mineiros embarcam para o trabalho subterrÂneo

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MINEIROS EMBARCAM PARA O TRABALHO SUBTERRÂNEO O embarque dos mineiros lembra o embarque de astronautas da NASA. Mas aqui o buraco é mais embaixo. Esses trabalhadores adentram um território de alto risco de doenças e acidentes, muitas vezes em situação precária de segurança individual e ambiental. O artigo abaixo foi publicado no site de “O Globo”, descrevendo a situação dos nossos mineiros. Não é somente no Chile, mas em vários países, incluindo o Brasil, a atividade mineira encerra riscos específicos e elevados. A preocupação com o trabalho em minas começa em 1931 quando a OIT emite a Convenção No. 31 , que limitava as horas de trabalho em trabalhadores de minas de carvão. No Brasil, é a NR-22 (acesse a versão digital da NR aqui) que trata da Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração. O site NRFACIL solicitou e foi autorizado a publicar a reportagem, através de email de Márcia Santos, Assistente de Relacionamento do site www.oglobo.com Veja os créditos abaixo e o link da reportagem- http://oglobo.globo.com/economia/mineirosdobrasil/acid entes.asp

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Page 1: MINEIROS EMBARCAM PARA O TRABALHO SUBTERRÂNEO

MINEIROS EMBARCAM PARA O TRABALHO SUBTERRÂNEO

O embarque dos mineiros lembra o embarque de astronautas da NASA. Mas aqui o buraco é mais embaixo. Esses trabalhadores adentram um território de alto risco de doenças e acidentes, muitas vezes em situação precária de segurança individual e ambiental.

O artigo abaixo foi publicado no site de “O Globo”, descrevendo a situação dos nossos mineiros. Não é somente no Chile, mas em vários países, incluindo o Brasil, a atividade mineira encerra riscos específicos e elevados.

A preocupação com o trabalho em minas começa em 1931 quando a OIT emite a Convenção No. 31, que limitava as horas de trabalho em trabalhadores de minas de carvão. No Brasil, é a NR-22 (acesse a versão digital da NR aqui) que trata da Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração.

O site NRFACIL solicitou e foi autorizado a publicar a reportagem, através de email de Márcia Santos, Assistente de Relacionamento do site www.oglobo.com Veja os créditos abaixo e o link da reportagem- http://oglobo.globo.com/economia/mineirosdobrasil/acidentes.asp

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O TRABALHO NA MINA

São dez mil trabalhadores em minas subterrâneas no Brasil, 5.146 atuando na extração de carvão, dos quais 4.154 somente em Santa Catarina. Enfrentam um dos trabalhos mais perigosos do mundo: a extração de minerais no subsolo. Nas minas de carvão do estado, eles descem em gaiolas, elevadores que levam os mineiros até 150 metros, podendo descer a 370 metros de profundidade. Eles se aposentam com 15 anos de profissão e ganham entre R$ 1.200 e R$ 2.400. São em sua maioria jovens e filhos, netos, sobrinhos, irmãos, genros e cunhados de mineiros. A atividade

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centenária na região espalha-se por seis cidades unidas pelo carvão: Criciúma, Lauro Muller, Barro Branco, Siderópolis, Forquilhinha e Treviso. Desde maio de 2008, houve 12 mortes na região e dois trabalhadores ficaram inválidos.

São 11 minas de carvão em Santa Catarina. A Mina 3, da Cooperativa de Extração de Carvão Mineral dos Trabalhadores de Criciúma (Cooperminas), está a 100 metros de profundidade, no município de Forquilhinha. Já avançou 4,5 quilômetros por debaixo da terra, extraindo o mineral, em paralelo à superfície. São 700 mineiros trabalhando 24 horas.

Há normas que determinam as condições de segurança no trabalho nas minas. A mais recente, a NR 22, ainda não foi plenamente adotada no Brasil. Mas houve avanços. A poeira constante que anuviava o ambiente foi praticamente eliminada, com a umidificação da mina. Os furadores de teto que eram carregados pelos mineiros ficam agora presos ao chão. A ventilação melhor fez cair a temperatura no subsolo.

