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MINISTÉRIO DAS CIDADES
Ministro das Cidades: Alexandre Baldy de
Sant'anna Braga
Secretário Executivo: Silvani Alves Pereira
Secretário Nacional de Saneamento
Ambiental: Adailton Ferreira Trindade
Diretor do Departamento de Planejamento e
Regulação: Ernani Ciríaco de Miranda
Coordenadora da UGP/SNSA: Wilma
Miranda Tomé Machado
Equipe Técnica do INTERÁGUAS: André
Braga Galvão Silveira, José Dias Corrêa Vaz
de Lima, Paulo Rogério dos Santos e Silva
Consultor INTERÁGUAS: Airton Sampaio
Gomes
BANCO MUNDIAL
Gerente de Projeto: Marcos Thadeu Abicalil
INSTITUTO INTERAMERICANO DE
COOPERAÇÃO PARA A AGRICULTURA –
IICA
Representante do IICA: Jorge Hernán
Chiriboga
Equipe Técnica IICA: Cristina Costa, Kilmara
Ramos, Gertjan Beekman
CONSÓRICO WMI - NG INFRA - SAGE
Equipe Técnica: Alexandra De Nicola,
Alexandre Savio Pereira Ramos, Álvaro José
Menezes da Costa, Ana Lúcia Floriano Rosa
Vieira, Andrey Barbosa Dantas Souza,
Augusto Nelson Carvalho Viana, Bertrand
Dardenne, Cássio Caçula de Lima, Clênio
Alberto Argôlo Lopes, Diogo da Fonseca Reis,
Eduardo Augusto Ribeiro Bulhões Filho,
Eudes de Oliveira Bomfim, Fátima Carteado,
Franz Bessa da Silva, Geraldo Prado de
Almeida, Hamilton Pollis, Heber Pimentel
Gomes, Hudson Tiago dos Santos Pedrosa,
Hugo Fagner dos Santos Pedrosa, Ítala
Gomes dos Santos Jesus, Jair Jackson Dias
Santiles, Jairo Tardelli Filho, Jardel Almeida de
Oliveira, Jean Morillas, João Gustavo Ferreira
Junior, João Roberto Rocha Moraes, José
Fabiano Barbosa, Julian Thornton, Ksnard
Ramos Dantas, Leandro Moreira, Lineu
Andrade de Almeida, Luís Carlos Rosas, Luís
Guilherme de Carvalho Bechuate, Luiz
Fernando Rainkober, Mariana Freire dos
Santos, Maurício Alves Fourniol, Maurício
André Garcia, Michel Vermersch, Milene
Cássia França Aguiar de Salvo, Nilson
Massami Taira, Paula Alessandra Bonin Costa
Violante, Paulo Cezar de Carvalho, Pedro
Frigério Paulo, Pedro Gilberto Rodrigues da
Mota, Pedro Paulo da Silva Filho, Pertony
Ribeiro Guimarães, Rodolfo Alexandre Cascão
Inácio, Rodrigo Andrade de Matos, Rodrigo
Martin Teresi, Sílvio Henrique Campolongo,
Thatiane Medeiros Soares de Almeida,
Vinicius Kabakian, Wantuir Matos de Carvalho,
Wellington Luiz de Carvalho Santos
Coordenação editorial: Alexandra De Nicola
(MTb 23.341-SP), Rodolfo Alexandre Cascão
Inácio
Redação: Alexandra De Nicola, Andrey
Barbosa Dantas Souza, Eduardo Augusto
Ribeiro Bulhões Filho, João Gustavo Ferreira
Júnior, Ksnard Ramos Dantas, Luís Guilherme
de Carvalho Bechuate, Maurício Alves
Fourniol, Rodolfo Alexandre Cascão Inácio.
Revisão: Alexandra De Nicola, Maurício Alves
Fourniol, Rodolfo Cascão Inácio
Diagramação: Ítala Gomes dos Santos Jesus,
Wellington Luiz de Carvalho Santos
Agosto/2018
Sumário
1 A SISTEMATIZAÇÃO DO PROJETO – METODOLOGIA E ESTUDOS DE CASO ................ 1
1.1 O REGISTRO DO PROJETO COM+ÁGUA.2 .......................................................... 1
2 AS PERDAS APARENTES ............................................................................. 2
2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS ............................................................................ 2
2.2 EVOLUÇÃO NA ÚLTIMA DÉCADA ..................................................................... 5
3 METODOLOGIA ....................................................................................... 8
3.1 DETALHAMENTO DA METODOLOGIA DA AT 3 ........................................................ 8
3.2 DESENVOLVIMENTO DO CADASTRO COMERCIAL .................................................... 10
3.2.1 Uma abordagem sobre suas conexões com as perdas aparentes ............... 10
3.2.2 Amplitudes e Potencialidades de uma Pesquisa e Atualização Cadastral .... 12 3.2.2.1 Objetivos Esperados ......................................................................... 12 3.2.2.2 Dinâmica das Demandas de Campo ........................................................ 12
3.2.3 Etapas Metodológicas da Pesquisa e Atualização Cadastral .................... 15 3.2.3.1 Aporte de Ferramentas de Tecnologia da Informação .................................. 15 3.2.3.2 Estabelecimento do Layout Cadastral ..................................................... 18 3.2.3.3 Preparação da Base Cartográfica .......................................................... 22 3.2.3.4 Envio e Recebimento dos Dados para os Coletores e Respectivos Trabalhos de
Campo 23 3.2.3.5 Controle de Qualidade e Atualização dos Dados e Informações ....................... 25 3.2.3.6 Controle de Mapas e Finalização ........................................................... 26
3.3 DESENVOLVIMENTO DA MICROMEDIÇÃO ............................................................ 28
3.3.1 Introdução ................................................................................ 28
3.3.2 Os Avanços Normativos ................................................................ 28 3.3.2.1 O advento da NBR 15.538/2014 ............................................................ 29 3.3.2.2 Portaria do INMETRO nº 295, de 29 de junho de 2018 .................................. 30
3.3.3 O Ponto Nevrálgico da Submedição .................................................. 32
3.3.4 Histórico das Tecnologias de Micromedição e Tendências de Intensificação de
Uso e Aplicação ..................................................................................... 32
3.3.5 Mensuração de Desempenho do Parque de Hidrômetros ........................ 37
3.3.6 Levantamento de Perfis de Consumo dos Clientes ................................ 38
3.3.7 Ensaios em Bancada para Determinação da Tendência de Erros de Medição
dos Hidrômetros .................................................................................... 40
3.3.8 Critérios Norteadores para Dimensionamento de Hidrômetros ................ 43
3.3.9 A Escolha do Melhor Hidrômetro ..................................................... 47
3.3.10 Viabilidade Técnica e Econômico-Financeira dos Investimentos em Adequação
da Micromedição ................................................................................... 48
3.3.11 Plano de Ação de Adequação da Micromedição ................................... 50 3.3.11.1 Inovações Tecnológicas na Rotina de Leitura e Totalização de Consumos ........... 53
3.4 COMBATE AOS USOS NÃO AUTORIZADOS .......................................................... 55
3.4.1 Mecanismos de Combate aos Consumos Não Autorizados ....................... 59
4 DESAFIOS PARA MELHORIA DE DESEMPENHO NOS PRESTADORES ....................... 68
Lista de Figuras
FIGURA 1. ANÁLOGA DA “CRUZ DE LAMBERT” PARA AS PERDAS APARENTES ................ 3
FIGURA 2. FLUXO DE PROCESSOS DE CONTROLE DE PERDAS APARENTES ..................... 4
FIGURA 3. FLUXOGRAMA PARA IMPLANTAÇÃO E GESTÃO DE DMC .............................. 9
FIGURA 4. DEMANDAS DO RECADASTRO ........................................................... 14
FIGURA 5. EXEMPLO DE TELA DE RECADASTRO .................................................. 16
FIGURA 6. RELATÓRIO DE SITUAÇÃO ANTES E DEPOIS DO RECADASTRO .................... 17
FIGURA 7. EXEMPLOS DE TELAS DE APLICATIVO PARA DISPOSITIVO MÓVEL CADASTRAL . 19
FIGURA 8. EXEMPLOS DE TELAS DE APLICATIVO PARA DISPOSITIVO MÓVEL CADASTRAL . 20
FIGURA 9. CHAVEAMENTO DE QUADRAS .......................................................... 23
FIGURA 10. DESENHO DE LOTES NO QGIS .......................................................... 26
FIGURA 11. FLUXOGRAMA DO RECADASTRAMENTO .............................................. 27
FIGURA 12. PEQUENOS MEDIDORES E SUAS CARACTERÍSTICAS ................................. 36
FIGURA 13. PERFIL DE CONSUMO REFERENCIAL DA NBR 15.538/2014 ........................ 39
FIGURA 14. PERFIL TÍPICO DE CONSUMO - DMC FEIRA DE SANTANA ........................... 39
FIGURA 15. RESULTADO DE ENSAIOS DE VERIFICAÇÃO DE ERROS .............................. 43
FIGURA 16. SISTEMA INFORMÁTICO COM ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA PARA
SUBSTITUIÇÃO DE HIDRÔMETROS ................................................................ 49
FIGURA 17. DESENVOLVIMENTO DA MICROMEDIÇÃO ............................................. 52
FIGURA 18. EVOLUÇÃO DAS LIGAÇÕES INATIVAS NOS ESTADOS - 2006 A 2016 .............. 56
FIGURA 19. DESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO DE COMBATE AOS USOS NÃO AUTORIZADOS . 67
Lista de Fotos
FOTO 1. RECADASTRO COMERCIAL ................................................................. 24
FOTO 2. LEVANTAMENTO DE PERFIL ............................................................... 38
FOTO 3. ENSAIO DE BANCADA ....................................................................... 42
FOTO 4. OCUPAÇÃO IRREGULAR DE ENCOSTA NA BACIA DA REPRESA GUARAPIRANGA ... 58
FOTO 5. EXEMPLO DE CONJUNTOS DE RAMAIS PRECÁRIOS..................................... 59
FOTO 6. AÇÕES DE MOBILIZAÇÃO NA COMUNIDADE E NA ESCOLA ............................ 60
FOTO 7. AÇÕES DE MOBILIZAÇÃO NA COMUNIDADE E NA ESCOLA ............................ 61
FOTO 8. AÇÃO INTEGRADA ENTRE POLÍCIA MILITAR E EMBASA ............................... 62
FOTO 9. AUSCULTAÇÃO DE RUÍDOS NO CAVALETE .............................................. 63
FOTO 10. AÇÃO DA OPERAÇÃO BURLA - EMBASA .................................................. 65
Lista de Tabelas
INTERFACE DO BALANÇO HÍDRICO PARA DIMENSIONAMENTO DOS VOLUMES DE TABELA 1.
PERDAS POR USOS NÃO AUTORIZADOS .......................................................... 11
ENSAIOS PREVISTOS PELA NORMA NBR 15.538 ..................................... 30 TABELA 2.
VAZÕES CARACTERÍSTICAS DO HIDRÔMETRO ....................................... 30 TABELA 3.
VAZÕES PERMANENTES ................................................................. 31 TABELA 4.
VALORES DE R ............................................................................ 31 TABELA 5.
VALORES DAS VAZÕES DE TRANSIÇÃO ................................................ 33 TABELA 6.
RESULTADO DE ENSAIOS DE VERIFICAÇÃO DE ERROS .............................. 42 TABELA 7.
CRITÉRIOS DE REFLEXÃO PARA ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE MANUTENÇÃO TABELA 8.
DO PARQUE DE HIDRÔMETROS ................................................................... 51
CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE CASOS SUSPEITOS DE USOS NÃO AUTORIZADOS 64 TABELA 9.
1 A SISTEMATIZAÇÃO DO
PROJETO – METODOLOGIA E
ESTUDOS DE CASO
1.1 O REGISTRO DO PROJETO COM+ÁGUA.2
metodologia do Projeto COM+ÁGUA.2, para a gestão integrada e participativa
visando o combate e o controle das perdas de água e o uso eficiente de energia
elétrica em sistemas de abastecimento de água selecionados na Chamada Pública
nº 104/2014, está descrita em seis livretos que compõem o Compêndio Metodológico
COM+ÁGUA.2:
O Projeto COM+ÁGUA.2;
Caderno Temático 1 - Mobilização Social;
Caderno Temático 2 - Perdas Reais;
Caderno Temático 3 - Perdas Aparentes;
Caderno Temático 4 - Gestão da Energia;
Caderno Temático 5 - Planejamento e Gestão.
O primeiro livreto é uma apresentação geral do COM+ÁGUA.2, suas Áreas Temáticas - AT
e a integração entre elas, as capacitações gerais e em processo e aspectos metodológicos.
Os seguintes são dedicados a cada uma das AT, detalhando-as para melhor compreensão
e replicação da metodologia.
E a aplicação prática do projeto nas duas áreas prioritárias selecionadas na chamada
pública, ocorrida por meio de assistência técnica de consultores do Consórcio WMI/NG
INFRA/SAGE às equipes da Companhia Pernambucana de Saneamento - COMPESA e
Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A. - EMBASA, são apresentadas em dois
livretos de estudos de caso:
Estudos de caso – COMPESA;
Estudos de caso – EMBASA.
Juntas, as oito publicações compõem uma caixa de onde se podem sacar oportunidades de
conhecer uma metodologia diferenciada, em que a Gestão Integrada & Participativa e a
Mobilização Social se apresentam como fatores de mudança cultural a provocar as
empresas de saneamento a encontrarem um caminho fértil para o controle e diminuição das
perdas em seus sistemas de produção e abastecimento de água.
Boa leitura e uso!
A
2 AS PERDAS APARENTES
2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS
s perdas reais e aparentes, têm naturezas totalmente distintas. Enquanto as perdas
reais se caracterizam pela perda do produto, no caso a água, tratada ou não, nos
diversos processos, as perdas aparentes correspondem ao volume de água
consumido, mas não registrado pelos prestadores de serviços de saneamento, decorrente
de erros de medição nos hidrômetros, fraudes, ligações clandestinas e falhas no cadastro
comercial. Nesse caso, então, a água é efetivamente consumida, mas não é faturada.
A perda real pode ser associada ao custo de produção e distribuição de água ou custo
marginal da água. Assim, quanto melhor for a eficiência de um sistema em relação às suas
perdas reais, menores serão seus marginais. São impactados por esse tipo de perda os
custos de energia elétrica, de produtos químicos, de manutenção de redes e ramais, entre
outros. A redução das perdas reais poderá ser valorada por tarifa em uma companhia na
medida em que a redução destas perdas possa suprir áreas antes não atendidas. A
ponderação desses impactos num programa de redução de perdas depende muito da
natureza e das condições estruturais de abastecimento de um determinado sistema, mas
configuram ferramenta importante de argumentação na defesa das ações que se pretenda
promover.
As perdas aparentes, por outro lado, impactam diretamente no faturamento da companhia,
pois quanto melhor a eficiência da micromedição e mais preciso o cadastro comercial, maior
tenderá a ser o faturamento. De uma forma geral, as ações deste segmento custam
relativamente menos, pois não demandam obras de grande porte e os benefícios são
valorados por tarifas médias. Isso equivale a dizer que as ações de controle das perdas
aparentes frequentemente têm retorno do investimento mais rápido que os das perdas reais.
Contudo, pode-se considerar a perda zero como uma pretensão inatingível. Há perdas
aparentes inevitáveis na contabilização do volume entregue ao consumidor final, o que
ocorre por erros ou incertezas do cadastro comercial, pelo grau de exatidão dos medidores
e também por fraudes nos hidrômetros e nas ligações. Isto implica em se deve trabalhar
com um nível de perdas aparentes inevitáveis que venha a ser considerado aceitável. Além
disso, o caminho de eficiência nesse segmento tem forte vínculo com as ferramentas de
gestão e a sua boa aplicação pelo prestador de serviço.
Com estas ressalvas, as perdas aparentes podem e devem ser reduzidas a níveis
compatíveis com as condições ambientais e econômicas específicas da região e da
realidade em que se inserem os prestadores.
As ações de combate às perdas aparentes de água estão retratadas na figura adiante, de
maneira análoga à chamada Cruz de Lambert para as perdas reais.
A figura ilustra a situação dos níveis de perdas aparentes, divididos da seguinte forma:
Perda aparente inevitável: consiste no patamar mínimo atingível de perdas
aparentes, abaixo do qual não se conseguirá redução;
A
Nível econômico de perdas aparentes: patamar de performance onde o controle e
redução de perdas começam a ser considerados satisfatórios na ótica da relação
custo-benefício de implementação e manutenção. Depende do nível tarifário
praticado e de outras variáveis;
Perda aparente corrente: consiste na condição presente dos níveis de perdas
aparentes do sistema analisado.
