miolo fecundação

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O sonho construído em mutirão Uma experiência de convivência com o semiárido Cáritas Brasileira Regional do Piauí Projeto Fecundação Teresina - Piauí - Brasil, 2010

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Para contar a história do sonho que foi construído coletivamente entre as famílias do município de Coronel José Dias, a Cáritas Brasileira Regional do Piauí organizou o livro “O Sonho Construído em Mutirão: uma experiência de convivência com o semiárido”. O livro conta toda a trajetória do projeto desde a idealização, diagnósticos, implantação e resultados concretos no município.Nele buscou-se retratar os impactos sociais, ambientais e culturais da experiência, mostrando as ações desenvolvidas, o caráter dessas ações, desafios e importância para a população da região que busca melhores condições de vida.

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  • 1. Critas Brasileira Regional do Piau Projeto FecundaoO sonhoconstrudoem mutiro Uma experincia de convivncia com o semiridoTeresina - Piau - Brasil, 2010

2. O Sonho Construdo em Mutiro:Uma experincia de convivncia com o semiridoDireitos autorais - 2010 - Critas Brasileira Regional do PiauPermitida a reproduo desde que citada a fonteCoordenao ColegiadaSecretria Geral: Hortncia MendesCoordenador Poltico-Pedaggico: Adonias RodriguesCoordenadora Administrativa: Clia ArajoTexto: Rosngela Ribeiro de Carvalho e Joo Evangelista Santos OliveiraEdio e Projeto Grfico: Mariana GonalvesReviso: Assuno SousaColaborao: Carlos Humberto CamposFotografias: Gildsio de Lima e Iran MoraisImpresso: Grfica do Povo Critas Brasileira Regional do PiauRua Agnelo Pereira da Silva, 3135 So Joo Teresina Piau Brasil CEP: 64045-440 Telefone/fax: 32336302 E-mail: [email protected] 3. Dedicamos... Dedicamos esse trabalho s populaes que habitam o semiri- do piauiense. Mulheres e homens, que ao longo de suas histrias individuais e coletivas, construram uma cultura simples e bela. Com sua f consolidaram crenas e credos. Com seu suor, criatividade, trabalho e foras, suas vidas foram entregues como oferendas para salvar o ambiente exuberante que existe nesse pedao de cho: Serto. Caatinga. Semirido... 4. SumrioSiglas07Quadros e Grfico 08Prefcio09Apresentao11O SONHOO projeto de sistematizao 15Contextualizando o semirido18Indicadores sociais motivadores do projeto20Antecedentes histricos da experincia22A escolha de Coronel Jos Dias24Localizando a experincia 26A CONSTRUOProjeto Piloto de Coronel Jos Dias 33Educar para Conviver34Gesto37Recursos Hdricos 42Produo Agropecuria Apropriada45Educao Contextualizada47Fundo Rotativo Solidrio53A REALIDADEImpactos da experincia no ambiente semirido 57Significado da experincia60A viso das pessoas envolvidas no projeto 63Projeto Fecundao como Poltica Pblica69Referncias Bibliogrficas71Anexos73Fotografias 85 5. SiglasASA Brasil Articulao no Semirido BrasileiroBAP Bomba dgua PopularBNB Banco do Nordeste do BrasilCML Projeto Cidadania no Mundo das LetrasCNBB Conferncia Nacional dos Bispos do BrasilCOMDEPI Companhia de Desenvolvimento do PiauECA Estatuto da Criana e do AdolescenteECSA Educao para Convivncia com o SemiridoEMATER Instituto de Assistncia Tcnica e Extenso RuralEMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaEPS Economia Popular SolidriaFPCSA Frum Piauiense de Convivncia com o SemiridoGT Grupo de TrabalhoIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaIDH ndice de Desenvolvimento HumanoIRPAA Instituto Regional da Pequena Agropecuria ApropriadaONG Organizao No-GovernamentalONU Organizao das Naes UnidasP1+2 Programa Uma Terra e Duas guasPACs Projetos Alternativos ComunitriosPCSA Programa de Convivncia com o SemiridoPDHC Projeto Dom Helder CamaraPEA Populao Economicamente AtivaPIAJ Programa Infncia, Adolescncia e JuventudePMA Planejamento, Monitoramento e AvaliaoPMDS Plano Municipal de Desenvolvimento SustentvelPME Plano Municipal de EducaoPMRH Plano Municipal de Recursos HdricosPNAD Pesquisa Nacional por Amostra de DomicliosPNE Plano Nacional de EducaoPNUD Programa das Naes Unidas para o DesenvolvimentoPSF Programa Sade da FamliaRESAB Rede Educao do Semirido BrasileiroSEBRAE Servio Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas EmpresasSEMEC Secretaria Municipal de EducaoSENAES Secretaria Nacional de Economia SolidriaSTTR Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras RuraisSUDENE Superintendncia de Desenvolvimento do NordesteUFPI Universidade Federal do Piau 6. QuadrosQUADRO 01 AES DE APOIO DA CRITAS PIAU AO ACESSO A RECURSOSHDRICOS 1999 A 2000 (pag. 22)QUADRO 02 CONSEQUNCIAS DAS ESTIAGENS (pag. 27)QUADRO 03 MEDIDAS PLUVIOMTRICAS NO MUNICPIO DE CORONELJOS DIAS DE 1994 A 1998 (MM) (pag. 29)QUADRO 04 PRIORIDADES DE AES DE CONVIVNCIA COM OSEMIRIDO (pag. 30)QUADRO 05 ATIVIDADES NA EXECUO DO PROJETO FECUNDAO (pag. 38)QUADRO 06 PRINCIPAIS AES DO EIXO RECURSOS HDRICOS (pag. 43)QUADRO 07 PRINCIPAIS AES DO EIXO PRODUO AGROPECURIAAPROPRIADA (pag. 46)QUADRO 08 DESCRIO DAS 09 OFICINAS PEDAGGICAS (pag. 49)GrficoGRFICO 01 ORIGEM DA GUA UTILIZADA PELAS FAMLIAS DASLOCALIDADES RURAIS NO MUNICPIO DE CORONEL JOS DIAS (pag. 28) 7. 09PrefcioO Brasil possui seis grandes biomas: Amaznia, Cerrado, Pantanal, Caatinga (semi-rido), Mata Atlntica e os Pampas. Compreendemos um bioma como uma rea territorial quepossui um conjunto de vida humana, vegetal e animal que cobre determinada regio de formacontnua, em condies geoclimticas semelhantes, o que acaba formando uma diversidadebiolgica muito prpria.A caatinga, tambm conhecida como semirido ou serto brasileiro, cantada emversos e prosas, propagada como uma das regies mais pobres do Brasil. As pesquisasrevelam que os ndices de Desenvolvimento Humano (IDHs) desta regio esto abaixo damdia nacional, contrariando todo o seu potencial natural e cultural.A seca fenmeno natural do semirido sinnimo de tragdia, provoca grandesproblemas sociais, econmicos e polticos na regio. Destri as atividades agrcolas e pecurias;agrava o problema da falta dgua at mesmo para o consumo humano. Ocasiona a sede, afome e muitas mortes em consequncias de doenas provocadas pelo consumo de guasimpuras e contaminadas. Essa situao de extrema pobreza e falta de uma poltica de assistn-cia pblica adequada, ao longo dos anos, tem sido a principal causa de migraes de popula-es inteiras, em regies de pobreza acentuada como o caso do Estado do Piau paraoutras regies do pas em busca da sobrevivncia.Diante dessa realidade, a Critas Brasileira Regional Piau, com a misso de promo-ver, animar, organizar e participar efetivamente da prtica da justia e da solidariedade, contri-buindo na construo de alternativas, vem procurando praticar e incentivar na sociedade aessolidrias aos povos do semirido, como forma de transformar uma situao de morte parauma situao de vida. Com isso, a Critas implantou em 2001, no municpio de Coronel JosDias (PI), o Projeto FECUNDAO com o objetivo de contribuir, com as famlias e comuni-dades empobrecidas do semi-rido, para melhoria de suas condies de vida, atravs do acesso gua de boa qualidade e em quantidade suficiente para o consumo humano; e do desenvolvi-mento de conhecimentos e apropriao de saberes, habilidades e tcnicas da agropecuriaapropriada para a convivncia sustentvel no Bioma Caatinga.Com este documento, a Critas Brasileira Regional Piau busca retratar em imagens epalavras o processo de transformao da histria do povo de Coronel Jos Dias, a partir da O Sonho construdo em mutirointerveno do Projeto Fecundao, idealizado pela Critas Brasileira Regional Piau edesenvolvido em parceria com os segmentos sociais do municpio.A vontade de resgatar os processos de construo da proposta, as formas de gesto, aparticipao das pessoas envolvidas, o processo organizativo nas comunidades, os impactos eos desafios, as relaes sociais, polticas e institucionais estabelecidas, numa perspectiva de seperceber a trajetria da experincia do Projeto Fecundao, vem sendo debatida no seio daCritas Brasileira Regional Piau e na Comisso Gestora do projeto, h algum tempo.Atravs do nosso olhar sob a trajetria desenvolvida pelo projeto buscamos retrataros impactos sociais, ambientais e culturais desta experincia, mostrando as aes desenvolvi-das, o carter destas aes, os desafios que elas nos apresentam e a sua importncia para o povodo semirido no municpio de Coronel Jos Dias. 8. 10Neste sentido, a sistematizao assume como OBJETO, a experincia do Projeto Fecundao no municpio de Coronel Jos Dias e sua contribuio para a melhoria da convi- vncia com o semirido, buscando revelar os impactos da experincia no ambiente semirido e sua importncia para o Programa de Convivncia com o Semirido da Rede Critas.Outra dimenso importante do Projeto FECUNDAO a busca da construo do saber, atravs das experincias forjadas no meio do povo com o apoio de entidades no- governamentais, caracterizando a ausncia de polticas pblicas adequadas. Ou seja, compre- ender melhor o contexto do semirido e a realidade vivida no dia-a-dia das populaes sertane- jas, para, a partir da, poder contribuir com maior segurana na elaborao de iniciativas de interveno junto quelas pessoas mais empobrecidas e necessitadas, e para a efetivao de uma proposta de desenvolvimento Territorial Sustentvel, considerando principalmente as pessoas e o meio ambiente. Carlos Humberto Campos Socilogo, Secretrio Regional da Critas Brasileira Regional do Piau (2002-2009)Critas Brasileira Regional do Piau 9. 11Apresentao A Critas Brasileira Regional do Piau agiu coletivamente na busca de melhorescondies de vida para as famlias excludas, lanando mais uma semente que veio germinar nosolo do semirido com suas diversas caractersticas: rasos, arenosos, argilosos, pedregosos, debaixa e mdia fertilidade e que retm pouca gua. Neste ambiente onde, primeira impresso,parea ser inabitvel, a semente chamada de Projeto Fecundao j rende frutos. Frutos quepodem ser apreciados ao longo desta publicao. O Projeto Fecundao, uma ao pioneira da Critas Brasileira, resultado de umconjunto de pessoas, identificadas como agentes, voluntrios e voluntrias, tcnicos e tcnicas,famlias agricultoras, professores e professoras, alunos e alunas, religiosos e religiosas, gestorespblicos, parlamentares, crianas e pessoas idosas. Todos protagonistas deste processo efazem da Critas Brasileira essa imensa Rede de Solidariedade. So pessoas que habitam noambiente semirido do Estado do Piau, no territrio da Serra da Capivara e especificamentelocalizadas e radicadas no municpio de Coronel Jos Dias. Pessoas que se juntaram com ocompromisso maior da valorizao da vida. No se pode esquecer parceiros importantes como o Instituto Regional da PequenaAgropecuria Apropriada IRPAA, que repassou toda experincia em assessoria tcnicaadquirida no apoio agricultura familiar no Estado da Bahia, e a Critas Alem que ofereceucolaborao e aporte financeiro para viabilizar a proposta em todas as etapas do projeto. Asetapas se desenvolveram em oito anos de caminhada, garantindo o acmulo de um conjuntode informaes que possibilitou a implantao e vivncia da proposta de Educao paraConvivncia com o Semirido ECSA em todo o pas. Trata-se de um trabalho fincado em quatro eixos de ao: Gesto, Recursos Hdricos,Produo Agropecuria Apropriada e Educao Contextualizada. Eixos que garantiram aimplantao de processos democrticos e participativos, gua de qualidade para o consumodas famlias, aumento e diversificao da produo de base agroecolgica. Tudo atravs deprocessos educativos que comearam pela desconstruo de paradigmas enraizados dentro daeducao formal de combate seca e pela construo de novas concepes e possibilidades deconvivncia com a regio semirida. Este trabalho mostra uma boa experincia sobre a convivncia com a regio semiri- O Sonho construdo em mutirodo e as condies criadas com as aes reforam o debate de Desenvolvimento Sustentvel eSolidrio, valorizao da cultura, relaes familiares e de gnero. Condies que afirmam oprotagonismo das pessoas como cidads, parte importante de uma democracia. Importante registrar a participao de todas as mulheres protagonistas nesse proces-so. Elas esto no antes, durante e firmes na continuidade do projeto. Elas so maioria naeducao, como professoras ou mes e passaram a ver e a participar da vida da escola em quefilhos e filhas estudam. Presentes na produo, firmes na gerao de renda passaram a produ-zir os mais variados produtos derivados do Umbu, planta nativa da caatinga e sagrada, segundoa cultura e os costumes locais. A experincia do Fecundao tem o cheiro da terra molhada com as primeiraschuvas, tem a beleza da caatinga que se torna verde viva com uma gota dgua. Tem a criativi- 10. 