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1 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO Promotoria de Justiça de Colatina/ES Praça Sol Poente, s/nº, Esplanada - 29.702-710 - Colatina ES - Tel: 27.3723.3950 www.mpes.gov.br EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE COLATINA ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO, por seu Órgão de Execução adiante firmado, no uso de suas atribuições legais, com fundamento no artigo 129, da Constituição Federal, artigos 927, 949 e 461 do Código Civil, artigo 5º Lei 7.347/85, vem, respeitosamente, perante esse h. Juízo, propor: AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE INDENIZAÇAO POR DANO MORAL COLETIVO - QUEBRA DE SIGILO FISCAL OBRIGAÇÃO DE FAZER c/c TUTELA ANTECIPADA DE BLOQUEIO DE BENS Em face de: SAMARCO MINERAÇÃO S. A., Pessoa Jurídica de Direito Privado, sociedade anônima fechada, inscrita no CNPJ 16.628.281/0001-61, com filial à Rua José Alexandre Buaiz, 300, Ed. Work Center sala 802 Enseada do Suá, Vitória/ES, CEP: 29.050.545, telefone 27 3145 4413, Fax: 27 3145 4410;

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO

Promotoria de Justiça de Colatina/ES Praça Sol Poente, s/nº, Esplanada - 29.702-710 - Colatina –ES - Tel: 27.3723.3950 — www.mpes.gov.br

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA

CÍVEL DA COMARCA DE COLATINA – ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO

ESPIRITO SANTO, por seu Órgão de Execução adiante firmado, no uso de suas

atribuições legais, com fundamento no artigo 129, da Constituição Federal, artigos 927,

949 e 461 do Código Civil, artigo 5º Lei 7.347/85, vem, respeitosamente, perante esse h.

Juízo, propor:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

COM PEDIDO DE INDENIZAÇAO POR DANO MORAL COLETIVO -

QUEBRA DE SIGILO FISCAL – OBRIGAÇÃO DE FAZER c/c TUTELA

ANTECIPADA DE BLOQUEIO DE BENS

Em face de:

SAMARCO MINERAÇÃO S. A., Pessoa Jurídica de

Direito Privado, sociedade anônima fechada, inscrita no

CNPJ 16.628.281/0001-61, com filial à Rua José

Alexandre Buaiz, 300, Ed. Work Center – sala 802 –

Enseada do Suá, Vitória/ES, CEP: 29.050.545, telefone 27

3145 4413, Fax: 27 3145 4410;

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VALE S.A., pessoa jurídica de direito privado, sociedade

anônima aberta, inscrita no CNPJ n. 33.592.510/0001-54,

com sede na Avenida Graça Aranha, n°26, Castelo, Rio de

Janeiro- RJ, CEP 20030-900. Fone: (21) 3814-9631;

BHP BILLITON LTDA., pessoa jurídica de direito

privado, sociedade limitada, inscrita no CNPJ n.

42.156.596/0001-63, com sede na Avenida Jardim das

Américas, n. 3434, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro-RJ,

CEP 22640-102, pelo cometimento dos seguintes fatos

delituosos:

I - OBJETO DA DEMANDA

Com base em todas as circunstâncias fáticas abaixo

narradas, pretende o MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL ver as rés SAMARCO

MINERAÇÃO S.A., BHP BILLITON BRASIL LTDA, e VALE S.A. condenadas ao

pagamento de dano extrapatrimonial coletivo tendo em vista a crise que se instalou em

Colatina/ES em virtude da “guerra” travada pelos cidadãos pela disputa da água.

II - DOS FATOS

É fato público e notório que, em 5.11.2015 houve o

rompimento da barragem de Fundão e galgamento dos efluentes sobre a barragem de

Santarém, localizadas no distrito de Bento Rodrigues, Complexo Industrial de Germano,

Município de Mariana-MG, operadas pela Samarco Mineração S.A, e localizadas na

Bacia do Rio Gualaxo do Norte, afluente do Rio do Carmo, afluente do Rio Doce pela

margem esquerda, causando ondas de rejeitos de minério de ferro e sílica, entre outros

particulados, os quais pela velocidade e volume têm ocasionado impactos ambientais e

sociais imensuráveis nos Municípios capixabas.

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Colatina-ES, até o momento, é o Município do Estado do

Espírito Santo mais atingido pois é dependente 100% da captação e tratamento de água

do Rio Doce para mantença de sua população.

Em razão da onda de rejeitos, lama e de outros elementos

constantes no Rio Doce, houve a suspensão da captação e da distribuição de água à

população (aproximadamente, cento e vinte e dois mil seiscentos e quarenta e seis

habitantes), conforme informa o IBGE através de sua Diretoria de Pesquisa – DPE e

Coordenação de População e Indicadores Sociais – COPIS.

O Rio Doce é a maior bacia hidrográfica do Estado do

Estado do Espírito Santo e foi atingido de forma avassaladora, contribuindo assim para

desgastar o já castigado manancial, com enorme repercussão para as cidades que

margeiam este corpo hídrico.

Em 23.11.2015, o município de COLATINA noticiou o

retorno da captação e distribuição de água, com fundamentos na existência de laudos,

cujos resultados atestavam a aptidão da água para consumo humano.

Diante desses laudos, o município de Colatina/ES

considerou que a água captada no Rio Doce, mesmo com lama, rejeitos de minério e

outras partículas, estaria apta ao consumo humano.

Não obstante, o clima de incerteza e descrédito nas

informações oficiais tomou conta da sociedade colatinense, sendo certo que a população

rejeita, veementemente, a utilização da água distribuída na rede para fins de ingestão de

qualquer forma. Ademais, problemas dermatológicos também já foram identificados em

pessoas que fizeram uso da água para banho.

A desconfiança da população não é em vão.

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Verifica-se pela análise de amostras de água coletada no

oceano, no litoral de Linhares/ES, após a chegada dos rejeitos de minério oriundos da já

referida barragem, realizada pelo laboratório MERIEUX Nutri Sciences, e

correspondentes laudos datados de 26.11.2015 e 30.11.2015, que “metais pesados” se

fazem presentes nas amostras.

Nesse diapasão, cabe transcrever a contundente conclusão

exarada:

“Declaração de conformidade:

Comparando-se os resultados obtidos para a amostra com

os valores estabelecidos pela VMP CONAMA 357 artigo

18 de 17 de março de 2005 – Padrão para água salina de

classe 1, podemos observar que: O(s) parâmetros(s) pH (a

25º C), Carbono Orgânico Total, Cianeto Livre,

Surfactantes (com o LAS) não satisfazem os limites

permitidos”. (Laudo de 26.11.2015, amostra coletada na

Vila de Povoação).

O laudo datado de 30.11.2015, cuja amostra foi coletada

no distrito de Regência, aponta a existência, dentre outros elementos integrantes da

tabela periódica, alumínio dissolvido, cobre dissolvido, ferro dissolvido, nitrato e

manganês, em limites que extrapolam o máximo recomendado.

Fora o impacto social e econômico, o acidente do

rompimento das barragens da Samarco em Mariana/MG é classificado como o maior

desastre ambiental do nosso país e tem causado comoção internacional em vista das

consequências deletérias que tem deixado na Bacia do Rio Doce.

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Mortes, destruição patrimonial, desabrigamento,

suspensão do abastecimento de água de milhares de pessoas, emoção, comoção, medo

estão ao lado da dizimação de diversas espécies da fauna e flora nativas da Bacia do Rio

Doce.

Por onde passou a onda de dejetos a captação de água no

Rio Doce para todos os usos foi suspensa, especialmente para o consumo humano.

Além da suspensão desse vital serviço de saúde e, sobretudo, o receio frequente de

novas interrupções a qualquer momento haja vista que o dano ainda é latente haja vista

que absolutamente nenhuma medida mitigadora estrutural foi tomada por parte das

empresas SAMARCO, VALE e BHP BILLITON.

Em Colatina, a captação de água para tratamento e

posterior consumo da população foi suspensa acarretando a falta de água total em

Colatina.

Dezenas de atividades dependentes do fornecimento de

água foram paralisadas, especialmente obras civis, restaurantes, escolas uma vez que a

água que foi distribuída emergencialmente teve como destino a dessedentacão humana.

A questão é especialmente crítica no “Baixo Doce”1, uma

vez que o perfil longitudinal do rio indica uma diminuta inclinação nessa área

(queda de menos de 80 metros em aproximadamente 200 Km), o que favorece a

deposição de todo o material recolhido nos outros 700 Km (entre a nascente e a

divisa ES/MG, o rio tem uma queda de mais de 1000m).

1 Apesar de algumas diferenças nas delimitações, em diversos estudos o rio Doce tem sido subdividido

em três seções: alto, médio e baixo curso. A forma mais rotineiramente apresentada delimita: Alto curso -drenagem desde as cabeceiras até a foz do rio Matipó; Médio curso - desde a confluência do rio Matipó até a divisa de MG/ES; Baixo curso - da divisa de Estados até a foz. (Romeiro, Francisco; Relatório técnico: Ocorrência de cianobactérias na bacia hidrográfica do rio Doce / Francisco Romeiro ... [et al.]. - Brasília:ANA, 2012; f. 25)

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Essa diminuição brusca na queda da água é um dos fatores

naturais que fizeram com que os inúmeros prognósticos do órgãos de emergência

relacionados à chegada na lama no Estado do Espírito Santo fossem alterados.

Ilustração 2: Figura modificada a partir do original encontrado em: Diagnóstico científico do Rio Doce / Organizadores, Abrahão Alexandre Alden Elesbon … [et al]. - Colatina:Inova – Consultoria e Treinamento, 2015. 357 p. :il

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Outra característica natural que contribui para o

assoreamento é o aumento expressivo da largura do rio a partir da divisa entre os

estados, o que diminui a velocidade de escoamento, aumenta a superfície do espelho

d'água e diminui a profundidade. Este é outro componente da diminuição da “marcha da

lama”, o que contribuiu para a perda por parte da comunidade Colatinense de uso

frequente do Rio Doce.

Então, os sedimentos gerados no acidente das barragens de

Mariana/MG, serão, ao menos em grande parte, “naturalmente” depositados em

Colatina, por características intrínsecas ao próprio Rio Doce, fazendo com que seus

efeitos perdurem mais em relação a outras regiões.

A cada época de cheias, mais sedimentos serão carreados,

ano após ano, desde as cabeceiras até esse “depósito natural”, que certamente

demandará intensos esforços para recuperação.

