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- 1- Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista Alexandre Atheniense Alexandre Atheniense é sócio-advogado do escritório Aristoteles Atheniense Advogados; especialista em Internet Law pelo Berkman Center - Harvard Law School, Presidente da Comissão de Tecnologia da Informação do Conselho Federal da OAB; coordenador e professor do Curso de Pós Graduação de Direito de Informática da Escola Superior de Advocacia da OAB/SP; editor do blog "Direito e Novas Tecnologias" www.dnt.adv.br Ementa: O presente artigo objetiva traçar uma circunstanciada análise sobre as inovações trazidas pela Instrução Normativa n. 30 de 2007 do TST que regulamentou a lei do processo eletrônico (11.419/2006) no âmbito da Justiça do Trabalho. Destacaremos ainda os principais dispositivos desta norma comentando acerca dos impactos que ocorrerão na prática processual trabalhista por meio eletrônico nos próximos anos. Palavras chave: Direito de Informática – Processo Eletrônico - Lei 11.419/2006 - Justiça do Trabalho – TST - Instrução Normativa n. 30/2007 – Peticionamento Eletrônico – Diário da Justiça Eletrônico – e-DOC Sumário: 1. A Internet e o judiciário brasileiro - 2. A Lei 11.419/2006 e a legislação precedente – 3. Abrangência da Lei 11.419/2006 - 4. Principais mudanças propostas pela Lei 11.419/2006 –5. A Instrução 28 do TST - 6. O fundamento legal para a criação da instrução n. 30 do TST - 7. A evolução histórica da informatização da Justiça do Trabalho - 8. Instrução Normativa n. 30 de 2007 - 8.1. Capítulo I - Informatização do processo judicial no âmbito da Justiça do Trabalho - Artigos 1º e 2º - 8.2. Capítulo II - Assinatura Eletrônica – Artigos 3º e 4º - 8.3. Capítulo III - Peticionamento eletrônico – artigo 5º ao 13º - 8.3.1. As restrições à compatibilidade do peticionamento em outros tribunais - Artigo 5o. parágrafo segundo - 8.3.2. Das limitações para a prática do peticionamento eletrônico - Artigo 6º - 8.3.3. Da dispensa da juntada da petição em papel a posteriori e juntada de fotocópias autenticadas - Artigo 7º - 8.3.4.

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mudanças propostas pela Lei 11.419/2006 –5. A Instrução 28 do TST - 6. O Alexandre Atheniense é sócio-advogado do escritório Aristoteles Atheniense blog "Direito e Novas Tecnologias" www.dnt.adv.br legislação precedente – 3. Abrangência da Lei 11.419/2006 - 4. Principais fundamento legal para a criação da instrução n. 30 do TST - 7. A evolução regulamentou a lei do processo eletrônico (11.419/2006) no âmbito da Justiça trabalhista por meio eletrônico nos próximos anos.

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

Alexandre Atheniense é sócio-advogado do escritório Aristoteles Atheniense

Advogados; especialista em Internet Law pelo Berkman Center - Harvard Law

School, Presidente da Comissão de Tecnologia da Informação do Conselho

Federal da OAB; coordenador e professor do Curso de Pós Graduação de

Direito de Informática da Escola Superior de Advocacia da OAB/SP; editor do

blog "Direito e Novas Tecnologias" www.dnt.adv.br

Ementa: O presente artigo objetiva traçar uma circunstanciada análise sobre as

inovações trazidas pela Instrução Normativa n. 30 de 2007 do TST que

regulamentou a lei do processo eletrônico (11.419/2006) no âmbito da Justiça

do Trabalho. Destacaremos ainda os principais dispositivos desta norma

comentando acerca dos impactos que ocorrerão na prática processual

trabalhista por meio eletrônico nos próximos anos.

Palavras chave: Direito de Informática – Processo Eletrônico - Lei 11.419/2006

- Justiça do Trabalho – TST - Instrução Normativa n. 30/2007 – Peticionamento

Eletrônico – Diário da Justiça Eletrônico – e-DOC

Sumário: 1. A Internet e o judiciário brasileiro - 2. A Lei 11.419/2006 e a

legislação precedente – 3. Abrangência da Lei 11.419/2006 - 4. Principais

mudanças propostas pela Lei 11.419/2006 –5. A Instrução 28 do TST - 6. O

fundamento legal para a criação da instrução n. 30 do TST - 7. A evolução

histórica da informatização da Justiça do Trabalho - 8. Instrução Normativa n.

30 de 2007 - 8.1. Capítulo I - Informatização do processo judicial no âmbito da

Justiça do Trabalho - Artigos 1º e 2º - 8.2. Capítulo II - Assinatura Eletrônica –

Artigos 3º e 4º - 8.3. Capítulo III - Peticionamento eletrônico – artigo 5º ao 13º -

8.3.1. As restrições à compatibilidade do peticionamento em outros tribunais -

Artigo 5o. parágrafo segundo - 8.3.2. Das limitações para a prática do

peticionamento eletrônico - Artigo 6º - 8.3.3. Da dispensa da juntada da petição

em papel a posteriori e juntada de fotocópias autenticadas - Artigo 7º - 8.3.4.

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Alexandre Atheniense

Das condições de acesso ao e-DOC e fornecimento prévio de CPF e CNPJ nas

petições iniciais – Artigo 8º - 8.3.5. Da expedição do comprovante de

recebimento das petições enviadas eletronicamente - Artigo 9º - 8.3.6. Da

recepção das peças enviadas por meio eletrônico - Artigo 10º - 8.3.7. Das

responsabilidades dos usuários do sistema - Artigo 11º - 8.3.7.1. Da

ilegalidade quanto à adoção do critério do não repúdio da assinatura digital –

Artigo 11º inciso I - 8.3.7.2. Da transferência para o usuário quanto à

responsabilidade de falhas no sistema de recepção de dados dos tribunais -

Artigo 11º, item V e parágrafos primeiro e segundo - 8.4. Da tempestividade

das peças enviadas por meio eletrônico - Artigo 12º - 8.5. Das punições pelo

uso inadequado do sistema e-DOC - Artigo 13º - 9. Capítulo IV - Comunicação

e Informação dos atos processuais no Portal da Justiça do Trabalho - Artigos

14º a 21º - 9.1. Do conteúdo das informações que deverão constar no Portal

da Justiça do Trabalho - Artigo 14º itens I a VII e parágrafo único e 15º. - 9.2.

Das intimações realizadas por meio eletrônico - Artigo 16º - 9.3. Das cartas

precatórias e rogatórias transmitidas exclusivamente de forma eletrônica -

Artigo 17º a 21º - 10. Capítulo V - Processo eletrônico - Artigo 22º a 27º - 11.

Capítulo VI - Disposições gerais finais e transitórias - Artigo 28º - 12.

Considerações Finais –13. NOTAS BIBLIOGRAFICAS

1. A Internet e o judiciário brasileiro

Em meados da década de noventa, devido ao início da utilização da Internet

doméstica no Brasil, ampliou-se exponencialmente o interesse pela utilização

da tecnologia da informação para fins de prestação de serviços por meio

eletrônico facilitado pelo avanço do compartilhamento de dados e pelo aumento

do uso do computador entre as partes processuais e o próprio poder judiciário.

No instante em que o poder judiciário no Brasil aproxima-se de completar 200

anos de existência, a Internet que no primeiro momento focava-se apenas para

dispor de conteúdo estritamente institucional, passou a ser encarada como

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meio de redução de custo para prestação de serviços além de propiciar

considerável ganho de tempo ao eliminar rotinas procedimentais relacionadas

com a burocracia do papel impactando no modernizando vários setores da

sociedade inclusive as atividades judiciárias.

Esta necessidade de mudança está emanada em decorrência da necessidade

premente do gerenciamento de processos que transita cotidianamente no

judiciário brasileiro. Segundo dados do CNJ, ao final de 2007, existem no Brasil

cerca de trinta e cinco milhões de processos judiciais ativos, sendo que vinte

milhões foram casos novos somente no ano de 2006. Este aumento vertiginoso

aconteceu principalmente em decorrência da facilidade de acesso a justiça

propiciada pelos juizados especiais nos foros cível, criminal e federal.

Portanto, não há outra solução senão começar a projetar imediatamente um

plano de gerenciamento eletrônico do judiciário brasileiro para atacar o núcleo

da crise do judiciário brasileiro que é a morosidade processual.

É de se afirmar que a verdadeira reforma do Poder Judiciário deve ater-se

prioritariamente a modernizar a rotina dos processos por meio eletrônico para

que seja possível combater a morosidade, ampliar o acesso à justiça, prover de

maior transparência e publicidade não só da movimentação processual, mas

também a íntegra das peças e atos, além do fornecimento de informações em

tempo real gerando efetiva economia da prestação de serviços além da

preservação do meio ambiente.

A verdadeira reforma do judiciário demanda necessariamente um pacote de

medidas com o enfoque estrutural, desburocratizante, orçamentária aliadas a

necessidade da implantação de um planejamento estratégico endossado por

meio de reformas legislativas e vultosos investimentos em tecnologia da

informação.

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Este cenário, corroborado pelo massivo avanço do uso cotidiano da tecnologia

entre os cidadãos brasileiros através de exemplos como o voto eletrônico,

internet banking, declaração de imposto de renda, venda de passagens aéreas

propiciou que o Brasil ousasse em acreditar que o processo judicial sem papel

viesse a se tornar uma realidade.