12 dade de um povo que tambm se adaptou para crescer e multiplicar. Tem a diversidade de conhecimentos construdos em mutiro que continua formando conscincias. Tem toda uma gente simples, hospitaleira, que gosta de danar, que tem valor, que ama seu cho e diz com segurana daqui no saio no. Considerando as palavras do compositor Joo Bosco: Vida fazer todo sonho brilhar, o Projeto Fecundao fez brilhar o sonho de moradores e moradoras de Coronel Jos Dias, pelas mos de pessoas que acreditaram neste sonho. Rosngela Ribeiro de Carvalho - Professora da rede pblica, ex-assessora do projeto Fecundao e organizadora desta sistematizao Joo Evangelista Santos Oliveira - Coordenador do Programa de Convivncia com o Semirido - PCSA da Critas Brasileira Regional do PiauCritas Brasileira Regional do Piau 11. IO Sonho 12. 15O projeto de sistematizao Quem no tem desejo no caminha, porque no sonha, no busca onovo, no muda (Ana Maria & Susan Chiode, 2002)A sistematizao da experincia teve incio quando a equipe da Critas BrasileiraRegional Piau expressou o desejo de construir um documento que pudesse retratar a expe-rincia, pelo seu carter de mobilizao social e de transformao da realidade.Tomando-se ento como objeto da sistematizao A experincia do ProjetoFecundao no municpio de Coronel Jos Dias e sua contribuio para a melhoria da convi-vncia com o semirido, buscou-se reviver a experincia, recuperando os processos vivencia-dos a partir do registro dos passos dados pelo projeto, evidenciando a avaliao processual dasaes realizadas e as concluses sistematizadas, a partir de relatrios e de outros documentosproduzidos pela comisso gestora do projeto e pelo PCSA Programa de Convivncia com oSemirido da Critas Brasileira Regional Piau e Secretaria Municipal de Educao.A fala das pessoas envolvidas foi registrada numa perspectiva de possibilitar oconfronto dos dizeres de quem faz a experincia e de mostr-las enquanto protagonistas desteprocesso, pelo compromisso de construir novas perspectivas para a realidade em que vivem,superando preconceitos em torno do semirido, quebrando paradigmas e vivenciando novasrelaes.Partiu-se da concepo de que a sistematizao resgata os processos de mudanas eos valores construdos numa determinada experincia, juntando fatos, ocorrncias, depoi-mentos e, sobretudo, sentimentos. Como produo de saber da experincia, a sistematizaobusca identificar as ideias, os sentimentos e as formas de fazer que ela esteja construindo ouproporcionando aos diversos sujeitos envolvidos. (SOUZA, 2000, p.35).No se trata aqui de abrir um debate conceitual em torno da sistematizao, mas deevidenciar as referncias tomadas para registrar a experincia do Projeto Fecundao, reafir-mando a proposta de convivncia com o semirido num processo de construo coletiva, quepossibilita, a partir do conhecimento da realidade, refletir sobre suas vivncias, valores eatitudes, promovendo a desconstruo de saberes e fazeres. O Sonho construdo em mutiroSistematizar aqui rene avaliao e pesquisa, medida que busca revelar nos dadoscoletados a investigao do que foi realizado, diante do que foi planejado e ainda, refletir sobreos resultados alcanados numa perspectiva de revelar as mudanas no modo de vida dapopulao e dos avanos e desafios encontrados ao longo da experincia.Neste sentido, ao fazer o resgate, o documento buscou tambm dar visibilidade saes de convivncia com o semirido, destacando a importncia da experincia para o PCSAdesenvolvido pela rede Critas.Neste processo, foi importante a identificao de mudanas nas relaes de gnero egerao, a partir da implantao do projeto e de outros processos de novas relaes em favorda dignidade humana e do desenvolvimento sustentvel.Isto s foi possvel, a partir do consenso em torno da definio do objeto e do eixo 13. 16 central da sistematizao, o que possibilitou avanar neste propsito e adotar procedimentos tericos metodolgicos capazes de revelar o sentimento das pessoas envolvidas, atravs das entrevistas individuais e coletivas, que associadas pesquisa bibliogrfica, viabilizaram a anlise documental da experincia. Tal anlise foi realizada sob um olhar crtico em que os elementos do discurso se encaminharam para um conjunto de informaes que convergiram para um mesmo ponto: a introduo de novas prticas de convivncia superando o paradigma de combate seca. Cada passo da sistematizao envolveu dilogos, leituras, reflexo, seleo e muita emoo: angstias e incertezas diante das dificuldades em coletar as informaes necessrias, mas tambm contentamento e satisfao pelo dever cumprido e, sobretudo, pelas certezas reveladas de uma experincia que deu certo e que mudou a vida de muita gente.Perguntas orientadoras:1. Em que consiste o Projeto Fecundao? (Objetivos e metas)2. Quais as linhas de ao desenvolvidas pelo projeto?3. Que aes foram desenvolvidas?4. Como as aes desenvolvidas contriburam para a transformao da realidade domunicpio?5. Quem so os protagonistas da experincia?6. O que pensam as pessoas envolvidas neste processo sobre os impactos do projetona vida do municpio?7. Qual a compreenso das pessoas envolvidas em relao mudana de paradigmano tocante convivncia com o semirido e o combate seca?8. Como as aes do projeto influenciaram nas relaes de gnero e gerao?9. O que representa a experincia para o Programa de Convivncia com o Semiridoda rede Critas?10. Como era a vida das pessoas antes da implantao do projeto no municpio?11. Em relao s linhas de ao, que mudanas significativas foram efetivadas?11.1 - Que mudanas ocorreram na educao do municpio a partir da ECSA?(Organizao/estrutura; ndices/resultados de aprendizagem...)? 11.2 - O que representa para o municpio e para as famlias agricultoras e produto- ras a adoo da agricultura e produo apropriada?12. De que forma pode-se perceber o fortalecimento da participao da sociedadecivil na elaborao, implementao e controle social de polticas pbicas do munic-Critas Brasileira Regional do Piaupio?13. Em que medida as aes desenvolvidas pelo projeto possibilitaram aos partici-pantes serem protagonistas dessa experincia?14. Em que o Projeto Fecundao contribuiu para o desenvolvimento sustentvel daregio?Procedimentos Terico-metodolgicos:1. Antecedentes HistricosProcesso de construo e contextualizao do Projeto Fecundao2. Concepo do ObjetoOs objetivos do Projeto Fecundao, a metodologia e as perspectivas3. Trabalho de Campo 14. 17 - Realizao de entrevistas individuais e coletivas - Construo de Histrias de Vida dos sujeitos da experincia - Pesquisa bibliogrficaProcedimentos de anlise e interpretao:Categorias de anlise: Convergncias e divergncias/ Presenas e ausncias/Tendncias e associaes/ Convivncia e combate.1. Anlise documental (relatrios, slides, correspondncias, documentrios etc.)2. Anlise da experincia dos participantes (entrevistas individuais e coletivas,depoimentos etc.)O Sonho construdo em mutiro 15. 18 Contextualizando o semirido O semirido brasileiro o maior do mundo e se estende por uma rea de 975 mil km, abrangendo mais de 86% da regio nordeste e penetrando no norte do estado de Minas Gerais. o semirido com maior densidade demogrfica do mundo. Nessa rea vivem cerca de 26 milhes de habitantes em 1.113 municpios, e dela faz parte a maior concentrao de popula- o rural do Brasil. No Piau a regio semirida abrange 125.692 km - dos 252.378 km totais do Estado - ocupando boa parte do setor central e sul, fazendo fronteira com os estados do Cear, Pernambuco e Bahia, e correspondendo a 13,96% da rea do semirido brasileiro. Dados do Governo do Estado e da Universidade Federal do Piau (UFPI) do conta de que dos 224 municpios piauienses, 156 esto localizados na regio semirida, com uma populao de 956.617 habitantes. No semirido brasileiro ocorrem uma ou duas estaes de chuva, de quatro a cinco meses de durao. A pluviosidade varia entre 300 e 800 mm/ano. As temperaturas mdias variam de 23 a 39 C, com forte evaporao potencial (mais de 2.000 mm/ano). Estudos revelam que metade da rea da regio semirida composta por embasamento cristalino, com acumulao de gua apenas nas fraturas, e a outra metade composta de terrenos sedimenta- res, com a boa capacidade de armazenamento de guas subterrneas. Muitas vezes, quando a gua encontrada no subsolo, atravs da perfurao de poos, sejam eles tubulares, cacimbes ou artesianos, trata-se de uma gua salobra, de pssima qualidade para o consumo humano e animal. Os longos perodos de escassez de chuvas acontecem principalmente na poca do plantio de arroz, feijo, mandioca e milho, culturas predominantes da regio. Estudos mais recentes concluram que esse problema agrava-se num ciclo de vinte a vinte anos, caracterizan- do perodos mais longos de estiagens, as chamadas grandes secas. As grandes secas so caracterizadas pelo esgotamento da umidade do solo, fenecimento das plantas por falta de gua, depleo do suprimento de gua subterrnea e reduo e eventual cessao do fluxo dos cursos de gua. O Estado do Piau caracterizado por trs regimes pluviomtricos bem definidos,Critas Brasileira Regional do Piau que iniciam no ms de novembro na regio Sul e prolonga-se at o ms de maio na regio Norte. Em menos da metade do territrio piauiense (48,36%), as chuvas so superiores a 1.000mm. Os cursos dgua apresentam regime hidrolgico intermitente na estao chuvosa e permanecem completamente secos aps a estao das chuvas, com curvas de recesso atingin- do rapidamente o ponto zero. O flagelo das secas ocorre quando as chuvas so insuficientes ou irregulares demais para permitir a produo que assegura a subsistncia das famlias do semi- rido que, mesmo em anos normais, j vivem em condies limites de pobreza. Alm de vulnerabilidade climtica do semirido, grande parte dos solos da regio encontra-se degradada. Os recursos hdricos rumam insuficincia. A gua o fator mais rico do semirido, porque um limitativo tanto da ocupao humana quanto das atividades agrope- curias. Os ecossistemas regionais so frgeis e no esto sento protegidos, pondo em risco a sobrevivncia de muitas espcies de vegetais e animais, criando ainda riscos a ocupao 16. 