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.., I U _. u. . . '....... , . ~. PODER JUDICIARIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.- REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA lUCENA AGRAVO DE INSTRUMENTOn.o 1346941CE 0040490-34.2013.4.05.0000 AGRTE ADV/PROC AGRDO AGRDO ADVIPROC LlT PASS ORIGEM RELATOR : MUNiCípIODE FORTALEZA - CE : MIGUEL ROCHA NAS SER HISSA e outros : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL : INSTITUTO AMBIENT AL VIRAMUNDO : JAIRO ROCHA XIMENES PONTE e outros : UNIÃO : 68 VARA FEDERAL DO CEARÁ : DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIALUCENA DECISÃO O MUNIClplO DE FORT ALEZAlCEinterpõe agravo de instrumento, com pedido de efeito suspensivo, contra decisões do MM. Juiz Federal Francisco Roberto Machado, da 6.8 Vara da Seção Judiciária do Ceará, proferidas na Ação Civil Pública n.o 0009740-96.2013.4.05.8100. A ACP foi ajuizada pelo MinistérioPúblicoFederal, figurando como litisconsorte ativo o INSTITUTOAMBIENTALVIRAMUNDO, com o intuito de suspender quaisquer novas intervenções relativas ao Sistema TRANSFOR - Transporte Urbanode Fortaleza na área denominada Parque do Cocó. A exordial da demanda sustenta haver irregularidadena derrubada de árvores para a construção de uma nova pista rodoviária,sem a obrigatóriarealização de Estudos Prévios de Impacto Ambiental. o teor dos decisórios ora recorridos são os seguintes: DECISÃO UM/NAU Trata-se de AÇÃO CIVIl, PCÍBL/CA em que () MINISTÉRIO PÚBLICO FEDF.RAL demanda o embargo de obra pública, espec~{icamenle o viaduto no cruzamento das A\:enida.'íEngenheiro Santana Junior e Antonio Soles, sem prejuízo da descotlstiluição de autorização, por vício de ilegalidade. concedida pelo SPU/CE. sem prejuízo da condenação do Município de Fortaleza no obrigação de realizar e!iludo.'Iprévios de impacto ambienta/o tudo no propósito de preservar o ecossiSlema do Parque do Cocó. Recebida a inicial. 0.\' promovido... foram previamenteintimados e apresentaram a." man~fe.fj{açõe.fjde /ls. 79/1805 e 807/836. dejl!11dendo a legalidade do ato impugnado. À...jls. 783/784. expediente da /aw'a dos Vereadores .10.40 ALFREDO e TOINHA ROCHA. solicitando urgência na apreciação do pedido liminar formulado pelo MPF e defendendo que a obra viola o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Fortaleza (orls. 64/66 da LC Municipal v

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_. u. ..'....... ,. ~.PODER JUDICIARIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.- REGIÃOGABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA lUCENA

AGRAVO DE INSTRUMENTOn.o 1346941CE 0040490-34.2013.4.05.0000

AGRTEADV/PROCAGRDOAGRDOADVIPROCLlT PASS

ORIGEMRELATOR

: MUNiCípIODE FORTALEZA -CE: MIGUEL ROCHA NAS SER HISSA e outros: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

: INSTITUTO AMBIENT AL VIRAMUNDO

: JAIRO ROCHA XIMENES PONTE e outros: UNIÃO: 68 VARA FEDERAL DO CEARÁ

: DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIALUCENA

DECISÃO

O MUNIClplO DE FORTALEZAlCEinterpõe agravo de instrumento,com pedido de efeito suspensivo, contra decisões do MM. Juiz Federal FranciscoRoberto Machado, da 6.8 Vara da Seção Judiciária do Ceará, proferidas na Ação CivilPública n.o 0009740-96.2013.4.05.8100.

A ACP foi ajuizada pelo MinistérioPúblico Federal, figurando comolitisconsorte ativo o INSTITUTOAMBIENTALVIRAMUNDO,com o intuito desuspender quaisquer novas intervenções relativas ao Sistema TRANSFOR -Transporte Urbanode Fortaleza na área denominada Parque do Cocó. A exordial dademanda sustenta haver irregularidadena derrubada de árvores para a construçãode uma nova pista rodoviária,sem a obrigatóriarealização de Estudos Prévios deImpacto Ambiental.

o teor dos decisórios ora recorridos são os seguintes:

DECISÃO UM/NAU

Trata-se de AÇÃO CIVIl, PCÍBL/CA em que () MINISTÉRIO PÚBLICOFEDF.RAL demanda o embargo de obra pública, espec~{icamenle o viadutono cruzamento das A\:enida.'íEngenheiro Santana Junior e Antonio Soles,sem prejuízo da descotlstiluição de autorização, por vício de ilegalidade.concedida pelo SPU/CE. sem prejuízo da condenação do Município deFortaleza no obrigação de realizar e!iludo.'Iprévios de impacto ambienta/otudo no propósito de preservar o ecossiSlema do Parque do Cocó.

Recebida a inicial. 0.\' promovido...foram previamenteintimados eapresentaram a." man~fe.fj{açõe.fjde /ls. 79/1805 e 807/836. dejl!11dendo alegalidade do ato impugnado.

