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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ - CERES DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - DEDUC CAMPUS DE CAICÓ DANIEL MEDEIROS DOS SANTOS A REPRESENTAÇÃO DA ESCOLA ATRAVÉS DO DESENHO CAICÓ 2015

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ - CERES

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - DEDUC

CAMPUS DE CAICÓ

DANIEL MEDEIROS DOS SANTOS

A REPRESENTAÇÃO DA ESCOLA ATRAVÉS DO DESENHO

CAICÓ

2015

DANIEL MEDEIROS DOS SANTOS

A REPRESENTAÇÃO DA ESCOLA ATRAVÉS DO DESENHO

Monografia apresentada ao curso de

Licenciatura Plena em Pedagogia da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, como requisito parcial para

obtenção do título de licenciado em

Pedagogia sob orientação da Professora

Drª Tânia Cristina Meira Garcia.

Caicó/RN

2015

DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado especialmente a duas pessoas, a primeira é a minha

avó Maria Francisca da Conceição (in memória), a quem a vida deu uma

oportunidade de viver e de evoluir, e me deu a honra de ter sido criado em meio aos

seus mais belos princípios de amor, compreensão e bondade. Uma mulher forte e

determinada diante dos obstáculos da vida, mas que em momento algum falhou com

sua sublime missão de viver e servir. A segunda pessoa é o meu pequeno príncipe

Winner Dérick Medeiros e Medeiros, sobrinho amado que toma conta de minha alma

e me encanta o ser a cada dia. Amo vocês.

AGRADECIMENTOS

Diante da oportunidade de viver e de realizar alguns feitos, é necessário

agradecer àqueles a quem a vida se encarregou de me apresentar e que em muitos

momentos foram pontes, parceiros, fiéis e inesquecíveis não só na construção deste

trabalho, mas em toda a história de minha formação.

Em primeiro lugar agradeço a Deus que me concedeu a oportunidade de

chegar até aqui, bem como a todos os espíritos amigos que em todos os momentos

de minha vida estão a me intuir e guiar pelo caminho do bem, da verdade e do amor.

Agradeço a toda minha família, em especial ao meu pai: Ednaldo Alves dos

Santos; minha mãe Maria da Conceição de Medeiros; minhas irmãs: Daniela

Medeiros e Silene Medeiros dos Santos, meu sobrinho Winner Dérick Medeiros e

Medeiros, Minha tia Maria Apolônia de Medeiros, por todo apoio, carinho, sorrisos e

atenção em diversas etapas deste processo.

Não poderia deixar de agradecer à minha segunda família: Cleide Maria da

Conceição Silva, Joaquim Garcia de Medeiros, Estela Garcia da Silva Medeiros,

Cleane Garcia da Silva Medeiros e Maria Inês de Souza.

Sou grato a Deus pela quantidade de amigos maravilhosos que tenho e que

são frutos de princípios baseados em amor e respeito. Infelizmente não dá para

ressaltar a importância de todos aqui, no entanto, isso não quer dizer que eu não

reconheça todo o afeto e reciprocidade em minha vida. Assim sendo, agradeço

àqueles que estiveram mais perto de minhas emoções neste processo de

construção do conhecimento e de formação para a vida, e que de alguma forma

contribuíram: Alexandre Medeiros dos Santos, Dinete Maria de Souza, Rita Cássia,

Ivana de Menezes Cabral, José Eliseu dos Santos Filho, Mateus Medeiros dos

Santos, Moisés Medeiros dos Santos, Saymon, Sávio, Ilda Márcia, Evania Kamila,

Ines, Bruna Cavalcante de Medeiros, Ana Viviane Teixeira de Medeiros, Joseildo

Soares Bezerra, João Paulo, Zoraide Fernandes, Cícera Queiroz, a equipe do

CRAS, Ilda Márcia, Stefany Oliveira, Allan Clode, Rodrigo Vaqueiro, e a todos os

meus colegas.

A todas as instituições de educação que nos apoiaram e oportunizaram

construções significativas.

Agradeço profundamente a minha orientadora Drª Tânia Cristina Meira

Garcia, fonte de muita inspiração ao longo da minha formação e especialmente da

elaboração deste trabalho. Muito obrigado.

“(...) Satisfações bem intensas para me fazer sentir que vale a pena viver,

satisfações da cultura que me farão sentir o possível desabrochar do homem, o

escândalo de sua sorte atual, um apelo à harmonia, uma exigência de harmonia, e a

satisfação de persuadir-me de que sou capaz de juntar-me a esses esforços.”

(GEORGES SNYDERS, 1988)

RESUMO

Investigar as problemáticas educativas advém de um anseio de mudanças e

qualificações na prática pedagógica em sala de aula. Nosso trabalho constitui-se em

investigar a representação que a criança possui da escola. Com isso, projetamos

nosso objetivo em descobrir qual o olhar da criança sobre a escola. Utilizamos o

desenho como instrumento de investigação para realizar a coleta dos dados, sendo

este fundamental, uma vez que pudemos interpretá-los e realizar descobertas que

possibilitaram uma reflexão sobre a própria escola e a criança em sua relação direta

com o ensino-aprendizagem. Embasados no que expõe Bédard (2013); Moran

(2012); Snyders (1988); Vygotsky (1991), Souza (1989); Piletti (1986); Barros (1988),

tivemos maior desenvoltura para elaborar este trabalho. De modo a mostrar que por

meio do desenho a criança revela um mundo de significados de sua realidade, e se

o professor oportuniza e colabora com as atividades de desenho em sala de aula e

em seguida se detém a estudá-los, certamente encontrará muitas respostas à

possíveis dificuldades de aprendizagem. Com os resultados da pesquisa,

percebemos que a maior parte das crianças deseja ir à escola, embora as

investigações tenha nos proporcionado refletir sobre a ausência do professor, bem

como de outros elementos que significam a aprendizagem, o que nos faz pensar que

a escola talvez não esteja conseguindo efetivamente dá maior sentido ao seu papel

enquanto instituição do saber. Significativo se faz que os professores estimulem e

possibilitem às crianças a realizarem desenhos, não como uma atividade pronta,

mimeografada, mas como um recurso livre dentro de objetivos a serem

concretizados.

Palavras-chave: Escola; Criança; Desenho; Ensino-aprendizagem.

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................. 8

1. A CRIANÇA E SUA RELAÇÃO COM A ESCOLA ........................................ 11

1.1. O ensino-aprendizagem e sua relação com as (des)motivações

educativas .............................................................................................. 14

2. O DESENHO E SUAS REVELAÇÕES .......................................................... 19

2.1. A representação da escola .................................................................... 26

3. REFLETINDO OS ACHADOS: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A DOCÊNCIA

....................................................................................................................... 35

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 43

5. REFERÊNCIAS .............................................................................................. 46

6. ANEXOS ........................................................................................................ 48

8

APRESENTAÇÃO

A escola é a referência e a esperança do ideal de sociedade exigido pela

humanidade, nela é depositada toda a confiança na emancipação do sujeito para

tornar-se um cidadão digno capaz de agir em conformidade com sua maneira de

pensar, de forma a promover modificações significativas no contexto social.

Dessa forma, considera-se pertinente as discussões na e sobre a escola a fim

de podermos encontrar maior clareza do papel desta na efetiva participação do

sujeito na sociedade. Precisamos assim, investigar a ideia que a criança possui

sobre a escola que frequenta, uma vez que à esta é designada a formação do

educando.

Compreendemos a relevância do espaço escolar para a formação do sujeito,

acreditando na convergência das relações estabelecidas com a família, do ponto de

vista que as mesmas devem ser parceiras e atuarem concomitantemente no intuito

de contribuir com as etapas de aprendizagem e de evolução do sujeito.

É preciso compreender a escola como um lugar de efetiva aprendizagem e

que possibilita ao sujeito construir conhecimentos para atuar em diversos aspectos

do seu cotidiano. Uma vez que a escola é o espaço definido para a transformação

pessoal e social da criança, esta precisa estar organizada e se desdobrar para

atender as suas especificidades.

Precisamos estar atentos no intuito de identificarmos se a escola está sendo

um espaço de satisfação para a aprendizagem da criança e para sua construção de

sociedade. Por isso se faz necessário descobrir qual a representação da escola para

a criança. Será que esta vai à escola porque é obrigada pela família? Será que a

escola lhe satisfaz? Será que a criança está acumulando traumas no espaço

escolar?

Perguntas como estas nos motivam a investigar o real motivo que leva a

criança a frequentar a escola, além de interpretar seus anseios de aprendizagem.

Possibilitando-nos enquanto pesquisadores a desvendar sonhos ou frustrações de

aprendizagem na escola.

Dessa forma, consideramos ninguém melhor que a própria criança para nos

dar respostas mais profundas sobre a representação da escola, bem como

apresentar os resultados acerca de um espaço escolar que venha a ser encantador,

com vistas a atender ao pleno desenvolvimento das capacidades: cognitiva, motora,

física, emocional e social.

9

É por meio da pesquisa que teremos suporte para investigar, analisar e

apresentar resultados sobre a representação da escola para a criança, uma vez que

é preciso compreender que a mesma se transforma em um espaço de formação

quando atinge às satisfações de aprendizagem e desenvolvimento da criança,

podendo em outro sentido vir a ser lugar refutado e indesejado pela criança, caso

não esteja em sintonia com os anseios da mesma.

Tendo em vista que a discussão sobre a área da Educação se amplia em

suas nuances, direcionamos nossas investigações para aspectos ligados a

representação que a criança tem da escola a partir da interpretação dos desenhos.

É dessa forma que pretendemos saber como contribuir com a educação, partindo de

um contexto base que é a instituição escolar, e neste caso, ninguém melhor que a

criança para definir o que a escola representa em sua vida e principalmente em sua

formação. Dessa forma, contamos com o apoio do Centro de Referência da

Assistência Social (CRAS), como campo de investigação para a realização da

pesquisa e consequentemente coleta de dados.

Os passos em busca da investigação e posterior produção do conhecimento

pessoal e profissional se deu com crianças na faixa etária de 7 a 8 anos que

integram a Escola Municipal Pe. Joaquim Félix. Foi criada pelo Decreto Executivo Nº

116 de 25 de julho de 1973, funcionando nos turnos matutino e vespertino

oferecendo à comunidade o Ensino Fundamental I e II. Situa-se à Rua João Manoel,

número vinte e cinco; Centro da cidade de São João do Sabugi/RN.

