mia couto a tribo de contadores de histórias

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1 1 nov 2014 Entrevista Mia Couto: A tribo de contadores de histórias  por Paulo Hebmüller!rasileiros “As pessoas têm no silêncio uma espécie não de ausência, mas de uma presença. Alguma coisa está a ser falada naquele momento. Isso tem a ver com uma forte crença no mundo invisível e de espiritualidade que rodeia os viventes”. – Mia Couto  

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2014

Entrevista Mia Couto: A

tribo de contadores dehistórias por Paulo Hebmüller !rasileiros

“As pessoas têm no silêncio uma espécie não de ausência, mas de uma presença. Algumacoisa está a ser falada naquele momento. Isso tem a ver com uma forte crença no mundo

invisível e de espiritualidade que rodeia os viventes”. – Mia Couto

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m entrevista ! "evista #rasileiros , o escritor moçam$icano Mia Couto fala so$re a %fricaplural e so$re a import&ncia de contar 'ist(rias para os fil'os gerando um espaço produtor dapr(pria 'umanidade.

Brasileiros: Antes de falar do processo de escrita, gostaria de perguntar sobre o seuprocesso de escuta. De que forma o senhor começou a escutar essa oralidade, quedepois transpôs para a pala ra escrita!Mia Couto: )omeçou em casa, quando começa tudo. *avia ali essa tentação de escutar evivia+se em um am$iente de 'ist(rias. eus pais, sendo imigrantes portugueses, eramcontadores de 'ist(rias e sofriam daquele mal da saudade, então tin'am de reinventar o país

que dei-aram. As primeiras grandes viagens que fi foi por meio da escuta dessa narração./am$ém 'avia outra coisa0 eu era o que ficava calado, os meus irmãos falavam. 1igamos queperce$i que 'avia quase uma repartição de funç2es. )a$ia a mim escutar, e isso foi umagrande escola.

Brasileiros: " quando o senhor começou a achar que era hora de transpor essas o#es –tamb$m aquelas para al$m da sua casa – para a escrita!Mia Couto: ssa %frica onde eu vivo é uma sociedade que escuta. As pessoas escutam osoutros e na conversa 'á uma distri$uição de tempos0 o tempo da fala e o tempo da escuta,como se por turnos as pessoas sou$essem o que têm de fa er. Ac'o que 'ouve um momentoem que eu, 3á 3ornalista, fui tentado a escrever as 'ist(rias que escutava. ssas 'ist(riasestavam tão vivas, tin'am tanta força, que pediam que fossem transportadas dessa oralidadepara a escrita. as aí perce$i que a pr(pria escrita tin'a de mudar. Aquela que eu sa$ia erecon'ecia não acomodava essa rique a, essa coloração e, so$retudo, a m4sica, a pros(dia.)omecei a procura de uma escrita que fosse plástica e permitisse essa inundação daoralidade. 5i um primeiro livro 6Vozes Anoitecidas, 789:; 3á muito influenciado por umangolano c'amado <uandino =ieira, que a$riu portas ! oralidade da sua cidade, <uanda, e liuma entrevista em que ele fa ia referência ! influência de >oão ?uimarães "osa em seutra$al'o. ntão, fui ! procura de ?uimarães "osa. @os meus livros seguintes, como Estórias

Abensonhadas 6788 ;, 3á tive esse encontro, que realmente foi importante porque 'avia ali umalegitimação0 é possível fa er isso, é possível dei-ar entrar essas vo es.

Brasileiros: "m um te%to de E se Obama fosse Africano? &ensaios, '())*, o senhor contade um anci+o que lhe di#: A diferença entre n-s n+o est no que falamos. A diferençaest em que eu sei ficar calado em portugu/s e o senhor n+o sabe ficar calado emnenhuma l0ngua1. A sua escuta $ tamb$m desse sil/ncio!Mia Couto: Bim, so$retudo é isso. *á uma aprendi agem que essa sociedade mais rural nosconfere porque na cidade ficamos atrapal'ados quando 'á um silêncio, e é preciso reco$ri+lo.

sse incCmodo, em contraste, não é vivido nessas sociedades. As pessoas têm no silênciouma espécie não de ausência, mas de uma presença. Alguma coisa está a ser falada naquelemomento. Isso tem a ver com uma forte crença no mundo invisível e de espiritualidade querodeia os viventes.

