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REFERÊNCIAS PARA A GESTÃO SOCIAL DOS TERRITÓRIOS RURAIS DOCUMENTO DE APOIO Nº 03 Brasília, março de 2006 Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDT Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA Guia Para a Organização Social

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REFERÊNCIAS PARA AGESTÃO SOCIAL DOSTERRITÓRIOS RURAIS

DOCUMENTO DE APOIO Nº 03

Brasília, março de 2006

Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDTMinistério do Desenvolvimento Agrário - MDA

Guia Para a Organização Social

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASILMINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO

SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

Luiz Inácio Lula da SilvaPresidente da República

Miguel Soldatelli RossetoMinistro de Estado de Desenvolvimento Agrário

Humberto OliveiraSecretário Nacional de Desenvolvimento Territorial

Coordenação TécnicaCoordenação Geral de Ações Territoriais

Elaboração:Debora da Silva Costa - Instituto de Assessoria ao Desenvolvimento

Humano – IADH Jeanne Maria Duarte dos Santos – Instituto de Assessoria ao Desenvolvimento

Humano – IADH

Colaboração:Arilson Favaretto

Berenice Gomes da SilvaCarleuza Andrade da Silva

Marcelo Miná DiasMárcio Maia de Castro

Maria Auxiliadora de Almeida BarrosMaria Carmela Buonfiglio

Maria da Graça Correia de AlmeidaPaulo César Arns

Rafael Pinzon RuedaRonaldo Camboim Gonçalves

Roseli Bueno de AndradeSilvana Maria Parente N. Gondim

Tânia Maria de MeloVera Maria Moura Echenique Azevedo

SÉRIE DOCUMENTOS DE APOIONÚMERO 03 - 2006

REFERÊNCIAS PARA A GESTÃO SOCIAL DOS TERRITÓRIOS RURAISGUIA PARA A ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Publicado Pela SDT/MDA em março de 2006Assunto: Gestão Social de Territórios Rurais

Sumário APRESENTAÇÃO

1 ORGANIZAÇÃO COMO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL DODESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

1.1 O que é organização no processo de Gestão Social?1.2 Os Conselhos Gestores de Políticas Públicas (Conselhos Setoriais)1.3 Os Conselhos de Desenvolvimento Rural – CDR1.4 As instâncias de desenvolvimento territorial rural sustentável

2 INSTITUIÇÕES E ORGANIZAÇÕES: ALGUNS CONCEITOS FUNDAMENTAIS

2.1 O que são instituições2.2 O que são organizações2.3 Diferentes tipos de organizações

3 PARCERIAS, ARRANJOS INSTITUCIONAIS E REDES

3.1 A articulação de parcerias para o desenvolvimento territorial rural sustentável3.2 Os arranjos institucionais e os passos para a sua construção3.3 O arranjo institucional para a Gestão do Desenvolvimento Territorial RuralSustentável3.4 Algumas questões sobre os arranjos institucionais ou instância colegiada para aimplementação de programas e projetos3.5 A organização em rede3.6 Passos para a construção de uma rede3.7 Rede de Órgãos Colegiados para o Desenvolvimento Territorial Rural Sustentável3.8 Rede de Territórios Rurais

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS:1- Fortalecimento organizacional/institucional para o Desenvolvimento Territorial Rural Sustentável2- Resolução Nº 48 do CONDRAF – Diretrizes e atribuições para a Rede de Conselhos deDesenvolvimento Rural Sustentável3- Resolução Nº 52 - Recomendações do CONDRAF para institucionalidades territoriais

4 Ministério doDesenvolvimento Agrário

ApresentaçãoA consolidação da estratégia de desen-

volvimento territorial requer investimentosem processos educativos para a gestão so-cial dos territórios rurais, no intuito de fo-mentar mecanismos para sua sustentabili-dade. Isto significa que a formação deveestar em sintonia com as ações articuladase desenvolvidas pelos agentes de desenvol-vimento territoriais. Agentes de Desenvol-vimento são pessoas que atuam em organi-zações e entidades da sociedade civil e go-vernos como mediadores(as) de relaçõesentre interesses políticos diferenciados.

Este Guia é um dos instrumentos deapoio pedagógico do Curso de Gestão So-cial voltado para os membros dos colegia-dos territoriais e integra uma das ações deFormação de Agentes de DesenvolvimentoTerritorial implementadas pela SDT, na qualo processo de formação é desenvolvido emtrês níveis: inicial, intermediário e avança-do. Esta é uma ação prioritária da Secreta-ria inserida na área de resultado Fortale-cimento da Gestão Social articulada di-retamente com as demais áreas: Fortale-cimento das Redes Sociais de Coopera-ção e Dinamização Econômica nos Ter-ritórios Rurais e Articulação de Políti-cas Públicas.

O fortalecimento da gestão social é umaação coletiva que deve integrar conheci-mentos, estratégias de ação e articulaçõesque favoreçam o planejamento, a organiza-

ção e o controle social no processo de de-senvolvimento dos territórios rurais. Nestesentido, a SDT promoveu um curso de apro-fundamento de conceitos e metodologiasque são fundamentais à elaboração e avali-ação do Plano Territorial de Desenvolvi-mento Rural Sustentável e estratégia do De-senvolvimento Territorial.

O curso tem como objetivo aprimorar acapacidade dos membros dos colegiadosterritoriais no exercício da gestão partici-pativa dos territórios rurais, com base nosprincípios da gestão social. A sua propostametodológica busca respeitar os diferentesníveis de formação e informação dos(as) par-ticipantes, por meio do estímulo à reflexão,a sistematização dos documentos e planoselaborados coletivamente. São momentos deavaliação das estratégias adotadas nos terri-tórios e também de troca de experiência en-tre os agentes envolvidos. Cada módulo con-tará com um(a) facilitador(a) que sãoconsultores(as) integrantes da Rede Naci-onal de Colaboradores(as) da SDT.

Soma-se a este Guia os demais Subsídi-os metodológicos a saber: Atlas dos terri-tórios rurais; Documento Institucional nº 3:Referências para a Gestão Social dos terri-tórios rurais; Documentos de Apoio: Guiapara o Planejamento e Guia de Apoio aoControle Social nos Territórios Rurais,alémda Proposta Técnica de Capacitação deAgentes de Desenvolvimento Territorial.

6 Ministério doDesenvolvimento Agrário

Além do Módulo II ao qual trata esteGuia, que é a Organização Social, o cursotrata no Módulo I do Planejamento e noMódulo III do Controle Social, como vo-cês verão no próximo Guia.

Por se tratar de um documento elabora-do de forma coletiva, esperamos obter re-torno sobre as discussões aqui tratadas paraque possamos ir aperfeiçoando as informa-ções, as experiências e as elaborações.

Boa leitura e bons trabalhos!

7Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

Neste capítulo, ao tratar das formas deorganização do desenvolvimento territorialrural sustentável, serão focados as seguintesquestões:

O que é organização no processo degestão social;

Os Conselhos Gestores de PolíticasPúblicas (Conselhos Setoriais);

Os Conselhos de DesenvolvimentoRural - CDRI;

As instâncias de desenvolvimento ter-ritorial rural sustentável.

1.1 O que é organização no processode gestão social?

Além de gerir a coisa pública, a gestãosocial significa administrar, cuidar dos inte-resses sociais colocando-os em negociaçãocom o objetivo principal de compartilhar opoder de decisão – sobre o que pode ser fei-to – entre o Estado e a sociedade civil. Agestão social é a ação de gerir assuntos pú-blicos. O “assunto público” é entendidocomo o que é de interesse de um coletivoamplo (sociedade de um modo geral: comu-nidade, grupos sociais, segmentos econômi-cos entre outros), não se limitando a ques-tões relacionadas à administração pública deuma esfera do Estado ou de um Programa.

Quando falamos de gestão, estamos nosreferindo a processo que envolve o planeja-mento; a organização; a direção; a implemen-tação; o monitoramento e avaliação de es-tratégias e ações planejadas.

No ciclo da gestão social, temos três gran-des processos que são desenvolvidos conti-nuamente e de maneira complementar: o Pla-nejamento, que foi tratado no Guia 1, a Or-ganização Social, que está sendo abordadoano presente Guia e o Controle Social, temá-tica do Guia 3. Quando falamos de organi-zação, neste ciclo, estamos falando, de ma-neira geral, de divisão de papéis, atribuiçõese relações entre pessoas e organizações parao desenvolvimento do território. No decor-rer das questões apresentadas neste Guia, fa-remos referência ao processo de organizaçãoque se desenvolve na gestão social dos terri-torios rurais.

Em síntese, a gestão social diz respeitofundamentalmente a um processo político detomada de decisões de forma compartilha-da entre o Estado e a sociedade; um proces-so de empoderamento dos atores sociais ede ação-reflexão sobre a prática social, nosentido de desenvolver a capacidade e habi-lidade coletiva de transformar a realidade.

Numa sociedade tão heterogênea como abrasileira, permeada por conflitos de interes-ses entre grupos e classes sociais, caracteriza-

1. Organização Como Processo de GestãoSocial do Desenvolvimento Rural Sustentável

8 Ministério doDesenvolvimento Agrário

da pela existência de fortes níveis de desigual-dades sociais, econômicas e políticas, cons-truir a gestão social das políticas públicas edo desenvolvimento dos territórios rurais re-presenta potencializar o exercício da cidada-nia, significando também a criação de con-dições que favoreçam a inclusão social e a me-lhoria da qualidade de vida sustentável de gru-pos e classes sociais historicamente excluídos.

O exercício da vivência da gestão socialdo desenvolvimento de um território se dá apartir da construção e consolidação de espa-ços institucionais de caráter territorial e par-ticipativo (conselhos, comitês, fóruns etc.) queoportunizem o diálogo, a negociação, aaprendizagem, a transparência e a democra-cia necessária à construção de um ambientefavorável à integração e ao estabelecimentode consensos, de acordos e de compromis-sos coletivos para a transformação almejadada realidade.

Um dos fatores que influenciam a conso-lidação desses espaços de gestão social (e queao mesmo tempo recebem influência deles) éo nível de organização social, o qual se expres-sa no conjunto de redes sociais e redes de fi-nalidade produtiva que conectam os atores emtorno de temas importantes para o desenvol-vimento do território.

O potencial do território em desenvolverredes de relacionamentos horizontais que searticulam com a diversidade de interesses dosatores relaciona-se com a capacidade dos gru-pos sociais e organizações de um determina-do lugar de se envolver em contatos sociais

que culminam no exercício da cooperação eno estabelecimento de ações coletivas visan-do o bem estar geral. Isso é animado pela exis-tência de laços de confiança, de solidariedade,e de compromissos existentes no tecido soci-al que expressam o seu capital social. Confian-ça gera cooperação em uma comunidade e acooperação aumenta os estoques de confian-ça, que acumula o estoque de capital social deuma comunidade. A continuidade desse pro-cesso alimenta (e ao mesmo tempo recebe in-fluência) o processo de organização social.Quanto mais os atores sociais de um local de-senvolverem esse tipo de relacionamento, maisforte será o seu capital social e mais eficienteo processo de gestão social.

O processo de organização social refere-se às capacidades dos atores sociais de:

Se perceberem enquanto grupo ou en-quanto organização, com sua identida-de própria;

Compreenderem a sua realidade (inter-na e do contexto externo) e a sua inte-ração com o ambiente e com outrosgrupos e organizações;

Agirem eficientemente e eficazmente so-bre esta realidade na negociação dos di-versos interesses, muitas vezes conflitan-tes, a partir do diálogo, da construçãode entendimentos e acordos, para aconstrução da melhoria sustentável daqualidade de vida das pessoas do terri-tório.

9Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

A capacidade de os atores sociais amadu-recerem a sua identidade, compreenderem asua realidade e agirem organizadamente so-bre ela, estabelecendo relações de confiança,de cooperação, de participação, estabelecen-do também acordos, compromissos e açõesintegradas favorece e determina o estabele-cimento de significativos processos de ges-tão social do desenvolvimento sustentável doterritório. Desse modo, favorece também aconstrução e fortalecimento de espaços ins-titucionais de gestão social do desenvolvimen-to e o surgimento de arranjos institucionaisou instâncias colegiadas voltadas para a ges-tão do desenvolvimento territorial rural sus-tentável.

A criação dessa “atmosfera” de coopera-ção e confiança no território requer que osdiálogos estabelecidos pelos atores sociais se-jam construtivos no sentido de gerarem re-lações harmoniosas de respeito às diferentesopiniões, interesses e percepções sobre a re-alidade, no sentido também de gerarem pro-cessos de aprendizagem, estimulando sem-pre a reflexão teórica e prática das realida-des vivenciadas.

Quando nos propomos a entender a or-ganização como modo de gestão do desen-volvimento rural sustentável com enfoque ter-ritorial temos de ter um olhar amplo sobre oterritório e observar quais os diferentes pa-péis das organizações existentes e atuantesnesse território e como elas se relacionam nasucessão de atos para aprimorar o processode organização para a gestão social e as rela-ções entre elas.

Além dos diversos tipos de organizaçõesexistentes nos territórios, os conselhos e asinstitucionalidades de gestão do desenvolvi-mento territorial rural sustentável são umtipo especial de organização, pois favorecema participação da sociedade na gestão dosinteresses coletivos. É bom agora conversar-mos um pouco mais sobre cada uma dessasintitucionalidades de gestão e desses conselhos.

1.2 Os Conselhos Gestores de PolíticasPúblicas (Conselhos Setoriais)

Os conselhos são invenção antiga no mun-do, assim como a democracia participativa.Ainda nos séculos XII e XV, foram criadosos “conselhos” municipais como uma formaadministrativa em Portugal em relação às suascolônias. Os conselhos mais famosos na his-tória foram a Comuna de Paris, os conselhosoperários e os conselhos na antiga Iugosláviana década de 50.

No Brasil, no final dos anos 70, foramcriados pelo governo os conselhos comunitáriospara mediar suas relações com os movimen-tos e organizações populares, e os conselhospopulares(décadas de 1970 e de 1980), criadospor iniciativa da própria sociedade civil, paraatuarem junto à administração municipal,como propostas dos setores de esquerda oude oposição ao regime militar, na tentativade estabelecer negociações com o poder pú-blico e o controle sobre recursos e institui-ções. Em 1976, foi criado o Conselho de Saú-de da Zona Leste de São Paulo e, no iníciodos anos 80, os Conselhos Populares de Cam-pinas. Os Conselhos de Saúde foram criados

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a partir do trabalho de sanitaristas que traba-lhavam nos postos de saúde da região, arti-culados ao Partido Comunista e ao movimen-to das Comunidades Eclesiais de Base da Igre-ja Católica.

Foi durante as décadas de 60 e 70 e inícioda década de 80, com a ditadura militar noBrasil, que a sociedade brasileira conviveucom um processo de forte centralização depoder nos governos nacional e estadual. Tam-bém foram décadas marcadas pelo controledo Estado militar nas relações entre as pes-soas e na vida das organizações. Nesse perío-do, as pessoas foram violentamente reprimi-das devido a criação e a participação em or-ganizações que visavam à melhoria da quali-dade de vida e à luta pelos direitos políticos.