Os ditames do processo eletrônico tal qual preceituado pela lei 11.419/2006,

não encontram precedentes em qualquer país do mundo seja pela variedade

de rotinas do judiciário até então apenas presenciais que passarão a ser

executadas a distância ou pelo volume de processos já mencionados que

serão gerenciados por meio eletrônico.

O pioneirismo brasileiro em implantar projetos bem sucedidos de

informatização em larga escala como já ocorreu principalmente no tocante ao

voto eletrônico e declaração de imposto de renda aliada a inigualável facilidade

do povo brasileiro de adaptação destas modernidades tecnológicas foram

fundamentais para acreditar nesta nova ousadia.

É bom que se diga que no momento em que a lei 11.419/2006 entrou em vigor,

já acontecia um balão de ensaio do processo eletrônico nos juizados especiais

federais que possuíam oitenta por cento dos seus foros dispondo do processo

totalmente digital transitando cerca de três milhões de processos.

2. A Lei 11.419/2006 e a legislação precedente

Como já mencionado, a necessidade de reforma do judiciário demandou

reformas legislativas capazes de normatizar a prática processual judicial por

meio eletrônico. Daí a necessidade da entrada em vigor da lei 11.419/2006.

Como o objetivo deste artigo visa analisar a instrução normativa n. 30 do TST,

que regulamentou a lei 11.419/2006 na esfera trabalhista, cumpre fundamentar

a razão pela qual existiu esta necessidade

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Antes de adentrarmos ao estudo comentado da Instrução n. 30 do TST é

necessário voltar no tempo para conhecer outros dispositivos legais que deram

origem a informatização processual no Brasil.

O TST já havia regulado, ainda que num alcance mais limitado, a prática

processual trabalhista por meio eletrônico pela instrução normativa nº. 28 em

2005, com o fito de instituir o sistema integrado de protocolização e fluxo de

documentos eletrônicos da justiça do trabalho batizado com o nome de “e-Doc”

para permitir que às partes, advogados e peritos utilizassem a Internet para a

prática de atos processuais dependentes de petição escrita.

É bom que se diga que a lei 11.419/2006 não pode ser considerada como o

marco inicial da prática processual brasileira por meio eletrônico, cuja origem

remonta ao ano de 1999 pela lei 9800, que no artigo primeiro permitiu às partes

a utilização de sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou

outro similar, para a prática de atos processuais que dependam de petição

escrita.

Como podemos observar, naquela época, a chamada “lei do Fax” prescindia

que a transmissão de atos processuais por meio eletrônico fossem validada

dependendo da juntada posterior até cinco dias após o vencimento do prazo da

versão original em papel da petição escrita.

Entendemos que faltou ao legislador àquela época detalhar melhor em que

condições deveriam ser realizados os atos processuais através dos sistemas

de transmissão de dados similares ao fac símile.

De fato, vários órgãos do poder judiciário, através dos seus respectivos

regimentos internos entenderam que o sistema de transmissão de dados

similar ao fac símile se realizaria por meio do uso do correio eletrônico sem

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emprego da assinatura eletrônica, seja com certificação digital ou não, o que

nem sempre conferia uma segurança inequívoca às peças enviadas desta

forma.

Em outras palavras, os tribunais ao admitirem que petições escritas pudessem

ser enviadas por outro meio eletrônico além do fax conforme preceituava a lei,

adotaram prática eivada de vulnerabilidades tecnológicas e procedimentais.

Isto porque foram admitidas petições escritas em documentos gerados em

editor de texto que necessariamente não eram idênticos ao original entregue

posteriormente no cartório, a começar pela própria assinatura de quem

elaborou o ato.

Sob a vigência da lei 9800, ante a ausência da exigência do uso de certificação

digital para a transmissão de atos processuais que não conferia ao remetente

nenhuma certeza que a peça enviada chegaria ao seu destino final íntegra ou

imune a alterações que poderiam ser realizadas sem deixar qualquer indício,

ainda existia outra falha grave, pois não havia exigência por parte do Tribunal

de remeter ao peticionante um comprovante que atestasse que o envio havia

sido transmitido sem falhas.

Esta situação começou a ser modificada em 2001, pela medida provisória nº.

2.200-2 originada do Decreto 3.587 de 5 de setembro de 2000. O decreto

instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas do Poder Executivo Federal (ICP-

Gov), nome originário da ICP-Brasil, prevendo a utilização da criptografia

assimétrica para relacionar um certificado digital a um indivíduo ou entidade,

através da assinatura eletrônica validando dos documentos eletrônicos.

É importante salientar um fato que poucos conhecem, ou seja, a adoção da

Medida Provisória 2200-2/2001 não se deveu obrigatoriamente a necessidade

da informatização dos atos processuais, mas e sim a validação jurídica dos

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

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documentos eletrônicos para colocar em operação o sistema brasileiro de

pagamento eletrônicos (SBP), que estava sendo implantado com vistas ao

melhor gerenciamento do risco sistêmico da transferência de grandes valores

com liquidação bruta em tempo real e alteração no regime operacional da conta

de reservas bancárias do Banco Central, que passou a ser monitorada em

tempo real.

A diferença entre o Decreto 3.587 e a Medida Provisória 2.200-2 reside no

alcance da incidência. O destinatário dos serviços de certificação digital do

primeiro era apenas a administração pública federal, em que pese às empresas

privadas serem fornecedoras de serviço, enquanto que a mudança da

denominação ICP-Gov para ICP-Brasil, demonstrou o interesse do Executivo

de expandir a abrangência dos potenciais usuários do serviço.

Desta forma, com o advento da Medida Provisória 2.200-2/2001 é inegável

admitir que abriram as portas para que qualquer cidadão que desejasse

praticar algum ato de manifestação de vontade pelo eletrônico o fizesse com o

uso da certificação digital.

Posteriormente, em razão do veto ao parágrafo único do artigo 154 do Código

de Processo Civil, inserido pela lei 10.358 de 2001, foi promulgada a Lei

11.280/06, reinserindo o parágrafo único ao art. 154.

Neste dispositivo, o legislador expressou claramente a necessidade de que

sejam atendidos os requisitos da integridade, validade jurídica e

interoperabilidade da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP –

Brasil.

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Como se vê na nova redação foram acrescentados os termos integridade,

validade jurídica e interoperabilidade da Infra-Estrutura de Chaves Públicas

Brasileira - ICP – Brasil.

A novidade reside na utilização do termo interoperabilidade que significa que os

certificados utilizados pelos tribunais deveriam ser compatíveis com o mesmo

padrão tecnológico utilizado pela Infra-Estrutura de Chaves Públicas

Brasileiras.

Esta obrigação imposta pelo parágrafo único de certa forma é incongruente

com a regra inserta no parágrafo segundo da Medida Provisória 2.200-2, uma

vez que seu teor permanece valendo, de modo a possibilitar que duas partes

resolvam reconhecer reciprocamente os seus certificados digitais; seriam assim

válidas as transações eletrônicas realizadas entre elas.

Em 06 de dezembro de 2006, foi promulgada a Lei 11.382, alterando vários

artigos do Código de Processo Civil relativos ao processo de execução por

título extrajudicial, introduzindo a penhora “on line” (art.655-A), e o leilão “on

line” (art. 689-A). Ressalta-se que a justiça trabalhista é a que mais utiliza o

instituto da penhora on line pelo sistema BACENJUD, que ilustra que

determinados momentos processuais praticados por meio eletrônico geram

celeridade, economia e eficiência.

Estas inovações foram amadurecendo a idéia de que o processo judicial

poderia ser sem papel o que acabou redundando na promulgação da Lei

11.419/2006 aprovada em 19 de dezembro de 2006, entrando em vigor após

um curtíssimo período de “vacatio legis” em 19/03/2007. Esta lei foi originada

do projeto nº. 5.828 de 2001 da Câmara dos Deputados, por meio de uma

proposta apresenta da pela Associação dos Juízes Federais do Brasil – AJUFE

cujo trâmite durou cinco anos e um mês.

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3. Abrangência da Lei 11.419/2006

A lei 11.419/2006 deve, portanto, ser aplicada ao processo civil, penal,

trabalhista e juizados especiais, conforme preconiza o artigo primeiro:

“Art. 1º O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais,

comunicação de atos e transmissão de peças processuais será admitido nos

termos desta Lei”.

§ 1º Aplica-se o disposto nesta Lei, indistintamente, aos processos civil, penal e

trabalhista, bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição.

4. Principais mudanças propostas pela Lei 11.419/2006

Esta norma estabeleceu as diretrizes básicas para que todas as instâncias

judiciais do país possam implantar a informatização do processo, eliminando o

papel como o único meio armazenamento da informação processual

fomentando a uniformização do uso da tecnologia de informação na prestação

da tutela jurisdicional.

Embora a versão primitiva do projeto de lei tenha sido bem menos abrangente

restringindo-se apenas a comunicação eletrônica de atos processuais e

peticionamento por meio eletrônico, a lei aprovada foi muito mais além

preconizando não só estes assuntos bem como regrando diversos atos

processuais capazes de tornar possível a realização de todas as etapas do

processo totalmente por meio eletrônico.