DOENÇAS E ACIDENTES

Em 1984, uma explosão provocada por gás metano, na mina Santana, em Urussanga, Santa Catarina, matou de 31 mineiros de uma só vez, no maior acidente registrado na região

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Enquanto o mundo ainda comemora o resgate dos 33 mineiros chilenos, que ficaram presos a 750 metros de profundidade, no Brasil os trabalhadores nas 11 minas de carvão em Santa Catarina choram os seus mortos a conta-gotas na região. Foram 12 mortes desde maio de 2008. A última aconteceu há apenas dois meses, e mais dois mineiros ficaram inválidos. A cada dois meses, um trabalhador perdeu a vida nas minas subterrâneas, num dos trabalhos mais perigosos do mundo, revela reportagem de Cassia Almeida e fotos de Marcia Foletto.

Os acidentes fatais tinham parado de assombrar a rotina dos 4.154 mineiros das cidades de Criciúma, Lauro Muller, Barro Branco, Siderópolis, Forquilhinha e Treviso, em Santa Catarina. Entre 2003 e 2007, um trabalhador morreu. A situação começou a piorar em maio de 2008, com a explosão de metano na mina 3G, da Carbonífera Catarinense, onde dois mineiros morreram.

Segundo Ricardo Peçanha, superintendente do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) em Santa Catarina, ligado ao Ministério de Minas e Energia, a Carbonífera Metropolitana, com 800 funcionários, concentra a maior parte dos acidentes fatais: desde maio de 2008, aconteceram lá seis das 12 mortes e um trabalhador ficou inválido. “Embora a empresa tenha os procedimentos mais específicos, maior equipe de engenheiros e técnicos e a que tem a maior quantidade de equipamentos de proteção e controles, é a que tinha o pior clima organizacional e de relacionamento”.

A história das cidades da região carbonífera de Santa Catarina se confunde com a atividade centenária, que atrai trabalhadores geração após geração e explica tanto o desenvolvimento econômico como a degradação ambiental e a insegurança no trabalho. Os salários costumam ser melhores e a aposentadoria ocorre após apenas 15 anos, o que atrai os homens da região.

NR-22) ACIDENTE NO CHILE: FALTOU UMA ESCADA DE EMERGÊNCIA

O acidente no Chile é uma boa oportunidade para estudarmos a NR-22-Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração, cujo principal objetivo é tornar compatível o planejamento e o

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desenvolvimento da atividade mineira com a busca permanente da segurança e da saúde dos trabalhadores. Para isso, a NR-22 tem um PPRA próprio: o PGR, que deve tambem estar articulado à cipa da mineração - A CIPAMIN.

Recomendamos a leitura da seção NR-22.10 (veja a versão digital da NR-22 em www.nrfacil.com.br) que trata de escadas nesses locais de trabalho. Ao que tudo indica, a inexistência de uma simples escada de emergência acabou retardando o resgate dos trabalhadores no local do desabamento neste acidente no Chile.

Um outro aspecto deste caso é a necessidade de abordagem de acidentes de trabalho ainda durante o acidente. O acidente ainda não acabou e as medidas empregadas a partir de agora visam a garantia da sobrevivência dos trabalhadores que ainda estão vivendo o acidente.

Segundo um engenheiro especialista, houve uma regra básica desrespeitada em mineração neste caso: é obrigatório que toda mina tenha mais de um acesso, justamente para haver alternativa em caso de acidentes.

A Mina já registrara mais de 80 acidentes e em 2007 houve uma interdição por falta de condições de segurança. E o responsável pela liberação da interdição agora admite que não tinha conhecimento dos problemas que ela apresentava.

No Brasil, auditores fiscais podem interditar ambientes de trabalho e máquinas. Mas o levantamento da interdição pode ser feito pelo Delegado (ou Superintendente) Regional do Trabalho, mesmo contra a opinião dos Auditores.

Veja abaixo trechos de publicações de jornais (Folha de São Paulo, Veja, Zero Hora) e blogs sobre o assunto, incluindo opiniões de especialistas.

