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  • 1. MITOS RAIZES UNIVERSAIS SILO NDICE I. MITOS SUMRIO-AQUEUS. Gilgamesh (Poema do senhor de Kullab). Gilgamesh e a criao de seu duplo- O Bosque dos Cedros- O Touro Celeste, a morte de Enkidu e a descida aos infernos- O Dilvio Universal- O regresso. II. MITOS ASSRIOS-BABILNICOS. Enuma Elish (Poema da Criao). O caos original- Os deuses e Marduk- A guerra dos deuses- A criao do mundo- A criao do ser humano. III. MITOS EGPCIOS. Ptah e a criao- Morte e ressurreio de Osris- Horus, a vingana divina- O antimito de Amenfis IV. IV. MITOS HEBRAICOS. A rvore da cincia e a rvore da vida - Abrao e a obedincia- O homem que lutou contra um Deus- Moiss e a Lei Divina. V. MITOS CHINESES. O vazio central- O drago e a Fnix. VI. MITOS INDIANOS. Fogo, Tormenta e Exaltao- O tempo e os deuses- As formas da beleza e o horror. VII. MITOS PERSAS. O clamor de Zarathustra- Luz e NVOA TINIEBLA- Os anjos e o Salvador. Fim do mundo, ressurreio e juzo. VIII. MITOS GRECO-ROMANOS. A luta das geraes dos imortais- Prometeu e o despertar dos mortais- Demeter e Persefona. Morte e ressurreio da natureza- Dionsio, a loucura divina. IX. MITOS NRDICOS. Yggdrasil, a rvore do mundo- Thor, as valkirias e a Valhala. O guerreiro e seu cu- Ragnark, o destino dos deuses. 1 5 10 15 20 25 30

2. X. MITOS AMERICANOS. Popol Vuh (livro do povo Quich). A histria perdida- As geraes humanas: o homem animal, o homem de barro, o homem de madeira e o homem de milho- Destruio do falso Principal Guacamayo nas mos de Mestre Mago e Bruxinho- O jogo de bola nos infernos: descida, morte, ressurreio e ascenso de Mestre Mago e Bruxinho. 2 5 3. INTRODUO H muito tempo existe o af por definir o mito, a lenda e a fbula; por separar o conto e o relato pouco provvel da descrio verdadeira. Foi realizado um grande trabalho para demonstrar que os mitos so a roupagem simblica de verdades fundamentais, ou melhor, transposies de foras csmicas a seres com inteno. Foi dito que se trata de eumerismos nos que personagens vagamente histricos se elevam categoria de heris ou deuses. Chegou-se a teorizar para mostrar as realidades objetivas que contm na deformao da razo. Foi investigado para descobrir, nessas projees, o conflito psicolgico profundo. E, assim, essa enorme tarefa resultou til porque nos ajudou a compreender, quase em laboratrio, como os mitos novos lutam com os antigos para conquistar seu espao. No deve se entender isto que estamos dizendo como um sarcasmo no que rebaixamos as teorias a nvel de mito. Pelo contrrio, quando as teorias se soltam do mbito cientfico e comeam a voar sem demonstrao e, desse modo so tomadas como a prpria verdade que se aceita sem crtica, porque aquelas se instalaram a nvel de crena social e cobraram a fora plstica da imagem to importante como referncia e to decisiva para orientar condutas. E nesta nova imagem que se irrompe podemos ver os avatares de antigos mitos remoados pela modificao da paisagem, no somente geogrfica, seno social, qual se deve dar resposta por exigncia dos tempos. O sistema de tenses vitais ao que est submetido um povo se traduz como imagem, mas isto no basta para explic-lo inteiramente, a menos que se pense em termos de linha simples e resposta. necessrio compreender que em toda cultura, grupo e indivduo, existe uma memria, uma acumulao histrica em base qual se interpreta o mundo em que se vive. Essa interpretao o que configura para ns a paisagem que, percebida como externa, est presa pelas tenses vitais que ocorrem nesse momento histrico ou que ocorreram h muito tempo e que, residualmente, formam parte do esquema interpretativo da realidade presente. Quando descobrimos as tenses histricas bsicas de um determinado povo nos aproximamos da compreenso de seus ideais, apreenses e esperanas que no esto em seus horizontes como frias idias seno como imagens dinmicas que empurram condutas em uma ou outra direo. E, desde j, determinadas idias sero aceitas com maior facilidade que outras na medida em que se relacionem mais estreitamente com a paisagem em questo. Essas idias sero experimentadas com todo o sabor de compromisso e verdade que tm o amor e o dio, porque seu registro interno indubitvel para quem o padece mesmo quando no esteja objetivamente justificado. Exemplificando. Os temores de alguns povos se traduziram em imagens de um futuro mtico em que tudo vai se acabar: cairo os deuses, os cus, o arco-ris e as construes; o ar se tornar irrespirvel e as guas poludas; a grande rvore do mundo, responsvel pelo equilbrio universal morrer e com ela os animais e os seres humanos. Em momentos crticos, esses povos traduziram suas tenses por meio de inquietantes 3 5 10 15 20 25 30 35 40 4. imagens de contaminao e solapamento. Mas isso mesmo os impulsionou em seus melhores momentos a 'construir' com solidez em numerosos campos. Outros povos se formaram no penoso registro da excluso e do abandono de parasos perdidos, mas isto tambm os empurrou a melhorar e a se conhecer incansavelmente para chegar ao centro do saber. Alguns povos parecem marcados pela culpa de terem matado seus deuses e outros se sentem afetados por uma viso polifactica e mutante, mas isto levou uns a se redimirem pela ao e a outros busca reflexiva de uma verdade permanente e transcendente. Com isto no estamos querendo transmitir estereotipias porque estas observaes fragmentrias no explicam a extraordinria riqueza do comportamento humano, queremos ampliar mais a viso que habitualmente se tem dos mitos e da funo psicossocial que cumprem. Mas hoje esto desaparecendo as culturas isoladas e, portanto, seus patrimnios mticos. Percebem-se modificaes profundas nos membros de todas as comunidades da terra que recebem o impacto no somente da informao e da tecnologia, seno tambm de usos, costumes, valores, imagens e condutas sem importar muito o local de origem. A este fluxo no podero subtrair-se as angstias, as esperanas e as propostas de soluo que tomando expresso em teoria ou frmulas mais ou menos cientficas, levam em seu seio mitos antigos e desconhecidos para o cidado do mundo atual. Aproximar-se dos grandes mitos foi, para ns, reavaliar os povos desde um ponto de vista um tanto especial, desde a tica da compreenso de suas crenas bsicas. No tocamos neste trabalho nos belos contos e lendas que descrevem os afs dos semideuses e dos mortais extraordinrios. Nos circunscrevemos aos mitos nos quais o ncleo ocupado pelos deuses ainda que a humanidade desempenhe nesta trama um papel importante. No possvel, no misturamos questes de culto, considerando que j se deixou de confundir a religio prtica e cotidiana com as imagens plsticas da mitologia potica. Por outra parte, procuramos tomar como referncia os textos originais de cada mitologia, pretenso que nos acarretou numerosos problemas. Com isso, e a modo de meno, digamos que a riqueza mitolgica das civilizaes Cretense e Micnica foi reduzida em um genrico captulo de Mitos greco-romanos precisamente por no podermos contar com textos originais daquelas culturas. Outro tanto aconteceu com os mitos africanos, ocenicos e, de algum modo, americanos. De todas as maneiras, os avanos que esto realizando antroplogos e especialistas em mitos comparados nos faz pensar em um futuro trabalho que tenha por base seus descobrimentos. O ttulo deste livro, 'Mitos Razes Universais', exige algumas aclaraes. Consideramos 'raiz' a todo o mito que, passado de povo a povo, conservou uma certa perdularidade em seu argumento central, ainda quando se tenham produzido modificaes atravs do tempo nos nomes dos personagens considerados, em seus atributos e na paisagem em que se insere a ao. O argumento central, aquele que designamos como 'ncleo de ideao', tambm experimenta mudanas, mas numa velocidade relativamente mais lenta que a dos elementos que podemos tomar como acessrios. Desta maneira, ao no 4 5 10 15 20 25 30 35 40 5. ter em conta a variao do sistema de representao secundrio, tampouco convertemos em decisiva a localizao do mito no momento preciso em que este surgiu. Uma pretenso oposta mencionada no poderia ser sustentada j que a origem do mito no pode filiar-se a um momento exato. Em todo caso, so os documentos e os distintos vestgios histricos que do conta da existncia do mito e que se encaixam dentro de um calendrio mais ou menos preciso. Por outra parte, a construo do mito no parece responder a um s autor, seno a sucessivas geraes de autores e de comentaristas que vo se baseando em um material por demais instvel e dinmico. As descobertas que atualmente so acrescentadas pela arqueologia, pela antropologia e pela filosofia atuando como auxiliares da mitologia comparada nos mostram que certos mitos, que considervamos como originrios de uma certa cultura, na realidade pertencem a culturas anteriores ou a culturas contemporneas quela recebendo assim suas influncias. De acordo ao comentado, no colocamos interesse especial em precisar os mitos em ordem cronolgica e sim em relao importncia que parecem ter adquirido em uma cultura determinada, ainda quando esta seja posterior a outra, na qual o mesmo ncleo de idias j estava atuando. Fica claro, por outra parte, que o presente trabalho no pretende ser nem uma recompilao, nem uma comparao, nem uma classificao com base nas categorias prefixadas, seno uma colocao em evidncia de ncleos de idias perdulares e atuantes em distintas latitudes e momentos histricos. A isto se poder objetar que a transformao dos contextos culturais faz variar tambm as expresses e os significados que se do em seu seio. Mas precisamente por isso que pegamos mitos que cobraram maior importncia em uma cultura e momento, ainda que tenham existido em outras oportunidades mas sem cumprir com uma funo psicossocial relevante. Quanto a certos mitos que, aparecendo em pontos aparentemente desconectados guardam entre si importantes similaridades, se ter que revisar a fundo se tal desconexo histrica efetivamente ocorreu. Neste campo, os avanos so muito rpidos e hoje ningum pode afirmar que, por exemplo, as culturas da Amrica so totalmente alheias s da sia. Poder se dizer que quando ocorreram as migraes atravs do estreito de Bering, h mais de vinte mil anos, os povos da sia no contavam com mitos desenvolvidos e que estes somente tomaram carter quando as tribos se assentaram. Mas, em todo caso, a situao pr-mtica foi parecida nos povos que estamos mencionando e l talvez se encontrem pautas que mesmo se desenvolvendo separadamente em suas diversas situaes culturais tenham mantido alguns padres comuns. Seja como for, esta discusso no est terminada e prematuro aderir a qualquer uma das hipteses hoje em confronto. No que se refere a ns pouco importa a originalidade do mito e sim, como observamos mais acima, a importncia que este tem em uma determinada cultura. Colocamos em letra diferente o texto original do texto de nossa autoria para que possa ser apreciado em toda sua riqueza. Em qualquer obra de reconstruo histrica (e esta, 5 5 10 15 20 25 30 35 40 6. de algum modo ), se distingue claramente o original do agregado posteriormente e acreditamos que o expediente da letra ressaltada cumpre perfeitamente com esta funo. Enquanto que em nosso texto se trata de conservar um certo estilo comum com o original, em nada perturba a obra, ou melhor, acreditamos que facilita sua compreenso. A citao de fontes consultadas e as notas que acompanham o texto servem mesma idia. Mendoza (Argentina) 17/12/90 6 5 7. Este o rapto daqueles seres no compreendidos em sua natureza ntima, grandes poderes que fizeram todo o conhecido e o ainda desconhecido. Esta a rapsdia da natureza externa dos deuses, da ao vista e cantada por humanos que puderam se situar no mirante do luminoso. Isto o que apareceu como sinal fixado em tempo eterno capaz de alterar a ordem e as leis e a pobre candura (CORDURA). Aquilo que os mortais desejaram que os deuses fizessem; aquilo que os deuses falaram atravs dos homens. 