Definido o objeto de estudo, pautado em investigar a representação que a

criança tem da escola, construímos os nossos objetivos que vão permitir a

concretização de nosso trabalho. Dentre os quais podemos citar: Identificar

motivações reveladas pelas crianças para irem à escola; Descrever a representação

da escola para a criança; Pensar uma escola adequada e que atenda aos anseios

da criança. Ao fim de nossa pesquisa teremos condições de construir e mostrar os

resultados encontrados a partir dos objetivos supracitados.

Traçados os objetivos é preciso decidir por onde caminhar. A pesquisa

apresenta exigências e fases para se chegar a um possível resultado. Seus

desdobramentos foram realizados a partir de uma coleta de dados realizada no

Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), utilizando-se o desenho como

instrumento de investigação individual com crianças na faixa etária de 7 a 8 anos.

10

Naquele momento foi solicitado que as mesmas representassem o que a

escola significa para ela, em seguida solicitamos que cada criança descrevesse o

seu desenho. Dessa forma damos por concluída a primeira etapa da pesquisa.

A segunda etapa do processo investigativo refere-se a análise das

representações das crianças, encontrando dessa forma as possíveis respostas para

os objetivos propostos ao longo da pesquisa. Concluída a análise dos dados,

encerramos a segunda etapa.

A terceira etapa se caracteriza pela sistematização dos resultados encontrados

com a investigação realizada. Nesse momento discutimos a teoria e a prática, ao

mesmo tempo em que refletimos sobre um novo diagnóstico diante de uma

realidade investigada.

Assim sendo, o trabalho construído e apresentado aqui traz em seu primeiro

capítulo o resultado do nosso primeiro objetivo, que foi de identificar as motivações

reveladas pelas crianças para irem à escola. Neste capítulo esclarecemos os

principais motivos que levam as crianças se interessarem pela escola.

No segundo capítulo descrevemos a representação da escola a partir da

pesquisa realizada com as crianças. Utilizamos o desenho como instrumento

investigativo para concretização do nosso segundo objetivo.

O terceiro capítulo traz em sua composição a resposta ao nosso terceiro

objetivo, de pensar com base em toda a pesquisa realizada, a escola ideal no

tocante as satisfações de ensino/aprendizagem da criança. Seguido assim das

considerações finais a despeito dos resultados e dos desafios do nosso trabalho.

Procuramos dessa forma, discutir e enfatizar a relevância de um espaço

educativo adequado para uma melhor aprendizagem e desenvolvimento da criança

no seu ciclo de maturação e organização do conhecimento. Enfocamos a opinião da

criança no sentido de garantir-lhes uma melhor educação, uma vez que a escola é

sua segunda casa e precisa estar adequada às necessidade de aprendizagem da

mesma.

Para uma prática educativa eficaz é necessário o conhecimento em primeira

mão do ser a quem vai se educar, compreendendo seus anseios, seus medos, e seu

real sentimento pela instituição. Sem esquecer em nenhum momento que estamos

falando de um ser dotado de especificidades cognitiva, emotiva e motora.

11

1. A CRIANÇA E SUA RELAÇÃO COM A ESCOLA

Começai por estudar vossos alunos, pois é bem certo que não os conheceis.

A frase do filósofo Jean-Jacques Rousseau1 (1712-1778), muito nos propõe a

refletir sobre as interpretações deixadas nas entrelinhas. Certamente que, ao

refletirmos sobre o teor desse pensamento percebemos sua veracidade reinante na

realidade escolar.

Talvez não conheçamos nossos alunos tão quanto diz nosso pensamento, e

muitas vezes, fazemos do nosso ato de educar uma imposição do saber adquirido.

Em sua obra Emílio ou Da educação2, Rousseau nos propõe a estudar as crianças

antes de querer educá-las. Isso pode nos possibilitar a realização de um trabalho

educativo com maior segurança e consequente resultado significativo.

Por muito tempo a criança foi vista como um ser sem capacidade, sem

especificidades, convivendo com os adultos sem cuidados especiais, e sem

nenhuma demonstração de valor para com elas. O que as divergiam dos adultos era

apenas o seu tamanho, advindo daí a denominação de adulto em miniatura. Esse

conceito de incapacidade vem desde a epistemologia da palavra infância.

[...] a definição da palavra infância, oriunda do latim infantia,

significa ‘incapacidade de falar’. Considerava-se que a criança,

antes dos 7 anos de idade, não tinha condições de falar, de

expressar seus pensamentos, seus sentimentos. Desde a sua

gênese, a palavra infância carregava consigo o estigma da

incapacidade, da incompletude perante os mais experientes,

regulando-lhes uma condição subalterna diante dos membros

adultos. Era um ser anônimo, sem um espaço determinado na

sociedade. (CORDEIRO e COELHO 2007, p. 884).

Dessa forma as crianças conviviam com os adultos sem que esses lhes

votassem alguma preocupação, aprendiam pela vida e na convivência, não havendo

uma sistematização do conhecimento. Eram apenas guiadas pela família.

1Jean-Jacques Rousseau foi um importante filósofo, teórico, político, escritor e compositor autodidata suíço. É

considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo. 2 Obra filosófica sobre a natureza do homem, escrita por Jean-Jacques Rousseau em 1762, que disse Emílio foi o

melhor e mais importante de todas as minhas obras, aborda temas políticos e filosóficos referentes à relação do indivíduo com a sociedade, particularmente explica como o indivíduo pode conservar sua bondade.

12

A partir dos séculos XVI e XVII, devido ao alto índice de mortalidade infantil, a

sociedade passa a apresentar um interesse em reconhecer as necessidades e

características próprias da criança. Esta nova forma de pensar surge principalmente

como consequência das mudanças do pensamento e da estrutura familiar, além da

nova forma de organização da sociedade.

A partir de então muitas transformações sociais acarretaram um novo olhar

sobre a criança. Permitindo que esta fosse valorizada cada vez mais em suas

particularidades. Para Sarmento;

as crianças são seres sociais e, como tais, distribuem-se pelos diversos modos de estratificação social: a classe social, a etnia a que pertencem, a raça, o gênero, a região do globo onde vivem. Os diferentes espaços estruturais diferenciam profundamente as crianças (SARMENTO, 2004, p.10).

A criança passa então a ser compreendida como um ser pensante dotada de

especificidades e deve receber total apoio para o pleno desenvolvimento de suas

capacidades: física, motora, cognitiva, social e afetiva. A criança passa ser vista

como sujeito histórico, cultural e social, que constrói sua identidade nas relações

cotidianas com o outro, vindo a ser um sujeito crítico e reflexivo atuante no contexto

social o qual estiver inserindo.

A escola surge inicialmente com um caráter assistencialistas para dar suporte

às mães que passavam o dia nas fábricas. No final do século XIX, é que surge no

Brasil por influência europeia e como resultado das reivindicações dos operários e

do movimento feminista, a criação do número de instituições mantidas e geridas pelo

poder público, porém, não era reconhecido legalmente como um direito da criança.

Apenas na atualidade, com a promulgação da Constituição Federal do Brasil

de 1988, em seu Artigo 208, é que a educação é colocada como um direito da

criança e dever do Estado, permitindo a mesma frequentar uma instituição de ensino

para garantir o seu pleno desenvolvimento como sujeito.

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1998, p.13).

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Desde então a responsabilidade de educar tem sido designada à escola, no

entanto, o que se percebe é um elevado índice de analfabetismo, e principalmente

de desmotivação da criança para frequentar o espaço escolar. Por essa razão a

criança precisa entender o porquê de ir à escola, e criar a imagem da escola para si.

Dessa forma terá condições de querer permanecer naquele espaço projetado para

os desdobramentos das funções educativas.

Compreendemos assim, que a escola precisa refletir sobre seu papel para

com os educandos. Com isso, poderemos melhorar os índices de uma educação de

qualidade.

As escolas se preocupam principalmente com o conhecimento intelectual e hoje constatamos que tão importante como as ideias é o equilíbrio emocional, o desenvolvimento de atitudes positivas diante de si mesmo e dos outros, o aprender a colaborar, a viver em sociedade, em grupo, a gostar de si e dos demais. (MORAN, 2012, p.56).

A escola reflexiva é aquela que gera conhecimentos sobre si como escola

específica, e desse modo, contribui para o conhecimento sobre a instituição.

Precisamos concordar com a autora sobre o papel relevante do ato de refletir, e

procurar entender porque a educação não está através da escola conseguindo

atingir o seu papel.

Buscamos pensar se a escola está sendo o lugar desejado pela criança, será

que a mesma encontra alegria naquele espaço? A motivação é um dos fatores que

nos leva a desenvolver nossas competências enquanto sujeitos. E se a escola não

está sendo um espaço que proporciona essa satisfação à criança, a mesma tende a

refutar o espaço escolar, ou se sente obrigada a estar ali contra sua vontade,

transformando uma parte de sua vida em um tormento de obrigação. Sobre isso

Moran ressalta que:

A educação tem de surpreender, cativar, conquistar os estudantes a todo o momento. A educação precisa encantar, entusiasmar, seduzir, apontar possibilidades e realizar novos conhecimentos e práticas. A escola é um dos espaços privilegiados de elaboração de projetos de conhecimento, de intervenção social e de vida. É um espaço privilegiado de experimentar situações desafiadoras do presente e do futuro, reais e imaginárias aplicáveis ou limítrofes. Promover o desenvolvimento integral da criança e do jovem só é possível com a união do conteúdo escolar e da vivência em outros espaços de aprendizagem. ( MORAN, 2012, p.21).

14

As crianças têm uma facilidade de absorver e de representar tudo ao seu

redor, principalmente enfatizando o que lhes é mais marcante. Percebemos que a

escola precisa de mudanças e de uma nova reconfiguração, e acreditamos que a

criança seja capaz de representá-la sobre outra ótica.

Segundo Lane (1993), representar tem a ver com a verbalização das

compreensões dos indivíduos sobre o mundo e, assim, é através dela, que se pode

buscar entender os aspectos relacionados aos comportamentos sociais observáveis

e registráveis. Dessa forma, esperamos que as crianças possam representar a

escola a qual atenda sua satisfação.

Por meio da representação poderemos constatar realmente o que a criança

absorveu, e também por meio desta como resultado do processo cognitivo, teremos

condições de investigar e mostrar resultados reflexivos para propor a construção de

uma escola almejada pelo educando.

1.1 O ensino-aprendizagem e sua relação com as (des)motivações educativas

É necessário que deixemos claras as características gerais de

desenvolvimento das crianças que se encontram dentro da faixa etária que vai de 7

a 8 anos de idade, dessa forma teremos maior propriedade para realizar nosso

trabalho com segurança e desenvoltura.