As perdas aparentes, diferentemente das perdas reais, têm a mesma natureza dos
consumos, pouco dependendo das pressões médias, especialmente na presença de
sistemas de reservação intradomiciliares, que normalizam a pressão a que estão
submetidos os pontos de consumo.
As ações de redução e controle de perdas aparentes demandam esforço continuado,
aliando o emprego de tecnologias adequadas de medição de água a políticas firmes de
educação ambiental, comunicação social, controle de fraudes e sistemas de atualização
cadastral. O afrouxamento destas frentes de atuação compromete o sucesso desse
trabalho, especialmente num país com tantas diferenças sociais, onde o crescimento
descontrolado de áreas urbanas pressiona o sistema público de abastecimento,
impulsionando a realização de fraudes, ligações clandestinas, despressurização das redes,
entre outros problemas, que vão até o extremo de inviabilizar a atuação do prestador pela
imposição de violência empregada em áreas dominadas por facções criminosas.
A manutenção do parque de hidrômetros consiste num esforço contínuo, pois estes
equipamentos possuem uma vida útil ao longo da qual vão perdendo eficácia de medição.
Daí a importância da existência de programas que permitam a troca dirigida de medidores,
visando à maximização de resultados. O combate às fraudes e ligações clandestinas, por
FIGURA 1. ANÁLOGA DA “CRUZ DE LAMBERT” PARA AS PERDAS APARENTES
Fonte: Allan Lambert
sua vez, precisa ter por base procedimentos firmes de combate, baseadas em sistemas
cadastrais atualizados e políticas que aliem a punição com cortes e supressões, educação
ambiental e comunicação social, sem as quais o apoio da comunidade aos serviços de
saneamento fica em xeque, comprometendo a sua sustentabilidade.
A eficiência no controle das perdas, em
especial das perdas aparentes, está
assim muito mais ligada à qualidade da
gestão do prestador de serviço do que à
sua capacidade de investimento. Por
este motivo é que se verificam, na
realidade brasileira, prestadores que
enfrentam adversidades similares em
relação à ocupação urbana,
investimentos e condições operacionais,
mas que conseguem alcançar
resultados distintos no combate às
perdas aparentes.
Troca Dirigida de
Hidrômetros
Educação Ambiental / Comunicação
Social
Parceria com outros
Serviços Públicos
Combate à Fraudes
Atualização Cadastral
FIGURA 2. FLUXO DE PROCESSOS DE CONTROLE DE PERDAS APARENTES
Fonte: (*)International Benchmarking Network for Water
and Sanitation Utilities - IBNET – 2016
2.2 EVOLUÇÃO NA ÚLTIMA DÉCADA
A evolução natural das atividades e ferramentas do arcabouço técnico proposto no
COM+ÁGUA, seja pelas experiências de campo que trouxeram novos cenários, seja pela
evolução tecnológica de equipamentos e softwares que possibilitaram melhores e mais
rápidos resultados, proporcionou que o COM+ÁGUA.2 intensificasse e fortalecesse a
necessidade dos usos dos conceitos e ferramentas no controle e redução das perdas
aparentes.
A evolução tecnológica na última década, associada à diminuição nos custos de
equipamentos, favoreceu uma revolução na maneira de como controlar e reduzir as perdas
aparentes de água.
A capacitação dos prestadores se faz fundamental, muitos softwares livres de apoio ao
controle e redução de perdas aparentes e de georreferenciamento estão disponíveis e a
atualização do corpo técnico é um dos requisitos para que se obtenha sucesso em um
programa de redução de perdas.
A implantação de Distrito de Medição e Controle - DMC é a melhor estratégia para o
controle e gestão das perdas de água para os prestadores, com ou sem capacidade de
investimento, com abastecimento contínuo ou intermitente. A implementação do conceito de
DMC possibilita, além da sistematização do controle ativo de vazamentos, a integração das
ações de combate às perdas, viabilizando a medição e controle dos resultados, fazendo
com que os recursos disponíveis, humanos ou orçamentários, possam ser mais bem
utilizados, maximizando os resultados de um programa de combate e gestão de perdas de
água.
As quatro abordagens descritas na “Análoga da Cruz de Lambert” são as mesmas.
Contudo, a maneira de executá-las evoluiu e fez com que os prestadores, obrigatoriamente,
tivessem que se habilitar em novas tecnologias e processos. Este caderno temático
contempla as melhores práticas, tecnologias e metodologias para o tratamento de cada
subprojeto de perdas aparentes. Na evolução do COM+ÁGUA para o COM+ÁGUA.2 se
sobressaem os seguintes aspectos e avanços:
Os sistemas cadastrais continuam se caracterizando como um calcanhar de Aquiles
para o desenvolvimento da eficiência operacional das companhias no Brasil. Em
que pese a grande disponibilidade de softwares livres, de bons técnicos no mercado
e da experiência de diversos segmentos relacionados à dinâmica urbana, a
evolução de uma forma geral foi muito pequena. Existem cidades que seguem com
parcela significativa de seus consumidores sem estarem cadastrados em bancos de
dados, às vezes 5% a 10% do universo de consumidores, além de sistemas que
sequer possuem cadastro de redes e operam o sistema quase que intuitivamente.
Do lado positivo, ainda que não amplamente difundido e aplicado pelos prestadores,
já existem alguns prestadores mais engajados na preocupação de observar com
maior frequência, em processos de atualização, a categoria e porte dos seus
clientes, estruturando e atualizando de forma mais sistemática políticas
diferenciadas de tratamento.
Assim, ações de recenseamento já vêm encontrando maior valorização nos
prestadores, como forma de manter atualizado o perfil dos clientes e buscar
informações quanto à responsabilidade pela ligação de água e sua adimplência,
com a coleta de Cadastro de Pessoa Física - CPF, Registro Geral - RG e canais de
comunicação. Isso além de viabilizar as campanhas de comunicação social que
permitem também ações mais contundentes de cobrança com eventual protesto e
negativação de inadimplentes. Alguns prestadores vêm tentando desenvolver esses
trabalhos com a diversificação das atribuições de leituristas, o que muitas vezes
encontra conflitos pelas regras contratuais dos contratos de terceirização, ou
mesmo pela falta de capacitação e mobilização desses agentes. Tais fenômenos
vêm demonstrando a importância de ações efetivas de recenseamento em períodos
particulares a cada prestador, mas que garantem um melhor conhecimento do
universo de clientes.
A problemática dos usos não autorizados cresce de forma geral no país. Essa
observação se faz clara quando se analisa a evolução das ligações inativas nos
sistemas brasileiros. A inativação em grande parte se explica pela perda do cliente
que se torna inadimplente insolúvel e que em seguida passa a ser um fraudador do
sistema, com uso não autorizado. Este fenômeno se observa em todas as regiões
do país, sendo que atualmente grandes comunidades de baixa renda chegam a
apresentar entre 20% a 30% de ligações inativadas no cadastro. Por diversas vezes
esse problema se agrava pela existência de áreas dominadas por facções
criminosas que impedem o acesso do prestador.
Esse crescimento do uso não autorizado, especialmente em áreas de baixa renda,
evidencia fortemente a necessidade de uma mudança na forma como os
prestadores vêm tratando o abastecimento e o comportamento dos consumidores
nessas áreas. Torna-se premente a integração de esforços entre diversos serviços
públicos, envolvendo forte trabalho de mobilização e comunicação social, com o
envolvimento de lideranças comunitárias. O que se observa é um crescente
afastamento do prestador de serviços em relação a essa clientela. Algumas
experiências exitosas vêm demostrando a mobilização social e a integração de
esforços como fator chave de sucesso nessas áreas.
Ainda sobre a questão dos usos não autorizados, existem também os casos de
polícia, por exemplo, nos crimes de furto de água. Nestes casos, algumas ações
exitosas vêm sendo implementadas com parcerias entre órgãos de segurança e
promotorias a fim de punir tais atitudes, como também coibir e educar quanto ao
respeito ao prestador e ao cumprimento de obrigações sociais e cidadãs, como o
pagamento pelo uso da água.
Um avanço importante que se observou nessa década que intercala as edições do
projeto COM+ÁGUA foi a evolução metrológica, com a revisão normativa nesse
tema. Até recentemente, o normativo de ensaio de hidrômetros especificava
somente ensaios para vazões máxima, nominal e transição, o que não representava
as condições de operação nos sistemas brasileiros, onde os perfis de consumo têm
predominância de baixas vazões devido ao abastecimento indireto muito comum no
país.
Com o advento da NBR 15538/2014, que especifica os critérios e os procedimentos
para avaliação da eficiência em medidores de água potável fria com vazão
permanente (Q3), até 2,5 m³/h, foi estabelecido um novo método para a avaliação
de desempenho dos hidrômetros, mais adequado a medidores utilizados em
sistemas com o abastecimento indireto e que leva em consideração os perfis de
consumo, agregando análises como o Erro Médio Ponderado - EMP e o Índice de
Desempenho Metrológico - IDM.
Não obstante, também foi aprovado o novo Regulamento Técnico Metrológico-RTM
(Portaria 295 de 29/06/2018), com um período de transição de 3 anos para
aplicação dos novos requisitos metrológicos, onde as vazões referenciais até então
conhecidas por Qmáx, Qn, Qt e Qmin dão lugar a outras: Q4 = 1,25 x Q3; Q3:
definida conforme tabela do RTM; Q2 = 1,6 x Q1; Q1: definida pela Relação Q3/Q1,
dos valores definidos em tabela do RTM.
Outro fator importante, do ponto de vista tecnológico, foi a maior difusão e acesso
aos hidrômetros classe C, que possuem melhor sensibilidade a baixas vazões e
apresentam em geral um menor desgaste ao longo do tempo. Esse medidor ainda
tem sua aplicação bastante restrita no Brasil, mesmo nas companhias mais
avançadas em controle de perdas, mas em alguns projetos em que vêm sendo
empregados, demonstram boa relação custo-benefício.
Ainda na vertente tecnológica estão disponíveis no mercado os medidores
ultrassônicos, que não apresentam partes mecânicas ou móveis e, portanto, estão
menos suscetíveis ao desgaste do tempo. Esses medidores podem ser instalados
em qualquer posição, podendo ser alimentados com baterias internas. Seu custo
relativo ainda é bastante elevado quando comparado a medidores mecânicos
convencionais, mas já vêm sendo utilizados em algumas companhias, seja em
caráter de teste ou mesmo em consumidores especiais.
No COM+ÁGUA.2 foram escolhidos DMC dentro das áreas prioritárias para que
funcionassem como um laboratório de aplicação das metodologias de combate às perdas
reais e aparentes, de forma integrada como precursores para a disseminação desta
estratégia entre os prestadores.
3 METODOLOGIA
3.1 DETALHAMENTO DA METODOLOGIA DA AT 3
metodologia preconizada no COM+ÁGUA.2 tem como base estruturante os DMC
como pilares estratégicos no combate às perdas de água.
Desta forma, a escolha da sequência dos distritos de medição e controle a serem
implantados é fundamental para a otimização dos recursos disponíveis e maximização dos
resultados de um programa de combate e gestão de perdas. De forma geral, os prestadores
conhecem onde estão as maiores perdas de água em seus sistemas, mesmo que de
maneira empírica, e por isso a escolha do setor ou zona de abastecimento para início dos
trabalhos de implantação de DMC deve basear-se neste conhecimento, porém, não apenas
nele. O grau de facilidade para isolar os DMC deve ser outro critério, começando-se dos
mais fáceis para os mais difíceis, principalmente se os recursos financeiros e humanos
ainda são escassos para a gestão do sistema com base em novos paradigmas.
O fluxograma a seguir sintetiza o caminho para implantação e gestão do DMC.
A
Diante desse contexto, é importante ressaltar que esse percurso metodológico é aplicável a
qualquer prestador de serviço.
3.2 DESENVOLVIMENTO DO CADASTRO COMERCIAL
3.2.1 UMA ABORDAGEM SOBRE SUAS CONEXÕES COM AS PERDAS APARENTES
Do ponto de vista da redução e controle de perdas aparentes torna-se relevante o
estabelecimento de uma rotina sistemática e periódica de pesquisa e atualização dos dados
cadastrais dos clientes em campo.
Casos de interferência direta no volume de perdas aparentes passam por ligações que não
se encontram cadastradas no banco de dados, ou seja, sequer existem para os
prestadores, até aquelas que se encontram, mas a quantificação e/ou qualificação do dado
e/ou informação não são verídicos, adequados ou completos, isto posto tanto para as
ligações hidrometradas ou não.
Também vale complementar, já sem a devida interferência no volume de perdas aparentes,
casos de ligações com respectivo cadastro comercial desatualizado, acarretando impacto
direto no volume faturado e nas regras tarifárias.
Trazendo a ferramenta do Balanço Hídrico para dinamizar o leque de reflexões acerca dos
dados e informações oriundos do cadastro comercial, fica latente que a dificuldade de
definição de premissas no balanço hídrico num ambiente de carência de informações leva
ao inadequado dimensionamento das perdas aparentes no sistema de água estudado e,
consequentemente, pode provocar subestimação ou superestimação de componentes, além
do incorreto direcionamento posterior de esforços a serem empreendidos nas ações
corretivas.
A definição de premissas dos usos não autorizados está intimamente relacionada com a
variedade de situações de consumos irregulares encontradas em campo e na dinâmica de
cálculo das perdas aparentes. Estimar a quantidade de casos em cada situação é uma
iniciativa decisiva no sentido de se buscar uma maior precisão da dimensão do volume
desses consumos.
Baseando-se em fontes de dados e informações sem a confiabilidade adequada, o cálculo
fica exposto a desvios de estimativa do volume de água consumido irregularmente.
Portanto, mesmo que por vezes se faça apenas uma pesquisa e atualização cadastral em
escala piloto, sem o objetivo maior de combater as perdas aparentes, ela é fundamental
para se buscar maior assertividade na quantificação dos usos não autorizados e
refinamento do balanço hídrico.
Para melhor ilustrar o assunto, observa-se na figura adiante que no bloco de consumos não
autorizados é reservada uma área de lançamento de dados que recebe uma estimativa de
casos de usos de água não quantificados resultantes de incorreção e desatualização dos
dados comerciais dos clientes. Nesta etapa são quantificados os casos de ligações com
fornecimento interrompido por regras de cobrança e religados à revelia, além de situações
de localidades com abastecimento regular provido pelo prestador, porém com clientes não
cadastrados e com consumo não quantificado.
Fica claro que uma pesquisa e atualização cadastral em campo, seja em escala piloto ou
não, podem não só esclarecer e refinar melhor as premissas de cálculo do terceiro bloco -
Falhas de Cadastro -, mas também fornecer subsídios extremamente importantes quando
conjugados com um bom trabalho complementar de pesquisa de irregularidades para
melhor precisar os dois primeiros blocos - Ligações Clandestinas na Rede Distribuidora e
Fraudes nas Ligações de Água.
INTERFACE DO BALANÇO HÍDRICO PARA DIMENSIONAMENTO DOS TABELA 1.VOLUMES DE PERDAS POR USOS NÃO AUTORIZADOS
Fonte: Guia Prático para Quantificação de Balanços Hídricos e Indicadores de Desempenho Operacional,
Aesbe, 2014
3.2.2 AMPLITUDES E POTENCIALIDADES DE UMA PESQUISA E ATUALIZAÇÃO
CADASTRAL
3.2.2.1 OBJETIVOS ESPERADOS
A grande expectativa que deve permear uma pesquisa e atualização do cadastro comercial
é a de possuir uma base de dados de clientes, imóveis e hidrômetros que permita:
Correto enquadramento tarifário - em função da classificação de categoria e
economia dos imóveis;
Facilidade e consistência nas ações de cobrança administrativa e redução de
reclamações de cobranças indevidas, a partir dos dados corretos de nome,
Cadastro de Pessoa Física - CPF, Registro Geral - RG e uso do imóvel;
Estabelecer ações de manutenção corretiva e preventiva de hidrômetros a partir de
informações completas dos equipamentos instalados, tais como ano, estado de
funcionamento, estado da instalação e padronização.
Em relação à base cartográfica de clientes, imóveis e hidrômetros, deve-se garantir:
A correta localização física do imóvel;
A otimização das rotas de leitura e entrega de contas.
Ademais, deve-se estabelecer um cronograma de faturamento que respeite as diretrizes
mínimas de eficiência, como por exemplo:
Produtividade da equipe de leitura, garantindo a leitura no período máximo de 30
dias, com uma equipe bem ajustada às condições locais;
Racionalidade do caminho percorrido pelo leiturista, evitando desgaste excedente
do profissional e foco na atuação principal;
Redução do índice de faturas não-entregues;
Redução de faturas entregues com atraso;
Redução de reclamações de troca de faturas por endereço errado.
