miolo filosofia ii final 02 04

Upload: isabelle-crass

Post on 12-Oct-2015

9 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Miolo Filosofia II.indd 1 02/04/2014 00:08:37

  • dos autores1 edio: 2013

    Projeto grfico: Jadeditora Editorao GrficaEditorao e capa: Rafael Marczal de LimaReviso ortogrfica: Alice Rodrigues Almeida Reviso geral: Rafael Bittencourt SantosImpresso: Copiart

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)D536 Dilogos com a escola : experincias em formao continuada em

    filosofia na UFRGS 2 / Priscilla Tesch Spinelli (orgs.) ... [et al.]. Porto Alegre: Evangraf, 2013.132 p.

    ISBN 978-85-7727-596-0

    1. Filosofia - Estudo e ensino. 2. Filosofia - Educao continuada. 3. Professores - Formao. 4. Lgica. 5. Teoria do conhecimento. 6. tica. 7. Cincia poltica - Filosofia. 8. Filosofia e cincia. I. Spinelli, Priscilla Tesch.

    CDU 1:37 CDD 107

    Catalogao da publicao: Sabrina Leal Araujo CRB 10/1507

    Miolo Filosofia II.indd 2 02/04/2014 00:08:37

  • Miolo Filosofia II.indd 3 02/04/2014 00:08:37

  • Miolo Filosofia II.indd 4 02/04/2014 00:08:37

  • PrefcioGisele Secco

    Pode-se dizer, de um modo geral, que a organizao em dois volumes destes Dilogos marca o incio de uma nova etapa das relaes entre a Universidade e a Escola no que diz respeito ao cativante tema Ensino de filosofia. A especificidade de tais relaes aparece j no ttulo mesmo da iniciativa que resultou na presente publicao, qual seja, o Curso de Formao Continuada para Professores de Filosofia do Ensino Mdio do Rio Grande do Sul promovido pelo Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, nas dependncias da mesma, entre os meses de novembro de 2012 e julho de 2013.

    Ora, em se tratando dos primeiros movimentos de um dilogo que se pretende prolfico e duradouro, nada mais razovel do que registrar o modo como ocorreram as aproximaes entre as duas esferas educacionais Universidade e Escola. O registro , portanto, duplo: no primeiro volume, publicam-se os textos relativos s aulas ministradas por professores universitrios, secundaristas e bolsistas de ps-graduao em filosofia para os professores do Ensino Mdio gacho nos primeiros meses da formao. J no segundo volume, publicamos alguns planos de aula dos professores em formao continuada planos que permitem a observao da multiplicidade de perspectivas filosficas que se pretendeu fornecer aos docentes do nvel mdio, objetivando o elenco das mais variadas possibilidades de abordagem didtico-filosficas e que correspondem s atividades realizadas nos meses finais da formao.

    certo que se poderia objetar estratgia escolhida, uma vez reconhecido o fato de que boa parte dos docentes que procuraram o Curso

    Miolo Filosofia II.indd 5 02/04/2014 00:08:37

  • no possui formao especfica em Filosofia e que, portanto, apresentar tantas vises distintas poderia obscurecer os resultados desta iniciativa formacional. Parece-me, pelo contrrio, que uma tal objeo no leva em conta justamente o fato de que a filosofia se faz de vrios modos, e a busca por diretrizes didticas precisas donde a importncia de consideraes de ordem metodolgica ou instrumental no pode iniciar sem o reconhecimento, como de um marco zero, desse fato.

    Assim, ao percorrer as pginas destes dois volumes, o leitor deve lembrar que se trata, como se disse, do registro dos primeiros movimentos institucionais de dilogo entre o Departamento de Filosofia da UFRGS e os professores de Filosofia das Escolas do nvel mdio gacho e, por outro lado, embora talvez mais implicitamente, que esses registros servem como uma espcie de chamado para que os interessados no ensino de Filosofia venham a contribuir nas edies futuras e desejveis de mais Cursos de Formao Continuada como o que resultou nestes volumes.

    Que a plurivocidade de perspectivas reunidas aqui possa, portanto, incitar melhoramentos em nossas conversas sobre Ensino de Filosofia e que possamos cada vez mais e de modo mais filosfico refletir sobre nossas prticas docentes levando em conta o saudvel intercmbio das experincias de Universidade e Escola o desejo dos organizadores, gratos, vale dizer, pela valorosa participao dos docentes nesse movimento de aproximao do qual certamente temos muito o que aprender.

    Gisele Dalva SeccoProfessora Adjunta do Departamento de Filosofia, na rea de Ensino de Filosofia, desde junho de 2013.

    Miolo Filosofia II.indd 6 02/04/2014 00:08:37

  • Sumrio

    Apresentao ................................................................................................... 9

    Introduo FilosofiaPara que serve a filosofia? .......................................................................... 11

    Patrcia Trindade de Angelis

    Lgica, Epistemologia e Filosofia da CinciaLgica e Metafsica: uma introduo argumentao ..................................... 21

    Juliana Paiva Soares

    A Lgica na argumentao ............................................................................. 27Antnio Carlos Silveira dos Santos

    Heliocentrismo X Geocentrismo: Paradigmas e Revolues Cientficas ............ 33Letcia Morales Brum

    O Problema da Induo .................................................................................. 41Paulo Ricardo Kobielski

    ticaDeterminismo e livre arbtrio ........................................................................... 49

    Thiago Delade da Silva

    Utilitarismo em tica ...................................................................................... 57Michele Santos da Silva

    tica do Meio Ambiente .................................................................................. 65Marina Aparecida Madeira

    A violncia na escola e a tica: uma abordagem psicodramtica ..................... 75Ildo Ronan Vilarinho Jnior

    Miolo Filosofia II.indd 7 02/04/2014 00:08:37

  • Quais os critrios da ao correta? ................................................................ 85Melissa Mayer Ferraz

    Argumentao em tica ................................................................................. 93Simone Maria Galli Primieri

    Juzo de fato e de valor, subjetivismo e objetivismo ....................................... 105Rogrio Sidnei Martins

    Filosofia PolticaPoltica e Cidadania ...................................................................................... 109

    Ernesto Alba

    A importncia da participao poltica .......................................................... 119Marcos Vinicius da Silva Goulart

    Contratualismo Poltico ................................................................................. 125Dbora Perroni Cassanego

    Miolo Filosofia II.indd 8 02/04/2014 00:08:37

  • Apresentao

    Neste Volume II do Dilogos na escola: experincias em formao continuada em Filosofia na UFRGS reunimos 15 planos de aula desenvolvidos como trabalho final pelos professores da rede bsica estadual e municipal que seguiram e finalizaram o Curso de Formao Continuada para Professores de Filosofia do Ensino Mdio do Rio Grande do Sul, oferecido pelo Departamento de Filosofia da UFRGS e que ocorreu entre novembro de 2012 e junho de 2013. Os planos de aula muitas vezes fazem referncia aos artigos contidos no Volume I do Dilogos na escola. Em alguns casos, a referncia feita ao material de apoio utilizado nas aulas e disponibilizado na Plataforma Moodle, que foi utilizada como apoio para as atividades a distncia, e no site do Curso (http://www.ufrgs.br/filosofiaensinomedio).

    A proposta do Curso foi apresentar um conjunto de contedos e procedimentos que tanto ilustrasse o modo como a filosofia e o seu ensino so compreendidos pelo Departamento de Filosofia da UFRGS quanto contribusse para a prtica dos professores de filosofia nas escolas. Nossa proposta pretendia apresentar uma das tantas formas possveis e proveitosas de ensinar filosofia, incentivando a reflexo e o dilogo acerca do ensino. Entre os seus objetivos especficos estava o de capacitar os participantes elaborao de contedos programticos e de currculos que, sendo adequados realidade do Ensino Mdio, se beneficiassem dos resultados mais recentes da pesquisa em filosofia.

    Com estes objetivos em mente, a atividade final do curso consistiu na elaborao de um plano de ensino para aproximadamente quatro aulas. Os resultados foram muito interessantes e os temas abordados, os mais diversos.

    Miolo Filosofia II.indd 9 02/04/2014 00:08:37

  • 10

    Selecionamos 15 planos para comporem este livro. Os planos esto dispostos por reas, seguindo aproximadamente a mesma ordem presente no Volume I destes Dilogos (Introduo Filosofia; Lgica, Epistemologia e Filosofia da Cincia; tica e Filosofia Poltica) e fazem, muitas vezes, referncia a este Volume I e ao material que pode ser encontrado no site do Curso, mencionado anteriormente.

    Os planos de aula que se seguem so uma amostra de como os docentes da educao bsica compreendem o ensino de filosofia e dos contedos que consideram mais relevantes para tratar em sala de aula. Antecipando alguns detalhes, o leitor certamente notar um maior nmero de planos da chamada filosofia prtica a tica e a poltica; encontrar maneiras diferentes de lidar com temas clssicos, como o uso de dinmicas teatrais. Os planos tambm revelam a variedade de modos para abordar os problemas filosficos em sala de aula e, com isso, enfatizam a liberdade do professor. Pode-se dizer que eles mostram que no h uma frmula definida, como deve-se usar os textos clssicos ou apenas textos introdutrios; antes, eles so a prova de que temos a possibilidade de fazer ambas as coisas.

    Temos aqui um material valioso que foi feito por aqueles que esto atuando no ensino bsico diariamente, conhecem a realidade da sala de aula e tm uma experincia que no pode ser ignorada por qualquer um que deseja pensar o ensino de filosofia. Esperamos que este seja apenas um dos primeiros passos em direo de um dilogo permanente e proveitoso entre os docentes dos ensinos mdio e fundamental e o Departamento de Filosofia da UFRGS. H muito aprendizado mtuo pela frente.

    Miolo Filosofia II.indd 10 02/04/2014 00:08:38

  • Para que serve a filosofia?Patrcia Trindade de Angelis1

    Objetivo geral

    Introduzir a discusso sobre a importncia terica e prtica do ensino da filosofia nos anos finais do ensino fundamental.

    Obs.: As aulas foram pensadas a partir de minha experincia com alunos da educao bsica e, por isso, parte delas pode ser considerada o resultado da aplicao do contedo e metodologia que utilizo com meus alunos.

    Objetivos especficos

    Refletir sobre o significado de dizermos que a filosofia: no nos diz o que devemos saber (os contedos ou conceitos); ou como devemos saber (os mtodos e tcnicas de aprendizagem desses contedos ou conceitos); ou, ainda, para que devemos saber (a importncia social ou tica deste ou daquele contedo); convida-nos a usar a razo (aquela mesma que usamos para todas as outras matrias da escola e da vida) para questionar o saber ele mesmo, e tudo que implica dizer que sabemos (ou no sabemos) algo.

    1 Mestra em Cincia Poltica pela UFRGS.

    Miolo Filosofia II.indd 11 02/04/2014 00:08:38

  • 12

    Refletir sobre a maneira como ns conduzimos a vida, sobre o que significa dizer que temos (ou tivemos) escolhas e que, portanto, podemos decidir antecipadamente entre uma boa e uma m ao. Em outras palavras, a sabedoria que dizemos possuir pode, efetivamente, orientar nossas aes? Se sim, ento, o que significa agir com sabedoria? Que tipo de coisas podem nos impedir de assim agir, ou seja, se podemos escolher entre o bem e o mal, por que tantas vezes agimos mal ou deixamos de agir e nos damos mal?

