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MICUIMPílulas Amargas

MICUIMPílulas Amargas

Arthur Corte Real

Copyright © 2016 by Timbira

RevisãoRodolfo Gremmer

Projeto GráficoColorgraf

CapaTarcísio André

Micuim – Pílulas amargas. – REAL, Arthur Corte – São Luís: Timbira, 2016.

72 p.

ISBN: 591-23-4634-468-1

1. Epigramas. 2. Sátira. 3. Intertextualidades. 4. Máximas I. Título

CDD 869.812

O AUTOR NO CONTEXTO

Arthur Corte Real nasceu no ano 1954, em São Luís do Maranhão, tendo vi-vido muitos dos seus anos entre o litoral – Guimarães – e o sertão – Grajaú e Barra do Corda.

Formado em Ciências Sociais e His-tória, desenvolve leituras diárias sobre te-mas que vão desde um Post de Blog até romances, como Germinal e Crime e Casti-go, de Zola e Dostoiévski, respectivamente.

Como muitos jovens dos anos 60 e 70, aderiu à esquerda, militando sempre em prol de um mundo menos desigual. Mas, com tantas decepções, amarguras, derro-tas, fracassos, etc., deixou de acreditar na esquerda brasileira, sem jamais aderir ao discurso do que se denomina direita, mes-mo aquela que se esconde debaixo da so-cial democracia. É uma espécie de cético político à maneira dos narradores dos ro-mances machadianos pós-Memória Póstu-mas.

Costuma ver o Brasil como uma es-pécie de república sem democracia, já que, por mais que milhões de pessoas

desejem alguma coisa, sempre a decisão vai recair num punhado de pessoas, com poder de decisão – quase como os nobres da Idade Moderna. O país é, segundo sua visão, politicamente inviável, tanto com governo de esquerda ou de direita, com ditadura plena, com pseudodemocracia.

É torcedor do Sampaio Corrêa Fute-bol Clube, mas confessa, que ultimamente o seu time vem lhe brindando mais com decepções do que propriamente com ale-grias. Também costuma admirar os dri-bles que os jogadores do Cavalo de Aço dão nos adversários, sobretudo no jogo em que o Imperatriz bateu por dois a zero o Flamengo (“tudo bem que foi o time sub-vinte do rubro-negro e o jogo era apenas uma amistoso, mas vitória é vitória”).

Quando jovem, costumava atraves-sar a nado o Rio Anil, próximo à praia do Jenipapeiro. E uma vez quis atravessar, de maré grande, da Ponta d’Areia à Ponta do Bonfim, mas os amigos o impediram por medo de tubarão.

Não resiste a uma boa conversa (so-bre literatura, teatro, política, educação, história, língua portuguesa, etc.) com os

amigos, desde que o interlocutor não seja um desmiolado ou analfabeto político. “Aí eu sempre peço desculpas, bato em retira-da, como um grupo de soldados recuando frente ao inimigo para poderoso”.

Tem ainda verdadeira ojeriza (ou talvez nojo mesmo) a quem defende a tal escola sem partido.

Mesmo com todos os vícios e misé-rias, o Maranhão tem sido uma terra de vícios e feitiços, isto é, lugar do qual não se consegue sair, por se sentir preso, num fanatismo, seja pela culinária, pelos ami-gos, pela beleza de sua natureza, pela cultura, etc.

Atualmente tem se dedicado ao en-sino, à Literatura e à Critica Literária.

ADVERTÊNCIA AO LEITOR

O epigrama, do grego ἐπί-γραφὼ, literalmente, “sobre-escrever”, foi um gê-nero criado pelos helenos, considerados pais da literatura ocidental. No mundo de Homero, os epigramas eram frases usa-das em tumbas (também denominados de epitáfios ou epicédios) para simbolizar virtudes, homenagens, etc. Esse gênero evoluiu para inscrição em vasos, paredes, estátuas e outros objetos. Daí o sentido eti-mológico do vocábulo.

Dos gregos, essa concepção dos epigramas passou aos romanos, que de-ram uma nova acepção ao gênero, trans-formando-os em poemas satíricos, como forma de rebaixar alguma pessoa ou si-tuação, utilizando versos engenhosos, tal como fizeram Catulo e, sobre tudo, Mar-cial.

Essa concepção dos romanos pas-sou aos povos que receberam a herança dos latinos. E, durante a Idade Média, esse gênero foi muito cultivado.

No Renascimento, mesmo com todo o fulgor dos versos decassílabos, símbo-

lo do Classicismo, os epigramas continu-aram sendo bastante cultivados, sempre com o mesmo ingrediente: sátira, jocosi-dade, versos simples, etc.

No século XIX, com a criação dos jor-nais, os epigramas começaram de forma tímida, mas acabaram caindo no gosto do público, que se divertia lendo essas pílu-las, escritas em uma ou duas estrofes, com versos de sete sílabas. E o maranhense Arthur Nabantino Gonçalves de Azevedo (1855-1908) foi o maior cultor desse gêne-ro entre nós. Como os jornais passaram a circular nas casas, tanto quanto o rádio, nos anos 40, e a televisão, nos anos 70, do século XX, acabaram servindo de veículo privilegiado para a circulação dessas má-ximas de humor.

Com Arthur Azevedo, os epigra-mas se popularizaram de tal forma nos jornais da então Capital Federal, que os leitores já corriam os olhos pelas páginas à procura dos versos satíricos. A título de exemplo, em 1893, quando um famoso es-tabelecimento do Rio de Janeiro – o Café do Amorim – pegou fogo, sendo comple-tamente destruído pelas chamas, os leito-

res procuraram avidamente nas páginas dos jornais (no dia seguinte) um epigrama sobre o evento trágico. E acabaram en-contrando esta pílula do autor de O Mam-bembe:

Ontem vi um desalmadoQue dizia: - Agora, sim!Quem quiser café torradoVá ao café do Amorim.

