~3 . 481 B53 KA

2

v \

YOUNG DA COSTA MANSO VICE-PRESIDENTE DO TRI UNAL DE JUSTiÇA DE SÃO PAULO

MINISTRO RODRIGUES DE ALCKMIN

-.

1 9 7 9

];'1)(\ 7 A 1 "..,

YOUNG DA' COSTA MANSO VICE-PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTiÇA DE SAO PAULO

MINISTRO RODRIGUES DE ALCKMIN

, 9 7 9

· .

ORAÇAO PRONUNCIADA PELO DESEMBARGADOR YOUNG DA COSTA MANSO, NO FORUM «MINISTRO COSTA MANSO» , DE PINDAMONHANGABA, EM SESSÃO SOLENE DE 29 DE

JANEIRO DE 1979.

~ para mim honra inexcedivel comparecer a Pindamonhan­gaba, terra de meu pai e de vários de meus antepassados, com o cbjetivo de proferir no «Forum», que tem seu nome - MINISTRO COSTA MANSO, a oração magna, como ·se acha escrito no pro­grama das solenidades oficiais, em memória de outro Ministro do Supremo Tribunal Federal - JOSE GERALDO RODRIGUES DE ALCKMIN, natural da vizinha cidade de Guaratinguetá, mas cujo acendrado amor pelo Vale do Paraiba o torna , sem dúvida, cida­dão geral de todos os seus conglomerados humanos, especialmente aqui, onde se estabeleceu a familia de um de seus irmãos, o pai do jovem, culto, inteligente, operoso e já muito respeitado Prefeito Municipal, Doutor Geraldo José Rodrigues de Alckmin Filho.

Atendo, pois, com emoção, à honra do convite que recebi cio ilustre Juiz de Direito da Comarca, do Ministério Público local, da 52' Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil, assim co­mo do Conselho Municipal de Cultura, cujo Presidente, Doutor lialdomiro Benedito de Abreu, acaba de me fazer generosa sau­dação. A I.odos, meu agradecimento, pela oportunidade, que me

deram, de exaltar a memória de antigo colega de estudos e com­panheiro de vários lustros de serviço dedicado à Magistratura Paulista.

O nome do Ministro RODRIGUES DE ALCKMIN foi pronun­ciado, reverentemente, vezes incontáveis, sob as variadas fa­cetas de sua impressionante e encantadora personalidade, em São Paulo e no Brasil inteiro, há menos de três meses, por oca­

sião de sua morte, que ninguém esperava fosse ocorrer tão cedo. Os ecos de tantos louvores ainda continuam. Hoje mesmo, Pin­damonhangaba lhe dedicou um dia de reverência.

5

No Supremo Tribunal da República, seus eminentes pares, associados ao Ministério Público Federal e à Ordem dos Advo­gados, lhe prestaram significativa homenagem, quando falou, em nome da Corte, seu ínclito coestaduano, o Ministro Moreira Alves, que, relembrando a contribuição de RODRIGUES DE ALCKMIN às letras jurídicas e à orientação da mais alta jurisprudência na­cional, em vários assuntos de importância, assim resumiu a ca­

racterística de sua personalidade, como estudioso aplicador das normas do Di reito:

6

«Muitos o· consideravam um técnico, voltado, primordialmente, para a correta aplicação das normas

jurídicas, sem se preocupar com formulações constriJ' tlvas. Nada mais falso. Se é certo que não tinha ele

a vaidade de ser origínal - o que, aliás, é apanágío, nem sempre recomendável, dos tempos hodiernos -. também é certo que, sem se reputar censor da lei, para desaplicá-Ia, jamais se deixou escravizar por sua literalidade, para segui-Ia cegamente, desatento das nuanças da realidade que o mais aplícado e previden­te dos legisladores não é capaz de captar nas fórmulas legais».

E prosseguiu, mais adiante:

«Se não tinha ele, pela formação e convicção, a frieza excessiva do técnico míope, não se deixava le~

var, porém, pela suficiência arrojada dos adeptos da criação livre do direito. Desconfiava, por temperamen­to - e o dizia com a ironia cética que o singula'rizava -, da superioridade de seu critério pessoal de justiça sobre o de ·que se valera, impessoalmente, o legislador, Daí terem sido suas construções elaboradas com a re­velação de elementos ínsítos no próprio ·ordenamento jurídico, e não levantados no terreno movediço das concepções pessoais.»