O lento transcurso da lama pelo leito do Rio Doce carreia

incertezas acerca dos efetivos impactos ambientais decorrentes do acidente. Todavia,

alguns danos são evidentes e/ou presumíveis em razão de pesquisas, dados técnicos

coletados e observação empírica do impacto já causado em especial a SUBMISSÃO DA

POPULAÇÃO A ENORMES FILAS PARA PEGAR AGUÁ MINERAL,

OCASINANDO INÚMEROS DISTÚRBIOS CIVIS NA PACATA COMUNIDADE

COLATINENSE.

O dano ambiental tem características próprias, que acabam

por orientar o tratamento que as várias ordens jurídicas a ele conferem. Edis Milaré, em

sua obra, aponta três características que facilitarão a compreensão da dificuldade em

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quantificar o dano ambiental.

Em primeiro lugar, o dano ambiental se caracteriza pela

pulverização de vítimas, ou seja, a lesão ambiental afeta, sempre e necessariamente,

uma pluralidade difusa de vítimas, que em Colatina/ES, gira em torno de 122.646 (cento

e vinte e dois mil seiscentos e quarenta e seis) habitantes.

Em segundo lugar, o dano ambiental é de difícil

reparação, daí que o papel da responsabilidade civil, especialmente quando se trata de

mera indenização é sempre insuficiente. Por mais custosa que seja a reparação, jamais

se reconstituirá a integridade ambiental ou a qualidade do meio que for afetado.

Por fim, é inerente ao dano ambiental sua difícil

valoração. A estrutura sistêmica do meio ambiente dificulta ver até onde e até quando

se estendem as sequelas do estrago. Com efeito, o meio ambiente além de ser um bem

essencialmente difuso, possui em si valores intangíveis e imponderáveis que escapam às

correntes valorações econômicas e financeiras.

Apesar de toda peculiaridade, todo esforço deve ser

envidado para que seja reposta situação mais próxima do estado anterior ao dano, seja

através da restauração natural do bem agredido ou em forma de indenização pecuniária,

NÃO SENDO PERMITIDO QUE UM DANO DESSA DIMENSÃO,

SIMPLESMENTE POR SER CATASTRÓFICO, FIQUE SEM

RESPONSABILIZAÇÃO, MUITO PELO CONTRÁRIO ESSE SIM É QUE DEVE

SERVIR DE EXEMPLO NÃO SÓ PARA OUTRAS EMPRESAS MAS,

SOBRETUDO, PARA A SOCIEDADE QUE NÃO MERECIA/MERECE PASSAR

PELO QUE ESTÁ PASSANDO.

A fim de apresentar algumas balizas para noção próxima

do dano causado, serão apresentados alguns casos nacionais e/ou internacionais de

danos ambientais com impacto no ambiente hídrico com a valoração dos danos

causados.

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Internacionalmente ganhou destaque o acidente em abril

de 2010 com a plataforma Deepwater Horizon, que pertence à Transocean e estava

sendo operada pela empresa British Petroleum (BP) no Golfo do México. O desastre

consistiu na explosão da plataforma semissubmersível com o derramamento de 200

milhões de óleo no mar e a morte de 11 trabalhadores.

A empresa, em outubro de 2015, firmou um acordo com o

Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América para o pagamento de 20,8

bilhões de dólares, de modo a garantir todos os danos ambientais, econômicos e sociais

decorrentes do acidente.

Outro caso internacionalmente conhecido é o da mina de

Mount Polley. A mina de ouro e cobre localizada no centro de British Columbia,

Canadá, era gerida pela empresa Imperial Metals e em abril de 2014 sua bacia de

rejeitos sofreu um vazamento carreando rejeitos e a inundação de Polley Lake, sua saída

Hazeltine Creek, atingindo o Quesnel Lake e Cariboo Creek.

A investigação ainda está sendo conduzida, porém a

empresa já acordou junto ao Governo a apresentação de relatórios semanais que

demonstrem a integral reparação do meio atingido.

Especialistas já dizem que a tragédia na cidade de Mariana

é o primeiro maior acidente do gênero, seguido do desastre de Mount Polley. Segundo

pesquisadores, as barragens da SAMARCO MINERAÇÃO S.A. liberaram uma

quantidade de rejeito 2,5 vezes maior que no Canadá.

No Brasil, há um caso semelhante com o narrado na

presente ação. Uma barragem, localizada na cidade de Cataguases, Zona da Mata de

Minas Gerais, de propriedade da Indústria Cataguases de Papel rompeu em 2003. Os

rejeitos industriais espalharam 900 mil metros cúbicos de material orgânico, constituído

basicamente de lignina e sódio, na Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul.

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Como no presente, o rompimento gerou mortandade de

peixes, a interrupção do abastecimento de água em vários municípios dos Estados de

Minas Gerais e do Espírito Santo.

Além da imposição de multa no valor de 50 milhões de

reais pelo Ibama, foi celebrado TAC com o Ministério Público para reparação dos danos

ambientais causados. A empresa, ainda, foi condenada em primeiro grau ao pagamento

da quantia de R$ 140.644.483,17 a título de danos morais coletivos (autos n°

2005.51.03.001143-3).

Ressalta-se que a responsabilização por danos ambientais

é objetiva, pela adoção da teoria do risco integral, conforme firme jurisprudência dos

tribunais superiores:

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO

AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL

REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART.

543-C DO CPC. DANOS DECORRENTES DE

VAZAMENTO DE AMÔNIA NO RIO SERGIPE.

ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO EM

OUTUBRO DE 2008. 1. Para fins do art. 543-C do

Código de Processo Civil: a) para demonstração da

legitimidade para vindicar indenização por dano ambiental

que resultou na redução da pesca na área atingida, o

registro de pescador profissional e a habilitação ao

benefício do seguro-desemprego, durante o período de

defeso, somados a outros elementos de prova que

permitam o convencimento do magistrado acerca do

exercício dessa atividade, são idôneos à sua comprovação;

b) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva,

informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de

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causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se

integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação,

pela empresa responsável pelo dano ambiental, de

excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua

obrigação de indenizar; c) é inadequado pretender conferir

à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo

imediato, pois a punição é função que incumbe ao direito

penal e administrativo; d) em vista das circunstâncias

específicas e homogeneidade dos efeitos do dano

ambiental verificado no ecossistema do rio Sergipe -

afetando significativamente, por cerca de seis meses, o

volume pescado e a renda dos pescadores na região

afetada -, sem que tenha sido dado amparo pela poluidora

para mitigação dos danos morais experimentados e

demonstrados por aqueles que extraem o sustento da pesca

profissional, não se justifica, em sede de recurso especial,

a revisão do quantum arbitrado, a título de compensação

por danos morais, em R$ 3.000,00 (três mil reais); e) o

dano material somente é indenizável mediante prova

efetiva de sua ocorrência, não havendo falar em

indenização por lucros cessantes dissociada do dano

efetivamente demonstrado nos autos; assim, se durante o

interregno em que foram experimentados os efeitos do

dano ambiental houve o período de "defeso" - incidindo a

proibição sobre toda atividade de pesca do lesado -, não há

cogitar em indenização por lucros cessantes durante essa

vedação; f) no caso concreto, os honorários advocatícios,

fixados em 20% (vinte por cento) do valor da condenação

arbitrada para o acidente - em atenção às características

específicas da demanda e à ampla dilação probatória -,

mostram-se adequados, não se justificando a revisão, em

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sede de recurso especial. 2. Recursos especiais não

providos. (REsp 1354536/SE, Rel. Ministro LUIS FELIPE

SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em

26/03/2014, DJe 05/05/2014)

RESPONSABILIDADE CIVIL E PROCESSUAL

CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DANO AMBIENTAL.

ROMPIMENTO DO POLIDUTO "OLAPA".

POLUIÇÃO DE ÁGUAS. PESCADOR ARTESANAL.

PROIBIÇÃO DA PESCA IMPOSTA POR ÓRGÃOS

AMBIENTAIS. TEORIA DO RISCO INTEGRAL.

RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA

PETROBRAS. DANOS EXTRAPATRIMONIAIS

CONFIGURADOS. PROIBIÇÃO DA ATIVIDADE

PESQUEIRA. PESCADOR ARTESANAL IMPEDIDO

DE EXERCER SUA ATIVIDADE ECONÔMICA.

APLICABILIDADE, AO CASO, DAS TESES DE

DIREITO FIRMADAS NO RESP 1.114.398/PR

(JULGADO PELO RITO DO ART. 543-C DO CPC).

QUANTUM COMPENSATÓRIO. RAZOÁVEL,

TENDO EM VISTA AS PARTICULARIDADES DO

CASO. 1. No caso, configurou-se a responsabilidade

objetiva da PETROBRAS, convicção formada pelas

instâncias ordinárias com base no acervo fático-

documental constante dos autos, que foram analisados à

luz do disposto no art. 225, § 3º, da Constituição Federal e

no art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/1981. 2. A Segunda Seção

do STJ, no julgamento do REsp 1.114.398/PR, da relatoria

do senhor Ministro Sidnei Beneti, sob o rito do art. 543 -C

do CPC, reconheceu a responsabilidade objetiva da

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PETROBRAS em acidentes semelhantes e

caracterizadores de dano ambiental, responsabilizando-se

o degradador em decorrência do princípio do poluidor-

pagador, não cabendo, demonstrado o nexo de

causalidade, a aplicação de excludente de

responsabilidade. 3. Configura dano moral a privação das

condições de trabalho em consequência de dano ambiental

- fato por si só incontroverso quanto ao prolongado ócio

indesejado imposto pelo acidente, sofrimento, à angústia e

à aflição gerados ao pescador, que se viu impossibilitado

de pescar e imerso em incerteza quanto à viabilidade

futura de sua atividade profissional e manutenção própria

e de sua família. 4. Recurso especial não provido. (REsp

1346430/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,

QUARTA TURMA, julgado em 18/10/2012, DJe

21/11/2012)

Pelo exposto, é evidente a necessidade de garantia de

montante suficiente para que a empresa arque com os severos danos causados em

decorrência do rompimento de uma de suas barragens para extração de minério de ferro

a título de dano moral coletivo para a comunidade colatinense, conforme melhor será

fundamentado abaixo.

III - FUNDAMENTOS JURÍDICOS.

III.1 - Introdução sobre a água e sua importância: a relevância do caso concreto.

A água é fonte de vida, constitui elemento da natureza

fundamental para a sobrevivência da vida em todas as suas formas. Constitui-se

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provavelmente no único recurso natural vinculado a todos os aspectos da civilização

humana, desde o desenvolvimento agrícola e industrial aos valores culturais e religiosos

arraigados na sociedade.

