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MINISTÉRIO DA FAZENDA
Secretaria de Acompanhamento Econômico
Coordenação Geral de Infraestrutura Urbana e Recursos Naturais
Nota Técnica n.º 06016/2016/DF COGUN/SEAE/MF
Brasília, 18 de fevereiro de 2016.
Assunto: Consulta de Defesa da Concorrência
nº 40000.06004/2013/DF, que trata da
regulamentação do Departamento de Trânsito
do Estado de Pernambuco (Detran/PE),
referente ao credenciamento de fabricantes de
placas e tarjetas de veículos automotores.
Recomendação: Comunicação ao
Departamento Estadual de Transito do Estado
de Pernambuco (Detran/PE), ao Departamento
Nacional de Trânsito (Denatran) e ao Ministério
Público Estadual do Estado de Pernambuco
sobre eventual ilegalidade e dos efeitos danosos
à concorrência provocados por norma expedida
pelo Detran/PE, bem como sugestão de
reformulação da norma em vigor.
Acesso: Público
1. Introdução
1. A Superintendência Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(SG/Cade) encaminhou o Ofício nº 1693/2013/CADE/SG/GAB, de 22 de março de 2013, com
cópia do Procedimento Preparatório nº 08700.005213/2012-94, que solicitou análise da Seae a
respeito da denúncia da empresa Macmetal Indústria e Comércio de Alumínio Ltda Me
(doravante Macmetal), a respeito da Portaria nº 750, de 30 de março de 2012, emitida pelo
Departamento de Trânsito do Estado de Pernambuco (Detran/PE).
2. Diante do pedido de análise, esta Secretaria promoveu a abertura da Consulta de
Defesa da Concorrência nº 40000.06004/2013/DF, com vista a analisar o mercado de fabricação
de placas e tarjetas do estado de Pernambuco, tendo como foco aspectos concorrenciais desse
mercado. Ato contínuo, a Seae encaminhou ofícios ao Detran/PE com o intuito de obter
informações a respeito do mercado de placas e tarjetas naquele estado1. Em 24 de novembro, o
Detran/PE informou que Portaria nº 750/2012 havia sido revogada e estava em vigor a Portaria
nº 4.040, de 06 de outubro de 2014, que passou a regulamentar o credenciamento de fabricantes
de placas e tarjetas no estado de Pernambuco.
1 A Seae encaminhou o ofício nº 07470/DF/COGUN/SEAE/DF, de 06 de agosto de 2014, reiterado pelo Ofício nº
08163/2014/DF, de 13 de novembro de 2014, solicitando informações ao Detran/PE.
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3. O objetivo desta nota é apresentar: (i) análise desta Secretaria sobre indícios de
possíveis efeitos anticompetitivos de normas expedidas pelo Detran/PE; e (ii) sugestões para
possíveis aperfeiçoamentos em prol da competição no mercado de fabricação de placas e tarjetas.
Inicialmente, serão abordadas as atribuições desta Secretaria no âmbito da advocacia da
concorrência. Em seguida, será feita a análise propriamente dita, buscando identificar o problema
e as instituições afetadas e avaliar eventuais impactos ao bem estar econômico. Finalmente, serão
apresentadas as considerações finais e recomendações.
2. Da Atribuição de Promoção da Concorrência da Seae
4. Na atual configuração do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC)2,
são competências desta Secretaria, dentre outras:
a) “elaborar estudos avaliando a situação concorrencial de setores específicos da atividade
econômica nacional, de ofício ou quando solicitada pelo Cade, pela Câmara de Comércio
Exterior ou pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça ou
órgão que vier a sucedê-lo” (Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011, art. 19, inciso IV);
b) “propor a revisão de leis, regulamentos e outros atos normativos da administração pública
federal, estadual, municipal e do Distrito Federal que afetem ou possam afetar a concorrência
nos diversos setores econômicos do País” (Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011, art. 19,
inciso VI); e
c) “avaliar e manifestar-se acerca dos atos normativos e instrumentos legais que afetem as
condições de concorrência e eficiência na prestação de serviços, produção e distribuição de
bens”, articulando-se com os órgãos públicos responsáveis (Decreto nº 7.482, de 16 de maio de
2011, art. 29, inciso VII e c/c inciso XI).
5. No contexto descrito, está entre as atribuições da Secretaria de Acompanhamento
Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda a advocacia da concorrência, que consiste em
esclarecer e incutir nos agentes econômicos (dentre os quais estão agentes privados e públicos)
os ganhos alocativos e produtivos que a introdução e manutenção da concorrência produzem.
Uma das formas de se promover a advocacia da concorrência é a identificação, pelos órgãos que
compõem o SBDC, de normas legais ou infralegais (municipais, estaduais ou federais) que têm o
condão de ferir ilicitamente a livre iniciativa ou a livre concorrência, previstas no art. 170, inciso
IV3, da Constituição Federal, e que impedem a sociedade de gozar os benefícios oriundos da
concorrência.
6. Assim, o estudo em tela tem justamente o objetivo de fomentar mudanças na
estrutura regulatória editada por um ente público, no caso o Detran/PE, com vistas a levantar
alguns pontos acerca da restrição a entrada de empresas fabricantes de placas e tarjetas para
veículos automotores. O estudo também tem por objetivo orientar ações de advocacia da
concorrência. Ressalta-se que, do ponto de vista institucional, a Seae não constitui instância
deliberativa dentro do SBDC, embora possa provocar ou instigar eventuais mudanças normativas
ou regulatórias.
7. Vale destacar a importância de estabelecer como objetivo da regulação a melhoria
da prestação do serviço por parte dos fabricantes de placas e aos usuários. Isso envolve um
2 A estrutura atual do SBDC é dada pela Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011. De acordo com essa lei, o
SBDC é composto pela Secretaria de Acompanhamento Econômico, do Ministério da Fazenda, e pelo Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão ligado ao Ministério da Justiça. 3 Art.170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
...
IV- livre concorrência;
...
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ambiente mais propício à concorrência e uma fiscalização eficaz, central de atendimento ao
usuário, entre outras questões.
8. Enfatiza-se que as conclusões desse estudo possuem caráter opinativo. O ente
estadual tem, dentro dos limites legais, liberdade para construir regulamentos para disciplinar os
serviços prestados pelos fabricantes de placas e tarjetas dentro de seu território.
3. Das Normas Que Regem o Funcionamento do Mercado de Placas
9. O Sistema Nacional de Trânsito, previsto na Lei nº 9.503, de 23 de setembro de
1997 (Código de Trânsito Brasileiro - CTB), é composto por uma série de órgãos distribuídos em
âmbito federal, estadual e municipal, os quais possuem tarefas relacionadas à viabilização de um
trânsito seguro, fluente, confortável, cômodo e que preserve não só o meio ambiente, como
também os bens públicos e privados4. São eles:
(i) Conselho Nacional de Trânsito (Contran), órgão máximo normativo consultivo e
coordenador do Sistema;
(ii) Conselhos Estaduais de Trânsito (Cetrans) e o Conselho de Trânsito do Distrito Federal
(Contradife), órgãos normativos, consultivos e coordenadores;
(iii) Órgãos e entidades executivos de trânsito da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios;
(iv) Órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios;
(v) Polícia Rodoviária Federal, Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal; e
(vi) Juntas Administrativas de Recursos de Infrações (Jaris).5
10. É importante destacar, com maior vagar e cuidado, as competências (i) do
Conselho Nacional de Trânsito (Contran), (ii) do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran),
o órgão máximo executivo de trânsito da União, e (iii) dos Departamentos Estaduais de Trânsito
(Detrans), órgãos executivos que atuam em âmbito estadual.
11. O art. 12 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece as competências do
Contran. Este, inter alia, é responsável por estabelecer as normas regulamentares referidas no
CTB, definir as diretrizes da Política Nacional de Trânsito e coordenar os órgãos do Sistema
Nacional de Trânsito, objetivando a integração de suas atividades.
47. O Denatran, que possui as suas competências dispostas no art. 19 do CTB6, é
responsável, inter alia, por administrar e colocar em prática a legislação no país, não possuindo
4 MITIDIERO, Nei Pires in Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro: (direito de trânsito e direito
administrativo de trânsito), ed. Forense, Rio de Janeiro, 2004, pág. 57. 5 Conforme dispõe o artigo 7º do CTB.
6 Art. 19. Compete ao órgão máximo executivo de trânsito da União:
I - cumprir e fazer cumprir a legislação de trânsito e a execução das normas e diretrizes estabelecidas pelo Contran,
no âmbito de suas atribuições;
II - proceder à supervisão, à coordenação, à correição dos órgãos delegados, ao controle e à fiscalização da execução
da Política Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito;
III - articular-se com os órgãos dos Sistemas Nacionais de Trânsito, de Transpor e de Segurança Pública,
objetivando o combate à violência no trânsito, promovendo, coordenando e executando o controle de ações para a
preservação do ordenamento e da segurança do trânsito;
(...)
§ 1º Comprovada, por meio de sindicância, a deficiência técnica ou administrativa ou a prática constante de atos de
improbidade contra a fé pública, contra o patrimônio ou contra a administração pública, o órgão executivo de
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atribuições decisórias, normativas ou consultivas de qualquer natureza. Na verdade, o Denatran
“constitui o órgão executor da política nacional de trânsito e das decisões do Contran”7. Para que
possa cumprir com esse mister, os incisos do já mencionado art. 19 explicitam as funções do
Denatran, dentre as quais a supervisão da política de trânsito e a expedição de determinados
documentos.
