meu sangue aprova

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ESTAR APAIXONADA POR UM VAMPIRO JÁ É DIFÍCIL POR DOIS, ENTÃO... Alice Bonham é uma garota de dezessete anos que sente sua vida mudar completamente após conhecer Jack. O garoto é diferente de qualquer pessoa que ela já conheceu, gosta de All-Star pink e de rock New Wave. Jack e Alice ficam bastante próximos, e o garoto então decide que é hora de sua amiga visitar sua família. Porém, quando ela conhece o irmão de Jack, Peter, Alice sente uma atração imediata por ele. Peter, por sua vez, a trata com desdém e mantém certa distância da garota. Alice mal consegue respirar quando está perto dele, seu coração bate mais forte. Estar apaixonada por dois garotos tão diferentes, contudo, não é o pior dos seus problemas. Jack e Peter são vampiros, e Alice se envolve em um triângulo de amor e sangue que você irá descobrir ao longo das páginas de Meu sangue aprova. Amanda Hocking traz uma história única e envolvente, nesta fantasia urbana. Seus personagens cativantes pulam para fora das pági

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Meu sangue aprova

Amanda Hocking

S ã o P a u l o , 2012

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2012IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO ÀNOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

CEA – Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia 2190 – 11º Andar

Bloco A – Conjunto 1111CEP 06455-000 – Alphaville – SP

Tel. (11) 2321-5080 – Fax (11) 2321-5099www.novoseculo.com.br

[email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Hocking, AmandaMeu sangue aprova / Amanda Hocking ; [traduzido por Maria Thereza Moss]. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2012.

Título original: My blood approves

1. Ficção norte-americana I. Título.

12-11545 CDD-813.5

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção : Literatura norte-americana 813.5

Copyright@ 2010 Amanda HockingCopyright © 2012 by Novo Século Editora Ltda.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Produção Editorial

Tradução

Diagramação

Capa

Preparação

Revisão

Carolina Ferraz

Maria Thereza Moss

Francisco Martins/Project Nine

Carlos Eduardo Gomes

Catia Almeida

Fernanda Guerreiro Antunes

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Arrepios cobriam todo o ombro de Jane e ela bateu o pé, ao menos parcialmente, por causa do frio. Ela diria que era somente por causa de sua frustração com a fila e insistiria que fumar um cigarro atrás do outro a manteria aquecida.

– Isto é realmente enfurecedor – disse Jane, jogando o cigarro na cal-çada molhada e esmagando-o com sua bota de salto fino.

– Talvez devêssemos ir embora – sugeri.Nossos documentos falsos não foram tão impressionantes quanto o

contato de Jane havia prometido, e esta seria a terceira casa noturna que nos enxotaria, caso conseguíssemos chegar até a porta.

Como íamos sair à noite, deixei Jane me vestir, então tudo era apertado e revelador demais para a noite de Minnesota. Uma névoa pesada se instalara sobre nós, mas ela se recusava a tremelicar ou admitir que qualquer coisa a incomodava. Seu plano era se embebedar loucamente e ficar com alguém escolhido de forma aleatória, e eu não conseguia argumentar com ela.

– Não! – Jane sacudiu a cabeça negativamente. – Tenho um bom pres-sentimento sobre este lugar.

– Já passa da meia-noite, Jane.O par de sapatos de salto alto que eu emprestara dela estava danificando

meus pés, então desloquei meu peso para aplacar a dor.– Só quero dançar e ser idiota – começou a choramingar.Isso a fez parecer ter muito menos do que 17 anos, então tínhamos

ainda menos chance de entrar no lugar. – Vamos lá, Alice! É isso que é ser jovem!– Realmente espero que não – murmurei. Esperar em uma fila durante

horas e ser barrada em casas noturnas não parecia divertido. – Podemos tentar de novo no próximo fim de semana. Eu prometo. Teremos mais tempo de fazer documentos melhores.

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– Eu nem tenho nada alcoólico.Sua expressão tinha se tornado uma careta, mas eu sabia que ela estava

começando a ceder.– Com certeza podemos encontrar bebida em algum lugar – disse.Jane podia encontrar álcool como eu encontrava água. Ela não tinha do

que reclamar. Aonde quer que Jane fosse, uma festa certamente a seguiria.– Tudo bem – suspirando, ela saiu da fila e seguiu em direção ao meu

apartamento, longe das luzes fortes das danceterias e dos bêbados fumando cigarros. – Mas você me deve uma.

