprincipais

    contribuies,verificousequeavitrianasurnasnocontextolocaldevesemaisaocarisma

    dedeterminadoslderespolticos,bemcomoaosaspectoshistricos,culturaisesociolgicos

    da localidade emquesto do que mgica anunciada pelomercado publicitrio quanto s

    estratgiasglobaisdapropagandapolticanateleviso.

    Palavraschave:marketingpolticoTaubatlocalpropagandapolticacarisma.

  • 9

    ABSTRACT

    This study investigates the political propaganda strategies used duringRobertoPeixoto and

    AntnioMrioOrtizprograms,whoranfor the localelectionsinTaubatSP,ontheyear

    2004. The main goal in this research is to understand how global models of political

    propagandaonTVinterferesinthelocalprocess,duringaperiodthathiringwellsucceeded

    publicityagencies for localelectionscampaignsbecamemorecommon,eveninsmallcities.

    Themethodologyusedwashistorical,documentalandbibliographicalresearch,andalsothe

    content analysis of TV programs of both candidates and semistructured interviews with

    politiciansandpoliticalmarketingprofessionals.Amongall contributions, itwaspossible to

    verify that the victory in the ballotbox was most due to the charisma of some political

    leaders,aswellassomehistorical,culturalandsociologicalaspectsofthelocationexamined

    thanthewidelyannouncedmarketingmagicofpoliticalpropagandastrategiesonTV.

    Keywords:politicalmarketingTaubatlocalpoliticalpropagandacharisma.

  • 10

    RESUMEN

    Este estudio trata de la investigacin de estrategias de propaganda poltica usada en los

    programas de televisin de RobertoPeixoto eAntnioMrioOrtiz, que competieron a las

    eleccionesaalcaldedelayuntamientodeTaubatSP,enelaode2004.Elobjetivocentral

    delainvestigacinescompreenderlainterferenciadelosmodelosglobalesdelapropaganda

    polticadeTVencontextolocal,enunapocaenquesehatornadocomnlacontratacin de

    agenciasdepublicidadderenombreparalarealizacin decampaaselectorashastamismoen

    pequeas ciudades. La metodologia utilizada fueron investigaciones histricas, de

    documentos y bibliogrfica, ademsde la anlise del contedo de los programasdeTVde

    ambos candidatos y entrevistas semiestruturadas con polticos yprofesionales del rea de

    marketingpoltico.Dentrode lasprincipalescontribuciones, fuecomprobadaquelaVitoria

    en las urnas ocurrimsporcausadelcarismadedeterminados lderespolticos, as como

    debidoaalgunosaspectoshistricos,culturalesysociolgicosdellocalemcuestinquepor

    causa de la mgica anunciada por el mercado publicitario de sus estrategias globales de

    propagandapolticaentelevisin.

    Palabrasclave:marketingpolticoTaubatlocalpropagandapolticacarisma.

  • 11

    LISTADETABELAS

    Tabela1 Estratgiasdoscandidatos quadroquantitativo.................................................141

    Tabela2 Construododiscurso quadroquantitativo......................................................144

    Tabela3 Intenesdasmensagens quadroquantitativo...................................................147

    Tabela4 Caractersticaspessoais quadroquantitativo......................................................149

    Tabela5 Temasabordadosnosprogramas quadroquantitativo.......................................150

    Tabela6 Formatodosprogramas quadroquantitativo......................................................152

    Tabela7 Tcnicasdeproduo quadroquantitativo.........................................................154

  • 12

    SUMRIO

    Introduo.................................................................................................................................15

    CaptuloI AComunicaoentredoisterritrios:televisoepoltica...................................28

    1.1.AmodernapropagandaeleitoralnaTV: MadeinUSA.....................................36

    1.2BrasileTV:tudoaver........................................................................................42

    1.3OmarketingpolticonoBrasileaspropagandaseleitoraisnaTV.....................46

    1.4Normatizaodavisibilidade..............................................................................51

    Captulo II As influncias dos modelos globais da propaganda poltica de TV no

    contextolocal...................................................................................................54

    2.1Local,lugardeao............................................................................................58

    2.2Adescobertadosfilesdointerior.....................................................................62

    2.3AutilizaodaTVpelapoltica:doispesoseduasmedidas.............................68

    2.4AconfiguraodosprogramaseleitoraisdeTVnocontextolocal....................71

    CaptuloIII AsdominaesdapolticaemTaubat..............................................................76

    3.1AeraOrtiz:ocarismacomocentrodasdominaeslocais...............................80

    3.2Dominaodanovatradio:os sucessoresdeJosBernardoOrtiz...............87

    3.3Ocarismamaisfortequeomarketing:ocenriodaseleiesde2004..............91

    CaptuloIV Acampanhaparaprefeitoem2004...................................................................96

    4.1 Caractersticas da campanha poltica de Antnio Mrio Mattos Ortiz em

    2004...................................................................................................................98

    4.1.11Programa...........................................................................................102

    4.1.22Programa...........................................................................................103

    4.1.33Programa...........................................................................................104

    4.1.44Programa...........................................................................................105

    4.1.55Programa...........................................................................................106

    4.1.66Programa...........................................................................................107

    4.1.77Programa...........................................................................................107

    4.1.88Programa...........................................................................................108

    4.1.99Programa...........................................................................................109

  • 13

    4.1.1010Programa.......................................................................................110

    4.1.1111Programa.......................................................................................111

    4.1.1212Programa.......................................................................................112

    4.1.1313Programa.......................................................................................112

    4.1.1414Programa.......................................................................................113

    4.1.1515Programa.......................................................................................114

    4.1.1616Programa.......................................................................................115

    4.1.1717Programa.......................................................................................116

    4.1.1818Programa.......................................................................................117

    4.1.1919Programa.......................................................................................118

    4.1.2020Programa.......................................................................................118

    4.1.2121Programa.......................................................................................119

    4.1.2222Programa.......................................................................................119

    4.2CaractersticasgeraisdacampanhadeRobertoPeixoto....................................120

    4.2.11Programa............................................................................................125

    4.2.22Programa............................................................................................126

    4.2.33Programa............................................................................................127

    4.2.44Programa............................................................................................127

    4.2.55Programa............................................................................................128

    4.2.66Programa............................................................................................128

    4.2.77Programa............................................................................................129

    4.2.88Programa............................................................................................129

    4.2.99Programa............................................................................................130

    4.2.1010Programa........................................................................................131

    4.2.1111Programa........................................................................................132

    4.2.1212Programa........................................................................................133

    4.2.1313Programa........................................................................................133

    4.2.1414Programa........................................................................................134

    4.2.1515Programa........................................................................................135

    4.2.1616Programa........................................................................................136

    4.2.1717Programa........................................................................................137

    4.2.1818Programa........................................................................................137

    4.2.1919Programa........................................................................................138

    4.2.2020Programa........................................................................................138

  • 14

    4.2.2121Programa........................................................................................139

    4.2.2222Programa........................................................................................139

    4.3 Anlise dos programas eleitorais de Antnio Mrio Mattos Ortiz e Roberto

    Peixoto.............................................................................................................140

    4.3.1Asestratgiasdecampanha....................................................................140

    4.3.2Aconstruododiscurso........................................................................144

    4.3.3Intenesdasmensagens........................................................................147

    4.3.4Caractersticaspessoais..........................................................................148

    4.3.5Temas.....................................................................................................150

    4.3.6Formatodosprogramas..........................................................................152

    4.3.7Tcnicasdeproduo.............................................................................153

    4.4Aevoluodoquadroeleitoral........................................................................155

    Concluso................................................................................................................................162

    Refernciasbibliogrficas.......................................................................................................167

    Anexos....................................................................................................................................175

  • 15

    INTRODUO

    O exerccio das liberdades democrticas, especialmente nos pases ocidentais, tem

    desencadeado profundas transformaes nos mais variados setores das relaes sociais,

    conquistando,acadadia,umvalorexpressivonocampodacomunicao.Almdachamada

    liberdade de expresso, garantida prtica jornalstica contempornea nos pases onde a

    democracia foi eleita como regime, omarketing poltico encarado pormuitos comouma

    verdadeiravarinhadecondo,capazdecolaborar,deformadecisiva,paraadefiniodos

    rumospolticoadministrativosdemunicpios,estadosenaes.

    No Brasil, embora recente, a prtica do marketing poltico passou a ser essencial

    quelesquetrabalhamnaconquistadevotos,evidenciandosuafora,especialmente,apartir

    dacampanhadasDiretasJmovimentoqueindicouaaberturapolticadopasem1984.1

    Desdeento,definindoaatuaodecandidatose,comoconseqncia,interferindono

    comportamento dos eleitores, o marketing poltico passou a gerar impactos diretos na

    sociedade.Por isso,defendeseaquiqueeledeva ser estudadocomopartedeumcontexto

    sociolgico,noqual,aomesmotempoemqueajudaadefinirosfuturoscenriospolticos,

    comoditoanteriormente,necessita,antesdemaisnada,quesuasestratgiassejamdefinidasa

    partirdaconjunturahistricopolticadecadacampanhaeleitoral.

    Muito embora marqueteiros polticos de grande expresso nacional, como Duda

    Mendona2 eNizanGuanaes3, defendam o contrrio, o advento domarketing poltico tem

    transformado polticos emverdadeirosprodutos, especialmentenosprogramasde televiso,

    conformeavaliaWilson Gomes(2004):

    ...vender um produto comercial (para usar um termo do jargo dapublicidadeedas relaespblicas),oucuidardasuaimagemdeformaatornlo aceito e desejvel pelos consumidores, no pode, nessa lgica, sermuito diferente de vender um candidato ou uma posio poltica, namedida em que a lgica que prevalece em um caso como no outro a daindstriadacomunicao.(p.207)

    1Apartirde1964, comogolpemilitar,opasdeixoudetereleiesparapresidentedaRepblica,cujafunofora exercida, ao longo desses 20 anos de regime ditatorial, por generais escolhidos pelas prprias ForasArmadasou,indiretamente,peloCongressoNacional.2 Publicitrio responsvel pelas campanhas polticasqueelegeramoPresidenteLuiz IncioLuladaSilva, e osexprefeitosdeSoPaulo,PauloSalimMaluf,CelsoPittaeMartaSuplicy.3 Publicitrio responsvel pelas campanhas polticas que elegeram por duas vezes o expresidente FernandoHenriqueCardoso,em1994e1998,eporcampanhasdeoutroscandidatosdoPSDB.

  • 16

    Assimcomonomarketingdeprodutos,asestratgiasdeformaoedefortalecimento

    da imagem dos candidatos comeam a ser definidas com base em pesquisas de opinio

    pblica, que medem desde as insatisfaes e expectativas at as intenes de voto dos

    entrevistados.