48. Os Detrans são os órgãos executivos máximos dos estados (e também do Distrito
Federal), cujas funções e competências estão dispostas no art. 228 do CTB. No rol de atribuições
dos Detrans, não há qualquer competência legislativa ou consultiva. De uma forma geral, estes
órgãos podem instaurar e julgar processos sobre infrações de trânsito, aplicando penalidades, se
for o caso. No que tange ao emplacamento de veículos, o CTB estabelece que os Detrans devem
“vistoriar, inspecionar quanto às condições de segurança veicular, registrar, emplacar,
selar a placa, e licenciar veículos, expedindo o Certificado de Registro e o Licenciamento
Anual, mediante delegação do órgão federal competente” (art. 22, inciso III, do CTB).
trânsito da União, mediante aprovação do Contran, assumirá diretamente ou por delegação, a execução total ou
parcial das atividades do órgão executivo de trânsito estadual que tenha motivado a investigação, até que as
irregularidades sejam sanadas.
§ 2º O regimento interno do órgão executivo de trânsito da União disporá sobre sua estrutura organizacional e seu
funcionamento.
§ 3º Os órgãos e entidades executivos de trânsito e executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios fornecerão, obrigatoriamente, mês a mês, os dados estatísticos para os fins previstos no inciso X. 7 RIZZARDO, Arnaldo in Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo,
3º Edição Revista e Atualizada, 2001, página 80. 8 Art. 22. Compete aos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, no âmbito de
sua circunscrição:
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito das respectivas atribuições;
II - realizar, fiscalizar e controlar o processo de formação, aperfeiçoamento, reciclagem e suspensão de condutores,
expedir e cassar Licença de Aprendizagem, Permissão para Dirigir e Carteira Nacional de Habilitação, mediante
delegação do órgão federal competente;
III - vistoriar, inspecionar quanto às condições de segurança veicular, registrar, emplacar, selar a placa, e
licenciar veículos, expedindo o Certificado de Registro e o Licenciamento Anual, mediante delegação do
órgão federal competente;
IV - estabelecer, em conjunto com as Polícias Militares, as diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito;
V - executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis pelas infrações previstas
neste Código, excetuadas aquelas relacionadas nos incisos VI e VIII do art. 24, no exercício regular do Poder de
Polícia de Trânsito;
VI - aplicar as penalidades por infrações previstas neste Código, com exceção daquelas relacionadas nos incisos VII
e VIII do art. 24, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar;
VII - arrecadar valores provenientes de estada e remoção de veículos e objetos;
VIII - comunicar ao órgão executivo de trânsito da União a suspensão e a cassação do direito de dirigir e o
recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação;
IX - coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre acidentes de trânsito e suas causas;
X - credenciar órgãos ou entidades para a execução de atividades previstas na legislação de trânsito, na forma
estabelecida em norma do CONTRAN;
XI - implementar as medidas da Política Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito;
XII - promover e participar de projetos e programas de educação e segurança de trânsito de acordo com as diretrizes
estabelecidas pelo CONTRAN;
XIII - integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e
compensação de multas impostas na área de sua competência, com vistas à unificação do licenciamento, à
simplificação e à celeridade das transferências de veículos e de prontuários de condutores de uma para outra unidade
da Federação;
XIV - fornecer, aos órgãos e entidades executivos de trânsito e executivos rodoviários municipais, os dados
cadastrais dos veículos registrados e dos condutores habilitados, para fins de imposição e notificação de penalidades
e de arrecadação de multas nas áreas de suas competências;
XV - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga, de
acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio, quando solicitado, às ações específicas dos órgãos
ambientais locais;
XVI - articular-se com os demais órgãos do Sistema Nacional de Trânsito no Estado, sob coordenação do respectivo
CETRAN.
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49. Ressalta-se, ainda, que o CTB dispõe que o Contran estabelecerá as especificações
e os modelos para a identificação externa dos veículos – ou seja, as placas de veículos e motos
devem seguir modelo definido pelo conselho. In Verbis:
Art. 115. O veículo será identificado externamente por meio de placas dianteira
e traseira, sendo esta lacrada em sua estrutura, obedecidas as especificações e
modelos estabelecidos pelo CONTRAN.
§ 1º Os caracteres das placas serão individualizados para cada veículo e o
acompanharão até a baixa do registro, sendo vedado seu reaproveitamento.
(.....)
§ 6º Os veículos de duas ou três rodas são dispensados da placa dianteira.
(.....)
50. Feitas essas considerações e a fim de melhor avaliar o caso concreto, faz-se mister
conhecer as normas infralegais que regulam a atuação dos fabricantes de placas, iniciando-se
pelo regramento infralegal federal. As normas contidas nas Resoluções nºs 231/20079,
241/200710
e 372/201111
, do Contran, estabelecem as características, especificações e modelos
de placas, bem como dispõe sobre o credenciamento das empresas responsáveis pela confecção
de placas, tarjetas e emplacamento dos veículos em âmbito nacional. Dentre as atribuições dos
Detrans, no que tange ao credenciamento, fiscalização e controle da fabricação de placas, cabe
destacar o disposto no art. 5º e seus parágrafos da Resolução nº 231/2007. In Verbis:
Art. 5º As placas serão confeccionadas por fabricantes credenciados pelos
órgãos executivo de trânsito dos Estados ou do Distrito Federal, obedecendo as
formalidades legais vigentes.
§ 1° Será obrigatória a gravação do registro do fabricante em superfície plana da
placa e da tarjeta, de modo a não ser obstruída sua visão quando afixadas nos
veículos, obedecidas as especificações contidas no Anexo da presente
Resolução.
§ 2° Aos órgãos executivos de trânsito dos Estados ou do Distrito Federal,
caberá credenciar o fabricante de placas e tarjetas, bem como a fiscalização
do disposto neste artigo.
§ 3° O fabricante de placas e tarjetas que deixar de observar as
especificações constantes da presente Resolução e dos demais dispositivos
legais que regulamentam o sistema de placas de identificação de veículos,
terá seu credenciamento cancelado pelo órgão executivo de trânsito dos
Estados ou do Distrito Federal.
§ 4° Os órgãos executivos de trânsito dos Estados ou do Distrito Federal,
estabelecerão as abreviaturas, quando necessárias, dos nomes dos municípios de
sua Unidade de Federação, a serem gravados nas tarjetas.
51. Nota-se, portanto, que o Contran determina que caberá aos Detrans o
credenciamento dos fabricantes de placas e tarjetas. Infere-se, da norma, que qualquer agente
que atender os requisitos técnicos para atuar no mercado, terá direito de fazê-lo. Não há, a
princípio, nenhum dispositivo da referida regulação que possa ser interpretado que os
Detrans serão responsáveis pelo fornecimento de placas para os adquirentes12
. Conclui-se,
9 Estabelece o Sistema de Placas de Identificação de Veículos.
10 Dá nova redação aos incisos I e II do art. 6º, ao art. 11 e ao Anexo da Resolução Contran nº 231/2007.
11 Altera a Resolução CONTRAN n.º 231/2007, que estabelece o sistema de placas de identificação de veículos.
12 Ou seja, a princípio, o Contran não delegou aos Detrans, em regime de monopólio ou não, a prestação do serviço
de confecção de placas e tarjetas. Pelo contrário, o Contran delegou aos Detrans a atribuição de credenciar e
fiscalizar as empresas aptas a prestarem o serviço.
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dessa forma, que a atividade de fabricação de placas pode ser considerada privada, sendo
que as empresas devem obter o credenciamento no órgão de trânsito estadual, obedecido às
normas que regem a prestação e o funcionamento do serviço de fabricação de placas.
52. Inicialmente, conforme disposto no art. 6º da Resolução nº 231/200713
, a
obrigatoriedade de utilizar placas com película reflexiva ficou adstrito aos veículos de duas ou
três rodas do tipo motocicletas, motonetas, ciclomotor e triciclo. Os demais veículos, de quatro
rodas, como automóveis, utilitários e caminhões, por exemplo, tinham a faculdade de utilizá-las,
mas não era obrigatório. In Verbis:
Art. 6º. Os veículos de duas ou três rodas do tipo motocicleta, motoneta,
ciclomotor e triciclo ficam obrigados a utilizar placa traseira de
identificação com película refletiva conforme especificado no Anexo desta
Resolução e obedecer aos seguintes prazos:
I - Na categoria aluguel, para todos os veículos, a partir de 01 de agosto de
2007;
II - Nas demais categorias, os veículos registrados a partir de 01 de agosto de
2007 e os transferidos de município.
Parágrafo Único. Aos demais veículos é facultado o uso de placas com
película refletiva, desde que atendidas as especificações do Anexo desta
Resolução
53. Com a edição da Resolução nº 372, de 18 de março de 2011, do Contran, a
Resolução nº 231/2007 foi alterada, de forma que todos os veículos fabricados a partir de janeiro
de 2012 passaram a ter a obrigatoriedade de utilizar placas e tarjetas com películas reflexivas.
Ademais, quando houver mudança de município, a placa do veículo deverá se adequar às novas
especificações. In Verbis:
Art. 1º O Parágrafo único do art. 6º, da Resolução nº 231, de 15 de março de
2007, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Parágrafo único. Os demais veículos, fabricados a partir de 1º de janeiro de
201214
, deverão utilizar obrigatoriamente placas e tarjetas confeccionadas
com películas refletivas, atendidas as especificações do Anexo desta
Resolução”.