– Por que eu te devo uma?– Por me fazer ir embora cedo.Já estávamos a alguns metros da fila quando eu não pude mais suportar.

Parei e arranquei os sapatos emprestados, preferindo andar descalça no cimento sujo a arriscar ganhar mais calos. Provavelmente, goma de mascar ou algo parecido grudaria em uma ferida recente e eu acabaria com tifoide ou raiva, mas ainda parecia uma opção melhor.

Caminhamos para suficientemente longe das casas noturnas, onde as ruas começavam a parecer desertas, e duas adolescentes andando pelo cen-tro de Minneapolis não era a coisa mais segura do mundo.

– Devíamos pegar um táxi – sugeri.Jane sacudiu a cabeça, negando qualquer sugestão de táxi. Não tínha-

mos muito dinheiro, então quanto mais longe estivéssemos, mais curta seria a corrida de táxi. Eu morava em Loring Park, que não era realmente tão longe de onde estávamos, mas também não era perto o suficiente para ir a pé.

Um táxi verde e branco navegou por nós e eu fiquei olhando e ansiando por ele.

– De qualquer forma, precisamos desse exercício – disse Jane, notando minha expressão.

Não sei por que eu havia concordado com suas baboseiras. Elas sempre eram muito mais divertidas para ela do que para mim. Ser a menos sexy da dupla não era uma vida muito glamorosa.

– Mas meus pés doem – disse.– Beleza é...

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– ... dor, sim, sim, eu entendi – resmunguei, cortando o assunto.Jane acendeu outro cigarro e nós caminhamos em silêncio. Eu sabia que

ela estava de mau humor por causa da danceteria e de ter tentado maquinar alguma aventura empolgante para me arrastar com ela, mas eu não cairia nessa desta vez.

O barulho do tráfego da avenida Hennepin havia esvanecido o suficiente para que eu pudesse ouvir o eco dos passos atrás de nós. Jane parecia não perceber, mas eu não podia deixar de sentir que estávamos sendo seguidas.

Então os passos atrás de nós começaram a ficar mais rápidos, tornando--se mais pesados e mais altos, combinados com o som de respirações irre-gulares e vozes masculinas sussurrando.

Jane olhou para mim, e o pânico em seus olhos significava que ela tam-bém estava ouvindo. Ela era a mais corajosa de nós duas e deu uma olhada por sobre o ombro.

Eu estava prestes a perguntar o que ela havia visto quando começou a correr a toda velocidade, e aquela resposta foi suficiente para mim. Tentei acompanhar, mas ela não ia diminuir o ritmo por minha causa, mantendo--se alguns passos à frente.

A rua terminava em um estacionamento. Jane correu para dentro dele e eu a segui. Devia haver outros lugares com mais gente, mas sua primeira escolha foi um estacionamento subterrâneo mal iluminado.

Eu me permiti olhar para trás pela primeira vez. Na escuridão, pude ver pouco mais do que as silhuetas de quatro homens grandes. Quando me viram olhando, um deles começou a assobiar e fazer piadinhas.

Corri e percebi que Jane não estava à minha frente. Eu não tinha um bom reflexo de lutar ou fugir, então simplesmente congelei quando não a vi.

– Aqui – sussurrou Jane, mas o eco no estacionamento era terrível. Eu não sabia de onde a voz estava vindo, então fiquei paralisada sob

uma trêmula luz amarela e esperei que minha morte fosse rápida e indolor.

– Oi, garotinha – um dos caras ronronou numa voz que parecia tudo menos amigável.

Virei-me para encará-los. Quando parei de correr, eles também para-ram, e agora caminhavam em minha direção.

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– Você sempre foge de um pouco de diversão? – perguntou outro. Por algum motivo, o resto deles achou aquilo hilário, e as risadas ecoa-

ram no estacionamento.Os fios de cabelo da minha nuca se arrepiaram, e abri a boca para dizer

alguma coisa, talvez até gritar, mas nada saiu. Fiquei em pé em uma poça de água gelada e óleo, e a luz acima de mim decidiu se apagar de vez.