O ACIDENTE

No dia 5 de agosto, um desmoronamento interrompeu a saída de uma mina de ouro e cobre no Chile. Um grupo de trabalhadores que estavam acima do ponto de deslizamento conseguiu sair. Outros 33 ficaram presos sob o bloqueio de rochas e durante quase 3 semanas não se soube se estavam vivos. Trata-se de uma Mina com 800 metros de profundidade e não possuía iluminação e ventilação adequadas. Minas semelhantes dispõem de elevadores rápidos para o escoamento da produção e dos próprios trabalhadores.

ACIDENTES EM MINAS

Uma mina é um sistema composto por acessos às zonas onde se encontra o minério que se pretende extrair. Um refúgio é uma estrutura, normalmente metálica, de elevada resistência mecânica, que é colocada numa cavidade ao lado destas vias de circulação. No caso da mina

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chilena, a zona de refúgio tem 40 metros quadrados, mas há a zona de circulação onde os mineiros podem estar, com uma extensão de dois quilómetros.

Os piores acidentes de trabalho na Mineração ocorrem geralmente em minas de extração de carvão, por causa da concentração, em seus túneis, de gás metano, altamente inflamável. A ocorrência de explosões nas minas de carvão sempre faz um número alto de vítimas.

A SEGURANÇA - O PROBLEMA CRÍTICO DE UMA SIMPLES ESCADA

O governo do Chile afirmou que os 33 trabalhadores presos dentro da mina poderiam ter escapado durante as 48 horas após o primeiro desmoronamento de terra.

Isso não aconteceu, porém, por falta de uma escada de emergência no duto de ventilação principal do túnel. Deslizamentos posteriores fecharam esse acesso potencial.

O resgate dos 33 mineiros presos há quase 1 mês deve levar meses. Isolados a 700 metros de profundidade, eles preparam-se para um dos mais longos resgates subterrâneos já registrados.

ESCAVAÇÕES

Equipes de resgate conseguiram cavar um segundo buraco para manter contato com os trabalhadores. O novo buraco escavado também será usado para manter a ventilação Uma terceira sonda se aproxima da galeria na qual os mineradores estão, o que permitirá melhorar a comunicação e as condições em que se encontram.

Andrés Sougarret, que dirige as perfurações, confirmou que uma terceira sonda se aproxima da galeria na qual os mineradores estão, o que permitirá melhorar a comunicação com eles e as condições em que se encontram.

“Agora vamos poder dividir as funções. A primeira sonda vai ser para a entrega de alimentos. A segunda vai ser para nos comunicar-nos permanentemente e queremos que a terceira nos permita melhorar a ventilação”, explicou.

Engenheiros também trabalharam para aprimorar a primeira passagem aberta, reforçando as paredes e usando um gel metálico que reduz o risco de rochas bloquearem o caminho.

RESPONSÁVEIS

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O ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, anunciou que pedirá ao Conselho de Defesa do Estado (CDE), que empreenda ações judiciais para recuperar as despesas que o governo teve na busca e resgate dos operários presos na mina. Os donos da jazida pensam em declarar falência e pedir que o governo se responsabilize pelos salários dos trabalhadores.

O governo, segundo Hinzpeter, tomará parte nas ações judiciais empreendidas pelo Ministério Público e fará todos os esforços para que os proprietários da mina assumam suas responsabilidades.

“Não vamos deixar nenhum flanco aberto em matéria legal”, disse ele, criticando a atitude dos donos.

Enquanto os mineiros não vêm a luz ao fundo do túnel, o primeiro processo contra a empresa, foi aberto. Por agora um juiz ordenou que a Esteban Mining Company retenha, por antecipação, 1 milhão e oitocentos mil dólares.

A empresa San Esteban é acusada de não ter advertido as autoridades imediatamente após o acidente, de não respeitar as regras de segurança e de não pagar o seguro dos mineiros.

Os investigadores vão também apurar como é que a mina onde se registraram mais de 80 acidentes, um dos quais fatal, foi reaberta em 2008, sem contar com uma saída de emergência.

SOBREVIVÊNCIA

Após sobreviverem dividindo pequenas porções de comida e água que tinham dentro da mina, os homens receberam tabletes de glicose e reidratação para recuperar o sistema digestivo. Cápsulas de oxigênio também foram enviadas pelo buraco de cerca de 15 centímetros de diâmetro, e devem ajudar os mineiros a suportar as condições úmidas e quentes da mina.

