ministério da transparência, fiscalização e controle · chefe do serviço de cirurgia...
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RELATÓRIO Nº 201600044
Relatório de Demandas
Externas nº 201600044,
relativo à Fundação de
Serviços de Saúde de Mato
Grosso do Sul, mantenedora
do Hospital Regional de Mato
Grosso do Sul, acerca da
legalidade do processo nº
27/200.776/2011, que trata da
contratação da empresa
CARDIOCEC Serviços,
Comércio e Representações
Ltda.
O trabalho iniciou-se a partir da demanda provocada pela Superintendência Regional da Polícia Federal no Mato Grosso do Sul, com a finalidade de instruir o Inquérito Policial nº 0192/2015-4-SR/DPF/MS, mediante análise do processo nº 27/200.776/2011 com o objetivo de avaliar a legalidade da contratação da empresa CARDIOCEC Serviços, Comércio e Representações Ltda., para a prestação de serviços de perfusão, assessoria técnica em estimulação cardíaca artificial e demais procedimentos cardiovasculares de alta complexidade no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.
Quanto à legalidade da contratação da
empresa Cardiocec Serviços, Comércio e
Representações Ltda., constataram-se
restrições ao caráter competitivo licitatório no
edital do Pregão Eletrônico nº 015/2012;
direcionamento e favorecimento à empresa
vencedora; e vínculos de ordem pessoal e
empresarial entre os proprietários desta
empresa e o Diretor Presidente e também o
Chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular,
setor demandante do serviço contratado, do
Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.
Por fim, importante registrar que, do
montante fiscalizado de R$200.376,00,
identificou-se prejuízo de R$60.947,70, o
correspondente a 30,4% do total pago, em
função de serviços não prestados do objeto
fiscalizado.
Ministério da Transparência,
Fiscalização e Controle
Secretaria Federal de Controle Interno
Unidade Examinada: FUNDACAO SERVICOS DE
SAUDE DE MATO GROSSO DO SUL-SAUDE-MS
Introdução
1. Introdução
Este Relatório trata do resultado de ação de controle desenvolvida em função de situações
presumidamente irregulares, ocorridas na Fundação Serviços de Saúde de Mato Grosso do
Sul – FUNSAU, mantenedora do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul – HRMS,
apontadas à Controladoria-Geral da União - CGU, que deram origem ao Processo nº
00211.000686/2015-48, para atendimento à demanda de Delegado de Polícia Federal, com
a finalidade de instruir o Inquérito Policial nº 0192/2015-4-SR/DPF/MS.
A fiscalização teve como objetivo analisar o processo nº 27/200.776/2011, tendo como
objetivo a análise da legalidade da contratação da empresa CARDIOCEC Serviços, Comércio
e Representações Ltda. para realização de serviços de perfusão, assessoria técnica em
estimulação cardíaca artificial e demais procedimentos cardiovasculares de alta complexidade
pelo Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.
Os trabalhos de campo foram realizados no período de 25 de maio de 2016 a 11 de julho de
2016 sobre a aplicação de recursos federais do programa 2015 - Aperfeiçoamento do Sistema
Único de Saúde (SUS) / 8585 - Atenção à Saúde da População para Procedimentos em Média
e Alta Complexidade no município de Campo Grande/MS.
Os exames foram realizados em estrita observância às normas de fiscalização aplicáveis ao
Serviço Público Federal, tendo sido utilizadas, dentre outras, técnicas de inspeção física e
registros fotográficos, análise documental, realização de entrevistas e aplicação de
questionários.
Relatório de Demandas
Externas
Número do relatório: 201600044
Os executores dos recursos federais foram previamente informados sobre os fatos relatados,
por meio do Ofício nº 16633/2016/Regional/MS-CGU, de 21 de setembro de 2016, entretanto
a unidade examinada não apresentou manifestação até a data deste relatório.
1.1. Informações sobre a Ação de Controle
Ordem de Serviço: 201600044
Número do Processo: 00211.000686/2015-48
Município/UF: Campo Grande/MS
Órgão: MINISTERIO DA SAUDE
Instrumento de Transferência: Fundo a Fundo ou Concessão
Unidade Examinada: FUNDACAO SERVICOS DE SAUDE DE MATO GROSSO DO
SUL-SAUDE-MS
Montante de Recursos Financeiros: R$ 200.376,00
2. Resultados dos Exames
Os resultados da fiscalização serão apresentados de acordo com o âmbito responsável pela
tomada de providências para saneamento das situações encontradas, bem como pela existência
de monitoramento a ser realizada por esta Controladoria.
2.1 Parte 1
Os fatos apresentados a seguir destinam-se aos órgãos e entidades da Administração Pública
Federal - gestores federais dos programas de execução descentralizada. A princípio, tais fatos
demandarão a adoção de medidas preventivas e corretivas por parte desses gestores, visando
à melhoria da execução dos Programas de Governo ou à instauração da competente Tomada
de Contas Especial, as quais serão monitoradas pela Controladoria-Geral da União.
2.1.1. Informação do processo
Fato
Trata-se de análise do processo nº 27/200.776/2011 referente à contratação da empresa
CARDIOCEC Serviços, Comércio e Representações Ltda. (CNPJ 07.854.179/0001-93) para
realização de serviços de perfusão, assessoria técnica em estimulação cardíaca artificial e
demais procedimentos cardiovasculares de alta complexidade pelo Hospital Regional de
Mato Grosso do Sul.
O processo teve origem com a solicitação de abertura, em 06 de outubro de 2011, assinada
pelo Chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular do Hospital Regional, por meio do qual
solicita a abertura de processo licitatório, considerando que o Hospital Regional é referência
no Estado no atendimento pelo SUS e está credenciado pelo SUS em Assistência
Cardiológica:
“Considerando que o Hospital Regional é referência no Estado no atendimento
SUS e está credenciado junto ao Sistema Único de Saúde – SUS – em Assistência
Cardiovascular de Alta Complexidade e faz parte da rede pública de assistência
cardiológica, incluindo cirurgia cardiovascular e estimulação artificial.
O Serviço está credenciado com base na Portaria nº 210/2004 do Ministério da
Saúde que impõe a necessidade de manter esse profissional disponível para
execução dos procedimentos.
A Instituição não possui em seu quadro de funcionários o cargo e nem o
profissional qualificado para realizar o serviço como Técnico em Perfusão”
(original sem grifo).
Conforme art. 1º da Portaria SAS nº 493, de 22 de dezembro de 2009, o Ministério da Saúde
habilitou o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul a seguir como Unidade de Assistência
em Alta Complexidade Cardiovascular, para realizar procedimentos nos serviços
especificados:
Serviço de Assistência de Alta Complexidade em Cirurgia Cardiovascular;
Serviço de Assistência de Alta Complexidade em Cirurgia Vascular;
Serviço de Assistência de Alta Complexidade em Procedimentos da Cardiologia
Intervencionista;
Serviço de Assistência de Alta Complexidade em Laboratório de Eletrofisiologia.
Os serviços seriam custeados pelo Teto Financeiro anual de Média e Alta Complexidade
conforme Portaria GM/MS nº 3.150, de 24 de dezembro de 2008, que prevê recursos
provenientes do Fundo Nacional de Saúde – FNS aos Estados, Municípios e Distrito Federal
para a implantação e ampliação das redes assistenciais de saúde nas áreas de Oncologia,
Neurocirurgia, Auditiva, Traumato-Ortopedia e Cardiovascular.