Nessa esteira, é essencial, seja como componente

bioquímico de seres vivos, como meio de vida de várias espécies vegetais e animais,

como elemento representativo de valores sociais e culturais, ou ainda, como fator

preponderante na produção de vários bens de consumo.

Sua importância em todos os aspectos das atividades

humanas é bem conhecida, sobretudo para a “sadia qualidade de vida” (art. 225 da

CF/1988). Conforme o caderno “Água e Saúde”, publicado pela OPAS/OMS em 1998:

A água é o principal veículo de agentes causadores de

doenças do trato gastrintestinal (diarréias, sobretudo),

estando a sua qualidade diretamente relacionada com os

indicadores de morbi-mortalidade infantil. No Brasil, de

acordo com a Organização Mundial de Saúde, 80% das

doenças e 65% das internações hospitalares, implicando

gastos de US$ 2,5 bilhões por ano, relacionam-se com

água contaminada e falta de esgotamento sanitário dos

dejetos. As enfermidades vão desde gastroenterites a

graves doenças que podem ser fatais e apresentar

proporções epidêmicas.

Os principais riscos à saúde estão associados à

contaminação das águas por bactérias, vírus e parasitas

(microbiológica); metais, pesticidas, subprodutos de

desinfeção (química); toxinas produzidas por algas e

outros.

Os riscos de curto prazo resultam da poluição da água

causada por elementos químicos ou microbiológicos e

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seus efeitos podem se manifestar em poucas horas ou em

algumas semanas após a ingestão. Um simples copo

d’água imprópria é suficiente para dar origem a sintomas

cuja severidade depende da vulnerabilidade do indivíduo,

bem como da natureza do agente infeccioso.

O artigo aponta que crianças, mulheres grávidas, idosos,

pessoas debilitadas e indivíduos que sofrem de determinadas doenças, estão na faixa de

risco, qualificando-se como vulneráveis. As doenças de veiculação hídrica são das mais

simples até as mais graves: diarreias, cólera, tracoma, hepatites, conjuntivites,

poliomielite, leptospirose, infecções por rotavírus, escabioses, febre tifóide,

esquistossomose e outras verminoses.

A análise das consequências do contato com águas

contaminadas ganha outra proporção, mais grave certamente, quando analisada à luz da

presença de metais pesados. Nessa linha, CHAVES2reconhece que “a água se

caracteriza como o maior vetor de transporte de metais pesados na litosfera, atuando

nos sólidos presentes nos solos, nas águas superficiais e subterrâneas, podendo

conduzir significantes quantidades de metais tóxicos e proporcionar a interação com

vários ciclos hídricos e processos biogeoquímicos.”

A autora chama a atenção para os efeitos tóxicos desses

metais, ressaltando que treze deles têm sido reconhecidos como potencialmente

perigosos para a vida humana e a biota aquática e foram incluídos nas listas de

poluentes prioritários. Da lista mencionada, foram encontrados na análise das águas

superficiais do Rio Doce: Cromo total, Arsênio total, Chumbo total, Zinco total,

Vanádio e Cobre dissolvido.

Moreira & Moreira, citados por CHAVES, afirmam que

2 CHAVES, Rachele Cristina de Paula. Avaliação do teor de metais pesados na água tratada do município

de Lavras. Lavras: UFLA, 2008, p. 12.

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“o interesse sobre acumulação e toxidade de metais tem crescido nos últimos anos,

como consequência das exposições ocupacionais e ambientais ou dos distúrbios

causados por estes elementos, induzidos por situações especiais de doença como, por

exemplo, a insuficiência renal”.

Especificamente em relação ao chumbo, CHAVES

relaciona a ocorrência de chumbo e sua contaminação em seres humanos a decréscimo

do quociente de inteligência; efeitos sobre o sistema nervoso; déficit nas funções

cognitivas; diminuição das funções sensoriais, nervosas involuntárias e renais e alguns

estudos epidemiológicos apontam, também, a ocorrência de partos prematuros. Quanto

ao cromo, a autora, afirma que na forma hexavalente é tóxico e cancerígeno.

Facilmente perceptível o caráter absolutamente nefasto à

saúde da população e à manutenção do equilíbrio ecológico o contato com águas com

tais níveis de contaminação.

A circunstância residente somente na dúvida em relação

aos efeitos provenientes do contato com águas contaminadas, por si só, já ensejaria a

que medidas fossem tomadas no sentido de evitar qualquer grau de contaminação.

Soma-se a isso, contudo, a ausência de laudos técnicos

conclusivos de todos os parâmetros que estão presentes nas águas contaminadas do Rio

Doce. Os próprios laudos de análises de coleta da qualidade da água fazem referência à

sua condição de análise parcial, fazendo constar a denominação: “Relatório Parcial”. O

motivo desse apontamento consiste em que as análises não contemplam todos os

parâmetros de metais que podem estar presentes na água, inclusive a posterior ao

tratamento, ou seja, a que seria para distribuição da população.

Isso explica a fundada incerteza sobre a qualidade da água

distribuída para a população, o que gera um estado de incerteza que não pode ser

resolvido com a simples decisão de retorno da distribuição para a população, fazendo

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com que a população de Colatina, acostumada a beber naturalmente a agua tratada

passasse a comprar, independente da classe social água potável ou se submeter às filas

para conseguir a agua que está sendo distribuída.

De forma esquemática, enunciamos abaixo os principais

argumentos que justificam a angustia de toda a comunidade Colatinense a respeito do

período crítico de abastecimento e das incertezas futuras, a saber:

(a) os parâmetros fixados normativamente pela

legislação federal (Portaria 2.914/2011) são inaplicáveis à

vista do caráter extraordinário do desastre, ou seja, eventos

como o que se verificou não se orientam por padrões que

consideram situações ordinárias;

(b) há um fundado estado de incerteza e insegurança

sobre a qualidade e a segurança da água distribuída para a

população, o que é agravado pela incerteza quanto à

variabilidade dos parâmetros de qualidade de água e

quanto à dosagem de produtos aplicados nas Estações de

Tratamento (ETAs). Neste cenário, o princípio da

Precaução impõe a não distribuição;

(c) a situação extraordinária, decorrente do evento

narrado, exige a adoção de medidas voltadas à captação de

água por meio de fontes alternativas, de modo a

restabelecer a distribuição de água para a população de

acordo com parâmetros seguros a serem definidos pelos

órgãos técnicos.

III.2 - A insegurança e desconfiança da população colatinense sobre a qualidade da

água.

Primeiramente, cumpre trazer à baila que a desconfiança

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da população acerca da qualidade da água fornecida através da rede de abastecimento

pode ser verificada a partir de um dado objetivo, qual seja, a procura da população pela

água mineral distribuída até o presente momento, cujo fornecimento está ameaçado de

ser interrompido por parte da empresa SAMARCO MINERAÇÃO S.A.

Longas filas são formadas nos pontos de distribuição de

água em diversos locais da cidade. De passagem vale o registro de que hoje são mais de

70 (setenta) pontos fixos de distribuição de água, com o escopo de atender melhor a

população, diminuindo o tempo de espera e, por conseguinte, acalmando os ânimos.

Ainda assim foi possível verificar confrontos com a

Polícia Militar (incumbida da organização dos trabalhos e segurança no local), visto os

ânimos exaltados da população, a partir de um sentimento de revolta com a questão

hídrica na cidade.

IV - DO DANO MORAL DIFUSO E A NECESSIDADE DE SUA REPARAÇÃO

O Direito ambiental deve ser tratado de acordo com suas

peculiaridades. Dentre elas está o caráter irreversível que os danos ambientais podem

assumir. Assim, além da responsabilidade em se reparar danos efetivamente causados,

deve ser considerada a exigência de se evitar a ocorrência de danos.

Impende evidenciar a importância ímpar que a Carta

Republicana de 1988 dispensou à proteção do meio ambiente. Nesse caminho, diz a

Constituição:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do

trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim

assegurar a todos existência digna, conforme os ditames

da justiça social, observados os seguintes princípios:

III - função social da propriedade;

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VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante

tratamento diferenciado conforme o impacto

ambiental dos produtos e serviços e de seus processos

de elaboração e prestação; (grifamos)

Corolariamente, ensina o Ministro Celso de Mello:

“A atividade econômica não pode ser exercida em

desarmonia com os princípios destinados a tornar

efetiva a proteção ao meio ambiente. A incolumidade

do meio ambiente não pode ser comprometida por

interesses empresariais nem ficar dependente de

motivações de índole meramente econômica, ainda

mais se se tiver presente que a atividade econômica,

considerada a disciplina constitucional que a rege, está

subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele

que privilegia a ‘defesa do meio ambiente’ (CF, art. 170,

VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de

meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio

ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente

laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter

legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a

tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem

as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que

provocaria inaceitável comprometimento da saúde,

segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população,

além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio

ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou

natural”. (STF. ADI 3.540-MC, Rel.Min. Celso de Mello,

DJ de 3-2-06).

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Assim, inegavelmente, no caso em tela houve repercussão

nos direitos dos cidadãos no plano difuso, devendo as Requeridas SAMARCO

MINERAÇÃO S.A., VALE S.A. e BHP BILLITON DO BRASIL LTDA serem

obrigadas a reparar os danos extrapatrimoniais causados.

Seguindo o entendimento ministerial, colhe-se da

abalizada jurisprudência:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL.

VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. OMISSÃO

INEXISTENTE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO

AMBIENTAL. CONDENAÇÃO A DANO

EXTRAPATRIMONIAL OU DANO MORAL

COLETIVO. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO IN DUBIO

PRO NATURA. 1. Não há violação do art. 535 do CPC

quando a prestação jurisdicional é dada na medida da

pretensão deduzida, com enfrentamento e resolução das

questões abordadas no recurso. 2. A Segunda Turma

recentemente pronunciou-se no sentido de que, ainda que

de forma reflexa, a degradação ao meio ambiente dá

ensejo ao dano moral coletivo. 3. Haveria contra sensu

jurídico na admissão de ressarcimento por lesão a dano

moral individual sem que se pudesse dar à coletividade o

mesmo tratamento, afinal, se a honra de cada um dos

indivíduos deste mesmo grupo é afetada, os danos são

passíveis de indenização. 4. As normas ambientais

devem atender aos fins sociais a que se destinam, ou

seja, necessária a interpretação e a integração de

acordo com o princípio hermenêutico in dubio pro

natura. Recurso especial improvido. (STJ - REsp:

1367923 RJ 2011/0086453-6, Relator: Ministro

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HUMBERTO MARTINS, Data de Julgamento:

27/08/2013, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de

Publicação: DJe 06/09/2013)

AMBIENTAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL

CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROTEÇÃO E

PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. COMPLEXO

PARQUE DO SABIÁ. OFENSA AO ART. 535, II, DO

CPC NÃO CONFIGURADA. CUMULAÇÃO DE

OBRIGAÇÕES DE FAZER COM INDENIZAÇÃO

PECUNIÁRIA. ART. 3º DA LEI 7.347/1985.