De acordo com informações divulgadas pela senadora Isabel Allende, que teve acesso às fichas dos médicos que trabalham na operação de resgate, os 33 homens sobreviveram até este momento com “duas colheres de atum e meio copo de leite a cada dois dias”.

Depois que seus estômagos tiverem se ajustado, eles devem passar a receber alimentos, segundo Paola Neuman, da equipes médicas de resgate. Ontem, os homens disseram que estão “com fome, mas passam bem”, e pediram que fossem enviadas escovas de dente.

As equipes dizem que manter os mineiros informados e ocupados “faz parte do plano”. “Eles precisam entender o que está acontecendo na superfície, e saber que levará várias semanas para que eles sejam resgatados”, disse o ministro da Saúde, Jaime Manalich.

Os homens vivem em uma câmara que ficou aberta depois que a mina ruiu. O espaço é suficiente para que eles consigam caminhar. A temperatura no local é de entre 32 e 34 graus.

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Paralelamente, os médicos se encarregarão da recuperação física e os psicólogos e psiquiatras darão apoio emocional para que os mineradores suportem o estresse.

MAIS ESFORÇOS PARA O RESGATE

Após descobrir que os 33 mineiros isolados há 18 dias na mina de San José, na cidade de Atacama, estão vivos, o governo chileno intensificou os trabalhos para alimentar e garantir a saúde dos trabalhadores até que as equipes consigam chegar até eles.

Os mineiros já vão poder falar neste domingo com as famílias, através de uma espécie de telefone que os comunica diretamente com o exterior, ao mesmo tempo em que na superfície se ajustavam os últimos detalhes para iniciar a perfuração que permitirá o resgate.

Pelo duto que comunica os mineiros ao exterior, além de alimentos e água, serão enviados nos próximos dias vários aparelhos para entretê-los, como sistemas de áudio mp3, um projetor compacto para vídeos - com gravações de partidas de futebol - e jogos de dados.

Está previsto um envio de roupas especiais para que suportem melhor a umidade, um dos principais problemas dos mineiros no interior da jazida. Receberão, ainda, colchões infláveis.

Desde sábado, e de forma intermitente, está sendo enviado a eles ar fresco e seco através de outro duto habilitado.

É na máquina Strata 950 - uma perfuradora gigante de fabricação italiana - que autoridades, famílias e jornalistas no local depositam as esperanças. Deve escavar uns 702 metros em linha reta, até atingir o refúgio em um processo que pode durar entre três e quatro meses.

ACIDENTE E SAÚDE MENTAL

Estima-se que os mineiros precisarão suportar o isolamento por até quatro meses, o que tem levado especialistas a ponderar sobre a saúde mental.

Por meio de tubos de plástico será enviado o necessário aos mineiros que permanecem na parte mais profunda da jazida. As equipes estimam que os mineiros tenham perdido peso nas últimas duas semanas e por isso os primeiros alimentos devem ser um gel concentrado com glicose para alimentá-los rapidamente.

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Além dos esforços em torno do canal de ligação entre a superfície e o interior da mina e o envio de alimentos, o governo do Chile já se atentou para a necessidade de garantir o bem estar mental dos trabalhadores que terão de suportar muitas semanas até que o resgate seja efetuado.

Uma equipe de médicos e especialistas psiquiátricos chegou ao local na segunda-feira, colocando em prática um plano para buscar garantir a sanidade mental dos trabalhadores.

Os psiquiatras pretendem enviar questionários para determinar as condições de cada mineiro, assim como remédios e pequenos microfones para permitir que eles falem com suas famílias durante sua longa espera.

O líder das equipes de resgate, Andre Sougarret, disse que os equipamentos de comunicação podem começar a funcionar dentro de algumas horas, e que os oficiais envolvidos na operação já começaram a organizar as famílias em pequenos grupos para que tudo ocorra da maneira mais ordenada possível.

ATIVIDADES

O ministro de Saúde disse ainda que será importante manter os mineiros ocupados durante o tempo de espera.