Neste sentido, constatou-se que o Fundo Estadual de Saúde de Mato Grosso do Sul (CNPJ
03.517.102/0001-77) recebeu do FNS nos exercícios de 2012 e 2013 os seguintes valores
para atender o Bloco Financeiro de Média e Alta Complexidade:
Tabela 1 – Recursos transferidos do FNS
Exercício Recursos transferidos (R$)
2012 115.656.015,16
2013 118.013.332,52
Total 233.669.347,68
Fonte: Portal da Transparência do Governo Federal
Para contratar empresa prestadora de serviços de perfusão, assessoria técnica em estimulação
cardíaca artificial e demais procedimentos cardiovasculares de alta complexidade foi
realizada, na data de 17 de abril de 2012, a primeira sessão de julgamento do Pregão nº
15/2012, participando apenas a empresa CEBRAMED Centro Brasileiro de Estudos
Médicos Ltda. (CNPJ 04.823.971/0001-92), a qual foi desabilitada por apresentar
Certificado de Registro Cadastral - CERCA com código de classe de serviço divergente. A
segunda sessão de julgamento, prevista para dia 02 de maio de 2012, não ocorreu, pois o
Diretor Presidente da FUNSAU suspendera o processo licitatório em 26 de abril de 2012. A
terceira sessão de julgamento foi então realizada no dia 14 de junho de 2012, quando
novamente as licitantes foram desabilitadas. Finalmente, a Fundação Serviços de Saúde de
Mato Grosso do Sul – FUNSAU (CNPJ 04.228.734/0001-83), por meio da Coordenadoria
de Processamento de Licitação/SL/SAD, realizou no dia 28 de junho de 2012 a quarta sessão
de julgamento, sendo que apenas a empresa CARDIOCEC Serviços, Comércio e
Representações Ltda. participou do certame licitatório, apresentando proposta vencedora no
valor de R$ 200.376,00, sendo este valor R$ 20.376,00 acima do próprio orçamento
apresentado pela CARDIOCEC para compor mapa de pesquisa de preço de mercado da
FUNSAU (folha 014 do processo).
O resultado da licitação foi publicado no Diário Oficial do Estado do Mato Grosso do Sul –
DOE de 02 de julho de 2012, e a homologação do certame no de 13 de julho de 2012.
Na data de 23 de julho de 2012 foi assinado o Contrato nº 22/2012 entre a empresa
CARDIOCEC Serviços, Comércio e Representações Ltda. e a Fundação Serviços de Saúde
de Mato Grosso do Sul, com vigência de 12 meses contados a partir da data da assinatura.
##/Fato##
2.2 Parte 2
Nesta parte, a competência primária para adoção de medidas corretivas dos fatos
apresentados a seguir pertence ao executor do recurso federal descentralizado. Esclarece-
se que as situações relatadas são decorrentes de levantamentos necessários à adequada
contextualização das constatações relatadas na primeira parte.
Dessa forma, compõem o relatório para conhecimento dos Ministérios repassadores de
recursos federais, embora não exijam providências corretivas isoladas por parte das pastas
ministeriais. Destinam-se, ainda, para ciência dos Órgãos de Defesa do Estado com vistas à
tomada de providências no âmbito das respectivas competências. Esta Controladoria não
realizará o monitoramento isolado das providências saneadoras relacionadas a estas
constatações.
2.2.1. Terceirização indevida da atividade-fim do Hospital Regional de Mato Grosso do
Sul
Fato
O Hospital Regional de Mato Grosso do Sul - HRMS, por intermédio do processo
administrativo n° 27/200.776/2011, formalizou licitação no exercício de 2012 para
contratação de empresa prestadora de serviços de perfusão, assessoria técnica em
estimulação cardíaca artificial e demais procedimentos cardiovasculares de alta
complexidade, devendo a empresa contratada manter profissional disponível 24 horas para
atendimento das necessidades daquela unidade hospitalar. Oportuno mencionar que a
motivação para contratação desses serviços pelo HU consistia, conforme consta da
justificativa para abertura do processo, 06 de outubro de 2011, o fato de que a “Instituição
não possui em seu quadro de funcionários o cargo e nem o profissional qualificado para
realizar o serviço como Técnico em Perfusão”.
Com o resultado do Pregão Eletrônico n° 15/2012, conforme extrato do contrato publicado
no DOE em 31 de julho de 2012, sagrou-se vencedora a empresa CARDIOCEC Serviços,
Comércio e Representações Ltda. (CNPJ: 07.854.179/0001-93), única empresa a apresentar
proposta de preços, cujos valores mensais adjudicados foram de R$ 16.698,00, totalizando
um custo anual R$ 200.376,00.
Inicialmente à análise das condições que nortearam a contratação da empresa CARDIOCEC,
faz-se necessário alguns esclarecimentos acerca dos serviços médicos licitados.
O Hospital Regional está credenciado junto ao Sistema Único de Saúde - SUS em
Assistência Cardiovascular de Alta Complexidade, conforme Portaria SAS nº 493, de 22 de
dezembro de 2009, fazendo parte da rede pública de assistência cardiológica, incluindo
cirurgia cardiovascular e estimulação cardíaca artificial. O serviço de perfusão está
credenciado com base na Portaria n° 210/2004 do Ministério da Saúde a qual impõe a
necessidade de que seja mantido profissional disponível para execução dos procedimentos
de Assistência Cardiovascular de Alta Complexidade.
Em análise ao processo n° 27/200.776/2011, que trata da contratação de empresa prestadora
de serviços para perfusão, constatou-se tratar de terceirização da atividade-fim da Entidade,
pois constitui atividade inerente à sua missão institucional dada sua habilitação junto ao
Sistema Único de Saúde.
As atividades tidas essenciais dos estabelecimentos de saúde devem ser realizadas por
servidores públicos, admitidos por concurso público, conforme consagrado no artigo 37,
inciso II da Constituição Federal.
Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal definiu que, na área da saúde, a admissão por
concurso público é obrigatória para a prestação de serviços previsíveis e de caráter
permanente:
“EMENTA: RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade. Saúde. Prestação de
serviços previsíveis e de caráter permanente. Contratação por concurso público.
Obrigatoriedade. Ausência de razões consistentes. Decisão mantida. Agravo
regimental não provido. Nega-se provimento a agravo regimental tendente a
impugnar, sem razões consistentes, decisão fundada em jurisprudência assente na
Corte.
[...]
5. No caso em análise, a Instância Judicante de origem deu correta aplicação aos
ditames da Constituição Republicana. Isso porque os cargos inerentes aos serviços
de saúde, prestados dentro de órgãos públicos, por ter a característica de
permanência e ser de natureza previsível, devem ser atribuídos a servidores
admitidos por concurso público, pena de desvirtuamento dos comandos
constitucionais referidos” (original sem grifo).
(STF - RE 445167 AgR, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma,
julgado em 28/08/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe- 184 DIVULG 18-09-2012
PUBLIC 19-09-2012).
Consta no processo solicitação de informações para elaboração do edital, fls. 004 a 008,
elaborado pelo servidor CPF ***.439.921-**, em que inicialmente a empresa contratada
deveria atender em média oitenta perfusões mensais conforme necessidade e disponibilidade
de cirurgia cardiovascular. Posteriormente, o Diretor Presidente da FUNSAU, CPF
***.540.978-**, à folha 009, solicitou a diminuição para quarenta perfusões mensais, sendo
que não consta no processo qualquer critério objetivo para a fixação do número de perfusões
mensais:
Figura 1 – Despacho do Diretor Presidente da FUNSAU
Fonte: Processo nº 27/200.776/2011.
Vale recordar que a justificativa para contratação dos serviços de perfusão consistia no fato
de que a “Instituição não possui em seu quadro de funcionários o cargo e nem o profissional
qualificado para realizar o serviço como Técnico em Perfusão”.
A despeito da justificativa constante no processo de que não existia profissional qualificado
no Hospital Regional para realizar o serviço como Técnico em Perfusão, identificou-se que
no quadro de servidores que atuam no HRMS havia oito Perfusionistas, conforme cadastro
no CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), sendo sete deles servidores
ativos do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, conforme tabela abaixo:
Quadro 1 – Relação de Perfusionistas no HRMS
CNS Data de Entrada Vínculo Hospital Regional
201567432690002 15/03/2010 ESTATUTÁRIO
170573759460006 11/05/2006 ESTATUTÁRIO
170731998120008 10/04/2006 ESTATUTÁRIO
170320367730000 18/12/2006 ESTATUTÁRIO
l22259192500000 10/04/2006 ESTATUTÁRIO
201567396440005 11/12/2009 ESTATUTÁRIO
980016288804318 01/01/2010 AUTÔNOMO
170650499470003 01/05/2006 ESTATUTÁRIO
Fonte: tabela extraída do CNES, competência 06/2012, demonstrando a atuação dos perfusionistas.
Portanto, a justificativa da inexistência de profissional qualificado no Hospital Regional para
exercer a função de Técnico de Perfusão não procede, tendo em vista existência de
Perfusionistas no quadro de servidores do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.2. Cláusulas restritivas ao caráter competitivo licitatório no edital do Pregão
Eletrônico nº 015/2012.