    Nessecaso,oprocessodomarketingdeprodutossimilar,ouseja,oplanejamentode

    qualquer ao nesse campo deve levar em considerao as expectativas do pblico,

    adequandotantoasmensagensquantooquesequervenderaosanseiosdequemvai comprar,

    muitoemboraoscritriosdedecisodeumvotodifiramdosdaescolhadeumproduto.

    Marketing to bsico que no pode ser considerado uma funo separada. o negcio total visto do ponto de vista do seu resultado final, isto , dopontodevistado consumidor [...]O sucesso empresarial no determinadopelofabricante,maspeloconsumidor(DRUCKERapudKOTLER,1998,p.22).

    Na verdade, o emprego das estratgias de marketing na conquista de votos um

    fenmeno verificado emdiversas democracias domundo, registrandoatualmente,dianteda

    realidade da globalizao, a prtica de troca de experincias entre profissionais da rea e

    polticos, o que tem favorecido a importao e a exportao demodelos4 que forambem

    sucedidosemoutraseleiesemvriaspartesdomundo,especialmentenasnorteamericanas.

    O requinte empregado pelas estratgias de marketing poltico em campanhas

    brasileiras levoumuitosdenossosprofissionaisaoutrospases,comoArgentina,Portugale

    at Estados Unidos, este ltimo considerado o bero do marketing. Entendendo terem

    encontrado uma frmula de elegerem candidatos, esses publicitrios passaram a adotar

    estratgias de marketing e peas de propaganda com os mesmos apelos em eleies de

    diferenteslocalidades,promovendoumaverdadeirapasteurizaodascampanhas.

    Como exemplo, podese citar as campanhas feitas por Duda Mendona para os

    candidatosMrioKertsz,paraaprefeituradeSalvadorBA5,ePauloMaluf,paraaprefeitura

    deSoPaulo,em1992.Ambastiveramcomosmboloumcoraoefizeramgrandesucesso

    comoestratgiadecomunicao,comoobjetivodehumanizarambososcandidatos.

    De umamaneira geral, freqentemente vse a utilizao de slogans, coreseoutros

    smbolos de campanha por meio de peas de propaganda impressas, eletrnicas e

    audiovisuaissendocopiadosoureadequadosemcampanhasportodoopas.

    4Otermomodeloutilizadonestetrabalhocomosinnimodeimitao,aquiloqueservedeexemploouqueseprocurarepresentar.5EssacampanhaeleitoralrecebeuoTopdeMarketingdemelhorcampanhapolticadoBrasil,em1985.

  • 17

    Essaprticanoestrestritaaeleiesdegrandescentros,comonocasocitadoacima,

    mastambmatingecidadesdemdioeatdepequenoporte,comoocorreunaseleiespara

    prefeitosevereadoresde2004.

    Osexemplossoinmeros.Nosltimosanos,asequipesdeNizanGuanaesedeDuda

    MendonaestiverampresentesemvriaseleiesmunicipaisdisputadaspeloPT(Partidodos

    Trabalhadores). Chico SantaRita6 deteve diversas contas das campanhas demunicpios do

    interiordoBrasil,dentreelasadeSoJosdosCampos.NelsonBiondi7 foicontratadopor

    candidatosdediversaslocalidades,dentreelasomunicpiodeTaubat,interiordeSoPaulo.

    Na verdade, essa prtica consiste na implantao de redes demarketing poltico de

    atuao local, que visam oferecer, dentre outros ingredientes do bolo de marketing, o

    mesmopadrodepropagandapolticadeTV8.Asnegociaesparaofechamentodenovos

    contratostminciocercadeumanoantesdaseleies,eamaiorpartedasgrandesagncias

    procuradaporpolticos,porcontabilizarem vitriasemimportanteseleiesbrasileiras.

    Este foiocasodacontrataodaBiondiMarketingPoltico,deNelsonBiondi,pela

    equipedoexprefeitoecandidatoprefeituradeTaubat,em2004,AntnioMrioMattos

    Ortiz, na poca pelo PMDB (Partido do Movimento Democrtico Brasileiro). A empresa

    montou sua base de campanha na cidade cerca de 90 dias antes das eleies municipais.

    Contratou estdio de TV local e, em poucos dias, praticamente, j tinha toda a frmula

    prontaparainiciarostrabalhoseleitorais.OcandidatoassessoradopelaempresadeBiondiera

    ofavoritodaspesquisasdeintenodevoto,segundolevantamentorealizadopelaBrasmarket

    Anlise e Investigao deMercado9 e tambm pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinio

    PblicaeEstatstica),cujainvestigaofoiencomendadapeloprpriocandidato,noinciode

    2004.AntnioMrioMattosOrtizpermaneceuemumpatamarprivilegiadoatcercade20

    diasantesdeoseleitoresiremsurnas,quandofoiderrotadoporRobertoPeixoto,doPSDB

    (PartidodaSocialDemocraciaBrasileira).

    6 Chico Santa Rita assinou a campanha do candidato Carlinhos de Almeida, do PT, que foi derrotado pelocandidatodasituao,EduardoCury(PSDB),quecontratouumgrupodemarqueteirosdaprpriacidade.7OutroprofissionalqueestevediretamenteenvolvidocomacampanhadeJosSerraecomogovernoFernandoHenrique Cardoso. Fundou, juntamente com Jos Roberto da Costa (que chegou a ser o Secretrio deComunicao do governo FHC), a empresa de propaganda SMBB. Atualmente, presidente da BiondiMarketing Poltico.8 Por condensarem toda a estratgia das campanhas eleitorais, por disporemde recursos queagregam imagem,somemovimento,somadosaoalcanceproporcionadoporessamdia,osprogramaspolticosdeTVsoamaioraposta de polticos e marqueteiros nas eleies da atualidade. Autores como Laurence Ress (1995),J.B.Thompson (2002)eVencioArthurdeLima(2001)mostram,inclusive,comoaprpriaTValterouaformadesefazerpolticanaatualidade.9 Esta empresa mantm convnio com o Jornal Valeparaibano, veculo impresso regional de maiorexpressividadenaregiodoValedoParabapaulista,ondeTaubatestlocalizada.

  • 18

    ApoiadopeloexprefeitoJosBernardoOrtiz,doPSDB,RobertoPeixotooptoupor

    uma receita de o santo de casa, contratando uma agncia da prpria regio, a Atempo

    Marketing, com sede em So Jos do CamposSP, cidade vizinha deTaubat, para definir

    suasestratgiasdemarketingeleitoraleastcnicasdaspropagandasdeTV.

    Dopontodevistadatcnicaedaoperacionalidade,tantoaBiondiMarketingquantoa

    Atempo Marketing produziram suas peas de comunicao nos modelos utilizados pelas

    grandes agncias de marketing poltico brasileiro, especialmente na televiso10: slogans,

    preconizando o progresso e o desenvolvimento para Taubat propostas de governo (com

    solues para os problemas vivenciados pela cidade, especialmente na rea da sade e da

    geraodeempregos)imagensevidenciandoapopularidadeeaseriedadedoscandidatos(em

    escritrios,comafamliaetc.)jingles,dentreoutrosrecursos.Ouseja,competiramdeigual

    paraigual,soboaspectodaforma,emborasobopontodevistadaqualidadedeproduoos

    programasdeAntnioMrioMattosOrtizfossemsuperiores.

    Naverdade,essasuperioridadedeproduoacabounoimportandoparaoresultado

    finaldas eleies para a Prefeitura deTaubat naqueleano, queacabousendovencidapor

    RobertoPeixoto,quecontrataraumaagnciadaprpria regiodeTaubatecontoucomo

    apoiodeseuantecessor,JosBernardoOrtiz11,nosprogramasdoHGPE(HorrioGratuitode

    PropagandaEleitoral).

    Comumcarismapolticocomparado,comasdevidaspropores,agrandesnomesda

    arenapolticabrasileira, comoGetlioVargase JnioQuadros,JosBernardoOrtizvisto

    comoumaexpressodocoronelismointeriorano,semprepassandoaimagemdeumpoltico

    srio,honestoeprofundoconhecedordosproblemasdomunicpio.Muitoseleitoreschegam

    adefinirTaubatcomoantesedepoisdeJosBernardoOrtiz,sem,entretanto,saberem

    identificar,deumpontodevistaargumentativo,osmotivosparaassimconsiderlo.

    Dadoscomoessesforamdecisivosnaconstataodequeainserodoexprefeitona

    reta final da campanha de TV de Roberto Peixoto tenha provocado uma reviravolta na

    contagem final dos votos emTaubat nas eleiesmunicipaisde2004e, ainda, remetema

    outras questes, que, na verdade, constituem a centralidade deste estudo: a fora de

    determinadospolticosque,comoJosBernardoOrtiz,dependemmuitopoucodasmodernas

    10ValeressaltarqueotempoconcedidopeloTRE(TribunalRegionalEleitoral)coligaoTaubatmais,daqual faziaparteocandidatoAntnioMrioMattosOrtiz, era superior40% emrelaocoligaoUnioporTaubat,queapoiouRobertoPeixoto.11 importante alertar que, devido as anlises realizadas recarem sobre dois polticos que tm o mesmosobrenome,AntnioMrioMattosOrtizeJosBernardoOrtiz,utilizouse,emtodasasocasies,osseusnomescompletosparasetentarevitarmaioresconfusesparaacompreensodoquadroapresentado.

  • 19

    estratgiasdemarketingedaadequaodosmodelosdepropagandadeTVconsideradosa

    frmulaidealparaosucessonasurnas.

    Partiuse do pressuposto que, embora eficaz e muitas vezes determinante para o

    resultado de processos eleitorais, omarketing poltico no pode ser compreendido forado

    contextosocialemqueofenmenoocorre.necessrioumprofundoconhecimentosobreas

    expectativas do eleitorado, assim como as pesquisas de que os marqueteiros lanammo,

    mas,acimadetudo,imprescindvelqueessasestratgiaslevemnamaisaltaconsideraoa

    realidadehistricoculturaldalocalidadeondeocorreacampanhapoltica,precisotocaro

    sentimento do eleitor como pregava Josef Goebbels12 com questes prximas a seu

    mundo, e no somente com slogans, jingles e outras peas publicitrias prfabricadas,

    muitasvezesutilizadasanteriormenteemcampanhasdeoutrascidades.

    O local tem especificidades que no podem ser desconsideradas, pois, apesar de se

    confundircomaglobalidade,alocalidadeseopeaela(SANTOS,2000).

    Oconceitodeproximidade,comoressaltaCicliaPeruzzo(2005),refereseaoslaos

    originadospelafamiliaridadeepelasingularidadedeumadeterminadaregio,quetmmuito

    avercomaquestodolocusterritorial.Nolocal,existemespecificidadesquedeterminama

    dinmicasocial,poisdaosindivduosapossibilidadedeverdeperto,detocareatmesmo

    de julgar fatosepessoase,muitasvezes, semo intermdiodosmeiosdecomunicao.Ou

    seja,nolocal,possvelperceberdepertoosanseiosdoseleitorese,emcontrapartida,eles

    tambm tm a chancedeparticipar, commaiorproximidade, do queacontece no contexto

    polticodesuacidade,especialmenteseeladointerior.

