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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Michael Anderson Prado ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO DE SOJA E ETANOL POR REAÇÃO ASSISTIDA EM ULTRASSOM CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Michael Anderson Prado

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO DE SOJA E

ETANOL POR REAÇÃO ASSISTIDA EM ULTRASSOM

CURITIBA

2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO DE SOJA E

ETANOL POR REAÇÃO ASSISTIDA EM ULTRASSOM

Dissertação apresentada como requisito

para obtenção do título de Mestre em

Engenharia Química, do Programa de

Pós-Graduação em Engenharia

Química, Universidade Federal do

Paraná.

Orientador Professor Dr. Marcos Lucio Corazza

Coorientador Professor Dr. Luiz Pereira Ramos

Dedicatória

Aos meus pais Mário e Solange pelo apoio a

realização desse sonho, a minha esposa

Maricler que soube a importância dessa

realização e sempre esteve comigo

acreditando e me apoiando.

Agradecimentos

Ao meu orientador, Professor Dr. Marcos Lucio Corazza, pelo

acompanhamento, orientação e amizade.

Ao meu Coorientador Professor Dr, Luiz Pereira Ramos pelos conselhos, orientação e amizade.

Ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, da Universidade Federal do Paraná pela confiança na realização dessa dissertação.

Ao coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química Prof. Dr. Marcelo Kaminski Lenzi e a secretária Cintya, ambos sempre me recebendo e me auxiliando prontamente.

Ao Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, pela compreensão aos momentos difíceis.

Ao Professor Dr. Arion Zandoná Filho, pelas contribuições e sugestões no trabalho.

Aos meus colegas de Pós-Graduação Alexis Miguel Escorsim, Luís Ricardo Shigueyuki Kanda, Gilvane Bueno da Paixão, Tiago Bogler Souza, pelo convívio durante a realização do trabalho.

À Capes, pelo auxílio financeiro.

“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém

viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou

sobre aquilo que todo mundo vê.”

Arthur Schopenhauer

Resumo

A busca por fontes de energia renováveis é uma tendência mundial há

muitas décadas, tanto por questões ambientais quanto por questões

econômicas. Neste contexto, o biodiesel, que é uma mistura multicomponente

de alquil ésteres de ácidos graxos livres, derivados de fontes renováveis como

óleos vegetais, tem surgido como uma alternativa eficaz. O processo de

obtenção do biodiesel ainda é uma etapa importante a ser estudada. Desta

maneira, o objetivo deste trabalho foi avaliar a cinética e a conversão global da

produção de ésteres etílicos de soja em um processo assistido por ultrassom em

escala semi-piloto. Para estas reações foi utilizado o KOH como precursor

catalítico junto ao etanol anidro, as condições experimentais foram em

temperatura ambiente e a 55 ºC, razão molar álcool:óleo fixada em 9:1 e vazões

volumétricas de 0,4 e 0,8 L.min-1. O estudo foi conduzido em um sistema

composto de um vaso de mistura com capacidade de 7 L de operação e um

reator (1 L de volume) com sonda de ultrassom acoplado. A quantificação dos

ésteres etílicos obtidos foi realizada em um cromatógrafo a gás (CG) com um

detector de ionização por chama (FID). Os ésteres produzidos foram purificados

por lavagem e filtrados com sulfato de sódio anidro. A partir dos resultados

obtidos observou-se que este processo de transesterificação de triacilglicerol

(TAG), diacilglicerol (DAG) e monoacilglicerol (MAG) para produção de ésteres

etílicos foi acelerado pela irradiação de ultrassom em tempos de reação

relativamente curtos, quando comparados com o processo convencional. Ainda

foram realizados testes de densidade e índice de refração afim de avaliar seus

potenciais para o monitoramento do avanço da reação de transesterificação do

óleo de soja com etanol. A partir dos resultados obtidos no presente trabalho

tem-se uma perspectiva promissora para a obtenção de biodiesel em reações

assistidas por ultrassom em escala piloto, assim como as técnicas de densidade

e índice de refração se mostraram satisfatórias nesse monitoramento.

Palavras-chave: Biodiesel, etanol, ultrassom, óleo de soja, densidade, índice de

refração, cromatografia.

Abstract

The search for renewable energy sources is a global trend for many

decades, both for environmental reasons as for economic reasons. In this

context, biodiesel, which is a multicomponent mixture of alkyl esters of free fatty

acids derived from renewable resources such as vegetable oils, has emerged as

an effective alternative. The process of obtaining biodiesel is still an important

step to be studied. Thus, the objective of this study was to evaluate the kinetics

and overall conversion production of ethyl esters of soybean in a process assisted

by ultrasound in semi-pilot scale. For these reactions KOH was used as the

catalyst precursor with anhydrous ethanol, the experimental conditions were at

room temperature and at 55 ° C, the molar ratio alcohol: Oil fixed at 9: 1 and

volumetric flow rates of 0.4 and 0.8 L. min-1. The study was conducted in a

system composed of a mixing vessel with 7 L of operating capacity, and a reactor

(1 L bulk) coupled with the ultrasound probe. The quantification of ethyl esters

thus obtained were carried out in a gas chromatograph (GC) with a flame

ionization detector (FID). The esters produced were filtered and purified by

washing with anhydrous sodium sulfate. From the results obtained it was

observed that this transesterification process of triacylglycerol (TAG),

diacylglycerol (DAG) and monoacylglycerol (MAG) for producing ethyl esters was

accelerated by ultrasound irradiation at relatively short reaction times, compared

to the conventional method. Density and refractive index tests have been

conducted in order to evaluate their potential for monitoring the progress of

transesterification of soybean oil with ethanol. From the results obtained in this

study has a promising prospect for obtaining biodiesel reactions assisted by

ultrasound pilot-scale as well as the density and refractive index techniques seem

to be satisfactory in this monitoring.

Keywords: Biodiesel, ethanol, ultrasound, soybean oil, density, refractive index,

chromatography.

Lista de Figuras

Figura 1. Matriz Energética Mundial, (Key World Statistics (IEA), 2012) .......... 18

Figura 2. Matriz energética Brasileira (Balanço Energético Nacional (MME),

2012) ................................................................................................................ 19

Figura 3. Locais de cultivo de oleaginosas, adaptado de Bergmann et al. (2013).

......................................................................................................................... 21

Figura 4. Equação da reação de transesterificação etílica com suas formações

intermediárias. .................................................................................................. 23

Figura 5. Equação geral estequiométrica de transesterificação. ...................... 24

Figura 6. Aparato em bancada para reação de transesterificação. .................. 39

Figura 7. Fluxograma do processo do reator para produção de biodiesel em

escala semi-piloto. ............................................................................................ 40

Figura 8. Foto do reator em escala semi-piloto de produção de biodiesel usado

no presente trabalho ........................................................................................ 41

Figura 9. Vaso de mistura com haste metálica e seringa para retirada de

alíquotas para avaliação da cinética. ............................................................... 42

Figura 10. Curvas de calibração (A) éster étilico do ácido palmítico com R2 de

0,9989, (B) éster etílico do ácido esteárico com R2 de 0,9986, (C) éster etílico do

ácido linoleico com R2 de 0,9787, (D) éster etílico do ácido oleico e linolênico

com R2 de 0,9974. ............................................................................................ 47

Figura 11. Perfil cromatográfico de monoacilglicerideo (MAG), diacilglicerideo

(DAG), triacilglicerídeo (TAG) e ácido graxo livre. ............................................ 49

Figura 12. Perfil dos ésteres do óleo de soja obtidos na reação de Hartman e

Lago modificada. .............................................................................................. 50

Figura 13. Perfil cromatográfico após 2 minutos de reação. ............................ 52

Figura 14. Perfil cromatográfico após 60 minutos de reação. .......................... 53

Figura 15. Comparação cinética para avaliação de possíveis desvios da

obtenção de éster etílico. ................................................................................. 54

Figura 16. Comparação entre as cinéticas de diferentes condições reacionais

apresentadas na Tabela 4. ............................................................................... 55

Figura 17. Comparação entre as cinéticas para as condições reacionais 6 e 7 do

delineamento experimental (Tabela 4). ............................................................ 56

Figura 18. Gráfico de densidade dos pontos cinéticos das reações 2, 3, 4 e 5, de

uma amostra com 94% de éster etílico (biodiesel) e do óleo de soja refinado

utilizado neste trabalho. ................................................................................... 58

Figura 19. Gráfico do índice de refração dos pontos cinéticos das reações 2, 3,

4 e 5, mais uma amostra com 94% de éster etílico e do óleo de soja refinado

utilizado na pesquisa. ....................................................................................... 59

Figura 20. Tempo de retenção do éster etílico do ácido palmítico (C16:0). ..... 66

Figura 21. Tempo de retenção do éster etílico do ácido esteárico (C18:0). ..... 67

Figura 22. Tempo de retenção do éster etílico do ácido oleico (C18:1). .......... 68

Figura 23. Tempo de retenção do éster etílico do ácido linoleico (C18:2). ....... 69

Figura 24. Tempo de retenção do éster etílico do ácido linolênico (C18:3). ..... 70

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Distribuição de ácido graxos em óleos e gorduras. ......................... 20

Tabela 2 - Vantagens e desvantagens do uso de metanol na transesterificação

de óleos vegetais. ............................................................................................ 30

Tabela 3 - Vantagens e desvantagens do uso de etanol na transesterificação de

óleos vegetais. ................................................................................................. 31

Tabela 4 Delineamento experimental ............................................................... 43

Tabela 5- Ésteres etílicos e seus respectivos tempos de retenção. ................. 46

Tabela 6 - Resultados das análises realizadas para caracterização do óleo de

soja utilizado neste trabalho. ............................................................................ 48

Sumário

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO .................................................................................... 15

CAPÍTULO 2: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................... 17

2.1 Matrizes Energéticas ..................................................................................................... 18

2.3 Biodiesel .......................................................................................................................... 22

2.4 Síntese do biodiesel ...................................................................................................... 23

2.6 Tipos de Catalisadores ................................................................................................. 26

2.6.1 Catalisadores Ácidos ............................................................................................. 26

2.6.2 Catalisadores Básicos ........................................................................................... 27

2.6.3 Catalisadores Enzimáticos .................................................................................... 28

2.7 Álcoois ............................................................................................................................. 28

2.7.1 Metanol ..................................................................................................................... 29

2.7.2 Etanol ....................................................................................................................... 30

2.8 Considerações Gerais ................................................................................................... 31

CAPÍTULO 3: MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................... 33

3.1 Reagentes ....................................................................................................................... 33

3.2 Análise da matéria-prima .............................................................................................. 33

3.2.1 Índice de Acidez...................................................................................................... 33