Fato
Foi realizada análise dos itens do edital do Pregão Eletrônico nº 15/2012, expedido pelo
Coordenador de Processamento de Licitações/SL/SAD (CPF ***.493.201-**), visando a
contratação de empresa especializada em serviços de perfusão, assessoria técnica em
estimulação Cardíaca para atender as necessidades do Serviço de Cardiologia do Hospital
Regional de Mato Grosso do Sul, e constatou-se a existência das seguintes cláusulas restritivas
no edital de licitação.
a) Exigência indevida de Certidão Negativa de Violação dos Direitos do Consumidor -
CNVDC.
A Administração exigiu que as empresas participantes apresentassem o seguinte documento:
“5.3.2. Certidão Negativa de Violação dos Direitos do Consumidor - CNVDC,
expedida pelo PROCON/MS (Estado de Mato Grosso do Sul) e em plena validade,
conforme dispõe a Lei Estadual nº 3.041, de 07 de julho de 2005.”
Contudo, em verificação à legislação referente à modalidade pregão, art. 4º, inciso III da Lei
nº 10.520, de 17 de julho de 2002, tal exigência de referida certidão, como condição
habilitatória para o certame, não está prevista em seu rol:
“XIII - a habilitação far-se-á com a verificação de que o licitante está em situação
regular perante a Fazenda Nacional, a Seguridade Social e o Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço - FGTS, e as Fazendas Estaduais e Municipais, quando for o caso,
com a comprovação de que atende às exigências do edital quanto à habilitação
jurídica e qualificações técnica e econômico-financeira;”
É importante ressaltar que a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, aplicada subsidiariamente
à Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002, também não prevê a exigência da referida certidão
como documento habilitatório, pelo contrário, é claramente exaustiva em seu art. 27:
“Art. 27. Para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos interessados,
exclusivamente, documentação relativa a:” (Original sem grifo)
Da leitura dos arts. 27 a 31 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, não se encontra qualquer
exigência da referida certidão como documento que habilite os licitantes a participarem do
processo licitatório.
Cabe mencionar que a Lei Estadual nº 3.041, de 07 de julho de 2015, foi considerada
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI 3735), nos termos da decisão abaixo reproduzida:
“Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou
procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº
3.041/2005, do Estado de Mato Grosso do Sul, inexistindo efeito repristinatório em
relação às leis anteriores de mesmo conteúdo, vencidos os Ministros Marco Aurélio
e Celso de Mello. Ausentes, neste julgamento, os Ministros Gilmar Mendes e
Cármen Lúcia. Falou pelo Estado de Mato Grosso do Sul o Dr. Ulisses Schwarz
Viana, Procurador do Estado. Presidiu o julgamento o Ministro Ricardo
Lewandowski. Plenário, 08.09.2016”.
b) Exigência indevida de Certificado de Registro Cadastral
A Administração exigiu que as empresas participantes apresentassem o seguinte documento:
“5.1. Somente poderão ser habilitadas na presente licitação, as empresas inscritas
no Cadastro Central de Fornecedores (CCF/MS), comprovado pelo Certificado de
Registro Cadastral/CERCA, emitido pelo Estado de Mato Grosso do Sul, na forma
do Decreto Estadual n. 11.361, de 27 de agosto de 2003, devendo conter a inscrição
na(s) Classificação(ões) n.: 333903950, com toda a documentação atualizada
(certidões negativas e balanço patrimonial), exceto a documentação fiscal das Micro
e Pequenas Empresas, devidamente informado na Declaração de Habilitação
(subitem 3.2.1).” (original sem grifo)
A exigência de Certificado de Registro Cadastral afronta o disposto no § 3º do art. 32 da Lei
nº 8.666, de 21 de junho de 1993, que faculta (e não obriga) a substituição dos documentos
de habilitação elencados nos seus artigos 28 a 31 pelo registro cadastral:
“Art. 32. Os documentos necessários à habilitação poderão ser apresentados em
original, por qualquer processo de cópia autenticada por cartório competente ou
por servidor da administração ou publicação em órgão da imprensa oficial.
[...]
§ 3º A documentação referida neste artigo poderá ser substituída por registro
cadastral emitido por órgão ou entidade pública, desde que previsto no edital e o
registro tenha sido feito em obediência ao disposto nesta Lei.” (Original sem grifo)
A esse respeito, a jurisprudência do Tribunal de Contas da União, em especial a contida no
Acórdão 2.857/2013 - Plenário, TC 028.552/2009-1, é taxativa no que se refere à ilegalidade
da exigência de tal certificado como documento de habilitação.
No referido Acórdão o relator observou que "os registros cadastrais destinam-se a
racionalizar o processo licitatório para órgãos públicos que realizam certames com
frequência, dispensando as empresas que detenham o CRC, nos termos do art. 32, § 2º, da
Lei 8.666/1993, de apresentarem parte dos documentos de habilitação listados nos artigos
28 a 31 da Lei de Licitações". Acrescentou ainda que "a faculdade legal de se apresentar o
CRC... não pode se converter em obrigação, de forma a restringir a competitividade dos
certames ao universo de empresas cadastradas pelo órgão estadual".
Em consulta ao Manual do Licitante da Superintendência de Licitação do Estado de Mato
Grosso do Sul, constatou-se que o prazo para obtenção do Certificado de Registro Cadastral
– CERCA é de cinco dias úteis após o recebimento da documentação pelo setor de Cadastro
de Fornecedores na Central de Compras:
Quadro – Cadastramento como Fornecedor
Fonte: Manual do Licitante
Tal fato reduz ilegalmente o prazo estipulado pela Lei 10.520, de 17 de julho de 2002, entre
o aviso publicado e o recebimento das propostas do certame, de oito para três dias úteis - ou
menos, a depender da data de recebimento da documentação pelo setor de Cadastro -,
diminuindo o tempo efetivamente disponível para que possíveis licitantes participem pelo
certame.
c) Exigência ilegal de atestado de capacidade técnica da licitante
A Administração Estadual exigiu que as empresas participantes apresentassem o seguinte
documento:
“5.3.1. Atestado(s) de Capacidade Técnica da licitante, emitido(s) por entidade da
Administração Federal, Estadual ou Municipal, direta ou indireta elou empresa
privada que comprove, de maneira satisfatória, a aptidão para desempenho de
atividades pertinentes ao objeto a ser licitado.”
Dispõe a Lei nº 8.666/93, em seu art. 30, inciso II, que, a título de documentação relativa à
qualificação técnica, pode a Administração Pública requerer da licitante “comprovação e
aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível em características,
quantidades e prazos com o objeto da licitação, e indicação das instalações e do
aparelhamento e do pessoal técnico adequados e disponíveis para a realização do objeto da
licitação, bem como da qualificação de cada um dos membros da equipe técnica que se
responsabilizará pelos trabalhos”.
No mesmo art. 30, dispõe a Lei ainda que:
“§ 1º A comprovação de aptidão referida no inciso II do ‘caput’ deste artigo,
no caso das licitações pertinentes a obras e serviços, será feita por atestados
fornecidos por pessoas jurídicas de direito público ou privado, devidamente
registrados nas entidades profissionais competentes, limitadas as exigências
a:
I - capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir em
seu quadro permanente, na data prevista para entrega da proposta,
profissional de nível superior ou outro devidamente reconhecido pela entidade
competente, detentor de atestado de responsabilidade técnica por execução de
obra ou serviço de características semelhantes, limitadas estas exclusivamente
às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto da licitação,
vedadas as exigências de quantidades mínimas ou prazos máximos;
II – (Vetado)”. (Original sem grifo)
Portanto, a comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível
com o objeto da licitação, a ser apresentada pela licitante, refere-se à demonstração de que
esta possui, em seu quadro permanente, e na data prevista para entrega da proposta,
profissional capacitado detentor de atestado de responsabilidade técnica por execução de
obra ou serviço de característica semelhante ao objeto licitado, fornecido por pessoa jurídica
de direito público ou privado, devidamente registrado na entidade profissional competente.