Art. 2º O art. 7º, da Resolução nº 231, de 15 de março de 2007, passa a vigorar
com a seguinte redação:
“Art. 7º Os veículos com placa de identificação em desacordo com as
especificações de dimensão, película refletiva, cor e tipologia deverão
adequar-se quando da mudança de município.”
(....)
54. Em função desta alteração no normativo federal, os órgãos de trânsito estaduais
promoveram alterações em seus normativos, de forma a exigir as placas reflexivas de todos os
veículos automotores, incluindo os automóveis e caminhões, que não estavam abrangidos no
regramento anterior.
55. No caso específico do Detran/PE, o motivo da representação feita pela empresa
Macmetal ao Cade foi a edição da Portaria nº 750, de 30 de março de 2012, que regulamentava o
credenciamento e renovação das empresas fabricantes de placas e tarjetas, assim como
13
Os prazos do art. 6 foram alterados pela Resolução Contran nº 241/2007, que passaram para janeiro de 2008. 14
O prazo de 1º de janeiro de 2012 foi alterado para 1º de abril de 2012, nos termos da Deliberação CONTRAN nº
122, de 27 de dezembro de 2011.
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procedimentos de produção e comercialização. No entanto, a Portaria nº 750/2012 foi revogada e
está em vigor a Portaria nº 4.040, de 06 de outubro de 2014, que instituiu as normas de
credenciamento de fabricantes de placas de identificação veicular no estado de Pernambuco e
será objeto de análise deste articulado15
.
56. Feito resumo sobre as normas que regem a fabricação de placas de veículos nos
âmbito federal e estaduais (incluindo o distrital), assim como das normas específicas do estado
de Pernambuco, passa-se à análise acerca do caso em tela.
4. Da Análise
4.1. Do Problema Identificado, Objetivo e Instituições Impactadas
57. Como mencionado, a SG/Cade encaminhou a esta Secretaria, por meio do Ofício
nº 1.693/2013/CADE/SG/GAB, de 22 de março de 2013, cópia do Procedimento Preparatório nº
08700.005213/2012-94, tendo por base o Capítulo III, do art. 19 da Lei nº 12.529, de 201116
.
Trata-se de cópia da representação da empresa Macmetal Indústria e Comércio de Alumínio
Ltda Me, com sede no estado da Bahia, cuja atividade comercial consiste na fabricação de
placas para veículos automotores, fundição de alumínio e outros metais não ferrosos. A referida
empresa sustenta queixas contra o Detran/PE em razão da Portaria nº 750/2012, que disciplina e
regulamenta o credenciamento e a renovação das empresas fabricantes de placas e tarjetas
primárias e secundárias de identificação de veículos automotores, bem como estabelecendo
procedimentos de produção e comercialização pelas empresas credenciadas, disciplinando as
atividades de fabricação, estampagem, lacração e instalação de placas e tarjetas de identificação
veicular.
58. Segundo a denunciante, no que se refere à Portaria nº 750/2012, o Detran/PE usou
da justificativa de “maior rigor aos procedimentos de fiscalização das empresas credenciada no
intuito de beneficiar determinadas empresas”. Ademais, a portaria teria violado os princípios
constitucionais da livre concorrência e da defesa do consumidor, além de extrapolar os limites da
competência institucional do Detran/PE.
59. Ainda, segundo a denúncia, a autarquia usa de mecanismos infralegais para
realizar uma possível reserva de mercado, ou seja, as empresas fabricantes de placas e tarjetas
são obrigadas a ter sua sede no estado de Pernambuco. O fabricante “é obrigado à abertura de
nova empresa com sede no Estado, e não apenas filial, para pleitear o credenciamento junto
àquele órgão”. O Detran/PE ainda define que “o cadastramento das empresas fabricantes de
placas e tarjetas primária e secundária seja anual, e tão somente no mês de abril17
”. O
denunciante alega que “o regulamento impediria o credenciamento de fabricantes perante o
Detran em todo o território de Pernambuco por empresas que nele não tenham estabelecido sua
sede, como verificado na Portaria nº 750/201218
”.
15
A Portaria nº 6.760, de 21 de dezembro de 2013, revogou a Portaria nº 750/2012 e posteriormente, a Portaria nº
4.040, de 06 de outubro de 2014, revogou a Portaria nº 6.760/2013. 16
Superintendência-Geral do Cade arquivou o procedimento preparatório, nos termos do art. 66, § 4º, da Lei nº
12.529/2011 c.c. art. 135, da Resolução nº 1, de 29 de maio de 2012, sob alegação de que “em se tratando de
regulamentação emitida por órgão do governo, não é de competência da Autarquia reforma-lá ou criticá-la”. 17
Art. 4º. Para o credenciamento da empresa fabricante de placas e tarjetas primária (chapa-base)-PPIV e
secundaria (estampagem)-PEIV, junto ao DETRAN/PE, deverá à interessada atender a todos os requisitos previstos
no Código de Trânsito Brasileiro, nas normas estabelecidas pelo CONTRAN e DENATRAN e na presente Portaria.
§2° A apresentação do pedido de credenciamento junto ao DETRAN/PE será anual, no período compreendido entre
1° a 30 de abril, nessa ocasião a empresa deverá apresentar a documentação de habilitação exigida nesta Portaria. 18
Art.4º. Para o credenciamento da empresa fabricante de placas e tarjetas primária (chapa base) - PPIV18 e
secundária (estampagem) - PEIV18, junto ao Detran/PE, deverá a interessada atender a todos os requisitos
previstos no Código de Trânsito Brasileiro, nas normas estabelecidas pelo Contran e Denatran e na presente portaria.
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60. Em outro ponto, a Macmetal alerta para o prazo mínimo de doze meses de
experiência exigidos para efetuar o cadastramento19
. Ou seja, só poderão se habilitar as empresas
que já estejam em solo pernambucano há no mínimo um ano, e aptas para promover o
“atendimento imediato”. Ademais, a exigência da experiência somente faria sentido na hipótese
do credenciamento ser aberto a qualquer empresa com sede ou não no estado de Pernambuco.
61. O denunciante também questiona o dispositivo que trata dos preços de placas e
tarjetas a serem adquiridos pelos consumidores, que segundo o disposto no art. 22 da Portaria nº
750/2012, “serão definidos através de estudo técnico/financeiro a ser contratado pelo Detran/PE,
visando garantir ao consumidor final o preço justo para a aquisição dos produtos”20
.
62. Foi ressaltado que o Detran/PE possui competência para “vistoriar, inspecionar
quanto às condições de segurança veicular, registrar, emplacar, selar a placa (.....) mediante
delegação do órgão federal competente”21
. Contudo, para a Macmetal “a regulamentação
excedeu a autonomia daquele órgão de trânsito quando estabeleceu a possibilidade de fixação de
preços de placas e tarjetas para automóveis, motocicletas e reboques, em desrespeito ao princípio
da reserva legal, tendo em vista que não teria competência para fixar preços mínimo e máximo a
serem praticados pelos fabricantes”.
63. Finalmente, o denunciante questionou o art. 6º da Portaria nº 750/201222
, que
estabelece que a produção de placa primária (chapa base) deverá ser executada pela própria
empresa a partir de uma linha de produção com codificação, e essas informações serem enviadas,
em tempo real, para o Detran/PE. Segundo a denunciante isso violaria a competência do
Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para beneficiar empresas já credenciadas.
64. Diante dos fatos relatados pela Macmetal referentes à Portaria nº 750/2012,
verificou-se que essa foi revogada e está em vigor a Portaria nº 4.040/2014, objeto de apreciação
deste parecer.
65. Inicialmente contatou-se que na norma em vigor não há exigência que as
empresas produtoras de placas terem sede no estado de Pernambuco. Essa obrigação constava
dos quesitos para obtenção do credenciamento para ingressar no mercado, conforme constava na
Portaria nº 750 de 2012, art. 4º § 1º.
66. Com relação ao período de credenciamento, consta na Portaria nº 4.040/2014 que
as empresas Fabricante de Placa e Tarjeta Primária de Identificação Veicular (FPP) podem fazê-
lo a qualquer tempo. In verbis:
§ 1º O fabricante de placas e tarjetas PPIV e PEIV, para obtenção do credenciamento, deverá ter sede no estado de
Pernambuco. 19
Art.6º. Para o credenciamento a empresa fabricante PPIV deverá apresentar a seguinte documentação:
1.3 - A empresa deverá demonstrar experiência, no mínimo de 12 (doze) meses, no fornecimento dos itens
objetos do credenciamento, apresentando atestado de capacidade técnica emitido por pessoa jurídica de direito
público ou privado, que comprove o fornecimento mensal e continuado de placas e tarjetas.
20
Art.22. Os preços de placas e tarjetas para automóveis, motocicletas e reboques registrados e licenciados pelo
Detran/PE, a serem pagos pelos proprietários de veículos na ocasião da realização dos serviços, serão definidos
através de estudo técnico/financeiro a ser contratado pelo Detran/PE, visando garantir ao consumidor final o preço
justo para a aquisição dos produtos das fabricantes de PEIV, estando contemplado também o fornecimento e
colocação dos lacres de segurança.
21 Art. 22, III, do Código de Trânsito Brasileiro.
22 Art. 6º: Para o credenciamento a empresa fabricante PPIV deverá apresentar a seguinte documentação:
(...)
1.1 - A produção das placas deve ser executada pela própria empresa a partir de uma linha de produção com
codificação de cada unidade produzida de forma imediata de maneira a permitir o envio desta informação em tempo
real para o Detran/PE.
