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    Meus Primeiros Contos

    Antologia de Constistas Brasileiros

    Leo Cunha; Hebe Coimbra; João Guimarães Rosa;

    Luiz Raul Machado;

    Machado de Assis; Sl!ia "rtho# 

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    Sumário Geral

    O Sabiá e a Girafa

    Leo Cunha

    Num Pacato Vilarejo...

    Hebe Coimbra

    Fita Verde no Cabelo: Nova Velha !t"ria

    #o$o Guimar$e! %o!a

    Chifre em Cabe&a de Cavalo

    Lui' %aul (achado

    )m *+"lo,o

    (achado de *!!i!

    -oido: /O (on!trinho 0ue 1ebia Col2rio3

    S4lvia Orthof

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    O Sabiá e a Girafa

    Leo Cunha

    Leo Cunha na!ceu em 56778 na cidade de 1ocaiva8 em (ina! Gerai! e

    formou9!e em #ornali!mo e Publicidade +ela P)C de 1elo Hori'onte. m 5668

    recebeu com ;O Sabiá e a Girafa< o! +r=mio! 1ienal Ne!tl>8 #abuti e Of>lia Fonte! ?

    O melhor +ara a crian&a ?8 da Funda&$o Nacional do Livro @nfantil e #uvenil. *l>m de

    e!crever vário! outro! livro! de conto! e +oe!ia! /muito! tamb>m +remiado!38 ele >

    tradutor e redator +ublicitário.

    O Sabiá

    Sabia 0ue o !abiá !abia a!!obiarA Bi'ia o meu av. Sabia 0ue o !abiá !abia

    avoarA *voa8 v8 avoa. de ave ele entendia.

    (a! o !abiá da minha hi!t"ria n$o !abia avoar. *!!obiar ele !abia. (a!8 0ue

    mai! bate!!e a! a!a!8 o !abiá n$o !ubia.

     *voa8 !8 avoaD O +obre n$o decolava. Pulava lá do ,alho8 aterri'ava na

    bacia.

    N$o de!i!tia o !abiá. Saltava8 ca2a8 +ulava8 ca2a8 tentava8 ca2a. Sabiá nabacia. E toa8 !8 toa. odo mundo at> ria8 ma! no fundo já !abia: o !abiá n$o !abia

    avoar.

    Vivia a a!!obiar !eu a+etite: comer o ar8 caber no ar.

    Pa!!ar +or cima da! ca!a!8 da! rua!8 da! ,ente!8 do medo.

    Pa!!ar de +a!!arinho8 +a!!ear deva,arinho8 !em +ra onde nem caminho. E

    toa8 toa8 a e!mo. S" 0ueria me!mo avoar.

    Sonho! tamb>m havia. *!a! arranhando a barri,a da! nuven!8 vo!

    atrave!!ando a manh$ va'ia. (a!8 entre a! tra+a&a! da bri!a8 o !abiá n$o !a2a. *!!obiava 0ue eu nem te conto. *nte!8 o canto de tenor8 a cor na noite

    e!cura. Be+oi!8 o canto de temor8 a dor da falta de altura. Cantava 0ue eu nem te

    canto8 o !abiá de!encantado.

    Bia! de !onho! ra!ante!8 noite! de !ono arra!ado. (a! ele8 re!!abiado8

    teimava em a!!obiar. Borremifava macio8 no ,alho ou na bacia8 o de!ejo de avoar.

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    )m dia8 o !abiá di'ia8 um dia eu con!i,o avoar.

     * Girafa

    Girafa o meu av n$o conheceu. Nunca teve o +ra'er8 n$o foi a+re!entado.

    (a! o velho deitado di'ia: filho de +eie8 +eiinho >.

    @!!o vale +ra outro! bicho!. Girafa tamb>m > !em+re i,ual.

    Nada fala8 tudo e!+ia. Sem um +io8 !em um fio de vo'. S" em ri!o e

    +en!amento8 ironi'a o mundo no andar de baio.

    (a! a ,irafa da minha hi!t"ria era muito diferente. * muda 0ueria mudar.

    N$o o mundo8 ma! a vida. Iueria en,anar o !il=ncio 0ue lhe e!,anava a ,ar,anta.

    Iueria encolher a dor de n$o e!colher a! +alavra!. Iueria de!emudecer.

    n$o ba!tava !oltar uma! +alavra! no vento. amb>m !onhava em cantar.

    Sonhava encantar o dia8 molhar a! tarde! de +oe!ia8 melar o canto da noite com

    doce! melodia!.

    Pre!tava aten&$o no trov$o8 no tem+oral8 na ventania.

    entava imitar o a'ul$o8 o rouinol8 a cotovia. (a! a vo' n$o derramava.

    nt$o reclamava baiinho: +ara 0ue tanta altitude8 +ra cantar !" +a!!arinhoA

     * ,irafa andava injuriada. *ndava toda a cidade8 do alto do! !eu! andare!8

    adorando a +ai!a,em. (a! ficava na !audade o canto de homena,em.

    )m dia8 jurava a ,irafa8 um dia eu con!i,o cantar.

    O Sabiá e a Girafa

    O encontro !e deu +or aca!o8 +or aca!o o deu! do! encontro!.

    O !abiá re!olveu chorar no alto de um +> de caju. * ,irafa !e lamentava no

    baio da0uele +>. )ma árvore muito e!0ui!ita8 ma! de!,o!to n$o !e di!cute.

    !tavam o! doi! ali. O! doi! no me!mo +>. la vendo o 0ue n$o cantava.

    le cantando o 0ue n$o conhecia. le 0ueria !altar na! altura!. la !onhava a!!altar

    +artitura!.

    a du+la melancolia ? ou foi a tal nature'aA ? tratou de cru'ar o!

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    caminho!. * !abedoria do vento mandou o !abiá +ro e!+a&o. Pra ver !e ele avoava.

    Pra ver !e acertava o com+a!!o8 o !abiá avoado.

    (a! ele caiu de cabe&a na cabe&a da ,irafa. Sil=ncio. Sabiá a!!u!tado.

    Contudo8 de+oi! do !u!to8 o coitado ,o!tou do 0ue viu. Cada +a!!o da ,irafa

    +a!!eava ele no c>u. Cada ,irada do +e!co&o8 um hori'onte de!coberto. ele

    recome&ou a cantar.

     * ,irafa ficou fa!cinada. *0uela vo' afinada !oltou !ua cara amarrada.

    Be!fe' a careta enfe'ada. Ofereceu ent$o moradia ao dono de tal melodia8 de canto

    t$o doce e terno. o canto do !abiá virou o !eu canto eterno.

    O !abiá ficou morando na cabe&a da ,irafa. * ,irafa8 namorando o canto do

    com+anheiro.

    (inha hi!t"ria acaba a0ui. (a! a do! doi! continua8 !em +lat>ia nem jui'8

    de+oi! do final feli'.

    Num Pacato Vilarejo...

    Hebe Coimbra

    Hebe Coimbra na!ceu em Porto *le,re8 em 56J. (ora no %io de #aneiro

    onde trabalha como +rofe!!ora de +ortu,u=! e revi!ora. !!e teto8 em ver!o!

    rimado!8 tem muito humor e > con!iderado *ltamente %ecomendável +ela FNL@#.

    Num +acato vilarejo

    +elo 0ual +a!!ava um rio

    vivia9!e o dia9a9dia

    na maior !en!aboria.

    Nenhum fato !in,ular 

    nenhum feito notável

    nada de e!+etacular.

    udo8 tudo8 !em+re i,ual

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    ou8 !en$o8 bem +arecido.

    Pra 0uebrar a in!i+ide'

    lá em 0uando8 0uando em ve'

    um evento diferente

    reunia toda ,ente.

    No! ca!o! de morte

    ou na!cimento

    bati'ado8 aniver!ário

    ou ca!amento.

     *manhecia.

    todo! de!+erto!8 e!+erto!

    li,ado!8 de +>.

    leite8 mantei,a8 +$o e caf>.

    !a2am.

    a,iam.

     *lmo&avam.

     *! obri,a&Ke! toda! em dia.

     *noitecia.

    #antavam.

     *+a,avam a! lu'e!

    de!li,ando mai! um dia...

    Prolon,ar mai! +ra 0u=A

    =9lo! com+rido! como um ba!!=A

    +reench=9lo! com o 0u=A

    O! a!!unto!

    batido! e rebatido!.

    !ca!!o!.

    O +alavreado di!+er!o

    e!+ar!o:

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    bom9dia

    chuva ,ro!!a

    chuva +ouca

    an'ol

    vento frio

    boa noite

    +a+el of2cio

    tomate

    +eie

    e!tio...

     * vida um do! outro!

    e a do! outro! +or cada um

    mai! 0ue !abida.

    Be trá! +ra frente

    de todo! o! lado!.

    Cada fato conhecido

    de cor e !alteado

    do +rinc2+io at> o fim.

    Betalhe!8 mincia!

    tintim +or tintim...

    O +re!ente e o futuro

    !em maiore! atribula&Ke!.

    Pronto!. Beterminado!.

    Nada a !er 0ue!tionado.

    Be!de o ventre já !e vinha

    com o de!tino tra&ado.

    O filho do barbeiro

    barbeiro !eria.

    O filho de *!tolfo

    !eria marido

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    da filha de Lia.

    a!!im lá !e iam

    na uniformidade o! dia!.

    Sem ,rande ale,ria

    nem +lural melancolia.

    Num ramerr$o t$o 0u$o

    e!ta rima em ia.

    N$o eram feli'e!.

    Nem tam+ouco infeli'e!.

    ram !omente

    +e!!oa! de!contente!

    +or>m conveniente!

    0ue moravam num vilarejo

    +elo 0ual +a!!ava um rio

    onde a vida !em !ur+re!a!

    tran!corria...

    (a!8 di'em

    n$o !e !abe !e > lenda

    !e > fato

    ou !e de fato > lenda

    a+areceu...

    Na madru,ada.

    m !il=ncio.

    N$o !e +ode +reci!ar a 0ue hora!.

    Com eatid$o !u2&a

    n$o !e +ode di'er nada a re!+eito.

    Por0ue recolhido! no! !eu! leito!

    todo! do vilarejo dormiam.

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    ceto (anuel

    o dono do arma'>m

    0ue +or e!!a! ca!ualidade!

    0ue de raro aconteciam

    n$o !e !entiu muito bem

    teve uma dor de barri,a

    0ue o obri,a a levantar9!e.

    ent$o olha +ra fora

    e!tá e!curo8 > 0ua!e aurora

    e v=...

    Ou n$o v=A

    N$o acreditou no 0ue viuA

    Ou n$o viuA

    SonhavaA

    Ou e!tava acordadoA

    N$o era muito im+ortante.

    Ou eraA

    ViuA

    Ou n$o viuA

     *co!tumado como e!tava

    a ter !ono corrido

    e a viver !em novidade

    (anuel ficou dividido

    entre o cmodo e a ori,inalidade.

    Fe' um e!for&o danado.

    Iueria manter o! olho! aberto!

    ma! tinha o !ono +e!ado.

    entava +re!tar aten&$o

    ma! o !ono u!ava truca,em.

     *h8 n$o viu nada n$o.

    Pura alucina&$o.

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    (ira,em.

    1u!cou re!i!tir.

    N$o con!e,uiu.

    Voltou +ra cama e dormiu.

    na manh$ !e,uinte

    +or maior o !eu em+enho

    !acudindo a cabe&a

    enru,ando o !obrecenho

    +ra refre!car a! id>ia!

    afa!tar o! +en!amento!

    lhe vinha a lembran&a

    da0uele momento.

    Bo 0ue viu na madru,ada.

    Ou !erá 0ue n$o viu nadaA

    (a! todo e!for&o toa.

    nt$o foi trabalhar numa boa.

    1em... nem t$o numa boa a!!im...

    Foi meio 0ue conjeturando

    foi meio 0ue duvidando...

    Be!!e in!tante em diante

    muita coi!a aconteceu.

    Gra&a! a (anuel

    0ue8 de!!e modo8 delirante

    muito! erro! cometeu.

    (anuel abriu o arma'>m

    e lo,o che,ou Serafina.

    Filha de #o!efina

    neta de *mbro!ina

    bi!neta e etc>tera

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    de outra! ina!.

    Fam2lia de doceira!

    de mulhere! trabalhadeira!.

    Famo!a! +or !ua! torta!

    !aboro!a!.

    (ai! ou meno!...

    No vilarejo

    nin,u>m fa'ia coi!a! e!tu+enda!

    ou maravilho!a!.

    ? Pra fa'er o! meu! doce!

    0uero farinha8 leite8 ovo!

    mantei,a8 cravo e canela

    e +ra meer a! +anela!

    0uero uma colher de +au8

    foi Serafina falando.

    (anuel meio 0ue e!touvando

    +en!ando !e viu ou n$o viu

    ao inv>! de colher de +au

     juntou ao! in,rediente!

    meio 0uilo de bacalhau.

    Serafina !e de!+ediu.

    Pe,ou o embrulho e !aiu.

    Nem !u!+eitou de um en,ano.

    No vilarejo

    nada !a2a do! +lano!.

     *l,um tem+o de+oi!

    fa'endo cara! e boca!

    com +o!e de ,ente de bem

    foi Bona (ercede!

    adentrando no arma'>m.

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    Senhora fina8 rica e chi0ue

    ma! cheia de tric9tric.

    1om... nem muito cheia.

    No vilarejo

    nada era atulhado

    re+leto ou abarrotado.

    como !eu! ante+a!!ado!

    Bona (ercede!

    tinha boa criada,em.

    n$o tinha o 0ue fa'er 

    al>m de inventar boba,em.

    nt$o8 criava mania

    como !eu! ance!trai! fa'iam.

    ra +2!!ica +or lim+e'a.

     * !ua ca!a brilhava8 tinia.

    )ma bele'a.

    m+inando todo o cor+o

    e mai! ainda o nari'

    Bona (ercede! foi +edindo

    com modo! de im+eratri':

    ? Beter,ente8 cera8 álcool

    de!infetante8 "leo de +eroba8

    anil

    !ab$o em +"8 !ab$o em +edra

    e bombril.

    +ediu8 em+avonada

    vário! ;!+ra4!< do contra

    nenhum a favor de nada.