Adicionalmente deverá ser elaborada uma sistemática em campo para identificar, de
maneira mais precisa, as demandas no tocante a:
Regularização de usos não autorizados;
Manutenção do parque de hidrômetros.
3.2.2.2 DINÂMICA DAS DEMANDAS DE CAMPO
A pesquisa e atualização cadastral em campo é um momento ímpar e de rara oportunidade
de coleta de dados e informações de diversas naturezas, trazendo um retrato real do campo
naquele momento, provendo elementos para os mais variados tipos de análises e
elementos de tomada de decisões corretivas e preventivas.
Porém, para usufruir plenamente deste contexto, é indispensável que as diversas áreas do
prestador estejam preparadas para atacar os diversos temas levantados em campo. O
diagrama a seguir ilustra as diversas potencialidades da pesquisa e atualização cadastral.
3.2.3 ETAPAS METODOLÓGICAS DA PESQUISA E ATUALIZAÇÃO CADASTRAL
3.2.3.1 APORTE DE FERRAMENTAS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
É importante que o prestador se utilize de ferramentas de tecnologia da informação que
possam automatizar as etapas do processo de recadastramento e avaliar as diversas
atualizações de dados e informações. Hoje em dia é quase inviável conduzir uma pesquisa
desta natureza com registros em papel: a supressão da etapa de digitação de dados
garante níveis de confiabilidade muito maiores.
O sistema e o aplicativo dos coletores de dados devem ser customizados respeitando os
campos integrantes do layout do formulário de levantamento. A ferramenta deve estar
preparada para gerar todos os relatórios necessários para a gestão das informações e para
a apresentação de resultados, apontando divergência de informações e alertas de
inconsistências.
O sistema deve atender aos requisitos mínimos de padrões de confiabilidade de coleta de
informações em campo, garantindo que no ato da coleta de dados as inconsistências sejam
minimizadas.
3.2.3.2 ESTABELECIMENTO DO LAYOUT CADASTRAL
Os campos do formulário devem ser definidos buscando roteirizar o procedimento do
levantamento, direcionando o agente de pesquisa no momento da visita, reforçando a
necessidade da coleta completa de informações, atentando-se a critérios técnicos que
regem as atualizações.
É nesta etapa que se define quais informações serão coletadas e atualizados em campo.
Consequentemente, os objetivos gerais do levantamento devem estar bem estabelecidos,
definindo um layout satisfatório frente ao que se busca.
O enriquecimento do banco de dados de um prestador, tanto por meio de coleta de novas
informações ou por atualizações de informações já existentes, reflete em ações e estudos
cada vez mais assertivos.
Neste contexto, pode-se estabelecer seis grupos de informações que melhor organizam o
layout de levantamento dos dados:
Localização e identificação do cliente;
Dados pessoais dos titulares e inquilinos beneficiados;
Características do imóvel e finalidade do uso da água;
Condições de operação do equipamento de medição de água;
Identificação de consumos de água não autorizados;
Registro fotográfico.
Localização e identificação do cliente: as informações destinadas à localização já
contidas na base de dados devem constar no layout para serem submetidas a avaliações e
revisões em campo. Estas informações servirão de referência logística e orientação em
campo, ao passo em que também podem ser avaliadas e atualizadas. Recomenda-se
carregar informações chaves no coletor de dados, tais como matrícula, localidade cadastral,
bairro, logradouro, número do imóvel, complemento e coordenadas geográficas.
Dados pessoais dos titulares e beneficiados: os dados relacionados ao responsável pela
conta devem constar no coletor de dados, tanto para efeito de fiscalização como para a
confirmação da localização do cliente.
Recomenda-se não realizar a mudança de propriedade no momento do recadastramento
em campo, porém, a mudança de titularidade poderá ser sinalizada no coletor junto com as
informações do interessado com nome, CPF e RG.
Recomenda-se verificar o nome do entrevistado, grau de parentesco com o titular da conta,
nome do titular da conta, CPF/Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ do titular da
conta, contatos telefônicos e número de pessoas utilizando os serviços.
Características do imóvel e finalidade do uso da água: neste grupo é importante que a
maioria dos campos seja levantada e fiscalizada. Importante exigir a vistoria completa
desses aspectos observando que os principais resultados financeiros provenientes desses
serviços dependerão da correta atualização dos mesmos.
Esta etapa do levantamento depende de interação entre o agente de pesquisa e o cliente.
Recomenda-se levantar a situação do fornecimento de água e da coleta do esgoto,
existência de fonte de abastecimento alternativa, categoria de uso do serviço, quantidade de
economias, ramos de atividade, existência de fossa, situação do imóvel, pavimentação da
rua, pavimentação da calçada, testada do lote, área construída, existência de jardim,
quantidade de pontos de utilização, existência de reservatório domiciliar, volume do
reservatório, existência de piscina, além de reservar espaço para outras observações que
possam ser importantes e pertinentes.
Condições de operação do equipamento de medição de água: neste grupo o
recomendado é que todas as informações relacionadas à micromedição sejam submetidas
às avaliações e auditorias. Assim como no grupo de dados do imóvel, o agente de pesquisa
deverá necessariamente investigar todas as informações constantes no coletor de dados.
Recomenda-se verificar ou atualizar os campos de número do hidrômetro, local de
instalação, condições da caixa de proteção, verificar condições diversas de operação, tais
como: se o hidrômetro se encontra parado, inclinado, com difícil acesso, embaçado, sem
registro, não localizado, com abrigo alagado ou com entulho, se o abrigo está quebrado,
sem tampa, soterrado, com vazamento no cavalete ou no ramal.
Identificação de consumos de água não autorizados: nesta etapa o agente de pesquisa,
em caso de evidência ou suspeita de usos não autorizados, deverá reportar através das
opções do coletor de dados a situação identificada.
As evidências em grande escala passam por hidrômetro invertido, hidrômetro perfurado,
torneira antes do hidrômetro, hidrômetro danificado e ligação não ativa religada à revelia. Os
casos não evidentes acabam passando por suspeita de ligação clandestina e de by-pass.
Registro fotográfico: as fotos servirão de elemento complementar de crítica às
informações atualizadas, ou seja, sempre que houver dificuldade de interpretação
relacionada aos dados coletados no momento da visita, como também poderão dar um
melhor esclarecimento de determinadas situações e apoio nas decisões.
Recomenda-se realizar registro fotográfico da fachada do imóvel, preferencialmente com um
determinado ângulo mostrando o uso de categoria do imóvel, o lote dentro do contexto da
vizinhança e a localização da instalação do hidrômetro. Necessário também registrar as
condições de instalação do hidrômetro, mostrando modelo de abrigo e detalhe que se julgue
importante.
Vale ressaltar que também é importante fazer registro dos documentos pessoais do titular
da matrícula. Por fim, caso seja apontada alguma suspeita, o flagrante de irregularidade de
consumo deverá ser registrado.
3.2.3.3 PREPARAÇÃO DA BASE CARTOGRÁFICA
No âmbito do processo de pesquisa e atualização cadastral o desenvolvimento da base
cartográfica se configura como ambiente de espacialização dos imóveis e localização dos
consumidores, além de representar uma importante ferramenta de gestão comercial e
operacional dos serviços.
Diante do amplo amadurecimento das tecnologias de Geographic Information System - GIS
hoje disponíveis no mercado, inclusive as gratuitas e que funcionam na sua plenitude, não
se deve mais abrir mão de desenvolver a base cartográfica em ambiente georreferenciado,
observando a possibilidade de padronização de referência e facilitando a integração das
informações do cadastro comercial e do cadastro técnico de redes.
Reforçando a ideia de oportunidade concretizada pela rotina de levantamentos em campo,
observa-se a necessidade de atualizações cartográficas já que os mapas em geral não
estão georreferenciados e os desenhos não representam fielmente a realidade. Deverão ser
incluídas nas prioridades do levantamento algumas confirmações e verificações geográficas
dos lotes e das quadras.
Considerando um cenário de total ausência de uma base georreferenciada recomenda-se
seguir as devidas etapas de elaboração e desenvolvimento:
Desenho e/ou ajuste das quadras na base cartográfica;
Chaveamento das quadras à base de dados;
Desenho dos lotes;
Chaveamento dos lotes às quadras e base de dados;
Vinculação das ligações às quadras.
Todo este trabalho do mapa deve ser realizado antes dos agentes de pesquisa irem a
campo, de forma que os mesmos já possam dispor do mapa de quadra para atualizar e
fazer propostas de modificações quando das visitas.
A partir de uma base cartográfica inicial é possível dimensionar e estimar atividades diárias
pré-programadas, permitindo um planejamento mais detalhado em relação ao avanço das
atividades em campo no dia a dia.
3.2.3.4 ENVIO E RECEBIMENTO DOS DADOS PARA OS COLETORES E
RESPECTIVOS TRABALHOS DE CAMPO
Esta etapa consiste em enviar as informações dos clientes de cada quadra para os
coletores e disponibiliza-las aos agentes de pesquisa, sendo possível enviar mais de uma
quadra para um mesmo agente de pesquisa.
FIGURA 9. CHAVEAMENTO DE QUADRAS
Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2
A produtividade em campo é muito variável, depende de vários fatores que passam pelo
detalhamento do formulário de levantamento de dados (ou seja, o layout cadastral definido),
adensamento das áreas, características socioeconômicas de ocupação, entre outros
aspectos.
Necessário se faz prever no formulário de registro de levantamento as ocorrências
cadastrais, traduzidas pelas diversas possibilidades que o agente de pesquisa poderá se
deparar em campo no momento da visita aos imóveis. As ocorrências cadastrais mais
comuns são:
Não realizado: em campo, caso o agente de pesquisa não consiga visitar um determinado
cliente.
Ocorrência normal: nos casos em que o agente de pesquisa visitou o imóvel e conseguiu
realizar a entrevista e coletar no mínimo as informações obrigatórias.
Casa fechada: caso o agente de pesquisa visite o imóvel e não encontre nenhum morador
responsável ou o imóvel propriamente fechado. Sugere-se, como sequencial, que o agente
de pesquisa realize uma segunda visita neste imóvel no próximo dia útil. Por fim, sugere-se
uma terceira e última visita, que deve ocorrer nos finais de semana, em especial aos
sábados.
Morador impediu: em alguns casos o agente de pesquisa irá se deparar com clientes e/ou
moradores que não aceitaram realizar o recadastramento, se negando a passar as
informações.
FOTO 1. RECADASTRO COMERCIAL
Foto: Acervo COM+ÁGUA.2
Terreno baldio: apontar esta ocorrência sempre que no local do cadastro exista um terreno
vazio sem imóvel construído.
Demolido: apontar esta ocorrência sempre que no local do cadastro exista um imóvel
demolido ou em ruinas.
Inclusões: neste bloco devem ser tratados todos os casos de imóveis que não estão
cadastrados no banco de dados da companhia. Tratando-se da questão das inclusões é de
extrema importância que todos os imóveis e lotes da quadra sejam recadastrados ou
cadastrados no coletor de dados, independente da sua situação de abastecimento.
Em algumas situações é possível identificar separações distintas entre imóveis. Em casos
como este, quando um dos imóveis não possuir cadastro na base de dados, a evidência da
inclusão será nítida. Porém, em locais com topografia que estimula o crescimento vertical
dos imóveis é muito comum a existência de entrelaçamento de construções, dificultando a
distinção clara entre um imóvel e outro. Neste contexto recomenda-se que, caso os
proprietários não manifestem interesse em solicitar ligações de água individuais, o agente
de pesquisa deve tratar as possíveis inclusões como uma ou mais economias do imóvel que
já possui cadastro na base de dados.
O coletor de dados deve estar preparado para gerar um novo cadastro com os campos não
preenchidos. Consequentemente, o agente de pesquisa deve, desde o início, inserir todas
as informações mínimas para criar a respectiva inclusão. As regras de inserção de
informação nos casos de inclusão devem respeitar as diretrizes técnicas e comerciais
ditadas pelo prestador.
3.2.3.5 CONTROLE DE QUALIDADE E ATUALIZAÇÃO DOS DADOS E
INFORMAÇÕES
Após a pesquisa passar por todas as etapas de coleta de dados e informações em campo,
os casos críticos devem ser filtrados pelas ferramentas de tecnologia da informação,
seguindo critérios de seleção previamente especificados.
Recomenda-se os seguintes critérios, cadastros com:
Mudança de categoria;
Mudança na quantidade de economias;
Suspeitas de fraudes;
Mudança na situação de água e/ou esgoto;
Com mesma numeração de hidrômetro;
Inclusões;
Exclusões.
Os casos críticos podem ser enviados para campos impressos ou diretamente no coletor de
dados. Em larga escala são considerados casos críticos todos aqueles que, após passarem
pelo processo de recadastramento, sofrerão algum tipo de alteração que impactará em seu
faturamento.
Em campo, o fiscal de qualidade deve auditar o principal motivo que tornou o cadastro um
caso crítico. Somente em casos confusos ou que haja a necessidade de entrar no imóvel é
que o fiscal deve fazer contato com o cliente.
Assim que todos os casos críticos da quadra forem auditados, a quadra poderá então ser
validada plenamente. Com isso, os dados da quadra estarão prontos para serem
processados e atualizados na base de dados do prestador.
3.2.3.6 CONTROLE DE MAPAS E FINALIZAÇÃO
Alguns mapas podem retornar de campo com ajustes efetuados pelos agentes de pesquisa
no momento da investigação dos imóveis. Estes ajustes devem ser avaliados e conferidos
para então serem repassados no mapa final.
Neste momento, todas as entidades são chaveadas e georreferenciadas no GIS. Com a
matrícula em cada lote, tanto as informações do recadastro quanto as do banco de dados
comercial podem ser integradas num GIS.
O fluxograma a seguir apresenta a dinâmica dos trabalhos de campo e escritório para uma
pesquisa e atualização cadastral tradicional.
Fonte: COM+ÁGUA.2
FIGURA 10. DESENHO DE LOTES NO QGIS
3.3 DESENVOLVIMENTO DA MICROMEDIÇÃO
3.3.1 INTRODUÇÃO
O registro do volume micromedido com erros de indicação acima dos limites máximos
estabelecidos nas normas e Regulamento Técnico Metrológico - RTM, comumente
denominada submedição, ocorre por causas diversas, tais como: dimensionamento
incorreto (capacidade e/ou classe metrológica), tecnologia inadequada do medidor,
instalação inadequada (inclinação do hidrômetro no cavalete, hidrômetro sujeito a esforço
mecânico, choques/vibrações e intempéries), regime de vazões do ramal predial afetado
pelo abastecimento indireto, com ação da boia da caixa d’água prejudicando a medição em
vazões muito baixas (período noturno e/ou vazamentos internos).
Outras questões associadas ao hidrômetro como deficiências na manutenção da rede de
distribuição (o que provoca a existência de partículas sólidas, notadamente partículas de
ferro que podem danificar o hidrômetro e/ou interferir na sua sensibilidade), bem como
deficiência no programa de manutenção e substituição de hidrômetros, intensificam o
problema.
3.3.2 OS AVANÇOS NORMATIVOS
Nos anos 2.000, a indústria brasileira de hidrômetros iniciou o debate envolvendo a adoção
de um novo RTM, baseado na International Organisation of Legal Metrology - OIML R49, em
concomitância com as discussões que vinham ocorrendo em várias partes do mundo, mais
em especial na Europa, que capitaneou a elaboração destas recomendações. A OIML R49
vinha trazendo grandes novidades para a época, uma vez que seu escopo ficou mais
abrangente, reunindo em um só texto todas as tecnologias em uso, tanto de medidores
convencionais, medidores híbridos (sensor mecânico e relojoaria eletrônica), quanto
medidores eletrônicos. Além de regulamentar as novas tecnologias, os requisitos
metrológicos também foram adaptados a esta realidade, passando de uma tabela com
apenas quatro classes metrológicas (A/B/C/D), para uma nova configuração com a
introdução do conceito de range ou R, representando a relação Q3/Q1 (que no regulamento
anterior equivale a Qn/Qmin), sendo estabelecido 15 possibilidades diferentes (no anterior
eram quatro). Outro ponto fundamental foi a definição das capacidades, que podem ser
escolhidas em até 20 valores diferentes. Em resumo, a OIML R49 passou a abranger
qualquer hidrômetro, do menor ao maior, de qualquer princípio construtivo, colocando
disponível ao setor de saneamento uma regulamentação em toda a cadeia de medição de
água potável.