    Partindodopressupostoqueasestratgiasdemarketingpoltico,refletidasobviamente

    nas propagandas de TV, devem ser definidas com base nos anseios e expectativas dos

    eleitores e que essas questes diferem de localidade, questionase: que limitaes as

    campanhas polticas prfabricadas enfrentam em circunstncias to particulares, em que a

    culturapolticaresultadeanosdeexperinciadecadaatorsocial,comonocasodaseleies

    municipaisdeTaubat?

    Para responder a essa questo central, partiuse, como uma das hipteses, do

    entendimentodequeomarketingpolticoe,comoconseqncia,apropagandapolticanaTV

    devemsercompreendidosdentrodeumcontextosocial,polticoedialtico,pois,aomesmo

    tempo em que tm como base as expectativas e anseios dos eleitores na definio de suas

    12 Josef Goebbels foi ministro do Reich, nome adotado pela Alemanha, no tempo em que vigorou o regimenazista (de 1933 a 1945). Goebbels foi o criador da idia de que a propaganda deve ser agradvel e que adiverso tambm pode ser propaganda. Seus conceitos sobre a persuaso da propaganda sero apresentados nocaptuloII.

  • 20

    estratgias, tambmpodemdeterminarosresultadosdaseleieseosrumosdemunicpios,

    estados e naes. Nesse caso, como outra hiptese deste estudo, modelos prontos,

    pasteurizados, prfabricados, determinados por profissionais de marketing e propaganda

    poltica,quenovivenciama realidade locale apenasdeterminamsuasaescombaseem

    pesquisasdeintenodevotoenobriefingpassadopelaequipedeassessorespolticos,so

    ineficientes,namedidaemqueodiferencialparaseconquistarumaeleiooconhecimento

    realdasespecificidadeslocais,oconhecimentodocotidiano,conhecimentoquepermiteque

    as necessidades dos eleitores possam ser melhor compreendidas e vendidas nos pleitos

    eleitorais.

    Diantedessasquestes,estapesquisatevecomoprincipalobjetivoidentificaratque

    ponto os modelos de propaganda poltica de TV atualmente difundidos e adotados nas

    principais democracias do mundo so realmente eficazes para se ganhar uma eleio no

    contexto local, tendo como objeto de estudo o pleito municipal de 2004, na cidade de

    TaubatSP,queevidenciouocontrrio,porsuasespecificidadespolticaslocais.Procurou

    se,paratanto,identificarassimilaridadesediferenasdascampanhasdeTVdoscandidatos

    Roberto PeixotoeAntnioMrioMattosOrtiz, bem como as aes operacionais adotadas

    duranteascampanhasparaaPrefeituradeTaubatSP,noanode2004,paraaveriguarseas

    estratgias e as tcnicas de propaganda poltica empregadas no contexto local estudado

    advieramdasprticasadotadaspelasgrandesagnciasdemarketingpolticoedequeformao

    localreagiuaessefenmeno.

    Questesmetodolgicas

    Para entender a complexidade dessas relaes, adotouse um procedimento de

    investigao emprica, cujo foco foi o fenmeno em si e o contexto da vida real,

    caracterizandose,portanto,comoumestudodecaso13denaturezaquantitativaequalitativa.

    Esseprocedimentofoiadequado,namedidaemquepermitiuaorganizaodosdadossociais,

    aomesmotempoemquepreservouocarterunitriodoobjetosocialestudado(GOODE&

    HATT,1979).

    13AugustoTrivios (1987) chama a ateno para a pertinncia desse procedimentometodolgico nos casos decomparaes, s quais, em alguns momentos, a pesquisa tambm recorreu: a comparao do trabalhodesenvolvido pelas agncias Biondi Marketing e AtempoMarketing, na campanha eleitoral de 2004, para oscandidatosAntnioMrioMattosOrtiz e Roberto Peixoto, respectivamente, e o estabelecimento das relaesentreasestratgiasdemarketingpolticoglobalelocal.

  • 21

    Aoadotaressemtodo,levousetambmemcontaofatodeofenmenoanalisadoser

    recenteeestarinseridoemumasituaoespecfica.Pornotersidopossvelarealizaode

    observao direta, uma vez que o problema de pesquisa s pde ser identificado aps o

    trmino das eleies de 2004, foi imprescindvel o emprego de uma srie sistemtica de

    entrevistas14,comoformadecontextualizaodocenrioanalisado.

    Propsse, ainda, trabalhar com uma ampla variedade de evidncias, especialmente

    documentosaudiovisuais,ouseja,osprogramasdeTVdeRobertoPeixotoeAntnioMrio

    MattosOrtiz,porpermitiremoaprofundamentocentrale a conseqentecompreensodotema

    (YIN,2001).Obedeceuse,paratanto,sfasesindicadasporNisbeteWatt(apudLDKE&

    ANDR,1986)paraodesenvolvimentodoestudodecaso.

    Aprimeiraetapadessesprocedimentos,segundoorientaodosautorescitadosacima,

    foiexploratria,comadefiniodasprincipaisquestesaseremestudadas,aidentificaoea

    localizaode fontesdedadosparaa investigao.Oprimeiropassoapoiousenapesquisa

    bibliogrfica, fundamental para o embasamento e o conseqente entendimento terico do

    temaestudado.ConformeavaliaAntnioCarlosGil(1999,p.65),aprincipalvantagemda

    pesquisabibliogrficaresidenofatodepermitiraoinvestigadoracoberturadeumagamade

    fenmenosmuitomaisamplaqueaquelaquepoderiapesquisardiretamente.

    Almderefernciasbibliogrficasrelativassdiscussessobreaquestolocalesobre

    a complexidade da propaganda poltica contempornea, tambm foram utilizadas obras de

    referncia no campo da Sociologia, sem as quais tornarseia invivel o entendimento da

    atuao da propaganda poltica na TV em municpios do interior. Para compreender as

    tendnciaspolticasdaqueleperodo,lanousemotambmdeleiturasdosprincipaisjornais

    que circularam na cidade. Fezse tambm, nessa primeira fase do estudo, uma pesquisa

    histricasobreomunicpiodeTaubatSP,comoformadecompreenderarealidadelocal,as

    especificidadesculturaisesociais,vistoque,emmuitassituaes,nohoutramaneirade

    conhecerosfatospassadossenocombaseemdadossecundrios.(GIL,1999,p.65)

    Na fase preliminar do estudo, foram identificados e contatados os principais

    envolvidos nas campanhas deTVdos candidatosRobertoPeixotoeAntnioMrioMattos

    Ortiz alm dos prprios candidatos, dos coordenadores de comunicao de ambas as

    campanhasedoexprefeitoJosBernardoOrtizcujosrelatosampliaramoentendimentode

    todo oprocesso estudado.A tcnica da entrevista semiestruturada foi amaisadequadaao

    14AstcnicasseroexplicitadasaindanaIntroduodestetrabalho.

  • 22

    tipodepesquisaaqueseprops,pois,conformeorientaGil(1999),garanteaoentrevistado

    maiorliberdadenasrespostas,semque,entretanto,fujadotemapropostopeloentrevistador.

    Oscoordenadoresdecomunicaodeambososcandidatos,CidovalMoraisdeSousa,

    terceirizadonapocadacampanhade2004pelaBiondiMarketingPoltico,eDimasSoares,

    daAtempoMarketing, foramquestionados,almdosobjetivosdosprogramasdeTV,sobre

    as tcnicas de produo, sobre a utilizao dosmodelos j tradicionalmente praticados em

    campanhasdetelevisonoBrasilesobreapercepodosfatoresdeterminantesparaaderrota

    eparaavitriade AntnioMrioMattosOrtizeRobertoPeixoto,respectivamente.

    Tambmforamabordadososdoiscandidatosemquestosobreapercepodeambos

    quantosestratgiasutilizadasnosprogramasdeTVesobreotrabalhodesenvolvidopelas

    respectivasagnciascontratadas.

    Por ser apontado desde o incio do estudo comodeterminanteparaareviravoltado

    quadro poltico deTaubat, em 2004, e como referncia para as discussespropostas nos

    captulos3e4,foramrecolhidosdepoimentosdoexprefeitodacidade,JosBernardoOrtiz.

    Para o estudo do corpus (programas de TV dos candidatosAntnioMrioMattos

    Ortiz e Roberto Peixoto, veiculados no Horrio Gratuito de Propaganda Eleitoral),

    caracterizando a segunda fase do estudo de caso, foi imprescindvel a utilizao da

    metodologia da pesquisa documental, para a qual foram adotados, posteriormente,

    procedimentosexaustivosdeanlise.Numprimeiromomento, fezseacoletasistemticade

    dados referentes ao objeto estudado, ou seja, a reunio, leitura eo fichamentode todosos

    programasdeTVdeRobertoPeixotoedeAntnioMrioMattosOrtiz,exibidosentreosdias

    17deagostode2004e28desetembrode2004,noHGPE.

    Ao propor essa sistematizao, tomouse como referncia o modelo elaborado por

    pesquisadores do Instituto Universitrio de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ)15, que

    prope uma inovao da abordagem da propaganda poltica no Brasil, com vistas s

    estratgiasdecomunicaoenoanlisedodiscursovistoqueofocodesteestudono

    contempla o discurso polticoideolgico das campanhas e tambm por possibilitar a

    comparaoentreosmodelose tcnicaspraticadasemcampanhasdegrandeexpressividade

    nocenrionacional16.

    15 IUPERJ um centro de pesquisa e psgraduao em Cincias Sociais de expresso no cenrio nacionalbrasileiro.16OmodelofoisistematizadoporMarcusFigueiredo,AlessandraAld,HeloisaDiaseVladmirL.Jorge, tendocomoobjetoas eleiesparaasprefeiturasdeSoPauloedoRiodeJaneiro, em1996.Oresultadoconstadealgumaspublicaes, dentreelas, Marketingpolticoepersuasoeleitoral,organizadaporRubensFigueiredo(2005)sobottuloEstratgiadepersuasoemeleiesmajoritrias:umapropostametodolgicaparaoestudodapropagandaeleitoral.

  • 23

    A anlise e a interpretao dos dados referentes aos programas de TV de Roberto

    Peixoto e AntnioMrioMattosOrtiz nas eleies municipais de Taubat, em 2004, que

    constituematerceirafasedesteestudodecaso,seguiuomtododeanlisedecontedo,com

    a definio de um rol de categorias e subcategorias de anlise tambm indicadas pelos

    cientistaspolticosdoIUPERJ,emboracomalgumasadaptaesaoobjetoemquesto17.