, Em São Paulo, no Tribunal de Justiça, que foi sua anterior casa de trabalho, durante muitos anos - houve sessão especial, em sua homenagem, quando o Desembargador Fernando Euler Bueno lhe fez o necrológio oficial, seguindo-se, com a palavra, o mesmo orador que agora discursa, mais os Desembargadores Mendes França, Coelho de Paula, Andrade Junqueira, Nogueira Garcez e Pacheco de Matos.

Também no Tribunal Regional Eleitoral e nos Tribunais de Alçada, comoventes manifestações de pesar ocorreram .

De todos os pontos de nossa imensa Pátria chegaram tele· gramas e noticias de outras homenagens - as mais significativas - in memoriam do grande brasileiro desaparecido.

Assinalaram, entretanto, sem exceção, todos os oradores (lue lembraram a impressionante figura do Ministro RODRIGUES DE ALCKMIN, ao lado de sua reconhecida e proclamada cultura juridica, o aspecto humano primordial de sua personalidade -~ fé inquebrantável na religião cristã ,e o constante apostolado a que se dedicou pela vida inteira, desde a meninice até a morte, aiariamente, dentro e fora das horas de trabalho. Acredito que este tenha sido o traço mais forte e predominante, a aparência mais sedutora, na composição da imagem com que RODRIGUES DE ALCKMIN será fixado na galeria dos grandes vultos da Magis· t.atura Nacional.

Mas, como põde ele chegar a tais alturas, no campo do di· reito, ou da moral, ou das virtudes pessoais, ou da religião? So· mente pelo estudo e pelo trabalho? Evidentemente, o estudo e o trabalho são as colunas que sustentam qualquer êxito intelectual. Numa biografia, contudo, é' indispensável que se lance um olhar para os ascendentes, perscrutando·seas bases onde foram assen~ tadas as colunas erguidas pela firmeza do labor e pelo cultivo incessante da inteligência, no ambiente familiar de sucessivas ge· rações - ' se possível, aferindo·se o valor e o caráter dos ante· passados, em casa e na sociedade, ' para se verificar o que pude· ram transmitir à descendência, pelo misterioso atavismo do san­gue ou pela força mais bela da herança moral, que freqüente·

7

STF - BIBLIOTECA

mente explicam o sucesso, a vitória profissional dos filhos, como se estes fossem dotados de uma «intuição», clara e brilhante, na ~olução dos mais variegados problemas ou dificuldades.

o Ministro JOS€ GERALDO RODRIGUES DE ALCKMIN des· cende de velhos troncos paulistas, que passaram a Minas Gerais e de lá regressaram a São Paulo, onde novamente se enraizaram.

Seu bisavô, Doutor João José Rodrigues, era descendente de Baltazar de Godoy, nobre castelhano que veio a São Paulo na se· gunda parte do século XVI, cujo nome abre o Titulo dos <<Godoys», na Genealogia Paulistana, de Silva Leme. Foi esse bisavô, na Mo· narquia Imperial Brasileira, Juiz Municipal de Porto Feliz, tendo sido, posteriormente, magistrado em Taubaté, Itajubá, Cristina e Baependi. Versado nas letras humanisticas e nas ciências juri­dicas, mereceu fama de jurisconsulto e publicou vários livros -«Moral e Religião» (1860), «Consultas Juridicas» (1863) e «Mis­celânia Jurídica» (1868). Quando exercía as funções de Juiz em Cristina, uma de suas filhas, María Joana, convolou núpcias com o Doutor João Capistrano Ribeiro de Alckmin, natural de Pouso Alto, formado, como o sogro, pela Academia de Direito de São Paulo. Este avô do Ministro RODRIGUES DE ALCKMIN foi Juiz da Direito da Comarca de Silveiras, neste ·Estado.

Dentre os numerosos filhos do Doutor João Capistrano, destacou·se o oitavo, André Rodrigues de Alckmin, nascido em Baependi. Veio para Silveiras, com o paí, quando apenas contava dois anos de idade. Cursou a Escola Normal de São Paulo, em fIOS do século passado, indo exercer o magistério em Itu, onde se tornou Diretor do Grupo Escolar «Cesário Mata». Lá conheceu e se casou com Dona Ida, filha de um casal alemão que imigrara para o Brasil , o engenheiro Hans Ravache e sua esposa, Dona Ana Ravache, esta descendente da família Behmer, suíça-alemã. O Pro· fessor André Alckmin transferiu-se, em 1907, para Guaratinguetá, como Diretor da Escola Complementar, passando, mais tarde, à .Escola Normal, como Professor catedrático de português.