3.2.2 Índice de Saponificação ........................................................................................ 34

3.2.3 Massa Molecular Média ......................................................................................... 34

3.2.4 Massa Específica.................................................................................................... 35

3.2.5 Viscosidade Dinâmica e Cinemática ................................................................... 35

3.2.6 Determinação do Teor de Umidade e Voláteis por Secagem ......................... 36

3.2.7 Determinação do Teor de Cinzas ........................................................................ 36

3.2.8 Determinação de Sabão em Óleo ........................................................................ 37

3.2.9 Índice de Iodo .......................................................................................................... 37

3.3 Procedimento para purificação dos ésteres .............................................................. 38

3.4 Procedimento utilizado na transesterificação – bancada ........................................ 38

3.5 Procedimento utilizado para transesterificação assistido por ultrassom .............. 40

3.6 Procedimento para os experimentos cinéticos ......................................................... 42

3.7 Metodologia de análise para os ésteres .................................................................... 43

3.8 Método de Hartman e Lago modificado ................................................................ 44

CAPÍTULO 4: RESULTADO E DISCUSSÃO ............................................................. 46

4.1 Curva de calibração ....................................................................................................... 46

4.2. Caracterização da matéria-prima ............................................................................... 47

4.3 Análise por CG dos ésteres etílicos obtidos .............................................................. 51

4.4 Analise do teor de ésteres etílicos por densidade e índice de refração................ 56

4.6 Considerações gerais ................................................................................................... 59

CAPÍTULO 5: CONCLUSÕES ................................................................................... 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 62

ANEXO A ................................................................................................................... 66

15

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

A preocupação com o meio ambiente aliada ao aumento dos preços do

petróleo e o provável esgotamento das reservas conhecidas deste combustível

tem impulsionado a busca por alternativas renováveis que possam

complementar ou substituir completamente o uso dos combustíveis fósseis. O

Brasil utiliza combustíveis produzidos a partir de matéria-prima renovável desde

1970, como é o caso do álcool. Atualmente toda a gasolina comercializada no

território nacional contém 25% de álcool. Mas há um outro biocombustível que

vem chamando atenção nos últimos anos, o biodiesel (FRANÇA, 2008;

CAVALCANTE, 2010). O biodiesel é uma mistura de ésteres alquílicos de ácidos

graxos, obtidos a partir de uma reação de transesterificação de óleos vegetais,

ou da esterificação de ácidos graxos, com álcoois de cadeia curta. Este

biocombustível tem se tornado uma alternativa interessante para os motores

diesel, por possuir propriedades similares ao óleo diesel mineral, podendo,

inclusive, substituí-lo com poucas ou nenhuma modificação dos motores diesel

(MACHADO et al., 2006).

Este biocombustível pode ser produzido a partir de qualquer fonte de

ácidos graxos, inclusive resíduos graxos aparecem como matéria-prima viável.

Nesse sentido, podem ser citados os óleos de frituras, as borras de refino de

óleos vegetais, matéria graxa dos esgotos, óleos, gorduras vegetais ou animais,

etc. (FRANÇA, 2008; CAVALCANTE, 2010).

A rota comumente empregada na indústria para a produção de biodiesel

é a alcalina, em que é usado metóxido de sódio (CH3ONa) como catalisador. As

principais vantagens desta rota por ser livre de água, é o aumento da sua

eficiência e redução drástica da formação de sabões e, por consequência, de

emulsões indesejáveis. No entanto, algumas desvantagens deste modelo

catalítico podem ser elencadas, tais como, seu custo, o uso de óleos neutros,

com baixo teor de ácidos graxos livres e com baixo teor de água (DABDOUB et

al., 2009).

Atualmente, processos catalíticos assistidos por ultrassom tem surgido na

literatura com um processo alternativo à catalise convencional. Em que as

principais vantagens (ou características) deste sistema são de favorecer uma

maior interação entre as fases e consequente aumento do rendimento, redução

16

no tempo de reação e no consumo de reagentes e, por conseguinte, economia

de energia. (BRASIL et al., 2010).

De uma maneira geral, observa-se que na literatura atualmente são

encontrados dados de reações de transesterificação de óleos vegetais utilizando

ultrassom como ferramenta para melhorar as condições cinéticas desta reação.

No entanto, em sua maioria estes estudos são realizados por meio de

experimentos em escala de bancada, em que o metanol é o álcool

preferencialmente usado como reagente (SANTOS et al., 2009; THANH et al.,

2010; GUO et al., 2012). Até o momento, poucas ou nenhuma informação

experimental são encontradas na literatura aberta sobre a cinética de reações

de transesterificação alcalina de óleo de soja com etanol em sistema assistido

por ultrassom em escala semi-piloto. Neste sentido, o presente trabalho visa a

análise de viabilidade técnica sobre reação de transesterificação alcalina

assistida em ultrassom de óleo de soja com etanol em um sistema em escala

semi-piloto (7 L de capacidade operacional), Para tal, os objetivos específicos

são assim delineados.

Obtenção de informações experimentais em escala semi-piloto para a

produção do biodiesel etílico com óleo de soja assistido por ultrassom;

Investigar a cinética da reação de transesterificação alcalina/etanólica de

óleo de soja em um sistema assistido por ultrassom;

Quantificação dos ésteres produzidos neste processo por análise

cromatográfica;

Análise de correlação do teor de ésteres durante o tempo reacional

(cinética) com medidas físico-químicas de fácil obtenção (densidade e

índice de refração).

17

CAPÍTULO 2: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Nas últimas décadas, o uso de óleos vegetais, como fonte de energia, se

tornaram uma alternativa em potencial para substituir ou até complementar uma

importante fração dos combustíveis derivados do petróleo. Esta possibilidade,

do uso de óleos vegetais, é conhecida desde o início dos motores diesel (PAIVA,

2010).

A criação do primeiro modelo do motor a diesel que funcionou de forma

eficiente data do dia 10 de agosto de 1893. Foi criado por Rudolf Diesel, em

Augsburg, Alemanha, e por isso recebeu este nome. Durante a Exposição

Mundial de Paris, em 1900, um motor diesel foi apresentado ao público

funcionando com óleo de amendoim (KNOTHE et al., 2006). Os primeiros

motores tipo diesel eram de injeção indireta. Tais motores eram alimentados por

petróleo filtrado, óleos vegetais e até mesmo por óleos de peixe. O combustível

especificado como "óleo diesel" somente surgiu com o advento dos motores

diesel de injeção direta, sem pré-câmara. Um dos primeiros usos do óleo vegetal

transesterificado foi o abastecimento de veículos pesados na África do Sul, antes

da Segunda Guerra Mundial (BIODIESELBR, 2013). O processo chamou a

atenção de pesquisadores norte-americanos durante a década de 40, quando

buscavam uma maneira mais rápida de produzir glicerina para alimentar bombas

no período de guerra. A disseminação desses motores se deu na década de 50,

com a forte motivação de rendimento muito maior, resultando em baixos

consumos de combustível. Além dos baixos níveis de consumos específicos os

motores diesel modernos produzem emissões, de certa forma aceitáveis, dentro

de padrões estabelecidos. Após a morte de Rudolf Diesel, a indústria do petróleo

criou um tipo de óleo que denominou de "Óleo Diesel" que, por ser mais barato

que os demais combustíveis, passou a ser largamente utilizado. Foi esquecido,

desta forma, o princípio básico que levou à sua invenção, ou seja, um motor que

funcionasse com óleo vegetal e que pudesse ajudar de forma substancial no

desenvolvimento da agricultura dos diferentes países. A abundância de petróleo

aliada aos baixos custos dos seus derivados fez com que o uso dos óleos

vegetais caísse no esquecimento. Àquela época, os aspectos ambientais, que

18

hoje privilegiam os combustíveis renováveis como o óleo vegetal, não foram

considerados importantes (BIODIESELBR, 2013).

2.1 Matrizes Energéticas

Segundo a agência internacional de energia (International Energy Agency

- IEA), na matriz energética mundial apenas 13,2% são oriundas de fontes

renováveis sendo 10% de biomassa, 2,3% hidroelétrica e outros (englobando

energia solar, geotérmica, eólica) somando 0,9%. Enquanto petróleo e seus

derivados englobam 32,4%, 21,4% gás natural, 27,3% carvão mineral e 5,7%

energia nuclear totalizando 86,8% de matrizes não renováveis de carbono fóssil

(Figura 1). A possibilidade de escassez e até esgotamento dessas fontes, pode

se tornar o principal problema para o desenvolvimento dos países. Além disso

estes combustíveis derivados de petróleo são agentes poluidores nas emissões

de gases nitrogenados e dióxido de carbono (em escalas maiores se

comparados ao do biodiesel).

Figura 1. Matriz Energética Mundial, (Key World Statistics (IEA), 2012)

19

A Figura 2, que trata de informações sobre balanço energético nacional,

divulgado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), mostra que 44,2% da matriz

energética brasileira utilizada é de fonte renovável, sendo 15,7% de biomassa,

14,7% hidroelétrica, 9,7% carvão vegetal, outros (como eólica, solar) 4,1%, em

contraste com a mundial de 13,2%. Mas ainda assim é amplamente utilizado

petróleo e seus derivados que compreendem 38,6%. Desse modo, é importante

buscar alternativas para os problemas decorrentes da utilização do petróleo

como fonte de energia. Uma das alternativas é a utilização de Biodiesel que é

um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis, que pode ser

obtido por diferentes processos tais como craqueamento, esterificação ou por

transesterificação (BORESTEIN, 2008).

Figura 2. Matriz energética Brasileira (Balanço Energético Nacional (MME), 2012)

2.2 Óleos e Gorduras

Óleos e gorduras são os produtos constituídos principalmente de

glicerídeos de ácidos graxos de espécies vegetais. Podem conter pequenas

20

quantidades de outros lipídeos como fosfolipídeos, constituintes insaponificáveis

e ácidos graxos livres naturalmente presentes no óleo ou na gordura (ANVISA,

2004). São formados da condensação entre glicerol e ácidos graxos, dando

origem a monoacilglicerol, diacilglicerol e triacilglicerol. Os triacilglicerídeos tem

o seu ponto de fusão definido pela quantidade de insaturações que possui.

Líquidos a temperatura ambiente são denominados de óleos, pastosos ou

sólidos a temperatura ambiente são denominados gorduras. Assim óleos e

gorduras são misturas de glicerídeos de vários tipos, variando de acordo com a

origem de sua matéria prima. A Tabela 1 apresenta a composição em ácidos

graxos das principais fontes de óleos vegetais e gordura animal.

Tabela 1 - Distribuição de ácido graxos em óleos e gorduras.