Fechando bem os olhos contra a escuridão, eu não queria arriscar ver nada do que fizessem comigo. Eles falavam entre si, rindo e fazendo piadas pervertidas, e eu soube que ia morrer.

De algum lugar atrás de mim, ouvi o cantar de pneus, mas isso só me fez apertar ainda mais os olhos.

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– Ei! O que estão fazendo? – uma voz gritou ao meu lado. Assim que ouvi, soube que a voz não pertencia ao grupo de caras se

fechando ao meu redor, e abri os olhos.– O que você tem a ver com isso? – rosnou um grande homem tatuado,

mas ele começou a dar um passo para trás. Um carro havia estacionado na vaga à minha direita e a luz forte dos

faróis me atravessava.– Acho que vocês deviam cair fora – disse a nova voz.Espiei em sua direção, mas a sombra criada pelos faróis o escondia.

Estava escuro demais para que eu distinguisse qualquer coisa, exceto a camiseta cor-de-rosa que vestia.

Ele deu mais um passo à frente e meus potenciais atacantes continua-ram dando passos para trás. Eles não estavam se afastando rápido o bas-tante, então, de repente, o borrão da camiseta cor-de-rosa avançou sobre eles.

A escuridão e meu medo não me deixavam mais confiar nos meus olhos. Parecia que a camiseta cor-de-rosa estava se movendo mais rápido do que era possível para um humano, e os caras gritaram quando ele os empurrou e os fez voar para fora do estacionamento.

Pisquei os olhos para focar melhor, e todos haviam desaparecido.Não todos exatamente. A luz acima de mim tremulou e acendeu-se

novamente, e o cara de camiseta cor-de-rosa estava parado ao meu lado. Cruzando seu tórax em grandes letras pretas, a camiseta dizia: “Homens de verdade usam rosa”.

Ele parecia mais velho do que eu, provavelmente tinha seus vinte e pou-cos anos, e não era particularmente forte ou alto. Na verdade, ele pendia mais para magricelo do que para musculoso, e eu não podia imaginar o que havia assustado os outros caras.

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Sua fisionomia era aberta e amigável, e ele tinha um sorriso fácil que não pude evitar retribuir, embora eu tivesse estado a poucos segundos da morte.

– Você está bem? – ele perguntou, enquanto me avaliava.– Sim – disse, numa voz que mal soava como a minha própria. – Você

salvou minha vida.– Você não devia estar sozinha por aqui – ele respondeu, completa-

mente ignorando o fato de que tinha feito algo heroico.– Minha amiga Jane está por aqui em algum lugar.Lembrei-me de Jane e olhei ao redor procurando por ela. Parte de mim

estava com raiva por ela não ter feito nada para me salvar, mas eu também não fiz, e não achava que devia dar mais consideração a ela do que a mim mesma.

– Duas garotas? – Ele levantou uma sobrancelha.– Acho que Jane tem spray de pimenta – adicionei toscamente.– Onde está essa tal amiga? – Foi a vez de ele fazer uma varredura do

estacionamento, e então apontou para algo perto de uma van estacionada do outro lado. – Acho que a vejo ali.

– Onde? – Espremi os olhos na direção que ele havia apontado, mas não vi nada.

– Ali – ele repetiu, dando um passo em direção ao Jetta preto estacio-nado ao meu lado. – Venha. Vamos buscá-la e depois eu dou uma carona para vocês.

Andei até o lado do passageiro e nunca me ocorreu dizer “não”. Ele tinha algo que me fazia confiar nele.

O som do carro tocava Weezer e, sob o brilho das luzes azuis do painel, pude dar minha primeira boa olhada nele. Sua pele parecia perfeita, mas o cabelo era perfeitamente desgrenhado.

Ele acelerou pelo estacionamento e eu tirei os olhos dele para olhar pela janela. Jane estava acocorada atrás de uma van branca, e eu me perguntei se ela havia se preocupado em chamar a polícia ou algo assim. Ele parou o carro ao lado dela e baixou o vidro para poder se inclinar para fora.

