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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS Escola de Design Programa de PósGraduação em Design – PPGD REQUISITOS AMBIENTAIS NO PROCESSO DE DESIGN DE PRODUTOS ELETROELETRÔNICOS: Contribuições para a Gestão da Obsolescência IGOR GOULART TOSCANO RIOS Belo Horizonte 2012

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UNIVERSIDADE  DO  ESTADO  DE  MINAS  GERAIS  

Escola  de  Design  

Programa  de  Pós-­‐Graduação  em  Design  –  PPGD  

 

REQUISITOS  AMBIENTAIS  NO  PROCESSO    

DE  DESIGN  DE  PRODUTOS  ELETROELETRÔNICOS: Contribuições  para  a  Gestão  da  Obsolescência

 

IGOR  GOULART  TOSCANO  RIOS  

 

 

 

 

 

 

 

Belo  Horizonte  

2012  

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Programa  de  Pós-­‐graduação  em  Design  (PPGD)  

MESTRADO  EM  DESIGN  

IGOR GOULART TOSCANO RIOS

REQUISITOS AMBIENTAIS NO PROCESSO

DE DESIGN DE PRODUTOS ELETROELETRÔNICOS:

Contribuições para a Gestão da Obsolescência

Belo Horizonte

2012

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IGOR GOULART TOSCANO RIOS

REQUISITOS AMBIENTAIS NO PROCESSO

DE DESIGN DE PRODUTOS ELETROELETRÔNICOS:

Contribuições para a Gestão da Obsolescência

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Design (PPGD) da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.

Linha de pesquisa: Design, materiais e processos. Orientadora: Profª. Drª. Rosemary do Bom Conselho Sales, Universidade do Estado de Minas Gerais. Coorientadora: Profª. Drª. Maria Regina Alvares Dias, Universidade do Estado de Minas Gerais.

Belo Horizonte

Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)

2012

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Aos meus pais e à minha irmã,

in memoriam:

Ana Lúcia Goulart Toscano Rios,

Kreuzer Toscano Rios e

Letícia Goulart Toscano Rios.

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AGRADECIMENTOS

À Professora Rosemary Bom Conselho Sales, orientadora deste trabalho, pelo empenho e dedicação, assim como à coorientadora Professora Maria Regina Alvares Dias. A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Design da UEMG, além de todos os colegas de trabalho da Escola de Design. Um agradecimento especial a todos os designers que tiveram a disponibilidade de atender às entrevistas, cuja participação foi imprescindível para o desenvolvimento desta pesquisa.

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RESUMO

RIOS, I.G.T. Requisitos ambientais no processo de design de produtos eletroeletrônicos: contribuições para a gestão da obsolescência. 2011. XXX f. Dissertação (Mestrado) - Escola de Design, Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012. A rápida obsolescência dos produtos eletrônicos de consumo tem provocado impactos ambientais, traduzidos pela redução de recursos naturais e aumento na produção de resíduos tóxicos, devido à aceleração da demanda por novos produtos. Os resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE), também denominados lixo eletrônico ou lixo tecnológico (e-waste), transformaram-se na mais rápida produção de fluxo de lixo do mundo pós-industrializado. Buscar soluções que venham minimizar os reflexos negativos da destinação inadequada ao final do ciclo de vida desses produtos vem se constituindo em preocupação mundial. As legislações específicas no cenário internacional buscam restringir o descarte inadequado desses resíduos, promovendo a substituição de substâncias tóxicas e incentivando a reciclagem e a reciclabilidade, a partir dos conceitos de responsabilidade estendida ao produtor, logística reversa e análise do ciclo de vida. O sistema de produção e de gestão da obsolescência desses produtos começa a ser revisto por força da legislação. No Brasil, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, sancionada em 2010, constitui um marco para a regulação dos REEE no país. Percebe-se que uma vertente de profissionais do design procura desenvolver estratégias de flexibilidade, a fim de contribuir para o gerenciamento da obsolescência, abrindo novas possibilidades de produção, de uso, de manutenção e de descarte de novos produtos. Nesse sentido, a presente pesquisa investigou a legislação atual e a literatura pertinente, buscando identificar os requisitos ambientais de projeto voltados para a gestão da obsolescência que são mais utilizados por empresas de design no desenvolvimento de projetos de produtos eletrônicos de consumo, atuantes na cidade de Belo Horizonte. Utilizaram-se, para a investigação, visitas técnicas e entrevistas semiestruturadas. Os resultados mostram que as práticas ambientais ainda são ações pontuais e superficiais, e distantes dos procedimentos da legislação específica. Palavras-chave: Design de Produto. Requisitos Ambientais. Produtos eletroeletrônicos. Obsolescência. Flexibilidade.

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ABSTRACT

RIOS, I.G.T. Requisitos ambientais no processo de design de produtos eletroeletrônicos: contribuições para a gestão da obsolescência. 2011. XXX f. Dissertação (Mestrado) - Escola de Design, Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.

The quick obsolescence of consumer electronics has caused environmental problems, reflected in the reduction of natural resources and in the increase of waste production, due to the accelerating demand for new products. Waste electrical and electronic equipment (WEEE), also known as electronic waste (e-waste), became the fastest waste stream production of post-industrialized world. Seeking solutions to minimize the negative effects of production, use and improper disposal of these products are becoming an global concern. The development of specific legislation on the international scene, starting from the directives WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment) and RoHS (Restriction of Hazardous Substances) restricts the inadequate disposal, promotes the replacement of toxic substances and encourages recycling and recyclability, through concepts like extended producer responsibility, reverse logistics and life-cycle analysis. In Brazil, the National Solid Waste Policy, enacted in 2010, classifies e-waste as special waste, and requires manufacturers, importers and retailers of electronic equipment to promote reverse logistics, recycling and proper final disposal. The system of production and the obsolescence management of these products begins to be reviewed under the law. One aspect of product design seeks to develop new possibilities in obsolescence management, through new opportunities on production, use, maintenance and disposal. In this sense, this research aims to verify the state of art of consumer electronics design in Minas Gerais, regarding the identification of design environmental requirements.

Keywords: Product Design. Environmental Requirements. Electrical and Electronic Equipment. Obsolescence. Flexibility.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figuras

Figura 1 - Dimensões da sustentabilidade ...................................................................... 27

Figura 2 - Modelo de 1930 da DuPont para GM G Le Mans Speedster. ........................ 32

Figura 3 - Distribuição geográfica de trabalhadores do setor eletroeletrônico no

Brasil ......................................................................................................................... 38

Figura 4 - Total de computadores no Brasil até 2017 ..................................................... 39

Figura 5 - Importações em USD bilhões e participação das importações no mercado

doméstico de bens finais ........................................................................................... 41

Figura 6 - Composição comumente presente nos REEEs ............................................... 40

Figura 7 - Etapas de pós-consumo dos equipamentos eletrônicos .................................. 48

Figura 8 - Placas de circuito de equipamentos eletrônicos ............................................. 49

Figura 9 - Fluxograma simplificado do processo de reciclagem dos REEEs ................. 50

Figura 10 - Modelo de gestão de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos

para o município de Belo Horizonte. ........................................................................ 48

Figura 11 - Destinação final do lixo urbano ................................................................... 62

Figura 12 - O que muda com a Lei Política Nacional de Resíduos Sólidos ................... 63

Figura 13 - Metodologia de design ................................................................................. 72

Figura 14 - Sistema de produção ecoeficiente ................................................................ 71

Figura 15 - Roda de estratégias de ecodesign ................................................................. 72

Figura 16 - Ciclo de vida fechado do produto ................................................................ 75

Figura 17 - Estrutura para avaliar o ciclo de vida ........................................................... 79

Figura 18 - Monstro híbrido (monstrous hybrid). ........................................................... 83

Figura 19 - Recompute: computador desktop em papelão ondulado. ............................. 84

Figura 20 - Carenagem para notebook em liga papel-PP . .............................................. 84

Figura 21 - Design para a atualização e adaptabilidade: computador Dell. ................... 86

Figura 22 - iPhone .......................................................................................................... 90

Figura 23 - Projeto para um computador por criança: One Laptop Per Child

(OLPC). .................................................................................................................... 91

Figura 24 - Projeto conceitual: tablet OLPC .................................................................. 92

Figura 25 - Modular Sound System ................................................................................. 92

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Figura 26 - Customização em massa promovida pela empresa Shapeways. .................. 90

Figura 27 - Headphone customizado .............................................................................. 91

Figura 28 - Infográfico: modelo tradicional de venda do produto eletroeletrônico ........ 92

Figura 29 - Infográfico comparativo consumo PSS ........................................................ 93

Figura 30 - Presença de trabalhadores no setor eletroeletrônıco no país. ....................... 96

Figura 31 – Localização geográfica dos polos de Belo Horizonte e Santa Rita do

Sapucaí. ................................................................................................................... 101

Gráficos

Gráfico 1 - Experiência profissional no setor eletroeletrônico. .................................... 103

Gráfico 2 - Quantidade de projetos desenvolvidos no setor eletroeletrônico. .............. 104

Gráfico 3 - Porte das indústrias de eletroeletrônicas atendidas. ................................... 105

Gráfico 4 - Destino dado aos produtos eletroeletrônicos. ............................................. 105

Gráfico 5 - Expectativa de vida de equipamentos. ....................................................... 106

Gráfico 6 - Importância da inserção de requisitos ambientais no briefing do projeto. . 106