Óleo ou Gordura Composição em ácidos graxos (% em massa)

Láurico

C12H24O2

Mirístico

C14H28O2

Palmítico

C16H32O2

Esteárico

C18H34O2

Oleico

C18H32O2

Linoleico

C18H30O2

Linolênico

C18H28O2

Algodão - 1,5 22 5 19 50 -

Amendoim - 0,5 6,0 - 11,4 3,0 – 6,0 42,3 - 61 13 – 33,5 -

Babaçu 44 - 45 15 – 16,5 5,8 – 8,5 2,5 – 5,5 12 - 16 1,4 – 2,8 -

Coco 44 - 51 13 – 18,5 7,5 – 11 1 – 3 5 – 8,2 1 – 2,6 -

Dendê - 0,6 – 2,4 32 – 45 4 – 6,3 38 – 53 6 – 12 -

Girassol - - 3,6 – 6,5 1,3 – 3 14 – 43 44 – 68 -

Linhaça - - 6 4 13 – 37 5 – 23 26 – 58

Milho - - 7 3 43 39 -

Oliva - 1,3 7 – 16 1,4 – 3,3 64 – 84 4 – 15 -

Soja - - 2,3 – 11 2,4 – 6 23,5 – 31 49 – 51,5 2 – 10,5

Sebo - 3 - 6 25 - 37 14 - 29 26 - 50 1 – 2,5 -

Fonte: Rinaldi et al. (2007).

2.2.1 Óleo de Soja

Dentre as várias oleaginosas candidatas a produzir biodiesel, palma,

babaçu, girassol, algodão, amendoim, mamona, canola, soja, pinhão manso e

coco (Figura 3). A soja (Glycine max) selecionado como matéria prima, sendo de

uma cultura perene, com sementes com cerca de 18 a 21% de óleo em seu

conteúdo, com um cultivo anual com 3 meses de colheita. A soja é cultivada

como monocultura em grandes operações de agronegócios em parte do Centro-

21

Oeste, Norte- regiões leste e sul do Brasil (Figura. 3). Na pesquisa de plantio de

soja da temporada 2013/14, a CONAB aponta para um montante de 29.452,6 mil

hectares plantados, corroborando uma tendência de aumento observado em

todas as regiões produtoras no país. Com as condições climáticas favoráveis

durante o desenvolvimento vegetativo da lavoura, a produção atingirá 90.025,1

mil toneladas desse grão colhido, representando um incremento de 10,5% em

relação à produção anterior, constituindo-se assim, em um novo recorde na

produção nacional (CONAB, 2013).

A elevada qualidade das sementes de soja brasileira e o seu elevado teor

de proteínas a torna um excelente produto de exportação. Se comparado com

outras oleaginosas, a soja como cultura utilizada para a produção de biodiesel,

o seu baixo teor de óleo se torna um grande problema. Levando em conta que

esse óleo é um subproduto do farelo de soja, isso deixa de ser realmente um

problema. Avalia-se que nos próximos anos haverá o aumento da demanda para

a produção de biodiesel, exigindo mais soja a ser plantada no Brasil. Neste

cenário, estima-se que até 2020/2021, a área plantada no Brasil dedicado a soja

terá expandido em 30 milhões de hectares (BERGMANN et al., 2013). Como o

óleo de soja tem o maior potencial para atender a demanda por biodiesel (PINTO

et al., 2005) e representa cerca de 80% de sua produção, certamente continuará

a ser amplamente utilizado.

Figura 3. Locais de cultivo de oleaginosas, adaptado de Bergmann et al. (2013).

22

2.3 Biodiesel

A idéia de se utilizar óleo vegetal em motor de ciclo diesel remonta ao

início do advento deste tipo de motores, desde a sua invenção e produção. No

entanto, desde os primeiros usuários de óleo vegetal como combustível nos

motores de ciclo diesel observaram que este deixava depósitos de carbono nos

cilindros e nos injetores, o que requeria uma manutenção intensiva e constante.

As pesquisas realizadas para resolver esses problemas conduziram aos

processos de transesterificação dos óleos, que é a quebra das moléculas de

triacilglicerois, com a separação da glicerina e a recombinação dos ácidos graxos

com álcool. Este tratamento permitiu superar as dificuldades com a combustão.

Um cientista belga, G. Chavanne, patenteou o processo de produção em 1937

(PLÀ, 2002) Surgindo assim as primeiras experiências com o uso comercial do

biodiesel na Europa nos anos da Segunda Guerra Mundial.

A idéia de utilizar o biodiesel no Brasil surgiu na Universidade do Ceará,

nos últimos anos da década de 70 com, a primeira patente requerida de um

processo de transesterificação foi descrita em 1980 através da patente do Dr.

Expedito Parente (PI- 8007957.28). O uso de hidróxido de sódio (ou potássio)

como catalisador alcalino e de ácidos, como o sulfúrico ou o clorídrico, foi

descrito com o objetivo de produzir um combustível, de maneira semelhante à

proposta feita por Chavanne 43 anos antes (DABDOUB et al., 2009).

Após esses acontecimentos começaram na Áustria e França em 1988 o

primeiro registro da palavra “biodiesel” na literatura, em 97 os EUA aprovaram o

biodiesel como um combustível alternativo. No Brasil os setores de pesquisa e

desenvolvimento retomaram os projetos de uso do biodiesel em 1998. Em 2003

uma portaria da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

(ANP) estabelece a regulamentação para a utilização de combustíveis sólidos,

líquidos ou gasosos não especificados no país (RATHMANN et al., 2005).

Estando hoje com a resolução nº 14, de 11.5.2012 - dou 18.5.2012.

O biodiesel caracteriza-se em comparação ao diesel de petróleo com

sendo menos tóxico, biodegradável, livre de enxofre, reduz toxinas

carcinogênicas do ar (material particulado, hidrocarbonetos não queimados,

monóxido de carbono e sulfatos) de 75-90% em comparação com o diesel de

23

petróleo, e pode ser utilizado em qualquer motor de ignição por compressão,

sem grandes modificações. O biodiesel baseado em ésteres etílicos apresenta

inúmeras vantagens sobre os mais comumente utilizados ésteres metílicos. O

biodiesel etílico possui uma quantidade menor de material particulado e produz

menos gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono e óxidos de nitrogênio

(NOX) comparado ao biodiesel metílico (MENOW et al., 2011).

2.4 Síntese do biodiesel

Para a viabilidade da reação de transesterificação é necessária a

presença de um catalisador, que pode ser uma base, um ácido ou uma enzima

que ocorra numa taxa aceitável, embora possa ser realizado em meio não

catalítico mas em condições supercríticas. A reação de transesterificação é uma

sequência de três reações reversíveis, nos quais diacilglicerol (DAG) e

monoacilglicerol (MAG) são formados como intermediários (Figura 4).

Figura 4. Equação da reação de transesterificação etílica com suas formações intermediárias.

24

Normalmente esta reação é representada pela equação geral

estequiométrica mostrada na Figura 5 (VLADA et al., 2012), sendo 1 mol de óleo

para 3 mols de qualquer álcool, com adição de catalisador resultando em 3 mols

de uma mistura de éster mais 1 mol de glicerol.

Figura 5. Equação geral estequiométrica de transesterificação.

2.5 Ultrassom

A sonoquímica é um método de síntese que permite preparar uma grande

variedade de materiais, inclusive nanoestruturados, a partir da radiação do

ultrassom. Ela faz uso das ações mecânicas e químicas do acústico por

cavitação. Mesmo que qualquer onda acústica possa ser usado para este

propósito, os ultrassons com uma freqüência maior do que 16 kHz oferecem a

melhor combinação de fácil geração com potência suficiente, sem qualquer

desconforto significativo para o usuário. Por si só, o ultrassom não tem ação

direta sobre as ligações químicas. Uma vez que nenhuma interação direta é

possível entre as ondas e matéria, um fenômeno indireto deve agir como um relé

para induzir uma reação. Este fenómeno é a cavitação, pela qual bolhas

produzidas em um líquido, onde a onda se propaga, pulsa não linearmente.

Depois uma expansão forçada pelo campo acústico, as bolhas sofrem um

colapso abrupto durante o qual se concentram mecanicamente a baixa

densidade de energia do campo de som em mais de 11 ordens de grandeza.

Seu colapso é tão carregado de energia que o interior pode emitir uma luz fraca

visível a olho nu, após alguma adaptação ao escuro. Este fenômeno de

sonoluminescência foi descoberto em 1933. Alguns anos após Wood e Loomis

observara a atividade química de ultrassom por cavitação (LEPOINT e MuLLIE,

1998).

25

A maioria dos pesquisadores concordam que existem 3 mecanismos

principais responsáveis pelos efeitos causados em reações químicas. O primeiro

está relacionado com as interações físicas que causam a compressão e

descompressão do solvente, considerando que o comprimento de onda

associado ao campo ultrassônico é milhares de vezes maior do que as ligações

entre moléculas do solvente, o meio de propagação pode ser considerado

contínuo e todas as leis da fluidodinâmica podem ser aplicadas para descrever

os fenômenos. O segundo está relacionada ao fenômeno da cavitação sonora

(PAIVA, 2010). E o terceiro relacionado ao colapso das bolhas na cavitação

sonora que causam a ruptura das superfícies entre as faces promovendo a

emulsificação das interfaces líquido-líquido. Estas emulsões ultrassônicas são

mais estáveis termodinamicamente e aumentam a área interfacial disponível

para as reações químicas, o que promove a concentração das espécies reativas

e melhora a transferência de massa entre reagentes (KUMAR et al., 2010)

Estes três mecanismos, isolados ou em conjunto, levam a um aumento na

velocidade de certas reações químicas, especialmente aquelas sujeitas a

limitações de transferência de massa. Aliás, a cavitação é responsável pelo

surgimento de locais com condições extremas de temperaturas, por volta de

7000 ºC, e pressões. E, devido a essas condições tem-se a possibilidade de

gerar intermediários reacionais iônicos ou radiculares no interior das bolhas de

cavitação, a qual pode promover reações instantâneas (PAIVA, 2010).

Kumar et al. (2010) avaliaram a etanólise do óleo de côco utilizando KOH

como precursor catalítico e com um transdutor do tipo sonda o meio reacional foi

submetido a sonicação. Um dos objetivos do trabalho foi o estudo da influência

de fatores como amplitude ultrassônica, razão molar óleo/álcool e quantidade de

catalizador, em relação ao peso do óleo. Ainda esses autores avaliaram o efeito

que estas variáveis exercem sobre o tempo de reação e conversão. Com

resultados obtidos de uma conversão superior a 98% em ésteres etílicos num

tempo de 7 minutos, utilizando 0,75% m/m de KOH e razão molar etanol/óleo

6:1, Kumar et al. (2010) relataram também que houve uma redução no tempo

necessário para a separação entre fases glicerínica e de ésteres etílicos (de 5

horas para 30 minutos), além da diminuição de catalisador de 1% no método

tradicional para 0,75% m/m de KOH. Isto sugere que a utilização da tecnologia

ultrassônica pode promover elevadas conversões em tempos menores em

26

comparação ao método tradicional, e que este também pode facilitar também a

etapa de purificação. Tendo como única desvantagem o alto investimento em

equipamentos ultrassônicos e sua manutenção, mas com a difusão dessa

tecnologia pode-se esperar a redução destes custos num curto prazo.