No Brasil, apesar da discussão sobre esta regulamentação ter se iniciado pouco depois da
edição da nova OIML, diferentemente do que aconteceu nos países europeus, que já no
início dos anos 2000 já estavam com seus regulamentos nacionais e as diretivas
continentais discutidos e implementados, ocorreu um lapso significativo de tempo para esta
implementação, tendo ocorrido somente em 2018. O novo RTM de Hidrômetros (Portaria
295 do Inmetro, de 29/06/2018) já está em vigor, mas ainda conviverá com o RTM anterior
por 3 anos, período de transição estabelecido para o mercado para se adaptar, como ocorre
em todos os países que são signatários da OIML.
No âmbito da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, alguns progressos
ocorreram com o intuito de apoiar a atuação dos prestadores no combate às perdas
aparentes, trazendo uma nova metodologia de análise de desempenho dos medidores.
Entre 2007/2008 foi lançada a primeira edição da Norma ABNT NBR 15.538, que introduziu
no mercado a metodologia de cálculo do Índice de Desempenho Metrológico – IDM. Esta
norma rapidamente começou a ser utilizada e veio a sofrer duas revisões, entre 2007 e
2014, para corrigir as imperfeições que foram detectadas ao longo da sua utilização, sendo
que a versão atualmente válida é a 2014.
3.3.2.1 O ADVENTO DA NBR 15.538/2014
A metodologia de análise do IDM está focada em avaliar qual medidor oferece a melhor
resposta em termos de medição em função de um determinado perfil de consumo. Qualquer
que seja o princípio de funcionamento, a classe metrológica ou a capacidade (desde que
compatível com as ligações residenciais), o medidor que apresentar IDM mais alto será
aquele que irá responder melhor ao efeito da submedição. Esta forma de análise é uma
quebra de paradigma, pois o senso comum nos leva a imaginar que quanto maior o campo
de medição de um instrumento, melhor será sua capacidade de medição. Levando-se em
consideração que a classe metrológica é um parâmetro para definição das vazões de
ensaio em aprovação de modelo e verificação metrológica, mas não obrigatoriamente irá
definir a sensibilidade de um medidor para detectar baixas vazões, se tivermos um medidor
de Qn 0,75 - classe metrológica A que tenha um IDM de 98% e um medidor de Qn 0,75 –
classe metrológica B que tenha IDM de 95%, o primeiro conseguirá registrar um volume
maior que o segundo, mesmo tendo uma classe metrológica que tenha um campo de
medição menor. Devemos nos atentar ao fato de que o importante é selecionar um medidor
que se encaixe melhor na medição, que não será necessariamente um medidor classe C.
O IDM é um parâmetro de avaliação do desempenho do medidor que permite calcular qual
é a capacidade que um equipamento qualquer tem de registrar o volume por ele escoado,
baseado em um perfil de consumo (regime de vazões x volume totalizado). O método
proposto consiste em submeter o medidor a um ensaio em 10 vazões distintas, cada vazão
representando uma faixa entre 0 e 1.500 L/h, calculando-se o erro de indicação do medidor
nestas vazões para posteriormente calcular o erro ponderado, aplicando-se um determinado
peso a cada faixa de vazão de acordo com a representatividade de determinada faixa de
vazão no todo. Na tabela adiante são apresentados os parâmetros para determinação dos
erros de indicação e cálculo do IDM, conforme valores normalizados. O perfil de consumo
proposto pela NBR 15.538/2014 foi elaborado com base em ligações de água com
abastecimento indireto, ou seja, com a presença de reservatório do tipo caixa d’água em
ligações residenciais.
As fórmulas para cálculo dos Erros Ponderados - EP e do IDM são as seguintes:
𝐸𝑃% = Ʃ[(𝑒𝑟𝑟𝑜 𝑄𝑥) 𝑥 (𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑄𝑥)] / 100
𝐼𝐷𝑀 = 100% + 𝐸𝑃
Vale esclarecer que o perfil de consumo proposto pela NBR 15.538/2014 foi definido pelo
grupo de trabalho de hidrômetros, que se reúne para elaborar as normas referentes aos
hidrômetros utilizados no Brasil. Este grupo
é formado por profissionais da área, sejam
dos prestadores, fabricantes e interessados
em geral.
Durante a elaboração da norma vários
prestadores apresentaram seus estudos de
levantamento de perfil que após avaliados,
comparados e harmonizados, resultaram
em um Perfil de Consumo que poderíamos
chamar de Perfil de Consumo Típico no
Brasil.
3.3.2.2 PORTARIA DO INMETRO Nº 295, DE 29 DE JUNHO DE 2018
Como explicitado, o RTM instituído pela Portaria 246/2.000 deu lugar àquele instituído pela
Portaria 295/2.018, porém haverá um período de transição de 3 anos para aplicação dos
novos requisitos metrológicos.
A tabela adiante faz uma correlação das vazões características do RTM anterior com
relação ao atual.
RTM 246/2.000 RTM 295/2.018
Vazão Máxima – Qmax Vazão de Sobrecarga - Q4
Vazão Nominal – Qn Vazão Permanente - Q3
Vazão de Transição – Qt Vazão de Transição - Q2
Vazão Mínima - Qmin Vazão Mínima - Q1
ENSAIOS PREVISTOS TABELA 2.PELA NORMA NBR 15.538
Fonte: ABNT NBR 15.538/2014
VAZÕES CARACTERÍSTICAS DO HIDRÔMETRO TABELA 3.
Fonte: Portaria INMETRO 295, de 29 de junho de 2018
Os novos Requisitos Metrológicos obedecem às seguintes relações:
Q4 = 1,25 x Q3;
Q3: é definida conforme valores em tabela;
Q2 = 1,6 x Q1;
Q1: é definida pela Relação Q3/Q1, dos valores definidos em tabela.
Vazão Permanente - Q3 (m³/h)
1,0 1,6 2,5 4,0 6,3
10 16 25 40 63
100 160 250 400 630
1000 1600 2500 4000 6300
De maneira a melhor elucidar as diferenças do RTM antigo e atual, por exemplo, um
hidrômetro tradicional Qn 0,75 classe B, possui as seguintes vazões características:
Qn = 0,75 m³/h; Qmax = 1,5 m³/h;
Qt = 60 L/h;
Qmin = 15 L/h.
Este medidor, no novo enquadramento metrológico, escolhido o range de 63, passa a ter as
vazões características:
Q3 = 1,0 m³/h;
Q4 = 1,25 x Q3 = 1,25 x 1,0 = 1,25 m³/h;
Q1 para R = 63: Q3/Q1 = 63, então Q1 = Q3/63 → Q1 = 1,0/63 = 0,0159 m³/h =
15,9 L/h;
Q2 = 1,6 x Q1 = 1,6 x 15,9 = 25,4 L/h.
Relação Q3/Q1 - R (range)
40 50 63 80 100
125 160 200 250 315
400 500 630 800 1000
VAZÕES PERMANENTES TABELA 4.
Fonte: Portaria INMETRO 295, de 29 de junho de 2018
VALORES DE R TABELA 5.
Fonte: Portaria INMETRO 295, de 29 de junho de 2018
Nota-se que a possibilidade de escolha de vários ranges desencadeia, por consequência,
em configurações diversas dos medidores, ampliando o leque de escolha do medidor mais
apropriado à aplicação.
3.3.3 O PONTO NEVRÁLGICO DA SUBMEDIÇÃO
O foco principal de abordagem reside na busca por hidrômetros mais sensíveis, que
permitam registrar o volume consumido em vazões mais baixas. Nos ramais prediais temos
o regime de trabalho do hidrômetro regido pelos dispositivos hidráulicos instalados à jusante
do medidor. Focando nossa discussão nas economias residenciais, que representam o
maior número de ligações, tipicamente temos a existência de reservatórios (caixa d’água),
que têm a boia como dispositivo de corte do abastecimento. Nesta configuração o regime de
vazões de abastecimento está condicionado à posição da boia, que em regime de
abastecimento contínuo tem oscilações menores, pois sempre que há consumo (torneiras,
bacia sanitária, máquinas de lavar, etc.), ocorre a reposição do nível do reservatório.
Ao longo do dia, quando o consumo das residências tende a ser maior, observa-se que o
hidrômetro irá registrar em vazões situadas no seu campo superior de medição, em que o
intervalo dos erros de indicação do instrumento é ± 2% para um medidor em uso. Durante o
período noturno, em função da diminuição do consumo, observa-se que o hidrômetro tende
a registrar em vazões situadas no seu campo inferior de medição, em que o intervalo dos
erros de indicação do instrumento é de ± 5% para um medidor em uso. Tal fato ocorre em
função do reservatório estar abastecido e a reposição do nível ocorrer somente nos casos
de um consumo eventual ou por motivo de vazamentos nos dispositivos hidráulicos, que
ocorrem em vazões baixas ou muitas vezes em vazões em que o hidrômetro não tem
capacidade de registrar ou consegue registrar com erros de indicação maiores e negativos,
no que denominamos submedição.
3.3.4 HISTÓRICO DAS TECNOLOGIAS DE MICROMEDIÇÃO E TENDÊNCIAS DE
INTENSIFICAÇÃO DE USO E APLICAÇÃO
Historicamente a elaboração das normas brasileiras, no âmbito da ABNT, se inicia pelo
estudo das normas internacionais, visando elaborar a norma nacional em consonância com
a tecnologia vigente no mercado mundial. Apesar da relevância do mercado norte
americano, tradicionalmente o mercado brasileiro seguiu as tendências da Europa
Ocidental, tendo Alemanha, França e Inglaterra como países que nos forneceram produtos
e tecnologia neste segmento. No âmbito das normas de especificação de hidrômetros
sempre houve similaridade das Normas ABNT com as Normas ISO (International
Organization for Standardization), o que gerava discussões sobre até que ponto o que
servia aos países europeus, serviria também à realidade do mercado brasileiro.
Até a criação da Norma ABNT NBR 15.538, em 2007, pouca diferença havia entre a Norma
Brasileira de Hidrômetros e as Normas Deutsches Institut für Normung - DIN e Organização
Internacional de Padronização - ISO. Alguns requisitos nacionais como a blindagem
magnética, o medidor de Vazão Nominal – Qn 0,75 m³/h e diâmetros de ½” e ¾” para os
medidores de Vazão Nominal – Qn 0,75 e 1,5 m³/h, criados ao longo do tempo, diferenciava
a norma brasileira das suas correlatas.
Desde o início da utilização de hidrômetros no Brasil até a década de 1980, os medidores
mais utilizados na micromedição eram os hidrômetros multijato, com relojoaria de
transmissão mecânica, que estavam disponíveis para os diâmetros de ½” x Qn 1,5 m³/h até
2” x Qn 15 m³/h. Os hidrômetros mecânicos, em função das suas características
construtivas, não alcançavam grande sensibilidade, sendo produzidos para um campo de
medição correspondente ao que temos para a classe metrológica A ou range Qn/Qmin = 25.
Para a época em que os desafios eram aumentar o número de ligações e implantar a
medição, eliminando a cobrança por estimativa, a análise da performance e da adequação
do medidor ao perfil de consumo era algo desejável, mas ainda distante.
Com a evolução do setor de saneamento, em especial com o amadurecimento dos
prestadores, uma vez que a urbanização cada vez mais intensa da sociedade brasileira
exigia maior cobertura dos serviços e melhoria da eficiência para suportar a necessidade de
crescimento da população atendida, o mercado passou a ofertar os medidores mecânicos
com transmissão magnética, bem como os hidrômetros unijato, sendo então uma evolução
tecnológica que proporcionou instrumentos mais sensíveis.
Ainda na década de 1980, o hidrômetro normalmente utilizado nas residências, de Qn 1,5
m³/h com range de medição 25, passou a ser produzido com um diferencial de
sensibilidade, pois a sua Vazão Mínima - Qmin, que pelas normas internacionais sempre foi
de 60 L/h na norma brasileira foi estabelecida em 40 L/h, fazendo o range de medição subir
de 25 para 37,5. Percebe-se que, naquele período, os hidrômetros desta capacidade
produzidos no Brasil atendiam a um valor de Qmin que estava situado entre os valores das
classes A e B, ou seja, não era 60 e nem 30 L/h. Isto atendia, em parte, a necessidade dos
prestadores pela busca de medidores mais sensíveis, uma vez que os modelos ofertados à
época não
estavam aptos a
serem fabricados
para a Classe
Metrológica B. Na
tabela a seguir
são mostrados os
valores das
Vazões de
Transição - Qt e
Vazão Mínima -
Qmin, em função
da Vazão Nominal – Qn e da Classe Metrológica A/B/C.
Outra novidade à época foi o início da produção de medidores unijato no Brasil. Num
mercado que historicamente fabricou medidores multijato, a entrada destes medidores foi
uma inovação, pois eram mais compactos e mais adequados para se atingir maior
sensibilidade, por razão das suas características construtivas. Para o medidor unijato houve
também uma adaptação surgida no mercado nacional, que foi estabelecer um medidor
residencial com capacidade menor, surgindo então o medidor Qn 0,75 m³/h. Esta diminuição
da capacidade do medidor fez surgir um hidrômetro que passava a oferecer uma
sensibilidade maior, com 30 L/h em Qmin. Mesmo sendo um medidor de range 25, por ter
VALORES DAS VAZÕES DE TRANSIÇÃO TABELA 6.
Fonte: Regulamento Técnico Metrológico - RTM da Portaria Inmetro 246/2.000
uma capacidade menor, oferecia uma Qmin ainda menor que os hidrômetros multijato, que
era de 40 L/h.
O mercado evoluiu e, a partir da década de 1990, os prestadores passaram a especificar
medidores cada vez mais aptos a registrar em vazões baixas, visando combater o efeito da
submedição. Naquele momento, a Norma Brasileira, no âmbito da ABNT, estabelecia
requisitos para os medidores de classe metrológica A/B/C. Quando, em 1994, o INMETRO
estabeleceu o primeiro Regulamento Técnico Metrológico – RTM para hidrômetros e se
iniciou o processo de aprovação de modelos, visando comprovar que os hidrômetros
comercializados pelos fabricantes atendiam a este RTM, houve um grande número de
modelos aprovados nas classes A e B, mas a produção em massa dos medidores classe B
ainda demorou certo tempo para se estabilizar, visto que as melhorias de produtos e
processos de fabricação foram necessárias para conseguir adequar-se ao patamar de
sensibilidade exigidos na fabricação dos medidores de Classe Metrológica B.
Entre meados e final da década de 1990, os estudos referentes à submedição começaram a
ganhar corpo, expondo a necessidade de continuar a evolução dos hidrômetros fabricados
no Brasil. Foi quando alguns prestadores passaram a comprar medidores de classe
metrológica C, que ofereciam um range de 100, ou seja, o dobro em relação ao de classe B.
Inicialmente estes medidores foram importados da Europa, em especial da Alemanha,
França e Itália, pois os fabricantes nacionais não estavam aptos a produzir estes
equipamentos. Os resultados auferidos com medidores classe C, em relação ao volume
medido, foram animadores, pois estes medidores conseguiam diminuir as perdas pela
submedição. Como na época havia uma política cambial que favoreceu aos produtos
importados, o mercado se abasteceu com esta tecnologia por algum tempo.
Com a mudança da política cambial, que aumentou o custo dos importados, alguns
fabricantes começaram a produzir os medidores classe C no Brasil, mesmo que importando
partes e peças. Ao mesmo tempo, com a evolução tecnológica da indústria nacional de
hidrômetros, os medidores unijato de Qn 0,75 m³/h – B, que tem o mesmo valor de Qmin
que um hidrômetro Qn 1,5 m³/h – C, ou seja 15 L/h, foi se firmando como uma alternativa de
baixo custo para a submedição, em especial quando o ramal está em uma faixa de
consumo baixa, que normalmente vai até 30 m³/mês, com alguma margem inferior e
superior, a depender da política de cada prestador.
Observa-se que, mesmo sendo a Qmin de um medidor estabelecida no RTM, alguns
prestadores passaram a especificar hidrômetros Qn 0,75 – B com 12 L/h em Qmin,
aumentando assim o range de medição, visando diminuir a submedição.
Em se tratando dos medidores de classe C é preciso detalhar alguns pontos que são muito
importantes no contexto da submedição e da recuperação do volume medido. No âmbito
dos consumidores residenciais há algumas faixas de consumo, mas que ficam limitadas aos
medidores de diâmetro ½” e/ou ¾”, de Qn 1,5 ou 2,5 m³/h.
Nestas capacidades o que o mercado vem utilizando são os medidores velocimétricos que
podem ser unijato ou multijato, bem como os volumétricos. Apesar de não haver diferença
em termos metrológicos, ou seja, independente do princípio construtivo, os medidores
precisam atender as mesmas vazões características (Qn/Qt/Qmin), as iniciativas dos
prestadores de uso em escala operacional vêm sendo conduzidas, visando comprovar qual
a melhor relação custo benefício de um tipo ou outro.