19humana, associados, inclusive, a processo em curso, como a desertificao. Apesar dessas caractersticas gerais, o semirido brasileiro uma realidade complexa:a EMPRAPA identificou cerca de 170 diferentes tipos de sistemas geoambientais (ecossiste-mas). Essa complexidade exige mudanas nas formas de conceber e intervir nessa realidade. possvel conviver com o semirido apesar das fragilidades. Ter muita luminosidade, ter muitocalor e ter baixa unidade so elementos diferenciais para o desenvolvimento da regio. O semirido piauiense apresenta grandes potencialidades econmicas e sociais, entreas quais podem ser mencionadas: solos adequados para prticas agrcolas apropriadas; reassedimentadas com boa disponibilidade de guas subterrneas; audes pblicos com elevadasreservas de gua; a rica biodiversidade da caatinga na qual se destaca o elevado potencial deexplorao; a agroindustrializao de produtos agrcolas e agropecurios, como a castanha decaju e o mel da abelha; a irrigao dos vales midos, principalmente com a perenizao dos rios;o criatrio animal; o turismo ecolgico, cultural e religioso; as diversas prticas artesanais; oextrativismo mineral e a localizao de vrios centros de pesquisas. Mas apesar dessas potencialidades, a regio no consegue superar seus pssimosindicadores sociais e nem autofinanciar seu desenvolvimento econmico, seja pela ausncia depoupana interna, seja pelo elevado dficit da balana comercial. Alm desses fatores econ-micos, a falta de conhecimento adequado do semirido piauiense levou a introduo dediversas atividades produtivas agropecurias extrativas e industriais que no apresentamsustentabilidade ambiental e nem se tornam vantagens competitivas dinmicas.O Sonho construdo em mutiro 17. 20 Indicadores sociais motivadores do projeto A pobreza est disseminada por todo o Estado do Piau e sabe-se que os dez maiores ndices de indigncia absoluta so verificados nos municpios mais populosos e que desempe- nham funes polarizadoras. Utilizando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (PNAD), realizada pelo IBGE em 1997, a Populao Econmicamente Ativa (PEA) do semirido piauiense foi estimada em 538 mil pessoas, sendo que 41% no auferiam qualquer rendimento e cerca de 40% recebiam entre R$ 33,00 e R$ 100,00 por ms. Dessa populao trabalhadora, 67% desenvolviam atividades ligadas agricultura ou atividades afins. Nesse contexto, foi possvel identificar as principais problemticas enfrentadas pela populao empobrecida do semirido: a dificuldade de aceso gua e a alimentos em quantida- des e com qualidade para o consumo humano, principalmente nos perodos de estiagem prolongada na regio. Esse problema era fruto da estrutura excludente que predomina na rea, baseando na concentrao da terra e da gua, alm da dificuldade de acesso da agricultura familiar aos meios e recursos necessrios a produo agrcola e pecuria. A persistncia desses problemas por centenas de anos conduz a identificao de suas causas. A principal delas, certamente, a forma de interveno do poder pblico nessa regio. As polticas pblicas so excludentes e inapropriadas ao semirido, caracterizadas pelo carter emergencial fragmentado e descontinuo das aes desenvolvidas nos momentos de calamida- de pblica ocasionadas pelas estiagens prolongadas. A interveno estatal privilegia a construo de grandes obras hdricas que favorecem principalmente s empreiteiras, grande propriedade rural e s agroindstrias que desenvol- vem a agricultura irrigada na regio, sem considerar as condies especficas do meio ambiente e da populao. As grandes barragens contribuem para a concentrao da gua, alagam faixas de terras cultivveis, deslocam cidades inteiras e pioram as condies de vida das populaes ribeirinhas que nunca so consideradas nos processos de planejamento. J as grandes reas de produo irrigadas so degradadoras dos ecossistemas do semirido. Alm do desmatamento para implantao das reas de produo irrigada, constata-se que a utilizao de mtodosCritas Brasileira Regional do Piau inapropriados de irrigao e a utilizao de produtos qumicos contribuem para a formao de reas desertas no semirido. De modo geral, as prticas agropecurias (com tecnologias tradicionais e modernas) utilizadas no semirido so inadequadas e degradadoras do meio ambiente. As queimadas desordenadas e uso de defensivos e fertilizantes qumicos tambm ocasionam o empobreci- mento dos solos, pondo em risco os ecossistemas e a prpria vida humana. Isso se deve ao fato de que a maioria da populao do semirido no tem um conhecimento adequado do seu meio ambiente, de suas potencialidades e limites e de estratgias de sobrevivncia adequadas na regio. Alm da dificuldade de acesso gua para o consumo humano em quantidade suficiente, as famlias residentes no semirido consomem gua de pssima qualidade, sem um tratamento adequado. Esse consumo de gua tornou-se uma prtica tradicional naturalizada, 18. 21embora tenha como consequncia direta o aumento de inmeras doenas, com elevadosndices de mortalidade infantil. A dificuldade de acesso gua para o consumo humano edomstico, alm de ser determinada pela privatizao e concentrao das guas em grandesreservatrios hdricos, est diretamente relacionada com uma cultura de desvalorizao dacaptao, armazenamento e tratamento da gua da chuva.Diante dessas constataes de principais causas das problemticas do semirido,poderiam parecer fceis as solues: tornar as polticas pblicas apropriadas regio e promo-ver a educao para a convivncia com o semirido. No entanto, a sociedade civil no temconseguido participar efetivamente dos processos de formulao de polticas pblicas para aregio, apesar de ter dado alguns passos importantes nos processos de articulao de entidadesem nvel dos Estados e na experimentao e disseminao de alternativas produtivas e derecursos hdricos adaptados realidade do semirido.Na maioria dos municpios localizados no semirido brasileiro, as organizaes dasociedade civil tem tido pouca capacidade de articulao para interveno e controle social dosprogramas implantados a nvel local. A dificuldade de participao est relacionada comdiversas causas: a falta de capacitao, a pouca articulao, a fragilidade dos mecanismos departicipao popular (conselhos, fruns, etc.) e o desconhecimento dos recursos que sodestinados e de como so aplicados. Nesse sentido, urgente a melhoria na qualidade dainformao e dos canais de comunicao entre governo e sociedade civil, otimizando a difusode tecnologias apropriadas ao semirido.No campo poltico-institucional, apesar dos recentes avanos no processo de demo-cratizao, organizao da sociedade e mecanismos de participao social, ainda persistem, naregio do semirido, prticas clientelistas e outras formas de apropriao privada do Estado. Acapacidade dos organismos pblicos em atender com eficincia as demandas sociais bastantelimitada em decorrncia da baixa qualificao dos seus recursos humanos, das deficinciasorganizacionais e dos mecanismos de gesto e insuficincias materiais e financeiras.O Sonho construdo em mutiro 19. 22 Antecedentes histricos da experinciaA Critas Brasileira um organismo ligado Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que, testemunhando o Evangelho da Esperana de Jesus, compromete-se a promover e animar o servio da solidariedade ecumnica libertadora, participar da defesa da vida, da organizao popular e da construo de um projeto de sociedade, a partir dos exclu- dos e excludas, contribuindo para a conquista da cidadania plena para todas as pessoas, a caminho do Reino de Deus.A Critas tem tido uma presena constante nessa realidade do semirido brasileiro, contribuindo com as famlias empobrecidas, atravs de diversas formas de atuao: na realiza- o de campanhas de solidariedade nos momentos emergentes de calamidade pblica, que agravam a situao estrutural de misria e pobreza na regio; no desenvolvimento de aes permanentes de formao e de apoio s organizaes comunitrias; nas iniciativas comunitri- as de gerao e melhoria de renda (com os projetos alternativos comunitrios); na dissemina- o de tcnicas apropriadas de manejo de recursos hdricos; e no apoio efetivo (financeiro e material) para a construo de pequenos reservatrios de gua da chuva, para manuteno, equipamento e recuperao de mananciais e reservatrios hdricos para abastecimento familiar. Nos ltimos anos, a Critas Brasileira tem tentado desenvolver uma interveno pr- ativa na regio (atuando sobre as causas dos problemas e no sobre suas consequncias) atravs da formao para a cidadania, a universalizao do acesso gua para o consumo humano e a produo como elementos estratgicos para melhoria da qualidade de vida na regio. Entre 1998 e 1999, a Critas Brasileira Regional Piau coordenou a distribuio de 1.100 (mil e cem) toneladas de alimentos para 55 mil famlias (cerca de 275 mil pessoas) que estavam em situao de calamidade. Foram realizadas aes permanentes de infraestrutura hdrica, apoiando a construo de 363 cisternas de placas (captao e armazenamento de gua da chuva), equipando 17 poos artesianos, revestindo 12 poos e realizando 02 canalizaes para facilitar o acesso das famlias e comunidades rurais gua para consumo humano. Alm dessas aes diretas, a Critas realizou diversas atividades pedaggicas de capacitao deCritas Brasileira Regional do Piau agentes pastorais e animadores de comunidade, aprofundando o conhecimento da realidade e das formas de convivncia com o semirido piauiense. QUADRO 01 AES DE APOIO DA CRITAS PIAU AO ACESSO ARECURSOS HDRICOS -1999 A 2000Tipo de aoCisternas Valor (R$) Famlias Pessoas Localidade MunicpioConstruo de cisternas397 181.481,00 4092.045 34 12Revestimento eequipamento de poos 18 41.318,495.55430.000 13 11 20. 23 O programa de convivncia com o semirido no se resume construo de cisternase outras aes de apoio hdrico e produtivo. As aes poltico-pedaggicas so prioritrias. Osprocessos pedaggicos se referem tanto disseminao de alternativas viveis para a convivn-cia com o semirido e realizao de campanhas educativas para conhecimento adequado darealidade, quanto ao respeito aos seus limites e aproveitamento de suas potencialidades.Anualmente a Critas realiza atividades na Semana da gua junto com outras entidades, naoportunidade em que chama a ateno para as diversas dimenses da problemtica da gua nosnossos dias e mobiliza a sociedade para apoiar e lutar para que todas as famlias que residem nosemirido piauiense possam a ter acesso gua de boa qualidade. Ainda no aspecto educativo merecem destaque as atividades de formao realizadasno mbito do PCSA. Foram realizados os cursos sobre manejo de recursos hdricos, tendocomo temtica central O uso e o tratamento dgua, atendendo ao publico de todas asdioceses do Piau. A realizao dos cursos foi de fundamental importncia, pois as famliasrurais ainda possuem muita dificuldade em entender e desenvolver tecnologias alternativas eapropriadas para a convivncia com o semirido e mais precisamente para o manejo de recur-sos hdricos. Esses cursos visam formao de multiplicadores e multiplicadoras para odesenvolvimento do trabalho na comunidade, na perspectiva de promover e desenvolver aorganizao para a convivncia com o semirido. No aspecto sociopoltico, a Critas Brasileira Regional Piau teve uma atuaodecisiva para a articulao do Frum de Convivncia com o Semirido no Piau (FPCSA). Essefrum conta com a participao de outras 12 organizaes no governamentais do Piau quetem o compromisso poltico e aes voltadas para a convivncia com o semirido em nossoEstado, possibilitando as parcerias e convnios que procuram canalizar recursos pblicos paraa regio, como por exemplo, um convnio firmado entre as ONGs e a SUDENE (Superinten-dncia para o Desenvolvimento do Nordeste), em que a Critas participa com a capacitao de810 pessoas para a construo de cisternas de placas. Outra ao significativa do FPCSA ocorreu durante a semana da gua em 2000. OFrum programou e realizou uma audincia pblica na Assemblia Legislativa do Estado paradiscutir sobre as polticas pblicas para recursos hdricos do Piau e as alternativas.Participaram da audincia, representantes da Assemblia Legislativa, Secretaria de RecursosHdricos do Estado, SUDENE, COMDEPI, DEFESA CIVIL, Critas Brasileira e mais outrasONGs. Dali resultou um compromisso e abertura por parte da Assemblia para a continuidadedos debates sobre o tema acima referido. A partir dessa experincia em nvel estadual, a Critas Brasileira Regional Piaupercebeu que era necessrio desenvolver um projeto piloto no mbito de um municpio, O Sonho construdo em mutiropossibilitando a integrao dos sujeitos e das diversas aes de convivncia com o semirido(recursos hdricos, produo agrcola e no agrcola, educao, construo de polticas pbli-cas apropriadas, servios sociais bsicos, etc.). A Critas acredita que a concentrao de aes ea produo de resultados significativos em um municpio possam ter uma maior capacidade deimpacto em nvel de outros municpios do semirido e das polticas pblicas estaduais enacionais. 