Com base no que expõe Souza (1989) em seu livro Psicologia: a

aprendizagem e seus problemas, a criança de sete anos é mais calma e

concentrada. Está em uma fase de assimilação tentando equilibrar suas angústias

internas com as exigências do meio que a circunda. Nesse período a criança passa

a fazer relações presentes com fatos já acontecidos, gostando de ler e ouvir mais de

uma vez a mesma história. Encontra-se ainda em uma faixa de sensibilidade muito

alta, onde constatamos a alternância de humor.

Outra característica comum nessa idade, é que a criança ainda não possui

literalmente formada seu senso de propriedade, o que pode acarretar muitas vezes

que a mesma venha a pegar objetos de seus colegas e até mesmo do professor.

Nessa fase mostra-se ainda bastante envolvida pelo cosmos: a Lua, as nuvens, o

céu, etc.

O professor deve agir sempre tentando encaminhá-la para seu senso de

propriedade, de forma a não causar nenhum constrangimento ou humilhação.

Enfatizando ainda que as atividades devem ser variadas para que possam despertar

senso de atitude e reflexão na criança.

15

Já a criança de oito anos está mais madura nas relações com o meio o qual

convive, entende melhor as relações entre os sujeitos e absorve melhor suas

reações. Nesta idade a criança encontra-se mais curiosa e com mais energia,

buscando jogos mais barulhentos e agitados tendo um ritmo psicomotor intenso.

Nesta fase a criança gosta de escutar conversas de adultos e nutrem uma

profunda admiração pelos pais. Já possui uma postura de mais responsabilidade e

independência.

O professor deve possibilitar oportunidades para a criança expandir suas

energias, bem como proporcionar trabalhos em grupo, pois a mesma se mostra mais

curiosa e com disposição para interagir e aprender.

A compreensão do processo ensino-aprendizagem é fundamental para que

uma aula seja interessante e tenha sentido positivo e transformador na vida do

aluno, tornando-o capaz de mostrar suas competências e habilidades uma vez que

se envolve com o professor e com o conteúdo ensinado.

Além de conhecer o aluno é necessário que o professor conheça como

funciona o processo de aprendizagem; identifique quais os fatores que influenciam

de forma positiva ou negativa a aprendizagem do aluno; como este pode aprender

de maneira mais eficaz e perceber qual o ritmo da turma.

Podemos incluir neste aspecto um ponto que se torna relevante para uma

efetiva ação docente com qualidade, a compreensão do professor a respeito do seu

papel de educador.

O professor não é o senhor absoluto, dono da verdade e dono dos alunos, que manipula a seu bel-prazer. Os alunos são pessoas humanas, tanto quanto ele, e seu desenvolvimento e sua liberdade de manifestação precisam respeitados pelo professor. Na medida em que isso acontecer, o professor chegará à conclusão de que não é apenas uma maquininha de ensinar ou um gravador ou qualquer outro aparelho. (PILETTI, 1986, p.21).

Dessa forma compreendemos que o professor necessita livrar-se de hábitos

arcaicos de imposição do conhecimento para que o aluno aprenda. Ele é tido como

referencial e precisa pensar e agir em coerência com as necessidades educativas

dos alunos, não acreditando que é o detentor do conhecimento ou punindo os

alunos, pensando estar contribuindo para a aprendizagem, ou muito menos dar

recompensa aos mesmos.

É preciso que o professor compreenda a fase a qual a criança se encontra e

como esta se sente no ambiente escolar. Além disso, é primordial que a

16

aprendizagem tenha seu conceito e aspectos bem definidos na atuação do professor

em sala de aula, a fim de sanar possíveis dificuldades e principalmente de não

desmotivar as crianças em seu processo de desenvolvimento.

Segundo Falcão (1985), “a aprendizagem é a modificação relativamente

duradoura do comportamento através de treino, experiência ou observação, e

implica em progresso e evolução”. Dewey (1995) afirma que, se o aluno não

aprendeu o professor não ensinou; se o aluno não aprendeu, o esforço do professor

foi uma tentativa de ensinar, mas não ensinou, assim como, no comércio, se o

freguês não chegou a comprar o comerciante não pode dizer que vendeu.

A aprendizagem está sempre acontecendo em nossas vidas, seja na escola

ou fora dela, seja sozinhos ou acompanhados, de forma sistemática, organizada ou

não. A realização desse processo segundo Piletti (1986) depende de três elementos

principais:

1º Situação estimuladora: que é a soma dos fatores que estimulam os órgãos dos

sentidos da pessoa que aprende. Ex: um nome falado em voz alta.

2º Pessoa que aprende: Individuo atingido pela situação estimuladora. Para a

aprendizagem são importantes os órgãos dos sentidos, afetados pela situação

estimuladora; o sistema nervoso central, que interpreta a situação estimuladora e

ordena a ação.

3º Resposta: Ação que resulta da estimulação e da atividade nervosa. Ouvindo seu

nome, por exemplo, a pessoa responde.

Mouly (1973) concebe que sem motivação não há aprendizagem. Não adianta

o professor insistir quando o aluno não se encontra motivado a aprender, sem contar

que o professor pode criar bloqueios e dificultar a socialização do aluno quando não

motiva ou quando não compreende o processo de aprendizagem do mesmo.

Corroborando com este pensamento afirma-se:

A motivação é fator fundamental da aprendizagem. Pode ocorrer aprendizagem sem professor, sem livro, sem escola e sem uma porção de outros recursos. Mas mesmo que existam todos esses recursos favoráveis, se não houver motivação não haverá aprendizagem (PILETTI,1986, p.63).

Segundo Mouly (1973), motivar significa predispor o indivíduo para certo

comportamento desejável naquele momento. Para ele há três funções importantes

dos motivos:

1º Os motivos ativam o organismo: Os motivos levam o indivíduo a uma atividade,

na tentativa de satisfazer suas necessidades. Qualquer necessidade gera tensão,

17

desequilíbrio. Os motivos mantêm o organismo ativo até que a necessidade seja

satisfeita e a tensão desapareça.

2º Os motivos dirigem o comportamento para um objetivo: Diante de uma

necessidade, vários objetivos se apresentam como capazes de satisfazê-la, de

restabelecer o equilíbrio. Os motivos dirigem o comportamento do individuo para o

objetivo mais adequado para satisfazer a necessidade.

3º Os motivos selecionam e acentuam a resposta correta: As respostas que

conduzem à satisfação das necessidades serão aprendidas, mantidas e

provavelmente repetidas quando uma situação semelhante se apresentar

novamente. Assim, melhor do que afirmar que o professor deve motivar o aluno, é

dizer que ele deve apresentar objetivos adequados para a satisfação dos motivos.

Apesar de constatarmos a importância da motivação para a aprendizagem, a

maioria dos professores não está preocupada com esse fator. Sua maior

necessidade consiste em explicar o conteúdo, cobrar nas provas, e dar notas.

Motivar os alunos para que se interessem pelo conteúdo a fim de fazê-los estudar de

forma mais independente e criativa passa longe dos planos de muitos professores.

Um olhar mais perscrutador sobre o aluno, talvez pudesse possibilitar ao

professor descobrir o que se passa no mundo de cada um de seus alunos. E

descobrir com isso que às vezes, a dificuldade em aprender pode ter sua origem na

não satisfação de algumas necessidades que acabam antecedendo a necessidade

de conhecimento.

Dessa forma afirma-se que:

O aluno pode ter dificuldade em aprender por estar com fome ou cansado, por estar inseguro quanto ao futuro, por estar isolado na família ou no grupo de colegas, por sentir-se desprezado ou inferiorizado, ou por sentir-se frustrado em relação a muitos de seus planos e objetivos. Dessa forma, há um longo caminho a percorrer antes que o professor possa entender por que um, vários, ou todos os alunos têm dificuldades em entender o que ele está tentando ensinar. (PILETTI,1986, p. 69).

A partir dessa compreensão o professor pode atuar em sala de aula com

maior segurança e garantir realmente que a aprendizagem se efetive e que as

crianças tenham uma visão significativa da escola.

Ainda falta muito para atingirmos um padrão de qualidade na educação,

mesmo assim, constatamos através da pesquisa realizada - no Centro de Referência

da Assistência Social (CRAS) no dia 05 de março do ano de 2015, com as crianças

compreendendo faixa etária de 07 a 08 anos - que um número significativo de

18

crianças confirmara que a escola é um “lugar maravilhoso” onde “aprendem”,

“brincam”, e “conhecem muitas coisas”. Alguns deixam claro que a escola é a vida

deles; outro que a escola é um exemplo. Apenas duas crianças revelaram não

gostar de ir à escola por não saber escrever e por haver brigas, o que também não

quer dizer que não gostem da escola, talvez guardem alguma frustração dentro

desses aspectos.

Isso mostra que a escola continua sendo um lugar de referência para a

criança, que naquele espaço ela se encontra em convívio com demais pessoas que

contribuem para o seu crescimento. As crianças entendem que a escola é lugar de

conhecimento e aprendizagem e levam consigo uma vontade de aprender toda vez

que caminham até lá.

O que na maioria das vezes está faltando é uma maior percepção de alguns

profissionais que trabalham diretamente com a criança, para que possa entendê-la

melhor em suas especificidades, e não deixar passar despercebida as suas

necessidades de aprendizagem.

As crianças podem ser espontâneas ou podem se retrair dependendo do

ambiente e do tratamento recebido. Por isso é fundamental que os profissionais da

educação mantenham sua postura e ética ao realizar seu trabalho, dessa forma, não

estarão agindo com olhar preconceituoso sobre o perfil ou comportamento de

determinada criança. E agir dessa forma é pôr obstáculos em uma relação de ensino

aprendizagem, que termina por causar bloqueios no aluno.

O preconceito é um julgamento feito antes do conhecimento da pessoa ou do aluno; é um juízo que formamos a partir de um fato limitado, isolado, e que generalizamos para a pessoa como um todo (...) e compreender as bases do preconceito é uma maneira de combatê-lo, uma vez que não se baseia na realidade, mas em um aspecto parcial dela. (PILETTI,1986,p.82).

Acreditamos que a escola tem um papel relevante na vida da criança, e

poderemos constatar isso através das pesquisas e de um estudo analítico mais

profundo. Elas estão sempre nos revelando algo, e é preciso estar atentos para

perceber e interpretar o que seus gestos mais sublimes estão contanto.

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2. O DESENHO E SUAS REVELAÇÕES

Os desenhos infantis começaram a despertar curiosidade e interesse a partir

do final do século XIX, nesse contexto as crianças desenhavam no chão ou em

paredes utilizando gravetos e carvão. O artista italiano Conrado Rizzi demonstrou

bastante interesse em desenhos de crianças nas paredes, e passou a estudá-los e

fazer suas reflexões acerca dos mesmos, publicando em 1887 o livro “A arte das

crianças pequenas”, onde registrou seus estudos sobre o tema.

