migracao internacional na historia das americasr
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merica
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para a
merica Latina
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Boris Fausto
organizador
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MIGRA
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FAZER A AMERICA
menonitas e aos dissidentes da igreja russa ortodoxa) e atacado pelo grupo reli
gioso dominante.
Uma vez que
as
condi95es economicas constituem o fator de expulsao mais
importante, e essencial saber por que mudam as condi95es e quais sao os fatores
responsaveis pelo agravamento da situa9ao crftica que afeta a capacidade potencial
dos emigrantes de enfrenta-la. Nessa formula, tres fatores sao dominantes: o primei
ro e 0 acesso a terra e, portanto, ao alimento; 0 segundo, a varia9ao da produtividade
da terra; e o terceiro, o numero de membros da famflia que precisam ser mantidos.
Na primeira categoria estao
as
quest5es que erivolvem a mudan9a dos direitos sobre
a terra, suscitada via de regra pela varia9ao da produtividade das colheitas, causada,
por sua vez, pela moderniza9ao agrfcola em resposta ao crescimento populacional.
Nas grandes migra95es dos seculos XIX e
XX
epoca em que chegaram a America
mais de dois ter9os dos migrantes - o que de fato contava era uma combina9ao
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KLEIN
... Migrarao Internacional
na Hist ria
das Americas
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mudar os metodos tradicionais de arrendamento, cultivo e prodm;ao. Os enclosures
cercados), a supressao dos tradicionais direitos de acesso a terra e outros instru
mentos foram usados para a criac;ao de unidades economicas viaveis. Isso implicou
na perda por muitos camponeses de seus direitos a terra, os quais foram forc;ados a
trabalhar para outros. 0 aumento de produtividade e a crescente mecanizac;ao da
agricultura europeia significaram menor necessidade de mao-de-obra, exatamente
num momento em que surgia um excedente de
forc;a de trabalho. Em virtude da falta
de apoio governamental, a fome passou a ser uma seria ameac;a
as
populac;oes sem
terra ou que possufam terras limitadas.
Tao importante quanto
as
alterac;oes tecnol6gicas na utilizac;ao da terra e na
produc;ao foi a crescente pressao sobre as novas divis5es de terra entre os campone
ses que a possufam. Com a sobrevivencia ao nascimento de maior numero de crian
c;as e foi o declfnio dos Indices de mortalidade infantil que exerceu o efeito mais
dramatico sobre a estabilizac;ao
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FAZER AAMERICA
predominante em todas as Americas. A fronteira continua sendo um fator importan
te em pafses como o Brasil, mas ate o infcio do seculo
XX
constitufa a regra
em
quase todos os pafses.
Como a mao-de-obra podia ser escassa se havia cerca de 50 milhoes de Indios
na America
em
1492? Novamente a explica9ao demografica tern muito a dizer nes
se assunto. 0 isolamento em que as popula96es americanas estavam em rela9ao as
doen9as europeias significava que as doen9as endemicas comuns na Europa torna
vam-se epidemicas quando infectavam
os
Indios americanos. Ainda existe muita
controversia sobre o percentual exato da perda, mas nao restam duvidas de que, por
volta de 1650, a popula9ao indfgena americana reduziu-se a menos de cinco mi
lhoes. Alem disso, mais de dois ter9os dessa popula9ao encontravam-se em socieda
des camponesas altamente estratificadas das quais se podia facilmente extrair traba
lho - o restante ou vi via em pequenas comunidades ou era seminomade. Os europeus
tentaram escravizar os Indios, mas acabaram por descobrir a ineficacia dessa
escraviza9ao. Foram os espanh6is os que revelaram maior eficiencia na explora9ao
do trabalho indfgena, porque eram os unicos a possuir controle exclusivo sobre as
principais sociedades camponesas no Mexico e no Peru.
m
regra, mantiveram tan
to quanto possfvel as tradicionais sociedades pre-colombianas e extrafram trabalho
. por meio de salarios e taxas discriminat6rias. Ja os portugueses foram mais eficien
tes na escraviza9ao do indfgena, embora todas
as
na96es tenham, inicialmente, ten
tado essa op9ao. Ate eles, porem, foram for9ados, por volta do seculo
XVII
a aban
donar essa fonte de trabalho, devido ao seu aumento de custo e de ineficacia.
