micronutrientes na cana-de-açúcar: mitos e realidades

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TÍTULO: “Micronutrientes na cana-de-açúcar: mitos e realidades” Godofredo Cesar Vitti 1 Fábio Eduardo de Campos Queiroz 2 Thiago Aristides Quintino 2 1) INTRODUÇÃO DO CENÁRIO SUCROALCOOLEIRO ATUAL A cultura da cana-de-açúcar representa hoje grande fonte de divisas para o Brasil, seja pela produção de açúcar quanto pela produção de álcool etílico. Esta cultura vem apresentando significativa expansão em sua área cultivada, assim como tem revelado aumento substancial em sua produtividade, reflexo conjugado de vários fatores de produção, tais como: variedades melhoradas, tratamentos fitossanitários, práticas culturais e utilização de corretivos e fertilizantes. Com relação ao aumento da área cultivada, a cana-de-açúcar disseminou- se em todos os estados brasileiros, tendo-se estabelecido sobre os mais diferentes tipos de solos, muitas vezes com características bastante distintas dos padrões ideais. Embora a cana-de-açúcar seja uma planta muito rústica, a economicidade de sua produção agroindustrial é gradativamente prejudicada à medida que as características ambientais tornam-se mais adversas. Muitas são as técnicas agronômicas empregadas na produção de cana-de- açúcar, tais como a escolha de variedades adequadas ao solo e clima, conservação e correção química dos solos, controle de pragas e plantas daninhas, etc. A busca pela escolha do fertilizante mais adequado bem como de adubação balanceada visando a máxima produtividade são pontos cada vez mais abordados. É neste contexto em que se enquadra a utilização de micronutrientes na cultura da cana-de-açúcar. 1 Prof. Titular do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ / USP ([email protected]) 2 Acadêmicos em Engenharia Agronômica – ESALQ / USP ([email protected]) 1

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TÍTULO: “Micronutrientes na cana-de-açúcar: mitos e realidades”

Godofredo Cesar Vitti1

Fábio Eduardo de Campos Queiroz2

Thiago Aristides Quintino2

1) INTRODUÇÃO DO CENÁRIO SUCROALCOOLEIRO ATUAL

A cultura da cana-de-açúcar representa hoje grande fonte de divisas para o

Brasil, seja pela produção de açúcar quanto pela produção de álcool etílico. Esta

cultura vem apresentando significativa expansão em sua área cultivada, assim

como tem revelado aumento substancial em sua produtividade, reflexo conjugado

de vários fatores de produção, tais como: variedades melhoradas, tratamentos

fitossanitários, práticas culturais e utilização de corretivos e fertilizantes.

Com relação ao aumento da área cultivada, a cana-de-açúcar disseminou-

se em todos os estados brasileiros, tendo-se estabelecido sobre os mais

diferentes tipos de solos, muitas vezes com características bastante distintas dos

padrões ideais. Embora a cana-de-açúcar seja uma planta muito rústica, a

economicidade de sua produção agroindustrial é gradativamente prejudicada à

medida que as características ambientais tornam-se mais adversas.

Muitas são as técnicas agronômicas empregadas na produção de cana-de-

açúcar, tais como a escolha de variedades adequadas ao solo e clima,

conservação e correção química dos solos, controle de pragas e plantas daninhas,

etc. A busca pela escolha do fertilizante mais adequado bem como de adubação

balanceada visando a máxima produtividade são pontos cada vez mais

abordados. É neste contexto em que se enquadra a utilização de micronutrientes

na cultura da cana-de-açúcar.

1 Prof. Titular do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ / USP ([email protected]) 2 Acadêmicos em Engenharia Agronômica – ESALQ / USP ([email protected])

1

2) LEGISLAÇÃO DE MICRONUTRIENTES

O decreto n.º 4.954, de 14 de janeiro de 2004 aprova o Regulamento da Lei

nº 6.894, de 16 de dezembro de 1980, que dispõe sobre a inspeção e fiscalização

da produção e do comércio de fertilizantes, corretivos, inoculantes ou

biofertilizantes destinados à agricultura, e dá outras providências.

“CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 2º Para os fins deste Regulamento, considera-se:

XIV - nutriente: elemento essencial ou benéfico para o crescimento e

produção dos vegetais, assim subdividido:

a) macronutrientes primários: Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K),

expressos nas formas de Nitrogênio (N), Pentóxido de Fósforo (P2O5) e Óxido de

Potássio (K2O);

b) macronutrientes secundários: Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e Enxofre (S),

expressos nas formas de Cálcio (Ca) ou Óxido de Cálcio (CaO), Magnésio (Mg) ou

Óxido de Magnésio (MgO) e Enxofre (S); e

c) micronutrientes: Boro (B), Cloro (Cl), Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês

(Mn), Molibdênio (Mo), Zinco (Zn), Cobalto (Co), Silício (Si) e outros elementos

que a pesquisa científica vier a definir, expressos nas suas formas elementares.”

2

3) UTILIZAÇÃO DE MICRONUTRIENTES EM CANA-DE-AÇÚCAR-DE-AÇÚCAR

Um dos fatores que contribuiu para a expansão da cana-de-açúcar no Brasil

foi criação do Programa Nacional do Álcool – Proálcool e o grande crescimento do

setor a partir da década de 70. Essa expansão ocorreu em áreas tradicionais e

não tradicionais de cultivo desta cultura. Muitas indústrias foram montadas em

regiões de solos com baixa fertilidade, nas quais, além da calagem, adubação

NPKS e rotação de culturas, observam-se baixos teores de micronutrientes no

solo.

A adubação com micronutrientes em cana-de-açúcar, mesmo nas áreas

onde os teores no solo são baixos, ainda apresenta controvérsias. Muitos dos

resultados de pesquisa são contraditórios e a mente conservadora de técnicos que

trabalham no setor resulta por discriminar a utilização de micronutrientes nas

práticas de adubação.