5 8. I. MITOS SUMRIO-AQUEUS Gilgamesh (Poema do senhor de Kullab) Gilgamesh e a criao de seu duplo. Aquele que tudo soube e que entendeu profundamente coisas. Aquele que tudo viu e que tudo ensinou. Que conheceu os pases do mundo... Grande foi tua glria. Grande tua glria divino Gilgamesh ! Ele construiu os muros de Uruk. Empreendeu uma grande viagem e soube tudo o que ocorreu antes do Diluvio. Ao regressar gravou todas as suas proezas em um papiro. Porque os grandes deuses o criaram, dois teros de seu corpo so de deus e um tero de homem. Depois de ter lutado contra todos os pases, regressou a Uruk, sua ptria. Mas os homens murmuraram com dio porque Gilgamesh tomava o melhor da juventude para suas faanhas e governava ferreamente. Por isso, as pessoas foram levar suas queixas aos deuses e os deuses a Anu. Anu elevou o reclamo a Aruru e disse estas palavras: 1 Tu Aruru, que criastes a humanidade, cria agora uma cpia de Gilgamesh: este homem em seu devido tempo o encontrar e enquanto lutem entre si Uruk viver em paz. A deusa Aruru, ao escutar este rogo, imaginou em si mesma uma imagem do deus Anu, umedeceu suas mos, amassou um bloco de argila, modelou seus contornos e formou o valente Enkidu, o heri augusto, o campeo do deus Ninurta. Todo o seu corpo veludo, seus cabelos esto penteados como os de uma mulher, so espessos como a trigo dos campos. 2 Est vestido como o deus Sumuqan e nada sabe dos homens nem das terras. Como as gazelas se nutrem de ervas, como o gado bebe gua nas fontes. Sim, ele gosta de beber com os rebanhos. Com o tempo, um caador encontrou a Enkidu e seu rosto se contraiu de temor. Se dirigiu a seu pai e lhe contou as proezas que viu este homem selvagem realizar. O velho, ento, enviou seu filho a Uruk para pedir ajuda a Gilgamesh. Quando Gilgamesh escutou a histria da boca do caador, recomendou a este que buscasse uma bela servente do templo, uma filha da alegria, e levando-a com ele, a colocasse ao alcance do intruso. Deste modo, quando ele vir a moa, ficara aprisionado dela e esquecer seus animais e seus animais no o reconhecero'. Assim que o rei falou, o caador procedeu segundo as indicaes chegando em trs dias ao lugar do encontro. Passaram um dia e mais outro at que os animais chegaram fonte para beber gua. Atrs deles apareceu o intruso que viu a servente sentada. Mas, quando esta se levantou e foi rpido at ele, Enkidu ficou encantado por sua beleza. Sete dias esteve com ela, at que decidiu ir com seu gado porm as gazelas e o rebanho do deserto se separaram dele. Enkidu no pode correr, mas sua inteligncia se abriu, pensamentos de homem pesaram em seu corao. 5 10 15 20 25 30 35 9. Voltou a sentar-se ao lado da mulher e esta lhe disse: 'Por que vives com o gado como um selvagem? Vem, te guiarei a Uruk ao santurio de Anu e a deusa Ishtar, at Gilgamesh a quem ningum vence'. Disto Enkidu gostou porque seu corao procurava um amigo e por isso deixou que a jovem o guiasse at os frteis pastos onde se encontram os estbulos e os pastores. Mas o leite das bestas selvagens ele o mamava e eis que aqui que lhe oferecem po e vinho. Despedaou o po, o olhou, o examinou, mas Enkidu no soube o que fazer com ele... A escrava sagrada tomou as palavra e disse a Enkidu: 'Come po, oh, Enkidu !, fonte de vida; bebe o vinho, o costume do pas'. Ento, Enkidu comeu o po, comeu at saciar-se, bebeu o vinho, bebeu sete vezes... Um barbeiro raspou os pelos de seu corpo e Enkidu se untou com leos, como fazem os homens, e vestiu roupas de homem e se mostrou como um jovem esposo. Tomou sua arma, atacou os lees e assim permitiu que os pastores repousassem noite. Mas um homem chegou at Enkidu, abriu a boca e disse: '... Para Gilgamesh, rei de Uruk a bem cercada, se arrastam as pessoas ao cultivo ! As mulheres impostas pela sorte o homem fecunda, e depois, a morte! Por vontade dos deuses tal o decreto: desde o seio materno morte nosso destino. Enkidu enfurecido prometeu mudar a ordem das coisas. Mas como Gilgamesh havia visto em sonhos o selvagem e havia compreendido que em combate haveriam de se entender, quando seu oponente lhe interrompeu o passo, este se jogou com a fora do touro bravo. As pessoas se aglutinaram contemplando a feroz luta e celebraram como Enkidu se aparentava com o rei. Ante a casa da Assemblia lutaram. As portas converteram em farpas e demoliram os muros, e quando o rei logrou arrochar Enkidu ao solo este se apaziguou abalando Gilgamesh. Por isto, ambos se abraaram selando sua amizade. O bosque dos cedros. Gilgamesh teve um sonho e Enkidu disse: Este o significado de teu sonho. O pai dos deuses te deu o cetro, tal teu destino, mas no a imortalidade. Te deu poder para submeter e para liderar... no abuses deste poder. S justo com teus servidores, s justo ante Samash'. O rei Gilgamesh pensou ento no pas da vida, o rei Gilgamesh recordou o bosque dos Cedros. E disse a Enkidu: 'No gravei meu nome nas estrelas, como meu destino decreta, irei portando ao pas onde se corta o cedro, me farei um nome l onde esto escritos os de homens gloriosos. Enkidu entristeceu porque ele, como filho da montanha, conhecia os caminhos que levavam ao bosque. Pensou: Dez mil lguas h desde o centro do bosque em qualquer direo de sua entrada. No corao vive Jumbaba (Cujo nome significa 'Enormidade'). Ele sopra o vento de fogo e seu grito a tempestade'. Mas Gilgamesh havia decidido ir ao bosque para acabar com o mal do mundo, o mal de Jumbaba. E, decidido como estava, Enkidu se preparou para gui-lo, no sem antes explicar os perigos. Um grande guerreiro que nunca dorme - disse - , guarda as entradas. S os deuses so imortais e o homem no pode lograr a imortalidade, no pode lutar contra Jumbaba. Gilgamesh se encomendou a Samash, ao deus-sol. A ele pediu ajuda na empreitada. E Gilgamesh recordou os corpos dos homens que havia visto flutuar no rio ao olhar dos muros de Uruk. Os corpos de inimigos e amigos, de conhecidos e desconhecidos. Ento intuiu seu prprio fim e levando ao templos dos cabritos, um branco sem mancha e outro marronzinho, disse Samash: Na cidade o homem morre, oprimido o corao o homem morre, no pode albergar esperana em seu corao... Ai ! largas jornadas levam at a manso de Jumbaba. Se esta empreitada no pode ser levada at o fim por que, oh Samash, encheste meu corao com o impaciente desejo de realiz-la ? ... e Samash aceitou a oferenda de suas lgrimas. Samash, o compassivo, lhe concedeu sua graa. Celebrou para Gilgamesh fortes alianas com todos os filhos da mesma me, que reuniu nas cavernas da montanha. 5 10 15 20 25 30 35 40 10. E logo os amigos deram ordens aos artesos para que forjassem suas armas e os mestres trouxeram os dardos e as espadas, os arcos e os machados. As armas de cada um, pesavam dez vezes trinta shekels e a armadura outros noventa. Mas os heris partiram e, em um dia caminharam cinqenta lguas. Em trs dias caminharam tanto quanto fazem os viajantes em um ms e trs semanas. Ainda antes de chegarem a porta do bosque tiveram que cruzar sete montanhas. Feito o caminho, ali a encontraram, de setenta cotovelos de altura e quarenta e dois de largura. Assim era a deslumbrante porta que no destruram por sua beleza. Foi Enkidu quem avanou empurrando sozinho com suas mos at abri-la de par em par. Logo desceram para chegar at o p da verde montanha. Imveis contemplaram a montanha de cedros, manso dos deuses. Ali os arbustos cobriam a ladeira. Quarenta horas se extasiaram olhando o bosque e vendo o magnfico caminho, o que Jumbaba percorria para chegar a sua morada... Entardeceu e Gilgamesh cavou um poo. Espalhando farinha pediu sonhos benficos a montanha. Sentado sobre seus calcanhares, a cabea sobre seus joelhos, Gilgamesh sonhou e Enkidu interpretou os sonhos auspiciosos. Na noite seguinte, Gilgamesh pediu sonhos favorveis para Enkidu, mas os sonhos que teve na montanha foram omissos. Depois Gilgamesh no despertou e Enkidu com esforo conseguiu coloc-lo em p. Coberto com suas armaduras cavalgaram a terra como se levassem leves vestimentas. Chegaram at o imenso cedro e, ento, as mos de Gilgamesh segurando o machado o derrubaram ! De longe Jumbaba os viu e gritou enfurecido: Quem este que violou meu bosque e cortou meu cedro? . Gilgamesh respondeu: No voltarei cidade no, no deixarei o caminho que me trouxe ao pas da vida sem combater com este homem, se pertence a raa humana, sem combater com este deus, se um deus... A barca da morte no navegar para mim, no h no mundo tecido do qual cortar um sudrio para mim, nem meu povo conhecer a desolao, nem meu lar ver arder a pira fnebre, nem o fogo queimar minha casa. Jumbaba saiu de sua manso e cravou o olho da morte em Gilgamesh. Mas o deus-sol Samash, levantou conta Jumbaba terrveis furaces: o ciclone, a turbulncia . Os oito ventos tempestuosos se arrocharam contra Jumbaba de maneira que este no pode avanar nem retroceder enquanto Gilgamesh e Enkidu cortavam os cedros para entrar em seus domnios. Por isso, Jumbaba apresentou- se manso e temeroso ante os heris. Ele prometeu as melhores honras e Gilgamesh estava por concordar em abandonar suas armas quando Enkidu interrompeu: 'No lhe d ouvidos! No, meu amigo, o mal fala por sua boca. Deve morrer nas nossas mos. E graas a advertncia de seu amigo, Gilgamesh se recobrou. Tomando o machado e desembainhando. a espada feriu Jumbaba no pescoo, enquanto Enkidu fazia outro tanto, at que na terceira vez Jumbaba caiu e morto ficou. Silencioso e morto. Ento lhe separaram a cabea do pescoo e neste instante se desatou o caos porque aquele que jazia era guardio do Bosque dos Cedros. Enkidu talhou as rvores do bosque e arrancou as razes at as margens do Eufrates E, depois, colocando a cabea do vencido em um sudrio mostrou-a aos deuses. Quando Enlil, senhor da tormenta viu o corpo sem vida de Jumbaba, enfurecido retirou dos profanadores o poder e a glria que haviam sido deles, e os deu ao leo, ao brbaro, ao deserto. Gilgamesh lavou seu corpo e jogou longe suas vestes ensangentada, vestindo outras sem mcula. Quando em sua cabea brilhou a coroa real, a deusa Ishtar colocou nele seus olhos. Mas Gilgamesh a rechaou porque ela havia perdido todos os seus esposos e os havia reduzido a servido mais radical por meio do amor. Assim disse Gilgamesh: s uma runa que no d ao homem qualquer abrigo contra o mau tempo, s uma porta traseira que no resiste a tempestade, s um palcio saqueado pelos heris, s uma emboscada que dissimula suas armadilhas, s uma ferida inflamada que queima a quem a tem, s um pote cheio de gua que inunda seu portador, s um pedao de pedra branda que desmorona as muralhas, s um amuleto incapaz de proteger em pas inimigo, s uma sandlia que faz tropear a seu dono no caminho !. 