2.6 Tipos de Catalisadores

Industrialmente, o biodiesel ainda é em grande parte produzido por

catálise alcalina em meio homogêneo, utilizando alcóxidos ou hidróxidos

(potássio ou sódio) como catalisadores. Também podem ser utilizados como

catalisadores homogêneos os ácidos de Brönsted-Lowry para produção do

biodiesel, assim como a catálise ácida também pode ser uma estratégia

interessante para a neutralização de materiais lipídicos que apresentem elevada

acidez. Uma alternativa para a produção de biodiesel é a hidroesterificação, a

qual consiste na hidrólise dos triacilglicerois, seguida da esterificação dos ácidos

graxos livres gerados. A síntese do biodiesel também pode ser realizada por

catálise heterogênea (Cordeiro et al., 2011).

A catálise homogênea é aquela cujo catalisador e os reagentes

constituem um sistema monofásico; o catalisador se encontra no mesmo estado

físico dos reagentes e produtos.

A catálise heterogênea é aquela que o catalisador se encontra num estado

físico diferente dos reagentes e produtos, formando um sistema com mais de

uma fase. Esses tipos de catalisadores proporcionam uma superfície para

ocorrer a reação.

2.6.1 Catalisadores Ácidos

Os ácidos mais utilizados na transesterificação são sulfúrico e ácidos

sulfônicos. A transesterificação catalisada por ácido é geralmente realizada a

altas razões molares de álcool e óleo, temperaturas mais altas e altas

concentrações de catalisador ácido a fim de obter bons rendimentos em

biodiesel. A reação catalisada em meio ácido é cerca de 4000 vezes mais lenta

do que a reação catalisada em meio básico. Os catalisadores ácidos dão

27

rendimentos muito elevados em ésteres, mas as reações são lentas, exigindo

temperaturas acima de 100 ºC e mais de 3 horas de reação para chegar a

completa conversão. A transesterificação catalisada por ácido é muito útil para o

tratamento de óleos ou de gorduras com elevadas taxas de ácidos gráxos livres,

pois os catalisadores ácidos podem catalisar simultaneamente os dois,

esterificação e transesterificação. A vantagem adicional de catálise ácida sobre

o método de catálise básica é que os sabões não são formados na presença de

catalisadores ácidos (VELJKOVIĆ et al., 2012).

2.6.2 Catalisadores Básicos

A principal razão de transesterificação catalisada por base ser mais

popular para fins comerciais do que a catalisada por ácido é que a basica

apresenta velocidades mais elevadas do que a ácida. Sendo os alcóxidos os

catalisadores mais utilizados. Estes são considerados catalisadores mais ativos,

uma vez que eles propiciam rendimentos mais elevados (>98%), em tempos de

reação curtos (30 minutos). Ainda estes catalisadores podem ser utilizados em

concentrações baixas (0,5% mol) quando comparados aos ácidos. Dos alcóxidos

o de sódio e o de potássio são os menos ativos, mas são geralmente os utilizados

devido ao seu baixo custo. Estes catalisadores são utilizados sob baixas

pressões e temperaturas de reação, e a taxa de conversão é alta, sem passos

intermediários.

A presença de ácidos graxos livres e água afeta fortemente o

desempenho do processo e a economia da produção de biodiesel. Os óleos

utilizados não devem conter mais de 1% de ácidos graxos livres, caso contrário

a saponificação impede a separação dos ésteres e reduz o rendimento e a

formação de ésteres. A presença da água afeta o processo reduzindo a atividade

do catalisador, aumentando a viscosidade da reação e provocando a formação

de uma emulsão estável, o que impede a separação do glicerol resultante.

Portanto, os hidróxidos devem ser tratados corretamente, pois eles são

higroscópicos, absorvem água do ar durante o armazenamento, e pode formar

água quando dissolvido em álcool, mesmo sendo um álcool livre de água. Além

disso, a água produzida pela reação do hidróxido com o álcool aumenta a

28

hidrólise de alguns dos ésteres produzidos e provoca a formação de sabão

(VELJKOVIĆ et al., 2012).Utilizando esse tipo de catalisador, Fillière et al.

(1995), examinaram as razões mássicas entre óleo e catalisador, variando as

concentrações de etóxido de sódio de 0,15 a 1,5%, e concluíram que

concentrações acima de 1% não promovem o aumento da conversão e dificultam

as etapas de purificação.

2.6.3 Catalisadores Enzimáticos

Recentemente a produção enzimática de biodiesel tem atraído um

interesse considerável, uma vez que, é mais eficiente e mais seletiva,

envolvendo um menor consumo de energia e menos produtos secundários ou

resíduos. Além disso, nenhuma operação complexa é necessária para a

recuperação do glicerol e também para eliminar o catalisador e o sal em

comparação com os métodos químicos. Foi relatado por Yu et al. (2010) que

algumas lipases podem catalisar eficazmente a metanólise de óleos vegetais e

gorduras para produzir o biodiesel, a maior parte das pesquisas recentes

concentram em determinar a melhor enzima e otimizar as condições de reação

(razão molar e substrato, com solvente ou não, temperatura, teor de água, nível

de ácidos graxos livres, percentual de conversão, migração acil, taxa de fluxo de

substrato em biorreatores de leito fixo) para melhorar o rendimento de biodiesel

para possível escala e uso industrial. No entanto, a partir de um ponto de vista

econômico, a aplicação de catálise enzimática é baixa em produção de biodiesel,

em comparação com catalisador químico. Assim, é necessário encontrar um

método apropriado para aumentar as velocidades de reação para promover a

aplicação de enzima na produção de biodiesel (YU et al., 2010).

2.7 Álcoois

O álcool primário mais comumente utilizado na produção de biodiesel é o

metanol, apesar de outros álcoois, tais como etanol, isopropanol, e butanol,

poderem ser utilizados. Om fator chave do álcool primário é o teor de água. A

29

água interfere na reação de transesterificação e esterificação. As reações podem

resultar em baixos rendimentos e altos níveis de sabão, ácidos graxos livres e

triacilglicerideos no final do combustível. Infelizmente, todos os álcoois inferiores

são higroscópicos e são capazes de absorção de água a partir do ar.

Outras questões tais como o custo do álcool, a quantidade de álcool

necessária para a reação, a facilidade de recuperação e reciclagem do álcool,

os créditos fiscais de combustível e aquecimento global é que influenciam a

escolha do álcool. Alguns álcoois também exigem modificações técnicas leves

para o processo de produção, tais como altas temperaturas de operação, tempos

ou velocidades mais baixas de mistura (Gerpen et al., 2004).

2.7.1 Metanol

Durante muitos anos, essa substância foi obtida unicamente pela

destilação da madeira a seco e na ausência de ar, o que tornou o metanol

conhecido como álcool de madeira, com ponto de fusão de -98 °C, inflamável e

possui uma chama invisível (ANDRADE e PEREIRA, 1998). Atualmente, a

substância é obtida sinteticamente a partir do monóxido de carbono (processo

carboquímico) ou por oxidação controlada do metano (processo petroquímico).

De todos os álcoois, o metanol é o mais tóxico, sua dose letal é de 0,07 g/Kg de

massa corporal, o que quer dizer que meia colher de sopa de metanol é

suficiente para provocar a morte de um indivíduo de 60 Kg (ANDRADE e

PEREIRA, 1998). A principal aplicação do metanol é como solvente em inúmeras

reações industriais. Também se utiliza o metanol na extração de óleos vegetais

e animais, vitaminas, hormônios e colesterol, e na obtenção do éter metílico-

terciobutílico (MTBE), substância usada para aumentar a octanagem da

gasolina, especialmente nos Estados Unidos. Na produção do biodiesel, o

metanol é usado na transesterificação de óleos nesse contexto existem as

vantagens e desvantagens do uso do metanol na transesterificação conforme

Tabela 2 (GERPEN et al., 2004).

30

Tabela 2 - Vantagens e desvantagens do uso de metanol na transesterificação

de óleos vegetais.

METANOL

VANTAGENS DESVANTAGES

Comparado ao etanol, seu consumo é

aproximadamente 45% menor nos

processos de transesterificação;

É tradicionalmente de origem fóssil;

O etanol chega a custar quase o dobro do

metanol;

É extremamente tóxico;

É mais reativo; É reativo, muito inflamável e produz

chamas invisíveis;

Comparado ao etanol, reduz o tempo de

conversão a menos da metade;

Produto controlado;

As dimensões dos equipamentos

industriais são consideravelmente

menores com estes álcoois;

Produção nacional não é capaz de atender

a demanda de biodiesel;

Fonte: Gerpen et al. (2004)

2.7.2 Etanol

O etanol hidratado é o etanol que possui em sua composição entre 95,1%

e 96% de etanol e o restante de água, enquanto o etanol anidro (também

chamado de etanol puro ou etanol absoluto) possui pelo menos 99,6% de

graduação alcoólica. (NOVACANA, 2014). A química do etanol é, em grande

parte, representada pela química do grupo hidroxila. Assim, suas reações

características são a desidratação, desidrogenação, oxidação e esterificação.

Além disso, o átomo de hidrogênio do grupo -OH pode ser substituído por um

metal como o sódio, potássio ou cálcio, formando-se o etóxido do metal com a

liberação paralela de hidrogênio. A obtenção industrial de etanol se dá pela

síntese a partir do etileno, como sub-produto de determinados processos, ou por

fermentação do açúcar, amido ou celulose. No caso do Brasil, o principal método

para obtenção de etanol baseia-se na fermentação de açúcar de cana (PEREIRA

E ANDRADE, 1998).

Tendo em vista que qualquer tipo de álcool pode ser utilizado para

transesterificação de óleos e gorduras, está se estudando o uso do etanol para

31

este fim, visando um biocombustível (Biodiesel) mais sustentável. Assim a

Tabela 3 mostra as vantagens e desvantagens de seu uso na transesterificação.

Tabela 3 - Vantagens e desvantagens do uso de etanol na transesterificação de óleos vegetais.