No entanto, é imprescindível que seja explicada a importância dos

micronutrientes para a cultura da cana-de-açúcar bem como esclarecido os

principais FATOS e MITOS relacionados à sua utilização nas práticas de

adubação desta cultura

4) FATOS

Deve-se esclarecer que dentre os FATOS relacionados à utilização de

micronutrientes em cana-de-açúcar estão: (i) a essencialidade dos micronutrientes

às plantas e as funções no metabolismo das mesmas; (ii) os sintomas visuais de

deficiência observados à campo em plantas com suprimento inadequado destes

elementos; (iii) baixos teores de micronutrientes detectados em plantas

deficientes, segundo a técnica da diagnose foliar, em comparação com teores de

plantas sadias e de canaviais com altas produtividades e (iv) baixos teores no

solo, principalmente nos arenosos, baixo teor de matéria orgânica, sem utilização

de resíduos da própria indústria canavieira ou de outras fontes orgânicas.

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4.1) Essencialidade dos micronutrientes

A cana-de-açúcar-de-açúcar, bem como as demais plantas superiores,

necessita para o seu desenvolvimento de macro (N, P, K, Ca, Mg, S) e de

micronutrientes (B, Cl, Cu, Fe, Mn, Zn, Mo, Si).

Os micronutrientes desempenham funções vitais no metabolismo das

plantas, quer como parte de compostos responsáveis por processos metabólicos

e/ou fenológicos, quer como ativadores enzimáticos.

A importância dos micronutrientes para a cultura da cana-de-açúcar é

evidenciada quando se observam as quantidades extraídas dos mesmos. São

quantidades relativamente baixas quando comparadas à extração de

macronutrientes, porém de fundamental importância ao desenvolvimento da

cultura. Reduções na produtividade e até morte de plantas são conseqüências

naturais advindas de desarranjos nos processos metabólicos, ocasionados pela

carência de micronutrientes. (Orlando Filho, 1993).

As quantidades de micronutrientes extraídas e exportadas pela cultura da

cana-de-açúcar estão apresentadas na tabela 1.

Tabela 1: Extração e Exportação de micronutrientes para a produção de 100 t de

colmos (Orlando F.º, 1993)

B Cu Fe Mn Zn Mo* Planta

------------------------------- g.100 t-1 --------------------------------

Colmos 149 234 1.393 1.052 369

Folhas 86 105 5.525 1.420 223 1,00

Total 235 339 7.318 2.470 592 1,00

* Malavolta (1982)

Diante da importância dos micronutrientes para as plantas, torna-se

fundamental compreender as funções específicas de cada um no desenvolvimento

da cultura da cana-de-açúcar.

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4.2) Funções dos micronutrientes na planta e sintomas visuais de deficiência nutricional.

A literatura brasileira já assinalou e descreveu as principais funções dos

micronutrientes nas plantas e os sintomas visuais de deficiência de em cana-de-

açúcar, que serão apresentados a seguir: 4.2.1 Boro (B) Funções do boro nas plantas:

O boro é responsável pelo desenvolvimento de raízes e transporte de

açucares.

A função fisiológica do boro difere dos outros micronutrientes, pois este

ânion não foi identificado em nenhum composto ou enzima específica. Entre as

principais funções atribuídas a este micronutriente está o metabolismo de

carboidratos e transporte de açúcares através das membranas; síntese de ácidos

nucléicos (DNA e RNA) e de fitohormônios; formação de paredes celulares e

divisão celular (Dechen et al, 1991).

O boro está diretamente relacionado ao metabolismo da cálcio, ou seja,

para formação adequada da parede celular é necessária a presença desse

nutriente.

Sintomas visuais de deficiência de boro:

Os sintomas leves de deficiência deste micronutriente mostram pequenas

estrias cloróticas e aquosas no espaço internerval das folhas jovens. As áreas

cloróticas podem evoluir para a necrose e o crescimento irregular do limbo foliar

tende a causar enrugamento em algumas bandas. Nos casos mais severos, os

sintomas evoluem para a necrose das folhas, encurtamento do limbo foliar e

necrose do tecido meristemático intercalar, causando os sintomas de necrose

5

interna em forma de espiral no caule, próximo ao meristema apical (Tokeshi,

1991).

Observa-se que os sintomas de deficiência são muito semelhantes aos da

doença “Pokkah boeng” causada pelo Fusarium moniliforme.

Tem-se também folhas torcidas; lesões translúcidas ou em forma de "sacos

de água" entre as nervuras; plantas novas com muitos perfilhos; folhas tendem a

ficar quebradiças; folhas do cartucho podem ficar cloróticas e mais tarde

necróticas; freqüentemente chamada de doença do falso "Pokkah boeng"; também

semelhante ao dano causado por alguns herbicidas; clorose nas pontas e

margens das folhas novas progredindo da base para a ponta da lâmina foliar; por

último, a clorose estende-se às folhas mais velhas; tecido clorótico rapidamente

torna-se necrótico; pontas das folhas podem ficar severamente queimadas. Nas

figuras 1, 2 e 3 são apresentados sintomas típicos de deficiência desse nutriente.

Figura 1. Folhas novas apresentando enrugamento (Fonte: Copyright©2003 Inkabor S.A.C.)

6

Figura 2. Folhas quebradiças e excesso de perfilhamento (Fonte: POTAFOS)

Figura 3. Folhas do topo se amarram umas às outras e apresentam enrugamento.

4.2.2) Cloro Funções do cloro na planta: O cloro é um elemento essencial tendo envolvimento no desdobramento da

molécula da água na fotossíntese II tem sido confirmado por vários autores

(Marschener, 1986 citado por Dechen et al., 1991).

7

Pouco se sabe sobre a função do cloro em outros processos metabólicos.

Os teores de certos aminoácidos e amidas são excepcionalmente altos em plantas

deficientes em cloro (Freney et al., 1957 citados por Dechen et al., 1991) e, como

resultado, ocorre inibição da síntese ou degradação de proteínas.