5 10 15 20 25 30 35 40 45 11. O Touro celeste, a morte de Enkidu e a descida aos infernos. Furiosa a princesa Ishtar se dirigiu a seu pai Anu e ameaou romper as portas do inferno para fazer sair dele um exrcito de mortos mais numeroso que o dos vivos. Assim vociferou: 'Se no atiras sobre Gilgamesh o Touro Celeste, eu farei isto' Anu concordou com ela, a mudana da fertilidade dos campos por sete anos. E, de imediato criou o Touro Celeste que caiu sobre a terra. Na primeira investida, a besta matou trezentos homens. Na segunda outras centenas caram. Na terceira carregou contra Enkidu mas este a reteve pelos cornos. O Touro Celeste espumava pela boca e golpeava Enkidu furiosamente com seu rabo. Ento Enkidu saltou sobre a besta e a derrubou quo larga era, retorcendo-lhe o rabo. E gritou: 'Gilgamesh, meu amigo, prometemos deixar nomes duradouros. Crava-lhe agora tua espada entre a nuca e os cornos'. E Gilgamesh cravou sua espada entre a nuca e os cornos do Touro Celeste e o matou... Depois, arrancaram do Touro Celeste o corao, o oferendaram ao deus Samash... Ento, a deusa Ishtar ascendeu a muralha de Uruk, a bem cercada, subiu ao mais alto da muralha e proferiu uma maldio: 'Maldito seja Gilgamesh, pois me burlou matando o Touro Celeste!' Olhou Enkidu estas palavras de Ishtar e arrancando as partes do Touro Celeste as atirou ao rosto. Quando chegou o dia, Enkidu teve um sonho. Nele estavam os deuses reunidos em conselho: Anu, Enlil, Samash e Ea. Eles discutiram pela morte de Jumbaba e do Touro Celeste e decretaram que, dos dois amigos, Enkidu devia morrer. Logo, do sonho despertou e contou o visto. Voltou ento a sonhar e isto o que relatou: ' A flauta e a harpa caram na Grande manso; Gilgamesh meteu sua mo nela, no pode alcana-las, meteu seu p, no pode alcan-las. Ento Gilgamesh se sentou frente ao palcio dos deuses do mundo subterrneo, derramou lgrimas e seu rosto ficou amarelo. Oh, minha flauta, oh, minha harpa! Minha flauta cujo poder era irresistvel ! Minha flauta, quem as trar dos infernos ? Seu servidor Enkidu lhe disse: Meu senhor, por que choras ? Por que teu corao est triste ? Hoje irei buscar tua flauta nos infernos... Pode Enkidu voltar dos infernos!... (Ento) o pai Ea se dirigiu ao valente heri Nergal: 'Abre j o fosso que comunica com os infernos ! Que o esprito de Enkidu volte dos infernos e possa falar com seu irmo'... O esprito de Enkidu como um sopro saiu dos infernos e Gilgamesh e Enkidu falaram. - Diga-me meu amigo, diga-me meu amigo, diga-me a lei do mundo subterrneo, tu a conheces... - Aquele que caiu na batalha, o vistes ? - O vi, seu pai e sua me lhe mantm a cabea alta e sua esposa o abraa. - Aquele cujo cadver caiu abandonado no vale, o viste ? - O vi, seu esprito no tem descanso nos infernos. - Aquele cujo esprito no h ningum que lhe faa uma orao, o tem visto ? - O vi, come os restos das panelas e os resduos dos pratos que se tiram da rua'.(3) Enkidu adoeceu e morreu. Gilgamesh disse ento: 'Sofrer. A vida no tem outro sentido que morrer ! Morrerei eu como Enkidu ? Hei de buscar a Utnapishtim a quem chamam 'O longnquo' para que explique como que chegou a imortal. Primeiramente manifestou meu luto, logo vestirei a pele do leo e, invocando a Sin me porei a caminho'. Gilgamesh havia percorrido todos os caminhos at chegar as montanhas, at as mesmas portas do sol. Ali se deteve frente aos homens escorpies, os terrveis guardies das portas do sol. Perguntou por Utnapishtim: 'Desejo interrog-lo sobre a morte e a vida'. Ento os homems-escorpio trataram de dissuadi-lo da empreitada. 'Ningum que entre na montanha v a luz', disseram. Mas Gilgamesh pediu que lhe abrissem a porta da montanha e assim se fez por fim. Caminhando horas e horas duplas na profunda obscuridade viu distncia uma claridade a ao chegar a ela, saiu de frente ao Sol. E ali estava o jardim dos deuses. Seus olhos viram uma rvore e para ela se dirigiu: de seus ramos de lapislzuli, pendia como espesso fruto o rubi. 5 10 15 20 25 30 35 40 12. Vestido com a pele de leo e comendo carne de animais, Gilgamesh vagava pelo jardim sem saber em que direo ir, por isto, quando Samash o viu apiedado lhe disse: 'Quando os deuses engendraram ao homem, reservaram para si a imortalidade. A vida que busca nunca a encontrars'(4). Mas Gilgamesh chegou a praia, at o barqueiro de O Longnquo. Fatos alm mar dividiram a terra, mas Utnapishtim que os viu chegar pediu explicaes ao acompanhante de seu barqueiro. Gilgamesh deu seu nome e explicou o sentido da travessia. O dilvio universal. E disse Utnapishtim: ' Te revelarei um grande segredo. Houve uma cidade antiga chamada Surupak, as margens do Eufrates. Era rica e soberana. Tudo ali se multiplicava, os bens e os seres humanos cresciam em abundncia. Mas Enlil molestado pelo clamor, disse aos deuses que no era possvel conciliar o sonho e exortou a por fim ao excesso desencadeando o dilvio. Ea, ento, em um sonho me revelou o desgnio de Enlil. 'Abandona tua casa e salva tua vida, constri uma barca que ter que ser telhada e de igual largura que comprimento. Logo, levars a barca a semente de todo ser vivo. Se te perguntam por teu trabalho dirs que decidistes viver no golfo. Meus pequenos passavam graxa e os grandes faziam tudo o que era necessrio. No quinto dia terminei a quilha e a armao. Em suas costelas com firmeza assegurei a entabladura. O piso, quatro vezes por dez reas tinha por medida, cada lado do piso, formava um quadrado que media doze vezes dez cotovelos de comprimento, cada parede, desde o piso at o teto, media doze vezes dez cotovelos de altura. Abaixo ao teto, construi seis coberturas, com o piso, sete e dividi cada uma em nove partes com delgadas paredes... Trabalho cheio de dificuldades foi coloc-lo, pesado foi carregar os troncos de cima para baixo, at que rodando sobre eles, o barco estava submergido em seus dois teros. No stimo dia o barco estava completo e carregado com todo o necessrio. Minha famlia, parentes e artesos carreguei na barca e logo fiz entrar aos animais domsticos e selvagens. Quando chegou a hora, esta tarde, Enlil enviou ao Cavaleiro da Tormenta. Entrei na barca e a fechei com graxa e asfalto e como tudo estava pronto dei o timo ao barqueiro Puzur-Amurri. Negral arrancou as comportas das guas inferiores e trovejando, os deuses, arrasaram campos e montanhas. Os juizes do inferno, os Anunnaki, lanaram suas teias e se fez da noite o dia. Dia aps dia, aumentava a tempestade e parecia cobrar novo mpeto de si mesma. Ao stimo dia o dilvio se deteve e o mar ficou calmo. Abri a escotilha e o sol me pegou em cheio. Em vo, procurei, tudo era mar. Chorei pelos homens e os seres vivos novamente convertidos em barro. Somente descobri uma montanha distante umas quatorze lguas. E l, no monte Nisir, a barca se deteve. O monte Nisir a impediu de mover-se... Quando chegou o stimo dia soltei uma pomba e a pomba se distanciou, mas regressou, como no havia lugar de repouso para ela, voltou. Ento soltei uma andorinha, e a andorinha se distanciou mas regressou, como no havia lugar de repouso para ela, voltou. Ento soltei um corvo, e o corvo se distanciou, viu que as guas haviam baixado, e comeu, revoou , grasnou e no regressou. Logo os deuses se reuniram em conselho e recriminaram a Enlil o castigo to duro que havia dado as criaturas, assim , que Enlil veio at a barca e fazendo ajoelhar a mim e a minha mulher , tocou nossas frentes ao tempo que dizia: 'Nos tempos passados Utnapishtim era mortal, mas desde agora ser um deus como ns e viver longe, na boca dos rios, e sua mulher para sempre o acompanhar'. Enquanto a ti Gilgamesh, porque os deuses haviam de outorgar-se a imortalidade ?'. O regresso. 5 10 15 20 25 30 35 40 13. Utnapishtim submeteu Gilgamesh a uma prova. Este devia tratar de no dormir durante seis dias e sete noites. Mas enquanto o heri se sentou sobre seus calcanhares uma neblina descontrolada da l do sono caiu sobre ele. 'Olha-o, olha quem busca a imortalidade !', assim disse O Longnquo a sua mulher. Despertando, Gilgamesh se queixou amargamente pelo fracasso: 'Onde irei ? A morte est em todos os meus caminhos'. Utnapishtim, contrariado, ordenou ao barqueiro que regressasse com o homem mas no sem piedade por ele decretou que suas vestimentas jamais envelheceram, assim novamente em sua ptria haveria de luzir esplndido aos olhos mortais. Ao despedir-se O Longnquo sussurrou: 'H no fundo das guas uma planta, o lcio espinhoso similar pois fere como os espinhos de um roseiral, as mos podes desgarrar: mas se tuas mos se apoderam dela e a conservam, sers imortal !'. Gilgamesh entrou nas guas atando a seus ps pesadas pedras. Se apoderou da planta e empreendeu o regresso enquanto disse a si mesmo: 'Com ela darei de comer ao meu povo e eu tambm haverei de recuperar minha juventude'. Logo, caminhou horas e horas dentro da obscuridade da montanha at franquear a porta do mundo. Depois destes trabalhos viu uma fonte e se banhou, mas uma serpente sada das profundezas arrebatou a planta e submergiu-se fora do alcance de Gilgamesh. Assim voltou o mortal com as mos vazias, com o corao vazio. Assim voltou a Uruk a bem cercada. O destino de Gilgamesh, que Enlil decretou, se cumpriu... Pan para Neti o guardio da Porta. Pan para Ningizzida o deus serpente, senhor da Arvore da Vida. Tambm para Dumuzi, o jovem pastor que a terra fertilizara.(5) Aquele que tudo soube e que entendeu o fundo das coisas. Aquele que tudo o fez ver e tudo o ensinou. Que conheceu os pases do mundo... Grande foi sua glria ! Ele, que construiu os muros de Uruk, que empreendeu uma grande viagem e que soube tudo o que ocorreu antes do Dilvio, ao regressar gravou suas proezas em um rastro de estrela. 5 10 15 20 14. II.MITOS ASSRIO-BABILNICOS Enuma Elish (Poema da Criao) 1 O caos Original Quando no alto o cu nome no tinha e no baixo a terra no havia sido mencionada, do Abismo e da Impetuosidade misturaram-se as guas . Nem os deuses, nem os mangues, nem os juncais existiam. Nesse caos foram engendradas duas serpentes que por muito tempo cresceram de tamanho dando lugar aos horizontes marinhos e terrestres. Elas separaram os espaos, elas foram os limites do cu e da terra. Desses limites nasceram os grandes deuses que foram se agrupando em distintas partes do que era o mundo. E estas divindades continuaram engendrando e perturbando, assim, os grandes formadores do caos original. Ento, o abismal Apsu se dirigiu a sua esposa Tiamat, me das guas ocenicas e lhe disse: O comportamento dos deuses insuportvel, seu folguedo no me deixa dormir, eles se alvoroam por conta prpria sendo que ns no lhes marcamos nenhum destino. Os deuses e Marduk Assim falou Apsu a Tiamat, a resplandecente. De tal modo isto foi dito que Tiamat, enfurecida, ps-se a gritar: Vamos destruir esses revoltosos, assim poderemos dormir. E ela estava nervosa e se agitava em voz alta. Foi desse modo que um dos deuses, Ea, compreendendo o desgnio destrutivo estendeu sobre as guas um encantamento. E com ele deixou profundamente adormecido Apsu (este era seu desejo), prendendo-o com correntes. E, finalmente, o matou: desmembrou seu corpo e sobre ele estabeleceu sua moradia. Ali viveu Ea com sua esposa Damkina at que dessa unio nasceu Marduk. O corao de Ea exultou ao ver a perfeio de seu filho, coroada por sua dupla cabea divina. A voz da criana ardia em labaredas enquanto seus quatro olhos e seus quatro ouvidos esquadrinhavam todas as coisas. Seu corpo enorme e seus membros incompreensveis eram banhados por um fulgor que ficava extremamente forte quando os relmpagos se juntavam sobre ele. A guerra dos deuses 5 10 15 20 25 15. Enquanto Marduk crescia e ordenava o mundo, alguns deuses se aproximaram de Tiamat para recrimin-la pela sua falta de mrito, dizendo-lhe: Mataram teu consorte e ficaste calada e agora tampouco ns podemos descansar. Tu te converters em nossa fora vingadora e ns caminharemos ao seu lado e iremos para o combate. Assim grunhiam e se amontoavam ao redor de Tiamat at que ela, matutando sem parar, afinal decidiu moldar armas para seus deuses. Irada, criou os monstros- serpentes de garras venenosas, os monstros-tempestade, os homens-escorpies, os lees-demnios, os centauros e os drages voadores. Onze monstros insuperveis criou Tiamat e depois, dentre seus deuses, promoveu Qingu e o designou chefe de seu exrcito. 