Como há opções de medidores residenciais classe C com tipos construtivos diferentes
(unijato, multijato ou volumétrico), que também podem ter variações quanto ao tipo de
relojoaria (seca com transmissão magnética e úmida com transmissão mecânica), seria
difícil, para não dizer arriscado, definir qual é a especificação de um hidrômetro classe C
que possa ser considerada padrão.
Consideram-se milhões de ligações a serem atendidas, sistemas de abastecimento com
características variadas, perfil típico dos clientes, política tarifária, etc., então é prudente que
cada prestador faça suas escolhas baseadas em experimentações criteriosas, que
permitam avaliar em escala operacional as diferentes opções, de forma que a tomada de
decisão seja consistente.
O estado da arte na indústria de hidrômetros são os medidores eletrônicos, também
denominados estático ou de estado sólido (sem partes móveis), que normalmente são de
princípio eletromagnético ou ultrassônico. Estes medidores possuem algumas vantagens
importantes em relação aos medidores mecânicos, mas ainda não podemos dizer que
substituem os medidores convencionais em 100% das aplicações, considerando o estado
atual desta tecnologia.
Os medidores de princípio eletromagnético e ultrassônico não são uma novidade na
indústria de instrumentação industrial, voltados para processos fabris, pois os primeiros a
serem fabricados remontam a década de 1970, a partir do desenvolvimento da
microeletrônica. Para a micromedição, a inovação consiste em aplicar esta tecnologia em
hidrômetros, considerando que o custo tem que ser muito baixo em comparação a um
instrumento industrial, além de exigir um equipamento que seja alimentado eletricamente
por bateria com vida útil prolongada. Mesmo que atualmente o custo de um hidrômetro
residencial eletrônico seja de quatro a cinco vezes o preço de um medidor convencional
classe C e de sete a oito vezes o preço de um medidor convencional classe B, verifica-se
que prestadores vêm iniciando o uso desta tecnologia, pois em algum momento irão
precisar avaliar quais as vantagens, pontos fortes e fracos e qual a linha de corte entre
utilizar um medidor com esta tecnologia em detrimento de um medidor convencional.
1
1 Imagem adaptada do livro Micromedição em Sistemas de Abastecimento de Água, 2009, Adalberto Cavalcanti
Coelho
FIGURA 12. PEQUENOS MEDIDORES E SUAS CARACTERÍSTICAS
MODELO CLASSE METROLÓGICADESENHO ESQUEMÁTICO DO
PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO
VELOCIMÉTRICO UNIJATO CLASSE B
VELOCIMÉTRICO MULTIJATO CLASSE B
VOLUMÉTRICO CLASSE C
ULTRASSÔNICO CLASSE C
WOLTMAN TURBINA
VERTICALCLASSE B
WOLTMAN HORIZONTAL CLASSE B
1 2 43
Hélice de eixo horizontal
Hélice de eixo vertical
Modelo Classe
Metrológica Vazões Características Princípio de Funcionamento e Foto
Velocimétrico Unijato
B
0,75 m³/h
Vazão de início de funcionamento:
6,00 l/h
Vazão mínima: 15,00 l/h
Vazão de transição: 60,00 l/h
Vazão nominal: 750,00 l/h
Vazão máxima: 1500,00 l/h
B
1,5 m³/h
Vazão de início de funcionamento:
15,00 l/h
Vazão mínima: 30,00 l/h
Vazão de transição: 120,00 l/h
Vazão nominal: 1500,00 l/h
Vazão máxima: 3000,00 l/h
Velocimétrico Multijato
B
1,5 m³/h
Vazão de início de funcionamento:
15,00 l/h
Vazão mínima: 30,00 l/h
Vazão de transição: 120,00 l/h
Vazão nominal: 1500,00 l/h
Vazão máxima: 3000,00 l/h
C
1,5 m³/h
Vazão de início de funcionamento:
7,50 l/h
Vazão mínima: 15,00 l/h
Vazão de transição: 23,00 l/h
Vazão nominal: 1500,00 l/h
Vazão máxima: 3000,00 l/h
Volumétrico C
1,5 m³/h
Vazão de início de funcionamento:
2,00 l/h
Vazão mínima:
15,00 l/h
Vazão de transição:
22,50 l/h
Vazão nominal: 1500,00 l/h
Vazão máxima
3000,00 l/h
Ultrassônico C
Vazão de início de funcionamento:
1,30 l/h
Vazão mínima:
6,00 l/h
Vazão de transição:
9,60 l/h
Vazão nominal: 1600,00 l/h
Vazão máxima: 2000,00 l/h
Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2
A principal vantagem deste tipo de medidor é possuir um extenso range de medição (a
chamada relação Q3/Q1 – vazão permanente / vazão mínima) podendo trabalhar com
valores entre 250 e 500, o que em um medidor residencial permite registrar vazões muito
próximas a zero, combatendo diretamente a submedição, ponto central desta abordagem.
Outras vantagens adicionais são robustez ao desgaste e baixa perda de carga, uma vez
que não possui partes móveis, ser imune a fraude magnética e poder incorporar funções de
armazenamento de dados e telemetria em um só produto. As desvantagens são o alto
investimento, a tecnologia ainda não está totalmente provada, o que requer tempo e
melhoria contínua, em especial em ambientes extremos, bem como a manutenção da
precisão da medição, que ainda precisa ser avaliada ao longo do ciclo de vida do produto.
3.3.5 MENSURAÇÃO DE DESEMPENHO DO PARQUE DE HIDRÔMETROS
Apesar da norma ter sido elaborada com o objetivo dos prestadores avaliarem o
desempenho de hidrômetros novos, visando ter um método de inspeção e critérios de
aceitação para medidores a serem instalados em campo, para atacar o problema da
submedição, não se deve deixar de considerar que estes medidores sofrerão desgaste ao
longo do tempo e então, aquele IDM inicial alcançado no medidor novo não se manterá
indefinidamente.
Diante do exposto, algumas questões tornam-se constantes na rotina de operação do
sistema de micromedição. Como avaliar o desempenho do parque de medidores que pode
ter centenas de milhares ou até milhões de unidades? Como monitorar a submedição de um
universo gigantesco de hidrômetros? Como determinar as perdas pela imprecisão na
micromedição?
O que muitos prestadores têm utilizado é a metodologia da NBR 15.538/2014 para avaliar
medidores já em uso, a partir de um experimento amostral, com o objetivo de se levantar
uma curva de envelhecimento do parque de medidores.
A partir da análise do banco de dados comerciais, deve-se levantar a distribuição por tempo
de funcionamento, pois há a tendência que um medidor que tenha mais tempo de instalação
ter um volume totalizado maior. Como isto não ocorre em 100% das ligações, é
recomendável que seja feita uma análise paralela para avaliar a correlação entre tempo de
instalação e volume totalizado, buscando-se estabelecer para cada ano de instalação,
faixas de volume totalizado.
Essa estratificação é importante, pois o desgaste de um hidrômetro de partes móveis tende
a ser proporcional ao volume totalizado, influenciado em maior ou menor escala por outros
fatores, que também devem ser avaliados para que a seleção das amostras que irão
compor a análise do IDM do parque de medidores seja consistente.
Variáveis como volume e quantidade de reservatórios (caixa d’água), marca, modelo, tipo e
capacidade do medidor, características físico/químicas da água e tipo de instalação
(abrigado ou exposto) podem ser correlacionadas para que se busque entender de forma
clara, quais fatores influenciam no desempenho metrológico do medidor. Ao introduzir uma
variável na seleção amostral não se deve deixar de considerar a distribuição percentual
neste universo.
É natural que os primeiros levantamentos sejam menos detalhados, estratificando somente
por tempo de instalação, mas é necessário aprofundar à medida que os trabalhos avancem,
sob pena do diagnóstico responder sobre o desempenho geral, mas não lhe permitir
identificar com clareza os pontos críticos, dificultando a priorização das ações a serem
realizadas.
3.3.6 LEVANTAMENTO DE PERFIS DE CONSUMO DOS CLIENTES
A recomendação aos que desejam utilizar a metodologia da NBR 15.538/2014 para calcular
o IDM dos medidores, que serão instalados ou que já estejam sendo utilizados, é realizar o
levantamento do perfil de consumo em um número representativo de ligações, buscando
avaliar se entre os vários sistemas de um mesmo prestador, ou mesmo entre diferentes
DMC de um mesmo sistema, e os vários perfis convergem para um perfil típico, mesmo que
existam pequenas variações entre eles. Da mesma forma, é conveniente que se compare
os perfis levantados com o proposto pela norma.
A depender dos resultados encontrados nos levantamentos de perfil, há a possibilidade de
que o número de faixas de vazão não seja em 10 pontos, como sugerido na norma, mas
pode ser mais ou menos. Especial atenção deve ser dada ao medidor utilizado para se fazer
o levantamento de perfil, que deve ter a capacidade de medir toda a faixa de vazão
pretendida, com precisão adequada, preferencialmente com erros em ± 2%. Isto significa
que este medidor deve ser capaz de medir a partir de 2 L/h até 1.500 L/h, o que não é
simples para qualquer hidrômetro.
FOTO 2. LEVANTAMENTO DE PERFIL
Foto: Acervo COM+ÁGUA.2
Fonte: ABNT NBR 15.538/2014
Fonte: COM+ÁGUA.2
FIGURA 13. PERFIL DE CONSUMO REFERENCIAL DA NBR 15.538/2014
FIGURA 14. PERFIL TÍPICO DE CONSUMO - DMC FEIRA DE SANTANA
5,74% 8,79% 8,20%
12,51%
32,15%
20,42%
6,20% 5,47%
0,52% 0,00%
0 a
5 l
/h
5 a
15 l
/h
15 a
30 l
/h
30 a
50 l
/h
50 a
150 l
/h
150 a
350 l
/h
350 a
550 l
/h
550 a
850 l
/h
850 a
1.1
50 l
/h
1.1
50 a
3.0
00
l/h
4,5
6%
6,9
9%
6,8
3%
7,3
4%
23,2
1%
23,9
2%
12,2
7%
7,2
9%
5,8
6%
1,7
3%
0 a
5 l
/h
5 a
15 l
/h
15 a
30 l
/h
30 a
50 l
/h
50 a
150 l
/h
150 a
350 l
/h
350 a
550 l
/h
550 a
850 l
/h
850 a
1.1
50 l
/h
1.1
50 a
3.0
00
l/h
Outro detalhe importante é sobre a taxa de pulso que este medidor é capaz de fornecer, que
deve ser compatível para detecção de vazões muito baixas. Como as vazões do perfil de
consumo são definidas pela relação volume/tempo, sendo o volume calculado pelo número
de pulsos do medidor padrão multiplicado pela constante de pulso deste medidor, para
vazões muito baixas não seria possível definir com boa precisão se os dados mostram uma
vazão baixa e contínua ou se uma vazão ligeiramente maior e por um espaço de tempo
menor. Para solucionar esta questão o ideal seria utilizar medidores que possam gerar uma
taxa de pulso de 0,1 L/pulso.
Com relação ao dispositivo de armazenamento de dados, o mais usado é o datalogger que
deve ser previsto para uma capacidade de armazenamento suficiente para um período
mínimo de uma semana. Também se deve compatibilizar o intervalo de tempo para coleta
pelo datalogger. Há equipamentos que possuem a capacidade de transferir os dados por
telemetria, o que permite descarregar a memória em intervalos configuráveis, permitindo
assim trabalhar com intervalos de tempo menores, o que melhora a resolução no cálculo de
vazão. A sofisticação nos equipamentos de pesquisa do perfil de consumo estará
diretamente condicionada ao investimento que o prestador poderá realizar.
Retomando a análise do perfil de consumo sugerido pela Norma NBR 15.538/2014,
observa-se que as duas primeiras faixas de vazão, representadas pelas vazões de 2,5 L/h
(faixa de 0-5 L/h) e 10 L/h (faixa de 5 a 15 L/h), têm peso de 4,56% e 6,99%
respectivamente, que somados representam 14,55% do volume consumido. Levando-se em
consideração que os medidores mais utilizados em ligações residenciais têm Vazão Mínima
de 15 L/h, seja o medidor de Qn 0,75-B ou o medidor Qn 1,5-C, um percentual importante
do volume consumido está em faixas de vazão que estão abaixo do campo de medição,
desta forma a precisão da medição nestas faixas tende a ser pobre, configurando a
submedição. Ao se adicionar o peso de 6,83% da terceira faixa (15 a 30 L/h), com a vazão
de teste de 22,5 L/h, ao peso das duas primeiras faixas, obtém-se 21,38% do volume
consumido. Caso o medidor utilizado seja de Qn 1,5-B, com Vazão Mínima de 30 L/h,
resultará uma faixa de submedição ainda mais significativa.
3.3.7 ENSAIOS EM BANCADA PARA DETERMINAÇÃO DA TENDÊNCIA DE ERROS DE
MEDIÇÃO DOS HIDRÔMETROS
Sobre os ensaios preconizados na NBR 15.538/2014, necessários para cálculo e
determinação do IDM, é preciso que o prestador possua as instalações adequadas para a
realização dos procedimentos estabelecidos. Como o cálculo do IDM é feito com base nos
erros de indicação em 10 vazões distintas, a condição fundamental é de que o prestador
possua um laboratório de ensaios em medidores de água, com uma bancada para ensaios
metrológicos que tenha padrões de volume e vazão compatíveis com as vazões de ensaio.
Em se tratando dos padrões de volume, estes devem ter capacidade que atendam aos
requisitos estabelecidos no RTM de hidrômetros e que permitam um tempo de escoamento
não inferior a dois minutos, visando minimizar os efeitos causados pelo tempo de
escoamento em que a vazão não esteja dentro dos limites de variação estabelecidos pela
norma.
A resolução da escala deve ter valor igual ou menor a 1/1.000 (um milésimo) da capacidade
nominal do padrão e a precisão com erros de indicação não superior a ± 0,2%. Caso a
bancada tenha padrões volumétricos é recomendável que as medidas materializadas de
volume tenham capacidade de 2, 5, 10, 50 e 100 litros para que seja possível deslocar
volumes compatíveis com cada uma das 10 vazões de ensaio, para que o tempo de
escoamento não seja longo demais e dificulte a realização de ensaios em muitos
medidores.
Caso o volume escoado seja determinado pela conversão de massa, através de uma
balança, é necessário que este instrumento tenha classe de exatidão I ou II, com
capacidade de 100 kg ou mais e resolução de 1,0 g, compatível com baixos volumes. Para
conversão da massa em volume é necessário que a temperatura da água seja medida por
um instrumento com boa precisão para que a incerteza de medição na determinação do
volume escoado seja baixa.
Como as duas primeiras vazões de ensaio são muito baixas, 2,5 e 10,0 L/h, para que o
tempo de escoamento não seja excessivo o recomendável é que a bancada tenha padrão
de volume de 2,0 L, que é o menor volume a ser escoado, para se atender aos requisitos
metrológicos, considerando os hidrômetros convencionais, que têm a resolução da
relojoaria em 0,02 L.
Em se tratando dos padrões de vazão, estes devem cobrir a faixa de indicação de 2 a 1.500
L/h, com um ou mais instrumentos, conforme o tipo de medidor escolhido, que tenham
resolução com valor igual ou menor ao equivalente a 2% do fundo de escala do instrumento,
com erros de indicação não superior a ± 5%. As outras grandezas que devem ser medidas e
registradas nos relatórios de ensaio devem ser a pressão, à montante e à jusante dos
medidores, e o tempo de escoamento. A bancada deve ser inspecionada anualmente pelos
Órgãos Metrológicos Delegados do Inmetro e devem cumprir os requisitos estabelecidos na
Norma de Procedimento n° NIT-SEFLU-007.
FOTO 3. ENSAIO DE BANCADA
Foto: Acervo COM+ÁGUA.2
RESULTADO DE ENSAIOS DE VERIFICAÇÃO DE ERROS TABELA 7.
Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2
A seguir, apresenta-se o resultado de um estudo de IDM e Erro Médio Ponderado - EMP,
com a curva de envelhecimento dos hidrômetros.
3.3.8 CRITÉRIOS NORTEADORES PARA DIMENSIONAMENTO DE HIDRÔMETROS
Considerando a micromedição como a caixa registradora dos sistemas de abastecimento de
água, uma vez que os volumes faturados são, em sua maioria, medidos através dos
hidrômetros que são instalados nos ramais prediais, ou seja, residências, edifícios,
comércios, indústrias e instituições públicas, manter a precisão adequada dos
micromedidores representa cuidar do caixa, tarefa essencial para sobrevivência de qualquer
negócio, seja de qualquer porte.