POSSIBILIDADE. DANOS MORAIS COLETIVOS.

CABIMENTO. 1. Não ocorre ofensa ao art. 535 do CPC,

se o Tribunal de origem decide, fundamentadamente, as

questões essenciais ao julgamento da lide. 2. Segundo a

jurisprudência do STJ, a logicidade hermenêutica do art.

3º da Lei 7.347/1985 permite a cumulação das

condenações em obrigações de fazer ou não fazer e

indenização pecuniária em sede de ação civil pública, a

fim de possibilitar a concreta e cabal reparação do dano

ambiental pretérito, já consumado. Microssistema de

tutela coletiva. 3. O dano ao meio ambiente, por ser

bem público, gera repercussão geral, impondo

conscientização coletiva à sua reparação, a fim de

resguardar o direito das futuras gerações a um meio

ambiente ecologicamente equilibrado. 4. O dano moral

coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do

grupo massificado, sendo desnecessária a

demonstração de que a coletividade sinta a dor, a

repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo

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isolado. 5. Recurso especial provido, para reconhecer, em

tese, a possibilidade de cumulação de indenização

pecuniária com as obrigações de fazer, bem como a

condenação em danos morais coletivos, com a devolução

dos autos ao Tribunal de origem para que verifique se, no

caso, há dano indenizável e fixação do eventual quantum

debeatur.(STJ - REsp: 1269494 MG 2011/0124011-9,

Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de

Julgamento: 24/09/2013, T2 - SEGUNDA TURMA, Data

de Publicação: DJe 01/10/2013)

Por sua vez, a Constituição Federal de 1988, instituiu o

meio ambiente como bem de uso comum do povo:

Art. 225: “Todos têm o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem do uso comum do povo

e essencial à qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-

lo para as presentes e futuras gerações”. (grifamos)

Temos ainda que o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado caracteriza-se como típico direito humano fundamental

de terceira geração, de acordo com a conceituação formulada pelo pensador italiano

Norberto Bobbio (em sua clássica obra “A Era dos Direitos”).

Adotando esta lição, calha reproduzir um interessante

julgado do STF, redigido nos seguintes termos:

O direito à integridade do meio ambiente — típico

direito de terceira geração— constitui prerrogativa

jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do

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processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão

significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo

identificado em sua singularidade, mas, num sentido

verdadeiramente mais abrangente, à própria coletividade

social. Enquanto os direitos de primeira geração (direitos

civis e políticos) — que compreendem as liberdades

clássicas, negativas ou formais — realçam o princípio da

liberdade e os direitos de segunda geração (direitos

econômicos, sociais e culturais) — que se identificam com

as liberdades positivas, reais ou concretas — acentuam o

princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que

materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos

genericamente a todas as formações sociais, consagram o

princípio da solidariedade e constituem um momento

importante no processo de desenvolvimento, expansão e

reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados,

enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de

uma essencial inexauribilidade. (STF. MS 22.164, Rel.

Min. Celso de Mello, DJde17/11/95). (grifamos)

De forma correlata, a Lei nº 6.938/81, em seu artigo 14, §

1º, assim dispõe:

“Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste

artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da

existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos

causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por

sua atividade. O Ministério Público da União e dos

Estados terá legitimidade para propor ação de

responsabilidade civil e criminal, por danos causados

ao meio ambiente.” (grifamos).

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Outrossim, a legislação pátria preocupada com os casos de

dano moral previu a sua reparação até no plano constitucional conforme preceitua o art.

5º, X, da Carta Magna:

“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra a

imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização

decorrente de sua violação”;(grifamos)

Dessa forma, a ação civil pública tornou-se um poderoso

instrumento de alçada constitucional apto a ser utilizado pelo Parquet na busca da

proteção irrestrita de todo interesse de natureza transindividual, inclusive os de caráter

moral.

Frise-se que a possibilidade jurídica do pedido de

indenização por dano moral coletivo decorre de expressos dispositivos legais (art. 1º,

caput, inciso I, da Lei 7347/85 e art. 6º, incisos VI e VII, da Lei 8078/90), assim

redigidos:

Art. 1º da Lei 7347/85: Regem-se pelas disposições desta

Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de

responsabilidade por danos morais e patrimoniais

causados:

I – ao meio ambiente;

Art. 6º da Lei 8078/90. São direitos básicos do

consumidor: (...)

VI – a efetiva proteção e reparação de danos patrimoniais

e morais, individuais, coletivos e difusos; (...)

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VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos,

com vistas à prevenção ou reparação de danos

patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (...).

Portanto, não se há de duvidar, enfim, que nos tempos

atuais o reconhecimento e a efetiva reparação dos danos morais coletivos – na medida

em que sanciona o ofensor (desestimulando novas lesões) e compensa os efeitos

negativos decorrentes do desrespeito aos bens mais elevados do agrupamento social –

constitui uma das formas de alicerçar o ideal de um Estado Constitucional e

Democrático de Direito.

Insta enfatizar, de igual modo, os ensinamentos dos

modernos civilistas Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, os quais,

advogando a tese dos danos morais coletivos, observam que:

A evolução da sociedade, com a formação de uma

consciência de cidadania, leva ao reconhecimento de que a

tutela meramente individual não é suficiente para

combater as macrolesões passíveis de ocorrência. Há, por

isso, uma gama de danos coletivos lato sensu que precisa

ser tutelada através de um procedimento especial – a ação

coletiva – mais adequado à sua natureza.

Continuando o raciocínio, disparam os cultos magistrados

baianos:

(...) a lei da Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85), com as

modificações impostas pela Lei n. 8.884/94, estabeleceu

expressamente a possibilidade de reparação por danos

morais a direitos difusos (...).

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Os interesses difusos foram definidos pelo Professor

Kazuo Watanabe, da seguinte forma:

“Nos interesses ou direitos difusos, a sua natureza

indivisível e a inexistência de relação jurídica-base não

possibilitam, como já ficou visto, a determinação dos

titulares. É claro que, num plano mais geral do fenômeno

jurídico ou análise, é sempre possível encontrar-se um

vínculo que une as pessoas, como a nacionalidade. Mas, a

relação jurídica-base que nos interessa, na fixação dos

conceitos em estudo, é aquela da qual é derivado o

interesse tutelando, portanto interesse que guarda relação

mais imediata e próxima com a lesão ou ameaça de lesão.

[...] No campo da relação de consumo, podem ser

figurados os seguintes exemplos de interesses direitos

difusos: a) publicidade enganosa ou abusiva, veiculada por

meio da imprensa falada, escrita ou televisionada afeta

uma multidão incalculável de pessoas, sem que entre elas

exista uma relação-base. O bem jurídico tutelado pelo

artigo 37 e seus parágrafos é indivisível no sentido que

basta uma única ofensa para que todos os consumidores

sejam atingidos, e, também, no sentido de que a satisfação

de um deles, pela cessação da publicidade ilegal, beneficia

contemporaneamente todos eles. As pessoas legitimadas a

agir, nos termos do art. 82, poderão postular em juízo o

provimento adequado à tutela dos interesses ou direitos

difusos da coletividade atingida pela publicidade enganosa

ou abusiva; b) colocação no mercado de produtos com alto

grau de nocividade ou periculosidade à saúde, ou

segurança dos consumidores, o que é vedado pelo art. 10

do Código. O ato do fornecedor atinge a todos os

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consumidores potenciais do produto, que são em número

incalculável e não vinculados entre si por qualquer

relação-base. Da mesma forma que no exemplo anterior, o

bem jurídico tutelado é indivisível, pois uma única ofensa

é suficiente para a lesão de todos os consumidores, e

igualmente a satisfação de um deles, pela retirada do

produto no mercado, beneficia ao mesmo tempo a todos

eles3".

O dano moral difuso assenta-se, exatamente, na agressão a

bens e valores jurídicos que são inerentes a toda a coletividade, de forma indivisível.

O jurisconsulto André de Carvalho Ramos, discorrendo

sobre dano moral coletivo, assentou4:

“Devemos considerar que tratamento aos chamados

interesses difusos e coletivos origina-se justamente da

importância destes interesses e da necessidade de uma

efetiva tutela jurídica. Ora, tal importância somente

reforça a necessidade de aceitação do dano moral coletivo,

já que a dor psíquica que alicerçou a teoria do dano moral

individual acaba cedendo lugar, no caso de dano moral

coletivo, a um sentimento de desapreço e de perda de

valores essenciais que afetam negativamente toda uma

coletividade. Imagine-se o dano moral gerado pela

propaganda enganosa ou abusiva. O consumidor potencial

sente-se lesionado e vê aumentar seu sentimento de

3Ob. Cit. p. 802 e p. 803. 4Revista de Dire i to do Consumidor nº 25. Edi tora RT. p . 82 .

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desconfiança na proteção legal do consumidor, bem como

seu sentimento de cidadania”.

Não se pode conceber que numa sociedade democrática,

onde se espera e se luta pelo aperfeiçoamento dos mecanismos que venham a garantir ao

cidadão o pleno exercício dos atributos da cidadania, inclusive com a efetiva reparação

dos danos ambientais causados, tenha lugar a preponderância dos interesses de uma

grande empresa ( SAMARCO MINERAÇÃO S.A., VALE S.A. e BHP BILLITON DO

BRASIL LTDA) em detrimento do bem-estar dos indivíduos, submetendo toda uma

comunidade a práticas inaceitáveis, como as que foram narradas nesta inicial e

vivenciadas ainda por toda a população.

Estudo da Doutora Liliane Garcia Ferreira5 traz as

seguintes lições:

[...]

Acompanhando a evolução do direito, em especial no

aspecto da tutela dos interesses difusos e coletivos, a

doutrina mais moderna vem ampliando a possibilidade de

reparação do dano moral, de forma que venha a alcançar

não apenas o dano extrapatrimonial individual, como

também o coletivo, uma vez que pode abranger, além da

ofensa à honra, à vida, à liberdade de um indivíduo,

qualquer ofensa à coletividade, genericamente

considerada, "que tem um interesse comum de natureza

transindividual agredido".

