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MEU CABELO É BONITO, SEU PRECONCEITO NÃO:
questões étnico-raciais na educação infantil
Aline de Oliveira Silva – UGB, PIC
Beatriz Silva Moura – UGB, PIC
Resumo Essa pesquisa investiga o ensino e a prática pedagógica no contexto da educação infantil sob as legislações atuais em relação às questões étnico-raciais e suas implicações na educação e na formação da criança (representação de sua auto-imagem) e na construção de sua identidade. Muitas situações de discriminação e preconceito podem ser observadas e são pouco discutidas nas escolas e principalmente na Educação Infantil e, isso pode interferir na formação da identidade das crianças nessa faixa etária. O objetivo geral do trabalho é investigar como as relações étnico-raciais, os preconceitos e o racismo estão sendo discutidos e trabalhados na Educação Infantil. Nossa pesquisa de campo tem um enfoque qualitativo, e tem como lócus dez escolas de Educação Infantil na cidade de Volta Redonda – RJ. Estamos realizando toda a pesquisa enfatizando a interpretação das imagens (através dos desenhos) dos alunos, discursos de professores, funcionários e alunos e da observação das relações e práticas no cotidiano escolar. Buscamos fundamentação teórica através de pesquisas bibliográficas com autores, tais como Silva Júnior (2012), Santiago (2014), Aguiar; Piotto e Correa (2015), Braga (2016) entre outros. A Educação Infantil deve ser um lugar de produção de identidade das crianças negras, e também de uma educação antirracista, que propicie a conscientização e a valorização das diferenças. Propiciando às crianças negras uma representação positiva de si e o seu empoderamento, e também a todas as crianças uma convivência respeitosa e a consciência de seus direitos
Palavras-chave: Educação Infantil. Étnico-raciais. Cabelo. Preconceito.
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Introdução
O racismo é uma discriminação que ocorre ao se inferiorizar determinadas
características de uma etnia, e também, ao julgar uma etnia superior a outra. Ele está
presente ainda nos dias de hoje em todos os espaços sociais, inclusive na educação
que é palco de diversidades.
Diante desse infeliz quadro a Lei nº 11.645/2008 estabelece a obrigatoriedade
da inclusão no currículo de nossa educação a temática “História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena” visando diminuir a perpetuação e os efeitos causados pelo
racismo e preconceito presentes em nossa sociedade. Entretanto, a obrigatoriedade
abrange apenas o Ensino Fundamental e Médio, excluindo-se então a abordagem do
tema na Educação Infantil.
Sendo assim, a Educação Infantil que tem como objetivo o desenvolvimento
integral da criança em todos os seus aspectos e que influi diretamente na construção
da identidade das crianças e em seus referenciais sociais, como também em sua
conscientização, está excluída legalmente dessa obrigatoriedade. Contudo, ela é,
muitas vezes, lugar onde acontecem situações que demonstram discriminação e
preconceitos étnico-raciais. Situações essas que são colocadas de forma velada ou
revelada, consciente ou inconsciente.
Muitas situações podem ser observadas e pouco discutidas nessa etapa e isso
pode interferir na formação da identidade das crianças nessa faixa etária. Torna-se
vital, portanto, analisar e interpretar de que forma a Educação Infantil vem enfrentando
os dilemas, as práticas e os discursos racistas e discriminatórios. E, para tanto,
escolhemos o cabelo porque ele além de um símbolo da identidade negra é, também,
uma forma de discriminação, uma vez que o cabelo crespo é considerado fora do
padrão estético europeu.
O objetivo geral do trabalho é investigar como as relações étnico-raciais, os
preconceitos e o racismo estão sendo discutidos e trabalhados na Educação Infantil.
Pretende-se, então, refletir sobre a presença ou ausência de discussões sobre o
racismo e o preconceito étnico-racial nos processos ensino-aprendizagem da
Educação Infantil e analisar de que forma são trabalhadas as situações de
discriminação e preconceito vividos no cotidiano da Educação Infantil. Identificar a
influência da educação na valorização e formação da identidade negra, bem como
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avaliar a construção do significado de belo e o estereótipo de cabelo ideal pelos alunos
da Educação Infantil.
O cabelo e o preconceito
Práticas e atitudes discriminatórias auxiliam na perpetuação de diversas
crenças culturais, como por exemplo, a cor da pele ou o tipo de cabelo das crianças
negras. Aguiar, Piotto e Correa (2015, p. 382) explicam que:
Quanto aos cabelos, por exemplo, a expressão “cabelo ruim” ainda tem forte presença no vocabulário e apreciação negativa dos brasileiros com relação à população negra. Cor de pele e tipo de cabelo reproduzem os valores de uma sociedade marcada pela brancura. Cabelos lisos têm forte associação a padrões de higiene e beleza, enquanto cabelos de origem afro podem estar associados à falta de higiene e cuidado.