Assim, o atestado de capacidade técnica refere-se ao histórico do profissional e não ao da
licitante. Cabe a ela, porém, demonstrar que este profissional compõe seu quadro
permanente. Paralelamente, a Administração pode exigir das licitantes, de acordo com o §6º
do art. 30 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, a apresentação de relação explícita e
declaração formal da disponibilidade de máquinas, equipamentos e pessoal técnico
especializado, considerados essenciais para o cumprimento do objeto da licitação, sob as
penas cabíveis, vedada as exigências de propriedade e de localização prévia.
Convém mencionar que a previsão de Atestado Técnico-Operacional estava prevista no
Inciso II do Parágrafo Único do art. 30 da Lei Federal 8.666, de 21 de junho de 1993, sendo
objeto de veto duas vezes, na sanção da mesma e na sanção da Lei Federal nº 8.883, de 08
de junho de 1994, que tentou incluir novamente o Atestado Técnico-operacional na Lei de
Regência das Licitações (Lei 8.666/93). As razões do veto ao citado inciso não deixam
dúvidas quanto à impossibilidade de os editais conterem a exigência do Atestado de
Capacidade-operacional em nome da empresa licitante, se não vejamos:
“Reconhecidamente, a competição entre possíveis interessados é principio
ínsito às licitações, pois somente ao viabilizá-la o Poder Público pode obter
as propostas economicamente mais vantajosas, barateando, assim, os
preços de suas obras e serviços.
Ora, a exigência de “capacidade técnico-operacional”, nos termos
definidos no primeiro dos dispositivos supra, praticamente inviabiliza a
consecução desse objetivo, pois segmenta, de forma incontornável, o
universo dos prováveis competidores, na medida em que, embora possuindo
corpo técnico de comprovada experiência, uma empresa somente se habilita
a concorrer se comprovar já haver realizado obra ou serviço de
complexidade técnica idêntica à que estiver sendo licitada.
Ademais, dependendo do vulto da obra ou serviço, essa exigência pode
afastar pequenos e médios competidores, já que pode chegar a 50%
(cinqüenta por cento) das “parcelas de maior relevância técnica ou valor
significativo”, conceito, aliás, sequer definido objetivamente no projeto.
Impõem-se, assim, expungir do texto os dispositivos em foco, que, por
possibilitarem possíveis direcionamentos em proveito de empresas de maior
porte, se mostram flagrantemente contrários ao interesse público.” –
Mensagem Presidencial ao Senhor Presidente do Senado Federal nº 335,
com os vetos e razões dos vetos ao Projeto de Lei nº 1.491/91 (n.º 59/92 no
Senado Federal) atual Lei Federal 8.666/93.
Importa ter presente, ainda, na espécie o verdadeiro conteúdo e alcance do comando
insculpido no art. 37, inciso XXI, da Constituição da República, ipsis litteris:
“XXI – ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,
compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as
exigências de qualificação técnica e econômica indispensável à garantia
do cumprimento das obrigações”. (Original sem grifo)
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já se posicionou sobre esse assunto:
MANDADO DE SEGURANÇA Licitação Concorrência pública
Contratação de empresa especializada para construção de novo Fórum de
Limeira - Poder Público que inabilita a empresa por alegada ausência de
demonstração de capacitação técnica operacional. Desclassificação afastada
pela sentença que se mantém - Recursos não providos.
“4. Verifica-se que a interpretação que conduz ao raciocínio de que o
administrador pode exigir atestado de capacidade técnico ou operacional
contraria expressa determinação legal, pois inclui essa possibilidade
quando o dispositivo acima deduzido determina, às escancaras, que seja
exigido apenas o atestado de capacidade técnico-profíssional de que trata
o parágrafo 1º, inciso I, do artigo 30, da Lei n° 8.666/93.
(...)
Em conclusão, a hermenêutica conjugada com os diversos dispositivos
sistematizados em linha jurídica, impõem o raciocínio de que, em licitação
de obras e serviços, somente se admitem exigências de qualificação
técnico-profissional.” (original sem grifo).
(TJ-SP, Relator: Peiretti de Godoy, Data de Julgamento: 01/06/2011, 13ª
Câmara de Direito Público)
Neste sentido, a exigência de atestado de capacidade técnica da licitante não possui amparo
legal e acarretou uma limitação ilegal do caráter competitivo do certame licitatório.
d) Restrições quanto ao perfil técnico exigido dos profissionais perfusionistas a serem
contratados.
A Administração Estadual exigiu que as empresas participantes apresentassem o seguinte
documento, conforme adendo ao subitem 4.1.6, inciso III, publicado no DOE de 30 de maio
de 2012, pág. 41:
“III - Declaração de que possui ou contratará no mínimo dois profissionais de
formação superior da área de saúde devidamente habilitados, com especialização
como técnico em perfusão, com título de especialista em circulação extracorpórea,
emitido pela Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea ou de outra
instituição autorizada pelo MEC que atendam as exigências dos serviços descritos
no Termo de Referência - Anexo I “A", devendo atender o exposto no subitem 8.4.1.
do edital.” (original sem grifo)
O Chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular do HRMS apresentou a seguinte justificativa
para as exigências contidas no inciso III do subitem 4.1.6 do adendo ao edital:
“Referente a justificativa técnica relacionada às exigências de habilidades técnicas
aos proponentes prestadores de serviço referente ao processo licitatório n°
27/200.776/2011, cumpre-me ressaltar que no instrumento de abertura do processo
licitatório em sua folha n° 05 já havia sido previamente solicitado que os
profissionais que executariam o serviço, apresentassem como condições mínimas
de expertise:
- Formação superior em área de saúde.
-Título de especialista em circulação extracorpórea, emitido pela Sociedade
Brasileira de Circulação extracorpórea.
A exigência acima tem o um objetivo maior muito simples, salvaguardar a VIDA
dos pacientes que serão submetidos ao procedimento de circulação extracorpórea.
Trata-se de procedimento de alta especialidade e que exige experiência e expertise
do profissional em questão. Como poderemos nos certificar que o profissional
contratado seja apto para o serviço em questão? E que o mesmo não venha em suas
atividades, por em risco a vida dos pacientes que estão sob minha responsabilidade
medica e da equipe de Cirurgia cardiovascular - HRMS? Só temos uma maneira.
Exigir que os profissionais que prestarão o serviço nos comprovem a sua formação
e habilitação para tal função, da mesma maneira que qualquer outro profissional
da área de saúde ê obrigado fazê-lo em sua atuação profissional. A habilitação
desta atividade é atestada pela Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea,
portanto esta é uma condição “Sine qua non" para aceitação dos profissionais em
questão. Portanto, solicito que estas exigências sejam respeitadas e incluídas no
edital, sob pena de expormos a vida de nossos pacientes a profissionais não
habilitados e preparados para o manejo destes pacientes graves.” (original sem
grifo)
Da análise da justificativa apresentada pelo Chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular,
constata-se que esta se encontra eivada de subjetividade, desprovida de qualquer
embasamento técnico ou jurídico, que justifique as exigências contidas no adendo.
Quanto à profissão de perfusionista, constatou-se a inexistência de normatização
regulamentadora da profissão de técnico em perfusão, sendo o que existe é um Projeto de
Lei nº 1587/07 em tramitação na Câmara dos Deputados, que dispõe sobre a regulamentação
do exercício da Perfusão Cardiocirculatória e Respiratória.
Em função da inexistência de regulamentação da profissão de técnico em perfusão, realizou-
se consulta ao sitio do Ministério da Saúde, sendo constatada a existência de portarias que
delimitam, embora precariamente, o exercício da profissão de perfusionista.
Dessa forma verificou-se a existência da Portaria SAS nº 689, de 04 de outubro de 2012, em
que “o perfusionista é um membro da equipe cirúrgica com pré-requisitos definidos na área
das ciências biológicas e da saúde, com conhecimentos básicos de fisiologia circulatória,
respiratória, sanguínea e renal, de centro cirúrgico e esterilização e com treinamento
específico no planejamento e ministração dos procedimentos de circulação
extracorpórea.”.
Por sua vez, o §2º do artigo 1º da Portaria SAS nº 620, de 12 de novembro de 2012, definiu
da seguinte forma a profissão de Técnico Perfusionista:
“§2º Entende-se por Técnico Perfusionista o profissional de nível técnico/superior
que atua durante a realização de cirurgia cardíaca na qual o paciente é submetido
a CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA (CEC) e que durante o ato cirúrgico
monitora o equipamento de CEC mantendo a atividade hemodinâmica normal do
paciente.” (original sem grifo)
Analisando-se conjuntamente as portarias do Ministério da Saúde, entende-se que o
profissional perfusionista pode ser de nível técnico ou superior formado nas áreas das
ciências biológicas ou da saúde e com treinamento específico no planejamento e ministração
dos procedimentos de circulação extracorpórea.