    Refletir sobre a capacidade que temos de pensar, dar forma e produzir efeitos a partir dos nossos pensamentos, em especial quando conseguimos construir argumentos condizentes com aquilo que pensamos.

    Dar-se conta de como a dvida pode ser mais interessante do que a certeza, quando o que est em jogo so os nossos (e os vossos) saberes sobre ns mesmos e o mundo nossa volta.

    Justificativa

    As aulas apresentadas a seguir foram pensadas como uma maneira de tornar a pergunta clssica para que serve a filosofia? um objeto de investigao e debate. Em outras palavras, se a filosofia existe como prtica social, como trabalho e como disciplina escolar, porque ela pode (e deve) ser apreendida, reproduzida e coproduzida pelos sujeitos sociais que recorrem a ela e dela fazem uso para resolver seus dilemas cotidianos. Trata-se, ento, de munir nossos alunos com os recursos de pensamento que a filosofia oferece, dando-lhes tambm alguns exemplos prticos de como foram e podem, ainda, ser utilizados. Sem medo de recorrer a simplificaes conceituais, tendo em vista o carter introdutrio das aulas e objetivo central de manter a curiosidade e o interesse de um grupo de alunos recm-sado das sries

    Miolo Filosofia II.indd 12 02/04/2014 00:08:38

  • 13

    iniciais, buscamos pinar dentre os instrumentos da filosofia aqueles cujos efeitos sociais parecem mais claros ou at evidentes:

    1. A lgica, que nos ajuda a estruturar nosso pensamento na forma de argumentos;

    2. A epistemologia, que no nos deixa ficar presos primeira impresso, mas mobiliza todos os nossos sentidos na direo do conhecimento e da sabedoria;

    3. A metafsica, que nos desafia a lanar perguntas sobre as nossas crenas;

    4. A tica, sobre a qual repousam nossos julgamentos, partindo da discusso sobre o livre-arbtrio, que nos permite fazer escolhas condizentes com aquilo que dizemos buscar.

    Tudo isso ser feito sem descuidar da teia que entrelaa as diferentes reas e temas da filosofia, sem deixar que se imponha a tcnica pela tcnica de forma descontextualizada e sem nenhuma relao com a histria da filosofia e dos filsofos que a constituram enquanto campo de debate e conhecimento. A opo foi iniciar com Scrates para mostrar como uma simples conversa, que poderia ser at mesmo com um desconhecido, poderia ser o cenrio perfeito para uma investigao filosfica, permitindo chegar aos conceitos que esto por trs de toda e qualquer opinio. A noo de conhecimento (e o contraponto com a doxa ou opinio) seria desenvolvida ainda por meio do mito da caverna e no pensamento de Aristteles.

    Desenvolvimento

    As aulas foram pensadas, na maior parte, para grupos com 15 alunos, salvo os casos em que for necessrio juntar as turmas para assistir aos filmes (dois filmes Regras de vida e Billy Eliot) e nos debates. Para os filmes, sero solicitados relatrios preenchidos posteriormente e, para os debates, fichas

    Miolo Filosofia II.indd 13 02/04/2014 00:08:38

  • 14

    de participao, entregues no final dos mesmos ou na aula posterior. Os perodos so de 50 minutos, considerando a possibilidade de trabalhar em dois perodos juntos ou quando cedidos por outro professor. As aulas sero expositivas e dialogadas para introduzir os contedos propostos, assim como para falar (e registrar) passagens importantes das biografias dos filsofos (em especial, Scrates, Plato e Aristteles) e as temticas abordadas nos filmes.

    Avaliao

    Os alunos, e as aulas, sero avaliados a partir do material entregue no final das atividades (fichas e relatrios), observaes da professora e prova com questes objetivas e dissertativas (final do trimestre).

    Descrio das aulas

    Primeira Aula

    Assistir ao filme As regras da Vida, previamente discutido com os alunos como sendo um contraponto s regras da escola. Nesse, os alunos podem observar situaes nas quais as regras formais (e formalmente admitidas pelos personagens) entravam em choque com as circunstncias da vida de cada um deles, passando a ser objeto de crticas e reflexes, desembocando, muitas vezes, em verdadeiros dilemas existenciais e tragdias pessoais. (obs.: os temas abordados no filme abandono, aborto, drogas e traio so geralmente apontados pelos alunos).

    Metodologia:

    1. Aula expositiva e dialogada sobre questes ligadas tica (como princpios e valores que nos permitem avaliar as aes e classific-las como certas ou erradas) de onde decorrem as regras escritas (formais) e vividas (informais);

    Miolo Filosofia II.indd 14 02/04/2014 00:08:38

  • 15

    2. Antes do filme: apresentao (pela professora) de uma sinopse do filme, antecipando alguns dos dramas que seriam vividos pelos personagens para que possam ser apreendidos pelos alunos;

    3. Depois do filme: levantamento dos temas abordados e que merecem ser levados ao debate. H uma oportunidade para ressaltar a importncia da lgica e da argumentao e de introduzir este contedo: em que momento(s) do filme os personagens expunham as razes que lhes levaram a agir desta ou daquela maneira, elas eram sempre claras e percebidas por todos? Como argumentar contra ou a favor desta ou daquela atitude sem conhecer as razes que levaram a agir?

    Avaliao:

    Participao oral dos alunos (anotaes da professora). Registro da aula no caderno. Relatrio do filme contendo consideraes pessoais acerca da

    percepo que os personagens tinham acerca de determinadas condutas (juzos morais) e o modo como essas se adequavam s circunstncias que a vida lhes colocava.

    Construo de argumentos (por escrito), contendo premissa(s) e concluso sobre o carter tico ou no de cada uma das atitudes em questo.

    Segunda Aula

    Os alunos, individualmente ou em duplas, e sempre com orientao da professora, construiro um argumento favorvel e outro contrrio a cada um dos temas sugeridos para o debate. Cada aluno ou dupla escolhe um dos temas, podendo consultar dicionrios e matrias de jornais, folders e livros didticos para aprimorar seus conhecimentos sobre os mesmos e a partir da fundamentar suas posies com respeito aos mesmos. Depois,

    Miolo Filosofia II.indd 15 02/04/2014 00:08:38

  • 16

    eles se reuniro com a outra turma para o momento do debate, tendo que apresentar oralmente os seus argumentos e escutar os argumentos dos colegas, preenchendo posteriormente as fichas de participao. Durante o debate, a professora e mais dois alunos formam a mesa para organizar as falas, fazer as anotaes e recolher as fichas.

    Metodologia:

    Antes do debate: organizao da sala (cadeiras em semicrculo) e dos alunos (todos devem estar com seus argumentos em mos) para participao no debate;

    Durante o debate: os alunos que compem a mesa devem anotar as inscries dos alunos das suas respectivas turmas e todos devem respeitar a sua vez de falar, assim como a fala dos colegas;

    Depois do debate: os alunos recebem as fichas de participao, devendo utiliz-las para avaliar a sua participao e a dos colegas como positiva ou negativa e por qu.

    Avaliao:

    Observaes da professora quanto aos argumentos apresentados (estrutura lgica e conhecimento do tema);

    Fichas de participao (para avaliar a participao individual e a atividade).

    Terceira Aula

    Retomar a ideia de argumento e a importncia do dilogo para reavaliarmos nossas opinies;

    Aula expositiva para conhecer um pouco da trajetria de Scrates, que tinha no debate em praa pblica o seu principal instrumento de investigao filosfica;

    Miolo Filosofia II.indd 16 02/04/2014 00:08:38

  • 17

    Apresentar as etapas do dilogo socrtico - a ironia e a maiutica para demonstrar como, por meio do dilogo, podemos chegar aos conceitos que se escondem por trs da mera opinio;

    Ressaltar a importncia de ter coragem para enfrentar os desafios da vida e quebrar as resistncias no admitidas a toda forma de questionamento das regras e etiquetas sociais;

    Introduzir a problemtica da coragem e como ela ser tratada no nosso prximo filme Billy Eliot.

    Metodologia:

    Leitura, discusso e registro dos textos dedicados figura de Scrates dentro do captulo 1: A experincia filosfica, da obra Filosofando;

    Interrogaes especficas acerca da mxima socrtica s sei que nada sei e seus desdobramentos quanto ao modo de ver e viver a filosofia;

    Leitura, discusso e levantamento de questes (as propostas no final do texto e outras propostas pela professora) a partir do texto da seo de leitura complementar: A turba do pega e lincha (ARANHA, 2009, p. 23).

    Avaliao:

    Participao oral durante as discusses; Registro no caderno; Resposta das questes escritas.

    Quarta Aula

    Assistir ao filme Billy Eliot seguido de uma exposio da professora e da organizao de um relatrio para ser preenchido pelos alunos.

    Miolo Filosofia II.indd 17 02/04/2014 00:08:38

  • 18

    Discutir sobre o significado de liberdade no filme, sobre se o protagonista era verdadeiramente livre ou no ao fazer suas escolhas e como ele pde transformar essa condio quando tomou coragem para enfrentar as barreiras que se colocavam diante dele.

    Discutir tambm sobre o significado da liberdade para Scrates e para cada um deles (dos alunos).

    Terminar discutindo sobre outros conceitos como o de felicidade e de sabedoria, introduzindo as biografias de dois outros filsofos: Plato e Aristteles, que sero analisados nas prximas aulas.

    Metodologia:

    Leitura, discusso e registro a partir do quadro dedicado biografia de Plato na obra Filosofando.

    Representao da Alegoria da Caverna de Plato, seguida da sua interpretao epistemolgica e poltica (ilustrao e texto) mesma obra.

    Quadro conceitual com a dicotomia entre conhecimento sensvel e intelectual em Plato. Ao fazer a relao entre o preconceito e a escolha de Billy (ser bailarino) pode ser ressaltado que a atitude do pai, e demais integrantes do bairro operrio de onde era oriundo, tem relao com a doxa em que viviam os prisioneiros no interior da caverna na metfora platnica.

    Discusso sobre a relao entre Felicidade e Sabedoria, tanto em Scrates quanto em Plato, e o modo como isso tambm aparece no filme, quando Billy consegue abrir os olhos para o verdadeiro conhecimento (livre do preconceito) ao perseguir sua prpria felicidade.

    Miolo Filosofia II.indd 18 02/04/2014 00:08:38

  • 19

    Avaliao:

    Participao na aula e registro no caderno. Questes dissertativas sobre os diferentes modos como podemos

    interpretar a alegoria da caverna.

    Referncia

    ARANHA, Maria Lcia de Arruda. Filosofando: Introduo Filosofia. Martins 4a edio So Paulo: Moderna, 2009.

    Miolo Filosofia II.indd 19 02/04/2014 00:08:38

  • Miolo Filosofia II.indd 20 02/04/2014 00:08:38

  • Lgica e Metafsica: uma introduo argumentao

    Juliana Paiva Soares1

    Objetivo

    Tendo como ponto de partida a metafsica, que certamente ser retomada com maior embasamento posteriormente de modo que os alunos desenvolvam melhores capacidades cognitivas de anlise e reflexo, tendo, assim, maior aproveitamento deste componente curricular ser trabalhada a capacidade de construo de argumentos atravs de debates sobre o que a verdade e a lgica, estudando as formas vlidas de raciocnio, ajudando tanto na anlise de discurso quanto na compreenso de todas as outras matrias curriculares, j que todas possuem uma lgica por trs do que se conhecido. A partir de uma capacidade lgica, o aluno poder examinar e formular formas de argumentao, tendo um melhor embasamento para poder criar, posteriormente, debates junto aos colegas e uma discusso e argumentao qualificada para todo e qualquer tema proposto.