2 Ela exaltou Qingu e o constitui chefe deles para que ele fosse primeiro adiante de seu exrcito, para dirigir a tropa, para levar as armas e desencadear o ataque levando a direo suprema no combate. Ela confiou em suas mos dele quando o fez sentar na assemblia: Eu pronunciei o juramento em teu favor, te exaltando na assemblia dos deuses e te dei todo o poder para dirigir todos os deuses. Tu s magnfico, meu nico esposo s tu! Que os Anunnaki exaltem teu nome acima de todos eles! Ela lhe deu as Tbuas do Destino, e colocou-as a seus ps: E quanto a ti, teu mandato no mudar, as palavras da tua boca permanecero! 3 Mas Ea, ao conhecer novamente os perversos desgnios, procurou a ajuda dos outros deuses e proclamou: Tiamat, nossa criadora, nos aborrece. Colocou do seu lado, e contra ns, os terrveis Anunnaki. Est confrontando a metade dos deuses com a outra metade, como poderemos faz-la desistir? Peo que os Igigi se reunam em conselho e deliberem. E, desse modo, as vrias geraes de Igigi se reuniram mas ningum pde resolver a questo. Com o passar do tempo, e nem emissrios nem valentes puderam mudar os desgnios de Tiamat, o ancio Anshar se levantou pedindo por Marduk. Ento Ea foi a seu filho e rogou-lhe que ajudasse os deuses. Mas Marduk respondeu que, em tal situao, tinha de ser elevado a chefe. Marduk falou isso e foi at o conselho. (Os deuses)...comeram po festivo e beberam vinho; encheram seus copos com o doce licor. Quando tomaram a forte bebida seus corpos se empanturraram; comearam a gritar quando seus coraes se exaltaram e a Marduk, o seu vingador, outorgaram o destino. Preparam para ele um trono principesco; na presena de seus pais, sentou-se para presidir... ...Oh, Marduk, tu s realmente nosso vingador! A soberania sobre todo o universo te outorgamos. Quando sentares na assemblia tua palavra ser suprema. Tuas armas no fracassaro; esmagar teus inimigos! Oh senhor, protege a vida dos que confiam em ti; mas deite fora a vida do deus que concebeu o mal! Colocaram no meio deles uma veste e se dirigiram a Marduk, o preferido deles: Senhor, teu destino o primeiro entre os deuses! Decida arruinar ou criar, diga uma palavra e assim ser: abra a boca e a veste desaparecer, abra de novo e a veste voltar intacta! (com efeito), falou e a veste desapareceu, falou de novo e a veste restaurada ficou. Quando os deuses, seus pais, viram a eficcia da sua palavra se alegraram e renderam-lhe homenagens: Marduk rei!. Entregaram-lhe o cetro, o trono e a flecha; e deram-lhe a arma sem igual que expulsa os inimigos: Vai e tira a vida de Tiamat. Que os ventos levem o sangue dela a lugares secretos! 4 O senhor fez um arco e o pendurou do lado de seu coldre. Fez uma rede para apanhar Tiamat. Levantou a maa e colocou na sua frente o relmpago, ao mesmo tempo em que seu corpo encheu-se de fogo. Depois deteve os ventos para que nada de Tiamat pudesse escapar, mas criou os furaces e fez a tormenta diluvial surgir enquanto subiu no carro-tempestade. Nele ungiu a quadriga de nomes terrficos e como o raio foi de encontro a Tiamat. Este sustinha em sua mo uma planta que jorrava veneno, mas o Senhor se aproximou para esquadrinhar o seu interior e captar as intenes dos Anunnaki e de Qingu. 5 -Ser que s to importante para que te eleves acima de mim como supremo deus? -Berrou raivosa Tiamat. 5 10 15 20 25 30 35 40 45 16. -Tu te exaltaste grandemente e elevaste Qingu como poder ilegtimo. Tu odeias teus filhos e queres o mal a eles. Agora levante-se e vamos ao combate! -Respondeu Marduk, ao mesmo tempo que os deuses afiavam suas armas. Tiamat exorcizou e recitou suas frmulas e os deuses saram para a batalha. Ento, o Senhor jogou sua rede e a terrvel Tiamat abriu sua enorme boca. Neste momento, ele soltou os furaces que penetraram nela e lanou a flecha que atravessou seu ventre. Depois se encarregou de suas obscuras entranhas at deix-la sem vida. O horrvel exrcito debandou e na confuso as afiadas armas foram destroadas. Presos na rede, os prisioneiro foram arrojados s cavernas dos espaos subterrneos. O soberbo Qingu foi despojado das Tbuas do Destino, que no lhe pertenciam, e encarcerado junto com os Anunnaki. Assim, as onze criaturas que Tiamat havia criado, foram convertidas em esttuas para que nunca fosse esquecido o triunfo de Marduk. A criao do mundo Aps reforar a priso de seus inimigos e de selar e colocar em seu peito as Tbuas do Destino, o Senhor voltou ao corpo de Tiamat. Sem piedade esmagou seu crnio com a maa, separou os condutos de seu sangue, que o furaco levou a regies secretas e, ao ver a carne monstruosa concebeu idias artsticas. Por isso cortou ao longo do cadver como se ele fosse um peixe, levantando uma de suas partes at o alto do cu. Prendeu-a l e colocou um guardio para que impedisse a sada das guas. Depois, atravessando os espaos, inspecionou as regies e medindo o abismo estabeleceu sua moradia nele. Assim criou o cu e a terra e estabeleceu seus limites. Ento, construiu casas para os deuses iluminando-as com estrelas. Depois de criar o ano, determinou que nele houvesse doze meses por meio das figuras 6. A estas dividiu at definir os dias. Nos lados reforou os ferrolhos da esquerda e da direita, colocando entre ambos a znite. Destacou para Samash 7 a diviso do dia e da noite e colocou a brilhante estrela de seu arco 8 vista de todos. Encarregou Nebiru 9 da diviso das duas sees celeste ao norte e ao sul. Em meio a escurido encarregou Sin de iluminar, ordenando os dias e as noites. Para cada ms, sem cessar, dars a forma de uma coroa. No incio do ms, para brilhar sobre o pas, tu mostrars os cornos para determinar seis dias; no stimo dia sers meia coroa. No dia quatorze colocar-te-s de frente ao sol. No meio do ms, quando o sol te alcanar na base dos cus, diminui tua coroa e faa minguar a luz. E, quando desapareceres, aproxima-te do curso do sol. No dia vinte e nove tu te colocars novamente em oposio ao sol. 10 Depois, voltando Tiamat, pegou sua saliva e com ela formou as nuvens. Com sua cabea produziu os montes e de seus olhos fez fluir o Tigre e o Eufrates. E, finalmente, de suas tetas criou as grandes montanhas e perfurou os mananciais para que os poos dessem gua. Por fim, Marduk solidificou o solo levantando sua luxuosa morada e seu templo, oferecendo-os aos deuses para que l se alojassem quando participassem das assemblias nas que deviam determinar os destinos do mundo. Conseqentemente, a estas construes chamou Babilnia, que significa a casa dos grandes deuses. 11 A criao do ser humano. 5 10 15 20 25 30 35 17. Ao finalizar sua obra, o Senhor foi exaltado pelos deuses e, ento, como reconhecimento a eles, disse: Vou amassar meu sangue e formar ossos. Vou fazer com que surja um homem...que se encarregue do culto dos deuses para que possam se satisfazer! Eu astutamente modificarei os caminhos dos deuses. Ainda que sejam igualmente reverenciados, se dividiro em dois grupos. 12 Ea lhe respondeu, dirigindo-lhe uma palavra para contar-lhe um plano que aliviaria os deuses: que um de seus irmos seja entregue; somente ele perecer para que a humanidade possa ser modelada. Que os grandes deuses estejam aqui na assemblia; que o culpado seja entregado para que eles possam permanecer. 13 Marduk fez com que os prisioneiros Anunnaki fossem trazidos e lhes perguntou, sob juramento, do culpado pela insurreio prometendo a vida para quem declarasse a verdade. Ento os deuses acusaram Qingu. Foi Qingu quem planejou a insurreio e fez com que Tiamat se rebelasse e deu incio batalha. Amarraram-no, colocando-o diante de Ea. Cobraram-lhe sua culpa e retiraram seu sangue. Com seu sangue modelaram a humanidade. Ea obrigou que o culto fosse aceito e deixou os deuses livres. Depois Ea, o sbio, criou a humanidade; imps a ela o culto aos deuses. Esta obra foi incompreensvel. 14 E assim, o Senhor deixou os deuses livres e os dividiu em trezentos para cima e trezentos para baixo e os constituiu como guardies do mundo. Agradecidos, os Anunnaki edificaram um santurio e o elevaram acima do Esagila e, depois de terem levantado uma torre com escadarias, nela estabeleceram uma nova morada para Marduk. 15 Quando os grandes deuses se reuniram e exaltaram o destino de Marduk, eles se inclinaram para baixo e pronunciaram entre eles uma maldio jurando pela gua e pelo azeite entregar suas vidas. 16 ...que os cabeas negras esperem em seus deuses. Quanto a ns, ainda que se o possa chamar (a Marduk) de muitos nomes, ele nosso deus! Proclamemos, pois, seus cinqenta nomes. 17 E as estrelas brilharam e todos os seres criados pelos deuses se alegraram. Tambm a humanidade se reconheceu no Senhor. Que exista, por isso, memria de tudo o que aconteceu. Que os filhos aprendam de seus pais este ensinamento. Que os sbios pesquisem cuidadosamente o sentido dO canto de Marduk que venceu Tiamat e conseguiu o reinado. 18 5 10 15 20 25 18. III. MITOS EGPCIOS Ptah e a criao 1 Havia somente um mar infinito, sem vida e em absoluto silncio. Ento chegou Ptah com as formas dos abismos e as distncias, das solides e das foras. Por isso Ptah via e ouvia, olhava e percebia em seu corao, a existncia. Mas o que percebia tinha idealizado antes em seu interior. Assim, tomou a forma de Atum e, devorando sua prpria semente, pariu o vento e a umidade, os quais expulsou de sua boca criando Nut, o cu, e Geb, a terra. Atum, o no existente, foi uma manifestao de Ptah. Assim, inexistentes foram antes de Ptah as nove formas fundamentais e o universo com todos os seres que Ptah concebeu dentro de si e que, somente com sua palavra, colocou na existncia. Depois de ter criado tudo de sua boca, descansou. Por isto, at o final dos tempos, ser invocado: Imenso, imenso Ptah, esprito fecundador do mundo. 