    ;S+ra4< contra ferru,em

    contra odor 

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    contra +ul,a8 tra&a e bolor.

    8 finalmente8 +ediu

    ;!+ra4< contra barata.

     *o 0ue (anuel caraminholando

    !erá 0ue viu8 0ue n$o viu

    entendeu O Bemocrata.

    Sem de!+edida!

    Bona (ercede! vai9!e embora.

    já do lado de fora

    a (anuel recomenda:

    ? #arba!8 meu motori!ta8

    virá bu!car a encomenda.

    a!!im8 meditabundo

    caraminholando8 co,itabundo

    !erá 0ue vi ou n$o vi

    (anuel +a!!ou o dia

    a atender a fre,ue!ia.

    foram tanto! !eu! feito!

    0ue n$o dá +ra contar todo!.

    (a! houve mai! ca!o! notávei!.

    !!e!8 de contar 

    indi!+en!ávei!.

    Foi o ca!o de 1elinda

    menina novinha ainda

    e já em v>!+era de ca!amento

    +or0ue tinha no +en!amento

    0ue n$o !e +ode viver !".

    @d>ia 0ue na !ua fam2lia

    +a!!ava de m$e +ra filha

    de!de !ua tatatatatarav".

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    Com 0uem tamb>m !e a+rendia

    0ue a +alavra ale,ria

    e a +alavra e!+eran&a

    !i,nificavam matrimnio

    alian&a.

    1elinda

    com maneira! mei,uinha!

    o den,o!o da! noivinha!

    e a0uele olhar a+aionado

    /bem... nem tanto a!!im...

    no vilarejo

    nada era ardente

    ou arrebatado...3

    fe' !eu +edido de !em+re.

    odo m=! era i,ual.

    )ma +e&a +ro enoval.

    ? (anuel8

    0uero uma cami!ola floridaD

     *o 0ue (anuel ci!marento

    voando no +en!amento

    !erá 0ue vi ou n$o viA

    com+reendeu uma bola colorida.

    Iue colocou numa caia

    com um la&o de fita amarela.

    1elinda a,radeceu

    e correu +ro !eu chá9de9+anela.

    Outro fato intere!!ante

    deu9!e com *ta2de

    da fam2lia *maral.

    Como !eu! contem+orMneo!

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    e todo! !eu! ante+a!!ado!

    era um intelectual.

    Profe!!or do vilarejo

    lecionava +ortu,u=!

    latim8 hi!t"ria e franc=!.

    )m mo&o !i!udo

    ma! n$o muito carrancudo

    +or0ue no vilarejo

    nin,u>m era trombudo a!!im...

    ? (anuel8 v= +ra mim

    um dicionário de latim.

    (anuel meditando

    vacilando

    entre o vi e o n$o vi

    entre,a9lhe um +acote

    com uma ,arrafa de ,im.

     *ta2de n$o re+ara.

    N$o > hábito conferir.

    O +acote nem encara

    +oi! tem +re!!a de !air.

    Be+oi! de *ta2de *maral

    houve o ca!o do %aimundo.

    O 0ue vivia num outro mundo.

    N$o. Nem t$o noutro a!!im...

    No vilarejo

    nin,u>m era de!vairado

    etrava,ante ou alucinado.

    %aimundo era um louco con!tante.

    S" um +ouco da realidade

    di!tante.

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    )m louco conveniente.

    (an!o. Becente.

    Bi'ia e!0ui!itice! mera!.

    Pe0uena! !andice!8 0uimera!.

    nunca alterava a vo'.

    Falava baiinho

    como !eu! +ai! e av"!.

    %aimundo8 ao! cochicho!

    como !e e!tive!!e com medo

    olhando de rabicho

    +ede a (anuel em !e,redo:

    ? u 0uero um raio de !ol.

    (anuel ruminando

    !erá 0ue vi ou n$o vi

    entre,a9lhe8 +rontamente8

    um urinol.

    Iue %aimundo +e,ou e!+antado

    com muito cuidado

    e de+re!!a !e e!cafedeu.

    Pela +rimeira ve' atendiam

    a um !u!!urrado +edido !eu.

    (anuel nem !e dá conta

    da !itua&$o 0ue ele a+ronta.

    Pen!ando !e viu ou n$o viu

    t$o alheio8 di!tra2do

    nem v= 0ue o vilarejo

    > inteiro !acudido.

    Parece 0ue n$o foi nada.

    Sim+le! ca!o! de troca.

     *h8 0ue coi!a mai! boboca...

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    (a! no +acato vilarejo

    (anuel ficou na hi!t"ria

    cau!ou mudan&a! not"ria!

    0ue !" ele me!mo n$o viu...

    Come&ou +or Serafina

    frente 0uele bacalhau

    ,ritou tanto8 fe' e!cMndalo

    acabou +a!!ando mal.

    Pen!ou ir ao arma'>m

    fa'er troca do embrulho

    ma! ficou abatumada

    de+oi! do muito barulho.

    de tanto !a+atear 

    +erdeu a! for&a!8 coitada

    a cora,em de voltar.

    Chorava +reocu+ada:

    ? Vou trair a tradi&$o.

    O 0ue fariam a! outra! ina!

    ne!!a me!ma !itua&$oA

    (a! como e!tava na hora

    da fre,ue!ia ir che,ando

    Serafina foi +ra co'inha

    +ro bacalhau !e entre,ando.

    O! bolinho! foram +ouco!.

    Go!to bom. Hum... coi!a de

    louco.

    Foi um tal de re+etir 

    todo mundo 0ue um +rovava

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    ia mai! outro +edir.

    a!!im de boca em boca

    o! !al,ado! de Serafina

    foram lo,o con!a,rado!

    coi!a boa8 muito fina.

    ent$o o 0ue !e viu

    foi uma baita confu!$o:

    dona9de9ca!a virando +a!!i!ta

    barbeiro virando denti!ta

    eecutivo virando arte!$o.

    @mitando Serafina

    0ue mudou de +rofi!!$o.

    ntre doce! e !al,ado!

    !al,ado! +a!!ou a fa'er.

    !0ueceu da tradi&$o

    o+tou +elo +ra'er.

    Be+oi! foi Bona (ercede!

    +ela troca afetada.

    Viu o livro O Bemocrata

    ficou brava8 enfe'ada.

    (ai! 0ue i!!o. Furibunda.

    Criou tanta confu!$o...

    @ma,ine a barafunda.

    !0ueceu9!e da ele,Mncia

    e !ua +o!e foi a +i0ue.

    eve ata0ue8 de!maio

    e!+erneou e deu chili0ue.

    Pra co'inha foi Binalva

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    19/70

    +ro banheiro foi #o$o

    +ra de!+en!a foi *ntnia

    eram todo! em+re,ado!

    +rocura da amnia.

    foi tanta a,ita&$o

    0ue noite teve in!nia.

    nt$o fa'er o 0u=A

    Lim+e'a ao anoitecerA

     *briu o livro e +!9!e a ler...

    Iuanta! id>ia!D Nova! 0ue!tKe!D

    m cada +á,ina8 um cho0ue.

    Havia mundo maior 

    0ue deter,ente em e!to0ueD

    nunca mai! +arou de ler.

    eve !ede de !aber.

    Or,ani'ou !im+"!io!

    debate!8 con,re!!o!.

    Bona (ercede! !e e+re!!ando

    era mai! 0ue um !uce!!o.

    ent$o o 0ue !e viu

    foi um imen!o blábláblá.

    Bona (ercede!

    e!+alhou !ua cultura

    mat>ria! lan&ou em fartura

    +ol2tica8 economia

    e!+orte8 dan&a8 ma,ia

    io,a e filo!ofia

    e foi um tal de conver!ar.

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    20/70

    O! a!!unto! eram tanto!

    nem dava +ra boca fechar...

    1elinda

    no dia !e,uinte

    arrumava !ua ba,a,em

    +oi! a+"! o ca!amento

    !e,uiria em via,em

    e!treando !obrenome

    ve!tido8 !a+ato e anel.

    @ria em lua9de9mel.

     *briu ent$o a caia

    !oltando o la&o de fita.

    Be dentro +ulou uma bola

    colorida8 leve8 bonita.

    1elinda8 em e!+anto

    !e,ue a bola com o olhar.

    oca nela com o +ole,ar.

    Iuica e rola ent$o a bola.

    1elinda vai deva,ar.

    oca nela outra ve'.

     * bola !alta com ra+ide'.

    1elinda corre

    e alcan&a a bola no ar.

    Lon,e do +en!amento

    vai ficando o ca!amento

    !" +en!ando em brincar.

    Pa!!ava da hora marcada

    o noivo já e!tava a e!+erar 

    en0uanto 1elinda jo,ava

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    21/70

    e nem ao meno! ouvia

    o! ,rito! do +ai8 da m$e e da

    tia:

    ? *nda8 " a hora8 1elindaD

    S" !abia 0ue eram linda!

    a! core! !e mi!turando

    da0uela bola +ulando

    e ela8 menina8 brincando...

    ent$o o 0ue !e viu

    foi um renovar de e!+eran&a!.

    @ndo atrá! de 1elinda

    mo&o!8 velho! e crian&a!

    viam 0ue a bele'a

    do +re!ente e futuro

    era !er uma caia de !ur+re!a...

     *ta2de *maral

    ia +ra e!cola +en!ando:

    como +odem o! aluno!

    acharem intil o latimA

    anto e!for&o8 tanto e!tudo

    +ra duvidarem a!!im...

    Iuem !abe +alavra! nova!

    encanta!!e a ,uri'adaA

    alve' uma +alavra en,ra&ada...

    (a! !erá 0ue em latim temA

    %e!olveu fa'er con!ulta

    +rocurar vocabulário.

    Ver !eu! aluno! dormindo

    fa'ia !entir9!e um otário.

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    22/70

    n$o deu outra.

    %ecorreu ao dicionário.

    Foi ent$o 0ue deu mil urro!:

    ? @!!o n$o > o +ai9do!9

     9burro!DDD

    Gritou tanto8 tanto8 tanto

    0ue !ua boca !ecou.

     *briu a ,arrafa de ,im.

    Beu um ,ole8 n$o molhou.

    Beu um outro8 melhorou.

    (ai! outro8 mai! outro8 mai!

    outro

    a2 !im8 aliviou...

    Che,ou na e!cola cantando.

    No in2cio muito mal.

    (a! 0ue +lat>ia a!!anhadaD

    Bava for&a a meninada:

    ? Iue li&$o ,enialD

    ? Le,alD

     *o! +ouco! foi mu!icando

    criando letra!8 inventando.

    $o ,rande !abedoria

    a favor da +oe!ia

    em t$o linda! can&Ke!.

     *h8 *ta2de atin,iu cora&Ke!...

    ent$o o 0ue !e viu

    no com+a!!o de *ta2de

    foi 0ue a! noite! tinham vida.

    Podiam !er bem divertida!.

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    23/70

     *o !om do ;roc de madru,ada...

    No %aimundo

    0ue coi!a e!tranha

    foi o efeito da troca.

    Pulava mai! 0ue +i+oca

    +ra com+reender o urinol:

    ? (eu Beu!8 0ue objeto

    e!0ui!itoD

    N$o > uma vaca nem > +irulito.

    )m urubu ou um !aofoneA

    Ora8 !e eu nada e!cuto

    n$o > ,ramofone.

    N$o > avi$o.

    Será bicho9+a+$oA

    Ou !erá bicho9+re,ui&aA

    Nem > verru,a8 ou lin,i&a.

    n,ra&ado... N$o > l20uido.

    N$o > amarelo. N$o > ,a!o!o.

    (aterial forte. Podero!o.

    tem al&a. Será +eri,o!oA

    (a! > t$o !ilencio!o...

    em um to0ue ,elado.

    0ue branco mai! leito!oD

    !!a n$o8 0ue ,o'ado...

    N$o tem lu' nem > caloro!o.

    nt$o n$o > raio de !olD

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    24/70

    tanto e!for&o fe' com a mente

    0ue concluiu: ? urinolD

     *dorou raciocinar.

    Go!tou tanto8 tanto8 tanto

    0ue 0ui! tudo clarear.

    come&ou com a +er,unta:

    ? Como obter a! re!+o!ta!

    !e a! coi!a! n$o 0ue!tionarA

    ent$o o 0ue !e viu

    +elo +ri!ma de %aimundo

    foi nova vi!$o do mundo

    mai! am+la8 bem maior.

    @d>ia!8 +ra !e aceitar 

    !" de+oi! de +er,untar:

    ? OndeA

    ? ComoA

    ? Por 0u=A

    ? IuandoA

    ? Ora8 +ra 0u=A

    Foi i!!o o 0ue !e viu

    no +acato vilarejo.

     *liá!8 +acato8 n$o.

    Vilarejo8 tamb>m n$o.

    O 0ue era vilarejo

    > uma cidade bem ,rande

    com imen!a! avenida!

    rua! lar,a! e e!treita!

    vai9em9frente e contra9m$o

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    25/70

    ind!tria8 fuma&a8 edif2cio

    carro8 nibu! e caminh$o.

    cidade com ,overno

    tem +refeito8 vereador 

    e em fam2lia de en,enheiro!

    +ode !ur,ir um ator.

    cada um tem o direito

    de e!colher !eu amor...

    como em todo lu,ar 

    tem tamb>m uma +ra&a.

    Florida8 cuidada

    uma ,ra&a

    0ue chamaram de (anuel.

    (a! o her"i da cidade

    n$o toma conhecimento

    n$o teve a felicidade

    de ver o acontecimento.

     *nda meio alucinado.

    Ou melhor8 bem de!vairado

    +o+ular ruim da bola.

     *t> hoje !" rumina

    matuta

    caraminhola

    vi ou n$o viA...

    Fita Verde no Cabelo

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    26/70

    Nova Velha !t"ria

    #o$o Guimar$e! %o!a

    Guimar$e! %o!a na!ceu em Cordi!bur,o8 (ina! Gerai!8 em 56QJ8 e faleceu

    no %io de #aneiro em 567R. Foi di+lomata e e!critor8 !endo eleito +ara a *cademia

    1ra!ileira de Letra! em 567. * +ublica&$o de !eu +rimeiro livro de conto!8

    ;Sa,aranam vindo9

    lhe correndo8 em +"!.