    Justificativa

    fundamental para a compreenso da filosofia, a obteno da metodologia filosfica, ou seja, pensar filosoficamente, a hermenutica do natural das falas e hbitos quotidianos, questionar-se sobre o mais simples e tambm o mais complexo. Filosofia no s (no pode se limitar a) o que

    1 Professora na Escola Estadual Protsio Alves, de Porto Alegre (RS).

    Miolo Filosofia II.indd 21 02/04/2014 00:08:38

  • 22

    Kant disse ou o que Gadamer escreveu, os currculos historicistas retiram do foco o que fundamental e tornam a filosofia mais uma disciplina de decorar biografias e frases prontas para colocar em provas de mera reproduo, que nem de longe atingem os objetivos que esto nos PCNs (Parmetros Curriculares Nacionais) .

    A pergunta que se faz, portanto, : de que capacidades se est falando quando se trata de ensinar Filosofia no ensino mdio? Da capacidade de abstrao, do desenvolvimento do pensamento sistmico ou, ao contrrio, da compreenso parcial e fragmentada dos fenmenos? Trata-se da criatividade, da curiosidade, da capacidade de pensar mltiplas alternativas para a soluo de um problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamento crtico, da capacidade de trabalhar em equipe, da disposio para procurar e aceitar crticas, da disposio para o risco, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimentos. (SECRETARIA DE EDUCAO BSICA, 2006, 30)

    A metafsica uma das partes mais fundamentais para que o aluno consiga, de fato, ter capacidade cognitiva de abstrair e pensar de forma crtica, compreendendo o objetivo desta disciplina curricular que vai para muito alm dos muros escolares, ou pelo menos deveria assim ir. A metafsica se prope a pensar o principio bsico de todas as coisas, as questes ltimas da filosofia. Sendo interessante comear pelo mais difcil e amplo para uma maior legitimao da disciplina, relegada muitas vezes por toda instituio como desnecessria.

    Miolo Filosofia II.indd 22 02/04/2014 00:08:38

  • 23

    Planejamento

    Introduo metafsica O que verdade?

    Argumentao Lgica

    Aula 1

    Introduo metafsica

    Objetivos: Fazer o aluno questionar-se sobre o que real, sobre sua realidade dada e suas verdades ontolgicas, para assim criar um esprito crtico no aluno, para o desenvolvimento das habilidades filosficas.

    Metodologia: Comear provocando os alunos sobre se o que os rodeia realmente existe e ir dificultando o raciocnio at chegar a questes clssicas como: Deus existe? A lei da gravidade existe? E, a partir das respostas dos alunos, problematizar e conceituar a metafsica, considerando o que os alunos j sabem e tentando construir esse conhecimento junto aos educandos.

    Avaliao: Envolvimento dos alunos com o debate e as questes levantadas, assim como questionamentos pertinentes em aula.

    Aula 2

    O que verdade?

    Objetivos: capacitar o aluno ao reconhecimento e criao de critrios para afirmar algo como verdadeiro ou falso, capacitando-o a uma anlise textual.

    Metodologia: tendo como base a metafsica2, trazer a discusso do que verdade, de como os filsofos trabalhavam a questo da verdade e

    2 Obviamente, para explanar bem, discutir e trabalhar a metafsica, a lgica etc. com os alunos levaria bem mais de uma aula, porm, para o trabalho no ser quatro aulas sobre somente um assunto, achei conveniente reduzir.

    Miolo Filosofia II.indd 23 02/04/2014 00:08:38

  • 24

    falseabilidade, assim como trazer textos para o reconhecimento desses pelos prprios educandos.

    Avaliao: trabalho para fazer em casa e em grupo. Definir o que verdade segundo dois filsofos de sua escolha, e comparar suas opinies.

    Aula 3

    Lgica

    Objetivos: Habilitar o aluno a uma melhor explanao e compreenso de suas ideias, assim como a uma melhor anlise do discurso.

    Metodologia: Atravs de jogos de lgica, discutir argumentao, premissas, silogismos etc.; posteriormente, pegar um texto, aprender conjuntamente a separar as oraes para poder observar melhor as proposies e discutir, atravs do texto, as premissas e a concluso.

    Recursos: Textos trazidos pela professora (ou tambm pedir para eles trazerem reportagens que os interessem para a aula ficar mais interessante).

    Avaliao: Capacidade do aluno de conseguir reconhecer as premissas, a concluso e anlise dessas.

    Aula 4

    Argumentao

    Objetivos: A capacidade argumentativa primordial para a construo de um pensamento filosfico, atravs dela que se pode criar qualquer discusso e anlise de discurso, elevando o nvel dos debates e das proposies para muito alm da simples afirmao do senso comum.

    Miolo Filosofia II.indd 24 02/04/2014 00:08:38

  • 25

    Metodologia: Separar a turma em trs grupos, dois que debatero um tema proposto, e um terceiro que ir avaliar os seus colegas com parmetros previamente elucidados pela professora. Os alunos tero que defender sua postura de forma lgica e contundente, embasando suas proposies, assim como iro tentar identificar os erros lgicos na argumentao dos colegas, finalizando o debate com uma sntese, podendo os dois argumentos estarem corretos, ou no.

    Avaliao: Interao e participao no debate.

    Referncia

    SECRETARIA DE EDUCAO BSICA. Cincias humanas e suas tecnologias. Braslia: Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Bsica, 2006. (Orientaes curriculares para o ensino mdio, volume 3)

    Miolo Filosofia II.indd 25 02/04/2014 00:08:38

  • Miolo Filosofia II.indd 26 02/04/2014 00:08:38

  • A Lgica na argumentaoAntnio Carlos Silveira dos Santos1

    Metodologia

    As aulas ocorrero de maneira expositiva, prtica (atravs de exerccios) e em seminrios.

    Justificativa

    Esse tema foi escolhido por mim devido emergncia de trabalhar com os alunos meios de aprender a formular de modo consistente os seus argumentos. Assim, atravs da Lgica, poderemos estruturar de maneira adequada as respostas, as perguntas, como tambm testar a validade e fora das concluses dos nossos textos e daqueles que forem trabalhados nesta disciplina e tambm nas outras. Entendo ser proveitoso o estudo da Lgica com turmas de primeiro ano do Ensino Mdio, porque poderemos auxiliar os(as) alunos(as) a aprender outra maneira de estruturar o pensamento, desse modo potencializando-os(as) a aprimorar a escrita dos seus textos no s em Filosofia, como tambm em outras disciplinas.

    Programa

    Nas duas primeiras aulas vamos estudar a introduo Lgica, algumas noes bsicas e suas caractersticas. Na terceira aula, vamos estudar a relao

    1 Professor na Escola de Ensino Fundamental Tiradentes, de Cachoeirinha (RS).

    Miolo Filosofia II.indd 27 02/04/2014 00:08:38

  • 28

    entre Lgica e Argumentao. Na quarta aula, vamos trabalhar em forma de debate sobre determinado(s) tema(s), tentando formular argumentos slidos atravs dos temas estudados nas aulas anteriores.

    Aula 1

    Introduo Lgica

    Objetivo: Parte 1: estudar o que lgica, para que serve o seu estudo e qual

    a sua importncia para a filosofia e outras reas do conhecimento. Parte 2: estudar noes lgicas: argumento (premissa, concluso);

    validade e verdade; solidez dos argumentos etc.

    Material de apoio: texto principal Algumas noes lgicas, de Antnio Anbal Padro (2004). Texto auxiliar: O que lgica, de W. H. Newton-Smith (1998), traduzido por Desidrio Murcho.

    Desenvolvimento: Sero disponibilizados dois textos, um introdutrio e outro auxiliar (uma semana antes desta aula), para a leitura pelos(as) alunos(as). A aula iniciar partindo da seguinte pergunta, o que vocs entenderam (atravs do texto) e/ou conhecem sobre lgica?. A partir dessa pergunta, vamos trabalhar sobre o que for relatado, explicando o que lgica conforme foi tratado no texto sugerido para leitura.

    Miolo Filosofia II.indd 28 02/04/2014 00:08:38

  • 29

    Aula 2

    Continuao da aula anterior e incio do estudo de lgica e argumentao

    Objetivos: Continuao da aula 1. Leitura do texto e realizao dos exerccios nele proposto.

    Material de apoio: Texto: Lgica e argumentao, de Desidrio Murcho (2003).

    Desenvolvimento: Ao finalizar as atividades da aula anterior, ser tratada de modo expositivo a noo lgica de validade formal de um argumento, por oposio validade material, com exemplos extrados do prprio texto e de outras fontes.

    Aula 3

    Aplicando a lgica em textos filosficos

    Objetivos: Exercitar o que os alunos aprenderam sobre lgica. Preparar os grupos para a atividade de debate da prxima aula.

    Material de apoio: Texto: A ideia de Deus2, de William L. Rowe (2009), traduo de Vtor Guerreiro.

    Desenvolvimento: A comear com a discusso sobre o texto lido. Segue-se a correo dos exerccios propostos no texto. Ao finalizar a atividade inicial, preparar os grupos para atividade da prxima aula, que ser trabalhada em forma de debate, sobre o tema: a existncia de Deus.

    2 Texto disponibilizado para a leitura, uma semana antes desta aula.

    Miolo Filosofia II.indd 29 02/04/2014 00:08:38

  • 30

    Aula 4

    Objetivo: Observar, atravs do debate, como os(as) alunos(as) esto se apropriando do conhecimento da lgica e a sua aplicabilidade na criao de argumentos. Criar espao para discutir sobre qual a relevncia que teve o estudo da lgica para os(as) alunos(as).

    Material de apoio: Texto Deus, por onde comear? 3, de Joo Carlos Silva (2009).

    Desenvolvimento: A turma foi dividida, na aula anterior, em 3 grupos. O primeiro grupo, que acredita na existncia de Deus; o segundo, que no acredita na existncia de Deus; e o terceiro, que tem a responsabilidade de anotar as possveis falhas nos argumentos utilizados pelos os outros dois grupos, podendo auxiliar ambos com essas informaes. Ao final da aula, ser proposta uma avaliao da turma referente ao estudo da lgica e a sua importncia.

    Referncias

    LOWE, W. L. A ideia de Deus. Crtica na Rede, 2009. Disponvel em http://criticanarede.com/deus.html. Acesso em 19 de maio de 2013.

    MURCHO, D. Lgica e argumentao. Crtica na Rede, 2003. Disponvel em http://criticanarede.com/lds_lugarlogica2.html. Acesso em 18 de maio de 2013.

    NEWTON-SMITH, W. H. O que lgica. Trad. de Desidrio Murcho. Crtica na Rede, 1998. Disponvel em http://criticanarede.com/fa_6excerto.html. Acesso em 17 de maio de 2013.

    3 Texto disponibilizado para a leitura, uma semana antes desta aula.

    Miolo Filosofia II.indd 30 02/04/2014 00:08:38

  • 31

    PADRO, A. A. Algumas noes lgicas. Crtica na Rede. 2004. Disponvel em http://criticanarede.com/log_nocoes.html. Acesso em 17 de maio de 2013.

    SILVA, J. C. Deus, por onde comear?. Crtica na Rede, 2009. Disponvel em http://criticanarede.com/iniciodeus.html. Acesso em 20 de maio de 2013.