Conclui-se assim que as exigências contidas no inciso III do subitem 4.1.6 do adendo ao
edital excluem indevidamente a contratação de profissionais perfusionistas com formação
técnica na área da saúde e aqueles formados nas áreas das ciências biológicas em qualquer
nível de ensino.
e) Inclusão de item de habilitação junto à apresentação de propostas de preços em
Pregão Eletrônico.
A modalidade de licitação denominada Pregão foi instituída pela Lei Federal nº 10.520 de 17
de julho de 2002. Traz em seu corpo a inovação da inversão das fases de habilitação e proposta
de preços, realizadas em sequência como determinava a Lei 8.666/93.
Ao contrário da Lei de Licitações e Contratos, o Pregão prevê a entrega das propostas de
preços antes da verificação da habilitação das empresas, evitando assim, análises da
documentação de habilitação de licitantes que não obtiveram êxito na licitação.
A fase de entrega de propostas limita-se exclusivamente à oferta de preços dos licitantes à
Administração Pública e o critério de julgamento será exclusivamente o menor preço, não
cabendo nessa fase qualquer vinculação com a habilitação das empresas, conforme depreende-
se da leitura dos incisos VII a XII do art. 4º da Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002:
“Art. 4º A fase externa do pregão será iniciada com a convocação dos interessados
e observará as seguintes regras:
(...)
VII - aberta a sessão, os interessados ou seus representantes, apresentarão
declaração dando ciência de que cumprem plenamente os requisitos de habilitação
e entregarão os envelopes contendo a indicação do objeto e do preço oferecidos,
procedendo-se à sua imediata abertura e à verificação da conformidade das
propostas com os requisitos estabelecidos no instrumento convocatório;
VIII - no curso da sessão, o autor da oferta de valor mais baixo e os das ofertas com
preços até 10% (dez por cento) superiores àquela poderão fazer novos lances verbais
e sucessivos, até a proclamação do vencedor;
IX - não havendo pelo menos 3 (três) ofertas nas condições definidas no inciso
anterior, poderão os autores das melhores propostas, até o máximo de 3 (três),
oferecer novos lances verbais e sucessivos, quaisquer que sejam os preços
oferecidos;
X - para julgamento e classificação das propostas, será adotado o critério de menor
preço, observados os prazos máximos para fornecimento, as especificações técnicas
e parâmetros mínimos de desempenho e qualidade definidos no edital;
XI - examinada a proposta classificada em primeiro lugar, quanto ao objeto e valor,
caberá ao pregoeiro decidir motivadamente a respeito da sua aceitabilidade;
XII - encerrada a etapa competitiva e ordenadas as ofertas, o pregoeiro procederá
à abertura do invólucro contendo os documentos de habilitação do licitante que
apresentou a melhor proposta, para verificação do atendimento das condições
fixadas no edital; (...)”.(original sem grifo)
A Lei acima transcrita demonstra que somente após o encerramento da fase competitiva de
propostas é que será aberto o envelope de habilitação do licitante de melhor proposta.
Porém, na licitação analisada, foi incluída no edital cláusula que determinava a entrega de
documentações referentes à habilitação como anexo da proposta de preços, contrariando o que
determina a Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002.
Abaixo, reprodução do item 4.1.6 do Edital do Pregão Eletrônico nº 15/2012:
“4.1.6. Anexar via sistema eletrônico (anexos da proposta) os documentos abaixo
relacionados por lote proposto, sob pena de desclassificação, lembrando que, para
cada lote é registrado uma proposta:
(...)
III. Declaração de que possui ou contratará profissionais de formação superior da
área
de saúde devidamente habilitados, que atendem as exigências dos serviços descritos
no Termo de Referência - Anexo I “A”, devendo atender o exposto no subitem 8.4.1
do edital.
4.1.6.1. Os documentos anexados ao sistema deverão ser cópias fiéis de documentos
originais ou autenticados.
4.1.6.2. Após o encerramento da sessão da licitação, a licitante vencedora deverá
encaminhar os documentos originais ou cópias autenticadas, para o protocolo da
Superintendência de Licitação localizada na Avenida Desembargador José Nunes
da Cunha, Jardim Veraneio, Parque dos Poderes, Bloco 01 - SAD/MS, Pavimento
Superior, CEP: 79031-902, nesta Capital, no prazo máximo de 03 (três) dias úteis,
contados do encerramento da sessão, sob pena de desclassificação da proposta.”
O documento acima elencado deveria ser apresentado anexo da proposta de preços, sob pena
de desclassificação da empresa, contrariando o que determina a Lei nº 10.520, de 17 de julho
de 2002, que regulamenta que a fase de habilitação é posterior à apresentação das propostas
das licitantes. Agindo dessa maneira, o Estado de Mato Grosso do Sul restringiu a participação
de empresas já na fase de apresentação de propostas, pois nenhum documento para habilitação
das empresas deveria ser exigido nessa fase.
As exigências de documentos de habilitação na etapa de propostas de preços não encontram
amparo na legislação e são consideradas ilegais, pois restringiram a competitividade entre
empresas ao fazer com que qualquer das licitantes apesentassem documentos de habilitação
sem terem vencido a fase de lances.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.3. Direcionamento e favorecimento à empresa vencedora CARDIOCEC Serviços,
Comércio e Representações Ltda. Desclassificação indevida de licitante concorrente.
Vínculo entre a empresa vencedora e o Diretor Presidente e o Chefe do Serviço de
Cirurgia Cardiovascular do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul
Fato
Foi realizada análise do processo nº 27/200.776/2011 que trata da contratação de empresa
prestadora de serviços de perfusão, assessoria técnica em estimulação cardíaca artificial e
demais procedimentos cardiovasculares de alta complexidade.
O processo teve origem com a solicitação de abertura, de 06 de outubro de 2011, assinada
pelo Chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular do Hospital Regional, tendo como
justificativa para abertura do certame que “A Instituição não possui em seu quadro de
funcionários o cargo e nem o profissional qualificado para realizar o serviço como Técnico
em Perfusão”.
Em outro ponto deste Relatório, constatou-se que a justificativa de que não existe profissional
qualificado no Hospital Regional para realizar o serviço como Técnico em Perfusão não
procede, tendo em vista existência de Perfusionistas no quadro de servidores do Hospital
Regional de Mato Grosso do Sul., conforme consulta ao CNES.
a) Vínculos entre o proprietário da CARDIOCEC, o Chefe de Serviço de Cirurgia
Cardiovascular do HRMS e o Diretor Presidente da FUNSAU.
Constatou-se a existência de vínculo entre a empresa CARDIOCEC e o Diretor Presidente
da FUNSAU, CPF ***.540.978-** e o Chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular, CPF
***.333.521-**, que solicitara o respectivo processo licitatório, conforme rede de
relacionamento abaixo:
Figura 02: Vínculo de Relacionamento
Fontes: CNPJ, CPF e CNES, 2012.
As fontes consultadas demonstram os seguintes vínculos:
O médico do Serviço de Cirurgia Cardiovascular do HRMS de CPF ***.454.421-**
e CRM-MS 2348 (servidor efetivo admitido em 18 de dezembro de 2006), além de
ser sócio da CARDIOMED desde 2003, mantém sociedade com o sócio da licitante
vencedora CARDIOCEC (CPF ***.625.045-**) desde 2009 na empresa JC & A
Administração, Consultoria, Serviços Médicos e Hospitalares Ltda. – ME (CNPJ
11.184.659/0001-61), cujo endereço é o mesmo da filial da CARDIOMED (CNPJ
05.674.172/0002-45), Rua Sete de Setembro, 2070. Os dois indivíduos ainda
apresentam o mesmo endereço em seus respectivos Cadastros de Pessoas Físicas.
O outro sócio da CARDIOCEC à época do pregão (CPF ***.347.731-**) é também
primo do mesmo servidor efetivo do HRMS e sócio da CARDIOMED e da JC & A
(CPF ***.454.421-**).
O Chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular do Hospital Regional de Mato
Grosso do Sul (CPF ***.333.521-** e CRM-MS 3370) que solicitou a contratação
de empresa especializada era, à época do certame licitatório, sócio da CARDIOMED
(entre 29 de maio de 2003 e 23 de junho de 2015), de cujo quadro profissional consta
como médico desde 23 de junho de 2008, conforme Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde – CNES.
Da mesma forma, segundo o CNES, o Diretor Presidente da FUNSAU, CPF
***.540.978-** e CRM-MS 6053, é médico autônomo contratado da CARDIOMED
desde 02 de maio de 2011.
Corroborando os vínculos, os três médicos citados apresentam seus nomes registrados na
placa afixada no acesso ao prédio da CARDIOMED filial:
Fonte: Portal de Notícias Campo Grande News, 03 de julho de 2013.
b) Inabilitação indevida da CEBRAMED: pregoeiro recusou conceder prazo legal
para recurso da licitante.
A seguir a Coordenadoria de Processamento de Licitação/SAD publicou o aviso de licitação
no Diário Oficial do Estado em 03 de abril de 2012, prevendo a realização da sessão de
julgamento da licitação para o dia 17 de abril de 2012.
Na sessão de julgamento, de 17 de abril de 2012, constatou-se que a única participante do
certame licitatório, CEBRAMED – Centro Brasileiro de Estudos Médicos Ltda., foi
desclassificada por não conter a classificação 333903950 no Certificado de Registro
Cadastral, conforme exigido no subitem 5.1 do edital, reproduzido abaixo:
“5.1. Somente poderão ser habilitadas na presente licitação, as empresas inscritas
no Cadastro Central de Fornecedores (CCF/MS), comprovado pelo Certificado de
Registro Cadastral/CERCA, emitido pelo Estado de Mato Grosso do Sul, na forma
do Decreto Estadual n. 11.361, de 27 de agosto de 2003, devendo conter a inscrição
na(s) Classificação(ões) n.: 333903950, com toda a documentação atualizada
(certidões negativas e balanço patrimonial), exceto a documentação fiscal das Micro
e Pequenas Empresas, devidamente informado na Declaração de Habilitação
(subitem 3.2.1).” (original sem grifo)
O edital exigia que as empresas participantes apresentassem o Certificado de Registro
Cadastral contendo inscrição na classificação nº 333903950, que se refere a Serviço Médico-
Hospitalar, Odontológico e Laboratorial, entretanto a empresa CEBRAMED apresentou
registro cadastral, emitido em 13 de fevereiro de 2012, contendo a classificação nº
333903948, Serviço de Seleção e Treinamento.
Durante a sessão de julgamento a empresa solicitou à Pregoeira prazo recursal de três dias
para regularizar o certificado junto ao setor competente o qual foi negado, não obstante ser
facilmente sanável o erro de classificação cadastral, conforme abaixo:
Quadro 1 – Parte selecionada da ata de julgamento
FORNECEDOR1 17/04/2012
08:53:23
Na entrega do processo de nossa empresa junto com os
documentos, entregamos ao CERCA a Solicitação de Inscrição
(item 2) - Relação dos grupos e Classes de Materiais e Serviços
(anexo da correspondência)...ou seja foi preenchida "a mão" esta
declaração ao CERCA. Eles nos informaram que não está anexada
em nossos documentos...Solicitamos um prazo de três dias para
apresentar o documento a Comissão de Licitação solicitando a
inclusão em nosso Certificado.
FORNECEDOR1 17/04/2012
08:55:55 Consultado o SR (...) do CERCA, o mesmo nos informou que há
possibilidade de reinclusão através de Ofício. Pedimos a gentileza
de nos conceder um prazo de 03 dias para a inclusão.
PREGOEIRO 17/04/2012
08:56:09
Sr. Fornecedor não cabe prazo recursal, uma vez que no edital está
explícito a exigência no subitem 5.1. Sr. Fornecedor quando ocorrer
caso semelhante deverá sua empresa questionar antes da abertura
do certame, conforme subitem 11.1.1 do edital
FORNECEDOR1 17/04/2012
08:57:16
Na inclusão dos documentos no CERCA nos foi exigido a Relação
dos Grupos e Classes de Materiais, fizemos a mão este documento
no guiche do CERCA, agora eles nos informa que não consta no
sistema ?
FORNECEDOR1 17/04/2012
08:58:27
Fizemos um check-list de nossa documentação antes do certame,
inclusive ligando para o setor de cadastro, falando com a Sra. Suzi
que nos informou que nossa documentação está em dia.
FORNECEDOR1 17/04/2012
08:59:04
Pelo motivo de falha humana por parte do CERCA podemos enviar
um oficio solicitando a reenclusão no sistema
PREGOEIRO 17/04/2012
09:02:57
Sr. fornecedor desculpe, mas não posso entrar nesse mérito. Só
tenho a lhe informar que para participar de licitação em nosso
Estado na modalidade pregão eletrônico a empresa deverá possuir
a classe de material ou serviço exigida no edital.
Não houve falha humana uma vez que os funcionários do setor de
cadastro elabora seu CERCA, conforme seus documentos
apresentados.
Fonte: Processo nº 27/200.776/2011, fls. 71
Embora a Pregoeira CPF ***.435.361-** não tenha concedido prazo de três dias para recurso
à empresa CEBRAMED, tal prazo era previsto no item 6.1.14 do edital:
“6.1.14. Declarado o vencedor, qualquer licitante deverá declinar na própria
sessão a intenção motivada de recorrer da decisão e, em havendo os pressupostos
para a admissibilidade do recurso, o(a) pregoeiro(a) suspenderá a sessão,
concedendo o prazo de três dias para apresentação das razões recursais por
escrito, ficando os demais licitantes intimados para igual número de dias, a partir
do termino de prazo do recorrente, para a apresentação das contra-razões”
(original sem grifo).
Em outro ponto deste relatório, constatou-se que a exigência de Certificado de Registro
Cadastral como condição habilitatória em certames licitatórios é indevido, sendo constatado,
ainda, que o prazo para obtenção do CERCA é fator restritivo do caráter competitivo do
certame.
A situação se torna mais abusiva quando se verifica que o registro cadastral é fornecido pela
Central de Compras do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul com base em informações
prestadas pelo fornecedor, sendo que a empresa CEBRAMED declara, durante a sessão de
julgamento do certame licitatório, que entregou a documentação solicitada, entretanto a
empresa não obteve registro cadastral na classificação 333903950 requerida pelo edital.
Ainda, em relação à exigência de que a empresa possua classificação específica no CERCA
como critério eliminatório em certames licitatórios, entende-se desarrazoada tal exigência
por ferir o caráter competitivo do certame licitatório.
Neste sentido é a orientação do Superior Tribunal de Justiça é que “As regras do edital de
procedimento licitatório devem ser interpretadas de modo que, sem causar qualquer
prejuízo à administração e aos interessados no certame, possibilitem a participação do
maior número possível de concorrentes, a fim de que seja possibilitado se encontrar, entre
várias propostas, a mais vantajosa.” (Mandado de Segurança 5.606-DF)
Desta forma, é descabida a desclassificação de licitante cujo elemento de despesa cadastrado
diverge do objeto da licitação, conforme se depreende o artigo citado abaixo:
“Este problema pode ser verificado no Acórdão nº 1203/2011 do TCU, o qual
questiona um edital que objetiva a contratação de empresa especializada na
prestação dos serviços de transporte de pessoas, documentos, cargas leves, cargas
médias e cargas pesadas em veículos com características prédeterminadas. A
empresa interessada foi inabilitada por possuir em seu CNPJ o código 4929.903
da CNAE (organização de excursões em veículos rodoviários próprios municipal)
e com a justificativa de que o código CNAE compatível com a atividade licitada é
o 49210/02 (transporte de passageiros locação de automóveis com motorista). No
caso exposto, a interessada foi impedida de participar somente porque seu CNPJ
apresentava atividade não exatamente idêntica à atividade licitada, ainda que
houvesse grande proximidade entre as atividades e outros meios de provar sua
aptidão. O TCU reprovou a exigência, em entendimento retratado no trecho
seguinte:
Enfim, não havia razão jurídica ou administrativa para conferirse
arbitrariamente tamanha proeminência à formalidade de anotação
cadastral, mais até que ao conjunto de fatores que indicavam a aptidão da
licitante a participar da competição e a oferecer propostas que
aumentariam a sua competitividade (Acordão nº 1203/2011, Plenário, rel.