Durante esse período, os epigramas passaram a ter um conceito bastante co-nhecido: uma composição poética breve que expressa (va) um único pensamento principal, festivo ou satírico, de forma en-genhosa.

No século XX, com a popularização das charges, os epigramas foram perden-do, aos poucos, a sua importância nos jor-nais. O que antes era feito em versos ago-ra ganhava linhas sinuosas, conquistan-do o público com traços caricaturescos.

No entanto, esse gênero que parecia morto evolui para uma forma mais simples e menos engenhosa, com frases simples e agudas sobre alguma situação, grupo de pessoas, políticos, etc. Passaram a ser

conhecidas como máximas. Entre os culto-res, o mais popular é, sem dúvida, Nelson Rodrigues (1912-1980). O autor de Vestido de Noiva produziu centenas de máximas sobre os mais variados assuntos. Eis al-guns exemplos:

- Não há nada que fazer pelo ser hu-mano: o homem já fracassou.

- O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira. É abjeto que um ho-mem deseje a mãe de seus próprios filhos.

- Se Euclides da Cunha fosse vivo te-ria preferido o Flamengo a Canudos para contar a história do povo brasileiro.

Além do dramaturgo de Beijo no As-falto, Stanislaw Ponte-Preta (1923-1968), usando o pseudônimo de Tia Zulmira, pro-duziu milhares de frases de efeito, usando sempre o nome de máximas:

- Se o Diabo entendesse de mulher, não tinha rabo nem chifre.

- A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento.

- Dono de cartório de protesto é uma espécie de cafetão da desgraça alheia.

Esses dois autores representam, dentre muitos, aqueles que mais produzi-ram máximas no Brasil no século XX.

Porém é bom observar que, bem an-tes do século da modernidade, já eram produzidas essas ditas frases de efeito. Um exemplo é o irlandês Oscar Wilde, que, dentre tantas máximas, escreveu:

- Certas criaturas têm a mania de dar bons conselhos precisando tanto de-les para si… É o que chamo de cúmulo da generosidade.

Machado de Assis também no sécu-lo XIX produziu, através de seus persona-gens, muitas máximas. Por exemplo, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, a per-sonagem central proferiu: Matamos o tem-po, mas é ele que nos enterra. Ou ainda: Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis.

Depois dessa explanação e depois de feito esse percurso acerca do epigra-ma, devo dizer ao leitor que, depois de ler e reler um conjunto de epigramas, dos mais variados estilos e tipos, me senti ten-tado – ou talvez até assujeitado – a cons-truir esse tipo de literatura (para alguns teóricos, subliteratura).

No primeiro momento, a ideia que me veio à cabeça era escrever à manei-ra dos latinos. Depois de várias tentativas frustradas, com versos de pé quebrado, com rimas paupérrimas, essa forma foi abortada. Em seguida, tentei escrever como Arthur Azevedo construía seus epi-gramas, mas também não obtive sucesso, por duas razões: primeiro – ausência de talento para a construções dos chamados redondilhos maiores – e, segundo – falta de temas da vida cotidiana, já que, como já foi referido acima, os tempos modernos são re-significados por memes, charges, caricaturas, vídeos, depoimentos, etc. tudo em rede social.

Diante disso, segui o caminho de muitos mestres – construir frases cujos te-mas versassem sobre nossos erros, nossos vícios, nossas manias, nossas derrotas, nossos fracassos, nossos males, etc. As-sim, as frases – pílulas ou máximas – tra-riam um tom amargo, de crítica aos nos-sos vícios.

Outra questão com que me deparei foi a extensão das frases. A princípio, gos-taria de escrever máximas simples com

enunciados de apenas um ou dois verbos. Depois, percebi que as frases seriam ex-tremamente limitadas. Aí decidi que elas teriam uma extensão maior, entre cinco e dez linhas(na sua maioria), sem para-da no meio, isto é, frases de um só fôlego. Como nem sempre foi possível realizar esse intento, tive que espremer algumas para que desse a impressão aos leitores de que se tratava de apenas uma frase, ainda que com muitas orações. Dessa for-ma, saíram cem pílulas (ou epigramas, como os romanos chamavam).

O leitor deve atentar, desde o pri-meiro epigrama, para a heterogeneida-de mostrada e constituída – como diria a francesa Jacqueline Authier-Revuz. Se Agrippino Griego, crítico feroz de Macha-do de Assis, lesse este conjunto de pílulas, diria: “Vê-se estar em jogo um mosaico de muitos autores e no qual o menos au-tor é o autor maranhense”. Isso porque os epigramas apresentam o pensamento de dezenas de autores brasileiros (e eu-ropeus). Mesmo os que, à primeira leitu-ra, não se apresentam como intertextua-lidade, foram compostos com dialogismo

e polifonia. Muitas dessas ácidas frases foram contadas por homens e mulheres humildes do Maranhão, moradores do Anjo da Guarda, Vila Nova, Coroadinho, Cidade Operária, Cidade Olímpica, Tibi-ri, Caxias, Imperatriz, Bacabal, Pedreiras, Bacuri, São Bento, Bacurituba, Cujupe, en-tre outros lugares.

Finalmente o título desse livrinho não poderia deixar de se chamar Micuim. Por duas razões. A primeira é que Micuim é um microcarrapato, quase invisível a olho nu, que fica sobre a pele de animais (e de seres humanos) com um grande in-cômodo, isto é, a melhor metáfora para epigramas amargos. A segunda é que desde o começo, com os primeiros epigra-mas, o livro foi se desenhando como algo minúsculo, em todos os sentidos.