“Precisa haver o estabelecimento de uma liderança, dar apoio e prepará-los para o que está por vir, o que não é nada fácil”, disse.

A euforia após as notícias de que os 33 trabalhadores estavam vivos trouxe uma nova fase para a ansiedade e esperança das famílias.

“Nós não dormimos. Ficamos acordados a noite toda esperando mais notícias. Eles nos disseram que novas imagens seriam obtidas, e por isso nem dormimos, aguardando”, disse Carolina Godoy.

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ESPERANÇAS

Os mineiros chilenos já estão presos há quase o mesmo tempo que alguns trabalhadores que passaram por situação semelhante nos últimos anos.

Em 2009 três mineiros sobreviveram por 25 dias isolados numa mina inundada no sul da China. Já no nordeste da China dois mineiros foram resgatados com vida após 23 dias de espera em 1983.

Poucos resgates duraram mais de duas semanas na história recente de acidentes similares.

“A sobrevivência dos mineiros após 17 dias é algo muito incomum, mas já que eles chegaram até aqui, é provável que cheguem bem à superfície”, disse Davitt McAtteer, que foi secretário-assistente de segurança e saúde em minas dos EUA durante o governo de Bill Clinton.

“Os riscos de saúde numa mina de cobre e ouro são relativamente pequenos se você tem acesso a ar puro, alimentos e água”, complementou.

McAteer disse ainda que o stress após um longo período de espera pode ser um dos principais obstáculos.

“Há um padrão psicológico que já observamos” neste tipo de situação, disse. No entanto, o estabelecimento de uma linha de comunicação com os trabalhadores significa que psicólogos e psiquiatras podem “guiá-los neste processo”, afirmou McAteer.

Edição: Prof. Samuel Gueiros, Med Trab

1. Introdução

A preocupação com a saúde e a segurança do trabalhador no setor de extração mineral tem crescido em função da conscientização de empregadores e empregados, os quais vêm nuscando respeitar às novas legislações, implementando mudanças comportamentais, uma vez que vem aumentando, nos últimos anos, o número de acidentes e doenças ocupacionais.

A mineração de rochas (britadas) e de cascalho movimentou, em 2005, mais de 1,7 bilhões de reais, segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM, 2006), tendo sido a terceira em movimentação financeira. O Estado de São Paulo foi responsável por 43,29% do consumo de rochas britadas e de cascalhos (R$ 550 milhões movimentados), sendo a região

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metropolitana o maior mercado consumidor. Para atender a essa demanda, as empresas empregam milhares de trabalhadores, suscetíveis a acidentes e doenças ocupacionais.

A Figura 1 apresenta o total de acidentes ocorridos no setor de extração de pedra, areia e argila, segundo dados da Previdência Social (Brasil, 2008), demonstrando que o número de acidentes ficou em torno de 1.000/ano entre 2000 e 2006. Além disso, esse setor registrou o maior número de acidentes entre as indústrias extrativas, evidenciando a relevância da preocupação com a saúde e com a segurança dos trabalhadores e a importância do controle dos riscos ocupacionais.

O aumento do número de acidentes de trabalho ocorridos em mineração de pedra britada no Brasil chama atenção das autoridades e dos especialistas e, também, dos próprios empreendedores, que passaram a se preocupar com seus trabalhadores. Entre 2000 e 2006, verificou-se um crescimento de 35% no número de acidentes (de 944 para 1273), dos quais 26% se deram após 2003. Entretanto o número de acidentes no Estado de São Paulo, em relação ao total nacional, decresceu de 32 para 21% para o período considerado (de 2000 a 2006).

Dos acidentes ocorridos, aproximadamente, 90% caracteriza-se como acidente típico, ou seja, ocorrido no ambiente de trabalho, panorama este que se repete tanto no Brasil como no Estado de São Paulo. Apesar de o número de acidentes ter uma tendência de alta, justificada não pelo agravamento da situação, mas pelo maior numero de registros oficiais, proporcionalmente, esses acidentes típicos vêm diminuindo.

A importância do setor no Estado, somada à significativa movimentação financeira envolvida na atividade, possibilitou um maior investimento, tanto no conhecimento e monitoramento dos riscos, quanto na tomada de medidas de controle.