É intuitivo perceber que no contexto da micromedição o hidrômetro a ser utilizado em um
ramal predial de uma pequena residência será diferente de um hidrômetro a ser utilizado em
um ramal predial de uma grande indústria, pois o volume de água consumido por um é bem
diferente do outro. Assim sendo, é importante que o dimensionamento do hidrômetro a ser
utilizado seja realizado dentro de parâmetros adequados e tecnicamente aceitos, pois é
necessário compatibilizar a capacidade do hidrômetro ao consumo previsto para um
determinado ramal.
O mais comum é se utilizar um hidrômetro que tenha o mesmo diâmetro nominal que a
tubulação onde o mesmo será instalado. Esta opção, apesar de parecer óbvia, guarda
94,53 90,34
88,87 87,99 85,83
82,98
81,91
76,22
72,76
59,45
y = -0,1092x3 + 1,4222x2 - 7,3095x + 100,55 R² = 0,9887
50,00
55,00
60,00
65,00
70,00
75,00
80,00
85,00
90,00
95,00
100,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
IDM
Tempo de Operação
IDM FEIRA DE SANTANA IDM FEIRA DE SANTANA Polinômio (IDM FEIRA DE SANTANA)
Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2
FIGURA 15. RESULTADO DE ENSAIOS DE VERIFICAÇÃO DE ERROS
algumas surpresas, pois se além do diâmetro do medidor não for definido também a sua
capacidade x classe metrológica (campo de medição), tipo construtivo, etc., o medidor
poderá estar sub ou superdimensionado, podendo causar erros excessivos ou desgaste
prematuro.
Para os grandes consumidores, que são os clientes comercial, industrial e prédios públicos,
a melhor técnica é realizar o levantamento do perfil de consumo de forma individual para
que o dimensionamento seja o mais aderente ao perfil de vazões em que se estabelece o
abastecimento.
Pode parecer certo preciosismo, mas como os grandes consumidores são em número
reduzido no universo dos prestadores e representam a parte extremamente significativa do
volume faturado e da receita, todo o cuidado que se tenha com o dimensionamento
representará maior precisão na medição, preservando ambas as partes de cobrança injusta,
seja para mais ou para menos.
Para realizar o levantamento do perfil de consumo deve-se iniciar pela regra básica de
estabelecer a previsão de consumo baseado em informações do próprio cliente, valores
tabelados per capita, histórico de outras ligações e/ou clientes similares, de forma a se
definir por um medidor que tenha um campo de medição compatível com as máximas
vazões de abastecimento, levando também em consideração a pressão média disponível na
rede de distribuição.
Feito isto, deve-se utilizar um medidor que, dentro da capacidade escolhida, tenha o maior
range de medição disponível, visando medir com boa precisão tanto as vazões altas, quanto
as baixas. Para esta fase do levantamento o ideal seria utilizar um medidor eletrônico
(ultrassônico ou eletromagnético, com relação Q3/Q1 acima de 400).
Outra característica fundamental é a saída de sinal que permita transferir a leitura do
volume medido através de algum dispositivo semiautomático ou automático, que pode ser
um datalogger, um concentrador portátil ou um dispositivo de coleta e envio remoto de
dados. A lógica é bem simples e já foi abordada anteriormente, pois os pulsos emitidos pelo
medidor, à medida que ocorre a totalização do volume, são armazenados no dispositivo
totalizador, que armazena a informação em fila, em função da data/hora em que a
informação foi captada.
Através de software específico estas informações são processadas e o histórico de volume
na base de tempo são transformadas em vazão, normalmente em formato de gráfico. Tendo
este estudo realizado para um período continuado, sendo recomendado acima de 15 dias, é
possível estabelecer um parâmetro de consumo para a ligação em estudo, permitindo
avaliar qual o medidor mais adequado a este perfil.
Caso o medidor esteja conectado a um sistema de leitura por telemetria, este
monitoramento poderá ser realizado de maneira contínua, proporcionando um
acompanhamento mais efetivo, evitando perda de receita por falha no medidor, detecção de
consumos atípicos e vazamentos, leituras em espaços de tempo mais curtos e detecção de
possíveis fraudes.
As equipes comerciais devem ter atenção aos detalhes que configuram o ramal de um
grande consumidor, pois as condições de abastecimento podem variar de forma
significativa. Para um ramal predial de uma indústria que possui um grande depósito
subterrâneo de água associado a uma fonte própria de captação, a tendência é que o
consumo seja menor em relação à estimativa inicial e que o perfil de consumo indique
baixas vazões de abastecimento, pois o depósito de grandes dimensões manterá a boia em
uma posição próxima ao fim de curso. Se neste ramal for utilizado um medidor com grande
diâmetro e campo de medição limitado, é de se esperar que ocorra uma perda acentuada
por submedição.
Em uma observação auxiliar, considerando prédios residenciais em especial os que contam
com um zelador ou porteiro em tempo integral que podem acompanhar a variação do nível
do reservatório de água (cisterna), costuma ocorrer a prática de detectar em que posição da
boia o medidor não consegue mais registrar o volume escoado, travando a mesma nesta
posição.
Tendo o local abastecimento contínuo, a vazão de escoamento, mesmo sendo pequena,
permite que ao longo das 24 horas de abastecimento o volume requerido seja suficiente
para satisfazer à demanda do ramal. Considerando um medidor instalado em um ramal com
as características descritas se estiver superdimensionado e com erros de indicação
elevados no campo inferior de medição, poderá gerar perdas relevantes.
Para casos deste tipo, a ação corretiva seria reduzir a capacidade do medidor, mesmo que
o kit cavalete tenha sido dimensionado para um diâmetro maior e escolher medidores com
campo de medição mais extenso, como medidores compostos, classe C ou eletrônicos com
relação Q3/Q1 de 250, 400 ou 500.
Em alguns prestadores há procedimentos que determinam que para ramais com diâmetro
acima de ¾” ou acima de um determinado consumo mensal, caracterizando um grande
consumidor, o hidrômetro a ser instalado será de classe metrológica C ou de range superior
a classe C.
Para os consumidores diferenciados, aqueles que são de fato muito importantes em termos
de consumo e faturamento, normalmente associados a grandes indústrias, complexos de
lazer, grandes condomínios comerciais, etc., onde são aplicados medidores de grandes
diâmetros, é recomendável que o prestador, caso não tenha condições de realizar a
verificação periódica destes medidores em função do tamanho e das altas vazões de
ensaio, avalie a possibilidade de instalar mais de um ramal, com diâmetros menores ou
mesmo dividir em múltiplos ramais com menores diâmetros, de forma a reunir condições de
realizar a calibração periódica destes medidores.
Dada a representatividade destas ligações, tanto quanto possível, implantar a redundância
na medição é uma ação preventiva importante, que poderia ser realizada com medidores de
princípios construtivos diferentes, como por exemplo um medidor eletrônico (ultrassônico ou
eletromagnético) e um medidor convencional (woltmann, woltmann composto,
unijato/multijato classe C).
Em se tratando de ligações residenciais já não é possível tratar individualmente, pois são
milhares de ligações para um consumo baixo, sendo a maioria dentro da faixa de consumo
mínimo. Neste caso, a recomendação então é tratar como propõe a metodologia da NBR
15.538/2014, que busca a seleção de medidores que atendam a uma performance de
medição associada ao IDM.
A escolha da capacidade do medidor pode ser de Qn 0,75 ou 1,5 m³/h, sendo que a maior
parte das ligações residenciais no Brasil é de Qn 0,75 m³/h. A classe metrológica usual, em
função do custo do medidor que é um fator crítico nesta escolha visto que estamos tratando
de milhares ou milhões de ligações, é a classe B. Ainda em pequeno número, vale informar
que alguns prestadores já definiram por comprar classe C, mesmo para as ligações
residenciais.
Em relação ao IDM, apesar da norma considerar que os medidores com IDM igual ou acima
de 90% estão aprovados, os prestadores têm definido em suas especificações de compra o
valor a ser alcançado nos ensaios. Como o valor do IDM alcançado está diretamente
relacionado à capacidade de medir em todo o espectro de vazões proposto pela norma,
baseado no perfil típico de consumo, é coerente que o prestador defina um valor mínimo a
ser atingido, compatível com a capacidade e classe metrológica do medidor especificado.
Neste contexto há uma discussão pertinente, que é a viabilidade econômica em se investir
um valor maior para alcançar uma medição mais precisa em uma faixa de consumo que
está dentro do mínimo, pois o aumento de medição poderá não representar aumento de
receita. Se este incremento em volume medido utilizando um medidor que atinja IDM maior
não for o suficiente para fazer o consumo passar para uma faixa tarifária posterior, não
haverá incremento de receita, inviabilizando o retorno do investimento ou fazendo que o
tempo demandado para retorno do investimento não seja atrativo.
Se pela perspectiva financeira isto pode ocorrer, do ponto de vista de controle de perdas
não se pode ter este raciocínio, pois uma medição mais precisa que diminua o efeito da
submedição terá o efeito direto de se conseguir calcular o índice de perdas com incerteza
mais baixa e, um segundo fator, muitas vezes não percebido ou não valorizado, que é fazer
o consumidor manter um maior controle do consumo para não ter incremento em sua fatura,
preservando um volume de água que o prestador terá disponível para fornecer aos
consumidores que demandam por mais volume.
Esta questão tem grande relevância em sistemas que têm contingenciamento ou restrição
de oferta de água, o que gera demanda reprimida. Nos últimos anos, regiões do Brasil que
historicamente tiveram regime regular de chuvas vêm sofrendo os efeitos de períodos
prolongados de estiagem, tendo efeitos danosos sobre a oferta de água.
3.3.9 A ESCOLHA DO MELHOR HIDRÔMETRO
No momento da escolha do instrumento de medição existe uma questão muito frequente:
qual tipo de medidor é melhor, o unijato, o multijato ou o volumétrico? Não é uma resposta
simples, pois há uma série de fatores que podem influenciar no desempenho de um
hidrômetro, como também há fatores econômicos que irão nortear a escolha.
Vamos separar os medidores velocimétricos, que são o unijato e o multijato, dos medidores
volumétricos. Se o sistema de abastecimento, por questão de manutenção deficiente ou
características da fonte de captação, entre outros aspectos, tem um nível elevado de
partículas em suspensão na água, o uso de medidores volumétricos pode trazer
dificuldades operacionais, uma vez que as folgas entre a câmara e o pistão são muito
pequenas, o que pode travar o medidor.
Em sistemas com estas características seria necessário o uso de filtros com malha de
filtração fina para permitir o uso do medidor volumétrico ou então utilizar medidor
velocimétrico, que dificilmente iria travar, não obstante também teria seu desempenho
metrológico afetado, pois as partículas sólidas na água podem provocar desgaste
prematuro.
Algumas características do medidor volumétrico são muito favoráveis para atacar o
problema da submedição, sendo a principal o fato deste medidor atingir IDM acima de 98%,
pois tem início de funcionamento em vazões muito baixas, entre 2 e 3 L/h. Outra vantagem
deste medidor é possuir boa precisão, alcançando erros de indicação em ± 2% em
praticamente todo o campo de medição. Um terceiro ponto positivo é manter a performance
de medição por um período maior. Nos países em que os medidores volumétricos são
utilizados em larga escala o tempo de permanência em uso costuma chegar aos 15 anos.
Sabemos que há variáveis cruciais a serem analisadas, em especial o regime de
abastecimento, mas é uma referência importante para tomada de decisão. Um fator inibidor
do uso do medidor volumétrico no Brasil é o custo, quando comparado aos medidores
unijato e multijato.
Aprofundando os questionamentos, verifica-se a necessidade de decidir qual a melhor
alternativa: os modelos de medidores velocimétricos unijato ou multijato. Analisando do
ponto de vista construtivo, o medidor multijato tende a ter maior durabilidade se comparado
ao unijato quando submetido a regime de vazões mais elevadas, entre a Vazão Nominal e a
Máxima, pois sua turbina trabalha mais balanceada em função de sofrer a ação de múltiplas
forças que a impulsionam. A câmara de medição possui vários orifícios de entrada para
passagem da água, usualmente quatro ou mais orifícios.
No caso do unijato a turbina é impulsionada somente por um ponto, pois a câmara de
medição possui somente um orifício de entrada para passagem da água. Se para as vazões
altas este raciocínio é coerente, não é prudente afirmar quando se está tratando das vazões
mais baixas, que são as de maior peso no perfil típico de consumo, pois quanto menor a
vazão, menores serão as componentes de força que atuam sobre a turbina e seus mancais.
A melhor alternativa é realizar experimentos no parque de medidores utilizando a
metodologia da Norma NBR 15.538/2014 e levantar a curva de envelhecimento do parque,
conforme já discutido. Há prestadores que firmaram opinião sobre a melhor performance no
longo prazo dos medidores multijato, mesmo que inicialmente possam apresentar um IDM
ligeiramente menor.
Da mesma forma há prestadores que entendem que não há diferenças significativas de
performance entre unijato e multijato e optam por especificar o unijato em função de ter
menor custo de aquisição. Resumindo, cada prestador irá descobrir sua verdade baseado
nos estudos de campo, pois afirmações sem dados não têm consistência e não podem ser
usadas para tomada de decisão.
Fica a recomendação de comparar os resultados da curva de envelhecimento entre os
medidores unijato e multijato como forma de encontrar respostas tecnicamente mais
consistentes.
Levando em consideração que os fabricantes de hidrômetros oferecem ao mercado
medidores de Vazão Nominal 0,75 e 1,5 m³/h, classe metrológica B, tanto do tipo unijato,
quanto do tipo multijato, os prestadores podem então realizar suas avaliações e definir pelo
tipo de medidor que melhor atenderá seus critérios técnicos de escolha.
3.3.10 VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICO-FINANCEIRA DOS INVESTIMENTOS EM
ADEQUAÇÃO DA MICROMEDIÇÃO
Com a evolução do estudo do parque e intensificação da coleta de amostras para realização
do ensaio de IDM haverá um momento em que a quantidade de informações será
representativa da realidade existente no parque de medidores, de forma que a condensação
destes dados, através de técnicas e programas estatísticos, permite traçar uma curva de
envelhecimento de uma determinada população.
Apesar de ser possível tratar todos estes dados através de programas comerciais de
planilhas como o MS Excel, por exemplo, um programa corporativo passa a ser relevante.
Com esta natureza o prestador poderá ter orientações sobre a melhor escolha em relação
ao medidor a ser instalado que ofereça a melhor taxa de retorno, baseado em um histórico e
um perfil de consumo previamente introduzidos no sistema e tratados sistematicamente.
Fonte: COM+ÁGUA.2
FIGURA 16. SISTEMA INFORMÁTICO COM ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA PARA SUBSTITUIÇÃO DE HIDRÔMETROS
A vantagem deste tipo de prática é não realizar a renovação do parque por critérios práticos,
mas através de dados consistentes, trazendo maior retorno para o negócio. Nesta escolha
devem ser considerados não somente critérios técnicos, mas também financeiros,
envolvendo a necessidade de geração de receitas adicionais, taxa interna de retorno e
tempo de recuperação do investimento (payback).
3.3.11 PLANO DE AÇÃO DE ADEQUAÇÃO DA MICROMEDIÇÃO
Planos de manutenção corretiva e preventiva de hidrômetros devem ser elaborados
anualmente para evitar a elevação das perdas de faturamento por submedição de água.
Outros estudos de performance e calibração de hidrômetros em bancada também podem
dar subsídios aos planos de manutenção preventiva, considerando que a performance do
hidrômetro em função do desgaste do mesmo depende das condições específicas de
consumo, qualidade da água, entre outros.
Esses planos de manutenção devem ser discutidos conjuntamente entre os gestores e
técnicos dos prestadores, verificando as disponibilidades orçamentárias, a capacidade
operacional de execução anual e estabelecendo-se uma meta de redução de perdas.
É essencial a existência e/ou criação de uma ferramenta para levantamento de informações
sobre o estado de funcionamento dos hidrômetros instalados, colocando em prática, de
maneira automática, os critérios de avaliação definidos pelas equipes técnicas.
Oportuno se faz:
Definir área/setor/localidade de atuação;
Avaliar ocorrências de leitura;
Avaliar dados coletados e/ou atualizados no processo de recadastramento;
Identificar universo de ligações com características que se enquadram no perfil de
atuação que se busca (por exemplo, atuação apenas nas faixas de consumo de 8 a
20 m3/mês);
Levantamento de dados para diagnóstico de submedição;
Seleção das amostras de ligações e respectivos hidrômetros para levantamento de
perfis de consumo em campo e curvas de erros em bancada de aferição, que pode
ser realizada por diferentes métodos estatísticos amostrais;
Levantar perfis de consumo;
Levantar curvas de erro;
Após a coleta e análise das informações, definir o Índice de Desempenho
Metrológico – IDM;
Considerar critérios econômico-financeiros;
Identificar e substituir hidrômetros.