Sintomas visuais de deficiência:

Devido ao fato do cloro ser fornecido ás plantas através de diferentes fontes

(reservas do solo, chuva, fertilizantes e poluição aérea), é muito mais freqüente a

toxicidade do elemento em plantas do que a deficiência, e é difícil induzir

deficiência do mesmo em condições normais de experimentação (Dechen et al.,

1991).

4.2.3 Cobre (Cu)

Funções do cobre na planta:

O cobre é elemento importante na fotossíntese, atuando no transporte

eletrônico via plastocianina. Na respiração atua na oxidação terminal pela oxidase

do citocromo. Também aumenta a resistência às doenças e age na síntese

protéica. È componente do ácido ascórbico oxidase, tirosinase, monoamina

oxidase, uricase, citocromo oxidase, fenolase, lacase e plastocianina (Taiz &

Zeiger, 2004).

Na distribuição do cobre nos diversos órgãos da cana-de-açúcar, observa-

se acúmulo no palmito em quantidades muito maiores que nos demais órgãos.

Evans (1916, citado por Malavolta, 1980) mostrou que naquele tecido existe

atividade muito alta de polifenoloxidase, um ênzimo ativado pelo Cu. Este

micronutriente foi o fator limitante na produção de cana, na Flórida e na Louisiania,

há 50 anos.

8

Sintomas visuais de deficiência de cobre:

A deficiência de cobre nas plantas pode ser diagnosticada visualmente,

pelos seguintes sintomas: pequeno desenvolvimento da planta, folhas cloróticas e

difícil aparecimento de folhas novas, folhas se curvam para o solo-topo caído

(“droopy top”), em casos mais agudos e clorose foliar dividida em pequenos

retângulos (confundidos com “mosaico da cana”).

Segundo (Tokeshi, 1991), plantas com deficiência de cobre, no geral estão

associadas com solos salinos ou com subsolos salinos. Nos solos sob vegetação

de cerrado estão associadas com os Latossolos mais arenosos e de baixa

fertilidade natural. Nas áreas deficientes, com freqüência formam-se reboleiras de

área variável e as plantas apresentam como sintomas mais característicos o

encurtamento dos entrenós, folhas verticiladas, formando o sintoma de leque e a

presença de manchas verdes na folha. As folhas ficam finas e flácidas, tendendo a

tombar para um só lado se houver vento predominante (Tokeshi, 1991).

Observa-se também como sintomas visuais de deficiência de cobre,

manchas verdes ("ilhas") nas folhas; folhas eventualmente descoloridas que se

tornam finas como papel e enroladas quando a deficiência é severa; colmos e

meristemas perdem a turgidez (doença do "topo caído") e adquirem aparência

semelhante à borracha; perfilhamento reduzido. Nas figuras 4, 5 e 6 são

apresentados sintomas típicos de deficiência desse nutriente

Figura 4. “Touceira amassada” (POTAFOS)

9

Figura 5. Clorose uniforme seguida de pontuações verde – escuras (ilhas)

(Orlando Filho, 1983)

+ Cu

- Cu

Figura 6. “Touceiras amassadas” – (Região de Tabuleiros Terciários do Nordeste

Brasileiro)

4.2.4. Ferro (Fe)

Funções do ferro na planta:

O Ferro é considerado metal chave para as transformações energéticas

necessárias para síntese e outros processo vitais das células:

As principais funções atribuídas ao ferro segundo Dechen et al. (1991) são:

10

• Ocorre em proteínas dos grupos heme e não heme e encontra-se

principalmente nos cloroplastos;

• Complexos orgânicos de ferro estão envolvidos no mecanismo de

transferência de elétrons;

• Fe-proteínas do grupo não heme estão envolvidas na redução de

nitritos e de sulfatos;

• A formação de clorofila parece ser influenciada por esse

elemento;

• Está diretamente implicado no metabolismo de ácidos nucléicos;

• Exerce funções catalíticas e estruturais.

Sintomas visuais de deficiência:

Segundo Tokeshi (1991) os sintomas de deficiência de ferro em cana-de-

açúcar pode ocorrer em cana-planta ou soca, com enraizamento superficial, no

período em que os brotos estão sendo alimentados pelas raízes da soca ou do

colmo-mãe (tolete).

No geral os sintomas ocorrem em reboleiras, em solos arenosos e de

menor fertilidade, e tende a desaparecer após seis meses de crescimento da

planta. As folhas afetadas apresentam clorose internerval que se alastra por toda

a extensão da lâmina foliar e atinge até nervura central. Não se observa

decréscimo de alongamento do palmito (Tokeshi, 1991).

A deficiência de ferro também está associada a excesso de Mn (solos

ácidos) por apresentar inibição competitiva com esse elemento, bem como a solos

com reação alcalina, pela precipitação do ferro na forma de Fe(OH)3.

Na figura 7 é apresentado deficiência desse nutriente

11

Figura 7. Planta clorótica-esbranquiçada (POTAFOS)

4.2.5 Manganês (Mn) Funções do manganês na planta:

O Manganês atua na fotossíntese, sendo envolvido na estrutura,

funcionamento e multiplicação de cloroplastos, também realiza o transporte

eletrônico.

O manganês é requerido para a atividade de algumas desidrogenases,

descarboxilases, quinases, oxidases e peroxidases. Está envolvido com outras

enzimas ativadas por cátions e na evolução fotossintética de oxigênio (Taiz &

Zeiger, 2004).

Nota-se grande quantidade de manganês nas zonas de crescimento da

planta, principalmente no palmito. Este elemento concentra-se principalmente nos

tecidos meristemáticos.

12

Sintomas visuais de deficiência de manganês

Segundo Tokeshi (1991), a deficiência de manganês ocorre principalmente

em solos alcalinos, devido à presença de rochas calcárias, conchas marinhas ou

com calagem excessiva. De acordo com o mesmo autor, as plantas afetadas

apresentam clorose internerval convergente para a nervura central. As áreas

cloróticas podem evoluir para estrias necróticas. A clorose tende a atingir apenas

parte do limbo foliar, localizando-se no ápice ou na base da folha, e a lâmina foliar

tende a ser mais estreita.