Entre as alterações introduzidas pela nova lei estão: o uso de meio eletrônico

na tramitação de processos judiciais; a comunicação de atos e transmissão de

peças processuais, o envio de petições, de recursos e a prática de atos

processuais em geral por meio eletrônico, mediante uso de assinatura

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eletrônica; a autorização para que os tribunais criem diários oficiais eletrônicos

para publicação de atos judiciais e administrativos próprios e dos órgãos a eles

subordinados, bem como comunicações em geral, a validade de intimações por

meio eletrônico; a autorização para que os órgãos do poder judiciário

desenvolvam sistemas eletrônicos de processamento de ações judiciais por

meio de autos total ou parcialmente digitais, e o reconhecimento, como

originais, dos documentos produzidos eletronicamente e juntados aos

processos eletrônicos, com garantia da origem e de seu signatário.

Outra mudança significativa foi adoção da certificação digital para os

documentos eletrônicos como meio de propiciar maior segurança aos atos

praticados. Todas estas mudanças impactaram ainda em diversas mudanças

no Código Processo Civil uma vez que como já frisamos esta norma tem o

escopo nitidamente de alterar a prática processual no nosso país.

Esta lei gerou vários reflexos na legislação processual trabalhista, e foi com o

fito de regulamentá-la no âmbito da Justiça do Trabalho que foi surgiu a

Instrução Normativa n. 30 do TST.

5. A Instrução Normativa n. 28 do TST

Como se vê pela cronologia dos fatos, a justiça trabalhista foi a primeira a

normatizar a prática de atos processuais por meio eletrônico com o uso da

certificação eletrônica em 2005 pela Instrução 28 do TST, antes da vigência da

lei 11.419/2006, inovando com a utilização do peticionamento eletrônico

realizado por meio de carregamento das peças processuais nos sites de alguns

TRT´s e TST dispensando a juntada da versão em papel conforme preceituava

a Lei 9800/99.

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Ocorre que em 2005, a época da vigência da Instrução 28, as demais rotinas

processuais além do peticionamento eletrônico não haviam ainda sido

regulamentadas por lei, esta norma teve o seu alcance restrito a aplicação de

protocolização e fluxo de documentos eletrônicos na justiça trabalhista.

6. O fundamento legal para a criação da instrução n. 30 do TST

A demonstração de que a justiça trabalhista estava avançando a frente dos

demais órgãos do Poder Judiciário no tocante ao desejo de migrar suas

atividades para o processo eletrônico, consolidou-se ainda mais com a entrada

em vigência da Instrução nº. 30/2007 do TST através da Resolução n.

140/2007 em 13 de setembro de 2007.

Esta norma foi o primeiro instrumento regulamentador da lei do processo

eletrônico criada na Justiça brasileira. Daí a importância deste estudo.

Adiciona-se ainda o fato de que esta instrução visa padronizar o funcionamento

do processo eletrônico em toda Justiça Trabalhista brasileira, objetivando

eliminar a possibilidade de cada Tribunal optar por normas de organização

judiciária própria e desarmônica com os demais. Este é um avanço

considerável, pois um dos maiores riscos que poderá acontecer diante deste

novo cenário é que cada tribunal faça a opção por adotar sistemas de

informática diferenciados que poderiam culminar em regras diferenciadas

dificultando não só o intercâmbio de dados, mas a uniformização da prática

processual trabalhista em nosso país.

O fundamento legal para criação da instrução normativa n. 30 do TST, decorre

da redação do artigo 18 da lei 11.419/2006, segundo o qual cabe “aos órgãos

do Poder Judiciário a regulamentação desta Lei, no que couber, no âmbito de

suas respectivas competências”.

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

Este permissivo legal deve ser compreendido com bastante cautela, pois a

leitura desta regra preceituando que cabe ao Judiciário regulamentar uma lei

pode gerar controvérsias.

Entendemos que o Poder Judiciário tem poder para, por atos administrativos,

disciplinar atividades de seus órgãos internos. Mas o processo é uma relação

jurídica da qual o Poder Judiciário é somente um de seus sujeitos e a

Constituição Federal não lhe dá a atribuição de produzir normas gerais e

abstratas para regular a atividade, os direitos e os deveres processuais dos

demais.

O uso da tecnologia no processo judicial não pode obscurecer estes princípios

basilares do Estado Democrático de Direito, esculpidos desde o Iluminismo e a

Revolução Francesa.

Como temos ressaltado insistentemente nos últimos anos, regular o uso de

tecnologia não é mera questão técnica ou administrativa. Direitos podem ser

criados ou destruídos, sob o pretexto de estabelecer regulamentações de

cunho “técnico”; portanto, se a “disciplina” do uso de tecnologia é suscetível de

gerar direitos e obrigações para os demais sujeitos que atuam no processo, tal

“disciplina” não pode ser instituída senão por lei em sentido estrito.

Aliás, uma das razões pelas quais as normas processuais devem estar

previstas em lei é propiciar uniformidade de tratamento e previsibilidade de

desenvolvimento do procedimento, aspectos inseparáveis do due process of

law. Fosse possível aos vários tribunais do país normatizar a prática dos atos

eletrônicos para os processos sob sua jurisdição, teríamos uma pluralidade de

formas processuais, além da perspectiva de vermos estas formas serem

alteradas ao sabor de decisões meramente administrativas.

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

No nosso entender, o Judiciário tem o poder para baixar normas de

organização judiciária e não normas processuais. Caberá ao exame do STF ao

julgar a ADIN 3880 interposta pela Ordem dos Advogados do Brasil distinguir

entre o alcance destes dois conceitos.

É inegável que existe um limite muito tênue entre ambos uma vez que a

tecnologia da informação propicia amplos poderes de definição de regras de

conduta para aqueles que detêm a infra-estrutura da rede e o código de

programação nas mãos. Se os técnicos de informática responsáveis pela

criação destes sistemas não forem suficientemente orientados por

processualistas na criação destas rotinas on-line, certamente haverá

ultrapassagem no limite do estabelecimento das normas de organização

judiciária e as regras de conduta poderão afetar as regras processuais vigentes

cuja alteração prescindirá do devido processo legal.

7. A evolução histórica da informatização da Justiça do Trabalho

Paralelamente a esses acontecimentos na justiça do trabalho já estavam sendo

realizadas diversas medidas com a finalidade de informatização do processo

judicial.

A informatização do processo trabalhista no TST vem sendo discutida há mais

de dez anos, desde apresentação do projeto de Sistema Integrado de Gestão

da Informação na Justiça do Trabalho em 1993 pelo Tribunal Superior do

Trabalho.

Este projeto ganhou força em 2004, com a criação de um grupo de trabalho

que reuniu diretores de informática de vários TRT´s e do TST.

O objetivo inicial deste projeto visava à integração de toda a estrutura da

Justiça do Trabalho a partir de uma padronização (de equipamento, de

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sistemas e programas de informática e de procedimentos e rotinas de trabalho)

que alcance as 1.378 Varas do Trabalho, os 24 Tribunais Regionais do

Trabalho e o próprio TST.

O objetivo seguinte, que impacta diretamente nos resultados a serem aferidos

com a lei 11.419/2006, objetivava a criação de uma estrutura que viabilizasse o

processo eletrônico, eliminando assim milhares de folhas de papel que compõe

os autos dos processos da Justiça do Trabalho melhorando a prestação da

tutela jurisdicional buscando redução de custos e da morosidade processual.

Em 2004, foram dados os primeiros passos concretos para interligação e

modernização das Varas da Justiça do Trabalho através da informatização.

Todas começaram a receber microcomputadores e impressoras

multifuncionais, adquiridos, para instalação da infra-estrutura necessária para

as salas de audiência, com a utilização do sistema que fazia parte de um

software unificado, o Sistema AUD.

Esse projeto de informatização ainda previa alguns programas, entre eles: o

Peticionamento Eletrônico Nacional (uso do correio eletrônico para a prática de

atos processuais a partir de qualquer ponto do País), Carta Precatória Nacional

(o juiz do trabalho pode se comunicar com outro juiz, do mesmo Estado ou não,

para requerer a citação de alguém, a tomada de depoimentos de testemunhas

ou até mesmo a execução de bens), o Cálculo Rápido (permitindo ao juiz

saber, logo na primeira audiência, o valor aproximado das demandas feitas por

um trabalhador), o Cadastro Nacional de Débitos Trabalhistas, BACENJUD

(penhora eletrônica dos bens de devedores inadimplentes), todos eles

exeqüíveis a partir da integração da Justiça do Trabalho por um sistema

automatizado.

Segundo as palavras do presidente do TST na época, o ministro Vantuil

Abdala: “O Poder Judiciário não pode ficar de braços cruzados à espera de

iniciativas do Executivo e do Legislativo para aperfeiçoar a prestação de

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

serviço à sociedade” , a meta a ser alcançada por ele através da

informatização da Justiça do Trabalho era a “celeridade e qualidade da

prestação jurisdicional”.

Em 02 de setembro de 2005, avançou o TRT da 4º região (RS), na

informatização do processo com a implantação do sistema e-Doc desenvolvido

por este tribunal. Tal sistema, pioneiro nessa tecnologia, permitia o envio de

documentos pela Internet ao TST, Tribunais Regionais do Trabalho e Varas do

Trabalho, a partir de um site único e centralizado.

Para as petições remetidas pelo e-Doc exige-se, como pré-requisito, a

assinatura eletrônica advinda da utilização de certificados digitais pertencentes

à hierarquia da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil)

visando garantir a validade jurídica do sistema.