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    27/70

    Bivertia9!e com ver a! avel$! do ch$o n$o voarem8 com inalcan&ar e!!a!

    borboleta! nunca em bu0u= nem em bot$o8 e com i,norar !e cada uma em !eu lu,ar

    a! +lebeinha! flore!8 +rince!inha! e incomun!8 0uando a ,ente tanto +or ela! +a!!a.

    Vinha !obejadamente.

    Bemorou8 +ara dar com a av" em ca!a8 0ue a!!im lhe re!+ondeu8 0uando

    ela8 to0ue8 to0ue8 bateu:

    ? Iuem >A

    ? Sou eu... ? e Fita9Verde de!can!ou a vo'. ? Sou !ua linda netinha8 com

    ce!to e +ote8 com a fita verde no cabelo8 0ue a mam$e me mandou.

    Vai8 a av"8 dif2cil8 di!!e: ? Pua o ferrolho de +au da +orta8 entra e abre.

    Beu! te aben&oe.

    Fita9Verde a!!im fe'8 e entrou e olhou.

     * av" e!tava na cama8 rebu&ada e !". Bevia8 +ara falar a,a,ado e fraco e

    rouco8 a!!im8 de ter a+anhado um ruim defluo. Bi'endo:

    ? Be+Ke o +ote e o ce!to na arca8 e vem +ara +erto de mim8 en0uanto >

    tem+o.

    (a! a,ora Fita9Verde !e e!+antava8 al>m de entri!tecer9!e de ver 0ue

    +erdera em caminho !ua ,rande fita verde no cabelo atadaT e e!tava !uada8 com

    enorme fome de almo&o. la +er,untou:

    ? Vovo'inha8 0ue bra&o! t$o ma,ro!8 o! !eu!8 e 0ue m$o! t$o tremente!D

    ? +or0ue n$o vou +oder nunca mai! te abra&ar8 minha neta... ? a av"

    murmurou.

    ? Vovo'inha8 ma! 0ue lábio!8 ai8 t$o arroeado!D

    ? +or0ue n$o vou nunca mai! +oder te beijar8 minha neta... ? a av"

    !u!+irou.

    ? Vovo'inha8 e 0ue olho! t$o fundo! e +arado!8 ne!!e ro!to encovado8

    +álidoA

    ? +or0ue já n$o te e!tou vendo8 nunca mai!8 minha netinha... ? a av"

    ainda ,emeu.

    Fita9Verde mai! !e a!!u!tou8 como !e fo!!e ter ju2'o +ela +rimeira ve'.

    Gritou: ? Vovo'inha8 eu tenho medo do LoboD...

    (a! a av" n$o e!tava mai! lá8 !endo 0ue dema!iado au!ente8 a n$o !er

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    28/70

    +elo frio8 tri!te e t$o re+entino cor+o.

    Chifre em Cabe&a de Cavalo

    Lui' %aul (achado

    Lui' %aul (achado na!ceu no %io de #aneiro em 567. !critor8 e!+eciali!ta

    em literatura infantil e redator8 tem diver!o! trabalho! +ublicado! em jornai!8 revi!ta!

    e livro!. Fe' +arte da e0ui+e 0ue criou o +rojeto Ciranda de Livro!8 entre outro!. em

    vária! obra! infanti! +remiada!. !te ;Chifre em Cabe&a de Cavalo< recebeu o+r=mio Or2,ene! Le!!a ? O melhor +ara o jovem ?8 da FNL@#8 em 566U8 ano de !eu

    lan&amento.

    * +rimeira +e!!oa

     * +rimeira +e!!oa 0ue me falou dele! foi meu tio. odo mundo chamava ele

    de Pe0uenino. N$o era +articularmente baiinho8 ma! !em+re foi e !erá Pe0uenino.

    (eu tio Pe0uenino.

    le contava hi!t"ria! e contava ca!o!. Ca!o! e hi!t"ria! de !ua lon,a vida

    de !ervi&o e trabalho. (>dico rec>m9formado indo tratar de crian&a! em lu,are! t$o

    di!tante! 0ue levava hora! no lombo de um cavalo. Hi!t"ria! e ca!o! da ima,ina&$o

    dele e do! outro!. *t> hoje me +er,unto 0uem !erá 0ue contou +ra ele t$o bem

    contada a hi!t"ria da (oura orta. le contava !em+re do me!mo jeito. (e!mo

    +or0ue n"! +rote!távamo! veementemente 0uando ele mudava uma v2r,ula 0ue

    fo!!e. /Como > 0ue > v2r,ula em hi!t"ria contadaA3 u e meu irm$o !em+re achamo!

    0ue a hi!t"ria do !0ueleto %i!onho foi inventada +or ele. ra uma hi!t"ria 0ue

    enchia a ,ente de medo e !u!+en!e. Claro8 era a +referida.

    (a! o 0ue im+orta a0ui > 0ue foi o tio Pe0uenino 0uem +rimeiro me falou

    dele!. ? !abe9!e lá +or 0ue ? foi +or cau!a dele! 0ue eu nunca mai! me

    +reocu+ei em !e+arar hi!t"ria acontecida de hi!t"ria inventada. careca de !aber

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    29/70

    0ue tem uma realidade lá fora etc>tera e tal. (a! eu !ei muito bem 0ue tem a

    realidade a0ui de dentro. eu adoro ela. ai de 0uem che,ar +erto de mim de+oi!

    de ouvir uma da! minha! batatada! e falar8 batendo de leve na minha cabe&a: u

    !ei8 ,uri8 e!!a hi!t"ria > de mentirinha8 n$o >A (entirinha > a m$e.

    *0uela menina

    1om. %e!umo da "+era em +ortu,u=!: tio Pe0uenino me falou dele! e ele!

    +a!!aram a fa'er +arte da minha vida.

    bem verdade 0ue fi0uei um bom tem+o lon,e dele!. Iuer di'er8 fi0uei !em

    +en!ar nele!8 me intere!!ando +or outra! coi!a!8 outro! lu,are!8 outro! bicho!8

    outra! ,ente!. (a! hoje tenho a certe'a de 0ue ele! !em+re +en!aram em mim.

    Burante e!!e tem+o8 volta e meia me a+arecia um. No meio de um conto8 no

    rabo de um de!enho animado8 numa ilu!tra&$o linda de livr$o e!tran,eiro e

    inace!!2vel 0ue eu fu&ava na livraria da

    Celina. %aramente al,u>m me falava dele!. *t> 0ue a+areceu a0uela

    menina.

    !tranho jeito

    !tranho o jeito 0ue a ,ente !e conheceu. 2nhamo! 0ue fa'er um trabalho

    de matemática e re!olvemo! fa'er junto!. u ,a!tei o! doi! +rimeiro! encontro! me

    eibindo8 como !em+re. Contei ca!o! já te!tado! com outra! +lat>ia!. O efeito era

    ,arantido. tudo ia bem8 at> ela me fa'er a +rimeira +er,unta e!0ui!ita. la tamb>m

    fa' afirma&Ke! e!0ui!ita!8 ne,a&Ke! e!0ui!ita! e8 +rinci+almente8 tem un! !il=ncio!

    e!0ui!ito!. 0uando ela me olha de banda e ao me!mo tem+o firme no! olho!. )m

    olhar e!0ui!it2!!imo.

    Nunca vou !aber como o dever de matemática !e eva+orou +ra dar lu,ar a

    uma inflamada e interminável di!cu!!$o !obre bicho!.

    u fa'ia meu! nmero! acerca da minha intimidade com oran,otan,o! e

    felino!8 cobra! e la,arto!. (a! ela n$o +arecia !e im+re!!ionar muito8 n$o. la

    !im+le!mente me di'ia 0ue n$o tinha medo nenhum de barata.

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    30/70

    ? (a! bicho 0ue n$o !u+orto > ,alinha ? me di!!e de+oi! de um !il=ncio

    e!0ui!ito.

    ? Nem +ra comerA

    ? Comer eu como. Com o maior +ra'er. (eu +roblema > com a ,alinha

    viva.

    ? A

    ? N$o ei!te animal mai! de!im+ortante8 im+rovável8 burro e ab!urdo.

    ? D

    Iuatro adjetivo!

    Biante de!!e! 0uatro adjetivo!8 n$o me re!tou outra alternativa !en$o +artir

    +ra defe!a da! ,alinha! como !e fo!!e uma 0ue!t$o de honra.

    ? Be!im+ortante > o mo!0uito. @m+rovável > a ,irafa. á certo8 a ,alinha !

    ve'e! > um +ouco burra. (a! mai! burro > o +eru8 já 0ue o burro > inteli,ent2!!imo.

     *b!urdoA *b!urdo > o ornitorrinco8 a come&ar +elo nome. *! ,alinha!...

    ? Siiiim... ? ela di!!e +rolon,ando o ;i< de um jeito e!0ui!ito.

     *2 eu e+lodi:

    ? P8 n$o tenho +rocura&$o +ra ficar a0ui defendendo a! ,alinha!. la! n$o

    !$o a minha e!+>cie de bicho.

    ? 0ual > a !ua e!+>cie de bicho8 meninoA

    u im+licava com a0uela mania dela de me chamar de menino.

    ? )nic"rnio!8 > claro.

    la ficou ,a,a8 +arada8 0uieta. Pa!ma8 +ra u!ar um 0uarto adjetivo.

    !+eciali!ta

    8 de+oi! de uma lon,a e minucio!a conver!a em vo' baia8 foi a minha ve'

    de ficar +a!mo e 0uieto e +arado e ,a,o. u e!tava convivendo de!de o +rinc2+io da!

    aula! com uma da! maiore! e!+eciali!ta! no ramo e !" ali8 no no!!o terceiro ou

    0uarto encontro8 me dei conta di!!o. No!!a! vida! mudaram de+oi! de!ta conver!a.

    !tá claro 0ue a matemática foi +ro brejo. * ,ente foi andar na beira do mar.

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    31/70

     *t> !a2rem a! +rimeira! e!trela!. Na hora má,ica8 ficou !elado um acordo tácito de

    trocarmo! informa&Ke!. Pouca!. m vo' baia. m lu,are! e!+eciai!. S" entre n"!.

    Pe0ueno! to0ue!

    O +ior > 0ue nem juntar e!for&o! a ,ente +odia. ra ela trabalhando no canto

    dela e eu no meu. S" +e0ueno! to0ue! a0ui e ali. * ,ente at> con!e,uiu voltar ao!

    no!!o! devere! matemático!. Com bon! re!ultado!8 +or !inal.

    Be+oi! de um tem+o8 +intou at> um certo cime. (a! a ,ente lo,o venceu

    e!!a fa!e. * +r"+ria nature'a do a!!unto +ede humildade8 re!+eito +rofundo8

    !eriedade ? junto com o mai! +uro humor8 > claro ? e... cada um +or !i. a!!im

    0ue ele! ,o!tam.

    bvio

    )m dia8 a ,ente viajou junto +ra fa'er uma +e!0ui!a de ci=ncia!. Fomo! +ra

    !erra +a!!ar um dia inteiro. Levamo! uma ,arrafa de vinho e +ouca comida. Perto da

    hora má,ica8 eu comecei a falar boba,en!. la me olhou e!0ui!ito e firme. u di!!e:

    ? N$o olha +ro lado e!0uerdo.

    ? A

    ? á a!!im de unic"rnio. *'ui!... Voc= acreditaA

    ? (enino8 eu !ou a +e!!oa meno! indicada +ra voc= fa'er e!!a +er,unta.

    bvio.

    Pe0uena! a+ari&Ke!

    Sobre o trabalho dela8 > ela 0uem vai contar um dia. O +ouco 0ue !ei n$o

    devo falar. Iuanto a mim8 eu conto. N$o tudo8 +or0ue e!!e ne,"cio de tudo >

    ca!cata. Po!!o contar +e0uena! a+ari&Ke!8 +ouco! acontecimento!8 uma!

    +e!0ui!a!8 muita! dvida! e al,uma! conclu!Ke!.

    le! me vi!itam +rinci+almente no e!crit"rio de +a+ai.

    m ,eral8 0uando n$o tem nin,u>m em ca!a ou 0uando tá todo mundo

  • 8/17/2019 meus-primeiros-contos.pdf

    32/70

    dormindo. raro a+arecerem de manh$. Be tardinha !im8 ma! muito ra+idamente.

    Be noite n$o8 eceto na hora má,ica8 bem de+re!!inha. (a! de madru,ada8 ahD !"

    ter uma boa in!nia8 ir +> ante +> at> o e!crit"rio8 acender a lu' do abajur +e0ueno e

    e!+erar.

    le! ,o!tam de brincar em cima da me!a. em um mata9borr$o anti,o

    /heran&a do tio Pe0uenino3 0ue > uma fe!ta +rum bem mido cor de canela. le

    con!e,ue ficar hora! !e balan&ando na0uilo.

    em um avermelhado 0ue ,o!ta do armário ,rande. Se enfia lá dentro8 e a

    ,ente at> !e e!0uece dele. em um maior'inho8 a'ul9claro8 0ue !e refe!tela na

    cadeira de balan&o forrada de couro e fica lá8 +arad$o. Parad$o ele8 +or0ue a cadeira

    fica +ra lá e +ra cá8 +ra lá e +ra cá8 +ra lá e +ra cá.

    em um8 roo8 0ue ,o!ta de olhar +ela janela. Be madru,ada8 a minha rua

    tem um movimento intere!!ante ? um nibu! de hora em hora8 um moto0ueiro

    !olitário8 o doido da e!0uina 0ue fa' com2cio! +ra ele me!mo e +ro lam+i$o ! tr=! da

    manh$. a0uele 0ue ,o!ta de olhar +ela janela fica um tem+$o lá8 com o focinho e o

    chifre enco!tado! na vidra&a8 vendo e revendo a0uilo tudo8 conferindo.

    O da e!tante

    tem o da e!tante. le tem uma maneira ,o'ada de tran!ar a biblioteca. E!

    ve'e! anda na beiradinha da! +rateleira! e entorta o +e!co&o +ra ler a lombada do!

    livro!. muito demorada e!!a o+era&$o. (eu ;Bom Iuiote< velhinho e ,rand$o

    /outra heran&a do tio Pe0uenino3 e!tá com 0uatro furo! na lombada. (inha av" outro

    dia +en!ou 0ue fo!!e tra&a. %evirou mundo! e fundo! atrá! de um rem>dio +ra tra&a.

