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Luanne Rice MILAGRE EM NOVA IORQUE Tradução Carla Morais Pires

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Luanne Rice

MILAGRE EM

NOVA IORQUE

TraduçãoCarla Morais Pires

Ao irmão Luke Armour

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Durante o Verão, as árvores haviam--se tornado altas e entroncadas,

com as raízes bem enterradas no solo fértilda ilha, os galhos ansiosos estendidos emdirecção ao Sol dourado. O vento salgadosoprara de leste, tingindo de prateado as agu-lhas dos pinheiros. Todas as pessoas sabiamque as melhores árvores de Natal vinham doNorte, com as melhores de todas a provir daNova Escócia, onde as estrelas se suspendemmais abaixo no céu. Dizia-se que a luz dasestrelas se alojava nos ramos, que a auroraboreal cobria as agulhas com magia. As árvo-res da Nova Escócia tornaram-se mais resis-tentes com a proximidade do mar e maisluminosas por causa das estrelas.

Em Pleasant Bay, Cape Breton, no longínquo Norte daNova Escócia, havia uma plantação de árvores pertencente aChristopher Byrne. A sua família emigrara da Irlanda para oCanadá quando ele era criança; havia respondido a um anúnciopara trabalhar numa plantação de árvores de Natal. Era um tra-balho brutalmente duro, e eles eram muito pobres, e Christyrecordava-se dos tempos em que se deitava com uma fome dila-cerante.

Aos doze anos, media um metro e oitenta, crescendo dema-siado depressa para as posses da família, tendo a mãe, muitasvezes, sentido necessidade de sacrificar a própria refeição paraque o filho mais velho tivesse comida suficiente. Bem que pre-cisava dela para resistir às forças da natureza, pois o vento nortebramia, as neves do Árctico precipitavam-se a toda a velocidade,e o calor do Verão irrompia em labaredas, e Christy ultrapassavatudo isso. Quando estavam no campo, a mãe costumava tocara sineta para os chamar para o jantar. Ele adorava aquele som.Independentemente do pouco que tinham, a mãe fazia o seumelhor para se certificar de que Christy recebia em amor maisdo que o bastante e em comida quantidade que lhe fosse sufi-ciente, ou quase.

A fome fizera de Christy Byrne um trabalhador obstinadoe dera-lhe uma forte motivação para a prosperidade. Poupavatodos os tostões que ganhava para comprar terrenos, usando aperícia e o instinto que aprendera com o pai para plantar assuas próprias árvores e sobreviver às brutais forças da natureza.O amor e a generosidade da mãe tornaram-no um homem exce-lente, e isso fizera dele um bom pai. Tinha consciência disso.Não havia dúvidas, o seu coração acalentava uma enorme paixãopelos filhos. Foi por isso que naquele ano, ao cortar as árvoresna encosta e preparando-se para as vender, no Sul, sentira umtumulto de esperança e confusão.

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Todos os anos, no primeiro dia de Dezembro, Christy enca-minhava-se para sul, para a cidade de Nova Iorque. Hordas devendedores de árvores rumavam à resplandecente ilha de Manhat-tan, vindos das planícies de Winnipeg, das florestas nevadas anorte de Toronto e a leste do Quebeque, dos bosques verdejantesde Vermont e do Maine, dos lagos do Wisconsin, das penínsulasermas do Michigan. As árvores eram cortadas e amarradas, trans-portadas em camiões TIR pelas magníficas pontes ornamentadasque atravessam os rios East e Hudson, descarregadas em esquinas,desde Litte Italy a Gramercy Park, de Tribeca a MorningsideHeights, e os vendedores esperavam obter, com um mês de boasvendas, o rendimento digno de um ano de trabalho.

Os vendedores de árvores eram um punhado de pessoas commau aspecto. Jardineiras e casacões, com capuz, constituíam o seuuniforme. Alguns chegavam em caravanas, como ciganos, esta-cionavam os atrelados na beira do passeio e passavam o mês deDezembro encolhidos de frio, com o monóxido de carbono a sair,bem como o escasso calor. Alguns punham um enorme Pai Nataliluminado ou um boneco de neve no tejadilho da caravana.