Como a manuten9ao das colonias era uma opera9ao cara e diffcil para todas as
na96es europeias, era essencial que, para sobreviver, essas sociedades coloniais ex
portassem para o mercado internacional. A necessidade de constantes exporta96es,
basieamente para suprir o mercado europeu, significava que a oferta de mao-de
obra era sempre pequena em
todas
as
na96es europeias que colonizaram a America.
Assim, a demanda de mao-de-obra era constante nas colOnias e os salarios na Ame
rica tendiam, em geral, a ser mais altos que
os
europeus. Os nfveis de qualifica9ao
tambem eram mais baixos e o rfgido sistema de guildas nunca se implantou com
pletamente nas Americas devido
a
desesperada escassez de artesaos habilidosos.
Finalmente, a possibilidade de obter terra era uma constante atra9ao para todos
os imigrantes. Com a terra tao barata - novamente em compara9ao com os padroes
europeus - era grande a probabilidade de trabalhadores sem terra conseguirem suas
pr6prias fazendas, muitas vezes num perfodo de tempo muito curto ap6s a chegada.
Guilda
corpora\:aO medieval que estabelecia privilegios em favor de seus membros e rfgidos contro
les de qualidade e
prei;:o
dos produtos, constituindo-se, conforme o caso,
de
artesaos, artistas, comer
ciantes etc. [N. do
T.]
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KLEIN igrariio Internacional
na
Hist6ria das Americas 17
Esse acesso
a
erra era possfvel nao apenas em terras livres da fronteira, mas tam
bem nas regioes habitadas que produziam hens agrfcolas para exporta9ao. Mesmo
em regioes com mao-de-obra contratada ou migra9ao subsidiada, e contratos fixos,
era possfvel obter terra poucos anos ap6s a migra9ao inicial.
EVOLU
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AMERICA
m
virtude da riqueza
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norama nao se alteraria no seculo seguinte, mesmo com a abertura das Indias Oci
dentais espanholas
a
mporta9ao africana.
Com o progressivo declfnio dos imperios portugueses na Asia e na Africa, a
partir do seculo XVII, e o crescimento contfnuo do Brasil, a importancia relativa do
Brasil como centro potencial para a imigra9ao de brancos livres tambem mudou.
Em 1700, a economia brasileira - que estava relativamente estagnada na segunda
metade do seculo XVII - experimentou um crescimento extremamente rapido com a
descoberta, na provfncia de Minas Gerais, das maiores jazidas de ouro
d
mundo
ocidental. Isso abriu o interior brasileiro a enorme expansao e tambem estimulou a
mudan9a da popula9ao para o Centro e o Sul do pafs. Tambem resultou
em
novas
migra96es da Europa, agora que
os
salarios haviam mudado clara e definitivamente
em favor da economia colonial portuguesa na America. Enquanto, nos dois seculos
re 1700, haviam migrado para o Brasil cerca de cem mil portugueses, somente no
seculo XVIII migraram cerca de 400 mil, e provieram de uma popula9ao de apenas
dois milhaes
de portugueses metropolitanos em 1700. Esse mesmo seculo tambem
~ ao apogeu da entrada
de
escravos africanos no Brasil, alcan9ando um in
gresso anual
de
2
m l
africanos no final do seculo. Nesse seculo de crescimento da
~ a economia brasileira absorveu quase 1,9 milhao de africanos. Assim,
po
voita de 1800, poucas duvidas havia de que a col6nia brasileira se transformara
na
mais
importante zona de todo o imperio portugues, ultrapassando de longe ate
mesmo a economia metropolitana.
Os Desenvolvimentos das fndias Ocidentais
A expansao imperial holandesa e sua evolu9ao na America nao s6 afetou o
desenvolvimento brasileiro, mas tambem exerceu profundo impacto sobre a cria9ao
de novos centros de crescimento economico e populacional na America. Foi a inter
ven9ao holandesa no Brasil e nas colonias portuguesas na Africa que deram origem
a
uma
nova fase das migra96es europeias e africanas para o Novo Mundo.