    1oba,em. Foi o diabo do chifrinho da0uele !em9ver,onha metido a literato. le ,o!ta

    de ler a lombada do ;Bom Iuiote< 0ue !" vendoD Fica hora! no I e no W. claro

    0ue ele > verde.

    Outra! ve'e! ele +a!!eia calmamente +or cima do! livro!8 +re!tando muita

    aten&$o na! mudan&a! de tamanho +ra n$o tro+e&ar. )ma ve' !e de!cuidou8 n$o viu

    o *ureli$o em +o!i&$o irre,ular e foi bater com o focinho no fundo da e!tante. O

    barulho n$o foi ,rande8 ma! o relincho de dor e !u!to me tirou da +oltrona onde eu

    e!tava vendo o carro!!el do canelinha no mata9borr$o. Fui lá na e!tante8 achei o

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    diabrete8 dei uma e!+anada nele com a m$o +ra tirar o +"8 tava at> meio +reocu+ado

    em !aber !e ele tinha !e machucado. (a! n$o > 0ue o danado tava com cara de

    0uem viu +eri0uito verdeA

    Fui fu&ar no fundo da e!tante e de!cobri um livro ab!olutamente incr2vel.

    N$o con!e,ui de!cobrir de onde > 0ue ele veio8 ma! tenho !>ria! de!confian&a!...

    O livro

    um livro +e0ueno8 muito velho8 com a ca+a cheia de furinho! /de tra&a8

    me!mo3. )ma ca+a verde9e!curo com um relevo em verde mai! claro.

    Lá e!tá ele: em+inado8 com a crina voando8 o chifre retorcido e!+etando o ar.

    O livro > e!crito numa l2n,ua 0ue n$o conhe&o8 cheia de letra! de!enhada!8

    linda! de morrer. Vou bu!car ele lá na e!tante +ra co+iar o t2tulo.

    ;*ll,emeine *bhandlun, ber 2nhorner<

    O 0ue tem de mai! fantá!tico ne!te livro !$o a! ilu!tra&Ke!. (e!mo +or0ue o

    0ue tá e!crito eu !" vou !aber mai! tarde. olha 0ue !" tem me!mo dua!

    ilu!tra&Ke!: a da ca+a8 0ue eu já falei8 e uma ante! do 2ndice8 na +á,ina . *li ele e!tá

    no meio de outro! bicho!: tem ,rifo8 tem cavalo me!mo8 tem veado8 tem coelho8 tem

    +a!!arinho de tudo 0uanto > jeito e cor8 tem dino!!auro8 tem tartaru,a. em um

    riachinho e tem ,ente tamb>m. Gnomo!8 fada!8 anKe!8 fanta!ma!8 duende!8 uma

    brua e um menino.

    Cabeceira

    !te livro ficou !endo o no!!o livro. (eu e do verdinho literato. * ,ente fica

    hora! folheando ele e voltando !em+re +ra ilu!tra&$o da +á,ina . )m dia eu acho

    0ue vou mo!trar +ra menina e ? 0uem !abeA ? a ,ente +o!!a decifrar junto. la >

    danada de boa em l2n,ua!. Sabe in,l=! e franc=! na +erfei&$o. Outro dia me

    !ur+reendeu falando 0ue tava muito a fim de a+render latim.

    Será 0ue e!!e livro > em latimA

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    !!e livro ficou !endo meu terceiro livro de cabeceira.

     *o lado da minha cama tem uma me!inha de madeira clara com dua!

    ,aveta!. Nin,u>m ? ma! nin,u>m me!mo ? de!ta ca!a e!tá autori'ado a abrir

    nenhuma dela!. amb>m8 !e abrir8 n$o vai encontrar nada demai!8 a+arentemente.

    Na de cima tem: um cri!tal ja+on=!8 uma caiinha de berlo0ue! /minha av" me deu e

    chama ela a!!im: eu chamo de +orta9treco3 cheia de treco! e berlo0ue! de menino.

    Lá+i! já bem +e0ueno!8 um dele! com borracha em cima8 a+ontador enferrujado ma!

    de e!tima&$o /tio Pe0uenino 0ue deu38 vário! +eda&o! de barbante de vário!

    tamanho! e core!8 tubo de cola +e0ueno8 +ercevejo!8 cli+e!8 tachinha! e +re,o! de

    ;n< tamanho!8 uma carra+eta de madeira8 um ioi tamb>m de madeira e 5R bola! de

    ,ude do tem+o do meu +ai. *hD na ,aveta de cima tem ainda a! revi!ta! em

    0uadrinho!. *! 0ue merecem !er relida!.

    Na ,aveta de baio8 o! doi! livro! de cabeceira mai! anti,o! e 0uerido!:

    ;(em"ria! da m2lia Le1lanc8 e ;O homem 0ue calculavam tem o livro verde furadinho e!crito numa

    l2n,ua de!conhecida8 0ue > o mai! anti,o de todo! ma! > meu ami,o mai! recente.

    Coincid=nciaA

    O mai! incr2vel aconteceu de+oi!. (inha irm$ recebeu um cart$o9+o!tal de

    um ami,o dela 0ue tá viajando. Iuando vi8 fui imediatamente bu!car o livrinho e

    eaminar a ilu!tra&$o da +á,ina . Fui at> catar a lente do velho8 0ue ele morre de

    cime de em+re!tar. Ba0uela! de botar em cima do +a+el e ficar vendo detalhe da le

    tra8 ,r$o de foto,rafia8 +ontinho! colorido! 0ue formam a! ,ravura!.

    N$o tinha erro: o de!enho do cart$o9+o!tal re+rodu'ia um detalhe da

    ilu!tra&$o do livro 0ue re+rodu'ia uma ta+e&aria medieval.

    N$o há dvida de 0ue ele! 0uerem 0ue eu continue a e!tudar o a!!unto.

     *ndo de!confiado de 0ue coincid=ncia! n$o ei!tem.

    Fui +rocurar a menina lo,o de manh$ cedo.

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    Pe!0ui!a

    Fomo! junto! +a!!ar a manh$ na 1iblioteca Nacional.

     * mo&a 0ue no! atendeu olhou meio e!0ui!ito +ra0uele! doi! 0ue

    +er,untavam o 0ue tinha lá !obre unic"rnio!. (a! com boa vontade encaminhou a

    ,ente +ro ar0uivo.

    Be+oi! de al,um tem+o eaminando ficha!8 e!távamo! mer,ulhado! em

    livro! incr2vei!8 fu&ando de!enho! mai! incr2vei! ainda. u at> achei uma men&$o ao

    ;meu< livro na l2n,ua e!tranha.

    %o!a9chá +ra enjo

    Be+oi! de!!a ida 1iblioteca8 ficamo! um tem+$o8 cada um +ro !eu lado8

    tratando de +e!0ui!ar +or conta +r"+ria. u de!cobri8 +or eem+lo8 uma a+o!tila de

    um cur!o 0ue um +rimo meu fe' em S$o

    Paulo com um tal de Samir. Olha !" o 0ue tem lá8 num ca+2tulo 0ue !e

    chama ? "bvio ? O unic"rnio: *nimal herb2voro8 ele !e alimenta ba!icamente de

    ca+im9mantei,a8 alface8 erva9doce e cenoura. Bentre a! fruta!8 ,o!ta de +=!!e,o8

    0ue conheceu na P>r!ia8 de man,a e de caju. Iuando e!tá com enjo ou indi,e!t$o8

    ma!ti,a +>tala! de ro!a.

    @!!o eu +ude com+rovar e+erimentalmente ? como di' meu +rofe!!or de

    0u2mica ? 0uando o do mata9borr$o +a!!ou mal uma madru,ada de!!a!. le ficou

    enjoado de tanto balan&ar8 e eu lembrei 0ue na !ala tinha uma! ro!a!9chá 0ue minha

    m$e ,anhou do meu +ai de aniver!ário. Fui lá8 tirei uma! +>tala! e troue +ro

    canelinha doente. le comeu tr=! duma ve' e ficou !erele+e de novo. 1om 0uando a

    ,ente com+rova teoria! intere!!ante!...

    >cnica! e can&Ke!

     * menina me di!!e outro dia 0ue andava de!enhando ele! na! mai! diver!a!

    t>cnica!: bico9de9+ena8 nan0uim8 a0uarela8 +a!tel8 carv$o8 !ei lá mai! o 0u=. Pedi +ra

    ela me mo!trar8 ma! ela de!conver!ou. Fi0uei t$o chateado 0ue fi' uma coi!a

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    horr2vel. )m dia8 vi 0ue ela foi +ro recreio e deiou uma +a!ta junto da mochila. u

    !abia 0ue na0uela +a!ta ela ,uardava o! de!enho!. *bri e olhei8 maravilhado. u

    tava t$o emba!bacado 0ue n$o vi 0uando ela voltou e me +e,ou com a boca na

    botija.

    1ri,amo!. Fi0uei meio a!!im e8 de vin,an&a8 n$o mo!trei a ela a letra de

    uma m!ica 0ue minha irm$ ouviu num ;!hoXm vem ouvir 

    e!0uecem tudo ? inda n$o tá de cor...

    Contam 0ue a tal can&$o > ,enial

    anto 0ue o! unic"rnio! jamai! enjoam dela

    a entoam toda noite !em +arar 

    %eunido! num fantá!tico coral

    Como eu 0ueria conhecer a tal can&$o

    Poi! ela deve !er me!mo uma loucura

    (uito melhor 0ue a! de Vivaldi ou Bebu!!4

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    Iuem !abe eu n$o encontro a +artitura

    Perdida em al,um !ebo +or a2A

    !!a can&$o mudou o rumo da! minha! +e!0ui!a!. Na +rimeira madru,ada

    0ue ele! a+areceram no e!crit"rio8 eu fi0uei 0uieto num canto8 !em nem acender a

    lu'8 de ouvido! bem aberto! /como !e a ,ente +ude!!e fechar8 como o! olho!38

    tentando ouvir al,um coral8 al,uma can&$o8 0ual0uer nota. Nada. Ou o com+o!itor

    u!ou a tal da licen&a +o>tica 0ue a +rofe!!ora de +ortu,u=! tanto fala8 ou o! meu!

    unic"rnio! !$o de!afinado!. (a!8 +or cau!a da can&$o8 de!cobri dua! coi!a! 0ue

    mudaram a minha vida. )ma foi Vivaldi. Outra8 o mundo do! !ebo!.

    Sebo

    Vivaldi8 n$o dá +ra de!crever a0ui. Voc= ? !e nunca ouviu ? +ode +arar

    imediatamente de ler e!!a! boba,en! 0ue eu e!crevi8 +rocurar um di!co ou fita8 li,ar

    o !om8 fechar o! olho! /abrindo bem o! ouvido!3 e de+oi! me di'.

    Sebo8 dá +ra falar. Voc= +rocura um. Geralmente uma +ortinha de loja no

    centro da cidade. )m lu,ar mai! e!curo do 0ue devia e mai! em+oeirado do 0ue

    +reci!ava !er. Nada de atraente. *+arentemente. Voc= vai lá com tem+o de fu&ar

    +ela! e!tante! e +ela! +ilha! de livro!. Pode fa'er como o meu ami,o verdinho8 o

    literato. E! ve'e! o 0ue atrai > uma letra8 uma ca+a8 um t2tulo8 a +roimidade com um

    outro livro conhecido. Voc= vai lá e de+oi! me conta.

    u fui e encontrei uma coi!a +recio!a. )m volume a'ul e!crito e de!enhado

    +or m$o! de fada. eu vou colocar a0ui um trechinho !". *cho 0ue > at> +ecado tirar

    um +eda&o de uma coi!a t$o +erfeita. (a! a fada certamente vai me +erdoar. Pre!ta

    aten&$o: * +rince!a a+roimou9!e. Iue animal era a0uele de olho! t$o man!o!8

    retido! +ela artimanha de !ua! tran&a!A Veludo do +=lo8 lacre do! ca!co!8 e

    de!abrochando no meio da te!ta8 e!+inho e marfim8 o chifre nico 0ue a+ontava ao

    c>u. Com+rei o livro com o dinheiro 0ue tinha +ra lanchar e corri +ra ca!a da menina.

    !0ui!ito e meio

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    la me olhou meio e!0ui!ito e foi lá dentro bu!car outro! doi! livro! e!crito!

    +ela fada a0uela e mai! um e!crito +or outra. /O t2tulo de!te já me botou em

    +olvoro!a: ;Pra,a de unic"rnio 0ue n$o era namoro como o! 0ue a ,ente tava

    habituado a ver na e!cola ou na turma da rua. ra... Beia +ra lá.

     *cho 0ue a vida > meio e!0ui!ita.

    Cabelo em ovo joelho em cobra

    $o e!0ui!ita 0ue um dia a ,ente meio 0ue bri,ou.

    N$o me +er,unte o motivo8 nem como a coi!a !e de!enrolou. (e!mo +or0ue

    a coi!a !e enrolou de ve'.

    u n$o con!i,o lembrar do +or0u=8 do como8 de nada. S" lembro do clima e

    do volume da bri,a. dela me di'endo8 ao! ,rito!8 0uerendo ofender:

    ? Voc= adora +rocurar chifre em cabe&a de cavaloD

    eu8 morrendo de vontade de rir8 fi0uei com vontade de re!+onder: (a!

    n$o > i!!o 0ue a ,ente vem fa'endo há tanto tem+oA

    (a! achei melhor ficar 0uieto. Iuando che,uei em ca!a8 corri +rum

    dicionário de ,2ria 0ue meu +ai tem e vi 0ue tinha outra! e+re!!Ke! tamb>m

    en,ra&ada! +ra di'er a me!ma coi!a: +rocurar cabelo em ovo8 joelho em cobra e

    a!!im +or diante.

    Luta!

    Pra tentar con!ertar o e!tra,o da bri,a8 ela me contouuma coi!a incr2vel. u

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     já falei 0ue a! +e!0ui!a! dela !obre o no!!o a!!unto > ela 0ue vai contar um dia8 !e

    0ui!er. (a! um encontro 0ue ela teve ela di!!e 0ue eu +odia contar.