Min. José Múcio Monteiro).
Além disso, o código CNAE não é o único meio de se provar a compatibilidade da
atividade da interessada com o objeto licitado. O objetivo principal de tal limitação
é comprovar que a empresa possui especialização prévia no ramo de atividade
licitado, o que pode perfeitamente ser provado por meio do contrato social da
empresa. Limitar tal comprovação à apresentação de um código CNAE específico
e, ao mesmo tempo, não aceitar outro meio de comprovação, como o contrato
social, pode ferir o caráter competitivo do certame. Este também é o
posicionamento adotado pelo TCU:
O CNAE não deveria, sozinho, constituir motivo para a inabilitação em
processo licitatório, havendo outros meios de comprovação da
compatibilidade do ramo de atuação da empresa com o objeto da
licitação, a exemplo do contrato social (Acordão nº 42/2014, Plenário, rel.
Min. Augusto Sherman).” [MARTIM, Luísa Paschoaleto. A exigência de
apresentação de código CNAE compatível com o objeto licitado em certames licitatórios.
Informativo Justen, Pereira, Oliveira e Talamini, Curitiba, nº 91, setembro de 2014,
disponível em www.justen.com.br/informativo, acesso em 08/07/2016].
Em função da inabilitação da empresa CEBRAMED, o certame licitatório foi considerado
fracassado e, em 19 de abril de 2012, foi publicado o aviso de repetição de sessão de
julgamento com data prevista para 02 de maio de 2012.
c) Inserção de cláusula habilitatória restritiva no edital após suspensão do certame.
Entretanto, na data de 24 de abril de 2012, o Diretor Presidente da FUNSAU solicitou a
devolução do processo nº 27/200.776/2011 para reavaliação, tendo sido publicado, em 26 de
abril de 2012, aviso de suspensão do certame licitatório.
Chama a atenção o fato de que a suspensão do certame licitatório promovida pelo Diretor
Presidente da FUNSAU não tenha sido devidamente motivada.
Em 14 de maio de 2012, o Diretor Presidente solicita ao Coordenador de Processamento de
Licitação, as seguintes alterações no processo:
Figura 3 – Solicitação de alteração do edital pelo Diretor-Presidente
Fonte: Processo nº 27/200.776/2011.
Em 22 de maio de 2012, o Chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular do Hospital Regional
justificou da seguinte forma a exigência de alteração do edital:
“Referente a justificativa técnica relacionada às exigências de habilidades técnicas
aos proponentes prestadores de serviço referente ao processo licitatório n°
27/200.776/2011, cumpre-me ressaltar que no instrumento de abertura do processo
licitatório em sua folha n° O5 já havia sido previamente solicitado que os
profissionais que executariam o serviço, apresentassem como condições mínimas
de expertise:
- Formação superior em área de saúde.
-Título de especialista em circulação extracorpórea, emitido pela Sociedade
Brasileira de Circulação Extracorpórea.
A exigência acima tem o um objetivo maior muito simples, salvaguardar a VIDA
dos pacientes que serão submetidos ao procedimento de circulação extracorpórea.
Trata-se de procedimento de alta especialidade e que exige experiência e expertise
do profissional em questão. Como poderemos nos certificar que o profissional
contratado seja apto para o serviço em questão? E que o mesmo não venha em suas
atividades, por em risco a vida dos pacientes que estão sob minha responsabilidade
medica e da equipe de Cirurgia cardiovascular - HRMS? SÓ temos uma maneira.
Exigir que os profissionais que prestarão o serviço nos comprovem a sua formação
e habilitação para tal função, da mesma maneira que qualquer outro profissional
da área de saúde ê obrigado fazê-lo em sua atuação profissional. A habilitação
desta atividade é atestada pela Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea,
portanto esta ê uma condição “Sine qua non" para aceitação dos profissionais em
questão. Portanto, solicito que estas exigências sejam respeitadas e incluídas no
edital, sob pena de expormos a vida de nossos pacientes a profissionais não
habilitados e preparados para o manejo destes pacientes graves.” (original sem
grifo)
As novas exigências impostas pelo Diretor Presidente do Hospital Regional de Mato Grosso
do Sul, referendadas pelo Chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular, favoreciam a
empresa CARDIOCEC, haja vista que em consulta realizada em 25 de setembro de 2012 ao
endereço eletrônico da Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea, para o Estado de
Mato Grosso do Sul, constavam apenas três perfusionistas com título de especialistas:
CPF:***.256.621-**, ***.776.601-** e ***.347.731-**, sendo o primeiro funcionário do
Hospital Regional, e os dois últimos sócios da empresa CARDIOCEC, que vieram a executar
o contrato de prestação de serviço.
No que tange às datas de emissão do CERCA pelas empresas participantes do certame
licitatório, constata-se que até a segunda sessão de julgamento (02 de maio de 2012) a
empresa CARDIOCEC não havia emitido o CERCA e que, se o Diretor Presidente da
FUNSAU não tivesse suspendido a licitação, a empresa CARDIOCEC não poderia
participar da sessão de julgamento, uma vez que sua certidão só foi expedida no dia 07 de
maio de 2012. Em seguida, foi publicado no DOE de 30 de maio de 2012 o Primeiro Adendo
ao Edital do PE nº 015/2012 prevendo-se a abertura de sessão para 14 de junho de 2012:
Quadro - Cronologia de eventos Pregão Eletrônico nº 015/2012.
Data Evento
13/02/2012 CEBRAMED emite CERCA.
03/04/2012 1ª Publicação do aviso de edital no DOE.
17/04/2012 Sessão de Julgamento (só a CEBRAMED participa e é desabilitada por conta de erro sanável no
CERCA. Pregoeira não dá prazo para regularização ou recurso).
19/04/2012 2ª publicação aviso de edital no DOE (previsão da sessão de julgamento para dia 02/05/2012).
24/04/2012 Diretor Presidente da FUNSAU solicita vistas do processo.
26/04/2012 Diretor Presidente da FUNSAU suspende a sessão.
07/05/2012 CARDIOCEC emite CERCA.
14/05/2012 Diretor Presidente da FUNSAU solicita alteração do subitem 4.1.6.III do edital (fl. 81).
30/05/2012 3ª publicação do aviso de edital no DOE.
14/06/2012 Sessão de Julgamento (A CARDIOCEC foi inabilitada porque não apresentou determinada
documentação fiscal. E a CEBRAMED também foi inabilitada porque a declaração, cujo modelo
não consta do edital, não estava redigida conforme o adendo do edital para o subitem 4.1.6,
inciso III. Outro erro sanável).
18/06/2012 4ª publicação do aviso de edital no DOE.
28/06/2012 Sessão de Julgamento (Só a CARDIOCEC disputou o Pregão, vencendo-o).
Fonte: Processo nº 27/200.776/2011.
d) Inabilitação indevida da CEBRAMED: declaração exigida não é prevista em lei
como documento habilitatório.
Na sessão de julgamento de 14 de junho de 2012 as empresas CARDIOCEC e CEBRAMED
apresentaram propostas de preços, entretanto foram desclassificadas. Embora a empresa
CARDIOCEC tenha apresentado a melhor proposta, a empresa foi desclassificada por
apresentar documentação fiscal vencida.
Em relação à empresa CEBRAMED, constatou-se que esta se encontrava “off-line” durante
a sessão de julgamento e sua proposta foi desclassificada por apresentar declaração
formalmente divergente do exigido no subitem 4.1.6, inciso III do adendo ao Edital do
Pregão nº 15/2012:
“III - Declaração de que possui ou contratará no mínimo dois profissionais de
formação superior da área de saúde devidamente habilitados, com especialização
como técnico em perfusão, com título de especialista em circulação extracorpórea,
emitido pela Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea ou de outra
instituição autorizada pelo MEC que atendam as exigências dos serviços descritos
no Termo de Referência - Anexo I “A", devendo atender o exposto no subitem 8.4.1
do edital.” (original sem grifo)
A empresa CEBRAMED apresentou a seguinte declaração com o intuito de atender o
subitem 4.1.6, inciso III do adendo ao edital:
Figura 4 – Declaração apresentada pela empresa CEBRAMED
Fonte: Processo nº 27/200.776/2011.
