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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA N.º 1791/2018 – LJ/PGR Sistema Único n.º 359241 /2018 HABEAS CORPUS N° 164.164/RJ (Eletrônico) IMPETRANTES: Helena Regina Lobo da Costa e outras PACIENTE: Paulo Roberto Segatelli Câmara IMPETRADO: Relator do HC n. 474.939 do Superior Tribunal de Justiça RELATOR: Ministro Gilmar Mendes Excelentíssimo Senhor Ministro Relator, Egrégia Segunda Turma, PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. INVESTIGAÇÃO DE ENVOLVIMENTO EM ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. VIOLAÇAO À SUMULA 691. PRISAO PREVENTIVA. PRE- SENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS. 1. A discordância quanto às razões de decidir postas nas decisões que determinaram a prisão de Paulo Roberto Segatelli Câmara não significa que essas razões inexistem, e, muito menos, que elas con- duzem a uma prisão cautelar teratológica ou flagrantemente ilegal – únicas situações que, segundo reiterada e conhecida jurisprudên- cia do STJ e do STF, autorizam a superação da Súmula 691/STF. 2. A prisão preventiva do paciente foi adequadamente motivada na garantia da ordem pública, a partir de elementos concretos que de- monstram o risco de reiteração delitiva advindo de sua liberdade, vez que ocupava importante posto na organização criminosa inves- tigada. 3. A posição relevante na sofisticada organização criminosa, a cir- cunstância de Paulo Roberto Segatelli Câmara ter na prática de ilícitos a sua forma de trabalho há décadas, a gravidade em con- creto dos crimes por ele praticados, assim como a evidente con- temporaneidade dos crimes - tudo comprovado nos autos, e não fruto de mera especulação ou afirmações genéricas – indica que a única forma de sobrestar as atividades ilícitas incorridas pelo paci- ente é mediante a sua custódia cautelar. Do contrário, o risco de reiteração delitiva é óbvio e inegável. - Parecer pelo não conhecimento do writ, ou, no mérito, pela denegação da ordem. Gabinete da Procuradora-Geral da República Brasília/DF Documento assinado via Token digitalmente por PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA RAQUEL ELIAS FERREIRA DODGE, em 03/12/2018 17:28. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 3852BD85.D658B43F.1EFBAFE5.4C978E9F

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  • MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

    N.º 1791/2018 – LJ/PGR Sistema Único n.º 359241 /2018

    HABEAS CORPUS N° 164.164/RJ (Eletrônico)IMPETRANTES: Helena Regina Lobo da Costa e outrasPACIENTE: Paulo Roberto Segatelli CâmaraIMPETRADO: Relator do HC n. 474.939 do Superior Tribunal de JustiçaRELATOR: Ministro Gilmar Mendes

    Excelentíssimo Senhor Ministro Relator,Egrégia Segunda Turma,

    PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. INVESTIGAÇÃODE ENVOLVIMENTO EM ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.VIOLAÇAO À SUMULA 691. PRISAO PREVENTIVA. PRE-SENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS.

    1. A discordância quanto às razões de decidir postas nas decisõesque determinaram a prisão de Paulo Roberto Segatelli Câmara nãosignifica que essas razões inexistem, e, muito menos, que elas con-duzem a uma prisão cautelar teratológica ou flagrantemente ilegal– únicas situações que, segundo reiterada e conhecida jurisprudên-cia do STJ e do STF, autorizam a superação da Súmula 691/STF.

    2. A prisão preventiva do paciente foi adequadamente motivada nagarantia da ordem pública, a partir de elementos concretos que de-monstram o risco de reiteração delitiva advindo de sua liberdade,vez que ocupava importante posto na organização criminosa inves-tigada.

    3. A posição relevante na sofisticada organização criminosa, a cir-cunstância de Paulo Roberto Segatelli Câmara ter na prática deilícitos a sua forma de trabalho há décadas, a gravidade em con-creto dos crimes por ele praticados, assim como a evidente con-temporaneidade dos crimes - tudo comprovado nos autos, e nãofruto de mera especulação ou afirmações genéricas – indica que aúnica forma de sobrestar as atividades ilícitas incorridas pelo paci-ente é mediante a sua custódia cautelar. Do contrário, o risco dereiteração delitiva é óbvio e inegável.

    - Parecer pelo não conhecimento do writ, ou, no mérito, peladenegação da ordem.

    Gabinete da Procuradora-Geral da RepúblicaBrasília/DF

    Documento assinado via Token digitalmente por PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA RAQUEL ELIAS FERREIRA DODGE, em 03/12/2018 17:28. Para verificar a assinatura acesse

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    I

    Trata-se de Habeas Corpus, com pedido liminar, impetrado por Tiago Lins e

    Silva e outros em favor de PAULO ROBERTO SEGATELLI CÂMARA contra decisão mono-

    crática do Ministro Rogério Schietti do Superior Tribunal de Justiça, que indeferiu liminar-

    mente o Habeas Corpus n. 474.939/RJ e manteve a prisão preventiva decretada em desfavor

    do paciente pelo Juízo da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, no âmbito da “Opera-

    ção SOS”, processo nº 0507038-07.2018.4.02.5101, e mantida pelo Tribunal Regional Fede-

    ral da 2ª Região Federal.

    O Juízo da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro decretou a prisão preven-

    tiva do paciente, junto a diversos outros corréus, pela suposta prática dos delitos de organiza-

    ção criminosa, peculato, lavagem de ativos e evasão de divisas.

    Foi impetrado o Habeas Corpus n. 0010291-37.2018.4.02.0000 no Tribunal Regi-

    onal Federal da 2ª Região, cujo pedido liminar foi indeferido pelo Desembargador Federal

    Abel Gomes1.

    Dessa decisão foi impetrado o HC n. 474.939/RJ perante o Superior Tribunal de

    Justiça, indeferido liminarmente pelo Ministro Relator ante à incidência do enunciado da Sú-

    mula n. 691/STF2.

    Irresignada, a defesa do paciente impetrou este Habeas Corpus, sustentando, li-

    minarmente, a não incidência do enunciado da Súmula n. 691/STF, pois a cadeia decisória

    impugnada estaria eivada de flagrante ilegalidade. No mérito, as impetrantes alegam que os

    requisitos autorizadores da prisão preventiva não estão presentes na hipótese e que os fatos

    ensejadores do encarceramento não são contemporâneos ao decreto prisional.

    Requer, liminarmente, a revogação da prisão preventiva de PAULO CÂMARA e, ao

    final, a confirmação da liminar, com a consequente revogação da prisão preventiva ou, subsi-

    diariamente, a concessão da ordem para substituir a prisão preventiva por medidas cautelares

    diversas.

    As informações foram prestadas pelo juízo de 1º grau3.

    1 Fls. 215/221.2 Fls. 16/23.3 Fls. 5470/5488.

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    Vieram os autos à PGR, para manifestação.

    II

    II.1. Preliminar de não cabimento do Habeas Corpus. Súmula 691/STF.

    De início, percebe-se que a presente impetração afronta a conhecida Súmula n.

    691 do STF, segundo a qual não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas

    corpus impetrado contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido a tribunal su-

    perior, indefere a liminar. O apontado como coator é a decisão monocrática da lavra do Mi-

    nistro Rogério Schietti que indeferiu liminarmente o HC n. 474.939/RJ (precisamente pela

    incidência do enunciado da Súmula n. 691/STF, pois o writ impetrado no tribunal a quo bus-

    cou impugnar decisão liminar proferida pelo Desembargador Federal Abel Gomes, do TRF2)

    - o que obstaria o conhecimento, e, portanto, o deferimento da liminar pleiteada nos autos

    deste HC.

    Aliás, justamente em razão do que prevê o mencionado verbete sumular, o Exmo.

    Ministro Relator Gilmar Mendes tem reiteradamente negado seguimento a Habeas Corpus

    impetrados contra decisões monocráticas denegatórias de medida liminar em habeas corpus

    anterior.

    Nesse sentido, cite-se, aqui, o HC n. 148.387, cujo seguimento foi negado em ou-

    tubro de 2017 pelo Ministro Gilmar Mendes, que manteve preso preventivamente paciente

    acusado de ter em depósito 85,5 gramas de maconha.

    Também em razão do óbice previsto na Súmula 691/STF, o Ministro Gilmar

    Mendes negou seguimento, em 04.06.2018, ao HC n. 157.704 e manteve preso preventiva-

    mente paciente acusado de furtar 140 reais no ano de 2013.