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Brasileiros: Alguns dos seus li ros anteriores, especialmente de contos, t/m sidopublicados recentemente no Brasil. 2 senhor rel/ esses te%tos! " o que reconhece de simesmo neles!Mia Couto: ssa é uma $oa perguntaD m princípio, não releio. u reescrevo tanto que aquilofica quase saturado. 1epois, preciso fa er uma ruptura e, se regresso a esses personagens,eles vão me convocar e nunca mais sair. B( faço isso quando compelido E por e-emplo, por causa de reuni2es em escolas que estão a estudar algum te-to. "eencontro, !s ve es, coisasque me parecem um $ocado ingênuas, adolescentes. *avia aquela tentação inicial de querer di er tudo num livroD Ac'o que 'ouve depois um camin'o de contenção. Ferce$o como um

período em que quis di er certa coisa, quis me confrontar com um certo mundo, e agoraapetece+me fa er outras coisas. Acontece tam$ém que, !s ve es, as pessoas querem me di er

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algo imaginando que eu sou alguém que elas construíram na sua ca$eça. A relação com aescrita fa pro3etar essa imagem do autor. @ão quero usurpar esse territ(rio de respeito queten'o, e as pessoas têm de entender que fi aquilo quando, digamos, era outro.

Brasileiros: 2 senhor disse recentemente que est+o nos contando narrati as do mundoque nos ensinam a ter medo do outro. As manifestaç3es racistas, como as que ocorremnos est dios de futebol, s+o parte dessa dificuldade de ir ao outro e entend/4lo!Mia Couto: Ac'o que sim. G racismo é um fenCmeno difícil de entender porque tem várioscomponentes. *á vários racismos e várias maneiras de ser racista. Hma das coisas quecomplicam a luta contra o racismo é que a pr(pria proposta de saída está viciada, porque sefala em raça como se fosse algo que legitimasse esse conceito e essa ideia e, portanto, setenta provar que uma raça não é inferior e merece tanto respeito como qualquer outra. necessário fa er esse discurso, mas ele consolida certa ideia de raça. @ão é a raça que criou oracismo. o racismo que inventa a raça. Juando 3ogamos todas as nossas cartas nessal(gica, fica complicado. depois 'á um medo0 'o3e as pessoas precisam ter uma tri$o, umaideia de coletividade, de ref4gio e de fortale a. ntão, é muito fácil a pessoa aderir a umdiscurso em que se cria outro, que é um fantasma, uma ameaça responsável pelo seu mal+estar. Be não for o racismo, é outra coisa qualquer. Farado-almente, a invenção desse inimigotorna a pessoa mais segura, porque não é tanto o inimigo que ela quer inventar, mas o seugrupo e aquilo que é o seu parentesco com outros.

Brasileiros: 5uando fe# sua confer/ncia no Fronteiras do Pensamento , "dgar Morindisse que a poesia da ida $ mais importante que a felicidade. 2 senhor concorda! Achaque falta poesia no mundo!Mia Couto: Frovavelmente a felicidade implica sempre uma poesia do mundo. @ão sei oconte-to dessa frase, mas dita assim parece que 'á uma dicotomia entre felicidade e poesia.@ão ve3o outra maneira de reconquistarmos um sentido de felicidade que se3a pleno, que nãová por esse camin'o de nos restituir um ol'ar poético. G ol'ar poético não é alguma coisa queten'a a ver com a poesia escrita ou como gênero literário, mas tem a ver com aceitarmos que

essa linguagem dos son'os é uma linguagem válida, que nos a3uda a ler o mundo.Brasileiros: 2 senhor tamb$m falou nesse encontro em mem-ria e, em muitos li ros, ela$ a base para le ar o leitor a diferentes caminhos. "m Quase Memória , por e%emplo,Carlos 6eitor Con7 di# que a mem-ria $ c8mplice, n+o testemunha. 9ulian Barnes, em O Sentido de um Fim , escre e sobre como editamos espertamente1 nossas mem-rias,embele#ando4as e a ustando4as ao longo do tempo. ;ossa ida n+o $ a nossa ida, masapenas a hist-ria que n-s contamos da nossa ida1, ele escre e. 2 senhor concordacom essas is3es!Mia Couto: uma maneira muito feli de di er aquilo que tentei di er. 1e fato, temos essavisão ilus(ria de que a mem(ria é alguma coisa que fa parte da nature a e, portanto, tem acapacidade de reconstituir uma relação o$3etiva com o passado. @a verdade, semprereescrevemos, selecionamos e reela$oramos esse tempo. @esse sentido, o passado é a coisa

mais recente que e-iste, porque está sendo sempre reatuali ado. A veneração por umamem(ria que fosse capa de tra er de volta um passado fi-o e definitivo tem a ver com a ideialinear do tempo e de que temos de ter certe as do passado, como se, ao não ter essascerte as, não tivéssemos c'ão para construir o presente nem o futuro E o que é um confortomuito desconfortável.

Brasileiros: " que n+o d ch+o nenhum<Mia Couto: @ão dáD Hma coisa de que 3á fu3o são esses reencontros de colegas da escolasecundária, etc. Aquilo é algo tristíssimo, quase uma espécie de vel(rio antecipado de n(spr(prios. )ada um esquece de maneira díspar e, quando se lem$ra, tam$ém se perce$e quecada um produ iu a sua pr(pria mentira. mel'or não ir nunca 6 risos ;.