– Jane? – disse ele, e ela se virou para encará-lo.Eu esperava que ela ficasse com medo, talvez até desatasse a correr

depois do que havia acabado de acontecer. Em vez disso, ela o olhou de modo muito estranho. Era quase como se estivesse maravilhada.

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– Olá – disse Jane. Não era sua voz de flerte normal, embora eu tivesse certeza de que era

isso que ela pretendia.– Jane, ele vai nos dar uma carona – disse, quando parecia que ela ia

ficar ali parada olhando para ele. – Entre no carro.– Claro. Ela sorriu para ele antes de escorregar para o banco de trás.– Você está bem? – Virei-me para olhar para ela.– Estou ótima – disse Jane, ainda boquiaberta por causa dele. – Quem

é o seu amigo aqui?– Na verdade, não sei – admiti, voltando o olhar para ele.– Sou Jack – disse ele, preenchendo a lacuna. – E você é Jane. – Então

ele olhou de volta para mim. – E você é?– Alice.– Bem, não sei vocês, mas eu realmente poderia tomar uma xícara de

café agora. Jack engatou a marcha do carro e acelerou, sem esperar resposta de

nenhuma de nós. Não era mesmo uma pergunta, afinal, e nenhuma de nós teria protestado.

– Este carro é muito bonito – disse Jane, e sua voz havia recobrado completamente aquele tom meigo enjoativo.

Jack não disse nada, e o silêncio começava a ficar constrangedor.– Isso é Weezer? – perguntei, só para dizer alguma coisa.– Sim – Jack confirmou com a cabeça.– Gosto daquela música “Pork and Beans”. Assim que mencionei a música, Jack rapidamente passou para aquela

faixa do CD.– Fui ao show deles quando fizeram um tour com o Motion City

Soundtrack – disse ele.– Mesmo? – Ignorei o olhar irritado que Jane me deu e continuei. – Eu

gosto muito deles. Como eles são ao vivo?– Bem bons.Jack encolheu os ombros e fez uma curva acentuada para entrar no

estacionamento de uma lanchonete 24 horas.

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Quando saímos do carro, Jane galopou até ele e enganchou seu braço no dele. Jack não parecia ter gostado daquilo, mas também não se afastou.

Do lado de fora, sob as luzes fortes da rua, dei outra boa olhada nele. Ele usava um par de bermudas Dickies, meias de futebol e um par de tênis All-Star azul-claro, além da camiseta cor-de-rosa. Ele parecia mais algodão--doce do que um interesse amoroso para Jane.

– Droga – disse depois de sair do carro e olhar para meus pés descalços e sujos.

Estavam cobertos de bolhas e óleo, e eu não podia nem pensar em espremer meus pés inchados dentro dos sapatos de Jane.

– O que foi? – Jack perguntou, e então acompanhou meu olhar. – Oh. É só ir descalça.

– Não posso ir descalça. Eu não via outra opção, mas não podia entrar em uma lanchonete sem

sapatos.– Você pode esperar no carro – Jane ofereceu com um sorriso presun-

çoso e se inclinou para mais perto de Jack, e ele soltou o braço dela e deu um passo para longe.

Ela pareceu um pouco derrotada, mas eu sabia que não desistiria tão facilmente.

– Não, você vai ficar bem – insistiu Jack. – Se reclamarem, eu cuido deles.

– O que isso quer dizer? – perguntei, mas ele já havia me convencido. Afinal, eu havia visto o modo como ele perseguiu uma gangue de caras

rebeldes. O pessoal do turno da noite de uma espelunca não teria nenhuma chance.

Como previsto, ninguém notou minha falta de sapatos. Na verdade, ninguém me notou, ou notou Jane. A garçonete manteve os olhos comple-tamente focados em Jack.

Ele se sentou primeiro, e Jane se espremeu ao lado dele; então ele con-tinuou se afastando até ficar colado na janela. Eu sentei em frente a eles, e Jack pôs os braços sobre a mesa, inclinando-se na minha direção.

– O que vão querer? – perguntou a garçonete.