Em meados da década de 80, com o avan-ço da mobilização social, iniciou-se um mo-vimento de abertura política, no qual se deuo debate das mudanças constitucionais, queculminou com a promulgação da Constitui-ção da República Federativa do Brasil, em1988. Esta Constituição foi denominada“Constituição cidadã” porque incorporoumuitas das demandas da diversidade de mo-vimentos sociais, grupos organizados, seto-res sociais e, principalmente, por seus avan-ços na questão dos direitos, das novas for-mas de planejar e executar políticas públicasenvolvendo uma participação maior da so-ciedade civil, estimulando a construção deconselhos gestores de políticas públicas.

Desse modo, os Conselhos são frutos damobilização de segmentos populares e das

organizações da sociedade civil, que constru-íram um caminho para dialogar com o Esta-do e exercer sua cidadania no controle socialsobre as questões públicas. A institucionali-zação dos conselhos, desde a Constituição Fe-deral, passa a incorporar a participação dasociedade na formulação, execução, fiscali-zação e controle das políticas públicas, a par-tir de princípios constitucionais e sua poste-rior regulamentação é uma conquista na his-tória da mobilização social na democratiza-ção do Brasil.

Dessa forma, a participação da socieda-de civil em alguns conselhos está asseguradana Constituição Federal em vários artigos:Artigo 198, inciso III - Participação da co-munidade na gestão administrativa (área desaúde); Artigo 204 – Participação da popu-lação através de órgãos representativos (As-sistência social); Artigo 206, inciso VI – ges-tão democrática do ensino público (Educa-ção); Artigo 227, parágrafo 7º - Participaçãoda população, por intermédio de organiza-ções representativas para formulação de políti-cas e controle de ações e programas voltadosao atendimento de crianças e adolescentes.

Com o fortalecimento da sociedade civil,surgem novos atores sociais, que represen-tam novos interesses de uma sociedade cadavez mais complexa. Essa sociedade cria no-vos espaços onde os grupos sociais e as or-ganizações podem trocar informações, opi-niões e produzirem decisões sobre questõesde interesse público, que são levadas aosconselhos como idéias a serem transforma-das em políticas públicas.

11Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

No Brasil, os conselhos podem ser dife-renciados em três tipos básicos desde suaorigem1, a saber :

os que são criados pelo próprio poderexecutivo para mediar suas relaçõescom os movimentos e com as organi-zações populares, a exemplo dos con-selhos comunitários criados pela prefei-tura de São Paulo no final dos anos 1970;

os que surgem a partir da ação de gru-pos sociais, organizados à margem doEstado pelos movimentos populares,para mediar negociações com o poderpúblico. Podemos citar o exemplo dosconselhos populares do final dos anos1970 e parte dos anos 1980;

os institucionalizados por lei para par-ticipar da gestão dos negócios públi-cos, surgidos após pressões e deman-das da sociedade civil, a exemplo dosconselhos gestores institucionalizadossetorialmente.

Os conselhos também podem ser classifi-cados a partir do caráter assumido2 em con-selhos de programas, conselhos de políticase conselhos temáticos:

conselhos de programas: são aquelescuja existência e ação são delimitadas

peloprograma de governo ou de polí-tica pública, sendo o conselho um ór-gão executivo do programa que geral-mente assume caráter deliberativo pormeio do qual passam suas demandasoperacionais, burocráticas e legais. Re-presentam uma maneira de viabilizar aparticipação da clientela-alvo ou bene-ficiária do programa, os gestores pú-blicos, contemplando também as di-versas parcerias envolvidas em sua exe-cução;

conselhos de política: são ligados apolíticas públicas mais estruturadas ede alcance nacional, com atribuiçõeslegalmente estabelecidas no plano daformulação e implementação das polí-ticas na respectiva esfera governamen-tal, compondo as práticas de planeja-mento e de fiscalização das ações. Sãotambém concebidos como fóruns pú-blicos de captação de demandas e ne-gociação de interesses específicos dosdiversos grupos sociais e como formade ampliar a participação de segmen-tos com menos acesso ao aparelho doEstado;

conselhos temáticos: não possuem vin-culação direta a um sistema ou legisla-ção nacional, existem por iniciativa lo-cal. Em geral, associam-se a grandesmovimentos de idéias ou temas geraisque ganham força por alguma peculia-ridade de perfil político ou social. Osseus formatos são muito variáveis, em-bora tendam a seguir as características

2 Esta classificação é praticamente transcrita de: IBAM, IPEA,COMUNIDADE SOLIDÁRIA. Conselhos municipais epolíticas sociais. Rio de Janeiro, 1997.

1Esta tipologia é adaptada de: GOHN, M.G. Conselhos gestorese participação sociopolítica. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.120p. (Col. Questões da Nossa Época, 84).

12 Ministério doDesenvolvimento Agrário

principais dos conselhos de política, ouseja, a participação de representaçõesda sociedade e a assunção de respon-sabilidades públicas. Como exemplo,temos os Conselhos Municipais de Di-reitos da Mulher, de Cultura, de Espor-tes entre outros.

A atuação dos conselhos na promoçãoda gestão social do desenvolvimento ru-ral tem importância fundamental e pode-mos destacar alguns potenciais ligados àsua ação:

Reverter o padrão histórico de elabo-ração e execução de políticas públicasno Brasil que vêm de cima parabaixo.Possibilitar a manifestação daspropostas e projetos de diversos ato-res, setores, segmentos e grupossociais.Provocar tensões nas agênciasestatais, tornando-as mais transparen-tes, mais responsáveis, mais abertas aosanseios das sociedades.

Possibilitar à sociedade ter um papelmais efetivo no acompanhamento, con-trole e fiscalização das políticas públi-cas;Fazer o Estado negociar suas propos-tas com a sociedade.Possibilitar espaços de aprendizado etroca de experiências e conhecimentos,capacitando para o exercício da cida-dania.

1.3 Os Conselhos de Desenvolvimen-to Rural - CDR

Os Conselhos de Desenvolvimento Rural,em sua maioria, foram formados no Brasil apartir de 1997, com o objetivo de definir aaplicação de recursos do PRONAF (Progra-ma Nacional de Apoio à Agricultura Famili-ar). A infra-estrutura e a formação destes con-selhos foi um fato importante para as políticaspúblicas no meio rural e uma inovação organi-zacional significativa.

Estes conselhos surgiram com a missão dedescobrir os potenciais de desenvolvimentorural e apontar as estratégias e alternativaspara a melhoria das condições de vida depopulações rurais através da elaboração eimplementação de Planos de Desenvolvimen-to Rural.

No âmbito municipal, funcionam osCMDRS (Conselhos Municipais de Desen-volvimento Rural Sustentável); no âmbitoestadual, os CEDRS (Conselhos Estaduaisde Desenvolvimento Rural Sustentável) e,no nacional, o CONDRAF (Conselho Na-cional de Desenvolvimento Rural Susten-tável e Agricultura Familiar).

Atualmente, estão sendo feitas reflexõespara o amadurecimento e reconstrução daprática desses conselhos. Os conselhos, emsua maioria, têm inúmeros entraves a se-rem superados para se configurarem comoespaços realmente democráticos de gestãosocial de políticas públicas, mas só o fatode existirem abre caminho para que se am-

13Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

plie o círculo social em que se operam asdiscussões sobre o uso dos recursos públi-cos (Abramovay, Ricardo). Dentre os en-traves existentes, o Grupo de Trabalho (GT)de Institucionalidade para a Gestão Socialdo Desenvolvimento Rural Sustentável, doCONDRAF ressaltou:

§ A verticalização dos processos decisórios entreas diferentes esferas de atuação dos conselhos (nacio-nal, estadual e municipal) e dentro dos Conselhos. Ouseja, entre os Conselhos muitas vezes há uma hierar-quização nas decisões referentes às diferentes políticaspúblicas, ficando os aspectos mais estratégicos para onível nacional e aqueles relacionados à operacionaliza-ção para as demais esferas de atuação.

§ A deficiência na circulação de informaçõesentre os Conselhos e no interior deles – entre coorde-nação e conselheiros e ainda entre representantes dasdiferentes entidades e sua base.

§ A interferência político – partidária e das oli-garquias locais seja no processo decisório ou na demo-cratização do acesso às informações.

Dentre os desafios colocados para a su-peração dos entraves e para a atuação efetivados Conselhos no tocante à sua missão, des-tacam-se os seguintes:

Construir a capacidade de represen-tar uma mudança no ambiente institu-cional do qual fazem parte, mudandoas regras do jogo a partir da constru-ção de novos conhecimentos e habili-dades junto aos atores sociais quecompõem os conselhos, criando no-

vas práticas que valorizem a partici-pação, o controle social e o uso plane-jado dos recursos;

Ampliar o enfoque das discussõesocorridas nos conselhos municipais eestaduais, não se limitando a questõesligadas à operacionalização de progra-mas públicos, ou seja, consolidar osconselhos como efetivos espaços deconcertação social, atuar estrategica-mente no sentido de interferir/contri-buir nos rumos do desenvolvimentorural;

Garantir a diversidade e a pluralidadena participação, trazendo para o seuinterior jovens, mulheres, promotoresde cultura, índios e quilombolas, pro-dutores rurais, agentes públicos dentreoutros segmentos;

Garantir a representatividade e diversi-dade das forças e dos atores sociais rela-cionados ao desenvolvimento rural sus-tentável. Garantir representação diferen-ciada dos atores sociais relacionados àagricultura familiar (movimentos de re-presentação social e demais organizaçõesprodutivas, de assessoria técnica, políti-ca entre outros), mas não exclusiva, bus-cando a participação de outros atores dasociedade organizada, ligados aos dife-rentes setores sociais e produtivos.

Sobre representatividade e diversidade dos atores sociaisver as recomendações da Resolução do CONDRAF de nº.48, de 16 de setembro de 2004, artigo 4º.

14 Ministério doDesenvolvimento Agrário

Ampliar a participação da sociedadepara além dos conselheiros em suas reu-niões e assembléias, ampliando as for-mas de participação, difundindo a suapauta e estimulando o surgimento detemas a serem tratados pelas comuni-dades na discussão do desenvolvimen-to rural;

Buscar a legitimidade, ou seja, o con-selheiro ou conselheira deve represen-tar posições institucionais e não pesso-ais e, por outro lado, levar/socializar ediscutir as decisões tomadas nos con-selhos junto à entidade que representa.Deve, portanto, criar constantes diálo-gos entre conselheiros e conselhei-ras e suas bases;

Aprimorar a capacidade institucio-nal dos conselhos por meio de umaestruturação mínima - técnica e fi-nanceira- de apoio ao seu funciona-mento;

Buscar integração entre os diferentesâmbitos - municipal, estadual e federal;

Ampliar o foco de discussão dos con-selhos municipais para a esfera territo-rial, inserindo-se em um horizonte maisestratégico.Desenvolver a capacidade de trataros conflitos entre os diversos interes-ses existentes entre os atores do ter-ritório;

Ser tolerante diante das diferenças que

se colocam, da diversidade de opi-niões, histórias de vida, interesses,modos de ser das pessoas que estãoenvolvidas com a ação do conselho;

Valorizar as relações associativas nomeio rural, no sentido de fortalecer oslaços de solidariedade e cooperação en-tre as pessoas que vivem no meio rurale participam ou não de associações.

Questões para reflexãoe debate

Quais são os conselhos que existem nonosso território? Como funcionam?

Quais as principais facilidades e de-safios para se constituírem como es-paços democráticos de gestão socialde políticas públicas?

Como posso contribuir enquanto pes-soa, grupo social ou organizaçãopara que os conselhos de desenvolvi-mento rural cumpram a sua missão?

Com os novos desafios de ampliar a dis-cussão do desenvolvimento rural para es-paços mais estratégicos, surge a discussãodo desenvolvimento territorial rural sus-tentável.

A discussão sobre o enfoque territorial do desenvolvimento,seus desafios e dificuldades a serem vencidas juntamente com aproposta da Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDT/MDA poderá ser acessada na publicação da Série Textos paradiscussão 4, NEAD/Ministério do Desenvolvimento Agrário, quese intitula “Referências para o Desenvolvimento TerritorialSustentável.”

15Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

1.4 As Instâncias de Desenvolvimen-to Territorial Rural Sustentável

Outro espaço de encontro entre a socieda-de civil e o governo é representado pelos cole-giados de desenvolvimento territorial rural sus-tentável (os fóruns, conselhos territoriais etc.)

A Secretaria de Desenvolvimento Terri-torial – SDT- tem animado a criação ou ofortalecimento desses espaços. Inicialmentesurgem como uma comissão informal, ama-durecendo para se constituírem como umtipo de organização adequada às necessida-des e à cultura local. Apresentam a participa-ção de órgãos governamentais, mas não seconstituem como estruturas de governo. Seuspapéis principais são o de formular estraté-

gias e propostas de ações integradas para aconstrução do desenvolvimento territorialrural sustentável, bem como contribuir paraa construção de parcerias e propor e acom-panhar as políticas públicas de desenvolvi-mento, criando assim um espaço de diálogoentre atores sociais e organizações que se re-lacionam com o desenvolvimento do terri-tório, se tornando um espaço de gestão soci-al do desenvolvimento do território.

No capítulo 3, deste Guia, ao tratar o tema“Parcerias, Arranjos Institucionais e Redes”será abordada, com mais detalhe, a discus-são destas instâncias, como arranjos institu-cionais específicos para a gestão do desen-volvimento territorial rural sustentável.

16 Ministério doDesenvolvimento Agrário

2. Instituições e Organizações: algunsConceitos Fundamentais

Mesmo sem a pretenção de fazermos aquiuma discussão aprofundada sobre organiza-ção do desenvolvimento territorial rural sus-tentável, debateremos alguns conceitos e re-flexões considerados fundamentais. Para tan-to, serão apresentados os seguintes pontos:

O que são instituições;

O que são organizações;

As organizações como um Sistema;

Diferentes tipos de organizações noterritório

A importância da organização para odesenvolvimento territorial rural sus-tentável.

2.1 O que são instituições

Como seres sociais, aprendemos, desdecedo, que a convivência com os outros exigeo respeito a um conjunto de regras e normasque influenciam nossos comportamentos. Asinstituições são essas regras e normas, que re-presentam sistemas de idéias, valores e percep-ções sobre a realidade influenciando nos mo-dos como os grupos sociais se relacionam. Sãoexemplos de instituições: a religião; a instituiçãofamília; o Estado; a propriedade privada entreoutros, as quais representam sistemas de idéi-as, valores e percepções sobre a realidade.

As instituições podem ser ou não Organi-zações formais. Por exemplo, o Estado seconstitui como um conjunto de organiza-çõe s : o Poder Judiciár io, o PoderLegislativo e o Poder Executivo. A pro-priedade privada não se constitui comoorganização formal, mas os valores a elarelacionados inspiram o funcionamentode muitas Organizações.

