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MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO Secretaria de Gestão Pública Departamento de Normas e Procedimentos Judiciais de Pessoal Coordenação-Geral de Extintos Territórios, Empregados Públicos e Militares NOTA TÉCNICA Nº79/2014/CGEXT/DENOP/SEGEP/MP Assunto: Revisão de Transferência para a Reserva Remunerada. SUMÁRIO EXECUTIVO 1. Por intermédio do Processo epigrafado, a Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas do Ministério da Fazenda solicita pronunciamento desta Secretaria de Gestão Pública deste Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão sobre a aplicabilidade de dispositivo constitucional e legislação ordinária para fins de revisão de transferência para a reserva remunerada. 2. Entende-se pela inexistência de amparo legal para revisão da reserva remunerada tal qual requerido pelo militar, com supedâneo no art. 40, § 4º, incisos II e II da Constituição Federal de 1988. 3. Pelo encaminhamento dos autos à COGEP/MF, com posterior remessa à SAMF/AP, para conhecimento e adoção das providências pertinentes à matéria em questão. ANÁLISE 4. Extrai-se dos autos que o Coronel Dentista XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, do Quadro de Pessoal da Polícia Militar do ex-Território Federal do Amapá, por intermédio do Decreto nº 3943, de 09 de agosto de 2011, do Governador do Estado do Amapá, foi transferido para a inatividade, mediante reserva remunerada, “a pedido”, nos termos do art. 42, da Constituição Federal, e art. 31, § 1º, da Emenda Constitucional nº 19, de 04 de junho de 1998, c/c o art. 50, incisos I, II e III, alínea “i”, inciso I do art. 104, art. 105 da Lei Complementar nº 065, de 21 de setembro de 2010, cujos proventos se deram na proporção de 25/30 (vinte e cinco trinta avos).

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MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO

Secretaria de Gestão Pública

Departamento de Normas e Procedimentos Judiciais de Pessoal

Coordenação-Geral de Extintos Territórios, Empregados Públicos e Militares

NOTA TÉCNICA Nº79/2014/CGEXT/DENOP/SEGEP/MP

Assunto: Revisão de Transferência para a Reserva Remunerada.

SUMÁRIO EXECUTIVO

1. Por intermédio do Processo epigrafado, a Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas

do Ministério da Fazenda solicita pronunciamento desta Secretaria de Gestão Pública deste

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão sobre a aplicabilidade de dispositivo

constitucional e legislação ordinária para fins de revisão de transferência para a reserva

remunerada.

2. Entende-se pela inexistência de amparo legal para revisão da reserva remunerada tal

qual requerido pelo militar, com supedâneo no art. 40, § 4º, incisos II e II da Constituição Federal

de 1988.

3. Pelo encaminhamento dos autos à COGEP/MF, com posterior remessa à SAMF/AP,

para conhecimento e adoção das providências pertinentes à matéria em questão.

ANÁLISE

4. Extrai-se dos autos que o Coronel Dentista

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, do Quadro de Pessoal da Polícia Militar do ex-Território

Federal do Amapá, por intermédio do Decreto nº 3943, de 09 de agosto de 2011, do Governador do

Estado do Amapá, foi transferido para a inatividade, mediante reserva remunerada, “a pedido”, nos

termos do art. 42, da Constituição Federal, e art. 31, § 1º, da Emenda Constitucional nº 19, de 04

de junho de 1998, c/c o art. 50, incisos I, II e III, alínea “i”, inciso I do art. 104, art. 105 da Lei

Complementar nº 065, de 21 de setembro de 2010, cujos proventos se deram na proporção de

25/30 (vinte e cinco trinta avos).

5. Posteriormente, com o fito de obter acréscimo e recálculo no período aquisitivo e

nos respectivos proventos (reserva remunerada), em face de haver laborado exposto a agentes

nocivos sujeito à aposentadoria especial, o militar requereu tal revisão com fundamento no art. 40,

§ 4º, inciso II e III da CF/88, Leis nºs 8.213, de 1991, 9.032, de 1995. Ademais, justificou com

fundamento no teor do Mandado de Injunção 904, julgado monocraticamente no Supremo Tribunal

Federal, e consequente aplicação da Instrução Normativa nº 01, de 22 de julho de 2010, do

Ministério da Previdência Social e do item 2.1.3 do quadro do Decreto 53.831, de 25 de março de

1964.