a
nas
Ultimas duas decadas do seculo XVI, exploradores franceses e ingleses haviam co
~ o
a fundar colonias na America do Norte e nas lndias Ocidentais, e os france
ses
ja
no infcio do seculo se haviam estabelecido no Brasil. Mas todas essas colo
nias nao contavam com trabalhadores e nao tinham produtos de exporta9ao para a
Europa. A manuten9ao dos trabalhadores era cara e muitos nao sobreviviam aos
primeiros anos de residencia. Com poucos indfgenas para explorar e pouco capital
privado disponfvel, os franceses e os ingleses, para trazerem trabalhadores euro
peus a baixo pre90, recorreram aos contratos de trabalho temporario. Esses homens
entao, na tentativa de produzir safras capazes de satisfazer um mercado europeu,
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eram usados como fon;a de trabalho rural nao-paga. Aiem disso, ate 1700, se com
pararmos os salarios entre, de um lado, a Fran9a e a Inglaterra (ambos os pafses
enfrentavam en ao limita9oes nos mercados de trabalho) e de outro, os da America,
OS
ultimos eram grandemente favorecidos.
m meados do seculo, o tabaco e o indigo, produzidos nas Indias Ocidentais e
na Virgfnia, no continente americano, por mao-de-obra contratada, eram os princi
pais produtos exportados dessas ilhas e das colOnias continentais, e os escravos
africanos ainda constitufam nftida minoria da popula9ao. Mas a crescente riqueza
gerada por esses produtos e a crise da produ9ao brasileira em virtude das guerras
contra os holandeses e sua expulsao final de Pernambuco na decada de 1640 muda
ram profundamente a economia local. Os holandeses expulsos forneceram capital
para a importa9ao direta de escravos da Africa e para a introdu9ao do credito e da
tecnologia no mercado mundial de a9t1car. A transforma9ao que o
a9t1car
provocou
nas fndias Ocidentais foi realmente impressionante. No final do seculo XVII, essas
ilhas haviam mudado de uma mao-de-obra predominantemente branca e contratada
para uma for9a de trabalho predominantemente negra e escrava, quando 80 da
popula9ao da maioria das ilhas eram de origem africana. Por volta de 1800, as colo
nias espanholas, inglesas, francesas e holandesas no Caribe contavam mais de um
milhao de escravos.
s Colonias Continentais da America do Norte ate 18
Quanto a isso, as colOnias inglesas e francesas na America do Norte, em luta
constante entre si, ainda eram importadoras relativamente pequenas de escravos e
de imigrantes europeus brancos. Por volta de 1700, as popula9oes livres das posses
soes continentais britanicas e francesas consistiam de apenas meio milhao de habi
tantes. Tambem em todas as colonias europeias da America do Norte o seculo XVIII
foi
um perfodo de grande crescimento da popula9ao branca livre. Essas colonias
come9aram a se expandir, passando a fornecer transporte e suprimentos basicos
para as grandes lavouras das ilhas produtoras de a9t1car das fndias Ocidentais. Alem
disso, as
c o l n i ~ s
do sul da America do Norte britanica come9aram a produzir, em
larga escala, primeiro tabaco e depois algodao, tornando-se, por isso, grandes im
portadoras de escravos africanos. Ao longo do seculo XVIII as colonias sulistas
absorveram cerca de 350 mil africanos e mais ou menos tim milhao de imigrantes
europeus que ingressaram
em
toda a regiao. Esse ritmo aumentaria sensivelmente
depois que a independencia da America abriu o mercado dos Estados Unidos a
economia mundial.
0
comercio dos Estados Unidos com a Europa continental au
mentou sensivelmente
e
em pouco tempo, a marinha mercante norte-americana perdia
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Internacional
na Hist6ria
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apenas para a Inglaterra no comercio mundial. Na epoca do primeiro censo federal
de 1790, contaram-se 3,1 milhoes de colonizadores brancos - todos, obviamente,
imigrantes - e 757 mil escravos africanos. Por volta de 1820 - perfodo para o qual
existem finalmente bons dados estatfsticos sobre a migrar;ao intemacional - a popu
lar;ao norte-americana ha via subido para 7
8
milhOes de bran cos e
l
7 milhao de
escravos. Estes ultimos, apesar do fechamento, em 1808, do comercio escravo do
Atlantico para a America do Norte, aumentaram em numero. Os Estados Unidos
haviam surgido, entao, como a terra de atrar;ao prioritaria para
os
migrantes euro
peus, uma posir;ao que nao abandonaria nos dois seculos seguintes.