Gráfico 7 - Prioridades de qualidade atribuídas ao design de eletroeletrônicos ........... 111

Gráfico 8 - Importância atribuída à sustentabilidade (média dos profissionais) .......... 112

Gráfico 9 - Fontes de informações utilizadas pelos profissionais ................................ 112

Gráfico 10 - Escolha de ferramentas de convencimento pelos profissionais ............... 113

Gráfico 11 - Conhecimento da legislação por parte dos profissionais ......................... 114

Gráfico 12 - Grau de conhecimento e conduta sobre “obsolescência, flexibilidade e

legislação” ............................................................................................................... 114

Gráfico 13 - Estratégias de flexibilidade empregadas (média dos profissionais) ......... 115

Gráfico 14 - Influência dos designers sobre os atributos de design (média dos

profissionais) ........................................................................................................... 116

Gráfico 15 - Necessidade de informações para designers (média dos profissionais) ... 117

Gráfico 16: Certificação ou norma ambiental nas empresas ........................................ 115

Gráfico 17: Políticas ambientais nas empresas ............................................................ 115

Gráfico 18: Certificação ou norma ambiental aplicável à indústria eletroeletrônico ... 116

Gráfico 19: Especificação de material em função da certificação ambiental ............... 116

Gráfico 20: Consequências dos componentes tóxicos dos aparelhos eletrônicos ........ 117

Gráfico 21: Requisitos ambientais de projeto aplicados à eletroeletrônicos ................ 117

Gráfico 22: Legislação ambiental aplicada à indústria de eletroeletrônico .................. 118

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Quadros

Quadro 1 - Tipos de obsolescência..................................................................................31

Quadro 2 - Substâncias tóxicas presentes em equipamentos eletrônicos: efeitos ao

meio ambiente e à saúde. .......................................................................................... 42

Quadro 3 - Geração de REEE no Brasil, Minas Gerais e Belo Horizonte. ..................... 50

Quadro 4 - Regulamentações internacionais: REEE ...................................................... 62

Quadro 5 - Regulamentações nacionais: REEE .............................................................. 69

Quadro 6 - Estratégias de flexibilidade nas funções de uso, técnicas e simbólicas do

projeto de design....................................................................................................... 82

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tempo médio para troca de eletroeletrônicos pelo consumidor de Belo

Horizonte .................................................................................................................. 35

Tabela 2 - Indicadores gerais da indústria eletroeletrônica ............................................ 39

Tabela 3 - Faturamento da indústria eletroeletrônica por área ....................................... 40

Tabela 4 - Balança comercial da indústria eletroeletrônica brasileira ............................ 41

Tabela 5 - Regulamentações WEEE por categorias de produtos cobertas ..................... 59

Tabela 6 - Entraves declarados para a adoção de requisitos ambientais ...................... 107

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ABINEE Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ACV Avaliação do Ciclo de Vida

ADP Associação dos Designers de Produto

APA Agência Portuguesa do Ambiente

BDMG Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais

CD Compact Disc

CEA Consumer Electronics Association

CEMPRE Compromisso Empresarial para Reciclagem

CFC Clorofluorcarbono

CLM Council of Logistics Management

CMD Centro Minas Design

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

CRT Cathode Ray Tube

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

DVD Digital Versatile Disc

EMPA Swiss Federal Laboratories for Materials Testing and Research

EPA Environmental Protecion Agency

EPR Extended Producer Responsibility

EUA Estados Unidos da América

FEAM Fundação Estadual de Meio Ambiente

FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

FIP Fundação Israel Pinheiro

FUMEC Fundação Mineira de Educação e Cultura

GM General Motors

GPS Global Positioning System

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICSID International Council of Societies of Industrial Design

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IDSA Industrial Designers Society of America

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IEL Instituto Euvaldo Lodi

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ISO International Standard Organizarion

LCA Life Cycle Analysis

LCD Liquid crystal display

NBR Norma Brasileira de Referência

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OECD Organization for Economic Cooperation and Development

OLPC On Laptop Per Child

ONU Organização das Nações Unidas

PBB Bifenilos polibromados

PC Personal computer

PCB Bifenilas policloradas

PDBE Éter difenil polibromados

PERS Política Estadual dos Resíduos Sólidos

PGIREEE Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos de Equipamentos Elétricos

e Eletrônicos

PIB Produto interno bruto

PNRS Política Nacional dos Resíduos Sólidos

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PP Polipropileno

PRODABEL Programa de Desenvolvimento de Informática, Informações e Dados de

Belo Horizonte

PSS Product/Service System

PUC Pontifícia Universidade Católica

PVC Cloreto de polivinila

REEE Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos

RMBH Região Metropolitana de Belo Horizonte

RoHs Restriction of the Use of Certain Hazardous Substances in Electrical and

Electronic Equipment

SEBRAE Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

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SETAC Society of Environmental Toxicology and Chemistry

SINDVEL Sindicato dos Empregados em Empresas de Segurança, Vigilância,

Transporte de Valores, Segurança Orgânica e Escolta Armada

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

SLU Serviço de Limpeza Urbana

TC Comitê Técnico

UEMG Universidade do Estado de Minas Gerais

UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

UNA União de Negócios e Administração Ltda.

UNATEC Centro Universitário UNA

UNEP United Nations Environment Programme

UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

UniBH Centro Universitário de Belo Horizonte

URPV Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes

VHS Video Home System

WEEE Waste Electrical and Electronic Equipment

WWF Rede independente de conservação da natureza

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SUMÁRIO1

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 19

1.1 Objetivos ..................................................................................................................... 22

1.2 Justificativa ................................................................................................................. 23

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 25

2.1 Desenvolvimento sustentável ...................................................................................... 25

2.2 Design e sustentabilidade ............................................................................................ 28

2.3 Consumo, cultura e sociedade. .................................................................................... 29

2.4 Design e obsolescência ............................................................................................... 31

2.5 Indústria de equipamentos eletroeletrônicos ............................................................... 36

2.5.1 O setor de eletroeletrônico no Brasil .......................................................................... 37

2.5.2 Resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) ................................................ 42

2.5.3 Resíduos. coleta e reciclagem dos REEEs.................................................................. 43

2.5.3.1 Impactos regionais dos resíduos de eletroeletrônicos................................................48

2.6 Legislação específica.......................................................................................................51

2.6.1 Legislação internacional ............................................................................................ 54

2.6.2 Legislação nacional .................................................................................................... 62

2.7 Requisitos ambientais de projeto no design ................................................................ 71

2.7.1 Avaliação de ciclo de vida (ACV) ............................................................................. 74

2.7.2 Flexibilidade ............................................................................................................. ..81

2.7.2.1 Estratégias de flexibilidade para produtos eletroeletrônicos.................................... 81

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................... 95

3.1 Local de estudo e amostragem .................................................................................... 95

3.2 Etapas da pesquisa .................................................................................................... 102

3.3 Coleta de dados ......................................................................................................... 100

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas aprovadas pelo Acordo Ortográfico assinado entre os países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em vigor no Brasil desde 2009. E foi formatado de acordo com a ABNT NBR 14724 de 17.04.2011.

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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................... 103

4.1 Perfil dos entrevistados ............................................................................................. 103

4.2 Visão estratégica do profissional .............................................................................. 110

4.3 Conhecimento do profissional sobre certificações .................................................... 117

5 CONCLUSÕES .......................................................................................................... 122

5.1 Sugestões para estudos futuros.....................................................................................118

REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 122

APÊNDICES......................................................................................................................129

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19

INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea é caracterizada por rápidas e constantes transformações

sociais, culturais e econômicas: as pessoas modificam continuamente seu comportamento,

tornando suas necessidades sempre mutantes. Essa nova forma de ser é caracterizada pelo

aumento da mobilidade em paralelo à implantação do capital sobre o território. O

nomadismo do homem contemporâneo leva o indivíduo a desenvolver novas organizações

familiares menos duradouras, casais sem filhos e grupos vivendo em estruturas familiares

sem laços de parentesco. O homem do século XXI mostra-se um sujeito que se comunica e

trabalha à distância e que busca sua identidade a partir do contato com o outro, com a

informação, com a mídia e com os objetos de consumo (TRAMONTANO, 2003). Comprar

tornou-se, portanto, um ato de elaboração de identidade e, de certa forma, um ato de

expressão, identificação e comunicação (FEATHERSTONE, 1997).

A população do planeta, conforme o Census Bureau (2011), atinge hoje mais de 7 bilhões

de habitantes. A acelerada demanda por produtos e serviços para atender ao consumo dessa

população crescente vem se constituindo em grande preocupação tanto para o poder

público quanto para a sociedade. O forte incentivo por parte das autoridades

governamentais para elevar a competitividade entre as empresas e promover a dinamização

da economia leva ao estímulo da população ao consumo. Em consequência, tem-se um

avanço linear unidirecional das economias globais, gerando o desequilíbrio proveniente da

acelerada extração de matérias-primas, aumento do gasto de água e energia elétrica, além

da geração de poluição (KAZAZIAN, 2005). Segundo Mehta e Monteiro (2008), esse

desequilíbrio está fortemente relacionado ao crescimento populacional e à urbanização do

planeta. A previsão, segundo a Rede Independente de Conservação da Natureza (WWF) -

Relatório Planeta Vivo (WWF, 2010), é de que a humanidade irá utilizar recursos

equivalentes à taxa de dois planetas por ano em 2030 e de 2,8 planetas por ano em 2050.