As plantas de cana-de-açúcar deficientes do micronutriente manganês

apresentam sintomas visuais como faixas longitudinais bem distintas de tecidos

verde e amarelo do meio para as pontas das folhas; em casos severos, a folha

perde totalmente a cor verde, tornando-se uniformemente clorótica; nas regiões

esbranquiçadas podem aparecer manchas necróticas que coalescendo produzem

estrias contínuas de tecido morto. Estrias amarelas ao longo das nervuras e folhas

mais finas.

Figura 8. Estrias amarelas ao longo das nervuras (Fonte: Stoller)

13

4.2.6 Molibdênio (Mo) Funções do molibdênio nas plantas

O molibdênio aumenta a eficiência da nutrição nitrogenada e a produção de

sacarose. É essencial para o metabolismo do nitrogênio em plantas que utilizam

como fonte deste nutriente o nitrato do solo e/ou o nitrogênio atmosférico

proveniente do processo de fixação biológica por bactérias diazotróficas

associadas à planta. A cana-de-açúcar pode receber N proveniente destas duas

fontes e, portanto, formula-se a hipótese de que o Mo é fator de produção desta

cultura, pois o seu fornecimento adequado é necessário para que a elevada

demanda de N pelas plantas seja atendida, principalmente pela otimização da

contribuição da fixação biológica de nitrogênio (FBN) na nutrição nitrogenada. Nos sistemas biológicos o molibdênio é constituinte de pelo menos cinco

enzimas catalisadoras de reações. Três destas enzimas (redutase do nitrato,

nitrogenase e oxidase do sulfito) são encontradas em plantas (Gupta & Lipsett,

1981 citados por Dechen et al, 1991).

Na figura 9 é apresentado esquema simplificado da participação do

molibdênio (Mo) em dois esquemas enzimáticos de cana-de-açúcar.

14

N2 + 3H2 2NH3 Mo

NO3- NO2

- NH2

Mo

Nitrato Redutase

Nitrogenase (Beijerinckia)

Figura 9. Esquema enzimático do Mo na cana-de-açúcar

Sintomas visuais de deficiência de molibdênio:

Ocorrem pequenas estrias cloróticas longitudinais começando no terço

apical da folha; folhas mais velhas secam prematuramente do meio para as

pontas.

15

Figura 10. Estrias longitudinais curtas e cloróticas no terço superior das folhas

mais velhas (Bowen, J.E.)

4.2.7. Silício

Funções do silício na planta: O silício (Si) é o segundo elemento em abundância na crosta terrestre e

acumala-se nos tecidos de todas as plantas, representando entre 0,1 a 10% da

matéria seca das mesmas (Korndörfer, 2004).

O silício é um elemento químico envolvido em funções relacionadas com a

transpiração, capaz de se concentrar na epiderme das folhas formando uma

barreira mecânica à invasão de fungos no interior das células, dificultando

também, o ataque de insetos sugadores e mastigadores (Epstein, 1999 citado por

Korndörfer, 2004). O efeito da proteção mecânica do silício nas plantas é

atribuído, principalmente, ao depósito na parede celular na forma de sílica amorfa.

A acumulação de sílica nos órgãos de transpiração, por sua vez, provoca a

formação de uma dupla camada de sílica cuticular, a qual, pela redução da

transpiração, faz com que a exigência de água pelas plantas seja menor.

As plantas cultivadas são classificadas quanto ao teor de silício presentes

no tecido vegetal como acumuladoras, intermediárias e não acumuladoras (Miyake

16

& Takahashi, 1983 citados por Korndörfer, 2004), sendo a cana-de-açúcar

considerada planta acumuladora desse elemento.

Segundo Korndörfer (2004) a cana-de-açúcar responde, favoravelmente, à

adubação com silício, particularmente nos solos arenosos, com baixa

concentração desse elemento.

Sintomas visuais de deficiência:

Não são relatados na literatura sintomas de deficiência de silício.

4.2.8 Zinco (Zn) Funções do zinco na planta:

O zinco potencializa a produção do hormônio de crescimento (auxina) –

sintetase do triptofano e metabolismo de triptamina. O zinco é constituinte do

álcool desidrogenase, desidrogenase glutâmica, anidrase carbônica, etc. (Taiz &

Zeiger, 2004). Este elemento se concentra nas zonas de crescimento devido à

maior concentração auxínica.

Sintomas visuais de deficiência de zinco: Em cana-de-açúcar, as mudas provenientes e plantadas em solos

deficientes em zinco, ao germinarem dão origem a plantas com pequeno

alongamento do palmito, com tendência das folhas saírem todas do vértice foliar

na mesma altura, formando o sintoma de “leque”. Nos casos graves, as plantas

deficientes são visivelmente menores do que aquelas sem deficiência, e as folhas

mais velhas apresentam manchas vermelhas na parte inferior e podem mostrar

início de clorose internerval em associação com essas manchas vermelhas

(Tokeshi, 1991).

Em plantas com mais de seis meses observa-se ligeiro encurtamento nos

entrenós, clorose internerval e amarelecimento mais acentuado da margem para a

17

nervura central, quando junto a ela normalmente a lâmina se mantém verde. Nos

níveis de deficiência “oculta” é freqüente o aparecimento de um ataque elevado da

doença estria parda, causado pelo fungo Helminthosporium stenospilum (Tokeshi,

1991). Pode-se observar redução do crescimento dos internódios e paralisação do

crescimento do topo. Formam-se estrias cloróticas na lâmina foliar, convalescendo

e formando uma faixa larga de tecido clorótico de cada lado da nervura central,

mas não se estendendo à margem da folha, exceto em casos severos de

deficiência.

Nas figuras 11, 12 e 13 são apresentados sintomas visuais de deficiência

de zinco.

Figura 11. Lesões vermelhas nas folhas novas (Fonte: POTAFOS)

Figura 12. Faixa larga clorótica na lâmina foliar (Reghenzani, J.)