    Miolo Filosofia II.indd 31 02/04/2014 00:08:38

  • Miolo Filosofia II.indd 32 02/04/2014 00:08:38

  • Heliocentrismo X Geocentrismo: Paradigmas e Revolues Cientficas

    Letcia Morales Brum1

    Interdisciplinaridade: Histria, Geografia, Fsica, Astronomia.Pblico: alunos do 2 ano do Ensino Mdio.Durao: 4 aulas (50 minutos cada aula).Competncias: Capacidade de interligar as disciplinas escolares e conectar o contedo aprendido na sala de aula realidade.

    Habilidades

    Identificar e refletir sobre a transitoriedade e a permanncia das teorias cientficas.

    Entender o significado da cincia normal, da crise, da cincia extraordinria e da revoluo cientfica em Thomas Kuhn.

    Pr-requisitos

    Os alunos devem j ter estudado sobre a Ruptura Epistemolgica (Bachelard) em Filosofia, as Grandes Navegaes e o Renascimento em Histria, noes de cartografia e as teorias sobre o geocentrismo e heliocentrismo em Geografia, mecnica de Galileu e Newton em Fsica.

    1 Professora na Escola Municipal Santa Rita de Cssia, de Gravata (RS).

    Miolo Filosofia II.indd 33 02/04/2014 00:08:38

  • 34

    Objetivo

    Demonstrar aproximao da filosofia com a cincia (fsica, astronomia, geografia), atravs de trechos do filme 1492 a Conquista do Paraso de Ridley Scott, textos e debates em grupo.

    Justificativa

    Justifico a utilizao do cinema como desencadeador do fazer filosfico uma vez que a arte cinematogrfica em sala de aula auxilia a escola a entrelaar o saber mais complexo (acadmico) com o saber cotidiano, como prope Napolitano (2004). Convm alertar o aluno sobre a impossibilidade de assistir ao filme inteiro, dado o tempo pequeno dos perodos.

    O professor Jnadas Techio, sobre uso do cinema em sala de aula, prope que cada vez mais filmes narrativos (incluindo sries de TV, novelas, etc.) cumprem essa funo [de formar um cnone], fornecendo o primeiro (ou mesmo o nico) cnone afetivo. Estimula o uso de filmes para o fazer filosfico, pois esses podem: ilustrar problemas filosficos, testar teorias filosficas, rodar experimentos mentais, deixar clara a importncia de uma questo filosfica, levantar questes sobre a natureza do prprio cinema 2.

    Optei por demonstrar a aproximao entre filosofia e cincia para que os alunos consigam pensar sobre as permanncias e rupturas do saber dito cientfico, alm de habilit-los a interligarem as disciplinas escolares, conectando os contedos aprendidos em sala de aula realidade.

    Este um plano ideal, levando em considerao perodos de 50 minutos semanais.

    2 Para o uso do cinema em aulas de filosofia, conferir o texto de Jnadas Techio, Cinema e Filosofia: Como? Por qu? Onde?, no primeiro volume desta publicao. (N. R.)

    Miolo Filosofia II.indd 34 02/04/2014 00:08:38

  • 35

    Metodologia

    Conforme Gallo (2011), a filosofia seria a arte de criar conceitos, o aluno teria a oportunidade de fazer ele mesmo a experincia do pensamento e no apenas decorar ideias e sistemas.

    Assim, sugere quatro momentos ou etapas didticas para que o professor dote o aluno de ferramentas necessrias para o fazer filosfico e no da decoreba de conceitos. Aconselha, tambm, que tais momentos proporcionem participao do professor como mediador do processo de aprendizagem filosfica.

    So elas:1. Sensibilizao: problemas propostos que faam sentido ao

    estudante, problemas vividos no cotidiano, proporcionados atravs de recursos no filosficos. O objetivo seria despertar no jovem interesse por um assunto ou tema. O uso de filmes, msicas, literatura (contos, poemas, romances), programas de televiso. A sensibilizao seria porta de entrada Filosofia, porque, muitas vezes, os textos filosficos so hermticos, obscuros e complicados ao leitor do ensino mdio.

    Gallo sugere que, aps o recurso no filosfico, se faa uma discusso com os alunos procurando mostrar a relao do tema escolhido com a vida dos estudantes.

    2. Problematizao: nesse passo que ocorre a transformao do tema em um problema, onde os alunos produziriam questes a partir do tema abordado. Essa etapa pode ser realizada atravs da discusso em grupos pequenos e posteriormente, exposio ao grande grupo atravs da expresso oral, buscando o debate das ideias. Tambm pode ser estimulada a dissertao de pequenos textos.

    Miolo Filosofia II.indd 35 02/04/2014 00:08:38

  • 36

    3. Investigao: j desenvolvidos os problemas ou questionamentos, os alunos iro fazer a pesquisa atravs de textos de filsofos relacionados ao tema proposto. Quais filsofos pensavam a respeito do tema? Qual o contexto histrico em que esses textos foram produzidos? Quais as possveis respostas que os filsofos propuseram acerca do tema?

    4. Conceituao: possibilita o exerccio da experincia filosfica, momento em que o estudante recria os conceitos examinados, buscando compreender o movimento do pensamento que levou criao daquele conceito.

    Descrio das aulas

    Aula 1

    Apresentar trechos do filme 1492 A conquista do Paraso de Ridley Scott.

    H uma verso editada de 8 minutos e 32 segundos no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=-48aMms8E5Y), na qual so priorizados dois eventos:

    1. Cristvo Colombo beira do mar demonstra a seu filho a circunferncia da Terra atravs da observao de um navio que se afasta no horizonte ocenico.

    2. Colombo em oposio ao pensamento cristo medieval. Ele preparado por um monge amigo, que consegue uma audincia na Universidade de Salamanca (Espanha). Em tal local, Colombo ser sabatinado pelo alto clero acerca de sua ideia de navegao em direo oeste com o objetivo de encontrar um novo caminho para as ndias. Esse fato comprovaria a esfericidade da Terra e a possibilidade de cruzar o oceano Atlntico. A divergncia entre

    Miolo Filosofia II.indd 36 02/04/2014 00:08:38

  • 37

    a Igreja Catlica do perodo (sculo XV) e Colombo est nos clculos utilizados para tal questo. Na audincia so citados Aristteles, Eraststenes e Ptolomeu (como responsveis pelas ideias vigentes sobre a imobilidade da Terra, teoria geocntrica), enquanto Colombo os refuta com os clculos de Marin De Tyr, Toscanelli e do cardeal francs Pierre DAilly.

    Aps a exibio do trecho, iniciar um debate com os estudantes estimulando-os a dar suas impresses sobre os dois eventos e tentar entrela-las com os conhecimentos adquiridos em outras disciplinas citadas acima.

    Podem ser teis questes como:

    Quem so os personagens? Que problemas so narrados e de qual perspectiva? Em que poca se passa essa narrativa?

    Logo aps, apresentar slides sobre as duas teorias a respeito da mobilidade do planeta. A teoria geocntrica (paradigma ptolomaico) e a teoria heliocntrica, paradigma desenvolvido por Nicolau Coprnico.

    Para sensibilizar os alunos, tambm, possvel question-los sobre suas prprias ideias sobre o tema heliocentrismo e geocentrismo. Introduzir a noo de paradigma (conjunto de normas e tradies dentro do qual a cincia se move, durante um perodo e em um certo contexto cultural; viso de mundo assumida pela comunidade cientfica).

    Aula 2

    Nesta etapa os alunos transformaro o tema sobre quebra de paradigmas e revoluo cientfica em um problema. Por exemplo, a dificuldade para validar uma teoria; quando uma teoria no consegue dar conta de determinados fenmenos necessria outra para explic-los? Qual seria o paradigma atual?

    Miolo Filosofia II.indd 37 02/04/2014 00:08:38

  • 38

    Atravs de slides, expor a teoria de Kuhn. Ele percebe que a histria da cincia no um processo linear e evolutivo, mas um processo no qual paradigmas se confrontam entre si. Defende que esse confronto realizado com debates, crticas, tenses (trecho do filme 1492) e lutas entre os participantes (cientistas). Evidenciar o significado de cincia normal, de crise, de cincia extraordinria e revoluo cientfica em Thomas Kuhn.

    Os alunos so convidados a fazer anotaes em seus cadernos sobre suas ideias e problemas e expor suas ideias sala de aula.

    solicitada uma visita ao link do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre Esfericidade e Mobilidade Terrestre, busca de informaes sobre Coprnico, Galileu Galilei e Newton (em sites e aos professores de histria, fsica e geografia).

    Se a escola possuir sala de informtica equipada com internet, esse ser um bom momento para iniciar a investigao da prxima aula.

    Aula 3

    Neste momento, so apresentados os textos didticos aos alunos.O manual de filosofia adotado na escola o ponto inicial, mas junto

    dele devem ser apresentados outros textos que abordem o mesmo assunto sobre filosofia da cincia (Paradigmas e Revolues Cientficas).

    A turma pode ser dividida em grupos, novamente, para que cada um tenha acesso a diferentes textos. Abaixo algumas indicaes:

    1) Fundamentos de Filosofia, de Cotrim e Fernandes, captulo 19, pgina 337;

    2) Iniciao Filosofia, de Chau, captulo 30, pginas 306 at 308;3) Filosofando, de Aranha e Martins, captulo 14, pginas 192 e 193;4) Quanta Fsica, captulo 1 do volume 3, pgina 94 e 95.

    Miolo Filosofia II.indd 38 02/04/2014 00:08:38

  • 39

    So textos curtos, de linguagem simples, porm um texto adaptado ou no de Thomas Kuhn tambm interessante, desde que a turma tenha maturidade para acompanhar a leitura.

    Aqui necessrio que os alunos sejam estimulados a realizar anlise textual atravs de uma leitura atenta, a saber:

    Sublinhar palavras desconhecidas; Procurar seu significado em dicionrios; Organizar um glossrio pessoal em um dos espaos do caderno; Fichar o texto, identificando a autoria, contexto histrico em que

    foi produzido e corrente de pensamento do autor; Organizar um esquema com a identificao dos principais tpicos.

    Aula 4

    Apresentao das observaes dos alunos a toda turma, confrontando suas ideias sobre o assunto, buscando a construo do conceito de paradigma nas diversas reas cientficas e como elas aparecem no ensino atual.

    Ser solicitada uma pequena produo textual sobre as concluses individuais, a ser entregue na aula seguinte (elaborao extraclasse).

    Avaliao

    Participao das atividades propostas e produo textual ao final.

    Referncias

    ARANHA, Maria Lcia de A. e Martins, Maria Helena P. Filosofando, introduo fi losofi a. Manual do Professor. 3 edio revista. SP. Moderna.

    CHAU, Marilena. Iniciao Filosofi a. 1 Ed. SP. tica. 2012.

    Miolo Filosofia II.indd 39 02/04/2014 00:08:38

  • 40

    COTRIM, Gilberto e Fernandes, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 1 Ed. SP. Saraiva, 2010.

    GALLO, Silvio. Chegou a hora da filosofia. Revista Educao. Disponvel em: http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/116/artigo234074-1.asp.

    KANTOR, Carlos A. (e vrios autores). Coleo Quanta Fsica. 3 vol. 1 ed. So Paulo. Ed. Pueri Domus. 2010.

    KUHN, Thomas. A estrutura das revolues cientficas. 7. ed. So Paulo: Perspectiva, 2003.