Quando escrevi (ou quando montei essa colcha de retalhos, como diriam os mais severos críticos) o total de cem epi-gramas, surgiu uma grande dúvida: qual seria a ordem deles no conjunto? Após tentar, sempre com fracasso, uma ordem, desisti do intento. Daí me veio uma ideia fantástica: utilizar a metodologia de cons-

trução de poemas proposta pelo Dadaís-mo, de Tristan Tzara: “colocar as palavras recortadas de um jornal e colocar tudo num saco e depois retirar uma a uma”. Assim foi feito. Peguei os epigramas e re-cortei todos. Depois, pus todos num saco e tirei um a um. Exatamente nessa ordem os fui colocando nas páginas do libreto.

Por fim, saiba o leitor, que qualquer semelhança com os fatos, as pessoas ou as instituições da vida real, seguindo a li-ção da Rede Globo, terá sido “mera coin-cidência”.

A crise, ou melhor, esta tenebrosa fase que o Estado atravessa, fase de deca-dência moral, intelectual e material, ain-da não subjugou o pensar daqueles nem a influência perversa e perniciosa de seu aspecto desanimador e enervante, foi até os dias presentes, de tal sorte, que os ar-rastasse a concluir, como muitos: – que não há mais salvação para esta infeliz terra que é nosso berço. (Bento, in Nasci-mento Moraes, Vencidos e Degenerados), 1915. Ou seria 2016?

Para Antônio Vieira, Gregório de Matos, José de Alencar, Castro Alves,

Machado de Assis, Arthur Azevedo, Monteiro Lobato, Lima Barreto,

Humberto de Campos, Nelson Rodrigues, Stanislaw Ponte Preta, Millôr Fernandes,

por terem projetado o meu olhar para lugares que eu jamais veria sozinho.

MICUIM | Pílulas Amargas 23

I

A pior das pragas que Moisés lançaria no Egito acabou, por uma dessas fatali-dades que descem do além, não caindo na cabeça dos adoradores de Amon, mas desceu as areias do deserto do Saara, atravessando o Atlântico, chegando ao Brasil, onde acabou se transformando em três forças, eternizando-se em Executivo, Legislativo e Judiciário.

II

A única mulher verdadeiramente feia é aquela que não consegue imprimir ne-nhuma de suas características boas (nem físicas nem psíquicas) a quem possa lhe oferecer ao menos um sublime olhar.

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III

Segundo Pedro Marajá, graduado em His-tória pela UEMA, a maneira mais eficaz de o homem manter-se distante dos pre-ceitos satânicos, tão difundidos em nossa pátria, é procurar distanciar-se o máximo que puder do direito e da política.

IV

Muitos políticos do Maranhão são como aqueles cães desprezíveis que se amonto-am à beira das rodoviárias dos municípios pobres do Estado: fazem festa somente para quem lhes joga um pedaço de osso.


V

No Brasil de nossos dias, a escola pode emperrar o crescimento tanto intelectu-al quanto financeiro, pois as instituições mostram todos os dias que, nestas terras, mais vale carregar um senador da Repú-blica, como motorista, do que produzir conhecimento científico ou investigar as causas de uma doença.

VI

O pior aluno é aquele que, diante de uma exposição sobre a força poética de um Fernando Pessoa ou sobre a metáfora her-mética de um Nauro Machado, trilha com a ponta do dedo indicador a tela de um Samsung para verificar um vídeo em que uma criança dança a música da Banda Vingadora intitulada Metralhadora.


VII

O pior professor é aquele que, ao iniciar um período letivo apresenta um programa muito bem construído, com várias unida-des, subunidades, em que abrange, com rigor científico, toda a ementa da sua dis-ciplina, mas que, após apresentar cada um dos pontos, sorteia tudo para um semi-nário em equipe.

VIII

O famoso físico britânico Stephen Hawking tem toda razão: jamais o homem conse-guirá inventar uma máquina do tempo, pois, se assim o fizesse, algum jornalista bisbilhoteiro já teria vindo do futuro para preparar uma matéria sobre a vida de ce-lebridades dos séculos XX e XXI e colher umas fotos nuas das mulheres mais sexy de nossa época.


XIX

Stanislaw Ponte-Preta, numa de suas má-ximas, costumava dizer que nem todo gor-do era bonzinho como pensavam os brasi-leiros; muitos, segundo o autor, apenas se fingiam de bonzinhos só porque sabiam que, caso houvesse uma briga, não ti-nham a menor condição de sair correndo.

X

A imprensa brasileira anda tão desacre-ditada, com a Rede Globo disparando na frente, que fico imaginando o teor do Sermão da Quinta Dominga de Quares-ma, proferido pelo gênio (e) Padre Antônio Vieira, se ele, em vez de 1654, pregasse em 2016: “A verdade que vos digo é que na imprensa brasileira não há verdade”.


XI

Só há uma condição para tirar o Brasil da crise: um plano de Deus; mas sem que ou-trem o executem, pois, se assim acontecer, podemos apostar que esse plano, mesmo desenhado em linhas retas por um Ser su-premo, será executado com linhas extre-mamente sinuosas.

XII

O codoense Godofredo Viana escreveu um romance que traz no título o que muita gente imagina sobre as terras do Mara-nhão, tão ricas em recursos naturais, e tão pobres em questões econômicas: Terra por onde Deus não andou.


XIII

Nelson Rodrigues numa ácida análise sobre a sua terra, disse que o Brasil não estava preparado para ser primeiro do mundo em coisa alguma, nem mesmo em cuspe a distância, mas um bom leitor des-ses de cafés e bares espalhados pelas ci-dades, questionou o autor de Vestido de Noiva, mostrando que, em malandragem, não tem pra ninguém.

XIV

Uma das coisas mais irritantes para um anão é se deparar com uma frase esdrúxu-la nos banheiros dos shoppings, quando está de frente para um daqueles mictórios preparados para quem tem pelo menos 1,70 metros: “Não urine no chão”.