À...jls. 783/784. expediente da /aw'a dos Vereadores .10.40 ALFREDO eTOINHA ROCHA. solicitando urgência na apreciação do pedido liminar

formulado pelo MPF e defendendo que a obra viola o Plano Diretor deDesenvolvimento Urbano de Fortaleza (orls. 64/66 da LC Municipal

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.8REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA LUCENA

AGRAVO DE INSTRUMENTO n.o 1346941CE 0040490-34.2013.4.05.0000

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62/2009) a as diretrizes da política de gestão democ:ráticada Cidade (art. 2°e inci.rm.r;da Lei nO 10.257/2001).

o INSTlTúTO AMBIENTAL V/RAMUNDO i11ler\,'eiono processo às fls.753/763, pedindo sua habilitação como liti~'con.'tOrteativo. Subscreve apretensão inicial e alega violação a vários diplomas normativos: LCMunicipal 62/2009 (arts. 63/65). Constituição Federal (art. 182), Estatutoda:; Cidades (art. 2~ incisos I. lI. IV, V. VI. VIIL XII e XIII) e CódigoFlorestal (arts. 3~ 4°). in.'ii,r;;tindona concessão do pedido liminar emrespeito aos princípios da preservação e do in duhio pro natura.

Relatei. decido.

Defiro o pedido de habilitação do INSTITUTO AA1BIENTALVlRAMUNDO. na condição de liti~'consorte ativo facultativo. porque seucomparecimento ao.<;autos deu-se a1lles de formada a relação processualpela citação, não havendo mácula. p01'lanto, ao princípio da imutabilidadesubjeli\'a do processo. que exige. como regra. se mantenham as mesma...partes (arl. 263, CPC).

Sem prejuízo de melhor análise da questão na sentença, rejeito apreliminar de ilegitimidade pas.'iiva ad causam da União, firmando acompetência da Justiça Federal para o julgamento da demanda. porque aação tem amplo ol?ieto,dentre o."quai...a desconstituição de ato do SPU/CE,órgão despersonalizado da União.

Passo a apreciar o pedido liminar.

Na sua manifestação defIs. 807í83.f. o Município de Fortaleza defende alegalidade do ato impugnado, aduzindo: J} I) viaduto em questão é parteintegrante de um único PROJETO. .financiado pelo BID. denominadoTRANSFOR, que abrange um conjunto de açõe~'e intervenções na malhaviária da cidade de Fortaleza. lendo. entre suas principai~' ações, aimplantação de corredores expressos de ônibus (BRT's) com a.vcaracterísticas que indica: 2) ainda no ano de 2002, iniciou a conftcção deum ElA/R/MA para a.~ obra.r;,precedido de audiênc:ia pÚblica e amplaparticipação da sociedade; 3) o ElA/R/MA foi aprovado pelo Con.\elhoMunicipal do Meio Ambiente em dala de 31/03/2003, a despeito do nãocomparecimentodo IBAlvlAe do .\-fPF.com assento permanente naqueleConselho: 4) O EIA/RIM4 resultou na expedição de licença prévia para a..obras do TRANSFOR. em ahril de 2003: 5) expedido a licença. fez-se umPROJETO BÁSICO AMBIENTAL. dividindo-se as obras do TRANSFOR emoito (08) grupos. prevendo-se para cada qual um Plano de ControleAmbiental Especifico (PCA): 6) faz parte do Grupo 01. integrante do

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNALREGIONALFEDERALDA 5.a REGIÃO

GABINETEDO DESEMBARGADORFEDERALJOSÉ MARIALUCENA

AGRAVO DE INSTRUMENTOn.O 1346941CE 0040490-34.2013.4.05.0000

c:orredor expres.')OAntonio BezerralPapicu. o \'iadulO em questão, nocruzamento das Avenidas Antônio Sales e Engenheiro Santa Junior. um dospomos c:ríticos de congestionamento do trânsito da cidade; 7) a obraademra uma porção mínima do Parque do Cocó, havendo, no PCArespectivo. medida mitigadora. consistente em Plano de Manejo; 8) diantedo atendimento das condicionantes previstas na licença prévia. dentre ela.'iaconsecução do Plano de ManeJo do CocÓ. o Órgão competente expediu aLicença de Instalação da obra. em novembro de 2006. .'iendosucessivamenterenovada e com vigência até 08 de novembro de 2014: 9) a .fupressão davegetação de pequena área do Parque do Cocó ocorreu de forma idônea etran.'iparente, mediante prévio licenciamento ambienta! da SEMAM, préviaautorização de de.'imatamentoda SEU1\tfA.além de aUlOrizaçãodo SPU/CE(Portaria nO32/20/3; 10) a Ação Ci,';l Pública em questão se }Unda emaçodado Relatório do lBAMA. dissonante da realidade, não havendoverossimilhança nas alegações deduzidas na inicial, muito menos fundadoreceio de dano irreparáveJ ao meio ambiente. porque se trata de obraprecedida de ElA/RIMA e de toda.\" as licenças necessárias, sendoacompanhada das medida.v mitigadoras: I I) se há dano. esse dano éinver.vo. porque se traIa de obra pública cuja paralisação acarretaráenormes prejuízos à população como um todo. especialmente diante daiminéncia de um evento esportivo inlernacional de grandes proporções(Copa do Mundo 2014).

A partir de exame superficial. próprio desta fase de cognição sumária.estou em que, à vista da prova documental colacionada nos autos, reveLam,,'eros.vimilhançaa.valegações deduzidas da inicial, capazes de justificar od~fêrimenlo da pretensão cautelar in initio litis. Por seu turno, o periculumin mora mostra-se evidel1le.porque é atual a ocupação e o desmatamento deárea do Parque do Cocei.para ali o Município de Fortaleza construir umapista asjaltica visandl' alargar a Avenida Engenheiro Sanfana, além doviaduto mal.vinado.

Impressionam-me as razões deduzida:;na inicial, inclusive quanto ao fatode que houve alter~ão do Pmjelo. neste ano de 20/3. em pleno mandato doatual Prefeito lvlunicipal. em relação ao Projeto original aprovado nagestão pa.<i.r.;ada.É o que resta claro do despacho datado de J6 de abril de2013. proferido no processo n° 4.146/20/3 (SEUMA). ali estando expressoque a alteração do Projeto se deveu ao jato de que a solução do Projetooriginal, em 2003..iá não atendia mais ao tráfego de hoje (v. doe. de.!l. 23).A propósito. ali está expre,'i.voque a SEUMA entendeu necessária apena.'i aelaboração de um Piam> de Controle Ambiental (PCA), quando me pareceque razão a!is;sle ao Ministério Público. defendendo que. a estas altura....