    Lozano(apudFONSECAJNIOR,2005,p.286)defendeque

    a anlise de contedo sistemtica porque se baseia num conjunto deprocedimentos que se aplicam da mesma forma a todo contedoanalisvel. tambm confivel ou objetiva porque permite quediferentes pessoas, aplicando em separado asmesmascategoriasmesmamostrademensagens,podemchegarsmesmasconcluses.

    Propsse,ento,categorizar,daformaamaisexaustivapossvel,todososelementos

    que integraramaspropagandaspolticasde televisoduranteopleitomunicipaldeTaubat

    em2004, no intuito de comparlos aosmodelos freqentemente utilizados nascampanhas

    brasileirasdegrandeportenosltimosanos,nosomentesobdopontodevistadatcnicade

    produo domaterial televisivo, como tambmdas estratgias de propaganda poltica e de

    persuaso eleitoral. Dessa forma, categorias de anlise dos programas de TV de Roberto

    Peixoto e de Antnio Mrio Mattos Ortiz foram definidas para que se vislumbrasse os

    seguintes aspectos: 1) estratgiasdecampanha2)construododiscurso3) intenesdas

    mensagens4)caractersticaspessoais5) temas6)formatodosprogramase7) tcnicasde

    produo.

    Nocasodasestratgiasdecampanha,subdividiuseacategoriaemsubcategorias,com

    opropsitodeverificaracoernciaounocomaposiopolticadocandidato,ouseja, quis

    seinvestigarseasestratgiasutilizadasforamadequadas,ouno,aocandidatodasituaoou

    daoposio.

    As subcategorias utilizadas na categoria estratgias de campanha, em relao

    situao,foram:a)competnciaderivadadecargosocupadosanteriormenteb)posturaacima

    da briga em relao disputa sem ou com poucos ataques aos adversrios c) nfase nas

    realizaeseassociaoadministraoemcursod)apoiodelideranaslocais,estaduaise

    nacionaise)endossodelideranaselderespartidriosf)usodepatronopoltico.

    Em relao s estratgias de campanha utilizadas geralmente por candidatos da

    oposio, analisouse as seguintes subcategorias: 1) apelo mudana 2) ofensiva quantoa

    17EssasadaptaesseroapresentadasaindanestaIntroduo.

  • 24

    temassubstantivosenfasenootimismo3)ataquesadministraoemcurso4)ataquesaos

    adversrios5)comparaesentreoscandidatos.18

    Asegundagrandecategoriaelencadaconstruododiscursotevecomoobjetivo

    identificar o predomnio dos argumentos utilizados pelos dois concorrentes Prefeitura de

    Taubat em 2004, que, conforme ser apresentado de forma detalhada no captulo 3,

    apresentamindicativosdecomocadadisputaeleitoraltemsuasparticularidadesepodefugir,

    muitas vezes, da cartilha ditada pelos estrategistas polticos da atualidade. Tal categoria

    abarcouasseguintessubcategorais:

    1)Retrica damensagem:a) seduo: persuaso baseadaem aspectosemocionaise

    subjetivos b) proposio: clculo objetivo dos benefcios a serem obtidos caso o

    candidato seja eleito, com promessas de continuidade ao que deu certo na

    administraoemcursoc)ameaa:elementodeclculo,comfortecontedonegativo

    2)Linguagemutilizada:a)didtica:comexplicaesrespaldadasporrecursosvisuais,

    comogrficos, tabelaseletterings19b) informativa:estilojornalsticoc)panfletria:

    mensagemqueincendeiaodilogocomoeleitor

    3)Oradordominante20:a)candidatob)patronopolticoc)apresentadordoprograma

    d)reprter.

    Igualmente elucidadora para os resultados desta pesquisa foram as anlises

    sistemticas a partir da categoria intenes das mensagens, subdivididas, aqui, nas

    subcategoriasapeloseobjetivos,vistoqueencontraramecoemrefernciassobreapersuaso

    eleitoral, explanadas emobras como a de JeanMarieDomenach(1963),deLaurenceRees

    (1995) e de Rubens Figueiredo (2004), como objeto de identificao da utilizao dos

    modelos de propaganda poltica, comumente adotados em diversas partes domundo, pelo

    contextolocal.Determinouseparaefeitosdeanlisedosprogramasosseguintesapelosdas

    mensagens:

    1) Pragmtico:baseadoemproposies,comapeloracional

    2) Poltico: quando referese a um projeto mais abrangente, ligado ao apoio de

    instnciaspolticassuperiores

    18ConformeobservaramoscientistaspolticosdoIUPERJecomprovouesteestudodecaso,muitasvezes,nemsempre os candidatos recorrem estratgia tpica de sua posio na competio (FIGUEIREDO et al, 2005,p.160).19RecursodeproduodeTV,caracterizadoporinformaesescritasnatela.20 O estudo da subcategoria orador dominante, como ir constar na anlise dos dados coletados, tambmcolaborou com a comprovao de uma das hipteses desta pesquisa: a da fora carismtica de Jos BernardoOrtiz,exploradanaretafinaldosprogramasdeTV,queculminounavitriadeRobertoPeixoto.

  • 25

    3) Emocional: quando visa sensibilizar o eleitor, com retrica sedutora ou

    ameaadora

    4) Credibilidade das fontes: ter o respaldo de outras pessoas que avalizem o

    candidato

    Omesmosedeuquantoanlisedacategoriaobjetivodamensagem,queverificouas

    seguintesquestes:1)ataque2)exortaoe3)defesa.

    Na bibliografia internacional sobre aanlisedapropagandapoltica, constamapenas

    observaes sobre os tpicos ataque e defesa, sendo a discusso sobre a exortao que

    sugere o posicionamento de iseno do candidato em relao disputa excluda da

    sistematizao(FIGUEIREDOetal,2004).Decidiuseincluiressasubcategoriadevidoasua

    grande incidncia, especialmente nos programas deAntnioMrioMattosOrtiz, conforme

    serexplicitadonocaptulo3.

    Ao analisar as caractersticas pessoais dos candidatos Roberto Peixoto e Antnio

    Mrio Mattos Ortiz apresentadas nos programas, analisouse, como subcategorias, os

    seguintes aspectos: 1) honestidade/integridade 2) ternura/compaixo 3) competncia/

    preparo 4) desempenho/sucesso 5) indignao. Estas subcategorias foram consideradas na

    pesquisa especialmente para avaliar o carter carismtico dos candidatos, luz deWeber

    (1991),cujosconceitosseroapresentadosediscutidosnocaptulo3.

    Os temas 1) sade 2) educao 3) habitao 4) cesta bsica 5) transporte 6)

    segurana7) turismo/culturae8) inclusoforamosverificadosnosprogramasdeRoberto

    PeixotoeAntnioMrioMattosOrtize indicaramossetoresdemaior interessedaopinio

    pblica local, principalmentenoanseiodemelhorias.Essesdados tambmforamessenciais

    para o entendimento da realidade local e, como conseqncia, do objeto estudado e da

    comprovaodatese.

    A anlise da categoria formato dos programas mereceu especial ateno durante o

    estudoemprico,poisfoiumdospilaresdashiptesescomprovadasporesteestudodecaso.

    Pelaanlisedestacategoria,foipossvelverificar,dopontodevistadaforma,aapropriao

    dos modelos de produo da propaganda poltica de campanhas brasileiras de maior

    expressividade pela campanha eleitoral deTaubat, em2004.Verificouse a utilizao dos

    gneros:1) documentrio 2) telejornal3) pronunciamento do candidato 4)entrevistas5)

    videoclipe 6) dramatizao 7) povo fala e 8) chamadas para eventos da campanha.

    Subdividiuse, ainda, esta categoria em outras subcategorias, que levaram em conta as

    tcnicasdeproduo:1)produoemestdio2)produoexterna3)utilizaodeimagens

  • 26

    deapoiosemapresenadocandidato4)usodelettteringelocuoemoff comnfasena

    msicae5)efeitosespeciaisdeestdio21ecomputaogrfica.

    Conforme mencionado anteriormente, foram feitas algumas adequaes do modelo

    propostopelospesquisadoresdoIUPERJ,queincidiramsobredoisaspectos.Oprimeirodiz

    respeitoordenaodasunidadesdeanlise:aoinvsdaquantificaodassubcategoriasser

    baseada em porcentagem, utilizouse, para esta pesquisa, a quantificao por nmero de

    ocorrncias de cada subcategoria elencada. Na verdade, para a verificao de uma das

    hipteses a de que os programas de TV dos candidatos Antnio Mrio Mattos Ortiz e

    Roberto Peixoto haviam incorporado as estratgias utilizadas em eleies de maior

    expressividadeeranecessrioobservaraexistnciaounodamaiorpartedessascategorias

    e subcategorias, tornandose dispensvel a decupagem22 dos 44 programas analisados. O

    segundoaspectodizrespeitosupressodassubcategoriasapeloideolgico23,queintegraa

    categoria intenes das mensagens, e das subcategorias agressividade, dinamismo, e

    juventude,quecompemoroldacategoriacaractersticaspessoaisdoscandidatos,poisno

    foramencontradasnosprogramasanalisados.

    Organizaodosresultados

    Paraseentenderacomplexidadedoestudodecasoemquesto,decidiuseapresentar

    os resultados de forma contextualizada, partindo, no primeiro captulo, da anlise sobre as

    relaes entre a televiso e a poltica na atualidade, desde o desenvolvimento das novas

    tcnicas do marketing poltico nos Estados Unidos at a sua configurao no contexto

    brasileiro.

    Apartirda,nocaptulo2,fezseumareflexoacercadadicotomiaglobal versus local

    e de seus reflexos diretos na propaganda poltica contempornea. Discutiuse a questo

    tecnolgica,quevempermitindoadisseminaodemodelospadronizados,influenciados,de

    forma mais evidente, pela cultura norteamericana. Apresentase, ainda neste captulo, a

    interfernciadosmodelosprfabricadosdepropagandapolticanaTVnocontextoregional,

    apontando, principalmente, a atuao de grandes agncias de publicidade em eleies

    21EsterecursofoiproibidopeloTSE(TribunalSuperiorEleitoral),apartirde2006.22Processo que consiste em registrar as caractersticas de material udiovisual, ordenandoo de formacronolgica.23De acordocomamodelopropostopelo IUPERJ, nasubcategoriaapeloideolgicoocandidatofazusodeseuposicionamentoemrelaoamodelosdeEstado, regimesdegoverno,formasdepromoverajustiasocial,etc, procurando estabelecer uma identidade com o eleitor e diferenciarse dos outros candidatos.(FIGUEIREDO,2004,p.162)

  • 27

    municipaisdointerior,bemcomoabuscadasagnciaseprodutorasdeTVlocaisemaderira

    essesmodelos.Essaltimaquestoganhaforanaanlisedessa tendncia local,emvirtude

    do fenmeno, de certa forma recente, da proliferao de emissoras de TV regionais, que

    passaram a exibir programas eleitorais gratuitos voltados especificamente s cidades que

    atingem.