Barros (1988) afirma que o desenho é reconhecido atualmente como meio

para conhecer a vida mental da criança, sendo um método de investigação

psicológica, considerado uma técnica projetiva pela qual a pessoa revela aspectos

de sua vida mental. Sendo assim, são usados com a finalidade de investigar o que

está na mente da criança e até de adultos. Ao desenhar, a criança representa o

significado daquilo que está em sua mente, uma vez que o objeto não está em sua

presença. Dessa forma:

[...] o desenho é uma linguagem gráfica que surge tendo por base a linguagem verbal. Nesse sentido, os esquemas que caracterizam os primeiros desenhos infantis lembram conceitos verbais que comunicam somente os aspectos essenciais dos objetos. (VYGOTSKY, 1991, p. 127).

Segundo Barros (1988), a partir dos desenhos feitos por uma criança,

podemos perceber seus interesses, preferências, conflitos emocionais e até mesmo

avaliar seu nível de inteligência.

Para termos conhecimento desses aspectos da vida mental da criança,

precisamos levar em conta seus temas preferidos, observarmos o uso das cores, os

traços e figuras, suas expressões faciais, bem como seus monólogos ao realizar o

desenho.

É assim que, por meio do desenho, a criança cria e recria individualmente formas expressivas, integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade, que podem então ser apropriadas pelas leituras simbólicas de outras crianças e adultos. Enquanto desenham ou criam objetos também brincam de “faz-de-conta” e verbalizam narrativas que exprimem suas capacidades imaginativas, ampliando sua forma de sentir e pensar sobre o mundo no qual estão inseridas. (BRASIL, 1998, p. 93).

Vygotsky (1989) afirma que “a linguagem verbal é a base da linguagem

gráfica”, e classifica o desenvolvimento da expressão a qual dá o nome de gráfico-

plástica nas seguintes etapas:

20

I) Etapa simbólica - É a fase dos conhecidos bonecos que representam, de modo

resumido, a figura humana. Esta etapa é descrita por Vygotsky como o momento em

que as crianças desenham os objetos "de memória" sem aparente preocupação com

fidelidade à coisa representada.

II) Etapa simbólico-formalista - É a etapa na qual já se percebe maior elaboração

dos traços e formas do grafismo infantil. É o período em que a criança começa a

sentir necessidade de não se limitar apenas à enumeração dos aspectos concretos

do objeto que representa, buscando estabelecer maior relação entre o todo

representado e suas partes, já se pode perceber o início de uma representação mais

próxima da realidade.

III) Etapa formalista veraz - Nesta fase, as representações gráficas são fiéis ao

aspecto observável dos objetos representados, acabando os aspectos mais

simbólicos, presentes nas etapas anteriores.

IV) Etapa formalista plástica – Identifica-se uma nova forma, um novo modo de

desenhar, pois como um desenvolvimento das habilidades motoras, o grafismo deixa

de ser uma atividade com fim em si mesma e converte-se em trabalho criador. No

entanto, há uma diminuição do ritmo dos desenhos que permanecem mais entre

aqueles que realmente desenham porque sentem prazer neste ato criador.

É necessário que o professor dê um pouco mais de relevância aos desenhos

infantis numa tentativa de interpretar os traços, as formas e principalmente as cores,

uma vez que estes têm muito a revelar. Bédard (2013)3 diz que o desenho

representa, em parte, a mente consciente, mas também, e de uma maneira mais

importante, faz referência ao inconsciente, pois sem perceber, a criança transporta

seu estado anímico ao papel.

A autora afirma que:

3 Nicole Bédard é uma pedagoga canadense. É conselheira em análise de desenhos e de contos para

crianças (psico-contos). A autora é formada em Andragogia e é professora e conferencista há cerca

de dez anos no domínio da Caracterologia, que compreende o estudo da morfologia, da linguagem

corporal assim como a análise da escrita.

21

A simbologia de cada uma das cores admite duas interpretações, uma positiva e uma negativa. O estilo do desenho e o conjunto das cores determinam que nos inclinemos sobre uma ou outra dessas interpretações. Ao falar da influência das diferentes cores, não nos referimos em absoluto ao efeito estético ou decorativo (...) o que nos interessa é a mensagem, plasmada consciente ou inconscientemente. Tanto se as cores empregadas forem apropriadas( o marrom para o tronco de uma árvore e o verde das folhas), como se forem contra toda a lógica( a água de cor rosa e o sol verde), é necessário manter-se vigilante. (op. Cit. 2013, p. 31).

Assim sendo a autora traz os indicativos das cores nos desenhos das

crianças, o que nos possibilitará o conhecimento, facilitando a interpretação dos

mesmos e um estudo qualificado.

O Vermelho: É a primeira cor que a criança aprende a distinguir. A criança

que utiliza preferencialmente esta cor pode querer dizer que sua natureza é

energética e que possui certo espírito desportivo, ou também que está

vivendo algum tipo de agressividade que pode ser destrutiva. Esta cor

representa o sangue, a vida e o ardor, é uma cor fundamentalmente ativa. O

vermelho acompanhado do negro deverá ser interpretado com certo

discernimento, posto que o negro bloqueia a energia do vermelho. Pode

tratar-se de uma criança que aparentemente não mostra nenhuma

agressividade, porém, num dia, quando menos se esperar, a ansiedade e a

angústia podem manifestar-se nela de um modo explosivo. A própria criança

tão pouco se entende; não obstante a tensão irá acumulando-se e chega um

momento em que já não pode controlá-la, nem consciente nem

inconscientemente.

O amarelo: Esta cor representa o conhecimento, a curiosidade e a alegria de

viver. A criança que utiliza com frequência esta cor nos seus desenhos

costuma ser mais expressiva do que as outras. É de natureza generosa,

extrovertida, otimista e muito ambiciosa. Alcançará suas metas com grade

facilidade, pois seu potencial é enorme. Quando o amarelo for realmente

excessivo, encontramo-nos perante uma criança que, sem ser hiperativa,

gosta de planificar seu tempo com suficiente antecipação. É exigente consigo

mesma e com os demais e pode chegar a tornar-se esgotante para aqueles

que a rodeiam.

O laranja: Composto do vermelho e do amarelo, o laranja está entre as cores

mais brilhantes, expressa uma necessidade de contato social e público. A

22

criança, que nos seus desenhos, prefere os tons alaranjados costuma

inclinar-se pela novidade e pelas coisas que realizam de um modo rápido.

Desfruta dos jogos de grupo, onde demonstra seu espírito de equipe e de

competência, sobretudo se lhes concederem algum tipo de poder ou de

licença. É uma criança impaciente por natureza, não lhe atraem os jogos que

exigem concentração e possui um certo sentido de observação. Tanto seus

gestos como sua linguagem são rápidos ou inclusive precipitados.

Geralmente sabe como se afirmar, não apenas entre os seus, mas também

em qualquer ambiente novo.

O azul; O azul é a última cor que a criança distingue. Simbolicamente a paz,

a harmonia e a tranquilidade; não obstante pode, também, refletir um certo

aspecto linfático. A criança que prefere o azul a qualquer outra cor está

dizendo-nos que é introvertida e que deseja caminhar pelo seu próprio ritmo.

Não devemos forçá-la e nem fazê-la mudar de hábitos. Seus amigos não

serão muito numerosos e serão ocasionais. Entretanto, se a criança não se

encaixar bem ao estilo do desenho, a criança trata de fazer-nos compreender

que se encontra num meio demasiado exigente e que desejaria um pouco de

paz. A energia do azul é suave e tranquila. Se a criança for hiperativa, não é

aconselhável pintar de azul a sua casa. Por ser esta uma cor totalmente

oposta as suas necessidades, não se sentirá bem com ela. Em todo caso o

verde é uma cor que a acalmará e a favorecerá.

O verde: O verde representa a Natureza. Tem o mesmo efeito que as folhas

das árvores que filtram e purificam o ar. Compõe-se do amarelo e do azul,

refletindo assim a curiosidade, o conhecimento e o bem-estar. A criança que

utiliza com frequência o verde está mostrando certa maturidade. Compreende

as coisas que são explicadas e em seguida aproveita experimentando-as por

si mesma. De natureza sensível e intuitiva, sabe quando mentem para ela ou

quando escondem certos fatos. Sua imaginação se compensa pela sua

iniciativa. Sua energia física é muito constante e é raro que fique doente.

Contudo, se nos seus desenhos utilizar mal o verde, é que se sente ou se

acredita superior aos demais. Seu forte ego pode chegar a ofender outros.

O negro: Com frequência o negro é uma cor mal interpretada. Os pais se

inquietam quando o desenho dos seus filhos contém muito negro, pois

costumam associá-lo às forças do mal ou aos maus pensamentos. Na

realidade o negro representa o inconsciente, tudo aquilo que não vemos,

23

levando em conta que geralmente se prefere o visível, o palpável e o

previsível, numa palavra, o seguro. A criança que habitualmente utiliza o

negro está transmitindo-nos que tem confiança em si mesma, ou seja, que o

dia de amanhã não a assustará facilmente. É uma criança que se adapta com

facilidade às situações imprevistas que o destino oferecer. Como podem

constatar, não se trata de uma cor negativa, à priori. Não obstante, existe um

negro que também pode trazer uma mensagem ambígua ou inclusive

decididamente nefasta. Neste caso a criança estaria dissimulando seus

pensamentos, velando certos segredos que ela considera seus. Poderia ser

uma forma de autoproteção. Quando o negro vier acompanhado do azul,

podemos estar diante de uma criança depressiva, com tendência a se sentir

derrotada.

O rosa: O rosa é formado pelo vermelho atenuado pelo branco, razão pela

qual a energia inerente ao vermelho diminui em sua intensidade. A criança

que se apega ao rosa procura suavidade e ternura. Deseja conhecer e ter

contato só com as coisas agradáveis e fáceis. Seu lado positivo é que esta

criança é adaptável e se torna fácil estabelecer um bom contato com ela. O

aspecto negativo é a sua vulnerabilidade diante das situações mais ou menos

agradáveis. Antigamente o rosa era relacionado com o lado feminino,

enquanto o azul estava ligado ao lado masculino. Ao utilizar o rosa, a criança

faz-nos saber que lhe agrada sua condição de criança e que deseja

permanecer nela todo tempo que for possível, o que pode denotar

dificuldades na hora de aceitar alguma responsabilidade, ainda que seja

mínima.