21. 24 A escolha de Coronel Jos Dias Os processos de discusso foram sendo construdos e, a partir de abril de 2000, a Critas Brasileira Regional do Piau definiu, pelas condies climticas da regio e pela disponi- bilidade da equipe regional, implantar o projeto na Diocese de So Raimundo Nonato. Diante disso, passou-se a analisar as condies dos municpios daquela regio para receber as aes do projeto e, aps estudos e reflexes, foi apresentado ao municpio de Coronel Jos Dias. O municpio foi escolhido com base nos seguintes critrios: localizao no semirido com a incidncia das problemticas de convivncia com a regio; a possibilidade de continuida- de de ao atravs de parcerias com organizaes da sociedade civil, movimentos sociais e o governo municipal; a existncia de estrutura de apoio (Critas Diocesana ou entidade membro, apoio da Igreja local parquia); indicadores socioeconmicos: nvel de renda, analfabetismo, mortalidade infantil e abastecimento de gua. A elaborao do projeto foi assumida pelos agentes da Critas e contou com a participao ativa de representantes da prefeitura municipal de Coronel Jos Dias, representan- tes das organizaes da sociedade civil e lideranas comunitrias das comunidades rurais do municpio. As principais atividades realizadas foram: um levantamento de informaes em cada uma das localidades do municpio, identificando os aspectos sociais e econmicos da realidade local, as principais problemticas, potencialidades e expectativas dos moradores e moradoras daquela regio. Em setembro de 2000, foi realizado um Seminrio Municipal de Planejamento, com a participao de 95 pessoas, onde foi aprofundado o diagnstico com a identificao das potencialidades municipais e os principais problemas enfrentados pelas famlias. Estes eventos realizados possibilitaram tambm a identificao de prioridades de ao, a consensualidade de objetivos e interesses e a afirmao de compromissos entre as diversas organizaes partici- pantes. O seminrio municipal, acima citado, foi planejado e realizado conjuntamente pela Critas Brasileira Regional Piau, Critas Diocesana de So Raimundo Nonato, Parquia de Coronel Jos Dias e pelo Governo Municipal que assumiu as atividades de articulao, trans- porte, alimentao e hospedagem das pessoas participantes, alm de oferecer toda infraestru- tura necessria a realizao do evento.Critas Brasileira Regional do PiauObjetivos:A experincia teve como objetivo geral desenvolver um conjunto de aes articuladas que possibilitassem melhoria das condies de vida das famlias que residiam no semirido do municpio e, a partir dos resultados alcanados, propor polticas pblicas apropriadas ao semirido nos nveis municipal e estadual.Objetivos especficos: Viabilizar o acesso a estruturas de captao e armazenamento de gua de chuva eo aproveitamento sustentvel dos mananciais hdricos existentes no municpio; Favorecer o acesso a recursos e infraestrutura para o desenvolvimento deiniciativas produtivas apropriadas ao semirido favorecendo a melhoria de renda 22. 25das famlias; Promover capacitao de agentes de desenvolvimento sustentvel no municpio; Fortalecer a participao da sociedade civil na elaborao, implementao econtrole social de polticas pblicas; Garantir a visibilidade e difuso das aes e resultados.Assumiram-se tambm as seguintes diretrizes: Difuso de alternativas; Democratizao das polticas pblicas; Fortalecimento das parcerias, alianas, articulaes e afinidades; Ateno especial s questes de gnero e geraes; Educao para convivncia com o semirido e Manejo adequado dos recursos naturais do semirido.Ao ser apresentado, o projeto foi amplamente discutido pelas pessoas representantesdos segmentos sociais dos municpios, as quais apresentaram interesse pelo desenvolvimentodas aes propostas.Foi esta comisso que cuidou da instalao do projeto e da sensibilizao da comuni-dade. No ano de 2001, aps o Seminrio de lanamento e apresentao do Projeto Piloto foiaberto um concurso interno nas escolas da rede municipal para a escolha do nome do projeto.FECUNDAO, o nome escolhido fez jus proposta de convivncia com osemirido pela mstica que envolve o prprio nome, conforme escreveu Iran Morais deOliveira, ento coordenador do projeto, representante da Critas Diocesana de So RaimundoNonato:No projeto Fecundao est a F daqueles/as que acreditam em Deuse sabem que as situaes que levam milhares de pessoas ao sofrimento[...] no o projeto que o Deus da vida preparou para os seus filhos efilhas [...].No projeto Fecundao, fecunda a terra que se prepara, indepen-dente do seu clima, pois guarda potenciais prprios e caractersticass existentes nela, que se bem trabalhados, conduzidos e aproveitadosfaz fecundar condies de vida. [...] e germinar possibilidades,caminhos que devolvam a confiana e que mudem situaes de morteem situaes de vida.O projeto Fecundao promotor de uma AO libertadora,O Sonho construdo em mutirodemocrtica e contextualizada. [...] Aes que comprometem,provocam participao, que respeitam geraes, culturas/saberes enatureza num objetivo comum de promoo da vida. (OLIVEIRA,Iran M. de. In Boletim Projeto fecundao JULHO/AGOSTO2004).Foi com esta viso que o projeto deu os seus primeiros passos para efetivao daproposta de convivncia com o semirido, buscando a promoo da vida e sendo sinal deesperana construda na partilha e na solidariedade em Coronel Jos Dias. 23. 26 Localizando a experinciaO municpio de Coronel Jos Dias est localizado na mesorregio sudoeste piauien- se, microrregio de So Raimundo Nonato, no sop do Parque Nacional da Serra da Capivara, a 550 km de Teresina capital do Estado do Piau , rea de domnio semirido. Seus limites territoriais abrangem ao norte, o municpio de Joo Costa; ao sul, o Estado da Bahia e o municpio piauiense, Dirceu Arcoverde; A leste, o municpio de Dom Inocncio e a oeste, os municpios de So Raimundo Nonato e So Loureno do Piau. Foi instalada no ano de 1992.A populao total do municpio de 4.484 de habitantes, de acordo com o Censo Demogrfico do IBGE (2009). Sua rea de 1822 km representando 0,7244 % do Estado, 0,1172 % da Regio e 0,0214 % de todo o territrio brasileiro. Seu ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,58 segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano/PNUD (2000). fortemente concentrada na rea rural (81%) do municpio que conta com a densidade demo- grfica de 2,15 hab/km. A Populao Economicamente Ativa (PEA) atinge 55% da popula- o total.Do ponto de vista social, o municpio apresenta indicadores compatveis com os registrados na rea do semirido piauiense. No aspecto da sade, constatava-se que as princi- pais doenas que acometiam a populao local eram as diarrias, as infeces respiratrias e as verminoses. Uma das causas da diarria era a gua consumida e a falta de saneamento adequa- do nas localidades rurais e na sede do municpio.O setor educacional apresenta uma rede de ensino formada por 41 unidades, sendo 3 na sede do municpio e 38 na zona rural. O acesso ao ensino fundamental garantido popula- o na faixa etria correspondente, com um ndice de 11,37% de evaso escolar ao longo do perodo letivo. O analfabetismo atinge 39% da populao total, sendo que o analfabetismo da populao com mais de 15 anos de 31%.A base econmica do municpio a agricultura de subsistncia, com destaque para o milho e feijo, e a pecuria de pequeno porte, com a criao de caprinos, ovinos e aves, alm a criao de abelhas. A vegetao de caatinga, com a predominncia da favela, o angico e o marmeleiro, favorece a criao de caprinos. As floradas existentes nas proximidades da Serra da Capivara favorecem a apicultura, com uma significativa produo de mel.Critas Brasileira Regional do PiauNo municpio, h a predominncia da agricultura familiar com base em pequenas propriedades rurais. O levantamento de dados realizados pela Critas nas localidades do municpio constatou a seguinte distribuio da populao por situao ocupacional: a agricul- tura familiar desenvolvida em mini e pequenas propriedades predominam na maioria dos casos, seguida por famlias sem terra (diaristas, meeiros e parceiros) e assalariados e assalariadas (maioria do setor pblico).O mesmo levantamento constatou que as principais fontes de renda identificadas no municpio so: a produo agrcola e pecuria, 48%, a aposentadoria de pessoas idosas, 41%, a ajuda de familiares ausentes, 7%; e o emprego pblico, 4%. Foi constatada tambm a faixa de renda da populao: at salrio mnimo, 39%; mais de at 1 salrio mnimo, 58%; e entre 1 a 2 salrios mnimos, 3%.As famlias que desenvolvem a agricultura familiar tinham grande dificuldade de 24. 27acesso s condies necessrias para desenvolver a atividade agrcola: a falta de crdito (custeioe investimento, a assistncia tcnica, sementes, transporte para o escoamento de produo).Os preos dos produtos eram baixos, estando a comercializao dependente do mercadoatravessador.Coronel Jos Dias ladeado por serras, pelo lado oeste, com destaque para a Serra daCapivara, onde est situado o Parque Nacional Serra da Capivara, Patrimnio Cultural daHumanidade. O Parque Nacional est localizado em quatro municpios piauienses, sendo quemaior parte fica no municpio de Coronel Jos Dias, abrigando os mais importantes StiosArqueolgicos e as duas reas de maior atrao turstica, que so o Desfiladeiro da Serra daCapivara e a Pedra Furada.Por ser a porta de entrada para o Parque, o municpio de Coronel Jos Dias dotadode grande potencial para o Ecoturismo, embora no haja investimentos suficientes nesta reacapazes de equiparar a infraestrutura do municpio s condies de cidade turstica.Atualmente o municpio vizinho, So Raimundo Nonato, que explora o ecoturismo culturalcom localizao de um hotel, um Museu e fundaes culturais. No entanto uma das entradasdo Parque tem acessos pela sede de Coronel Jos Dias, atravs da localidade Sitio do Moc.H tambm na sede do municpio uma pequena indstria cermica (telhas e blocos) eum setor comercial bastante precrio, atingindo apenas uma pequena parte da populao. Estabase econmica, no entanto, no tem sido o suficiente para a manuteno dos servios pbli-cos no municpio. A administrao do municpio totalmente dependente do repasse derecursos dos governos Estadual e Federal.Localizado em pleno semirido piauiense, um dos principais problemas enfrentadospela populao local so as estiagens que agravam a precria situao de sobrevivncia damaioria das pessoas. O levantamento realizado pela Critas constatou as principais consequn-cias desses perodos: QUADRO 02 CONSEQUENCIAS DAS ESTIAGENS Tipo de consequncia*%- Falta de gua para o consumo humano 76- Falta de gua para os rebanhos60- Dificuldade de acesso a alimentos para a famlia60- Dificuldade de acesso a alimentos para os animais 67- Perda total das lavouras60 O Sonho construdo em mutiro- Perda parcial das lavouras24- Falta de trabalho 24* Questo de mltiplas respostas: as pessoas entrevistadas indicavam at trs consequncias O acesso gua de boa qualidade uma das dificuldades presentes no apenas nosmomentos de estiagem prolongada. O levantamento constatou que as principais fontes deabastecimento de gua da populao das reas rurais do municpio no eram adequadas. 