O Professor André Rodrígues de Alckmín, segundo o teste­tTlunho unânime de seus contemporâneos, foi um homem extraordi­nário, competentíssimo e também reverenciado pelas suas qual ida-

8

des absolutas de decência, compostura e honestidade, adorado pe­los colegas e discipulos, que por isso lhe prestaram excepcionais e comoventes homenagens, quando faleceu, em 1932, com 54 anos d(o idade.

Da esposa do Professor André Alckmin, fez um de seus bió­grafos este belo retrato:

«Dotada de uma enfibratura moral a todos os as­pectos acima do comum, Dona Ida, por entre as mil tribulações com que teve de arrostar o esposo, foi para ele um manancial de salutaríssimas concitações, de in­contrastável coragem, de veemente religiosidade, sem­pre coroadas de triunfo dos mais consolativos.

Rainha, de fato, do seu lar, teve a glória, que deve ser a aspiração suprema de toda mulher, de pre­parar e manter aí um ambiente de paz, de suavidade, de harmonia, de amor, de piedade, de imperturbável compreensão de todos os altos deveres, onde se de­salterava, se tonificava, se exalçava, se potenciava, pa­ra a luta, a alma do que a deixou órfã de sublimada adoração.

E, como impereclvels reflexos desse foco de vir­tudes, impõem-se à admiração de todos nós esse gru­~o de moços - o Andrezinho, o João, a Janira, o Ge­raldo, o José - tão sabiamente encaminhados na vi­da, tão galhardamente capazes de sempre fazer honra aos genitores.»

Quanta beleza, nesse elogio da família, escrito há quase meio século!

o mais jovem dos filhos seria o futuro Bacharel, Advogado, Juiz de Direito, Juiz e Presidente do Tribunal de Alçada, Desem­bargador do Tribunal de Justiça, Corregedor-Geral da Justiça do E~tado, Professor de Direito em diversas Faculdades e, finalmente, Ministro do Supremo Tribunal Federal e Presidente do Superior Tribunal Eleitoral, JOst GERALDO RODRIGUES DE ALCKMIN, a

9

quem vejo, num retorno ao passado, pela imagem guardada num velho álbum de fotografias, com o sorriso irônico, mas simpático, num rosto encantadoramente juvenil, ao tempo em que se formou no Ginásio e na Escola Normal, a escrever carinhosa dedicatória de seu retrato de adolescente, que definia toda a bondade de seu coração - «à minha adorada mãezinha, com a gratidão e o amor do filho Zéca».

JOS~ GERALDO RODRIGUES DE ALCKMIN nasceu aos 4 de abril de 1915, numa pequena chácara situada nas proximidades de Guaratinguetá, em meio às colinas em que se vai abaixando a Serra Quebra·Cangalha, para chegar....a. "á altitude por onde cor· re o Rio Paraíba. Aí a família viveu alguns anos, até que o Pro· fessor André Alckmin a vendeu, passando a morar na cidade, donde, entretanto, retornou para o campo, um pouco mais para diante da primeira chácara: adquiriu o sítio conhecido por «Gran· ja Santa Maria», dotado de bela sede - a casa grande de antiga Fazenda, tipo «Império», onde os meninos Alckmin brincaram, estu· daram suas lições e cresceram. Muito ao longe, nos horizontes, poder·se·iam ver os cumes azulados das cordilheiras que fecha0) o Vale do Paraíba - à direita de quem estivesse olhando para o norte, a Serra da Bocaina, e, à esquerda, a Serra da Mantiqueira, já do outro lado do rio. A vista, ainda hoje, é descortinada, mago nífica e alegre: deveria ter sido, para aqueles meninos, um convite aos sonhos, à imaginação e à poesia.

JOS~ GERALDO fez os estudos primários e se matriculou no primeiro ano do Ginásio «São Joaquim», . de Lorena, onde o pai também lecionava, transferindo·se, no segundo ano, para o Giná· sio «Nogueira da Gama», de sua terra natal. Fez os cursos gina· sial e normal, recebendo, como todos os seus irmãos, diploma de professor.

Desde os nove anos de idade, seguindo os impulsos da fé, já se dedicava a assuntos de religião e de caridade: foi coroinha, auxiliando nas missas do Colégio Salesiano, então rezadas em latim - língua de que, a partir de tais ensaios, veio a se tornar; mais tarde, perfeito conhecedor; e se iniciava, também, como «as­pirante», nas atividades <<vicentinas».