O e-Doc (Sistema Integrado de Protocolização e Fluxo de Documentos

Eletrônicos da Justiça do Trabalho) foi regulamentado pelo TST através da

Instrução Normativa nº. 28 de 2 de junho de 2005, que tinha como fundamento

a lei 9.800 de 1999 e na medida provisória 2.200-2 de 2001.

8. Instrução Normativa n. 30 de 2007

A instrução normativa n. 30 é composta por seis capítulos, estruturados com os

respectivos títulos: Informatização do processo judicial no âmbito da Justiça do

Trabalho, Assinatura Eletrônica, Sistema de Peticionamento eletrônico,

Comunicação e informação dos atos processuais no Portal da Justiça do

Trabalho, Processo eletrônico e Disposições gerais, finais e transitórias.

Diversos dispositivos da instrução normativa n. 30 são reproduções literais de

trechos da lei 11.419/2006 e outros dispositivos entram em confronto com a lei

do processo eletrônico e o Código processo Civil.

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

Abordaremos a seguir de forma sistêmica alguns dispositivos que merecem

destaque.

8.1. Capítulo I - Informatização do processo judicial no âmbito da Justiça do

Trabalho - Artigos 1o. e 2o.

No artigo 1º da instrução tem-se expresso o objetivo de disciplinar o uso do

meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e

transmissão de peças processuais.

O artigo 2º prescreve a atribuição da responsabilidade aos órgãos da Justiça

do Trabalho em prover uma infra-estrutura adequada, com equipamentos de

acesso à rede mundial de computadores e de digitalização para o acesso dos

usuários, sendo que os Tribunais Regionais Federais terão o prazo de um ano

para atenderem essa exigência.

A exigência de implantação da infra-estrutura a cargo do judiciário foi

preceituada no artigo Art. 10º, § 3º, da Lei 11.419/2006. A novidade neste

artigo está no parágrafo único, pois a lei do processo eletrônico foi omissa

quanto à fixação de prazo dos tribunais para implantar a totalidade das regras

procedimentais por meio eletrônico em razão das diferenças orçamentárias

existentes entre os diversos órgãos que compõem o judiciário brasileiro.

A justiça trabalhista, no entanto, ousa ao prefixar que no prazo de ano após o

início da vigência da Instrução nº. 30 (13/9/2007), os Tribunais Regionais do

Trabalho deverão atender ao disposto do presente artigo.

Ressalta-se que a fixação deste prazo poderá não ser um grande obstáculo

para os respectivos Tribunais do Trabalho, em decorrência do adiantado

momento de sua atual infra-estrutura tecnológica. Todavia, é imprescindível

que se façam investimentos em disseminar a grande rede para os diversos

pontos do país sob o risco de provocar o apartheid digital segregando

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

jurisdicionados ou procuradores que estejam localizados em municípios que

não tenham acesso estável e rápido a Internet.

Vivemos em um país de contrastes, por este motivo é necessário ter cautela

para que a pressa de implantar sistemas informatizados esteja aliada à

segurança e viabilidade de que os municípios atendidos estejam com estrutura

para a acessar a Internet com estabilidade e a baixo custo.

Não podemos ficar inebriados diante das novidades tecnológicas ao ponto de

desconsiderar que algumas regiões do nosso país convivem ainda com a

carência até mesmo de estabilidade de energia elétrica, de modo a admitir que

estes projetos devam ser implantados rapidamente sem estudo prévio, e sem

que a comunidade local tenha condições mínimas de desfrutar de infra-

estrutura compatível para o uso deste sistema.

Temos que ter em mente que a tecnologia deverá sempre propiciar o conforto e

não sacrifícios que modifiquem ou prejudiquem o exercício da atividade

jurisdicional. Igualmente, não podemos esquecer que esta mudança acarreta a

necessidade de ensinar aos jurisdicionados sobre como fazer uso do sistema.

Mesmo considerando que o brasileiro tem um invejável perfil de adaptação é

inegável que qualquer novidade assusta.

Por este motivo, entendo que seja papel do judiciário juntamente com a OAB

unir esforços para dispor de meios visando ensinar os atores processuais a

aprenderem a operar o sistema de prática processual por meio eletrônico.

8.2. Capítulo II - Assinatura Eletrônica – Artigos 3º e 4º

Neste segundo capítulo composto dos artigos 3º e 4º está prevista a

regulamentação do uso da assinatura eletrônica que será requisito obrigatório

para a elaboração das petições e outros atos processuais.

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

O termo assinatura eletrônica empregado na instrução n. 30 do TST,

compreende genericamente duas modalidades de identificação do signatário

que estão preceituadas no artigo 4º Itens I e II, em correspondência ao artigo 2º

letras a e b da lei 11.419/2006.

A primeira modalidade de assinatura eletrônica é baseada em certificado digital

emitido pela ICP-Brasil, com o uso de cartão contendo chip e senha que gera a

assinatura criptografada conferindo autenticidade e integridade dos dados

transmitidos.

A forma alternativa de identificação é denominada de assinatura cadastrada,

sem o uso da certificação digital, condicionando o seu fornecimento ao

cadastramento prévio do solicitante perante o Tribunal Superior do Trabalho ou

Tribunais Regionais do Trabalho mediante o fornecimento de login e senha.

No nosso entender, a segunda modalidade não assegura que os dados

transmitidos serão totalmente confiáveis, pois não haverá o emprego da

criptografia assimétrica, caracterizando o documento transmitido como

documento eletrônico nos termos da Medida Provisória 2200-2/2001.

Embora a lei 11.419/2006, tenha conferido validade a estas duas modalidades,

devemos entender que futuramente é bem possível que a segunda alternativa

esteja com prazo de validade bem limitado. Isto porque na medida em que haja

a adoção em massa da certificação digital, não se justificará a adoção de

assinaturas eletrônicas baseadas em login e senha em decorrência de

vulnerabilidades que poderão ocorrer no sentido não garantir ao assinante que

os dados transmitidos chegaram ao destinatário final sem que houvesse

qualquer alteração na seqüência binária dos dados sem deixar algum vestígio.

É inegável que com o uso da certificação digital a possibilidade de fraude é

bem menor que o uso de senhas. A situação ainda é mais preocupante diante

do disposto no parágrafo sexto do artigo quarto que atribui à responsabilidade

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

ao credenciado pelo uso indevido da assinatura eletrônica. Enquanto que nos

casos de extravio de um certificado digital que permaneça sob a guarda do

usuário a revogação possa ser imediata, o acesso não autorizado às senhas

nem sempre será notado pelo usuário e a fraude poderá acontecer sem que

este perceba rapidamente.

Os dados do certificado que identificam o usuário trafegam na rede com o uso

da criptografia enquanto que as senhas poderão ser facilmente interceptadas

por um hacker que terá condições de fraudar, por exemplo, sentenças caso

obtenha acesso da conta de um magistrado.

O parágrafo primeiro do artigo 4º da Instrução n. 30 do TST inovou ao obrigar

que independente da modalidade de assinatura eletrônica utilizada pelo usuário

será necessário ainda o cadastramento prévio perante o TST ou o TRT com

jurisdição sobre a cidade do domicílio do solicitante, mediante o preenchimento

de formulário eletrônico que será acessado no portal da Justiça do Trabalho.

Esta obrigação de cadastrar no site do Tribunal nunca existiu anteriormente no

processo de papel, a nosso ver, é um excesso que submete as partes e

principalmente os advogados ao cadastramento no Poder Judiciário, além da

sua inscrição da entidade que regulamenta o seu exercício profissional,

condicionando o acesso ao processo eletrônico à concessão da assinatura não

certificada.

Esta norma dissente ou conflita com o inciso XIII, do art. 5º da Constituição

Federal, que garante ao cidadão o "livre exercício de qualquer trabalho, ofício

ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer".

As qualificações profissionais dos advogados definidas por lei estão dispostas

na Lei 8906/94 (Estatuto da OAB).

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

Fica demonstrado que a regra da letra “b”, do item III, do art. 1º e do art. 2º da

lei 11.419/2006, reproduzidas no artigo 4º da instrução nº. 30 do TST, vincula o

exercício da profissão do advogado ao controle de dois órgãos diferentes a sua

entidade de classe e o órgão do poder judiciário que fará o cadastro.

O advogado terá que se submeter a uma carga excessiva para o exercício de

sua profissão, pois, além de atender às qualificações profissionais

estabelecidas por lei federal, que regulamentam a advocacia (Lei 8906), ficará

ainda sujeito ao controle das normas a serem editadas pelo Judiciário, através

dos seus órgãos respectivos (letra “b”, do item III, do art. 1º da Lei

11.419/2006).

Como mencionado, as exigências excessivas para o livre exercício profissional

importam em ataque ao "princípio da proporcionalidade".

O Min. Gilmar Ferreira Mendes analisa com propriedade o princípio da

proporcionalidade, nos seguintes termos:

"A doutrina constitucional mais moderna enfatiza que, em se tratando de

imposição de restrições a determinados direitos, deve-se indagar não apenas

sobre a admissibilidade constitucional da restrição eventualmente fixada

(reserva legal), mas também sobre a compatibilidade das restrições

estabelecidas com o princípio da proporcionalidade.