ETANOL

VANTAGENS DESVANTAGENS

Produção alcooleira no Brasil

consolidada;

Grande afinidade com a glicerina, dificultando

a separação;

Biodiesel com maior índice de cetano

comparado ao biodiesel metílico;

Forma azeótropos com a água;

Sendo feito a partir da biomassa produz

um combustível 100% renovável;

Equipamentos industriais chegam a ser 4X

maiores do que os utilizados com metanol;

Pode gerar economias de divisas;

Não é tóxico como o metanol e menos

reativo;

Fonte: Gerpen et al. (2004)

2.8 Considerações Gerais

A partir do apresentado nesta revisão pode ser observado que a busca

por combustíveis renováveis, como o biodiesel, não é recente, no entanto uma

maior ênfase tem sido dada e as pesquisas têm sido intensificadas nos últimos

20 anos em função da necessidade de desenvolver combustíveis que possam

ser substituintes viáveis aos petroquímicos. Os principais fatos que impulsionam

esta busca e desenvolvimento são de caráter ambiental, tecnológico e

econômico. Industrialmente, atualmente ainda o metanol é o álcool mais

utilização para a produção do biodiesel, porém, diversas pesquisas têm sido

desenvolvidas com o intuito de desenvolver sistemas reacionais em que o etanol

possa ser utilizado na reação. O etanol, possui vantagens mais significativas do

que metanol na produção de biodiesel, como por exemplo ser origem renovável,

não tóxico como o metanol e ter uma produção que atende a demanda de

biodiesel. O metanol, por sua vez, é importado quase em sua totalidade para tal

fim. No entanto, a utilização do etanol nas reações de transesterificação para

32

produção de biodiesel representa uma série de desafios científicos e

tecnológicos, como por exemplo maiores dificuldades de separação, velocidades

de reação e grau de conversão inferiores aos processos em que se usa metanol.

Neste sentido, estas dificuldades de processo oferecem um grande potencial

para o desenvolvimento de projetos de pesquisa que busquem a otimização da

produção de biodiesel etílico, em que se desta a aplicação de ultrassom durante

a etapa reacional. Aliada à reação de transesterificação à uma tecnologia de

sonicação, os ganhos de tempo para sua produção podem ser significativos,

como observado na literatura e é o principal foco do presente trabalho.

33

CAPÍTULO 3: MATERIAIS E MÉTODOS

Neste capítulo são apresentados os principais materiais e os métodos

experimentais utilizados no desenvolvimento do presente trabalho.

3.1 Reagentes

Os reagentes utilizados no trabalho foram óleo de soja refinado, obtido da

IMCOPA (Araucária, PR), etanol 99,5 % (ITAJÁ,), solução aquosa 5 % de ácido

fosfórico (Biotec), hidróxido de potássio 87,54 % (NEON), sulfato de sódio anidro

(VETEC,), n-heptano 97 % (Biotec), piridina 99 % (Sigma-Aldrich), n-methyl-n-

(trimethylsilyl) trifluoroacetamide (MSTFA) 98,5 % (Sigma-Aldrich). Foram

usados ainda os padrões cromatográficos palmitato de etila, oleato de etila,

linoleato de etila, linolenato de etila e estearato de etila (Sigma-Aldrich) para a

quantificação cromatográfica dos ésteres obtidos nos experimentos cinéticos.

3.2 Análise da matéria-prima

As seguintes metodologias foram empregadas para a caracterização da

matéria-prima (óleo de soja refinado), assim como os métodos utilizados para a

análise dos produtos da reação.

3.2.1 Índice de Acidez

Para determinar o índice de acidez foi utilizada a norma AOCS Ca-5a-40

(American Oil Chemists’ Society), a qual consiste basicamente na titulação de

uma amostra de óleo com solução de NaOH 0,1 mol/L padronizada.

Primeiramente pesou-se 1 g da amostra de óleo em um erlenmeyer de 250 mL,

adicionado 50 mL de etanol e 2 gotas de solução de fenolftaleína 1%. Em

seguida titulou-se com solução de NaOH 0,1 mol/L padronizada até o

aparecimento da cor rósea persistente. Para a determinação da porcentagem

mássica dos ácidos graxos livres, empregou-se a equação 1:

34

%𝐴𝐺𝐿 =𝑉𝑁𝑎𝑂𝐻∙𝑀∙𝑃𝑀𝐴𝐺𝐿

𝑚ó𝑙𝑒𝑜∙10 (1)

Onde:

%AGL = acidez da amostra, em %

V = volume gasto da solução de NaOH, em mL

M = molaridade real da solução de NaOH, em mol/L

PMAGL = massa molar do ácido graxo livre analisado, em g/mol

móleo = massa da amostra de óleo analisada, em g

3.2.2 Índice de Saponificação

Para determinação do índice de saponificação foi utilizado a norma AOCS

Cd-3-25 (American Oil Chemists’ Society). Que consiste na titulação de uma

amostra de óleo com solução de HCl 0,5 N padronizada. Primeiramente pesou-

se 2 g da amostra de óleo em um erlenmeyer de 250 mL, adicionando 50 mL de

solução alcoólica de KOH 0,5 N e algumas pérolas de vidro. O erlenmeyer foi

então adaptado a um condensador e seu conteúdo fervido sob refluxo por 30

minutos. Após o resfriamento, efetuou-se a lavagem do sistema com água

destilada e, em seguida, adicionou-se 2 gotas de solução de fenolftaleína 1% e

foi feita a titulação com solução de HCl 0,5 N até a mudança de coloração. Para

determinação do índice de saponificação (mg KOH/g), é necessário titular uma

prova em branco e utilizou-se a equação 2:

𝐼𝑆 =(𝐴−𝐵)∙𝑁1∙56,1

𝑃 (2)

Onde:

IS = índice de saponificação

B = volume de solução de HCl gasto com a titulação da amostra, em mL.

A = volume de solução de HCl gasto com a titulação do branco, em mL.

N1 = Normalidade real da solução de HCl.

P = massa em da amostra, em g.

3.2.3 Massa Molecular Média

35

A massa molecular média dos óleos foi determinada a partir do índice de

saponificação (I.S.). Como 1 equivalente químico de acilglicerol equivale a 3

equivalentes de KOH (PM= 56,1 g/g mol), o cálculo do peso molecular (g/mol)

foi realizado através da equação 3:

𝑀𝑀ó𝑙𝑒𝑜 =3∙56,1∙1000

𝐼𝑆 (3)

Onde:

MMóleo = massa molecular média (g/mol)

IS = índice de saponificação (mg KOH/g)

3.2.4 Massa Específica

As análises foram realizadas em um densímetro Anton Paar DMA 5000

M, que é composto por um sensor que transforma a oscilação de um tubo em

formato de U preenchido com aproximadamente 1 mL da amostra em um sinal

de frequência. Esta análise é feita a 15 °C conforme a norma EN ISO 3675,

segundo a qual a massa específica do biodiesel deve estar entre 0,86 g/mL e

0,90 g/mL. Para o cálculo da viscosidade dinâmica foram realizados novos

ensaios a 40 ºC.

3.2.5 Viscosidade Dinâmica e Cinemática

A viscosidade aparente foi determinada em um Reômetro Digital

Brookfield DV-III, com torque oscilando entre 20 a 80 %, tempo de leitura de 2

min e spindle 18, a temperatura de 40 °C. Aproximadamente 8 mL da amostra

foram adicionados em um vaso, com controle de temperatura, onde é

mergulhado o spindle. O resultado desta análise (viscosidade dinâmica) é dado

em centiPoise (cP). Para determinação da viscosidade cinemática a equação 4

foi utilizada:

𝑐𝑃 = 𝑐𝑆 ∗ 𝑑 (4)

Onde:

cP = viscosidade dinâmica (centiPoise)

cS = viscosidade cinemática (centiStokes)

36

d = massa específica (g.ml-1)

3.2.6 Determinação do Teor de Umidade e Voláteis por Secagem

Para determinação do teor de água livre e voláteis, seguiram as etapas:

primeiramente, foram pesados 2 g (± 0,1 mg) de cada amostra em balança

analítica (marca RAGVAG modelo As220/C/2), que foram adicionados em

cadinhos de porcelana tarados (limpos e calcinados antes do uso). Em seguida,

os cadinhos foram colocadas em estufa para a secagem a temperatura de 105

ºC até peso constante. As amostras foram resfriadas em um dessecador com

sílica gel até que atingissem a temperatura ambiente e em seguida foram

pesadas. A massa seca foi o resultado obtido no final dos ensaios, quando a

massa medida permaneceu constante ao longo do tempo (Métodos Físico-

Químicos Para Análises de Alimentos – IAL, 2004). A massa seca (MS) da

amostra foi obtida através da equação 5:

MS (%) = 1 − Massa final da amostra após secagem (g)

Massa inicial da amostra úmida (g) × 100 (5)

3.2.7 Determinação do Teor de Cinzas

Para determinação do teor de cinzas foi utilizada a norma AOCS Ca 11-

55 (American Oil Chemists’ Society). Primeiramente foi feita a incineração das

amostras em uma chapa de aquecimento (marca Edulab modelo XM-TD701) a

300 °C, e estas foram mantidas na chapa até cessar a fuligem emitida pela

biomassa durante a queima. Em seguida os cadinhos com as amostras foram

introduzidos na mufla (marca Quimis modelo Q.318.D25T) para calcinação à

temperatura de 550 °C por 4 horas. A seguir, as amostras foram retiradas da

mufla e deixadas resfriando por cerca de 1 hora até temperatura ambiente em

um dessecador com sílica gel, quando foram então pesadas para a determinação

das cinzas (%). Essas cinzas residuais foram calculadas pela diferença de

massa com a amostra inicial e o peso do cadinho. Os resultados foram expressos

em porcentagem e calculados através da equação 6:

37

𝐶𝑖𝑛𝑧𝑎𝑠 (%) = massa residual (g)

massa da amostra inicial (g) × 100 (6)

3.2.8 Determinação de Sabão em Óleo

Para determinação do índice de sabão em óleo foi utilizado a norma

AOCS Cc-17-79 (American Oil Chemists’ Society). Que consiste na titulação da

amostra de um óleo com solução de HCl 0,01 N padronizada. Primeiramente

adicionou-se 100 mL de solução de acetona contendo 2 % de água em um

erlenmeyer de 250 mL e 1,5 mL de solução indicadora de azul de bromofenol

0,4%. Titulou-se a solução com HCl 0,01 N até a mudança de coloração de azul

para amarelo. Em seguida, adicionou-se 100 g da amostra na solução e titulou-

se até a mudança de cor de azul para amarelo. Para a determinação de sabão

(ppm) utiliza-se a equação 7:

𝑃𝑝𝑚 =𝑚𝐿∗(𝑁)∗304,4

𝑚 (7)

Onde:

mL = volume gasto de HCl na titulação da amostra, em mL.