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– Só café – respondeu Jack. – Ou vocês querem alguma outra coisa?– Café está bom – disse. Eu estava com um pouco de fome, mas me sentiria desconfortável

comendo na frente dele e de Jane.– Tem certeza de que não está com fome? – perguntou Jane, acariciando

o braço dele com os dedos, mas desta vez ele de fato recuou ao toque dela.– Não – Jack suspirou, então resmungou consigo mesmo –, mas gosta-

ria de estar.– O quê? – perguntou a garçonete, inclinando-se para mais perto dele.– Nada – Jack sorriu para ela. – Só o café.– Obrigada – eu disse à garçonete quando ela permaneceu por um

tempo na nossa mesa, e então ela se afastou para buscar nosso pedido.– Obrigada mais uma vez por nos salvar. – Jane pressionava o corpo

contra ele. – Se eu puder fazer qualquer coisa para retribuir, é só me dizer.Havia definitivamente algo estranho acontecendo, mas eu não conse-

guia definir o que era.A pele dele tinha um bronzeado de rato de praia, o que não era natural

para alguém de Minnesota em março. Os olhos eram de uma estranha cor azul-acinzentada, e havia algo tremendamente infantil neles, na verdade, nele todo; fora isso, nada parecia se destacar como muito atraente.

– Você é famoso ou algo assim? – soltei.Jane pareceu envergonhada o bastante por ambas de nós, então não me

importei em corar.– Como assim? – disse, confuso.– Todos estão olhando para nós. Para você – corrigi.Jack apenas encolheu os ombros e olhou para a mesa, mas não se impor-

tou em verificar se eu estava certa.– Não sou famoso – disse Jack. Ele parecia querer explicar melhor as coisas, mas então a garçonete apa-

receu com três canecas e um bule de café.– Mais alguma coisa? – perguntou a garçonete.– Não, obrigada – disse Jane bruscamente, colocando a mão possivel-

mente sobre a coxa de Jack até a garçonete se afastar.– Vamos, o que está havendo?

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Mantive os braços na mesa e me aproximei dele para falar em voz baixa.– Não sei responder. – Jack levantou o bule de café e serviu uma xícara

para ele e outra para mim, e então encheu também a de Jane. – Toma café com creme ou açúcar?

– Os dois.Eu era perfeitamente capaz de fazer isso sozinha, mas ele queria se ocu-

par para que eu não percebesse que ele estava evitando a pergunta. Ele jogou um potinho de creme e dois sachês de açúcar em meu café, e mistu-rou creme no dele; depois se recostou no banco.

– Eu também tomo com creme e açúcar – adicionou Jane.Jack empurrou o pote de açúcar na direção dela.– Então você não é famoso? Eu me recusava a abandonar a questão sem uma resposta direta.– Posso lhe assegurar de que não sou famoso – Jack sorriu. Uma coisa que eu podia dizer a favor dele era que ele tinha um dos

maiores sorrisos de todos os tempos.– Você me parece tão familiar – disse.– Pareço mesmo, não é? Ele me deu um olhar perplexo que espelhava o meu próprio olhar.– Então eu o conheço de algum lugar? Assim que disse isso, eu soube que não era exatamente aquilo. Eu podia

quase garantir que nunca o havia visto antes, mas havia algo inegavelmente familiar nele.

– É impossível – balançou a cabeça.– Como pode ser impossível? – perguntei. – Você acabou de se mudar

para cá ou algo assim?– É complicado. Ele tocou seu café e fez que ia beber, mas não chegou a levantar a caneca

da mesa.Jane se resignou a beber seu café e nos olhar enquanto conversávamos.

Ela terminou uma caneca e serviu outra.– Complicado como?– Apenas é. Jack me deu outro de seus incríveis sorrisos.

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De alguma forma, ele conseguia parecer muito jovem, como se tivesse 15 anos, enquanto ao mesmo tempo parecia mais velho do que eu. Havia algo em seus olhos. Eles eram muito jovens e muito velhos ao mesmo tempo.

– Quantos anos você tem? – perguntei direto ao ponto.Para minha surpresa, Jack riu e eu encontrei algo ainda mais incrível do

que seu sorriso. Ele tinha facilmente a maior risada do universo. Soava muito clara e perfeita.