6. Destaque-se que até que lei complementar federal discipline o disposto no inciso III

do § 4º do art. 40 da Constituição Federal, a concessão de aposentadoria especial ao servidor

público federal com fundamento no art. 57 da Lei nº 8.213, de 1991, por força da Súmula

Vinculante nº 33 ou por ordem concedida em mandado de injunção, deverá observar o disposto na

Orientação Normativa MP/SEGEP nº 16, de 23 de dezembro de 2013 – DOU de 04/08/2014

(Republicação).

7. Assim, cumpre ressaltar que tal dispositivo aplica-se ao servidor público federal do

regime próprio de que trata a Lei nº 9.717, de 27 de novembro de 1998.

8. No caso concreto dos autos, cabe ressaltar que com o advento da Emenda

Constitucional nº 18, de 5 de fevereiro de 1998, os militares dos Estados, do Distrito Federal e

dos Territórios, passaram a ter regime jurídico próprio, o que teria afastado a aplicação de normas

destinadas aos servidores públicos civis a esses militares. Vejamos:

Art. 2º. A seção II do Capítulo VII do Título III da Constituição passa a denominar-se "DOS

SERVIDORES PÚBLICOS" e a Seção III do Capítulo VII do Título III da Constituição Federal

passa a denominar-se "DOS MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS

TERRITÓRIOS", dando-se ao art. 42 a seguinte redação:

"Art. 42 Os membros das Policias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições

organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito

Federal e dos Territórios.

§ 1º. Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do

que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, §. 8º; do art. 40, §. 3º; e do art. 142,

§§ 2º. e 3º., cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, 3º, inciso

X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos Governadores.

9. Dessa forma, no caso dos membros das Polícias Militares e do Corpo de Bombeiros

Militares estes passaram imunes às reformas constitucionais da previdência1, mantendo-se suas

regras inalteradas dada à condição de “militares dos estados” e regime previdenciário próprio

assegurados pela mencionada EC nº 18, de 1998, que dispõe sobre o regime constitucional dos

militares.

1 Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003 e

Emenda Constitucional nº 47, de 5 de julho de 2005.

10. Nessa linha de entendimento, focando especialmente ao regime previdenciário

descrito no art. 40 da Constituição Federal, a Consultoria Jurídica desta Pasta Ministerial, em

recente manifestação – Parecer nº 0174 – 3.18/2013/TLC/CONJUR/MP-CGU/AGU -, ao analisar

questão previdenciária em relação aos militares, emitiu posicionamento jurídico que se aplica

exatamente à matéria em análise. Vejamos:

(...)

18. Pois bem. A Constituição Federal de 1988, em sua redação original, tratou,

diferentemente, os servidores públicos civis (Seção I) dos servidores públicos

militares (Seção II). Os servidores públicos civis tiveram a sua aposentadoria

regulada por meio do art. 40 da Constituição Federal, ao passo que a

transferência para a inatividade dos servidores militares foi prevista no art. 42,

parágrafo 9º, da Carga Magna, que deveria ser disciplinada por lei ordinária.

19. Com a reforma administrativa instituída pela Emenda Constitucional nº

18/1998, a expressão “servidores públicos civis”, prevista na Seção II, na qual

está incluído o art. 40, foi retirada, para constar apenas “servidores públicos’. Na

Seção III, a expressão “servidores públicos militares” também foi eliminada,

para constar apenas “dos militares dos estados, do Distrito Federal, e dos

Territórios”. Assim, os militares das Forças Armadas passaram a ter seu regime

jurídico disciplinado, essencialmente, no art. 142 da Constituição Federal, que

inaugura o Capítulo II (“Das Forças Armadas”), da Seção III, do Título V da

Carta Política de 1988.