No que tocava a vender árvores de Natal, Christy não tinharival. Costumava deixar a família para trás e viajar sozinho.Montava o seu posto numa esquina, em Chelsea, dispunha luzi-nhas brancas para exibir as suas árvores com as centelhas desalitre, e usava a sua verborreia irlandesa para as vender, até àúltima, ao preço mais elevado, a tempo de chegar a casa navéspera de Natal, carregado de bombons, nozes, chocolatesrequintados e queijos das melhores lojas de Manhattan. Levavaainda bonecas de cabelo louro, soldadinhos de chumbo, patinsprateados e trenós para Bridget e Danny. Para Mary, camisolasmacias de lã encarnada e delicadas camisas de noite, de seda.Porque não gastar alguns dos ganhos com a família? Lucrarabastante com as pessoas glamorosas de Nova Iorque.

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Regressaria a casa e contaria a toda a gente, diria a Danny,o que o esperava.

– Seremos sócios, tu e eu – prometera Christy. – Quandochegar a altura, vais herdar metade desta quinta. Aplica-te naescola, filho. Não podes tomar a silvicultura como certa. Tensde ser um cientista… aprender tudo sobre os padrões meteo-rológicos, e a acidez do solo, e as larvas.

– Queres dizer que é preciso uma cultura livresca? Para seser silvicultor? – perguntara Mary, rindo.

Sentido, Christy fizera por não o mostrar; ela nunca haviavalorizado as devidas competências. O pai de Mary frequentaradurante dois anos a universidade de Halifax, trabalhara na linhada frente de uma empresa lagosteira, e Christy sabia que elatinha planos semelhantes para o filho.

– Isso e instinto – retorquira Christy, consciente de queo filho estava a ouvir, querendo que se sentisse orgulhoso doseu legado na silvicultura. – Tomar conta dos terrenos requero nosso melhor, tudo! É um trabalho mágico, lá isso é, fazercrescer do nada as árvores de Natal, com ajuda do sol e daterra.

– E da precipitação – atalhara Danny. – Pluviosidade mode-rada e frentes fechadas.

Christy rira, afectuosamente, perante as palavras caras e aexpressão séria no olhar do filho.

Porém, após a morte de Mary, com um ataque cardíaco,quatro anos antes, tivera de começar a levar os filhos com elepara Nova Iorque. Danny tinha doze anos na altura, e Bridget,oito. A escola dava-lhes sempre autorização, juntamente comum mês de lições para estudarem e trabalhos de casa parafazerem enquanto o pai despachava as árvores. Na primeira vezque foi à cidade, os olhos de Danny saíram-lhe das órbitas: astorres, as pontes, as lojas de luxo.

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– É isto Nova Iorque? – perguntara, no primeiro ano,boquiaberto. – É tão… grande, pai! Como uma floresta de pré-dios, todos iluminados!

– Mas não esqueças a quinta… – aconselhara Christy.– Nunca, pai – respondera Danny.Assim, Christy alugava dois quartos na pensão de Mrs.

Quinn, ali mesmo na Nona Avenida, onde podia ir olhandopelas árvores. Um quarto grande para ele e para Danny, e outromais pequeno para Bridget. Tinha posses para isso, porque osseus abetos e pinheiros eram os melhores, e ele conseguia semprearranjar nova-iorquinos que pagassem o dobro do que pagariamnoutras esquinas. Punha uma corrente à volta das árvores paraque ninguém as pudesse roubar – e, além disso, dormia comum olho aberto. Não poria as mãos no fogo pelos nova--iorquinos: os sem-abrigo deitariam mão a qualquer coisa, e osendinheirados escapar-se-iam com o que pudessem.

– É assim que os ricos ficam mais ricos – dizia ele.Mary costumava censurá-lo pela atitude de desconfiança

quanto aos cidadãos abastados de Manhattan. – Christy, eles põem-nos o pão na mesa durante o ano

inteiro, têm estado a suportar a hipoteca dos terrenos e vãopagar a universidade ao Danny… isto se algum dia o deixaresafastar-se o suficiente da quinta. Por isso, não fales mal deles!

