michel miaille - introdução crítica ao direito, 3ª ed. (2005)

164
... - I N enhum cientista vai ao encontro da rea- lidade que quer explicar sem "informa- ção", sem formação: é, como veremos, uma ideia falsa a de acreditar que a observação é a fonte da descoberta. Não se descobre senão aquilo que se está intelectualmente pronto para descobrir. pois necessário preci- sar que questões vamos colocar ao direito para que ele nos "diga" o que é. Estas questões não podem ser deixãOas ao acaso: elas têm neces- sariamente de formar as bases de um sistema de outras palavras, elas têm de ter uma.-Goerência teórica, a coerência ae uma teoria Esse será o objecto da nossa primeira tarefa. Com o espírito e o "olhar" informados, iremos, então, ao encontro desse mundo jurí- dico que nos rodeia de maneira mais ou menos solene, mais ou menos repressiva, mais ou me- nos eficaz. No nosso encontro com esse mundo do direito combateremos ao lado daqueles que, para além das aparências, querem conhecer a última palavra das realidades: descobriremos, então, muitas coisas que uma observação ino- cente nos teria ocultado, de tal modo é verda- de não haver ciência senão ciência do oculto. Essa será a nossa segunda tarefa. Será possível, ne sse momento, analisar de maneira crítica as diferentes teorias que se apresentaram como outras explicações do dire ito. Algumas delas confessaram a sua natureza propriamente fi !osófica, outras pre- tenderam, mais recentemente, contribuir para a fundação de uma verdadeira ciência do di- reito, quando não de uma ciência pura. Es- taremos em situação de poder apreciar essas afirmações à luz do que soubermos desse mundo jurídico, das suas técnicas e da sua ló- gica de funcionamento. Será essa a nossa ter- ceira e última tarefa nesta Introdução Critica ao Direito. 9 <C u I- -- cc: u O .<c O VI- ::::1- 0- cc: C 1-0 Q/ .r::: u _ Michel __ INTRODUÇÃO CRíTICA AO DIREliO ---- ------'-

Upload: priscila-poyares

Post on 31-Jul-2015

7.482 views

Category:

Documents


331 download

TRANSCRIPT

... -I Nenhum cientistavaiaoencontrodarea-lidadequequerexplicarsem"informa-o",semformao:,comoveremos,uma ideiafalsaadeacreditarqueaobservao a fontedadescoberta.Nosedescobreseno aquiloqueseestintelectualmentepronto paradescobrir. poisnecessriopreci-sar que questes vamos colocar ao direito para que elenos "diga" o que.Estas questes no podem ser deixOasao acaso:elastmneces-sariamente de formarasbasesdeumsistema deoutras palavras, elas tm de teruma.-Goerncia terica, a coerncia aeuma teoriaEsseseroobjectodanossaprimeira tarefa. Com o esprito e o "olhar" informados, iremos,ento,aoencontrodessemundo jur-dico que nos rodeia de maneira mais oumenos solene, mais ou menos repressiva, mais oume-nos eficaz. No nosso encontro com esse mundo do direito combateremos ao lado daqueles que, paraalm dasaparncias,queremconhecer a ltima palavra dasrealidades:descobriremos, ento,muitas coisas queuma observaoino-centenosteria ocultado, detalmodo verda-denohavercinciasenocinciadooculto. Essa ser a nossa segunda tarefa. Serpossvel,nessemomento,analisar demaneiracrticaasdiferentesteoriasque seapresentaramcomooutrasexplicaesdo direito.Algumasdelasconfessaramasua naturezapropriamentefi !osfica,outraspre-tenderam,maisrecentemente, contribuir para afundaodeumaverdadeiracinciadodi-reito,quandonodeumacinciapura.Es-taremosemsituaodepoderapreciaressas afirmaesluzdoquejsoubermosdesse mundo jurdico, dassuastcnicas e da sual-gica defuncionamento.Ser essaa nossater-ceira eltima tarefa nesta IntroduoCritica ao Direito. 9 s pguintt's. 11 Afrent e,par teII,cap.1. 4..A. _J.ARNAUD,E:J.wi.id'cuwJy:sestructur aleduUodecivilt'((j'lIais, La,eglcduJeudan slapaixbourgeoi8e,L.G.D.J"P D.. rls,1973,182pginas. 92 distribuiodepapisnoostomaapenasisoladamentecomercianteoudefuncionrio,papeldepaioudetutor),ela ,mst:tUl 'mtomaticamenteumsist emaderelaes,umsistemadehgaoes. Osdireitosdospaisdefmem-seemfunodosdosfilhOS/_osdo credoremfunodosdodevedor,osdofunci onrioemrelaao dotrabalhadorassalariada,EstesistemaderelaespodeEeranah-t; adocomoumsistemadecomunicaomas,oque liqueestesistemageralquepermitea.coesodosdiferentes.pa.::tl-cipantesimplicaanecessidadedeumaoldem,deuma _ querdizer,deum. c.onjunto.denormas adestasrelaessoctazs.Aproxlmamo"nosaSSlmdaFal c3aI umelemento:arelaoentrenorma(ouordemJundlca )epessoa, Emvirtudedohumanismoidealista,quecoe:!dstecomcodomododeproduocapitalista,anorma - eemsentldomaIS osistemajuridico - tidacomoemanandosempredop:omem e,atravsdele,comosendooprodutodaRazo IU,Em con dies,ohomemencontra-senomesmot empocomoobj ecto.do direito(comosistemarepressivodenormas)eseuautor(pormelOS variadoscomoveremos,daleiaocontrato),Normajurdicae .Homemjpessoaencontram-sepoisnumarelaodialcticademtua dependncia.porestarazoque,paraosjuristas,todoo queviveemsociedadet emvocaoparaseruma cm juridico,poisdeixoudeserconcebvelquealgunsseJam daesferajurdicadoshumanoscomoOeramosescravosdaAntI-bruidade_Intervindoassimnomundoj ur!diCO,ohomemparaaassuasprpriasqualidades :arm:::aoetodasassuas mastambmavontadeque,numsentido,prpriadohomem,pOlS implicaconscinciadeumfimedemeios_Assimo jurdicoestintimamenteligadoaohumanismoeaoTodasestasafirmaesforamfeit asporagoranodasideias:tudoscpassacomosesepudessedehmrodIrelto (normascpessoas)independentementedasoutrasinstncia.sdotodo sedaI.Oratalnoocasonanossaproblemtica, Odireitonoexistecomoobjectobolado:,sabmo-Io,umadas instnciasqueconstituemaestruturasocialglobaldeummodo deproduo,Comointegrarentoasconsideraesanterioresnesta concepodeconjunto?, Antes,euqueriafazerumaobservaoimportante.Amaneira comopreciso