Certas crenças estão tão enraizadas pela população que nem sempre ocorrem
de forma consciente, como por exemplo, a decoração de uma sala de Educação
Infantil, onde é disposto apenas crianças ou personagens de contos de fadas, brancos
e com cabelos lisos, ou, ainda, crianças brancas que brincam entre si, excluindo os
negros, ou, então, designando-os nas brincadeiras como personagens pouco
valorizados. Essa última situação contraria e demonstra aos educadores que
acreditam que crianças não são de nenhuma maneira racista, que elas podem ser,
sim, discriminatórias, pois reproduzem comportamentos e padrões vistos em nossa
sociedade.
O cabelo crespo é visto como marca negativa da diferença racial e objeto de
deboche por muitos. A mídia e o padrão estético vigente atribui ao cabelo liso, o
significado de cabelo “bom”, belo, prático, domado e higiênico, fazendo com que as
mulheres negras se sucumbindo aos processos químicos de alisamento, para que se
adaptem ao padrão e não sofram piadas por ele (BRAGA, 2016).
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Metodologia
Nossa pesquisa de campo tem um enfoque qualitativo, e tem como lócus dez
(10) escolas de Educação Infantil na cidade de Volta Redonda – RJ. Estamos
realizando toda a pesquisa enfatizando a interpretação das imagens (através dos
desenhos) dos alunos, discursos de professores, funcionários e alunos e da
observação das relações e práticas no cotidiano escolar.
Resultados preliminares
Muitas vezes presenciamos ou ouvimos situações e ou relatos bem distantes
de uma formação considerada integral na Educação Infantil. O que podemos observar
são práticas discriminatórias explícitas ou veladas sobre a cor da pele ou o tipo de
cabelo das crianças negras. E, sobre o preconceito existente ainda hoje, entre os
professores e até mesmo entre as próprias crianças.
Como por exemplo, as meninas que desde cedo são forçadas ou submetidas a
rituais para prenderem seus cabelos em trancinhas e os meninos têm seus cabelos
raspados ou cortados com máquinas, bem baixinhos. Com um discurso de higiene
(como se eles do jeito que são mostram sujeira) e como forma de proteção contra os
piolhos. (como se cabelos lisos e de crianças brancas não pegassem e transmitissem
esse inseto). Muitas vezes esses rituais acontecem nas creches e pré-escolas e eles
são protagonizados pelos professores como transformação do feio em belo, do sujo
em limpo e na intenção de tornar as crianças mais aceitas.
Considerações finais
A Educação Infantil, não só não deve ser um espaço racista como também não
pode deixar de ser um espaço de conscientização e formação de sujeitos antirracistas.
Para tanto, ela deve ser: primeiro um lugar em que as relações sejam positivas com a
diversidade cultural, social e racial e sejam promovidas situações de interação. É um
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espaço onde professores e alunos devem se respeitar e as práticas não devem ser
de nenhuma forma, discriminatórias e preconceituosas (SILVA JÚNIOR, 2012).
Segundo, um lugar que objetiva a produção de identidade das crianças negras,
e também uma educação antirracista que propicie a conscientização, e a valorização
das diferenças. Propiciando às crianças negras uma representação positiva de si e o
seu empoderamento, e também a todas as crianças uma convivência respeitosa e a
consciência de seus direitos (SILVA JÚNIOR, 2012).
Referências Bibliográficas
AGUIAR, M. M.; PIOTTO, D. C., CORREA, B. C. Eletrônica de Educação, v. 9, n. 2, p. 373-388, 2015. Disponível em: <http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/view/1092/415> Acesso em: 10 fev. 2017. BRAGA, A. de O. “Solta o cabelo!”: etnografia sobre o cabelo crespo como marcador de identidade étnico-racial entre crianças negras da educação infantil. 2016. 139f. Dissertação (Mestrado em Educação, Comunicação e Cultura em Periferias Urbanas) Faculdade de Educação da Baixada Fluminense - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, 2016. SILVA JÚNIOR, H. Anotações conceituais e jurídicas sobre educação infantil, diversidade e igualdade racial. In: BENTO, M. A. S. (Org.). Educação infantil, igualdade racial e diversidade: aspectos políticos, jurídicos, conceituais. São Paulo: CEERT, 2012. p. 65-80.