A Pregoeira informou o seguinte durante a sessão de julgamento do Pregão:
Figura 5 – Ata da Sessão de julgamento do Pregão
Fonte: Processo nº 27/200.776/2011.
Analisando-se a desclassificação da empresa CEBRAMED, constata-se que a inabilitação
do licitante foi indevida, tendo em vista que a declaração não é prevista em lei como
documentação habilitatória. Portanto o edital não poderia prever cláusulas que
desclassificassem as licitantes por documento sem previsão legal.
Este é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, conforme reproduzido abaixo:
“ADMINISTRATIVO. EDITAL DE LICITAÇÃO. EXIGÊNCIA DE
APRESENTAÇÃO DE ATESTADOS COMPROBATÓRIOS DE PRESTAÇÃO
ANTERIOR DE SERVIÇO IDÊNTICO OU SIMILAR AO DO OBJETO DA
LICITAÇÃO, ACOMPANHADOS DE EMPENHO, ORDEM DE SERVIÇO OU
NOTA FISCAL. MANDADO DE SEGURANÇA. ILEGALIDADE DO ATO.
RECONHECIMENTO, EM SEDE DE APELAÇÃO. RECURSO ESPECIAL.
ACÓRDÃO RECORRIDO INCENSURÁVEL. IMPROVIMENTO. Na realização de
licitação, se do edital, no item relativo à apresentação de documentos para
comprovar a qualificação técnica, são estabelecidas outras exigências não
previstas na legislação de regência (artigo 30, inciso II da Lei nº 8.666/93),
configura-se ilegalidade a ser reparada pela via do mandado de segurança.
Recurso improvido. (STJ - REsp: 316755 RJ 2001/0040498-7, Relator: Ministro
GARCIA VIEIRA, Data de Julgamento: 07/06/2001, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data
de Publicação: DJ 20.08.2001 p. 392</br> RSTJ vol. 149 p. 123)”
Ademais, o conteúdo das declarações teria de ser convalidado até a assinatura do contrato,
uma vez que o próprio adendo ao Edital do Pregão nº 15/2012 define que antes da assinatura
do contrato a empresa deveria apresentar os títulos de especialista em circulação
extracorpórea dos seus profissionais.
“8.4.1. Apresentar antes da assinatura do contrato Planilha de custos e Formação
de Preços, conforme modelo Anexo I “B” e documentos que comprovem a
exigência do inciso III do subitem 4.1.6. do edital” (original sem grifo).
e) Favorecimento à CARDIOCEC: Empresa vencedora não apresentou
documentação exigida no subitem 8.4.1 do edital
Na data de 23 de julho de 2012 foi assinado o Contrato nº 22/2012, entre a empresa
CARDIOCEC-Serviços, Comércio e Representações Ltda. e a Fundação Serviços de Saúde
de Mato Grosso do Sul.
Em relação ao cumprimento das exigências do edital de licitação, constatou-se a inexistência
no processo analisado de informações sobre o cumprimento do subitem 8.4.1 do adendo ao
Edital do Pregão Eletrônico nº 15/2012, reproduzido abaixo, demonstrando favorecimento à
empresa CARDIOCEC:
“ 8.4.1. Apresentar antes da assinatura do contrato Planilha de custos e Formação
de Preços, conforme modelo Anexo I "B" e documentos que comprovem a exigência
do inciso III do subitem 4.1.6 do Edital.”
Vale lembrar que a concorrente CEBRAMED havia sido desclassificada do PE nº 015/2012
por não apresentar a respectiva declaração nas formalidades do adendo ao edital.
f) Empresa vencedora iniciou a prestação dos serviços antes da assinatura do contrato
Embora, o Contrato nº 22/2012 tenha sido assinado em 23 de julho de 2012, em análise à
produção realizada pela empresa CARDIOCEC, anexa à Nota Fiscal nº 134, de 22 de agosto
de 2012, constatou-se que a referida empresa encontrava-se prestando serviços no Hospital
Regional desde a data de 02 de julho de 2012:
Figura 6 – Relação de Procedimentos realizados pela empresa CARDIOCEC
Fonte: Processo nº 27/200.776/2011.
Diante do exposto, ante todas as irregularidades e inconsistência listadas acima, tomadas em
conjunto, conclui-se que na realização do Pregão Eletrônico nº 15/2012 houve limitação ao
caráter competitivo do processo licitatório e indicativos de direcionamento e favorecimento
à empresa vencedora, cujos proprietários apresentam vínculos com o Diretor Presidente e o
Chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.4. Prejuízo de R$ 60.947,00 ao erário decorrente da execução parcial do objeto do
contratado.
Fato
O Pregão n° 15/2012 realizado pela FUNSAU/MS previu, em seu Termo de Referência, o
cumprimento de uma quantidade média de 40 perfusões que a empresa deveria realizar por
mês, o que resulta em um custo unitário médio de R$ 417,45 por perfusão.
A empresa CARDIOCEC apresentou anexo as Notas Fiscais a relação de procedimentos
realizados pela equipe de Cirurgia Cardíaca do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.
Em função do número de procedimentos informados pela empresa CARDICEC como
realizados, em cujos documentos fiscais não consta identificação de atesto do fiscal do
contrato ou de qualquer outro servidor responsável, identificou-se prejuízo de R$ 60.947,70
quando comparada a quantidade de perfusões realizadas com a quantidade prevista
contratualmente, conforme tabela abaixo:
Tabela1 – Procedimentos realizados
NF Valor Pago
(R$)
Qtde de
Procedimentos
(A)
Produtividade
Prevista (B)C=A-B
Prejuízo
(R$)
134 16.698,00 41 40 1 417,45
139 16.698,00 30 40 -10 - 4.174,50
142 16.698,00 24 40 -16 - 6.679,20
148 16.698,00 23 40 -17 - 7.096,65
151 16.698,00 31 40 -9 - 3.757,05
153 16.698,00 29 40 -11 - 4.591,95
155 16.698,00 30 40 -10 - 4.174,50
158 16.698,00 31 40 -9 - 3.757,05
160 16.698,00 25 40 -15 - 6.261,75
163 16.698,00 21 40 -19 - 7.931,55
165 16.698,00 27 40 -13 - 5.426,85
167 16.698,00 22 40 -18 - 7.514,10
TOTAL 200.376,00 MÉDIA = 27,833 - 60.947,70
Fonte: Processo nº 27/200.776/2011
Durante a vigência contratual de doze meses, a empresa contratada apresentou produção
média mensal de 27,833 procedimentos que, ao custo unitário de R$417,45, corresponde ao
valor médio mensal devido de R$11.619,02, ou seja, R$5.078,98 a menos do que os
R$16.698,00 mensais faturados pelas Notas Fiscais emitidas. Tal diferença representa
prejuízo total de R$ 60.947,70, o equivalente a 30,4% do montante pago.
Em relação ao cumprimento do artigo 67 da Lei 8.666, de 21 de junho de 1.993, constatou-
se a inexistência de designação de um fiscal do contrato:
“Art. 67. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por um
representante da Administração especialmente designado, permitida a contratação
de terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de informações pertinentes a essa
atribuição. ”
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
3. Consolidação de Resultados
Com base nos exames realizados, conclui-se que a aplicação dos recursos não está adequada
e exige providências de regularização por parte dos gestores federais.
Do montante fiscalizado de R$ 200.376,00 (duzentos mil, trezentos e setenta e seis reais),
foi identificado prejuízo de R$ 60.947,70 (sessenta mil, novecentos e quarenta e sete reais e
setenta centavos), o que representa 30,4% do total pago.
Destaca-se, por fim, a procedência da denúncia, considerando-se que durante os trabalhos
de auditoria foi constatada a existência de:
- Terceirização indevida da atividade-fim do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.
- Cláusulas restritivas ao caráter competitivo licitatório no edital do Pregão Eletrônico nº
015/2012.
- Direcionamento e favorecimento à empresa vencedora CARDIOCEC Serviços, Comércio
e Representações Ltda.
- Vínculo entre a empresa vencedora e o Diretor Presidente e o Chefe do Serviço de Cirurgia
Cardiovascular do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.