20. Ressalta-se que, após as mudanças conferidas pela Reforma Administrativa,

a aposentadoria dos servidores públicos civis – agora denominados apenas de

“servidores públicos” – continuou a ser disciplinada no art. 40 da Constituição

Federal. No que concerne aos militares das Forças Armadas, a Emenda

Constitucional nº 18/1998 introduziu o inciso X no art. 142, que, nos mesmos

termos da antiga redação do art. 42, parágrafo 9º, remete à lei ordinária a

disciplina da transferência do militar para a inatividade. A disposição foi

estendida aos militares dos Estados-Membros, Distrito Federal e dos Territórios,

por força do art. 42, parágrafo 1º, da Carta Magna, cumprindo, nesse caso, à lei

estadual específica dispor sobre a matéria.

21. Observa-se que, após Reforma Administrativa, implementada pela Emenda

Constitucional nº 15/1998, as regras de aposentadoria dos servidores públicos

civis foram substancialmente alteradas pela Emenda Constitucional nº 20/1998,

nº 41/2003 e nº 47/2005. As regras de transferência para inatividade dos

militares, contudo, permaneceram inalteradas no texto na Constituição Federal,

que continuam a ser disciplinadas de forma diversa, por meio de lei ordinária,

federal ou estatual (Art. 42, parágrafo 1º, e Art. 142 da CF). (g.n)

22. Nota-se, portanto, que, desde a promulgação da Constituição Federal de

1988, os militares nunca estiveram submetidos as regras de aposentadoria

discriminadas no art. 40 da Constituição Federal – sucessivamente alteradas pela

Emendas Constitucionais nº 20/1998, nº 41/2003 e nº 47/2005 -, visto que a

transferência para a inatividade do militar sempre foi regulada por normas

infraconstitucionais.

23. Ora, se os militares não tinham sequer expectativas de se aposentar pelo

regime previdenciário descrito no art. 40 da Constituição Federal – já que

suas regras de transferência para a inatividade estão prevista em lei – não podem

ser considerados beneficiárias das regras constitucionais de transição ali

previstas, como é o caso de direito de opção encartado no art. 40, parágrafo 16,

da Carta Magna.

11. Portanto, aos militares não se aplica o regime previdenciário previsto no art. 40 da

Constituição Federal, uma vez que suas regras de transferência para a inatividade são disciplinadas

por leis ordinárias e, por esse motivo, ao caso ora em análise, lhes são aplicáveis o contido no

art. 42, da Constituição Federal, e art. 31, § 1º, da Emenda Constitucional nº 19, de 04 de junho de

1998, c/c o art. 50, incisos I, II e III, alínea “i”, inciso I do art. 104, art. 105 da Lei Complementar

nº 065, de 21 de setembro de 2010. Logo, a nosso ver, inexiste a possibilidade de aplicação do

art. 40, § 4º, incisos II e III da Constituição Federal de 1988, e das Leis nºs 8.213, de 1991, 9.032,

de 1995, bem como Mandado de Injunção 904 para revisão da reserva remunerada de militar tal

qual requerido pelo interessado.

CONCLUSÃO

12. Diante do exposto, este Departamento de Normas e Procedimentos Judiciais de

Pessoal entende pela impossibilidade de aplicação do art. 40, § 4º, incisos II e III da CF/88 ao

militar, tal qual informado no item 11 desta Nota Técnica.

13. Assim sendo, sugere-se o encaminhamento dos autos à Coordenação-Geral de

Gestão de Pessoas do Ministério da Fazenda – COGEP-MF, para conhecimento e posterior envio à

Superintendência de Administração daquela Pasta no Estado do Amapá – SAMF-AP, para que de

posse das informações postas, preste os esclarecimentos ao interessado.

À consideração do Senhor Coordenador-Geral.

Brasília, 25 de agosto de 2014.

RAIMUNDO BELARMINO COSTA CLEVER PEREIRA FIALHO

Matrícula SIAPE nº 1052423 Chefe da Divisão

De acordo. Ao Senhor Diretor para apreciação.

Brasília, 25 de agosto de 2014.

PAULO ROBERTO PEREIRA DAS NEVES BORGES

Coordenador-Geral de Extintos Territórios, Empregados Públicos e Militares

Aprovo. Encaminhe-se à COGEP/MF, na forma proposta.

Brasília, 25 de agosto de 2014.

ROGÉRIO XAVIER ROCHA

Diretor do Departamento de Normas e Procedimentos Judiciais de Pessoal