18

+ Zn

- Zn

Figura 13. Deficiência de zinco (Tabuleiro terciário do Nordeste Brasileiro)

4.5) Avaliação do estado nutricional das plantas pela técnica da diagnose foliar

A diagnose foliar é um método de avaliação nutricional das culturas em que

se analisam determinadas folhas em períodos definidos da vida da planta. O

motivo pelo qual analisam-se as folhas é conhecido: elas são os órgãos que, como

regra geral, refletem melhor o estado nutricional, isto é, respondem mais às

variações no suprimento de nutrientes, seja pelo solo, seja pelo fertilizante. A

diagnose foliar consiste, pois, em analisar-se o solo usando a planta como solução

extratora.

A composição mineral da folha, ou o teor dos elementos nela encontrado, é

conseqüência do efeito dos fatores que atuaram e, às vezes, interagiram até o

momento em que o órgão foi colhido para análise (ou mesmo depois da tomada

da amostra), sendo resumido pela seguinte equação geral:

19

Y= f (Pl, S, Cl, Pc, Pm …)

Onde:

Y = teor do elemento na folha;

Pl = planta (variedade, tipo de folha, idade, cana-planta, soqueira, etc.);

S = solo, origem, manejo;

Cl = condições de clima;

Pc = práticas culturais (cultivo, herbicidas, tipo de colheita, adubação verde)

Pm = pragas e moléstias

Alguns aspectos importantes devem ser levados em consideração no

momento da amostragem foliar. Deve-se verificar que as amostras devem

representar áreas homogêneas, com o mesmo tipo de solo, mesma variedade,

idade do canavial e mesmo tratos culturais.

Como se pode observar na figura 14, deve-se coletar a folha +3, ou seja, a

primeira folha que estiver com o “colarinho” visível (lígula totalmente aberta):

Figura 14. Esquema de amostragem de folhas para análise foliar

(Trani, et al., 1983)

20

Parte da folha – utilizar os 20 cm centrais, desprezando-se a nervura

central;

Época – coletar a folha na fase de maior desenvolvimento vegetativo:

• Cana-planta: 6 meses após germinação

• Cana-soca: 4 meses após o corte

Após o encaminhamento das amostras ao laboratório e de posse dos

resultados das análises, deve-se proceder a interpretação dos teores de nutrientes

nas folhas. Raij & Cantarella (1996) sugerem as faixas de teores adequados de

nutrientes em cana-de-açúcar apresentados na tabela 2.

Tabela 2. Faixas de teores adequados de micronutrientes na cana-de-açúcar (Raij

& Cantarella, 1996).

B Cu Fe Mn Mo Zn mg/kg

10-30 6-15 40-250 25-250 0,05-0,2 10-50

21

Tabela 3. Teores de micronutrientes adequados para a cana-de-açúcar, folha +3

(Malavolta, 1982).

Elemento ppm Cana-planta

B 15 – 50

Cu 8 – 10

Fe 200 – 500

Mn 100 – 250

Mo 0,15 – 0,30

Zn 25 – 50

Cana-soca B ------

Cu 8 – 10

Fe 80 – 150

Mn 50 – 125

Mo ------

Zn 25 – 30

4.6. Avaliação de micronutrintes pela análise de solo Na tabela 4 são apresentados as faixas de interpretação de micronutrientes

no solo.

22

Tabela 4. Limites de Interpretação de teores de micronutrientes em solos.

B Cu Fe Mn Zn Água

quente DTPA Teor

mg.dm-3

Baixo 0 – 0,2 0 – 0,2 0 – 4 0 – 1,2 0 – 0,5

Médio 0,21 – 0,6 0,3 – 0,8 5 – 12 1,3 – 5 0,6 – 1,2

(1,6*)

Alto > 0,6 > 0,8 > 12 > 5 > 1,2

Fonte: Raij et al., 1996.

* utilizando como extrato Mehlich 1

1 mg.dm-3 B, Cu, Fe, Mn, Zn = 2 kg.ha-1 do micro na camada de 0 a 20 cm

(d = 1,0).

Exemplo: 0,6 mg.dm-3 de B = 1,2 kg/ha de B

5) MITOS 5.1.) Características Gerais

O principal mito relacionado à adubação com micronutrientes em cana-de-

açúcar é que não há respostas à sua utilização.

Torna-se importante discutir alguns dos motivos que podem propiciar que

não haja resposta à adubação com micronutrientes: (i) o canavial não tenha

alcançado o máximo potencial produtivo, havendo macronutrientes em

quantidades insuficientes; (ii) o calcário utilizado nas práticas corretivas pode

conter micronutrientes em sua composição; (iii) a utilização de resíduos orgânicos

(composto, torta-de-filtro, vinhaça, outros materiais orgânicos) pode fornecer

micronutrientes à cultura.

(i) Quando o canavial não alcançou o seu máximo potencial produtivo, seja pela

correção inadequada de pH; deficiência e desequilíbrio de bases trocáeis (Ca, Mg,

23

K) e principalmente quantidades insuficientes de fósforo na instalação da cultura, a

limitação por esses fatores, neste caso, tornar-se mais restritiva ao

desenvolvimento da cultura do que os micronutrientes. É o que foi explicado por

Liebig, com a Lei dos Mínimos, ou seja, a produtividade será determinada pelo

fator de produção que estiver mais limitado no sistema.

(ii) presença de micronutrientes em corretivos: Uma das hipóteses da não

resposta de micronutrientes em alguns casos é provavelmente a sua ocorrência

nos calcários, principalmente os de origem sedimentar. Sendo assim, o

fornecimento de micronutrientes já é realizado e não é dimencionado.

A seguir, são apresentados a composição química de calcário e do gesso e

a contaminação com micronutrientes nos mesmos.

Tabela 5. Teor de micronutrientes contido em calcários.