    O RHC n. 155.209, por sua vez, teve seu seguimento negado pelo Ministro Gil-

    mar Mendes também em razão da Sumula n. 691/STF, mantendo-se a prisão preventiva de

    paciente preso por deter 6.3 gramas de crack.

    Os exemplos são vários, e os casos acima indicados – cuja gravidade, aliás, é no-

    toriamente inferior à retratada nos presentes autos – são apenas uma pequena amostra deles.

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    Não se desconhece que essa Suprema Corte tem reiteradamente entendido pela

    superação da Súmula n. 691 – e, portanto, pelo cabimento de Habeas Corpus contra decisão

    monocrática que, também em Habeas Corpus, indefere pedido de liminar - sempre que se es-

    tiver diante de decisão (que decreta ou mantém prisão cautelar) revestida de flagrante ilega-

    lidade ou teratologia4.

    Entretanto, não há, sob qualquer aspecto, como tachar de flagrantemente ilegais,

    abusivas e muito menos teratológicas as sucessivas decisões que decretaram e mantiveram a

    prisão preventiva de PAULO CÂMARA. Todas elas se encontram fundamentadas e apoiadas

    por farto material probatório, o qual demonstra a presença dos requisitos autorizadores da se-

    gregação cautelar previstos no art. 312 do CPP.

    Com efeito, a decisão proferida pelo Juízo da 7a Vara da SJ/RJ (que originaria-

    mente decretou a prisão preventiva do paciente) demonstrou, à exaustão, a presença do cha-

    mado fumus comissi delicti (prova de materialidade delitiva e indícios de autoria em relação a

    PAULO CÂMARA), o mesmo se podendo dizer sobre a decisão do Desembargador Federal

    Abel Gomes (que rejeitou a medida liminar no HC n. 0010291-37.2018.4.02.0000), assim

    como sobre a decisão do Ministro do STJ Rogério Schietti (que indeferiu liminarmente o

    HC n. 474.939/RJ) – ato apontado como coator pelo HC em epígrafe.

    Em todas elas, foi demonstrado que o esquema de corrupção e fraude em licita-

    ção montado no INTO e na SES/RJ, cujas figuras centrais eram MIGUEL ISKIN, GUSTAVO

    ESTELLITA e SÉRGIO CÔRTES, estendeu-se para os contratos de gestão firmados com a Orga-

    nização Social PRÓ-SAÚDE – Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, enti-

    dade que administrou alguns hospitais no Estado, a partir de 2013.

    PAULO CÂMARA era uma das figuras centrais do esquema delituoso, agindo

    como gestor da OS e como responsável de fato por algumas das empresas que receberam va-

    lores da PRÓ-SAÚDE.

    Conforme se extrai dos depoimentos dos colaboradores Wagner Augusto Portu-

    gal, Wanessa Portugal, Ricardo Luiz Salvador, Danilo Oliveira da Silva, Jocelmo Pablo News

    e Lafaete Teixeira Júnior, atuais executivos da Pró-Saúde, o paciente e o investigado

    RICARDO BRASIL realizaram ajustes espúrios com MIGUEL ISKIN para obter o contrato de ges-

    tão junto à SES/RJ.

    4 HC 106160, Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgamento em 15.2.2011, DJe de 2.3.2011;

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    O papel do paciente na organização criminosa consistia em direcionar as contrata-

    ções da PRÓ-SAÚDE a fornecedores previamente selecionados pelos funcionários da Oscar

    Iskin, empresa de MIGUEL ISKIN, mediante a contrapartida do pagamento de 10% do valor

    dos mencionados contratos.

    Além disso, o paciente e RICARDO BRASIL eram também os responsáveis de fato

    por diversas pessoas jurídicas que contratavam com a OS, valendo-se de intermediários, tais

    como os investigados FÁBIO LOBO, ANA LÚCIA MANDACARU LOBO e LEANDRO CÉSAR DA

    SILVA, para dar aparência de licitude a essas operações criminosas.

    As decisões das instâncias inferiores que mantiveram a prisão do paciente são

    claras e fundamentadas ao demonstrar a presença do periculum in mora específico, argumen-

    tando que a necessidade da prisão preventiva de PAULO CÂMARA e de todos os demais en-

    volvidos que foram alvo da medida está em proteger a ordem pública (em face da gravidade

    em concreto do crime a eles imputados e contra o risco de reiteração delitiva) e garantir a

    aplicação da lei penal (tendo em vista o elevado volume de dinheiro movimentado pelo grupo

    criminoso, que ainda mantém boa parte desses recursos no exterior). Sobre o ponto, confira-

    se o que diz o primeiro decreto prisional proferido pela 7ª Vara Federal da SJ/RJ:

    Nessa linha, mostra-se necessário adentrar o segundo núcleo, dos gestores da Pró-Saúde e pessoas vinculadas diretamente a eles.Segundo os colaboradores, à época, PAULO CÂMARA era o Superintendente da Pró-Saúde e RICARDO BRASIL era quem de fato exercia Presidência da entidade. Alémdisso, foi indicado NAIRIO, como Diretor Operacional da Pró-Sáude no Rio de Janeiro,sendo que ele repassava as tratativas diretamente para os dois gestores citados.

    Consoante informa o colaborador Ricardo Salvador, MIGUEL ISKIN recebia cerca de10% de cada fornecedor para que este fosse contratado pela Pró-Saúde, in verbis:

    “QUE nessa reunião, ARTHUR SOARES teria aceitado a entrada da Pró-Saúdeno Rio; QUE após foi marcada outra reunião entre PAULO, NAÍRIO e MIGUELISKIN, na qual MIGUEL ISKIN exigiu que deveria receber 10% de cada fornece-dor; QUE MIGUEL ISKIN informou a PAULO CÂMARA que o esquema não pas-saria diretamente pela Pró- Saúde, pois seria exigido diretamente de cadafornecedor; QUE em razão dessa particularidade, PAULO CÂMARA aceitou aproposta, pois os recursos não precisariam ser retirados diretamente da Pró-Saúde; ... QUE PAULO CÂMARA mencionou ainda que MIGUEL ISKIN tinha es-treita relação com SÉRGIO CORTES, que o declarante também ouviu isso de NA-ÍRIO; QUE o declarante ouvia frequentemente RICARDO BRASIL e NAIRIOfalarem sobre reuniões com MIGUEL ISKIN; QUE NAÍRIO dizia que MIGUELISKIN resolveria os problemas de recebimento de verbas estaduais pela enti-dade;”

    O colaborador Jocelmo Mews relata a mesma dinâmica apontada por Ricardo Salvador,note-se:

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    “QUE o LAFAETE chegou a fazer contatos com outras empresas para buscar or-çamentos; QUE então RICARDO BRASIL fez contato com o declarante e determi-nou que permanecesse com a contratação dessas empresas, em razão de pedidodo MIGUEL ISKIN; QUE após a saída do declarante do Rio de Janeiro, essesserviços de engenharia clínica foi internalizado pela Pró-Saúde e os contratos fo-ram encerrados; QUE o que chamou a atenção essa empresa constava na plani-lha dos 10% elaborada por LAFAETE a pedido de NAÍRIO;”

    Nessa toada, de acordo com os relatos dos colaboradores, NAIRIO era responsável porinformar a MIGUEL ISKIN sobre quanto cada fornecedor iria receber, para que esse úl-timo promovesse a cobrança dos tais 10%. Posteriormente, os montantes eram repassa-dos para os funcionários da Secretaria de Saúde, especialmente para o Secretário à época,SERGIO CORTES. Veja-se trecho do depoimento de Lafaiete Teixeira Junior:

    “QUE logo que o declarante chegou ao Rio de Janeiro, NAIRIO pedia ao decla-rante que elaborasse uma planilha com as seguintes colunas: nome do fornece-dor, objeto do contrato, os valores efetivamente pagos a cada um e uma últimacoluna com 10% do valor pago; QUE os fornecedores que deveriam constar daplanilha eram indicados pelo próprio NAIRIO e se referiam aos contratos direta-mente pela Diretoria Regional;... QUE NAIRIO nunca explicou ao declarante omotivo da elaboração da planilha, apenas dizia que teria reunião com “Orá-culo”; QUE posteriormente, após a saída de NAIRIO, o declarante veio a saberque “Oráculo” era MIGUEL ISKIN, nessa reunião em São Paulo; QUE RI-CARDO BRASIL mencionou nessa reunião o nome de MIGUEL ISKIN; QUE odeclarante chegou a encontrar com MIGUEL ISKIN em março de 2014, na sededa Oscar Iskin, a pedido do RICARDO BRASIL e então entregou a planilha;...”