25. 28 GRFICO 01ORIGEM DA GUA UTILIZADA PELAS FAMLIAS DASLOCALIDADES RURAIS DO MUNICPIO DE CORONEL JOS DIAS Poos 16% Cacimbas Cisternas 44% 17% Barragens 23% A dificuldade de acesso gua de boa qualidade para o consumo humano deve-se escassez dos recursos hdricos no municpio. O territrio municipal cortado pelos rios Piau e So Loureno e pelos riachos Mulungu, Lagos e cavaleiros. No entanto, estes rios e riachos so todos intermitentes e sofrem com o assoreamento e outros danos provocados nas suas imediaes. No que se refere s guas subterrneas, constata-se que o solo cristalino dificulta a obteno de gua de boa qualidade atravs da perfurao de poos. Na maioria dos poos perfurados a gua salobra, imprpria para o consumo humano. No entanto, a 30 km do municpio encontra-se uma rea sedimentar com gua boa em abundncia. Apenas um poo tinha gua de boa qualidade servindo para o abastecimento da sede do municpio, que conta com um sistema de abastecimento atravs de dois chafarizes e carros pipas, sendo distribuda populao sem nenhum tratamento. O municpio conta com pequenas barragens e audes que favorecem o abastecimen- to de gua para as famlias e pequenos rebanhos. A maioria destes barramentos demora pouco tempo com gua, tendo em vista a rapidez e intensidade da evaporao, alm de estarem assoreados, precisando urgentemente de reformas nas suas estruturas.Critas Brasileira Regional do Piau Nos perodos em que a chuva atrasa, a escassez de gua se torna ainda mais grave, sendo preciso o transporte de gua da barragem Petrnio Portela, localizada no municpio de So Raimundo Nonato, atravs de carros pipas. No perodo de estiagem prolongada, as principais formas de abastecimento so: carro pipa (64%) e os animais de carga (27%). O levantamento constatou tambm que as mulheres carregavam gua das fontes para as residn- cias, andando longas distncias. Com a fragilidade desses mananciais hdricos acima apresentados, uma das possibili- dades apropriadas para acesso gua de boa qualidade no municpio a captao e armazena- mento de gua da chuva. De acordo com o quadro 04, a quantidade de chuvas varia de 460 a 850 milmetros/ano, com uma mdia anual de 580 mm. As chuvas esto concentradas no perodo de dezembro a maro, sendo irregularmente distribudas a cada ano, o que dificulta significativamente as prticas agrcolas. 26. 29 QUADRO 03 MEDIDAS PLUVIOMTRICAS NO MUNICPIO DE 1994 A 1998 (mm)Ano/msjan fevmar abr mai jun jul ago setoutnovdezTotal 199478 124 175 30,1- --- -- - 8,3463,4 199552 131 33 7232 --- - 4242 107 569 1996 - 96229 106 - --- -- - 84542 19972187537466 - --- - 5757 21 855,5 1998129148 30- - --- -- - 199505,6Fonte: Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Recursos Hdricos. Banco de Dados Pluviomtricos do Departamento de HidrometeorologiaNos ltimos anos, atravs do incentivo da Critas, tem sido implantadas cisternascom sistema para captao de gua da chuva nas residncias localizadas no meio rural. Aprefeitura tem incentivado e apoiado esta iniciativa, favorecida pela captao de recursos doPrograma de Combate Pobreza Rural PCPR (Governo do Estado e Banco Mundial), tendosido construdas mais de 300 cisternas.O levantamento de informaes realizado pela Critas em setembro de 2000 consta-tou que as famlias residentes nas localidades que tiveram acesso s cisternas ressaltam asseguintes melhorias: garantia do acesso e a qualidade da gua consumida; aumento do tempodisponvel para outras atividades (antes ocupado para carregar gua de longas distncias); areduo de doenas e a diminuio da dependncia poltica das famlias em relao ao forneci-mento de gua (acesso a reservatrios, carros pipas etc.). No entanto, h o reconhecimento deque esta quantidade de cisternas construdas insuficiente para atender as demandas locais.O enfrentamento destas problemticas acima apresentadas deve contar com aparticipao de todos os setores sociais do municpio. O levantamento constatou que emCoronel Jose Dias j existia um potencial organizativo que podia ser valorizado. Alm doSindicado dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais (STTR) existem cerca de 20 associa-es comunitrias e de pequenos trabalhadores e trabalhadoras rurais espalhadas pelo munic-pio. A juventude participa com maior intensidade dessas organizaes locais, tendo assumido aliderana de algumas delas. O municpio tambm conta com alguns conselhos de gesto depolticas pblicas: sade, educao, assistncia social e desenvolvimento rural.Em duas das localidades pesquisadas j ocorria mobilizao da populao em buscade solues e atendimento de suas necessidades nos perodos de estiagem. Esta participao maior quando induzida, como o caso de onze organizaes comunitrias que afirmam terparticipado das atividades e planejamento das Frentes de Trabalho criadas no municpio, emO Sonho construdo em mutiro1998.Outro exemplo deste potencial pde ser medido pela participao de todas asassociaes e de outras organizaes locais na construo do projeto. No seminrio realizadoem setembro de 2000, no municpio, os participantes identificaram estas problemticas, mastambm reafirmaram a convico de que possvel conviver com o semirido, aproveitando demodo sustentvel suas potencialidades, com o uso de tecnologias de manejo de recursoshdricos e de produo apropriada a esta realidade. O Quadro 04 expressa a opinio de quemparticipa das associaes comunitrias sobre as principais aes para conviver com a qualidadede vida no semirido. 27. 30 QUADRO 04PRIORIDADES DE AES DE CONVIVNCIA COM O SEMIRIDO Tipos de aes n. % 1 - acesso gua para abastecimento familiar, criaes de animais e pequenas plantaes: 33 100 - Cisternas18 54 - Restaurar audes e barragens 06 18 - Perfurar e equipar poos 04 12 - Construir barreiros e cacimbas 03 09 - Tratar a gua02 06 2 - Produo agrcola1442 - Produo de alimentos (culturas de sequeiro) 0718 - Culturas permanentes: caju, mamona, palma0515 - Beneficiamento da produo agrcola0206 - Acesso a sementes apropriadas0103 3 - Apoio produo pecuria20 61 - Criao de caprinos e ovinos 08 24 - Melhoria de rebanhos 06 18 - Criao de abelhas (apicultura)03 09 - Beneficiamento da produo de mel03 09 4 - Apoio s atividades agrcolas e pecuria 12 36 - Assistncia tcnica04 12 - Uso de tecnologias apropriadas 02 06 - Crdito para produo02 06 - Capacitao03 09 - Organizaes comunitrias01 03 5- Outras iniciativas de gerao de renda09 27 - Setor turstico03 09 - Artesanato 06 18 6- Servios sociais Bsicos05 15Critas Brasileira Regional do Piau 28. IIA Construo Diretrizes Gerais do PCSA 29. 33Projeto Piloto de Coronel Jos Dias Conforme o Quadro 04 apresentado sobre a realidade do semirido brasileiro, ondeforam destacados alguns dos principais problemas enfrentados pelas famlias e comunidadesempobrecidas da regio, a Critas Brasileira Regional Piau deu continuidade e ampliou ainterveno nessa realidade, atravs de um projeto piloto voltado para a convivncia harmni-ca e com qualidade de vida no semirido brasileiro de acordo com os princpios do desenvolvi-mento humano sustentvel. Tratou-se de uma interveno pr-ativa que precisou alguns princpios ou diretrizesgerais orientadores dos objetivos a serem alcanados, bem como das atividades a seremrealizadas: a) Difuso de alternativas: a capacidade de transformar o alternativo em alterativo, ouseja, a visibilidade do programa, a publicizao e a disseminao de aes significativas que setornem referencias para a populao local e para a formulao de polticas pblicas apropria-das realidade do semirido. Tomar como referncia os impactos de implementao dealternativas permanentes de convivncia com o semirido; b) Democratizao das polticas pblicas: aumento das capacidades organizativas,fortalecimento das organizaes comunitrias, desenvolvimento de conhecimento e docontrole e monitoramento das informaes referentes ao semirido e a aplicao de recursospblicos. Inserir na agenda governamental um planejamento pr-ativo com a interiorizao dodesenvolvimento e investimentos em infraestrutura social e econmica; c) Fortalecimento das parcerias, alianas, articulao e afinidades entre os diversosrgos da sociedade civil e do estado (nas esferas municipal, estadual e federal) que atuam naregio para realizar aes conjuntas que promovam impactos sociais e ambientais sustentveisem nvel da regio semirida. Combinar aes para potencializar recursos e esforos; d) Ateno especifica s questes de gnero e geraes presentes no semirido,reconhecendo suas especialidades e buscando enfrentar processos culturais de excluso, comogarantia de democratizao e sustentabilidade das aes previstas no presente programa,acesso das mulheres e jovens a programas de crdito e nos conselhos de polticas pblicas; e) Educao para a convivncia com o semirido: ampliao das capacidades educa-cionais (alfabetizao, ensino bsico para pessoas jovens e adultas, formao profissional e O Sonho construdo em mutiroassistncia tcnica); valorizao de conhecimentos bsicos de convivncia com a regio;gerao e difuso de informaes; f) Manejo adequado dos recursos do semirido (hdricos e produtivos): buscapermanente de informaes e monitoramento das previses de seca; conservao, usosustentvel e recomposio ambiental dos recursos naturais; uso de tecnologias apropriadas;fortalecimento da agricultura familiar; garantia de segurana alimentar; universalizao doabastecimento de gua para consumo humano; acesso ao crdito e canais de comercializao;estmulos a unidades de beneficiamento da produo e empreendimentos no-agricolas. 30. 