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA s.aREGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA LUCENA

AGRAVO DE INSTRUMENTO n.o1346941CE 0040490-34.2013.4.05.0000

impõe-sea elahoraçãoprhia de novo EWRIAfA, para que nele resultemenfrentados os impactos ambientais resultantes da alteração do Projeto.

Ainda que assim não fora, também me parece relevante outra teseesposada na inicial: o ElA/RIMA original licenciou o TRANSFOR dentro deum contexto globalizanle, sem anali...ar as especificidades de cada obraindividualmente considerada. De qualquer .'wrte, não é razoável que devaprevalecer um ElA/RIMA obsolelo. que enfrentou impactos ambientais quejá não coincidem com a realidade da obra que arualmente ali se pretendeerguer.

Ainda que assim não fora, há outra questão relevantíssima. cogitadapelos Vereadores JOA-OAI.FREDO e TOlNBA ROCHA (v. fls. 783/784) e.depois, objeto de arguição pelo INSTITUTO AMBIENTAL VlRAMUNDO(fis. 753/763). aqui admitido como litisconsorte ativo facultativo: a:;uperveniência da Lei Complementar Municipal nO62/2009 (plano Diretorde Desenvolvimento Urbano de Fortaleza) tornou a área em questão umaZona de Proteção Ambiental do tipo I (ZPA J). estabelecendo índice zeropara seu aproveitamento e ocupação. além de Índice de lOOO/Ópara apermeabilidade. o que implica proibição de qualquer cobertura que impeçaou dificulte a absorção da água. sefa de chuva ou de outra fonte (.\'ic).

Não fecho questão .'.obreo tema. Ma~ não é possível de logo descartar.pelo menos em nome de uma cognição sumária. que aquele novel diplomalegal. editado pelo Município de Fortaleza, possa ter ofastadodefinitivamente a possibilidade de construção permanente naquela faixa doParque do Cocá que o Município de Fortaleza está desmatando, área emque pretende construir uma pista asfáltica visando alargar a AvenidaEngenheiro Santana Junior, no enlorno do viaduto que ali se pretendererguer, fruto de recente alteração do velho Projeto aprovado anteriormente.E também não se diga que, tendo sido aprovado em data anterior, () Profetoestaria à sab/o da incidência da lei nova. Não. O novo diploma, emrevogando a legislação precedente. impi'ie.'.uaeficácia imediata, afastandoqualquer ocupação na área supervenientemente protegida...

União. E!.tado e Município de Fortaleza estão comprometidos com asobras de mobilidade urbana visando à Copa de 2014. Nessa empreitada.nota-se que estão imbuídos do propÓsito de concluÍ-Ias nO.<;.msgestoresatuais. Para uma cidade que tem sido lenta - quando não. leniente - nadefesa de .ma memória (Editorial O POVO. 08/08/2013). ma.<;também muitolenta - quando não. lenienle - na realizaçãode obras de interesse de seupovo, especialmentede mobilidadeurbana.deve-.<;elouvar Projetos como oTRANSFOR.Mas não é possível fazê-Io a qualquer custo. ultrajando oordenamentojurídico e fazendo concessõesa iniciativasquepossam. violal'

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNALREGIONAL FEDERAL DA 5.aREGIÃO

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AGRAVO DE INSTRUMENTOn.o 1346941CE 0040490-34.2013.4.05.0000

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área') ambientais legalmenteprotegida.\'.como parece ser hoje o cosodaquele trecho do Parque do Cocó,

Pode-.fe alegar. como (1fez o Município de Fortaleza, que o IBAMA e oA1PF Já acompanham o Projeto há anos e que somente agora aluamjudicialmente no vi.fívelpropósito de impedir a realização de uma obranecessária para o Município, submetida a todo!)'os trâmite..;legais. Ocorreque as questões aqui judicializadas são complexas. de modo a incutir nOânimo da magislratu.ra.encarregada instilucionalmente de dirimir co"'1{litO.f,o desconforto da dúvida. E essas dúvidas haverão de se dissipar nasentença, depois do devido processo legal. assegurando-se amplaoportunidade às partes para melhor discutirem acerca da possibllidadejurídica, à luz da LC Municipal 62/2009. de se construir obra permanentenaquela área do CoelJe, em caso positivo, se ela exigirá ou não a realizaçãode novo ElA/RIlvlA, No momento, sou obrigado a render-me ao argumentodo LVSTrr~TO AMBIENTAL VlRAMUNDO: melhor o embargo da obra. emrespeito aos princípio.\'da preservação e do in dubio pro natura.

Assim, defiro a liminar para suspender, até ulterior deliberação judicial,a ocupação. pelo Poder Público Municipal, da área do Parque do Cocó naconfluência da~ Avenida.\'Antonio Sale.~e Engenheiro Santana Junior, parafins de realização da obra do TRANSFOR,fIXando em RSI0.000.00 (dez milreais) a multa diária para caso de transgressão do preceito (§§ 4 o e 50. art.461. CPC),semprejuizode multae da.'isançõespenabicabíveisaos agentespúblicos que de qualquer modo embaraçarem o cumprimento desta(paráwafo único, art. 14. CPC-J, considerando que, pelo menos à visla da.vúltimas noticias veiculada..f pela imprensa, houve ação do Poder Públicopara continuar a ocupação e desmatamento, sem aguardar qualquer soluçãojudicial. embora o Município já estivesse notificado para pre.<;laririformações a juizo.

Intimações no plantão.

Fortaleza, 08 de agosto de 2013.

............................................................................................