    KUHN, Thomas. A revoluo copernicana: a astronomia planetria no desenvolvimento do pensamento ocidental. Lisboa: Edies 70, 1990.

    NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. SP. Contexto. 2004.

    Filmografia

    1492 - A Conquista do Paraso - Direo de Ridley Scott (1992), durao de 148 minutos. Verso adaptada para sala de aula - http://www.youtube.com/watch?v=-48aMms8E5Y.

    Sites

    Sobre a esfericidade e mobilidade da Terra:

    http://www.das.inpe.br/ciaa/cd/HTML/dia_a_dia/1_4_2.htm.

    Sobre Thomas Kuhn:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Kuhn

    http://www.brasilescola.com/filosofia/a-filosofia-ciencia-thomas-kuhn.htm

    Sobre 1492 A Conquista do Paraso:

    http://www.youtube.com/watch?v=-48aMms8E5Y.

    Miolo Filosofia II.indd 40 02/04/2014 00:08:38

  • O Problema da InduoPaulo Ricardo Kobielski1

    Pblico: alunos do 3 ano do Ensino Mdio

    Justificativa

    Entre os principais temas de investigao filosfica est o do mtodo. Desde a Antiguidade, quase todos os filsofos se preocupam em buscar base segura, algo que garantisse a verdade de um raciocnio. Sendo assim, muitos filsofos, principalmente a partir do perodo moderno, procuraram um mtodo de investigao cientfica.

    Nesse perodo, o mtodo escolhido foi o matemtico, pois a matemtica o exemplo de conhecimento integralmente racional. Ela se tornaria, por isso, o modelo seguido pelo racionalismo do sculo XVII, representado por pensadores como Ren Descartes e Baruch Espinosa.

    Contrapondo o racionalismo, surgir, nessa poca, a corrente de pensamento empirista, baseada no mtodo indutivo de investigao cientfica, que tem entre seus fundadores Francis Bacon.

    Segundo Bacon, o mtodo indutivo concebe o conhecimento como resultado da experimentao contnua e do aprofundamento da manipulao emprica. Valorizando a observao e a aplicao da cincia, as leis cientficas seriam fundamentalmente resultado de generalizaes com base na observao de

    1 Professor no Colgio Estadual Antnio de Castro Alves e na Escola Estadual de Ensino Mdio Maurcio Sirotsky Sobrinho, ambas de Alvorada (RS).

    Miolo Filosofia II.indd 41 02/04/2014 00:08:38

  • 42

    repetio de fenmenos com caractersticas constantes. Esse procedimento chama-se induo, sendo uma lgica empirista da cincia.

    Entretanto essa concepo sofreu contestaes por parte de alguns filsofos que se questionavam se a induo garante o conhecimento ou se a induo realmente confivel.

    Assim sendo, a proposta das aulas trabalhar de forma crtica o problema da justificao da induo, em que os alunos devero ler textos filosficos de modo significativo; debater, tomando uma posio, defendendo-a argumentativamente e mudando frente a argumentos consistentes sobre esse tema relevante para os estudos filosficos.

    Objetivo

    O principal objetivo das aulas compreender os principais problemas do mtodo indutivo de investigao, que podem ser apresentados atravs de questes como: o que raciocnio indutivo? Para que servem os argumentos indutivos? Recorrer induo garante o sucesso das leis e teorias cientficas2?

    Metodologia

    Aula expositiva; Leitura de textos filosficos; Debate entre os alunos (apresentao de uma posio a ser rebatida

    por meio de argumentos); Elaborao de textos dissertativos.

    2 Conferir material da aula de Epistemologia ministrada no curso pelo professor Leonardo Ruivo (2013).

    Miolo Filosofia II.indd 42 02/04/2014 00:08:39

  • 43

    Competncias/habilidades

    Capacidade de identificar um texto filosfico; Capacidade de identificar um problema filosfico; Capacidade de distinguir tipos de argumentos (dedutivos e

    indutivos).

    1 aula

    Objetivo

    Compreender o que mtodo indutivo atravs de seus pensadores.

    Contedos3

    O que mtodo? O que mtodo indutivo?

    Desenvolvimento

    Exposio dos contedos com questionamentos sobre o que e quais so os fundamentos do mtodo;

    Leitura de fragmentos dos textos A ideia o objeto do pensamento e Todas as ideias provm da sensao ou da reflexo. (John Locke, Ensaio sobre o entendimento humano, Livro II, cap. I, Sees 1-2):

    1. Ideia o objeto do pensamento. Todo homem tem conscincia de que pensa, e que quando est pensando sua mente se ocupa de ideias. Por conseguinte, indubitvel que as mentes humanas tm vrias ideias, expressas, entre outros, pelos termos brancura, dureza, doura, pensamento, movimento,

    3 Conferir DESCARTES (2000).

    Miolo Filosofia II.indd 43 02/04/2014 00:08:39

  • 44

    homem, elefante, exrcito, embriaguez. Disso decorre a primeira questo a ser investigada: como elas so apreendidas?Consiste uma doutrina aceita que o ser primordial dos homens tem ideias inatas e caracteres originais estampados em sua mente. J examinei, em linhas gerais, essa opinio, e suponho que o que ficou dito no livro anterior ser facilmente admitido quando tiver mostrado como o entendimento obtm todas as suas ideias, e por quais meios e graus elas podem penetrar na mente; com este fim solicitarei a cada um recorrer sua prpria observao e experincia. (Ensaio, Livro II, cap. 1, seo 1)

    2. Todas as ideias derivam da sensao ou reflexo.

    Suponhamos, pois, que a mente , como dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem nenhuma ideia; como ela ser suprida? De onde lhe provm este vasto estoque, que a ativa e ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os materiais da razo e do conhecimento? A isso respondo, numa palavra: da experincia. Todo nosso conhecimento est nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o prprio conhecimento. Empregada tanto nos objetos sensveis externos como nas operaes internas de nossas mentes, que so por ns mesmos percebidas e refletidas, nossa observao supre nossos entendimentos com todos os materiais do pensamento. Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas as nossas ideias, ou as que possivelmente teremos.(Ensaio, Livro II, cap. 1, seo 2)

    Miolo Filosofia II.indd 44 02/04/2014 00:08:39

  • 45

    2 aula

    Objetivo

    Entender as diferenas entre os argumentos dedutivos e os indutivos.

    Contedos4

    Justificao a priori e a posteriori.

    Argumentos dedutivos e indutivos.

    Desenvolvimento

    Apresentao de Power Point mostrando quadro esquemtico comparativo entre os argumentos dedutivos e os indutivos;

    Abertura para discusso da turma; Elaborao, pelos alunos, de um texto dissertativo.

    3 aula

    Objetivo

    Analisar a confiabilidade da induo como mtodo cientfico.

    Contedos

    Como sabemos se a induo confivel?

    Desenvolvimento

    Leitura de excerto acerca do peru indutivista de Russell:

    4 Conferir material da aula de Epistemologia ministrada no curso pelo professor Eros Carvalho (2013)

    Miolo Filosofia II.indd 45 02/04/2014 00:08:39

  • 46

    [O peru descobrira] que, em sua primeira manh na fazenda de perus, ele fora alimentado s 9 da manh. Contudo, sendo um bom indutivista, ele no tirou concluses apressadas. Esperou at recolher um grande nmero de observaes do fato de que era alimentado s 9 da manh, e fez essas observaes sob uma ampla variedade de circunstncias, s quartas e quintas-feiras, em dias quentes e dias frios, em dias chuvosos e dias secos. A cada dia acrescentava uma outra proposio de observao sua lista. Finalmente, sua conscincia indutivista ficou satisfeita e ele levou a cabo uma inferncia indutiva para concluir. Eu sou alimentado sempre s 9 da manh. Mas, ai de mim, essa concluso demonstrou ser falsa, de modo inequvoco, quando, na vspera do Natal, ao invs de ser alimentado, ele foi degolado. Uma inferncia indutiva com premissas verdadeiras levara a uma concluso falsa. (CHALMERS, 1993, pp. 38-9)

    Discusso do texto com a turma organizada em crculo; Diviso da turma em dois grupos distintos: pr-induo e crticos

    da induo; Preparao dos argumentos para o seminrio a realizar-se na

    prxima aula sob o ttulo: Induo: sim ou no.

    4 Aula

    Objetivo

    Debater e apresentar argumentos consistentes a favor e contra o mtodo indutivo.

    Miolo Filosofia II.indd 46 02/04/2014 00:08:39

  • 47

    Contedo

    O problema da induo.

    Desenvolvimento

    Organizao da turma em crculo; Seminrio com apresentao dos grupos, previamente preparados,

    com argumentos consistentes a favor e contra a induo; Concluses.

    Avaliao

    Exposio e argumentao das teorias por parte dos alunos.

    Referncias

    Preparao das aulas:

    CARVALHO, Eros. O problema da justificao da induo. Curso de Formao Continuada em Filosofia para professores do Ensino Mdio do RS. UFRGS, 2013. Disponvel em < http://goo.gl/9jq25e.>

    DECARTES, Ren. Discurso do mtodo. Editora Nova Cultural, 2000. Coleo Os Pensadores.

    RUIVO, Jos Leonardo Annunziato. Temas Filosficos: Epistemologia e Induo. Curso de Formao Continuada em Filosofia para professores do Ensino Mdio do RS. UFRGS, 2013. Disponvel em < http://goo.gl/LbV8T4>

    Utilizadas em sala de aula:

    CHALMERS, David. O que a cincia, afinal? Editora Brasiliense, 1993. p. 38-39.

    LOCKE, John. Livro II, Cap. I, Sees 1-2. Ensaio sobre o entendimento humano. Editora Nova Cultural, 2000. Coleo Os Pensadores.

    Miolo Filosofia II.indd 47 02/04/2014 00:08:39

  • Miolo Filosofia II.indd 48 02/04/2014 00:08:39

  • Determinismo e livre arbtrioThiago Delade da Silva1

    Pblico: alunos do 2 ou 3 ano do Ensino Mdio

    Pretendo apresentar uma proposta de uma sequncia de aulas de filosofia para o Ensino Mdio sobre o problema do livre-arbtrio, cuja abordagem leva em considerao a metodologia filosfica de trabalhar a partir de problemas filosficos visando refletir sobre suas solues tericas atravs da anlise de conceitos e argumentos.

    Justificativa

    O tpico escolhido para desenvolver uma proposta de aulas de filosofia para o ensino mdio foi o problema do livre-arbtrio, que se trata de um tema muito discutido na metafsica clssica, como tambm em toda a histria da filosofia; tambm possui uma importncia fundamental para a tica, uma vez que costumamos compreender a moralidade como tendo uma estreita relao com a liberdade.

    O livre-arbtrio encontrou objees ao longo da histria da filosofia por diversos filsofos e pensadores de diversas reas. Uma das objees mais fortes ao livre-arbtrio o chamado determinismo cientfico. O determinismo cientfico postula que todos os eventos que ocorrem so determinados, inclusive as aes humanas. Se o livre-arbtrio depende de que

    1 Professor no CMEB Cordlia Simon Marques, de Esteio (RS).

    Miolo Filosofia II.indd 49 02/04/2014 00:08:39

  • 50

    as aes humanas sejam livres de determinaes, ento parece que a noo de decises livres uma iluso. E se o livre-arbtrio no existe, ento toda a moralidade fica comprometida, pois como seria possvel responsabilizar as pessoas pelas suas aes uma vez que elas no teriam tido a possibilidade de escolher livremente agir de outra forma?