34 Educar para Conviver O problema da gua no mundo tem no semirido um agravamento maior, pois se trata de uma realidade onde a gua disponvel escassa combinada com a falta de polticas pblicas apropriadas ao uso sustentvel dos recursos disponveis, bem como a construo de obras hdricas capazes de abastecer toda a comunidade. Se por um lado a ao poltica do Estado brasileiro em todos os nveis no tem sido capaz de solucionar este problema, por outro lado, a populao no tem encontrado formas para sair da acomodao e mudar essa realidade. Ento, faz-se necessrio criar novos hbitos, rompendo com velhos costumes que s contribuem para a perpetuao da situao de mendi- cncia em que vive maioria da populao do serto, agravadas em pocas de estiagem. Torna-se, portanto, necessrio e urgente investir na educao e mais ainda, em uma educao de qualidade e contextualizada na regio.Investir em educao um dos passos mais decisivos para a superao de talrealidade: os dados indicam que cada quatro anos de estudo da mecorresponde reduo de 20 pontos na pobreza das crianas e adolescentes[...] (CARVALHO, 2004: 21). Viver melhor no semirido significa conhecer melhor a realidade, perceber as suas fragilidades e a sua viabilidade no jeito de plantar, de criar, de produzir e de lidar com os recursos disponveis na regio e estabelecer novas formas de se relacionar com o meio ambiente. A convivncia com o semirido consiste em aproveitar as potencialidades da regio e transform-las em novas perspectivas de vida. Existem plantas e animais que se adaptam melhor ao clima e vegetao, assim como o beneficiamento de frutos e a captao da gua da chuva propiciam melhor desenvolvimento e renda para as comunidades e, consequentemente, para o municpio. preciso investir na educao, porque atravs desta que a populao se apropriar de novas tcnicas de criao, plantao, produo e de conhecimento da realidade. Desenvolvendo estas experincias alternativas, estar contribuindo para uma convivnciaCritas Brasileira Regional do Piau mais solidria e sustentvel com a regio semirida e com o meio ambiente em geral (BRAGA, 2004:28). Isto ter um impacto grandioso na vida das pessoas no que se refere valorizao do lugar onde vivem e de si mesmas, enquanto pessoas capazes de mudar a realidade, evitando que as famlias se desagreguem pela busca de melhores condies de vida em outros lugares. Sabe- se que, quando os trabalhadores do semirido no conseguem produzir nem para comer ou dar comida aos seus animais, eles migram. Vo para outra regio procura de uma vida melhor (LIMA &ABREU, 2005:15) As condies de melhoria de vida esto no prprio lugar onde se vive. Basta acreditar em uma vida possvel no semirido a partir de um novo olhar para a realidade e um novo jeito de se viver, rompendo com a tradio do combate seca e aprendendo a conviver com ela, numa perspectiva superadora das velhas prticas e instalao de novas capazes de garantir 31. 35qualidade de vida.A Educao para a Convivncia com o Semirido no apenas uma ao social emque as pessoas interagem entre si e vo passando novos conhecimentos informalmente. Estaao necessria, mas no suficiente. A escola ser palco de novas prticas tambm, medidaque, assuma a responsabilidade em difundir esta nova proposta, adotando metodologiasapropriadas e, sobretudo, que possibilite a construo de novos conhecimentos pautados narealidade onde vivem.A educao escolar deve promover uma releitura da realidade do semirido e contex-tualizar o ensino de modo a se construir a convivncia como um novo referencial para a regio,contribuindo para que as pessoas deste lugar aprendam a conviver consigo mesma, com asoutras pessoas e com o meio ambiente. Uma ao pedaggica efetiva poder redimensionar arelao sociedade-natureza e assim transformar um destino coletivo e um crculo vicioso dedegradao ambiental e pobreza em um espao da vida e do aconchego. (BRAGA, 2004: 83- 84)A proposta de educao para a convivncia com o semirido est associada a umprojeto de sociedade onde se promova a dignidade humana, atravs de relaes ecologicamen-te saudveis, economicamente justas e socialmente livres, condies necessrias para o desen-volvimento sustentvel, que est diretamente ligado ao atendimento das necessidades huma-nas, sem causar prejuzos ao meio ambiente.Eis o grande desafio: conviver com o semirido, a partir do conhecimento da realida-de, das condies climticas da regio, do respeito biodiversidade e da preservao do meioambiente, e criar condies de sustentabilidade econmica, social e ecolgica dos seres aliexistentes.Eixos de AtuaoA partir das diretrizes, a Critas e as parcerias de elaborao e gesto do projeto,seguindo a mxima de Educar para Conviver, decidiram delimitar os seguintes eixos de ao: Gesto Recursos Hdricos Produo Agropecuria Apropriada Educao ContextualizadaPara cada eixo foi desenvolvida uma poltica de capacitao, que se constitui tambmO Sonho construdo em mutirona formao de agentes multiplicadores e multiplicadoras da convivncia com o semirido nascomunidades envolvidas no projeto. Embora professores e professoras assumam esta funode forma mais intencional nas escolas onde trabalham a proposta de EducaoContextualizada.Assumindo a dinmica de interveno na realidade a partir destes eixos, o ProjetoFecundao conseguiu promover a discusso e, ao mesmo tempo, realizar as aes, integrandocampo e cidade e envolvendo homens e mulheres, crianas e jovens numa mesma perspectiva:tornar melhor a vida em Coronel Jos Dias e proclamar as potencialidades do semiridobrasileiro.Perpassando as aes desenvolvidas nos eixos de ao, buscou-se tambm trabalharas questes de gnero e gerao, partindo do entendimento de que as relaes verticalizadas 32. 36 e patriarcais so uma herana que se configura nas relaes familiares e sociais de hoje. Desta forma, nos momentos de formao, esta temtica buscou seu lugar na medida em que oportu- nizava questionamentos e reflexes quanto s relaes de gnero e gerao, promovendo-se um recorte, sobretudo em relao s condies da mulher. Neste processo se entrelaam questes sociais, culturais e de cidadania, com foco na poltica local, numa perspectiva de empoderamento das pessoas excludas no somente de polticas pblicas, mas tambm do poder de deciso.Critas Brasileira Regional do Piau 33. 37GestoNa maioria dos municpios localizados no semirido brasileiro, as organizaes dasociedade civil tem tido pouca capacidade de articulao para interveno e controle social dosprogramas implantados em nvel local. A dificuldade de participao est relacionada comdiversas causas: a falta de capacitao, a pouca articulao, a fragilidade dos mecanismos departicipao popular (conselhos, fruns, etc.) e o desconhecimento dos direitos, dos recursosque so destinados e de como so aplicados. Nesse sentido, que o Projeto Fecundaotrabalha o eixo Gesto: na perspectiva de empoderamento das pessoas, buscando a autonomiae a sustentabilidade das aes desenvolvidas.O desafio de se constituir/construir uma gesto compartilhada do projeto foivivenciada desde o incio da gestao do Projeto Fecundao. Segundo LCK (2001), oprprio conceito de gesto j nos remete a uma idia de participao, de um trabalho coletivode anlise/reflexo sobre determinada situao que permite uma tomada de deciso sobrecomo agir. Parte-se do princpio de que o sucesso de determinada proposio depende de umadeciso conjunta do grupo envolvido, de forma recproca, gerando um todo guiado por umavontade coletiva.Deste modo, buscou-se uma organizao capaz de se responsabilizar pela execuo eanimao do projeto e que fosse capaz de refletir e decidir de forma coletiva, sobre o processode construo das aes. Partiu-se da compreenso de que a gesto um compromissocoletivo do FAZER REFLETIR REFAZER.Para este exerccio foi composta a comisso gestora do projeto fecundao, concebi-da de forma a proporcionar a todas as pessoas envolvidas na experincia a apropriao desaberes e fazeres no processo de execuo da proposta. A comisso gestora do projeto fecun-dao, desde a sua implantao no municpio foi composta por representantes da CritasDiocesana de So Raimundo Nonato, da Igreja local, do sindicato dos trabalhadores, trabalha-doras rurais e do poder pblico municipal. Figurando da seguinte forma: 01 representante da Critas Regional 01 representante da Critas Diocesana de So Raimundo Nonato 01 representante da Prefeitura MunicipalO Sonho construdo em mutiro 01 representante da Igreja 01 representante do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais 02 representantes das associaes de produtores e produtoras (um dos quais deveria ser, necessariamente, uma mulher)Essa comisso gestora foi instituda com atributos de deliberao em algumas aesdo programa: aprovao de projetos de recursos hdricos e produtivos apresentados pelasassociaes; monitoramento do projeto; definio da aplicao de recursos da partilha solid-ria; mobilizao de recursos locais e em outros nveis para a efetivao das aes previstas.Foi instalado no municpio um escritrio do projeto fecundao para atender sdemandas latentes e dar suporte s aes previstas, promovendo a coordenao, a administra-o das aes e o apoio tcnico de modo a viabilizar o planejamento e a execuo do projeto. 34. 38 Contratou-se inicialmente um tcnico agrcola, sob a responsabilidade da prefeitura municipal, e um auxiliar tcnico administrativo que viabilizaria o contato com os grupos organizados, conforme as aes. Estes profissionais faziam parte da comisso gestora e se responsabilizaram pelo processo de acompanhamento das aes que vinham sendo desenvol- vidas, inclusive as reunies da comisso. A gesto do projeto adotou a estratgia de PMA Planejamento, Monitoramento e Avaliao para melhor acompanhar o desenvolvimento das aes. Foram realizadas duas oficinas de PMA com o objetivo de propiciar espao de anlise e planejamento do processo de implantao do projeto no municpio e de compreender esta ferramenta como estratgia de acompanhamento das aes, numa perspectiva de superar as fragilidades, a partir do exerccio da avaliao, do monitoramento e do (re)planejamento das aes. Para possibilitar esta dinmica, foram criados Grupos de Trabalho (GT), como forma de contribuio no acompanhamento das aes planejadas. Participam dos grupos pessoas que, de uma forma ou de outra, tem interesse pelas aes do projeto e indicadas pelos membros da comisso gestora. O grande objetivo dos GTs discutir e aprofundar as temticas e garantir as condies e estratgias para a execuo das atividades de cada eixo do projeto. Foram constitudos os seguintes grupos: GT de Educao; GT de Produo; GT de Recursos Hdricos; GT de Gesto.Foi definido tambm o papel dos membros dos GTs: Organizao das atividades de acordo com o planejamento Reunies de trabalho para execuo das atividades Contatos com as entidades parceiras para a gesto do projeto Participao nas reunies ampliadas da Comisso Gestora e dos encontros de PMA Elaborao do relatrio anual de atividades do GT Assiduidade e compromisso com as aes do projeto de ECSA QUADRO 05 ATIVIDADES NA EXECUO DO PROJETO FECUNDAOCritas Brasileira Regional do Piau Atividade Detalhamento Reunies mensais daAs reunies so espaos de discusso e controle das aes e ocomisso gestora momento de reflexo e definio de aes estratgicas de acordo com a necessidade. 04 oficinas de PMA Os encontros de PMA ocorreram entre os anos de 2001 a 2004 com o objetivo de Propiciar espaos de anlise e planejamento do processo de implantao e de desenvolvimento do projeto. Reunies com Os grupos de trabalho foram criados para darem suporte s aescoordenaes dos Grupose promover o acompanhamento a cada eixo.de Trabalho da comissogestora. 35. 