CIs.

o MPF comparece a juizo alegando direito !õuperveniente(art. 462,CPC). re.vultante de fato novo. ocorrido posteriormente à propositura daação. capaz de il?f/uirno julgamento da lide. a saber: o desmatamento peloPoder Público Municipal de área do Parque do Cocó três vezes maior que aautorizada pela licença ambiental, fato que leria acarretado, ipso jure, o

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PODER JUDICIARIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.8 REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA LUCENA

AGRAVO DE INSTRUMENTO n.u 134694/CE 0040490-34.2013.4.05.0000

cancelamen/oda autorização dada pela SPU consubstanciada na Portarian° 32/2013. Pede nova liminar.

A apreciação do pedido não di...pensu a audiência da parle contrária.

Dianle da urgência e do alegado direito superveniente, resolvo, adcautelam, suspender os efeitos do ato impugnado até que este juizo aprecieamiúde o novo pedido liminar. depois (Ia audiência da parle contrária.

[omissis]

Expedientes e intimações necessárias.

Fortaleza. 21 de agosto de 201 J

DECIDO.

Os autos narram que a obra controvertida insere-se no Plano deTransporte Urbano de Fortaleza, cujo objetivo maior consiste na implantação de umsistema modemo e sustentável de mobilidade viária para solucionar o grave quadroem que atualmente se encontra a capital, em face da explosão de veiculos originadacom o crescimento econômico do pais. Elaborado entre os anos de 1999 e 2002, eleganhou novo realce em virtude da Copa do Mundo 2014. Esse evento global, poróbvio, representa importanteargumentoa embasar o perigo da demora do pleitosuspensivo. Realmente, por si s6 ele já se apresenta como fator essencial aotemperamento da aplicaçãopura e simplesdo principioda precauçãoambiental nos

... obrigando a exigir, com máxime rigor, a presença dos requisitos para o deferi~entode antecipação dos efeitos da tutela ou mesmo de medida apenas acautelat6ria emfavor do MPF, parte autora da ação civil pública.

Aliás, o conflito intersubjetivo de interesses entre a urbe e o Parquettem dado azo a várias frentes de batalha, seja via agravo de instrumento, viasuspensão de liminar, seja habeas corpus. Dai a matéria ser de conhecimento doPlenário deste e. Tribunal, o qual teve a oportunidade de se manifestar, àunanimidade, pela continuidade das obras em sessão datada de 18 de setembro docorrente. Refiro-me ao agravo regimental na Suspensão de Liminar n.o 0801655-.~1.2013.4.05.0000.

Sendo um dos magistrados que assim se posicionou, acompanhandoo bem lançado voto do eminente Desembargadorpresidente- e de logo an.tecipoque esta decisão não caminhará em sentido diverso -, como primeiro fundamentobasilar desta liminar, transcrevo as irretocáveis palavras lançadas na suspensao deliminar, ipsis /itteris: :

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TRIBUNALREGIONALFEDERAL DA5.a REGIÃOGABINETEDO DESEMBARGADORFEDERALJOSÉ MARIALUCENA

0040490-34.2013.4.05.0000AGRAVO DE INSTRUMENTOn.o 1346941CE

RELA TÓRIO

o SR. DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO WILDOLACERDADANT AS (PRESIDENTE):

Cuida-se de agravo regimental interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICOFEDERAL contra decisão de minha relatoria que deferiu pedido de suspensão de liminar formuladopelo Município de Fortale7.a1CE,assegurando a continuidade das obras do TRANSFOR na conOuêneiadas Avenidas Antonio Sales e Engenheiro Santana Junior.

Inconformado com o aludido decisum, vem o Ministério Público federal valer-se do presente recurso para argumentar que não se está diante de circunstância que autorize a suspensãoda Jiminar,já que ausente grave lesão à oreIem. à .'ialide.à segurança e à economiapúb/icas.

Reconhece, no recurso, a importânciada obra para a municipalidade, masressalta que, em casos como esse, deve-se atentar para a forma com que as intervenções no meioambiente são conduzidas. obedecendo-seas normas do Direito Ambiental.Ainda sobre a questão,afirma que o Plano de Controle Ambiental específico - PCA elaborado para a construção em tcla nãopode substituir o EIAIRIMA,já que se trata de um procedimentobem menos rigoroso. Destaca,também, que o ElA/RIMA reaIi7.ado.por sua vez, além de ultrapassado. licenciou o projetoTRANSFOR comoum lodo,sem levarem contaas espccificidadesde cada umadas obras inclusas.

....

Argumenta, outrossim, que o IBAMA constatou uma supressão de área doParque do Cocó superiora que haviasido,em tese,autorizadapelaSEUMA.

Ressalta que, embora reconheça que tais questões devam ser apreciadas pelomagistrado de primeiro grau, elas já demonstram que as irregularidades vêm ocorrendo. Por tal razão,sustenta, não se discute o cumprimento de mero fonnalismo. mas busca-se uma forma de assegurar adiminuição dos efeitos do impacto ambienta I decorrente da eonslrução das obras no Parque do Cocó.

DetC:mde.ademais, que. no caso de confronto entre dois interesses públicos. nocaso, o direito à mobilidade urbana e o direito ao meio ambiente equi1ibrado. deve-se aplicar oprincípio da proporcional idade. para que se analise qual deles deve preponderar. No caso. dcstaea. odireito ao meio ambiente saudável. em razão de sua importância e abrangência. deveria prevalecer.

Discorre ainda sobre os princípios da prevenção, da precaução e colacionajulgados que, sob sua ótica,corroborama tese porele defendida.

Ao final, reiterd a incxistência de grave lesão advinda da suspensão das obrasI ",em como a ausência de urgência, mormente em se considerando que o citado empreendimento está

,; em estudo desde o ano de 2002. ..'

l/ Requer. assim, a reforma do decisllm que deferiu o pleito de suspensão em

/1' "debate restaurando-se os efeitos mencionados na decisão de primeiro grau.,,/ Em mesa para julgamento.