    De fato, nas mensagens eletrônicas acostadas pelo MPF, consta o envio da planilha deLafaiete para NAIRIO, conforme mencionado pelo colaborador, inclusive com umcampo que contabiliza o montante de 10% sobre os valores pagos pela organização so-cial aos fornecedores.

    A seu turno, foi identificado e-mails enviados por NAIRIO para GUSTAVO ESTELITA,com as mesmas planilhas elaboradas pelo colaborador Lafaiete. E, conforme dados daquebra telemática de MIGUEL ISKIN, o e-mail foi, posteriormente, enviado para ele.

    Frise-se que, consoante denúncia da ação penal n° 0503870-31.2017.4.02.5101, ESTE-LITA é sócio de MIGUEL ISKIN, e atuam em conjunto naorganização criminosa chefi-ada por Sergio Cabral.

    A corroborar, ainda, a citada conexão entre NAIRIO e MIGUEL ISKIN, verifica-se nobojo da medida cautelar n° 0503213-89.2017.4.022.5101, inúmeras ligações entre o pri-meiro e terminais cadastrados em nome de ISKIN, nos anos de 2012 a 2016.

    Além disso, no aparelho celular de MIGUEL ISKIN, apreendido na Operação Fatura Ex-posta, foi identificado o contato de NAIRIO e de RICARDO BRASIL.

    Noutro giro, consoante as informações dos colaboradores, os gestores da sede da Pró-Saúde, RICARDO BRASIL e PAULO CÂMARA, além de terem formalizado o acordocom MIGUEL ISKIN, operavam por meio de empresas ligadas a eles.

    Assim, ao que parece, RICARDO BRASIL atuava tanto para garantir que as empresasindicadas por MIGUEL ISKIN fossem contratadas pela Pró-Saúde no Rio de Janeiro,quanto para assegurar a contratação das pessoas jurídicas vinculadas a ele.

    Desse modo, segundo o MPF, RICARDO BRASIL, seu pai, MANOEL BRASIL, ePAULO CÂMARA, diretamente ou por intermédio de terceiros, eram os responsáveispelas seguintes sociedades empresariais contratadas pela Pró-Saúde por determinação

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    dos próprios gestores: ADITUS ADVISOR ASSESSORIA E CONSULTORIA EMPRE-SARIAL; POLISOLUTIONS TECNOLOGIA E SISTEMAS LTDA e CANAL DASCOMPRAS SOLUÇÕES COMERCIAIS LTDA.

    Nessa linha, de acordo com o órgão ministerial, as contratações fraudulentas eram reali-zadas pelo então Diretor Administrativo Financeiro CARLOS GIRALDES e pelo DiretorGeral RONALDO PASQUARELLI.

    Segundo indicado pelo colaborador Danilo, CARLOS GIRALDES tinha amplo poder degestão da entidade, atuando por meio de procurações outorgadas pelo Presidente da insti-tuição, sendo responsável por assinar os contratos com as empresas indicadas por RI-CARDO BRASIL. Já RONALDO PASQUARELLI exercia inicialmente o cargo deDiretor de Operações e passou a Diretor Geral da entidade, tendo poder de decisão sobrea assinatura dos contratos e liberação de recursos para terceiros, funcionando, em tese,como peça essencial na administração de contratos e pagamentos fraudulentos.

    Ademais o órgão ministerial destaca a sindicância interna realizada na Pró-Saúde, no anode 2014 e coordenada pelo ora colaborador Ricardo Salvador. Nesse processo, ele relataque identificou pagamentos para a empresa ADITUS ADVISOR de aproximadamenteR$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais) entre 2012 e 2014. Além disso, ele afirmouque por meio das outras empresas, RICARDO teria recebido mais R$ 30.000.000,00(trinta milhões de reais), no mesmo período.

    Confira-se o depoimento de Salvador:

    “...QUE por ordem da Diretoria Estatutária o escritório do declarante coordenouuma sindicância interna para apurar todos os contratos que foram firmados comempresas relacionadas a RICARDO BRASIL; QUE o declarante fez um amplo le-vantamento dos valores pagos para cada uma das empresas; QUE apenas para aADITUS foram pagos cerca de R$ 3 milhões por mês, desde a assinatura do con-trato, em agosto de 2012; QUE ao final da sindicância o declarante apurou queRICARDO BRASIL recebeu cerca de R$ 60 milhões por todas as empresas; QUEapenas pela ADITUS RICARDO BRASIL recebeu R$ 30 milhões; QUE em outu-bro e novembro de 2014, a Pró-Saúde enviou notificações para RICARDO BRA-SIL e para as empresas, solicitando a comprovação dos serviços prestados, emrazão dos altos valores pagos; QUE considerando a ausência de comprovação, asindicância concluiu pela necessidade de rompimento de todos os contratos...”

    Outrossim, afirma o Ministério Público, que os recursos desviados da organização socialPró-Saúde por RICARDO BRASIL e PAULO CÂMARA eram ocultados com o auxíliode FÁBIO LOBO, advogado e pessoa de confiança do primeiro, e que também integrouo quadro societário de algumas empresas contratadas ilicitamente pela organização so-cial.

    O depoimento do colaborador Ricardo Salvador é bastante elucidativo sobre a supostaposição que FABIO ocupava no esquema delituoso, in verbis:

    “QUE o declarante soube por meio de PAULO CÂMARA, que os recursos recebi-dos por RICARDO BRASIL na gestão da Pró-Saúde eram repassados para o escri-tório de FÁBIO LOBO; QUE este remetia os recursos para o exterior, inclusiverecursos de PAULO CÂMARA; QUE o declarante soube que houve um desenten-dimento entre PAULO CÂMARA e RICARDO BRASIL; QUE inclusive existeuma ação de dissolução da sociedade ADITUS, proposta por PAULO CÂMARAem desfavor de RICARDO BRASIL e MANOEL BRASIL CORREA; QUEPAULO CÂMARA também confidenciou ao declarante em dezembro de 2014,que parte dos recursos entregues para FÁBIO LOBO para remessa ao exterior, nãoforam remetidos nem devolvidos...”

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    A corroborar essas informações, o relatório de inteligência financeira (RIF n° 35202) as-sentou que PAULO CÂMARA possui conta no exterior.

    Já com relação a FÁBIO LOBO e sua esposa ANA LÚCIA MANDACARU LOBO,os colaboradores detectaram no procedimento interno na Pró-Saúde, que ambos forambeneficiados por transferências bancárias provenientes da organização no montante deaproximadamente R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais), durante a gestão de RI-CARDO BRASIL e PAULO CÂMARA.

    Note-se o trecho do depoimento de Wanessa Portugal:

    “... QUE durante a auditoria, a declarante constatou que havia uma série detransferências bancárias da Pró-Saúde para as pessoas físicas de ANA LÚCIAMANDACARU LOBO e FÁBIO LOBO; QUE tais transferências somaram um to-tal aproximado de quase R$ 6 milhões; QUE a declarante não localizou qualquerdocumento ou contrato que justificasse esses pagamentos; QUE então FÁBIOLOBO e ANA LÚCIA foram notificados a apresentar justificativa sobre o recebi-mento desses valores; QUE FÁBIO LOBO era advogado pessoal de RICARDOBRASIL e não possuía qualquer contrato formal com a Pró-Saúde, mas recebiamensalmente cerca de R$ 39mil; QUE FÁBIO LOBO alegou que prestava servi-ços advocatícios para RICARDO BRASIL, mas não foram localizados contratosnem documentos que demonstrassem a prestação de serviços;...; QUE inclusivehouve um questionamento da Receita Federal acerca dopagamento de R$ 5mi-lhões para ANA LÚCIA LOBO; QUE a Pró-Saúde não chegou a responder essanotificação da Receita Federal; QUE a declarante não conhece ANA LÚCIALOBO, apenas sabe que é esposa de FÁBIO LOBO e que nunca prestou serviçosna Pró-Saúde...”