39 Atividade Detalhamento Inaugurao da sede do A sede foi inaugurada em dezembro de 2001 e seu funcionamento projeto cedido pelo poderuma parceria com o poder pblico local. pblico Participao de membrosAtividade de mobilizao social das comunidades em eventos externos 01 Encontro de avaliao A avaliao parte do processo de apropriao das aes do trienal do projeto projeto com o objetivo de alimentar o planejamento 01 Oficina de teatro com Realizada em maio de 2006 com o objetivo de envolver os jovens, a juventudealunos das escolas a se sensibilizarem com as tcnicas teatrais etrabalhar as temticas do semirido atravs do teatro Visitas a parques eCom o objetivo de envolver a comunidade no ambiente semirido experincias local, a partir da realidade de preservao e do potencial turstico daregio. Confeco de 250 As cartilhas foram distribudas nos momentos de formao cartilhas sobre educao promovidos nos eixos de ao. para convivncia com o semirido. Grito das pessoasRealizado no dia 07 de setembro de 2005, teve como principal excludasobjetivo envolver a classe estudantil e a sociedade em busca deconhecimentos sobre este ato cvico e manifestarem os seus direitosatravs de reivindicaes. Cursos de pintura em tela Com a durao de nove meses, os participantes aprenderam a pintar utilizando vrias tcnicas, desenvolvendo um potencial maior em pintura em tela, tendo como base o semirido nordestino. Capacitao de jovens em O curso foi ministrado pelo SEBRAE e destinado a guias tursticos, atendimento do turismo em 2006, com o objetivo de capacitar 25 jovens como agentesmultiplicadores do potencial turstico da regio. Alm disso, foram realizadas atividades voltadas para as questes ambientais naO Sonho construdo em mutirosemana do meio ambiente. O Projeto Fecundao confeccionou 1.000 folderes com algumasdicas sobre gua, lixo e fauna e apoiou a realizao de concurso de coleta seletiva de lixo,gincanas com temas ambientais, palestras educativas sobre fauna, flora, caa predatria,patrimnio histrico e reciclagem de lixo, promovidas pela Secretaria do Meio Ambiente.O PMA do FecundaoCompreendemos que o processo desencadeado pelo PMA possibilita percebersignificado da experincia para os sujeitos envolvidos e para a comunidade, ao tempo em que 36. 40 possibilita qualificar as aes desenvolvidas rumo aos objetivos propostos no projeto. Partiu-se da compreenso elementar de que o PLANEJAMENTO o detalhamento das aes a serem desenvolvidas, o MONITORAMENTO o acompanhamento das aes, atravs de registros e informaes, e a AVALIAO a validao das aes, conforme pensadas e, na medida em que permite analisar as falhas e as potencialidades, possibilita um re- planejamento rumo aos objetivos propostos. Conhecer os passos metodolgicos a serem dados a primeira ao que desencadeia a aplicao da metodologia no trabalho a ser desenvolvido, por isso a realizao das oficinas, num exerccio terico-prtico que permite, ao mesmo tempo, apropriar-se da ferramenta PMA e exercit-la dentro do projeto. O ato de planejar j uma ao que faz parte do nosso cotidiano, se vamos sair de casa, planejamos o que fazer, se ficamos, tambm planejaremos o que ser feito e com que propsito. Neste sentido, definimos o planejamento como uma tomada de deciso compro- metida com as expectativas que temos de algo a ser realizado e com os resultados que ela deve gerar. Na concepo adotada pelo projeto fecundao, o planejamento uma ferramenta de interveno da realidade, na medida em que pressupe inicialmente a anlise da realidade para que se possam identificar os problemas nela existentes e refletir sobre a nossa capacidade de intervir. Um problema sempre algo que incomoda, uma situao indesejvel. O desejo de mudar a realidade nos faz planejar e isso exige: definir objetivos, traar metas e propor aes. Definir OBJETIVOS uma forma de antecipar os resultados e processos esperados de um plano de aes. As METAS so mais slidas e so mensurveis e por isso mesmo so expressas quantitativamente, estabelecendo prazos para no se perder de vista os resultados, de modo que os objetivos possam ser atingidos. As AES so as mudanas a serem realizadas e esto intrinsecamente ligadas s metas a serem alcanadas. Um plano de ao contempla outros elementos que traduzem o planejamento, o processo de reflexo e de tomada de deciso, que esto interligados entre si, de modo a expres- sar o desejo de mudana. Convm destacar que o planejamento feito com o propsito de intervir, necessaria- mente o carter participativo se evidencia enquanto espao privilegiado de discusso e tomada de decises. Vale ressaltar que todo processo de planejamento envolve escolhas, decises e responsabilidades, permitindo o surgimento de questes como: O que fazer? Por que fazer? Como fazer? Quando fazer? Quem ir fazer? Quem se responsabilizar pelos seus resultados? O monitoramento feito a partir das informaes colhidas durante o processo deCritas Brasileira Regional do Piau aplicao do planejamento. uma ferramenta utilizada para reconhecer as mudanas que esto sendo implementadas, atravs do registro de observaes e de dados que iro subsidiar a avaliao e o re-planejamento. Importante ainda que estes instrumentais possam estabelecer uma relao direta com os indicadores de resultados, definidos tambm no processo de planejamento, desse modo que o monitoramento busca sempre a relao entre o que foi planejado e o que foi executado. No projeto fecundao, o monitoramento foi realizado, atravs de fichas, relatrios, pesquisa para o levantamento de dados sobre cada eixo de ao, revelando em que medida os resultados esperados foram sendo alcanados, buscando tambm revelar as dificuldades encontradas e os encaminhamentos feitos em relao ao que no foi realizado. Quanto avaliao, esta uma ferramenta indispensvel em qualquer atividade. , atravs do olhar avaliativo, que se pode perceber as mudanas significativas, as fragilidades, 37. 41possibilitando ainda, uma reflexo sobre os rumos que esto sendo construdos e se estes sode fato, o que se esperava construir. A avaliao nos permite refletir sobre nossa prtica. Ela um momento imprescind-vel para a sistematizao. Estando centrada na prtica, busca sempre a melhoria, o aperfeioa-mento. Na avaliao, preciso discernir o que so falhas a serem corrigidas e o que so limita-es a serem potencializadas. a avaliao, com a ajuda do monitoramento, que vai dar umnovo impulso ao planejamento, guiando-o para os rumos pretendidos. Adotando o enfoque metodolgico do PMA na gesto do projeto, a comissogestora, atravs de seus componentes, manteve um calendrio ordinrio de reunies, quepermitia um acompanhamento sistemtico das aes e a motivao dos sujeitos envolvidos atambm vivenciarem esta metodologia. O Sonho construdo em mutiro 38. 42 Recursos HdricosQue a gua no planeta farta, todos ns sabemos. Ela ocupa 2/3 da superfcie terres- tre, mas apenas 3% deste volume de gua doce. Esta quantidade, mesmo sendo pequena, seria suficiente se no estivesse distribuda de forma muito irregular. S para dar um exemplo, nos rios est apenas um milsimo da gua do planeta. A maior parte das guas est nos plos, isto , muito longe para termos acesso a ela. (MALVEZZI & POLLETO, 2003, p. 23)O problema da falta de gua potvel , portanto, uma realidade para todo o planeta, mas a problemtica da gua no semirido mais agravante ainda devido ao clima. As chuvas irregulares e a grande incidncia de raios solares fazem com que a evaporao seja mais intensa, influenciando na diminuio das reservas de gua.Associada falta de gua est a falta de cuidados com a gua, assim como o acesso a fontes de gua prprias para o consumo. Segundo a Organizao das naes Unidas (ONU), para cada 100 litros de gua que ns usamos, 10 mil litros de gua se tornam poludas.A proposta de educao para a convivncia com o semirido prev a criao de novas formas de abastecimento de gua, bem como a divulgao dos cuidados no armazenamento e gerenciamento das guas, para que a gua colhida no semirido possa ser suficiente para cozinhar, beber e fazer a higiene, e para os animais.Neste processo, o projeto Fecundao buscou a viabilizao do acesso gua de qualidade, atravs das aes promovidas pelo eixo dos Recursos Hdricos, mobilizando as famlias para a construo de cisternas e limpeza das aguadas, visando apropriao das tecnologias de baixo custo para colher a gua e gerenciar o seu abastecimento.Os 16 mil litros de gua captada atravs do telhado das casas no perodo chuvoso garantem o abastecimento para at seis meses. E, dependendo do cuidado da famlia com sua cisterna, alm de suficiente, ela tambm dispe de uma gua livre de microorganismos que possam provocar doenas e a mortalidade, principalmente, de crianas e pessoas idosas.Resolvido o problema da gua para o consumo humano, a vez de pensar na gua para a produo de alimentos, criao de animais e outras necessidades. Nesse sentido, o Projeto Fecundao possibilitou a construo de barragens subterrneas, limpeza de audes e barreiros, marcao de poos atravs da hidroestesia, instalao de Bombas dgua PopularesCritas Brasileira Regional do Piau BAPs (programa desenvolvido em parceria com a Articulao no Semirido Brasileiro ASA Brasil).Em 2009, o municpio de Coronel Jos Dias comeou a receber cisternas calado, atravs do Programa Uma Terra e Duas guas (P1+2), mais uma parceria com a ASA Brasil. Alm da realizao de cursos e seminrios para capacitar as famlias para o bom aproveitamen- to dessa gua que armazenada, com capacitao de pedreiros para a construo de cisternas e barragens. Tudo isso visando ao aproveitamento dos recursos naturais com respeito ao meio ambiente e reafirmando a importncia dessas aes para a sade e o bem estar das geraes. Cartilha GUA DE BEBER: encontros comunitrios sobre o gerenciamento de guas. Critas Brasileira, p.13 39. 43QUADRO 06 PRINCIPAIS AES DO EIXO RECURSOS HDRICOS AtividadeDetalhamento ObservaesCriada a Comisso de Os diagnsticos foram feitosO levantamento de recursosRH e feitos diagnsticos dando incio ao processo de hdricos para ser contido no planohdricos elaborao do Plano Municipal municipal encontra-se em fase de de Recursos Hdricos (PMRH).concluso, falta uma pequena faixa na zona rural e a sede.Diagnstico de recursos A secretaria de sade fez um gua armazenada para o consumohdricoslevantamento das barragens humano e dessedentao dosexistentes no municpio so 14 animaisbarragens de mdio porte.Recuperao doO sangradouro possibilita aO sangradouro se encontravasangradouro davazo do excedente de gua nadanificado e sem manuteno, e jbarragem do Berreiromontante da barragem durante o apresentava risco e danos para aGrandereabastecimento evitando o parede da barragemrompimento da parede.Construo de 01Objetivo de reter a gua noA reteno da gua no subsolo barragem subterrneasubsolo para plantio durante o resultado do barramento feitoperodo seco, construda em localnuma vala no solo at o nvel daem que as guas se deslocam porrocha. O barramento feito comcaminhos naturais e favorea o lona plstica.cultivo de alimentos.A barragem subterrnea foi a primeira construda pela Critas no regionalLimpeza de 02 Objetivo de aumentar a As barragens com o passar dosbarragens capacidade de armazenamento de anos a cada reabastecimento nogua e tambm melhorar a perodo chuvoso vai sendoqualidade da gua. aterrada com deslocamento do solo pela gua. O Sonho construdo em mutiroRealizao de um cursoParticiparam cerca de 20 famlias, O curso de fundamentalde Gerenciamento em mas a participao no foi emimportncia, visto que nas anlisesRecursos Hdricos paratempo integral, fato que gerou feitas com gua de vrias cisternas40 famlias do PSF uma discusso sobre aaparecem coliformes fecais.Programa Sade na mobilizao.Famlia.Capacitao de 30 As capacitaes foram feitas paraA contrapartida das comunidadespedreiros no municpioorientar os pedreiros na na construo das cisternas aconstruo das cisternas.mo-de-obra 40. 