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PODER JUDICIÁRIO... TRIBUNALREGIONALFEDERALDA 5.8 REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA LUCENA

AGRAVO DE INSTRUMENTOn.o 134694/CE 0040490-34.2013.4.05.0000

o SR. DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO WILDO LACERDADANT AS (PRESIDENTE):

1- Preliminar: Competência do Pleno para julgamento do recurso

Inicialmente. cumpre registrar que, conquanto não tenha sido questionada acompetência para julgamento deste recurso, tenho por bem tecer breves considerações acerca damatéria, a fim de afastar eventual alegação de incompetência deste Órgão Plenário.

Na verdade, como a ação originária do feito se trata de uma Ação Civil Pública.poder-se-ia alegar que a competência para julgamento de agravo contra decisão proferida emSuspensão de Liminar seria da Turma, em razão do que dispõe o art. 12, § I" da Lei n° 7.347/85.

..

Considero. todavia, não ser esse o melhor posicionamento a ser adotado, já quehá vários outros aspectos que devem ser levados em consideração na hipótese e que conduzem a umentendimento diverso.

Com efeito, a Lei n° 8.437/92, que trata das medidas cautclarcs contra atos doPoder Público, é expressa, em seu art. 4°, § ICI,ao prever a sua aplicação ao Mandado de Segurança e àAção Civil Pública. Esse mesmo diploma legal previu, ainda, no §3° do art. 4°, a interposição derecurso de agravo contra o decisum que conceder ou negar a suspensão. Nesse ponto, penso que olegislador silenciou, propositadamente, acerca da competência para o seu julgamento, em razão do quedispõe o art. 96, T,"a" da CF/88 - que deixa a critt:rio de cada um dos Tribunais, através de seusregimentos internos, a definição da competência de seus órgãos jurisdicionais e administrativos.

Por sua vez, o RegimentoInternodo TRF da S. Região, em seu art. 228, aodispor sobre a suspensãode liminar, afirmaque o recursocabivel contra decisão do Presidente é o""agravointerno", cujojulgamentoé de competênciado Pleno,confonneexpressamentereconhecido noart. 6°, "b" do mencionadodiplomainfralcgal.

A prÚpria doutrina, inclusive, já se debruçou sobre o tema, consoante se podeverificar em trecho da obra de Elton Venturi, in verhis:

'IjI., ...."

;j

/(/

"De fato, muito embora o art. 12, §Io, da Lei 7.347/85 refira o cabimento doagravo interno "para uma das turmas julgadoras', adotando-se como parâmetroos regimentos intemos do STF (art. 297) e do STJ (art. 271), o agravo deve serdirigido ao juiz Presidente do Tribunal, o qual, se mantiver sua decisão

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.a REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA LUCENA

0040490-34.2013.4.05.0000

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AGRAVO DE INSTRUMENTO R.o 134694/CE

originária, deve submeter o recurso ao plenário ou ao órgão especial parajulgamento imediato."'.

Por fim, nunca é demais lembrar que este Órgão Plenário julgou, recentemente,um Agravo em Suspensão de Liminar (de nO4275/SE) manejado contra a decisão proferida pelo entãopresidente desta Corte, Dcs. Fed. Paulo Roberto de Oliveira I,ima. em que o feito originário se tratavade urna Ação Civil Pública.

Não há. portanto. razões para se afastar a competência do Pleno deste Tribunalpara o julgamento do Agravo Regimental, cujo mérito ora se passa a apreciar.

z-Mérito:

A decisão com quc o il. Vice-Presidente desta Corte. Des. Federal EdilsonNobre, no exercício da Presidência, deferiu a suspensão de liminar pleiteada no feito em referência

'" encontra-se vazadanos seguintestennos:

"(...) Cumpre-me ressaltar, inicialmente, que a medida de que ora se trata,prevista nos arts. 15 da Lei nO 12.016/2009 e 4° da Lei nO8.437/92, estáadstrita à análise da ocorrência de aspectos relacionados à potcncialidadclesiva do ato decisório em tàce dos interesses públicos consagrados naquelespreceitos normativos, quais sejam, a ordem. a saúde, a segurança e aeconomia públicas. Confiram-se, porque oportuno. os regrarnentos contidosnaqueles dispositivos legais:

'Art. lS. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito públicointeressada ou do Ministério Público e para evitar 2rave lesão à ordem, àsaúde, à segurança t!à economia públicas. o presidente do tribunal ao qualcouber o conhecimento do respectivo recurso suspender, em decisãofundamentada, a execução da liminar c da sentença. dessa decisão caberáagravo, sem efeito suspensivo. no prazo de 5 (cinco) dias, que será levado ajulgamento na sessão seguinte à sua inlerposição.'

.Art. 4 Competeno presidentedo tribunal. ao qual couber o conhecimenlodo respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execuçãoda liminar nas ações mo\'idas contra o Poder Público 00 seus agentes, arequerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito públicointeressada. em caso de manifesto interesse púbUco ou de Ragranteilegitimidade, e para evitar erave lesão à ordem, à saúde, à segu~nça eà economia públicas. > (Grifosinautênticos).

Decerto. consoante se pode interir. o legislador valeu-se do adjetivo grave..justamente como forma de evidenciar a excepcionalidadc da medidasuspensiva almejada. de modo que somente uma avaliação cfctiva acerca da

I VENTURI, Elton. Suspensão de liminares c sentenças contrárias ao Poder Público - 2 ed. - São Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 20 JO,p: 230/23 I.