     * fada 0ue e!creveu o ;Pra,a de unic"rnio< > muito +rática: inventou de ter

    uma livraria. lá foi a menina conhecer ela e conver!ar com ela. * conver!a dela!

    durou um tem+$o e +arece ter !ido o in2cio de uma bela ami'ade.

    %e!umo da "+era: ela em+re!tou +ra minha ami,a uma c"+ia do! ori,inai!

    de um livro 0ue ela vai +ublicar. Fi0uei +a!mo: o livro ainda n$o tem t2tulo8 ma! um

    do! +o!!2vei! > ;O dino!!auro e o unic"rnio

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    olhei +ra ela de novo.

    falei a maior be!teira de toda a minha vida.

    ? (a! !$o tr=! colibri!. Lindo!8 +or !inal.

    a,oraA

    ? Colibri > a m$e.

    u nunca vi a menina t$o furio!a. Be+oi!8 !o'inho8 me lembrei 0ue um dia8

    numa da! no!!a! interminávei! conver!a! !obre bicho!8 ela me di!!e 0ue achava um

    ab!urdo com+leto al,u>m chamar de colibri um +a!!arinho 0ue tem o nome mai!

    lindo 0ue uma l2n,ua +ode inventar. !endo ele a coi!a mai! linda 0ue Beu!

    inventou.

    O fato > 0ue e!!a hi!t"ria no! afa!tou de ve'. /Pelo meno! at> o momento

    em 0ue e!crevo e!!a! mal9tra&ada! linha! no meu fichário8 en0uanto rola uma da!

    aula! mai! chata! 0ue um +obre !er humano já teve a de!ventura de tentar a!!i!tir3.

    N$o !ei !e o meu ca!o tem e!+eran&a. N$o !ei o 0ue tá havendo comi,o. S"

    !ei 0ue tenho ficado madru,ada! a fio acordado8 !entado no e!curo no e!crit"rio de

    +a+ai8 e!+erando8 e!+erando8 e!+erando. *cho at> 0ue !e eu fuma!!e ? coi!a 0ue

    dete!to ? eu ficaria fumando.

    Fico +en!ando 0ue ele! devem e!tar do lado dela e re!olveram me ca!ti,ar.

    (e cul+o di'endo +ra mim me!mo: Iuem chama beija9flor de colibri > ca+a' da!

    +iore! coi!a!. Ou: le! !umiram +or0ue eu 0ueria 0ue ele! canta!!em. Ou ainda:

    *cho 0ue adole!ci. Ou adoeci. Ou fi0uei adulto. Chato como todo! o! adulto!.

    e!!a minha e!+>cie de bicho tolera tudo8 meno! chatice.

    madru,ada. Ponho um +onto final ne!!a! anota&Ke!. Iuando amanhecer8

    vou li,ar o !om e ouvir Vivaldi. Be+oi! do caf>8 talve' at> eu de!&a +ra com+rar

    ci,arro.

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    Livro! e Can&Ke! Citada!:

    5. ;(em"ria! da m2lia< ? (onteiro Lobato

    Y. ;Bom Iuiote de La (ancha< ? (i,uel de Cervante! Saavedra

    . ;O homem 0ue calculava< ? (alba ahan

    . ;Novo Bicionário da L2n,ua Portu,ue!a< ? *ur>lio 1uar0ue de Holanda

    Ferreira

    U. ;O! incr2vei! !ere! fantá!tico!< ? Samir (e!erani

    7. ;)ma id>ia toda a'ul< ? (arina Cola!anti

    R. ;Pra,a de unic"rnio< ? *na (aria (achado

    J. ;)ma vontade louca< ? *na (aria (achado

    6. ;)nic"rnio< ? Silvio %odr2,ue' /do di!co Ba0ui8 de Clara Sandroni3

    5Q. ;Can&$o do! unic"rnio!< ? Carlo! Sandroni /idem3

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    )m *+"lo,o

    (achado de *!!i!

    (achado de *!!i! na!ceu no %io de #aneiro8 em 5J68 falecendo na me!ma

    cidade8 em 56QJ. %omanci!ta8 conti!ta8 +oeta8 croni!ta e dramatur,o8 >

    unanimemente con!iderado a maior fi,ura da! letra! bra!ileira!. autor de al,un!

    do! maiore! clá!!ico! do no!!o romance e da no!!a cont2!tica. Fundou a *cademia

    1ra!ileira de Letra!8 em 5J6R8 e +re!idiu9a at> !ua morte.

    ra uma ve' uma a,ulha8 0ue di!!e a um novelo de linha:

    ? Por 0ue e!tá voc= com e!!e ar8 toda cheia de !i8 toda enrolada8 +ara fin,ir

    0ue vale al,uma cou!a ne!te mundoA

    ? Beie9me8 !enhora.

    ? Iue a deieA Iue a deie8 +or 0u=A Por0ue lhe di,o 0ue e!tá com um ar

    in!u+ortávelA %e+ito 0ue !im8 e falarei !em+re 0ue me der na cabe&a.

    ? Iue cabe&a8 !enhoraA * !enhora n$o > alfinete8 > a,ulha. *,ulha n$o tem

    cabe&a. Iue lhe im+orta o meu arA Cada 0ual tem o ar 0ue Beu! lhe deu. @m+orte9!e

    com a !ua vida e deie a do! outro!.

    ? (a! voc= > or,ulho!a.

    ? Becerto 0ue !ou.

    ? (a! +or 0u=A

    ? boaD Por0ue co!o. nt$o o! ve!tido! e enfeite! de no!!a ama8 0uem >

    0ue o! co!e8 !en$o euA

    ? Voc=A !ta a,ora > melhor. Voc= > 0ue o! co!eA Voc= i,nora 0ue 0uem

    o! co!e !ou eu8 e muito euA

    ? Voc= fura o +ano8 nada mai!T eu > 0ue co!o8 +rendo um +eda&o ao outro8

    dou fei&$o ao! babado!...

    ? Sim8 ma! 0ue vale i!!oA u > 0ue furo o +ano8 vou adiante8 +uando +or

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    voc=8 0ue vem atrá!8 obedecendo ao 0ue eu fa&o e mando...

    ? amb>m o! batedore! v$o adiante do im+erador.

    ? Voc=8 im+eradorA

    ? N$o di,o i!!o. (a! a verdade > 0ue voc= fa' um +a+el !ubalterno8 indo

    adianteT vai !" mo!trando o caminho8 vai fa'endo o trabalho ob!curo e 2nfimo. u >

    0ue +rendo8 li,o8 ajunto...

    !tavam ni!to8 0uando a co!tureira che,ou ca!a da barone!a. N$o !ei !e

    di!!e 0ue i!to !e +a!!ava em ca!a de uma barone!a8 0ue tinha a modi!ta ao +> de

    !i8 +ara n$o andar atrá! dela. Che,ou a co!tureira8 +e,ou do +ano8 +e,ou da a,ulha8

    +e,ou da linha8 enfiou a linha na a,ulha8 e entrou a co!er. )ma e outra iam andando

    or,ulho!a!8 +elo +ano adiante8 0ue era a melhor da! !eda!8 entre o! dedo! da

    co!tureira8 á,ei! como o! ,al,o! de Biana ? +ara dar a i!to uma cor +o>tica. di'ia

    a a,ulha:

    ? nt$o8 !enhora linha8 ainda teima no 0ue di'ia há +oucoA N$o re+ara 0ue

    e!ta di!tinta co!tureira !" !e im+orta comi,oT eu > 0ue vou a0ui entre o! dedo! dela8

    unidinha a ele!8 furando abaio e acima...

     * linha n$o re!+ondia nadaT ia andando. 1uraco aberto +ela a,ulha era lo,o

    enchido +or ela8 !ilencio!a e altiva8 como 0uem !abe o 0ue fa'8 e n$o e!tá +ara ouvir

    +alavra! louca!. * a,ulha8 vendo 0ue ela n$o lhe dava re!+o!ta8 calou9!e tamb>m8 e

    foi andando. era tudo !il=ncio na !aleta de co!turaT n$o !e ouvia mai! 0ue o +lic9

    +lic9+lic9+lic da a,ulha no +ano. Caindo o !ol8 a co!tureira dobrou a co!tura8 +ara o

    dia !e,uinteT continuou ainda ne!!e e no outro8 at> 0ue no 0uarto acabou a obra8 e

    ficou e!+erando o baile.

    Veio a noite do baile8 e a barone!a ve!tiu9!e. * co!tureira8 0ue a ajudou a

    ve!tir9!e8 levava a a,ulha e!+etada no cor+inho8 +ara dar al,um +onto nece!!ário.

    en0uanto com+unha o ve!tido da bela dama8 e +uava a um lado ou outro8

    arre,a&ava da0ui ou dali8 ali!ando8 abotoando8 acolchetando8 a linha8 +ara mofar da

    a,ulha8 +er,untou9lhe:

    ? Ora8 a,ora8 di,a9me8 0uem > 0ue vai ao baile8 no cor+o da barone!a8

    fa'endo +arte do ve!tido e da ele,MnciaA Iuem > 0ue vai dan&ar com mini!tro! e

    di+lomata!8 en0uanto voc= volta +ara a caiinha da co!tureira8 ante! de ir +ara o

    balaio da! mucama!A Vamo!8 di,a lá.

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    Parece 0ue a a,ulha n$o di!!e nadaT ma! um alfinete8 de cabe&a ,rande e

    n$o menor e+eri=ncia8 murmurou +obre a,ulha:

    ? *nda8 a+rende8 tola. Can!a!9te em abrir caminho +ara ela8 e ela > 0ue vai

    ,o'ar da vida8 en0uanto a2 fica! na caiinha de co!tura. Fa'e como eu8 0ue n$o abro

    caminho +ara nin,u>m. Onde me e!+etam8 fico.

    Contei e!ta hi!t"ria a um +rofe!!or de melancolia8 0ue me di!!e8 abanando a

    cabe&a:

    ? amb>m eu tenho !ervido de a,ulha a muita linha ordináriaD

    -oido /o mon!trinho 0ue bebia col2rio3

    S4lvia Orthof 

    S4lvia Orthof na!ceu no %io de #aneiro8 em 56Y8 de +ai! au!tr2aco!. (uito

     jovem in,re!!ou no eatro do !tudante8 fre0entando mai! tarde o cur!o de m2mica

    de (arcel (arceau8 na !cola de *rte Bramática de Pari!. !creveu +e&a! +ara

    teatro de boneco! e de+oi! +ara teatro infantil8 onde !eu! trabalho! ,anharam

    concur!o! e +r=mio!. Come&ou a criar hi!t"ria! +ara a revi!ta %ecreio e n$o +arou

    mai!. Publicou muito! livro! e ,anhou muito! +r=mio!8 a maioria ilu!trada +or !eu

    marido ato8 ma! al,un! +or ela +r"+ria. S4lvia faleceu em 566R8 em Petr"+oli! /%#38

    onde morava no! ltimo! ano! de vida.

    O mon!trinho encantador

    !ta hi!t"ria aconteceu e acontece a0ui. *0ui8 > Petr"+oli!8 uma cidade !erranamente linda8 onde moro. *0ui8

    tamb>m8 > minha9no!!a9vo!!a ca!a. Fica num morro8 com jardin'inho8 +omar'inho e

    hortinha. Por favor'inho8 n$o +en!e 0ue !ou de!!a! e!critora! 0ue e!crevem tudo

    em inhoD Nunca de nunc$o de nun0uinhaD O +roblema > 0ue no!!a ca!a > mode!ta8

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    +or>m !incera.

    la > !incera8 de +orta! !em+re aberta! +ara a! vi!ita! ami,a!.

     *0ui8 comi,o e com ato8 ilu!trador de!te livro e marido da abaio a!!inada

    /eu8 oraD3 mora -oido... e de+oi!8 0uem mai! che,ou8 ou veio8 ou che,ará. Por0ue a

    vida > cheia de mudan&a!. *t> uma ca!a8 0ue > chamada deZ im"vel > cheia de

    tran!forma&Ke!.

    Poi! eu e!tava no +omar'inho... +or 0ue inhoA Por0ue ele tem cinco

    árvore! de fruta!8 oraD )ma de ameia8 outra de tan,erina8 um +> de lim$o a'edo8 um

    +> de +itan,a8 um abacateiro... e > !".

    u e!tava !entada ali8 0uando e!cutei uma vo'8 0ue vinha da ameieira:

    ? i8 S4lvia8 voc= e!creve uma hi!t"ria !obre mimA !creveA Voc=

    e!creveA !creveA CreveA CreveA CreveA VeA [A

     * +alavra ia diminuindo de eten!$o8 ma! aumentando de chatea&$o. Iuem

    !eriaA

    Procurei no meio do! ramo! e achei8 ali8 +erto de uma! tr=! ameia! ainda

    verde!8 um mon!trinho fantá!tico8 feito !" de um +ar de olho! arre,alado! e

    !orridente!. Voc= já viu olho! !orridente!A Poi! ele era a!!im8 muito do encantador.

    ? O 0ue > i!!oA ? Per,untei8 dando um +ulo +ara trá!.

    ? @!!oA u n$o !ou i!!o8 eu !ou -oido.

    ? Voc= !" tem olho!A

    ? N$o tem ,ente 0ue n$o ener,a8 +arece 0ue n$o tem olho!A

    ? em ? re!+ondi.

    ? Poi! eu !ou olho! 0ue n$o t=m ,ente8 ora bola!8 caraminhola!D (eu nome

    > -oido8 muito +ra'er e fa&o 0ue!t$o de !er +er!ona,em de um livro +ara crian&a!9

    adole!cente!9adulto!.

    ? o 0ue > i!!oA

    ? S$o crian&a!8 ora... e adole!cente!8 oraD !$o tamb>m adulto!8 claroD u

    me amarro em ,ente crian&a9adole!cente9adulta. uma faia de idade ideal +ara a

    minha hi!t"ria. +ode come&ar a e!crever !obre mim. Vai !er um !uce!!oD

    ? Voc= n$o > nada humilde8 -oido.