Ação Sugerida Critério Conceito
Corretiva - Adequação da Instalação
Códigos de leitura referentes à inadequação da instalação do hidrômetro:
Hidrômetro não-localizado;
Hidrômetro sujo;
Hidrômetro soterrado;
Imóvel desocupado;
Imóvel não localizado caixa
de proteção quebrada;
Caixa de proteção inundada;
Imóvel fechado;
Leitura não permitida;
Hidrômetro difícil acesso;
Veículo estacionado sobre
caixa do hidrômetro.
Todos os códigos de impedimento de leitura que determinam alguma ação de adequação do hidrômetro e respectivas instalações, independente do tempo de instalação e da leitura acumulada.
Corretiva – Suspeita de Fraudes
Códigos de fraudes;
Consumo zero sem ocorrência
de leitura.
Procedimento Operacional de Gestão de Fraudes/ Tabela de Critérios
Preventiva
Tempo de instalação. Tempo máximo (em meses) de uso de um hidrômetro a partir do qual há viabilidade financeira para troca.
Volume acumulado. Volume total acumulado medido no hidrômetro.
Redimensionamento
Capacidade do hidrômetro x consumo mensal.
Faixa de consumo ideal do hidrômetro, segundo sua capacidade, com o consumo medido.
Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2
CRITÉRIOS DE REFLEXÃO PARA ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE TABELA 8.MANUTENÇÃO DO PARQUE DE HIDRÔMETROS
3.3.11.1 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA ROTINA DE LEITURA E TOTALIZAÇÃO
DE CONSUMOS
A utilização da telemetria nesta área ainda está restrita ao monitoramento de grandes
consumidores, por questões óbvias, uma vez que estes consumidores são em pequeno
número e precisam ser bem acompanhados, pois representam uma fatia muito grande na
receita dos prestadores.
Nos consumidores residenciais ainda se mostra inviável o uso da telemetria, muito em
função do baixo custo da leitura manual, mesmo que realizada mensalmente, quando
comparado ao investimento para implantação e o custo de manutenção de sistemas de
telemetria para leitura remota.
Os benefícios que a leitura remota representa são inegáveis, pois permite um
monitoramento contínuo da leitura do hidrômetro, consequentemente conhecer os hábitos
de consumo, monitorar suspeita de fraudes, como também eliminar os custos de leitura
manual, mas enquanto o investimento não permitir um retorno financeiro que seja atraente,
os prestadores irão adiar a implantação desta tecnologia.
No que se refere às tecnologias aplicáveis existem os sistemas de telemetria com
transmissão via cabo ou sem fio, sendo a segunda opção a que mais se adequa ao
segmento. Dos sistemas de telemetria sem fio, há os sistemas de curto alcance em que o
medidor ou o módulo de rádio instalado no medidor transmite a um concentrador instalado
em um ponto próximo, formando uma rede privada com milhares de medidores e centenas
de concentradores. Nesta configuração os concentradores, como o próprio nome sugere,
recebem em intervalos de tempo previamente configurados os volumes totalizados de vários
medidores, armazenando estes dados e transferindo para uma central de processamento,
normalmente localizada no prestador.
Outro tipo de sistema de telemetria sem fio é o de longo alcance, em que o medidor ou o
módulo de rádio instalado no medidor transmite diretamente para uma central de
processamento. Neste tipo de sistema é necessário utilizar o sistema de telefonia móvel
para estabelecer o canal de comunicação entre o medidor e a central, pois a rede pública de
telefonia já está disponível, não cabendo ao prestador realizar o investimento, somente
pagar pelo uso desta infraestrutura.
Neste sistema cada medidor precisa estar associado a um número, como acontece com os
telefones celulares. Como qualquer outra tecnologia há vantagens e desvantagens entre um
sistema e outro, o que requer um estudo detalhado para que um prestador decida pelo uso
de um sistema de curto alcance ou de longo alcance, pois são muitas variáveis que
precisam ser cuidadosamente ponderadas.
Para realizar a leitura remota é necessário que o medidor tenha como gerar um sinal que
seja convertido em volume. A forma mais utilizada para se fazer isto é inserir na relojoaria
do hidrômetro um elemento que permita gerar um pulso em um elemento sensor.
Os emissores de pulso mais usuais para uso em hidrômetros convencionais são do tipo
magnético (ímã), indutivo (plaqueta metálica) ou ótico (superfície refletiva). Os respectivos
sensores serão um reed-switch (chave metálica encapsulada em uma ampola de vidro), um
sensor indutivo (bobinas que são excitadas com a presença da plaqueta metálica) e sensor
ótico (emissor de luz que irá refletir na superfície refletiva). Os sensores de pulso precisam
ser conectados ao módulo de rádio para que o sinal de pulso seja armazenado e
posteriormente transmitido ao concentrador (curto alcance) ou diretamente à central de
processamento (longo alcance).
Esta solução não integral, em que cada função do processo é realizada por um componente
distinto, apesar de permitir a utilização de qualquer medidor que possua o gerador de sinal e
o seu respectivo sensor, tem o inconveniente de ser mais susceptível a fraude, uma vez que
os componentes que estão anexos ao medidor, sensor de pulso e/ou módulo de rádio,
podem vir a sofrer manipulação.
Já a solução integral que possui todos os componentes incorporados à relojoaria do
hidrômetro com um encapsulamento através da cúpula do medidor, que pode ser de
plástico ou vidro, a depender do grau de proteção a ser alcançado, é mais robusta a fraude,
por isto tem sido cada vez mais utilizada nos países que vêm implantando a leitura remota.
Nesta solução o hidrômetro já tem que nascer com a capacidade de comunicação com a
rede pública de telefonia móvel, ou seja, com seu número identificador, o que não deixa de
ser um ponto desfavorável em relação à anterior, pois a implantação do sistema de
telemetria não pode ser em etapas, como na solução não integral.
Para os medidores eletrônicos a função de telemetria é incorporada na placa de circuito
impresso do próprio medidor, o que torna a solução, em tese, mais econômica e fácil de
implantar, por isto os prestadores que se planejam para adquirir os medidores eletrônicos
devem avaliar com bastante critério se adquirem o medidor já com a função de telemetria
incorporada, ao invés de comprar um medidor eletrônico com saída de pulso como acontece
em um medidor convencional, pois do ponto de vista técnico seria um contrassenso.
Na micromedição dos sistemas de abastecimento de água há uma barreira natural ao uso
das tecnologias eletrônicas, seja para o medidor ou para o módulo de rádio, que é o uso da
bateria como fonte de alimentação elétrica para manter o dispositivo funcionando por um
longo período. Diferentemente da micromedição na distribuição de energia elétrica, em que
a rede é a fonte de energia elétrica, no sistema de distribuição de água os dispositivos
eletrônicos precisam ter uma arquitetura que seja capaz de reduzir drasticamente seu
consumo de energia, encarecendo a solução e limitando o uso de funções que o sistema
poderia disponibilizar ao operador do sistema.
Outra opção que pode ser adotada é o uso de rádio de curto alcance associado a um
sistema móvel de coleta de dados, conhecido como drive-by. Neste sistema a coleta dos
dados provenientes do medidor é realizada por um sistema instalado em um veículo, que
deverá executar uma rota que permita se aproximar do medidor onde então se estabelece a
comunicação entre as duas pontas.
Neste sistema a implantação se torna mais simples e barata, uma vez que não é necessário
utilizar a rede pública de telefonia, como também o medidor não precisa ter um número de
acesso, pois a comunicação entre o medidor e/ou módulo de rádio e a base móvel de coleta
de dados se faz através de um protocolo de comunicação proprietário. Por ser de menor
custo, talvez seja a opção mais viável para que os prestadores implantem sistemas de
leitura remota.
Muito se discute sobre o uso da rede de dados compartilhada para todos os serviços
disponíveis ao público, tais como água, energia, TV por assinatura, gás, etc., que vem
evoluindo nos países mais industrializados muito em função de um sistema de regulação
mais maduro.
Do ponto de vista conceitual é bastante lógico e promissor, mas no Brasil há que se evoluir
muito ainda para viabilizar este tipo de serviço. Apesar de tecnicamente possível, é
necessário vencer alguns obstáculos importantes, pois cada serviço é ofertado por
empresas diferentes que não são integradas, desta forma as soluções implantadas tendem
a ser moldadas para atender ao prestador daquele serviço específico, não atendendo
necessariamente a demanda de um outro prestador que poderia compartilhar esta rede de
dados.
3.4 COMBATE AOS USOS NÃO AUTORIZADOS
O combate aos usos não autorizados consiste numa atividade que deve ser perenizada na
gestão dos serviços de saneamento, pois o eventual descontrole dessa variável pode criar
um ambiente propício ao seu crescimento, atingindo frontalmente a capacidade financeira
da companhia.
Incorporam-se no contexto dos usos não autorizados:
as ligações clandestinas na rede de distribuição, com acesso indevido por parte
do usuário não cadastrado no banco de dados do prestador, visando o furto de
água para seu uso;
as fraudes nas ligações de água de clientes cadastrados no banco de dados do
prestador, seja através da violação do hidrômetro ou de ligação direta antes do
hidrômetro para o seu próprio imóvel ou em favor de terceiros;
as falhas de cadastro, aqui compreendidas as ligações de água
cortadas/suprimidas (muitas vezes enquadradas como inativas) cujos clientes
violaram a restrição do fornecimento e os casos de ligações/hidrômetros não
cadastrados no banco de dados do prestador, ambas situações decorrentes de
ineficiência por parte do prestador;
A questão dos usos não autorizados de água, portanto, é um tema cuja discussão e
iniciativas intensas nos últimos anos pouco têm conseguido prosperar. Em muitos casos,
especialmente nas áreas de maior vulnerabilidade social, esse problema apresentou piora
nos quadros diagnósticos.
Veja a evolução entre 2006 e 2016 do montante de ligações inativas nos sistemas
comparando a evolução percentual dessa categoria nos dois períodos. A análise
apresentada consiste em subtrair as ligações ativas das ligações totais, obtendo como
resultado as ligações inativas. A evolução do montante de ligações inativas consiste, na
maioria dos casos, em perda de clientes para a informalidade, incrementando o volume de
perdas aparentes.
Observam-se à esquerda do gráfico os quatro estados onde o número relativo de inativas
regrediu, e à direita deles os que a mesma sofreu incremento. Ocorre que onde o volume de
inativas regrediu houve também um substancial incremento na quantidade de novas
ligações de água nesse período, graças a investimentos de universalização do atendimento.
Por outro lado, estados como São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro, que possuem elevada
densidade de ligações e índices de cobertura mais estáveis, apresentaram substancial
incremento de ligações inativadas, o que poderia sugerir uma perda de eficiência no
controle das perdas aparentes.
A ocorrência de consumo não autorizado está ligada a fatores sociais, econômicos, de
comunicação social, educação ambiental e também da política adotada pelo prestador de
serviços de saneamento. Para tanto, torna-se saudável a seguinte reflexão sobre um
conceito importante: usuários, consumidores ou clientes?
Os prestadores de serviços de água prestam um serviço - tratamento e fornecimento de
água potável - que deve ser pago. Os destinatários dessa água podem ser chamados de
usuários, consumidores ou clientes.
Entende-se que seja o correto denominá-los clientes, não por um desejo de comoditizar a
água ou enfatizar a necessidade para pagamento, mas para enfatizar que esta é uma
relação de responsabilidade recíproca. Provedores de serviços esperam pagamento e, em
troca, os clientes esperam um bom serviço. Categorizando-os puramente como usuários ou
consumidores, sugere-se uma relação unidirecional (o fornecedor de serviços fornece, o
destinatário recebe) e unidimensional (a única função do destinatário é usar ou consumir o
FIGURA 18. EVOLUÇÃO DAS LIGAÇÕES INATIVAS NOS ESTADOS - 2006 A 2016
Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, SNIS
produto, em vez de informar os termos de uso ou a qualidade do que é oferecido). A palavra
cliente é usada aqui para sugerir um direito ao bom atendimento e respeito do provedor de
serviço.
A compreensão do fenômeno das irregularidades de abastecimento está concatenada a
diversos fatores e aspectos:
Fatores sociais: especialmente em ambientes como as grandes cidades brasileiras,
onde o crescimento desordenado das áreas urbanas convive diretamente com as
diferenças sociais, as cidades acabam gerando grandes áreas de exclusão social,
onde os serviços públicos chegam com grande precariedade ou simplesmente não
chegam. Nesses ambientes, normalmente a prestação de serviços de saneamento
não é respeitada pela população, seja por sua eventual precariedade, ou mesmo
pela ausência ou deficiência dos demais serviços públicos;
Além disso, é também bastante comum o controle dessas regiões por facções
criminosas que impedem o acesso do prestador para a realização de serviços,
degradando ainda mais a imagem da empresa e a sua capacidade de reação aos
problemas operacionais;
Fatores econômicos: diretamente ligados aos fatores sociais estão os econômicos.
Muito embora as faturas de água e esgoto nas áreas suburbanas sejam
relativamente mais módicas que as faturas de energia, telefonia e outros serviços
comumente consumidos, essa acaba sendo a mais facilmente inadimplida em
situações de restrição financeira do cliente. Isso ocorre seja pelas dificuldades que
certamente terá o prestador para fazer cortes de abastecimento, seja também pela
proteção social e política que existe em torno das questões relacionadas ao
abastecimento de água, por ser este recurso essencial à vida;
Comunicação social: a comunicação social historicamente foi negligenciada em
grande escala no setor saneamento, seja pela centralização das decisões de
investimento, pela falta de transparência na condução de investimentos, influência
política e mesmo pela exclusividade do prestador. Com o advento do Marco
Regulatório do Saneamento, com a Lei 11.445/2007, foram impostas novas
condições para prestação de serviços com a obrigatoriedade do controle social, e
do planejamento de longo prazo dos investimentos. Muito embora esse advento não
tenha ainda surtido a eficácia esperada, iniciou-se um movimento bastante profícuo
no setor, pois a comunicação e o controle social começaram a se mostrar
poderosas ferramentas de prestação de contas aos clientes. Com mais
transparência se obtém maior apoio e respeito das comunidades à prestação de
serviços. Processos de comunicação bem estruturados podem veicular campanhas
de educação ambiental, conscientização e valorização da prestação de serviços;
Educação ambiental: se mostra como uma ferramenta bastante poderosa na
formação, em especial de crianças e estudantes em geral. O histórico déficit
educacional que se tem no país traz consigo uma grande responsabilidade pela
cultura da população no quesito meio ambiente. Isso pode ser facilmente observado
quando analisada a questão dos resíduos sólidos, que são largamente despejados
em locais inadequados. O investimento em educação ambiental, com custos
relativamente baixos quando comparados com os demandados pelo setor, podem
surtir efeitos significativos na sensibilização e mobilização da sociedade em respeito
ao serviço de saneamento;
Políticas de combate às fraudes e ligações clandestinas: precisam estar bem
consistidas nos processos de governança do prestador para que haja ação firme e
estruturada na aplicação das punições previstas em relação ao consumo não
autorizado.
Não são raras as fraudes e ligações clandestinas detectadas em empreendimentos
comerciais ou em residências de alto padrão. É preciso que as políticas de combate estejam
sedimentadas e que sejam aplicadas com o mesmo rigor para quaisquer clientes, com a
aplicação das punições legais e organizacionais que estiverem previstas, usando esta
abordagem para que se torne exemplar e educativa, impondo o respeito ao serviço de
saneamento e à legislação. Nas áreas de habitação subnormal as ligações clandestinas
ocorrem com frequência quando não há um sistema formal de abastecimento, muitas vezes
porque são áreas invadidas, algumas vezes não ocupáveis, por lei. A solução deste tipo de
problema passa por parcerias das companhias com as Prefeituras, além de forte trabalho
social de mobilização comunitária.
FOTO 4. OCUPAÇÃO IRREGULAR DE ENCOSTA NA BACIA DA REPRESA GUARAPIRANGA
Foto: Sabesp
Nas fotos abaixo, conjunto de ramais precários e irregulares também chamado “macarrão”.
As fraudes são comumente encontradas em hidrômetros e ramais. Em ambos os casos,
com o propósito de minimizar ou evitar o registro dos volumes de água efetivamente
consumidos. Invariavelmente essa infração do consumidor acarreta em custos adicionais e
prejuízos ao prestador de serviços.
Nos hidrômetros, algumas irregularidades comuns são o dano proposital ou a violação do
medidor – impedindo ou prejudicando seu funcionamento – ou, ainda, a sua inversão. Nos
ramais, as irregularidades mais comuns são desvios da água antes do medidor para imóvel
próprio ou de terceiros.