(N) = normalidade real da solução de HCl.

m = massa da amostra, em g.

3.2.9 Índice de Iodo

Para determinação do índice de iodo foi utilizado a norma AOCS Cd-1-25

(American Oil Chemists’ Society). Que consiste na titulação da amostra com

solução de Tiossulfato de Sódio a 0,1 mol/L padronizada. Primeiramente

adicionou-se 0,1 g do óleo em um erlenmeyer de 250 mL, 15 mL de tetracloreto

de carbono, 25 mL de solução Wijs, este foi tampado e colocado em um local

escuro por um período de 30 minutos a 25°C. Após este período foram

adicionados 20 mL de Iodeto de Potássio e 100 mL de água destilada. Em

seguida, foi feita a titulação com o tiossulfato de sódio 0,1 N até mudança da

coloração para amarela. A seguir, foi adicionado 1 mL do indicador de amido 1%

e, continuou-se a titulação até a solução ficar com uma coloração azul. Foi

38

realizada uma prova em branco. Para a determinação do índice de iodo da

amostra, empregou-se a equação 8:

𝐼. 𝐼. =(𝑃𝐵−𝐴)∙𝑀∙12,69

𝑃 (8)

Onde:

I.I. = Índice de Iodo

PB = Volume gasto na prova em branco;

A = Volume gasto do titulante;

M = Molaridade [0,1 mol/L de tiossulfato de sódio (Na2S2O3)];

P = massa da amostra de óleo em gramas;

3.3 Procedimento para purificação dos ésteres

O procedimento de preparo das amostras para quantificação dos ésteres

etílicos constitiu em evaporar o excesso de etanol por rota vaporação (a 60 ºC),

em seguida a amostra era colocada em um funil de separação para separar o

glicerol por decantação. Os ésteres etílicos produzidos foram purificados para

eliminação de umidade, resíduos de sabões e etanol. Assim foi realizado uma

lavagem dos ésteres com água destilada quente à 80º C na proporção de 10%

(v/v) 3 vezes. Adicionou-se 2 %(m/m) do adsorvente Perlimax®, sob agitação

constante por 30 min à 65 ºC (KUCEK, 2002). Em seguida o material foi filtrado

utilizando papel filtro whatman número 1 e com sulfato de sódio anidro para

retirada do adsorvente.

Após este procedimento os ésteres foram acondicionados em frascos

para o posterior preparo para análise.

3.4 Procedimento utilizado na transesterificação – bancada

O procedimento utilizado para a reação de transesterificação foi realizado

em um balão de fundo redondo com duas bocas com capacidade para 500 mL,

equipado com um condensador de refluxo. Foi utilizado um agitador magnético

para mistura da reação. Foram introduzidos aproximadamente 300 g de óleo de

39

soja refinado, que permaneceu sob agitação até atingir a temperatura de 55ºC

em um banho de óleo. Paralelamente quantidades adequadas de álcool etílico

(99,8%) e hidróxido de potássio (KOH) foram misturadas, até sua completa

dissolução, em um erlenmeyer de vidro sob agitação magnética. Na sequência,

a solução preparada contendo etóxido do correspondente catalisador foi

adicionada ao óleo previamente aquecido. A contagem de tempo iniciou-se com

o total acréscimo da solução de etóxido de potássio. Com o auxílio de uma pipeta

graduada de 10 mL, eram retiradas alíquotas em tempos determinados para

avaliação da cinética (Figura 6).

Figura 6. Aparato em bancada para reação de transesterificação.

40

3.5 Procedimento utilizado para transesterificação assistido por ultrassom

Na Figura 7 é apresentado um fluxograma do modelo piloto utilizado para

o desenvolvimento do trabalho. Composto por um vaso de mistura com

capacidade aproximadamente de 7 L, com agitador mecânico de haste com

hélice naval e rotação variável de 5 a 2000 rpm. No interior com três barras de

aquecimento e um termopar para controlar a temperatura por um painel elétrico

de controle central. A válvula V1 controla a saída para a bomba peristáltica, a

qual possui controle digital de fluxo. A válvula V2 controla a entrada no ultrassom,

que possui uma capacidade interna de 1 litro, com 4 transdutores ultrassônicos

e gerador digital modelo SMU1000DL, gerando uma frequência de 20 kHz e uma

potência de 600 W. A válvula V3 é uma válvula que permite coleta ou

acoplamento em outro módulo. Entre o ultrassom e o vaso de mistura foi

adicionado um ponto para coleta de amostra fechada com uma pinça de mohr.

A Figura 8 mostra uma foto do reator piloto usado para a produção de biodiesel.

Figura 7. Fluxograma do processo do reator para produção de biodiesel em escala semi-piloto.

41

Figura 8. Foto do reator em escala semi-piloto de produção de biodiesel usado no presente trabalho

O procedimento utilizado para a reação de transesterificação com

ultrassom consistiu no vaso de mistura acoplado ao reator de ultrassom foram

acrescentados aproximadamente 5 Kg de óleo de soja refinado. Enquanto o óleo

de soja refinado permanecia no vaso com agitação de 2000 rpm até atingir a

temperatura de 55 ºC, era preparada a mistura de álcool etílico (99,8%) e

hidróxido de potássio (KOH) até sua completa dissolução em um erlenmeyer sob

constante agitação. Na sequência, a solução preparada contendo etóxido do

correspondente hidróxido foi adicionada ao óleo previamente aquecido. A

contagem de tempo iniciou-se após o total acréscimo da solução de etóxido.

Eram retiradas alíquotas de aproximadamente 50 mL em tempos determinados

para avaliação da cinética da reação diretamente do vaso de mistura, após a

passagem da mistura reacional pelo ultrassom e o retorno desta para o vaso com

auxílio de uma haste metálica e seringas, uma alíquota para cada tempo de

reação selecionado para avaliar a cinética da reação (Figura 9).

42

Figura 9. Vaso de mistura com haste metálica e seringa para retirada de alíquotas para avaliação da cinética.

3.6 Procedimento para os experimentos cinéticos

Foram realizados testes inicias com base na literatura para se adequar e

definir as condições dos experimentos cinéticos. Thanh et al. (2010) utilizaram

um sistema semelhante ao proposto, com metanol e óleo de canola. Estes

autores utilizaram várias razões molares álcool/óleo, concentrações de hidróxido

de potássio de 0,3, 0,5, 0,7 e 1% em relação a massa do óleo e obtiveram como

resultado ótimo 97% de éster total (% em massa) com uma relação molar de

metanol para o óleo 5:1 e 0,7% de catalisador em relação a massa do óleo. A

partir da análise deste trabalho citado foram propostos os ensaios descritos na

Tabela 4. Para uma efetiva avaliação do efeito de ultrassom na unidade utilizada

foram realizados ensaios em bancada sem a aplicação de ultrassom

(reação/cinética modelo), e na unidade semi-piloto com aplicação de ultrassom.

43

Tabela 4 Delineamento experimental

Reação Razão Molar

Temperatura Catalisador Vazão Tempo

1 9:1 55 ºC 0,5% KOH 0 mL.min-1 60 min 2 9:1 Temperatura

Ambiente 0,5% KOH 800 mL.min-1 60 min

3 9:1 55 ºC 0,5% KOH 800 mL.min-1 60 min 4 9:1 Temperatura

Ambiente 0% KOH 800 mL.min-1 60 min

5 9:1 55 ºC 0% KOH 800 mL.min-1 60 min 6 9:1* 55 ºC 0,5% KOH 400 mL.min-1 16 min 7 9:1* 55 ºC 0,5% KOH 800 mL.min-1 8 min

* obs.: teste de relação entre o ultrassom e tempo de residência, com vazão máxima e metade da vazão máxima da bomba.

Com o delineamento experimental apresentado, a amostragem da reação

foi realizada em diferentes tempos de 2 a 60 min para os ensaios de 1 a 5. E

para as reações 6 e 7, em que o meio reacional passou pelo ultrassom sem

retornar para o vaso de mistura, foram retiradas 3 amostras em tempos diferente.

Estas amostras foram retiradas com o vaso de mistura cheio, ½ do volume

preenchido e com o vaso de mistura quase vazio (2/5 do volume total). Todas as

alíquotas foram neutralizadas com uma solução de ácido fosfórico à 5% a fim de

cessar a reação e posterior quantificação da composição da mistura reacional.

3.7 Metodologia de análise para os ésteres

A quantificação de ésteres etílicos de ácidos graxos provenientes de

matérias-primas oleaginosas foi adaptado da norma EN 14103:2011. Foi

utilizanda a cromatografia em fase gasosa (Thermo-Trace 1310) com injetor

split/split-less (modo PTV), detector de ionização de chama (FID) e sistema de

processamento de dados ChromQuest 5.0. Tanto para a qualificação quanto a

quantificação, utilizou-se uma coluna Select Biodiesel para acilgliceróis

(CP9080) com 30 m x 0,25 mm x 0,25 um e temperaturas no detector de 420 ºC.

O programa de temperatura no injetor foi inicial de 70 ºC a 100 ºC com

rampa de 5 ºC/seg. mantida por 2 min. E para 410 ºC com rampa de 10 ºC/seg

mantida por 28 min. O programa de temperatura na coluna foi inicial de 90 ºC, a

150 ºC com rampa de 4 ºC/seg. mantendo por 0,5 min., de 190 ºC com rampa

de 7 ºC/seg e mantendo por 0,5 min. De 220 ºC com rampa de 10 ºC/seg e

44

mantendo por 0,5 min. De 350 ºC com rampa de 40 ºC/seg e mantendo por 2

min. O volume de amostra injetada foi de 1,5 µL e os gases utilizados foram: ar

sintético e hidrogênio em razão de 10:1 (v/v) e nitrogênio como gás de arraste

(0,8 mL/min) em modo split de 1:10. Para a quantificação foram utilizados os

métodos de normalização de área e de padronização externa, quando da

disponibilidade de padrões verdadeiros. Todas as amostras de reação foram

purificadas, com rota-vaporador para retirar o excesso de etanol, lavadas 3 vezes

com água 80 ºC, e filtradas com sulfato de sódio anidro para remover água,

sabão, KOH e impurezas, e diluídas em n-heptano.

3.8 Método de Hartman e Lago modificado

Preparo da solução de metóxido (NaOH/MeOH 0,5 mol.L-1)

Pesou se 2 g de hidróxido de sódio, e foi transferido para um balão

volumétrico de 100 mL e adicionado o metanol aos poucos com agitação

vigorosa até completar o volume e total solubilização.

