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Miniaturas com histórias Rui Albuquerque . . Uma coleção é um baú de recordações. Um objeto de coleção, por mais pequeno que seja, guarda sempre uma grande quantidade de emoções, de imagens, de cheiros. A sua exposição faz mais sentido, quando juntamos um pouco da sua alma, quando lhes damos “vida. São pequenas histórias que fazem a História!

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Page 1: Miniaturas com histórias Rui Albuquerque · 2012-07-13 · omeçavam os preparativos para a “viagem à Serra ... rápidos passavam com a roda da frente direita, fora da ponte

Miniaturas com histórias Rui Albuquerque

.

.

Uma coleção é um baú de recordações.

Um objeto de coleção, por mais pequeno que seja, guarda sempre uma grande quantidade de

emoções, de imagens, de cheiros. A sua exposição faz mais sentido, quando juntamos um pouco da sua

alma, quando lhes damos “vida”.

São pequenas histórias que fazem a História!

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Miniaturas com histórias Rui Albuquerque

.

“No meu tempo”, quando se começava a falar do Rali, era o início de uma azáfama que durava até

aos derradeiros dias da prova.

Começavam os preparativos para a “viagem à Serra” (Arganil, Vide e Vidual). Eram noites cheias de

peripécias e de fortes emoções.

Oficialmente foi várias vezes o melhor rally do Mundo. Para a minha geração, TAP ou Vinho do Porto

era sempre “O Rali”… e estava ali ao pé!

Para aperitivo, tínhamos o troço de Bertelhe (Viseu) com a célebre ponte sem guardas, onde os mais

rápidos passavam com a roda da frente direita, fora da ponte. À noite em Viseu, no parque fechado do

Hotel Grão Vasco, era tempo para contemplar as máquinas... era o Rali!

Tive o privilégio de assistir a proezas de condução de vários Campeões, bem como a imagens reais de

alguns dos míticos automóveis de rallye.

Hoje vou falar de três desses automóveis e dar-vos a conhecer (certamente relembrar a alguns de

vós) apontamentos desses tempos em que, por exemplo: os The Who lançavam o tema que iria ser, 40

anos depois, o genérico da série C.S.I. Miami (Won´t get fooled again). Estava ainda “fresquinho” o

álbum The Dark Side Of de Moon (1972) dos inesquecíveis Pink Floyd. Havia a BIC laranja para escrita

fina e BIC cristal para escrita normal. Os artistas portugueses usavam pasta medicinal Couto e vestiam

calças à boca-de-sino. Jesus Cristo era Super Star (1973) e Emmanuelle (1974) fazia escândalo. Rubik

inventava o “Cubo” (1974). O Concorde voava a Mach 2.2/2.330 Km/h (1976 primeiros voos comerciais).

Portugal já tinha uma auto-estrada com 31,1 Km (Lisboa-Carregado-1977), mas Joaquim Agostinho, de

bicicleta ganhava uma etapa na Volta à França (1979). Os Abba juntavam multidões, enquanto Léo Ferré

cantava La Solitude (1979). O trânsito era fluído, mas Viseu já tinha uma rotunda (Sta. Catarina). Havia o

Século, o Auto Mundo e o Expresso que não trazia saco, e havia brindes na Farinha Amparo. A Televisão

era a preto e branco (até 1976), mas as Páginas já eram Amarelas. A 13 de Janeiro de 1979 estreava a

banda Xutos & Pontapés Rock’n Roll Band. Já havia Post-it, mas ninguém avisara o comandante do Tolan

(1980). A Galp era Sonap, o SG não era gigante, mas longas eram já as noites do Oceano Pacífico, ao som

do Saxofone de Ernie Watts (Abraham’s Theme). Uma jovem loura alemã, talvez Dorothea de seu nome,

passava férias no Algarve, e vestindo um bikini às bolinhas amarelas, saboreava um delicioso Rajá bem

fresquinho!

… O Mundo iria acabar no ano 2.000!

A “Troika” que vos apresento a seguir é composta por três bonitos automóveis que no seu tempo,

foram os melhores, foram campeões do Mundo de Rally.

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Miniaturas com histórias Rui Albuquerque

Lancia Stratos Alpine A110 Audi Quattro

__________________ __________________ __________________

Forza della natura Beauté sauvage Spitzentechnologie

(Força da natureza) (Beleza selvagem) (Tecnologia de ponta)

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Miniaturas com histórias Rui Albuquerque

.(1961-1967)

O A110, apesar de não ter sido concebido pela Renault, casou perfeitamente com a sua mecânica,

valendo-lhe um inquestionável lugar na História do desporto automóvel.