Emerge dessa circunstância a obsolescência cada vez mais rápida dos produtos industriais,

reflexo da euforia que acompanhou o desenvolvimento industrial da Europa e dos Estados

Unidos, na primeira metade do século XX. Em pouco tempo a obsolescência colocou a

humanidade frente a um dos mais graves fatores de impacto ambiental a serem

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20

enfrentados: a gestão dos resíduos desse processo (MARLET, 2005). Surge então a

necessidade de buscar alternativas para a destinação final dos resíduos provenientes da

sociedade de consumo.

O conceito de desenvolvimento sustentável converteu-se em um dos maiores desafios

históricos e políticos do nosso tempo. O termo sustentabilidade, muitas vezes usado para

dar força ao antigo desejo filosófico de uma sociedade mais humana, passa a dominar

grande parte do discurso atual, em diferentes campos de conhecimento (VEZZOLI, 2010).

Um segmento que vem chamando a atenção devido à sua rápida obsolescência são os

produtos eletroeletrônicos. Essa indústria transformou-se no maior fluxo de produtos

obsoletos do mundo pós-industrializado. De acordo com a organização não governamental

Greenpeace (2011), estima-se que são produzidos cerca de 50 milhões de toneladas de lixo

eletrônico no mundo a cada ano e esse tipo de rejeito responde hoje por 5% de todo o lixo

sólido do mundo. Além disso, esses resíduos contêm substâncias tóxicas danosas ao meio

ambiente e à saúde humana. Conhecidos pela sigla REEE, os resíduos de equipamentos

elétricos e eletrônicos protagonizam políticas ambientais dos governos, que começam a

implementar legislação específica.

A Convenção de Basileia (SÃO PAULO, 1997) forma a base para diversas legislações

internacionais específicas, regulando a importação e exportação de resíduos tóxicos e

perigosos. O crescente aumento da geração de REEE na União Europeia suscitou, em

2002, pelo Parlamento Europeu (2003a; 2003b), duas diretivas para Waste Electrical and

Electronic Equipment (WEEE) e outra para substâncias perigosas, Restriction of the Use of

Certain Hazardous Substances in Electrical and Electronic Equipment (RoHs), que

restringem o uso de substâncias tóxicas e perigosas nesses produtos e formaram a

referência para o desenvolvimento de legislações específicas em diversos países da Europa,

na China e nos Estados Unidos.

No Brasil, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº 12.305/10 sancionada

em 2010, regula a questão, classificando o lixo eletrônico como especial e

responsabilizando indústrias, importadores e comerciantes pela promoção da logística

reversa, reciclagem e disposição final adequada desses produtos. A legislação, embora

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21

recente, fornece instrumentos importantes que permitem o avanço necessário ao

enfrentamento dos principais problemas ambientais do segmento (BRASIL, 2010).

Entender o processo de desenvolvimento de produtos no segmento industrial de

eletroeletrônicos, analisando o papel dos diferentes atores no processo de fabricação, na

tomada de decisão sobre os produtos e serviços, além dos aspectos ambientais relacionados

a eles, torna-se fator decisivo na busca da sustentabilidade desses sistemas produtivos.

Considerar que a responsabilidade dos produtores ultrapassa o bom funcionamento na fase

de uso, estendendo-se às questões de desuso e descarte final, torna-se fundamental.

Projetos que busquem repensar a gestão da obsolescência nesse cenário devem ser

priorizados e viabilizados, já que a preservação ambiental depende de diferentes fatores

que envolvem desde a legislação e as políticas públicas até aspectos sociais e culturais

(MANZINI; VEZZOLI, 2008).

Por muito tempo as áreas da publicidade e moda foram consideradas responsáveis pela

criação de novos desejos. Contudo, são raras, até o presente, as reflexões sobre o papel do

design para a consolidação desse quadro da obsolescência. Sudjic (2010) relata em seu

livro, “A linguagem das coisas”, passagens em que ele próprio se vê envolvido pelo poder

do design, adquirindo e enfarando-se dos objetos tão rapidamente quanto qualquer um de

nós. A constatação do autor é de que usamos o design não apenas para suprir necessidades,

mas para sedimentar, cada vez mais, as bases de uma sociedade regulada por moda,

aparência e ostentação, na qual a fugaz satisfação da aquisição é causa e consequência

direta da rapidez da obsolescência de nosso desejo. Sudjic (2010) disseca nossa vinculação

contemporânea com os objetos, o marketing e o design e afirma que a relação com nossas

posses nunca é direta, mas uma mescla de racionalidade e inocência. A ideia, segundo ele,

é de que os objetos, longe de serem inocentes, são interessantes demais para serem

ignorados.

A preocupação acerca destas questões se estende aos profissionais do design, visto que o

crescimento da oferta e da demanda por novos produtos está intimamente ligado ao

trabalho dos designers.

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Neste sentido, a presente pesquisa teve como premissa investigar os principais requisitos

ambientais relacionados ao processo de desenvolvimento de projetos de design de produtos

eletroeletrônicos, voltados para a gestão da obsolescência. Analisaram-se as estratégias de

projeto empregadas por empresas de design em sua atuação nos principais polos industriais

de base tecnológica do estado de Minas Gerais. Para se atingir essas metas, foi realizada

revisão da literatura e da legislação pertinentes e foram realizadas visitas técnicas e

entrevistas semiestruturadas, a partir de investigação empírica das atividades da rotina de

trabalho, de empresas de design atuantes na cidade de Belo Horizonte e imediações. Os

dados coletados foram confrontados com as informações analisadas na revisão da

literatura.

1.1 Objetivos

Esta pesquisa tem como objetivo investigar os principais requisitos ambientais de projeto

utilizados por empresas de design no processo de desenvolvimento de produtos

eletroeletrônicos, relacionados às questões da legislação específica e da gestão da

obsolescência desse tipo de produto.

São objetivos específicos:

• Avaliar os principais problemas ambientais relacionados a produtos

eletroeletrônicos de consumo e os impactos de seus resíduos no meio ambiente.

• Levantar a legislação pertinente que regula as políticas de controle de REEE nos

âmbitos internacional, nacional e regional e seus impactos na produção desses

produtos.

• Verificar abordagens contemporâneas de design que contribuam para a gestão da

obsolescência dos produtos eletrônicos de consumo em seu ciclo de vida, buscando

recursos de flexibilidade.

• Identificar os requisitos ambientais e as estratégias de gerenciamento da

obsolescência que são utilizadas por designers atuantes no setor eletroeletrônico em

Belo Horizonte.

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1.2 Justificativa

No Brasil, a indústria de eletroeletrônicos tem apresentado acentuado crescimento no

número de vendas nos últimos anos. Mais especificamente em Minas Gerais, o número de

domicílios com equipamentos dessa natureza mostra-se cada vez mais alto

(FECOMERCIO, 2010). O crescimento expressivo do comércio de produtos eletrônicos

vem atraindo empresas para esse mercado que, em alguns casos, iniciam suas operações

sem planejamento adequado aos requisitos ambientais ou à gestão da obsolescência da sua

produção. Cerca de 60% do lixo brasileiro incluem algum tipo de resíduo eletrônico. Boa

parte desse material acaba nos lixões, sem qualquer tipo de tratamento adequado.

Componentes tóxicos que normalmente fazem parte desses produtos, como: chumbo,

mercúrio, cádmio, arsênio, clorofluorcarbono (CFC), éter difenil polibromado (PBDE) e

bifenilas policloradas (PCB), pela ação da chuva, acabam alcançando e contaminando o

lençol freático (RODRIGUES, 2007; BEZERRA, 2009; DEA JÚNIOR; ROSA;

SAMPAIO, 2010; FRANCO; LANGE, 2011; NATUME; SANT´ANNA, 2011).

Apesar de serem caracterizados pelo curto ciclo de vida, os aparelhos eletroeletrônicos

normalmente são projetados com materiais duradouros, com componentes híbridos de

difícil reciclagem, além de não contemplarem possibilidades de adaptação, atualização,

transformação, personalização ou facilidade de desmontagem e separação de materiais.

Sendo assim, esta pesquisa se justifica, uma vez que pretende identificar requisitos e

estratégias ambientais utilizadas no processo de desenvolvimento de produtos, no sentido

de promover a gestão da obsolescência.

Apesar do crescente interesse sobre o tema, são poucas as pesquisas encontradas na

literatura que tangenciam os conceitos de gestão da obsolescência no processo de projeto

de design de produtos eletroeletrônicos. Podem-se destacar alguns estudos, como o de

Platcheck e Kindlein (2005), que propõem a inclusão de requisitos de ecodesign para o

desenvolvimento de equipamentos eletroeletrônicos mais sustentáveis. Outro estudo

relacionado aos produtos eletrônicos de consumo foi realizado Zacar (2010), que sugere

estratégias de flexibilidade para o gerenciamento da obsolescência de aparelhos celulares.

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Silva e Oliveira (2008) relatam estudo realizado com designers atuantes em cinco estados

brasileiros a respeito do grau de conhecimento de ferramentas de ecodesign e quais seriam

suas expectativas sobre essas ferramentas para que sejam efetivamente úteis e de fácil

utilização. A pesquisa revelou que os designers são conscientes dos problemas ambientais

e são motivados a desenvolver produtos menos impactantes. No entanto, não sabem bem

como fazê-lo e desconhecem os recursos para apoiá-lo. Os autores chamam a atenção para

a formação deficiente dos cursos de design, o despreparo dos docentes em relação ao tema,

bem como a falta de entendimento dos empresários e consumidores sobre as questões

ambientais e suas consequências.