    Acrescente-se que, segundo a colaboradora Wanessa Portugal, FABIO LOBO tambématuou para RICARDO BRASIL por meio da pessoa jurídica Canal das Compras e pelasempresas Martens Consultoria LTDA (Polisolutions). Veja-se:

    “...QUE a gestão de RICARDO BRASIL, MANOEL BRASIL e PAULO CÂMARAdecidiu contratar a sociedade empresarial MARTENS CONSULTORIA LTDA, de-nominada no contrato apenas como POLISOLUTIONS, para a prestação de servi-ços de tecnologia da informação e desenvolvimento de plataforma própriasoftwares para a sede da Pró-Saúde; QUE a referida empresa era de FÁBIOLOBO, advogado e pessoa de confiança de RICARDO BRASIL; ... a POLISOLU-TIONS foi instada a demonstrar a prestação dos serviços objeto do contrato rela-tivo à sede, pelo qual receberam o total de R$ 12.510.000,00; QUE a empresa atéchegou a apresentar uma resposta à notificação, sustentando a prestação de servi-ços, mas não foi demonstrada a prestação de serviços correspondentes e por essarazão o contrato foi rescindido...”

    Dessa forma, ao que tudo indica, os gestores da Pró-Saúde, à época, não só aceitaramparticipar do esquema engendrado por MIGUEL ISKIN e GUSTAVO ESTELITTA, jun-tamente com SERGIO CORTES, como também participaram ativamente por meio depessoas jurídicas.

    Agora, confira-se trecho da decisão monocrática proferida pelo Ministro do STJ

    Rogério Schietti:

    A um primeiro olhar, o édito prisional não é teratológico, uma vez que o Juiz mencio-nou a gravidade concreta dos crimes sob apuração, praticados em contexto de organiza-

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    ção criminosa que, de forma insistente, habitual e profissional, se dedicava a práticasilícitas que atingiram, com enorme densidade lesiva, setor sensível da saúde pública. Emque pese não haja sinais de recentes indícios de contratações fraudulentas com a Pró-Saúde, inclusive por meio das pessoas jurídicas Aditus e Polisolutions, o decisum desta-cou a ocultação de valores de proveniência ilícita (lavagem de dinheiro). Os efeitosdos crimes (narrados na denúncia nos fatos 12 e 14) persistem, pois os valores ainda nãoforam recuperados.Assim, ao menos do que se depreende de uma leitura superficial, além dos peculatos su-postamente perpetrados entre 2013 e 2014, o paciente também é suspeito de perten-cer a organização criminosa e de ocultar o valor ilicitamente recebido, a denotar, aomenos quanto a esse último crime, a contemporaneidade da medida cautelar. O Magis-trado, no ponto, citou a necessidade de interromper as atividades ilícitas e de recu-perar o produto dos crimes, supostamente recebido e ocultado pelo réu.A informação de que o paciente firmou colaboração premiada com o Ministério Públicodo Estado de São Paulo não tem o condão de infirmar o édito prisional prolatado pelo Ju-ízo Federal do Rio de Janeiro, pois os próprios advogados assinalam que "em momentoalgum esta defesa afirmou que "os fatos tratados nesta operação foram abarcados" (fl.10).

    Nesse contexto, não soa desarrazoada a decisão, ainda precária, do Desembargador Fede-ral, pois, de fato, não se constata "de imediato uma ilegalidade na manutenção da segre-gação cautelar, que não está liminarmente desprovida de fundamentação, pararecomendar a concessão de liminar inaudita altera pars" (fl. 21).

    Ora, ainda que se possa, no plano das ideias, discordar-se das razões subjacentes

    a cada uma dessas decisões, não há como dizer que elas impõem “flagrante constrangimento

    ilegal” em face do paciente; tais razões, tampouco, contrariam a jurisprudência dos Tribunais

    Superiores, muito pelo contrário. Por óbvio, a eventual discordância quanto às razões de

    decidir postas nas decisões que determinaram a prisão de PAULO CÂMARA não significa que

    essas razões inexistem, e, muito menos, que elas conduzem a uma prisão cautelar teratológica

    ou flagrantemente ilegal – únicas situações que, segundo reiterada e conhecida jurisprudência

    do STJ e do STF, autorizam a superação da Súmula 691/STF.

    Aqui, e para finalizar, vale registrar que a superação indiscriminada da Súmula n.

    691/STF, feita fora das hipóteses em que a histórica jurisprudência do STF a autoriza,

    representa preocupante ofensa às regras de competência, além de evidente supressão de

    instância e desrespeito ao princípio da colegialidade.

    As consequências disso, longe de serem apenas teóricas, formais ou burocráticas,

    são de índole bastante prática: é que, ao se permitir que decretos prisionais de 1º e 2º grau

    sejam revistos diretamente por decisão de Ministro da última instância do Poder Judiciário –

    com tem ocorrido ultimamente, em especial no bojo das atuais operações de combate à

    macrocriminalidade -, alça-se o STF à condição de Juízo universal ou único, apesar de ele

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    estar obviamente distante dos fatos que conduziram à prisão e, portanto, menos municiados

    de informações capazes de julgar sobre o seu acerto ou desacerto.

    Com isso, compromete-se a capacidade da Suprema Corte de julgar de modo

    organizado, dado o volume de Habeas Corpus passíveis de serem interpostos diretamente ao

    STF contra cada decreto prisional exarado no Brasil, com óbvios prejuízos ao bom

    desempenho das competências que lhe são realmente próprias por desenho constitucional.

    Justamente a fim de se evitar que tal subversão ocorra, a possibilidade de o STF

    rever, em sede de Habeas Corpus, decretos de prisionais de 1º e 2º grau, com superação ao

    previsto na Súmula n. 691/STF, somente pode se dar em situações excepcionalíssimas, em

    que se esteja diante de prisão indubitavelmente teratológica, ilegal ou abusiva – o que, como

    acima demonstrado, não acontece no presente caso.

    II.2. Da contextualização dos fatos e da participação de PAULO CÂMARA nos crimesinvestigados

    Os autos originários, nos quais foi proferida a decisão impugnada, decorrem de

    desmembramento direto das operações “Fatura Exposta” e “Ressonância” e destinam-se ao

    aprofundamento das investigações realizadas pelo Ministério Público Federal relacionadas às

    fraudes ocorridas na Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, agora com a contratação da

    Organização Social PRÓ-SAÚDE.

    Os fatos que estão sendo descortinados decorrem de investigações já em curso na

    7ª Vara Federal Criminal da SJ/RJ (Operações Calicute, Eficiência, Fatura Exposta e

    Ressonância) e se referem à prática de diversos crimes por uma mesma ORCRIM, chefiada

    pelo ex-Governador Sérgio Cabral, com apoio do seu ex-Secretário SÉRGIO CÔRTES e do

    empresário MIGUEL ISKIN.

    A partir do aprofundamento das investigações no âmbito da “Operação Fatura

    Exposta”, bem como dos acordos de colaboração premiada firmados com César Romero,

    Leandro Rosa Camargo e Norman Pierre Gunther e respectivas provas de corroboração, além

    dos acordos de leniência firmados com as empresas Per Prima Comércio e Representações

    Ltda. e Maquet do Brasil, foram revelados outros agentes e novos esquemas criminosos,

    principalmente nas contratações de fornecedores de equipamentos médicos para o INTO e

    para a própria Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro – SES/RJ.

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    Agora, os trabalhos investigativos desenvolvidos no curso da recente “Operação

    SOS”, bem como os acordos de colaboração premiada firmados com Wagner Augusto

    Portugal, Wanessa Portugal, Ricardo Luiz Salvador, Danilo Oliveira da Silva, Jocelmo Pablo

    News e Lafaete Teixeira Júnior, atuais executivos da PRÓ-SAÚDE, e respectivas provas de

    corroboração, demonstraram que o esquema de corrupção na Secretaria de Saúde do Rio de

    Janeiro coordenado por MIGUEL ISKIN, GUSTAVO ESTELLITA e SÉRGIO CÔRTES também se

    estendeu para os contratos de gestão firmados com a Organização Social PRÓ-SAÚDE,

    contratada para administrar vários hospitais do Estado a partir de 2013, como o Getúlio

    Vargas, Albert Schuartz, Adão Pereira Nunes e Alberto Torres.

    Nos termos de colaboração de Cesar Romero, que fortificaram a denúncia da

    “Operação Fatura Exposta”, foi relatado que a própria entrada da associação beneficente

    PRÓ-SAÚDE na gestão hospitalar do Estado do Rio de Janeiro foi resultado de ajustes espúrios

    entre os gestores da organização social à época, PAULO CÂMARA e RICARDO BRASIL

    CORRÊA, e os principais empresários na área de saúde no Estado do Rio de Janeiro, ARTHUR

    SOARES (“REI ARTHUR”) e MIGUEL ISKIN. De acordo com as declarações do colaborador,

    SÉRGIO CÔRTES recebia, mesmo após a sua saída da Secretaria, o valor de R$ 1.500.000,00

    (um milhão e quinhentos mil reais), em decorrência desses contratos com a organização.