M icro nutrientes em

Elem ento ppm (g.ha -1 )

B 30 60Co 25 50Cu 26 52Fe 4599 9198Mn 334 668Zn 46 92

A nálise de C alcário*

2t de calcário

*Malavolta (1994)

24

Tabela 6. Teor de micronutrientes contido no gesso agrícola

*Malavolta (1994) (iii) Em áreas onde é realizada aplicação de resíduos orgânicos: tais como

vinhaça, torta-de-filtro, composto orgânico, e outros materiais orgânicos, contêm

em sua grande maioria micronutrientes em sua composição, conforme

apresentado nas tabelas 5 a 7

Tabela 7. Teor de micronutrientes contido vinhaça (Usina Cerradinho)

Tabela 8. Teor de micronutrientes contido em torta de filtro (Usina Rafard)

Análise de Vinhaça - Us. Cerradinho Extração

100 t colmosCaracterística teor Unidade 100 200 300 g/ha

Boro 11,2 g/m3 1120 2240 3360 235Cobre 4,8 g/m3 480 960 1440 339Ferro 64,0 g/m3 6400 12800 19200 7318

Manganês 5,2 g/m3 520 1040 1560 2472Zinco 13,2 g/m3 1320 2640 3960 592

Dose vinhaça (m3/ha)Micronutrientes Fornecidos (g/ha)

2t de gesso

M icronutrientes em

Elem ento ppm (g.ha -1 )

B 3 6Co 2 4Cu 8 16Fe 670 1340Mn 15 30Zn 9 18

A nálise de G esso*

25

Dose torta = 20t Extração

Umidade Unidades Micronutrientes 100 t colmosnatural g.ha-1 g.ha-1

Densidade----------- 0,68 g/cm3

Umidade total------ 73,83 %Relação C/N-------- 21/1

Boro------------------- 3 mg/kg 60 g B 235Cobre----------------- 11 mg/kg 220 g Cu 339Ferro------------------ 3498 mg/kg 69600 g Fe 7318Manganês----------- 196 mg/kg 3920 g Mn 2472Zinco ----------------- 33 mg/kg 660 g Zn 592

Torta de filtro - Us. Rafard - SP

Tabela 9. Teor de micronutrientes contido na cinza de caldeira (Usina Cerradinho)

Extração

Garantias (mg.kg-1) 100 t colmosbase úmida 5 t 10 t g.ha-1

B 27,7 138,5 277,0 235Cu 4,91 24,6 49,1 339Fe 1366,4 6832,0 13664,0 7318Mn 103,5 517,5 1035,0 2472Zn 17,08 85,4 170,8 592

Cinza de caldeira - Us. Cerradinho

Dose Cinza

Micronutrientes fornecidos g/ha

5.2. FONTES DE MICRONUTRIENTES As fontes de micronutrientes podem ser classificadas quanto à solubilidade

e quanto à sua origem. No que diz respeito à solubilidade destas fontes, pode-se

classifica-las em: a) menor solubilidade: Fritas, Óxidos, Óxi-sulfatos e fontes

boratadas (ulexita e colemanita) e b) de maior solubilidade: Sulfatos, Fontes

quelatizadas, fontes de boro (ácido bórico, solubor, bórax) e fontes de molibdênio

(molibdatos de sódio e de amônio).

As características principais das fontes de fertilizantes com micronutrientes

estão apresentadas à seguir:

5.2.1. ÓXIDOS: Os óxidos são as fontes de menor solubilidade dos

micronutrientes metálicos. Por isso, geralmente custam menos do que os sulfatos

por unidade de micronutriente. Os óxidos não são solúveis em água e,

conseqüentemente, não são eficientes para as culturas principalmente se

aplicados na forma granular, uma vez que a superfície específica é bastante

reduzida neste caso. Alguns óxidos, como o Cu2O, podem ser utilizados na forma

como foram extraídos pelo processo de mineração, mas a disponibilidade para as

plantas de outros óxidos, como a do MnO2, é tão baixa, que seu uso não é

recomendado diretamente na agricultura (LOPES, 1991).

26

5.2.2. SULFATOS: Os sulfatos são, a fonte mais comum de sais metálicos

contendo micronutrientes e apresentam propriedades físicas que os tornam

adequados para misturas com outros fertilizantes.

Os sulfatos de cobre, ferro, manganês e zinco são amplamente utilizados

para aplicações via solo ou foliar, apesar do sulfato ferroso (FeSO4.7H2O) não ser

recomendado para aplicações via solo. São geralmente utilizados em adubação

foliar e podem também ser empregados na formulação de adubos fluidos, sendo

nestes casos, importante o estudo da sua compatibilidade com as outras fontes

utilizadas.

Tabela 10. Garantias dos principais Sulfatos.

Sulfatos Garantia (%) CuSO4.5H2O 10 Cu

Fe2(SO4)3.9H2O 20 Fe

FeSO4.7H20 20 Fe

MnSO4.4H2O 24 Mn

ZnSO4.H2O 36 Zn

ZnSO4. 7 H2O 22 Zn

5.2.3. ÓXI-SULFATOS: Os oxi-sulfatos são produzidos por acidulação parcial com

ácido sulfúrico dos óxidos, de tal forma que o produto final contém micronutrientes,

especialmente zinco e manganês, nas formas de óxido e sulfato. Os oxi-sulfatos

são comercializados principalmente sob a forma granulada. A eficiência dos oxi-

sulfatos granulados relaciona-se com o nível de micronutrientes solúveis em água

que o produto contém. Segundo Mortvedt (2001), para o oxisulfato de zinco na

forma granulada obter eficiência imediada às culturas, deve apresentar cerca de

35 a 50% do Zn solúvel em água. Resultados semelhantes devem ser esperados

com oxi-sulfato de manganês.

Os óxi-sulfatos são bastante utilizados visando o fornecimento de

micronutrientes via solo, uma vez que apresenta solubilidade intermediária entre

27

os óxidos (via semente) e os sulfatos (foliar). São comercializados atualmente

pelas indústrias produtoras pela sigla FTE.