XVHoje em dia a pedagogia precisa de uma capacitação quase que diária, pois os alunos vivem com os neurônios em ebuli-ção nas salas de aulas; por isso a profes-sora Maria do Carmo, formada em Letras Espanhol na UFMA, não soube o que fazer diante do questionamento do aluno Jean-derley, morador da Ilhinha, na escola Ro-seana Sarney, já que, para a docente, a frase colocada na lousa estava corretíssi-ma: Ruan fue encantado por la belleza de Madrid, porém o nerd da Ilhinha conde-nou: “tá errado, professora, não é Madrid, é Real Madrid!”.

XVIA única vez em que o desdentado sorri folgazão é quando, ao passar por algum consultório dentário, desses mais humil-des, sem tanto aparato, cujas janelas não conseguem esconder o barulho massa-crante do aparelho perfurando os dentes de uma pessoa, imagina a dor que o pa-ciente está sentindo.


XVII

Foi de Stanislaw Ponte Preta a melhor fra-se sobre a cobertura que a imprensa bra-sileira dá às crises políticas nacionais: “se a gente estiver no estrangeiro, ao ler um jornal brasileiro, tem a impressão que, ao voltar, não encontrará mais o País”.

XVIII

A mais ácida frase sobre o Maranhão foi proferida por um gato que latiu feito ca-chorro para capturar um rato esperto que vivia na casa de um dos primeiros colonos portugueses no Maranhão do século XVII: “Nesta terra amaldiçoada pela mentira, quem não aprender a enganar os outros passará fome”.


XIX

Quando um senhor idoso, de nome João do Espírito Santo, foi acusado de engravi-dar uma menina de apenas 12 anos, a im-prensa carioca transformou o drama num grande escândalo, ao que o maranhense Arthur Azevedo, mesmo sabendo que o crucificariam pelo epigrama, escreveu: “para que tanto escarcéu... para que ba-rulho tanto... a menina concebeu por obra e graça do Espírito Santo...”

XX

O Maranhão é tão cheio de problemas, que quando resolvemos viajar a outros Estados, temos a sensação que todas as pessoas à nossa volta estão nos olhando para detectar quais os mais graves que já enfrentamos.


XXI

Alguns clubes do Maranhão andam com tanto azar, que, quando jogam uma parti-da valendo alguma coisa ou pelo campeo-nato maranhense ou pela Copa do Brasil, ficam com medo até de fazer gol contra.

XXIIHá tradutores e traidores, sendo o caso de Castro Lopes, um tipo raríssimo no meio intelectual, pois, ao exercer o papel de tra-dutor simultâneo, em uma palestra sobre Goethe, traduziu a seguinte sentença, pro-ferida pelo professor A. Grioust: “Goethe ist der berühmte Autor der deutschen Lite-ratur” com as seguintes orações da língua de Camões: “Olha, o professor falou em Goethe, mas é bom saber que o autor de Fausto, que tinha se tornado famoso em toda a Europa com Os Sofrimentos do Jovem Werther em 1774, alcançou o mais alto grau da consagração literária, inclu-sive sendo um autor muito lido no Brasil, sendo eu, e me orgulho disso, o que mais tem livros desse gênio aqui no Maranhão.


XXIII

A crise anda tão grave no Brasil, a acredi-tar nos noticiários da televisão, que des-confio que em breve faltarão até mesmo as peças mínimas para montar os Judas nas periferias das cidades do Nordeste.

XXIV

Alguns anjos celestiais têm toda razão: não se deve acreditar num homem bra-sileiro nem mesmo quando este estiver numa cama de um hospital público em fase terminal de câncer na bexiga.


XXVA sorte do Maranhão foi ter a natureza o colocado entre o Piauí e o Pará; pois, se o tivesse geograficamente posto entre o Rio de Janeiro e São Paulo, já não haveria mais viventes por essas bandas.

XXVI

No Brasil há dois tipos de políticos: os que se dizem fichas-limpas, e muita gente acredita; e os que se dizem de ficha-lim-pa, e ninguém mais acredita.


XXVII

Ele sempre tirou notas vergonhosas na escola em que passou boa parte da vida; porém, no lugar de um castigo pela inca-pacidade intelectual, uma premiação: em-prego no senado federal com salário de 18 mil reais.

XXVIII

Ele sempre foi o melhor dos alunos em to-das as escolas nas quais estudou; porém, no lugar de uma recompensa pelo grande desempenho intelectual, um severo cas-tigo: emprego de professor em Belágua, com salário de 1350 reais.


XXIX

Três bens na vida não se devem emprestar em hipótese alguma: carro, livro e mulher, pois, se a assim o fizermos, certamente corremos um grande risco de recebê-lo deteriorado ou com problemas para fun-cionar.

XXX

Ele disse à mãe que gostaria de encontrar uma mulher trabalhadora, fiel, dedicada, estudiosa, carinhosa e ainda por cima lin-da; ao que a mãe, com tristeza nos olhos lhe indagou: “e em que planeta vais en-contrar essa mulher?”.


XXXI

O Conselheiro Aires, de Memorial de Ai-res, disse uma das frases mais ácidas acerca do ladrão no Brasil, ao ser questio-nado se acreditava na máxima de que a ocasião fazia o ladrão: “faz o furto, porque o ladrão já nasce feito”.

XXXII

Luís Trindade da Mata, em pleno século XIX, soltou, no leito da morte, uma frase que despertou espanto e timidez ao mes-mo tempo, quando uma negra de fartos seios, tentava tirar um pouco de leite numa colher: “não é melhor colocar diretamente na minha boca?”


XXXIII

Quem estuda linguagem sabe que o senti-do não está apenas no enunciado, mas na conjunção de vários fatores, como se pode atestar na frase de um bêbado num ôni-bus da Cidade Operária, que, sentando ao lado de uma mulher com um bebê de colo, presenciou todo o esforço da lactante para fazer a criança se calar, oferecendo, a todo custo, um dos seios, em vão, pois ele não se calava, até que a mamãe, que não era nem uma ninfa, mas ainda despertava olhares masculinos, disse, olha: toma o leitinho, se-não eu dou pro gatinho, ao que o bêbado, com um risinho cínico, acudiu: “Miau!”.