Essa nova orientação, que permitiu converter o princípio da reserva legal

(Gesetzesvorbehalt) no princípio da reserva legal proporcional (Vorbehalt des

verhältnismässigen Gesetzes), pressupõe não só a legitimidade dos meios

utilizados e dos fins perseguidos pelo legislador, mas também a adequação

desses meios para consecução dos objetivos pretendidos (Geeignetheit) e a

necessidade de sua utilização (Notwendigkeit oder Erforderlichkeit). Um juízo

definitivo sobre a proporcionalidade ou razoabilidade da medida há de resultar

da rigorosa ponderação entre o significado da intervenção para o atingido e os

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

objetivos perseguidos pelo legislador (proporcionalidade ou razoabilidade em

sentido estrito).

O pressuposto da adequação (Geeignetheit) exige que as medidas

interventivas adotadas mostrem-se aptas a atingir os objetivos pretendidos. O

requisito da necessidade ou da exigibilidade (Notwendigkeit oder

Erforderlichkeit) significa que nenhum meio menos gravoso para o indivíduo

revelar-se-ia igualmente eficaz na consecução dos objetivos pretendidos.

“Assim, apenas o que é adequado pode ser necessário, mas o que é

necessário não pode ser inadequado.” (A proporcionalidade na jurisprudência

do Supremo Tribunal Federal. In: Repertório IOB de Jurisprudência. 1ª

quinzena de dezembro de 1994, nº. 23/94, página 475).

Os meios excessivos de identificação do advogado para o exercício da

profissão constituem ameaça aos direitos fundamentais do profissional. E será

ainda mais preocupante se considerarmos que a maioria dos tribunais

brasileiros não consulta obrigatoriamente o cadastro nacional de advogados

mantido pela OAB para aferir se determinado solicitante de senha ou

certificado digital esteja no regular exercício da advocacia.

Há, pois, uma tendência de várias cortes criarem restrições ao livre exercício

da profissão, além das qualificações previstas na Lei 8906/94, em decorrência

da inovação de regra a ser adotada para o meio eletrônico mediante a criação

pelo judiciário de cadastros de advogados paralelos à margem de qualquer

controle da OAB, para condicionar o acesso à Justiça.

Além da afronta ao princípio da proporcionalidade e ao inciso XIII do art. 5º da

CF, o conflito com a lei que regulamenta o exercício da profissão ensejará o

acesso à Justiça a um grupo de usuários, sem que se tenha a certeza de que

sejam advogados, podendo não estar sequer habilitados ao exercício

profissional.

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

Este assunto encontra-se sub judice em decorrência das alegações de

inconstitucionalidade dos artigos mencionados da lei 11.419/2006 na ação

direta de inconstitucionalidade n. 3880 que ora tramita no STF.

Ainda sobre o tema abordado neste capítulo é importante frisar que os arquivos

correspondentes aos atos processuais, inclusive das assinaturas eletrônicas,

deverão ser sob o formato que permita geração e verificação por diversos

programas, evitando-se padrões proprietários.

Para efeito de prática de atos processuais por advogado, somente deve ser

admitido certificado eletrônico expedido pela Ordem dos Advogados do Brasil

(AC-OAB), submissa a ICP-Brasil, que por lei, tem competência exclusiva para

promover a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos advogados

de toda a República Federativa Brasileira (art. 44, inciso II, da Lei nº. 8.906/94).

A Instrução também não assegurou a isenção de ônus para os interessados

em obter o cadastramento que condicione a prática de atos processuais por

meio eletrônico. Esta preocupação é pertinente se levarmos em conta que os

investimentos necessários à infra-estrutura do sistema poderão ser repassados

aos interessados no acesso como forma de taxa de adesão ao sistema. Isto

nos parece um despropósito em decorrência do posicionamento recente do

CNJ que julgou o Pedido de Controle Administrativo (PCA) 552, que discutiu a

extinção da cobrança de taxas para acesso à publicação on-line do Diário da

Justiça do Mato Grosso do Sul.

De acordo com o entendimento do relator Felipe Locke, "a cobrança de

qualquer taxa ou assinatura, pelos Tribunais, pode restringir a publicidade dos

atos aos que se quer dar ampla visibilidade". Outro argumento levantado é que

"a simples migração do Diário Oficial de papel para o eletrônico já significa

enorme diminuição de gastos aos Tribunais". Felipe Locke acrescentou que "os

atos dos tribunais devem estar disponíveis sem custo algum para toda a

sociedade".

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

Conclusivamente, entendo que seria recomendável que ficasse assegurado

que todos os órgãos do Poder Judiciário façam uso de senhas para dar acesso

aos inscritos da OAB, até o julgamento do mérito da ADI 3880/STF, devam ser

obrigados a consultar previamente o Cadastro Nacional de Advogados para

fins de condicionar o credenciamento de advogados e estagiários.

Nos casos em que os órgãos do Poder Judiciário já houvessem credenciado os

inscritos pela OAB por senhas, o sistema deveria aferir se os inscritos que já se

beneficiaram destas senhas estão no regular exercício profissional, cotejando

as informações constantes no Cadastro Nacional dos Advogados.

8.3. Capítulo III - Peticionamento eletrônico – artigo 5º ao 13º

Em relação ao sistema de peticionamento eletrônico disposto no terceiro

capítulo da Instrução nº. 30 do TST, que de fato já vinha sendo utilizado em

alguns Tribunais Regionais do Trabalho, antes mesmo da vigência continuará a

ser utilizada dentro da mesma metodologia empregada no e-DOC.

Cabe salientar que este sistema é de caráter facultativo, sendo mantido o

peticionamento tradicional por meio do protocolo de peças no próprio tribunal

(parágrafo primeiro do art. 5º). A novidade é que cada tribunal deverá dispor de

aparelhos que permitam a digitalização das peças em papel para convertê-las

para o processo eletrônico.

8.3.1. As restrições à compatibilidade do peticionamento em outros tribunais -

Artigo 5º parágrafo segundo

Não nos parece razoável a restrição do parágrafo segundo do artigo 5º ao

vedar a utilização do e-DOC para o envio de peças para o STF. Mesmo que

esta situação se modifique com o tempo, o ideal seria que os sistemas

adotados por ambos tribunais fossem compatíveis propiciando a decantada

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

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interoperabilidade dos dados sendo desnecessário a adoção de sistemas

diferenciados para cada um dos Tribunais. A padronização de sistemas entre

os tribunais é fundamental, pois em caso contrário poderemos ter inúmeros

padrões e procedimentos diferenciados que dificultarão a assimilação dos

jurisdicionados a esta mudança.

No parágrafo terceiro deste artigo o texto se trata de uma mera reprodução da

regra do parágrafo único do artigo 14 da lei 11.419/2006

8.3.2. Das limitações para a prática do peticionamento eletrônico - Artigo 6º

No artigo 6º da instrução nº. 30 do TST, existe uma grave restrição à utilização

do sistema de peticionamento por permitir somente o peticionamento de

documentos em formato PDF (Portable Document Format) bem como no

tamanho máximo, por operação de dois megabytes, não admitindo sequer o

fracionamento no protocolo de petições que ultrapassam este limite (parágrafo

único do artigo sexto da instrução nº. 30 do TST).

Esta exigência não é estabelecida na lei 11.419/2006 e tampouco existe

atualmente em relação às petições e documentos protocolados em papel. Esta

limitação sui generis prejudicará os autores que terão de optar pela escolha de

documentos para acompanhar suas petições, bem como os reclamados, que

terão cerceado o seu direito de defesa.

Mesmo com o disposto no art. 25, § 4º da Instrução, que permite a

apresentação em secretaria a posteriori dos documentos que excedam o limite

de dois megabytes por motivo de grande volume, em circunstâncias

envolvendo a apreciação de pedidos liminares, ficará praticamente inviabilizado

o uso de petições eletrônicas quando os documentos a serem juntados

excedam o limite determinado.

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Alexandre Atheniense

Além disso, é importante salientar que o conceito de documento eletrônico não

corresponde apenas às folhas de papel digitalizadas. Qualquer outro meio de

prova lícito tendo sido gerado em meio eletrônico que represente um fato

deverá ser admitido como tal.

É inegável a existência de uma tendência irreversível no uso massivo de

câmeras, celulares e outros dispositivos de captura e armazenamento em

formato digital propiciando que a sociedade atual começará a produzir provas

geradas a partir deste padrão por meio de fotos, áudio e vídeo.

Por esta razão, ficará ainda mais configurado o cerceamento de defesa ou a

ineficiência do peticionamento eletrônico nos termos em que está disposta a

atual redação da instrução, caso seja mantida o limite de juntar apenas

documentos textuais digitalizados em formato PDF dentro do limite de dois

megabites.

Mesmo que um arquivo gerado em formato PDF admita a anexação destes

outros formatos digitais, este ínfimo limite causará incontornável desconforto

aos usuários do processo eletrônico trabalhista.

8.3.3. Da dispensa da juntada da petição em papel a posteriori e juntada de

fotocópias autenticadas - Artigo 7º

O artigo reafirma a regra já existente no e-DOC de dispensar a necessidade de

juntada da petição em papel após o protocolo realizado por meio eletrônico. A

novidade está na parte final do artigo que dispensa a juntada de fotocópias

autenticadas como forma de comprovação de pressupostos de admissibilidade

do recurso.

A partir da redação do artigo décimo primeiro da lei 11.419/2006 todos os

documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos

com garantia da origem e de seu signatário, na forma estabelecida na lei serão

considerados originais para todos os efeitos legais.