    ? Sou !incero. *final8 !ou olho! de ler8 oraD

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    -oido8 de+oi! 0ue me aco!tumei !ua +re!en&a8 +i!cou um olho +ara mim

    e +er,untou:

    ? #á 0ue vou !er +er!ona,em de um livro !eu8 +o!!o morar a2 com voc=!8

    +o!!oA u ocu+o +ouco lu,ar8 +reci!o morar dentro de ca!a8 +or0ue morar a0ui8 na

    ameieira8 > +eri,o!o. )m tico9tico +ode +en!ar 0ue eu !ou um +ar de ameia! e

    bicar meu! olho!8 credoD

    ? como foi 0ue voc= foi +arar a2A ? @nda,uei.

    -oido deu um +ulinho e caiu no meu ombro8 e0uilibrando9!e com a!

    +e!tana!. *2 ele falou baiinho:

    ? u !ou um mon!trinho8 da fam2lia do! duende! encantadore!. (inha m$e

    > fada8 meu +ai > um bruo8 muito con0ui!tador de fada!. *28 minha m$e8 tadinha8

    n$o re!i!tiu a uma +o&$o má,ica 0ue ele ofereceu a ela8 em formato de cora&$o8 com

    uma !etinha atrave!!ada. Be+oi! de nove noite! de lua e dua! de neblina8 eu na!ci.

    !!e > o tem+o de ,e!ta&$o do! duende!8 !abiaA

    ? !ua m$e8 0uando teve voc=8 o 0ue ela di!!eA

    ? la me achou encantador8 +or0ue na!ci+i!cando !orri!o! dZolho!. fui

    morar com ela num +alácio8 0ue fica em Olho! dZ\,ua. (eu +ai bruo ficou

    +erdidamente a+aionado +or mam$e. uma hi!t"ria de felicidade total8 at> 0uando

    durar. eu8 de+oi! 0ue com+letei de'oito +i!cadela!8 vim embora8 viver na ameieira.

    (a! a,ora8 de re+ente8 me deu vontade de morar com voc=!... Voc= deiaA Beia8

    deia... ameia... eia... BeiaA

    ? +or 0ue8 de+oi! de contar t$o lindo conto de amor8 voc= chamou !ua

    m$e de tadinhaA

    ? ChameiA

    ? Chamou.

    ? Beve !er +or0ue ela > fada. *! fada! !$o um +ouco tadinha!8 !"

    +en!am no! outro!8 !" fa'em bondade!. la > boa'inha8 tadinha... N$o > a!!im 0ue

    todo o mundo di'A (a! mam$e8 a+e!ar de boa demai! +ro ,o!to ,eral8 > uma "tima

    m$e8 uma fada dedicada. )m dia8 tra,o ela a0ui8 +ra voc= ter o +ra'er de conhec=9la.

    ? !eu +aiA

    ? (eu +ai já anda +or a0ui8 todo! o! dia!.

    ? Nunca vai.

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    ? Iuando voc= varre a ca!a8 ele vem a,arrado va!!oura dele. Vem

    invi!2vel8 ma! a va!!oura > dele.

    ? u com+rei. minha.

    ? Voc= com+rou a va!!oura ;dele um bruo 0ue n$o !e

    amarra em ter a! coi!a!8 bruo muito moderno8 bacana8 concordou. *doro +a+aiD

    No!!o novo ami,o -oido

    e 0uem mai! vier

    -oido ficou morando cono!co8 olhando tudo8 arre,alad2!!imo. Che,ou a

    ditar nova! orden! dentro de ca!a8 como a coloca&$o da! flore! no! va!o!:

    ? Por 0ue > 0ue voc=! cortam a! flore!8 no jardimA

    ? Pra enfeitar a !ala.

    ? N"! ,o!tamo! muito de flore!8 !abiaA ? Bi!!e ato.

    -oido ficou com ru,a! na! +ál+ebra!8 +en!ando8 +en!ando... Be+oi! ele

    retrucou:

    ? u tamb>m adoro +a!!arinho!8 nem +or i!!o corto a! cabe&a! dele! +ara

    enfeitar a !ala. +or falar ni!!o8 vamo! ter mai! uma +e!!oa morando cono!co: >

    Furtacor8 o colibri. le +erdeu !eu ninho numa ventania e convidei9o +ra morar na

    ;minha< ca!a.

    Foi acabar de falar8 fomo! beijado! +or Furtacor8 0ue batia a! a!a! furta9

    core!8 dava beijoca! e !e di'ia8 com i!!o8 novo h"!+ede da ;no!!a< ca!a.

     *!!im8 o! va!o! ficaram !em flore!8 o jardim ficou florid2!!imo8 e Furtacor

    enfeitava a !ala de vi!ita!8 o! 0uarto!8 co'inha e de+end=ncia! outra! da ca!a de

    -oido. ... afinal8 -oido ditava a! orden!8 n>A E! ve'e!8 -oido > meio mand$o.

    eve at> uma hora em 0ue ato !e aborreceu e falou:

    ? -oido8 0uer fa'er o favor de n$o falar na hora em 0ue e!tou ouvindo

    (o'artA

    ? Se e!tou incomodando voc=8 a0ui8 na minha ca!a... ? %e!+ondeu

    -oido.

    ? Na ;no!!a< ca!a8 -oido8 +or favorD ? %e+li0uei.

    ? Na ;no!!a< ca!a8 ma! no meu +a2!. ato +olaco8 volte +ara a !ua terra8

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    ouviuA ? 1errou -oido8 muito do mal9criado8 +or0ue ele era um mon!trinho

    encantador e toda! a! +e!!oa! encantadora!8 ! ve'e!8 !$o nojentinha!8 fa' +arte do

    encantamento da vida8 oraD

    ato ficou indi,nado e foi bu!car um +a+el8 lá no ar0uivo dele. Voltou8

    in,ando em +olon=!8 mo!trando um amarelecido documento8 0ue tra'ia uma

    informa&$o8 carimbad2!!ima8 e a a!!inatura da dita cuja certid$o era uma

    a!!inatur2!!ima8 +oi! tinha !ido feita8 PSSO*L(N%%@(*(N8 +elo ent$o

    mo. Pre!idente Boutor Getlio Var,a! /eta +a+el velhoD3 di'endo 0ue ele /ato3 era

    bra!ileiro naturali'ado.

    -oido leu com a maior aten&$o e re!olveu fa'er uma +ro+o!ta:

    ? á bem8 o +a2! > !eu e meu8 a ca!a > no!!a8 ma! a boca > minha e falo

    0uanto 0ueroD

    -oido nem re+arou 0ue n$o tinha boca. Pa!!ou um tem+o8 +arece 0ue

    -oido +en!ou no tal a!!unto de ter8 ou n$o ter boca8 e e+licou:

    ? u !ou i,ual mula9!em9cabe&a.

    ? Como a!!imA ? @nda,uei.

    ? Ora8 a mula n$o tem cabe&a8 ma! !olta fo,o +ela! venta!8 n>A u n$o

    tenho boca8 ma! falo8 oraD

    -oido n$o comia carne8 nem le,ume!. m com+en!a&$o8 almo&ava dua!

    ,ota! de col2rio e jantava a me!ma coi!a do almo&o. No caf> matinal8 -oido en,olia

    uma ,otinha de orvalho de ro!a8 0ue eu +in,ava nele +elo bico do Furtacor.

    a vida ficou a!!im: ato8 Furtacor8 -oido8 e eu8 fora o cachorro @,or8 de

    0uem ainda n$o falei.

    )m c$o9de9,uarda

    @,or tem doi! me!e! e meio e veio morar cono!co +or motivo de medo. N"!

    temo! medo de a!!alto8 moramo! numa ca!a em Petr"+oli!8 no alto de um mor9rinho8

    cercado de ca!a! com muito! cachorrKe!.

     *2 ato di!!e8 um certo dia:

    ? Preci!amo! de um c$o9de9,uarda.

    -oido8 0ue já convivia cono!co há meio ano8 deu o! eterno! +al+ite!:

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    ? em 0ue !er da ra&a +a!tor alem$o8 0ue > uma ra&a !im+le! e corajo!a8

    fiel8 e !abe latir ,ro!!o. Cachorro 0ue late fino8 n$o !erve. Preci!a tamb>m n$o fa'er

    +i+i no ta+ete8 nem coc8 l",ico. Por0ue eu8 -oido8 dete!to ver minha ca!a !uja.

    -oido8 na verdade8 continuava a !e !entir dono da ca!a8 via tudo8

    e!+ionava o! canto!8 di'ia 0ue +oeira fa'ia lacrimejar !eu! olho!.

    ato andava rabu,ento:

    ? Será 0ue e!te -oido tem 0ue meter o nari' em tudoA

    (a! -oido n$o tinha nari'8 era uma inju!ti&a acu!á9lo di!!o8 coitado.

    afinal8 já fa'ia +arte da fam2lia.

    Furtacor ar,umentou:

    ? Se voc=! e!colherem um cachorro8 +or favor8 0ue !eja um c$o9de9,uarda

    bem man!inho8 +or0ue eu !ou um colibri e me a!!u!to toa.

    Foi a!!im 0ue8 num certo dia8 em frente !ta&$o %odoviária de Petr"+oli!8

    entrei numa loja +ara com+rar !emente! de flore!8 acom+anhada de Furtacor8 0ue já

    andava meio enjoado de n>ctar de ro!a.

     *li ei!te uma loja 0ue !e chama Verdura8 ou al,o a!!im. ntramo! e vimo!

    uma +or&$o de +acotinho! de !emente!8 com foto! maravilho!a! de flore!. Furtacor

    enlou0ueceu e come&ou a beijar toda!8 muito colibri9beija9flor8 tarad2!!imo +or foto!

    de violeta! e ,ira!!"i!.

    Foi um veameD *inda bem 0ue eu con!e,uira +e,ar Furtacor +ela a!a e

    colar um ;band9aid< no bico a!!anhado do +a!!arinho8 en0uanto o dono da loja

    reclamava8 di'endo:

    ? * !enhora +reci!a a,ora com+rar todo! o! envelo+e! já beijado!8 +or0ue

    e!ta loja > de re!+eito e eu n$o vendo material 0ue n$o !eja totalmente intocado.

    !ta! !emente! já !$o meio8 como direiA

    ? (eio o 0u=A ? 1errou -oido8 +ulando de dentro do bol!o da minha

    blu!a.

    (a! foi !" -oido +ular e berrar8 arre,alando o! olho!8 e lo,o viu um

    +e0ueno +a+el8 colado na loja8 onde !e lia:

    Vendem9!e Pa!tore! *lem$e!8

    Filhote! de Boi! (e!e!8

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    Lindo!. elefone YUYJR7U.

    ? !!e telefone e!tá com nmero! demai!D ? clamou -oido.

    Furtacor8 debico colado8 re!mun,ou:

    ? HumD HumD

    ? como > 0ue eu vou telefonar +ara um nmero a!!imA ? Per,untei.

    ? Ora8 voc= come&a com o Y e de+oi! e!colhe al,ari!mo!8 como !e fa'

    com a loteria8 ou melhor8 com a loto. Se acertar8 a ,ente com+ra o filhote de +a!torD

    ? clamou -oido.

    Co+iei o nmero. Che,ando em ca!a8 fui e+erimentando mi!turar o!

    al,ari!mo!8 +ulando al,un!.

    ? *l8 > da2 0ue e!t$o vendendo filhote! de +a!tor alem$oA ? Per,untei.

    ? *0ui !" vendemo! a m$e do! filhote!D ? %e!+ondeu uma vo' irritada.

    ? Sua m$eA

    ? * !uaD

    N$o era ali. nt$o8 e+erimentamo! um novo nmero. Be!ta ve' foi Furtacor

    0uem e!colheu8 já de bico !olto.

    ? *l8 > a2 0ue e!t$o vendendo filhote! de +a!torA

    ? *0ui e!tamo! com+rando. * !enhora vendeA

    ? u 0uero com+rar.

    ? Coincid=ncia8 eu tamb>m. * !enhora !abe onde e!t$o vendendoA

    ? N$o !ei8 !e !oube!!e8 n$o telefonava +ra !enhora8 n>A chauD

    -oido teve uma id>ia:

    ? Iue tal !e a ,ente coloca!!e cada al,ari!mo e!crito num +a+el'inho

    dobradoA ? Furtacor ia e!colhendo8 tal 0ual +eri0uito8 0uando e!colhe o!

    +a+ei'inho! da !orte8 lembraA *nti,amente8 no! +ar0ue!8 havia realejo!8 com

    +eri0uito!...

    a!!im foi feito. Furtacor !orteou o! nmero!8 eu telefonei e... era aliD

     *!!im8 ato8 eu8 -oido8 Furtacor e o no!!o fu!ca chamado Petit9Poi! fomo!8

    cheio! de a,ita&$o e e!+eran&a8 e!colher no!!o c$o9de9,uarda.

    e!colhemo! @,or8 0ue era uma ,racinha: +ata! enorme!8 olho! doce!8 um

    focinho ,elado.

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    ? Cuidem dele com muito amorD ? %ecomendou a e9dona.

    @,or veio +ara ca!a8 fa'endo +i+i na co'inha8 +i+i no ta+ete da !ala de

     jantar e coc atrá! da cortina da janela8 al>m de roer8 de imediato8 a +erna da cadeira

    do e!tdio de de!enho de ato.

    Iue ,racinha de cachorroD tal como +romet=ramo!8 tratamo! dele com

    todo o amor8 levando9o ao Br. Carlo!8 um veterinário 0ue adora bicho!8 onde ele foi

    vacinado8 +e!ado8 meteram um termmetro no fiof" do coitadinho. Iuem ajudou foi o

    (árcio8 0ue > ajudante do Br. Carlo!. @,or dete!tou8 uivou8 chorou8 recebeu um

    ate!tado.

    n0uanto i!!o8 Furtacor8 nervo!o8 voava em volta do Br. Carlo!8 muito

    nervo!o. Iuer di'er: Br. Carlo! e!tava calmo8 +oi! e!tava aco!tumado com cachorro

    e beija9flore!. Furtacor > 0ue havia +erdido a calma e !olu&ava:

    ? Be+re!!a8 ,enteD SocorroD !tou com falta de flor... a minha cabecinha

    e!tá ,irando8 +reci!o8 ur,ente8 de uma florD

    (árcio8 o ajudante do Br. Carlo!8 muito a+re!!ado8 foi bu!car um livro8 onde

    havia a foto de uma e!cancarada mar,arida. Furtacor8 num !u!+iro de felicidade8 deu

    um beijo na foto e ficou mai! calmo8 dando uma beijoca na bochecha do (árcio8 0ue

    ficou encabulad2!!imo: nunca recebera um beijo de um beija9florD (a! era coi!a de

    muita ternura8 um momento totalmente colibri.