2 As formas dos deuses so formas de Ptah e, somente por convenincia humana, Ptah adorado com muitos nomes e seus nomes mudam e so esquecidos; novos deuses substituem os antigos mas Ptah permanece alheio a isto. Ele criou o cu como condutor e a terra circundou de mar; tambm criou o inferno para que os mortos se apaziguassem. Fixou rumo R de horizonte a horizonte nos cus, e fez com que o homem tivesse seu tempo e seu domnio; assim fez tambm com o fara e com cada reino. R, no seu caminho pelos cus, reformou o estabelecido e apaziguou os deuses que estavam descontentes. Amava a criao e deu amor aos animais para que ficassem felizes, lutando contra o caos que punha em perigo suas vidas. Deu limites para noite e para o dia e fixou as estaes. Colocou ritmo no Nilo para que regasse o territrio e depois se recolhesse para que todos pudessem viver do fruto de suas guas. Ele subjugou as foras da obscuridade. Por ser quem trouxe a luz foi chamado de Amon-R, por quem acreditou que Amon nasceu de um ovo que ao quebrar num estalo deu lugar s estrelas e outras luminrias. Mas a genealogia dos deuses comea em Atum que o pai-me dos deuses. Ele engendrou a Shu (o vento) e Tefnut (a umidade) e de ambos nasceram Nut ( o cu) e Geb (a terra). Estes irmos se uniram e procriaram Osris, Seth, Neftis e sis. Esta a Enida divina da que deriva tudo. Morte e ressurreio de Osris Os pais de Osris viram que este era forte e bondoso; por isso o encarregaram de governar os territrios frteis e cuidar da vida de plantas, animais e seres humanos. A seu irmo Seth deram os amplos territrios desrticos e estrangeiros. Todo o selvagem e forte, os rebanhos e as feras foram postos sob seu cuidado. Osris e sis formavam o resplandecente casal do amor. Mas a nvoa do cime turvou Seth, por isso este confabulou e com a ajuda de setenta e dois membros de seu squito organizou uma festa para aniquilar seu irmo. Nessa noite chegaram os conjurados e Osris. Seth 5 10 15 20 25 30 35 19. presenteou os convidados com um magnfico sarcfago prometendo d-lo a quem, ao ocup-lo, correspondessem melhor as medidas . Assim, uns e outros entravam e saam at que chegou a vez de Osris fazer sua prova. De imediato baixaram a tampa e a lacraram. Osris, aprisionado, foi levado at o Nilo e lanado em suas guas com a inteno de que sumisse nas profundezas. No obstante, o sarcfago flutuou e chegando ao mar se afastou do Egito. Muito tempo passou at que um dia a caixa chegou na Fencia 3 e as ondas o depositaram ao p de uma rvore. Esta cresceu at uma altura gigantesca envolvendo com seu tronco o sarcfago. Admirado com a imponncia do exemplar o rei local fez com que o derrubassem e levou o grande tronco a seu palcio a fim de utiliz-lo como coluna central. Entretanto, a sis foi revelado o ocorrido; por isso se dirigiu Fencia e, entrando no servio da rainha, pode estar prximo ao corpo de seu marido. Mas a rainha, compreendendo que sua serva era sis entregou-lhe o tronco para que dispusesse dele conforme seu desejo. sis, partindo o invlucro de madeira, extraiu o atade e regressou ao Egito com sua carga. Mas Seth j estava inteirado do ocorrido e, temendo que sis reanimasse seu marido, roubou o corpo. Velozmente deu-se a tarefa de despeda-lo em quatorze partes que depois espalhou por todas as terras. Por isso comeou a peregrinao de sis recolhendo pedaos do cadver. J fazia tempo que a obscuridade reinava devido a morte de Osris. Ningum cuidava dos animais, nem das plantaes, nem dos homens. A disputa e a morte substituram para sempre a concrdia. Quando sis conseguiu recuperar as distintas partes do corpo, ela as uniu e, juntando-as fortemente com bandagens realizou seus conjuros. 4 Depois construiu um forno enorme, uma pirmide sagrada 5, e em suas profundezas colocou a mmia. Abraada a ela insuflou-lhe seu alento. Fez entrar o ar como o fole faz para aumentar o calor do fogo da vida... Ele despertou, ele conheceu o sono mortal, ele quis manter seu verde rosto vegetal. 6 Quis conservar a coroa branca e sua plumagem para recordar claramente quais eram suas terras do Nilo. 7 Tambm recolheu o espanador e o cajado para separar e reconciliar, como fazem os pastores com seu basto curvo. 8 Mas, quando Osris erguido viu a morte ao redor, deixou seu duplo, seu Ka 9, encarregando- o de custodiar seu corpo para que ningum voltasse a profan-lo. Pegou a cruz da vida, a Ankh 10 da ressurreio, e com ela em seu Ba 11 se dirigiu para salvar e proteger a todos os que sozinhos e aterrorizados penetram o Amenti. 12 Por isso foi viver no oeste esperando os que, desvalidos, so exilados do reino da vida. Graas ao seu sacrifcio, a natureza ressurge cada vez e os seres humanos criados pelo fole divino 13 so algo mais que barro animado. Desde ento, invoca-se ao deus de muitas maneiras e tambm desde ento a exalao final um canto de esperana. 'Bom Osris! Envia Thot 14 para que nos guie at o sicmoro 15 sagrado, at a rvore da vida, at a porta da Dama do Ocidente 16; para que nos faa eludir as quatorze manses rodeadas de estupor e angstia nas que os perversos sofrem terrfica condenao. Envia Thot, o bis sbio, o escriba infalvel dos feitos humanos gravados no papiro de memria inapagvel. Bom Osris! Em ti espera a ressurreio o vitorioso, depois do julgamento em que suas aes so pesadas por Anbis, o chacal justo. 17 Bom Osris! Permite que nosso Ba aborde a barca celeste e separado do Ka deixe este como custdia dos amuletos 18 em nossa tumba. Assim navegaremos para as regies do esplendor do novo dia." Hrus, a vingana divina 19 Quando sis colaborou na ressurreio de Osris, deu a luz ao filho de ambos. Pegou o recm nascido e o ocultou nas cavernas do Nilo para proteg-lo da fria de Seth, de Min 20 e dos atacantes do 5 10 15 20 25 30 35 40 20. deserto. Ele foi a criana que surgiu radiante na flor de ltus e que, referenciado como falco, ps seus olhos em todos os cantos do mundo. Ele foi, como Hrus Haredontes, o vingador de seu pai quando chegou o tempo. Ele Hrus, deus de todas as terras, filho do amor e da ressurreio. O menino foi crescendo e sua me preparou-o para reivindicar os domnios dos que Seth havia se apoderado porque a este correspondia por direito somente os desertos e os pases estrangeiros, e no entanto, se aventurava pelo Nilo. Osris, em sua viagem ao oeste, s terras de Amenti que agora dominava, deixou para sis o mandato de recuperar todo o Nilo para seu filho. Por isto, participaram ante a assemblia da Enida os disputantes. Hrus disse: "Um indigno fratricida usurpa os direitos que meu pai deixara, apoiado numa fora cega que os deuses no consagram..." Mas o discurso foi interrompido por Seth que, num grito irado, desprezou o pedido proveniente de uma criana incapaz de exercer tais demandas. Ento, arrojando suas armas, em singular combate acometeram um contra o outro e em sua luta rodaram montes e as guas espantadas saram de seus cursos. Oitenta longos anos durou tal disputa at que Seth arrancou os olhos de Hrus e este pulverizou as partes vitais de seu adversrio. Tanta fria chegou a seu fim quando ambos desfalecentes caram pelos solos. Ento, Thot curou as feridas e restabeleceu fragilmente a paz que o mundo, desatendido, reclamava. Ante os deuses se pediu o veredicto. Ra (sempre ajudado por Seth em sua luta contra a mortal Apfis 21) inclinava a balana contra Hrus, enquanto sis com brio a seu filho defendia. Os deuses, afinal, restabeleceram ao menino seus direitos, mas Ra, murmurando irritado, se afastou da assemblia. Assim, os deuses foram divididos em nmero e poder sem que aquela discusso tivesse fim. sis, ento, com ardis, fez com que Seth pronunciasse um discurso no qual a razo ficava para aquele que impedira o estrangeiro de ocupar os tronos, e por esse erro o prprio Seth ficou afastado das terras que pedia. Ento Ra exigiu uma nova prova para que nela se decidisse tudo. Transformados em fortes hipoptamos recomearam a luta, mas sis desde a margem das guas disparou um arpo que por erro foi acertar Hrus. Este, vociferando, se lanou sobre sua me, e lhe arrancou a cabea. 22 Os deuses deram como substituto uma cabea de vaca a sis e ela, posta em batalha novamente com seu arpo, deu fim a Seth, que, rugindo, saiu das guas. Assim que uma nova prova foi aconselhada., deixando o resto dos deuses alheios ao conflito. Em barcos de pedra deviam ambos navegar. Seth talhou a sua em pedra e se afundou, mas Hrus somente na aparncia mostrou seu barco, conforme todos haviam concordado, porque em madeira coberta com estuque apresentou seu engenho. Navegava Hrus reivindicando o triunfo, mas Seth como novo hipoptamo f-lo naufragar e, assim, somente na praia a merecida revanche conseguiu Hrus descarregando sua maa sobre Seth prendendo seus membros. Assim o arrastou ao tribunal onde os deuses esperavam. E somente ante a ameaa de matar Seth na frente de toda a assemblia, Ra preferiu dar razo a Hrus e os deuses regozijados coroaram como senhor supremo o menino-falco enquanto este pisava a cervical do vencido, o qual, prometendo solene obedincia, deu por terminada a contenda, afastando- se para sempre a seus domnios nos desertos e entre os estrangeiros. Thot, sabiamente organizou as novas responsabilidades, e Hrus ajudando Ra destruiu a desleal serpente Apfis que at esse momento havia ameaado seu radiante barco. Com o sangue da antiga besta se tingem, s vezes, de vermelho os cus, e Ra, navegando em seu barco celeste despeja a sucasso de ondas que vo para o ocidente. O Antimito de Amenfis IV 5 10 15 20 25 30 35 40 21. Houve um fara bondoso e sbio que compreendeu a origem de Ptah e a mudana de seus nomes. Ele restabeleceu o princpio quando viu que os homens oprimiam os homens fazendo com que acreditassem que eram eles a voz dos deuses. Numa manh viu como um vassalo era julgado no templo por no pagar tributos aos sacerdotes, por no pagar aos deuses. Ento, saiu de Tebas para On 24 e l perguntou aos telogos mais sbios qual era a verdadeira justia. Esta foi a resposta: "Amenfis, bom teu fgado e as intenes que dele partem, e a verdade mais bondosa trar mal para ti e para nosso povo. Como homem ser o mais justo. Como rei ser a perdio...mas teu exemplo no ser esquecido e muitos sculos depois de ti ser reconhecido o que hoje ser visto logo como loucura." De volta de Tebas olhou para sua mulher como quem esquadrinha o amanhecer, viu sua formosura e para ela e para seu povo cantou um belo hino. Nefertiti chorou pela piedade do poeta e soube de sua glria e de seu trgico futuro. Ela, com a voz entrecortada, o aclamou como verdadeiro filho do Sol. "Aknaton !", disse, e depois se calou. E, nesse momento, lanaram seu destino aceitando o justo porm impossvel. Assim foi a rebelio de Aknaton e o breve respiro dos filhos do Nilo, quando um mundo com o peso de milnios cambaleou por um instante. Assim se retirou o poder daqueles que faziam com que os deuses falassem suas prprias intenes. Amenfis lanou-se na luta contra os funcionrios e sacerdotes que dominavam o imprio. Os senhores do Alto Nilo se aliaram com os sacerdotes acossados. O povo comeou a ocupar posies antes vedadas e foi resgatando para si o poder que deles fora retirado. Foram abertos os silos e distribudos os bens. Mas os inimigos do novo mundo pegaram em armas e fizeram o fantasma da fome mostrar seu rosto. Morto Aknaton, todos seus feitos se tornaram conhecidos entre todos e se tentou apagar esta memria para sempre. No obstante, ton conservou sua palavra. Este foi o poema que iniciou o incndio...25 Toda a terra se entrega ao trabalho...porque cada caminho se abre quando tu surges. Tu, que procuras o germe fecundo para as mulheres, tu que fazes a semente nos homens, tu que fazes viver o filho no ventre da me, que o acalma para que no chore; tu nutres