Fl 9 da Nota Técnica 06016/2016/ DF
Acesso: Público
Art. 11. As empresas interessadas em se credenciar como fabricante de placa e
tarjeta primária deve formalizar seu pedido através de requerimento
protocolado junto ao DETRAN-PE, a qualquer tempo, (...).
67. Porém, no que se refere ao credenciamento de Fabricante Estampador de Placa e
Tarjeta Secundária de Identificação Veicular (EPS), o período de cadastramento continua anual,
de 1º a 30 de abril, sendo o mesmo período da Portaria nº 750/2012. Desta forma, os interessados
em atuar como EPS, não poderão realizar o cadastro fora do prazo, conforme art. 12 da Portaria
nº 4.040/2014. In verbis:
Art. 12. A solicitação de Credenciamento de Fabricante Estampador de Placa e
Tarjeta Secundária de Identificação Veicular – EPS será anual, no período de
1º a 30 de abril.
Parágrafo único. As solicitações protocoladas fora do prazo estipulado no
caput deste artigo serão de pronto, indeferidas.
68. Ressalte-se, ainda, que o denunciante aponta que o prazo de trinta dias
apresentado no dispositivo anterior e que permanece na norma em vigor é inviável para os
entrantes, tendo em vista que o prazo para o credenciamento é de 1º a 30 de abril. Ou seja, tal
dispositivo limita a entrada de novos concorrentes no setor.
69. Destaca-se ainda que a Portaria nº 4.040/2014 impõe restrição a entrantes neste
mercado, ao definir o número de credenciados para EPSs avaliando a viabilidade econômica,
tendo por base o número de veículos registrados em cada município e a elaboração de estudo
técnico. In Verbis:
Art. 15. Para fins de autorização de credenciamento para Fabricante
Estampador de Placa e Tarjeta Secundária de Identificação Veicular – EPS
serão considerados os seguintes critérios de:
I – Conveniência;
II – Interesse público;
III – Viabilidade econômica, considerando a frota de veículos automotores
registrados por município, conforme Anexo I – Tabela 1, e o estudo técnico a
ser realizado pela Diretoria de Operações, levando-se em consideração a
quantidade mensal dos serviços de emplacamento de veículo automotor por
município para cada loja, estimando a média dos últimos 06 (seis) meses
que antecedem o início do prazo do artigo 12, conforme Anexo I – Tabela 2;
(...).
Tabela 1
Quantidade de Veículos registrados no
município
Quantidade de lojas credenciadas
no município
5.001 veículos a 10.000 veículos 01
10.001 veículos a 20.000 veículos 02
20.001 veículos a 40.000 veículos 03
40.001 veículos a 60.000 veículos 04
60.001 veículos a 120.000 veículos 05
120.001 veículos a 220.000 veículos 07
220.001 veículos a 320.000 veículos 09
320.001 veículos a 420.000 veículos 11
420.001 veículos a 520.000 veículos 13
Acima de 520.000: +02*
* para cada 100.000 veículos registrados adicionam-se 02 lojas de placas credenciadas.
Fl 10 da Nota Técnica 06016/2016/ DF
Acesso: Público
Tabela 2
Quantidade de Veículos registrados
no município
Quantidade mensal de serviços de
emplacamento por município para
cada loja de placa
Até 80 mil veículos 100 serviços
Acima de 80 mil veículos 250 serviços
70. Tal dispositivo prejudica diretamente as empresas potencialmente entrantes sendo
nocivo a concorrência e, consequentemente, para os consumidores de todo o estado de
Pernambuco. O Detran/PE considera a viabilidade econômica tendo como base a frota de
veículos e quantidade mensal dos serviços de emplacamento por município para cada loja, e não
decorrente da interação dos agentes no mercado. Conforme será demonstrado na seção seguinte,
esse tipo de restrição causa impactos negativos para o bem-estar econômico.
71. Verificou-se ainda que o Detran/PE estabelece os valores máximos a serem
cobrados pelo fabricantes e estampadores de placas e tarjetas de identificação veicular primária e
secundária. In verbis.
Art.31. O Fabricante de Placas e Tarjetas Primárias de Identificação Veicular –
FPP, credenciado junto ao Detran/PE, deverá:
VI – Cobrar valores justos e competitivos, até o limite máximo, a ser definido
pelo Detran/PE.
Art.39. O Fabricante Estampador de Placa e Tarjeta Secundária de
Identificação Veicular – EPS deverá cobrar valores justos e competitivos, não
ultrapassando os valores máximos a serem definidos pelo Detran/PE.
72. Para atender o disposto na Portaria nº 4.040/2014, o Detran/PE editou a Portaria
nº 4.300, de 15 de outubro de 2014, que estabelece os valores máximos a serem cobrados pelo
fabricantes estampadores de placas e tarjetas de identificação veicular secundária23
. In verbis:
Art. 2°. O Fabricante Estampador de Placa e Tarjeta Secundária de
Identificação Veicular – EPS deverá cobrar valor justo e competitivo, não
excedendo os limites máximos dos valores descritos no Anexo I desta Portaria.
Anexo I
Valores Máximos a serem cobrados pelos Fabricantes Estampadores de
Placas e Tarjetas de Identificação Veícular Secundária – Eps
I – Para veículo automotor enquadrado nas categorias B, C, D e E, conforme art.
143 do CTB:
Serviço Valor - R$
Par de placas com tarjetas e lacre de segurança 100,00
Placa dianteira com tarjeta 50,00
Placa traseira com tarjeta e lacre de segurança 90,00
Par de tarjetas 40,00
Tarjeta traseira com lacre de segurança 35,00
Lacre de segurança 20,00
23
Não foram identificados os valores para as placas e tarjetas primárias.
Fl 11 da Nota Técnica 06016/2016/ DF
Acesso: Público
II – Para veículo automotor enquadrado na categoria A, conforme art. 143 do
CTB:
Serviço Valor - R$
Placa com tarjeta e lacre de segurança 80,00
Tarjeta com lacre de segurança 35,00
Lacre de segurança 20,00
73. O Detran/PE justifica a fixação de valores máximos com a intenção de coibir a
prática de valores arbitrários acima de níveis aceitáveis nos serviços de emplacamento de veículo
automotor24
. Ressalta-se que o art. 22 do CTB, que delimita a competência dos órgãos
executivos de trânsito dos estados, em momento algum prevê a possibilidade de padronização de
preços.
74. Diante dos fatos relatados pela Macmetal que questiona os termos da Portaria nº
750/2012 e perante a Portaria nº 4.040/2014 em vigor, essa Secretaria, para dirimir as dúvidas
sobre o mercado de placa e tarjeta no estado de Pernambuco, encaminhou ofício nº
08163/2014/DF/COGUN/SEAE/MF, de 13 de novembro de 2014, que reiterou o ofício nº
07470/2014, de 06 de agosto de 201425
.
24
Consta entre os “Considerando” da Portaria nº 4.300/2014, “o interesse público de impedir a prática de valores
arbitrários acima de níveis aceitáveis nos serviços de emplacamento de veículo automotor”. 25
(i) Quais as exigências que as empresa fornecedoras de placas de veículos devem cumprir para serem credenciadas
no Detran/PE? Quais são as mudanças da Portaria nº 6.760/2013 em relação à norma anterior? Explique em
detalhes.
(ii) Existe alguma limitação para o credenciamento de novas empresas que atuam na fabricação de placas e tarjetas
por parte do Detran/PE? As empresas que cumprirem os requisitos para o credenciamento obtém a autorização para
atuar? Justifique.
(iii) O sítio do Detran/PE disponibiliza taxas para emplacamento de veículos. Existe tabelamento ou fixação do
valor único dos serviços de emplacamento de veículos ou motocicletas? Se afirmativo, qual a justificativa técnica
para o tabelamento do valor cobrado ao consumidor para adquirir as placas? Justifique.
(iv) Ainda no caso da resposta anterior ser afirmativa, em termos práticos, é correto o entendimento de que o
fabricante de placas e tarjetas possa ser considerado prestador de serviços do Detran/PE? O órgão se responsabiliza
junto ao cliente integralmente pelas placas? Justifique.
(v) existe rodízio entre fabricantes de placas na prestação do serviço (ou seja, o consumidor não escolherá o
fornecedor do qual fará a aquisição das placas)? Se afirmativo, justifique e explique em detalhes como funciona o
rodízio.
(vi) Ainda a respeito dos serviços de fabricação de placas, existe alguma relação contratual/comercial entre o
adquirente de placas (consumidor) e as empresas credenciadas para sua lacração e fabricação? Os adquirentes de
placas realizam o pagamento pelos serviços diretamente para as empresas credenciadas? Ou, caso contrário, o
pagamento é realizado para o Detran/PE que realiza o pagamento para as empresas a respeito dos serviços
prestados? Explique.
(vii) Existe possibilidade das empresas fabricantes de placas competirem entre si pelo fornecimento de placas para
os adquirentes (consumidor final)? É permitida a concorrência via preços por parte dos fabricantes de placas? Caso
contrário, explicitar como são definidos os valores das taxas cobradas dos serviços de emplacamento. Explique em
detalhes.
(viii) A Portaria nº 6.760/2013 trouxe dispositivo que versando o seguinte: “Para fins de autorização de
credenciamento (...) será levado em consideração os critérios de conveniência, interesse público e viabilidade
econômica, além do crescimento anual da frota de veículos (...)” (art.14). Além disso, no Anexo I da referida
portaria, são definidas as quantidades de veículos registrados por município com as respectivas quantidades de lojas
credenciadas. Qual a justificativa do órgão para a limitação de novos credenciamentos de empresas tendo por base o
número de veículos por município? O Detran/PE, entende que é sua função zelar pela viabilidade econômica dos
fabricantes de placas e tarjetas? Por que não permitir que o mercado defina a quantidade ideal de empresas
credenciada? Explique.