A ultima regiao importante de grande imigrar;ao foi o Canada. Colonizado pe
los franceses e conquistado pelos ingleses no final do seculo
XVIII,
seu clima ad ver
so foi um dos principais fatores que determinaram uma colonizar;ao inicialmente
baixa. A pesca e o comercio de peles foram as principais fontes de atrar;ao para
as
popular;oes residentes, muitas das quais engajaram-se tambem na produr;ao agrfcola
local e regional. Por causa desse papel relativamente menor na economia atlantica,
a popular;ao canadense,
as
vesperas da conquista inglesa,
em
1770, era composta de
cerca de 70 mil habitantes. Mesmo em 1800, o total da popuJar;ao inglesa e francesa
- apesar dos Indices extraordinariamente altos de crescimento populacional entre os
camponeses franceses - oscilava entre 250 e 300 mil. Mas experimentaria tambem
um aumento significativo no seculo
XIX,
secundado apenas pelos Estados Unidos
em
seu papel de receptor de mao-de-obra europeia imigrante.
O Seculo XIX ate 188
A economia
em
expansao
ea
fronteira dos Estados Uni dos ofereciam uma opor
tunidade extraordinaria para a migrar;ao europeia. Ate 1880, essa migrar;ao - a cha
mada Velha Imigrar;ao - era constitufda de camponeses europeus e trabalhadores
rurais da Irlanda, das Uhas Britanicas e da Europa setentrional, que agora chegavam
aos Estados Unidos
em
numeros extraordinarios. Entre 1821 e 1880, cerca de 9,5
milhoes de europeus - sobretudo irlandeses e alemaes - desembarcaram nos Esta
dos Unidos. A Irlanda, mesmo antes da grande fome dos anos 40, enviou 850 mil
imigrantes para a America, enquanto
os
alemaes formavam o segundo maior contin
gente, seguido por nativos das Ilhas Britanicas e depois pela Escandinavia. Essa
massa de migrantes representava 80 de um total de 11,8 milhOes de imigrantes
europeus que trocaram a Europa pela America nesse perfodo. Apesar desse enorme
fndice de migrar;ao, os imigrantes estrangeiros constitufam uma parcela relativa
mente pequena da popular;ao total dos Estados Unidos (cerca de 14,7 em 1910).
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0 Canada, o segundo pafs receptor mais importante nesse perfodo, recebeu de
1821 a 1880 cerca de 1,4 milhao de imigrantes europeus. Por volta de 1881, os imi
grantes representavam 14 de toda a popula9ao canadense, e esse fndice subiria para
22 no censo de 1921, tornando o Canada depois da Argentina a na9ao americana
que mais dependia da imigra9ao estrangeira para manter seu crescimento populacional.
A na9ao receptora mais significati va a seguir era o Brasil. Da mesma forma que
o Canada, o Brasil, antes de 1880, absorveu uma rnigra9ao bastante importante de
colonos agrfcolas oriundos da Alemanha e do norte da Italia. Quase todos evitaram
as regiOes de trabalho escravo e se instalaram
em
regioes de clima temperado, ao sul
de Sao Paulo.
Por
volta
de
1880, cerca de 455 mil
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... Migrarlio Internacional
na Hist6ria das
Americas
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Nao podemos deixar de falar das importantissimas migra9oes de asiaticos du
rante todo o seculo
XIX
que antecederam e se seguiram
a
radicional migra9ao
antiga e nova de europeus. Esses imigrantes asiaticos eram
em
sua maioria traba
lhadores contratados trazidos no inicio do seculo XIX para substituir os escravos
ou para ajudar no desenvolvimento das ferrovias ap6s 1860. Entre 1838 e 1918
entraram na Guiana Britanica cerca de 239 mil trabalhadores contratados no
subcontinente asiatico; 140 mil desembarcaram em Trinidad e outros 47 mil foram
para as Indias Ocidentais britanicas. Esse total de pouco menos de meio milhao de
migrantes das Indias Orientais criaram uma mistura cultural muito particular nas
Indias Ocidentais e na Guiana. Alem disso cules chineses eram levados para Cuba
para os Estados Unidos e partes das Antilhas ou para complementar o trabalho
escravo ou para trabalhar na constru9ao ferroviaria.