    O esquema criminoso foi idealizado de forma a dificultar o rastreamento do

    dinheiro pelos órgãos de controle, sendo operado, em breve síntese, da seguinte forma:

    • integrantes da organização criminosa vinculados à Secretaria de Saúde

    indicavam as empresas fornecedoras que seriam contratadas pela organização social;

    • como contrapartida do favorecimento nas contratações, PAULO CÂMARA e

    RICARDO BRASIL se comprometeram a devolver a MIGUEL ISKIN 10% do que recebiam dos

    respectivos fornecedores, sendo tais quantias exigidas diretamente de cada fornecedor, sem

    que precisassem passar pelas contas da PRÓ-SAÚDE;

    • por outro lado, os funcionários da Secretaria de Saúde garantiam o orçamento

    repassado à organização social, de modo a privilegiar o repasse aos fornecedores

    comprometidos com o pagamento das vantagens indevidas.

    Constatou-se, assim, que a PRÓ-SAÚDE funcionava como intermediária para que

    os recursos da Secretaria Estadual de Saúde fossem desviados para MIGUEL SKIN. Segundo

    relatado pelo colaborador Ricardo Salvador, estima-se que os recursos oriundos do Estado

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    correspondiam a 50% do faturamento nacional administrado pela entidade beneficente e

    alcançaram um crescimento vertiginoso em curto espaço de tempo: saltando de

    aproximadamente R$ 750 milhões, em 2013, para R$ 1,5 bilhão, em 2015.

    Nessa organização criminosa foi possível identificar a existência de três núcleos,

    assim como a interação entre eles:

    (a) núcleo de articuladores, composto tanto por agentes públicos ligados à

    Secretaria de Saúde quanto por empresários da OSCAR ISKIN e responsável por efetivar

    medidas a fim de arrecadar montante indevido dos contratos provenientes da PRÓ-SAÚDE.

    Os ajustes feitos na cúpula da organização criminosa, entre MIGUEL ISKIN e

    SÉRGIO CÔRTES eram comumente repassados para os funcionários da PRÓ-SAÚDE por meio

    dos intermediários JORGE RONALDO MOLL, assessor especial do Secretário Estadual de

    Saúde; o engenheiro JOÃO SEVERIANO FONSECA HERMES; e a supervisora dos contratos de

    gestão, ANA LUIZA CARLIER. Por sua vez, a montagem da documentação dos contratos, entre

    outros auxílios e informações, eram de incumbência de MARCUS VINÍCIUS GUIMARÃES

    DUARTE DE ALMEIDA e MARCO ANTÔNIO GUIMARÃES DUARTE DE ALMEIDA, funcionários da

    empresa OSCAR ISKIN.

    (b) no núcleo de agentes vinculados à OS PRÓ-SAÚDE, NAIRIO DOS SANTOS,

    Diretor Operacional da PRÓ-SAÚDE, era ponte de contato entre a OS e o pessoal de MIGUEL

    ISKIN, sendo responsável por determinar, internamente, quais fornecedores seriam

    contratados pela OS, por indicação prévia de RICARDO BRASIL CORRÊA e PAULO CÂMARA.

    Segundo o colaborador Danilo Oliveira da Silva, CARLOS GIRALDES tinha amplo

    poder de gestão da entidade e era responsável por assinar os contratos fraudulentos. Já

    RONALDO PASQUARELLI exercia inicialmente o cargo de Diretor de Operações e passou a

    Diretor Geral da entidade, tendo poder de decisão sobre a assinatura dos contratos e liberação

    de recursos para terceiros.

    Sob outro viés, os depoimentos dos colaboradores também indicaram que os ex-

    gestores da PRÓ-SAÚDE, RICARDO BRASIL CORRÊA e PAULO CÂMARA, além de garantirem o

    acordo com MIGUEL ISKIN, operavam por meio de empresas ligadas a eles, desviando em

    proveito próprio recursos da instituição beneficente.

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    Nesse sentido, o decreto prisional destaca que RICARDO BRASIL CORRÊA,

    juntamente com seu pai MANOEL BRASIL e PAULO CÂMARA eram responsáveis de fato das

    seguintes sociedades empresariais contratadas pela PRÓ-SAÚDE por determinação dos

    próprios gestores: Aditus Advisor Assessoria e Consultoria Empresarial, Canal das Compras

    Soluções Comerciais Ltda. e Martens Consultoria Ltda. (Polisolutions Tecnologia e Sistemas

    Ltda.)., tendo recebido da PRÓ-SAÚDE a quantia total de R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões

    de reais) entre 2012 e 2014.

    Por meio da Aditus Advisor, que foi contratada para gerir a própria organização

    social PRÓ-SAÚDE, foi possível ao grupo promover, direta e indiretamente, o locupletamento

    de mais de R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais), no período de 2012 a 2014.

    As contratações fraudulentas, aqui, também eram realizadas pelo Diretor

    Administrativo Financeiro CARLOS GIRALDES e pelo Diretor Geral RONALDO PASQUARELLI.

    Os valores desviados da organização social eram ocultados com o auxílio de FÁBIO LOBO e

    sua esposa ANA LÚCIA MANDACARU LOBO. Já LEANDRO CÉSAR DA SILVA funcionava como

    “laranja” de RICARDO, sendo o responsável direito pela empresa CANAL DAS COMPRAS

    SOLUÇÕES COMERCIAIS LTDA.

    Identificou-se, ainda, que outras empresas recebiam recursos indevidos da PRÓ-

    SAÚDE, formando o terceiro núcleo da organização.

    (c) nesse terceiro núcleo, atuavam as pessoas jurídicas OS RAD (Imagio

    Diagnóstico), que pertencia, de fato, a PEDRO ISKIN e aos funcionários da OSCAR ISKIN

    ALEXANDRE SIMÕES e LEONARDO DALALLANA; bem como a pessoa jurídica Hemme 138

    Serviços Comerciais Ltda – ME (Brasport), vinculada ao investigado ODIR MENDES FILHO.

    II.3. Da presença dos requisitos autorizadores da prisão preventiva de PAULO CÂMARA

    Diante do que já foi exposto, não há como afirmar que a prisão preventiva

    decretada em face de PAULO CÂMARA pelo juízo da 7a Vara Federal Criminal da SJ/RJ

    carece de fundamentação concreta e não demonstra a presença dos requisitos legais.

    Com efeito, para que a prisão preventiva seja adequadamente decretada, devem

    estar presentes: (i) uma das condições de admissibilidade (pressupostos normativos) previstas

    no artigo 313, do CPP e os requisitos genéricos das cautelares fumus comissi delicti e

    periculum libertatis; (ii) um dos pressupostos (requisitos fáticos) previstos no artigo 312,

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    caput, do CPP (garantia da ordem pública, ordem econômica, aplicação da lei penal ou

    instrução criminal, ou do seu parágrafo único; (iii) a necessidade, adequação e utilidade do

    provimento (proporcionalidade), próprio das medidas intrusivas na esfera de liberdade do

    cidadão, e a insuficiência das medidas cautelares diversas da prisão.

    Todos estes requisitos foram devidamente preenchidos no presente caso e

    apontados na decisão que decretou a prisão preventiva, conforme será demonstrado a

    seguir.

    II.3.a. Condições de admissibilidade (pressupostos normativos) previstas no artigo 313, do CPP e o requisito genérico das cautelares fumus comissi delicti.

    De acordo com o disposto no artigo 313 do Código de Processo Penal a prisão

    preventiva é admitida: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade

    máxima superior a 4 (quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em

    sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do

    Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; III - se o crime envolver

    violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou

    pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; ou

    ainda quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer

    elementos suficientes para esclarecê-la.

    No presente caso, as investigações realizadas no âmbito das operações “Fatura

    Exposta”, “Ressonância” e, finalmente, “SOS”, apontam o cometimento pelo investigado

    PAULO CÂMARA dos delitos de pertinência à organização criminosa, peculato e lavagem de

    dinheiro.

    Os supracitados crimes são punidos com pena privativa de liberdade máxima

    superior à 4 anos, estando preenchido, assim, o requisito exigido no artigo 313 do Código de

    Processo Penal.

    Além disso, a parte final do artigo 312 do CPP exige, para a decretação da prisão

    preventiva, a prova da existência do crime e indício suficiente de autoria (fumus comissi

    delicti).