(ix) Outras informações que julgarem relevantes para o entendimento do mercado de fabricação de placas e tarjetas
para veículos e motocicletas?
Fl 12 da Nota Técnica 06016/2016/ DF
Acesso: Público
75. Em resposta aos questionamentos, o Detran/PE, por intermédio do protocolo de
resposta Detran/PE nº 2014.131303, confirmou que os fabricantes de placas e tarjetas primários
(FPPs) deverão cumprir os requisitos elencados no Capítulo II, Secção I da Portaria nº
4.040/2014. Quanto ao fabricante estampador de placa e tarjeta secundária de identificação
veicular (EPS), o Detran/PE afirmou que estes deverão obedecer aos requisitos elencados no
Capítulo II, seção II, além do estabelecido no Anexo I, Tabela I, da referida portaria.
76. Ao ser questionado sobre o tabelamento de preço dos serviços de emplacamento
de veículos ou motocicletas, o órgão público respondeu que não há fixação de preço,
relacionados a emplacamento de veículos, e sim a padronização de valores máximos a ser
praticados pelas empresas credenciadas, conforme Portaria nº 4.300/2014. Sendo assim, segundo
o órgão público, as empresas ficam livres para praticarem a livre concorrência, desde que não
ultrapassem o valor máximo determinado pelo Detran/PE.
77. Os fabricantes de placas e tarjetas são cadastrados e autorizados para prestarem
serviço de interesse público, sendo que a relação entre o adquirente de placas (consumidor) e as
empresas credenciadas para sua lacração e fabricação ocorre de forma direta. Sendo assim,
quando perguntado se existe rodízio entre fabricantes de placas na prestação do serviço, o
Detran/PE afirmou que “há rodízio entre fabricantes de placas e tarjetas secundárias apenas
para os municípios no interior do estado de Pernambuco, não ocorrendo nos municípios da
Região Metropolitana do Recife”. Destacou ainda “que o funcionamento do sistema de
rodízio se concretiza de forma igualitária, gerando e direcionando sistematicamente as
ordens de emplacamento/lacração para os credenciados (lojas de placas) dentro do mesmo
município”. Confirma-se, portanto, que o consumidor não escolhe a empresa da qual fará a
aquisição de placas nos municípios do interior de Pernambuco.
78. Perguntado como funciona o serviço de pagamento no mercado de placas, o
Detran/PE informou que não recebe nenhum pagamento a cerca dos serviços prestados pelas
empresas credenciadas, e que as lojas recebem uma ordem de emplacamento/lacração expedida
pelo órgão público e os usuários ( proprietários de veículos) efetuam o pagamento pelos serviços
diretamente às empresas credenciadas.
79. Por fim, no que se refere os critérios de para credenciamento, como os de
conveniência, interesse público e viabilidade econômica, que também consta na Portaria nº
4.040/2014, o Detran/PE explicou que não zela pela viabilidade econômica, apenas leva em
consideração como um dos critérios para o credenciamento das empresas, visando à qualidade na
prestação do serviço público, disciplinando e regulamentando o segmento.
80. Em suma, sob o aspecto econômico, o Detran/PE estabeleceu o seguinte desenho
institucional para prover a instalação de placas e tarjetas em veículos e motocicletas:
i) O fornecimento de placas e tarjetas é feitos pelas empresas credenciadas;
ii) O credenciamento das empresas interessadas em atuar como EPSs ocorre somente uma vez
no ano no período de 1º a 30 de abril;
iii) O número de credenciados para atuar como EPSs tem por base a viabilidade econômica,
considerando a frota de veículos automotores registrados por município e o estudo técnico
que leva em consideração a quantidade mensal dos serviços de emplacamento;
iv) Os usuários (proprietários de veículos) efetuam o pagamento pelos serviços diretamente às
empresas credenciadas;
v) O Detran/PE não remunera as empresas credenciadas;
vi) Há fixação de preços máximos para os serviços de emplacamento;
vii) Nos municípios do interior do estado de Pernambuco, o Detran/PE define um rodízio entre
as empresas que fornecem as placas e tarjetas, o que não ocorre nos municípios da região
metropolitana do Recife; e
Fl 13 da Nota Técnica 06016/2016/ DF
Acesso: Público
viii) Não há concorrência entre as empresas pelo consumidor nos municípios no interior do
estado de Pernambuco.
81. Entre os agentes afetados pela regulamentação ora em análise, destacam-se: o
Detran/PE, os fabricantes de placas e tarjetas de veículos automotores e cidadãos que utilizam o
serviço.
4.2. Dos Possíveis Impactos ao Bem-Estar Econômico
82. A análise dos impactos sobre o bem-estar econômico causados pela norma
emitida pelo Detran/PE, referentes ao mercado de fabricação de placas de veículos automotores,
compõe-se de três subseções. A primeira trata de eventuais impactos sobre a concorrência. A
segunda subseção avalia outras consequências sobre a eficiência econômica. A terceira subseção,
por sua vez, discorre sobre os impactos ao bem-estar econômico de políticas alternativas.
4.2.1. Impactos à Concorrência
83. Para avaliar as consequências prováveis da norma expedida pelo Detran/PE sobre
o credenciamento de empresas fabricantes de placas e tarjetas primárias e secundárias de
identificação de veículos automotores, utiliza-se metodologia desenvolvida pela Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)26
. A metodologia consiste de um
conjunto de questões a serem verificadas na análise do impacto de políticas públicas sobre a
concorrência. O impacto competitivo poderia ocorrer por meio da: (i) limitação no número ou
variedade de fornecedores; (ii) limitação na concorrência entre empresas; (iii) diminuição do
incentivo à competição; e (iv) limitação das opções dos consumidores e da informação
disponível.
84. As referidas questões e seus respectivos efeitos são descritos abaixo:
1º efeito - limitação no número ou variedade de fornecedores, provável no caso de a política
proposta:
i) conceder direitos exclusivos a um único fornecedor de bens ou de serviços;
ii) estabelecer regimes de licenças, permissões ou autorizações como requisitos de
funcionamento;
iii) limitar a alguns tipos de fornecedores a capacidade para a prestação de bens ou serviços;
iv) aumentar significativamente os custos de entrada ou saída no mercado;
v) criar uma barreira geográfica à aptidão das empresas para fornecerem bens ou serviços,
mão de obra ou realizarem investimentos.
2º efeito - limitação da concorrência entre empresas, provável no caso de a política proposta:
i) Limitar a capacidade dos vendedores de fixar os preços de bens ou serviços;
ii) Limitar a liberdade dos fornecedores de fazerem publicidade ou marketing dos seus bens
ou serviços;
iii) Fixar padrões de qualidade do produto que beneficiem apenas alguns fornecedores ou que
26
OCDE (2011). Guia de Avaliação da Concorrência. Versão 2.0. Disponível em:
http://www.oecd.org/daf/competition/49418818.pdf.
Fl 14 da Nota Técnica 06016/2016/ DF
Acesso: Público
excedam o nível escolhido por determinados consumidores bem informados; e,
iv) Aumentar significativamente o custo de produção para apenas alguns fornecedores
(especialmente dando tratamento diferente aos operadores históricos e aos concorrentes novos).
3º efeito - diminuir o incentivo para as empresas competirem, prováveis no caso de a política
proposta:
i) Estabelecer um regime de autorregulamentação ou de corregulamentação;
ii) Exigir ou estimular a publicação de dados sobre níveis de produção, preços, vendas ou
custos das empresas; e
iii) Isentar um determinado setor industrial ou grupo de fornecedores da aplicação da
legislação geral da concorrência;
4º efeito – Limitação das opções dos clientes e da informação disponível, provável no caso de a
política proposta.
i) Limitar a capacidade dos consumidores para escolherem o fornecedor;
ii) Reduzir a modalidade dos clientes entre fornecedores de bens ou serviços por meio de
aumento dos custos, explícitos ou implícitos, da mudança de fornecedores; e,
iii) Alterar substancialmente a informação necessária aos consumidores para poderem
comprar com eficiência.
85. Como já mencionado, o Detran/PE define o período de cadastramento e o número
de credenciados no caso dos EPSs, conforme definido pela Portaria nº 4.040/2014. Do exposto,
não há dúvidas de que tal medida é capaz de produzir o primeiro efeito apontado no manual da
OCDE; também é possível a ocorrência do segundo efeito.
86. A produção do primeiro efeito é nítida: novas empresas não podem entrar no
mercado quando tiverem o interesse, seja pelo fato de um prazo único anual ou da restrição ao
número de EPSs por município. Isso impede que outros agentes disciplinem os preços cobrados
por aqueles que já estão estabelecidos. Deve ser afirmado que a concorrência entre incumbentes
pode não ser suficiente para garantir um preço competitivo; para tanto, é necessário que novas
empresas possam entrar no mercado.
87. Afirma-se que há possibilidade de que novas empresas entrem no mercado e
impeçam a cobrança de preços não competitivos em virtude das características concorrenciais do
mercado de placas e tarjetas: não se identifica barreiras à entrada significativas, salvo
regulatórias, principalmente porque não se vislumbra a necessidade de dispêndio de capital
elevado para entrada no mercado.