    OcontextohistricoepolticodeTaubat,aatuaodeJosBernardoOrtizcomoo

    polticotradicionaleaconjunturapolticalocalnaseleiesmunicipaisde2004soostemas

    abordados no captulo 3, por defenderse aqui que estes dados podem funcionar como

    limitadores das estratgiasde comunicaoutilizadas nos programas eleitorais de televiso.

    Odestaquepara aquestodo carisma,propostoporMaxWeber,foiopanodefundoparaa

    anlisedosfatoresquelimitamosucessodospadres consagradosdapropagandanocontexto

    local.DiscutesetambmaimportnciadaTVnocontextolocal secomparadaaeleiesde

    maiorvultoeainflunciadocontatontimodocandidatoparaaconstruodessarelao

    carismtica,queaTVnopodeproporcionar.

    As anlises dos programas de TV so expostas no captulo 4, com base na

    sistematizao metodolgica apresentada anteriormente e com inferncias propiciadas pela

    avaliaodaconjunturapolticadapoca.Avaliouse,ainda,estequadro, levandoemconta

    aspectoscomoasdatasdasdivulgaesdaspesquisasdeintenodevoto,aparticipaode

    JosBernardoOrtiznacampanhadeRobertoPeixotoeoresultadofinaldaseleies.

    Esperase que, ao investigar a experincia ocorrida emTaubatem2004, abrase a

    oportunidadede se verificarcomoosmodelosdepropagandapoltica adotadosemeleiesde

    grande expressividade interferem nos programas de TV produzidos na esfera local e de

    perceber qual a interface dessa relao, servindo no somente como reflexo terica, mas

    tambm como referncia para futuras aes prticas no campo do marketing poltico

    brasileiro.

  • 28

    CAPTULOI

    ACOMUNICAOENTREDOISTERRITRIOS:

    TELEVISOEPOLTICA

    A televiso provocou profundas transformaes na forma de se fazer poltica na

    atualidade.Ao proporcionar uma relao direta e simultnea entre polticos e eleitores, ela

    passouaseconfigurarcomoferramentacentraldasdemaisestratgiasdemarketingpoltico

    atualmente praticadas no mundo, chamando a ateno de cientistas sociais que procuram

    entenderascaractersticasdessasociedademiditica.

    Antes de apresentar as formas prticas de marketing poltico que surgiram e, ao

    mesmo tempo, que colaboraram com a configurao desse quadro, propese fazer uma

    rpida reflexo sobre a razo de ser da prpria poltica tradicional, ou seja, sobre os seus

    aspectosideolgicoseasmudanasvivenciadaspelomundocontemporneo.

    Aquedadeprestgiodospartidospolticosomaisevidentesintomadesseprocesso,

    namedida em que foram perdendo o espao na sociedade, especialmente para aTV, que,

    conforme ser apresentado, assumiu grande parte da parcela das atividades polticas que,

    antesdoseuadvento,eramderesponsabilidadedessasagremiaes.

    Estadescaracterizaodospartidosemdiversospases,especialmentenosdaAmrica

    Latina,seriadecorrente,navisode Afonsode Albuquerque eMrciaRibeiro Dias(2003,on

    line),aoexpressivonmerodeagremiaespartidriasquepassaramaexistiremvirtudeda

    volta do regime democrtico: tais instituies tornaramse muito semelhantes entre si e,

    comoconseqncia,compoucosatrativosquefaamcomqueoeleitoropteporesteoupor

    aquelepartido24.Osautoresreferidosreforamessaconcepo,aomostraremque,pornose

    basearememquestesideolgicopartidrias,ospartidospolticosacabaramficandomuito

    parecidos mutuamente, perdendo seu tradicional significado junto aos eleitores. Estes

    passarama buscarcritriosdediferenciaodepropostaspolticasnoperfildoscandidatos

    apresentados. Isso ocorre porque, no caso brasileiro, quem aparece so os candidatos,

    emboraohorrioeleitoralgratuitosejaconcedidoinstitucionalmenteaospartidos.

    Paolo Mancini e David Swanson (1996) avaliam que os prprios indivduos, ao

    fazerempartedeumasociedadecomplexa,dopontodevistaestrutural, tambmpassarama

    24Aliteraturaespecializadachamaestatendnciacentrpetadospartidosdecatchall.

  • 29

    almejar objetivos mais particulares, tornandose mais difcil de os partidos polticos

    posicionaremseemmeioaumeleitoradofragmentado.

    Tal processo fez comque ospolticos adequassem seus programas, suas promessas

    eleitorais s expectativas desses eleitores, deixando, muitas vezes, de lado a questo

    ideolgicadassuasrespectivasagremiaesnaexibiodeseusprogramasnaTV.Assim,a

    maior complexidade social tornouextremamentedifcil amanuteno e/ou aconstruode

    laosduradourosdeidentidadeefidelidadepartidrias.(RIBEIRO,2004,p.31)

    Dessa forma, a TV passou a ser a fonte por excelncia de informaes acerca da

    polticaparaoscidadosenomaisasagremiaesadquirindo,ainda,aresdeautoridade

    para exigir dos administradores pblicos uma srie de questes, que antes eram cobradas

    pelos partidos. Alm do mais, uma das caractersticas do indivduo inserido na sociedade

    miditica esforarse omnimopara compreender determinadas dinmicas, emespecial a

    poltica,eaTVfazissomuitobem,umavezquetraduzaostelespectadoresassuntosque

    seriamcomplexosdemaisparaelesseinteressaremporelesvoluntariamente.

    Devidoquedadeprestgiodospartidos,acredibilidadedessasagremiaestambm

    passaaserinferior,secomparadaaoqueaTVrepresenta dopontodevistadaconfianajunto

    aoseleitores,especialmentepeloseucontedojornalstico.

    De qualquer forma, a poltica partidria no tanto mais baseada em questes

    ideolgicascontinuouaterfora,fazendodaTVoprincipalpalcodesuasrepresentaesna

    atualidade. Assim, a televiso teria substitudo os partidos polticos, exceto no que diz

    respeitorepresentaodosindivduosqueexercemsuasfuneslegislativasouexecutivas.

    UmadasrazesparaaforaqueaTVdesempenhanessecampodizrespeitoaotoque

    realqueomeioconferesmensagens:umtomdeproximidadecomopblicoreceptor,tendo

    comoaliadososom,aimagemeomovimento.Assim,elafazveraomesmotempoemque

    fazcrernoquevisto(BOURDIEU,1997).

    At a era Gutenberg, a comunicao poltica mantinha as caractersticas de

    proximidadedospolticoscomopblico,passando,apartirda,aestabelecernovasrelaes,

    nasquaisosaspectosdaoralidadeedagestualidaderepletadesons,entonaes,expresses

    faciais e de gestos que tinham a capacidade de provocar emoes nos receptores foram

    substitudospelouniversodaspalavrasescritas.Comachegadadafotografiaedordio,no

    finaldosculo19enoinciodosculo20,retomasepartedascaractersticasdeproximidade

    entre polticos e eleitores, sendo definitivamente reintroduzida essa proximidade com o

    adventodateleviso,jemmeadosdesseltimosculo.

  • 30

    GiovanniSartori(2001)explicaqueouniversodossignosimagticosentendidopor

    qualquer indivduo, diferentemente da palavra, que enfrenta os limites do entendimento

    lingstico.Paraele,aTVrepresentouarupturaradicalentreumperodoeoutro,pormeioda

    substituiodapalavrapelaimagem25.Paraohomemdiantedatelevisosuficienteoque

    v,eaquiloquenovistonoexiste.(p.71)Oautordenominoucomo videopoltica essa

    relaodaTVcomas transformaesdohomemedapoltica.Nesta linhade raciocnio,o

    indivduo formado pelo vdeo passa a estabelecer novas relaes com o mundo, tomando

    contatocomapolticatambmpormeiodateleviso.

    Alm dos argumentos apresentados por Sartori para entender as influncias da TV

    sobre omodus operandi da poltica na atualidade, autorescomoJ.B.Thompson (2002)e

    AntnioAlbinoCanelasRubim(1990)apiamsenosconceitosdeJngenHabermassobrea

    transformaodosconceitosdeesferapblica.

    ParaHabermas(1984),acomunicaofoiintensificadanoespaopbliconoscafs,

    clubeseoutrosespaosdeconvivncia,ondeseencontravamopblicoleitordosjornaisnos

    primrdiosda imprensa.Naqueleslugarespblicos,almdaleituradosjornais,erapossvel

    estabelecer relaes interpessoais, que intensificavam a influncia dosmeios para almdas

    pginasdosperidicos.

    Por esse prisma,Thompson (2002) analisa que, a partir da insero da televisono

    cotidianodaspessoas,oconceitodepblicofoialterado,namedidaemqueosapelosvisuais

    da TV proporcionaram aos indivduos, alm do resgate da publicidade tradicional da co

    presena j que nos espaos pblicos a TV tambm est presente , dimenses

    infinitamente superiores quanto ao poder do seu alcance geogrfico. possvel atingir

    milhes de pessoas, ao mesmo tempo, em todo omundo, transmitindo conceitos, valores,

    crenassemprealinhadosaosmodeloshegemnicos.

    Dessa forma, percebese que os palcos para se fazer poltica tambmmudaram.Os

    comcios eleitorais na atualidade so cada vez mais raros, embora, do ponto de vista de

    qurum,essesencontrospolticosestejamcadavezmaiores,justamentepelamobilizaoque

    seconseguepormeiodaTV26.Almdisso,essasmobilizaestambmforamtransformadas

    em eventos miditicos, em que pouco se trabalha para a conscientizao poltica. Ao

    25Paraelucidarestesconceitos,Sartoridefinecomohomosapiensoindivduoformadopelapalavraescrita,comcomportamentosbaseadosnaracionalidade,baseadosemconceitosabstratoserepresentaesmentaisenquantodefinecomohomovidensoindivduomoderno,queelaborasuaspercepescombasenoquev,nosconceitosconcretos.26At as eleies presidenciais brasileiras de 2002, a lei permitiaacontrataodeshows paraanimarem oscomcioseleitorais.Geralmente,participavamdessescomciosgrandescelebridadesdamsicaedaprpriaTV,oqueabarcavamultidesnoseventospolticosderua.

  • 31

    contrrio, tais encontros tambm se transformaram em fonte de imagens para serem

    transmitidas pela TV, em programas eleitorais, e para os noticirios. Ou seja, todas as

    campanhaseleitoraisdaatualidadesoestruturadasemmeioaesseuniversodamdia.