O Prof. Rubens Limongi França, citado por Sérgio Severo,

em sua obra "Os danos extrapatrimoniais", ao conceituar o

dano moral, já o definia como "aquele que, direta ou

indiretamente, a pessoa, física ou jurídica, bem assim a

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coletividade, sofre no aspecto não econômico de seus bens

jurídicos".

Carlos Alberto Bittar Filho disciplina que dano moral

coletivo "é a injusta lesão da esfera moral de uma dada

comunidade, ou seja, é a violação antijurídica de um

determinado círculo de valores coletivos", citando como

exemplo de dano moral coletivo o dano ambiental, o qual

consiste "na lesão ao equilíbrio ecológico, à qualidade de

vida e à saúde da coletividade".

Marco Antonio Marcondes Pereira, por sua vez, conceitua

o dano moral coletivo como "o resultado de toda ação ou

omissão lesiva significante, praticada por qualquer

pessoa contra o patrimônio da coletividade, considerada

esta as gerações presentes e futuras, que suportam um

sentimento de repulsa por um fato danoso irreversível, de

difícil reparação, ou de consequências históricas".

Aliás, a reparação do dano moral coletivo, de há muito,

encontra respaldo na legislação brasileira.

A Lei Federal 6.938/81, ao dispor em seu art. 2º, Inc. I,

que o meio ambiente é "patrimônio público a ser

necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o

uso coletivo", já assegurava a proteção a esse interesse

difuso, inclusive a reparação de eventuais danos a ele

causados, impondo penalidades administrativas, a par da

obrigação de reparação dos danos, conforme o disposto

em seus arts. 4º, Incs. VI e VII; 9º, Inc. IX; e 14, § 1º.

E mencionada norma foi recepcionada pela Constituição

Federal que, conforme já mencionado no tópico nº. 2,

pacificou a questão do direito à indenização por dano

moral, elevando-o à categoria de garantia fundamental,

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não se podendo olvidar, jamais, o caráter exemplificativo

das hipóteses previstas nos dispositivos constitucionais,

que não têm o condão de tornar exclusiva a reparação dos

danos morais individuais.

Ora, conforme o disposto em seu art. 5º, § 2º, os direitos e

garantias expressos na Constituição "não excluem outros

decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados,

ou dos tratados internacionais em que a República

Federativa do Brasil seja parte".

Da mesma forma, o Código de Defesa do Consumidor, em

seu art. 6º, Incs. VI e VII, de maneira expressa, prevê o

dano extrapatrimonial tanto na hipótese de violação de

direitos individuais, quanto coletivos e difusos.

Afinal, conforme bem menciona André de Carvalho

Ramos, diante da importância dos interesses difusos e

coletivos, estes necessitam de uma efetiva tutela jurídica:

"Ora, tal importância somente reforça a necessidade de

aceitação do dano moral coletivo, já que a dor psíquica

que alicerçou a teoria do dano moral individual acaba

cedendo lugar, no caso do dano moral coletivo, a um

sentimento de desapreço e de perda de valores essenciais

que afetam negativamente toda uma coletividade".

Induvidoso, conforme adverte o mesmo autor, que a

"coletividade, apesar de ente despersonalizado, possui

valores morais e um patrimônio ideal que merece

proteção", devendo a lesão a esse patrimônio imaterial

coletivo ser reparada, também, coletivamente.

O comportamento das empresas rés (SAMARCO

MINERAÇÃO, VALE e BHP BILLITON) é reprovável merecendo ser penalizada por

seus atos, de modo a reparar os danos causados à população colatinense, que se viu

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diante da incerteza quanto ao abastecimento de água em suas residências e

posteriormente em relação a sua qualidade, bem como que se deparou com um cenário

dantesco no fornecimento de água mineral, enfrentando filas intermináveis e sem

qualquer organização ou planejamento para que ocorresse sem quaisquer percalços.

Sem contar que até a data de hoje, transcorridos mais de dois meses do crime ambiental,

a massa de rejeitos que estava contida na barragem que se rompeu se encontra difusa

por mais de 700 KM de leito de rio sem que um projeto sério tenha sido apresentado de

minimização de impactos.

Importa declinar, de outra parte, que décadas serão

necessárias para que não só o Rio Doce e toda a fauna e flora em seu entorno se

recuperem, mas também para que os trabalhadores que dali retiravam seus proventos

voltem a ter seu sustendo e de suas famílias garantido de forma digna.

Um desastre de tal porte refletirá por anos na economia da

cidade, bem como na saúde dos habitantes, que conviverá com a incerteza dos danos às

gerações futuras e, sobretudo, a perda de confiança em ingerir agua do manancial que é

a única fonte de abastecimento humano do município de Colatina.

A população de Colatina encontra-se hoje humilhada,

entristecida, abalada, indignada e desamparada. Não se trata apenas da poluição de um

rio qualquer, mas sim do “assassinato” do Rio que abastece diversas cidades, que irriga

as plantações, que move a economia local, e que até então garantia um direito básico

inerente a qualquer comunidade com adequado desenvolvimento: o de ter água potável

disponível em suas residências.

Desta feita, mostra-se cristalino o cabimento do dano

moral coletivo no caso concreto aqui narrado. Corroborando com o entendimento deste

Órgão Ministerial é a jurisprudência:

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RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA

PROPOSTA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO.

PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE

EMBUTIDOS SUÍNOS EM CONDIÇÕES DE HIGIENE

INADEQUADAS E SEM LICENCIAMENTO

SANITÁRIO OU AMBIENTAL. ALEGADA OFENSA

À SAÚDE PÚBLICA E AOS DIREITOS BÁSICOS DO

CONSUMIDOR PELA COLOCAÇÃO NO MERCADO

DE PRODUTO IMPRÓPRIO PARA O CONSUMO.

DANO EXTRAPATRIMONIAL COLETIVO PURO

NÃO CONFIGURADO. PRÁTICA ARTESANAL DE

BAIXO ALCANCE NO MERCADO, RESTRITA A

PEQUENA LOCALIDADE. IMPACTO DE MÍNIMAS

PROPORÇÕES. PRINCÍPIO DA TOLERÂNCIA.

EXERCÍCIO DE UM JUÍZO DE RAZOABILIDADE E

PRUDÊNCIA. Para configuração do dano moral

coletivo é necessário haver, além de conduta

antijurídica, ofensa grave e intolerável a valores e

interesses morais de uma dada comunidade, dano que

é perceptível a partir da sensação de perda de estima,

de indignação, de repulsa, de humilhação ou de outro

sentimento que ofenda a dignidade humana. Hipótese

de colocação no mercado de produto impróprio par o

consumo que, num juízo de razoabilidade e de prudência,

não comporta a condenação em danos extrapatrimoniais

da espécie difusa, porquanto não vislumbra no caso a

grave violação do sentimento coletivo da comunidade

local. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível nº.

70035339431, Décima Câmara Cível do TJRS, Rel. Des.

Túlio de Oliveira Martins, DJ em 16\12\2010)

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Ao conceituar o dano em questão, Nehemia Domingos de

Melo6, esclarece:

“Dano moral na moderna doutrina é toda agressão injusta

àqueles bens imateriais, tanto de pessoa física quanto

jurídica, insusceptível de quantificação pecuniária, porém

indenizável com tríplice finalidade: satisfativo para a

vítima, dissuasório para o ofensor e de exemplaridade

para a sociedade”. (grifamos)

Portanto, o valor a ser arbitrado, a título de danos morais,

deve situar-se em patamar que represente inibição à prática de outros atos antijurídicos e

imorais por parte das empresas demandadas. É imperioso que a Justiça dê ao infrator

resposta eficaz ao ilícito praticado, sob pena de se chancelar e se estimular o

comportamento infringente.

Sob esta égide, a jurisprudência pátria:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. (...) DANOS MORAIS

COLETIVOS. (...) A ocorrência de danos morais

coletivos é matéria relativamente nova na

jurisprudência. Doutrinariamente, o dano moral é

conceituado como o prejuízo de caráter intrínseco ao

íntimo do ofendido, isto é, ligado à esfera da

personalidade. A coletividade, por óbvio, é

desprovida desse conteúdo próprio da personalidade.

Entretanto, não pode permanecer desamparada

6Melo,Nehemias Domingos de. Dano moral coletivo nas ralações de consumo. Internet, Jus Navegandi nº

380, de 22/7/2004.

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diante de atos que atentam aos princípios éticos

da sociedade. Costuma-se dizer que o dano moral

tem dupla função: reparar o dano sofrido pela

vítima e punir o ofensor. O denominado "dano

moral coletivo" busca, justamente, valorar a

segunda vertente, mas sob um prisma diferente.

Mais do que punir o ofensor, confere um caráter

de exemplaridade para a sociedade, de acordo

com a importância que o princípio da moralidade

administrativa adotou hodiernamente. Dessa

forma, o dano moral coletivo tem lugar nas hipóteses

onde exista um ato ilícito que, tomado

individualmente, tem pouca relevância para cada

pessoa; mas, frente à coletividade, assume

proporções que afrontam o senso comum. É o que se

verifica no caso dos autos. Por natureza, trata-se de

um ilícito contratual, cujos efeitos atingiram a

comunidade local. Mensurado individualmente, não

daria ensejo à indenização pela pouca importância na

esfera de cada cidadão. Contudo, na sua

generalidade, leva à sua reparação aos olhos da

sociedade. Mantido o quantum indenizatório fixado

na sentença (R$ 50.000,00), já que adotou como

critério a capacidade econômica da ré, estando de

acordo com o intuito de exemplaridade e

reparabilidade. Apelação parcialmente provida para

que para que a Brasil Telecom promova a reabertura

dos postos de atendimento que foram extintos (TRF

da 4ª Região. 3ª Turma. Apelação Cível nº

2002.70.02.003164-5/PR. DJU 27.09.2006).