XXXIV

Recém chegado a uma das regiões mais bem aquinhoadas pelo precioso líquido sem o qual nenhum ser vivo consegue exis-tir, o professor de geografia, ficou espanta-do quando lhe disseram que em Imperatriz faltaria água três dias na semana.


XXXV

Já tinham lhe dito que São Luís tinha um dos piores trânsitos do Brasil, com ruas e avenidas constantemente atoladas de carros que não saíam do lugar, mas ficou perplexo quando, na avenida Jerônimo de Albuquerque, precisou parar sua bicicle-ta para recolocar a corrente no lugar e viu um mundo de carro atrás buzinando.

XXXVI

O candidato a prefeito, sem ao menos tre-mer um dos olhos, disse na televisão que, caso fosse eleito, construiria dois hospitais de trezentos leitos, reformaria todas as es-colas municipais, e, não satisfeito, disse que dava a sua palavra, ao que Pacamão, vendedor de peixe no Anjo da Guarda, berrou: “como se ela valesse alguma coi-sa... vale menos que o bagaço de cana que a porca já chupou em Anajatuba”.


XXXVII

Quando assistiu ao deputado do partido governista dizer bem claramente que nos bolsos da sua calça nunca havia entrado dinheiro sujo, de propina, de roubo, Pau-lo do Cujupe não se aguentou na galeria da Câmara dos Deputados e gritou: “Está de calça nova, hein Deputado?!”.

XXXVIII

O professor de Ensino Religioso, evan-gélico daqueles mais incisivos, ao notar que o pequeno Olavo, da quinta série, no lugar da lição dos evangelhos, estava vendo uma figurinha, questionou: “Olavo, dou-lhe um dez se me disser onde está o nosso Deus?”, ao que o pequeno, sem ti-tubear: “E eu lhe dou cem, se o senhor me disser onde é que ele não está?”.


XXXIX

O vigia Ribamar, ao acordar daquele sono da tarde, depois de um dia infeliz em que descobriu um câncer no intesti-no, pôs os olhos nos canais da tevê e não conseguiu entender o sentido das pala-vras do pastor naquele dia: “Você é um homem vitorioso!”.

XL

A pior das ambições humanas é quando o ambicioso deseja colher aquilo que ele, em momento algum na vida, plantou, ou ainda quando deseja algo que, para ter, precisa subtrair de alguém.


XLI

Augusto dos Anjos, numa de suas mais ca-ras frases sobre o sentimento dos deuses, afirmou que se algum dia o amor visse procurá-lo, deveriam dizer a esse monstro que o poeta havia fugido de casa.

XLII

A frase do delegado de um dos municí-pios da região central do Maranhão, ao se deparar com um cadáver sem a cabeça no matagal às margens de um rio, deixou todo o estado numa vergonha imensa: “por enquanto, está descartada a hipóte-se de suicídio...”.


XLIII

A simbologia presente no conto A Sere-níssima República, de Machado de Assis, expõe as vísceras de nossas mazelas polí-ticas, ao definir a nossa forma de governo como uma república de aranhas, isto é, cada um por si no governo da coisa pú-blica.

XLIV

A professora Michelle Serra disse na sala de aula que acha uma perda de recursos públicos a verba que é dada às brincadei-ras de bumba-meu-boi e similares no Ma-ranhão, porque nada contribuem, e logo em seguida pediu recursos para apresen-tar um trabalho na UERJ sobre um conto de um escritor norueguês.


XLV

De todas as formas de governo testadas no Brasil, desde os primeiros anos de sua independência política até as primeiras décadas do século XXI, duas já demons-traram um grande fracasso: a monarquia e a república.

XLVI

Dizem os políticos da terrinha que única condição necessária ao desenvolvimento do Maranhão é escavar suas terras, de Norte a Sul, até encontrar a cabeça de burro que foi enterrada por políticos cana-lhas, mas o duro é que não sabemos se há apenas uma enterrada.


XLVII

No Maranhão os problemas são difíceis de resolver porque tudo se transverte de espertezas, de mentiras, de enganos, de trapaças, que não sabemos atacar o mal porque não sabemos onde encontrá-lo, pois até o mosquito Aedes aegypti às ve-zes se disfarça de muriçoca para picar os trouxas.

XLVIII

Num bate-boca numa das comissões da Câmara dos Deputados, em Brasília, um dos deputados a favor da cassação do Cunha perguntou a um colega maranhen-se se este ao menos sabia o que era ética, ao que o parlamentar, eleito com expres-siva votação na região tocantina, disse ao deputado paranaense: “claro que sei... é uma editora da minha região.”.


XLIX

Há adolescentes nas escolas do Mara-nhão que parecem capetas em forma de gente e há outros, bem piores, que nos dão a nítida sensação de que são os ca-petas sem disfarce algum.

L

Ao examinar a beleza do rio Mearim, entre Pedreiras e Trizidela do Vale, Ricardo Leão declamou uma linda frase a dois pescado-res que lhe apontaram o que a força do rio estava fazendo com os barrancos: “Bertolt Brecht afirma que todo mundo chama de violento a um rio turbulento, mas ninguém se lembra de chamar de violentas as mar-gens que o aprisionam.”


LI

Nada mais injusto que ver dentro da mes-ma da mesma cidade pessoas que pouco se prepararam para exercer suas funções ou pouco contribuem com suas atividades para o desenvolvimento do país receben-do salários exorbitantes em relação aos que muito se prepararam ou que exercem funções importantíssimas na sociedade.

LII

Machado de Assis, gênio da nossa litera-tura, não precisou de muito tempo para descobrir que o nosso sistema político é inviável, uma espécie de república de aranhas; porém nós, em pleno século XXI, ainda somos enganados pela praga do discurso político, nutridos ainda de espe-ranças de encontrarmos verdadeiros sal-vadores diante de nós.