– Quantos anos você tem? – replicou Jack, sorrindo para mim.– Eu perguntei primeiro. Recostei-me no assento, cruzando os braços, e isso o fez rir novamente.– Por que isso importa? – perguntou Jack. – Você é quem quer mais

saber.– Tenho 17 – suspirei.– E eu, 24 – disse Jack com um sorriso torto.– Você não se sente esquisito andando por aí com duas garotas de 17

anos? – perguntei.Em alguma parte da minha mente, parecia logicamente errado que um

homem de 24 anos estivesse com duas adolescentes estranhas. Mas sentada aqui, à mesa com ele, nada parecia mais natural ou seguro.

– Sou muito madura para minha idade – interveio Jane.– Se me lembro bem, se eu não estivesse por perto, vocês acabariam

morrendo. – Ele descansou os braços sobre a mesa, inclinando-se mais em minha direção. – O que estavam fazendo, afinal?

– Estávamos tentando entrar em uma danceteria, mas meus pés esta-vam me matando e eu só queria ir para casa – disse.

Ele olhou para mim por um minuto, a expressão séria parecendo fora de lugar em seu rosto, e então sacudiu a cabeça e encheu minha xícara de café.

– Em que danceteria estavam tentando entrar? – perguntou Jack.Então adicionou creme e açúcar ao meu café. Ele ainda não havia tocado

em sua própria caneca, mas decidi não dizer nada.– Sei lá – disse e encolhi os ombros. Eu apenas deixava Jane me arrastar

para onde quer que ela quisesse ir e esperava que ao final da noite eu con-

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seguisse chegar em casa inteira. – O que você estava fazendo no centro? Curtindo a noite?

– Dificilmente – disse Jack. – Eu estava... indo pegar algo para comer.– À meia-noite? – Levantei uma sobrancelha para ele.– Sou meio notívago. Ele deve ter se lembrado da hora, porque olhou para um relógio que

estava pendurado na parede. – Está ficando muito tarde. Eu devia levar vocês para casa.– Estou bem acordada – cantou Jane, mas para seu azar eu não me sen-

tia da mesma forma.Mesmo com o café e a adrenalina de algumas horas atrás, eu me sentia

muito cansada. Queria continuar passando um tempo com Jack, mas meu corpo inteiro havia começado a doer, especialmente minhas pernas e tornozelos.

– Estou ficando com muito sono – disse e, para pontuar a frase, bocejei alto.

Jack pagou a conta, embora eu tenha tentado me oferecer para pagar. Eram apenas alguns dólares e eu estava cansada, então não lutei muito.

Quando fiquei em pé, minhas pernas tentaram desabar sob mim, mas consegui manter o equilíbrio. Por um segundo, achei que Jack ia me levan-tar e me carregar até o carro. Jane deve ter tido a mesma ideia, porque ela se colocou entre nós.

Quase no mesmo instante em que sentei no carro, adormeci. Lembro-me de uma breve discussão sobre quem ele iria levar para casa primeiro. Acordei logo que Jack estacionou em frente ao meu prédio. Jane já havia partido, então imagino que ele a tenha deixado em casa primeiro. Não tenho cer-teza de como ele sabia onde eu morava, mas isso não pareceu importante naquela hora.

Deixei Jack do lado de fora do prédio e subi para o meu aparta-mento. Por sorte, minha mãe não chegaria em casa do trabalho antes das sete da manhã, e meu irmão mais novo, Milo, estava dormindo em seu quarto.

Dolorosamente, tirei a roupa ridícula com a qual Jane havia me vestido e botei uma camiseta exageradamente grande. Peguei meu celular com a

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intenção de conectá-lo ao carregador, mas desabei na cama com o telefone na mão antes de conseguir fazer isso.

Logo que comecei a adormecer, senti o telefone vibrar em minha mão, me acordando.

Bons sonhos :) – Jack.A mensagem de texto era de Jack, e eu senti meu coração bater mais

rápido. De alguma forma, enquanto eu dormia, Jack havia descoberto meu número e gravado o número dele em meu telefone.

Em outras circunstâncias, isso teria sido um pouco assustador, mas, neste caso, fez com que eu me sentisse feliz e aliviada. Desligando o celular, coloquei-o sobre a mesa de cabeceira e adormeci.

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