o que h no ventre, ds o ar para fazer com que viva tudo o que criaste. Quando rompe o ventre no dia do nascimento, tu lhe abres a boca para que fale, lhe prov em suas necessidades. Quando o galo est no ovo, tu lhe ds o ar para que viva. Tu lhe ajudas para que quebre o ovo, e saia e pie e caminhe sobre seus ps logo quando nascido. Quantas so tuas obras ! Teu rosto desconhecido, oh, deus nico!, alm do qual nenhum existe. Tu criaste a terra com teu desejo quando estavas s; com os homens, as bestas e cada animal selvagem, e tudo o que existe sobre a terra e caminha sobre seus ps, e tudo o que existe no cu e voa com suas asas. E os pases estrangeiros, Siris, Nubia e a terra do Egito; tu colocaste cada homem em seu lugar, provieste suas necessidades; cada um com seu po e contada a durao de sua vida. Suas lnguas so diferentes em palavras, e tambm seus caracteres e suas peles; diferenciaste os povos estrangeiros. E fizeste um Nilo no Duat e o levas onde queres para dar vida s pessoas, assim como tu as criaste. Tu, senhor de todos eles, tu muito te empenhas por eles, oh, ton do dia ! Grande em dignidade ! E todos os pases estrangeiros e longnquos, fazes tu que tambm eles vivam; puseste um Nilo no cu que desce para eles e que faz ondas sobre os montes como um mar e banha seus campos e suas comarcas. Que perfeitos so teus conselhos ! Oh, senhor da eternidade ! O Nilo do Cu teu dom para os estrangeiros e para todos os animais do deserto que caminham sobre seus ps. Mas o Nilo vem do Duat para o Egito. E teus raios nutrem todas as plantas; quando tu resplandeces elas vivem e crescem por ti. Tu fazes as estaes para que se desenvolva todo o criado; o inverno para refresc-lo, o vero porque te agrada. Tu fizeste o cu afastado para resplandecer nele e para ver tudo, tu, nico, que resplandeces em tua forma de ton vivo, surgido e luminoso, distante e vizinho. Tu fazes para ti milhes de formas, tu, nico; cidades, povos, campos, caminhos, rios, cada olho te v diante de si e tu s ton do Dia. Quando te vais e cada olho por ti criado dorme 5 10 15 20 25 30 35 40 45 22. seu olhar para no te ver s, e no se v mais aquilo que criaste, tu ests todavia em meu corao... A terra est em tua mo como tu a criaste. Se tu resplandeces ela vive, se te ocultas ela morre. Tu s a prpria durao da vida, e se vive de ti! 23. IV-MITOS HEBRAICOS A rvore da Cincia e a rvore da Vida E Jeov Deus fez nascer da terra toda rvore deliciosa para os olhos e boa para comer; tambm a rvore da vida no meio do bosque, e a rvore da cincia do bem e do mal...E mandou Jeov Deus no homem, dizendo: de toda rvore do bosque poders comer; mas da rvore da cincia do bem e do mal no comers, porque o dia em que dela comeres, certamente morrers. 1 E assim, Ado e Eva viviam no den, aquele lugar do qual saia um rio que regava todo o bosque. Essa corrente se dividia em quatro braos. O nome do primeiro, o que rodeava a terra de Havila onde havia ouro, era Piso. O do segundo, que rodeava a terra de Cus, era Gihon. O do terceiro, escondido e sombrio, que ia ao oriente da Assria, era Hydekel e o quarto, de boas e rumorosas palavras, era o Eufrates. Mas o den era completo em plantas e animais, por isso nossos pais foram ali os nomeadores de todos os seres viventes. Como dar um nome para a rvore da vida e a da cincia do bem e do mal sem saber delas, sem se aproximar delas? Por isto, sem temer a cincia, desejaram t-la e no souberam como. Assim, Eva, perturbada pela pergunta, dormiu noite e dormindo sonhou e sonhando viu a rvore da cincia que resplandecia na escurido. Deste modo, Eva se aproximou da rvore e, num instante, se apresentou diante dela uma inquietante figura alada. Seu porte era formoso, mas na escurido no conseguia distinguir seu rosto que, talvez, fosse de Ado. De seus cabelos midos de orvalho saia uma fragrncia que exaltava ao amor. E Eva queria v-la. A figura, enquanto contemplava a rvore, disse: " formosa planta de abundante fruto! No h quem se digne de aliviar- te o peso e provar de sua doura? To depreciada a cincia? Ser acaso a inveja ou alguma injusta reserva o que nos probe de toc-la? Proba-o quem queira, ningum me privar mais tempo dos bens que ofereces; seno, por que ests aqui?". Assim disse, e no se deteve mais; e com mo temerria arrancou o fruto e o provou. Um horror glacial paralisou Eva em seu sonho por causa da audcia da figura alada, mas de imediato esta exclamou: " fruto divino, doce por si s, e muito mais doce colhido deste modo, estando proibido, ao que parece, como que reservado unicamente para os deuses. E sendo, sem dvida, capaz de converter em deuses os homens! E por que no haveriam de s-lo? O bem aumenta quanto mais se o comunica, e seu autor, longe de perd-lo, adquirir mais elogios. Aproxime-se alegre criatura, bela e angelical Eva; compartilha desse fruto comigo! 2. Eva despertou sobressaltada e contou o sonho a seu companheiro. Ado, ento, se perguntou: "No fala Deus pelos sonhos? Se de dia probe e noite convida, qual incitao haverei de responder j que no tenho cincia suficiente? Haveremos de conseguir essa cincia para determinar nossos destinos, j que Jeov Deus nos criou mas no disse como haveramos de fazermos a ns mesmos." Ento comunicou a Eva seu plano para apoderar-se da fruta, para correr com ela chegando at a rvore da vida a fim de ficarem imunes ao veneno da cincia. Depois esperaram que Jeov Deus passasse pelo bosque no ar do dia e, em sua ausncia, foram at a rvore. Ento, ao ver uma serpente que entre os galhos deslizava pelos frutos, pensaram que seu veneno era retirado desse alimento. Por isso duvidaram e, ao duvidarem o tempo passou e Jeov Deus empreendeu seu regresso. Ento acreditaram ouvir que a serpente lhes sussurrava: "No morrereis, mas bem sabe Deus que o dia em que comerdes esses 5 10 15 20 25 30 35 40 24. frutos sero abertos vossos olhos e sereis como Deus conhecendo o bem e o mal". 3 No mentia a serpente, mas queria evitar que comessem da outra rvore, da rvore da vida. 4 Sendo j muito tarde, Ado e Eva provaram do fruto e seus olhos se abriram, mas quando quiseram chegar at a rvore da imortalidade, Jeov Deus lhes fechou a passagem, impedindo que alcanassem seu objetivo. E disse Jeov Deus: Eis que aqui ento o homem como um de ns, sabendo o bem e o mal; agora, pois, que no estique sua mo, e tambm pegue da rvore da vida e coma, e viva para sempre. E o tirou Jeov do bosque de den, para que lavrasse a terra da qual foi retirado. Lanou, ento, para fora o homem, e colocou a oriente do bosque do den querubins e uma espada em fogo que se movia para todos os lados, para guardar o caminho da rvore da vida. 5 Ado e Eva se afastaram do den e sempre esteve seu olhar posto na direo do Paraso do qual s o esplendor noturno e a fumaa da espada de fogo denunciavam seu rastro. E j no voltaram, j no puderam voltar, mas comearam a oferecer a Jeov Deus sacrifcios de fogo e fumaa porque acreditavam que lhe agradava. E muitos povos, com o tempo, pensaram que os deuses gostavam dos altos montes e dos vulces porque estes so a ponte entre a terra e os cus. Assim, quando chegou o momento, Jeov Deus lhes entregou do fogo, do monte, a Lei que os homens procuravam para determinar seu Destino. 6 Abrao e a obedincia Muitos geraes passaram desde os primeiros pais at o Dilvio. Depois dele, quando Jeov estendeu no cu o arco-ris para selar seu pacto com os homens, continuou se reproduzindo toda semente. E assim, em Ur de caldia, Tar pegou seu filho Abro e Sarai sua nora e foram todos ao Egito. Tempos depois regressaram para Hebron. O ganho e os bens de Abro cresceram, mas seu corao foi tomado pela tristeza porque na sua idade no havia conseguido descendncia. Abro era j velho quando fez com que sua serva Agar concebesse. Mas Agar e Sarai se tornaram inimigas. Por isso Agar saiu para o deserto e levou com ela sua aflio. Ento, um anjo apresentou-se a ela e lhe disse: "Tens concebido e ao dar a luz chamars teu filho de Ismael porque Jeov escutou suas preces. Ismael, portanto, significar "Deus ouve" e sua descendncia ser numerosa e os povos dele habitaro os desertos no adorando a Deus porque o olho v, seno porque o escuta o ouvido. Assim rogaro a Deus e Deus os ouvir". Muito depois Sarai concebeu sendo j anci, mas seus descendentes e os de Agar mantiveram a disputa que comeara entre suas mes mesmo sendo Abro o pai de todos e a todos quis ele como seus filhos. Nesse momento, Deus disse: "Daqui por diante no te chamars Abro seno Abrao, porque sers pai de uma multido e Sarai ser chamada Sara, como princesa de naes. Quanto ao filho teu e de Sara, o chamars Isaac." Aconteceu depois destas coisas, com as que Deus provou Abrao, e lhe disse: Abrao. E ele lhe respondeu: Eis-me aqui. E disse: Pega agora teu filho Isaac a quem amas, e v a terra de Moriah e oferece-o l em holocausto sobre um dos montes que eu te indicarei. E Abrao levantou-se bem de manh. E selou seu asno, e trouxe consigo dois de seus servos e a Issac, seu filho; e cortou lenha para o holocausto, e se levantou e foi ao lugar que Deus lhe disse. No terceiro dia, levantou Abrao seus olhos e viu o lugar ao longe. Ento Abrao disse a seus servos: Esperem-me aqui com o asno, e eu e o menino iremos at ali e adoraremos e voltaremos at vocs...E pegou Abrao a lenha do Holocausto e a colocou sobre Isaac, seu filho, e pegou em suas mos o fogo e o faco; e foram ambos juntos. Ento falou Isaac a Abrao, seu pai, e disse: Meu pai. E ele respondeu: Eis-me aqui, 5 10 15 20 25 30 35 40 25. meu filho. E ele lhe disse: Aqui est o fogo e a lenha, mas onde est o cordeiro para o holocausto? E respondeu Abrao: Deus prover o cordeiro para o holocausto, filho meu. E juntos iam. E quando chegaram ao lugar que Deus lhe havia dito, edificou ali Abrao um altar, e disps a lenha. E estendeu Abrao sua mo e pegou o faco para degolar seu filho. Ento o anjo de Jeov lhes deu vozes do cu, e disse: Abrao, Abrao. E ele respondeu: eis-me aqui. E disse: no estenda sua mos sobre o menino, nem lhe faa nada; porque reconheo que temes a Deus, porquanto no recusaste teu filho... Ento, levantou Abrao seus olhos e olhou, e eis que s suas costas um carneiro estava preso num arbusto pelos chifres; e Abrao foi e pegou o carneiro, e o ofereceu em holocausto no lugar de seu filho. E deu Abrao o nome daquele lugar: Jeov prover. 7 Talvez at sua morte, ficou presente no corao de Abrao a angstia da terrvel prova. Por isso s vezes se diz: "Jeov repudia o sacrifcio humano e mais ainda do prprio filho. Se ordena o holocausto no devo acat-lo porque seria desobedecer sua proibio. Mas rejeitar o que ele manda pecar contra ele. Devo obedecer algo que meu deus repudia? Sim, se ele o exige. Mas minha torpe razo atormentada luta, ademais, com um corao de um pobre ancio que ama aquele impossvel que Jeov lhe deu tardiamente. No ser esta prova a devoluo do riso que contive quando me foi anunciado que nasceria meu filho? 8 No ser o riso que ocultou Sara quando escutou tal vaticnio? 9 Por algum motivo Jeov indicou o nome de "Isaac que significa "riso". Eu e minha mulher ramos j velhos quando nos foi dito que teramos este filho e no podamos crer que isto fosse possvel. Ser que Jeov brinca com suas criaturas como uma criana com areia? Ou ser que, conhecendo sua ira e seu castigo, no consideramos que ele tambm nos prove e nos ensine com a brincadeira divina? ". 