LIII

Tudo que Deus fez no mundo foi pensado para todos, sem distinção de ricos e po-bres ou brancos e negros, mas a ganância e o individualismo do homem fez com que apenas um seleto grupo tivesse acesso a essas belas criações divinas; entretanto, como tudo tem exceção, a dor e morte so-braram e são as únicas criações às quais todos os seres humanos têm acesso obri-gatoriamente.

LIV

O escritor escocês Robert Louis Stevenson disse uma das frases mais penetrantes so-bre política, especialmente quando pen-samos na nossa república: “a política é a única profissão para a qual não se con-sidera necessária nenhuma preparação”.


LV

Em 1928, quando veio ao Maranhão como deputado federal, o escritor e jornalista Humberto de Campos, depois de falar por quase uma hora e meia a um público se-leto sobre o marasmo em que vivia a anti-ga Atenas Brasileira, saiu da conferência com uma sensação de que tinha falado de corda em casa de enforcados.

LVI

O homem feio é como aqueles machos de-nominados no mundo animal de Beta, que sempre estão à margem dos chamados Alfa, e, por conta dessa característica, quan-do vão a uma festa, sempre estão à espera daquelas mulheres que nenhum Alfa quer.


LVII

Aluísio, filho de um juiz da comarca de Lei-tolândia, vendo o seu pai tratar das senten-ças e despachos com coceira nos bolsos, escreveu na agenda do magistrado uma frase inspirada em Emilio Ayoub: “a pior das injustiças é quando a própria justiça é abertamente injusta”.

LVIII

Acho os programas da Globo, como Domin-gão do Faustão, Zorra total, Fantástico, en-tre outros, excelentes, pois ajudam a passar o tempo, ainda mais quando o sujeito está dentro de umas das casas de detenção de Pedrinhas e tem à disposição um desses aparelhos de tevê.


LIX

Muitas notícias veiculadas no Jornal Na-cional são de inteira confiança, sem que haja a menor dúvida sobre a veracidade da notícia, como, por exemplo: quando anunciam que o Flamengo perdeu, pode-mos apostar que ele perdeu mesmo.

LX

Algumas frases soam incoerentes para determinadas pessoas, como, a título de exemplo, a frase no vidro traseiro de um carro modelo antigo, com motor em pe-tição de miséria, bem na frente de uma Land Rover: “sua inveja é a energia do meu sucesso!”.


LXI

O professor de geografia discursava so-bre a geopolítica, sobretudo na Europa e no Oriente Médio, afirmando que o mun-do estava perigoso; ao que o aluno bem de trás, quieto, mas incisivo, perguntou ao mestre em que época, na visão dele, o mundo era um paraíso, de paz e amor para todos.

LXII

Quando visitou algumas cidades brasilei-ras e se deparou com adesivos de apoio à candidatura de Bolsonaro a presidente na traseira de muitos carros de mulher e até de homossexuais, o francês Oliver Du-val teve certeza de que a frase atribuída a Charles de Gaulle era uma verdade abso-luta: “Le Brésil n’est pas un pays serieux”.


LXIII

Seu Joaquim, quando veio morar em São Luís, ficou louco para ter um casal de pa-pagaio, ou pelo menos um, por isso não desistiu até que encontrou no Anjo da Guarda um morador com um casal em casa, mas se negou a vender, por ser de estimação, mas prometeu vender os ovos, o que foi feito, na base de 25 reais cada um; daí foi só providenciar o chocar des-ses ovos; porém, 28 dias depois, saíram dois pintinhos, ao que o português, furio-so, tomou um revólver, pôs na cintura e ru-mou para o Anjo da Guarda, e, diante do trêmulo morador, foi direto onde estava a ave e sussurrou-lhe no ouvido: “abre teu olho, meu camarada, pois estão a te colo-car um par de chifres!”

LXIV

Políticos brasileiros são como urubus: quando se veem em bando –digladian-do-se, afoitos, alegres, céleres, valentes –, podemos apostar, cegamente, que tem carniça por perto.


LXV

Anita, com sete anos, pulava, gritava em cima do vovô, impedindo-o de assistir ao jornal, programa de tevê de que mais o velho gostava, por isso, a mãe da meni-na tratou logo de reprimir a exaltação da garota, fazendo-a crer que deveria respei-tar os mais velhos, ao que o pequenita, do alto de sua sapiência, lembrou o dita-do dos piauienses, e gritou para a mãe: “o avô é um jumento velho que os filhos amansaram para os netos brincarem”.

LXVI

O anão tem sempre uma vantagem em qualquer lugar em que procura atendi-mento, pois logo os atendentes o conside-ram com certa dose de carinho e dão a ele um tratamento diferenciado, por conside-rá-lo um homem em miniatura.


LXVII

Nada é mais desestimulante para nós que descobrir que a nossa vida não está sen-do apenas guiada por nossos esforços, mas por pessoas incompetentes que, ilu-dindo-nos, dão a impressão que fazem o melhor que podem.

LXVIII

A coisa mais impressionante que existe na imprensa brasileira é ver repórteres entre-vistando políticos corruptos sobre meca-nismos para acabar com essa praga que afeta a sociedade brasileira.


LXIX

Segundo Gian Carlos, da cidade de Cha-padinha, o Brasil é o único país do mun-do em que os corruptos, a se acreditar em seus discursos, lutam arduamente para acabar com a corrupção.

LXX

Quando Mabília, após ganhar mais qua-tro quilos e atingir a marca dos 150, pas-sou a usar um crachá em que afirmava: “se você deseja emagrecer, fale comigo!”, as pessoas não conseguiam olhá-la sem disfarçar um risinho bobo.