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNALREGIONALFEDERALDA 5.a REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADORFEDERALJOSÉ MARIAlUCENA

AGRAVO DE INSTRUMENTO n.o 134694/CE 0040490-34.2013.4.05.0000

gravidade da lesão pode autorizar a concessão legítima da providênciareclamada. Nesse sentido, elucidativo é o voto do ex-Ministro do STF.SepúlvedaPertence,nojulgamentodo AgRgSS432-DF.DJU 12.2.1993:

'(...) é medida excepcional de contracautela, destinada à salvaguarda derelevantes interesses públicos sob risco iminente, na hipótese de execução,ainda que provisória, da ordem judicial. (...) O que ~ singulari7a é,precisamente, que esses requisitos do pericu/um in mora. na suspensão desegurança. são qualificados. Não é qualquer risco que a justifica. não équalquer possibilidade, não é, nem mesmo, a probabilidade de um riscoqualquer: é apenas o risco de grave dano a interesses públicosrelevantfssimos. '

Com efeito, no exame desse instrumentoextraordinário.o Judiciário deveagir com extrema cautela, pois, nos pedidosde suspensão. não há que secogitar de lesão à ordem juridica nem tampouco de exame de questõesrelativas ao próprio mérito da controvérsia, sabido serem estas matériassuscetíveis ao debate nas vias recursais ordinárias, instrumentos queressabidamentepermitema verificaçãodo acerto ou desacerto da decisãoimpugnada.

Feita pois, estas considerações iniciais, volto à análise do pleito desuspensãoem referencia,ponderandodesde logovislumbraros pressupostosque enscjariamsuaconcessão.Explico.

A obra que está sendo construída c cuja execução foi obstada pela 1iminarproferida na Ação Civil Pública faz parte do Programa de Transporte Urbanode Fortaleza - TRANSFOR - .em estudo dcsde o ano de 2002, e que tempor objetivo primordial a melhoria do transporte público coletivo, através deum conjunto de ações e intervenções na malha viária da cidade.

É consabido, ainda, que o trecho onde está sendo construido o viaduto - nocru7.amentodas avenidas Antônio Sales c Engenheiro Santana Júnior - é umdos grandes pontos de congestionamento diário em Fortaleza e que amencionada obra irá interferir no ecossistema do Parque do Cocó.

No decisum objcto da Suspensão de Liminar ora em anális~, o doutomagistrado singular considerou necessário o embargo da obra diànte dopotencialriscoambientalexistente.Tenho,contudo,que as circunstãnciasdocaso indicam.em verdade,que a pardlisaçãoda construção causará maiorprejufzo à ordem e à economia públicas. tanto por impossibilitar que asociedadepossa.com maiorbrevidade,usufruirde melhortrânsito na região,como por imporsevero...prejuízosa seremsuportadoscom verbas públicas.

Por outro lado, não vislumbroo grdvedano ambicntal a ser causado vistoque, como houve a elaboração de um EIAlRIMA para o projetoTRANSFOR - e quanto a isso não há controvérsia - , parece-me, à primeira

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vista, desnecessário que uma obra que dele faz parte precise de um novoestudo específico. monnente quando o já existente foi devidamenteaprovado pelo órgão competente.

Ademais, para cada um dos grupos no qual se dividiu o projeto TRANSFORfoi elaborado um Plano de Controle Ambiental específico, e para esta obraem si. diante da interferência que haveria no Parque do Cocó, foi inseridauma medida mitigadora. consistente na execução de um Plano de Manejo,exatamente para disciplinar o uso da área em consonância com a proteção deseus recursos ambientais.

Foram, ainda. previstas outras medidas compensatórias da intervenção nasáreas ambientais diretamente afetadas pela obra, tais como replantio de pelomenos 03 (três) mudas de porte semi-adulto (1,80m a 2,SOm) para cadaplanta sacrificada. confonne condicionante prevista na Autorização para odesmatamento,emitida pela SEUMA- Secretariade Urbanismo e MeioAmbiente- também anexada.

Relevante ainda destacar que a Licença de Instalação da Obra foi deferidaem novembro de 2006. contonnc consta no anexo da inicial, e vem sendocontinuamente renovada até os dias atuais.

Da mesma fonoa. considero, a princípio. que a alteração realizada no projetodo viaduto não juslitica, por si só, a necessidade de elaboração de um novoestudo de impacto ambiental, principalmente porque, ao que parece, amodificação inserida previu uma redução na área ambiental a ser afetada -que de 0,30 ha, passou a ser de 0.16 ha., consoante documentação em anexo(pág. 213 do PBA e página 5.16 do PCAacostadopelo Ministério PúblicoFederal - fis.408).

Cumpre salientar, outrossim. que o receio do dano ambiental foi respaldadoem relatório que, a despeito de elaborado pelo IBAMA. não pode ser tidocomo conclusivo. vez que. além de ter sido confeccionado após brevevistoria no local - iniciadaàs ]6h05min e finda às 16h48min, confonneexpresso no próprio documento- apenas cita uma w-ea aproximada dedesmatamento.

Insta ressaltar, afinal, ser compreensível que a realização de uma obra de talmonta gere opiniões dissonantes entre os diversos grupos sociais. Todavia.não se pode perder de vista que. diante dos graves problemas enfrentadosdiariamente nas cidadesbrasileiras.cabe ao administrador público,buscarsoluções e escolher. dentre as possíveis, a que melhor atenda aos interessesda sociedade. Esse poder de escolha que compete ao administrador público éo que se denomina, no mundo jurídico, de "'discricionariedadcadministrativa".

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E é esse mesmo poder de escolha que. embora legitimamente exercido.enfrenta, muitas vezes, resistência de alguns setores da sociedade. Nãomenos legitimo, outrossim, é o direito daqueles que, por discordarem.buscam, agora, a paralisação da obra. O objetivo buscado, entretanto. não selegitima c, portanto. não deve ser atendido, quando a sua concretização écapaz de causar um dano ainda maior à sociedade do que aquele por elesdefendido. como considero ocorrer no caso em deslinde.