10 O homem que lutou contra um deus 11 E levantou-se naquela noite e pegou suas duas mulheres, e suas duas servas e seus onze filhos, e passou o expediente de Jac. Pegou-lhes, ento, e colocou a eles e a tudo o que possua para fora da casa. Assim ficou Jac sozinho; e lutou com ele um varo at que raiava a aurora. E quando o varo viu que no podia com ele, tocou no lugar de encaixe de seu msculo, e desconjuntou o msculo de Jac enquanto com ele lutava. E disse: "Deixa-me porque raia a aurora. E Jac lhe respondeu: No te deixarei se no me bendizeres. E o varo lhe disse: Qual teu nome? E ele respondeu: Jac. E o varo lhe disse: No mais ser dito Jac, seno Israel, 12 porque lutaste com Deus e com os homens e venceste. Ento Jac lhe perguntou e disse: Declare-me agora teu nome. E o varo respondeu: Por que me perguntas meu nome? E o bendisse a. E chamou Jac o nome daquele lugar de Peniel 13, porque disse: Vi Deus cara a cara e foi liberta minha alma. E quando havia passado Peniel, saiu o sol e mancava nas cadeiras. 14 Por isto no comem os filhos de Israel, at os dias de hoje, do seu tendo que se contraiu, o qual est no encaixe do msculo, porque tocou Jac esta parte de seu msculo no tendo que se contraiu. 15 Moiss e a Lei Divina 16 Aconteceu que, passado j muito tempo, os filhos de Israel alojados no Egito foram crescendo em nmero e poder. E apoiaram com jbilo as mudanas que introduziu um sbio fara que quis a 5 10 15 20 25 30 35 40 26. igualdade para todos os povos. E o bom rei morreu no meio da grande agitao que haviam promovido seus inimigos. E os israelitas passaram de uma pacfica existncia a serem perseguidos e humilhados. Quando decidiram abandonar essas terras, o novo fara os impediu. Tambm nesses anos sombrios numerosos partidrios do rei justo foram assassinados. Outros terminaram no crcere e nas pedreiras, condenados a terminar suas vidas ali. E aconteceu que entre esses ltimos se encontrava um jovem que quando criana fora resgatado das guas do Nilo pelas mulheres do bom fara. Educado na corte, aprendeu a lngua de Israel ainda que sempre a tenha falado com dificuldade. Moiss, o "resgatado das guas", fugiu das pedreiras e foi se refugiar nos campos, na casa de um sacerdote de Madi. E eis ento que o sacerdote era dos perseguidos e partidrio do rei justo. Por isto, acolheu Moiss quando veio a ele se refugiar e quando contou sua histria do resgate das guas que tanto se assemelhava s lendas de Osris e de Sargon (este que foi salvado da Babilnia, segundo diziam os vindos com Abrao de Ur da Caldia). E aqui que Moiss tomou por esposa a filha do sacerdote. E um dia, pastoreando as ovelhas de seu sogro, chegou at Horeb, monte de Deus. E apareceu-lhe o Anjo de Jeov numa chama de fogo no meio de um arbusto; e ele olhou e viu que o arbusto ardia em fogo, e que o arbusto no se consumia. Ento Moiss disse: Irei eu agora e verei esta grande viso, por que motivo o arbusto no se consome. Vendo Jeov que ele o ia ver, o chamou Deus do meio do arbusto e disse: Moiss, Moiss! E ele respondeu: Eis-me aqui. E disse: No te aproximes; tira o calado de teus ps, porque o lugar onde tu ests, terra santa . E disse: Eu sou o Deus de teu pai. Deus de Abrao, Deus de Isaac e Deus de Jac. Ento Moiss cobriu seu rosto, porque teve medo de olhar Deus. Disse ento Jeov: Bem tenho visto a aflio de meu povo que est no Egito, e tenho escutado seu clamor por causa de seus exatores; pois tenho conhecimento de suas angstias, e desci para livr-los da mo dos egpcios, e tirar-lhes daquela terra para uma terra boa e ampla, a terra onde flui leite e mel...Disse Moiss a Deus: Eis aqui que chego eu aos filhos de Israel e lhe digo: O Deus de vossos pais me enviou a vs. Se eles me perguntarem: Qual teu nome?, o que lhes responderei? E respondeu Deus a Moiss: EU SOU AQUELE QUE SOU. E disse: Assim dir aos filhos de Israel: EU SOU me envia a vs. Alm disto, disse Deus a Moiss: Assim dir aos filhos de Israel: Jeov, o Deus de vossos pais, o Deus de Abrao, Deus de Isaac e Deus de Jac, me enviou a vs. Este meu nome para sempre; com ele serei recordado por todos os sculos. 17 Assim que Moiss regressava para o Egito, foi ao seu encontro Aaro da tribo sacerdotal de Levi e que havia tido sonhos nos quais Moiss recebia a misso divina. Ento Aaro ajudou Moiss a usar a palavra entre os israelitas e, chegando at o fara, o ameaou dizendo: "Deixa que meu povo saia do Egito". Mas como o Fara era indolente, Aaro , que era sacerdote, fez com seu basto grandes prodgios aos olhos de todos. Mas chamou o Fara seus sbios e sacerdotes que tambm demonstraram seu poder, e o Fara endureceu seu corao. Ento, Jeov por meio de Moiss e Aaro converteu a gua do rio em vermelho sangue e os peixes morreram e tambm as rs saram dali invadindo tudo. Mas Fara no deu valor a esses sinais. Por isto, pragas de piolhos e de moscas, pragas de gado e praga de lceras, praga de granizo e de caranguejos caram sobre os homens e as bestas. Mas Fara no quis libertar os filhos de Israel, dizendo que a corrente do rio que havia transbordado arrastando limo vermelho do alto Nilo, provocava periodicamente esses desastres. Mas uma grande escurido baixou e se manteve por trs dias. E os sbios do Fara tambm explicaram como as nuvens de gua que se elevavam do rio escureciam o cu... Ento Jeov mandou Moiss advertir o Fara da morte dos primognitos dos egpcios se no deixasse em liberdade o povo de Israel. E o Fara no deu ouvidos e os filhos dos egpcios foram mortos nessa noite por um anjo do Senhor. E a partir da esse ms foi o primeiro dos meses do ano, porque o sinal do sangue do cordeiro pascal com que os israelitas marcaram suas portas, os protegeu do anjo da morte. E Fara permitiu a sada da povo de Israel e de todos os egpcios perseguidos. Partiram os 5 10 15 20 25 30 35 40 45 27. filhos de Israel de Ramss a Sucot, em torno de seiscentos mil homens a p, sem contar as crianas. Tambm subiu com eles uma multido de toda a classe de pessoas. 18 O povo cruzou o leito seco do Mar Vermelho, porque direita e esquerda estavam contidas as guas, nessa zona que havia mandado canalizar Amenfis. Mas eis que ento o Fara despachou seus soldados para destruir os que fugiam e, ento, foram derrubadas as pesadas carruagens e o exrcito caiu. E sobre eles veio a gua matando os perseguidores. E, mais uma vez, Jeov salvou Moiss das guas e com ele salvou a multido que se afastava do Egito. 19 E as guas amargas 20 foram adocicadas pela rvore que Moiss nelas colocou. E Jeov ao povo deu o-que--isto 21 para comer e com isto o povo se sustentou e no morreu no deserto e assim chegou ao sagrado monte Sinai. O monte inteiro do Sinai fumegava porque Jeov em fogo havia descido nele; e a fumaa subia como a fumaa de um forno e o monte inteiro tremia em grandes propores. O som da corneta ia aumentando ao mximo; Moiss falava, e Deus lhe respondia com voz de trovo. E desceu Jeov no monte Sinai, no cume do monte, e Moiss subiu. 22 Todo o povo observava o estrondo e os relmpagos, e o som da corneta e o monte que fumegava; e vendo isto o povo, tremeram e se afastaram para longe. 23 E ento Jeov Deus entregou aos homens a Lei que procuravam desde seus primeiros pais. Em duas tbuas de pedra gravou Deus os dez Mandamentos que os homens deviam seguir para se aproximarem dele. E tambm lhes deu leis que serviram para form-los em sua Histria. Assim conduziu Moiss a Israel at a terra prometida pelo senhor. E subiu desde o monte de Moab ao monte Nebo, no cume do Pisga que est em frente de Jeric. Ento Moiss viu. E lhe disse Jeov: Esta a terra que prometi a Abrao, a Isaac e a Jac, dizendo: Para tua descendncia a darei. Permiti a ti v-la com teus olhos, mas no chegars at l. E morreu ali Moiss, servo de Jeov, na terra de Moab, conforme disse Jeov. E o enterrou no vale, na terra de Moab, em frente de Bet-Peor; e ningum conhece o lugar de sua sepultura at hoje. 24 E nunca mais surgiu um profeta em Israel igual a Moiss, que tinha conhecido Jeov frente a frente; ningum como ele em todos os sinais e prodgios que Jeov lhe enviou para que os fizesse na terra do Egito, ao Fara e a todos os seus servos e a toda a sua terra, e no grande poder e nos feitos grandiosos e terrveis que Moiss fez diante dos olhos de todos. 25 5 10 15 20 25 28. V - MITOS CHINESES O vazio central 1 O Tao um recipiente oco, difcil de encher. Mesmo sendo freqentemente usado ele nunca se enche. to profundo e insondvel que parece anterior a todas as coisas. No se sabe de quem filho. Parece anterior aos deuses. 2 Trinta raios convergem at o centro de uma roda, mas o vazio do centro que torna til a roda. 3 Com argila se molda um recipiente, mas o espao que no contm argila que usamos como recipiente. Abrimos portas e janelas em uma casa, mas por seus espaos vazios que podemos utiliz- la. Assim, da existncia provm as coisas e da no-existncia sua utilidade. Tudo era vazio e Pangu dormia no interior do que estava unido, por isto que foi chamado "infinita profundidade". 4 Ento despertou. De imediato, rompeu com seu machado o ovo que o envolvia. E ele rapidamente se dividiu em milhares de pedaos. As coisas mais leves e as mais pesadas foram em diferentes direes. Para evitar que novamente se juntassem, Pangu colocou-se no centro vazio solidificando o cu e a terra. Ele foi como uma coluna que deu equilbrio criao. Depois descansou e dormiu novamente at que seu corpo deu lugar a numerosos seres. 5 De um olho saiu o sol e do outro a lua. Com seu sangue formaram-se os rios e os lagos. Os animais saram de sua pele. O cabelo se transformou em ervas e seus ossos em minerais. Nestes primeiros tempos viviam na terra deuses, gigantes e monstros. A deusa me Nuwa, era na sua metade superior muito formosa e em sua metade inferior se assemelhava a um drago. Percorria e visitava todos os lugares, mas finalmente descobriu que faltavam seres mais perfeitos e inteligentes que os gigantes. Ento, foi at o rio Amarelo e modelou com argila os primitivos seres humanos. E os fez parecidos a ela, mas em lugar de rabo de drago colocou pernas para que caminhassem erguidos. Vendo-os graciosos, decidiu fazer muitos. Para isto, tomou um junco (embarcao oriental) e foi lanando gotas de barro sobre a terra. Estas ao cair sobre ela se converteram em mulheres e homens. Deste modo, quando eles comearam a se reproduzir por si s, a me celestial se dedicou criao de outros seres. Fushi, companheiro da deusa, viu que os homens aprendiam e ento ocupou-se em ensin-los a fazer fogo esfregando madeiras. Logo deu-lhes cordas e mostrou a eles como se protegeriam da fome e da intemprie. Finalmente, os outorgou a arte dos hexagramas ao que chamou I Ching. Com o tempo este foi conhecido como o livro das transformaes e da adivinhao. Chegou o dia em que os imortais discutiram e, entrando em guerra, puseram em perigo o Universo. Dilvios e catstrofes assolaram a terra. At que, por ltimo, o Deus do fogo prevaleceu sobre as guas. Todavia os gigantes quiseram disputar o poder com os eternos, mas os deuses em indizvel clera cortaram suas cabeas, fazendo-as rolar at o fundo dos abismos obscuros. 