5.2.4. FRITAS: As fritas são também chamadas “elementos traços fritados”,

tradução literal do inglês “fritted trace elements”, daí a sigla FTE. Para sua

obtenção, os micronutrientes são fundidos juntamente com sílica e boratos a

1300ºC. Ao sair do forno, o material é resfriado rapidamente em água dando

cristais que em seguida são moídos muito finamente. Por sua solubilidade liberam

gradualmente os micronutrientes no solo de modo semelhante ao de alguns

óxidos, sais e fosfatos, o que representa vantagem, porque reduz o perigo de

toxidez (Malavolta, 1986). Segundo Mortvedt (2001), são produtos mais

apropriados para programas de manutenção do que para correção de deficiências

severas e apresentam maior eficiência em solos arenosos, em regiões com maior

índice pluviométrico.

5.2.5. QUELATOS: Os quelatos sintéticos ou naturais, os complexos orgânicos

naturais e as várias combinações constituem-se nas fontes orgânicas de

micronutrientes. Os quelatos são formados pela combinação de um agente

quelatizante com um metal através de ligações coordenadas. Podem ser sintéticos

(manufaturados) ou naturais (de açúcar e outros produtos naturais). A estabilidade

da ligação quelato-metal determina, geralmente, a disponibilidade do nutriente

aplicado para as plantas. Um quelato eficiente é aquele no qual a taxa de

substituição do micronutriente quelatizado por cátions do solo é baixa, mantendo,

conseqüentemente, o nutriente aplicado nesta forma de quelato por tempo

suficiente para ser absorvido pelas raízes das plantas (Lopes, 1991).

A função básica da quelatização é proteger os nutrientes catiônicos (Ca2+,

Mg2+, Co2+, Cu2+, Fe2+, Mn2+ e Zn2+) para que estes fiquem menos sujeitos as

reações de precipitação ou de insolubilização e mantenham assim sua

disponibilidade às plantas podendo ser absorvidos e translocados de forma

eficiente pelas folhas ou pelas raízes das plantas.

28

Como os quelados são solúveis, os nutrientes quando quelatizados formam

complexos também solúveis e continuam disponíveis para as plantas. O metal e o

agente quelatizante entram juntos pelas folhas das plantas sendo transportados

até os demais órgãos, ficando o primeiro protegido de reações secundárias de

fixação ou precipitação nos vasos condutores.

Atualmente, os quelados mais comumente utilizados são o EDTA (ácido

etileno diamino tetracético), DTPA (ácido dietileno triamino pentaacético),

lignossulfonados, ácido cítrico, ácido tartárico, aminoácidos, polihexoses

(açucares) e poliflavonóides.

A Tabela 11 classifica os agentes quelatizantes quanto a força de

complexação.

Tabela 11. Classificação dos agentes quelatizantes de acordo com a força de

complexação.

Forte Intermediário Fraco EDTA Lignossulfonados Ácidos cítrico

NTA Poliflavonóides Ácido ascóbico

Polifosfatos

Aminoácidos

Fonte: HSU, 1986, citado por BOARETTO & MURAOKA (1995).

É importante salientar que agronomicamente um bom quelado é aquele que é

solúvel em água, não é fitotóxico, é compatível com outros produtos (adubos

foliares e defensivos agrícolas), que forma ligação quelado-cátion estável em

relação às reações nas soluções de pulverização, e que tem o poder de acidificar

a solução.

29

5.2.6. FERTILIZANTES BORATADOS: Existem diversas fontes de boro no

mercado, que diferenciam-se principalmente umas das outras pelas sua

solubilidade.

O ácido bórico, que foi a fonte mais utilizada no passado nas práticas de

adubação via solo, é completamente solúvel em água e bastante sujeito a perdas

por lixiviação. Sendo assim, fontes de menor solubilidade que o ácido bórico

passaram a ter maior importância, como a ulexita principalmente. A colemanita é

uma fonte de baixa solubilidade em água e comumente recomendada para

culturas perenes e reflorestamento, exceção à colemanita contida em

termofosfatos.

Na tabela 10 são apresentadas as garantias das principais fontes de Boro.

Tabela 12. Garantias dos principais fertilizantes boratados.

Fonte % Boro Bórax Na2B4O7.10H2O 11,0

Ácido bórico H3BO3 17,5

Colemanita CaB6O11.5H2O 9,9-15,5

Ulexita – NaCaB5O9.8H2O 10,5-11,5

Tetraborato de sódio pentahidratado

Na2B4O7.5H2O

14,9

Decaborato de potássio K2B10O6.8H2O 18,3

Hexaborato de sódio tetrahidratado B6O13.4H2O 20,5

5.3. Origem, Equilíbrio e Disponibilidade dos micronutrientes no solo Os micronutrientes contidos no solo pode ter várias origens como:

• Rocha matriz (material de origem)

• Resíduos animais e vegetais

• Corretivos agrícolas

• Defensivos agrícolas

• Precipitação Cl e B

30

• Fertilizantes

O teor de micronutrientes disponível no solo depende de um equilíbrio nas

reações do solo

Minerais Cristalinos Fixado Solução Absorvido Absorção

e Amorfos Liberado do solo Liberação pelas plantas

Mineralizado Adsorvido

Matéria Orgânica Imobilizado Liberação Adsorvido na

e microorganismos fração colidal

A forma de absorção dos micronutrientes pelas plantas são:

Nutriente Formas Boro (B) H3BO3, H2BO3

-

Cloro (Cl) Cl-

Cobre (Cu) Cu++

Ferro (Fe) Fe++, Fe+++

Manganês (Mn) Mn++

Molibdênio (Mo) MoO4=

Zinco (Zn) Zn++

Cobalto (Co) Co++

Silício (Si) H4SiO4

A disponibilidade de micronutrientes parar as plantas (presença deste nutriente na

solução do solo) depende de vários fatores, conforme apresentado por Vitti & Trevisan,

2000.

a) Material de origem do solo

31

b) Reação do solo (pH)

c) Textura do solo

d) Aeração do solo (nos casos do Ferro, do Manganês e do Cobre)

e) Práticas culturais (Calagem, adubação fosfatada, plantio direto)

f) Características genéticas da planta

g) Desbalanceamento entre cátions metálicos (Fe, Cu, Mn e Zn)

h) Altas produtividades (Lei do Mínimo).