O malva: Composto do vermelho e do azul, esta cor engloba vários

elementos. A criança que prefere a cor malva distingue-se das demais tanto

por sua atitude como por seu comportamento. Agrada-lhe comprometer-se

com entusiasmo, porém, consciente ou inconscientemente, o que faz na

realidade é passar por tudo. Trata-se de um tipo de criança que é por sua vez

extrovertida e introvertida. Poderíamos dizer que alterna dois períodos:

durante um certo tempo parece integrar-se muito bem aos demais e, em

seguida, retira-se, abandonando o grupo que parecia ser tão favorável a ela.

O marrom: Esta cor está relacionada com o elemento terra, com a

estabilidade, a estrutura e a planificação. A criança que emprega com

frequência o marrom aprecia a segurança, a boa alimentação, uma cama fofa

24

e a roupa confortável. Quando a cor está bem integrada no conjunto do

desenho, está mostrando-nos uma criança estável e minuciosa, paciente por

natureza, ainda que, com reações um pouco lentas. É necessário dar-lhe

tempo para que possa avaliar bem uma determinada situação. Preferirá o que

já possui às novidades. Não é uma criança que se torne louca por jogos, mas

que se sentirá muito mais inclinada pelas coleções. É importante não tocar

em suas coisas, pois cada uma delas estará perfeitamente colocadas no seu

lugar. Como é hábito dizer: “cada coisa no seu lugar e um lugar para cada

coisa”. Seus costumes tão organizados poderão parecer monótonos, mas o

fato é que ela se sente bem assim.

O cinza: O cinza forma-se com negro e o branco. A criança que o utiliza

abundantemente oscila entre o conhecido e o desconhecido. Está passando

por um período de transição, tem um pé no passado e outro no futuro. Se for

demasiado frequente indica-nos que lhe falta segurança nas suas escolhas e

poderia ser facilmente influenciável. Pode inclusive chegar a reagir como um

camaleão diante das diferentes situações. Pode dizer sim, quando isto é o

que se espera dela e não, quando se quer que diga não. Esta criança pode

também ter uma certa tendência a remoer excessivamente frustrações

passadas.

O branco: É muito raro que a criança utilize o lápis branco, pois em geral

prefere deixar os espaços vazios. Com frequência costuma-se considerar o

branco uma cor desfavorável, mas não se deve esquecer que purifica e

neutraliza e pode eliminar totalmente os elementos passados. É como

começar de novo, querendo apagar ou negar tudo o que aconteceu ontem.

Seu aspecto positivo está relacionado com o infinito, o não-temporal, ainda

que sua utilização excessiva possa significar que a criança não deseja que

lhe imponham restrições nem obstáculos para suas manifestações.

O desenho de uma só cor: Os desenhos realizados em uma só cor têm uma

grande importância. Podem denotar preguiça ou falta de motivação. Talvez

tenha sido o ambiente o que tenha obrigado a criança a sentar-se a desenhar

para que não a incomodem ou para conseguir uma certa tranquilidade. Não é

esta, porém, o tipo de situação que nos interessa e sempre devemos levar em

consideração as circunstâncias presentes, a fim de não realizar uma

interpretação viciada. A uniformidade na cor dentro de um mesmo desenho

está enviando-nos uma mensagem clara e precisa. Neste tipo de

25

interpretação não há nada equivocado. É como se a criança não quisesse

esconder nada de nós; ao contrário, deseja ser descoberta e compreendida.

Ao elaborar menos a cor, exagera a importância dos traços e das formas.

Devemos levar em consideração que na primeira fase é normal que a criança

continue até o fim com a primeira cor que começou. Se posteriormente

acrescentar outras cores, manifestará um desejo de acrescentar certo valor

ao tema.

De posse de um conhecimento mais embasado sobre o sentido e o significado

das cores nos desenhos infantis, temos condições de usá-los como suporte

investigativo sobre a realidade vivenciada pelo educando, conseguindo desvelar o

que vai em seu mundo mental.

É necessário que o professor possa se apropriar deste recurso em suas aulas,

não como mera atividade artística, mas como um instrumento capaz de permitir à

criança manifestar seus anseios, desejos e frustrações.

É justamente através do desenho que a criança usa a imaginação e representa o

seu mundo mental, dando sentido e significado ao que guarda das vivências

cotidianas, seja no espaço escolar seja no ambiente familiar. Assim sendo,

compreende-se a relevância do desenho e sua capacidade expressiva de revelar.

O desenho configura um campo minado de possibilidades, confrontando o real, o percebido e o imaginário. A observação, a memória e a imaginação são as personagens que flagram esta zona de incerteza: o território entre o visível e o invisível" (DERDYK, 1989, p. 115).

O professor em desenvolvimento de seu ofício pode e deve possibilitar à

criança o acesso a arte de desenhar. Não limitando tempo, espaço e material,

mas deixando-a o mais à vontade possível e oferecendo uma diversidade de

recursos que facilitem a expressão de seu pensamento, sentimentos e

imaginação.

Este cuidado é essencial para favorecer um desempenho de qualidade na

hora de fazer as atividades que envolvam o desenho. Dessa forma o Referencial

Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) diz que:

26

Quando se tratar de atividades de desenho ou pintura, é aconselhável que o professor esteja atento para oferecer suportes variados e de diferentes tamanhos para serem utilizados individualmente ou em pequenos grupos, como panos, papéis ou madeiras, que permitam a liberdade do gesto solto, do movimento amplo e que favoreçam um trabalho de exploração da dimensão espacial, tão necessária às crianças desta faixa etária. (BRASIL, 1998, p. 98).

Dessa forma compreendemos o quão importante é a atenção que o professor

necessita possuir ao propor um desenho à criança, e principalmente estar atento às

condições do meio para efetivação da proposta. Em complemento ao que está na

citação acima, o Referencial Nacional Curricular para a Educação Infantil coloca

que:

Para que a criança possa desenhar, é importante que ela possa fazê-lo livremente sem intervenção direta, explorando os diversos materiais, como lápis preto, lápis de cor, lápis de cera, canetas, carvão, giz, penas, gravetos etc., e utilizando suportes de diferentes tamanhos e texturas, como papéis, cartolinas, lixas, chão, areia, terra etc. Há várias intervenções possíveis de serem realizadas e que contribuem para o desenvolvimento do desenho da criança. (op. Cit. 1998, p. 100).

O professor deve se desdobrar para dar maior atenção aos desenhos das

crianças, uma vez que esses manifestam uma representação do seu pensamento.

Questionar os desenhos é imprescindível para o acompanhamento do

desenvolvimento da aprendizagem. O desenho representa o que a criança na

maioria das vezes não consegue ainda expressar através de códigos linguísticos.

2.1. A representação da escola

Á fim de concretizar o segundo objetivo da nossa pesquisa sobre a

representação da escola pela criança, buscamos outro espaço diferente da

instituição escolar, como já nos referimos anteriormente, com o objetivo de deixar a

criança mais à vontade na hora de realizar seu desenho, a fim de que a mesma não

recebesse nenhuma influência por estar dentro de uma sala de aula. Dessa forma, a

criança teria maior espontaneidade para realizar suas impressões sobre a escola.

27

Assim sendo, nossa coleta de dados ocorreu nas dependências do Centro de

Referência da Assistência Social (CRAS), que fica localizado na cidade de São João

do Sabugi4, situado à Rua Isabel Idalina de Azevêdo.

O CRAS é uma unidade pública estatal, integrante do SUAS (Sistema Único

de Assistência Social), segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate

à Fome (MDS), que deve ser implantado em território para ofertar providências em

face de vulnerabilidades e riscos sociais daquela população, realizando assim, um

trabalho com crianças, adolescentes, idosos, bem como toda comunidade municipal.

A implantação do CRAS é uma estratégia de descentralização e hierarquização de serviços de assistência social e, portanto, elemento essencial do processo de planejamento territorial e da política de assistência social do município. Deve-se prever a gradual cobertura, de todos os territórios vulneráveis existentes e reconhecidos no Plano Municipal, com o Centro de Referência de Assistência Social. (ORIENTAÇÕES TÉCNICAS CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS 2009, p.18).

Para nosso encontro fizemos contato com os pais de algumas crianças e

explicamos o motivo da pesquisa e os nossos objetivos, solicitando na oportunidade

autorização para a coleta de dados. O nosso critério para selecionar os participantes

foi a espontaneidade das crianças e seu gosto para desenhar, facilitando com isso

sua expressão na hora de representar. Das dez primeiras apenas três crianças

afirmaram não gostar de desenhar, assim, foram dispensadas. As outras sete

crianças estavam dentro de nosso critério, e compreendiam uma faixa etária de sete

a oito anos de idade. Sendo três do sexo feminino, e quatro do sexo masculino.

Todas elas participam do programa Serviço de Convivência e Fortalecimento de

Vínculos do CRAS, uma vez que se encontram dentro das condicionalidades do

referido programa.

Após essa conversa inicial agendamos o dia 05 de março do ano de 2015

para realização da coleta de dados, que ficou marcada para às 14h30min. O uso do

desenho como instrumento investigativo de nossa pesquisa tornou-se propício,

corroborando com o pensamento de Vygotsky (1998), ao afirmar que "[...] o desenho

constitui o aspecto preferencial da atividade artística das crianças com menor idade".

4 São João do Sabugi é um município brasileiro no interior do estado do Rio Grande do Norte.

Localiza-se na região do Seridó, na Microrregião do Seridó Ocidental e Mesorregião Central Potiguar, a uma distância de 293 quilômetros a sudoeste da capital do estado, Natal. A população do município foi estimada no ano de 2011 em 5 939 habitantes, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

28

No início da coleta de dados, tecemos um diálogo informal com as crianças,

onde as mesmas afirmaram gostar de desenhar, o que contribuiu significativamente

para o envolvimento e a interação entre pesquisador e sujeitos da pesquisa. Para

cada criança individualmente, foi disponibilizada sobre a mesa uma variedade de

materiais - canetas hidrocor, lápis de cor, giz de cera, régua, borracha, lápis, canetas

esferográficas - e explicado que poderiam utilizar o que quisessem. Então, solicitou-

se às criança que fizessem um desenho representativo do que a escola significava

para elas, ao término da elaboração, a criança explicava sua produção.

Assim sendo, concretizamos o nosso objetivo de investigar o que a escola

representa para cada uma das crianças. Para uma melhor compreensão e análise

da pesquisa, mostramos a seguir o desenho de cada um dos sujeitos. Utilizamos

letras do alfabeto para identificar cada um deles, preservando assim sua identidade.