Eotre
1848 e 1874 cerca de 125 mil chineses foram levados para Cuba a fim de
bahilbar no cultivoda cana-de-a9ucar. A partir de 1849 chegaram ao Peru onde cerca
deOOmil aportaram antes de 1874 e 18 mil foram levados para a Guiana e
as
Indias
britimcas Grande parte
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FAZER A
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Esse perfodo posterior a 1880 marca tambem uma mudanc;a fundamental na
origem da imigrac;ao europeia. Se os europeus do Norte dominaram o fluxo de sa{da ,
no perfodo anterior, eram agora os europeus do Leste e do Sul que predominavam
no fluxo de cerca de 31 milhoes de imigrantes que cruzaram o Atlantico de 1881 a
1915. As razoes disso estao claramente relacionadas com a mudanc;a das-condi96es
nas regioes europeias de origem
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Hist ria
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as mulheres imigrantes - muito altas em compara9ao com a popula9ao nativa de
todos os paises da America - tambem diminuiriam, quando as mulheres europeias
come9aram a adotar o espa9amento entre uma gravidez e outra usado pelos nativos,
e varios metodos anticoncepcionais.
0
movimento de jovens trabalhadores estrangeiros do sexo masculino
foi.
o
padrao dominante no fluxo migrat6rio p6s-1880 -
ea
regra constante entre os traba
Ihadores asiaticos contratados
-
mas e possfvel perceber algumas varia96es impor
tantes. claro que, no perfodo anterior a 1880, todas as colonias agrfcolas estabe
Iecidas pelos europeus nas Americas eram constitufdas de grupos familiares. No
entanto, mesmo ap6s 1880, o Brasil continuou a sublinhar mais a importa9ao de
fanu1ias que de trabalhadores solteiros do sexo masculino. A causa disso foi a natu
reza dos contratos de trabalho nas lavouras de cafe, ate entao tocadas por escravos.
Elaborando um complicado sistema de salarios, de trabalho por tarefa e mesmo da
mea9ao, os fazendeiros de cafe organizavam a produ9ao de suas lavouras com base
no trabalho dos grupos familiares. Devido, tambem, a existencia competitiva dos
trabalhadores negros livres
ea
resultante escala salarial baixa, mesmo quando com
parada a Europa, era diffcil para o Brasil contratar grande
m1mero
de trabalhadores,
sobretudo quando o pafs se defrontava com a concorrencia dos mercados de traba
lho da Argentina e da America do Norte, em expansao. Viu-se, assim, for9ado a
subsidiar trabalhadores
e
por causa da organiza
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Italia - exportadora insignificante de trabalhadores antes de 1880 - expulsou cerca
de 7,7 milhoes de trabalhadores entre 1881e1914. Os imigrantes do Imperio Austro
hungaro atingiram o total de 4,2 milhOes, seguidos pelos espanh6is (3,2 milhoes),
por contingentes russos e poloneses (2,5 milhoes) e, finalmente, pelos portugueses
com um milhao, dos quais cerca de 80 dirigiram-se para o Brasil e o restante para
os Estados Unidos.
0 Declinio da Migrafao Internacional
A Primeira Guerra Mundial foi um momento decisivo nessa longa hist6ria da
migrac;ao internacional. A deflagrac;ao do conflito, em 1914, deteve temporaria
mente grande parte da migrac;ao para a America. Voltou a recuperar-se na decada de
20, porem nunca mais atingiu OS altos Indices do perfodo anterior aguerra. A queda
dos
prec;os
de produtos primarios americanos no mercado mundial, no final dos
anos 20 e o infcio da Grande Depressao nas
nac;oes
desenvolvidas ap6s 1929, tudo
contribuiu tanto para limitar os mercados de trabalho nacionais quanto para promo
ver um sentimento antiestrangeiro que comec;ou a encontrar expressao nas polfticas
imigrat6rias cada vez mais restritivas. 0 ponto decisivo e final de tudo isso foi a
decisao dos Estados Unidos, em 1921, de limitar com todo o rigor a imigrac;ao
proveniente de todos os pafses. A essa decisao seguiram-se novas leis de imigrac;ao,
mais rfgidas ainda, em todos os principais pafses americanos.