As instituições (com seus valores e con-cepções embutidos) influenciam na construçãodas identidades de indivíduos e de grupos, re-fletindo assim a maneira pela qual eles perce-bem as suas realidades, dão significado às suasexperiências e formam suas organizações.

Sendo assim, as instituições influenciam osvalores que alicerçam as estruturas de alian-ças sustentando os sistemas de poder dentrode uma organização ou fora dela na socieda-de local.

2.2 O que são organizações

As organizações e instituições fazem par-te da nossa vida. As organizações se modifi-cam com o tempo a partir da evolução dasrelações sociais, econômicas e culturais entreas pessoas e grupos sociais.

Existem diferentes definições para a pala-vra organização. Consultando o minidicionárioda língua portuguesa de Silveira Bueno, en-

17Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

contramos as seguintes definições para aspalavras organizar e organização, respectivamente:

§ organizar: “Constituir o organismo de;ordenar; formar; arranjar;dispor; estabeleceras bases de; constituir, formar-se.”

§ organização: “ato ou efeito de organizar;constituição física; estabelecimento ou firmacomercial, industrial, bancária etc.”

Segundo Edgar H. Shein (1982), organi-zação é a coordenação planejada das ativida-des de uma série de pessoas para o alcancede algum propósito ou objetivo comum apartir da divisão do trabalho e funções atra-vés de hierarquia de autoridade e responsa-bilidade. As organizações surgem das idéiase interesses das pessoas que passam a funcio-nar quando estas estabelecem de forma for-mal ou não-formal padrões de interação ecomportamentos. As organizações sociaispodem ser formais ou informais.

As organizações sociais são os padrões decoordenação que surgem, espontânea e im-plicitamente, das interações das pessoas, semenvolver coordenação racional, e com obje-tivos explícitos. Um grupo de jovens que seencontra para fazer caminhadas ecológicas;as comunidades; um grupo de rapazes quejogam futebol; famílias que se encontram paraum churrasco no final de semana são organi-zações sociais, mas não são formais. Se emdeterminado momento decidem tornar ex-plícitos os seus objetivos comuns e definiremregras e padrões que garantam a coordena-ção, passam a ser organização formal.

A organização informal refere-se aos padrõesde coordenação que não fazem parte de re-gras explícitas previamente estabelecidas,como, por exemplo, os subgrupos que se for-mam para desenvolver atividades como: sairpara trocar idéias sobre o seu trabalho, al-moçar juntos, pensar estratégias para atuaçãono seu grupo, estabelecendo relações que nãoforam formalmente definidas.

A organização é um tipo de formação soci-al concreta que viabiliza a ação de um grupo.

Diante de todos os aspectos, é importan-te ressaltar que as organizações são feitas depessoas. São as pessoas que as criam e que ascompõem. São as pessoas que, nas relaçõessociais, produzem os valores, os símbolos eos significados, os quais geram as instituiçõese as organizações.

São as pessoas, em constantes processosde mudanças pessoais e coletivas ao longoda história, que provocam mudanças nas ins-tituições, nas organizações e nas relações depoder dentro de uma sociedade.

Nas organizações, as pessoas se relacio-nam interna e externamente, aprendem,constróem valores e práticas, consolidamidentidade coletiva e definemposicionamento em relação ao futuro. Omodo como as organizações se estruturam efuncionam interfere na qualidade de vida daspessoas que nela se relacionam e das pessoasque se relacionam com ela direta e indireta-mente. Enfim, as organizações sãoconstituidas pelos atores sociais interagindo

18 Ministério doDesenvolvimento Agrário

entre si e com as pessoas na sociedade na qualestão inseridas.

2.3 Diferentes tipos de organizações

As organizações se diferenciam basicamen-te pelo público beneficiado (pressupõe-se quehá sempre um público beneficiado), por seusobjetivos e por suas formas de gestão.

Considerando o público beneficiado pe-las organizações, pode-se dizer que, elas di-videm-se em quatro classes:

Associações de benefício mútuo: beneficiam sin-dicatos, clubes, partidos políticos, organiza-ções religiosas, associações de produtoresrurais, associações de comerciantes, gruposde mulheres entre outros;

Empresas: beneficiam basicamente os diri-gentes e proprietários, geram produtos e ser-viços; fundam-se na propriedade privada, uti-lizam capital próprio e recursos originadosda venda do que produzem. Eventualmentepodem ser subsidiadas com recursos públi-cos, visam ao lucro financeiro, apropriam-sedo capital empregado e devem ter responsa-bilidade social;

Organizações de prestação de serviços: prestamserviços para a sociedade (hospitais, escolas,postos de saúde entre outros).

Organizações para o bem-estar público:executam ações estruturadoras da socieda-de, tais como governo, legislação e justiça,utilizam recursos públicos originados doscontribuintes (pessoas físicas e jurídicas);

não visam ao lucro financeiro, devem pro-duzir capital social (organizações governa-mentais, ministérios, polícia, corpo de bom-beiros, universidades públicas, câmara devereadores entre outros).

Nos territórios rurais vamos encontrar di-versos tipos de organizações que existempara alcançar os objetivos do governo, de gru-pos da sociedade civil ou de ambos os seg-mentos. De acordo com os seus propósitose objetivos, as organizações podem ser clas-sificadas como políticas, sociais, econômicas,religiosas e culturais. Entretanto, apesar de-las interagirem entre si, para efeito didáticoapresentaremo-nas de forma separada:

Políticas: têm caráter mais fortementereivindicativo, formador de idéias políticas jun-to à sociedade ou de defesa de interesses dedeterminado grupo social. São exemplos deorganizações políticas: sindicatos; partidos etc.

Sociais: organizações que assumem cará-ter mais de prestação dos serviços sociais ne-cessários ao bem-estar da sociedade, taiscomo educação, saúde, preservação ambien-te, segurança etc.

Econômicas: têm seu foco na geração deoportunidade de trabalho e renda, relacio-nando-se fundamentalmente com a produçãoe troca de bens e de serviços. São de nature-za econômica, à exemplos de organizaçõeseconômicas as empresas e as cooperativas.

Religiosas: focos de atuação no desenvol-vimento espiritual das pessoas. Ex: igrejas.

19Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

Culturais: Estão voltadas prioritariamenteà promoção da cultura.

No conjunto de organizações existentesnos territórios rurais, aparecem aquelas quetêm como principal propósito promover pro-cessos de encontro e diálogo entre o poderpúblico e a sociedade civil, para a gestão so-cial do desenvolvimento territorial rural sus-tentável. Os consórcios intermunicipais, os con-selhos de políticas públicas, os conselhos de de-senvolvimento rural e os conselhos de desen-volvimento territorial rural sustentável apare-cem como organizações que representam es-paços importantes de encontro e de diálogoentre a sociedade civil e o governo para a ges-tão das políticas públicas voltadas para objeti-vos sociais, econômicos, culturais e políticos.

A importância das organizações parao desenvolvimento territorial ruralsustentável

As organizações são importantes pelos se-guintes motivos: permitem às pessoas con-cretizar propósitos, interesses coletivos,acessar recursos, tecnologias e benefícios queseriam muito difíceis de alcançar ou acessarindividualmente; permitem também a racio-nalização do uso de recursos.

Como a nossa vida em sociedade se dáa partir da dinâmica estabelecida nas rela-

ções entre pessoas, grupos e organizações,é fundamental, para a construção do de-senvolvimento territorial rural sustentá-vel, o nosso olhar e nossa atuação no sen-tido de contribuir para o estabelecimentode sinergias, colaboração e integração en-tre as organizações que fazem parte do ter-ritório ou que desenvolvem ações nos ter-ritórios.

Questões para reflexãoe debate

Quais são as principais organizaçõesque existem no território?

Como surgiram?

Para que servem e como atuam?

Como vemos a complementaridade deações entre as diversas organizações queatuam no território?

Como se relacionam umas com as ou-tras e como é sua relação com a cons-trução do desenvolvimento territorialrural sustentável?

Quais são as suas potencialidades e de-safios para a construção do desenvol-vimento territorial rural sustentável?

20 Ministério doDesenvolvimento Agrário

3. Parcerias, ArranjosInstitucionais e Redes

A construção de formas organizativas quealcancem maior participação social no pro-cesso de gestão social para o desenvolvimen-to rural sustentável tem significado impor-tante, à medida que contribuem para o forta-lecimento das competências das pessoas, ar-ticulação de parcerias, integração dos diver-sos atores governamentais e não-governa-mentais no uso dos recursos disponíveis aserviço da melhoria das condições de vidadas populações rurais, da construção de es-paços de participação e de empoderamentoda sociedade. Neste capítulo do guia, seráapresentada reflexão sobre oito pontos im-portantes para o processo de organização dosatores para a gestão do desenvolvimentoterritorial rural sustentável:

A articulação de parcerias para o de-senvolvimento territorial rural susten-tável;

Os arranjos institucionais e os passospara a sua construção

Os arranjos institucionais para a gestãodo desenvolvimento territorial ruralsustentável;

Algumas questões sobre os arranjosinstitucionais para a implementação deprogramas e projetos

A organização em rede;

Redes sociais e desenvolvimentoterritorial rural sustentável;

Rede de órgãos colegiados para o de-senvolvimento territorial rural susten-tável;

Redes territoriais.

A conexão entre instituições e desenvol-vimento se desdobra em diferentes níveis, tan-to para efeitos de análise como para a cons-trução de iniciativas. Existem regras e acor-dos que funcionam em nível macro, como,por exemplo, a legislação de um país ou asnormas que regem a atuação de órgãos pú-blicos e empresas, e existem regras que ope-ram, sobretudo, numa escala menor, no âm-bito de territórios ou cobrindo iniciativas eatores mais localizados.

Visando evidenciar clarear mais a distin-ção de como instituições operam em diferen-tes níveis, para fins deste guia pedagógico, énecessário estabelecer a diferença entre am-biente institucional e arranjosinstitucionais.

Por ambiente institucional considera-se o con-junto de grandes regras, acordos, leis, nor-mas e contratos, todos os macrorreferenciais,enfim, que estabelecem a base para a produ-ção, a distribuição e a troca entre os agentesde uma sociedade. Isso vale também para as

21Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

macropolíticas e para as orientações gerais dosorganismos públicos.

Por arranjo institucional , por sua vez, conside-ras-se os acordos e contratos entre agentes espe-cíficos, através dos quais eles irão cooperar oucompetir numa dada situação. Os arranjosinstitucionais são estágios mais avançados nasrelações de parceria.

No desenho geral do Ciclo de Gestão Socialdo Território, no momento de implementaçãodas iniciativas locais para o desenvolvimen-to, os arranjos institucionais adquirem impor-tância fundamental. É a partir deles que seconstróem acordos em torno daimplementação dos programas e projetos pac-tuados e de interesse do território.

Antes de aprofundarmos a discussão sobreos arranjos institucionais, apresenta-se conside-rações sobre o primeiro item deste capítulo: aarticulação de parcerias.

3.1 A articulação de parceriaspara o desenvolvimento territorialrural sustentável

A questão da parceria no processo de orga-nização para a gestão social do desenvolvimen-to territorial rural sustentável assume caráter fun-damental, uma vez que o desafio de integrar apluralidade de interesses, de atores, de expectati-vas, de sonhos e de recursos para o alcance deprojeto coletivo de sociedade toma contornosmais fortes e ganha dimensão geográfica maisampliada. A dimensão territorial do desenvolvi-mento amplia os desafios da cooperação, da so-

lidariedade e do diálogo entre sociedade e go-verno na construção de projetos e na gestão depolíticas públicas para o desenvolvimentoterritorial rural sustentável.

É importante enfatizar que, as parcerias seconstróem sobre projetos e sobre pessoas, a par-tir de objetivos comuns e visões compartilha-das. São as pessoas que movimentam as organi-zações, grupos e movimentos e que produzemas mudanças necessárias para a construção denovas relações entre os atores envolvidos noprocesso de gestão social do desenvolvimentono território.

Parceiros são pessoas e/ou organizações quecoordenam ações de maneira integrada, coope-rada e sinérgica, para que os projetos possam terresultados mais positivos.

Construir relações de parceira para o desen-volvimento territorial rural sustentável requer vi-são integradora que considere as novas relaçõesentre o poder público e a sociedade civil. Envol-ve os vários segmentos sociais presentes noterritório na construção de açõesintegradoras dos diversos interesses e obje-tivos e na mediação dos conflitos para a de-finição dos consensos necessários. Parceriarequer a visão de que é importante que exis-ta troca, na qual os parceiros agregam valorà sua ação na relação com o outro.

A articulação de parcerias é o exercícioem que se compartilham recursos para aobtenção de resultados de interesse comum.Para tanto, é importante identificar no ter-ritório quem são os atores que comparti-

22 Ministério doDesenvolvimento Agrário

lham de objetivos comuns, ou potencial-mente podem vir a compartilhar.

Este movimento dos atores sociais eorganizacionais é importante no sentido deestarem abertos para a troca. É um fato pri-mordial para a construção de relações de par-ceria. Parcerias pressupõem confiança, trocae um sentido ético nas formas de relaciona-mento que se constróem. Não pode ser cha-mada de parceria aquela relação em que al-guém dá sua contribuição para o processo ea outra pesso apenas a recebe.

Assim, as organizações e instituições, bemcomo os atores sociais, buscam construir re-lações de parceria motivados pela existência deobjetivos compartilhados na execução de ações.Estas ganham contornos mais fortes e mais qua-lificados pela soma das competências e da açãoconjunta desde o desenho, implementação,monitoramento e avaliação das ações de acor-do com a relação que se constrói na parceria.

Ao estabelecerem relação em parceria, asorganizações e atores sociais trazem para sialgumas vantagens, tais como:

§ Fortalecimento e ampliação da capaci-dade de ação.

§ Realização de projetos e ações conjuntas.

§ Troca de conhecimentos e aprendizado.

§ Compartilhamento de recursos.Mas o simples estabelecimento de parce-

ria com base em objetivos comuns e propó-sitos compartilhados não é suficiente para o

seu sucesso. Alguns fatores são importantespara que a relação de parceria entre pessoas,grupos e/ou organizações seja bem sucedi-da, a saber:

§ Clareza, por parte das pessoas, dosgrupos e/ou das organizações envolvidas, deque não conseguirão solucionar os proble-mas e/ou implementar a ação sozinhos(as),por isso precisam de parceiros, com os quaispossam compartilhar, com compromisso nes-ta ação;

§ Relações em que o poder esteja em ní-veis relativamente iguais, criando condiçõespara o diálogo, a reflexão e a construção desinergia positiva;

§ Clareza sobre a dimensão ética impor-tante nas relações, envolvendo valores, prin-cípios e visão de mundo, que estão coloca-dos nas atitudes, comportamentos e formasde interagir dos atores sociais, das organiza-ções e das instituições entre si na sociedade;

§ Participação em todos os momentos re-lativos à ação ou projeto para o qual estabe-leceram a relação de parceria. A participa-ção no processo de construção das açõesfortalece o sentimento de pertencer, de fazerparte e consolidar um compromisso com osresultados esperados na parceria;

§ E fundamental que haja comunicação po-sitiva e transparência na relação, que os envolvi-dos na parceria consigam compreender ospontos de vista, as formas de expressão decada um(a) e, principalmente, que cada um

23Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

(a) sinta-se à vontade para dialogar e expres-sar suas opiniões e idéias.