(grifamos)

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A respeito desse tópico, vale trazer à colação os

apontamentos de Carlos Alberto Bittar7:

Com efeito, a reparação de danos morais exerce função

diversa daquela dos danos materiais. Enquanto estes se

voltam para recomposição do patrimônio ofendido, através

da aplicação da fórmula danos emergentes e lucros

cessantes, aqueles procuram oferecer compensação ao

lesado, para atenuação do sofrimento havido. De outra

parte, quanto ao lesante, objetiva a reparação impingir-lhe

sanção, a fim de que não volte a praticar atos lesivos à

personalidade de outrem. É que interessa ao direito e à

sociedade que o relacionamento entre os entes que

contracenam no orbe jurídico se mantenha dentro dos

padrões normais de equilíbrio e respeito mútuo. Assim, em

hipóteses de lesionamento, cabe ao agente suportar as

consequências de sua atuação, desestimulando-se, com

a atribuição de pesadas indenizações, atos ilícitos

tendentes a afetar os referidos aspectos da

personalidade humana. [...] Essa diretriz vem, de há

muito tempo, sendo adotada na jurisprudência norte

americana, em que cifras vultosas têm sido impostas aos

infratores, como indutoras de comportamentos adequados,

sob os prismas moral e jurídico, nas interações sociais e

jurídicas. [...] Nesse sentido é que a tendência

manifestada, a propósito pela jurisprudência pátria,

fixação de valor de desestímulo como fator de inibição

7Reparação Civil por Danos Morais: Tendências Atua is — Revista de Direi to Civi l nº

74 —RT—pag.15.

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a novas práticas lesivas. Trata-se, portanto, de valor que,

sentido no patrimônio do lesante, o possa conscientizar-

se de que não deve persistir na conduta reprimida, ou

então, deve afastar-se da vereda indevida por ele

assumida, a outra parte, deixa-se para a coletividade,

exemplo expressivo da reação que a ordem jurídica

reserva para infratores nesse campo, e em elemento que,

em nosso tempo, se tem mostrado muito sensível para as

pessoas, ou seja, o respectivo acervo patrimonial.

Considerando o exposto, comungamos do entendimento

que a indenização por danos morais deve ser proporcional à população Colatinense, que

gira em torno de 122.646 (cento e vinte e dois mil seiscentos e quarenta e seis)

habitantes, conforme informações do site do IBGE.

Considerando uma indenização de no mínimo R$

10.000,00 (dez mil reais) por habitante, o que aqui se indica como valor mínimo tendo

em vista o fator arbitramento judicial da indenização, os colatinenses, vítimas reais do

desastre ambiental aqui narrado, chega-se a um valor a ser razoavelmente arbitrado,

revertendo-se para ao Fundo Municipal dos Direitos Difusos, previsto no art. 13 da

LACP, com o objetivo de fomentar políticas protetivas ao meio ambiente.

O valor proposto é para que se tenha a exata reprovação

dos atos praticados pelas empresas SAMARCO MINERAÇÃO, VALE e BHP

BILLITON DO BRASIL, desestimulando-aS a reiterar em sua conduta lesiva, fazendo

com que a reparação do dano surta seus efeitos sancionatórios, compensatórios e

pedagógicos.

V - DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Embora se trate de uma poderosa empresa do ramo da

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mineração, há um risco considerável de que a SAMARCO MINERAÇÃO S/A não

consiga arcar, no tempo adequado, com a reparação dos vultuosos danos decorrentes de

suas atividades.

Deve-se destacar que a mitigação e a reparação de danos

ambientais são medidas que reclamam, não raras vezes, considerável celeridade. Assim,

há de se ter em vista a possibilidade de que a empresa não suporte, no momento que

atenda ao melhor interesse ambiental, o custeio de medidas mitigadoras e reparatórias.

Partindo-se do que já foi amplamente divulgado, tem-se

que a SAMARCO MINERAÇÃO assinou um termo de compromisso ambiental com o

Ministério Público de Minas Gerais e o Ministério Público Federal em Minas Gerais,

comprometendo-se a destinar 1 bilhão de reais a um fundo de reparação dos danos

ocorridos em terras mineiras8. Ademais, já se tem o notícia de que a multa aplicada pelo

IBAMA alcança o montante de apenas 250 milhões de reais9. Além disso, a Justiça

Estadual em Mariana/MG já realizou o bloqueio de 300 milhões de reais, para a

reparação dos danos sofridos naquele Município10. Ainda, a Justiça Mineira, em

Governador Valadares, determinou que a SAMARCO adotasse medidas extremamente

onerosas, a fim de mitigar os danos que atingiram a região11. Em seu sítio eletrônico12, a

SAMARCO vem divulgando diversas ações desenvolvidas na região das barragens

desde o dia do acidente, o que certamente exige considerável dispêndio de recursos. Por

fim, a SAMARCO divulgou que está adotando providências para a reparação das duas

barragens que nas barragens de Germano e Santarém, que estão sob risco de

rompimento, o que também demanda a realização de despesas13.

Por outro lado, foi determinada a paralisação das

8http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/11/samarco-assina-termo-com-mp-para-pagamento-de-

r-1-bilhao.html 9http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2015/11/valor-das-multas-por-rompimento-de-barragens-ja-

chegou-r-250-milhoes.html 10http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/11/justica-determina-bloqueio-de-r-300-milhoes-na-

conta-da-samarco.html 11http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2015/11/11/justica-determina-que-samarco-

assuma-custos-de-abastecimento-de-cidade-de-mg.htm 12http://www.samarco.com/ 13http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/11/samarco-admite-risco-de-rompimento-nas-barragens-

santarem-e-germano.html

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atividades da mineradora em Minas Gerais14, o que agrava a situação econômica da

empresa. Ou seja, diante de um repentino e vultuoso aumento de despesas, a empresa

perdeu receitas. Esse contexto levou a SAMARCO a ser rebaixada pela agência de

classificação de riscos de investimento Moody's15.

Conforme o “Relatório da Administração e

Demonstrações Financeiras” 16 publicado pela SAMARCO S/A, o lucro líquido da

empresa em 2013 e 2014 foi de aproximadamente 5,7 bilhões de reais. A despeito

disso, em 1º de janeiro de 2013 o patrimônio líquido da empresa estava em 3,27 bilhões

de reais, já em 31 de dezembro de 2014, estava em 4,3 bilhões de reais, ou seja, a

evolução patrimonial da empresa foi bastante pequena, uma vez que parcela

relevantíssima dos lucros se destinou à distribuição dos dividendos.

Entretanto em anos anteriores quando a tonelada do

minério chegou ao pico de U$ 200,00 dólares a tonelada as empresas mineradoras

tinham apenas o céu como limite experimentando lucros antes jamais vistos no mercado

mundial tendo a Europa e Asia como principais compradoras de minério de ferro.

A SAMARCO S/A é composta por duas acionistas, com

iguais participações, sendo elas a VALE S/A e a BHP BILLITON BRASIL LTDA.

Diante da possibilidade de insolvência da SAMARCO,

medida que se impõe é a inclusão da VALE S/A e da BHP BILLITON no polo passivo

de qualquer demanda cujos efeitos a elas possam se estender. Cuida-se do fenômeno da

desconsideração da personalidade jurídica do poluidor insolvente, para atingir seus

sócios em suas esferas patrimoniais e garantir, deste modo, a integral reparação dos

danos causados pela a atividade poluidora.

14http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/11/secretaria-embargou-atividades-da-samarco-em-

mariana-apos.html 15http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2015/11/moodys-tira-grau-de-investimento-da-

samarco.html 16http://www1.samarco.com/uploads/1qoyv9x1.pdf

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A Vale, por sua vez, apresentou, ao fim de 2014, um lucro

líquido anual da ordem de 353 milhões de dólares, mais de 1,3 bilhões de reais e possui

um patrimônio líquido muito superior à sua controlada: mais de 55 bilhões de dólares,

200 bilhões de reais (cotação a R$ 3,70).

A Vale também fez provisionamento, para o ano de 2014,

de US$ 118 milhões para litígios cíveis e US$ 92 milhões para litígios ambientais, mas

cientes de que os valores poderiam extrapolar em muito.

Percebe-se claramente, assim como a Samarco, a Vale é

ciente de que suas atividades possuem grande risco de impacto, especialmente ao meio

ambiente, entretanto, ambas, fizeram praticamente nenhum provisionamento para

sinistros dessa natureza e distribuíra quase que integralmente os lucros auferidos aos

seus sócios/acionistas.

A bem da verdade, fora o fato de ser controladora da

Samarco, a Vale também é responsável diretamente por parte dos rejeitos depositados

na represa de Fundão, como dá notícia a imprensa e os laudos técnicos que serão

juntados no curso da demanda.

Por sua vez, a BHP Billiton Brasil, em que pese possuir

capital social aproximado de apenas R$ 195 milhões, apresenta lucros superiores a R$

1,6 bilhões, dados obtidos em sítios eletrônicos.

Cumpre destacar que seu resultado não é exclusivo da

receita oriunda da Samarco, uma vez que possui diversas participações em outras

sociedades empresárias:

PONTA UBU AGROPECUARIA LTDA (CNPJ

35.959.576/0001-65) - SOCIO com 49,00 de participação

na empresa;

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MINERACAO SAVANA LTDA (CNPJ

29.520.855/0001-25) - SOCIO com 98,00 de participação

na empresa;

ARAGUAIA PARTICIPACOES LTDA (CNPJ

04.687.051/0001-94) - SOCIO com 99,00 de participação

na empresa;

BHP BILLITON EMPREENDIMENTOS MINERAIS

LTDA. (CNPJ 42.416.875/0001-19) - SOCIO-

ADMINISTRADOR com 0,01 de participação na

empresa;

EMPRESA DE MINERACAO SEARA LTDA (CNPJ

06.927.083/0001-45) - SOCIO com 1,00 de participação

na empresa;

BHP INTERNACIONAL PARTICIPACOES LTDA.

(CNPJ 30.034.862/0001-04) - SOCIO com 0,02 de

participação na empresa;

WMC MINERACAO LTDA (CNPJ 45.040.128/0001-17)

- SOCIO com 0,01 de participação na empresa; e,

JENIPAPO RECURSOS NATURAIS LTDA. (CNPJ

31.975.014/0001-54) - SOCIO com 0,01 de participação

na empresa.

O gráfico abaixo representa a complexidade das operações

nacionais e internacionais da BHP Billiton Brasil:

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Ademais, com efeito, em sede de responsabilidade civil por danos

ambientais a desconsideração da personalidade jurídica se pauta pela teoria menor, ou

seja, prescinde-se da ocorrência de abuso da personalidade ou confusão patrimonial. É o

que preconiza o art. 4º da Lei 9.605/98, nos seguintes termos: “Poderá ser

desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao

ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.”

No mesmo sentido é o entendimento do Superior Tribunal

de Justiça:

Responsabilidade civil e Direito do consumidor. Recurso

especial. Shopping Center de Osasco-SP. Explosão.

Consumidores. Danos materiais e morais. Ministério

Público. Legitimidade ativa. Pessoa jurídica.