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    A decisão que decretou a prisão preventiva do paciente examinou as provas de

    materialidade e indícios de autoria do delito, destacando participação fundamental e

    estratégica de PAULO CÂMARA no esquema ilícito no âmbito da PRÓ-SAÚDE.

    No ponto, cumpre ressaltar que os depoimentos prestados pelos colaboradores

    Wagner Augusto Portugal, Wanessa Portugal, Ricardo Luiz Salvador, Danilo Oliveira da

    Silva, Jocelmo Pablo News e Lafaete Teixeira Júnior, atuais executivos da Pró-Saúde,

    indicaram que o gigantesco e intrincado esquema de fraude a licitação, corrupção, desvio de

    verbas públicas e lavagem de dinheiro montado na SES/RJ pelo empresário MIGUEL ISKIN,

    seu sócio GUSTAVO ESTELLITA, além do ex-Secretário de Saúde do Rio de Janeiro, SÉRGIO

    CÔRTES, e do ex-Governador Sérgio Cabral estendeu-se para o âmbito das contratações

    promovidas pela OS PRÓ-SAÚDE, sendo PAULO CÂMARA peça chave no esquema criminoso.

    O pedido de prisão preventiva formulado pelo Ministério Público Federal foi

    instruído com diversos elementos de corroboração e de prova autônomos que conferem

    fidedignidade ao teor dos dados sobre a organização criminosa e da participação de PAULO

    CÂMARA, sobressaindo-se cópias de e-mails, agendas telefônicas, arquivos da PRÓ-SAÚDE ,

    Relatórios do COAF, entre outros (vide anexos do pedido de prisão).

    Salienta-se ainda que já foi ofertada denúncia perante o juízo de piso com base

    nos elementos de prova obtidos por meio da “Operação SOS”, o que reforça a satisfação do

    requisito da justa causa para a implementação da constrição cautelar, vez que demonstrada a

    presença do fumus comissi delicti na espécie.

    II.3.b. Pressupostos (requisitos fáticos) previstos no artigo 312, caput, do CPP (garantia da ordem pública, ordem econômica, aplicação da lei penal ou instrução criminal oudo seu parágrafo único) e periculum libertatis.

    O artigo 312 exige, ainda, como pressuposto da decretação da prisão preventiva,

    a existência do periculum libertatis, representado pela comprovação do risco efetivo que o

    agente causa à ordem pública, à ordem econômica, à instrução criminal ou à aplicação da lei

    penal.

    Ao contrário do quanto alegado pela defesa, a existência do periculum libertatis

    no presente caso foi devidamente demonstrada no decreto prisional da 7a Vara da SJ/RJ,

    conforme se observa do trecho da decisão colacionado no tópico referente à preliminar de

    não cabimento do writ.

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    A prisão cautelar é medida excepcional, mas inevitável quando a liberdade do

    agente põe em risco a ordem pública, a instrução processual ou a aplicação da lei penal.

    Deve-se ressaltar que a prisão cautelar tem natureza processual e a dúvida, neste âmbito,

    milita em prol da sociedade, tendo grande relevo à conveniência da instrução, que deve ser

    realizada de maneira equilibrada e com necessária lisura na busca da verdade real.

    São muitos os precedentes do Supremo Tribunal Federal que chancelam o uso ex-

    cepcional da prisão preventiva para impedir que o investigado, acusado ou sentenciado torne

    a praticar certos delitos enquanto responde a inquérito ou processo criminal. Da mesma

    forma, a segregação cautelar é plenamente cabível quando decretada para garantir que o acu-

    sado se furte à aplicação da lei. Os fundamentos legais corretos, nesse caso, para decretação e

    manutenção da custódia cautelar, é a garantia da ordem pública e da aplicação da lei penal,

    previstas no art. 312 do Código de Processo Penal, perfeitamente compatíveis com o princí-

    pio constitucional da presunção de inocência (art. 5o, inciso LVII, CF/1988).

    Adiante transcrevem-se trechos de vários julgados ilustrativos:

    Prisão preventiva. Afora a gravidade concreta da infração penal, a reiteração na práticacriminosa constitui motivo hábil a justificar a manutenção da prisão cautelar para res-guardar a ordem pública, conforme o art. 312 do Código de Processo Penal. (STF, 1aTurma, HC-AgR n. 116.744, rel. Min. Rosa Weber, DJ de 13/8/2013)A privação cautelar da liberdade individual – cuja decretação resulta possível em virtudede expressa cláusula inscrita no próprio texto da Constituição da República (CF, art. 5o,LXI), não conflitando, por isso mesmo, com a presunção constitucional de inocência(CF, art. 5o , LVII) – reveste-se de caráter excepcional, somente devendo ser ordenada,por tal razão, em situações de absoluta e real necessidade. (STF, 2a Turma, HC n.94.194/CE, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 20.11.2012)A decretação da prisão preventiva baseada na garantia da ordem pública está devida-mente fundamentada em fatos concretos a justificar a segregação cautelar, em especialdiante da possibilidade de reiteração criminosa, a qual revela a necessidade da constri -ção. (STF, 2a Turma, HC n. 96.997, rel Min. Ricardo Levandowski, DJ de 9/6/2009)A custódia cautelar do Paciente mostra-se suficientemente fundamentada na garantia daordem pública, não havendo, portanto, como se reconhecer o constrangimento, notada-mente porque, ao contrário do que se alega na petição inicial, existem nos autos elemen-tos concretos, e não meras conjecturas, que apontam a periculosidade do Paciente,circunstância suficiente para a manutenção da prisão processual. (STF, 1a Turma, HC n.94.260, rel. Min. Cármen Lúcia, DJ de 17/6/2008)[…] a garantia da ordem pública, por sua vez, visa, entre outras coisas, evitar a reiteraçãodelitiva, assim resguardando a sociedade de maiores danos (STF, 2a Turma, HC n.84.658/PE, rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ de 03/6/2005) INCLUIR APLICAÇÃO DALEI PENAL

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    Ao contrário do que alega a defesa, todo e qualquer fato (isolado ou em combina-

    ção com outros elementos) capaz de indicar e que a personalidade do agente é voltada à cri-

    minalidade e ostenta risco de reiteração constitui, em tese, fundamento idôneo da medida

    cautelar de prisão preventiva para garantia da ordem pública.

    Nesse amplo rol de condutas, condições ou circunstâncias, estão abrangidos, por

    exemplo, o histórico pessoal do suspeito, seu comportamento perante a comunidade e, até

    mesmo, as características específicas do(s) delito(s) cuja prática se lhe atribui – seja no

    mesmo processo ou inquérito, seja em outro(s) – em especial quando corroboradas por ele-

    mentos diversos que convirjam para a mesma conclusão.

    Desse modo, observa-se que o paciente PAULO CÂMARA era Superintendente da

    PRÓ-SAÚDE. Nessa condição, articulou a organização das práticas criminosas no âmbito da

    OS junto a RICARDO BRASIL (que exercia a Presidência de fato da entidade), MIGUEL ISKIN,

    GUSTAVO ESTELLITA e SÉRGIO CÔRTES.

    Além de garantir que as empresas previamente selecionadas por MIGUEL ISKIN

    fossem contratadas pela PRÓ-SAÚDE no Rio de Janeiro, valendo-se de sua influência perante

    os então gestores da entidade, PAULO CÂMARA também era ligado a pessoas jurídicas

    contratadas pela OS.

    Nesse sentido, o decreto prisional elenca as seguintes empresas ligadas ao

    paciente como beneficiadas em contratos da Pró-Saúde: Aditus Advisor Assessoria e

    Consultoria Empresarial; Polisolutions Tecnologia e Sistemas Ltda.; Canal das Compras

    Soluções Comerciais Ltda.; e Canal das Compras.

    Conforme indicado na denúncia, apenas a primeira dessas empresas (Aditus

    Advisor) recebeu da PRÓ-SAÚDE, no período compreendido entre 13 de maio de 2013 e 13

    de outubro de 2014, R$ 28.093.893,86, em 25 ocasiões distintas.

    No mesmo sentido, a empresa Polisolutions Tecnologia e Sistemas Ltda. recebeu,

    entre 30 de julho de 2013 e 22 de outubro de 2014, em ao menos 17 oportunidades

    distintas, R$ 11.411.085,00 da PRÓ-SAÚDE.