A criança A representou duas pessoas nas carteiras, e um birô com uma

cadeira. Utilizando-se das cores verde e azul, e embora houvesse a sua disposição

uma variedade de lápis e pincéis, a mesma utilizou-se de lápis de cor do material

madeira. Ao perguntarmos o que desenhou, sua resposta foi a seguinte:

FIGURA 1: Desenho da criança A. (sexo F; idade 7).

Descrição:

desenhei eu e minha prima que a gente conversa na aula e também desenhei minha professora que está no birô, porque eu gosto muito de estudar.

Com relação ao uso das cores, a criança A tem uma preferência pela cor azul

que simboliza a paz, a harmonia. Diante dos nossos estudos sobre o que Bédard

(2013) escreve sobre as cores, isso mostra que esta criança tem aspecto mais

reservado e que tem o objetivo de caminhar diante do seu próprio ritmo, ou seja, não

FONTE: Arquivo pessoal.

29

devemos obrigá-la a fazer suas tarefas e acima de tudo respeitar seus hábitos.

Interessante observar que em sua fala a criança diz que desenhou a sua professora

que está no birô, no entanto, não há tal representação no seu desenho. A criança

ressalta o gosto pelo estudo, no entanto não faz nenhuma representação acerca do

material de estudo.

A criança C faz uma representação da escola desenhando um prato bem

colorido e uma colher, utilizando-se de lápis de madeira nas cores: amarelo, azul,

verde e vermelho.

FIGURA 2: Desenho da criança C. (sexo M; idade 8).

Descrição:

eu desenhei creme de galinha porque é uma coisa boa que a escola faz.

Na figura 2 a criança usa com maior intensidade o amarelo, embora faça uso

de outras cores, utilizando apenas coleção de madeira para isso. Isso mostra que

esta é uma criança expressiva, tendo uma natureza boa, e deseja com maior

intensidade alcançar seus objetivos. Atentando para o aspecto espacial, o desenho

está no centro do papel, revelando com isso segundo Bédard (2013) que a criança C

está aberta a tudo que ocorra ao seu redor. Percebemos através do desenho que a

representação que a criança tem da escola é em relação à alimentação, ou seja, a

escola é um lugar aonde ela vai com a finalidade de comer. Não encontramos os

materiais significativos que compõem a escola e a construção do conhecimento.

FONTE: Arquivo pessoal.

30

A criança E faz uma representação da própria escola. Desenhando a mesma

utilizando-se de várias tonalidades, dentre elas, azul, rosa, amarelo, vermelho, verde

e marrom. Fez uso de lápis de madeira para fazer sua representação.

FIGURA 3: Desenho da criança E. (sexo F; idade 7).

Descrição:

eu assim, desenhei a escola sabe, porque eu gosto muito de estudar, e tem felicidade.

A figura 3 revela o uso de várias tonalidades, expressando assim que

podemos estar diante de uma criança exigente e que procura chamar a atenção.

Outro fator levado em consideração é que a criança ocupa toda a folha ao desenhar

e utiliza traços grandes, segundo Bédard (2013) isso mostra que esta criança deseja

chamar a atenção e através do desenho esteja querendo dizer “ Olhe, eu também

existo.” Diante do desenho percebemos que a criança representa a escola apenas

em seu aspecto físico, e isso nos faz refletir sobre onde estão os componentes da

escola? Da sala de aula? Da aprendizagem? Em sua fala a criança enfatiza que

gosta de estudar, no entanto não aparecem elementos que possamos identificar

este aspecto de sua fala. Podemos assim supor que esta criança gosta de ir à

escola.

A criança G representou uma pessoa e um lápis. Utilizando-se das cores azul

e marrom. Esta criança utilizou pincel hidrocor na sua representação.

FONTE: Arquivo pessoal.

31

FIGURA 4: Desenho da criança G. (sexo M; idade 8).

Descrição:

essa é uma menina que briga comigo na escola e esse aqui é um lápis.

Na figura 4 a criança se apropria do azul, mostrando com isso sua

introspecção e seu desejo de permanecer em seu ritmo pessoal. Outro detalhe que

deve ser levado em consideração é o fato da representação humana não ter uma

boca. Segundo Bédard (2013) isso significa que a criança não deseja falar, prefere

permanecer em silêncio. Esta criança representa o lápis além da figura humana. O

lápis faz parte da sala de aula e consequentemente da vida da criança, embora não

seja suficiente afirmar apenas com base no desenho que a criança gosta ou não de

escrever e/ou estudar. Este lápis pode representar que a criança não gosta da

escola por não saber escrever, ou pode nos revelar um desejo pela aprendizagem

da escrita.

A criança I representou a escola, uma pessoa e uma bolsa. Utilizou as cores

verde e azul, e lápis de madeira para fazer sua representação. Escreveu na sua

representação duas frases: a escola é boa pra todos estudante/ A escola é minha

vida. Quando perguntamos o que havia desenhado sua resposta foi:

FONTE: Arquivo pessoal.

32

FIGURA 5: Desenho da criança I. (sexo M; idade 8).

Descrição:

isso é eu indo pra escola.

A cor verde predomina na figura 5, mostrando com isso que a criança tem

certa maturidade e compreende os fatos a sua volta. O fato da escola está

localizada à esquerda do papel diz que seus pensamentos giram ao redor de fatos

passados, a criança não vive o momento presente nem pensa no futuro, segundo

Bédard (2013). Interpreta-se que esta criança tem a escola como uma forte

referência em sua vida, isso fica evidenciado na frase a escola é minha vida. A

criança se coloca no desenho e põe uma bolsa como elemento do desejo de ir à

escola. Percebemos que o mesmo tem internalizado que é um estudante e que a

escola é um lugar para estudar.

A criança K representou uma escola e também um sol com expressão alegre.

Utilizou-se das cores amarelo, azul, verde e preto. Utilizou-se de lápis de madeira

para isso. Agregando uma frase ao desenho: “ A iscola e uexeplo”.

Quando indagado sobre sua experiência artística, ela respondeu:

FIGURA 6: Desenho da criança K. (sexo M; idade 8).

FONTE: Arquivo pessoal.

FONTE: Arquivo pessoal.

33

Descrição:

eu desenhei a escola porque eu gosto de estudar.

Na figura 6 encontramos o preto acompanhado do azul. A utilização do preto

no desenho, ao contrário do que muitos pensam não é algo ligado a pensamentos

maus pensamentos, segundo Bédard (2013) isso mostra o quanto esta criança é

segura de si, o preto não é uma cor negativa como muitos pensam, à priori. Mas,

Bédard também alerta para o fato da cor preta vir acompanhada do azul, é o que

acontece na figura acima, segundo a autora isso indica que podemos estar diante de

uma criança depressiva, com tendência a se sentir derrotada. Outro fator que deve

ser levado em consideração é a representação do sol desenhado ao lado esquerdo

e com raios grandes. A autora diz que o sol situado à esquerda pode representar a

influência de uma mãe independente que age sem levar muito em consideração os

demais. E quando os raios são grandes, estão mostrando-nos uma mãe talvez

envolvente em demasia. Outro aspecto em relação à escola e seu papel de educar

que fica claro no desenho e que também já apareceu em outros, é a representação

exclusiva da estrutura física da escola. A criança não se detém a representar outros

elementos que compõem o espaço escolar. Não há outros materiais que

representam os aspectos condizentes com a efetiva relação de ensino-

aprendizagem.

A criança M representou uma escola utilizando-se das cores marrom, verde,

amarelo, laranja, rosa e azul. Utilizando apenas lápis de madeira na sua

representação.

FIGURA 7: Desenho da criança M. (sexo F; idade 7).

FONTE: Arquivo pessoal.

34

Descrição:

eu gosto muito de estudar.

A figura 7 representada com várias tonalidades marcantes mostra o quanto

esta criança é harmônica em suas relações e receptiva as situações que a

circundam. Segundo Bédard (2013), a quantidade de janelas pequenas indica que a

criança pede que sejamos discretos e prudentes com ela. É bom não lhe fazer

demasiadas perguntas e, sobretudo, não lhe dar a impressão de que estamos

vigiando até seus mínimos gestos. Embora a criança enfatize o seu gosto pelo

estudo na execução da frase, a mesma não nos apresenta outros elementos que

indiquem este desejo de estudar, de ir à escola e aprender. Aparece novamente a

representação apenas da escola.

As interpretações realizadas diante das representações feitas sobre a escola,

possibilita-nos mostrar que a maior parte das crianças representou a escola

detendo-se a sua estrutura física, não apresentando assim os elementos que

compõem o cenário da sala de aula e que atribuem sentido as relações de ensino-

aprendizagem. Uma criança representa a escola a partir de um prato com comida, o

que nos possibilita interpretar que para esta criança a escola tem sua representação

enfatizada na alimentação.

De um modo geral percebemos que as crianças enfatizam a escola em suas

representações, bem como seu gosto pelo estudo, o que nos deixa parcialmente

satisfeitos do ponto de vista da vontade que as crianças ainda apresentam em ir à

escola. O que nos faz refletir com base nas interpretações é a ausência de outros

elementos que constituem o espaço escolar e que viabilizam construção do

conhecimento e da formação do educando.

Os profissionais precisam aproveitar melhor este desejo que as crianças

apresentam em ir à escola e motivá-las em suas relações de aprendizagem, em

atividades mais dinâmicas e principalmente proporcionar momentos que se tornem

mais significativos em suas vidas.

Carregamos a certeza de que muito ainda pode ser investigado com o intuito

de trazer novas descobertas para valorizar a educação e principalmente a instituição

escolar, motivando os profissionais e os sujeitos do processo educativo.

35

3. REFLETINDO OS ACHADOS: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A DOCÊNCIA

No capítulo anterior apresentamos os desenhos dos sujeitos, bem como o

significado das cores utilizadas pelos mesmos nas suas representações. Com o

apoio de Bédard (2013) pudemos realizar um melhor trabalho de interpretação sobre

tais representações. A fala antes, durante ou depois do desenho acaba

demonstrando um outro "desenho" além daquele que se pode observar no papel,

pois, ao falar sobre sua produção, a criança pode relacionar elementos que

graficamente estão isolados, Silva (1998).

Diante deste pressuposto pudemos observar e entender melhor os detalhes

nos desenhos de cada criança concomitante a sua fala, isso contribui e amplia a

interpretação do desenho e de sua dimensão imagética. É preciso cautela para

interpretar, não levando em consideração somente o produto, mas todo o processo.

Uma vez que compreendemos melhor o perfil da criança por meio das cores

utilizadas nos desenhos, partimos para um olhar minucioso sobre o que realmente a

escola representa para a criança.