A mineração apresenta risco grau 4, segundo classificação da Norma Regulamentadora 4 (MTE, 2008), Quadro 1, o que se reflete em uma maior exposição do trabalhador ao risco e na ocorrência de acidentes.

Baseando-se em trabalhos de diversos autores, foram identificados os principais riscos aos quais os trabalhadores estão expostos em uma mineração de pedra britada. São eles:

Poeira de sílica: pode provocar a silicose, principal doença pulmonar e uma das maiores preocupações ocupacionais (Gruenzner, 2006; Gabas, 2008).

Ruído: a exposição a níveis elevados sem devida proteção pode causar perdas auditivas irreversíveis (Schrage, 2005).

Incêndios e explosões: associados a lubrificantes, explosivos e outros materiais combustíveis têm, como consequências, perdas materiais e morte de um ou mais trabalhadores (Iramina, 1996).

Estabilidade do talude: blocos de rocha podem se desprender dos taludes e atingir veículos e trabalhadores no local.

Quedas: o trabalho em bancadas com alturas de 10 a 20 metros expõe o trabalhador a possíveis quedas durante sua atividade.

Acidentes gerais: podem acontecer com os trabalhadores ao lidarem com movimentação de máquinas, elementos móveis (correias), pisos escorregadios e/ou irregulares, produtos e ferramentas durante todo o período de trabalho (Mendes, 2001). Cortes e esmagamento de membros também podem ocorrer em determinadas atividades. Inclui contato com produtos químicos, principalmente na pele e olhos, podendo causar

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queimaduras e cegueira. Fragmentos de rocha podem atingir os trabalhadores devido à instabilidade dos taludes (Zea Huallanca, 2004).

Calor: a exposição do trabalhador ao sol pode levar a estresse térmico, queimaduras, desidratação, etc. (Moran et al, 2004).

Ergonômicos: presentes na maioria das atividades. As lesões são causadas por má postura e repetição de movimentos, além de esforços excessivos no uso de equipamentos pesados (Mascia, 1997).

Vibração mecânica: a exposição prolongada pode provocar problemas vasculares, neurológicos, musculares e articulares (Cunha, 2006).

Em virtude da maior conscientização e preocupação das empresas e empregados, o panorama da segurança do trabalho no Brasil tem se alterado, de modo que o que antes era considerado custo, hoje, é visto como investimento. Paralelamente, a legislação específica para mineração está se atualizando e a fiscalização está cada vez mais atuante e rigorosa. Tais fatores contribuem para uma melhoria nas condições de saúde, higiene e segurança no setor.

Uma política de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) contribui para o estabelecimento das mudanças e melhorias propostas, já que promove um maior comprometimento da gerência da empresa (Lima, 2002). A Norma Regulamentadora 22 (NR-22: Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração) determina a elaboração do Programa de Gerenciamento de Risco (PGR), obrigando as empresas do setor de mineração a agirem de modo preventivo, garantindo, assim, a saúde e a segurança dos trabalhadores (Barreiros, 2002). Dessa forma, a identificação e o controle dos riscos são imprescindíveis para a prevenção e para o PGR.

O objetivo desse trabalho é avaliar e discutir os riscos presentes nas operações unitárias do processo produtivo de pedra britada em uma mina a céu aberto e propor medidas de controle para elaboração do PGR, mantendo as empresas em acordo com as normas regulamentadoras.

2. Materiais e métodos

Esse trabalho foi desenvolvido em uma pedreira na região metropolitana de São Paulo, mas pode ser aplicado a qualquer outra mineração do setor, desde que sejam realizadas as devidas adaptações (em função de diferenças no processo e equipamentos) e desde que tais adaptações sejam conduzidas por profissionais familiarizados e capacitados no processo produtivo.

Os principais riscos associados às operações de perfuração, desmonte, carregamento, britagem e peneiramento foram avaliados por meio de análises de campo, relatórios e registros da empresa e medições de alguns agentes. Para cada um dos riscos identificados, foram propostas medidas de proteção ou correções, de acordo com as novas tecnologias existentes, técnicas propostas em literaturas e experiências de campo.

O fluxograma do processo produtivo está ilustrado na Figura 2.