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Brasileiros: 2 senhor tamb$m mencionou o perigo de entregar a m quinas, comotele is+o, computadores e tablets, a tarefa de contar hist-rias =s crianças. >or que isso $perigoso e como reencontrar o tempo para contar hist-rias!Mia Couto: Ac'o que é perigoso porque esse contar de 'ist(rias não é simplesmente umatransmissão de alguma coisa que 3á está feita. @o momento em que se conta a 'ist(ria aalguém, não 'á ali uma escuta mec&nica, mas sim qualquer coisa que cria, so$retudo, aconstrução de uma relação entre pessoas e, o$viamente, a máquina não pode fa er isso. Aconstrução dessa relação interpessoal e do apetite por ela marca0 é como se a 'ist(riae-istisse s( para criar essa rede, essa capacidade de estarmos 3untos, de escutarmos, de

sermos outros. )laro, 'á um momento em que a máquina pode estar ligada e cumpre a funçãode “anestesiar” a criança, mas falo é da ausência do resto. A máquina passa a ser a e-clusiva

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ligação com a fantasia, e a criança é colocada desde o princípio s( como consumidora de umaimagem que 3á está feita em definitivo e ela pode voltar e ver da mesma maneira mil ve es.

as quando ela pede ao pai, ! mãe ou a alguém que l'e conte a 'ist(ria, ela nunca é repetidacompletamente. *á ali uma recriação, e a criança perce$e que esse momento a torna tam$émcriadora.

Brasileiros: 2utra caracter0stica da sua obra $ a presença dos mortos em meio aos i os – para citar apenas um caso, h a comunicaç+o entre Marianinho e seu a ô em Um RioChamado Tempo uma Casa Chamada Terra , no qual o senhor fala, entre outras coisas,em falecido com dificuldade de transitaç+o, encra ado na fronteira entre os mundos1 eem fantasmas mal morridos1. Como $ essa relaç+o entre i os e mortos nesse mundoque descre e!Mia Couto: uma relação marcada pela ideia de um tempo circular, em que os mortos nãoc'egam nunca a morrer. as ac'o que em nen'uma cultura e em nen'uma religião os mortosmorrem completamente, portanto isso não é uma coisa e-clusiva da %frica. Frovavelmente, adiferença da cosmogonia africana é que esses mortos não s( não morrem como estãopresentes no comando da vida e no comando do mundo. ssa relação nem sequer é mediadapor uma força divina ou outra, porque esses mortos são os pr(prios deuses. ntão, não temosde usar um discurso codificado ou uma re a para enviar uma mensagem para um rosto ou umaentidade que não con'ecemos. )onversa+se com os mortos, ou se3a, conversa+se com osdeuses. Juando se fala do lugar da escrita dos africanos e se compara automaticamente comos latino+americanos nos termos do “realismo mágico” E não gosto muito dessa classificação E,a diferença é referida so$retudo em relação ao lugar dos mortos. @a América <atina, o discursoé muito cat(lico E revisitado, reconstruído, etc. E, mas na %frica não é tanto isso.

Brasileiros: "m relaç+o = dimens+o do sagrado, do di ino e do religioso, tamb$m muitopresente na sua obra, o senhor se define como ateu n+o praticante1. Como se apro%imadessa dimens+o!Mia Couto: um percurso que estou a fa er interiormente. eu pai era ateu e min'a mãe,

cat(lica muito pouco praticante. u militei na causa mar-ista, portanto com fundamento nomaterialismo 'ist(rico e dialético E uma filosofia que não dava espaço a esse tipo de crença.as perce$i que teria de estar disponível e a$erto a fa er essa viagem e não ter uma relação

de arrog&ncia em que na partida 3á sa$eria o que estava ou não do lado do não visível.Fortanto, me defino um ateu não praticante do ponto de vista de que não parto com o 3uí o feitopara as coisas. stou disponível e gosto de fa er essa viagem, mas não é que ten'a crençanum ou noutro lado. Apetece+me ter crenças que são imediatas e que me a3udam a cumprir certo momento.

Brasileiros: ? uma esp$cie de ponte para o entendimento daquele conte%to!Mia Couto: uma espécie de nomadismo religioso em que monto uma tenda, se3a no deserto,se3a no meio do oceano.