Esses elementos são fundamentais para oprocesso de aprendizagem e para a constru-ção dos laços de confiança, que só podem serconstruídos em ambientes e relações que co-locam questões como essas no seu alicerce.

As relações informais anteriores à relaçãode parceria existente entre os atores sociais e asorganizações ou instituições podem ter papelimportante ao possibilitar o diálogo mais pró-ximo entre organizações e grupos sociais, cri-ando bases fortes para relações de confiança quese fundamentam para além das relações formais.

As parcerias para o desenvolvimentoterritorial rural sustentável devem construir-se com o objetivo de somar as forças dos ato-res sociais e organizacionais do território pararesponder aos desafios de transformar aque-les aspectos da realidade que podem alavancaro desenvolvimento ou que dificultam amelhoria das condições de vida das pessoas.

Todos esses desafios estão expressos no Pla-no Territorial de Desenvolvimento RuralSustentável(PTDRS) e são frutos da discus-são, reflexão e decisões tomadas pelo con-junto dos atores que compartilham do obje-tivo de promover o desenvolvimentoterritorial rural sustentável. São esses atores,além dos atores organizacionais, as peças fun-damentais para o alcance dos resultados, nãopodendo, então, estar separados do proces-so de construção das parcerias para o desen-volvimento local. Os produtores e produto-ras rurais, as comunidades quilombolas e in-

dígenas, os(as) pescadores(as), os (as) jovens,os(as) assentados(as) e os(as) acampados(as),enfim, os movimentos sociais são os mais afe-tados pelos problemas e os que mais conhe-cem as potencialidades do território. Portan-to, são os mais interessados na concretizaçãodas ações e, por essa razão, são fundamentaisnos processos de discussão e de construçãode parcerias para o desenvolvimentoterritorial rural sustentável.

As parcerias podem se materializar devárias formas: consórcios intermunicipais,comitês de bacias, movimentos em prol dealguma causa da sociedade, como o meioambiente, as questões apresentadas pelasmulheres, entre outras.

Algumas questões são relevantes parainiciar um processo de construção de par-cerias. Eis algumas:

Qual é o grau de entendimento que os parcei-ros têm de suas mútuas atividades?

Quais são as missões, as estratégias e os valo-res de cada parceiro?

Quais são as áreas de coincidência atuais epotenciais?

De que forma cada parceiro pode ajudar o ou-tro a realizar sua missão?

Até que ponto a cooperação é ferramenta estraté-gica para cada parceiro?

Quais recursos de cada parceiro têm valor para ooutro parceiro?

24 Ministério doDesenvolvimento Agrário

Que benefícios específicos à cooperação renderãopara cada parceiro?

Os benefícios superam os custos e os riscos?

Quais são os novos recursos, capacidades e bene-fícios que podem ser criados pela cooperação?

Qual é o nível de respeito e confiança existenteentre os parceiros?

Como a comunicação entre os parceiros é admi-nistrada?

Há opositores internos? Eles podem ser “convertidos”?

Existe um processo para a avaliação rotineira doaprendizado obtido da cooperação?

3.2 Os arranjos institucionais e ospassos para a sua construção

Depois da discussão sobre parcerias, pode-se tratar agora dos arranjos institucionais, quesão estágios mais avançados nas relações deparceria.

As palavras-chave que devem orientarboas parcerias – transparência, diálogo, ética, par-ticipação, comunicação, compartilhar, confiança,aprendizado – também orientam os arranjos;a diferença é que, nos arranjos, esses elemen-tos envolvem um conjunto mais ou menosamplo de organizações públicas e privadas.

Nos territórios rurais, dois tipos de arran-jos são importantes para a gestão do desen-volvimento territorial rural sustentável: os

que se estruturam para a gestão do desen-volvimento territorial rural sustentável e osque se estruturam para a implementação deprogramas e projetos que foram definidos noplanejamento e estão inseridos no PlanoTerritorial de Desenvolvimento Rural Sus-tentável.

É preciso que os arranjos envolvam osentrelaçamentos do conjunto de organiza-ções, suas competências e seus interesses;ainda, é preciso também que haja uma pers-pectiva futura comum motivando os agen-tes a continuar cooperando em torno decompromissos e contratos assumidos con-juntamente.

Através desses arranjos devem-se estabe-lecer formas para colocar a serviço do de-senvolvimento local as habilidades e as com-petências de um conjunto de organizações eagentes, públicos e privados, individuais ecoletivos.

Os arranjos institucionais bem sucedidos sãoaqueles que procuram:

Dar suporte a uma estrutura de rela-ções na qual os membros possam coo-perar para obter algo que eles(as) nãoobteriam se não fizessem parte destaestrutura; e/ou,

Estabelecer mecanismos de mudançanas regras que governam a ação dosagentes envolvidos, de maneira que es-ses mesmos indivíduos ou grupos pos-sam transacionar em outras bases.

25Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

Assim, a construção de arranjosinstitucionais nos territórios segue quatropassos básicos:

1º. Passo: definição do foco sobre oqual se quer construir o arranjo.

2o. Passo: leitura do quadroinstitucional local.

3o. Passo: diálogo com/entre os agentes.

4o. Passo: operacionalização dos arran-jos institucionais.

Primeiro passo: definição do focoem torno do qual se quer construiro arranjo

Para definir os atores, as organizaçõese as instituições que devem fazer parte doarranjo é importante definir qual o focoem torno do qual os acordos serão esta-belecidos.

A construção da visão de futuro, o diag-nóstico do território e a definição dos eixosde desenvolvimento são os primeiros passospara definir de forma clara o foco das diver-sas ações, programas e projetos para o de-senvolvimento territorial rural sustentável.

Com base na análise da realidade local, osatores que compoem a Comissão de Instala-ção de Ações Territoriais (CIAT) ou colegi-ados territoriais devem definir os rumosdo desenvolvimento e os principais temasa serem tratados, ou seja, os Eixos agluti-

nadores do desenvolvimento, de modo aconseguir criar entre os municípios quecompõem o território a capacidade de tra-balhar juntos, coesos. Os eixos devem ser-vir de “cola” para as ações em torno doprojeto de desenvolvimento do território.

Segundo passo: leitura do qua-dro institucional local

Com o foco da ação definido a partirda visão de futuro e dos eixos aglutinadoresde desenvolvimento, o passo seguinte é lis-tar os potenciais parceiros que poderãoatuar no território de forma coordenadae cooperada. Nesse elenco entram iniciati-vas em nível municipal, estadual, regionale até nacional, que poderiam contribuircom o desenho, a implementação, o moni-toramento e a avaliação dos diversos pro-gramas e projetos em cada eixo de desen-volvimento que compõe o Plano Territo-rial de Desenvolvimento Rural - PTDRS.

Além do levantamento das organizaçõese iniciativas e suas possíveis contribuições,também é importante qualificar essas orga-nizações e agentes, tentando compreendersuas motivações, suas limitações, as possí-veis áreas de conflito entre elas. Desta ma-neira é possível sair de uma leitura idealistae pensar-se em termos reais, abrindo-se paraos interesses de cada um desses agentes.

Desenhado o quadro institucional dos po-tenciais parceiros, resta identificar quais as ha-bilidades e competências que seriam necessá-rias para o bom andamento das iniciativas emquestão, e que possivelmente não estariam su-

26 Ministério doDesenvolvimento Agrário

Funcionamento da matriz

Na primeira coluna, são especificados os ei-xos aglutinadores de desenvolvimento pac-tuados com o conjunto dos atores sociais en-volvidos na construção do Plano Territorialde Desenvolvimento Rural Sustentável. Nasegunda coluna, são listadas, a partir de cadaeixo definido, as propostas de programas eprojetos para alavancar as ações dos eixos.

Na terceira coluna, são listadas, a partir decada eixo e suas propostas de programas eprojetos, as instituições e organizações po-tenciais parceiras ou que já possuem uma re-lação de parceria com atores sociais, movi-

mentos ou organizações no território e quepodem cumprir ou cumprem, atualmente, pa-pel estratégico na organização das demandaspor serviços e por políticas públicas, ou asque têm serviços estratégicos sendo oferta-dos para o desenvolvimento do território. Naquarta coluna, podem ser incluídos aspectosimportantes para se ter em consideração nomomento de estabelecer diálogos e pactuarações com essas organizações e esses agentes(conflitos, problemas, potencialidades).

Na organização da oferta, provavelmentevários atores sociais (organizações e institui-ções) também serão considerados estratégi-cos para atuar em mais de um eixo aglutina-

A Matriz Institucional:Matriz de organização da demanda e da oferta dos serviços

pridas por nenhuma das organizações com atu-ação no território.

Vários instrumentos podem ser utilizados

para apoiar o desenho do quadro institucional.Podemos destacar dentre eles o Diagrama deVenn e a Matriz Institucional que ajudam a defi-nir os atores estratégicos do Território.

27Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

dor, tendo peso importante no processo degestão do desenvolvimento territorial ruralsustentável e papel estratégico no processode desenvolvimento territorial rural susten-tável. Outras organizações e instituições po-dem aparecer como potenciais parceiros e,por ainda não terem relações construídas como território, provavelmente demandarão pro-cesso mais longo na construção da relaçãode parceria. Ao mesmo tempo, diversas or-ganizações podem aparecer da relação queum ator social do território já construiu an-teriormente e, por terem relações anteriorescom o território a partir de pessoas ou deações em curso, ocorrerá um processo maisrápido de construção e definição da formade concretização da parceria em um arranjoinstitucional para a gestão do desenvolvimen-to territorial rural sustentável ou para a im-plementação de programa ou projeto.

Terceiro passo: diálogo e negociaçãocom/entre os agentes

Identificados os(as) agentes, ou seja, os par-ceiros que já atuam no território e os parcei-ros potenciais, o passo seguinte é o de pro-mover o diálogo e a negociação com eles(as)e entre eles(as). Esse diálogo deve se dar combase no foco das iniciativas e também combase nas potencialidades e limites de cada um,tal como indicado nos dois passos anteriores.

Neste momento, é importante que o diá-logo não se dê somente em torno da execu-ção de uma ação, mas que ele traga a possibi-lidade de que a relação estabelecida a partirdaquele projeto possa trazer ganhos para osenvolvidos numa perspectiva futura.

Os arranjos serão mais robustos e maisbem sucedidos à medida que os agentes ve-jam na relação a possibilidade de ganhos (tan-gíveis ou não- tangíveis) para além de umamera “contratação de serviços”. É somenteassim que se pode sair de uma relação de-mandante/demandado para uma relação emque há efetivo compromisso, real confiança,verdadeira cooperação entre os agentes.

Além da clareza em torno do objeto e doefetivo diálogo com os interesses dos agen-tes, é preciso que o arranjo preveja a base paraa avaliação dos acordos estabelecidos. A de-finição das bases em que vai se dar o monito-ramento das iniciativas constitui-se, assim,aspecto determinante.

Quarto passo: operacionalizaçãode arranjos institucionais

A arquitetura dos arranjos não terminacom o estabelecimento de acordos. Ao con-trário, ela, em geral, só se mostra correta ounão, útil ou não, quando esses acordos co-meçam a valer.

É aí que começa a haver ruídos de comu-nicação, é aí que se explicitam as divergênci-as entre atores; é nesse momento que a dis-puta e a competição podem minar as basesda confiança e da cooperação.

Os arranjos institucionais só irão valer e atin-gir o intento desejado se eles forem vistoscomo processos permanentes de concerta-ção e de diálogo, nos quais a transparência ea comunicação orientam a solução de confli-

28 Ministério doDesenvolvimento Agrário

tos, sempre estimulando confiança e coope-ração. Este caráter, enquanto tais, precisamestar explicitados e bem equacionados des-de o início.

Quando pensado com essas característi-cas, os arranjos institucionais se diferenciamnitidamente de parcerias pontuais e tambémdas CIATs o colegiado territoriais.

A idéia de parceria, em si, não tem nada deconflitante com a idéia de arranjos institucionais.Em certa medida, os arranjos institucionais sãoestágios mais complexos, mais avançados dese estabelecer relações de parcerias. Com isso,é preciso que os arranjos envolvam os entrela-çamentos desse conjunto de organizações, suascompetências e seus interesses; ainda, é preci-so também haver perspectiva futura comummotivando os agentes a continuar cooperan-do em torno de compromissos e contratosassumidos conjuntamente.

Da mesma forma, os arranjos institucio-nais em torno da implementação de projetosnão se confundem com os órgãos ou fórunslocais de gestão das iniciativas territoriais,como as CIATs, que, de certa forma, são tam-bém certo tipo de arranjo.

3.3 O arranjo institucional para a ges-tão do Desenvolvimento TerritorialRural Sustentável

Enquanto à CIAT ou o colegiado territo-rial cabe papel diretivo e técnico na gestãodas iniciativas territoriais, aos arranjos insti-tucionais cabe a orientação e o acordo entre

partes envolvidas na implementação dessasiniciativas. Isso quer dizer, por exemplo, quedeterminada empresa pública pode não tersede no território (e, com isso, não compora instância colegiada), mas ser imprescindívelpara a implementação das ações definidas; ela,obviamente, tem que compor o arranjo insti-tucional a ser criado. O mesmo vale para umauniversidade ou um centro de pesquisa.

As atribuições do arranjo institucionalou do colegiado para a gestão do desen-volvimento territorial rural sustentável

As principais atribuições do arranjo institu-cional ou do colegiado para a gestão do De-senvolvimento Territorial Rural Sustentável são:

Sensibilizar, comprometer, articular ecoordenar os atores sociais do territó-rio, com vistas à construção coletiva do Pla-no de Desenvolvimento Rural Sustentável,em seus diversos ciclos.

Promover a elaboração das agendas deprioridades, bem como a seleção dos pro-jetos a serem implementados em cada fasedo PTDRS.Articular e apoiar os arranjos institucionaisque, no âmbito do território, se responsa-bilizando pela elaboração, implantação eoperação dos projetos específicos.Estimular e apoiar a criação de RedesTerritoriais de prestação de serviços(assistência técnica, capacitação, tecno-logias apropriadas, informação/divul-gação etc), bem como apoiar a sua es-truturação e operacionalização;

29Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

Encaminhar o processo de negociaçãode programas, projeto e ações orienta-dos para o desenvolvimento sustentá-vel dos territórios;

Promover o acompanhamento e avali-ação do processo de desenvolvimentoterritorial rural sustentável, com enca-minhamento das providências necessá-rias ao seu aperfeiçoamento.

A composição do arranjo institucionalou instância colegiada para a gestão dodesenvolvimento territorial rural susten-tável.

Na sua composição, o arranjo institucionalou instância colegiada deve ter caráter míni-mo paritário (Estado e Sociedade Civil) e arepresentação do número de membros podeser consensualizada entre os atores que par-ticiparem das primeiras oficinas.