Pretende-se assim, gerar uma contribuição para a pesquisa em design e possíveis

aperfeiçoamentos nas relações econômicas entre projeto, produção, uso, reuso e descarte

dos produtos eletroeletrônicos de consumo. Além disso, pretende-se colaborar para

aperfeiçoar as disciplinas relacionadas ao projeto de design na formação acadêmica dos

designers industriais.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Desenvolvimento sustentável

As primeiras preocupações ambientais datam da década de 1960, quando foram

identificados os primeiros sinais dos efeitos nocivos das atividades industriais e do

consumo excessivo sobre o meio ambiente. A ideia de desenvolvimento sustentável teve

origem no conceito de ecodesenvolvimento proposto em 1972 na Primeira Conferência

Internacional sobre o Meio Ambiente realizada em Estocolmo pela Organização das

Nações Unidas (ONU). As discussões ambientais começaram a ser compreendidas de

forma mais abrangente, evoluindo, mais tarde, para o discurso da sustentabilidade. Em

1987, publicou-se o documento “Nosso Futuro Comum” (Our Common Future), também

conhecido como Relatório Brundtland, conforme descrito em Comissão Mundial sobre o

Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991. O documento defendia a ideia de que o

crescimento sustentável contempla crescimento econômico para humanidade, com a

preservação do meio ambiente e melhora das condições sociais para as gerações futuras.

Tal relatório serviu de base para a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente

e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, também denominada Eco-92,

quando o discurso foi legitimado e difundido amplamente. A Conferência Eco-92 serviu

como marco de alerta sobre as questões ambientais sofridas pelo meio ambiente e geradas

principalmente pelos países desenvolvidos, tornando-se uma das metas da Agenda 21.

Considerada uma grande iniciativa no âmbito da sustentabilidade, a Agenda 21 teve

aprovação por parte dos governos e instituições de 179 países, onde foi proposto que as

nações deveriam se comprometer a estudar soluções para os problemas socioambientais

como: combate à pobreza, ao desmatamento, à desertificação e à seca, fortalecimento do

comércio e da indústria e a gestão dos impactos e resíduos tóxicos (BRASIL, 2000).

A Rio +10, ou Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável, reuniu cerca de 100 chefes de Estado e mais de 15 mil representantes da

sociedade civil. O evento, que aconteceu em 2002 na cidade de Johannesburgo (África do

Sul), teve o intuito de avaliar o progresso feito na década transcorrida desde a Eco-92 na

questão ambiental. A assembleia detectou a necessidade de ratificação e implementação

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mais eficiente das convenções e acordos internacionais referentes a ambiente e

desenvolvimento. Assim, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU sugeriu a

realização de uma nova cúpula mundial.

Em 2009, aconteceu a 15ª Conferência da ONU sobre o clima, com a participação de 194

países onde foi elaborado o Acordo de Copenhague. O acordo teve como premissa a

redução de 20% das emissões de gases do efeito estufa até 2020, pelos países

desenvolvidos. Esses países se comprometeram a cortar 80% de suas emissões até 2050,

limitando em 2oC o aumento médio da temperatura global. Em fevereiro de 2010 a ONU

divulgou que 55 países participantes da Conferência apresentaram suas metas em relação à

diminuição das mudanças climáticas. A União Europeia propõe corte de 20 a 30% nas

emissões em relação aos níveis de 1990, se outras nações ampliarem suas ações. Os

Estados Unidos da América (EUA) prometem corte de 17% em relação aos níveis de 2005.

A China se compromete a tentar reduzir 40 a 45% as emissões por unidade do produto

interno bruto (PIB) até 2020, em relação a 2005. A expectativa é firmar um novo tratado

climático global para entrar em vigor a partir de 2013, durante reunião no México

(INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA - IPEA, 2011).

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida também

como Rio+20, foi realizada em junho de 2012 na cidade brasileira do Rio de Janeiro, cujo

objetivo foi discutir por que os compromissos da Rio-92 não foram plenamente cumpridos

e sobre a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável. A

Rio+20 contou com a participação de chefes de estados de 190 nações e abordou

principalmente dois temas centrais: a economia verde, a partir de novos modelos de

produção, e a governança internacional, que indica estruturas para alcançar esse futuro

desejado. A expectativa de que a Rio+20 pudesse transformar conceitos adotados na Rio-

92 em ações concretas para o desenvolvimento sustentável não se confirmou - a cúpula

naquele ano foi bem mais fluida que a de 20 anos atrás (O GLOBO, 2012).

Como definição, o desenvolvimento sustentável é impreciso e ambíguo, sendo sua

definição mais conhecida a proposta no Relatório Nosso Futuro Comum: “aquele que

permite satisfazer nossas necessidades atuais sem comprometer a capacidade de satisfazer

as necessidades das gerações futuras”. Considerando o contexto atual do desenvolvimento

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sustentável, autores como Norman e MacDonald (2003) afirmam que esse

desenvolvimento estabelece objetivos multidimensionais ao considerar aspectos

econômicos, ambientais e sociais, o Triple Bottom Line (ELKINGTON, 1994), também

conhecido como tripé da sustentabilidade (FIG. 1). A dimensão econômica é aquela em

que as organizações devem ser capazes de produzir produtos e serviços continuamente; a

dimensão ambiental procura reduzir as agressões ao meio ambiente, promover a melhoria

das condições ambientais e evitar o desperdício; e a dimensão social busca avaliar o

impacto do desenvolvimento econômico no sistema social em que ele atua. Essas

dimensões, definidas como metas, são ações ambientalmente responsáveis, socialmente

justas e economicamente viáveis.

FIGURA 1 - Dimensões da sustentabilidade

Fonte: adaptado de Elkington (1994).

A partir da conscientização sobre as consequências do modo de vida da humanidade sobre

o ambiente, a perspectiva da sustentabilidade coloca em discussão nosso atual modelo de

desenvolvimento. A procura por um novo pressuposto para o processo de desenvolvimento

busca soluções que podem seguir múltiplos caminhos, como os da eficiência, a partir de

soluções tecnológicas e mudanças culturais visando a não interferência no ambiente natural

(MANZINI; VEZZOLI, 2008).

Socioambiental Socioeconômico

Ecoeficiente

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2.2 Design e sustentabilidade

De modo geral, a sustentabilidade é uma questão-chave da sociedade contemporânea e seu

significado não está ligado somente às questões ambientais, ainda que se encontre aí sua

origem. A atuação de profissionais de diferentes setores econômicos integra-se ao processo

de desenvolvimento sustentável, no sentido de minimizar os impactos (ambientais e

sociais) causados pela ação do profissional ao ambiente. Nesse sentido, a atuação do

designer é relevante, por tratar tanto das questões relacionadas ao processo produtivo,

quanto daquelas ligadas ao consumo e comportamento. Muitos dos produtos e serviços

estão, de alguma forma, vinculados às decisões dos designers, que exercem influência

sobre os processos de produção, os materiais utilizados, os processos de distribuição,

utilização e descarte. Eliminar o conceito de desperdício, reduzir o movimento e a

distribuição de bens, utilizar mais pessoas e menos matéria e contar com fluxos de energia

natural são atitudes atuais de sustentabilidade (THACKARA, 2008).

Manzini (1994) defende que os designers tomem a frente na solução dos problemas da

sustentabilidade, transformando-se em agentes ativos na transição da sociedade,

modificando sua cultura e sua práxis para a promoção de estilos de vida sustentáveis. Sob a

ótica do design para a sustentabilidade, Manzini (1994) considera que uma forma de se

criarem novas propostas cultural e socialmente aceitáveis e que vise conectar o que é

tecnicamente possível ao ecologicamente necessário é definido como ecodesign. O

conceito também é encontrado na definição proposta pelo International Council of

Societies of Industrial Design (Conselho Internacional das Sociedades de Design

Industrial) (ICSID, 2012), que diz que uma das principais missões do design é analisar e

avaliar as interconexões organizacionais, estruturais, funcionais, expressivas e econômicas,

com o objetivo de favorecer a sustentabilidade global e a proteção ambiental. O conceito se

estende quando diz que o design deve propiciar benefícios para toda a comunidade

humana, incluindo usuários, indústria e demais protagonistas do mercado na esfera social;

apoiando a diversidade cultural na esfera cultural; fornecendo produtos, serviços e sistemas

coerentes com sua própria complexidade.

Também é pertinente o conceito proposto por El-Haggar (2007), que indica 7 Rs como

uma evolução da regra dos 3 Rs (redução, reutilização, reciclagem). Ele introduz o R

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para a recuperação de componentes e matérias-primas a partir do tratamento sustentável

do lixo. Insere também os termos repensar e renovar, que implicam uma revisão do

sistema de produção, distribuição e descarte, envolvendo inovações tecnológicas à solução

dos problemas; e, por último, a regulação, sem a qual se torna difícil a implementação de

qualquer outra das regras.

Desta forma, o design pode desempenhar importante papel na proposição de novos

cenários e sistemas baseados nos requisitos da sustentabilidade. Essa transição exige

abordagem ampla e integrada das competências e atribuições do profissional, tornando

possível passar do projeto focado no produto para projetos sistêmicos baseados nos

requisitos ambientais e sociais, além dos econômicos (BOSSE et al., 2006).