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Isto significa dizer que o documento eletrônico assinado com o uso da

certificação digital dispensa a autenticação de documentos em cartório. A

garantia de origem será atestada pelo signatário e que poderá estar sujeito à

argüição de falsidade nos casos de suspeita de fraude.

Vale lembrar que o artigo terceiro da lei 11.419/2006 preceitua que os originais

dos documentos digitalizados, deverão ser preservados pelo seu detentor até o

trânsito em julgado da sentença ou, quando admitida, até o final do prazo para

interposição de ação rescisória.

8.3.4. Das condições de acesso ao e-DOC e fornecimento prévio de CPF e

CNPJ nas petições iniciais – Artigo 8º

O artigo oitavo enfatiza que a condição sine qua non para que qualquer ator

processual possa utilizar o sistema de peticionamento eletrônico é sujeitar-se

ao cadastramento prévio no site do TST ou do TRT de seu domicílio. Esta

exigência é uma regra que não existe nos meios tradicionais para o envio de

protocolo de peças em papel, significando uma mudança da regra processual

vigente.

A exigibilidade do fornecimento do cadastro de pessoas físicas ou jurídicas

perante a Secretaria da Receita Federal preceituada no parágrafo único do

artigo 8º da instrução n. 30 corresponde à outra novidade advinda da lei

11.419/2006 no artigo 15.

8.3.5. Da expedição do comprovante de recebimento das petições enviadas

eletronicamente - Artigo 9º

No artigo nono temos uma inovação diante da lacuna existente no artigo

terceiro e décimo da lei 11.419/2006, em relação ao protocolo eletrônico, com a

adoção do detalhamento das informações que constarão na emissão do

respectivo recibo eletrônico de comprovação deste.

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Pressupõe-se que esta emissão seja realizada imediatamente depois de

realizada a transmissão de forma a garantir ao remetente o êxito na prática

deste ato, embora o caput do artigo mencione apenas que o comprovante seja

expedido no momento de recepção.

Como veremos a seguir, será necessária a intervenção de um serventuário

diariamente para verificar a existência de petições eletrônicas pendentes de

processamento (art. 10, item II), não estando suficientemente claro se a

emissão do comprovante de envio se dará imediatamente após a transmissão

ou somente após a verificação das petições que ainda não foram processadas.

Restou assegurada a faculdade do remetente a qualquer momento consultar

no e-DOC o registro das petições e documentos enviados e os respectivos

recibos (parágrafo 2º).

Não sendo validada a transmissão, deveria ser obrigatório que o sistema

documentasse para o usuário de forma clara e circunstanciada, os motivos

desta rejeição, sendo emitido também um comprovante, contendo no que

couber, os dados constantes do parágrafo primeiro do artigo nono.

8.3.6. Da recepção das peças enviadas por meio eletrônico - Artigo 10º

Ao contrário do que se possa imaginar, após o envio da peça processual por

meio eletrônico não existirá um processamento automático pelo sistema e-DOC

para anexá-la ao processo eletrônico. Fica entendido consoante regra do item

II do artigo 10 que sempre será necessária à intervenção de um serventuário

diariamente para acessar as peças pendentes de processamento.

Nos casos em que ainda não houver sido implantados os autos totalmente sem

papel haverá a impressão da versão original recebida em formato digital para o

papel (artigo 10, inciso I), consoante permissivo do artigo 12, parágrafo

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segundo da lei 11.419/2006, devendo esta autuação ser realizada em

conformidade com a regra dos artigos 166 a 168 do CPC.

8.3.7. Das responsabilidades dos usuários do sistema - Artigo 11º

Elencaremos a seguir neste artigo nosso comentários sobre as

responsabilidades que o legislador atribuiu aos usuários do sistema, sendo que

algumas nos parecem inapropriadas.

8.3.7.1. Da ilegalidade quanto à adoção do critério do não repúdio da

assinatura digital – Artigo 11º inciso I

Existe um erro técnico grave que merece reparo na redação do item I do artigo

11, pois está preceituado que o usuário será responsável pelo sigilo da

assinatura digital, não sendo oponível em qualquer hipótese, alegação do seu

uso indevido.

Na verdade, o correto seria admitir que o sigilo recaísse sobre a guarda das

chaves privadas armazenadas no certificado digital do usuário. A assinatura

digital deverá ser de conhecimento de terceiros de modo a aferir se de fato o

documento assinado foi gerado a partir da chave pública emitida pelo

certificado digital do usuário.

Além disso, este mesmo item contém outro equívoco não menos grave, a

alegação de que não será oponível em qualquer hipótese a alegação de uso

indevido da assinatura digital.

Entendemos que não é admissível retirar da apreciação do judiciário, sob pena

de ofensa do contraditório e da ampla defesa, a alegação da parte que vier a

ser prejudicada ante a alegação de uso indevido de sua assinatura digital.

Conforme nos ensina MARCACINI em seu artigo "A CERTIFICAÇÃO

ELETRÔNICA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ATUAL", ao analisar a

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possibilidade de se admitir a não oponibilidade de assinaturas e certificados

digitais também denominados como não repúdio:

=“Outra afirmação despropositada relacionada com a questão, e que pulula

mundo afora, diz respeito ao conceito de não repúdio”. Tornou-se modismo

dizer que, utilizando-se assinaturas e certificados digitais, o documento se

torna imune a qualquer impugnação posterior. A expressão não repúdio,

primeiramente, não tem qualquer significado jurídico. Como assinala Bruce

Schneier (in “Secrets and Lies - Digital Security in a Networked World”), o termo

era utilizado na literatura acadêmica sobre criptografia para significar tão

somente que o algoritmo matemático se mostra inquebrável. Ainda segundo

Schneier, foi a indústria de PKI que se apossou da expressão, sugerindo nela o

significado jurídico absurdo que lhe tem sido atribuído.

O uso jurídico que se quer dar ao termo não repúdio esbarra no fato de que,

para o bem ou para o mal, a verdade ainda não se transformou em uma

operação matemática.

Impedir alguém de impugnar a veracidade de uma assinatura em um

documento é algo que não encontra guarida no nosso Direito atual, e

duvidamos que possa existir em um Estado Democrático de Direito, no qual

não se possa suprimir do Poder Judiciário a apreciação e solução dos conflitos.

Pode-se até argumentar que a prova contra a assinatura digital, ou contra o

certificado, seja uma prova difícil. Entretanto, isso não significa que o

documento eletrônico possa estar imunizado de toda e qualquer impugnação,

ou que o juiz não possa apreciar a sua veracidade de modo livre e racional.

(acessado em

http://augustomarcacini.cjb.net/index.php/DireitoInformatica/CertificacaoEletroni

caLegislacao em 28/01/2008).

Fica patente, portanto, que os tribunais que utilizarem o processo eletrônico

deverão adotar normas claras sobre funcionalidade, acesso e

responsabilidades, devendo ser vedada qualquer norma que pretenda

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

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estabelecer o chamado “não repúdio”, ou seja, a proibição de alguém negar a

titularidade, o uso da chave privada ou a titularidade do certificado eletrônico.

8.3.7.2. Da transferência para o usuário quanto à responsabilidade de falhas

no sistema de recepção de dados dos tribunais - Artigo 11º, em V e parágrafos

primeiro e segundo

Outra controvérsia que prescinde de mudança é a regra preceituada pelo item

V do artigo 11 que transferiu para o usuário a obrigação de acompanhar pelo

site do tribunal a divulgação dos períodos em que o serviço não estiver

disponível em decorrência de manutenção no sítio do tribunal.

Como o envio de petições por via eletrônica poderá ocorrer até as 24 horas, o

advogado que não conseguir concluir a transmissão por defeito no sistema de

recepção de dados do tribunal poderá perder seu prazo se não tiver

informações claras e atualizadas que o sistema não está disponível e que o

prazo será prorrogado.

Não ficou esclarecido qual será o prazo que os tribunais terão para divulgar os

períodos que o sitio não esteve disponível. O razoável seria que os sites dos

tribunais disponibilizassem em sua página principal de forma clara e

circunstanciada em tempo real, a informação sobre os períodos de paralisação

de acesso ao sistema, conforme previsão na Lei 11.419/2006. Esta publicidade

se torna imprescindível para que as partes possam ter ciência sobre a eventual

mudança na contagem do prazo em decorrência da indisponibilidade ficando

automaticamente prorrogado para o primeiro dia útil seguinte à resolução do

problema em conformidade com o disposto do parágrafo segundo do artigo 10

da lei 11.419/2006.

Note-se ainda que pela redação atual os Tribunais informarão apenas os

horários em que o sistema esteve indisponível (vide § 2º do artigo 11 da

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instrução n. 30 do TST) não se obrigando a tornar público previamente o

horário em que o sistema sofrerá manutenção preventiva.

8.4. Da tempestividade das peças enviadas por meio eletrônico - Artigo 12º

Em relação à tempestividade para efetivação do protocolo de petições ou

outros atos processuais, o artigo 12 parágrafo primeiro e o artigo 24 parágrafo

primeiro, apenas reproduzem o que está prescrito no artigo 3º parágrafo único

e artigo 10º parágrafo primeiro da lei 11.419/2006, ou seja, serão consideradas

tempestivas as petições transmitidas e os atos processuais realizados até as

24 (vinte e quatro) horas do seu último dia.

A Lei 11.419/2006 estendeu o prazo para o protocolo de peças até às

23h59min dia em que findar o prazo.