    Objetivos

    Desenvolver no estudante habilidades e competncias filosficas de natureza reflexiva terico-conceitual e argumentativa escrita e oral. Habilidades e competncias a serem desenvolvidas: argumentao, debate filosfico, pensamento crtico, anlise conceitual, reflexo filosfica, abstrao.

    Sequncia de aulas

    Aula 1

    Introduzindo o tema da liberdade e do problema do livre-arbtrio

    Esta aula tem o objetivo de sensibilizar os alunos para adeso ao tema proposto e introduzir o problema do livre-arbtrio de maneira que os alunos sintam-se cativados a discuti-lo.

    Roteiro de aula

    1. Introduo1.1 Comear com a pergunta: voc se considera livre?1.2 Videoclipe: Admirvel Chip Novo Pitty(2013) (anlise da msica

    e letra) 1.3 Discusso livre a partir da msica: somos livres ou manipulados?

    Miolo Filosofia II.indd 50 02/04/2014 00:08:39

    PriscillaLine

    PriscillaLine

    PriscillaLine

    PriscillaLine

    PriscillaLine

  • 51

    2. Defi nindo conceitos: apresentar a definio de livre-arbtrio segundo o Dicionrio de Lngua Portuguesa e segundo o dicionrio de Filosofia (HILTON e MARCONDES, 2008). (comparar definies).

    3. Problematizao3.1 Leitura do texto No existe caminho que j no tenha sido

    trilhado (PESSIN, 2012, pp. 35-6). Discutir os argumentos do autor com os alunos.

    3.2 Leitura de artigo da revista Super Interessante, Cientistas dizem que livre-arbtrio no existe (NOGUEIRA, 2013). Discutir com os alunos o experimento dos cientistas e a concluso qual chegaram.

    3.3 Comparar os dois textos e problematizar com os alunos: ser, ento, que o livre-arbtrio apenas uma iluso?

    3.4 Analisar as consequncias de aceitar a iluso do livre-arbtrio: se o livre-arbtrio no existe, ento no h como responsabilizar ningum por suas aes, uma vez que no poderiam agir de maneira diferente. Ento, como fica a moralidade? Como resolver esse impasse?

    Aula 2

    Investigao filosfica: respostas ao problema do livre-arbtrio

    O objetivo desta aula explorar algumas respostas ao problema do livre-arbtrio de uma forma expositivo-dialogada, trazendo os argumentos de cada teoria, bem como suas objees e crticas.

    Ser feita uma exposio das principais posies filosficas (teorias) acerca do livre-arbtrio e sero analisados com os alunos os seus principais argumentos. As teorias a serem investigadas so:

    Miolo Filosofia II.indd 51 02/04/2014 00:08:39

  • 52

    1. Determinismo: sustenta que, pelo fato de tudo a nossa volta ter causas determinadas, temos que aceitar que o livre-arbtrio no existe, no passando de uma iluso. Devemos aceitar as consequncias dessa concluso.

    2. libertismo: defende que determinismo e livre-arbtrio so incompatveis, portanto o determinismo deve ser falso, pois, se fosse verdadeiro, negaria o livre-arbtrio.

    3. Compatibilismo: defende que determinismo e livre-arbtrio so compatveis, ou seja, ambos no se excluem. Isso significa que se o determinismo verdadeiro, no se segue que o livre-arbtrio no existe.

    A exposio ser feita por meio de slides, nos quais o aluno poder acompanhar por meio de textos, imagens e esquemas, a exposio do professor e participar com suas intervenes.

    Aula 3

    Investigao filosfica trabalho em grupos

    O objetivo desta aula propor aos alunos um trabalho em grupo a partir da investigao filosfica das teorias apresentadas na aula anterior a respeito do problema do livre-arbtrio a fim de preparar um seminrio para a aula seguinte, na qual acontecer o debate final.

    Roteiro de aula:

    Os alunos sero divididos em 3 grupos. Cada grupo ficar responsvel por estudar uma das teorias apresentadas e defend-las no debate final;

    Ser entregue para os alunos o texto base O problema do livre-arbtrio (COSTA, 2012), o qual servir de referncia

    Miolo Filosofia II.indd 52 02/04/2014 00:08:39

  • 53

    para a investigao do Determinismo, do Libertismo e do Compatibilismo;

    Os alunos estudaro o texto em grupo, discutindo os argumentos ali apresentados;

    Os alunos prepararo uma defesa da teoria para a prxima aula. Podero escrever seus argumentos ou preparar um discurso oral. Eles sero orientados a imaginar possveis objees aos seus argumentos para no serem pegos de surpresa.

    Obs.: os alunos podero fazer pesquisas extras sobre as teorias, em livros ou na internet.

    Aula 4

    Seminrio (Debate Filosfico)

    O objetivo desta aula colocar as respostas e os argumentos das teorias apresentadas e investigadas nas aulas anteriores, a saber, o Determinismo, o Libertismo e o Compatibilismo, em discusso atravs de um seminrio, promovendo assim o debate e ensaiando com os alunos a capacidade crtica, a argumentao e a expresso oral.

    Proposta de trabalho:

    Na aula anterior, sob a orientao do professor, cada grupo escolhe um representante para defender a sua teoria e apresentar seus argumentos;

    Os demais grupos analisam a defesa e elaboram objees (oralmente ou por escrito);

    O professor far intervenes e comentrios necessrios e estimular o debate e a anlise dos argumentos opostos.

    Miolo Filosofia II.indd 53 02/04/2014 00:08:39

  • 54

    Aula 5

    Produo textual

    O objetivo desta atividade propor um instrumento que avaliar a capacidade do aluno de articular os contedos estudados nas aulas anteriores a fim de desenvolver uma reflexo filosfica sobre o problema do livre-arbtrio, ensaiando suas prprias ideias e argumentos e expressando-os por meio da escrita filosfica.

    Proposta:

    Dissertao filosfica com o tema: Ser o livre-arbtrio uma iluso? Se o livre-arbtrio no existe, ento a responsabilidade moral tambm uma iluso?

    Cada aluno dever escrever um pequeno texto de carter argumentativo sobre o tema livre-arbtrio posicionando-se frente s teorias e aos argumentos apresentados e discutidos em aula.

    Obs.: essa atividade tanto pode ser feita em aula, como se fosse uma prova, ou pode ser realizada como uma avaliao extraclasse, na forma de um trabalho para ser entregue em data a ser determinada.

    Avaliao

    A avaliao ser contnua e processual, mas contar com alguns instrumentos pontuais. O aluno ser avaliado atravs de:

    sua participao e envolvimento durante as aulas atravs de colocaes, perguntas e do interesse demonstrado;

    trabalho em grupo envolvendo pesquisa, leitura e anlise de argumentos filosficos;

    Miolo Filosofia II.indd 54 02/04/2014 00:08:39

  • 55

    debate filosfico (cada grupo dever defender uma teoria a respeito do problema do livre-arbtrio);

    produo textual: dissertao filosfica (levar em considerao se o aluno desenvolveu argumentao, se capaz de se posicionar reflexivamente sobre o tema proposto, se consegue articular conceitos que aprendeu nas aulas a fim de apresentar seu prprio ponto de vista).

    Referncias

    COSTA, C. Uma Introduo Contempornea Filosofia. So Paulo: Martins Fontes, 2002, pp. 267-275. Disponvel em: acesso em: 15 de maio de 2013.

    GARRETT, B. Livre-arbtrio. In: GARRETT, B. Metafsica: Conceitos-chave em filosofia. Porto Alegre: Artmed, 2008. cap. 7, p.109-125.

    HILTON, J. ; MARCONDES, D. Dicionrio Bsico de Filosofia. 5 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

    NAGEL, T. Livre-arbtrio. In: NAGEL, T. Uma breve introduo filosofia. So Paulo: Martins Fontes, 2001. p.49-61.

    NOGUEIRA, S. O livre-arbtrio no existe: A Cincia comprova: voc escravo do seu crebro.s, Super Interessante, 2008. Disponvel em: . Acesso em: 15 maio 2013.

    PRINZ, J. Mente e corpo: Livre-arbtrio. In: PAPINEAU, D. et al. Filosofia: Grandes pensadores, principais fundamentos e escolas filosficas. So Paulo: Publifolha, 2009. cap. 2, p.44-70.

    PESSIN, A. Filosofia em 60 segundos: expanda sua mente com um minuto por dia. So Paulo: Leya, 2012. p.35-6.

    STACE, W.T. Compatibilismo. In: Louis P. (2006). Philosophy: The Quest for Truth. 6. ed. Nova Iorque: Oxford University Press, pp. 36974. Traduo e adaptao de Vtor Joo Oliveira. Disponvel em: acesso em: 15 de maio de 20013.

    Miolo Filosofia II.indd 55 02/04/2014 00:08:39

  • 56

    PITTY. Admirvel Chip Novo. Disponvel em: < http://www.vagalume.com.br/pitty/admiravel-chip-novo.html >. Acesso em: 08 outubro 2013.

    WARBURTON, N. O bsico da filosofia. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 2008.

    YARAK, A. O livre-arbtrio no existe, dizem neurocientistas. , Veja,2012. Disponvel em: . Acesso em: 15 maio 2013.

    Miolo Filosofia II.indd 56 02/04/2014 00:08:39

  • Utilitarismo em ticaMichele Santos da Silva1

    Pblico: alunos do 7 ano do Ensino Fundamental.Tempo de desenvolvimento: 4 aulas de 50 minutos.

    Objetivos

    Objetivo Principal: conhecer a teoria utilitarista de fundamentao da ao moral.

    Objetivos Especficos:

    Questionar-se sobre o que diferencia uma ao certa de uma errada; Entender e posicionar-se em relao ao tipo de justificao para a

    ao moral dada a partir da teoria utilitarista de John Stuart Mill; Perceber os problemas do Utilitarismo.

    Justificativa

    Desde cedo comeamos a aprender que algumas aes so corretas, como dizer a verdade, e outras repreensveis, como mentir, por exemplo. As crianas pequenas costumam obedecer ou seguir o exemplo de ao dos pais, professores e pessoas mais velhas, que lhes impem certas regras de ao. Porm, em um momento de suas vidas, provavelmente na adolescncia,

    1 Professora na EMEF Heitor Villa Lobos, de Porto Alegre (RS).

    Miolo Filosofia II.indd 57 02/04/2014 00:08:39

  • 58

    comeam a questionar essas regras de conduta e perceber que nem sempre o que querem fazer o que considerado certo fazer. Nesse contexto, creio ser significante explorar os diferentes tipos de fundamentao para ao dadas por diferentes teorias ticas filosficas, tais como utilitarismo, deontologismo e emotivismo. A partir da minha experincia, creio ser melhor comear com o utilitarismo, por ser de mais fcil compreenso e adeso. Alm disso, os experimentos mentais usados para lanar dvidas sobre essa teoria so interessantes para os alunos e podem facilmente lev-los a construir, por si s, os elementos das outras teorias de fundamentao da ao.

    Aula 1

    Consequncias da ao

    Essa aula baseada no livro Philosophy for Kids, Cap. 6: Divertir-se faz voc mais feliz que estudar?2 (WHITE, 2001, p 24-5).

    Objetivo:

    Instigar questes sobre a relao entre ao e consequncia para a felicidade, a fim de preparar a turma para discutir o princpio utilitarista de John Stuart Mill.