2.3 Consumo, cultura e sociedade

O consumo é um processo social que ganhou força e consolidou-se ao longo da história,

sendo o responsável pela denominação sociedade de consumo. Segundo Campbell e

Barbosa (2006), o termo deriva do latim consumere, que se refere ao esgotamento ou

destruição de algo, e do termo anglo-saxônico consummation, que, paradoxalmente,

significa somar e adicionar. Segundo os autores, apesar de elusivo e ambíguo, o termo tem

importante papel na mediação das relações sociais e na construção de identidades de

grupos e pessoas.

A expressão “sociedade de consumo" traz alguns embaraços conceituais, já que o ato de

consumir é uma atividade presente em toda e qualquer sociedade humana, para satisfazer

uma das necessidades básicas ou supérfluas, conforme define Barbosa (2010). Para a

autora, todas as sociedades humanas consomem para se reproduzir física e socialmente,

manipulando artefatos e objetos da cultura material para fins simbólicos de diferenciação,

pertencimento, identidade e gratificação individual. Portanto, o termo consumo, na

expressão “sociedade de consumo”, sinaliza para algum tipo de consumo particular e para

um tipo de sociedade específica com arranjos institucionais, princípios classificatórios e

valores particulares (BAUDRILLARD, 2000). O termo, para Barbosa (2010), está

frequentemente associado a outros conceitos como sociedade de consumidores, cultura de

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consumo, cultura de consumidores e consumismo, que são, na maioria das vezes, usados

como sinônimos. Apesar dos termos designarem dimensões da realidade muito próximas

uma das outras, a autora considera possível diferenciar sociedade de consumo de cultura de

consumo, uma vez que elas representam esferas da vida social e arranjos institucionais

desvinculados uns dos outros. Julier (2008) refere que a cultura do consumo se ocupa de

um amplo panorama, em que a aquisição e o uso de determinado bem representam os

valores e sistemas que se reproduzem e articulam por meio do próprio consumo.

Portanto, existem duas vertentes no estudo do consumo: a sociologia do consumo e a

antropologia cultural. Para autores da sociologia do consumo, como Fredric Jameson,

Zygmunt Bauman, Jean Baudrillard, entre outros, a cultura do consumo é a cultura da

sociedade pós-moderna (BARBOSA, 2010). O estudo volta-se para a relação íntima e

causal entre consumo, estilo de vida, reprodução social e identidade e analisa um conjunto

de atributos negativos atribuídos ao consumo, como o materialismo, a superficialidade e a

perda de autenticidade das relações sociais. Para esses autores a crítica social sobressai-se

em relação à fundamentação empírica e sociológica.

No campo da antropologia cultural, Don Slater, Daniel Miller, Grant McCracken, Collin

Campbel, Pierre Bourdieu e Mary Douglas abordam a sociedade do consumo a partir de

temas que não são discutidos por autores pós-modernos. Eles analisam as razões que

determinam decisões de escolha de certos tipos de bens, em dada circunstância. Estudam o

significado do consumo como processo mediador de relações e práticas sociais, a cultura

material e o seu impacto no desenvolvimento da subjetividade humana. Investigam como o

consumo se conecta com outras esferas da experiência humana e permitem melhor

compreensão dos múltiplos processos sociais e culturais. Para Slater (2002, p. 17), o

consumo é sempre e em todo lugar um processo cultural, mas a “cultura do consumo é

singular e específica: é o modo dominante de reprodução cultural desenvolvido no

Ocidente durante a modernidade”.

O caráter negativo atribuído à atividade de consumir faz com que só seja percebida a

dimensão supérflua, ostentatória e de abundância. A consequência dessa associação

automática e inconsciente entre consumo e ostentação, normalmente acompanhada de

debates de cunho moral e moralizante, é a confusão entre análise sociológica e crítica

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social. “Temas como materialismo, exclusão, individualismo, hedonismo, lassidão moral,

falta de autenticidade, desagregação dos laços sociais e decadência foram associados ao

consumo desde o início do século XVII e ainda hoje permeiam as discussões”

(BARBOSA, 2010, p. 12).

Nesse contexto a autora considera importante registrar a mudança que ocorreu a partir da

década de 1980, uma vez que a crítica moral sempre fez parte das discussões sobre o

consumo. A partir dessa década o “consumo passou a despertar interesse sociológico como

um tema em si mesmo”, que se origina em duas pressuposições teóricas: a de que todo e

qualquer ato de consumo é essencialmente cultural e a de que a sociedade moderna

contemporânea é uma sociedade de consumo, o que significa “admitir que o consumo está

preenchendo, entre nós, uma função acima e além daquela de satisfação de necessidades

materiais e de reprodução social comum a todos os demais grupos sociais” (BARBOSA,

2010, p. 14). O consumo adquiriu, na sociedade contemporânea, dimensão e espaço tais

que permitem discutir com base neles questões acerca na natureza da realidade.

Nesse sentido, o ato de consumir é inerente ao comportamento humano e não um fato

criado pelos padrões da vida moderna, a qual distorceu o conceito de consumo de forma

perversa. Para Canclini (2001), o consumo, entendido como o conjunto de processos

socioculturais nos quais se realizam a apropriação e os usos dos produtos, da cultura de

consumo e até da sociedade de consumo, só recentemente se tornou uma área conceitual de

importância para as ciências sociais e humanas. Esse conceito vai de encontro ao

pensamento de Douglas e Isherwood (2006), que acreditam que o consumo é algo ativo e

constante em nosso cotidiano, pois estrutura os nossos valores de identidade, as relações

sociais e define nossos mapas culturais. Por fim, pode-se dizer que os bens materiais

desempenham papel fundamental na organização social à medida que constituem formas

visíveis de estabelecer significados culturais.

2.4 Design e obsolescência

A obsolescência pode ser entendida como toda condição em que um produto, sistema ou

processo deixa de ter utilidade. De fato, analisar suas consequências é avaliar as

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consequências do consumismo, já que a obsolescência se constitui em uma de suas

principais ferramentas junto ao sistema de criação. Como a obsolescência faz parte do

próprio sistema de produção, vários atores podem ser responsáveis pela sua ocorrência em

determinado contexto. Em um dado momento o responsável pode ser a empresa produtora;

em outro, o próprio designer; em outro, ainda, a publicidade que se difunde sobre os

produtos. Com muita frequência, a responsabilidade não recai sobre um único agente

social, mas sobre vários ou todos os agentes (MARLET, 2005).

O uso da palavra “obsolescência” para descrever produtos de consumo ultrapassados

começou a aparecer no início do século XX, quando dispositivos domésticos modernos

substituíram fornos e lareiras e os utensílios de aço substituíram os de ferro. Essa primeira

fase da obsolescência dos produtos é chamada de obsolescência tecnológica. A segunda

fase começa em 1923, com a migração de alguns executivos da DuPont para a General

Motors (GM), adaptando estratégias de marketing da indústria têxtil e de moda na indústria

automobilística. Sem aguardar pelas inovações tecnológicas que iriam motivar os

consumidores a trocar de carro, a GM inicia uma estilização para tornar os novos carros

mais atraentes para os consumidores (FIG. 2). As mudanças realizadas na estilização nos

automóveis demonstraram que os consumidores estavam dispostos a trocar de carro

também por estilo, não apenas por melhorias tecnológicas (SLADE, 2006).

FIGURA 2 - Modelo de 1930 da DuPont para GM G Le

Mans Speedster

Fonte: http://www.carpictures.com/.

Com a incorporação sistemática da dimensão estética na elaboração dos produtos

industriais, a expansão da forma encontra seu ponto de realização final. O passo decisivo

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nesse avanço remonta aos anos 1920 e 1930, quando, após a grande depressão nos Estados

Unidos, os industriais descobriram o papel primordial que podia ganhar o aspecto externo

dos bens de consumo no aumento das vendas. Impôs-se cada vez mais o princípio de se

estudar esteticamente a linha e a apresentação dos produtos de grande série, evoluindo

constante e sistematicamente as suas características a fim de seduzir à compra

(LIPOVETSKY, 2009).

Os produtos atualmente saem das fábricas com programação de tempo de uso, que

geralmente é curto e sua substituição é necessária em pouco tempo. Esse fenômeno vem

sendo denominado de obsolescência programada. Esse termo é um dos conceitos mais

perigosos já cunhados pelo marketing: uma ferramenta que encoraja o descarte de produtos

funcionais em troca de similares a partir da manipulação da percepção de que não são mais

úteis ou elegantes (fashionable). O termo foi publicado nos anos de 1920, mas foi

popularizado pelo designer industrial Brooks Stevens, nos anos 1950, e foi muito bem-

sucedido na indústria automobilística para convencer os americanos a comprar novos

carros. Houve, na época, verdadeira obsessão sobre tendências e estilização (SHEDROFF,

2009).

A obsolescência, segundo Kazazian (2005), pode ser classificada em dois tipos - objetiva e

subjetiva. A partir de sua motivação a obsolescência é objetiva, o que está ligado a

questões tecnológicas; e a obsolescência subjetiva, motivada por questões de percepção

estética e pelo sistema da moda. Autores como Schewe e Smith (1982) a classificam em

quatro tipos - técnica, física, adiada e a de estilo. A primeira ocorre quando uma empresa

realmente efetua melhorias tecnológicas em um produto; a física, quando os produtos são

programados para durar por um período de tempo limitado; a adiada, quando a empresa,

apesar de possuir condições de introduzir melhorias tecnológicas, não as realiza até que a

demanda pelos produtos existentes diminua ou os estoques se esgotem; e a de estilo,

quando a aparência externa de um produto é alterada para que os existentes pareçam

desatualizados. Enquanto as obsolescências técnica, física e de estilo aceleram o processo,

a adiada retarda. Muitos aspectos podem influenciar a adoção ou não dessas estratégias,

como o comportamento das empresas concorrentes, pressões legais ou exigências dos

consumidores.