    Wilson Gomes (2004) amplia essas discusses ao mostrar que ...a presena da

    televisoalterouaatividadepolticaeexigiuaformaodenovascompetnciasehabilidades

    no campopolticoque lhe transformaramsignificativamenteaconfigurao interna (p. 23

    24).Ele,assimcomoVencioArthurdeLima(2001),ressaltaqueessastransformaesno

    ocorreram somente nomodode se fazerpropagandapoltica, comotambmnaabordagem

    dada pelos noticirios, que do visibilidade ao trabalho dos governantes e nos demais

    contedosveiculadospelaTV.

    ParaGomes,cincoaspectosdelimitamessatransformaoocorridaemtodoomundo,

    principalmente nos ltimos 30 anos. Esses aspectos se interrelacionam, sendo causa e, ao

    mesmotempo,conseqnciadosdemais.

    O primeiro diz respeito ao agendamento de discusses de determinados temas, por

    partedosgovernantesepolticosempocaseleitoraisouno,comoformadeseadequarem

    pautatrabalhadapelamdia,especialmentedaTV,paragarantiremsuaprpriavisibilidade.

    Essaquestoest ligadahiptesedoagendasetting,dapautadeterminadapelosmeiosde

    comunicao, que parte da premissa que amdia pode no sermuitas vezes bemsucedida

    dizendo s pessoasoque fazer,mas incrivelmentebemsucedidadizendo suaaudincia

    sobre o que pensar. Dessa forma, estar atento ao que os meios de comunicao esto

    abordandonumdeterminadomomentopodesignificarespaogarantidoparaaapresentao

    deargumentosquedemvisibilidadepositivaaessespolticos.

    Como segundo ponto, Gomes ressalta o fato de que, como conseqncia dessa

    visibilidadepropiciadapelateleviso,adotousenapolticaumaculturabaseadapuramente

    naquestodaimagem,queacabasobrepondosesprpriasquestespolticas.Ospolticos

    foram,decertaforma,levadosaestabelecerumanovarelaocomseuseleitores,jqueestes

    ltimos, imbudos da cultura miditica, tambm passaram a assumir novas necessidades

    comoreceptores.

    Thompsonmostra que a preocupao com a imagem sempre fez parte da vida dos

    polticos:

    Nohnadadenovonapreocupaodegovernantes e lderes polticosemcultivar a prpria imagem pessoal e controlar sua exposio ao pblico: aadministrao da visibilidade uma arte poltica antiga. Mas odesenvolvimento dosmeios de comunicao e a conseqente transformaonanaturezadavisibilidademudaramasprticasdessaarte.(2002,p.122)

  • 32

    Os motivos para a aposta na TV, baseados na nsia pela visibilidade, segundo

    Thompson,vodesdeoalcancegeogrficodaTVatascaractersticasinerentesaessemeio

    decomunicao jmencionados.Segundooautor, aTVpassouaestabelecerumanovae

    distinta relao entre publicidade e visibilidade (2002, p. 117), o que acabou tornando as

    relaes mediadas mais apelativas se comparadas s interaes face a face. Assim, a

    visibilidade proporcionada pelaTVdespertou emgovernantes e lderes polticos de todoo

    mundoumnovotipodevaidade,jqueomeiomaiseficientequeelestmdesecomunicar

    comseuseleitorespassouaserateleviso.

    Paracitaralgunsexemplosprximosdocontextobrasileiro:oexgovernadordeSo

    PauloOrestesQurciasubmeteuseaumacirurgiadonariz,queamenizouumaspectosisudo

    antesacentuadonateladaTVoexprefeitodeSoPauloPauloMalufmudouomodelodos

    culos,quetambmpesavamnasuaimagemexibidapelaTVopresidenteLuizIncioLula

    daSilvatrocouascamisetasvermelhaseosternosdemodeporroupasdegrifesmasculinas,

    comoasGiorgioArmani,consideradascomoumadasmaiselegantesdomundo.

    Com uma televiso construda com base na publicidade comercial, focada no

    entretenimento27, conforme ser apresentado adiante, no somente os polticos tiveram de

    ganharumanova roupagem,comoseusprogramasprecisaramlanarmodeapelostpicosda

    TV como forma de garantir a audincia junto aos receptores, como dito anteriormente, j

    inseridosnaculturatelevisiva.

    O terceiro aspecto definido por Gomes referese aos novos servios polticos,

    desencadeados pela adoo das inmeras ferramentas de marketing, que incluem desde

    consultoriasdeimagematanlisesdepesquisasdeopinio.Como,noaspectojornalstico,a

    visibilidade dos polticos tambm pode ser prejudicada devido divulgao de denncias,

    especialmentesobrecorrupo,essefenmenoacaboucolaborandocomaadoodeservios

    comoosdeassessoriadeimprensa,que,almdetercomomissodivulgaraespositivasde

    seusclientesjuntomdia,tambmobjetivaamenizaroumesmoimpedirquefatosnegativos

    venhamtonaporintermdiodosmeiosdecomunicao28.

    Alm da adequao dos temas, por parte dos governantes e polticos em pocas

    eleitorais, e da forma de se apresentar visualmente ao pblico, a televiso provocou uma

    mudana na prpria linguagemdo discursopoltico,queagora tendea seadequaraomeio

    27 Nesse sentido, vale aqui ressaltar ocorrncias da poltica na mdia, que esto longe das mensagens dosnoticiriosedapropagandapoltica explcita,masquecolaboramdeformaindiretaparaaformaodaopiniopblica nesse campo. Tratase de mensagens diludas nas grades de programao por meio de telenovelas,filmes, programas humorsticos, que ajudam a desenhar, propositalmente ou no, o chamado Cenrio deRepresentaodaPoltica(CRP),definidoporLima(1996).28Thompsonsistematizouessesfatores,conformeserapresentadoaindanestecaptulo.

  • 33

    paraqueasmensagenspossamserconsumidasdamelhorformapossvelpelosseuseleitores

    em potencial. Este o quarto aspecto definido por Gomes sobre as Transformaes da

    polticanaeradacomunicaodemassa,que,assimcomoLaurenceRees(1995),entende

    quea linguagemadotadapelospolticosnateleviso,especialmentenapropagandapoltica,

    busca o apelo emotivo: ora com conotao positiva, de exortao, ora com sentido de

    escndalo,deameaa.

    Rubim(1994)tambmchamaaatenoparaesseponto,mostrandoque,naverdade,

    essatendncianodparaserevitada,nosomentenocasodaTV,comonosdemaismeios

    decomunicao.

    Rpidas crticas podem ser feitas: formalismo, com predomnio da formasobre o contedo poltico, e espetacularizao, modalidade extremada deformalizao. A poltica estaria fadada a se descaracterizar, a sofrer umafatdica despolitizao, caminhando inexoravelmente para o colapso. (p.4546)

    Outraadequaonamaneiradeseapresentaraopblicoporpartedospolticos,que

    constitui o ltimo aspecto analisado porGomes, diz respeito ao foco no pblicoalvo, por

    meio de contedos que dizem respeito queles que so ou aos que podem vir a ser seus

    eleitores, nos perodoseleitorais, e emopiniopblicafavorvel,no jogopoltico regular,

    atravsdacomunicaodemassas.(2004,p.25)

    Umadasprincipaisdiferenasdestaprticaemrelaoformadesefazerpolticano

    perodoanterioraodatelevisoque,agora,aspropostasapresentadassoelaboradascom

    basenasnecessidades,expectativasedesejosdoseleitores,obtidospormeiodepesquisasde

    opinio.Naverdade,todosospontosdefinidosacimavoaoencontrodomodelodominante

    queacomunicaopolticaassumiunasltimastrsdcadasemdiversospasesdomundo,

    dentrodalgicadomarketing:produodemensagensapoiadasempesquisasdeopinio,

    fabricao e emisso de contedos dirigidos a um pblicoalvo. (PLASSER et al apud

    GOMES,2004,p.78)

    Apesarde todoesseaparatomercadolgico,pormuitosconsideradoumatentados

    liberdades democrticas, importante ressaltar os aspectos negativos proporcionados pela

    visibilidade dos polticos namdia. que algumas ocorrncias no podem ser controladas

    pelospolticos,porquevoalmdombitodapropaganda.

    Thompson delimita quatro destes aspectos que prejudicam a visibilidade de

    governantes e polticos na sociedade miditica. O primeiro deles referese s gafes e aos

    acessos explosivos que ocorrem com mais freqncia nos contextos dirios. Alm das

  • 34

    cmerasdeTVcomerciaisestarempresentesnoscenriospolticosembuscadeinformao

    sobreocorrnciasnessecampo,para transmitilasamilhesdetelespectadores,oscanaisdo

    prpriogoverno,comoaTVCmaraouaTVSenadonocasobrasileirotransmitemao

    vivo sesses que mostram freqentemente situaes prejudiciais imagem de

    parlamentares.29

    Outrocomponentecontrriovisibilidadealmejadapelospolticosdizrespeitoaoque

    Thompsonchamadedesempenhodeefeitocontrrio,cujacaractersticaprincipalseriaado

    entendimento errado, por parte dos receptores, de algumamensagem dita ou de alguma

    aorealizadapelopoltico.

    DudaMendona(2000)relataoqueaconteceucomoexprefeitodeSoPaulo,Paulo

    Maluf,quandodisseaclebrefrase:Tbom,tcomvontadesexual,estupra,masnomata

    (p.68).Afrase,atento, teriasidoditaporMaluf,nosesabeaocertoondenemdeque

    forma.Ofatoque,segundorelatodeMendona,aimprensaexplorouamximadurantetrs

    anos, mas, somente em 1992, pela primeira vez, fora veiculada uma gravao com a

    inconfundvelvozdePauloMaluf,duranteprogramadeTVdoPartidodosTrabalhadores.Na

    ocasio,oexprefeitoteriaexplicadoaomarqueteiroqueessasuafraseteriasidoditaemum

    seminriorealizadopelaFaculdadedeCinciasMdicasdeMinasGerais,noqualotemaera

    apenademorte.

    Eleeracontraapenacapitalemtodososcrimes,menosemumoestuproseguido de morte, um crime hediondo, como ele mesmo insistia emrepetir.Ea,querendoserespirituoso,falouafamigeradafrase[...]Afrase,no contexto em que fora dita, era absolutamente o contrrio do queinsinuavamosadversrios.(p.70)

    Estetambmumpontocuriosoaseraquidestacado.Nansiapelofurojornalstico,

    emespecialaosassuntosquepesemrelativamenteemsuaaudincia,aimprensaacabasendo,

    muitasvezes,omeioidealutilizadopordeterminadosgrupospolticosquevisamdenegrira

    imagemdeseusadversriosoutracaractersticadaatuaodamdiaemrelaopolticana

    atualidade.