– Ah, têm tanto dinheiro que nem reparam no ar que res-piram – alegara Christy, ignorando o reparo. – Nem na neve,excepto para reclamarem que lhes estraga os sapatos caros. Estãotão ocupados a fugir do vento que se esquecem de sentir o seuferrão nos rostos, fazendo-os saber que estão vivos.

– Bem, tu gostas de aceitar os dólares deles – insistia ela. – Lá isso gosto – ria-se Christy. – Acredita, eles têm

mais do que o suficiente; portanto, não vão sentir falta. Seduplicasse os preços, provavelmente venderia duas vezes mais

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depressa. Os ricos adoram gastar dinheiro, e se alguma coisalhes custar muito, encontram ainda mais motivos para se van-gloriarem.

– És um maldizente, Christy Byrne – costumava Marydizer, abanando a cabeça. – Vender árvores de Natal com essetipo de mentalidade é uma espécie de pecado, é, sim senhor.Vai arranjar-te sarilhos, escreve o que estou a dizer.

A família de Mary vivera confortavelmente, e ela nuncafora para a cama com fome. O que sabia ela?, perguntava Christya si próprio nos bosques húmidos de chuva, nos curtos e encan-tados verões da Nova Escócia, ao caminhar ao longo dos frescosregatos de água cristalina, sentindo o enlevo da brisa, enquantoaparava o precioso crescimento dos abetos, dando-lhes a formade árvores de Natal, calculando os belos dividendos que trariamem Dezembro.

Naquele ano, com as potentes serras a roncar como demó-nios, cuspindo lascas de madeira na sua cruel e diabólica des-truição do melhor da natureza, Christy percebeu que Marytinha razão. No último Inverno, Manhattan – apesar de todoo dinheiro que lhe dera a ganhar ao longo dos anos – haviareclamado o maior preço imaginável, os juros de todos os seusproveitos, aquilo que Mary apelidara certo dia de ganância,agravado para além de toda a compreensão: Nova Iorque ficara--lhe com o filho.

Três anos de luzes de néon provaram ser uma tentaçãodemasiado grande para o filho adolescente. E na última vésperade Natal, após uma época de vendas excepcional, Danny infor-mara o pai de que não iria regressar a casa com ele e comBridget. Ficaria em Nova Iorque, procuraria um emprego, fariaali a sua vida.

– O que queres dizer com «fazer a tua vida»? – perguntaraChristy.

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– Deixa-me ficar, pai… Não consigo falar mais sobre oassunto! Não entendes!

– Ficar em Nova Iorque? Estás maluco, Danny?A tensão entre eles tornou-se terrível. Christy agarrou-lhe

na manga, sentiu Danny soltar-se – desprendera-se literalmentecom um sacão. E isso fez Christy agarrá-lo com mais firmeza.

– Não se pode falar sobre isto – queixou-se Danny. – Nuncase pôde. É sempre como tu queres, pai… a quinta. Há umacoisa que quero fazer agora. É o meu sonho, pai. E tenho deo seguir! Ensinaste-me a não perder tempo com conversasquando há trabalho a fazer.

Danny falava a sério, e tinha razão: Christy ensinara-lheisso mesmo. Falar consumia muito tempo quando havia todauma quinta que precisava de ser tratada. Claro, o que Dannynão sabia era que Christy tinha medo de falar. Receava que osfilhos lhe fizessem perguntas para as quais não soubesse as res-postas, que lhe dissessem coisas que agitassem as suas emoções.Não havia palavras para expressar o quanto os amava.

Danny olhava para o pai com o olhar resoluto, e que nãopodia ser dissuadido, de um sonhador. Christy sentia-se ferido,magoado. Como poderia o seu filho ter um sonho, algo queo manteria em Nova Iorque, de que ele nada sabia? No fun-do, sabia o suficiente para se culpar a si próprio. Não haviasido na realidade um ouvinte receptivo. Mas, mais importan-te, como poderia deixar Danny sozinho naquele lugar? Nãoera possível. Christy segurou-o com mais força, Danny liber-tou-se.