Este trabalho ganha relevância por apresentar um caráter perscrutador diante

de um ser que tem muito a revelar e pode usar diversos meios para isso. Outro

aspecto que deve ser levado em consideração e deve estar claro para o leitor, é o

fato dos sujeitos envolvidos na pesquisa integrarem classe social de baixa renda,

sendo filhos de pais que não apresentam uma renda fixa.

Quando nos detemos a uma visão geral acerca dos desenhos, percebemos

que a maior parte dos entrevistados representa a escola em si, ou seja, o significado

da escola está intimamente ligado à estrutura e não as relações de aprendizagem.

Outra representação da escola é feita a partir de um prato com comida,

evidenciando assim, a alimentação como primeiro atrativo na ida à escola. Isso está

associado ao fato das condições socioeconômicas do grupo familiar.

Compreendemos assim, que as representações deixa-nos a oportunidade de

reflexão acerca dos desafios a serem discutidos e enfrentados ao longo dos anos.

Podemos assim pensar com base nos desenhos, que supostamente as crianças não

estão vendo a escola como um lugar de aprendizagem e de conhecimento, embora

esta se desdobre para realizar seu papel.

Interessante se faz pensar: Onde estão os livros e o desejo pela leitura? Onde

estão os materiais que compõem o cenário de ensino-aprendizagem? Cadê as

marcas de uma escola que atende e possibilita a formação do sujeito diante de suas

36

capacidades? Questões como estas nos proporciona discussões pertinentes no

cenário da educação e no papel da escola na formação do sujeito e na construção

do conhecimento.

As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos (MORAN, 2012, pag. 28).

Não encontramos nos desenhos evidência da satisfação que a criança possui

em participar da escola no que refere ao papel desta enquanto instituição de ensino,

e efetivamente ocupar seu lugar como sujeito aprendente. Observa-se mais

nitidamente a expressão de um desejo ainda a ser atendido.

A escola certamente tem se desdobrado diante dos dispositivos legais para

concretizar os objetivos pensados e traçados com vistas à atender às crianças em

suas etapas de desenvolvimento. No entanto, talvez não esteja efetivamente

conseguindo por meio dos profissionais, realizar um trabalho mais significativo e de

proporção maior em termos de satisfação de aprendizagem.

Para isso, precisamos de pessoas que façam essa integração, em si mesmas, do sensorial, intelectual, emocional, ético, e tecnológico, que transitem de forma fácil entre o pessoal e social que expressem nas palavras e ações que estão sempre evoluindo, mudando, avançando (MORAN, 2012, pag.29).

Estamos a refletir a respeito de outra questão dentro das interpretações

acerca dos desenhos. Partindo do pressuposto de que o professor atua como

mediador, e mantém uma relação mais ou menos duradoura com seus alunos,

ajudando-os no processo de construção do conhecimento, indagamo-nos: Onde está

o professor que não aparece nos desenhos, diante da importância de seu papel? Na

figura 1 percebemos na fala da criança que a mesma desenhou a professora que se

encontra no birô, mas ao olharmos seu desenho percebemos que não consta tal

representação. Como explicar a ausência do professor nos desenhos destas

crianças? Questões como estas nos possibilita um leque de discussões pertinentes

sobre a escola e o papel do professor quanto mediador do processo de ensino-

aprendizagem.

Não é uma questão de culpar, mas sim de refletir acerca do perfil profissional,

e principalmente da prática pedagógica na relação de ensino-aprendizagem

37

estabelecida entre professor e aluno. De modo que se às crianças não fazem

representações condizentes com a satisfação de suas capacidades de

aprendizagem, talvez seja porque as mesmas possivelmente não estejam sendo

atendidas de forma mais elaborada e significativa.

É imprescindível que o professor atue de modo a transformar a sala de aula

em um espaço realmente acolhedor e significativo, e seja capaz de realizar suas

funções voltadas para às necessidade de ensino-aprendizagem das crianças. De

certo que os entraves surgem no percurso de toda profissão, o que não se pode

admitir é que profissionais da educação permaneçam em discursos vazios de que

não é possível mudar, quando na verdade as pesquisas revelam sempre algo que

precisa ser analisado e consequentemente pensado, com vistas a uma necessidade

de mudança urgente.

Bons professores são as peças- chave na mudança educacional. Os professores têm muito mais liberdade e opções do que parece. A educação não evolui com professores mal preparados. Muito começam a lecionar sem uma formação adequada, principalmente do ponto de vista pedagógico. Conhecem o conteúdo, mas não sabem como gerenciar uma classe, como motivar diferentes alunos, que dinâmicas utilizar para facilitar a aprendizagem, como avaliar o processo de ensino-aprendizagem, além das tradicionais provas (...) preparam superficialmente as aulas e vão incorporando esses modelos, que se tornam hábitos cada vez mais enraizados (MORAN, 2012, pag.18.)

O professor conquistou seu espaço ao longo dos séculos, na construção do

conhecimento e nas relações com o sujeito diante do processo de ensino-

aprendizagem, acreditamos assim, que este devia ter ocupado um lugar nas

representações das crianças quanto ao significado da escola.

Será que a escola está perdendo sua identidade? Será que há uma

ineficiência na formação dos profissionais da educação que não possibilita a este

desempenhar o seu papel com maior competência? Precisamos refletir sobre estas

questões, uma vez que a formação de centenas de crianças está em jogo, e se isso

continuar assim, a sociedade vai sofrer consequências mais graves em termos de

produção de conhecimento, bem como de formação humana.

Questões como estas podem ser encontradas nas salas de aula de milhares

de escolas, e nessa relação cotidiana com as crianças, os professores devem se

empenhar em priorizar as produções artísticas infantis, de modo a se debruçar sobre

estes trabalhos e investigar o que pode estar acontecendo com elas. Tentar

38

encontrar respostas interpretando os desenhos infantis pode ser uma saída eficaz

na resolução de alguns desafios a serem superados no espaço da sala de aula e na

relação de ensino-aprendizagem.

Para isso é imprescindível que a escola desenvolva novas estratégias de

ensino dentro da sala de aula, possibilitando à criança envolver-se com o ensino-

aprendizagem de forma mais prazerosa e significativa.

É para essa finalidade que citamos o papel da arte no contexto da sala de

aula. De modo que o professor possa agregar às suas aulas objetos da arte -

pinturas, esculturas, xilogravura, desenhos, música, dança, teatro, dentre outros -

que permitam às crianças refletirem sobre elas, sobre o outro e principalmente sobre

o mundo que as circunda.

A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas (BRASIL, 1997, p.14).

A apropriação de recursos artísticos usados pelo professor possibilita à

criança um melhor desenvolvimento de suas capacidades cognitiva e criadora.

Talvez seja o que falta na escola para motivar os educandos em seu processo de

ensino-aprendizagem, bem como qualificar as relações entre àqueles que compõem

o espaço escolar.

Enfatizar a criação artística dentro da sala de aula é motivar a criança a

aprender com significado amplo, é possibilitar uma aprendizagem dinâmica e

consequentemente mudar a “cara” da escola. Quando nos referimos a “cara”

estamos falando sobre sair da mesmice, e criar uma oportunidade de mudança

dentro da escola, para que esta venha a ser um lugar atrativo e surpreendente. E o

envolvimento com os elementos da arte é capaz de proporcionar esta mudança.

Infelizmente, de um lado falta à criança o envolvimento com outras formas

artísticas, e de outro, falta compreensão e estudo por parte de boa parte dos

profissionais sobre as concepções do ensino da arte.

Grande parte dos profissionais que trabalham com crianças não agregam

práticas artísticas à suas aulas, e quando fazem, acabam agindo com base em uma

concepção ainda modernista do ensino da arte, concepção esta embasada na

39

relevância do processo artístico, não dando importância ao produto e nem tendo

objetivos pré- estabelecidos.

Neste aspecto de inovação e contribuição do ensino arte na sala de aula,

merece destaque Ana Mae Barbosa, que em meados de 1980 lançou a Proposta

Triangular do Ensino de Arte, a qual está sistematizada em três ações: Ler obras de

arte (fruir); Fazer arte; Contextualizar arte. A autora afirma que, “a Proposta

Triangular responde às nossas necessidades, especialmente a de ler o mundo

criticamente.” Enfatizando ainda que esses processos não precisam seguir uma

linha de hierarquia para que se efetivem.

A produção refere-se ao fazer artístico e ao conjunto de questões a ele relacionadas, no âmbito do fazer do aluno e dos produtores sociais de arte. A fruição refere-se à apreciação significativa de arte e do universo a ela relacionado. Tal ação contempla a fruição da produção dos alunos e da produção histórico-social em sua diversidade. A reflexão refere-se à construção de conhecimento sobre o trabalho artístico pessoal, dos colegas e sobre a arte como produto da história e da multiplicidade das culturas humanas, com ênfase na formação cultivada do cidadão. Os três eixos estão articulados na prática, ao mesmo tempo que mantêm seus espaços próprios. Os conteúdos poderão ser trabalhados em qualquer ordem, segundo decisão do professor, em conformidade com o desenho curricular de sua equipe (BRASIL, 1997, p.36).

Os dispositivos legais compreendem então a importância do ensino de arte na

escola como área do conhecimento, nesse caso, a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDBEN), nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, traz em seu

artigo 26 parágrafo 2º diz que o ensino da arte, especialmente em suas expressões

regionais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da

educação básica (redação dada pela Lei nº 12.287 , de 2010).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais em sua proposta geral esclarece que o

ensino de Arte é tão relevante quanto qualquer outra área do conhecimento, estando

em constante relação com as demais áreas e apresentando suas especificidades.

Entendemos que o ensino de Arte no espaço escolar deve ser reconhecido e

trabalhado suas especificidades com os alunos. Porém, percebemos ainda que

muitas escolas transformaram e/ou transformam o ensino de arte em algo banal, não

compreendendo sua dimensão. Infelizmente as reminiscências de uma época em

que o ensino de arte era tido como livre expressão ainda permeiam muitos espaços

escolares. Seja no uso de adornos para decorar a escola em datas comemorativas,

40

seja em distribuir folhas de papel para que as crianças desenhem livremente, sem

traçar objetivos ou sem lhes apresentar outros artistas e suas obras.

O ser humano que não conhece arte tem uma experiência de aprendizagem limitada, escapa-lhe a dimensão do sonho, da força comunicativa dos objetos à sua volta, da sonoridade instigante da poesia, das criações musicais, das cores e formas, dos gestos e luzes que buscam o sentido da vida (BRASIL, 1997, p.19).