    1 Momento:

    Perguntar aos alunos: divertir-se faz voc mais feliz que estudar? (deix-los falar livremente, mas interessante fazer alguns questionamentos, por exemplo: perguntar, aos alunos que respondem negativamente, por que no?. Perguntar, aos alunos que respondem afirmativamente, se eles acham que uma pessoa que s se divertisse seria feliz a vida toda).

    2 Quando preciso, fao tradues livres de textos em ingls para utilizar com meus alunos.

    Miolo Filosofia II.indd 58 02/04/2014 00:08:39

  • 59

    2 Momento: Atividade

    Essa atividade pode ser feita de duas maneiras: distribuir cpias para os alunos ou passar no quadro. Atividade baseada em Philosophy for Kids, Cap. 6: Divertir-se faz voc mais feliz que estudar? (p 24-5).

    A lista a seguir representa oito tipos de atividades. Imagine que todas elas podem fazer parte de uma vida feliz. Leia as oito e classifique-as de 1 a 8 de acordo com a importncia que voc acha que cada uma tem para felicidade:

    a) Ir ao dentista. ___b) Comer sua comida favorita. ___c) Jogar. ___d) Ler um livro. ___e) Pensar profundamente sobre um assunto. ___f) Divertir-se com um amigo. ___g) Ajudar um colega com o tema. ___h) Debater sobre um assunto interessante. ___

    3 Momento:

    Ler cada uma das atividades e perguntar aos alunos que classificao deram. Ir conversando, perguntando as razes da classificao. O objetivo que eles distingam o prazer imediato que uma ao pode trazer das consequncias futuras que ela possa trazer para uma vida feliz.

    4 Momento:

    Pedir aos alunos que digam o que consideram mais importante na vida. Fazer uma lista no quadro. (Geralmente aparece: sade, famlia, amizade, felicidade, amor). Essa atividade ser importante para a realizao do debate na aula seguinte.

    Miolo Filosofia II.indd 59 02/04/2014 00:08:39

  • 60

    Aula 2

    Como ser feliz?

    Essa aula baseada no livro Philosophy for Kids, Cap. 6: Divertir-se faz voc mais feliz que estudar? (p 24-5).

    Objetivo:

    Apresentar e discutir o princpio utilitarista que define felicidade como ter experincias aprazveis.

    1 Momento:

    Retomar o exerccio da aula passada, citar as opinies, argumentos e concluses mais gerais. (Na aula passada fizemos um exerccio de classificao de aes, algumas pessoas classificaram atividades que do prazer imediato como mais importantes para a felicidade, enquanto outras acham que atividades que, embora no sejam to imediatamente prazerosas, podem trazer mais felicidade. Por qu?)

    2 Momento:

    Apresentar o Princpio utilitarista de John Stuart Mill.As definies abaixo devem ficar visveis para os alunos durante a

    discusso (no quadro, projetor ou em cartazes):De acordo com John Stuart Mill (1806 - 1873), felicidade ter, ao longo da

    vida, um saldo mais positivo de prazer do que de dor, lembrando que Mill no pensa que o prazer pode resultar apenas de atividades como dormir e comer chocolate, mas tambm da leitura e da resoluo de problemas matemticos.

    Essa teoria diz que, das possveis aes ao seu alcance, voc deve escolher aquela que ir trazer o maior bem para a maioria das pessoas, isto , aquela que ir maximizar a felicidade. (WHITE, 2001, P. 53). Esse o princpio de utilidade.

    Miolo Filosofia II.indd 60 02/04/2014 00:08:39

  • 61

    Pode-se analisar, aqui, dois aspectos dessa teoria:

    Primeiro aspecto: a importncia dos prazeres para uma vida feliz.No entanto, Mill dizia que nem todo o prazer tem a mesma importncia,

    alguns so melhores que outros e uma vida feliz deve incluir os mais variados prazeres.

    Retomar a atividade feita no 4 momento da Aula 1, no qual foi feita uma lista coletiva de coisas importantes na vida. Questionar se possvel fazer uma relao entre o princpio utilitarista e esses valores, de modo a pensar se essa filosofia pode ser til ou no para alcanar a felicidade na forma como aparece na lista elaborada pelos alunos.

    Segundo aspecto: por que no agir de forma a aumentar o prazer e diminuir o sofrimento s para mim?

    Aqui cabe um experimento mental: imagine o mundo se todo mundo agisse de forma egosta (mentindo para tirar vantagem; pegando o que quer, mesmo que pertena a um colega; matando, se necessrio etc.). Seria mais fcil ou mais difcil ser feliz em um mundo assim? Ou seja, a felicidade ou infelicidade dos outros influencia minha felicidade?

    3 Momento:

    Questes que podem ser respondidas em casa (cf. WHITE, 2001, p. 25):

    1. Voc pode ser feliz sem, necessariamente, estar feliz? Se felicidade um sentimento, ento pode vir e ir; mas, se felicidade um estado, ento pode ser muito mais permanente. Para Mill, felicidade um sentimento ou um estado (ou uma combinao dos dois)? Justifique sua resposta.

    2. Felicidade inclui sentir-se satisfeito com sua vida e praticar boas aes para os outros. Voc concorda ou discorda? Por qu?

    Miolo Filosofia II.indd 61 02/04/2014 00:08:39

  • 62

    Aula 3

    Aplicao do conhecimento

    Objetivo:

    Perceber, atravs de uma situao cotidiana, a aplicao do utilitarismo. Introduo da teoria deontologista.

    1 Momento:

    Dramatizao do dilogo A Mentira e questes para discusso. (Cap. 6 - Mentir sempre errado? - (KAYE e THOMSON, 2007, pp. 51-52). Esse dilogo introduz, de forma simples, as fundamentaes utilitarista e deontolgica para ao moral.

    Essas dramatizaes podem ser complicadas nas primeiras vezes, mas assim que os alunos se acostumam, passam a gostar e se envolvem mais. Pode-se pedir, em uma aula anterior, que um grupo de alunos ensaie para apresentar ou produza um vdeo. Nas primeiras vezes, eu costumo participar da dramatizao para encoraj-los.

    2 Momento:

    Resposta individual s questes. Acho importante cada aluno responder individualmente no caderno, pois isso estimula a procurar os argumentos e opinar individualmente.

    1. Por que Alex pensa que mentir ok? Por que Shaniqua pensa que mentir errado? Com quem voc concorda mais? Por qu?

    2. Voc acha que pode haver um bom motivo para mentir? Por qu?3. Descreva um exemplo de mentira que voc acha errada. Suponha

    que algum diga que correto mentir nesse caso. Como voc explicaria a essa pessoa o porqu errado mentir nesse caso?

    4. Alex ou Shaniqua tem uma justificao utilitarista? Justifique.

    Miolo Filosofia II.indd 62 02/04/2014 00:08:39

  • 63

    Aula 4

    Problematizao da teoria

    Objetivo:

    Problematizar a teoria utilitarista atravs de experimentos mentais.

    1 Momento:

    Debate sobre as respostas e relao com a teoria estudada, no caso, o utilitarismo.

    2 Momento:

    Apresentao de Experimentos Mentais. Pode ser interessante pedir que, aps a apresentao de cada experimento, o aluno escreva, em seu caderno, o que faria e a razo, pois se pedirmos para responderem oralmente, as respostas podem ser influenciadas por colegas. Enfim, o debate posterior fica mais interessante quando os alunos formaram sua opinio individualmente e a justificaram, por dois motivos:

    1. Esforam-se por justificar sua opinio;2. Se seus argumentos no forem bons, podem perceber o erro durante

    o debate.Experimento Mental 1: O Trem Descontrolado I.

    Nesse experimento, a maioria tem uma resposta utilitarista: salvar o maior nmero de pessoas. Ilustra um caso de sucesso ao aplicar o princpio utilitarista.

    Experimento Mental 2: O Trem Descontrolado II.

    Nesse caso, as pessoas ficam mais receosas em aplicar o princpio utilitarista.

    Miolo Filosofia II.indd 63 02/04/2014 00:08:39

  • 64

    Experimento Mental 3: O Trem Descontrolado III.

    Nesse caso, a pessoa que morrer seu filho.

    Experimento Mental 4: A Cidade Perfeita.

    A ideia perceber que, embora o utilitarismo seja atraente primeira vista, pode deixar de s-lo quando uma escolha mais difcil e trar, de qualquer forma, alguma infelicidade para algum lado envolvido. Pode servir para discutir o deontologismo, teoria na qual h regras morais que devem sempre ser respeitadas, como salvar a vida de inocentes, por exemplo.

    Material:

    A descrio dos experimentos mentais do Trem Descontrolado I e II pode ser encontrada no artigo da Revista Superinteressante Dilemas Morais: o que voc faria? (link nas referncias)

    Nas referncias, h um link para um vdeo que dramatiza os casos I e II do trem descontrolado (DONOVAN, 2008) (no tem legendas, mas pode ser utilizado mesmo assim). Tambm, um vdeo dramatizando o caso do Trem Descontrolado III: Um trem ou seu filho (ICITUBE, 2009).

    Referncias

    DONOVAN, P. The Trolley Problem. 2008. 1 post (2min 15s). Postado em 2008. Disponvel em http://youtu.be/Fs0E69krO_Q

    ICITUBE. Um trem ou seu filho? Que deciso voc tomaria. 2009. 1 post (6min 51s.). Postado em 2009. DIsponvel em http://youtu.be/PFfpmhWiQgQ.

    KAYE, S; THOMSON, P. Philosophy for Teens. [s. l.]: Prufrock Press, 2007.

    MARTON, F. Dilemas morais: o que voc faria?. Superinteressante, 2008. Disponvel em

    WHITE, David. Philosophy for Kids. [s. l.]: Prufrock Press, Inc, 2001.

    Miolo Filosofia II.indd 64 02/04/2014 00:08:39

  • tica do Meio AmbienteMarina Aparecida Madeira1

    Justificativa

    No Curso de formao continuada para professores de filosofia do ensino mdio no RS foi ministrada pelo prof. Dr. Fernando Rocha, no dia 23 de maro de 2013, a aula sobre Cincia, tica e Meio Ambiente (Conferncia dada por Jos Lutzenberger). Nessa aula discutimos a importncia da filosofia do meio ambiente e a necessidade de sua reflexo, assim como aponta Jos Lutzenberger: A viso de mundo moderna a causa que se encontra base da destruio do nosso sistema de suporte a vida do planeta. Assim sendo, a filosofia do meio ambiente fundamental, merece mais ateno do que a que tem obtido (LUTZENBERGER, 1992, p. 23)2.

    Destarte, a pertinncia do tema tratado serviu de fundamento para a confeco deste plano de ensino, haja vista que est relacionada com a percepo dos danos causados natureza, que refletem diretamente (uns em curto prazo, outros em longo prazo) no homem, que tambm parte da natureza. A problematizao do assunto em aula permite criarmos uma compreenso e mobilizao, podendo gerar insumos para uma atitude crtica do comportamento e de seus resultados. Por ser um contedo interdisciplinar,

    1 Graduada em Filosofia pela Universidade Federal de So Joo del-Rei (UFSJ).2 O trecho foi retirado da transcrio original, feita sob a superviso de Fernando Jos R. da Rocha, da comunicao de Jos Lutzenberger no Congresso sobre tica, Universidade e Meio Ambiente, que ocorreu em 1992 em Porto Alegre. A transcrio foi versada para o ingls tambm sob superviso de Rocha e editada para publicao por J. Baird Callicott. A referncia dada indica a localizao do texto na sua verso publicada. (N. R)

    Miolo Filosofia II.indd 65 02/04/2014 00:08:39

  • 66

    permite ainda o desenvolvimento conjunto com outras disciplinas como, por exemplo: histria, geografia, biologia. Visto que ressalta o fato de que o conhecimento no opera de forma isolada, o dilogo entre os saberes cria elos fecundos e amplia a correlao intrnseca entre os saberes, enriquecendo, dessa maneira, a perspectiva da formao pessoal.