LXXI

Maria Tereza, por conta de uma frase maldita, saída dos confins dos neurônios, quase põe o casamento de nove anos a perder, pois, depois que o marido expôs a um casal de amigos, num bar da Litorâ-nea, a situação inusitada em que ele e a referida personagem, ao sair da Pousada Saramanta, ela, com perícia de quem está se iniciando no trânsito de São Luís, e ele, como instrutor, derrubaram uma placa de propaganda, ela desferiu: “e tu acredita, amor, que essa placa depois de quase um mês ainda está no chão?”

LXXII

Algumas frases são proferidas de for-ma tão aguda que nem mesmo grandes artífices da construção do texto literário conseguem responder com rigor, como o questionamento do filho de Humberto de Campos, de apenas cinco anos, que lhe indagou: “papai, é verdade que o homem coloca a sementinha na barriga da mu-lher pelo pipi?”.


LXXIII

O ditador português António de Olivei-ra Salazar, talvez pensando em nossas câmaras alta e baixa, proferiu uma das frases mais certeiras sobre o nosso parla-mento: “não há nada mais inútil que dis-cutir política com políticos”.

LXXIV

A deusa Têmis, que simboliza a nossa Justiça, infelizmente há muito precisa de um acessório para que, tal como fazia ao lado de Zeus, quando o aconselhava de um modo extremamente justo: uma venda bem opaca para os seus olhos.


LXXV

Parafraseando o escritor peruano Mário Vargas Llosa, um professor de Zé Doca escreveu no seu facebook: “Enquanto hou-ver carnaval, forró, funk, axé, futebol e a Globo, a direita pode dormir tranquila: o povo não fará a revolução!”.

LXXVI

Todo homem deve lutar arduamente para que, não só a sua família, mas também a própria sociedade tenham orgulho de sua trajetória, como bem definiu o romancista José de Alencar: “não quero que Deus me dê nem um dia de vida a mais de que eu não possa me orgulhar”.


LXXVII

Herberth Giousy, engenheiro lotado em uma das indústrias da terra de João Castelo, ao conhecer o tal peixe roncador, numa de suas viagens a Alcântara, pensando no Pa-dre Antônio Vieira, disse a alguns colegas: “este é o símbolo do Maranhão: quem não conhece pensa que vale um milhão; quem conhece sabe que não vale um tostão”.

LXXVIII

Ao retornar de Rondônia, depois de longos seis meses de trabalho, Apolinário, achou a esposa tão bonita e jeitosa, que tratou logo de fazer todos os seus desejos; des-sa forma, no mesmo dia em que chegou, recebendo a incumbência de sua morena de 40 anos, tratou logo de resolver todas as pendências da casa, porém, ao con-tratar o marceneiro, fugiu-lhe da cabeça o objeto da casa que precisava de repa-ros e voltaria, sem contratar o profissio-nal, se não fosse o Tarcisinho, morador da rua de cima, grande amigo do casal, que, chegando nesse momento, lembrou: “é o estrado da cama, seu Apolinário, que está quebrado!”.


LXXIX

Nelson Guedelha, em Caxias, quando ob-servou que um gato se espremia todo para expelir uma quantidade de excrementos e enterrar logo em seguida, disse a um co-lega que passava defronte de sua casa: “por que o autor de Saraminda não faz a mesma coisa com seus romances?”.

LXXX

Quando o caminhoneiro, exausto da lon-ga viagem pelas estragas esburacadas do Maranhão, começou a percorrer o Campo de Perizes em direção a São Luís, não imaginou que, ao cruzar, em baixa ve-locidade, com um motorista vindo da capi-tal, pudesse ter ofendido os moradores da terra de Sarney, ao perguntar: “Ei! Mora gente pra aí?”.


LXXXI

Quando o professor de Língua Portugue-sa, recolhendo aquela estranha pesca de-baixo de uma das cadeiras, indagou à tur-ma toda, bem incisivo, de quem era essa cola, um dos alunos, talvez o mais tímido, disse: mestre, aqui pode ter muito burro, mas doido não... quem é que vai assumir o crime?..

LXXXII

Demétrio descobriu a razão pela qual o seu papagaio, comprado na feira do João Paulo, falava um português estropiado, segundo os preceitos da gramática nor-mativa, pois, ao devolver o bicho de es-timação, ouviu a seguinte indagação do sujeito que vendeu a ave falante: “argum pobrema?”.


LXXXIII

A corrupção no Brasil é como um câncer que contamina todo o cérebro de um su-jeito, por mais que se saibam os medica-mentos necessários ao combate da do-ença, ninguém sabe por onde começar o processo extirpação.

LXXXIV

Uma das frases mais fanáticas de todas as que se têm visto no Brasil foi proferi-da pelo senhor José Carlos, no estádio de Viana quando assistia ao terceiro gol do time da casa sobre o Moto Clube, faltando apenas cinco minutos para o juiz apitar fi-nal de partida: “Vamo lá... vamo lá.. temos todas as condições para reverter isso...”.


LXXXV

Benedito Rato, ao ser alertado pelo seu compadre, Alegário, de que estavam en-trando na roça daquele para roubar me-lancias, tinha uma prova irrefutável de que o compadre havia omitido alguns dos nomes envolvidos no furto: uma semente de melancia sobre a clavícula saliente, popularmente conhecida no Cujupe como cantareira.

LXXXVI

A professora de Ética de uma escola em Bacuri ficou perplexa diante do questiona-mento de um aluno de apenas seis anos, que ouvindo uma história da boca de um colega de doze anos sobre a notícia de um preservativo Jontex encontrado no pátio do colégio, perguntou ao mais velho: “isso eu sei o que é, Zé... quero saber o que é pátio...”.


LXXXVII

A frase do Ministro boliviano da Mari-nha, ao ser motivo de piadas, diante da fala do Ministro da Justiça do Brasil, que questionava o fato de a Bolívia ter um Mi-nistério da Marinha sem possuir mar, dei-xou todos emudecidos: “da mesma forma que vocês no Brasil possuem um Ministé-rio da Justiça!”.