Ao mesmo tempo, fatores que haviam estimulado a imigrac;ao na Europa tam
bem estavam mudando. A queda dos antigos imperios, ap6s o Tratado de Versailles,
contribuiu para o surgimento de um nacionalismo novo e intenso que nao via a
emigrac;ao com hons olhos. Ainda assim, as taxas de natalidade haviam comec;ado a
cair, e ao mesmo tempo os mercados locais passaram a expandir-se quando a indus
trializac;ao chegou Europa oriental e meridional, diminuindo assim a pressao a
migrar. Picou mais diffcil obter passaportes e muito mais diffcil cruzar
as
fronteiras.
No curso da crise mundial da decada de 30 a migrac;ao internacional foi pequena, e
a Segunda Guerra Mundial isolou de fato, mais uma vez, a America da Europa.
Entre 1929 e 1945, a imigrac;ao atingiu seus nfveis mais baixos desde o infcio da
migrac;ao macic;a.
0 Cendrio P6s Segunda Guerra Mundial
Poi somente no final dos anos 40 que a migrac;ao internacional e transatlantica
readquiriu a importancia para a Europa. Essa migrac;ao, porem, era de um tipo novo,
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Internacional
na
Hist ria
das
Americas
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agora de trabalhadores qualificados e profissionais. Nao s6 trouxe imigrantes para
os pafses tradicionais de
r e c e p ~ a o
como o Canada, os Estados Unidos, o Brasil e a
Argentina, mas tambem incorporou economias novas e rapidamente crescentes, como
a da Venezuela. Ela tambem perdurou apenas por cerca de duas decadas e meia,
quando os salarios comparativos e as ofertas de emprego o m e ~ a r a m a ser suplanta
dos lentamente pelo mercado europeu. Cerca de 838 mil europeus foram subvencio
nados por
uma
comissao intergovernamental, entre 1950 e 1972, na sua viagem de
e m i g r a ~ a o
a America. Os Estados Unidos absorveram mais ou menos 300 mil
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ACULTURA
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Migrar;ao
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dos Unidos chegaram atrasados ao processo de revolw;ao industrial e agrfcola. Os
norte-europeus os haviam precedido nas terras livres e na fronteira agrfcola, fechan
do-lhes, assim, essa oportunidade. Competiam acirradamente com os leste-europeus,
muitos dos quais predominavam nas novas cidades manufatureiras do Centro-oeste.
Isso levou
os
italianos a concentrar-se nas velhas cidades portuarias do Leste: Boston,
Nova Iorque e Filadelfia. Nessas cidades os salanos eram altos, mas o status dos
empregos era baixo. Para os italianos que ficaram, essas regioes industriais mais ve
lhas ofereciam poucas oportunidades de ascenso e seus fndices de mobilidade foram
muito baixos. Por vanas gerai;oes continuaram sendo, predominantemente, classe tra
balhadora e ficaram confinados ao centro dessas cidades decadentes.
m compensai;ao, na Argentina e no Centro-sul do Brasil foram os italianos um
dos primeiros grupos importantes de imigrantes a chegar. Chegaram como trabalha
dores rurais nao-qualificados ao contrario de sua definii;ao como trabalhadores
urbanos nao-qualificados nos Estados Unidos), mas rapidamente acumularam di
nheiro suficiente nos dois pafses para ingressar nas fileiras dos proprietarios de
terra, mesmo nas areas tradicionais de exportai;ao de cafe, trigo e cames. m segun
do lugar, sua chegada essas economias locais estavam comei;ando a decolar, de
modo que os italianos conseguiram facilmente encontrar emprego nos setores urba
nos e industriais em desenvolvimento recente. Tanto Buenos Aires quanto Sao Pau
lo - duas metr6poles mundiais contemporaneas - eram cidades pequenas antes da
chegada dos italianos. Formaram o setor majoritario dentre os trabalhadores nessas
cidades em expansao. Foram tambem os trabalhadores italianos qualificados que
instalaram muitas das primeiras industrias pesadas em ambos os pafses, uma area
que, nos Estados Unidos, estava confinada aos nacionais. Desse modo, os italianos
nessas duas nai;oes passaram rapidamente a compor as novas classes medias que
estavam sendo geradas e, ja na segunda gerai;ao, muitos deles se colocavam muito
acima do
status