Preparo da solução esterificante

Em um balão adicionou-se 2 g de cloreto de amônia, 60 mL de metanol e

3 mL de ácido sulfúrico concentrado, submeteu-se a mistura a agitação por cerca

de 15 minutos para total solubilização.

Após o preparo das soluções, foram adicionados aproximadamente 200

mg do óleo em um tubo de ensaio com tampa e ótima vedação e acrescentado

3 mL da solução de NaOH em metanol. Foi montado um sistema de aquecimento

com um banho de aquecimento, aguardando que o mesmo atingisse a

temperatura de 90°C e foi mergulhado os tubos de ensaio até a altura das

soluções presos em uma grade de metal e deixar por 10 minutos.

Posteriormente foram retirar os tubos de ensaio do banho de aquecimento

e deixados resfriar em temperatura ambiente e acrescentado 9 mL da solução

de esterificante, e levado ao aquecimento a 90°C por mais 5 minutos. Em

seguida, deixou-se resfriar novamente em temperatura ambiente e acrescentou-

se 5 mL de n-heptano e 5 mL de água deionizada. Agitou-se a mistura e se

45

aguardou até a separação das fases, foram coletas a fase orgânica dos tubos e

transferidos para viais (previamente pesados) e colocados para secar para

retirada do solvente e ter a massa de éster para realizar a análise pro

cromatografia a gás.

46

CAPÍTULO 4: RESULTADO E DISCUSSÃO

Neste capítulo serão mostrados e discutidos os resultados obtidos da

avaliação da matéria prima, análise dos ésteres etílicos oriundos do óleo de soja

refinado assistido por ultrassom por cromatografia gasosa, densidade e índice

de refração.

4.1 Curva de calibração

Para a quantificação dos ésteres totais obtidos nas reações foi obtida a

partir da análise cromatográfica usando-se uma curva de calibração com

padronização externa. A curva de calibração foi preparada a partir de padrões

puros e individuais afim de se avaliar os tempos de retenção de cada éster na

coluna cromatográfica utilizada. Foram preparados os padrões éster etílico do

ácido palmítico (C16:0), o éster etílico do ácido esteárico (C18:0), o éster etílico

do ácido oleico (C18:1), o éster etílico do ácido linoleico (C18:2) e o éster etílico

do ácido linolênico (C18:3), e seus respectivos cromatogramas estão

apresentados, respectivamente, nas Figuras 20 à 24 do anexo A. A Tabela 5

contém os respectivos ésteres e seus tempos de retenção obtidos.

Tabela 5- Ésteres etílicos e seus respectivos tempos de retenção.

ÉSTER ETÍLICO TEMPO DE RETENÇÃO (min)

Palmítico (C16:0) 17,1

Esteárico (C18:0) 20,2

Oleico (C18:1) 19,7

Linoleico (C18:2) 19,6

Linolênico (C18:3) 19,7

Após essas análises cromatográficas dos tempos de retenção de cada

tipo de éster, foi preparada uma solução mãe com todos os 5 ésteres produzindo-

se uma mistura, com concentração de 15 mg/mL. Foi retirada uma alíquota

dessa solução e injetado no cromatógrafo a gás, para avaliação da resposta do

detector frente a essa concentração. Após o resultado visualizou-se que esta

47

solução estava demasiada concentrada e foram feitas diluições afim de se ter

uma curva com baixa, média e alta concentração, com no mínimo cinco pontos

para obtenção da curva de calibração. Na Figura 10 são apresentadas as curvas

de calibração obtidas para cada éster etílico na cromatografia com os respectivos

coeficientes de correlação (R2).

Figura 10. Curvas de calibração (A) éster étilico do ácido palmítico com R2 de 0,9989, (B) éster etílico do ácido esteárico com R2 de 0,9986, (C) éster etílico do ácido linoleico com R2 de 0,9787, (D) éster etílico do ácido oleico e linolênico com R2 de 0,9974.

4.2. Caracterização da matéria-prima

A análises da matéria-prima é uma etapa importante a ser realizada

previamente, pois os teores de ácido graxos livres e de água interferem nas

conversões por meio das reações paralelas de saponificação e hidrólise durante

a transesterificação alcalina. Utilizando-se os métodos descritos anteriormente,

foram obtidos os valores apresentados na Tabela 6. Os índices e valores

medidos estão de acordo com o proposto na literatura, ou seja, teores de ácidos

graxos livres (AGL) <0,3% para o óleo refinado. Desta forma, obsrva-se que a

transesterificação alcalina para a obtenção de ésteres etílicos de ácidos graxos

é viável.

48

Tabela 6 - Resultados das análises realizadas para caracterização do óleo de soja utilizado neste trabalho.

Óleo de Soja

Parâmetro Unidade Resultado obtido Valor de Referência

Índice de acidez mg KOH/g 0,1051 ± 0,0002 < 0,3

Índice de saponificação mg KOH/g 179,9274 dp=0,1344 180 - 200

Índice de Iodo g I2 / 100g 126,812 ± 2,428 120 - 141

Viscosidade mm2/s 27,85 ± 0,003 Não apresenta

Massa Molar Média g/mol 935,5443 dp=0,6989 Não apresenta

Massa específica g/cm3 0,924 ± 0,003 0,916 - 0,922

Umidade % 0,004% ± 0,001 Não apresenta

Valores de Referência: RDC Nº482, de 23/09/1999, da Agência Nacional da Vigilância Sanitária - ANVISA.

Para a análise do óleo de soja foi preparada uma amostra silalizada com

MSTFA (N-Methyl-N-(trimethylsilyl) trifluoroacetamide), para se avaliar o perfil de

monoacilglicerideo (MAG), diacilglicerideo (DAG), triacilglicerídeo (TAG), ácidos

graxos livres e ésteres etílicos. Na Figura 11 é apresentado um cromatograma

da amostra do óleo de soja refinado analisado mostrando esse primeiro perfil de

MAG, DAG, TAG e ácidos graxos livres. Neste cromatograma apresentado, na

faixa entre 18 e 22,5 min tem-se o tempo de retenção de ácidos graxos livres,

entre 25,5 a 27,8 min a faixa de MAG, 28 a 29,8 min a faixa de DAG e entre 30,8

a 33 min a faixa de TAG. Estes tempos de retenção foram obtidos a partir das

análise dos padrões de monomiristina, monopalmitina, monoestearina,

dimiristina, dipalmitina, diestearina, trimiristina, tripalmitina e triestearina

injetados no cromatógrafo individualmente.

Foi realizada uma reação padrão em bancada, pelo método de Hartman

e Lago modificado, para se avaliar o perfil de ésteres etílicos (palmítico,

esteárico, oleico, linoleico e linolênico) desse óleo de soja refinado utilizado nos

ensaios deste trabalho. Na Figura 12, é apresentado o perfil cromatográfico da

mostra de ésteres etílicos obtidos na reação padrão em bancada.

49

Figura 11. Perfil cromatográfico de monoacilglicerideo (MAG), diacilglicerideo (DAG), triacilglicerídeo (TAG) e ácido graxo livre.

50

Figura 12. Perfil dos ésteres do óleo de soja obtidos na reação de Hartman e Lago modificada.

51

4.3 Análise por CG dos ésteres etílicos obtidos

Os ésteres etílicos obtidos nas diferentes condições cinética avaliadas no

presente trabalho, após sua purificação, foram preparados para a cromatografia

gasosa. Pesou-se aproximadamente 5 mg de cada amostra e diluiu-se em 1 mL

de n-heptano. Após sua injeção no CG, o resultado foi obtido a partir das curvas

de calibração. Na Figura 13 é apresentado o perfil cromatográfico obtido para a

reação do ensaio 1 (ver Tabela 4), nos tempos de reação de 2 min. Na Figura 14

é apresentado o perfil cromatográfico da mesma reação, porém para uma

amostra coletada em 60 min de reação.

A partir de uma análise comparativa entre estes dois resultados, observa-

se que em 2 min (Figura 13) tem-se uma quantidade significativa de ésteres,

porém, observa-se também a presença de MAG, DAG e TAG. Em 60 min de

reação, por sua vez, (Figura 14) tem-se um significativo consumo de MAG, DAG

e TAG para ésteres etílicos, uma vez que observa-se um decréscimo no sinal do

detector para esses compostos.

52

Figura 13. Perfil cromatográfico após 2 minutos de reação.

53

Figura 14. Perfil cromatográfico após 60 minutos de reação.

54

Antes de realizar os experimentos do delineamento experimental, foram

realizados três testes no reator com a mesma razão molar (9:1), mesma

temperatura (55 ºC) e mesma concentração de catalisador (0,5%). Afim de

verificar os possíveis desvios na obtenção de ésteres etílicos representada na

Figura 15. Sendo encontrado uma variação de ± 2% para cada alíquota.

Mostrando que existe uma variação desde a produção, obtenção, purificação e

análise cromatográfica dos ésteres, mostrando assim que nas reações do

delineamento poderão existir variações significativas nos valores de teor de

ésteres obtidos.

Figura 15. Comparação cinética para avaliação de possíveis desvios da obtenção de éster etílico.

Na Figura 16 é apresentada uma comparação entre os perfis cinéticos

obtidos para as diferentes reações. Pode ser observado a partir desta figura que

na reação 1 (ver Tabela 4) o primeiro ponto aliquotado de 2 min apresenta um

teor de ésteres totais em torno de 33% (em massa) na amostra e, conforme a

reação avança, cada alíquota retirada e tratada tem o perfil de que a reação

continua gradativamente ocorrendo até alcançar um teor de 89% em ésteres

etílicos. Para a reação 2 (Tabela 4), conforme esperado, devido à influência do

ultrassom, o primeiro ponto retirado de 2 min, apresenta um teor de éster de 49%

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 10 20 30 40 50 60

teo

r d

e é

ste

r (%

)

tempo (min)

Teste 1

Teste 2

Teste 3

55

com um pequeno aumento, até o último ponto de 60 min, em que uma conversão

de 62% em teor de éster foi atingida. Na reação 3, o primeiro ponto a 2 min,

apresentou um teor de éster de 45% e este sem manteve praticamente constante

ao longo da reação (conversão de 49% em teor de éster em 60 min de reação).

Nos tempos de 20, 25 e 30 min houve uma queda no teor de éster obtido de 45%

para 43% mas podendo ser desconsiderado uma queda de obtenção da reação

pois os testes preliminares mostraram que poderiam existir essa variação de ±

2%. Comparando-se as reações 2 e 3, tem-se que para a reação 2 o ultrassom

foi mais efetivo em condições de temperatura ambiente quando comparado com

reação 3 pré-aquecida a 55 ºC (Figura 16). Ambas reações (2 e 3) mostram que

não há a necessidade de se prolongar o tempo de reação uma vez que após 15

min de reação a conversão se mantém praticamente constante.