Desta feita. entendo que o receio de que o Poder Público cause danoambiental irreparável ou exceda a área contida no projeto inicial - sem umdado específico quanto à sua ocorrência - não é suficiente para justificar asuspensão de uma empreitada cujo objetivo maior é melhorar a qualidade devida da população que diariamente se vê obrigada a enfrentar umaverdadeira jornada cm direção ao trabalho e em seu retomo para casa dentrodos coletivos e carros que tentam circular pela cidade.

Com cssas considerações. DEFIRO o pedido de suspensão.

Comunique-se.com urgência,o inteiro teor deste decisum ao douto JuizFederalprolatordo atojudicial vergastado.(...)"

Adoto como razões de decidir os mesmos fundamentos expostos no ato judicial!lUSOtranscrito. É que os argumentos lançados pelo Ministério Público Federal em seu recurso nãotrazem qualquer elemento novo de convicção que justifique a mudança de orientação adotada porocasião do exame da Suspensão de Liminar.

'" Além disso, importa observar que () douto magistrado a quo adotou. ainda queem segunda decisão, raciocínio diverso ao que dcvcria empregar na espécie - que cuida de questão dasuspensão inaudita altera pars. Concedeu a liminar, embora.não a tcnha denominado como tal,detenninando que, depois, se ouvisseo Município,quandose recomendaque a tivesse ouvido antes deconceder qualquermedidajudicial, tendoem vistao interessepúblicoque ele encarna.

Nego, pois, provimento ao agravo regimental.

É como voto.

Para concluir essa parte do decisum pertinente à pretensãosuspensiva no agravo, eis a ementa:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMEN-T AL EMSUSPENSÃO DE LlMINAR. COMPETÊNCIA DO PLENO.

. ';I SOBRESTAMENTO DE OBRA. DESCABIMENTO. OCORRÊNCIA DEEFETIV A LESÃO À ORDEM E À ECONOMIA PÚBLICAS. HIPÓTESE QUEJUSTIFICA A CONCESSÃO DA CONTRACAU-TELA POLÍTICA.MANUTENÇÃO DA DECISÃO CONCESSIVA DO PLEITO DE SUSPENSÃO.IMPROVIMENTO 00 RECURSO.

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I. Ainda que a suspensão de liminar tenha sido deferida em Ação Civil Pública, oAgravo Regimental que a impugna deve ser dirigido ao Presidente da Corte, porser da competência do Pleno deste Tribunal. Inteligência do art. 12, §1a da Lei nO7.347/85, em cotejo com os Regimentos Internos do STF (art. 297). do STJ (art.271) e desta Corte (art. 228). I}reccdentesdesta Corte.

2. A decisão que determinou a suspensão da obra integrante do Programa deTransporte Urbano de Fortaleza - TRANSFOR -traduz clara agressão à ordem e àeconomia públicas, tanto por impossibilitar que a sociedade possa, com maiorbrevidade. usufruir de melhor trânsito na região, como por impor severos prejuízosa serem suportados com verbas pública~..

3. O receio de que o Poder Público cause dano ambienta I iJTeparável ou exceda aárea contida no projeto inicial- sem um dado específico quanto à sua ocoTTência-não é suficiente para justificar a suspensã0 de uma empreitada eujo objetivo maioré melhordf a qualidade de vida da população.

4. Suspen!>ãomanlida; agravo regimental improvido.

Agora começo por apresentar a minha exegese quanto à celeuma,frisando o papel essencialmente juridico do agravo de instrumento, diferentemente docaráter tipicamentepolíticodas suspensões de liminaresregidaspela Lein.o8.437/92.

No tangente à plausibllidade jurídica, o Municipiode FortalezalCEaponta relevantes óbices à suspensão das obras, ao demonstrar ter realmente seconduzido de maneira diligente, zelosa para buscar uma solução para o seriíssimoproblema que se instaurou, todos sabemos, em todas as grandes cidades do Brasil, qualseja, a de "quase imobilidadeurbana", sem descurar do direito fundamental à proteçãodo meio ambiente, implementando medidas mitigadoras dos danos que qualquer obraurbanisticaocasiona,em regra. .

Primeiro, sobressai terem sido elaborados estudos quanto ao impactoambiental do empreendimento em embate que findaram por autorizar a expedição delicenças ambientais pelos órgãos competentes em favor do Municípiode Fortaleza/CE.Cumpre reproduziros seguintesexcertos: .

Financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (81D), oTRANSFOR tem entre suas principais ações a implantação deco"edores expressos de ônibus (BRT's) ...

Tendo isso em vista, o agravante, ainda em 2002, iniciou a confecçãode um ElA/RIMA (Estudo de ImpactoAmbientaI/Relat6riode ImpactoAmbiental) para as obras, o qual foi precedido, naturalmente, deaudiência públicacom ampla participaçãoda sociedade.

[.,,]

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GABINETEDO DESEMBARGADORFEDERALJOSÉ MARIALUCENA

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Como náo podia ser diferente, o estudo e o relatório previram uma sériede medidas mitigadoras dos impactos ao meio ambiente. Tais medidasforam devidamente detalhadas em um PROJETO BAslCO AMBIENTAL(PBA), cuja integra se encontra em anexo a este agravo.

[...]

Uma das obras a ser executada neste grupo refere-se à transposiçãoem desnível (viaduto) no cruzamento das Avenidas Antônio Sales eEngenheiro Santana Junior. historicamente considerado o maiscongestionado da cidade de Fortaleza.[...]

Como adentra em uma posição minima de uma área verde da cidade deFortaleza - o Parque do Cocó, Que. até a oresente data. não foiformalmente instituído como uma unidade de conservacão -, uma dasmedidas mitigadorasda obra, prevista no PBA (página 214) e reforçadapelo PCA incluia execução de um Plano de Manejodo COCÓ.plano esteque já foi devidamenteiniciadopelo Municipiode Fortaleza.conformetermo de referência acostadC?ao feito originário.