LXXXVIII

Uma situação inusitada percorreu os neurônios do então prefeito da cidadezi-nha de Penalva, nos idos de 1960, quando precisava receber pela primeira vez o ar-cebispo de São Luís e não sabia sequer o pronome de tratamento, se Vossa majesta-de ou Vossa santidade, porém, com a aju-da preciosa do professor Jonas, descobriu, meio desconfiado, que a forma era Vossa Reverendíssima, o que foi feito, no meio da praça, quando a cidade de Celso Ma-galhães recebeu, às três horas da tarde, o ilustre homem do vaticano: “Vossa Reve-rendíssima não está cansada?” ao que o santo homem, descendo do cavalo, profe-riu, olhando fundo nos olhos do chefe polí-tico: “Cansada, eu estou é morta!”


LXXXIX

Valdir, Valdir, deixa de usar o nome do meu Estado, tão rico em belezas naturais e tão pródigo em tradições culturais, pas-sa a usar outro codinome, como do PP, do PMDB, mas não nos encha de vergonha, ou não nos mate do coração, deixa, Valdir, o meu pobre Maranhão.

XC

O aluno de Letras Nigodemo Guedes fi-cou furioso, ao descobrir no canto supe-rior esquerdo do trabalho a sua nota zero, escrita com caneta vermelha pelo profes-sor, e despejou uma série de impropérios ao mestre, ao que o professor, calmo, mas incisivo, disse que daria nota dez - com louvor – se o aluno lhe explicasse o que significava aquele “clic aqui para conhe-cer mais o autor”.


XCI

D. Pedro II, numa reunião com os seus mi-nistros, soltou uma frase que deixou todos os seus auxiliares ali presentes de queixo caído diante de tão tamanha sinceridade do imperador: “as eleições, como elas se fazem no Brasil, são a origem de todos os nossos males políticos.”.

XCII

Gregório de Matos, no seu poema Epílo-gos, justificou o temor que a justiça brasi-leira despertava, no século XVII, no povo: “bastarda, vendida, injusta”, mas um mo-rador do Bairro de Fátima, lendo o poema de Boca do Inferno, teve uma leve impres-são de que a nossa justiça ainda tem es-ses predicados.


XCIIII

O comandante de um batalhão da po-lícia militar, nos idos de 50, ao cruzar a Rua Grande vindo da Deodoro pela Rua do Passeio, teve o seu carro parado pelo guarda Sinhuca, que, mesmo sabendo de quem se tratava, mandou o militar frear para um bêbado atravessar, justificando depois ao chefe: “não o reconheci, pois pau se conhece pela casca; e um homem, pela farda”.

XCIV

Humberto de Campos, ao ouvir de sua mu-lher, que tinha ido a uma festa de aniversá-rio, vestida e maquiada de uma maneira diferente das outras vezes, que não tinha dançado com homem algum, mas apenas conversado com as amigas durante toda a festa, escreveu no diário secreto: “se as mulheres soubessem o valor que tem uma mentira na vida de um homem, jamais lhe contariam a verdade”.


XCV

A se acreditar nos discursos dos advoga-dos criminalistas do Brasil, temos a nítida certeza de que vivemos em um país de paz e de amor, sem criminosos, sem cruelda-des, habitado por pessoas que só querem fazer o bem ao seu próximo.

XCVI

Um aluno pegou um ônibus para Impera-triz e sentou-se ao lado do seu professor e, como a viagem era longa, propôs ao mestre adivinhas, valendo dez reais para o mestre e, caso o aluno não respondes-se, dois reais, porque, segundo o aluno, o professor saberia responder tudo; porém o esperto garoto perguntou que animal ti-nha 7 cabeças e 32 pernas; como o lente não soubesse, pagou os dez e devolveu a questão ao discípulo, que, não saben-do também, pegou uma das cédulas de dois que havia recebido e deu ao mestre, isso porque, segundo Millôr Fernandes, no Brasil a inteligência só vale 20% da esperteza.


XCVII

Ao convidar o sogro e outros parentes para um almoço de aniversário, Mogênio, vendo a comida se esvair rapidamente de cima da mesa, disse a todos, sem receio de cometer uma rudeza: “estou satisfeito... eu e minha mulher... e assim fará quem vergonha tiver”; ao que Coivara, vendo a comida farta, despejou sobre o genro: “e como eu nunca tive e nunca hei de ter... daqui só saio depois que barriga encher”.

XCVIII

O prefeito da cidade de Coroatá, naque-la tarde seca e quente de novembro, ao ouvir um empresário gaúcho, em audiên-cia no seu gabinete, tratar de um empre-endimento imobiliário para a cidade, não conseguiu sufocar um risinho malicioso ao ver, entre tantas coisas bonitas no pro-jeto, aquela que lhe parecia tão inútil para aquelas bandas quanto uma geladeira no inverno da Sibéria: uma sauna.


XCIX

Zé Catraio, já com algumas doses de Co-nhaque São João da Barra, discursava num dos bairros de São Bento a uma plateia de pelo menos seis pessoas, dizendo que, caso fosse eleito prefeito da cidade, mandaria comprar a casa em que Zé Sarney teria nas-cido para demolir e construir um chiqueiro no mesmo local, e como o Chicão, dono da quitanda, indagasse sobre o porquê dessa empreitada, o enunciador disse bem mais alto: “para colocar uma placa bem grande: Aqui nasceu Zé Sarney”

C

Capistrano de Abreu, de tanto se indignar com a selva de leis no Brasil, sonhou com uma constituição em que figurasse ape-nas um único artigo, através do qual to-das as leis brasileiras seriam automatica-mente revogadas: “A partir de agora todo brasileiro passa a ter vergonha na cara.”

micuim - dinodealcantarablog.files.wordpress.com · arthur corte real nasceu no ano 1954, em são...

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