Apesar de ser clara a redação este assunto vem causando confusão tanto na

Justiça comum quanto na Justiça do trabalho, já que o horário do expediente

eletrônico difere do expediente dos órgãos que geralmente é até as 18 hrs.

Como exemplo desse imbróglio destacamos a decisão recente do TRT da 2 ª

Região, em sede de embargos, no processo nº. 00485.2005.251.02.00-2 ,

julgado pela 12ª Turma em 09/11/07, decidiu de forma contrária a instrução

normativa n. 30 e a lei 11.419/2006, não considerando tempestiva a petição

protocolada pelo meio eletrônico após o horário do expediente no último dia de

prazo. Nota-se claramente que houve uma confusão do magistrado entre o

horário de expediente presencial do órgão e do expediente eletrônico.

Depreende-se da decisão: “a petição de embargos de declaração foi enviada a

Corte pelo Sistema de Peticionamento Eletrônico (Internet) em 10/09/2007,

último dia do prazo para a sua interposição, às 23h22min, portanto, após o

encerramento do expediente regulamentar (art. 276 do Regimento Interno do

TRT da 2ª Região então em vigor), pelo que se afiguram intempestivos os

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embargos declaratórios”. Nota-se que tal acórdão é totalmente discrepante do

que versa a Lei 11.419/2006, mas é fundamentado no Regimento Interno do

Tribunal, que conseqüentemente ofende preceito da hierarquia das leis.

Em contrapartida, a 8a. Turma do TRT da 3a. Região deu provimento a agravo

de petição declarando tempestivos embargos à execução protocolizados pela

internet por meio do sistema e-doc às 23h 12 minutos do último dia do prazo

legal.

No voto da relatora infere-se que:

“Havendo legislação ordinária a tratar especificamente da matéria, não

prevalece a Instrução Normativa nº. 28, do TST, nem a antiga Instrução

Normativa nº. 3/2006, deste TRT, anteriormente editadas para regularizar o

sistema integrado de protocolização e fluxo de documentos eletrônicos da

Justiça do Trabalho” - pontua. A relatora citou ainda os artigos 8° e 10º, § 1°,

que dispõem sobre a informatização dos processos judiciais: “Quando o ato

processual tiver que ser praticado em determinado prazo, por meio de petição

eletrônica, serão considerados tempestivos os efetivados até as 24 horas do

último dia”.

Conforme assinalamos no artigo "AS CONTROVÉRSIAS DO

PETICIONAMENTO ELETRÔNICO APÓS A LEI 11.419/2006":

"Uma dúvida sobre o peticionamento eletrônico que prescinde ser

regulamentada foi suscitada no recém distribuído Procedimento de Controle

Administrativo suscitado pelo Conselho Federal da OAB contra regulamento do

TRT do Pará que tornou obrigatório o peticionamento eletrônico. Caberá ao

CNJ decidir se o sistema eletrônico deverá ser exclusivo, em detrimento de

todos os demais meios de tradicionais da prática do ato de protocolo, ou se

permanecerão as alternativas cumulativamente.

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Entendemos que o pressuposto básico para a implantação dos procedimentos

processuais por meio eletrônico deverá ser obrigatoriamente proporcionar

conforto aos jurisdicionados sem entrar em choque com situações precárias de

estrutura de acesso a internet que ainda são comuns em certos locais do

Brasil. Por este motivo é recomendável cautela no momento de transição para

que seja adotado, ainda que temporariamente os dois meios de prática

processual, presencial e eletrônico, cabendo ao requerente a escolha daquele

que melhor lhe convier"

Para efeito da tempestividade, o horário de envio da petição não será

considerado como sendo o momento que o usuário conectou a internet

tampouco os horários consignados no equipamento do remetente e da unidade

de destino, mas sim o de recebimento no órgão da Justiça do Trabalho

(parágrafo terceiro do artigo 12).

A utilização de carimbo do tempo para o peticionamento eletrônico com base

no horário fornecido pelo observatório nacional já é uma realidade em alguns

tribunais dentre os quais o TST.

Segundo notícia publicada no blog DNT - O Direito e as novas tecnologias, este

sistema está diretamente ligado ao relógio atômico instalado no tribunal pelo

Observatório Nacional, fazendo que as informações do tempo sejam

repassadas para os equipamentos que atestam o recebimento do documento

eletrônico em determinada data e hora. Dessa forma, o sistema possibilita o

sincronismo do horário aferido pelos equipamentos com a hora legal brasileira

e permite também a auditoria pelo Observatório Nacional das informações

emitidas.

8.5. Das punições pelo uso inadequado do sistema e-DOC - Artigo 13º

Este artigo atribui poderes a autoridade judiciária competente a bloquear o

cadastramento do usuário por uso inadequado do e-DOC ou que causar

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prejuízo às partes ou à atividade jurisdicional. A redação não nos parece a

mais adequada, pois o que se pretende de fato é bloquear o acesso do usuário

que não estiver dentro das regras de conduta admissíveis no sistema. Como o

acesso ao sistema está condicionado ao cadastro prévio, entendemos que se a

autoridade bloquear o cadastro antes que o usuário o acesse pela primeira vez,

esta não terá como aferir se determinado usuário de fato utilizou

inadequadamente o sistema.

Além disso, a regra que visa punir o usuário infrator não prevê a possibilidade

da oitiva do mesmo diante da eventual hipótese deste ter se exorbitado o uso

da ferramenta tecnológica. A punição aplicada pela autoridade judiciária de

forma unilateral inaudita altera pars importa no cerceamento do exercício do

direito do contraditório e da ampla defesa.

9. Capítulo IV - Comunicação e Informação dos atos processuais no Portal da

Justiça do Trabalho - Artigos 14º a 21º

A justiça trabalhista agiu de forma correta padronizando e consolidando todos

as suas informações e serviços propondo a criação do Portal da Justiça do

Trabalho denominado Portal-JT) que servirá como sítio corporativo da

instituição compreendendo todos os tribunais trabalhistas do país, gerenciado

pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho e operado pelo Tribunal

Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho (artigo 14 da

instrução n. 30 do TST).

9.1. Do conteúdo das informações que deverão constar no Portal da Justiça do

Trabalho - Artigo 14º itens I a VII e parágrafo único e 15º

Dentre os serviços que serão agregados ao portal destacam-se:

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Alexandre Atheniense

A criação do Diário da Justiça do Trabalho Eletrônico, visando à publicação de

atos judiciais e administrativos dos Tribunais e Varas do Trabalho (artigo 14,

inciso I da instrução c/c artigo 4o. da Lei 11.419/2006;

Os sistemas de Pesquisa de Jurisprudência, de Legislação Trabalhista e Atos

Normativos da Justiça do Trabalho, de acompanhamento processual, de

acervo bibliográfico, com Banco de Dados Geral integrado pelos julgados e

atos administrativos de todos os Tribunais trabalhistas do país;

As informações gerais sobre os Tribunais e Varas do Trabalho, incluindo

memória da Justiça do Trabalho, dados estatísticos, magistrados, concursos e

licitações, entre outros;

As informações sobre o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT),

incluindo seu Regimento Interno, suas resoluções e decisões, além de seus

integrantes e estrutura do órgão;

As informações sobre a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de

Magistrados do Trabalho (ENAMAT), incluindo quadro diretivo, de professores,

de alunos e de cursos, bem como disponibilizando ambiente para o ensino à

distância;

Os sistemas de Assinatura Eletrônica, Peticionamento Eletrônico (e-DOC) e de

Carta Eletrônica (CE);

Informações sobre a Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho;

Este conteúdo deverá ser assinado digitalmente, nos termos previstos na

instrução e no parágrafo primeiro do artigo quarto da Lei 11.419/2006. Outra

reprodução do texto lei (artigo quarto, parágrafo segundo foi incorporado ao

artigo 15 da instrução).

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9.2. Das intimações realizadas por meio eletrônico - Artigo 16º

Este artigo trata da possibilidade da realização de intimações por meio

eletrônico no Portal-JT para aqueles que se credenciarem na forma prevista na

instrução visando à dispensa da publicação no órgão judicial inclusive o

eletrônico. A realização da intimação via portal em detrimento da publicação no

diário da Justiça Eletrônico deveria ser encarada como método excepcional,

pois a sua operação deverá exigir a adoção de requisitos técnicos suficientes

para identificar inequivocamente o intimado.

A instrução, bem como a lei 11.419/2006 admite que o serviço de intimação

eletrônica seja prestado para todos os jurisdicionados, portanto, a

regulamentação deverá ser compreendida em sentido genérico, isto é "aos que

se credenciarem na forma da instrução normativa".

Entendemos que a validação da intimação seja feito por meio de certificado

digital por nítidas razões visando conferir maior segurança ao ato, embora à lei

não tenha proibido a intimação mediante a identificação por senhas.

Todos os sete parágrafos que compõem o artigo 16 são reproduções de alguns

artigos que integram o Capítulo III da lei 11.419/2006.

9.3. Das cartas precatórias e rogatórias transmitidas exclusivamente de forma

eletrônica - Artigo 17º a 21º

A instrução normativa instituiu a criação do Sistema de Carta Eletrônica (CE)

visando à transmissão exclusiva de forma eletrônica das cartas precatórias,

rogatórias e de ordem, com dispensa da remessa física de documentos. A

exceção a esta regra é que a sua utilização dependerá da aceitação dos

demais órgãos do Poder Judiciário.