44Atividade DetalhamentoObservaes Construo de 700Em mutiro onde cada famliaCisternas com capacidade entre cisternasentra com a contrapartida de16 e 20m de gua. Suficiente paraescavao do buraco e acolhidauma famlia de 05 pessoas beber edo pedreiro durante a construocozinhar durante o perodo secoda cisterna. Marcao de 03 poos Tcnica milenar de identificaoCom a tcnica de hidroestesia as (hidroestesia) da gua no subsolo. Em Coronelpessoas com sensibilidadeDias, o tcnico do Fecundao,energtica conseguem identificarna poca, Juvenal Antnio deonde tem gua, sua profundidadeSousa, foi treinado e chegou ae qualidade. (o IRPAA trabalhamarcar trs poos cacimbes.com esta temtica, identifica ecapacita agricultores/as) Seminrio Gesto dePara definir um plano diretor Este seminrio apontou como Recursos hdricospara gesto dos recursos hdricos meta a construo do PMRH,no municpio. mas que no foi possvel aindasua realizao. Limpeza do aude daCom o objetivo de aumentar aEstes reservatrios com Salininhacapacidade de armazenamento desucessivas recargas de guagua para consumo humano edurante o perodo chuvosoanimal. passam a ser aterrados em funodo deslocamento do solo pelagua. Levantamento de poosA Bomba d`gua Popular BAPO GT de recursos hdricos nos 1 e 2 distritos de (bomba manual instala em poospercorreu as comunidades Coronel Jos Dias para tubulares de baixa vazo queidentificando poos no o programa Bomba permite a elevao da gua).equipados e pblicos para a dgua Popular.instalao das BAPs. Olevantamento se estendeu em todaa diocese onde foram instaladascerca de 70 bombas.Critas Brasileira Regional do Piau Instalao de duas BAP Instaladas em Coronel Jos Diascomunidade Veredas (segundodistrito) Realizao de 08 cursosForam capacitados cerca de 180Com durao de 2 a 3 dias as sobre tratamento e multiplicadores.famlias beneficiadas recebem gesto de gua informaes tericas e praticassobre o uso da gua e manejo econservao da cisterna. Realizao de 04 Realizada na comunidade com o Com durao de trs dias em cada oficinas para construo objetivo de capacitar os pedreiroscomunidade. Em mutiro, as de cisternas com as tcnicas de construo defamlias garantem a escavao docisternas de placas.buraco para construo. 41. 45Produo Agropecuria Apropriada importante que as famlias residentes no semirido tomem conhecimento de que aregio caracterizada por um baixo ndice pluviomtrico e com chuvas muito irregulares. Ossolos so rasos e cristalinos e esto sujeitos a desertificao, por isso no do condies favor-veis ao cultivo de culturas anuais como o milho e o feijo, enquanto fonte geradora de renda.Em relao agricultura familiar, a reflexo sobre o jeito de plantar no semiridotambm trouxe novas contribuies, principalmente no que se refere s queimadas, pelosprejuzos que elas causam natureza e ao meio ambiente.Quando o produtor(a) faz a queimada, est matando todos os microorga-nismos que vivem nos primeiros 30cm de 1m do solo, o que corresponde amais de 600g de seres vivos nesses espaos, ficando o solo sem proteo,fraco, duro, sem presena de vida e impermevel e obviamente, semfertilidade. (SOUSA, 2003)A prtica de queimadas, o uso de agrotxicos e fertilizantes qumicos so algumas dasatividades que tem empobrecido e contaminado os solos e pondo em risco o ecossistema e avida humana. Nesse eixo, o projeto procurou fornecer aos agricultores e agricultoras as basespara uma produo sustentvel, atravs dos princpios da agroecologia e da agrobiodiversidade.A implantao de tecnologias apropriadas ao uso do solo busca o melhor aproveita-mento para o plantio, como aproveitar a palha e o mato seco para evitar a perda da gua pelaevaporao (cobertura morta) e plantar sob a orientao da curva de nvel, evitando o plantiono sentido da declividade de solo para aumentar a reteno da gua.Conforme assinala Joo Evangelista Oliveira, coordenador do Programa deConvivncia com o Semirido da Critas Brasileira Regional Piau, as tecnologias adotadas eque esto sendo utilizadas na agricultura familiar so simples, de baixo custo, ambientalmenteharmnicas, socialmente mobilizadoras e no campo econmico primam pela sustentabilida-de (impresso, 2009 anexo).Neste sentido que as aes do projeto Fecundao em relao produo apropria-da tiveram como base a produo sustentvel no semirido, numa perspectiva de criar umanova mentalidade no jeito de produzir, proporcionando melhoria de renda das famlias.O Sonho construdo em mutiroPara tanto, foi incentivada a criao de pequenos animais (caprinos, ovinos, aves esunos) que necessitam de pouca gua para sobreviver; a melipolinicultura (criao de abelhas)que aproveita a florada existente para a produo do mel, alimento bastante nutritivo e comalto valor comercial; o beneficiamento de frutas com o aproveitamento de rvores nativas como umbu e caju para a produo de polpas, doces, compotas, bombons e a famosa cajunado Piau; cursos de artesanato; bancos de sementes e de protenas. Tudo atravs de cursos decapacitaes que deram um incremento na qualidade e no valor da produo das famlias. E estasaprenderam novas formas de comercializao, atravs da Economia Popular Solidria (EPS).No processo de formao e capacitao desenvolvido pelo Projeto Fecundao, almdo conhecimento acerca da histria da criao dos animais, buscou-se tambm promover oconhecimento de tcnicas como: sistemas de criao e manejo do rebanho: condies sanitri-as, reprodutivas, alimentares e cuidados nas instalaes. 42. 46 QUADRO 07 PRINCIPAIS AES DO EIXO PRODUO AGROPECURIA APROPRIADA Agricultura Insero de sementes forrageiras na agricultura (sorgo, palma e feijo guandu) - 90 famlias; Otimizao das culturas de caju e umbu com compra de mudas para as famlias; Curso de tcnicas em fruticultura e Capacitao de 20 famlias; Curso sobre manejo do solo e tecnologias apropriadas; Aquisio de dois motores para mquinas de beneficiamento agrcola; Plantao de 33,72 ha. de caju; Capacitao de aproveitamento do potencial do caju; 01 grupo de produtores de caju; Aquisio de 62 bolas de arame para a melhoria das roas. Criao e manejo de animais Artesanato e comercializao de produtos Curso de tcnicas em artesanato e capacitao de 20 famlias; Curso sobre gesto e comercializao do artesanato; Oficina de produo de cajuna; Organizao dos produtores de umbu para criar a cooperativa de beneficiamento dos frutos; Curso de fabricao de bombons de chocolate com recheio de umbu, castanha e goiaba; Reunio com o grupo de famlias beneficiadoras de frutas para a discusso sobre identidade de possveis canais de comercializao no mercado local para a produo existente nos grupos; Reunio com o grupo de famlias que trabalham com o beneficiamento de frutas para nivelamento de conhecimentos sobre tcnicas de venda; 01 grupo de beneficiamento do umbu; Curso de aperfeioamento dos produtos (cajuna, doces e outros) promovido pelo EMATER capacitao de 20 famlias; Capacitao de aproveitamento do potencial do caju; Oficina de capacitao sobre defumados e embutidos de caprinos e ovinos com assessoria externa; 01 curso de produo de remdios fitoterpico; Criao de uma farmcia fitoterpica.Critas Brasileira Regional do PiauNa medida em que as aes aconteciam, geravam novas demandas e outras atividades tambm foram sendo sugeridas, planejadas e executadas com o intuito de reforar os objetivos do trabalho em relao produo apropriada, bem como os objetivos do projeto. So elas: Reunies comunitrias sobre desenvolvimento sustentvel; Realizao de encontro de intercmbio sobre artesanato, caprinocultura, apicultura; Aprovao em dezembro de 2005, junto ao BNB/ SENAES, do projeto de Fundos Produtivos Solidrios; Retomada dos acompanhamentos aos grupos produtivos; Renegociao das devolues junto aos grupos produtivos; Apoio ao projeto Fitoterpico do grupo de mulheres, liderado pela Irm Ana Maria; Acampamento e monitoramento das atividades; Participao no XII Seminrio Piauiense de Apicultura. 43. 47Educao ContextualizadaVrias construes tericas em torno da educao contextualizada foram registradasao longo do processo de implantao do Projeto Fecundao, algumas, inclusive, deramsuporte s discusses nos espaos das oficinas pedaggicas, como o caso dos textos trabalha-dos pelo grupo de assessoria, sendo objetos de reflexo e de apropriao da temtica, numaperspectiva de alimentar o fazer pedaggico no semirido.Destaque-se a contribuio do Instituto Regional da Pequena AgropecuriaApropriada (IRPAA), pelos servios de assessoria e parceria durante a execuo do projeto eda Rede Educao do Semirido Brasileiro (RESAB), pelas experincias acumuladas nesteprocesso que motivaram, e motivam, a vivncia de uma prtica pedaggica pautada na necessi-dade de se conhecer a realidade, sobre ela refletir e para nela intervir, numa perspectiva dedesconstruir saberes internalizados em torno do semirido, modificando-se hbitos, atitudes,valores, comportamentos e conceitos (SOUSA e REIS, 2003, p.31).As oficinas pedaggicas foram espaos privilegiados de formao e atualizao emtorno do conhecimento da proposta de Educao para a Convivncia com o Semirido,incluindo-se a Educao Contextualizada como base para as mudanas mencionadas e danecessidade de sua implementao nas escolas. Essas oficinas tiveram, portanto, carterterico-prtico, na medida em que oportunizaram aos professores, professoras, tcnicos etcnicas da educao obterem subsdios para o trabalho nas escolas e, a partir das experinciasdesenvolvidas, refletirem sobre a prtica pedaggica.De acordo com o IRPAA, as oficinas pedaggicas: [...] so estruturadas sobre temas que abordam as questes mais especficas como o clima, a gua, a geografia, a produo, a estrutura fundiria. Esses temas permitem uma abordagem pedaggica que relaciona esse novo saber com a ao educativa em sala de aula [...] revendo conceitos e investigando os diversos processos que permeiam o ensino-aprendizagem (SOUSA e REIS, 2003, p.12). As mudanas de atitudes no fazer escolar envolvem relaes de ensino aprendizagem O Sonho construdo em mutirono apenas entre professores, professoras, alunos e alunas, mas tambm a famlia e a comuni-dade, na discusso dos processos educativos: planejamento, avaliao, disciplina, dentreoutros. um processo difcil, porm desafiador, conforme tm manifestado, ao longo daexperincia do projeto, alguns professores e professoras: Os professores e professoras do municpio aps a realizao das oficinas pedaggicas esto mais bem preparados e preparadas para trabalhar e j esto colocando em prtica esta nova proposta educacional que aprender-Depoimentos feitos em setembro de 2003 44. 48 mos a conviver com o semirido. E ensinar os alunos, alunas da rede municipal de ensino, juntamente com a comunidade, que a realidade climtica do semirido no podemos modificar, mas podemos desenvolver tecnologias alternativas para vivermos melhor nessa regio. (Jos Roberto ento Secretrio Municipal de Educao). Com a educao para a convivncia com o semirido est ocorrendo a promoo de conhecimentos e divulgao de nossas potencialidades para que todos valorizem seus elementos culturais e ambientais, partindo do contexto local, para que haja transformaes significativas dentro do nosso convvio dirio (Professora Mirian U. E. Monsenhor Nestor). Com esta nova proposta estamos aprendendo de uma forma descontrada e agradvel, com um melhor aprendizado, e que ao analisarmos a realidade dos outros percebemos que aqui o melhor lugar do mundo (Prof. Regina - U. E. Monsenhor Nestor).Os alunos e alunas: A Educao para Convivncia com o Semirido tem nos ajudado a enten- der melhor o clima, a conviver com a seca e cuida