3. Resultados e discussões

Na Tabela 1, é apresentado um sumário dos riscos para as atividades consideradas no processo produtivo.

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A poeira é um agente que está presente em todas as atividades, já que a geração de material particulado é intrínseca à produção de pedra britada. A sobrecarga térmica, em atividades a céu aberto, deve-se à exposição dos trabalhadores ao sol durante toda a jornada de trabalho, fato agravado pela à ausência de sistemas de ar condicionado ou ventilação suficiente em grande parte das máquinas. Os problemas ergonômicos ocorrem, principalmente, devido às más posturas na execução das tarefas e à permanência prolongada em uma mesma posição, como no caso dos motoristas de caminhões ou operadores de carregadeiras.

O processo de perfuração de bancadas expõe o trabalhador a todos os tipos de riscos, principalmente material particulado da rocha e o ruído da perfuratriz, devido à proximidade com que o operador deve trabalhar da fonte geradora de poeira e de ruído. Os riscos ergonômicos e de vibração estão presentes, principalmente, na preparação para o desmonte secundário, com o uso de marteletes pneumáticos. Há risco de incêndios ou mesmo explosões, dada a possibilidade da presença de explosivos remanescentes não detonados no desmonte. Cortes e esmagamentos podem ocorrer durante o manuseio das hastes de perfuração.

O carregamento de explosivos, normalmente, é realizado em bancadas isoladas, afastados da perfuração ou do carregamento e transporte de materiais. Assim, o ruído não é um problema que afeta os trabalhadores. O risco de incêndio e de acidentes em geral está, principalmente, ligado à manipulação de produtos químicos e explosivos. A detonação, apesar de gerar ruído, não afeta as pessoas, já que é exigida, por medidas de segurança, a permanência a grandes distâncias do ponto de detonação.

No carregamento e transporte de rocha, o ruído e a poeira de sílica estariam dentro dos níveis aceitáveis, se os motoristas dos caminhões mantivessem as janelas fechadas. Essa prática é impossível de ser mantida, principalmente, em função do desconforto térmico, dada a ausência de sistemas condicionadores de ar, o que acarreta exposição dos trabalhadores a esses riscos. A vibração no interior desses veículos é intensa, causando grande desconforto ao motorista e possibilidades de grandes problemas ergonômicos. Quedas de fragmentos de rocha de taludes instáveis ou mesmo atropelamentos podem ocorrer durante a jornada de trabalho.

Os trabalhadores que atuam no setor de britagem e peneiramento, sejam em manutenções preventivas ou preditivas, reparos, trocas de peças, mudanças no processo, ou que circulam pela área, estão expostos aos riscos assinalados na Tabela 1. Nesses casos, acidentes com parte móveis, como polias, também podem ocorrer.

Após as análises de campo e acompanhamento das atividades dos trabalhadores, foram sugeridas as medidas de controle para cada um dos riscos supracitados, expostas na Tabela 2.

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Algumas medidas de controle são comuns a todas as atividades e devem ser adotadas nos processos envolvidos na produção de pedra britada. A saber:

Procedimentos operacionais claros e bem definidos: com tais procedimentos, os trabalhadores têm um padrão elaborado pela gerência, fato que garante uma maior segurança na execução de sua atividade.

Substituição dos equipamentos e tecnologias por equivalentes mais modernos e seguros: com essa medida,os trabalhadores podem manter-se isolados das fontes emissoras, evitando exposição desnecessária e, conseqüentemente, ficam protegidos dos perigos presentes. Um exemplo bem sucedido empregado pela empresa avaliada foi a substituição das perfuratrizes pneumáticas e hidráulicas sem cabines por modelos cabinados. A mudança foi feita após análise dos resultados e medidas propostas nesse trabalho.

Cabe ao engenheiro de segurança e aos demais membros do SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho) o gerenciamento de todos os riscos presentes nas diversas atividades de mineração, para que se garanta ao trabalhador um ambiente seguro e saudável.

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4. Análise dos riscos

É recomendada a aplicação de metodologias para análises de riscos, cabendo ao profissional de segurança e saúde da empresa refinar e implementar o método, adequado-o ao processo produtivo em questão. Essa etapa também é importante para a elaboração do Plano de Gerenciamento de Riscos (PGR), já que indica as prioridades das ações a serem tomadas.