Jean Rédélé, um jovem concessionário Renault e amante da competição automóvel, cedo

demonstrou ter potencial para desenvolver carros ganhadores. A primeira vez que competiu, com um

4CV Renault preparado nas suas oficinas, venceu!

Muitas das suas melhores recordações ligadas à competição, tiveram lugar nas sinuosas estradas dos

Alpes, daí o nome Alpine que decidiu utilizar na marca de automóveis desportivos que iria fundar em

1955.

1/18

Motores: .

Quatro cilindros em linha .

1.1L-1.2L-1.3L-1.4L-1.5L-1.6L .

Caixa: . 1/43

5 velocidades manuais .

O A110 foi apresentado em 1961 como uma evolução do A108. A carroçaria era fabricada em fibra

de vidro e suportada por um chassis em aço. Esta técnica fora também utilizada na construção do Lotus

Elan, por Colin Chapman. Diz-se que a conceção do A110 teve aí forte inspiração. Giovanni Michelotti foi

o autor das suas linhas. A maior evolução em relação ao A108 foi na traseira, que aumentou de volume,

para abarcar os motores de maior cilindrada. Essa alteração, conferiu ao modelo, um estilo mais

encorpado e cheio de raça!

Do seu rico palmarés destaco:

1971 (A 110 1.600) 1ºs lugares nos ralis de Portugal com Jean-Pierre Nicolas , Monte Carlo, Grécia e

San Reno. A Alpine sagra-se campeã internacional de marcas (Ove Anderson); 1972 (A110 1.800) Vice-

campeã da Europa em corridas de montanha/rampas (Jean Ortelli); 1973 (A 110 1.800) sagra-se Campeã

do mundo de construtores (Jean Claude Andruet, Bernard Darniche, Jean-Pierre Nicolas e Jean-Luc

Thérier fizeram a festa ao vencerem em Monte Carlo, Marrocos, Volta à Córsega, Portugal, Acrópole e

San Reno.

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Miniaturas com histórias Rui Albuquerque

.(1961-1967)

A Alpine foi também campeã FIA de Rally Cross em 1977 (A110 1.8). O seu invejável palmarés

estende-se por várias modalidades, indo dos ralis ao Cross, passando pelos circuitos e rampas.

Aparece o Stratos, e em 1974 o A110 já não conseguia competir com ele, de igual para igual. Estava

assim encontrado o seu sucessor. O azul elétrico da Berlinette dava lugar ao branco, verde e vermelho

(Alitália) do Stratos, nas pistas poeirentas do mundo dos ralis.

1/18 Bernard Darniche, Rally TAP 1973

1/43

1/18 1/43

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Miniaturas com histórias Rui Albuquerque

.(1972-1974)

O Stratos HF foi mais um marco na história do automóvel, ao ser o primeiro carro concebido “de

encomenda” para os ralis. A Lancia tinha necessidade de se afirmar na competição, e para isso deu

prioridade à criação de um veículo capaz de altas performances, com bom desempenho, quer nas pistas

mais difíceis das estepes africanas, passando pelas estradas agrestes de Portugal e Grécia, como no

asfalto difícil da Córsega ou Monte Carlo.

Três nomes importantes do mundo automóvel, ajudaram a construir o êxito alcançado por esta

“máquina diabólica”: Cesare Fiorio, chefe de relações públicas da Lancia, criou o departamento de

competição, que designaria por HF Squadra Corse; Marcello Gandini, desenhador chefe da Bertone, foi o

autor do projeto da carroçaria (também autor dos Lamborghini Miura e Countach); Sandro Munari (co-

pilotos Mario Mannucci e Silvio Maiga), piloto oficial Lancia, foi o par perfeito para conduzir este ícone

até ao topo!

Em 1970 era apresentado em Turim o concept car Stratos Zero. Em 1971 a Lancia apresentava

oficialmente o Stratos HF. As suas linhas inconfundíveis, desenhadas pela Bertone, em forma de cunha,

permitiam-lhe ter um bom cx e ao mesmo tempo um excelente apoio aerodinâmico. Com uma grande

superfície vidrada à frente, a visibilidade era ótima, porém a linha de cintura ia subindo até encontrar o

tejadilho descendente na traseira, o que tornava aí, a visibilidade quase nula (desnecessária nos ralis).

“High Fidelity” era um tema muito caro a Cesare Fiorio, daí a designação HF nos seus modelos de

competição.

Motores: .

2.4L V6 (de origem Ferrari Dino) .

Caixa: .

6 Velocidades manuais .

Produção: .

492 unidades .