O primeiro confronto entre pai e filho, ali, naquelemomento.

Envolveram-se ali mesmo na esquina. Christy lutava como próprio filho e, ao tentar a todo o custo agarrá-lo, havia-lherasgado o casaco – a nova parca acolchoada que lhe comprara

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no início da estação. Com as penas a esvoaçarem, o cotovelode Danny bateu acidentalmente no nariz do pai. O sangue cor-ria-lhe enquanto tentava deter Danny. Se ao menos pudessefalar com o filho, impedi-lo de fugir, talvez o conseguisse chamarà razão. Ali estavam eles, engalfinhados no passeio coberto deneve, com Bridget a gritar para que parassem.

A Polícia fora chamada. Carros-patrulha haviam acorridode imediato, com as sirenes a estrondear. A luta derrubara agambiarra de luzes brancas que se emaranhara no passeio, ilu-minando a neve ensanguentada. Um agente agarrara Christy,algemando-lhe as mãos atrás das costas, e Danny aproveitaraa oportunidade para fugir.

O último vislumbre que Christy tivera do filho havia sidoo seu vulto, iluminado pelas luzes azuis da Polícia, a escapulir--se por entre a multidão de curiosos, com as penas brancas deganso a irromperem do casaco rasgado como uma tempestadede neve.

– Está um frio de rachar – dissera Christy ao agente queo multava na esquadra. – Ele vai ter fome e frio, com a parcaestragada.

– É esse o espírito do Natal. Talvez devesse ter pensadonisso antes de lhe dar uma tareia – retorquiu o polícia. Era oagente Rip Collins.

Christy era demasiado orgulhoso para protestar, para revelaros seus verdadeiros sentimentos, de mágoa e pavor, a um agenteda Polícia de Nova Iorque. O que sabia ele? O que sabia alguémdaquela cidade brutal, ofuscante e vistosa? Com todas as suasluzes falsas, os templos à ganância, gente insensata tão facilmentelevada a pagar pequenas fortunas por uns simples pinheiros.

Libertado com termo de identidade, Christy deixou aesquadra, voltando para a pensão de Mrs. Quinn. O sanguealvoroçava-se-lhe nas veias; esperava, mesmo quando já não

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havia esperança, que o filho estivesse lá. Porém, apenas encontrouBridget, sentada na cama, com o rosto lavado em lágrimas.

Christy pegou na filha e, com a maior das tristezas, regres-sou ao Canadá. Havia uma audiência marcada para Março,mas o agente Collins falou com o adjunto do procurador encar-regado do assunto, contando-lhe o que realmente acontecera.E com Danny sem ser encontrado – apesar de ter Collins eoutros polícias à sua procura –, a queixa contra Christy haviasido retirada. Embora devesse sentir-se aliviado, Christy sen-tia-se desmoralizado; para a Polícia de Nova Iorque e para osistema, a sua família tornara-se exemplo de mais um conflitodoméstico a juntar-se às estatísticas, e o filho mais um miúdode rua.

Agora, um ano depois, a pickup estava carregada e prontapara regressarem a Nova Iorque. Haviam recebido apenas umpostal de Danny, com uma imagem da Ponte de Brooklyn, semqualquer indicação na mensagem de onde se encontrava a viverou como estava a sair-se. Somente as palavras desabridas: «Estouóptimo. Não se preocupem comigo.»

Nem uma palavra sobre sentir a falta de Christy, ou deBridget, ou dos doze hectares da família, ou dos seus abetossituados na orla do mundo. O rapaz nascera numa terra mágicado Norte, habitada por águias-de-cabeça-branca, ursos-pretos,raposas-vermelhas e raposas-prateadas, e mochos enormes. Tro-cara-a pelas cavernas urbanas de Nova Iorque, povoadas porjogadores e prostitutas. Christy detestava fervorosamente acidade, não queria voltar a pôr lá os pés.