Brasileiros: @eligiosidade e outros traços culturais e hist-ricos apro%imam nossospa0ses, mas a relaç+o entre Brasil e frica tradicionalmente n+o $ de pro%imidade. "ssadist ncia, especialmente em relaç+o aos pa0ses africanos de l0ngua portuguesa, estdiminuindo!Mia Couto: 1o setor que mais con'eço, o das trocas literárias, o #rasil 'o3e está muito maisa$erto a rece$er e pu$licar autores africanos. "ecordo+me que 'á uns KL anos nem sequer sepensava em pu$licar aqui um livro moçam$icano. Fortanto, isso mudou. as a recíproca não éverdadeira. Gs países africanos não con'ecem quase nada do que está a acontecer na escritaliterária do #rasil, e Fortugal descon'ece tam$ém quase completamente. Ac'o que a ra ãopara isso tem a ver com a din&mica das editoras. sse assunto foi entregue ao mercado, e osgovernos praticamente desistiram de ter algum papel. )omo a din&mica do mercado no #rasil émuito maior do que em qualquer país de língua portuguesa, o$viamente os $rasileiroscon'ecem mais o que se fa do outro lado.

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Brasileiros: "ntre as suas identidades est a de bi-logo, e o senhor classificou abiologia como uma indisciplina cient0fica1. Como essa identidade entra em sualiteratura!Mia Couto: 1e uma forma que é a$solutamente vital. stá onipresente aquilo que a $iologiame entrega como uma linguagem e uma maneira de escutar. A $iologia prolongou esse apetiteque ten'o de escutar o mundo e de perce$er que 'á ali vo es que tin'am sido anuladas por certa visão antropocêntrica de que somos n(s os 4nicos que temos alguma coisa a di er. Amaneira como a$racei a $iologia foi nessa procura de perce$er linguagens e aprender c(digos.*o3e, sem ser de uma maneira metaf(rica, escuto a árvore, a planta, o $ic'o, porque de fatotodas essas entidades querem di er qualquer coisa além, não éM por isso assumem cores ec'eiros e diferenças de forma que me agrada muito escutar.

Brasileiros: udo isso tem uma presença fort0ssima no seu romance A Confiss!o da"eoa .Mia Couto: Bim, até o ponto limite de se perce$er que a diferença de identidade entre n(s eessas outras criaturas é mais tênue do que se pode pensar.

Brasileiros: A literatura pode ser uma ponte para nos a udar a refa#er esses encontrostamb$m do ponto de ista da nature#a!Mia Couto: Bem d4vida. Assim como a $iologia, porque é tam$ém uma narrativa que tem feitodesco$ertas que deviam ser mais con'ecidas nessa educação para nos a3udar a descentrar+nos de n(s pr(prios. For e-emplo, as recentes desco$ertas genéticas que mostram o quantotemos de não 'umano, o quanto de nosso material genético não é e-atamente 'umano, oquanto da nossa composição celular e da constituição física devemos a outros que estãodentro de n(s, e que não são tão outros assim, porque, se os tirássemos, morreríamos emsegundosD 1i emos que essas $actérias e esse mundo de micro+organismos são meros'ospedeiros que estão dentro de n(s. as perce$ermos que eles não são simplesmente'ospedeiros, são de tal maneira sim$i(ticos que n(s somos eles, é uma espécie de cam$al'otae de reviravolta do ponto de vista quase filos(fico na maneira que apreendemos o mundo. Isso

é alguma coisa que fa muito $em a qualquer racista 6risos

;.Brasileiros: ;os a udaria a ser mais humildes, pelo menos<Mia Couto: Bim, é uma aprendi agem de 'umildade. G discurso mais verde e mais ecologistaaponta para a responsa$ilidade do 'omem como grande espécie condutora de tudo isso.Forém, 'á qualquer coisa que é mais radical que isso0 perce$er que s( reencontraremos essepapel se vermos que somos apenas uma parte.

Brasileiros: >or que a escolha por esse caminho chamado literatura!Mia Couto: @ão escol'i a literatura, escol'i a escrita, que é provavelmente outra coisa. Aconstrução que fi eram da escrita me parece que a complicou muito, a intelectuali ou econstruiu um edifício com vários andares e 'ierarquias. Juando começamos a escrever e aquerer usar a escrita do ponto de vista criativo, estamos muito longe da escol'a dessa grandeconstrução e dessa grande estrutura que é a literatura. u sou salvo por ser várias coisas, esempre que ten'o de enfrentar “a” literatura, que depois se manifesta nessas coisas muitosolenes dos congressos e das conferências, pu-o logo o c'apéu de $i(logoD sse universome apra , mas na maior parte das ve es é uma grande c'atice. stão ali os grandesestudiosos, os fil(sofos, os pr(prios escritores que, algumas ve es, dão demasiada import&nciaa si mesmos e !quilo que fa em, e estou sempre a pensar qual o momento que ten'o paraescapar 6risos ;. sse discurso parece uma arrog&ncia disfarçada de 'umildade, mas naverdade não sinto que pertenço a essa construção. Bou mais de uma pequena tri$o que é ados contadores de 'ist(rias, e podem fa er isso mesmo sem usarem da escrita.