A avaliação de risco, apesar de ser qualitativa, pode ser transformada em uma escala numérica a partir da avaliação da probabilidade de acontecimento e da severidade do risco (metodologia desenvolvida e aplicada por Lapa (2006)). A grande vantagem do método é facilitar a identificação das prioridades das ações que devem ser tomadas.

A metodologia desenvolvida por Lapa, utilizada por diversas empresas do setor de mineração, quantifica o risco através do produto da probabilidade pela severidade. A probabilidade é definida pela soma de quatro variáveis, cada uma com valor atribuído de 1 a 3: freqüência de exposição ao perigo, número de pessoas expostas a esse perigo, eficácia dos meios de controle disponíveis e a facilidade de reconhecimento e identificação prévia do perigo. Já a severidade é definida pela soma de duas variáveis: a gravidade (valores atribuídos de 1 a 9) e a escala de abrangência (valores atribuídos de 1 a 5) da lesão, dano ou doença potencial. Os valores são atribuídos de tal forma que situações diferentes de cada variável têm uma pontuação correspondente, em uma escala pré definida. Ao final, o risco será classificado segundo uma matriz e poderá ser trivial, tolerável, moderado, substancial ou intolerável.

Como exemplo, baseando-se em medições de campo e utilizando a metodologia proposta por Lapa, temos que o risco para ruído, cuja magnitude é de 94,1 dBA, na operação de perfuração pneumática, é de 42 (probabilidade = 7 e severidade = 6). A classe do risco neste caso é moderada, exigindo uma reavaliação da situação, verificando se há possibilidades de melhoria das condições de exposição ao ruído pelo operador. Analogamente, esse procedimento deve ser aplicado a todos os riscos presentes. Das operações analisadas, nenhum risco se mostrou

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substancial ou intolerável, o que, segundo o autor, exigiria medidas de controle imediatas para levar o risco pelo menos à classe moderada.

Medidas como planejamento durante as etapas de avaliação de riscos e a valoração dos mesmos podem poupar recursos valiosos, sendo que a prioridade deve ser dada aos riscos intoleráveis ou substanciais, secundariamente aos moderados e, finalmente, aos triviais.

Tais medidas demandam tempo, mão-de-obra qualificada e especializada e elevado comprometimento, entretanto, se realizadas adequadamente, são muito efetivas na preservação da segurança e saúde dos trabalhadores, possibilitando a redução do número de acidentes, evitando perdas de produção ou mudanças na rotina de trabalho.

5. Conclusões

Nesse trabalho, foram identificados os riscos envolvidos nas etapas de produção de areia e brita e sugeridas algumas medidas de segurança, controle e minimização em cada uma delas. Sugestões de melhorias, como o uso de perfuratrizes cabinadas, a construção da cabine de controle para a britagem e peneiramento e o uso de câmeras de vídeo, vêm sendo utilizadas na pedreira atualmente, e já foram observados avanços nas condições de trabalho, de acordo com os próprios trabalhadores.

É demonstrado por esse trabalho que a análise de riscos e sugestões de medidas de controle são fundamentais para elaboração do Plano de Gerenciamento de Riscos (PGR), obrigatório pela NR-22. Os resultados desse trabalho podem ser utilizados como base na análise de outras pedreiras, ressaltando-se o fato da necessidade de ajustes para a realidade de cada processo produtivo.

Em muitos casos, o custo é o maior obstáculo para implantação das medidas de controle e investimentos na área de segurança e saúde do trabalhador. Entretanto, com a conscientização dos trabalhadores em relação aos riscos, e o envolvimento da gerência, tais questões podem ser solucionadas a custos relativamente baixos, se comparados às consequências de um acidente de trabalho.

Os investimentos numa política de Segurança e Saúde do Trabalho que elevem a segurança dos trabalhadores e reduzam os riscos à sua saúde são realizados pelas pedreiras, mas, ainda, há um longo caminho a ser percorrido para que os riscos ocupacionais alcancem níveis satisfatórios.