As Resoluções nos 48 e 52 do CONDRAFapresentam recomendações relevantes quan-to à composição da instância colegiada paraa gestão do desenvolvimento territorial ru-ral. A seguir são apresentados trechos de taisresoluções.

Paridade Sociedade Civil e Gover-no: recomenda-se que no mínimo 50%das vagas sejam ocupadas por repre-sentantes de organizações ou entidadesda sociedade civil relacionadas à agri-cultura familiar3 em suas diversas ma-nifestações, incluindo, nesse público, aspopulações tradicionais (índios, negros,quilombolas, extrativistas, silvicultores,aqüicultores, pescadores artesanais edemais atores de populações que pos-sam vir a ser identificadas nos territó-rios). O outro percentual dos 50% dasvagas pode ser ocupado por represen-tantes governamentais (dos poderesExecutivo, Legislativo ou Judiciário)vinculados à temática do desenvolvi-mento rural sustentável – inclusive uni-versidades, organizações ou instituiçõesde pesquisa e extensão rural. Incluem-se também as organizações de caráterpara-governamental (associações demunicípios, SEBRAE, sociedades deeconomia mista em que a presidência éindicada pelo poder público, dentreoutras) e de outros setores da socieda-de civil organizada, não diretamentevinculados à agricultura familiar (comoempreendedores rurais do setor de ser-viços e industrial);

Diversidade e pluralidade: a compo-sição das instâncias colegiadas para oDesenvolvimento Rural deve ser repre-sentativa, diversa e plural dos atoressociais relacionados à promoção dodesenvolvimento rural dos territórios.È importante atentar para a pluridade

3 Para “agricultor familiar” adota-se o mesmo conceito do Pro-grama Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar(PRONAF), qual seja, aquele que inclui: (a) Produtores(as) cujo traba-lho seja de base familiar, quer sejam proprietários(as), posseiros (as),arrendatários(as), parceiros(as) ou concessionários(as) da reformaagrária; (b) Remanescentes de quilombos e dos povos indígenas; (c)Pescadores(as) artesanais que se dediquem à pesca artesanal, comfins comerciais, explorem a atividade como autônomos, com meiosde produção próprios ou em parceria com outros pescadoresartesanais; (d) Extrativistas que se dediquem à exploração extrativistaecologicamente sustentável; (e) silvicultores(as) que cultivam flores-tas nativas ou exóticas, com manejo sustentável; e (f) Aqüicultores(as)que se dediquem ao cultivo de organismos cujo meio normal oumais freqüente seja a água.

30 Ministério doDesenvolvimento Agrário

de concepções e representação de inte-resses, isto é, uma das maneiras de for-talecer os mecanismos de gestão socialé trazer aos colegiados concepções ouvisões distintas (complementares ou di-vergentes) para que se negocie entendi-mentos e acordos sobre os rumos dodesenvolvimento do território;

O processo de amadurecimento dasinstâncias colegiadas para o desenvolvi-mento Rural poderá discutir e avaliar sea composição definida em cada caso con-sidera as demandas específicas dos pro-cessos de desenvolvimento territorial;

Gênero, Raça, Etnia e Geração: acomposição das instâncias colegiadas parao desenvolvimento Rural deve contemplaras questões de gênero, raça, etnia e geração,garantindo a participação da diversidade deatores sociais do território, bem como a di-versidade de organizações que representamseus interesses e demandas, tais como orga-nizações de quilombolas, de indígenas, demulheres, de jovens.

Processo de formalização dos repre-sentantes: é importante que os representan-tes das organizações que compuserem as ins-tâncias colegiadas para o desenvolvimentoRural sejam indicados(as) por suas respecti-vas organizações e que essa indicação sejaformalizada através da apresentação da Atada Reunião na qual foi decidida a indicação;

Participação de entidades de asses-soria técnica: considerando o objetivo de

empoderamento e de fortalecimento dos ter-ritórios através da gestão social do desenvol-vimento, as instâncias colegiadas para o de-senvolvimento rural deverão, preferencial-mente, ser compostas por entidades repre-sentativas e pertencentes aos territórios; noentanto. É fundamental a participação de en-tidades extraterritoriais que atuem no apoio,assessoramento e prestação de serviços es-pecializados. A participação dessas entidadesdeve ser uma decisão dos atores sociais noterritório envolvidos no processo de gestãosocial.

O número de membros: a composi-ção, incluindo o número de membros, deve serdefinida de modo consensual entre os atoresque participarem das primeiras oficinas.Deve-se levar em consideração o tamanho doterritório; a quantidade de entidades organi-zadas da sociedade civil; a maior ou menorfacilidade de transporte e comunicação noterritório; os conselhos municipais existen-tes e sua atuação; a disponibilidade de recur-sos para atender às necessidades de desloca-mentos e hospedagem/alimentação etc. Ascaracterísticas locais é que irão direcionar acomposição das instâncias colegiadas para odesenvolvimento Rural, porém, deve haverpreocupação em garantir representatividadeequilibrada (tanto entre municípios, ou sub-territórios, como entre grupos de atores),mas, ao mesmo tempo, permitir o dinamis-mo necessário ao funcionamento da Comis-são (maior necessidade de reuniões, especi-almente nas primeiras etapas do Programade Desenvolvimento Sustentável de Ter-ritórios Rurais);

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Guia para a Organização Social

Instâncias colegiadas como umsistema aberto: a composição deve seraberta para permitir de forma permanen-te, a agregação de novos membros im-portantes para as ações em construção,para o desenvolvimento territorial, e paraconsiderar que, à medida que se avançana multidimensionalidade e na intersetori-alidade dos planos territoriais, serão ne-cessários novos atores sociais ligados àsdimensões e setores que vierem a ser in-corporados;

Participação de organizações locais einter-municipais: a representatividadeentre municípios, ou subterritórios, nãodeve impedir a presença de representan-tes de entidades que atuam em base inter-municipal ou em todo o território, o quepossibilitará combinar a visão espacial-mente limitada (por exemplo: os defenso-res de interesses comunitários) com a vi-são mais ampla (por exemplo: represen-tantes de instituições que atuam na região).

A estrutura do arranjo institucional ou ins-tância colegiada para a gestão do desenvol-vimento territorial rural sustentável

Inicialmente, o arranjo institucional ou ins-tância colegiada deve estruturar-se a partir de trêsesferas:

1. Plenário;

2. Núcleo dirigente (ND);

3. Núcleo Técnico (NT).

O Plenário é o órgão colegiado superior, aoqual competem todas as decisões estratégicas li-gadas ao processo de desenvolvimento territo-rial rural sustentável, entre as quais estão:

Articulações institucionais orientadaspara o desenvolvimento territorial ru-ral sustentável;

Análise e aprovação dos Planos Terri-toriais de Desenvolvimento Rural Sus-tentável, bem como das respectivasagendas de prioridades;

Seleção dos projetos específicos a se-rem implementados a cada ano, bemcomo indicação das entidades ou pes-soas encarregadas da sua elaboração;

Apreciação dos relatórios de acompa-nhamento e avaliação e definição sobreas providências de aperfeiçoamentoque forem necessárias.

O Plenário também ficará responsável pelaelaboração, análise e aprovação do regimento inter-no, o qual detalhará, entre outros aspectos, as pri-oridades e forma de convocação das reuniões eas regras relativas às tomadas de decisões.

O ND – Núcleo Diretivo terá a função decoordenar as ações do arranjo ou instância co-legiada, articulando atores sociais para a cons-trução e implementação dos planos e proje-tos territoriais e, de maneira geral, para a efe-tivação das decisões do Plenário. Deverá tercaráter paritário e ser representativo das for-ças estratégicas atuantes no território.

32 Ministério doDesenvolvimento Agrário

O NT - Núcleo Técnico terá como atri-buição essencial oferecer o apoio técnicoàs atividades da instância colegiada e de-verá ser formado por organizações deapoio e assessoria técnica.

À medida que as ações nos território vãoamadurecendo, e com ela as relações dosatores sociais dentro de tal arranjo instituci-onal ou instância colegiada, novas células deatuação poderão ser criadas para responderas atribuições e competências demandadaspelo Plano Territorial de DesenvolvimentoRural Sustentável. O seu modelo de Gestãodeverá ser construído com os atores que delafazem parte a partir de reflexão sobre os as-pectos anteriormente colocados.

O fundamental é que se construa com oconjunto dos atores sociais algumas certe-zas sobre os objetivos, estrutura, papéis eatribuições de cada um e das células de atu-ação, garantindo-se a eficiência nos proces-sos e resultados.

3.4 Algumas questões sobre arranjosinstitucionais para a implementação deprogramas e projetos

Neste tópico, são apresentadas algumasquestões para reflexão sobre os arranjos institu-cionais. relacionadas à sua operacionalização emtorno da implementação de projetos de desen-volvimento territorial rural sustentável.

Uma primeira questão diz respeito à compo-sição dos arranjos: eles seriam um arranjo de agen-tes e organizações ou um arranjo de iniciativas?

Um bom arranjo institucional não podeprescindir nem de uma, nem de outra coisa,afinal processos sociais só existem porque exis-tem agentes sociais por detrás deles; logo, osarranjos têm de ser articulados a partir da iden-tificação de agentes concretos – pessoas ou or-ganizações. Mas os arranjos, como foi destaca-do nas páginas anteriores, não se resumem amera justaposição de organizações em tornoda implementação de projeto; espera-se bemmais dessa relação. Por isso, é preciso comporo arranjo com base numa articulação de inte-resses dos agentes envolvidos, de maneira que,a partir disso, possa existir cooperação e apren-dizado, tendo por objeto principal ou por ele-mento de aglutinação dos interesses as açõesprevistas no projeto a ser implementado. Ar-ranjos institucionais são, portanto, compostos deagentes e de acordos.

Uma segunda questão diz respeito à arquite-tura dos arranjos: num território onde sãoimplementados vários projetos, deve-se ar-ticular um grande arranjo envolvendo as ins-tituições do território ou um arranjo em tor-no de cada projeto a ser implementado?

Como o que se espera é uma relação quevá além de um projeto, avançando para umarelação mais duradoura, de médio e longoprazo, aonde cooperação e aprendizado vãose sedimentando gradativamente, é desejávelque os arranjos não se limitem à esfera de umúnico projeto, e sim que se apóiem neste pro-jeto para apontar e construir as possibilida-des futuras. Isso não quer dizer, obviamente,que os acordos em torno da implementaçãode um projeto específico devem ser secun-

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Guia para a Organização Social

darizados; ao contrário, eles são a base con-creta para novos acordos e para um estreita-mento de relações. Da mesma forma, se hou-ver mais de um projeto em curso, para o qualé importante a articulação de um conjuntode organizações, nada impede que o arranjo,que os acordos e regras a serem estabeleci-dos envolvam esses diferentes projetos. Éassim que se torna possível sair da lógica frag-mentada e particularizada de iniciativas iso-ladas e caminhar em direção a uma articula-ção densa de interesses e iniciativas, tendo poreixo o desenvolvimento territorial rural sus-tentável.

Uma terceira questão diz respeito à coorde-nação dos arranjos institucionais: são as insti-tucionalidades de gestão do desenvolvimen-to territorial rural sustentável que irão “co-ordenar” esses arranjos?

Pelas características estabelecidas para es-sas articulações territoriais, é certo que asCIATs (ou outra forma de gestão local dasações) vão impulsionar a formação dessesarranjos, mas espera-se que sua constituiçãotraga em si as regras de funcionamento dessearranjo. A partir daí, é impossível prever o flu-xo de relações a ser estabelecido: haverá situ-ações em que as CIATs continuarão tendo pa-pel articulador, enquanto que, em outras situ-ações, uma das organizações que compõem oarranjo terá papel mais destacado na coorde-nação das ações; numa terceira possibilidadenão há papel de coordenador(a) estabelecidoe sim divisão de tarefas, responsabilidades, ini-ciativas em que há uma maior simetria entreos(as) agentes. O fundamental será, sempre,

estabelecer bom acordo, levando em contatanto as iniciativas a serem implementadascomo os interesses dos agentes, tentandoamalgamá-los numa perspectiva de coopera-ção em perspectiva de médio e longo prazo.

3.5 A organização em rede

Outra forma de organizar a cooperaçãoentre diferentes agentes públicos e privados,organizações sociais e movimentos são as re-des. Assim como nos arranjos institucionais,redes sociais são formas de articulação de ha-bilidades, competências, mecanismos de co-laboração. São meios de se combinar recursoshumanos, cognitivos, materiais. São tambémmaneiras de estruturar relações duráveis entreorganizações e pessoas com interesses distin-tos, mas muitas vezes interdependentes, às ve-zes complementares, às vezes conflituosos.

Embora “ rede” seja um termo que vemsendo muito utilizado na atualidade, a práti-ca que a ela faz-se referência não é tão nova.

Todos nós fazemos parte de alguma rede,porque fazemos parte de coletividade,como, por exemplo, aquela rede deamigos(as) que acionamos quando queremoscomemorar alguma coisa em nossa vida, arede de profissionais que trocam idéias so-bre algum tema, as redes de religiosos, asredes de debate de temas interessantes paraestudantes.

Vivemos em uma sociedade em rede,com várias redes dentro dela, que se articu-lam, se comunicam, trocam informações.

34 Ministério doDesenvolvimento Agrário

Existem as redes de computadores, re-des de telefonia, redes de rádio e de TV, quefuncionam com base na tecnologia da infor-mação e da comunicação, ligando e aproxi-mando lugares e pessoas em praticamentetodos os cantos do mundo. Essas são redestecnológicas e têm como traço comum jus-tamente essa interconexão de vários pontos,fazendo, através desses pontos, fluir os ele-mentos que alimentam a rede e que são suarazão de ser. Já as redes sociais, podem surgirde maneira relativamente espontânea das re-lações que certas pessoas mantêm por umbom tempo, sem precisar que, necessaria-mente, alguém diga explicitamente: “somosuma rede!”; ou podem também surgir da in-tenção de uma ou mais organizações mobi-lizar pessoas, organizações e recursos visan-do determinado fim.

Mas, afinal, como podemos definir o que é umarede? E o que isso tem a ver com desenvolvimentoterritorial ?

Uma rede para ser resistente precisa terboas amarras, bons “nós” ligando seus fios egarantindo tanto a sua capacidade de retençãocomo de fluxo e conexão. É assim com as re-des de pescadores(as), com as redes de futebol,com as redes de informática e também é assimcom as redes de pessoas e de organizações. Oque alinhava esses “nós” fundamentais para aconstrução de uma boa relação em rede entrepessoas e organizações são aspectos como:

Missão, valores e objetivos comparti-lhados; conectividade; participação ecolaboração; multiliderança e horizon-

talidade; realimentação e informação;descentralização e capilarização; dina-mismo.

Valores e objetivos compartilhados são im-portantíssimos para que as pessoas e as organi-zações que se propõem a trabalhar em redecriem vínculos. É a partir desses vínculos quese estabelecerão pactos e compromissos ou, in-versamente, conflitos e atritos.