    Objetivos

    Anlise textual, temtica, interpretativa das atividades desenvolvidas em aula e sua relao com o contexto Sociocultural;

    Problematizao contempornea acerca da cincia e de como ela afeta benfica ou nocivamente o meio ambiente e o homem;

    Compreenso da responsabilidade tica contempornea em relao s geraes futuras e ao meio ambiente.

    Momentos da aula

    O encadeamento das aulas foi escolhido com o objetivo de ajudar no desenvolvimento das habilidades referidas por fornecer ao educando um papel ativo no ato da aprendizagem, enquanto o professor exerce a funo de orientador nesse processo. Esse encadeamento foi proposto para propiciar aos educandos condies de construir o conhecimento de forma crtica, a partir da realidade na qual esto inseridos.

    Assim, as quatro aulas seguiram o seguinte encadeamento:

    Apresentao do tema (aula 1) Feita com o intuito de despertar a ateno do educando para a temtica, que ser vista ao reunir, tambm, o conhecimento prvio sobre o assunto que o educando traz consigo, por meio de discusso sobre a temtica, de forma livre e espontnea;

    Miolo Filosofia II.indd 66 02/04/2014 00:08:39

  • 67

    Aprofundamento do tema (aula 2) Privilegia a insero do educando na temtica de forma mais ampla, atingindo a compreenso dos fatos e conceitos ligados ao tema. Nesse caso, a anlise do texto proposto permite ao educando transformar o que foi apreendido pela leitura em interpretao pessoal do mundo, destarte contribui para a construo do conhecimento sociocultural;

    Ampliao do tema (aula 3) O educando, j detentor de uma noo clara do assunto a ser abordado, convidado especulao dos princpios que norteiam o tema, sua relevncia ou irrelevncia para a atualidade e as consequncias que podem advir de uma ao irrefletida sobre o presente;

    Sistematizao do contedo (aula 4) Para finalizar o contedo o educando ir desenvolver, por meio de uma dissertao individual, o contedo e a anlise feita acerca do tema proposto.

    Aula 1

    Apresentao do tema tica e meio-ambiente

    A nossa gerao possui um desafio decorrente do uso excessivo dos recursos naturais, da degradao do espao urbano, da contaminao do ar, das guas e da terra, da extino de espcies animais e florestais, entre outros. Por isso, faz-se pertinente a discusso tica sobre o meio ambiente, com o intuito de estabelecermos o esclarecimento e a viso crtica da realidade que nos confronta.

    Objetivos especfi cos:

    Identificar as ideias que os estudantes j possuem sobre o tema proposto;

    Despertar o interesse e a participao nas discusses referentes tica ecolgica, inclusive a percepo de que o assunto diz respeito a problemas globais dignos de reflexo e esto intrinsecamente

    Miolo Filosofia II.indd 67 02/04/2014 00:08:39

  • 68

    ligados ao cotidiano, forma de vida que levamos, entre outros fatores;

    Estimular a conscincia crtica diante de problemas contemporneos ligados sustentabilidade;

    Auxiliar no desenvolvimento socioafetivo, por meio do trabalho em grupo;

    Desenvolver habilidades de expresso oral na abordagem de temas filosficos;

    Elaborar hipteses e questes a partir do vdeo e da discusso em grupo.

    Descrio das atividades:

    Na aula de abertura, os educandos sero incentivados a explicar e analisar, de modo livre, o significado do ttulo do vdeo: Problemas Ambientais Globais e a Industrializao. Aps o dilogo, o vdeo proposto ser passado para a turma. O vdeo visa estimular o questionamento sobre os problemas ambientais e a realidade.

    Aps, a turma ser dividida em seis grupos, cada grupo ficar com uma imagem (o professor poder buscar imagens, de sua preferncia, que remetam a problemas ambientais), e ter que identificar e relacionar a imagem com o contedo visto no vdeo. Depois de alguns minutos, o grupo (ou um representante) apresentar de forma objetiva e resumida a reflexo sobre a atividade proposta. Por fim, faremos uma sntese das vrias contribuies da classe, explicitando no quadro.

    Recursos:

    Vdeo: Problemas Ambientais Globais e a IndustrializaoImagens que estimulem os alunos a pensar sobre os problemas

    ambientais de nossa poca.

    Miolo Filosofia II.indd 68 02/04/2014 00:08:39

  • 69

    Aula 2

    Aprofundamento do tema

    Esta aula nasce da necessidade de fazermos uma nova anlise sobre a relao entre: cincia, homem e ambiente. Isso porque temos presenciado os efeitos colaterais do desenvolvimento cientfico e da inconsequente explorao capitalista, a qual coloca o lucro acima da vida. Como esses problemas so atuais e esto ligados diretamente poca em que vivemos, importante que eles sejam abordados com os educandos. Faz-se necessria, portanto, uma conscientizao histrica desses problemas, para iniciarmos um caminho destinado identificao de possveis solues.

    Objetivos especfi cos:

    Compreender o processo histrico que origina as preocupaes com os recursos naturais;

    Examinar criticamente a problemtica; Analisar as diferenas e semelhanas semnticas em relao a

    autores distintos; Desenvolver uma atitude crtico-reflexiva em relao aos problemas

    ambientais.

    Descrio das atividades:

    Nesta segunda aula, os educandos recebero o texto: Sustentabilidade e tica Ecolgica. A atividade consiste em leitura, interpretao e resoluo de questes. O trabalho possuir trs questes objetivas e duas dissertativas com base no texto citado anteriormente.

    Miolo Filosofia II.indd 69 02/04/2014 00:08:39

  • 70

    Texto de apoio:

    Sustentabilidade e tica Ecolgica

    O termo sustentabilidade surgiu recentemente, em 1987. Segundo especialistas, a primeira pessoa a utilizar o termo foi uma ministra da Noruega (Gro Brundtland) ao proferir a seguinte frase: Desenvolvimento sustentvel significa suprir as necessidades do presente sem afetar a habilidade das geraes futuras de suprirem as prprias necessidades. Ainda, podemos analisar no somente a origem do uso termo, mas tambm sua etimologia, pois sua origem etimolgica pode nos revelar suas peculiaridades.

    O termo sustentabilidade originou-se de sustentvel, de sustentar, do Latim SUSTINERE, aguentar, apoiar, suportar, de SUB-, abaixo, mais TENERE, segurar, agarrar. Conforme o dicionrio Aurlio da Lngua Brasileira, sustentvel significa: adj. que se pode sustentar, capaz de se manter mais ou menos constante, ou estvel, por longo perodo.

    Manter-se estvel por longo perodo uma preocupao contempornea, pois o desenvolvimento da tcnica trouxe muitos benefcios para o ser humano, mas no somente isso. Vivemos uma poca de crise ambiental com terrveis impactos sobre a natureza e, consequentemente, sobre o homem, que tambm parte da natureza, pois possui uma natureza fsica. Enfrentamos atualmente vrios problemas: a exploso demogrfica, o aquecimento global, a depredao dos recursos naturais, a contaminao do ar, das guas e da terra, a extino de espcies animais e florestais.

    O avano da tcnica combinada com a cincia moderna possibilitou e ampliou a compreenso do cosmos (mundo). A preciso com a qual os cientistas explicavam e dominavam a natureza serviu para fortalecer a confiana na razo experiencial (cincia).

    O domnio da natureza reforou a crena na cincia como aquela forma de saber que resolveria todos os problemas do homem no mundo. Toda uma gerao acreditou que a histria j estava marcada por um progresso contnuo

    Miolo Filosofia II.indd 70 02/04/2014 00:08:39

  • 71

    e que o desenvolvimento moral acompanharia o desenvolvimento tcnico. Entretanto, o advento das guerras, da bomba atmica e dos problemas ambientais fez com que o homem repensasse a ideia de progresso, pois a tcnica criada para atender s necessidades humanas tornando a vida menos rude pode ser usada para destruir toda a humanidade. Tal percepo ocorreu com o tempo, pois ainda no era visvel o resultado catastrfico da m utilizao da cincia.

    Alm dos resultados imprevistos da cincia, a sociedade industrial capitalista possui uma relao de explorao com o ambiente natural, visando lucros sem se preocupar com o impacto negativo da depredao.

    No entanto, hoje necessrio fazermos uma nova anlise sobre a relao entre: cincia, homem e ambiente natural. E com o intuito de apontar uma direo resposta desses problemas atuais surge a figura do filsofo alemo Hans Jonas (1903 - 1993).

    Com a obra Princpio Responsabilidade, Hans Jonas prope um novo enfoque nos estudos sobre tica, trata-se da responsabilidade e deveres com os seres futuros. Antigamente o foco da tica estava entorno daqueles que so prximos, no tratava da responsabilidade com as geraes futuras. Hans Jonas prope que devemos ter uma preocupao com aqueles que ainda no foram gerados.

    Em sua tese, Hans Jonas procura demonstrar como as ticas clssicas e modernas no conseguem lidar com o futuro, pois focalizam somente aquilo que prximo, dessa forma, prope a seguinte questo: temos o direito de arriscar a vida futura da humanidade e do planeta? Ele conclui que no temos o direito de acabar com a vida humana e planetria, pois seria contra um princpio tico vlido. Dessa maneira, Hans Jonas reformula o Imperativo Categrico (elaborado por Immanuel Kant):

    ATUAR DE FORMA QUE OS EFEITOS DE SUAS AES SEJAM COMPATVEIS COM A PERMANNCIA DE UMA VIDA HUMANA GENUNA.

    Miolo Filosofia II.indd 71 02/04/2014 00:08:39

  • 72

    Essa reformulao do Imperativo Categrico, feita por Hans Jonas, refora a reflexo sobre a sustentabilidade como ato que visa permanncia humana ou, em outras palavras, mantermos estveis. Dado que busca atender ao novo desafio da responsabilidade para com a civilizao tecnolgica, fruto do ceticismo da cultura frente ao progresso das cincias e da aplicao tecnolgica do conhecimento.

    Aula 3

    Ampliao do tema

    Com o intuito de ampliar o entendimento sobre o tema e visualizar como o tema tem sido tratado pelas autoridades nacionais e internacionais, os alunos tero acesso aos princpios definidos na declarao Rio 92, evento histrico de importncia internacional que ocorreu no Rio de Janeiro em 1992, cujo tema principal foi sustentabilidade e como reverter o processo de degradao ambiental.

    Objetivos especfi cos:

    Refletir sobre os seus valores individuais e os partilhados no grupo sociocultural;

    Reconhecer o direito do outro de manifestar-se e apresentar suas ideias;

    Analisar de forma crtica os princpios que norteiam a Rio 92 e sua relao com o que foi visto em aula;

    Ler, de modo filosfico, textos de diferentes estruturas e registros; Identificar correspondncias e contradies entre o discurso e a

    realidade.

    Miolo Filosofia II.indd 72 02/04/2014 00:08:40