3.4.1 MECANISMOS DE COMBATE AOS CONSUMOS NÃO AUTORIZADOS
O combate às irregularidades nas ligações de água pode e deve ser realizado por diversas
frentes, sejam elas intrínsecas aos processos contínuos de operação de um prestador, seja
por ações extraordinárias a esses processos continuados. Quanto maior a perenidade e
frequência dessas ações, melhores serão os resultados, seja pelo controle da ocorrência
das irregularidades, seja pela disciplina que as ações promovem junto aos clientes.
Dentre as ações intrínsecas aos processos vigentes nos prestadores, apontam-se abaixo as
mais relevantes.
Mobilização e Comunicação Social
É imprescindível que os prestadores tenham um olhar cuidadoso em relação à necessidade
da mobilização e comunicação social em sua área de atendimento. Este trabalho precisa ter
um foco interno, naquilo que diz respeito aos seus processos e sua força de trabalho, e
também externo, naquilo que se relaciona com a população atendida pelo sistema:
1. A ação externa torna possível a disseminação de políticas de educação ambiental,
a mobilização da sociedade em relação ao serviço de saneamento tornando o
cliente um agente de fiscalização, que cobra pelo serviço, mas que apoia as ações
da empresa e que denuncia corrupção de outros clientes. A mobilização é também
elementar para o acesso em comunidades de habitações subnormais, onde a
Foto: Sabesp Foto: Acervo COM+ÁGUA.2
FOTO 5. EXEMPLO DE CONJUNTOS DE RAMAIS PRECÁRIOS
precarização de serviços públicos dificulta o acesso do prestador pela própria
carência da comunidade ou ainda naquelas situações de áreas dominadas por
facções criminosas, onde a liderança comunitária torna-se um elo essencial para
viabilizar o acesso das equipes e a prestação dos serviços.
2. A comunicação é imprescindível para sensibilizar sobre a importância do
saneamento, do valor agregado à água pelo serviço de saneamento, pela
sensibilização e apoio da comunidade às ações que envolvem abertura de valas em
vias públicas, da importância do pagamento pelos serviços, do uso racional da
água, entre outras questões.
FOTO 6. AÇÕES DE MOBILIZAÇÃO NA COMUNIDADE E NA ESCOLA
Foto: Acervo UML/EMBASA
Integração entre Serviços Públicos
Cada vez mais torna-se clara a importância de integração entre os esforços públicos para a
promoção social e a qualidade dos serviços públicos de uma forma geral. Assim, o
prestador precisa buscar o desenvolvimento de parcerias com entidades governamentais
para o alinhamento e sinergia em suas ações, a exemplo de:
1. Manutenção de sistemas urbanos: para evitar o cobrimento de acessórios da rede
pública de água e esgoto com asfalto em programas de recapeamento de vias, ou
otimizar esforços de manutenção ou obras viárias. Também para integrar esforços
em empreendimentos habitacionais, de expansão urbana, controle de invasões e
ações de promoção social;
2. Combate aos usos não autorizados: com a integração de esforços de inteligência
com secretarias de governo responsáveis pela segurança pública, garantindo apoio
em lavratura de fraudes, registros de ocorrências e processos criminais quando
assim o caso exigir;
3. Formalização do abastecimento em áreas de ocupação irregular: Parcerias com as
Prefeituras no sentido de formalizar os sistemas de abastecimento em áreas de
ocupação irregular já consolidadas, em que dificilmente será possível remover as
populações lá assentadas, geralmente em situação socialmente vulnerável. Este
tipo de ação pode resultar em grande redução de perdas reais e aparentes. A
redução de perdas reais decorre da construção de um sistema regular formal de
abastecimento e a redução de perdas aparentes pela inclusão de novos clientes,
Foto: Acervo ELFS/EMBASA
FOTO 7. AÇÕES DE MOBILIZAÇÃO NA COMUNIDADE E NA ESCOLA
que passam a ter um endereço e ainda podem ser elegíveis para a tarifação social.
O Programa Água Legal, da Sabesp, na região metropolitana de São Paulo, é uma
boa referência neste sentido;
4. Parceria com secretarias de educação dos governos para a promoção de educação
ambiental e sensibilização da população sobre a prestação de serviços em
saneamento, entre outros;
5. Capacitação de leituristas e adequação dos processos de leitura: naturalmente, e
na maior parte dos prestadores, os volumes lidos são os maiores orientadores das
suspeitas de fraude justamente pelas análises estatísticas de consumo e seu
cruzamento com os dados cadastrais do cliente, assim como baixos consumos ou
consumos zerados tornam-se suspeitos. Contudo, essa frente de serviço pode
prover algo a mais no combate aos usos não autorizados.
Os leituristas mensalmente visitam as ligações existentes no cadastro comercial
percorrendo todas as rotas de leitura, e assim toda a cobertura de área atendida com
abastecimento de água no sistema. Este processo pode agregar valor com baixo custo
relativo ao controle de fraudes e ligações clandestinas. O que pode ser agregado ao
processo de leitura:
1. Observação de violação ou danos causados nos medidores;
2. Observação de fraudes evidentes como by-pass e ligações diretas;
3. Verificação de ligações suprimidas ou cortadas que constem no sistema
comercial e que estejam na rota de leitura;
FOTO 8. AÇÃO INTEGRADA ENTRE POLÍCIA MILITAR E EMBASA
Foto: Acervo UML/EMBASA
4. Uma vez adaptados os formulários e aplicativos dos processos de leitura,
essas informações podem ser levadas a tratamento pela companhia de uma
forma sistemática e econômica.
Pesquisa Ativa de Vazamentos
Muitos prestadores já contemplam, em sua cultura de operação, a rotina de pesquisa ativa
de vazamentos não visíveis. Este processo, concernente ao tema de controle de perdas
reais, segundo a metodologia preconizada pela ABENDI garante que todos os ramais de
água sejam auscultados pelos técnicos. A auscultação permite a detecção de possíveis
irregularidades nas instalações, principalmente do tipo by-pass, quando o cliente faz uma
derivação irregular antes do medidor, paralela ao hidrômetro para que seu abastecimento se
dê sem o registro do volume consumido. Além disso, pode-se também agregar a este
processo as verificações visuais, tais como aquelas recomendadas aos leituristas no tópico
anterior.
É importante que os processos abordados de leitura e de pesquisa ativa de vazamentos
alimentem os sistemas comercias de controle de fraudes, identificando e hierarquizando as
suspeitas que forem apuradas pelo sistema de micromedição, bem como pelos profissionais
nas atividades de campo.
O sistema de gestão comercial deve possuir funcionalidades para realizar consultas ao
banco de dados, referenciadas por critérios pré-definidos, que selecionam condições e
características de clientes que fogem do padrão da localidade e levantam suspeita sobre
FOTO 9. AUSCULTAÇÃO DE RUÍDOS NO CAVALETE
Foto: Acervo COM+ÁGUA.2
seu comportamento de consumo, devendo ser visitados e investigados.
A tabela a seguir apresenta uma sugestão de critérios a serem considerados na elaboração
do plano de ação de fiscalização de usos não autorizados.
Tipo de Fraude Conceitos
a) Não-ativos: ligações cortadas,
suprimidas e
suspensas
Ligações cortadas e suprimidas, quando não fiscalizadas, podem levar a religações indevidas.
b) Códigos de fraudes –
(originados na leitura)
Alguns códigos apontados durante a leitura de hidrômetros necessitam de uma fiscalização para comprovação de fraude, tais como:
Suspeita de hidrômetro parado;
Hidrômetro não localizado;
Hidrômetro desaparecido;
Hidrômetro violado;
Hidrômetro danificado
Hidrômetro invertido
By-pass;
Violação selo do cavalete do hidrômetro;
Leitura igual, sem consumo;
Leitura menor que a anterior.
Verificar se que para esses códigos já são geradas Ordens de Serviço de fiscalização, diretamente pela área comercial para evitar redundância de trabalho.
c) Consumo zero sem ocorrência
de leitura
Ligações sem consumo registrado nos últimos três meses.
d) Consumo baixo sem
ocorrência de leitura
Ligações, por exemplo, com consumo > 0 até 2 m3 registrados nos últimos
três meses. Caso o total de ligações nesse critério seja muito elevado para a capacidade da equipe, pode-se reduzir para 1 m
3 e selecionar por
exemplos apenas os imóveis de padrão construtivo alto.
e) Forte redução de consumo
Por exemplo, três reduções consecutivas de consumo.
f) Existência de piscina e sem
poço com consumo < 10
m3/mês
Imóveis de todas as categorias com ligação ativa de água, com piscina e sem poço, com consumo médio menor que 10 m
3/econ/mês.
Cliente não-ativo com poço
Imóveis de todas as categorias com ligação não ativa de água e com poço.
CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE CASOS SUSPEITOS DE USOS NÃO TABELA 9.AUTORIZADOS
Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2
Com base nessa relação devidamente priorizada segundo critérios de porte e outros
relativos à segurança e viabilidade de acesso, bem como de probabilidade da fraude, ou
mesmo de otimização de roteiro, é importante que o prestador possua uma equipe
capacitada para esse tipo de fiscalização de campo, que esteja preparada do ponto de vista
de abordagem, de ferramental e infraestrutura para a confirmação da suspeita, devidamente
amparada por uma estrutura corporativa, que garanta a segurança dos profissionais e as
condições técnicas de se lavrar a fraude, caracterizá-la e efetuar a sua remoção. É muito
importante para este tipo de atividade um entendimento e formação de parcerias com
órgãos encarregados da segurança pública das áreas atendidas para que haja o efetivo
suporte, seja para a segurança da realização das ações, seja para o encaminhamento e
tratamento legal das ocorrências.
Uma iniciativa que pode ser exemplificada nesse tipo de ação presenciada no
COM+ÁGUA.2 é a chamada Operação Burla que é desenvolvida pela Empresa Baiana de
Águas e Saneamento – EMBASA, na qual sistematicamente as equipes da empresa,
devidamente capacitadas para a atividade, com apoio das Polícias Civil, Militar e Técnica,
lavram as fraudes. Esta ação, que foi construída por meio de uma parceria com a Secretaria
de Segurança Pública do Estado, garante o apoio e condições para que as ações sejam
cumpridas com segurança, com o encaminhamento policial e o devido amparo jurídico na
aplicação de punições e promoção do processo de conscientização dos clientes. Nessas
ações, que são mais focadas nas fraudes de grande porte, geralmente comerciais,
industriais, ou mesmo residências, o cliente é conduzido à delegacia para registro de
ocorrência.
FOTO 10. AÇÃO DA OPERAÇÃO BURLA - EMBASA
Foto: Acervo UML/EMBASA
Monitoramento de Ligações Inativas
A inativação de ligações deve ser sempre a última ferramenta no processo de combate à
fraude e inadimplência, pois implica na perda do cliente, que muitas vezes se torna um
usuário irregular do sistema por meio de fraudes que fatalmente serão cometidas. Além
disso, ligações inativadas e não suprimidas tanto ficam suscetíveis a fraudes, como também
a vazamentos, sejam eles oriundos da própria ação do furto da água, seja pela fadiga dos
materiais submetidos à pressão do abastecimento.
Quando o processo comercial de controle de fraudes ou de inadimplência resulta de alguma
forma na inativação da ligação é importante que o prestador monitore sistematicamente
essa ligação por meio dos canais e ferramentais acima descritos para garantir que a mesma
não retorne à ilegalidade, incrementando os índices de perdas aparentes. Havendo
reincidência da fraude, novas sanções e punições precisam ser aplicadas, com vistas a
impor o respeito ao prestador de serviços e ao sistema público de saneamento.
As ligações inativas no sistema de abastecimento são extremamente indesejáveis. Se
oriundas de questões técnicas que de fato inviabilizem aquela ligação, a mesma precisa ser
suprimida para evitar a ocorrência de vazamentos. Quando oriunda de um processo de
fraude ou inadimplência é recomendável alguma medida de conciliação com o cliente,
envolvendo parcelamento de débitos que permita a sua reativação e a adesão do cliente ao
quadro de adimplentes.
Como forma de ilustrar o procedimento está apresentado a seguir um fluxograma com uma
sequência de passos a ser seguida para identificação de casos suspeitos, investigação de
irregularidade e fiscalização de usos não autorizados. Estão definidas na ilustração, as
obrigações das equipes, o fluxo das informações, a postura adotada diante da identificação
da irregularidade e a sistemática permanente da fiscalização.
FIGURA 19. DESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO DE COMBATE AOS USOS NÃO AUTORIZADOS
Fonte: Elaborado pelo COM+ÁGUA.2
4 DESAFIOS PARA MELHORIA DE
DESEMPENHO NOS PRESTADORES
compartilhamento dos métodos e das práticas apresentados neste Caderno
Temático de Perdas Aparentes busca aportar ao setor de saneamento e seus
técnicos uma contribuição no sentido de enriquecer a reflexão dos caminhos a
percorrer e dos aspectos que devem ser considerados e tratados com relação ao tema.
A observação dos resultados da primeira edição do COM+ÁGUA evidenciaram que houve
maior perenidade das ferramentas e conceitos aplicados naqueles prestadores que tiveram
maior estabilidade em seus quadros e onde o quesito de fortalecimento institucional parecia
mais sólido. Nesses casos, em que pese um progresso que ainda possa ser considerado
insuficiente frente às demandas que o setor apresenta, conseguiram consolidar os conceitos
e replicá-los.
Pode-se concluir que o COM+ÁGUA.2 foi exitoso em seu maior propósito, o de capacitação
e demonstração de técnicas e ferramentas. Cumprida essa etapa, o maior desafio fica a
cargo dos prestadores, o de garantir perenidade e propagação desses processos.
Este é de fato o maior desafio. Romper com os paradigmas tradicionais e que
historicamente levaram os índices de eficiência ao retrato atual e olhar para o futuro com
uma nova visão, apoiada em preceitos modernos de gestão dos sistemas de saneamento,
tendo por elemento-chave a potencialização da capacitação profissional em todos os
ambientes.
Um programa de combate às perdas vai muito além das técnicas e ferramentas de combate,
controle e gestão. As causas dos fracassos passam muitas vezes pelo pouco conhecimento
da natureza das perdas, pela não valorização do impacto das perdas, pela elaboração de
projetos deficientes ou até por custos extremamente subestimados das reduções de perdas
de água.
Vale assinalar que redução de perdas não é apenas uma questão técnica isolada, é
intrínseca ao gerenciamento e operação global do sistema, algo que requer
comprometimento de médio e longo prazo.
Em se tratando de perdas aparentes, constituem desafios permanentes para os
prestadores:
I) O desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo do cadastro comercial de clientes, por
meio da institucionalização de mecanismos de atualização, complementação e integração
com o cadastro técnico de redes, lembrando que a pesquisa e atualização cadastral em
campo é um momento ímpar e de rara oportunidade de coleta de dados e informações de
diversas naturezas, trazendo um retrato real do campo naquele momento, provendo
elementos para os mais variados tipos de análises e elementos de tomada de decisões
corretivas e preventivas. Aspectos técnicos fundamentais permeiam a definição do layout
cadastral, o tratamento da base cartográfica e o sistema de georreferenciamento
empregado.
O
II) O desenvolvimento e otimização da micromedição, de maneira a melhor gerir o parque
de medidores e reduzir a submedição.
Importante que os prestadores intensifiquem o uso da NBR 15.538/2014 para avaliar
medidores já em uso, a partir de experimentos amostrais, com o objetivo de se levantar uma
curva de envelhecimento do parque de medidores que retrate a realidade da submedição do
parque de hidrômetros e norteie as ações de manutenção preditiva e preventiva.
Os planos de manutenção devem considerar não somente critérios técnicos, mas também
financeiros, envolvendo a necessidade de análise de receitas adicionais, taxa interna de
retorno e tempo de recuperação do investimento (payback).
Deve-se potencializar a aplicação de hidrômetros classe C nos planos e, na sequência,
difundir o uso e experiências com os medidores ultrassônicos.
III) Desenvolver e estruturar o combate aos usos não autorizados, levando em conta, no
caso específico de comunidades em habitações subnormais, evidenciando-se fortemente a
necessidade de uma mudança na forma como se vem tratando o abastecimento e o
comportamento dos consumidores nessas áreas. Torna-se premente a integração de
esforços entre diversos serviços públicos, envolvendo forte trabalho de mobilização e
comunicação social, com o desenvolvimento de lideranças comunitárias. O que se observa
é um crescente afastamento do prestador de serviços em relação a essa clientela. Algumas
experiências exitosas vêm demostrando a mobilização social e integração de esforços como
fator chave de sucesso nessas áreas.
IV) Por fim, a capacitação dos prestadores de serviço se faz fundamental. Muitos softwares
livres que apoiam o controle e redução de perdas como, por exemplo, EPANET, WB Easy
Calc e QGIS estão disponíveis, sendo a atualização do corpo técnico um dos requisitos para
que se obtenha sucesso em um programa de redução de perdas.