5 10 15 20 25 30 35 29. O Drago e o Fnix 6 Quando ainda as guas no estavam controladas e os rios transbordavam arrasando os campos, a deusa me procriou bons descendentes que terminaram ordenado este caos diluvial. Trabalhando no controle dos rios, dos lagos, do mar e das nuvens, os drages cintilantes navegaram pelas guas e pelo cu. Com unhas de tigre e garras de guia, rasgavam as cortinas do alto com um tremendo estrondo que, ao faiscar ante o embate descomunal, deixavam as chuvas em liberdade. Eles deram leito aos rios, conteno aos lagos e profundidade aos mares. Fizeram as cavernas das que brotavam a gua por dutos subterrneos que levaram muito longe para que surgisse em seguida, sem que o assalto abrasador do sol as detivesse. Traaram as linhas que se v nas montanhas para que a energia da terra flusse, equilibrando a sade deste corpo gigantesco. Freqentemente, tiveram que lutar com os bloqueios que provocavam os deuses e os homens ocupados em seus trabalhos irresponsveis. De suas gargantas brotava como fumaa a neve, vivificante e mida, criadora de mundos irreais. Com seus escamosos corpos serpentinos cortavam as tempestades e dividiam os furaces. Com seus poderosos chifres e com seus dentes afiados, nenhum obstculo era suficiente, nenhum ardil podia permanecer. E gostavam de aparecer aos mortais. s vezes nos sonhos, s vezes nas grutas, s vezes na borda dos lagos porque nestes podiam ter moradas de cristal escondidas nas quais belos jardins eram decorados com frutos brilhantes e com as pedras mais preciosas. O Long imortal, o drago celeste, sempre colocou sua atividade (seu Yang) a servio do Tao e o Tao o reconheceu permitindo que estivesse em todos as coisas, desde o maior at o menor, desde o universo at a partcula insignificante. Tudo viveu graas ao Long. Nada permaneceu imutvel salvo o Tao inominvel, porque ainda o Tao nominvel mudou e se transforma graas a atividade do Long. E nem mesmo os que crem no Cu e no Inferno podem assegurar sua permanncia. 7 Mas o Long ama o Feng, a ave Fnix que concentra o germe das coisas, que contrai aquilo que o Long expande. E quando o Long e o Feng se equilibram o Tao resplandece como uma prola banhada na luz mais pura. O Long no luta com o Feng porque se amam e se buscam fazendo resplandecer a prola. Por isto, o sbio regula sua vida conforme o equilbrio entre o Drago e o Fnix que so as imagens dos princpios sagrados do Yang e o Yin. O sbio se refugia num lugar vazio buscando o equilbrio. O sbio compreende que a noo gera a ao e a ao gera a no ao. Que o corao dos viventes, que as guas do mar, que o dia e a noite, que o inverno e vero, se sucedem em um ritmo que para eles marca o Tao. No final desta idade, quando o universo tenha chegado a sua grande expanso ele voltar a se contrair como pedra que cai. Tudo at o tempo, se inverter voltando ao princpio. O Drago e o Fnix se reencontraro. O Yang e o Yin se compenetraro, e ser to grande a atrao que absorver todo o germe vazio do Tao. O cu alto, a terra baixa; com isto esto determinados o criativo e o receptivo... com isto se revelam as mudanas e as transformaes. 8 Mas ningum pode saber realmente como eram nem como sero as coisas; se algum o soubesse no poderia explicar. O que sabe que no sabe o maior; o que pensa que sabe mas no sabe, tem a mente doente. O que reconhece a mente doente como estando doente, no tem a mente doente. O sbio no tem a mente doente porque reconhece a mente doente como a mente doente. 9 5 10 15 20 25 30 35 40 30. VI. MITOS HINDUS Fogo, Fomenta e Exaltao 1. Aqui esto os primeiros, os que logo tomaram outras formas tantas que no as posso reconhecer. Aqui esto o Fogo 2 e a Tormenta 3 que dirigem a criao. O Fogo no nada mais que fogo e a Tormenta somente vento, gua e trovo, sem a Exaltao 4 do poeta em quem habita a palavra. 1. - Agni, merecidamente louvado pelos cantores antigos e digno de o ser pelos atuais, que reuna ele aqui os deuses 5. Tu, oh Agni, primeiro. Angiras por excelncia, poeta, dos deuses circunda as aes, onipresente a toda criatura, sbio, filho de duas mes, que te apresenta de vrias formas ao homem 6. Ereto, defendendo-nos do perigo com teu sinal luminoso; queima todo demnio. Coloca-nos eretos para correr, para viver; outorga-nos a honra entre os deuses. Dispersando-os em todas as direes com uma arma mortfera, mata os inimigos, oh deus de mandbula abrasadora. O nosso inimigo, o homem que afia sua espada durante a noite, que este inimigo no consiga se apoderar de ns... Protege-nos do ofensor, daquele que deseja nos matar, oh deus brilhante, oh o mais jovem dos deuses 7. Um novo hino de louvor que saiu de nosso interior, de ns mesmos, alcance a Agni de lngua de mel, uma vez nascido 8... A ti elogia com seu canto Gotama, desejoso de riqueza 9... Quando me ponderaram a enorme fora do deus devorador de madeira, ele manifestou sua cor como o fez para os Usij: este Agni brilha alegremente com luz resplandecente, como quem tendo envelhecido, de repente se faz jovem. Agni, que ilumina os bosques como se estivesse sedento, que ressoa em seu caminho como a gua, como as rodas de um carro. Agni de negro caminho, ardente, brincalho, brilha como o cu sorrindo entre as nuvens. Agni, que se estendeu abrasando ao longo da terra ampla, caminha como um animal livre, sem pastor; Agni, inflamado, abrasando os matagais, deus de rosto enegrecido que saboreou a terra 10. 2. - Quero, pois, proclamar as faanhas de Indra, as que fez em primeiro lugar o deus do raio; ele matou a serpente, atravessou a grandeza das guas, abriu o ventre das montanhas. Matou a serpente que havia se fixado na montanha; Tvastar havia modelado para ele o raio que ecoa. Como as vacas que mugindo se dispersam, as guas desceram diretas ao oceano. Cuidadosssimo elegeu o Soma; bebeu do Soma preso nos trs cntaros; deus generoso, tomou a arma temida; matou esta serpente, a primeira nascida das serpentes. Quando tu mataste, Indra, a primeira serpente nascida das serpentes, aniquilastes as arteiras aes dos demnios arteiros; ento, gerando o sol, o cu, a aurora, em verdade j no encontraste mais inimigos... Como um mau guerreiro embriagado por nefasta bebedeira, Vrtra desafiou o grande lutador, deus que rejeita com poder, bebedor de Soma; no pde resistir ao choque das armas mortferas de Indra; foi aniquilado ficando sem rosto Urtra, que tinha a Indra por inimigo. Sem 5 10 15 20 25 30 35 40 31. ps, sem mos, havia combatido contra Indra e este o golpeou com o raio em suas costas. Boi que pretendia ser a rplica do touro, Vrtra dispersou-se em mil lugares. Como jazia de tal maneira, tal qual boi despedaado, as guas avanaram sobre ele se espalhando em direo ao homem. As que Vrtra havia assediado com fora aos ps delas a serpente ficou desde ento pendurada. Acabou a fora daquela a que Vrtra era filho. Indra descarregou sobre ela sua arma mortfera; acima estava sua me, abaixo estava o filho; o demnio-fmea jazia como uma vaca com seu bezerro. Em meio das correntes de guas que nunca cessam, o corpo de Vrta jazia oculto; as guas circulavam atravs do esconderijo de Vrtra; em duradoura treva jazia aquele cujo inimigo foi Indra. As guas que tinham por dono o aborgene, que tinham por guardi a serpente, haviam ficado imveis, bloqueadas, como as vacas encurraladas. O orifcio das guas, que havia sido obstrudo, Indra o descobriu quando matou Vrtra 11... Quando tu nasceste, neste dia bebeste com desejo deste Soma, o suco da planta do Soma, que reside na montanha; tua me, a jovem geradora, o derramou, em primeiro lugar, na casa do grande pai. Aproximando de sua me pediu alimento; olhou at o Soma concentrado como em direo a uma bere; o deus rapidamente correu afugentando os outros; fez grandes coisas este deus de mltiplos rostos. Poderoso, vencedor dos fortes, de fora suprema, este deus fez para si um corpo de acordo a seu prprio desejo; Indra, tendo superado por sua natureza a Tvastar, arrebatando-o, bebeu o Soma nos clices. Invoquemos a Indra, o magnnimo, para prosperar neste combate, o mais viril, para a obteno do despojo, deus que escuta, terrvel, para a ajuda nos combates, destruidor dos inimigos, ganhador dos despojos 12. 3- Para ti caminhamos; tu s nossa meta dia dia; oh suco de Soma, em ti esto postas nossas esperanas. A filha do sol purifica o Soma que flui ao redor mediante o filtro de pelos de ovelha, ininterruptamente. As dez ternas mulheres o tomam (com os dedos), na assemblia ritual, as dez irms no ponto extremo do cu. Essas virgens o fazem fluir, fazem soar, soprando, a gaita. Fazem sair o licor triplamente protetor. As vacas, as vacas produtoras de leite mediante a mescla de leite deixam no ponto esta criatura, o Soma, para que Indra o beba. Indra golpeia todos os inimigos na embriaguez deste Soma, e este heri distribui sua generosidade ...13 A teu deus rosado, ns te adoamos misturando com leite das vacas para a embriaguez. Abra-nos as portas para a riqueza. O Soma ultrapassou o filtro como o cavalo vencedor ultrapassa o sinal na corrida. O suco do Soma o senhor entre os deuses. Os amigos tm cantado junto ao Soma que pula na vasilha de madeira atravs do filtro de pelos de ovelha. As preces dirigiram gritos de alegria ao Soma... 14 A guia de vo seguro te traiu. Para que todo ser humano possa ver o sol, a este Soma, bem comum, que atravessa o espao, guardio da ordem, a ave o traiu. Quando foi enviado para c, obteve o poder supremo de Indra, o Soma que proporciona auxlio, o muito ativo... 15 Tuas foras, oh Soma, surgem como o bramido da onda do rio... 16 Tuas correntes de incomparvel abundncia avanam com as chuvas do cu para conseguir um despojo que vale mil. Contemplando todas as amadas obras poticas, o Soma se derrama, o corcel, agita as armas. Purificado intensamente pelos Ayus, como um rei com vassalos, zeloso protetor da lei, se assentou, como uma ave de presa, nas vasilhas de madeira. Todos os bens do cu e da terra, uma vez purificado, oh suco de Soma, confere-os a ns. 17 5 10 15 20 25 30 35 40 45 32. O tempo e os deuses. Ento no havia o existente e o no existente; no havia o reino do cu e do ar. O que havia dentro e onde? O que protegia? Acaso havia gua nesta insondvel profundidade? No havia a morte, no havia algo imortal, no havia diviso entre o dia e a noite. Este algo, sem alento, respirava por sua prpria natureza; aparte deste algo no havia nada... Quem o sabe verdadeiramente, quem pode afirmar onde nasceu e de onde veio a criao? Os deuses so posteriores criao do mundo. Quem sabe, ento, de onde o mundo procedeu? A origem da criao talvez tenha formado tudo, ou talvez no. Quem cujos olhos controlam o mundo, ele verdadeiramente o sabe, ou talvez no 18. Mas os deuses e os homens foram criados e tm seu tempo. Sim, tm seu tempo. Um dia dos deuses igual a um ano dos mortais. Portanto, um ano dos deuses o mesmo que 360 anos mortais. Existem quatro Eras (Yugas) que formam uma grande Era (Mahayuga) de 12 mil anos divinos, correspondente a 4.320.000.000 anos ordinrios ou um dia de Brahma. Mas, ao terminar seu dia, o deus descansa e, ento, ocorre um colapso no Universo. Enquanto Brahma dorme sobre sua grande serpente tudo comea ser absorvido por ele. Os mundos desabitados se chocam entre si; a terra toda se liqefaz, todo lquido se evapora, todo vapor se converte em energia e esta energia cai dentro do poder da noite de Brahma. E quando o deus desperta se abre uma grande ltus; a luz escapa e comea um novo dia. Neste di