    Iuando @,or8 o +a!tor'inho alem$o'inho recebeu o ate!tado8 -oido

    re!olveu !air do bol!o do ca!aco de ato e ,ritou8 fren>tico:

    ? Vamo! todo! comemorarD

    ? Comemorar o 0u=A ? @nda,ou ato.

    ? Comemorar o ate!tado de vacina&$o do Gui,ui.

    ? Gui,uiA

    ? %e!olvi 0ue @,or > nome demai! +ro @,or. le > fofinho8 +arece mai! com

    Gui,uiD ? Bi!!e -oido.

    foi a!!im 0ue @,or !" > @,or 0uando ele fa' +i+i no ta+ete8 ou vira a lata9de9

    lio. (a!8 na! hora! de frio8 0uando a ,ente fica na !ala8 batendo +a+o com -oido e

    Furtacor8 @,or > Gui,ui8 coi!a fofa8 de focinho ,elado e olho! doce!.

    -oido cria um +roblema veterinário

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    Iuando -oido +ulou do bol!o do ca!aco de ato8 Br. Carlo!8 o veterinário8

    ficou de olho arre,alado8 olhando +ara o! 'oido! olho! de -oido.

    ? Iue e!+>cie animal > e!taA ? Per,untou (árcio8 o ajudante.

    Como o Br. Carlo! era veterinário8 ficamo! todo! e!+era da !ua

    doutoranda o+ini$o. *t> -oido e!tava intere!!ad2!!imo8 0ueria !aber 0uem ele era8

    !e bicho8 ,ente8 mineral8 ve,etal ou fanta!ial. Br. Carlo! colocou -oido na me!a de

    eame8 a+"! ter lim+ado a dita cuja me!a com um al,od$o 0ue e!tava embebido em

    álcool8 +ra de!infetar.

    Lo,o 0ue -oido deitou na me!a8 come&ou a lacrimejar8 lacrimejar8

    lacrimejar. Lacrimejava tanto8 0ue (árcio teve 0ue +e,ar uma bacia8 onde a!

    lá,rima! de -oido ca2am8 em torrente! de +ranto.

    Br. Carlo! n$o !abia o 0ue fa'er. !tava com um termmetro na m$o8 ma!

    -oido n$o tinha aila!8 nem fiof"8 nem boca... Como > 0ue o +obre do doutor

    +oderia tirar a tem+eraturaA

    ? nfia o termmetro debaio da +ál+ebraD ? Cantarolou Furtacor8 meio

    +erver!amente +a!!arinho.

    Como -oido !" tinha olho!8 n$o havia outro jeito: o termmetro foi colocado

    debaio da +ál+ebra e!0uerda e lo,o a tem+eratura 0ue o tal termmetro mo!trava

    foi baiando8 baiando8 baiando... e o mercrio8 0ue > a0uela coi!a molhada e

    +rateada 0ue ei!te dentro do! termmetro!8 de!ceu tanto8 tanto8 tanto... 0ue !aiu e

    +in,ou na bacia8 de maneira má,ica e ine!+erada.

    ? !ta coi!a n$o > animal8 nem ve,etal8 nem mineral ? declarou o Br.

    Carlo!.

    ? 0uem !ou eu8 " e!culá+ioA ? 1errou -oido8 falando dif2cil.

    Furtacor n$o !abia o 0ue 0ueria di'er tal +alavr$o e come&ou a dar beijoca!

    na! bochecha! do Br. Carlo!8 +ara ele n$o !e 'an,ar.

    Ne!ta hora8 a! lá,rima! de -oido +araram de derramar e ele e+licou:

    ? u !ou todo olho!... n$o +o!!o deitar numa me!a 0ue tenha !ido lavada

    com álcool. Fico lacrimejando8 n>8 " e!culá+ioA

    ato8 nervo!o com o +alavr$o8 +edia de!cul+a! ao Br. Carlo!. (a! foi a2 0ue

    -oido e+licou8 +oi! era muito lido e adorava dicionário!:

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    ? !culá+io 0uer di'er m>dico. Vem da mitolo,ia ,reco9romana8 deu! da

    medicina. Be modo 0ue eu8 -oido8 chamei o 0uerido Br. Carlo! de m>dico e n$o

    in,uei nin,u>m8 oraD

    Br. Carlo! !orriu e concordou. ra o nico 0ue !abia o 0ue era e!culá+io8

    fora -oido.

    ? *cho 0ue -oido > uma e!+>cie oftalmol",ica9mitol",ica9bra!ilien!eD ?

    Beclarou Br. Carlo!.

    -oido adorou e +ediu uma certid$o. foi a!!im 0ue -oido ficou

    cla!!ificado e teve !eu! +a+>i! em ordem8 com carimbo8 a!!inatura e!culá+ia e tudo

    o mai!.

     *28 como @,or8 vul,o Gui,ui8 havia !ido vacinado e -oido obtivera uma

    certid$o8 Furtacor in!inuou 0ue a hora de comemorar era mai! do 0ue che,ada.

    mbarcamo! todo! no fu!ca Petit9Poi!8 0ue tem e!te nome +or cau!a de !ua cor de

    ervilha8 e fomo! comer chocolate! numa loja 0ue chama ]at'8 0ue ei!te em

    Petr"+oli!8 e > uma +erdi&$o de ,o!to!ura!.

    N$o foi fácil embarcar todo o mundo na0uele carrinho: (árcio e Gui,ui8

    Furtacor8 Br. Carlo!8 ato8 eu8 -oido... Na verdade8 era !" um cachorro8 doi! olho!8

    um+a!!arinho e 0uatro ,ente!8 ma! -oido fe' 0ue!t$o de n$o abandonar a bacia de

    lá,rima!8 tirando o mercrio ante!.

    ? S$o minha! lá,rima!8 chorada! +or meu! olho!8 v$o comi,o. eu 0uero

    ir dentro8 boiando8 +ara refri,erar minha vi!taD

    ato !e,urava a bacia8 eu ,uiava o Petit9Poi!8 Furtacor voava dentro do

    carro8 e Br. Carlo! e (árcio8 educadamente8 !orriam8 +oi! eram educado!.

    * farra chocolateira8 0ue doideiraD

    Che,ando na loja de chocolate!8 foi um del2rio: Furtacor viu uma torta8 toda

    enfeitada de ro!inha! de a&car8 mer,ulhou nela e !" !aiu8 de+oi! de devorá9la

    inteira. Be modo 0ue8 en0uanto com2amo! chocolate! a!!im e chocolate! a!!ado!8

    Furtacor8 !umido dentro da torta8 devorara 0uantidade! enorme!. Saiu ,ordo8 com

     jeito de +ombo8 da0uele! imen!o!.

    Br. Carlo! receitou um +ur,antinho8 ma! nem foi +reci!o. Pa!!arinho come e

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    de!come com enorme facilidade. Furtacor8 muito educado8 +rocurou a mar,em do

    rio Iuitandinha8 di!cretamente !entou debaio de uma hort=n!ia e de!comeu a torta8

    voltando a ficar com !eu jeito habitual de colibri. * hort=n!ia !e aborreceu toda e

    murchou. Bi'em 0ue > +or cau!a di!!o 0ue a! hort=n!ia! !umiram da! mar,en! do!

    rio!8 em Petr"+oli!: cul+a do Furtacor. Por0ue a! outra! hort=n!ia!8 vendo o 0ue

    acontecera com a cole,a8 !e acabaram de +reocu+a&$o.

    -oido n$o +artici+ou da comilan&a ali na loja8 ma! acabou com fome8 de

    tanto ver a ,ente ma!ti,ar e di'er: ? Hum hum... 0ue del2ciaD

    Na verdade8 -oido n$o !e amarrava em doce!8 +oi! era um +ar de olho!.

    !endo um +ar de olho!8 0uando !a2mo! do tal ban0uete de chocolate!8 +a!!amo! +or

    uma farmácia8 0ue fica ali8 na %ua do @m+erador8 chamada Farmácia 1ra!il. Foi

    -oido ener,ar a farmácia8 danou de ,emer:

    ? )i8 ui... *i8 ai... )i8 ui8 ui... *i8 ai8 ai... Pin,uitim8 ,otelim+im8 ai8 ai8 de mimD

    Br. Carlo! achou 0ue -oido e!tava com al,uma dor8 al,uma doen&a8 !acou

    do termmetro +ara enfiar debaio da +ál+ebra dele8 ma! -oido defendeu9!e e

    fechou o! olho!8 bem fechadinho!8 ficando totalmente trancado. -oido berrava8

    com uma vo' 0ue vinha de dentro do !eu fechado olhar. ra uma vo' ,ritada9

    baiinchinha8 muito da fecha9trancado!a:

    ? e!culá+io8 eu n$o e!tou com doen&a8 eu e!tou com fome. N$o +o!!o

    ver uma farmácia 0ue fico tiririco de !aracotico8 doid$o +or um refre!co. u ;0uero um

    col2rio

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    m frente ao obeli!co de Petr"+oli!8 ou 0ua!e em frente8 ei!te uma livraria

    chamada Obeli!co8 > l",ico. Iuando deram e!te nome +ara a livraria8 o obeli!co9

    monumento danou9!e todo8 entortou de tanta raiva e reclamava +ara o! ,uarda! de

    trMn!ito:

    ? Prendam a0uela livrariaD PrendamD um a!!alto8 !ocorroD *0uela livraria

    filha de um +a+el hi,i=nico8 !em com+o!tura8 !em no&$o de... de... !em no&$o de...

    +oi! >8 !em no&$o (S(O8 ela roubou meu nomeD Obeli!co !ou euD

     *28 o dono da livraria8 um livreiro 0ue convivia tanto com livro! 0ue já e!tava

    ficando com um certo jeito de livro... +or0ue8 re+arem bem: um ca!al8 0uando vive

    muito tem+o junto8 n$o fica +arecendo um com o outroA Poi!

    Paulinho ficou com jeito de livro e acabou !endo chamado de Livro *berto.

     *2 Paulinho Livro *berto foi e di!!e +ara o monumento:

    ? cara8 deia de onda8 !euD nt$o voc= n$o re+arou 0ue o nome Obeli!co

    > uma homena,em a voc=A

    ? *... a mimA ? Per,untou o obeli!co8 meio !em ,ra&a.

    ? L",ico. Voc= n$o > o obeli!co da0uiA a livraria n$o fica em frente a

    voc=A Poi! > homena,em8 e voc= ainda reclamaA @n,ratoD

    O obeli!co ficou enver,onhado8 deu um !orri!o de cimento e +edra8 entortou

    +ara o lado8 fe' uma curvatura e +ediu de!cul+a!.

    -oido8 muito do olh$o arre,alad$o8 aliá!8 olhKe! arre,alad>rrimo!8 foi +ra

    dentro da livraria e danou de ler o! t2tulo! de todo! o! livro!. Be+oi! leu o nome do!

    caderno!. Be+oi! leu a! nota! fi!cai!8 a! e+lica&Ke! de jo,o! /+oi! a livraria era

    metade livraria8 metade loja de brin0uedo! e +a+elaria3 e de+oi! de tanto ler8 -oido

    che,ou +erto de un! olho! a'ui!8 muito lindo!8 e ficou olhando8 !em +i!car.

    O! olho! eram de laine8 e!+o!a do Paulinho Livro *berto. -oido nunca

    tinha vi!to olho! a'ui! t$o ,rande! e ci!mou de ficar olhando !em ter nem um

    de!confimetro. laine ficou enver,onhada8 n$o 0ueria ficar com a0uele -oido

    olhando fio +ra ela. *2 ela di!!e:

    ? Parece 0ue o tem+o vai e!friar8 n>A

    -oido firme8 de olh$o ace!o8 n$o re!+ondeu.

    ? Voc= n$o e!tá !entindo um frio'inhoA ? in!i!tiu laine. -oido8 nada. S"

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    ficava de olhKe! arre,alad>rrimo! e danou de !e a+aionar +or laine.

    ? -oido8 e!ta jovem > ca!adaD ? Bi!!e ato8 com tato8 ou falta de tato.

    Paulinho Livro *berto di!!e 0ue n$o tinha im+ortMncia. *final8 -oido n$o era

    ,ente8 era um mon!trinho ,racinha.

    -oido adorou a fra!e e +ulou no colo do Paulinho Livro *berto8 +oi! era um

    mon!trinho oftalmol",ico8 > l",ico 0ue !ua! +aiKe! n$o tinham be!ta,en! humana!.

    Be re+ente eu di!!e +ro ato:

    ? Cad= Gui,ui e FurtacorA

    %ealmente8 e!távamo! t$o +re!tando aten&$o a outra! coi!a! 0ue

    e!0uecemo! de verificar !e Gui,ui e Furtacor no! acom+anhavam.

    Sa2mo! correndo +ela %ua do @m+erador8 ,ritando:

    ? FurtacorD Gui,uiD Gui,uiD FurtacorD FurtacorD Gui,uiD

    O! doi! haviam !umido. Iue calamidadeD

    m bu!ca do! de!a+arecido!

    -oido ficou ultra9!u+er9nervo!o com o de!a+arecimento de Gui,ui e de

    Furtacor. Sem+re 0ue -oido ficava muito mal do! nervo!8 ele +i!cava8 !em +arar:

    ti0ue9ti0ue9ti0ue9ti0ue.

    odo o mundo8 ali8 na %ua do @m+erador8 come&ou a +rocurar. (uita!

    +e!!oa! nem !abiam o 0ue tinha !umido8 ma! +rocuravam. foi a!!im 0ue !enhora!

    ido!a!8 velhote!8 freira!8 Paulinho Livro *berto8 laine8 ato8 eu8 doi! ,uarda! de

    trMn!ito8 vinte aluno! do Col>,io Sta. @!abel8 tr=! +rofe!!ora! do Col>,io ^ernec8 um

    ,arotinho chamado Bie,o8

     _n,ela e *n,elita8 um turi!ta +ara,uaio8 dua! !enhora! en!acolada! 0ue

    tinham com+rado malha! numa rua 0ue !" vende malha!8 um motori!ta de nibu!