Quanto ao material de origem e à textura, fatores não controlados pelo homem, tem-se

que solos originários de arenito e solos de textura grosseira apresentam maiores

probabilidades de resposta a micronutrientes, em relação, por exemplo, a solos originários

de basalto e solos de textura mais fina (maior poder tampão).

A influência da reação do solo na disponibilidade de micronutrientes está apresentada

na Figura 15.

Figura 15. Relação entre pH (H2O) do solo e disponibilidade de micronutrientes.

Fonte: MALAVOLTA, 1979.

Analisando a Figura 1 observa-se que a calagem aumenta linearmente a

disponibilidade do molibdênio (MoO4-2) e diminui a dos cátions metálicos (Fe+2, Cu+2,

Mn+2, Zn+2 e Co+2), enquanto o boro (H3BO3 ou H2BO3-1) apresenta efeito quadrático, ou

32

seja, baixa disponibilidade em reação ácida (falta de mineralização da matéria orgânica) e

queda na disponibilidade em pH próximo da neutralidade (aumenta a lixiviação pelo

aumento da CTC do solo e pelo aumento na relação Ca/B).

Além da calagem, outras práticas tendem a afetar a disponibilidade dos

micronutrientes, como: adubação fosfatada (H2PO4-1 vs. Zn+2 ou Cu+2 ou Mn+2), isto é,

formação de precipitado pouco solúvel do H2PO4-1 com os cátions metálicos; plantio direto,

pela formação de quelados estáveis dos micronutrientes metálicos com a matéria orgânica,

seguindo a seguinte ordem decrescente de estabilidade: Cu+2 > Fe+2 > Co+2 > Zn+2 > Mn+2;

desbalanceamento entre cátions metálicos, causando a chamada inibição competitiva, na

qual a presença de um íon A diminui a absorção do íon B por competirem pelo mesmo

carregador, conforme abaixo exemplificado:

íon A íon B (afetado) Cu+2 Zn+2

Fe+2 Mn+2

Cu+2 Fe+2

Mn+2 Zn+2

Outros fatores importantes são as características genéticas da planta, por exemplo, a

soja apresenta diferenças entre as cultivares quanto à sensibilidade à deficiência de

manganês. Cultivares mais suscetíveis à deficiência de manganês não são capazes de

reduzir esse elemento na superfície da raiz através da excreção de ácidos orgânicos,

conforme a reação abaixo simplificada.

Superfície da raiz

Mn+4 + e- Mn+2

Insolúvel Solúvel

Observa-se que a disponibilidade dos micronutrientes depende de vários fatores que

podem diminuir a eficiência de aproveitamento destes pelas plantas. Isto ressalta a

importância de se fornecer os micronutrientes de maneira que as plantas consigam

aproveitá-los eficientemente., neste contexto torna-se fundamental conhecer o método de

aplicação mais adequado para cada um deles.

33

5.4. Recomendação de micronutrientes para a cana-de-açúcar Levando-se em consideração principalmente histórico da área, análise de solo,

diagnose foliar e diagnose visual, os micronutrientes podem ser recomendados de

3 formas conforme fluxograma a seguir.

a) Via solo Adubação Sólida

a.1)N – P2O5 – K2O + Micro

Herbicidas Adubação Fluida

a.2)Herbicidas

b) Via toletes

c) Via foliar

a) Via solo – Adubação Sólida

• Fontes de Boro: Ulexita – Na2.CaO.5B2O3.16H2O (8,0 a 15% B)

• Fontes de Cobre, Manganês, Ferro e Zinco: Oxi-sulfatos

Fritas

• Micronutrientes agregados a fontes de P2O5:

Multifosfato Magnesiano (FOSMAG)

Termofosfato Magnesiano (YOORIN)

Doses e fontes de micronutrientes para a adubação em função do teor de

nutrientes no solo.

Teor no solo Dose recomendada

(kg.há-1)*

Fontes

Zn (DTPA < 0,6 mg.dm-3) 3,0 a 5,0 Oxi-sulfatos

Cu (DTPA < 0,3 mg.dm-3) 2,0 a 3,0 Oxi-sulfatos

B (água quente < 0,2 mg.dm-3) 1,0 a 2,0 Ulexita

*Observação: Doses menores para solos arenosos

Doses maiores para solos argilosos

34

a) Via solo – Adubação Fluida

• Fontes de boro: Ácido Bórico – H3BO3 17,5% B PS = 5,0

Solubor/Inkabor – Na2B4O7.5H2O 20% B PS = 10

• Fontes de cobre, ferro, manganês e zinco: sais (sulfato) ou

quelatizados. Atentar para Zn x Adubos fosfatados e corrosão por cobre;

utilizando preferencialmente os quelatizados.

B: 0,5 a 1,0 kg.ha-1

Zn: 1,0 a 1,5 kg.ha-1 Doses*

Cu: 0,5 a 1,0 kg.ha-1

*Observação: Doses menores para produtos quelatizados

Doses maiores para produtos a base de sais

b) Via tolete (com defensivo na cobrição da muda)

Para realização dessa prática deve-se verificar a compatibilidade com os

defensivos agrícolas.

Fontes: B – Ácido Bórico ou Solubor / Inkabor

Cu, Fe, Mn, Zn – Sais (sulfato) ou quelatizados

Doses: B – 300 a 350 g.ha-1 de B

Cu, Fe, Mn, Zn – extração x f

(f = 1,0 a 1,2 para Zn e Cu)

c) Via foliar

Estão sendo realizados experimentos onde se analisa viabilidade da

aplicação nitrogênio junto com molibdênio via foliar. Essa adubação é feita na

época de maior exigência do canavial, antes do fechamento do mesmo.

Avaliando-se a dose de 14 kg.ha-1 de N e 150 g.ha-1 de Mo. As fontes e

quantidades utilizadas são 24 kg de uréia (45% N), 9 kg de nitrato de amônio (32%

35

N) e 384,1g de molibdato de sódio (39% Mo) utilizando volume dessa solução de

50 l/ha.

36

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