A formação deve possibilitar ao profissional docente um encontro com essa

nova concepção de arte, só assim, este poderá se impregnar de um fazer artístico

mais elaborado e qualificar sua prática pedagógica, concretizando os objetivos

propostos no ensino de arte, entendendo assim, sua dimensão e importância para a

vida e para a aprendizagem na relação estabelecida com a escola, com o outro e

com o mundo.

Os alunos precisam desde a educação básica ser mediados ao conhecimento

de si mesmo e do mundo que os cerca, compreendendo que o homem conta sua

história e/ou faz história a partir da arte. Dessa forma, estarão se tornando pessoas

mais críticas e até mais conscientes de seu papel social. Corroborando com isso,

Snyders (1988) ressalta que precisamos atingir o aluno como indivíduo e não

somente em seu aspecto escolar.

Acreditamos que a escola ainda pode estar agindo baseada em princípios de

preocupação com aspectos profissionais da formação, algo relacionado ao futuro do

sujeito, não valorizando uma relação cotidiana de ensino-aprendizagem mais eficaz.

Daí acreditarmos diante desta percepção que o ensino de arte não é levado a sério,

e muito menos compreendido como uma área do conhecimento, torando-se um

caminho de formação humana sem importância dentro da escola.

O risco é que a escola apareça aos alunos como um medicamento amargo que é preciso ser engolido por eles agora, a fim de garantir para mais tarde um mais tarde bem indeterminado, prazeres prometidos, senão, assegurados. E então, a escola cairia na resignação de um presente vazio, até enfadonho de sucesso social muitos anos depois (SNYDERS, 1988, p. 12).

Questões como estas precisam ser refletidas dentro do próprio espaço

escolar, pois, uma vez que o professor não aprecia a arte em suas especificidades e

dimensões, não se envolve com o mundo artístico, não pesquisa, ele não consegue

41

induzir seus alunos a pensarem a vida a partir de uma obra de arte e aprender a

partir de outro ponto de vista. Esses alunos não terão um olhar mais crítico sobre o

valor humano diante da vida. Confirmando essa ideia os PCNs (1997) indicam que a

arte não representa ou reflete a realidade, ela é realidade percebida de um outro

ponto de vista.

Snyders (1988) fala de uma educação estética onde a escola deve ampliar a

visão do aluno em suas produções artísticas, de modo que o trabalho em sala de

aula por meio da utilização da arte leve esse aluno não a repetição, ou imitação,

mas a uma autoafirmação do que ele mesmo gosta de realizar, fazendo fruir um

encontro de sua verdadeira personalidade em relação às obras de arte, e

principalmente que ele se afirme em seus gostos, mas sempre embasado e

inspirado em grandes nomes.

Não se trata de imitar, copiar, reproduzir exatamente certos detalhes, tais procedimentos, mas admirar sucessos de vários tipos, revivê-los, olhando-os, contemplando-os, habituando-se a isso, tentando reencontrar em si mesmo um pouco de tal estilo, de tal perspectiva sobre o mundo (op. Cit. 1988, p.255).

Compreendemos assim que o ensino de arte tem relevante papel no espaço

escolar, e que a partir da educação básica deve ser trabalhada de forma a atingir

seus objetivos. Podendo sempre enfocar as representações a partir dos desenhos

das crianças, contribuído assim para novas perspectivas de interpretações e

descobertas na sala de aula, promovendo melhor eficácia no exercício da profissão

docente e na formação do sujeito.

Educar é um processo complexo, que exige mudanças significativas, investimento na formação de professores, para o domínio dos processos de comunicação da relação pedagógica e o domínio das tecnologias. Só assim, poderemos avançar, mais depressa, com a consciência de que, em educação,,não é tão simples mudar, porque existe uma ligação com o passado, que é necessário manter, e uma visão de futuro, à qual devemos estar atentos. Não nos enganemos. Mudar não é tão simples e não depende de um único fator. O que não podemos é jogar a culpa nos outros, para justificar a inércia, a defasagem gritante entre as aspirações dos alunos e a forma de satisfazê-la. Se os administradores escolares investirem na formação humanística dos educadores e no domínio tecnológico, poderemos avançar mais (MORAN, 2012, pag.168).

42

Embora possamos compreender que educar é um processo complexo,

podemos também educar o nosso olhar para enxergar outros aspectos que motivem

e valorizem a aprendizagem das crianças.

Quando o professor envolve-se com a arte e suas manifestações, ele

desenvolve competências para refinar sua prática pedagógica, passando assim a ter

condições de valorizar as representações realizadas pelas crianças durante o seu

fazer pedagógico, além de direcionar com maior clareza os objetivos diante da aula

elaborada.

Quantos desenhos durante o ano letivo vão parar na lata de lixo sem um olhar

investigativo? Sem uma tentativa de entender o que foi representado no papel?

Grande parte dos professores não se ocupa deste trabalho, e com isso perdem a

oportunidade de conhecer melhor o seu aluno e de ajudá-lo em seus aspectos de

desenvolvimento e aprendizagem.

Pensar uma escola que motive a aprendizagem dos educandos é pensar

numa escola que seja capaz de agregar às suas práticas educativas um pouco da

arte, e principalmente possibilitar que as crianças entrem em contato com outros

pontos de vista a partir dos elementos artísticos.

A escola precisa inovar em suas práticas, sair da mesmice do cotidiano e ser

capaz de significar os momentos de aprendizagem na vida do aluno. A escola tem

que mostrar-se aberta a diálogos e inovação, caso contrário poderá estar perdendo

sua identidade a cada dia.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a pesquisa confirmamos a relevância de se pesquisar a partir das

interpretações dos desenhos infantis, considerando que estes são capazes de nos

revelar aspectos ligados às relações de ensino-aprendizagem da própria criança,

bem como a representação que elas têm da escola enquanto instituição do saber.

Mostrando ainda que é somente por intermédio das verbalizações das crianças a

respeito de seus desenhos, que é possível entender os sentidos de sua produção.

A análise do desenho em si, por sua vez é limitada, pois compreendemos que

cada um de nós ao analisar um desenho pode tirar conclusões que podem ou não

coincidir com as de seu autor, por isso é importante o embasamento teórico para tal

finalidade. Entretanto, compreendemos que o desenho em si traz preciosas

informações e abre reflexões interessantes sobre o papel da escola e principalmente

sobre os desafios de ensino-aprendizagem, uma vez que estão impregnados por

significações compartilhadas com outros. Porém, os sentidos que o autor em

particular atribui ao desenho produzido, somente ele poderá explicar.

Acreditamos e concordamos com aqueles, que nesse sentido acreditam que a

arte pode proporcionar o alcance de resultados mais elevados em termos de

qualidade de ensino, uma vez que está comprovada a importância do ensino de arte

na vida da criança, lembrando que este é apenas um dos caminhos que pode levar a

descobertas e soluções de desafios na educação.

Não trabalhar com as diversas formas de arte e sua representação como um

recurso de desenvolvimento cognitivo, é não ter compromisso com a profissão, com

a formação de crianças e consequentemente com a sociedade.

Moran discute muito diretamente e de forma clara em seu livro “A educação

que desejamos: novos desafios e como chegar lá”, sobre vários aspectos para que a

escola compreenda o seu papel e seja capaz de fazê-lo de forma integrada a uma

diversidade de aspectos, sejam eles morais, cognitivos, afetivos, tecnológicos,

dentre outros. Trazendo discussões importantes para pensarmos juntos e entender a

necessidade que precisamos descobrir através do ato de mudar, tanto alunos,

quanto professores, quanto gestão escolar. Compreender estes aspectos e integrá-

los efetivamente ao espaço escolar é algo possível, embora tenhamos consciência

que é um processo que exige a participação de todos.

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A representação da maior parte das crianças nos mostra que elas se sentem

motivadas à irem a escola por uma vontade de aprender, o que nos permite reforçar

a importância das competências e habilidades a serem desenvolvidas pelos

professores em sala de aula na relação de ensino-aprendizagem.

Precisamos enquanto educadores nos apoiar neste desejo que as crianças

apresentam em ir à escola, e qualificar nossa prática pedagógica de forma a

envolvê-las e contemplá-las em suas necessidades educativas.

As crianças representam a escola como um lugar que elas gostam de estar,

embora a maior parte não represente outros elementos que constituem o cenário do

contexto escolar, detendo-se a representar apenas a escola. Interpretamos isso

como uma satisfação incompleta do seu desejo de aprender e, principalmente do

significado e do sentido que a aprendizagem ou o professor estar tendo em sua vida.

Dessa forma compreendemos que a escola por meio de seus profissionais

não motiva suficiente a criança em seu desenvolvimento, como também não a

envolve em práticas educativas mais dinâmicas e significativas.

Este aspecto torna-se mais relevante ao observarmos que a maior parte das

crianças, com exceção de uma, se apropriaram apenas de lápis de cor em madeira,

uma vez que no instante da coleta de dados disponibilizamos uma variedade de

materiais para que as mesmas pudessem ficar à vontade em suas representações.

Talvez isso transpareça a limitação de materiais no contexto da sala de aula por

parte do professor.

Por isso defendemos e enfatizamos o ensino de arte atrelado às atividades

educativas na sala de aula, pois assim, as crianças terão condições de expressar o

que sentem a partir de outras formas, como terão acesso a uma variedade maior de

outros recursos.

As descobertas realizadas com este trabalho foram fundamentais para a

compreensão da prática do professor em sala de aula, principalmente à fim de

valorizar e possibilitar à criança a envolver-se com o fazer artístico revelando através

de seus desenhos o significado do mundo que as circunda.

Temos consciência que se a pesquisa fosse realizada em um maior espaço

de tempo, e com um maior número de sujeitos, interpretando vários desenhos dos

mesmos, certamente os resultados seriam ainda mais satisfatórios e as descobertas

nos possibilitariam qualificar ainda mais a ação docente, pelo menos nos aspectos

que diz respeito a esta temática.

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É fundamental que o professor compreenda que possui um laboratório vivo

em suas mãos todos os dias, e deve se permitir investigar e interpretar os desenhos

das crianças ao longo do ano, tornando sua prática eficaz e prazerosa.

A escola pode ainda satisfazer de forma mais completa as necessidades de

aprendizagem das crianças e contribuir para a formação de um sujeito mais

integrado e mais crítico como atuante na construção da sociedade, reconhecendo a

si e ao outro como partes de um todo em processo de evolução. E o ensino de arte

realizado em sua compreensão, e coerente com seus objetivos, consequentemente

proporcionará um desabrochar de novas perspectivas na área da educação.

O nosso olhar sobre o ensino-aprendizagem deve estar voltado para uma

proposta que nos instigue a investigar, a refletir os achados e a ter determinação

para mudar. É preciso acima de tudo, acreditar.

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