Figura 16. Comparação entre as cinéticas de diferentes condições reacionais apresentadas na Tabela 4.

Para as reações 4 e 5 foram observadas baixas concentrações de ésteres

produzidos (em torno de 5%) para todo o tempo de reação avaliado. Isso mostra

que a reação não ocorre somente na presença de irradiação de ultrassom e

necessita assim da presença do catalisador, além do ultrassom (Figura 16).

Na Figura 17 são apresentados os dados das cinéticas das reações 6 e

7, apresentadas na Tabela 4. Para a reação 6 a primeira alíquota foi retirada em

20 s de reação. Nesta condição foi obtido um teor de éster de 57 %,

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60

teo

r d

e é

ste

r (%

)

tempo (min)

Reação 1

Reação 2

Reação 3

Reação 4

Reação 5

56

aproximadamente, e para o seu ponto intermediário (8 min) alcançou-se 61% no

teor de ésteres, e se manteve constante em 62,5%. A reação 7 apresentou o

mesmo perfil, porém, o tempo da ação do ultrassom foi menor, devido a maior

vazão volumétrica utilizada (0,8 L.min-1). Para esta condição reacional o primeiro

ponto (20 s) apresentou 49% no teor de éster e alcançou um valor de

aproximadamente 56% ao final de um tempo de reação de 8 min.

A partir dos resultados obtidos, verifica-se que a vazão volumétrica é uma

variável importante neste processo, uma vez que as reações 6 e 7 foram

realizadas com a mesma razão molar (etanol/óleo), percentual de catalisador em

relação a massa de óleo e temperatura. Sendo que quanto maior o tempo de

ação do ultrassom na reação maior o favorecimento na conversão. Ainda, para

o mesmo tempo reacional de 20 s nas diferentes condições reacionais, houve

um aumento na conversão (Figura 17).

Figura 17. Comparação entre as cinéticas para as condições reacionais 6 e 7 do delineamento experimental (Tabela 4).

4.4 Analise do teor de ésteres etílicos por densidade e índice de refração

Após as análises cromatográficas, foram realizados ensaios de densidade

e de índice de refração das amostras de ésteres etílicos obtidos durante a

cinética das diferentes condições reacionais avaliadas. Esta análise foi feita com

o intuito de traçar uma possibilidade para monitoramento do avanço da reação

por meio da medida de densidade das amostras de ésteres etílicos obtidos.

Cavalcante (2010), avaliou a densidade de biodiesel proveniente de diferentes

0

10

20

30

40

50

60

70

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

teo

r d

e é

ste

r (%

)

tempo (min)

Reação 6

Reação 7

57

matérias-primas, uma delas foi uma amostra de éster etílico proveniente de óleo

de soja com 99% de éster em sua composição, e em sua triplicata de teste

obteve o resultado de 0,88051 ± 0,00002 g/cm3. De tal modo foram realizados

os ensaios das reações de 2 a 4 (Tabela 4) para avaliar sua funcionalidade. Os

valores de densidade e de índice de refração das diferentes amostras obtidas

durante as cinéticas nas condições avaliadas são apresentados na Figura 18 e

19, respectivamente.

Para as análises de densidade observa-se que para as reações 4 e 5, as

quais apresentaram baixos teores (concentrações) de ésteres etílicos nas

amostras, o perfil é praticamente idêntico que ao do óleo de soja refinado, com

uma densidade 0,924 g/cm3. Para a reação 3, a qual apresentou teor de ésteres

em torno de 45 a 49%, nota-se uma diminuição nos valores de densidade

medidos; variando entre 0,914 e 0,911 g/cm3. Na reação 2, a qual apresentou

teor de ésteres em torno de 49 a 62%, também observa-se uma diminuição nos

valores de densidade seguindo o curso das reações entre 0,910 e 0,904 g/cm3.

Cabe ressaltar que as amostras reacionais obtidas apresentam valores de

densidade fora da especificação da ANP, que possui limite mínimo de 0,850

g/cm3 e máximo de 0,900 g/cm3. Isso se deve ao fato dos teores de ésteres nas

amostras estarem abaixo do limite mínimo estabelecido para caracterizar a

mistura de ésteres como biodiesel. Para as amostras avaliadas a única

apresenta condições de especificação foi uma amostra com 94% de éster etílico

com 0,900 g/cm3. Porém, pode ser observado que a variação de densidade das

amostras de ésteres obtidas nas diferentes condições reacionais está

diretamente relacionado ao teor de ésteres totais e apresenta alteração seguindo

o curso da reação de transesterificação. Desta forma, a medida desta

propriedade apresenta potencial interesse para o desenvolvimento de

ferramentas de monitoramento de processos em detrimento a necessidade

constate de análise cromatográfica.

58

Figura 18. Gráfico de densidade dos pontos cinéticos das reações 2, 3, 4 e 5, de uma amostra com 94% de éster etílico (biodiesel) e do óleo de soja refinado utilizado neste trabalho.

Assim como para as análises de densidade, os valores do índice de

refração para as amostras obtidas para as reações 4 e 5 (ver Tabela 4)

mantiveram os mesmos valores encontrados para o óleo de soja (1,4760). As

reações 2 e 3 além de apresentarem valores menores do que o do óleo de soja,

devido à reação e conversão em ésteres, observa-se uma variação no perfil do

índice de refração, conforme segue-se o curso da cinética. Para a amostra

analisada no presente trabalho contendo um teor de éster de 94% o índice de

refração medido foi de 1,458.

De uma maneira similar, Santos et al. (2013) produziram ésteres etílicos,

e metílicos do óleo de soja refinado em diferentes tempos de reação e

temperaturas, analisaram por cromatografia a gás, e em seguida também

utilizaram o índice de refração para fazer uma correlação entre avanço da reação

e teor de ésteres nas amostras. Obtiveram um teor de ésteres de 98,2 % (em %

de massa) com um índice de refração de 1,448.

0,895

0,9

0,905

0,91

0,915

0,92

0,925

0,93

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65

den

sid

ad

e (

g/c

m3)

tempo (min)

Reação 2

Reação 3

Reação 4

Reação 5

éster etílico

óleo de soja

59

Figura 19. Gráfico do índice de refração dos pontos cinéticos das reações 2, 3, 4 e 5, mais uma amostra com 94% de éster etílico e do óleo de soja refinado utilizado na pesquisa.

A partir dos resultados obtidos em relação a variação de densidade e de

índice de refração das amostras de ésteres etílicos obtidos no presente trabalho,

observa-se que ambas as propriedades podem ser utilizadas para

monitoramento desta reação. Além de que se mostra uma maneira rápida e

eficaz de se verificar o percentual de conversão e de baixo custo se comparado

a técnica de cromatografia. Oferecendo a possibilidade de desenvolvimento de

sensores virtuais, que estimam propriedades do produto ou condições de

processo usando modelos matemáticos, baseados na análise de propriedades

físico-químicas de fácil e relativa simplicidade de medição de amostras de

ésteres etílicos obtidas a partir de uma reação de transesterificação.

4.6 Considerações gerais

A partir dos resultados obtidos no presente trabalho observa-se que a

sonólise de óleos vegetais mostrou consideráveis ganhos de tempo em relação

à transesterificação alcalina clássica. Os resultados obtidos com os tempos de

reação podem ser explicados pela intensa transferência de massa

1,456

1,458

1,460

1,462

1,464

1,466

1,468

1,470

1,472

1,474

1,476

1,478

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65

índ

ice d

e r

efr

ação

tempo (min)

Reação 2

Reação 3

Reação 4

Reação 5

éster etílico

óleo de soja

60

proporcionada pelas condições únicas geradas através da cavitação sonora.

Este método apresenta-se como uma potencial rota tecnológica para a produção

de biodiesel em reações de transesterificação propiciando condições de

aceleradas cinéticas. Ajustes quanto ao tipo de reator ultrassônico e o regime de

condução do processo, por exemplo, condições de vazão volumétrica e

temperatura, podem fazer da sonólise de óleos vegetais uma excelente

alternativa para produção de biodiesel com gastos energéticos que podem ser

inferiores aos gastos envolvidos com o método tradicional com agitação

mecânica. As técnicas de densidade e índice de refração podem ser empregadas

e substituir a cromatografia no que se refere ao monitoramento da reação, por

se ter uma resposta mais rápida se forem comparadas.

61

CAPÍTULO 5: CONCLUSÕES

No presente trabalho foi verificada a cinética da reação de

transesterificação alcalina assistida por ultrassom para a produção de ésteres

etílicos do óleo de soja, em uma unidade experimental em escala semi-piloto se

utilizando da cromatografia a gás, densidade e índice de refração.

O equipamento utilizado para os experimento se mostrou eficaz na

mistura e no funcionamento, tendo uma operação relativamente simples. Vale

salientar que ele é um reator semi-piloto e necessita de grandes quantidades de

reagentes para sua operação, quando comparado com as demandas para

ensaios de bancada, e algumas alterações podem ser feitas para melhorar seu

desempenho.

A técnica de cromatografia foi satisfatória para quantificar as conversões

em ésteres etílicos, sendo uma técnica capaz de prover informações das mais

variadas concentrações, como mostrado no trabalho de 4% a 94% no teor de

ésteres.

De uma forma geral, os resultados mostraram que a reação é

extremamente rápida quando assistida em ultrassom. Nos instantes inicias (2

min) a reação alcança um alto teor de éster e se mantem constante (em

equilíbrio) até o final dos experimentos realizados. Isto mostra que não há a

necessidade de longos períodos para se obter uma alta concentração. Do ponto

de vista de projeto, isto implica na possibilidade de utilização de menores tempos

de reação e maiores tempos de residência e na construção de reatores com

menores volumes.

As técnicas de densidade e índice de refração mostraram ser

potencialmente satisfatórias para o monitoramento do avanço da reação de

transesterificação do óleo de soja com etanol.

De uma maneira geral, os resultados obtidos neste trabalhos são

importantes para o desenvolvimento de processos alternativos e de alta

eficiência, com a aplicação de sistemas de ultrassom, para a produção de

biodiesel de óleos vegetais, uma vez que informações sobre a cinética da reação

são fundamentais no projeto e otimização deste tipo de processo.

62

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66

ANEXO A

Figura 20. Tempo de retenção do éster etílico do ácido palmítico (C16:0).

67

Figura 21. Tempo de retenção do éster etílico do ácido esteárico (C18:0).

68

Figura 22. Tempo de retenção do éster etílico do ácido oleico (C18:1).

69

Figura 23. Tempo de retenção do éster etílico do ácido linoleico (C18:2).

70

Figura 24. Tempo de retenção do éster etílico do ácido linolênico (C18:3).