    0ue havia com+rado um !andu2che8 a0uele tio 0ue voc= nem !abe 0ue voc= tem8

    +arente da0uela !ua tia annima8 +rima do !eu av8 +or +arte de !o,ra8 todo o

    mundo +rocurava. Petr"+oli! inteira +rocurava.

    ? Cad=A Cad= de cade0uer=A (a! cad= o 0u=A

    ? O 0u=A

    ? Cad=A

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    O obeli!co virou um +onto de interro,a&$o. na +ra&a em frente8 uma

    e!tátua de B. Pedro Se,undo8 muito +reocu+ado8 inda,ava:

    ? Cad=A

    O trMn!ito +arou. * confu!$o foi tanta8 0ue nin,u>m !e entendia mai!. foi a2

    0ue8 de re+entinamente8 um colibri +a!!ou +or cima da confu!$o8 batendo a! a!inha!

    e jo,ando beijoca!. Claro 0ue era o FurtacorD *trá! dele8 muito intere!!ado em

    +o!te!8 vinha Gui,ui. (a! o +ovo8 0ue n$o !abia a 0uem !e +rocurava8 nem re+arou

    no! achado! 0ue e!tavam +erdido! e continuava a +rocurar.

    ato a+roveitou8 enfiou Gui,ui8 Furtacor8 -oido8 eu e ele no fu!ca Petit9Poi!8

    bu'inou e meteu o +> no acelerador8 0ua!e atro+elando o obeli!co8 0ue +ulou +ro

    lado8 berrando:

    ? )iD

    Naturalmente8 obeli!co! n$o +ulam +ro lado. (a! e!ta hi!t"ria n$o >

    totalmente natural8 n>A Garanto8 +or>m8 0ue foi a!!im8 oraD

    !0ueci de contar o +ior: ato n$o !abe diri,ir. Subimo! +ela %ua Santo!

    Bumont8 0ua!e voando8 viramo! e!0uerda8 e che,amo! em ca!a. S" 0ue ato

    e!0ueceu da ,ara,em e fe' o fu!ca !ubir o! de,rau! do jardim. Petit9Poi!8

    lou0u>rrimo fu!ca8 con!e,uiu de!em+enhar a fa&anha e e!tacionou no alto do jardim8

    bem na entrada da no!!a ca!a8 ao lado de uma ro!eira. *,ora8 Petit9Poi!8 o no!!o

    verde fu!0uinha8 ficou morando ali8 bem juntinho da ,ente. foi com certo e!+anto

    0ue ouvimo! uma vo' fanho!a de bu'ina declarar:

    ? N$o 0uero dormir mai! na0uela ,ara,em lá embaio. Po!!o morar com

    voc=!A Po!!oA Fon9fon... voc=! deiamA

    L",ico 0ue deiamo!. *,ora o Petit9Poi! dorme na !ala de vi!ita!8 numa

    cama de +neu! ;Good`ear

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    ma! a vida > i!!o a28 intimidade tem ronco!8 tamb>m. Iuem ronca mai! alto de todo!

    > Gui,ui8 o c$o9de9,uarda. Borme a noite toda8 como um verdadeiro c$o mimado.

    n$o > +ra ,ente mimarA

    @,or8 vul,o Gui,ui

    @,or foi cre!cendo8 tal como cre!cem o! c$e! +a!tore!. Na verdade8 era uma

    ,racinha8 uma ternura8 um encanto. Ficou muito ami,o de -oido8 o Gui,ui.

    Furtacor voava8 no jardim8 em volta dele.

     E noite8 n"! ficávamo! na !ala. E! ve'e!8 a!!i!t2amo! televi!$o8 outra!

    ve'e! ouv2amo! m!ica.

    ato tem mania de e!cutar (o'art8 e @,or8 no!!o Gui,ui8 na! nota! alta!8

    cantava junto.

    Gui,ui tinha orelha! meio ca2da!8 ainda8 +or0ue era filhotinho. *! orelha!

    do! c$e! +a!tore! alem$e! devem ficar ereta!8 ma! a! dele ainda eram molen,a! e

    uma !" ficava +ra cima8 a outra ficava +ro lado8 +arecendo +onteiro! de rel",io8

    0uando marcam tr=! hora!.

    -oido era ,o'ador e im+licava com Gui,ui8 ,ritando:

    ? Iue hora! !$oA

    Furtacor8 dando beijoca! no focinho de Gui,ui8 di'ia8 docemente:

    ? -oido8 deia o Gui,ui em +a'D

    Gui,ui cre!cia e cre!cia. Be re+ente8 a! orelha! ficaram 0ua!e de +>8 ma!

    ficaram em cru'. -oido ,ritava:

    ? Gui,ui8 cru'... credoD

     *28 Furtacor defendia o Gui,ui e di'ia 0ue a! orelha! de Gui,ui eram

    ece+cionai!8 +or i!!o me!mo8 rara!.

    Gui,ui foi cre!cendo. omou toda! a! vacina!8 era e!covado e mimado e

    come&ou a latir com vo' de cachorr$o.

     *28 no dia YY de a,o!to de 56JR aconteceu uma tri!te'a t$o tri!te8 0ue !e

    voc= n$o 0ui!er !aber8 n$o leia.

    Se voc= continuou a ler8 > +or0ue voc= !abe 0ue a! tri!te'a! fa'em +arte

    da! hi!t"ria! da vida. Gui,ui +e,ou uma doen&a 0ue !" dá em cachorro! e lobo!:

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    cinomo!e. le havia !ido vacinado8 ma! Br. Carlo! e+licou 0ue a0uela doen&a era

    terr2vel8 havia al,un! cachorro! 0ue8 me!mo vacinado!8 contra2am a cinomo!e. )ma

    +erna do Gui,ui come&ou a tremer8 e ele chorava8 chorava.

    Furtacor tra'ia a!+irina8 no bi0uinho. -oido +in,ava lá,rima! de col2rio de

    amor no! olho! de Gui,ui8 n"! dávamo! rem>dio!... ma! Gui,ui chorava de dor. a28

    a outra +erna come&ou a tremer e Gui,ui n$o con!e,uia +arar de chorar8 nem n"!.

    Br. Carlo!8 com o ro!to +álido de tri!te'a8 di!!e 0ue era nece!!ário fa'er o

    Gui,ui dormir +ra !em+re. Iue ele iria tomar um rem>dio 0ue tiraria toda a dor dele8

    !eria como uma canti,a de ninar. n"! !" !ab2amo! chorar. Foi a!!im 0ue8 cercado

    de amor8 Gui,ui +artiu +ra dormir +ra !em+re.

    No lu,ar em 0ue Gui,ui brincava8 ali8 no +e0ueno +omar8 hoje8 0uando vim

    contar a hi!t"ria8 abra&ada com Furtacor e -oido8 olhei +ara a ameieira. Gui,ui

    adorava comer ameia! e ficava mordendo o caro&o... Olhamo! +ara a ameieira.

    Seu tronco e!tava cheio de or0u2dea! em flor. *! flore! !ur,iram t$o re+entinamente8

    t$o lila!e! e linda!8 como !e a árvore 0ui!e!!e fa'er uma fe!ta de core! roa!... ma!

    me!mo a!!im8 bela!.

     *28 Furtacor beijou toda! a! or0u2dea!8 como !e beija!!e o focinho de

    Gui,ui.

    -oido n$o chorou nem !e0uer uma lá,rima. eu com+reendi 0ue -oido8

    com o !eu !il=ncio8 0ueria no! di'er 0ue a morte fa' +arte da vida e 0ue nova! core!

    flore!cer$o. 1a!ta !aber ver.

    Sei 0ue tudo i!!o > dif2cil de e+licar. * ,ente !abe e !ofre. (a! a! or0u2dea!

    !$o bonita! ao !ol e o autom"vel Petit9Poi! fe' uma linda +ro+o!ta:

    ? Vamo! !er feli'e!8 em mem"ria de Gui,uiD

     *28 aceitamo! tentar. fomo! todo! almo&ar com laine8 a do! belo! olho!

    a'ui!8 e com Paulinho Livro *berto.

    !colhemo! +ara i!!o um re!taurante chamado Vale do %eno8 cercado de

    flore!. Comemo! e conver!amo!. u8 0ue e!tava de re,ime8 me deliciei com dua!

    !obreme!a!. o dono do re!taurante8 Leonardo8 !orrindo8 me troue dua! 2cara! de

    cafe'inho.

     *!!im8 me!mo com certa dificuldade8 reencontramo! o! !orri!o!.

    de+oi! fomo! todo! ao circo8 +ara rea+render a !orrir melhor.

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    O circo (o!covita

     *li8 +erto de Correa!8 em Petr"+oli!8 che,ou um circo de lona a'ul e cor de

    laranja. ra !im+le!8 lindo8 mambembe.

    N$o ei!te nada mai! lindo do 0ue um circo bem mambembe8 com !eu!

    +alha&o! +obre!8 !ua atmo!fera verdadeiramente circen!e. N$o tinha nada 0ue

    lembra!!e +ro,rama de televi!$o8 ou a0uela! coi!a! 0ue a ,ente v= em cinema. ra

    al,o feito de !onho e ,ente8 bicho e mi!t>rio.

    Che,amo! atra!ado!. ato correu na frente8 como um menino aflito8 +oi!

    ato tem mania de circo8 a+e!ar de já !er vov.

    Petit9Poi!8 +or !er autom"vel8 n$o +odia entrar. +roibida a entrada de

    fu!ca!8 e+licou a mo&a 0ue vende o! in,re!!o!. (a! como Petit9Poi! come&ou a

    bu'inar de de!ola&$o8 o +alha&o ficou com +ena8 viu8 entendeu8 !u!+endeu um

    +edacinho da lona e Petit9Poi! deu uma che,adinha8 e!cancarou o! far"i! e armou

    um !orri!o de +ára9cho0ue.

    Lá dentro8 uma mulher andava na corda bamba8 um an$o fa'ia acrobacia!8

    uma an$ bonitinha dan&ava fora do ritmo. inha tamb>m uma maca0uinha8 chamada

    Chi0uete8 0ue u!ava uma rou+a de bailarina8 toda bordada de lantejoula!.

    O! +alha&o! eram tr=!: o an$o da acrobacia8 um ,ordo e outro ma,ro.

    Be+oi!8 ele! a+areciam como ;lo! muchacho! meicano!

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    (a!8 foi a!!im8 ora. de+oi!8 -oido di!!e:

    ? Crian&a deve de!enhar +or de!enhar. Concur!o +ra ver 0uem de!enha

    melhor > be!ta,emD

    Boi! me!e! de+oi!

    Foi +reci!o +a!!ar mai! de doi! me!e! +ara 0ue eu +ude!!e voltar a

    conver!ar com voc=. * +erda de Gui,ui do2a muito8 e +erdi a vontade de ale,rar

    hi!t"ria!.

    -oido8 tadinho8 ficou lacrimejando e!condido. Iuando eu che,ava de

    re+ente8 ele +i!cava8 mentindo 0ue tinha ca2do uma +e!tana dentro do olho.

    (a! aconteceu al,o im+ortante no no!!o jardim: Furtacor voa9voava +ra lá8

    voava +ra cá... de!cobrimo! um ninho8 ali8 no e!condido da! !amambaia!. ra um

    tran&adinho lindo e8 dentro8 havia tr=! ovinho!.

    ? (inha ami,a Sabiá e!tá de chocoD ? +licou Furtacor8 muito

    emocionado.

    -oido foi ver. N"! fomo! tamb>m. Petit9Poi! foi +roibido de che,ar +erto8

    +or0ue > muito barulhento8 +odia a!!u!tar a dona Sabiá.

    Olhamo! o! ovinho!. Be lon,e8 a dona Sabiá mo!trava uma certa

    +reocu+a&$o8 ma! Furtacor voou at> ela e falou a!!im8 muito do rimadinho:

    ;Bona Sabiá8 +luma de cantar8

    +ena de voar8 m$e de tr=! ovinho!8

    n$o !e +reocu+e com o! !eu! vi'inho!8

    !$o +e!!oa! bem8 0uerem !" olhar8

    +ode !o!!e,arD<

    de+oi! de di'er o ver!o8 Furtacor !a+ecou uma beijoca na dona Sabiá8 0ue

    re!+ondeu:

    ? enha modo!... !ou m$e de fam2liaD

    Pouco! dia! de+oi!8 na!ceram ico8 i0uitico e i0uititim. Na!ceram de bico

    aberto8 +edindo comida.

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    foi a2 0ue ato !aiu e voltou com um +ratinho de á,ua fre!ca e um +ire!

    cheio de farelo de bi!coito amantei,ado de Petr"+oli!. Foi uma fe!taD

    Ne!!e momento8 -oido declarou:

    ? Nada como um dia de+oi! do outro.

    Petit9Poi! ficou t$o comovido8 0ue come&ou a bu'inar8 a bu'inar a0uela

    bu'ina 0ue > alarme. Bona Sabiá tam+ava o! ouvidinho! do! filhote!8 di'endo:

    ? le! v$o !e a!!u!tarD Fa&am e!te bicho9carro emudecer8 credoD

    (a! Petit9Poi! n$o +arava. Foi +reci!o -oido dar um !u!to nele8 ficando na

    frente do carro e entortando o! olho!. *28 Petit9Poi! !e acalmou8 di'endo:

    ? Be!cul+em. Fi0uei com !olu&o... foi muita emo&$oD

    * via,em

    %ecebi um telefonema de Salvador. ra dif2cil de e!cutar o 0ue a @vone di'ia8

    lá do outro lado. Por0ue8 lo,o 0ue eu di!!e: ? de SalvadorA ? Furtacor come&ou

    a dar beijoca! no telefone8 meendo a! a!a! +ra lá e +ra cá e acabando +or cantar8

    muito re0uebradinho8 uma canti,a 0ue di'ia a!!im:

    ;Na 1ahia tem8

    vou mandar bu!car8

    lam+e$o de vidro8 " maninha8

    ferro de en,omar

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    andando8 ao! +ulinho!. Cada um mudou !eu jeito de locomo&$o8 meno! -oido8 0ue

    e!tá !em+re na dele8 me!mo