    Oterceiroaspectodavisibilidadequemaculaaimagemdospolticosdizrespeitoao

    vazamentodeinformaes,que,muitasvezes,podevoltarsecontraquemoprovocou.Um

    29 Prova recente dessa ocorrncia foi o episdio que ficou conhecido como a dana da pizza, protagonizadopelaexdeputadadoPartidodosTrabalhadores,ngelaGuadagnin,noinciodemarode2006.Durantesessoda Cmara, que j se estendia madrugada, a exparlamentar danou, literalmente, no plenrio federal, emcomemoraoabsolviodocolegadepartidoJooMagno, acusadodecorrupo.Tamanhafoiarepercussodadapelamdiaaofatosobreagafedaexdeputada,que,coincidnciaouno,elanoconseguiusereelegernaseleies ocorridas em outubro do mesmo ano, ao contrrio de Joo Magno, que, embora devesse ser oprotagonistadahistria,foitratadopelamdiacomoumsimplescoadjuvante.

  • 35

    vazamentoumarevelaointencionaldeinformaoporalgumdedentroquedecidetornar

    pblico algo que sabe reservadopara a regio de fundo(THOMPSON,2002,p.129).No

    entanto,maisabrangentequeessaquestoadoescndalo,queoautorexplicacomosendoo

    quartoaspectonegativodavisibilidadedospolticos:

    Escndalo um termo muito comum e largamente usado desde o sculoXVI [...] Comportamento escandaloso era aquele queproduziadesgraaouofendiao sentidodadecncia.Otermoconservaessaconotaoaindahoje,mas as condies sob as quais as atividades escandalosas acontecemmudaram em certos aspectos. Escndalos podem ocorrer emmuitas esferasda vida mas os escndalos que surgem na esfera poltica, e que hoje tmgrande repercusso, so geralmente aqueles ligados a falhas naadministrao da visibilidade atravs da mdia. Escndalo um riscoprofissionaldapolticanaeradavisibilidademediada.(p.129130)

    Todos esses pontos acerca da visibilidade discutidos por Thompson mostram a

    vulnerabilidadedospolticosque,agora,desenvolvemsuasatividadesnasociedademediada.

    Conformemencionado anteriormente, por essas razes, asassessoriasdecomunicaopara

    polticos se profissionalizaram, comvistasa reverter determinados quadros delineadospela

    imprensa.

    Essa nova forma de encarar a poltica do ponto de vista da mdia, em especial da

    televiso,passaaserfundamentalparaacompreensodeseusefeitos,que,naverdade,so

    cumulativos, ou seja, o comportamento dos receptores nosoafetadospelamdiaa curto

    prazo,masporumconjuntodeaesque sedesenrolamcomoutrasvariveispresentesna

    vidadessesindivduos.

    ,naverdade,oespaodeconstruodahegemoniae,comotal,temdesercontinuamente renovado, recriado, defendido e modificado, na medidamesmaemquecontinuamenteresistido, limitado,alteradoedesafiadoporpresses que no so suas prprias presses (WILLIAMS apud LIMA,2001,p.222)

    Diantedessasconsideraes,tentadorquererculparamdiae,deformaparticular,a

    televisopor todasasalteraesprovocadasnaformadesefazerpolticanosdiasatuais.A

    comunicao a base da vida em sociedade, conforme defendeMarques deMelo (1973),

    sendoela,naverdade,umreflexodoprpriodesenvolvimento social, cultural e econmico

    porquepassaaprpriahumanidade.

    De qualquer forma, no inteno deste trabalho refletir sobre as vtimas ou os

    algozes desse processo dialtico numa ponta, a TV e, na outra, a poltica mas, ao

  • 36

    contrrio, perceberde que formaa poltica, no contexto local, incorpora as ferramentas de

    comunicao,demodoparticular,asdaTV,parasuaefetivaexistncia.

    1.1AmodernapropagandaeleitoralnaTV:MadeinUSA

    Aosefalarempropagandapolticaeleitoralnaatualidade,quenaverdadeocentro

    desteestudo,praticamenteimpensvelnorelacionlaaosconceitosdemarketingpoltico.

    Partindodopressupostodequeapropagandaumatentativadeinfluenciaraformadepensar

    e, como conseqncia, o comportamento da sociedade, (BARTLET apud DOMENACH,

    1963),equeosdiscursospolticosatuaissobaseadosempesquisasdeopiniopblica,na

    eradomarketingpoltico,certoafirmarquenosepropagammaisidiasprprias,masas

    idiasqueoprprioeleitorconsideraimportantes.

    De qualquer forma, a propaganda poltica continua sendo a principal ferramenta do

    marketingpoltico,aopassoqueelaquemconversacomopblico,quetentaconvenclo

    dequedeterminadocandidatomelhorparaarealizaodeseusprojetosdevida.

    Peladefiniobsicadocompostodemarketing,apropagandaconstituiapenasumde

    seusaspectos,vistoquesuadinmicaenvolveaindaaconstituiodoproduto,deseupreoe

    dossistemasdeacessoaessesprodutos.

    O marketing a funo dentro de uma empresa que identifica asnecessidades eos desejos do consumidor, determina quais osmercadosalvoque a organizao pode servir melhor e planeja produtos, servios eprogramas adequados a esses mercados. No entanto, o marketing muitomais do que uma funo isolada uma filosofia que orienta toda aorganizao.(KOTLER&ARMSTRONG,1999,p.15)

    O seu desenvolvimento se deu exatamente em virtude dos novos contornos da

    sociedade capitalista globalizada, quando a cultura do consumo demassa foi intensificada

    como alternativaaoescoamentodaproduo industrial.Especialmenteapartirdosanosde

    1970, devido concorrncia no campo empresarial e com a configurao da sociedade

    miditica,eranecessriomaisqueaparecerpormeiodapublicidade:eraprecisosedestacar

    diantedainfinidadedeprodutoseserviosoferecidosnomercado.

    Viuse, ento, que a orientao deveria surgir das prprias expectativas do pblico

    consumidorquantoaosprodutoseserviosoferecidos.Cercade20anosdepoisdessanova

    percepoquantosestratgiasmercadolgicas,percebeusequemuitasdessasdemandas,ao

  • 37

    invsdemassificadas,deveriamsermaissegmentadas,ouseja,focadasnonasmassas,mas

    nopblicoalvo.

    Essa nova forma de pensar o mercado acabou provocando reflexos no campo da

    poltica em diversos pases democrticos, pois os consumidores, que tambm exercemseu

    poderpolticopormeiodovoto,integralizaramessanovaculturafocadaemsatisfazerassuas

    expectativas. Isto, a inserodomarketingpolticonasociedadefoiconseqnciadeuma

    sriedetransformaeshistricasetambmtcnicas,equetemamdiacomopeachave.

    assimqueomarketingseassociapoltica:paraatenderaumanecessidadehistricosocial.

    Achamado,noporintromisso.(PACHECO,1994,p.148)

    O fato que atualmente, independentemente da orientao poltica de direita, de

    centro ou de esquerda , muito difcil obter sucesso nas urnas sem a utilizao de suas

    estratgias. No mundo de hoje, tornouse improvvel o sucesso numa eleio, sem a

    contribuiosubstancial dastcnicasdemarketing.(PACHECO,1994,p.152)

    Por issomesmo, omarketingpoltico vm sendo objeto deestudoediscussesno

    somentenomeioacadmicocomotambmnoprofissional.AdolphoQueiroz(2004)explica

    que o termo, utilizado no incio pelos profissionais norteamericanos para definir aes

    estratgicas de comunicao aplicada em eleies democrticas, surgiu em decorrnciadas

    prticasconstantesnaquelepas...(p.17)

    Entretanto,suasconceituaesaindareservamalgumasdivergncias,dentreelasuma

    sobre a diferenciao entre os termosmarketing poltico emarketing eleitoral. O primeiro

    estariarelacionadoformaodaimagemdeumpolticoalongoprazo,incluindoestratgias

    no somente em perodos eleitorais, mas tambm com carter pr e pseleitoral30. J o

    marketingeleitoral consideradoumfatonopoltico,poisconcebidodeforadapoltica

    (PACHECO, 1994). Por isso mesmo, no ponto de vista do autor, conforme visto

    anteriormente,algicadomarketingeleitoralacabaporseramesmadadomercado,emque

    o foco atender s expectativas do consumidoreleitor de forma imediata. A propaganda

    polticaeleitoral,porconseqncia,teriatodasassemelhanasdapropagandadeprodutosde

    mercado,vistoque,poresseraciocnio,oscandidatosseriamprodutosempocaseleitorais.

    Conforme apresentado anteriormente, a TV assumiu a centralidade desse processo,

    tornandoseopalcoparaadivulgaodasrealizaespolticasedaspropostasdecampanhas

    eleitorais.

    30 Paramaior entendimento desta questo, recomendaseconsultarMarketingpseleitoral,deCarlosAugustoManhanelli.

  • 38

    Os indciosdequeaTV tornarseia importantepeanapoltica foiasuautilizao

    emconveneseconfernciaspolticasamericanas,em1948,comafunodedocumentare

    acompanhar os acontecimentos, sem, entretanto, invadir a arena poltica. (CASHMORE,

    1998)

    O ano de 1952 considerado pelos especialistas como o do incio do marketing

    polticomoderno, ocasio em que se deu a vitria eleitoral deDwight Eisenhower para a

    presidnciadosEstadosUnidos,porintermdiodaagnciaBBDO(Batten,BartonDurstine

    Osborne).

    Na poca, mais de 61% dos americanos assistiram campanha pela TV, em pelo

    menos alguma ocasio. Nos momentos de pico, mais de 60% dos aparelhos estavam

    sintonizados.Foiaprimeiravezqueessemeiodecomunicaocobriudemodoabrangentea

    polticanacionaldosEstadosUnidos(CASHMORE,1998,p.209).

    OentocandidatorepublicanocompraratempocomercialnaTV,nosmesmospadres

    dosdemaisprodutosdeconsumo,posturacriticadaporseuprincipaladversrio,odemocrata

    AdalaiStevenson,queproclamouaopbliconorteamericanoqueelenodesejavaqueos

    polticos fossem uma mercadoria como um alimento matinal. Stevenson perdeu

    (CASHMORE,1998,p.209).

    Emboraasprprias redesdeTVdapocaconsiderassemmnimaasuaforaparaa

    decisodeumaeleiomajoritrianaprincipaldemocraciadomundo,ahistriaprovariao

    contrrio.Em1956,opresidenteEisenhowerchegouagravarcercade30comerciaisfalando

    sobreopas.Mesclandosuasfalascomorespostasagravaesdeperguntasfeitasporvrios

    americanos, seus consultores polticos montaram uma srie de spots, denominados

    Eisenhower responde Amrica. Nascia uma nova era de campanha de mdia

    (FIGUEIREDOetal,2004,p.164)

    Essa eleio tambm foi considerada como a primeira a utilizar as estratgias de

    marketing poltico, porque Eisenhower teria tido acesso a um levantamento realizado por

    GeorgeGallupsobreapercepodaopiniopblicaamericanasobrecontedose temasde

    interessepoltico.