    Além disso, conforme consignado no parecer ofertado pela Procuradoria Regio-

    nal da República da 2ª Região nos autos do HC n. 0010291-37.2018.4.02.00005:

    5 Fls. 5463/5464.

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    O paciente, aliás, já havia sido preso preventivamente em dezembro de 2017, após adeflagração da “Operação Ouro Verde”, iniciada pelo Ministério Público do Estadode São Paulo, em razão de fraudes e desvios de recursos públicos por meio de outraorganização social, qual seja, a VITALE (pertencente a PAULO CÂMARA), na ges-tão do Hospital OURO VERDE, em Campinas/SP. Disto se denota que a atuaçãoilícita foi muito além dos fatos objeto do processo originário.As alegações sobre uma suposta colaboração premiada entre PAULO CÂMARA e oParquet Estadual em nada modificam a análise sobre a necessidade da medida cautelarprisional.

    Primeiro, porque os termos de colaboração não foram juntados aos autos, em razão de si-gilo alegado pela defesa. Segundo, ainda que fosse o caso, as cláusulas contratuais nelesinseridas e a promessa do seu cumprimento seriam (e são) plenamente ineficazes quantoà investigação atrelada à “Operação SOS”.Logo, subsiste o receio de risco à ordem pública, principalmente pelo fato de PAULOCÂMARA não ter adotado, paralelamente, postura colaborativa para com a Força-Tarefado MPF.

    Como se vê, a possibilidade real de reiteração delituosa constitui, fora de dúvida,

    base empírica subsumível à hipótese legal da garantia da ordem pública.

    A respeito da necessidade de que os fatos que ensejam a prisão preventiva

    fundada no risco à ordem pública sejam contemporâneos à implementação da medida, vale

    citar o entendimento exposto pelo Ministro Edson Fachin no julgamento do HC n. 143.333:

    “O que deve ser avaliado, em verdade, é se o lapso temporal verificado retira ou não a

    plausibilidade concreta de reiteração delituosa. A aferição da atualidade do risco, como

    todos os vetores da prisão preventiva, exige apreciação particularizada, descabendo

    superlativar a análise abstrata da distância temporal do último ato ilícito imputado ao

    agente.”

    Com efeito, sendo a expressão “proteção à ordem pública” nitidamente genérica,

    para que ela tenha concretude e robustez suficientes a justificar uma privação de liberdade de

    natureza realmente cautelar e não meramente antecipatória da pena, faz-se necessário lhe

    atribuir um significado que seja iluminado por critérios mais objetivos, ou menos etéreos,

    calibrando-os, em seguida, pela noção de cautelaridade própria à prisão preventiva.

    Nessa linha é que por “proteção à ordem pública” como uma das finalidades da

    prisão preventiva deve-se compreender, por exemplo, o acautelamento do corpo social

    diante do justo e plausível receio de que o investigado ou réu, caso solto, volte a

    delinquir6. E haverá receio plausível e justificado de reiteração delitiva quando as

    6 Sobre o tema, não ha como deixar de recorrer à lapidar lição do Min. Ayres Britto: “O conceito jurídico deordem pública não se confunde com incolumidade das pessoas e do patrimônio (art. 144 da CF/1988). Sem

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    circunstâncias objetivas como o tempo e o modo em que praticados os fatos criminosos assim

    indicarem.

    Aqui, entra em cena a noção de contemporaneidade (dos fatos em relação ao

    decreto de prisão), erigida por alguns, inclusive pelo Exmo. Relator Gilmar Mendes, como

    requisito para que a prisão preventiva decretada unicamente para proteger a ordem pública

    seja válida. Essa ideia parte do raciocínio de que crimes muito distantes no tempo, quando

    desacompanhados de qualquer outra circunstância própria aos demais fundamentos que, à luz

    do art. 312 do CP, justificam a prisão preventiva (como condutas do investigado de se furtar à

    aplicação da lei penal), não são aptos a fazer nascer na comunidade justo e plausível receio de

    reiteração delitiva, de modo que não oferecem, a princípio, risco à ordem pública.

    Seguindo esse raciocínio, vê-se que tempo do fato criminoso (o seu “quando”, ou

    a sua contemporaneidade) importa apenas como mais um elemento que, quando conjugado

    com outros, integra o processo de análise quanto à plausibilidade, ou não, do risco de

    reiteração delitiva. Daí que não há fórmulas absolutas capazes de indicar o quão recente deve

    ser um fato criminoso para que o receio da sua reiteração justifique a prisão preventiva

    daquele que o cometeu.

    Aliás, os Ministros dessa Suprema Corte têm, em decisões monocráticas recentes,

    mantido prisões preventivas decretadas com base unicamente no risco à ordem publica,

    relativas a crimes cometidos vários anos antes dos respectivos decretos prisionais,

    justamente por considerarem que, apesar de o crime não ser tão recente, é a soma das

    circunstâncias do caso concreto que deve indicar a plausibilidade do risco da reiteração

    delitiva e, assim, justificar a segregação cautelar.

    No HC n. 151.436, por exemplo, o Ministro Luís Fux, em dezembro de 2017,

    manteve prisão preventiva decretada em 2017 contra paciente acusado da prática, em 2013,embargo, ordem pública se constitui em bem jurídico que pode resultar mais ou menos fragilizado pelomodo personalizado com que se dá a concreta violação da integridade das pessoas ou do patrimônio de ter-ceiros, tanto quanto da saúde pública (nas hipóteses de tráfico de entorpecentes e drogas afins). Daí sua cate-gorização jurídico-positiva, não como descrição do delito nem cominação de pena, porém como pressupostode prisão cautelar; ou seja, como imperiosa necessidade de acautelar o meio social contra fatores de pertur-bação que já se localizam na gravidade incomum da execução de certos crimes. Não da incomum gravidadeabstrata desse ou daquele crime, mas da incomum gravidade na perpetração em si do crime, levando à con-sistente ilação de que, solto, o agente reincidirá no delito. Donde o vínculo operacional entre necessidade depreservação da ordem pública e acautelamento do meio social. Logo, conceito de ordem pública que se des-vincula do conceito de incolumidade das pessoas e do patrimônio alheio (assim como da violação à saúdepública), mas que se enlaça umbilicalmente à noção de acautelamento do meio social”. (HC 101.300, rel.min. Ayres Britto, j. 5-10-2010, 2ª T, DJE 18-11-2010)

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    de crime ambiental e formação de quadrilha.

    No HC n. 148.014, de relatoria do Min. Ricardo Lewandowski, manteve-se a

    prisão preventiva decretada em 09/03/2016 contra paciente acusado de praticar o crime de

    roubo de veiculo automotor em 1/3/2011. Veja-se trecho da decisão:

    ˜Na espécie, verifico que, assim como consignado pelo STJ, a prisão cautelar está devi-damente fundamentada, baseada na gravidade concreta da conduta evidenciada pelas cir-cunstâncias em que praticado o crime (subtração de caminhão e carga de expressivovalor, com emprego de armas e restrição à liberdade da vítima) e nos fortes indícios deque o paciente integre uma quadrilha especializada em roubos de carga.

    Observo, ainda, que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admite que a prisãopreventiva tenha fundamento na reiteração criminosa como violadora da ordem pública,haja vista a participação em organização criminosa”.

    A posição de integrante de sofisticada organização criminosa, a circunstância de

    PAULO CÂMARA ter na prática de ilícitos a sua forma de trabalho, a gravidade em concreto

    dos crimes por ele praticados (a demonstrar, na linha da jurisprudência dessa Suprema Corte,

    a sua periculosidade), assim como a evidente contemporaneidade dos crimes - tudo

    comprovado nos autos, e não fruto de mera especulação ou afirmações genéricas – indica que

    a única forma de sobrestar as atividades ilícitas incorridas pelo paciente é mediante a sua

    custódia cautelar. Do contrário, o risco de reiteração delitiva é óbvio e inegável; assim, a

    necessidade da prisão cautelar se funda, antes de mais nada, no risco que a liberdade de

    PAULO CÂMARA traz à ordem pública.

    Imaginar que uma vida criminosa, como a do paciente, será interrompida por

    mágica é algo muito pueril. Não é isso que a realidade demonstra. Pelo contrário, apenas a

    amarga, mas concretamente necessária, medida cautelar de prisão preventiva terá o condão de

    preservar a ordem pública, impedindo que o paciente, em liberdade, retome sua bem sucedida

    carreira criminosa.

    Assim, o vasto conhecimento do paciente, sua grande influência no setor

    hospitalar público e, principalmente, do terceiro setor, além da aparente continuidade das

    atividades criminosas orquestradas pela ORCRIM deixam clara a necessidade de contrição

    cautelar de PAULO CÂMARA.