88. A fabricação e lacração de placas é um produto homogêneo, cuja diferenciação é
limitada pela necessidade de seguir a padronização exigida pelas normas regulatórias. Nestas
condições, o preço geralmente é o principal determinante na escolha do consumidor. Diferenças,
mesmo que pequenas, nos preços podem alterar significativamente a demanda dos agentes
participantes do mercado. Assim, um aumento ou redução do preço tende a deslocar
consideravelmente a demanda, de forma que o mercado se ajusta rapidamente para chegar ao
preço de equilíbrio.
89. Por se tratar de um mercado com características concorrenciais, o preço é a
variável-chave usada pelas empresas para conquistar clientes, obedecendo aos padrões de
qualidade exigidos pelas autoridades públicas e pelos consumidores. Retirar esta opção faz com
que as firmas não busquem formas mais eficientes de prestar o serviço ou produzir seus bens,
prejudicando sobremaneira os consumidores. O controle de preço, mesmo que por preço teto
conforme definido pela Portaria nº 4.300/2014, somente se justifica em um mercado com
Fl 15 da Nota Técnica 06016/2016/ DF
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característica de monopólio, em que a empresa tem poder para cobrar um preço distante do
concorrencial, causando perda de eficiência econômica e onerando indevidamente os
consumidores.
90. O controle de preço pode também ter efeitos anticompetivos quando incentiva
práticas de cartelização, ou ainda, quando torna inviável a competição entre os agentes, de modo
que inexiste competição via preço ou por melhor prestação do serviço. Neste caso, a fixação de
preço máximos aliado ao rodízio entre os EPSs, elimina completamente a competição no
mercado.
91. Os elementos apresentados mostram que os preços pagos pelas placas e lacres
pela população do estado de Pernambuco estão sem qualquer balizamento concorrencial, pois: (i)
a seleção dos prestadores de serviços não ocorre por meio competitivo; e (ii) o Detran/PE impede
que haja concorrência por meio de preços. O modelo regulatório deveria permitir ou (i) a
competição pelo mercado (competição pela entrada no mercado); ou (ii) a competição no
mercado (agentes competindo livremente entre si pelo consumidor final).
92. Quando o preço não é livre, aliado à restrição de entrantes em um mercado com
características competitivas27
, o resultado final é prejudicial ao consumidor. Isso porque com a
restrição a entrada em vigor, o preço a ser praticado tende a ser o preço teto e que geralmente é
mais alto do que aquele que seria obtido caso houvesse competição no mercado, além de
produzir distorções que geram ineficiência nas empresas. Ademais, se nesse desenho regulatório
o preço teto definido pelo Detran/PE desperta interesse de agentes privados para prestar o
serviço, significa que esse preço é elevado. No caso em tela, o fato do Detran/PE definir o
número de credenciados para atuar como EPSs é forte indício de que o preço teto definido é mais
alto do que seria obtido no mercado competitivo, elevando o interesse de novos entrantes nesse
mercado. Ou seja, o consumidor final poderia adquirir placas e tarjetas por um preço
menor caso fosse permitida a competição entre os agentes.
93. Quanto maior o lucro excepcional obtido nesse ambiente de restrição à entrada,
resultado da diferença do preço máximo fixado daquele que seria alcançado no mercado
competitivo, maior a disposição dos agentes privados já estabelecidos de empreender esforços no
sentido de obterem uma regulação mais restritiva para novos entrantes, de forma a proteger o
mercado da competição. Neste contexto, o risco é do órgão regulador promover regulação que
seja favorável às incumbentes, porém, prejudicial ao consumidor final.
94. Em relação à argumentação de que a restrição à entrada e fixação de preços
máximos de placas e tarjetas auxiliam na proteção dos consumidores, cabe destacar que a
segurança pretendida pode ser obtida de modo semelhante e a um custo menor pelo consumidor.
Basta que o foco da regulação seja a qualidade e a segurança; é suficiente que o órgão estadual
estabeleça os parâmetros técnicos que todos os prestadores deverão atender e empreender
esforços na fiscalização dos agentes que atuam no mercado.
95. Considerando os possíveis efeitos sobre a concorrência definidos na metodologia
da OCDE, observa-se que as Portarias nº 4.040/2014 e nº 4.300/2014 implicam em restrição à
concorrência entre os EPSs, pois os fabricantes não concorrem entre si, tanto via preço quanto
pela melhor prestação do serviço. Ademais, para os municípios do interior, a escolha do
prestador do serviço é realizada mediante rodízio, afastando qualquer possibilidade de
competição entre os agentes.
96. Do exposto, esta Secretaria entende que as normas em vigor, podem produzir os
efeitos anticompetitivos decorrentes do (i) controle ou influência sobre os preços de bens ou
27
Ou seja, o mercado em questão não tem característica de monopólio.
Fl 16 da Nota Técnica 06016/2016/ DF
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serviços (item i do 2º efeito), o que configura limitação da concorrência entre as empresas, e (ii)
a limitação do número de fornecedores (item v do 1º efeito), pois o Detran/PE restringe a entrada
neste mercado, ao definir o número de credenciados para atuar como EPSs avaliando a
viabilidade econômica, tendo por base o número de veículos registrados em cada município e a
elaboração de estudo técnico. Por fim, o rodízio implementado nos municípios do interior limita
a capacidade dos consumidores para escolherem o fornecedor (item i do 4º efeito).
4.2.2. Outros Impactos ao Bem-Estar Econômico
97. Na seção anterior, foi constatado o Detran/PE restringe a entrada no mercado de
placas e tarjetas ao (i) definir um período único durante o ano para cadastramento e (ii) ao
determinar a quantidade de credenciados para atuar como EPSs em cada município. Em
complemento, o órgão prática uma política de preços máximos e de rodízio das EPSs nos
municípios do interior. Além de restringir a concorrência, este tipo de regulação reduz o
interessem dos agentes em buscar inovações, em melhor atender seus clientes, em aperfeiçoar
seus métodos de trabalho e gestão. Ou seja, além de a restrição à concorrência não gerar preços
competitivos aos consumidores, estes também são impedidos de terem a disposição serviços de
melhor qualidade.
98. Ao buscar inovações e alternativas que reduzam o custo do serviço, as empresas,
em um ambiente concorrencial, acabam por praticar preços menores. Isso equivale a aumentar a
renda dos consumidores, permitindo a elevação do consumo de outros bens e serviços ou da
poupança. Quando os incentivos regulatórios inibem a inovação do setor, a tendência é
prevalecer no mercado empresas ineficientes, com prejuízo para o consumidor que não é
beneficiado com redução no custo.
99. Cabe ressaltar, no entanto, que a análise de viabilidade econômica do setor,
considerando a frota de veículos automotores registrados por município, e estudo técnico a ser
realizado pela Diretoria de Operações do órgão, sem o escrutínio da concorrência gera preços
maiores ao consumidor. Isso porque há assimetria de informação entre o regulador (no caso, o
Detran/PE) e os prestadores de serviço. Não por outro motivo, sempre que há potencial de
concorrência, a concorrência no mercado se mostra um instrumento que proporciona maior bem-
estar ao consumidor. Ademais, a medida gera um custo desnecessário ao estado. Ou seja, análise
de viabilidade econômica não é sinônimo que a eficiência será alcançada e que o preço cobrado
pelas empresas será aquele que vigoraria em um ambiente sem as amarras à competição. A
garantia em questão somente será obtida se a restrição à entrada de novas empresas for removida
atrelada a prática de preços livres.
100. Nota-se, portanto, que as medidas do Detran/PE reduzem o bem-estar do
consumidor, das empresas fabricantes de placas e tarjetas e onera o estado desnecessariamente,
retirando recursos que poderiam ser utilizados de forma mais eficiente em outras demandas da
população.
4.2.3 Considerações sobre Possíveis Opções Regulatórias
101. Constatou-se, nas seções anteriores, que o modelo adotado pelo Detran/PE pode
ser aperfeiçoado em prol da sociedade, notadamente o consumidor, se for permitida uma maior
concorrência no mercado de EPSs. Neste contexto, esta Secretaria considera que a seguinte
alternativa é mais adequada ao mercado em análise:
i) Qualquer empresa que preencher os requisitos técnicos estabelecidos pelo regulador poderá
atuar no como EPS no estado de Pernambuco, principalmente no interior do estado;
Fl 17 da Nota Técnica 06016/2016/ DF
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ii) Liberdade de preços para os agentes que atuam no mercado, deixando o estado de
determinar o preço máximo;
iii) Liberdade para o consumidor escolher o fornecedor de placas e tarjetas em todas as regiões
do estado de Pernambuco, e não apenas para a região metropolitana de Recife, onde não há
rodízios; e
iv) Liberdade para as empresas interessadas em atuarem como EPSs se cadastrarem junto ao
Detran/PE em qualquer tempo do ano, assim como é feito para os fabricantes de placas e
tarjetas primária.
102. Enfatiza-se que a alternativa apresentada traz mais benefícios ao consumidor e ao
cidadão. Manter a fixação de preços máximos e restrição das empresas atuarem no mercado de
placas e tarjetas secundárias no interior do estado é opção prejudicial ao consumidor.
4.3. Análise Suplementar
103. Além dos aspectos de mérito, levantados nas seções anteriores, outras questões
devem ser avaliadas a fim de identificar insegurança jurídica e até mesmo possível ilegalidade.
104. Conforme exposto anteriormente, as normas do Contran que regulamentam a
atividade de fabricação de placas e tarjetas não dispõe sobre a definição de preços máximos e de
limitação de EPSs nos municípios. Resta avaliar, então, o embasamento legal para a decisão do
Detran/PE para editar normas sobre a respeitos dessas duas variáveis.