Vínculos são relações que se constroem en-tre os sujeitos a partir dos quais se estabelecemprocessos de comunicação e aprendizagem. Ovínculo, não necessariamente, se dá de formaindividual, a partir da interação direta entre duaspessoas. Em boa parte das vezes ele envolveaspectos grupais, comunitários, sociais. Víncu-los positivos propiciam um bom nível de rela-ções interpessoais, e podem contribuir paracriar um clima de empatia e identificação, ele-mentos necessários tanto à criação como à sus-tentação das conexões entre essas pessoas egrupos.

Conectividade: são os pontos de encontroentre as competências das pessoas e das or-ganizações. Uma rede é um entrelaçamentode fios que se encontram e se sustentam atra-vés dos nós. Esses nós, essas conectividades,quando bem construídos, criam boas possi-bilidades de encontro igualmente densos ecoesos. Por outro lado, quando são frouxos,tendem a gerar relações igualmente frágeis einconsistentes.

Descentralização e capilarização: uma redenão tem um centro fixo. Cada ponto da rede

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Guia para a Organização Social

é um centro em potencial. Redes podem sedesdobrar em múltiplos níveis ou segmen-tos autônomos capazes de operar com rela-tiva independência perante o restante da rede,de forma temporária ou permanente, con-forme a demanda ou a circunstância. Essas“sub-redes” têm o mesmo valor e importân-cia da rede maior à qual se vinculam. Quantomais interações, quanto mais conexões foremgeradas, maior o volume e maior a diversi-dade de recursos que, tendencialmente aomenos, podem fluir entre os agentes.

Dinamismo: rede é estrutura dinâmica, emque o movimento pode até ultrapassar fron-teiras físicas ou geográficas. O que é certo éque elas também têm forte aderência territo-rial:. são favorecidas por relações de proxi-midade, guardam estreita relação com as for-ças sociais que influenciam nos rumos de umdeterminado espaço. As redes são multiface-tadas. Cada retrato de uma rede, tirados emmomentos diferentes, revelarão uma facenova. E isso é positivo, pois é necessárioque as formas de relação entre pessoas e or-ganizações evoluam e se modifiquem deacordo com a evolução dos problemas e dassituações que elas visam dar conta.

Participação: ter senso de propósito com-partilhado é condição fundamental, mas nãosuficiente para que uma rede se constitua, fun-cione bem e tenha durabilidade. Também édeterminante a participação, para que a cons-trução dos resultados desejados se transfor-me em aprendizado. A participação dos inte-grantes de uma rede é também o ingredien-te que a faz funcionar de fato. Uma rede só

existe quando há movimento. Sem a partici-pação, deixa de existir o movimento da redee através da própria rede. E a participaçãonão pode e nem deve se restringir aos mo-mentos formais: reuniões, oficinas, cursos.Ela deve ocorrer através de mecanismos for-mais e informais de consulta (mesmo aossegmentos não representados em conselhos,por exemplo), e precisa, sobretudo, resul-tar em efetivos compromissos. Somente as-sim os laços de confiança se sedimentam.Para isso será necessário reconhecer as com-plementaridades e exercitar formas e pro-cedimentos adequados a dar conta das dife-renças; diferenças de trunfos que podem sermobilizados na participação e diferenças deexpectativas quanto aos resultados que sepode obter.

Colaboração: a colaboração deve ser umdos elementos fundamentais numa rede. Cadaum(a) contribui com sua parte para a cons-trução dos resultados e alcance dos sonhosde todos e individualmente de cada um(a) narede. A participação deve ser colaborativa,porque, principalmente naqueles territóriosmais frágeis e de menor dinamismo, é somen-te através da combinação de diferentes es-forços e recursos que se pode romper comsituações de estagnação ou de degradação.

Multiliderança e Horizontalidade: Uma redenão deve se prender a hierarquias predefini-das ou apoiar-se em estruturas rígidas. A li-derança na rede deve ser resultado das intera-ções que nela ocorrem; não devem se trans-formar em excesso de verticalismos ou nacristalização de relações de dependência . As

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formas de coordenação em redes devem sercompartilhadas e estimular ao máximo a ho-rizontalidade nas decisões e na execução deações comuns. Para isso, novamente é precisosensibilidade e engenhosidade para, mais doque respeitar, valorizar competências, experi-ências, habilidades e também interesses e ex-pectativas de cada um.

Realimentação e Informação: a comunicaçãoé outro elemento fundamental para uma or-ganização em rede. As mensagens e informa-ções devem circular livremente e de modo

eficiente, de cada ponto da rede para todosos outros pontos, de modo que a maior par-te deles, se possível todos, estejam em comu-nicação simultânea.

Cada ponto da rede, ou seja, cada pessoaou organização recebe e envia informaçãopara os demais, que também sãoemissores(as). O importante nesses fluxos éa realimentação do sistema, isto é, retorno,(feedback). Consideração e legitimidade dasfontes são essenciais para a participação co-laborativa e para a avaliação de resultados.

de propósito compartilhado entre os ato-res/organizações presentes nesta primeira“célula” da rede.

Assim, imbuídos de nivelamento concei-tual sobre o que seria rede, sobre a impor-

Existem quatro etapas básicas cíclicas, nãolineares, que podem e devem acontecer demodo concomitante e permanente, se a redefor considerada como um sistema aberto emconstante processo de construção e acomo-dação de parceiros.

3.6 Passos para construção de uma rede

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Guia para a Organização Social

1o Ciclo: articulação de parcerias

Esta etapa deve envolver atividades com oobjetivo de contactar potenciais parceiros,conhecendo sua atuação, identidade e objeti-vos. Primeiramente, os contatos devem ser demodo individual e, posteriormente, coletivos,para promover o conhecimento entre os po-tenciais parceiros. Esses momentos coletivosdevem propiciar a socialização de informaçõessobre atuação de programas, projetos e ativi-dades desenvolvidas pelas organizações e pes-soas, ou seja, suas competências. Também ser-vem para verificar as possibilidades de parce-ria dentro de um foco comum.

Esse processo pode iniciar com o núme-ro mínimo de potenciais parceiros e ir se am-pliando a partir da agregação de novos par-ceiros, qualificando essas parcerias e viabili-zando informações que sejam importantespara a construção do senso de propósitocompartilhado e atuação em rede.

2º Ciclo: senso de propósitocompartilhado - construindo asconexões da rede

O primeiro passo na construção deste sen-so de propósito compartilhado é o momen-to de reflexão sobre o que é uma rede e seusatributos, forma de funcionamento e princí-pios, a fim de que todos os(as) parceiros(as)articulados(as) possam refletir e respondera seguinte questão: “queremos ser umarede?”. Sendo a resposta positiva, podemosiniciar o processo de construção do senso

tância da construção do senso de propósi-to compartilhado (missão, visão de futuro,valores e metas), define-se assim os elos nãocomo elementos fechados, decretados, masdirecionadores da organização e em contí-nua construção.

3o Ciclo: identificando as competências e construindo aconectividade da rede

Para construir a conectividade, é precisoencontrar os pontos de interação e de inte-gração.

Além da identificação das diversas com-petências disponíveis na rede, o conheci-mento das missões, dos valores, da visão defuturo, das ações desenvolvidas é o primei-ro passo para buscar os pontos de conecti-vidade da rede e visualizar como se encon-tram nessa malha as diversas ofertas dos ato-res público e privado e as demandas dosatores sociais, criando movimento de comu-nicação entre eles(a).

Tal conhecimento pode ser construído apartir da socialização e análise da oferta dosseus produtos ou serviços(portifolios), no sen-tido de começar a identificar os elos, a ma-lha de relações que puderem vir a ser esta-belecidas.

Estabelecida essa dinâmica, parte-se paraa criação de ambiente capaz de promoversinergia entre as organizações e as pessoas quese mostraram dispostas a colaborar comações em foco, estabelecida ao mesmo tem-

38 Ministério doDesenvolvimento Agrário

po em que se sentem motivadas a participarativamente como animadores(as) do proces-so de construção de uma rede.

Tendo melhor definidas as identidades or-ganizacionais e as diversas experiências eações que se desenvolveram nas organiza-ções, é possível partir para a construção deuma matriz cruzada dos programas/ações aserem integrados, para a delimitação das par-cerias, o aprofundamento dos princípios éti-cos da rede e o conhecimento da demandado território nas ações estruturantes e para oatendimento das demandas imediatas capa-zes de apoiar a construção de ações estraté-gicas de ação e de comunicação.

4o Ciclo: implementação, acompanha-mento e avaliação das ações em rede

Para que a rede saia do discurso, da refle-xão para a prática, dando concretude às idéi-as, expectativas, sonhos e objetivos compar-tilhados, é preciso que se construa o seu pla-nejamento e se definam os mecanismos detransparência, de prestação de contas, decomunicação, de decisão e de gestão com-partilhadas.

A construção de ações concretas em par-ceria com os diversos atores e organizaçõesque fazem parte da rede fortalece os “nós”,ou seja, os elos da rede.

O planejamento de uma rede voltada parao desenvolvimento territorial rural sustentá-vel rural deve considerar as demandas dasociedade, definindo objetivos, ações, metas,

resultados a serem alcançados e formas deacompanhamento e avaliação.

A formação e capacitação de liderançaspara apoiar o processo de articulação, de co-ordenação das redes na implementação desuas ações, de monitoramento e avaliação par-ticipativos, animando as redes, é fundamen-tal para a garantia de sua constância e conti-nuidade ao longo do tempo.

Etas redes, abertas à participação da so-ciedade, em seu processo de gestão, no pla-nejamento, implementação, acompanha-mento e avaliação fortalecem junto à soci-edade o exercício da gestão social e docontrole social das políticas públicas namedida em que se relacionam com as açõesdo governo. Esse espaço de aprendizadopara a sociedade também fortalece o capi-tal social do território.

Segundo Cássio Martinho (2001) o maiordesafio para as redes é se efetivar como ato-res políticos, mantendo sua coerência na ho-rizontalidade da gestão e democracia dos pro-cessos de decisão, pois são esses elementosque as constituem como atores políticos, in-terlocutores de governos e organizações não-governamentais na gestão social das políti-cas públicas.

Questões para reflexão e debate

Quais as principais redes existentes no meiorural? E no seu território?

Como as redes podem fortalecer os territórios?

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Guia para a Organização Social

Qual a contribuição das redes no processo dedesenvolvimento territorial rural sustentável?

Que atores e organizações participam destasredes e quais os seus objetivos e ações no apoioao desenvolvimento rural?

Como articular as redes que atuam nos territó-rios rurais no processo de gestão social do Pla-no Territorial de Desenvolvimento Rural Sus-tentável?

Se no seu território não existem redes em apoio aodesenvolvimento rural, como apoiar processos deconstrução desses espaços no apoio à gestão socialdo Desenvolvimento Rural Sustentável?

3.7 Rede de Órgãos ColegiadosPara o DesenvolvimentoTerritorial Rural Sustentável

O fortalecimento da agricultura familiare a promoção do desenvolvimento rural sus-tentável não são possíveis de ser alcançadosapenas envolvendo escala de atuação muni-cipal; envolve também a construção de solu-ções inseridas num contexto mais amplo, osquais envolvem o desenvolvimento de açõesde caráter territorial, como, por exemplo:investimento em infra-estrutura; criação deredes socioeconômicas; promoção de pro-cessos de aprendizagem de caráter multipli-cador etc. As políticas públicas nacionais eestaduais interferem na criação de condiçõesfavoráveis (ou desfavoráveis) nos territóriose municípios, para a promoção do desenvol-vimento rural sustentável.

Por isso, faz-se necessária a integração dosconhecimentos, experiências e ações desen-volvidas nas escalas municipal, territorial,estadual e nacional.

A discussão sobre o desenvolvimento ru-ral e o apoio à agricultura familiar hoje se co-loca diante de novos desafios, tais como:

A presença de institucionalidades capa-zes de promover o processo de gestãosocial do desenvolvimento local de for-ma legítima para os cidadãos e cidadãs;

Pensar a dinamização econômica a par-tir de espaços territoriais mais amplosque a esfera do município, articulandoarranjos produtivos locais numa visãode desenvolvimento socio-econômico;

Valorização do capital cultural e natural;

Aperfeiçoamento das competênciasdas pessoas e das organizações.

Sendo as institucionalidades de gestão dodesenvolvimento territorial rural sustentável(CONDRAF, CIAT, Colegiado de Desenvol-vimento Territorial - CODETER, ConselhoEstadual de Desenvolvimento Rural Susten-tável - CEDRS, Conselho Municipal de De-senvolvimento Rural - CMDR, entre outros)espaços de consulta e/ou deliberação para agestão do desenvolvimento rural, devem fo-mentar o diálogo e a parceria entre os atoressociais, seus segmentos e os municípios.

É fundamental que essas institucionalidadesde gestão do desenvolvimento territorial ru-

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ral sustentável reflitam sobre os fatores con-dicionantes de sua ação efetiva e os novosdesafios que se colocam para sua atuaçãoneste novo arranjo institucional que as envol-ve em âmbito municipal, territorial, estadu-al e nacional, na discussão de estratégias sus-tentáveis para o desenvolvimento rural noBrasil.

A constituição de uma rede de órgãos colegia-dos que lidam com o desenvolvimento rural sustentá-vel é muito importante. Pode se transformarnum instrumento capaz de contribuir para“mobilizar as forças vivas que compõem omeio rural brasileiro”. A perspectiva de atu-ação em rede, com suas conexões (ações emparceria e complementares) e conectividades(missões, objetivos e valores) é fundamentalpara fortalecer as relações para a efetividadede uma ação articulada e com sinergia.

A sustentabilidade desses espaços pauta-se também em marcos legais flexíveis, taiscomo: capacitação dos quadros técnicos e ge-renciais; sistemas de gestão simples; acesso ainformações importantes para o planejamen-to; mecanismos de acompanhamento e ava-liação; canais de participação que fortaleçamo processo de descentralização.

É imprescindível que se construam opor-tunidades e estratégias de autopercepção eauto-análise dentro deste novo contexto soci-opolítico e econômico, a fim de se construirproposta de atuação que contribuam para ofortalecimento de sua ação na promoção do

desenvolvimento rural sustentável no Brasil.Desenvolver intercâmbios e ações integra-

das entre os conselhos municipais de desen-volvimento rural sustentável, as CIATs ouCODETER (ou outras organizações territo-riais de desenvolvimento sustentável), os con-selhos estaduais (CEDRS) e o Conselho Na-cional de Desenvolvimento Rural Sustentável(CONDRAF) é importante nesta construção.

Considerando os elementos abordadosaté aqui sobre redes de órgãos colegiados, éimportante refletir com os territórios sobreas seguintes questões, sobretudo, para quemestá envolvido(a),de alguma maneira, com aconstrução do desenvolvimento territorialrural sustentável:

Questões para reflexão e debate

Como anda o funcionamento dos arranjos ins-titucionais ou institucionalidades de gestão dodesenvolvimento territorial rural sustentável ?