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Desconsideração. Teoria maior e teoria menor. Limite de

responsabilização dos sócios. Código de Defesa do

Consumidor. Requisitos. Obstáculo ao ressarcimento de

prejuízos causados aos consumidores. Art. 28, § 5º. -

Considerada a proteção do consumidor um dos pilares da

ordem econômica, e incumbindo ao Ministério Público a

defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos

interesses sociais e individuais indisponíveis, possui o

Órgão Ministerial legitimidade para atuar em defesa de

interesses individuais homogêneos de consumidores,

decorrentes de origem comum. - A teoria maior da

desconsideração, regra geral no sistema jurídico brasileiro,

não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a

pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas

obrigações. Exige-se, aqui, para além da prova de

insolvência, ou a demonstração de desvio de finalidade

(teoria subjetiva da desconsideração), ou a demonstração

de confusão patrimonial (teoria objetiva da

desconsideração). - A teoria menor da desconsideração,

acolhida em nosso ordenamento jurídico

excepcionalmente no Direito do Consumidor e no

Direito Ambiental, incide com a mera prova de

insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de

suas obrigações, independentemente da existência de

desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. - Para

a teoria menor, o risco empresarial normal às

atividades econômicas não pode ser suportado pelo

terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas pelos

sócios e/ou administradores desta, ainda que estes

demonstrem conduta administrativa proba, isto é,

mesmo que não exista qualquer prova capaz de

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identificar conduta culposa ou dolosa por parte dos

sócios e/ou administradores da pessoa jurídica. - A

aplicação da teoria menor da desconsideração às relações

de consumo está calcada na exegese autônoma do § 5º do

art. 28, do CDC, porquanto a incidência desse dispositivo

não se subordina à demonstração dos requisitos previstos

no caput do artigo indicado, mas apenas à prova de causar,

a mera existência da pessoa jurídica, obstáculo ao

ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. -

Recursos especiais não conhecidos. (STJ - REsp: 279273

SP 2000/0097184-7, Relator: Ministro ARI

PARGENDLER, Data de Julgamento: 04/12/2003, T3 -

TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 29/03/2004

p. 230RDR vol. 29 p. 356)

Embora a SAMARCO, responsável direta pelos danos,

ainda não esteja insolvente, há fortes evidências de que possa ocorrer tal fato. Neste

sentido, as medidas ora pleiteadas devem alcançar as acionistas VALE e BHP, de modo

a permitir que, com a maior celeridade, sejam adotadas providências que assegurem a

reparação dos danos.

É dizer, a quebra de sigilo fiscal poderia ser requerida

somente contra a SAMARCO, reservando a medida, em relação à VALE e à BHP

BILLITON, para momento posterior, quando efetivamente fosse confirmada a

fragilidade patrimonial da responsável direta pelos danos. Contudo, em vista do melhor

interesse ambiental, bem como da necessidade de se resguardar, com máxima

celeridade, patrimônio suficiente para a adoção das medidas necessárias, mostra-se

por demais adequado promover, desde já, a quebra do sigilo fiscal da SAMARCO, da

VALE e da BHP BILLITON, para a identificação de bens que possam garantir os

recursos necessários.

E nem se diga que a desconsideração da personalidade

jurídica é matéria a ser enfrentada após o processo de conhecimento. Doutrina e

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jurisprudência brasileiras vêm mantendo acirrados debates sobre o momento adequado

para a desconsideração da personalidade jurídica, havendo quem diga que deverá

ocorrer na fase de conhecimento e quem diga que deverá ocorrer na fase de execução.

Fato é que a grande celeuma gira em torno da necessidade

de se garantir a ampla participação na formação do convencimento judicial e da coisa

julgada àqueles possíveis atingidos pelos efeitos da decisão proferida no processo de

conhecimento, oportunizando a impugnação de todas as matérias de fato e direito

discutidas, para que só assim possam ser compelidos a, eventualmente, satisfazer

obrigação que originariamente seria da pessoa jurídica. Cuida-se da observância do

binômio contraditório e ampla defesa, pedra de toque do sistema de direitos e garantias

processuais.

Da mesma preocupação não fugiu o legislador ao tratar do

tema no Novo Código de Processo Civil, onde inseriu a necessidade de instauração de

um incidente para que fosse desconsiderada a personalidade jurídica da pessoa jurídica,

exceto se os atingidos integrarem a relação processual desde o processo de

conhecimento.

O tema ganha ainda novos contornos no presente caso, em

que há urgência de mitigação de impactos ambientais e necessidade de reparação com

máxima celeridade, tendo em vista os inúmeros prejuízos, diretos e indiretos, causados

pela degradação ambiental. É que no curso do processo de conhecimento, ou até mesmo

antes dele, certamente mostrar-se-ão (como, aliás, já se mostraram) necessárias medidas

urgentes, que demandarão o imediato aporte de recursos. Neste cenário, é

imprescindível que haja no polo passivo, a todo tempo, pessoas que garantam a plena

consecução das providências que se mostrarem adequadas.

Por esta razão, todas as empresas integrarão eventual

demanda em conjunto, em medida que se alinha ao princípio ambiental da

precaução, corolário do princípio in dubio pro natura, já que não se sabe se a

SAMARCO terá patrimônio para suportar, e é bem provável que não, a reparação dos

prejuízos, no tempo e na forma que se mostrarem mais adequados. E, também pela

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mesma razão, desde já é indispensável que se conheça o patrimônio das requeridas, já

que eventualmente, e em qualquer momento do processo de conhecimento ou até

mesmo cautelarmente, poderão ser compelidas a garantir ou aplicar os valores

necessários.

Em síntese, importa desde já conhecer o patrimônio de

todas as requeridas, e não só da SAMARCO MINERAÇÃO S.A., vez que

eventualmente esta poderá não dispor de recursos suficientes para adotar medidas

para as quais for demanda, na forma e no tempo em que se mostrarem adequadas.

Ademais, a quebra de sigilo fiscal e bancário não

atingirá a esfera patrimonial de qualquer das empresas, mas tão somente tornará

clara a situação econômica daqueles que, a princípio, deverão custear as medidas

mitigatórias e reparatórias.

Ressalte-se que nada impede que, diante da insolvência

também da VALE e da BHP, a personalidade jurídica destas seja também

desconsiderada, seja diretamente, para alcançar seus sócios, seja indiretamente, para

alcançar outras pessoas jurídicas por elas controladas. Todavia, tal hipótese não é, por

ora, sequer aventada, dada a conhecida condição econômica de tais empresas. Deste

modo, o pedido, neste momento se limitará às oras requeridas, por guardarem maior

proximidade com os fatos.

Por tudo o que foi necessário, imprescindível o

rastreamento patrimonial das requeridas para fins de aferir:

a) o patrimônio da mineradora, para adoção de medidas

que assegurem o resultado prático de futura demanda, a ser ajuizada tão logo seja

razoavelmente compreendida a extensão dos danos;

b) o patrimônio das acionistas, VALE e BHP BILLITON,

ante a considerável possibilidade de que estas venham a responder com seus

patrimônios, se realmente confirmada a insolvência da SAMARCO.

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Não resta dúvida que no caso concreto a necessidade da

medida invasiva prepondera, sob pena de se inviabilizar a pretensão punitiva estatal.17

O art. 198, §1º, I, do Código Tributário Nacional, ao tratar

do sigilo fiscal, não exclui a possibilidade de que as informações por ele protegidas

possam ser objeto de apreciação pelo Poder Judiciário.

As informações ora pleiteadas são imprescindíveis para

garantia da reparação integral do meio ambiente.

VI - DO PROVIMENTO LIMINAR

A demora na prestação jurisdicional poderá acarretar

prejuízo irreparável aos indivíduos difusamente considerados, tendo em vista o

expressivo número de pessoas que estão sendo vítimas da conduta negligente das Rés,

que ocasionou no rompimento das barragens localizadas em Mariana-MG.

Muito mais do que isto, os transtornos e constrangimentos

causados pelas demandadas nas cidades atingidas, em especial Colatina, ferem

frontalmente o princípio da dignidade da pessoa humana e o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado.

Inicialmente, impõe frisar que a concessão de tutela

liminar “inaudita altera pars” não ofende qualquer norma ou princípio constitucional,

valendo transcrever a doutrina de Nelson Nery Júnior, no sentido de inexistência de

violação ao princípio do contraditório nestes casos, in verbis:

17 OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NÃO TÊM CARÁTER ABSOLUTO. Não há, no sistema

constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter absoluto, mesmo porque razões de relevante interesse público ou exigências derivadas do princípio de convivência das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde que respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição. O estatuto constitucional das liberdades públicas, ao delinear o regime jurídico a que estas estão sujeitas - e considerado o substrato ético que as informa - permite que sobre elas incidam limitações de ordem jurídica, destinadas, de um lado, a proteger a integridade do interesse social e, de outro, a assegurar a coexistência harmoniosa das liberdades, pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em detrimento da ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros. (STF, MS 23452, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 16/09/1999.)

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"Há, contudo, limitação imanente à bilateralidade da

audiência no processo civil, quando a natureza e a

finalidade do provimento jurisdicional almejado ensejarem

a necessidade de concessão de medida liminar, inaudita

altera pars, como é o caso da antecipação de tutela de

mérito (CPC, art. 273), do provimento cautelar ou das

liminares em ação possessória, mandado de segurança,

ação popular, ação coletiva (art. 81, parágrafo único do

CDC) e ação civil pública. Isto não quer significar,

entretanto, violação do princípio constitucional, porquanto

a parte terá oportunidade de ser ouvida, intervindo

posteriormente no processo, inclusive com direito a

recurso contra a medida liminar concedida sem sua

participação. Aliás, a própria provisoriedade dessas

medidas indica a possibilidade de sua modificação

posterior, por interferência da manifestação da parte

contrária, por exemplo.” ·

Os fatos e fundamentos jurídicos apresentados na exordial

demonstram a necessidade da concessão do provimento liminar.

Desse modo, com fundamento no que dispõe o artigo 273,

inciso I, do Código de Processo Civil, c/c os artigos 11 e 12 da Lei 7.347/85 e 84, §§ 3.º

e 4.º do CDC, pretende o Autor obter a concessão da medida processual apta a

GARANTIR FUTURA DEMANDA EXECUTÓRIA DE CUMPRIMENTO DE

SENTENÇA tendo em vista os efeitos nocivos do desastre ambiental ocasionado pela

empresa demandada.