105. A Resolução Contran nº 231/2007 apenas determina que os fabricantes sejam
credenciados pelos Detrans mediante a observância de requisitos mínimos necessários. Não há
menção à possibilidade de o órgão de trânsito estadual fixar o número de fornecedores e os
valores cobrados pelos serviços. Pelo contrário: a orientação é que todos os agentes que
preencherem os quesitos técnicos estejam aptos a atuarem no fornecimento de placas e tarjetas a
preços a serem definidos pela interação do mercado.
106. Na Seção 3, foi demonstrado que o credenciamento em questão não é aquele que
ocorre quando da contratação de serviço por órgão público visando beneficiar todos os
interessados – e que parte da doutrina considera passível de inexigibilidade de licitação pela
inviabilidade de competição. Quanto à intenção de definir o preço máximo a serem cobrados,
conforme indicado na Portaria nº 4.040/2014, e confirmado pela Portaria nº 4.300/2014, seria
esperado que essa conduta pelo órgão estadual fosse embasada em alguma autorização normativa
do Contran ou mesmo de lei federal. Todavia, estas previsões são inexistentes. Não se pode
alegar que a Resolução nº 231/2007 permite a fixação de preços máximos dos serviços de placas
e tarjetas; cabe ao Detran/PE apenas o credenciamento e a fiscalização dos prestadores de
serviço, que deveriam atuar sob o regime de livre concorrência e livre iniciativa. As medidas
impostas pelo Detran/PE podem ser interpretadas como algo que fere o princípio constitucional
da livre concorrência, previsto no art. 170, inc. IV, da Constituição Federal.
107. O Detran/PE alega que: (i) a estipulação de valores máximos a serem cobrados
pelos serviços de placas e tarjetas busca impedir a prática de valores arbitrários acima dos níveis
aceitáveis nos serviços de emplacamento de veículo automotor; e (ii) a limitação do número de
empresas fabricantes de placas e tarjetas secundária de acordo com o número de veículos
registrados nos municípios como forma de garantir a viabilidade econômica.
108. A definição de valores máximos a serem cobrados pelos serviços de placas e
tarjetas infringe os princípios que norteiam a livre concorrência. Isso porque não há qualquer
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racionalidade econômica para fixar os valores máximos de um serviço que pode ser prestado em
regime de concorrência e em um mercado com potencial competitivo.
109. Ao limitar o número de empresas credenciadas por município, o Detran/PE
protege aqueles que já se encontram no mercado e não guarda relação com a Resolução nº
231/2007 do Contran, pois esta não prevê a fixação do número de fabricantes de placas no
mercado.
110. Desta forma, inexistindo lei expressa autorizando as restrições mencionadas, cabe
aos órgãos jurídicos competentes avaliar se ato normativo infralegal em vigor, seja portaria ou
resolução, está eivado de ilegalidade. A este respeito, vale citar o que afirma a doutrina:
(i) “(...) O tradicional princípio da legalidade, previsto no artigo 5º, inciso II da
Constituição Federal, aplica-se normalmente à Administração Pública, porém de
forma mais rigorosa e especial, pois o administrador público somente poderá
fazer o que estiver expressamente autorizado em lei e demais espécies
normativas, inexistindo incidência de sua vontade subjetiva, pois na
Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza, diferentemente
da esfera particular, onde será permitida a realização de tudo que a lei não
proíba.” (Alexandre de Moraes in Direito Constitucional Administrativo,
Editora Atlas, São Paulo, 1º edição, 2002, página 99)
(ii) “(...) Segundo o princípio da Legalidade, a Administração Pública só pode
fazer o que a lei permite. No âmbito das relações entre particulares, o princípio
aplicável é o da Autonomia da Vontade, que lhes permite fazer tudo o que a lei
não proíbe”. Essa é a idéia expressa de forma lapidar por Hely Lopes Meirelles
(1996:02) e corresponde ao que já vinha explícito no artigo 4º da Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789: “a liberdade consiste em fazer
tudo aquilo que não prejudica a outrem; assim, o exercícios dos direitos naturais
de cada homem não tem outros limites que os que asseguram aos membros da
sociedade o gozo desses mesmos direitos”. Esses limites somente podem ser
estabelecidos em lei. No direito positivo brasileiro, esse postulado, além de
referido no artigo 37, está contido no artigo 5º, inciso II, da Constituição
Federal que, repetindo o preceito de Constituições anteriores, estabelece que
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei”. “Em decorrência disso, a Administração Pública não pode, por
simples ato normativo, conceder direitos de qualquer espécie, criar obrigações
ou impor vedações aos administrados; para tanto, depende de lei.” (Maria
Sylvia Zanella di Pietro in Direito Administrativo, Editora Atlas, São Paulo, 16º
Edição, 2003, página 67).
111. O Poder Judiciário, em casos análogos, vem igualmente entendendo pela
ilegalidade de atos normativos que impõem restrições à liberdade de particulares, inexistindo lei
autorizando tal medida governamental:
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. LIBERDADE
ECONÔMICA. CONDICIONAMENTO DO EXERCÍCIO. RESERVA
LEGAL. COMÉRCIO DE ÓCULOS DE SOL SEM GRAU. PORTARIA
MUNICIPAL. EXIGÊNCIAS. IMPOSSIBILIDADE.
1. A definição das liberdades públicas e de seus condicionamentos é matéria
submetida à reserva legal (art. 5º, inciso II, da CR). Portaria de secretário
municipal não pode instituir requisitos para o exercício de liberdade econômica
sem expressa autorização legal.
2. A portaria 439/02 do Secretário da Saúde do Município de Porto Alegre que
fixou exigências não previstas em lei para o exercício da atividade de comércio
de óculos de sol com lente sem grau (como possuir equipamentos como
lensômetro, pupilômetro e caixa térmica ou ventilete e ter técnico óptico ou
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óptico pratico responsável) é inconstitucional por violar os art. 5º, inciso II, e
art. 170, da Constituição da Republica, e ilegal por invadir o espaço reservado à
lei que regula esta atividade econômica e o artigo 153 da Lei Complementar
municipal autoridade administrativa poderes de apenas fixar os locais de
comercialização das referidas mercadorias.
Recurso desprovido. Sentença confirmada em reexame necessário. (Porto
Alegre. Tribunal de Justiça. Vigésima Segunda Câmara Cível. Apelação e
Reexame Necessário nº 70006525935. 12/08/2003).
112. Neste contexto, há indícios que a Portaria nº 4.040/2014 do Detran/PE, que (i)
restringe entrada de novos competidores de acordo com o número de veículos registrados, (ii)
limita por um único período de tempo o credenciamento de empresas de fabricantes de placas e
tarjetas secundárias, e (iii) define os valores a serem cobrados por placas e tarjetas, com a
orientação de valores máximos, está revestida de ilegalidade, uma vez que não tem autorização
na Constituição Federal.
113. Em casos semelhantes, anteriormente, analisados por esta Secretaria, em que o
Denatran e, posteriormente os Detrans (em função de delegação do Denatran), sugeriam e/ou
tabelavam os preços dos serviços prestados pelos CFCs, o mesmo foi verificado. A Seae
demonstrou que os instrumentos utilizados pelo Denatran para a fixação de preços estariam
eivados de ilegalidade, sendo os argumentos acatados pelo órgão executivo de trânsito nacional,
que acabou por revogar, por meio da Portaria Denatran nº 23/2006, tanto a Portaria Denatran nº
29/200128
como o art. 23 da Portaria Denatran nº 47/199929
.
114. Para que se atenda ao princípio da proporcionalidade, é indispensável que as
previsões normativas sejam adequadas, necessárias e proporcionais no sentido estrito (ou
compatível) ao fim que se colimam. A doutrina corrobora tal posicionamento e metodologia. In
verbis:
(i) “3.3.3.3.3 Exames inerentes à proporcionalidade
3.3.3.3.3.1 Adequação – A adequação exige uma relação empírica entre o meio
e o fim: o meio deve levar à realização do fim. Isso exige que o administrador
utilize um meio cuja eficácia (e não o meio, ele próprio) possa contribuir para a
promoção gradual do fim. (...) Até aqui, é suficiente registrar que a adequação
do meio escolhido pelo Poder Público deve ser julgada mediante a consideração
das circunstâncias existentes no momento da escolha e de acordo com o modo
28 A Portaria Denatran nº 47/99, dispunha:
Art. 23 – Fica estabelecido o valor máximo, por hora-aula delimitada pelo Conselho Nacional de Educação, a ser
cobrado por entidades integrantes da Renfor, na instrução e formação do condutor:
I – Capacitação de diretores gerais e diretores de ensino...........................R$ 4,50
II – Instrutores e Examinadores ................................................................R$ 4,00
III – Formação de Condutores – CFC – “A”.............................................R$ 2,50
IV – Formação de Condutores – CFC – “B (veículos da categoria “B”) R$ 15,00.
Todavia, a Portaria Denatran nº 29/01, alterou esse artigo, conforme disposto em seu art.1º:
Art. 1º - O art. 23 da portaria nº 47/99 – Denatran, passa a vigir com a seguinte redação:
Art. 23 – O valor máximo, por hora/aula, a ser cobrado por entidades integrantes da Renfor, na instrução e
formação de condutores, será fixado pelos órgãos executivos de trânsito dos Estados ou do Distrito Federal, no
âmbito das respectivas competências territoriais.