    Ademais, conforme ressaltado na decisão proferida pelo Ministro Rogério

    Schietti, o paciente é acusado pela prática de crimes permanentes, tais como a lavagem de

    dinheiro na modalidade “ocultar” - visto que recebeu vantagens indevidas até o ano de 2014,

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    ainda não recuperadas –, o que reforça a necessidade da medida combatida pela presente

    impetração.

    Nesse sentido é a fundamentação apresentada na decisão que decretou a prisão

    preventiva do ora paciente:

    Pois bem, após fazer uma explanação sobre cada requerido, destaco que o ordena-mento jurídico estabelece genericamente que, para a concessão da prisão cautelar, de na-tureza processual, faz-se necessária a presença de pressupostos e requisitos legais, queuma vez presentes permitem a formação da convicção do julgador quanto à prática dedeterminado delito por aquela pessoa cuja prisão se requer.

    À luz da garantia constitucional da não presunção de culpabilidade, nenhuma medidacautelar deve ser decretada sem que estejam presentes os pressupostos do fumus comissidelicti e do periculum libertatis. Entende-se por fumus comissi delicti a comprovação daexistência de crime e de indícios suficientes de sua autoria e por periculum libertatis, oefetivo risco que o agente em liberdade pode criar à garantia da ordem pública, da ordemeconômica, da conveniência da instrução criminal e à aplicação da lei penal (artigo 312do Código de Processo Penal).

    No que toca especialmente ao fundamento da garantia da ordem pública, o Supremo Tri-bunal Federal já assentou que esta envolve, em linhas gerais: a) necessidade de resguar-dar a integridade física ou psíquica do preso ou de terceiros; b) necessidade de assegurara credibilidade das instituições públicas, em especial o Poder Judiciário, no sentido daadoção tempestiva de medidas adequadas, eficazes e fundamentadas quanto à visibili-dade e transparência da implementação de políticas públicas de persecução criminal; e c)objetivo de impedir a reiteração das práticas criminosas, desde que lastreado em elemen-tos concretos expostos fundamentadamente.

    Como já dito linhas acima, e reiterando decisões cautelares anteriores, em se confir -mando as suspeitas inicialmente apresentadas, as quais seriam suportadas pelo conjuntoprobatório apresentado em justificação para as graves medidas cautelares requeridas, es-taremos diante de graves delitos de corrupção ativa e passiva, de peculato, de organiza-ção criminosa e de lavagem de dinheiro por parte dos investigados.

    Mais do que isso, avaliando os elementos de prova trazidos aos autos, em cognição su-mária, considero que a gravidade da prática criminosa de pessoas com alto padrão so-cial que tentam burlar os trâmites legais, não poderá jamais ser tratada com o mesmorigor dirigido à prática criminosa comum.

    Os fatos ora tratados afetam toda a sociedade. É ver que além de afetar um setor jácrítico no Estado do Rio de Janeiro, a saúde pública, os atos, em tese, praticados, ferema confiança da população na própria Administração Pública. Isso porque, a contrata-ção das OS’s representou uma esperança de mudança no setor, visto que são entidade so-ciais isentas. Assim, quando se traz a notícia de que havia disseminadas práticas de atosde corrupção também nessas negociações entre OS e fornecedores, a credibilidade do Es-tado resta deveras abalada.

    Aliás, o quadro acima descrito, que infelizmente talvez se reproduza em outras unidadesde nossa Federação, talvez explique a dramática situação de penúria que se vê nos Hospi-tais e Postos de Atendimento de Saúde públicos. Como sói se vê, é a população mais ca-rente dos serviços públicos a vítima mais sensível da crueldade com que agentespúblicos corruptos, associados a empresários ávidos pelo lucro fácil, desviam os re-

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    cursos públicos. Daí ser incompreensível que se pretenda afirmar não serem extre-mamente graves os crimes aqui, ainda que preliminarmente, descritos.Portanto, tenho por evidenciados os pressupostos para o deferimento da medida cautelarextrema, consubstanciados na presença do fumus comissi delicti, ante a aparente compro-vação da materialidade delitiva e de indícios suficientes que apontam para a autoria decrimes de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro.

    Encontra-se também presente o segundo pressuposto necessário à decretação da cautelar,qual seja, o periculum libertatis, nestes autos representado pelo risco efetivo que os re-queridos, em liberdade, possam criar à garantia da ordem pública, da conveniência dainstrução criminal e à aplicação da lei penal (artigo 312 do Código de Processo Penal).

    Repise-se que muitos dos ora investigados já foram denunciados no passado por delitosde mesma tipologia, todavia, isso não parece ter desestimulado a perpetuação da conduta.Além disso, em análise ainda preliminar, a cada dia parecem surgir novos inícios e pro-vas de que os esquemas criminosos engendrados para sangrar os cofres públicos são mai-ores e variados.

    E mais, os ex-gestores da Pró-Saúde somente se afastaram da entidade após a auditoriater demonstrado a existência de diversos atos irregulares. Porém, parece que continuamoperando no mercado por meio de outras organização, conforme indicado pelos cola-boradores.

    Já os principais agentes do “esquema”, ora mencionados, continuam em seus postos; as-sim como os funcionários da OSCAR ISKIN e ODIR, que parecem ainda ter contratosem aberto com a OS Pró-Saúde.Cabe, ainda, repisar que além de toda a investigação relativa à Secretaria de Saúde, aoque parece, MIGUEL ISKIN, GUSTAVO ESTELLITA e SERGIO CORTES operavammais esse esquema ligado às contratações da OS Pró-Saúde, o que demonstra aenorme influência desses agentes na organização criminosa.

    Sobre o ponto reitero o que acima disse acerca da necessidade da prisão requeridapara garantia da ordem pública, circunstância exaustivamente abordada anteriormente,tendo em vista a contemporaneidade dos fatos.

    Nesse diapasão, comprovada a necessidade da prisão preventiva, que não é atendidapor nenhuma outra medida cautelar alternativa, mesmo as estipuladas no art. 319 doCPP, ante o comportamento acima descrito dos investigados requeridos, que de-monstram praticar atos, aparentemente, voltados à corrupção, peculato, branqueamentode capitais e organização criminosa.

    Não se olvide, ademais, que tão importante quanto investigar a fundo a atuação ilícita daORCRIM descrita, com a consequente punição dos agentes criminosos, é a cessação daatividade ilícita e a recuperação do resultado financeiro criminosamente auferido.Nesse sentido, deve-se ter em mente que no atual estágio da modernidade em que vive-mos, uma simples ligação telefônica ou uma mensagem instantânea pela internet são su-ficientes para permitir a ocultação de grandes somas de dinheiro, como as que parecemter sido pagas em propinas em diversos casos ora sob investigação ou objeto de proces -sos em curso nesta 7ª Vara Federal Criminal, alguns já com sentença condenatória.

    A extensa teia criminosa que, como aponta o MPF, teria sido engendrada para dizimar osrecursos públicos destinados à Saúde Pública, ao que parece, não está completamente de-cifrada, de forma que a liberdade dos representados pode comprometer seriamente o des-fecho das sérias e expeditas investigações em curso. Parece muito óbvio que, emliberdade, os requeridos teriam a capacidade de maquiar negócios ilícitos, eliminar pro-vas, afastar e intimidar possíveis testemunhas de graves crimes praticados.

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    Nesse contexto, a prisão preventiva dos investigados, tal como requerida na represen-tação inicial, é medida que se impõe, seja para garantir a ordem pública, como por con-veniência da instrução criminal, nos termos do art. 312 do CPP.

    Assim, analisando as provas apresentadas e os fatos acima detalhados, verifica-se

    que a continuidade das atividades ilícitas da organização criminosa, o amplo conhecimento

    técnico e influência política do paciente, constituem elementos concretos e suficientes que

    apontam para a necessidade de se manter a prisão preventiva de PAULO CÂMARA, tanto para

    a garantia da ordem pública quanto da instrução penal, haja vista a grande possibilidade de

    reiteração delitiva e de ocultação de objetos e provas do crime, não sendo suficiente a sua

    substituição por medidas cautelares alternativas previstas nos artigos 282, § 6º e 319, do

    Código de Processo Penal.

    III

    Ante o exposto, a PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA opina pelo não

    conhecimento do writ e, no mérito, pela denegação da ordem.

    Brasília, 12 de novembro de 2018.

    Raquel Elias Ferreira DodgeProcuradora-Geral da República

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