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Shedroff (2009) também caracteriza a obsolescência de quatro formas, mas com uma visão

diferente da anterior - tecnológica, estética, funcional e cultural. Algumas delas podem ser

planejadas, mas a maioria, principalmente a tecnológica e a estética, é frequentemente a

evolução natural da compreensão humana e não pode ser ignorada pelas empresas. Embora

se possa lamentar o fato de computadores, televisões, telefones celulares ou iPods

comprados dois anos atrás agora parecerem obsoletos, isso não se enquadra como uma

evolução. Esse sentimento é baseado em novas versões recém-introduzidas, com novas

características formais e novos sistemas de operação, porém sem ganhos significativos em

termos de satisfação. Se as novas propriedades forem realmente relevantes (como a

tecnologia da tela plana nos televisores ou a substituição das fitas video home system -VHS

- pelo digital versatile disc - DVD), pode-se falar em obsolescência tecnológica.

Autores como Van Nes, Cramer e Stevels (1999) ressaltam diferentes tipos distintos de

obsolescência - técnica, econômica, ecológica, estética, de recursos e psicológica. A

obsolescência técnica acontece quando um produto perde sua funcionalidade apropriada. A

econômica se refere à depreciação do valor do produto no tempo e se relaciona com os

custos de uso, manutenção e aquisição. A obsolescência ecológica deriva do

desenvolvimento de produtos com menos impacto ambiental, como lâmpadas e

equipamentos de baixo consumo energético. A estética se dá em função do mecanismo da

moda e de aspectos da percepção do usuário. A de recursos se deve ao surgimento de

novos produtos com mais funções ou recursos. Finalmente, na psicológica é atribuído um

valor emocional negativo ao produto atual ou quando um novo produto proporciona um

mais valor emocional. O QUADRO 1 organiza os autores identificados pela pesquisa de

Zacar (2010) e as diferentes classificações de obsolescência.

QUADRO 1 - Tipos de obsolescência

Autor Classificação

Kazazian (2005) Objetiva e subjetiva

Schewe e Smith (1982) Técnica, física, adiada e de estilo

Shedroff (2009) Tecnológica, estética, funcional e cultural

Van Nes, Cramer e Stevels (1999) Técnica, econômica, ecológica, estética, de recursos

e psicológica

Fonte: adaptado de Shedroff (2009) e Zacar (2010).

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Os artefatos, mesmo que produzidos industrialmente e de forma padronizada, são

continuamente significados e ressignificados pelos usuários, na medida em que as pessoas

se relacionam, interagem com os objetos e os utilizam. Na construção desses significados

desenvolvem-se complexas relações, que envolvem diretamente as esferas de produção,

distribuição, comunicação, consumo e acesso aos bens, além das dimensões subjetivas e

socioculturais (ONO, 2009).

A substituição de antigos produtos e hábitos de consumo por novos é, geralmente,

motivada pelo produtor, e não pelo consumidor. Nem todas as inovações são destinadas a

atender às necessidades existentes, a maioria busca criar novas necessidades. A criação e a

extinção contínua das necessidades e o necessitar incessantemente geram a alta taxa de

obsolescência dos produtos (CAMPBELL; BARBOSA, 2006).

Franco (2008) elucida o comportamento de consumidores na cidade de Belo Horizonte em

relação ao descarte de aparelhos eletroeletrônicos. A pesquisa foi realizada entre residentes

de apartamentos, em lares constituídos até 20 anos e faixa salarial que varia de R$ 412,00 a

6.180,00. A Tabela 1 mostra que os consumidores trocaram de aparelhos de telefone

celular, computadores pessoais, refrigeradores e televisores com mais frequência do que os

padrões de vida útil estabelecidos pelo Environmental Protection Agency (EPA, 2007), de

geração de REEE, que são dois anos para aparelhos celulares, cinco anos para

computadores, 15 anos para refrigeradores e 13 anos para televisores.

TABELA 1 – Tempo médio para troca de eletroeletrônicos pelo consumidor de

Belo Horizonte

Fonte: adaptada de Franco (2008).

Aparelho Tempo troca (%)

Celular De 1 a 2 anos 53

Computador De 1 a 2 anos 57

Geladeira De 5 a 10 anos 57

Televisor De 5 a 10 anos 37

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2.5 Indústria de equipamentos eletroeletrônicos

A indústria de equipamentos eletroeletrônicos encontra-se entre os segmentos mais

beneficiados pelo incremento de inovações que transforma os padrões gerenciais,

produtivos e concorrenciais em nível mundial. Atualmente é considerado um dos

responsáveis pela difusão das inovações, ganhos de produtividade, redução de custos e

estabelecimento dos preços finais dos produtos e serviços. A rápida incorporação de inputs

e procedimentos tecnológicos, apoiados e direcionados ao processamento, transmissão e

recepção de informações, impulsiona esse processo em velocidade acelerada. A integração

com os segmentos produtores de bens de consumo, bem como o aumento de sua

participação no total de valor agregado na indústria, tem feito do complexo eletroeletrônico

um elemento central de dinamismo do padrão industrial desde meados dos anos de 1970.

Essa integração estratégica no âmbito das relações interindustriais tem incorporado com

rapidez os avanços e as inovações, permitindo a rápida adoção de novos produtos e

processos (SÁ; BONFIM; TEOBALDO, 2009).

Tradicionalmente, a indústria eletroeletrônica é dividida em quatro segmentos: informática,

telecomunicações, automação e bens eletrônicos de consumo. O termo bens eletrônicos de

consumo é comumente associado apenas aos produtos da chamada “linha marrom” (áudio

e vídeo). A Associação da Eletrônica de Consumo norte-americana Consumer Electronics

Association (CEA) apresenta uma definição mais abrangente, incluindo, além dos

equipamentos de informática e processamento de dados de uso doméstico, telefones

celulares, tablets e smartphones. Essa classificação mais ampla é pertinente, uma vez que,

muitas vezes, as grandes empresas fabricantes de aparelhos de áudio e vídeo também

produzem equipamentos de informática e telecomunicações.

Diferentes autores classificam a indústria de bens eletrônicos de consumo em três linhas

básicas: produtos de vídeo, produtos de áudio e outros equipamentos. Os vídeos incluem

televisores, videocassetes, câmeras fotográficas e filmadoras; os de áudio compreendem

rádios, compact disc (CD) players, sistemas de som integrados; e outros equipamentos são

os fornos de micro-ondas, calculadoras, aparelhos telefônicos, instrumentos musicais

eletrônicos, etc. (BALBINOT; MARQUES, 2009; GONÇALVES 1997; SÁ; BONFIM;

TEOBALDO, 2009).

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2.5.1 O setor de eletroeletrônico no Brasil

No período entre 1950 e 1970 a indústria eletrônica brasileira era caracterizada pela

atividade de empresas produtoras de bens de consumo, na maior parte dos casos com

capital de origem multinacional. Na fase de implantação, o processo de produção

praticamente se reduzia à montagem dos bens. Na década de 1960, tem-se a instalação dos

primeiros computadores eletrônicos, a maioria orientada para processamento de dados em

universidades brasileiras. Até meados da década de 1970 houve predomínio de empresas

estrangeiras, à exceção do mercado de rádio e televisores. O início das operações na Zona

Franca de Manaus atraiu filiais de empresas multinacionais, em virtude dos incentivos

fiscais e tributários. Na década seguinte, empresas como a Sharp, a Philco, Gradiente e

Philips conseguiram assegurar mais de 50% de participação nos mercados de televisores,

videocassetes, sintonizadores, gravadores e rádios portáteis no país. Nos anos de 1990, o

processo de liberalização comercial ocorrida no Brasil impactou gravemente o complexo

eletrônico nacional, dada a concorrência com produtos importados (REIS, 2003).

Atualmente, percebe-se significativo aumento da demanda por produtos eletroeletrônicos,

fortemente pressionada pelo desenvolvimento dos setores de telecomunicações,

informática, indústria automotiva, exploração de petróleo e energia elétrica. De acordo

com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

(DIEESE, 2010), na análise setorial a indústria de máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e

de comunicações foi um dos setores que mais contribuíram para o crescimento do emprego

no Brasil (6,1%) no ano de 2011. Regionalmente, os estados que mais geraram empregos

no setor no mesmo ano foram: Minas Gerais (2,3%), Paraná (5,4%), Rio de Janeiro (1,3%)

e Rio Grande do Sul (2,4%). A distribuição de trabalhadores em território nacional revela

concentração na região Sudeste (25,6%), a participação por unidade da federação revela

uma particularidade: apesar de São Paulo concentrar 48,8% do total do Brasil, o Amazonas

também se destaca como um polo importante, com 10,1% em decorrência da existência da

Zona Franca de Manaus (FIG. 3).

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38

FIGURA 3 - Distribuição geográfica de trabalhadores do setor eletroeletrônico no Brasil

Fonte: DIEESE (2010).