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Não obstante o Código de Defesa do Consumidor

autorizar o pleito de uma medida liminar, de caráter cautelar, no bojo de uma ação

ordinária, além da própria Lei de Ação Civil Pública consagrar tal instrumento, cabe

trazer à baila a lição de REIS FRIED sobre a tutela antecipada, com previsão no nosso

Código de Processo Civil em seu art. 273, principalmente no que diz respeito ao risco

de dano irreparável. O ilustrado jurista se baseou na lição de ANTÔNIO JEOVÁ DA SILVA

SANTOS para expender a seguinte lição:

A irreparabilidade do dano decorrerá da ameaça de um

grave dano jurídico, caso não exista a satisfatividade do

direito. Similar do periculum in mora, o receio de a parte

vir a padecer dano irreparável caso o Poder Judiciário não

intervenha para antecipar o direito, fará exsurgir um dos

requisitos para a outorga da tutela antecipada. Citado por

Ovídio Baptista da Silva, Frederico Carpi ensina que o

direito estará exposto a uma situação que pode indicar

irreparabilidade de prejuízo, diante das seguintes

situações: a) quando houver impossibilidade de ocorrer

restituição ou repristinação à situação anterior; b) quando

o ato ou fato danoso implique na destruição de uma coisa

infungível, seja por haver a mesma cessado de existir, seja

por haver ela perdido uma qualidade que lhe era

essencial."18 (gn)

Ao comentar os requisitos para a concessão da tutela

antecipada, o Professor Luiz Guilherme Marinoni assim afirma:

"É possível a concessão da tutela antecipatória não só

quando o dano é apenas temido, mas igualmente quando o

dano está sendo ou já foi produzido.

18Fried, Reis. Tutela antecipada, tutela específica e tutela cautelar, Belo Horizonte:Del Rey, 1998.

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Nos casos em que o comportamento ilícito se caracteriza

como atividade de natureza continuativa ou como

pluralidade de atos suscetíveis de repetição, como, por

exemplo, nas hipóteses de concorrência desleal ou de

difusão notícias lesivas à personalidade individual, é

possível ao juiz dar a tutela para inibir a continuação da

atividade prejudicial ou para impedir a repetição do ato."

(in "A Antecipação da Tutela na Reforma do Processo

Civil", Ed. Malheiros, p. 57).

A propósito, o mesmo MARINONI, destaca, com muita

propriedade, que a "disputa pelo bem da vida perseguido pelo autor, justamente

porque demanda tempo, somente pode prejudicar o autor (que tem razão) e

beneficiar o réu (que não a tem)" (in "Tutela Antecipatória, Julgamento Antecipado e

Execução Imediata da Sentença", Ed. RT, 1997, p.18).

Para ele isto "demonstra que o processo jamais poderá dar

ao autor tudo aquilo e exatamente aquilo que ele tem o direito de obter ou que jamais o

processo poderá deixar de prejudicar o autor que tem razão. É preciso admitir, ainda que

lamentavelmente, a única verdade: A DEMORA SEMPRE BENEFICIA O RÉU

QUE NÃO TEM RAZÃO" (sic - maiúsculas e grifos da autora - Ob. Citada, p. 19).

Consequentemente, entende MARINONI que:

"se o processo é um instrumento ético, que não pode

impor um dano à parte que tem razão, beneficiando a

parte que não a tem, é inevitável que ele seja dotado de

um mecanismo de antecipação da tutela, que nada

mais é do que uma técnica que permite a distribuição

racional do tempo do processo" (sic - Ob. cit., p. 23,

grifos da autora).

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Assim, de acordo com MARINONI, se:

"incumbe ao autor provar o que afirma, UMA VEZ

PROVADO (OU INCONTROVERSO) O FATO

CONSTITUTIVO, não há motivo para ele ter que

esperar o tempo necessário para o réu provar o que

alega, especialmente porque este pode se valer da

exceção substancial indireta apenas para protelar a

realização do direito afirmado pelo autor" (sic - Ob.

cit., p. 36 - maiúsculas e grifos da autora).

Desta forma, estando a situação fática em questão a exigir

urgente segurança jurisdicional, ante o efetivo perigo da ocorrência de gravame

irreparável, a seguir tratado, plenamente cabível a antecipação dos efeitos da

tutela no que diz com este feito.

É inquestionável que se configura igualmente o

periculum in mora, pois não é mais possível que permaneçam os colatinenses

desamparados, tomados pela incerteza de estarem consumindo ou não água com a

potabilidade ideal, com hipótese inclusive de contrair doenças.

Neste diapasão, indiscutivelmente configurados os requisitos ensejadores da

concessão do pedido liminar acima, nada mais que justo deferi-lo para:

a) bloquear o importe de 2.000.000,00 (dois bilhões de reais) dos Réus

a fim de garantir futura execução por cumprimento de sentença em

razão do dano moral coletivo que é certo.

b) seja decretado o afastamento do sigilo fiscal da SAMARCO

MINERAÇÃO S/A (CNPJ 16.628.281/0001-61), BHP BILLITON

BRASIL LTDA (CNPJ 42.156.596/0001-63) e VALE S/A (CNPJ

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33.592.510/0001-54), determinando-se que a Receita Federal do

Brasil, forneça diretamente ao Ministério Público Federal,

Procuradoria da República no Município de Colatina/ES, as

declarações de ajuste anual para fins de Imposto de Renda e os

dossiês integrados com todas as bases de dados para pessoa física e

jurídica (Extrato DW, Cadastro CPF, Ação Fiscal, CADIN, CC5

entradas, CC5 Saídas, CNPJ, Coleta, Conta Corrente PF, Compras

DIPJ Terceiros, DAI, DCPMF, DIMOF, Derc, Dimob, Dirf, DIRPF,

DOI, ITR, Rendimentos DIPJ, Rendimentos Recebidos PF, Siafi,

Sinal, Sipade, Vendas DIPJ Terceiros, cartões de crédito, notas

fiscais) das pessoas listadas, em relação aos anos de 2010 a 2014,

devendo tais documentos ser fornecidos em arquivos nos formatos

.pdf e .xls (planilha eletrônica excel);

c) Seja autorizado o uso do acervo probatório das medidas cautelares

pleiteadas no âmbito de procedimentos criminais e cíveis

instaurados pelo Ministério Público para as providências de sua

alçada, instrumentalizando as ações judiciais a serem interpostas em

suas respectivas esferas de atribuições.

d) Seja autorizado o acesso e o compartilhamento, sem restrições, das

provas obtidas por meio deste expediente por Servidores do

Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro – LAB-

MPES, Auditores Fiscais da Secretaria de Estado da Fazenda do

Espírito Santo e da Receita Federal do Brasil, podendo referidas

instituições utilizar os documentos e dados coletados em

lançamentos administrativos e procedimentos disciplinares a seu

encargo e municiar seus respectivos procedimentos investigatórios;

e) a decretação de segredo de justiça, com expressa disposição de que

somente seja dado vista dos autos e extração de cópias, mediante

autorização judicial, a fim de que sejam resguardadas informações e

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documentos constitucionalmente protegidos e evitar a divulgação de

dados, muitas vezes irreparáveis às pessoas investigadas e à própria

apuração dos fatos.

f) determinando-se que a BHP BILLITON BRASIL LTDA forneça

diretamente ao Ministério Público os balanços contábeis, registrados

na junta comercial, em relação aos anos de 2010 a 2014, bem como

relação nominal de bens imóveis de sua propriedade, com certidão

ônus, e registro de eventuais aeronaves.

g) Requisitar ao Comando do 8º Batalhão da Polícia Militar de

Colatina para que envie cópia de todas as ocorrências envolvendo os

distúrbios civis em Colatina em razão da disputa pela água;

h) Requisitar à Agência Nacional de Àguas para que envie ao Juízo

toda e qualquer perícia e levantamento realizados no que tange ao

rompimento da barragem do Fundão em Mariana/MG;

i) Requisitar ao Departamento Nacional de Produção Mineral para

que envie ao Juízo toda e qualquer perícia e levantamento no que

tange ao rompimento da barragem do Fundão em Mariana/MG;

j) Requisitar ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recurso

Hídrico – IEMA e a Agencia Estadual de Recursos Hídricos/ES que

enviem ao Juízo toda e qualquer perícia e levantamento no que

tange ao dano sofrido na Bacia do Rio Doce e na Zona Costeira

Capixaba bem como os demais danos ocasionados pela lama de

rejeitos;

k) Comunicação à CVM – Comissão de Valores Mobiliários a respeito

da propositura da presente demanda em face das rés;

VII – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer o Ministério Público:

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a) a concessão "inaudita altera parte" de medida liminar, nos moldes do art.

273, I do CPC c/c os artigos 11 e 12 da Lei 7.347/85 e artigo 84, §§ 3.º e 4.º do CDC ,

para que seja bloqueado o importe de 2.000.000,00 (dois bilhões de reais) dos Réus a

fim de garantir futura execução por cumprimento de sentença em razão do dano moral

coletivo que é certo, sendo necessário apenas a formalização do rito processual haja

vista a evidência probatória, tudo na forma preconizada pelo SISTEMA BACEN-JUD;

b) a desconsideração da personalidade jurídica dos Requeridas, nos moldes

do art. 28, do CDC;

c) sejam os réus citados, através dos seus representantes legais – atentando-

se para a expedição de Carta Precatória – para apresentar, se assim o desejarem,

contestação à presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, sob pena de revelia e demais

cominações legais;

d) seja, ao final, julgada procedente a presente ação, para cominar a cada um

dos requeridos o pagamento de danos morais difusos, cujo valor sugerido acima será

revertido em favor do Fundo Municipalde Defesa do Meio Ambiente, para ser utilizado

em ações protetivas ao meio ambiente, com a finalidade de desestimular as práticas

lesivas descritas na inicial, no importe mínimo de R$ 2.000.000,00 (dois bilhões de

reais);

e) Requer-se, desde logo, a dispensa do pagamento de custas, emolumentos

e outros encargos, de acordo com o art. 18 da Lei da Ação Civil Pública e art. 87 do

Código de Defesa do Consumidor.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitido,

inclusive pela inversão do ônus da prova (artigo 6.º, inciso III, do CDC), depoimento

pessoal dos representantes legais das requeridas, perícias e vistorias, inspeções judiciais,

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prova testemunhal e produção de documentos complementares que, ficam todos desde

já expressamente requeridos.

Dá-se à causa o valor de R$ 2.000.000,00 (dois bilhões de reais).

Termo em que,

P. Deferimento,

Colatina/ES, 15 de janeiro de 2015.