    RubensFigueiredo(2004)ressaltaque,devidoaoresultadodaqueladisputa,naquele

    mesmo ano surgiram as primeiras regras no campo da propaganda poltica, indicando

    frmulaspara sevencereleiesnaeradaTV.Em1960,essemeiodecomunicaoexibia

    umdosdebatesdecisivosparaselaravitriadeJohnKennedysobreRichardNixon,emque

    ficouclaraaaparnciadocandidato,ou seja,oprimeiroeraconsideradomaisapresentvel

    nastelaspelasuaaparnciafsicaemrelaoaosegundo.

  • 39

    interessante ressaltarque,noprimeirodebatedordio,Nixonsaiusemelhor,mas

    diantedascmerasdeTVapareceucomasombradabarbacobertaporumamaquiagem,que

    derreteu sob o efeito das luzes do estdio da CBS, acentuando o contraste da imagem

    bronzeadadeKennedy.Deacordocomaliteratura,oefeitofoi toforteque,emboratenha

    tomadocuidadonosdebatessubseqentes, aprimeira imagemfoiaque realmente ficouna

    mentedostelespectadores,culminandonoseufracassonasurnas.

    AexperimentaonessecampotelevisivoecombasenosapelospropiciadospelaTV

    foram determinantes para a elaborao, nos anos seguintes, de peas publicitrias mais

    ousadas, nas quais as estratgias comearam a voltarsemais para o aspecto emocional.O

    marcodesse tipodeabordagem,segundoaliteraturaespecializada,foiaexibio,em1964,

    doDaisySpotconhecidacomoAgarotinhaeamargaridadeTonySchwartz.

    Umagarotinhaest tirandoptalasdeumamargarida,enquantocontaUm,dois, trs... Quando ela atinge o nmero dez, a cena se congela e, ento,dse um zoom em seus olhos, no momento em que ouvimos a contagemregressiva: Dez, nove, oito... at um. Em seguida, surge a cena de umaexploso nuclear sobreposta pela voz do presidente Johnson: Essa aescolha, afinal: amar uns aos outros oumergulhar na escurido. Devemosamarunsaosoutrosoumorrer.(REES,1995,p.30)

    Vistas de maneira superficial, no existiriam diferenas contundentes entre uma

    propagandapoltica,comfortecontedoideolgico,eumapropagandapolticaproduzidana

    eradochamadomarketingpoltico.Entretanto,elafoiidealizadaestrategicamente,tendoem

    vista o momento em que todo o mundo vivia a ameaa da Guerra Fria, oferecendo ao

    telespectadornoidiasnovas,masexatamenteaquiloqueelepensavaarespeitodoassunto.

    Em 1964, o candidato oponente a LyndonB. Johnson, BarryGoldwater, que havia

    sidocontrrioquelapocaaumtratadoquepreviaaextinode testesnucleares,aparecia

    como algum irresponsvel, enquanto, Johnson, sucessor deKennedy, firmavase diante da

    opinio pblica como um poltico sensvel e responsvel, capaz de dirigir a nao mais

    poderosadomundo.

    Uma das lies dessa pea publicitria a de que o telespectador deve ser atingido

    maisnoseuemocionaldoquenoseuintelectual,vistoqueoobjetivodamensagempassoua

    ser,dentrodavisodemarketing,umreforodapercepoqueoindivduotemdarealidade.

    O publicitrio Tony Schwartz chegou a defender que o comercial ideal no teria mais a

    responsabilidadede informarnenhumanovidade.Tenhaemmentequeumartistanotenta

    informarsuaaudincia,mastocarsuasemoeseinfluenciarseussentimentos,disseeleem

    entrevistaa Rees.(1995,p.29)

  • 40

    Issodeveria ser feito, segundoSchwartz,porquetodasasmensagensveiculadaspela

    televisodevemtercomoobjetivodialogarcomointeressedaspessoas31,casocontrrioelas

    noveriamoqueestsendomostrado.PelaanlisedeSchwartz,atelevisonoeficientedo

    pontodevistadapersuaso,masidealparareforaropiniespreviamenteformadas,oque

    podecontinuamenteserinvestigadopelaspesquisasdeopiniopblica.

    A garotinha e a margarida tambm foi tomada como lio no que diz respeito

    estratgia de depreciao docandidato oponente,mostrando suas fraquezas e incitandoo a

    responder questes para as quais ele no est capacitado, pelo menos, do ponto de vista

    emocional,conformeapeaexplorou.

    Nos Estados Unidos, essa propaganda desencadeou uma srie de outras peas que

    tambm tinham como inteno fazercomqueo telespectadorcompreendesseasentrelinhas

    doqueestavasendotransmitido,e,cadavezmais,assemelhavamsepublicidadecomercial,

    dopontodevistadosapelosedaqualidadedesuasprodues.

    MontagueKern(1989)mostraqueapropagandapolticanaTVpassouasercarregada

    deapelosemocionaise,deixandodefinitivamentedeladoaspropagandascominclinaoao

    estilo jornalstico, tornouse pea de entretenimento popular. Rees tem o mesmo

    entendimento:

    A propaganda poltica deve competir com anncios de produtos, imagensquase sempre projetadas para narrar uma pequena histria e para entreter oespectador antesmesmode tentar venderoproduto, paraque elenohesite efuja[...]Oveculolheimpeosvaloresdoentretenimento(1995,p.40)

    Outro aspecto da propaganda poltica na televiso delineada pela experimentao,

    ainda no incio dessa prtica nocontextoamericano,diz respeitoao tempodeexibiodas

    peas televisivas. Influenciadas pelos spots criados pelos consultores de Eisenhower, as

    propagandas polticas americanas passaram a ser veiculadas na TV, preferencialmente, por

    um tempo padro de exibio de 30 segundos. Apesar de alguns preferirem a compra de

    temposmaiores,entre5e30minutos,aadesospeasmaisenxutassoconsideradasmais

    eficientespelosconsultores.Essa tendnciadaspropagandaspolticasdeTVamericanasfoi

    denominada por Kern (1989), na obra 30Seconds politics: political advertising in the

    eigthies32,comomensagemderpidoimpacto.Ainteno,segundoseusdefensores,no

    31 A teoria dos usos e gratificaes, desenvolvida em meados do sculo 20, sustenta que as mensagens satingemos receptoresseelesestiveremprdispostosaela,ouseja,seelesobtiveremalgumacompensaoporseexporemaessasmensagens.32 Kern denominou a terceira tendncia verificada nas propagandas polticas de TV americanas de neoinformacionais:aquelasinformaesbaseadasempesquisasdeopiniopblica.

  • 41

    dar tempo ao telespectador de pensar em fazer outra atividade, seno ficar exposto

    mensagematofinal,oquenoaconteceemprogramasdelongadurao.

    Seguindo o avano das tcnicas de produo televisivas da arena comercial, a

    propaganda poltica de TV americana, dentro do conceito demarketing, tambm foi sendo

    aprimorada: tudo o que pode ser possvel para conquistar oeleitor colocado emprtica.

    Comosntese,omodeloformadopelasseguintescaractersticas:1)temacentralrelacionado

    a idias concretas 2) escolha de smbolos que representem esse tema o que est ligado

    diretamente, porexemplo, utilizao das coresazul, vermelhae branca, quedespertamo

    sentimentonacionalistatipicamenteamericano3)formatoqueprivilegiaoentretenimento4)

    emoo provocada por trilhas sonoras envolventes ede fcilmemorizao, locuoemoff

    comconotaodeautoridade,humoroudrama.

    Tratase de uma propaganda que privilegia a forma em detrimento do contedo

    polticoideolgico, a emoo, ao invs da razo, e que tem os discursos baseados nas

    expectativasdaopiniopblica.

    Assistindo ao desenvolvimento da propaganda poltica eleitoral da TV americana,

    polticosdediversasdemocraciasdetodoomundopassaramaalmejartal varinhadecondo,

    que tambmos tornasse capazes de obter sucessonas urnas.Como jeram tradicionaisna

    sociedade de massas, impregnada pela cultura norteamericana33, as tcnicas demarketing

    poltico, ensinadas por consultores americanos, foram sendo absorvidas gradualmente por

    pases do LesteEuropeu como tambm por pases daAmricaLatina, apsa falncia dos

    regimesditatoriais.

    Estudos como os de Macini e Swanson (1996) compararam campanhas eleitorais

    realizadasnadcadade1990em11diferentespases34e,resguardadasasdiferenasdoponto

    devistadahistria,daculturaedaprpriapolticadessasnaes,chegaramaumconceitode

    campanha modernizada, baseadas no modelo norteamericano. Este modelo teria as

    seguintes caractersticas do ponto de vistadomarketing: o foco constante empesquisas de

    opinio a TV como principal disseminadora (propaganda) e articuladora (jornalismo) da

    poltica a personalizao na figura do candidato em detrimento do partido a

    profissionalizaodosenvolvidosnascampanhasalinguagemcomforteapelonaseduoe

    naemoo.

    33AsinflunciasnorteamericanassobreospasesocidentaisseroapresentadasnoCaptulo II.34 Alemanha, Argentina, Espanha, Estados Unidos, Itlia, Israel, Polnia, Reino Unido, Rssia, Sucia eVenezuela.

  • 42

    Paraosautores,adisseminaodessemodelonorteamericanoemdiversospasesse

    deve: 1) fora assumida pelos Estados Unidos aps a Segunda Guerra Mundial, que,

    colocada como amais importante nao domundo, passou a despertar interesse de vrios

    pases que assistiam, via satlite, forma como decidiam suasescolhas democrticas2)

    massificaodeseusprodutosculturais,queajudaramadesenharmodelosdeproduoem

    todoomundo3)procurapelosconsultoresamericanosquepassaramavenderas estratgias

    eastcnicasdemarketingpolticoaplicadasnaquelepas4)publicaodemanuaiselivros

    sobrecomofazercampanhaspolticas5)stelevisesdealcanceglobal,pormeiodecanais

    fechados, que, alm de dar visibilidade s campanhas do ponto de vista da propaganda,

    tambminstituram,nospasesanalisados,osmodelosdecoberturas jornalsticasempocas

    deeleio.

    No Brasil, contexto que interessa a este estudo, a implantao das modernas

    estratgiasdemarketingpolticoedaspropagandaspolticaseleitoraisnatelevisoseguiram

    ocaminhodelineadopelosnorteamericanos,emborasomentealgumtempodepois.Paraque

    esse processo seja compreendido em sua real dimenso, necessrio entender, alm da

    conjunturapolticadoperodoemquepd