Quais são as principais facilidades e desafiospara se constituírem como um espaço demo-crático de gestão social do desenvolvimento sus-tentável do território?·

Como posso contribuir enquanto pessoa, gruposocial ou organização para que as institucio-nalidades de gestão do desenvolvimento terri-torial rural sustentável cumpram o seu papelde se tornar um espaço democrático?

41Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

3.8 Rede de territórios rurais

A estratégia de apoio aos territórios ru-rais pauta-se nos princípios da cooperação ena solidariedade para a construção de pro-cesso de desenvolvimento mais sustentável.

Esta estratégia significa a tentativa deconstruir espaço que possibilitem que possi-bilite às organizações, aos movimentos sociaise às redes socioprodutivas espalhadas no Paísdialogarem e se conectarem, na perspectiva deinfluenciarem na definição das agendas, na cons-trução construção e implementação de políti-cas públicas para o desenvolvimento rural.

Existe, pois, a possibilidade de formaçãode redes em torno do desenvolvimento ter-ritorial, que poderá ser composta por diver-sas redes temáticas ou por diferentes instân-cias tanto de caráter político como operaci-onal, a saber:

redes de órgãos colegiados (CON-DRAF, CEDRS, CMDRS, outros co-legiados voltados para a gestão do de-senvolvimento sustentável);redes de Ongs que discutem a temáti-ca do desenvolvimento sustentável;

redes de entidades governamentais deações voltadas para o desenvolvimen-to territorial;

redes de apoio às agroindústrias, de dis-cussão sobre a educação do campo, deprestação de serviços de assistência téc-nica; redes de mulheres; redes de co-munidades quilombolas e indígenas;entre outras.

Essas redes também podem ser o elo comoutros órgãos governamentais estaduais e fe-derais na medida em que dialogam com di-versos parceiros na execução de suas açõese, nesse processo de construção de estraté-gia de territórios, podem ser os pontos deconexão, favorecendo processos de integra-ção de esforços e ações em apoio ao desen-volvimento rurais.

Mapear as redes existentes nos territóri-os, discutir como podem ser construídas re-lações, aproximar os territórios das redes jáexistentes podem ser os primeiros passospara o processo de articulação dos territó-rios em rede.

Esse processo deve promover a troca deexperiências, no sentido de ir construindo aidéia de rede, criando os “nós” na medidaem que se vão identificando os pontos de co-nexão e as possibilidades de parcerias ondeas diferentes experiências, processos históri-cos, marcos ideológicos e políticos possamdialogar sem perder a autonomia, propici-ando processos de aprendizagem e de troca.

42 Ministério doDesenvolvimento Agrário

43Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

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BibliografiaConsultada

44 Ministério doDesenvolvimento Agrário

SHEIN, Edgar H. Psicologiaorganizacional. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil Ltda, 1982.

SCHNEIDER, Marcelo K. Silva,MARUES, Paulo, E. Moruzzi, CAZELLA,Ademir Antonio et al. Políticas públicas eparticipação social no Brasil rural. PortoAlegre: Ed. UFRGS, 2004.

ZAPATA, Tânia, PARENTE, Silvana.Parceria e articulação institucional parao desenvolvimento local integradosustentável. Projeto Banco do Nordeste/PNUD, Série Cadernos Técnicos, 1988.

ZIMMERMANN, Arthur. GestãoOrganizacional: métodos e técnicas,Recife: Bargaço, 2004.

45Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

ANEXOS

Anexo 1 - Fortalecimento organizaci-onal/institucional para o desenvolvimentoterritorial rural sustentável

Quanto mais uma organização conta comum grupo de pessoas com clareza do seupapel e daquilo que a diferencia das outras, equais as suas complementaridades com osoutros, mais ela adquire reconhecimento in-terno e externo e legitima sua ação social;logo, mais ela se institucionaliza como algoimportante para o meio.

O processo de fortalecimento das organi-zações no território tem importância funda-mental para a gestão social. O funcionamen-to eficiente das instâncias voltadas para ges-tão social do de senvolvimento do territórioem boa parte depende da clareza de cada atorsocial, nelas representando sua identidade,objetivos e projeto coletivo. Assim, associa-ções de representação dos atores do territó-rio cooperativo e de redes socioprodutivasque têm maior clareza desses elementos pos-suem maior capacidade de dialogar e nego-ciar os interesses dos seus representados nosespaços de gestão social, legitimando asdiscussões e propostas inseridas no PlanoTerritorial de Desenvolvimento Rural Sus-tentável.

O processo de planejamento participati-vo do Plano Territorial de DesenvolvimentoRural Sustentável construído com o conjun-to de atores sociais presentes no arranjo ins-titucional ou instância colegiada para o de-

senvolvimento territorial rural sustentávelcontribui para o fortalecimento dos atores, àmedida que estes são provocados a teremmelhor definidas suas propostas para a cons-trução do projeto coletivo.

Além desse processo de aprendizageme fortalecimento organizacional que se dácom a construção do PTDRS, outras ques-tões importantes são aqui apresentadas paraa reflexão junto aos atores organizacionaisque compõem o território e nele se relaci-onam.

Construir organizações eficientes e queconseguem alcançar seus resultados com su-cesso requer a atenção a algumas questõesbásicas, no sentido de promover o seu forta-lecimento organizacional.

Mas o que compreende um processo de fortaleci-mento organizacional? Que questões estão colocadas?

A primeira questão é ter clareza de que asorganizações são organismos vivos, na medida emque são formadas por pessoas, que lhe dão oformato e imprimem a sua dinâmica e nelainteragem para alcançar objetivos comuns.Com isso, pode-se assumir postura de valo-rização das pessoas considerando suas expec-tativas, motivações, interesses e suas compe-tências como elementos fundamentais parao fortalecimento de uma organização.

A segunda questão diz respeito à constru-ção do modelo organizacional como elementochave para a consolidação de organizaçõescom capacidade de sobreviver no tempo.

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tativas de realização a partir da organização.Este eixo constitui a primeira célula da orga-nização da qual se multiplicarão todas as de-mais células que darão à organização o cará-ter de organismo, de sistema vivo.

Cada pessoa, ao fazer parte de uma orga-nização, coloca a serviço dela suas compe-tências pessoais para construção da compe-tência organizacional. Competência é a inte-gração de habilidades, conhecimentos e com-portamentos, que se manifestam no desem-penho das pessoas e envolve três fatores: sa-ber fazer, querer fazer e poder fazer.

O saber fazer compreende o conjunto deinformações, conhecimentos e experiências;o querer fazer, a motivação, a vontade e o com-prometimento; o poder fazer, a disponibilida-de de ferramentas, equipamentos e infra-es-trutura de trabalho apropriada.

As competências de uma pessoa ou deuma organização constituem-se a partir dasoma desses três fatores e a sua identificaçãoé necessária para construir estratégias deação e de sobrevivência.

2º EIXO - Das relações interpessoais

Inclui os elementos envolvidos nas rela-ções que se constróem dentro das organiza-ções, os processos de interação, simpatia, an-tipatia, conflitos, resistências, formação degrupos e subgrupos de interesse e de identi-ficação, cooperação versus competição, me-dos, jogos de poder entre os elementos dinâ-micos, no dia-a-dia das organizações, com-

Deve-se considerar a visão, as experiências eas expectativas das pessoas como seres sin-gulares, únicos(as) e das organizações, a par-tir da sua missão, visão de futuro e objetivos.

A terceira questão diz respeito ao processode desenvolvimento organizacional, que compre-ende uma série de estratégias que apóiam oprocesso de mudança organizacional, contri-buindo para melhor alcance dos resultados.Envolve a mudança planejada através dosplanejamentos estratégico e operacional, me-lhoria dos processos internos e na relaçãocom o ambiente interno, mudança nas cren-ças, nas atitudes, nos valores, nas estruturasdas organizações, de modo que elas se adap-tem aos novos mercados, tecnologias e desa-fios para garantir o alcance dos resultados es-perados.

A construção do modelo organizacionaldeve partir, inicialmente, da pessoa, da pes-soa para o grupo, do grupo para a visão daorganização.

É muito importante para o fortalecimen-to de qualquer organização que as pessoas quefazem parte dela reflitam e busquem respos-tas para as quetões apresentadas.

Considerando estas questões, pode-se dizerque a construção de modelo organizacionaldeve ser orientada a partir de quatro eixos:

1º EIXO - Individual

Inclui as pessoas com suas competências,interesses, sonhos, relações de poder e expec-

47Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

pondo a cultura,o ambiente e o clima orga-nizacional.

3º EIXO - Da estrutura edos processos

Este eixo traz toda a discussão sobre aestrutura da organização, os processos deprodução dos resultados traduzidos em ummodelo de gestão e em normas e em proce-dimentos onde estão definidas as regras for-mais e explícitas e nas regras implícitas e in-formais produzidas pelas pessoas no cotidi-ano das relações dentro da organização.

4º EIXO - De construçãodo futuro desejado

Neste eixo estão as definições sobre a iden-tidade da organização, seu propósito com-partilhado, definindo sua missão, valores efuturo desejado pelo conjunto de atores, além

das estratégias construídas para a superaçãodos limites e aproveitamento das oportuni-dades e fortalezas da organização, sistemati-zadas em planejamentos estratégicos e ope-racionais.

Também neste eixo está o processo demonitoramento e avaliação definindo instrumen-tos, métodos utilizados, indicadores e formas decomunicação dos resultados para os participan-tes da organização e para a sociedade.

Questões finais para reflexão e debate

§ Que futuro se quer construir para si e para a suafamília através da organização? Qual o futuro comum quese pode construir a partir da organização?

§ Qual a missão pessoal? Como as missões pessoaispodem interagir e se realizar a partir de uma missão comum?

§ Quais os objetivos pessoais? Quais os objetivosorganizacionais (internos – para dentro da organização eexternos – para a sociedade, clientes e parceiros)

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Anexo 2 - Resolução Nº 48 doCONDRAF – Diretrizes e atribui-ções para a Rede de Conselhos deDesenvolvimento Rural Sustentável

Publicado no DOU 23/09/2004,Seção 1 página 113

MINISTÉRIO DODESENVOLVIMENTO AGRÁRIO

CONSELHO NACIONAL DEDESENVOLVIMENTO RURAL

SUSTENTÁVEL - CONDRAFRESOLUÇÃO Nº 48 DE 16 DE

SETEMBRO DE 2004

Propõe Diretrizes e Atribuições para arede de Conselhos de Desenvolvimento Ru-ral Sustentável – CDRS, nos diferentes níveisde atuação

O PRESIDENTE DO CONSELHONACIONAL DE DESENVOLVIMENTORURAL SUSTENTÁVEL - CONDRAF,no uso de suas atribuições, de acordo com odisposto no Decreto nº 4.854, de 08 de ou-tubro de 2003, e atendendo ao disposto noart. 23, nos incisos II, III, IV e V do art. 24,nos §§ 3º, 4º, 5º e 6º do art. 25, e nos arts. 27,28, 29 e 30, todos do Regimento Interno,aprovado pela Resolução nº 35, de 10 de ja-neiro de 2004, torna público que o Plenáriodo CONDRAF, em Sessão Plenária realiza-da em 1º de setembro de 2004,

CONSIDERANDO:

a) o desenvolvimento rural sustentável

como um processo dinâmico e multidimen-sional, portanto, necessariamente articuladore conciliador de setores econômicos, atoressociais, práticas culturais e realidades ambi-entais diversas e diversificadas;

b) a necessidade de integração e comple-mentação de ações, entre as diferentes esfe-ras de atuação dos Conselhos de Desenvol-vimento Rural Sustentável, visando potenci-alizar esforços em torno de objetivos inte-gradores relacionados ao desenvolvimentodo meio rural brasileiro;

c) o papel dos Conselhos de Desenvolvi-mento Rural Sustentável como fóruns agluti-nadores, potencializadores das articulaçõessociais e de consolidação de acordos sobre osrumos do desenvolvimento rural, nos níveisfederal, estadual, territorial e municipal, e

d) a necessidade de efetivação e democra-tização dos Conselhos de DesenvolvimentoRural Sustentável como espaços de decisãodas questões estratégicas do desenvolvimen-to rural, com circulação de informações en-tre Conselheiros, e destes com a sociedadeorganizada, eliminando interferências políti-co-partidárias e das oligarquias locais no pro-cesso decisório,

RESOLVEU:

Art. 1º Recomendar que o processo decriação e/ou reformulação dos Conselhos deDesenvolvimento Rural Sustentável contem-plem a representatividade, diversidade e plu-ralidade dos atores envolvidos nas diferen-tes dimensões do desenvolvimento rural (so-cial, econômica, cultural, política e ambien-tal), e baseie-se em processos de articulação

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Guia para a Organização Social

existentes, de modo a buscar-se a efetividadee legitimidade da gestão social - objeto des-ses espaços colegiados.

§ 1º Estabelecer que:

I – por representatividade entende-se quea base das organizações sociais esteja repre-sentada por essas entidades;

II – a diversidade é a representação dosdiferentes atores sociais que atuam no pro-cesso de desenvolvimento rural sustentável,sejam jovens, mulheres, quilombolas, agricul-tores familiares ligados à diferentes comuni-dades e/ou arranjos produtivos, pequenosempreendedores, etc;

III – a pluralidade pressupõe que as dife-rentes organizações (associações, sindicatos,cooperativas, etc) de uma mesma categoriaestejam representadas, assim como todas asconcepções de desenvolvimento rural exis-tentes.

§ 2º Recomendar a realização de um am-plo processo de sensibilização, informação econsulta aos principais atores envolvidos paraa criação e/ou reformulação desses espaçoscolegiados, seja por meio de reuniões prévi-as ampliadas, audiências, oficinas ou outrasformas de articulação.

§ 3º Recomendar que o processo de quetrata o parágrafo anterior seja precedido demapeamento das comunidades rurais e en ti-dades ligadas à agricultura familiar e ao de-senvolvimento rural sustentável, de modo agarantir a efetividade dos princípios ressal-tados no caput deste artigo.

§ 4º Recomendar que esse processo cul-mine com a normatização dos Conselhos emLei Municipal, Estadual ou Federal, com oobjetivo de legitimar sua criação e/ou refor-mulação, minimizar a descontinuidade deações e contribuir na efetividade de decisõesdos mesmos.

Art. 2º Recomendar aos Conselhos a am-pliação dos temas das discussões, visandoatuar nas questões estratégicas do processode desenvolvimento rural sustentável, não serestringindo à gestão operacional de progra-mas e políticas públicas.

Parágrafo único. Os Conselhos devem tra-balhar na construção, priorização, adequaçãoe aprimoramento das políticas públicas (fe-derais, estaduais e municipais) a partir dasnecessidades e avaliação dos atores envolvi-dos com o desenvolvimento rural sustentá-vel, firmando compromissos e consolidan-do parcerias.

Art. 3º Sugerir que os Conselhos tenhamum caráter norteador, referenciador e defi-nidor do processo de desenvolvimento ru-ral sustentável, sendo, para isso, necessário oreconhecimento, pelos atores governamentaise da sociedade organizada, como espaçoslegítimos de decisões ou formulações efeti-vamente consideradas em torno das políti-cas, programas e projetos relevantes e estra-tégicas nos diferentes níveis – federal, esta-dual, territorial e municipal.