Sandro Munari, Rally de Monte Carlo 1977

1/43 1/43

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Miniaturas com histórias Rui Albuquerque

(1972-1974)

Em competição, o Stratos impôs-se claramente, conquistando o Campeonato do Mundo de Ralis em 1974, 1975 e 1976. No entanto, a Lancia (em particular o Stratos) foi vítima da política comercial do grupo FIAT, ao decidir substituir o Stratos pelo FIAT 131 Abarth nos ralis, quando o Lancia ainda tinha muito para dar. Apesar disso, várias equipas privadas continuaram a competir com o Stratos. Em 1979 a equipa Chardonnet vence o Rally de Monte Carlo com um Stratos pilotado por Bernard Darniche. Com Darniche novamente ao volante, o fim da carreira Stratos acontece no Rally da Córsega em 1981, com mais uma vitória. 1/43 1/43 1/43 1/43 O Stratos permanecerá sem dúvida, na História do desporto Automóvel como um dos carros mais bonitos e originais. Para quem, como eu o viu correr, é com alguma nostalgia que recordo as suas imagens, sem esquecer o som estridente e característico do seu motor. O Stratos é um dos modelos que ficará na nossa memória, com toda a certeza!

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Miniaturas com histórias Rui Albuquerque

(1980-1991)

No início da década de 80, falar de tração 4x4 era sinónimo de carros grandes, pesados e de

mecânica pouco fiável. Porém os técnicos da Audi, após terem desenvolvido o Iltis, veículo militar

encomendado pelo exército Alemão à Volkswagen, decidem avançar e explorar este sistema de quatro

rodas motrizes visando a competição. Era difícil acreditar, nesse tempo, que um veículo com tração 4x4

pudesse ter fiabilidade suficiente para terminar se quer uma etapa, quanto mais ganhar ralis. Os

homens da Audi pensavam de forma diferente, mas os regulamentos no final da década de 70, não

permitiam a participação de carros com tração integral. No sentido de obter um acordo para a retirada

daquela alínea do regulamento, a Audi contatou oficialmente as marcas de construtores com interesses

na competição automóvel. Estas, conhecendo apenas o pachorrento Iltis, não se opuseram. O projeto

avançou então, com o Mundial de Ralis no horizonte.

Motores: .

2.1L (200 cavalos) .

2.2L (220 cavalos) .

Caixa: .

5 Velocidades .

Produção: .

11.452 unidades .

Walter Rohrl, Rally de Portugal 1984

1/43 1/43

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Miniaturas com histórias Rui Albuquerque

.(1980-1991)

Ao estrear o Quattro no Rally de Monte Carlo em 1981, a Audi marca uma nova era do desporto

automóvel.

Logo na etapa inicial, debaixo de um intenso nevão, com condições de aderência difíceis, o potencial

do novo carro não se fez esperar. Cumpridos apenas os 10 Km iniciais da primeira classificativa, já o

Stratos pilotado pelo experiente Darniche, que partira dois minutos antes, era ultrapassado por Hannu

Mikkola, deixando toda a gente de boca aberta.

“O Tanque” (apelido por que foi, a partir daí, conhecido) começava a fazer “estragos”.

A expetativa era grande e a vontade de vencer era enorme, porém a juventude e falta de acerto do

carro, forçaram os pilotos da Audi a desistir. Mas o mote estava dado!

Após algum tempo de adaptação e várias provas interessantes, a Audi começa finalmente a obter

resultados, e em 1982 sagra-se pela primeira vez campeã WRC.

Em 1984, inscrevendo quatro pilotos de topo (Hannu Mikkola, Stig Blonqvist, Michèle Mouton e

Walter Röhrl) a Audi vence novamente com o Quattro o WRC, fazendo uma época “arrasadora”!

Rally Monte Carlo: 1º, 2º e 3º Rally da Suécia: 1º,2º e 3º Portugal: 1º Safari: 3º

Nova Zelândia: 1º Argentina: 1º, 2º e 3º Costa do Marfim: 1º e 2º RAC: 2º.

Em 1985 Michèle Mouton vence a famosa subida de Pikes Peak (USA), tornando-se a primeira

mulher a vencer aquela mítica prova.

1/43 1/43

Com a abolição do Grupo B nos Ralis, a Audi decidiu também pôr fim à sua participação neste tipo de

provas, não dando continuidade a este bem conseguido projeto.

Os atuais carros participantes do WRC, muito devem à Audi, pois a sua essência não esconde as

origens no Quattro. A ousadia e tenacidade dos homens de Ingolstadt valeram ao Audi Sport Quattro

um lugar de destaque na “Galeria dos Notáveis”!

Um abraço,

Rui Albuquerque