Deve-se também salientar,Excelência. que. inicialmente. a previsão daáreano Parquedo Cocóa ser afetadapelo projeto era de 3.000 m2.conforme se depreende de uma leitura da página 213 do Projeto BásicoAmbiental. Posteriormente. Dorém. através do Plano de ControleAmbiental definitivo modificou-se o ro eto da obra RI REDUZIREM QUASE METADE a área afetada. Que oassou a ser de 1.625.75W-1ou aproximadamente O.16ha, conforme se infere da página 5.16do documento apresentado pelo Ministério Público (n. 408 dos autosoriginários).

Pois bem. Diante do atendimento das condicionantes previstas naLicença prévia -dentre elas a consecução do Plano de Manejo do Cocá- o 6rgão competente expediu a Licença de Instalação da Obra emnovembro de 2006. Tal licença foi sucessivamente renovada por duasocasiões. vigendo atualmenteaté 08 de novembrode 2014.

[...]

Antes, porém, de iniciar as obras. o agravante adotou mais duas.cautelas: em primeiro lugar, iniciou um procedimento administrativo

V junto à Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente (SEUMA) queculminou com a expedição de uma autorização formal para o corte de133 (cento e trinta e três) espécies vegetais-das quais apenas 94 estãosituadas dentro do Parque do Cocó - localizadas na área da construçãodo aludido viaduto. [...]

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Em segundo lugar, mesmo não existindo demarcação formal da áreaafetada pela Secretaria do Patrimônio da União -nem conste, no PlanoDiretorde Fortaleza,ou mesmo na matr{culado terreno, que a área sejaefetivamente terreno de marinha - o Municipio de Fortaleza, emresposta a ofício encaminhado pela SPU. também enviou a este órgãodocumentos solicitados para fins de autorização de intervenção nestamin;ma parte do Parque, o que foi devidamente deferido conforme aPortaria nO3212013. em anexo.

Segundo. a acusação ministerial de um suposto desmatamento noParque do Cocó superior ao autorizado pelos órgãos ambientais não se mostra provadade plano, exigindo uma análise mais aprofundada na fase probatória da ACP. De fato. oMPF apóia-se numa vistoria do IBAMA realizada em apenas 40 minutos, com aferiçõesimprecisas topograficamente falando: consta que o dano ambiental abrangeu uma áreade "0.20 ha aproximadamente", quando a licença ambientaI refere-se a 018 ha.dimensões extremamente próximas a clamar um levantamente muito mais rigoroso.Ademais. durante a eficácia da primeira liminar deferida pelo Magistrado de primeirograu, a área foi desocupada pelos guardas municipais e invadida por um contigentesuperior a 260 (duzentos e sessenta) cidadãos. Ora, a vistoria do IBAMA se deujustamente nesse perlodo de ocupação, fragilizando bastante a sua presunção deveracidade. Transcrevo registro do próprio analistada autarquia ambiental, fi. 13:

No dia da vistoria foi constatada a presença de aproximadamente 60manifestantes acampados no local. Além disso, houve umamanifestação contra a construção do viaduto, com a parlicipação deaproximadamente 200 pessoas (FIG.1 a 4, RelatórioFotográfico).

Ressalte-se ainda, para não me delongar em demasia. que a urbedetém autorização para supressão de espécies vegetais e ela ventila que uma parcelado desmatamento abrangeu plantas invasoras sem direito a qualquer proteçãoambienta!.

Em suma, tudo isso deixa patente a imprescindibilidade da periciajudicial na ação civil pública, afastando tanto a verossimilhança do direito, quanto afumaça do bom direito, a legitimar a concessãode tutelas de urgênciapara o MPF...

. No tocante ao perigo da demora, além da iminência da Copa 2014,cumpre por em destaque a inquestionável importância da obra: o viaduto objetiva

A minar um dos principais pontos de estrangulamento viário de Fortaleza, por onde/ circulam diariamente cerca de 70 mil velculos, sendo 294 coletivos, a transportar cerca

./ de 117 mil passageiros por dia, fi. 30. Deve-se atentar, ainda, para as inúmeras. ambulâncias e carros de bombeiros a trafegarem diariamente com a nobre missão de

/. salvaguardar a vida ou segurança dos cidadãos, representando. qualquer demora. decorrente de engarrafamentos toda a diferença. Somente este dado estatistico espanca

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qualquer dúvida quanto à urgência da implementação relere do TRANSFOR para a vidacotidiana de todos os municipes.

Por tais fundamentos, concedo antecipação dos efeitos da tutela emfavor do Municipio de Fortaleza/CE na Ação Civil Pública n.O 0009740-96.2013.4.05.8100, a de determinar que a primeira instância adote todas as medidasindispensáveis ao prosseguimento da obra em liçae ao restabelecimento pleno do statusquo ante no terreno dela no Parque do Cocó - a saber. a ocupação da área pelaMunicipalidade. com a vigilânciada Guarda Municipal-, isto devendo executar-se dentrodo prazo de 03 (três) dias. a contar do conhecimento do teor deste decisório via malotedigital. requisitando para tanto o Juiz de piso o apoio, se necessário. de órgãos desegurança ou policiaisde nível federal, estadual elou municipal.

Dê-se ciência á instãncia a quo. com extrema urgência.

Comunique-se à ilustrada Presidência deste Tribunal.

Intimem-seos agravados para contraminuta~

Publique-se.

Alfim,dê-se vista ao MPF de segundo grau para ofertar parecer naqualidade de fiscal da lei.

Recife, 26 de setembro de 2013.

JOSÉ MA,- LUCENAator.

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