Art. 4º Recomendar uma composição re-presentativa, diversa e plural dos atores so-

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ciais relacionados ao desenvolvimento rural,contemplando as seguintes situações:

I - que, no mínimo 50% (cinqüenta por cen-to) das vagas sejam ocupadas por represen-tantes de entidades da sociedade civil orga-nizada, que representem a agricultura famili-ar, estudem ou promovam ações voltadaspara seu apoio e desenvolvimento (movimen-tos sociais, entidades sindicais, cooperativase/ou associações produtivas, comunitárias,entidades de assessoria técnica e organizaci-onal, etc);

II - que, no máximo 50% (cinqüenta porcento) das vagas sejam ocupadas por repre-sentantes do poder público (executivo, legis-lativo ou judiciário), vinculadas ao desenvol-vimento rural sustentável (inclusive universi-dades), de organizações de caráter para-go-vernamental (tais como: associações de muni-cípios, sociedades de economia mista cuja pre-sidência é indicada pelo poder público, entreoutros) e de outros setores da sociedade ci-vil organizada não diretamente ligados à agri-cultura familiar (como empreendedores ru-rais dos setores de serviços e industrial);

III - que os Conselheiros(as) sejamindicados(as) pelas respectivas organizações,anexando a ata da reunião da indicação, paraformalização junto às Secretarias dos Con-selhos;

IV - que a Presidência seja exercida porqualquer órgão/entidade integrante dos Con-selhos de Desenvolvimento Rural Sustentável,a partir da definição dos próprios Conselhei-ros. Parágrafo único. Entende-se poragricultor(a) familiar, o conceito adotado peloPrograma Nacional de Fortalecimento daAgricultura Familiar - PRONAF, que inclui:

a) produtores(as) rurais cujo trabalho sejade base familiar, quer sejam proprietários(as), posseiros(as), arrendatários(as),parceiros(as) ou concessionários(as) da Re-forma Agrária;

b) remanescentes de quilombos e indígenas;c) pescadores(as) artesanais que se dedi-

quem à pesca artesanal, com fins comerciais,explorem a atividade como autônomos, commeios de produção próprios ou em parceriacom outros pescadores artesanais;

d) extrativistas que se dediquem à explo-ração extrativista ecologicamente sustentável;

e) silvicultores(as) que cultivam florestasnativas ou exóticas, com manejo sustentável;

f) aqüicultores(as) que se dediquem ao cul-tivo de organismos cujo meio normal, oumais freqüente de vida seja a água.

Art. 5º Sugerir que o funcionamento dosConselhos contemple uma dinâmica de tra-balho e capacidade institucional adequadosaos desafios apresentados, e, ainda, contecom processos democráticos de coordena-ção e decisão, de modo a consolidá-los comofóruns efetivos de gestão social do desenvol-vimento rural sustentável.

§ 1º O processo de discussão, no âmbitodos Conselhos, deve passar por uma articu-lação ampliada com a sociedade organizada,por meio de canais constantes de comunica-ção como conferências, seminários, oficinas,ou outras formas de interação, objetivandoa construção mais representativa e legítimadas decisões.

§ 2º A dinâmica de trabalho deve ser apri-morada por meio de reuniões sistemáticas e

51Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

criação de câmaras técnicas, comitês ou gru-pos temáticos que contemplem a abrangên-cia temática e a estratégia de atuação defini-das pelos próprios Conselhos.

§ 3º O aprimoramento da capacidade ins-titucional deve passar por uma estruturaçãotécnica e financeira de apoio ao funcionamen-to dos Conselhos, a ser exercida por suasSecretarias ou estruturas semelhantes, comrecursos específicos para custeio de despe-sas diversas (transporte, alimentação e hos-pedagem de Conselheiros, assessorias técni-cas e administrativa, processos de capacita-ção, dentre outros), a serem previstas nosorçamentos dos governos municipais, esta-duais e federal.

Art. 6º Os Conselhos de Desenvolvimen-to Rural Sustentável devem trabalhar paraefetivar um processo de interação entre osdiferentes níveis de atuação – nacional, esta-dual, territorial e municipal – visando a con-solidação de uma rede desses órgãos colegi-ados, sem hierarquização de decisões e comintenso fluxo de informações.

Art. 7º Esta Resolução entra em vigor nadata de sua publicação.

MIGUEL SOLDATELLI ROSSETTOPresidente

52 Ministério doDesenvolvimento Agrário

Anexo 3 - Recomendações doCONDRAF para institucionalida-des territoriais

Publicado no DOU 17/02/2005,Seção 1 páginas 44 e 45

MINISTÉRIO DODESENVOLVIMENTO AGRÁ-

RIO CONSELHO NACIONAL DEDESENVOLVIMENTO RURALSUSTENTÁVEL- CONDRAFRESOLUÇÃO Nº 52 DE 16 DE

FEVEREIRO DE 2005

Aprova Recomendações do Conselho Na-cional de Desenvolvimento Rural Sustentá-vel – CONDRAF para as Institucionalida desTerritoriais de Desenvolvimento Rural Sus-tentável

O PRESIDENTE DO CONSELHONACIONAL DE DESENVOLVIMENTORURAL SUSTENTÁVEL - CONDRAF, nouso de suas atribuições, e tendo em vista odisposto nos incisos II e VI do art. 2º e art.6º do Decreto nº 4.854, de 08 de outubro de2003, torna público que o Plenário do CON-DRAF, em Sessão Plenária da 20ª ReuniãoOrdinária realizada em 03 de dezembro de2004, Considerando:

a) a concepção de território utilizada peloMinistério do Desenvolvimento Agrário,como “espaço físico, geograficamente defi-nido, não necessariamente contínuo, compre-endendo cidades e campos, caracterizado porcritérios multidimensionais, tais como o am-biente, a economia, a sociedade, a cultura, a

política e as instituições e uma população comgrupos sociais relativamente distintos, que serelacionam interna e externamente por meiode processos específicos, onde se pode distin-guir um ou mais elementos que indicam iden-tidade e coesão social, cultural e territorial.”;

b) que os territórios rurais apresentam,explícita ou implicitamente, a predominân-cia de elementos “rurais”. Nestes, incluem-se os espaços urbanizados que compreendempequenas e médias cidades, vilas e povoados;

c) que a abordagem territorial está basea-da em uma visão essencialmente integradorade espaços, agentes governamentais, atoressociais, agentes de desenvolvimento, merca-dos e políticas públicas de intervenção;

d) que a abordagem territorial tem na eqüi-dade, no respeito à diversidade, à solidarie-dade, à justiça social, no sentimento de per-tencimento cultural e na inclusão social, me-tas fundamentais a serem atingidas e conquis-tadas;

e) que o desenvolvimento territorial bus-ca centrar o foco das políticas no território,pois nele se combinam a proximidade socialque favorece a solidariedade e a cooperação,com a diversidade de atores sociais, melho-rando a articulação dos serviços públicos, oacesso ao mercado interno, podendo chegarao compartilhamento de uma identidade pró-pria;

f) que o desenvolvimento territorial alme-ja resultados e soluções aos problemas viven-ciados pelas populações contemplando acombinação das diferentes dimensões do de-senvolvimento sustentável: econômica, soci-ocultural, político-institucional e ambiental;

g) que a gestão social do desenvolvimen-

53Referências para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para a Organização Social

to territorial deve ser concretizada por meiode espaços de debate e concertação, comtransparência e participação; e

h) por fim, levando em conta a Resoluçãonº 48 do CONDRAF que “Propõe Diretri-zes e Atribuições para a Rede de Conselhosde Desenvolvimento Rural Sustentável –CDRS, nos diferentes níveis de atuação”,

RESOLVEU:

Art. 1º Aprovar, em complementação àResolução nº 48 do CONDRAF, as seguin-tes recomendações em relação às institucio-nalidades territoriais do desenvolvimentorural sustentável para que se constituam emespaços de gestão e controle social, com osobjetivos de:

I – formular e adequar políticas públicase iniciativas locais às potencialidades e deman-das territoriais;

II – sensibilizar, mobilizar, elaborar o pla-nejamento estratégico e o comprometimen-to dos atores que atuam no território – go-vernamentais, da sociedade civil e da iniciativaprivada – legitimando as decisões e promoven-do o envolvimento desses atores na implemen-tação das ações estratégicas para o desenvolvi-mento territorial;

III – incorporar um número crescente deações e políticas possibilitando progressivo econstante aperfeiçoamento do planejamento dodesenvolvimento territorial, agregando, no de-correr do trabalho, novas dimensões do desen-volvimento sustentável;

IV – dotar as institucionalidades territoriaisde canais de divulgação das potencialidades edemandas dos territórios, viabilizando a iden-

tificação e atração de parceiros potenciais paraimplantação de projetos e ações para o desen-volvimento territorial;

V – propor mecanismos de formalizaçãodas relações entre os atores e as políticas públi-cas, com a adoção de Pacto Territorial de De-senvolvimento, como importante instrumentode articulação, diálogo e complementaridadeentre as políticas que incidem sobre o território;

VI – propor soluções inovadoras para a di-namização econômica e social dos territórios;

VII – publicizar as ações e políticas, demodo a evitar clientelismo, corporativismoe basismo, que levam à apropriação restritadas políticas públicas em detrimento do in-teresse público;

VIII – fazer um esforço de articulação ins-titucional, no setor público, tanto no planohorizontal, entre políticas, programas, pro-jetos e ações, quanto no plano vertical, entrea União, Estados, Territórios e Municípios,buscando não setorializar ações.

Art. 2º Recomenda-se o seguinte forma-to às institucionalidades territoriais:

I – Nível Deliberativo Máximo – instân-cia máxima de decisão, com característicasde fórum e ampla participação dos segmen-tos sociais, governamentais e econômicos atu-antes no território, responsável pela orienta-ção geral e pela condução dos programas edos planos, com base em diretrizes e objeti-vos gerais estabelecidos pelas políticas e pro-gramas federais e estaduais;

II – Nível Decisório Gerencial ou Comis-são Executiva - instância gerencial dos pro-gramas e planos, com características de comis-são, comitê ou similar, incumbido da imple-mentação de ações e articulação de parcerias;

54 Ministério doDesenvolvimento Agrário

III – Nível Operacional ou Secretaria Exe-cutiva - instância de caráter operacional, en-carregado do apoio técnico e administrativoàs ações territoriais, dando suporte permanen-te ao funcionamento da institucionalidade.

Art. 3º Recomendar que, no processo deconstituição e de amadurecimento das dis-cussões, as institucionalidades territoriais de-finam a sua formalização organizacional.

Art. 4º A institucionalidade territorial de-verá ser composta em função dos atores pre-sentes no território, levando-se em conside-ração o art. 4º da Resolução nº 48 do CON-DRAF, devendo ainda:

I - contemplar as questões de gênero, raça,etnia e geração na sua composição;

II - estar aberta para a inclusão de novosatores;

III - levar em conta os princípios da re-presentatividade, diversidade e pluralidadedos atores, constantes no art. 1º da Resolu-ção nº 48 do CONDRAF.

Parágrafo único. As indicações de repre-sentantes das organizações e entidades, pre-sentes no território ou com abrangência re-gional, devem ser responsabilidade das pró-prias organizações e entidades, respeitandosua autonomia.

Art. 5º Implementar a qualificação dosmembros das institucionalidades territoriaise desencadear processos de capacitação eformação para:

I – buscar o equilíbrio de forças entre osatores dos territórios;

II – debater a mudança de estratégia daatuação de âmbito local, centrada em comu-

nidades rurais ou municípios, para territori-al, superando a visão de que o enfoque terri-torial representa uma ameaça para o proces-so de desenvolvimento;

III – contribuir para que os membros doscolegiados exerçam com eficiência suas atri-buições e atuem com base em novas atitudese comportamentos em substituição ao indi-vidualismo e centralização das decisões;

IV – promover a articulação dos órgãoscolegiados nos diferentes níveis, estadual, ter-ritorial e municipal;

V - dotar os territórios de instrumentosque possibilitem o rompimento das práticasde verticalização dos processos decisórios ,favorecendo a descentralização do poder dedecisão e contribuindo para que as decisõesestratégicas sejam tomadas de forma demo-crática e participativa;

VI - envolver outros gestores públicos esociais nos estados, territórios e municípios,técnicos, dirigentes de organizações sociais,entre outros;

VII - contemplar conteúdos adequados àrealidade, de forma continuada e vinculada àsiniciativas de assessoria técnica e de pesquisa.

Art. 6º Caberá à institucionalidade terri-torial articular-se às Redes Institucionais exis-tentes nos territórios, evitando a competiçãoe as divergências entre elas e o estímulo à in-tegração entre os Conselhos, nos municípiose nos estados, e entre as institucionalidadesterritoriais constituídas, evitando a sobrepo-sição de ações e buscando a complementari-dade e potencialização de esforços.

Parágrafo único. Estimular e promover in-tercâmbios entre diferentes conselhos e ins-

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Guia para a Organização Social

titucionalidades territoriais, no que se refereàs informações sobre políticas públicas, ex-periências, procedimentos operacionais e deplanejamento, no sentido de fomentar umacultura institucional.

Art. 7º O CONDRAF deverá manter umcadastro das institucionalidades territoriaiscriadas, no qual constem informações sobresua composição e principais deliberaçõespara serem agregadas à Rede Nacional deÓrgãos Colegiados, disponibilizando aosConselhos Estaduais e Municipais de Desen-volvimento Rural Sustentável as referidas in-formações.

Art. 8º As institucionalidades territoriaisdevem dispor de infra-estrutura, como recur-sos, veículos, combustível, funcionários, as-sistência técnica e espaço físico para seu ade-quado funcionamento e para sua plena auto-nomia, bem como planejar estrategicamentemecanismos de auto-sustentação financeira.

Parágrafo único. As institucionalidades ter-ritoriais teriam, no momento de implantação,um aporte financeiro do governo federal. Re-

comenda-se, no decorrer de sua constituição,uma discussão sobre sua sustentabilidade fi-nanceira, tanto com os demais representan-tes dos governos estaduais e municipais quan-to com as organizações da sociedade que de-verão disponibilizar recursos que permitamo seu adequado funcionamento.

Art. 9º É importante garantir periodici-dade às reuniões e processos de gestão e pla-nejamento, no sentido de reverter a lógica dereunião apenas nos momentos de definiçãode aplicação de recursos públicos, ou a rela-ção direta das ações à temporalidade e aomandato das administrações municipais e/ou estaduais.

Parágrafo único. Recomendar a elaboraçãode um sistema de acompanhamento, monito-ramento e avaliação, com base em indicadoresquantitativos e qualitativos e utilizando metodo-logias participativas, apropriadas às realidades ter-ritoriais e abertas ao aprimoramento e ajuste.

Art. 10. Esta Resolução entra em vigor nadata de sua publicação.

MIGUEL SOLDATELLI ROSSETTOPresidente

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