.

A expansão do setor pode ser percebida principalmente pelo aumento da quantidade de

computadores no país. Segundo Balbinot e Marques (2009), o número de computadores em

uso em 1995 era cerca de 2.300 unidades. Pesquisa realizada pela Fundação Getúlio

Vargas em abril de 2012 mostra que atualmente esse número chega a 99 milhões, um

computador para cada dois habitantes. A pesquisa indica que o país deve alcançar a marca

de um computador para cada habitante até 2017. Nos últimos quatro anos, o número total

de computadores em uso no país praticamente dobrou (FIG. 4). O percentual de

computadores por habitante no Brasil (aproximadamente 51%) coloca o país acima da

média mundial (42%). Nos Estados Unidos, há cerca de 354 milhões de computadores ou

114% da população. A mesma pesquisa enfatiza que o número de telefones em uso no

Brasil, por sua vez, é de 300 milhões ou 153% da população, mesmo percentual

encontrado nos Estados Unidos; no mundo, a média é 108%.

 

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FIGURA 4 – Total de computadores no Brasil até 2017

Fonte: Fundação Getúlio Vargas (2012).

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE

2012), o faturamento do complexo eletrônico em 2011 foi 14% maior se comparado ao ano

de 2010, que teve faturamento de R$ 138,1 bilhões, o que significa 3,3% do PIB (TAB. 2).

Apesar da valorização do Real e da crise econômica mundial, o crescimento no ano de

2011 foi de 8%.

TABELA 2 - Indicadores gerais da indústria eletroeletrônica

Fonte: ABINEE (2012).

No setor de eletroeletrônicos, o maior faturamento adveio da área de informática, com

43.561 milhões de reais, seguido do setor de equipamentos industriais (R$ 22.272 milhões)

 

 

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e telecomunicações (R$ 19.901 milhões), áreas de mais crescimento entre os anos de 2010

e 2011 (TAB. 3).

TABELA 3 - Faturamento da indústria eletroeletrônica por área

Fonte: ABINEE (2012).

A trajetória das exportações foi ascendente até 2008. A crise de 2009 forçou a queda nas

exportações, que atualmente recuperam patamares de 2005. No total do período a

exportação cresceu 48%, embora a participação no faturamento anual diminuísse 9,6% do

faturamento, representando 3,1% das exportações totais do Brasil (TAB. 4). Por sua vez, as

importações equivalem a 17,5% da importação total do país e 21,3% do mercado interno

de bens finais (ABINEE, 2012).

A indústria conta com 180 mil empregados diretos e 4.828 empresas (PIA em ABINEE,

2012), sendo 67% na região Sudeste e 22% na região Sul.

 

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TABELA 4 - Balança comercial da indústria eletroeletrônica brasileira

Fonte: ABINEE (2012).

Em 2011, o montante importado foi cinco vezes superior ao exportado, cuja proporção em

2004 foi de apenas duas vezes. Entre 2004 e 2011, as importações variaram USD 12,7

bilhões para USD 39,5 bilhões, ou seja, mais que triplicaram. Contudo, a participação das

importações no mercado de bens finais não variou tanto – de 18,3% para 21,7%, o que

indica que o mercado interno é que cresceu muito (FIG. 5).

FIGURA 5 - Importações em USD bilhões e participação das importações no

mercado doméstico de bens finais

Fonte: ABINEE (2012).

Autores como Balbinot e Marques (2009) classificam os principais problemas da indústria

eletroeletrônica brasileira em três frentes: grande velocidade de inovações, representando

 

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curto ciclo de vida dos produtos, que varia entre dois e quatro anos; tipo de imposto sobre

importação, que privilegia a compra de produtos acabados no exterior; e a relação limitada

e inconsistente entre as empresas nacionais e as estrangeiras. A redução dos preços de

venda, a crescente demanda por inovação tecnológica e a diminuição do tempo de vida útil

desses produtos são alguns dos fatores que contribuem para o grande fluxo de descarte de

equipamentos eletroeletrônicos. Como consequência, evidenciam-se os problemas em

relação à gestão dos resíduos gerados por esse nicho de mercado. Os resíduos desse

processo são comumente conhecidos pelas expressões: lixo eletrônico, lixo tecnológico,

sucata eletrônica ou e-waste. E são denominados, pela legislação pertinente, de resíduos de

equipamentos eletroeletrônicos (PARLAMENTO EUROPEU, 2003a). Ao levarem-se em

conta os problemas ambientais e de saúde pública oriundos desse processo, a questão do

REEE vem atraindo a atenção dos governos, da iniciativa privada e da comunidade

acadêmica.

2.5.2 Resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE)

As pesquisas científicas relacionadas à caracterização e à gestão dos REEE surgiram, de

forma mais consistente, na segunda metade da década de 1990 (TOWNSEND, 2011).

Esses estudos incluem os diversos esforços de pesquisadores, com o objetivo de avaliar os

impactos dos produtos químicos potencialmente perigosos contidos nos equipamentos

eletroeletrônicos. Durante esse período, o conceito REEE e suas implicações legais foram

abordados de forma não consensual, tanto nas pesquisas acadêmicas quanto em

publicações na mídia geral.

Segundo a Organization for Economic Co-operation and Development (OECD, 2003),

esses resíduos podem ser entendidos como quaisquer aparelhos que utilizem fontes de

energia elétrica e que tenham atingido o fim da vida útil. Da mesma forma, Widmer et al.

(2005) consideram o REEE um termo genérico que abrange os diversos tipos de

equipamentos eletroeletrônicos que tenham deixado de ter qualquer valor para seus

proprietários, ou seja, os resíduos gerados por aparelhos eletroeletrônicos quebrados ou de

utilização indesejada.

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No Brasil, a definição adotada é a mesma empregada pela legislação europeia Waste

Electrical and Electronic Equipment Directive (WEEE Directive), que os classifica como

resíduos de equipamentos que são dependentes de correntes elétricas ou de campos

eletromagnéticos, projetados para uso com tensão nominal não superior a 1.000 volts para

corrente alternada e 1.500 volts para corrente contínua. Portanto, os REEEs incluem os

equipamentos elétricos e eletrônicos de consumo, incluindo todos os equipamentos

eletrodomésticos e seus componentes, subconjuntos e materiais consumíveis necessários ao

seu funcionamento, tais como fios, cabos, mouses, teclados, impressoras, scanners,

estabilizadores, no-breaks e outros dispositivos acessórios.

Sendo assim, entende-se que os REEEs englobam vários tipos de equipamentos, desde os

eletrodomésticos de grande porte às peças pequenas, como é o caso de celulares, rádios,

aparelhos de microinformática, seus acessórios, equipamentos de som, foto e vídeo,

luminárias, televisores, brinquedos eletrônicos e diversos outros produtos. São esses

produtos idealizados para facilitar a vida moderna que estão sendo descartados de forma

acelerada, à medida que ficam tecnologicamente e/ou culturalmente ultrapassados.

A composição dos materiais comumente presentes nos REEEs, segundo Kang e Shoenung

(2005), caracteriza-se por grande quantidade de metais (ferrosos e não ferrosos), vidro e

plástico. A distribuição aproximada é de 49% do peso em metais, 33% em plásticos, 12%

em peso de tubos de raios catódicos e 6% de outros materiais, em resíduos de televisores,

computadores e monitores (FIG. 6). Vale ressaltar que a estimativa de 2005 não

considerava as novas tecnologias em monitores liquid crystal display (LCD), televisores de

plasma ou telas táteis.

FIGURA 6 – Composição comumente presente nos REEEs

Fonte: adaptado de Kang e Shoenung (2005).

Metais  49%  

Plas-co  33%  

Outros  6%  

Tubos  de  raios  catódicos    12%  

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Esses produtos, descartados em lixões, causam sérios riscos ao meio ambiente, uma vez

que possuem em sua composição metais pesados altamente tóxicos, como o mercúrio,

cádmio, berílio, chumbo, bário e cromo, além de retardadores de chama bromados. Esses

resíduos, em contato direto com o solo, contaminam os lençóis freáticos devido ao efeito

de lixiviação e, se incinerados (em condições inadequadas), formam outras substâncias

tóxicas que são também poluentes à atmosfera e em ambos os casos prejudicam a saúde do

ser humano (RODRIGUES, 2007; BEZERRA, 2009; DEA JÚNIOR; ROSA; SAMPAIO,

2010; FRANCO; LANGE, 2011; NATUME; SANT´ANNA, 2011).

No QUADRO 2 são apresentados os principais resíduos contidos no REEE, os potenciais

danos que eles podem causar à saúde humana e em quais produtos esses elementos e

compostos são frequentemente utilizados.

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QUADRO 2 - Substâncias tóxicas presentes em equipamentos eletrônicos: efeitos ao meio ambiente e à saúde

Substância Prejuízo aos seres vivos Danos ao meio ambiente Utilização

Retardador de chama

Cancerígeno e neurotóxico: pode interferir na função reprodutora

Pode ser solúveL em água, volátil, bioacumulativo e persistente. Gera

dioxinas e furanos em incineradores

Computadores/ televisores

Cádmio

Possíveis efeitos irreversíveis nos rins podem provocar câncer,

desmineralização óssea; problemas digestivos (náusea, vômito, diarreia); problemas pulmonares; envenenamento

(quando ingerido); pneumonite (quando inalado)

Bioacumulativos, persistente tóxico

para o meio ambiente

Resistores, detectores de

infravermelho, nas versões mais antigas de raios catódicos, semicondutores, placas de circuito

impresso

Cromo Provoca reações alérgicas em

contato com a pele, é cáustico e genotóxico.