10

No Ginásio, ou no Grêmio Recreativo «Rui Barbosa», de Guaratinguetá, seu amor aos estudos . e seus conhecimentos literários encorajaram·no a escrever este lindo soneto, quando cursava· o 3. ano, intitulado - <<A Ufania do Estudante»:

«Estudar! Procurar o cristalino Veio que traz em si toda ciência, Cultivar essa flor: a inteligência Encarnação sublime do divino!

Caminhar pelas trevas da indigência Guiados pela luz que vem do ensino, E burilar, então, aos que o destino Faz sofrer, essa luz da inteligência

Eis a missão divina do estudante Que pode se orgulhar, a todo instante, Da glória que lhe vem no trabalhar

E com a luta sua ·glória cresce, Pois não há quem no mundo não confesse Que a vitória consiste no lutar!»

Em .1933, foi para a Capital do Estado, ingressando na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, que, em 1934, se integraria na Universidade de São Paulo. Ai o conheci na sala n. 7 do antigo Convento Franciscano, em que tradicionalmente os calouros faziam o 19 ano, ao lado do chamado «Curral dos Burros», pátio aberto para a Rua Cristóvão Colombo, onde geralmente se iniciava o <<trote», nos primeiros dias do curso acadêmico:

JOSE: GERALDO ALCKMIN era . retraído, embora já come· .çasse a dar mostras, aos colegas, de sua inteligência e cultura, aliadas à graça da prosa, em que sempre atirava, sem qualquer maldade, as farpas de seu espírito irônico.

Morou, nesse tempo, na casa da respeitável família Rangel, também de Guaratinguetá, que residia no Bairro da Liberdade e dava pensão a jovens estudantes conhecidos, provenientes da mes·

11

ma cidade, entre os quais seu próprio irmão Geraldo. Foram 'anos, pelo que suponho, de aperturas financeiras, para os jovens estu· dantes, que viviam de pequenas «mesadas». Foram, contudo, anos felizes de alegre juventude. Ali, JOSE GERALDO começou a m.morar sua futura esposa, Ana Maria Rangel - Dona Anita Rangel de Alckmin, como depois seria conhecida a dedicada com· ranheira, que lhe deu prole sadia e, pelo que sei, de futuro bri­lhante, para honra da memória de seu grande pai e de seus ante­passados_

Ainda no curso acadêmico, JOSE GERALDO freqüentava e, segundo creio, procurava instruir-se, na prática judiciária, auxi­liando o tio, Doutor Artur Ravache, que era advogado do Banco Alemão e mantinha escritório na Rua Direita_ Diversos colegas iam lá prosear, às tardes. Dava aulas, também, no Instituto Pe- . cagógico «Frederico Ozanam», pertencente aos seus amados <<vi­centinos».

Colou grau, como bacharel em ciências juridicas e sociais, na Turma de 1937, da velha Academia . . E, como desejasse entrar na Magistratura do Estado, num ideal que lhe era de certa ma­neira atávico, precisou cumprir o tempo do estágio necessário. Foi advogar na longínqua cidade de Valparaíso, contratado por Jeremias Lunardelli, para redigir, principalmente, contratos agrí­colas, que devem ter sido muito bem feitos. La começou a ter ou­tros clientes, que sentiram a força e a competência do jovem ad­vogado. Fez estréia no Júri da Comarca de Andradina, presidido pelo seu futuro colega de Tribunal, o então Juiz de Direito Tácito Morbach de Góes Nobre, conseguindo a absolvição do réu , acusa· do de crime de morte.

Completado o tempo de estágío, prestou, sucessivamente, dois concursos de ingresso à Magistratura. Aprovado em ambos, só no segundo recebeu a nomeação do Governo, para ocupar o cargo de Juiz Substituto, com sede em Moji-Mirim. Daí, o mere­cimento, que sempre o distinguiu, levou JOSE GERALDO RODRI­

GUES DE ALCKMIN a todos os degraus da carreira, passando em numerosas Comarcas e Varas, em caráter efetivo ou em substi­tuição de titulares: São Luiz do Paraitinga, Taubaté, Rio Claro,

12

Adjunto da Vara dos Feitos da Fazenda Municipal, em São Paulo; São José do Rio Preto, Campinas e nOllamente em São Paulo, na Vara Privativa da Fazenda Nacional. Depois, os cargos de Juiz Substituto de Segunda Instância, Juiz e Presidente do antigo Tri­bunal de Alçada, Desembargador do Tribunal de Justiça e Cor­regedor-Gerai da Justiça_

Lecionou Direito Civil e Processo Civil, nas Faculdades de Direito de Taubaté, de São Bernardo do Campo e da Universidade Mackenzie.