Mas sabia que precisava de o fazer. Tinha de instalar asárvores na mesma esquina, em Chelsea, pendurar as gambiarras,que faziam com que os cristais de sal brilhassem nas agulhasdos pinheiros, atraindo os clientes, preparar o seu melhor sorrisoe lançar o seu encanto, vender as árvores e pôr o dinheiro no

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banco. Mas, acima de tudo, tinha de estar no mesmo lugar desempre para Danny saber onde o encontrar.

– Vamos, Bridget! – gritou, do fundo das escadas. Elaapareceu no andar de cima, arrastando outra mala enorme.

– O que é isso? – perguntou.– São as minhas coisas, pai.– As tuas coisas já estão na carrinha, Bridget! Só vamos

estar fora durante vinte e quatro dias. O que levas aí? – Roupas de festa, pai. – Os seus olhos verdes reluziam. Christy olhou para ela. Tinha agora quase treze anos, era

uma senhorinha. Enrolara sozinha o seu bonito cabelo castanho,amarrara-o com uma fita de veludo bordeaux que havia encon-trado algures. Mas por que diabo pensaria ela que iria precisarde roupas de festa? Christy trabalhava o dia todo, todos os dias,até as árvores estarem todas vendidas.

– Bridget… – começou.– O Danny vai voltar para nós, e vamos levá-lo a um sítio

especial para comemorar.– Deixa aí a mala. Sê uma boa menina, e vamos andando. – Vi um programa sobre Nova Iorque na televisão, pai –

disse, as palavras saindo em catadupa, começando a descer asescadas com o malão. – Há lugares de luxo onde ainda nãofomos, lugares que o Danny iria adorar… palácios, pai! Cobertosde cristais e ouro, e com árvores de Natal maiores do que asmais velhas da nossa montanha, todas enfeitadas com fitas eluzinhas. A sério, pai. Como o país das fadas! As raparigas atomar chá com os pais, e os rapazes todos enfarpelados, comgravatas e tudo, todos tão felizes e a celebrar, juntos, o feriado.

– Não é assim que costumas celebrar esse dia – atalhouChristy, rudemente.

– Mas temos de fazer alguma coisa excepcional quando oDanny voltar para nós!

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– Entra na carrinha, Bridget – disse, apontando com deter-minação para a porta da frente.

Ela fez cara feia, passando por ele a manquejar devidoao peso da mala. De forma relutante, Christy pegou nela e pô--la no compartimento atrás do assento. Depois entraram efecharam as portas com força.

Christy aquecera o carro para a filha, mas não achou queela fosse reparar. Não importa, disse para si próprio. Uma dasformas que tinha de aferir que havia sido um bom chefe defamília era os filhos nunca comentarem se sentiam calor amais ou se os estômagos não lhes doíam de fome; tomavamcomo certa a vida confortável que levavam, o que era tão--somente o que as crianças deveriam fazer. Christy nem sequertentaria forçar Danny a voltar para casa. Havia jurado a sipróprio.

Tinha apenas de se certificar de que o filho não passavafome. E saber se conseguira, de qualquer forma, aproximar-sedo seu «sonho». Olhando para a encosta da quinta voltada parao mar, interrogava-se como poderia algum sonho ser melhordo que aquilo… pertencia tudo a Danny e a Bridget. Se con-seguisse prender o vento, capturar a luz do Sol, fá-lo-ia paradar aos filhos.

– Vamos ver o Danny, pai – insistiu Bridget. – Devias estarcontente.

Para não perturbar a filha, tentou descontrair o rosto dosesgares que, pelos vistos, ia fazendo sem notar, mas sofria muitopor dentro. Quanto mais calmo tentava parecer, mais sentia queas esperanças de Bridget aumentavam. E apenas com um únicopostal recebido, Christy compreendia bem a razão de ser daquelasua angústia.

O veículo de dezoito rodas, alugado, que ele carregara comas árvores esperava já no final do caminho de acesso à quinta,

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