dos pais. Os fndices de mobilidade social dos italianos, na Argenti
na e no Brasil, sao impressionantes. Muitos alcani;aram posii;oes de alto nfvel - nao
s6 na industria, mas mesmo na agricultura - na segunda e terceira gerai;ao. m
virtude
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FAZER A AMERICA
atendidas por sacerdotes irlandeses, que haviam chegado antes deles. Confinados as
cidades mais antigas, cerceados
em
termos de mobilidade inicial, os italianos ten
diam a agrupar-se
em
distritos bem definidos e a votar em bloco em candidatos de
origem exclusivamente italiana. Tendiam a concentrar-se em empregos de colari
nho-azul*, mesmo quando ingressavam no servi90 publico local. A unica exce9ao
significativa a esse padrao foram os italianos que migraram para a California. Essa
pequena migra9ao - muito semelhante aos grupos que se dirigiram para a America
do Sul - chegou cedo ao processo de coloniza9ao, enfrentou pouca competi9ao de
grupos mais antigos e mais novos, e conseguiu ascender rapidamente. Gra9as a esse
potencial, os italianos da California investiram em educa9ao e se aculturaram rapi
damente, ao contrario de seus compatriotas da costa leste, que viam poucas vanta
gens em sacrificar as rendas imediatas de seus filhos ou investir no avan90 de sua
educa9ao. Somente na terceira gera9ao e que os italianos come9aram a ingressar nas
universidades em numeros significativos.
CONCLUSAO
Como se pode ver por este rapido levantamento, o desenvolvimento nas Ameri
cas esta baseado grandemente nos imigrantes estrangeiros. As condi96es locais de
trabalho nas Americas determinaram os fluxos da imigra9ao estrangeira e seus pa
droes finais de sucesso. 0 unico grupo de migrantes - neste caso, originalmente
for9ado - que nao alcan9ou o exito possfvel pelas condi96es do mercado foi o dos
africanos e seus descendentes. Aqui, a seu isolamento inicial nas regiOes de lavoura
de base escravista seguiu-se, em todas as na96es americanas, um racismo persisten
te que os impediu de explorar as condi96es de mercado. Existiu todo tipo de precon
ceito contra todos os estrangeiros em todas as na96es americanas, mas nao era um
discriminador tao impressionante quanto o preconceito racial. Mesmo na competi-
9ao entre trabalhadores nao-qualificados, os negros livres e emancipados perdiam
para os italianos e outros estrangeiros.
Finalmente, o potencial de emigra9ao permanece grande, em virtude da conti
nua expansao das economias americanas ate a decada de 80, do abandono dos em
pregos de baixo status por trabalhadores nacionais e da crescente necessidade de
profissionais qualificados nas areas de ciencia e tecnologia que os nacionais nao
podem satisfazer. Os Estados Unidos e o Canada, mesmo em perfodos de relativa
Blue collar jobs termo fundido a partir de white collar colarinho-branco, expressao que designa
empregados administrativos e do comercio ), indicando aqueles empregos que exigem o uso de roupas
de trabalho ou outras roupas especiais, como mecanicos, mineiros, estivadores etc. [N. do
T ]
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7/23/2019 Migracao Internacional Na Historia Das Americasr
20/20
KLEIN Migrariio Internacional na Hist ria das mericas
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estagnagao, como no infcio da decada de 90, ainda sao
os
grandes focos de atragao
para os imigrantes. Porem, ate os pafses sul-americanos comparativamente mais
instaveis, como a Argentina, o Brasil e a Venezuela, vem recebendo de nag6es vizi
nhas mais pobres um fluxo sempre crescente de trabalhadores latino-americanos.
Tais nagoes, muitas das quais viveram a transigao demografica somente na metade
do seculo
xx
apresentam taxas de natalidade extremamente altas (com fndices de
crescimento vegetativo de mais de 3 ao ano) e economias relativamente estagna
das. Isso causa enorme pressao sobre a terra e estimula sobremaneira a emigragao.
Portanto, embora as fontes sejam diferentes no ultimo tergo do seculo XX e tenha
mudado a natureza dos mercados de trabalho americanos, a migragao internacional
ainda constitui um aspecto fundamental do desenvolvimento americano em todo o
hemisferio.