Em 1972, alcançou o posto máximo do Poder Judiciário Nacional - .- Ministro do Supremo Tribunal Federal.

O Tribunal de Justiça de São Paulo reuniu-se em sessão especial, põra homenageá:lo.

Tive nessa oportunidade, como hoje, a honra de saudá-lo, para dizer:

«Homem de fé e de apostolado cristão, que sabiamente mi­nistra no exercício de suas atividades normais de pai, juiz e pro­fessor, nâo é religioso de água benta, não professa a religião das coisas pequenas - como diria Chesterton, de fora para dentro: o cristianismo, nele procura a santidade interior, o encontro com Deus; e, numa espiral que vem de dentro e sai para fora, con­clama os adeptos da perfeição cristã para a fraternal reunião dos bem intencionados, nos lares, nas escolas, no Forum ou nas ruas, sem a pretensão de influências pessoais, mas só pela convicção da necessidade espiritual da difusão da mensagem evangélica, para o aperfeiçoamento dos homens e para a harmonia dos povos agrupados nas coletividades nacionais.

«O apostolado, nessas condições, é para ele a fidelidade no compromisso de amor e de justiça, que assumiu para com a fa­mília e para com a sociedade, na qual plena e conscientemente se acha integrado, como filho, irmão, pai , esposo, amigo, cidadão, juiz e prof~sor!

«Devorador de livros de direito e de filosofia, de religião ou de amena literatura, a realidade, no entanto, para ele, há de ser

13

.encontrada maiS na vida do que nos livros: 'os princípios, como ns verdades, ou são vividos, ou se deterioram': Na vida sentida pela experiência dos milhares de casos que lhe chegaram para julgamento. Realidade, cujos problemas, sem dúvida, os livro. ajudam muito a resolver!

«Fundamentalmente bondoso e tolerante, mas até onde haja compatibilidade com seus rígidos princípios éticos, RODRIGUES DE ALCKMIN chama para si uma legião de amigos e discípulos, que com ele aprendem e freqüentemente recebem orientação se· gura. Tem'5e, porém, a impressão de que, mais santo do que he· rói, sua liderança espiritual é a do mestre desinteressado, que não aspira a glória, em posições de mando, na condução de seus dis· cípulos e companheiros a objetivos profissionais· ou de qualquer outra natureza.

<<A honestidade, que para ele deve nortear as ações humanas, não desculpa, nem de qualquer maneira suporta a corrupção. !;lua reta consciência de juiz inflama·se, mesmo, no combate em prol dos 'valores eternos e imutáveis', na obediência aos prin· clpios morais, que, somente eles, podem solucionar os conflitos oriundos da falta de ajustamento 'entre o rápido progresso técni ~ co e o mais lento progresso social'.»

E, há pouco, aderindo às homenagens do Tribunal de Justiça, em sua memória, pude ainda acrescentar:

«Inteligência fulgurante e muito ágil, era, nas pugnas judio ciárias, vibrante esgrimista do pensamento, em termos de racio· cínio concomitantemente erudito e irônico - antagonista respei· tado e geralmente difícil de ser vencido.

«Mas também não se poderá esquecer de suas virtudes de homem simples, completamente desapegado dos bens e comodi· dades materiais, ou das honrarias. Cristão, no mais legítimo sigo nificado do termo, procurava santificar o próprio espírito, na con· templação de suas imagens de fé e nas atividades religiosas de sua amada Opus Dei ou nas organizações 'vicentinas', que o in· tegravam, tanto nas cúpulas intelectuais, quanto nas áreas mais necessitadas de nossa pobre, humilde e resignada população.»

14

Poderia falar, ainda, muito mais, desenvolvendo cada pará­grafo do que acabo de dizer, referindo-me às diversas fases da vida e às múltiplas atividades do grande homem que foi o Ministro JOSE GERALDO RODRIGUES DE ALCKMIN.

Creio, todavia, que basta. Não posso, contudo, encerrar minha oração sem a leitura do altíssimo julgamento póstumo de seus pares, no Supremo Tribunal da República, proclamado sole­nemente pela voz do conspícuo Ministro Moreira Alves:

«RODRIGUES DE ALCKMIN não precisa de espe­rar o futuro para ser cultuado como Juiz dos maiores que este Tribunal já teve. Esta justiça já se lhe fazia vivo. A morte serviu-lhe apenas para imobilizá-lo no tempo, dando-lhe lugar definitivo na galeria dos gran­des vultos da Corte.»

15

• SUPREMO TRIBUMAL ~~D~RAL

1111 11111 111111111111 STF00074107

'---_/