Parágrafo Único – O valor que trata o caput deste artigo, poderá, a critério do órgão executivo de trânsito do Estado
ou do Distrito Federal, ser único ou regionalizado, em função das características próprias de cada local. 29
“PORTARIA Nº 23, DE 30 DE MARÇO DE 2006
O DIRETOR DO DEPARTAMENTO NACIONAL DE TRÂNSITO - DENATRAN, no uso das atribuições que lhe
confere o art. 19 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro – CTB; e
Considerando o contido no Processo Administrativo protocolado no Denatran sob o nº 80001.002835/2006-27 –
Interessado: Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, resolve:
Art. 1º Revogar o art. 23 da portaria Denatran nº 47/99 e a portaria Denatran nº 29/01.
Art. 2º Esta portaria entra em vigor na data da sua publicação.”
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como contribui para a promoção do fim. (...) 3.3.3.3.3.2 Necessidade – O exame
da necessidade envolve a verificação da existência de meios que sejam
alternativos àquele inicialmente escolhido pelo Poder Legislativo ou Poder
Executivo, e que possam promover igualmente o fim sem restringir, na mesma
intensidade, os direitos fundamentais afetados. Nesse sentido, o exame da
necessidade envolve duas etapas de investigação: em primeiro lugar, o exame
da igualdade de adequação dos meios, para verificar se os meios alternativos
promovem igualmente o fim; em segundo lugar, o exame do meio menos
restritivo, para examinar se os meios alternativos restringem em menor medida
os direitos fundamentais colateralmente afetados.(...) 3.3.3.3.3.3
Proporcionalidade em sentido estrito – O exame da proporcionalidade em
sentido estrito exige a comparação entre a importância da realização do fim e a
intensidade da restrição aos direitos fundamentais. A pergunta que deve ser
formulada é a seguinte: O grau de importância da promoção do fim justifica o
grau de restrição causada aos direitos fundamentais? Ou, de outro modo: As
vantagens causadas pela adoção do meio? A valia da promoção do fim
corresponde à desvalia da restrição causada? Trata-se, como pode perceber, de
um exame complexo, pois o julgamento daquilo que será considerado como
vantagem e daquilo será contado como desvantagem depende de uma avaliação
fortemente subjetiva. Normalmente um meio é adotado para atingir uma
finalidade pública, relacionada ao interesse coletivo (proteção do meio
ambiente, proteção dos consumidores), e sua adoção causa, como efeito
colateral, restrição a direitos fundamentais do cidadão”. (ÁVILA, Humberto.
Teoria dos Princípios da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 4ª ed. Pc
Editorial Ltda: São Paulo, 2004. ps 116 e ss).
(ii) “Como toda competência estatal de limitação de direitos (...) é norteado de
modo essencial pelo princípio da proporcionalidade. Isso significa que qualquer
limitação, prevista em lei ou em ato administrativo, somente será válida se (a)
adequada, (b) necessária e (c) compatível com os valores consagrados na
Constituição e nas leis. Adequação significa um vínculo de casualidade lógica
entre a providência limitativa adotada e o fim concreto que a justifica. A
compatibilidade com a Constituição impede a consagração de providências
restritivas que suprimam ou ofendam valores ou direitos fundamentais,
consagrados como intangíveis (...) a proporcionalidade que está na base dos
direitos sujeitos à limitação.” (JUSTEN FILHO, Marçal in Curso de Direito
Administrativo, Editora Saraiva, Rio de Janeiro, 2005, página 387).
115. No caso em análise, o Detran/PE o tem por objetivo “impedir a prática de valores
arbitrários acima de níveis aceitáveis nos serviços de emplacamento de veículo automotor”
conforme descrito na Portaria nº 4.300/2014. A limitação da concorrência promovida por esta
norma não parece adequada e/ou necessária para disciplinar o setor e controlar os agentes que
nele atuam, considerando a prática de valores acima do que o órgão entende por normais. Por
exemplo, a Portaria nº 4.040/2014 estabelece os requisitos para o credenciamento dos EPSs,
sendo instrumento mais eficiente e adequado para consecução destes objetivos. Raciocínio
semelhante pode ser adotado em relação à possibilidade de limitar a entrada de novos agentes
com vistas a garantir a sobrevivência das empresas já estabelecidas, sob a justificativa de garantir
a viabilidade econômica das EPSs.
116. Sendo assim, nos casos vislumbrados, as medidas não sobrevivem à análise da
proporcionalidade. Não há qualquer garantia, seja legal ou comportamental, de que a fixação de
preço máximo para placas e tarjetas garanta a qualidade dos serviços prestados. Isso porque a
diferença entre o preço que seria praticado no mercado (sem intervenção) e o preço máximo
fixado na resolução poderia, simplesmente, ser apropriado pelas empresas, sem investimento na
melhora da qualidade de seus serviços.
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117. Por fim, cabe ressaltar que as normas do Contran e Detran/PE que definem
requisitos para o credenciamento dos fabricantes de placas e tarjetas são mais relevantes para a
preservação da qualidade dos serviços. Inclusive, é importante que sejam definidos critérios de
qualidade precisos que devem ser alcançados, sob pena de serem cancelados os credenciamentos
junto ao órgão de trânsito. Portanto, ao não atender ao princípio da proporcionalidade, assim
como fixação de preços máximos, restrição de entrada de novos empresas a qualquer tempo e a
restrição geográfica, são medidas que restringem de forma ilícita os princípios da livre iniciativa
e livre concorrência, previstos no art. 170, caput e inciso IV, da CF.
5. Conclusão
118. A análise desta Secretaria teve a finalidade de avaliar os possíveis efeitos nocivos
à concorrência decorrentes da Portaria nº 4.040/2014 emitida pelo Detran/PE. Em suma, esta
Secretaria constatou que:
i) No que tange ao emplacamento de veículos, o CTB estabelece que cabe aos Detrans
“vistoriar, inspecionar quanto às condições de segurança veicular, registrar, emplacar, selar a
placa, e licenciar veículos, expedindo o Certificado de Registro e o Licenciamento Anual,
mediante delegação do órgão federal competente” (art. 22, inciso III, do CTB);
ii) O Contran delegou aos Detrans a atribuição de credenciar e fiscalizar as empresas aptas a
prestarem o serviço;
iii) O Detran/PE restringiu a entrada de novos competidores nesse mercado ao definir o
número de credenciados para atuar como EPSs avaliando a viabilidade econômica, tendo por
base o número de veículos registrados em cada município e a elaboração de estudo técnico;
iv) Na mesma linha, impôs rodízio entre fabricantes de placas e tarjetas secundárias apenas
para os municípios no interior do estado de Pernambuco, não ocorrendo nos municípios da
Região Metropolitana do Recife;
v) Em complemento fixou os valores máximos para o setor com objetivo de “impedir a
prática de valores arbitrários acima de níveis aceitáveis nos serviços de emplacamento de veículo
automotor”;
vi) O mercado de placas e lacres apresenta características de um mercado competitivo, pois
não há evidências de que as barreiras à entrada sejam significativas, salvo regulatórias,
principalmente porque não se vislumbra a necessidade de dispêndio de capital elevado para
entrada no mercado;
vii) Por se tratar de um mercado com características concorrenciais, o preço é uma variável
usada pelas empresas para conquistar clientes;
viii) Em um mercado com características competitivas, a definição de preços máximos aliado
ao rodízio e a ausência da concorrência pelo mercado, elimina completamente a competição
entre os EPSs;
ix) O desenho regulatório caracterizado por credenciamento de empresas possibilita a
concorrência via preços e a liberdade de escolha do fornecedor é o que mais favorece ao
consumidor; e
x) Os órgãos jurídicos competentes devem avaliar o embasamento legal para o Detran/PE
definir preços máximos ou o número de concorrentes no mercado de EPSs.
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6. Recomendação
119. Diante de todo o exposto, esta Secretaria recomenda que o Detran/PE:
(i) Revogue o art. 12 da Portaria nº 4.040/201, que disciplina o credenciamento dos
fabricantes estampadores de placa e tarjeta secundária (EPS) como anual e apenas no
período de 1º a 30 de abril. A norma deve permitir que o credenciamento ocorra a qualquer
tempo;
(ii) Revogue o art. 15 da Portaria nº 4.040/2014 que define como um dos critérios de
credenciamento, a viabilidade econômica e a frota de veículos automotores registrados por
município. O arcabouço legal deve permitir que o mercado atinja o equilíbrio quanto ao
número de empresas necessárias para atender a demanda no mercado de EPSs;
(iii) Revogue o art. 39 da Portaria nº 4.040/2014 que determina valores máximos a serem
cobrados pelos EPSs. É importante que o mercado defina o preço de equilíbrio definido
pela concorrência entre os agentes;
(iv) Revogue a Portaria nº 4.300/2014 por disciplinar e regulamentar os valores máximos nos
serviços prestados pelos EPSs; e
(v) Se abstenha de impor o rodízio entre os EPSs nos municípios do interior do estado de
Pernambuco. A livre escolha do EPS pelo consumidor deve ser a regra em todos os
municípios para ampliar a concorrência.
120. De acordo com os presentes fatos, é oportuno o envio desta nota técnica à
SG/Cade, ao Denatran, ao Detran/PE e ao Ministério Público Estadual de Pernambuco.
À consideração superior.
ALESSANDRA DOS SANTOS FERREIRA
Gerente
JEFFERSON MILTON MARINHO
Coordenador de Infraestrutura Urbana e Recursos Naturais
De acordo.
ANDREY GOLDNER BAPTISTA SILVA
Subsecretário de Regulação e Infraestrutura, Substituto