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

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A transmissão eletrônica via Carta Eletrônica deverá ser encarada como forma

preferencial para a prática do ato visando gerar economia e agilidade

processual, entretanto qualquer falha técnica que possa tornar o sistema

indisponível não pode servir como excusa para que haja o cumprimento do ato

pelas regras ordinárias.

10. Capítulo V - Processo eletrônico - Artigo 22º a 27º

Os dispositivos reunidos neste se referem ao funcionamento do Processo

Eletrônico de forma geral, determinando que os atos processuais do processo

eletrônico sejam assinados eletronicamente, seja por uso de certificado digital

ou senhas (Artigo 22).

10.1. Citações, Intimações e notificações praticadas por meio eletrônico - Artigo

23º

Outra inovação introduzida pela Lei 11.419/2006 e regulamentada pela

instrução, versa sobre a prática das citações, intimações, notificações, inclusive

da fazenda Pública serão realizadas por meio eletrônico (artigo 23) Desde que

o sistema adotado pelo tribunal torne possível as partes o acesso à íntegra do

processo correspondente à prática destes atos serão considerados como vista

pessoal para todos os efeitos legais (parágrafo primeiro do artigo 23).

Em contrapartida, caso a realização destes atos seja feita por meio das regras

ordinárias e o processo já estiver totalmente digitalizado, o documento em

papel será convertido para este formato destruindo-se a versão do suporte

físico do documento (parágrafo segundo do artigo 23 da instrução c/c com o

parágrafo segundo artigo nono da lei 11.419/2006).

10.2. Distribuição da petição inicial - art. 24º

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Outro ato que poderá ser praticado remotamente é a distribuição processual. O

artigo 24 da instrução é a reprodução do artigo décimo da Lei 11.419/2006,

excetuando a supressão do trecho do parágrafo terceiro da lei 11.419/2006 que

obriga os órgãos do Poder Judiciário manter equipamentos de digitalização e

de acesso à rede mundial de computadores à disposição dos interessados para

distribuição de peças processuais.

A eliminação deste dispositivo não pode ser encarada como dispensa desta

exigência legal fundamental para que a prática do processo trabalhista se

instaure com comodidade pelas diversas localidades em nosso país.

10.3. Da juntada dos documentos produzidos eletronicamente, acesso aos

autos digitais, conservação dos autos, da segurança da informação, da

exibição de documentos, dos cadastros públicos - Artigo 25º a 27º

As regras preceituadas neste artigo são reproduções literais de vários artigos

do capítulo III da Lei 11.419/2006 não inovando em nada o que já existia na lei.

11. Capítulo VI - Disposições gerais, finais e transitórias - Artigo 28º

Neste último capítulo, o TST estabeleceu que todos os credenciamentos de

assinatura eletrônica já efetuados pela Justiça do Trabalho antes da vigência

da Instrução Normativa n. 30 que por ventura estejam em desacordo com as

atuais regras deverão ser convalidados até 180 dias da última publicação da

resolução.

Cabe esclarecer que ao tratar do assunto mencionando atribuindo a

convalidação de um credenciamento já existente de de assinatura eletrônica,

singnifica que o TST já vinha utilizando o credenciamento por senhas sem

certificação digital, para conceder acesso a justiça e as novas práticas

processuais por meio eletrônico . Este credenciamento deverá ser realizado de

forma presencial nos termos do artigo 2o. parágrafo primeiro da Lei 11419.

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Alexandre Atheniense

Por outro lado, é de se considerar dispensável a prática deste credenciamento,

caso os sistemas que venha a ser adotados ou aprimorados façam o

reconhecimento do usuário por meio da certificação digital. Uma das grandes

vantagens da certificação digital é propiciar o acesso de usuários a

determinados sites, ou zonas de restrito acesso, a partir da leitura do

certificado digital do usuário. Desta maneira, se os sistemas a serem adotados

pela Justiça Trabalhista forem adaptados para conceder o acesso dos usuários

mediante a verificação do certificado digital, este procedimento de

cadastramento preceituado no artigo 28 será uma medida com prazo de

validade determinado.

De qualquer forma, há de se ressaltar que inobstante a regra do artigo 28, não

existe, até março de 2008, no site do TST, nenhuma informação acerca de

como será o procedimento para os usuários efetuarem o credenciamento de

convalidação da assinatura eletrônica obtida antes da vigência da Instrução

Normativa n. 30.

12. Considerações Finais

Entendemos que os sistemas dos órgãos do poder Judiciário, de forma geral

que darão suporte à prática e à comunicação de atos processuais, devam ser

planejados e desenvolvidos com acompanhamento dos representantes dos

diversos atores processuais possibilitando ciência prévia do projeto de

informatização e concedendo acesso temporário para testes, a exemplo de

qualquer outro programa de computador que enfrenta a etapa de testes entre

os seus principais usuários.

Esta ciência prévia deveria ser efetuada em um lapso de tempo hábil, não

inferior a 90 dias, sendo necessária para reforçar a ampla divulgação da prática

por meio eletrônico, de modo a detalhar, testar, discutir de forma

circunstanciada como será o seu funcionamento em substituição a prática

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presencial, de modo a minimizar os naturais problemas operacionais e de

aprendizado durante a fase inicial de adaptação para a utilização deste novo

cenário.

A Instrução normativa nº. 30 do TST tem o perfil de ineditismo, pois como já

mencionamos foi o primeiro instrumento legal a regulamentar a lei do processo

eletrônico. Como esta norma está lastreada na necessidade da implantação de

um programa de computador que possa dispor de uma série de implementos

que impactarão a prática processual na justiça brasileira nos próximos anos,

temos que nos conscientizar que este sistema devera ser considerado como

uma obra inacabada, isto porque o software deriva da inteligência humana que

é inesgotável.

Razão disso, a Instrução Normativa nº. 30 merece críticas construtivas que ora

se depreendem em decorrência da exígua troca de idéias entre os

desenvolvedores do sistema processual trabalhista e seus principais usuários,

que repercutiu tanto na criação das rotinas quanto na criação da

regulamentação.

Estamos pagando um preço altíssimo em decorrência da implantação do

projeto de informatização do judiciário que não encontra nenhum precedente

no exterior. A cautela neste momento de mudança e quebra de paradigmas

será a única forma de reduzir o impacto negativo destas transformações. É

primordial que se fomente o desenvolvimento deste novo cenário da prática

processual eletrônica com contínuo diálogo entre os diversos atores

processuais, a exemplo dos trabalhos realizados pelo grupo de trabalho sobre

a informatização processual do qual fazemos parte, que foi convocado pelo

Conselho Nacional de Justiça. O objetivo deste foro de debates visa à criação

de um modelo padrão de regulamentação da lei 11.419/2006 contando com

ampla discussão entre os representantes dos atores processuais.

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O objetivo de empreender a reforma do Poder Judiciário é de interesse comum,

por este motivo, a meta de modernizar a rotina dos processos por meio

eletrônico para que seja possível combater a morosidade, ampliar o acesso à

justiça e prover maior transparência e publicidade é uma tarefa contínua e

inesgotável de agora em diante, devendo ser compreendido como pauta

recorrente da troca de idéias entre todas as partes envolvidas.

13. NOTAS BIBLIOGRAFICAS

ATHENIENSE, ALEXANDRE - "AS CONTROVÉRSIAS DO

PETICIONAMENTO ELETRÔNICO APÓS A LEI 11.419/2006" publicado no

site Consultor Jurídico acessado em

http://conjur.estadao.com.br/static/text/62567,1 acessado em 28/01/2008.

Blog DNT – O direito e as novas tecnologias

(http://www.dnt.adv.br./2008/01/stf-utiliza-sol.html acessado em 28/01/2008).

CALMON, Petrônio. Comentários à Lei de Informatização do Processo Judicial.

Lei 11.419 de 19 de dezembro de 2006. Ed. Forense. 1ª ed. RJ. 2007. 153 p.

Instrução Normativa nº. 28 de 2005, disponível em <http://www.tst.gov.br/

.Acesso em 21/01/2008.

Instrução Normativa n. 30 de 2007, disponível em <http://www.tst.gov.br/

.Acesso em 21/01/2008.

MARCACINI, AUGUSTO, "A CERTIFICAÇÃO ELETRÔNICA NA LEGISLAÇÃO

BRASILEIRA ATUAL", acessado em

http://augustomarcacini.cjb.net/index.php/DireitoInformatica/CertificacaoEletroni

caLegislacao acessado em 28/01/2008).

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Comentários a Instrução Normativa n. 30/2007 do TST

Regulamentação da Lei do Processo Eletrônico na Justiça Trabalhista

Alexandre Atheniense

MENDES, GILMAR (A proporcionalidade na jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal. In: Repertório IOB de Jurisprudência. 1ª quinzena de

dezembro de 1994, nº. 23/94, página 475).

MARTINS, “Adalberto “ Legislação processual trabalhista e o uso da Internet”,

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Acesso em 22/01/2008.

PARENTONI, Leonardo Netto. Documentário Eletrônico. Aplicação e

Interpretação pelo Poder Judiciário. Ed. Juruá. Curitiba 2007.198 p.

TST Notícias - “TST investe na informática em busca de justiça rápida e eficaz”

disponível em

<http://ext02.tst.gov.br/pls/no01/no_noticias.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=4624

&p_cod_area_noticia=ASCS > Acesso em 18/01/08.