Absorção celular muito fácil pelas plantas e animais

dos efeitos tóxicos

Chumbo

Danos no sistema nervoso, endócrino, cardiovascular e rins;

dores abdominais (cólica, espasmo e rigidez); disfunção renal; anemia,

problemas pulmonares; neurite periférica (paralisia); encefalopatia

(sonolência, manias, delírio, convulsões e coma)

Acumulação no ecossistema, efeitos

tóxicos na flora e fauna e micro-organismos.

Soldas circuitos impressos e outros

componentes e tubos de raios catódicos em monitores e televisores

Mercúrio

Possíveis danos cerebrais cumulativos podem afetar o feto.

Gengivite, salivação, diarreia (com sangramento); dores abdominais

(epigástrio, vômitos, gosto metálico na boca); congestão, inapetência,

indigestão; dermatite e elevação da pressão arterial; estomatites

(inflamação da mucosa da boca), ulceração da faringe e do esôfago, lesões renais e no tubo digestivo; insônia, dores de cabeça, colapso,

delírio, convulsões

Pode tornar-se solúvel em água; pode acumular-se nos organismos

vivos

Termostatos, sensores de posição,

chaves, relés e lâmpadas

descartáveis, equipamentos

médicos, transmissão de dados, telecomu-nicações telefones celulares, interrup-

tores de residências e placas de circuito impresso, baterias

Bário Inchaço do cérebro, fraqueza muscular, danos ao coração,

fígado e no baço Painel frontal do

CRT

Cobre Pode gerar cirrose hepática Presente em vários

componentes eletrônicos

CRT: Cathode Ray Tube. Fonte – Adaptado de Bezerra (2009) E Natume e Sant´Anna (2011).

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As recentes pesquisas internacionais sobre os REEEs têm direcionado seus esforços

principalmente para três grandes áreas: cadeias de logística reversa em diferentes locais e

países; fluxo internacional, em especial no referente às práticas informais de reciclagem

em países asiáticos e africanos; além de novas técnicas e procedimentos de reciclagem

(ONGONDO; WILLIAMS, 2011; ONGONDO; WILLIAMS; CHERRETT, 2011;

TUNESI, 2011; TOWNSEND, 2011).

2.5.3 Destino, coleta e reciclagem dos REEE

Atualmente, na maioria dos países em desenvolvimento, as atividades de coleta e

reciclagem e destino de equipamentos eletrônicos são realizadas pelo setor informal, sem

levar em conta preocupações ambientais e de segurança. De acordo com Franco (2008), a

diversidade de destinação pós-consumo está diretamente relacionada aos fatores culturais e

econômicos e às legislações específicas de cada país. Em países onde a legislação está

consolidada, o reuso e a reciclagem são os destinos mais abrangentes, porém, em países

onde não há políticas públicas para esses resíduos, o armazenamento e a disposição em

aterros são os mais praticados (OECD, 2003).

Materiais valiosos presentes nos REEEs normalmente são um incentivo monetário para a

reciclagem, como o cobre, o ouro e a prata. Materiais como o paládio são encontrados em

concentração 10 vezes maior em placas de circuito impresso do que em minerais

comercialmente extraídos (BETTS, 2008). Segundo a United Nations Educational,

Scientific and Cultural Organization (UNESCO, 2008), existe preocupação com a questão

da recuperação desses componentes, de forma que não cause riscos à saúde dos

trabalhadores ou ao meio ambiente. Portanto, ao estabelecer o adequado gerenciamento

dos resíduos a partir da logística reversa (GONÇALVES; TEODÓSIO, 2006; LEITE,

2006; ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998), existe a possibilidade de ocorrerem ganhos

nas três dimensões da sustentabilidade, tendo em vista que o meio ambiente é resguardado

da ação dos produtos tóxicos e químicos, a sociedade pode reaproveitar os equipamentos

que estão em condições de uso e a economia pode recuperar o valor monetário com a

reciclagem dos equipamentos inutilizados e, ainda, possibilitar a geração de empregos.

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Os principais impactos decorrentes da recuperação desses materiais são as práticas caseiras

utilizadas principalmente nos países em desenvolvimento, como Brasil, Índia e Nigéria.

Nesses locais, um procedimento comum que ilustra essa prática refere-se aos fios dos

computadores, que são queimados em locais abertos para remover o plástico e recuperar o

cobre. As placas de circuito impresso também são processadas com métodos rudimentares,

muitas vezes ao lado de córregos e rios. Dessas placas, os trabalhadores extraem cobre e

metais preciosos usando ácido, cianeto e/ou mercúrio, sem as devidas precauções

(UNESCO, 2008). Determinados processos de reciclagem, inclusive os de trituração,

moagem, queima e derretimento de componentes, podem liberar gases ou pó nocivos que,

quando emitidos ou lixiviados no solo, podem ter impactos na saúde e no ambiente. Nesse

sentido, o processo de reciclagem dos REEEs deve seguir práticas seguras para a

recuperação dos materiais, além do devido tratamento e disposição adequada dos resíduos

perigosos.

O documento “WEEE – quantities, dangerous substances and treatment methods”,

publicado pela Agência Ambiental Europeia em 2003 (CROWE et al., 2003), mostra que o

processo de reciclagem dos REEEs pode ser subdividido nas seguintes etapas pós-consumo

(FIG. 7):

• Armazenamento ou estocagem;

• reuso ou segunda vida;

• desmontagem e reciclagem;

• disposição final em aterros sanitários ou incineração.

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FIGURA 7 – Etapas de pós-consumo dos equipamentos eletrônicos

PC: personal computer; TV: televisão. Fonte: Franco (2008).

O armazenamento de REEE é uma prática comum nas residências, em empresas ou

repartições públicas, uma vez que os usuários esperam que seus eletrônicos obsoletos

possam ter alguma utilidade ou valor de revenda ou, ainda, por não saberem que destino

dar a eles.

O reuso, ou segundo ciclo de vida, é uma prática comum, principalmente entre

computadores e telefones celulares. O segundo ciclo de vida pode se dar por meio do reuso

direto - o equipamento é repassado diretamente a outro usuário - ou do reuso indireto -

quando é doado a entidades sociais que os destinam a instituições de ensino, órgãos

administrativos ou organizações não governamentais. Outra forma de reuso comum é a

recuperação e reaproveitamento de peças e componentes de fácil acesso, normalmente

realizada por empresas de assistência técnica em informática. Como última possibilidade

de reuso, o aproveitamento de componentes goza de um mercado considerável de revendas

de peças usadas (FRANCO, 2008).

Na etapa da reciclagem, são feitas a desmontagem e a remoção das partes que contêm

substâncias perigosas (mercúrio, clorofluorcarbono – CFC -, bifenilas policloradas, entre

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outros) e dos componentes de fácil acesso que contenham materiais valiosos (cabos

contendo cobre, ferro, aço e placas de circuito contendo metais preciosos). Durante a

desmontagem é feita a separação dos materiais e segregam-se os metais ferrosos, metais

não ferrosos, plástico e vidro. Normalmente, esse processo é feito a partir da fragmentação

dos componentes e separação magnética. Entre os componentes resultantes dos desmontes,

estão as placas de circuito (FIG. 8). As placas feitas de papel e resina fenólica, também

denominadas de “placas marrom”, não são atrativas financeiramente na indústria de

reciclagem. Já as “placas verdes”, feitas tipicamente de resina epóxi (com retardantes de

chama tóxicos), fibra de vidro e cobre, possuem alto valor comercial (FRANCO, 2008).

FIGURA 8 – Placas de circuito de equipamentos eletrônicos

Fonte: Acervo do autor.

A reciclagem e a recuperação dos materiais valiosos normalmente são realizadas por

empresas específicas que recebem o material para recuperação, os metais ferrosos são

enviados para fornos elétricos, os não ferrosos para indústrias de fundição e os metais

preciosos para processos de separação manual (garimpo). Para a disposição final dos

resíduos e o tratamento dos materiais perigosos, o material leve é triturado e depositado em

aterros ou incinerados, os CFCs são tratados termicamente, o bifenilas policloradas (PCB)

é incinerado ou depositado em armazéns subterrâneos, o mercúrio é reciclado e as demais

substâncias tóxicas são neutralizadas e aterradas (CROWE et al., 2003). A FIG. 9

apresenta, de forma simplificada, o fluxograma do processo de reciclagem, proposto por

Franco (2008).

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FIGURA 9 - Fluxograma simplificado do processo de reciclagem dos REEEs

Fonte: adaptado de Franco (2008).

Baseada na logística desse fluxograma, a autora realizou extenso estudo sobre o destino

que é dado aos bens de consumo duráveis quando não são mais úteis a seus possuidores;

como esses resíduos estavam sendo gerenciados na cidade de Belo Horizonte e por que

eles necessitam de gestão especial. Baseado nesses princípios, foi proposto um modelo de

gestão dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos domésticos para o município de

Belo Horizonte, envolvendo os diferentes atores necessários ao processo de logística

reversa, esquematizado no diagrama da Figura 10.

Produtos coletados

Classificação Revenda/Reuso produto

Revenda/Reuso partes

Disposição final

Separação dos componentes

Redução do tamanho

Separação dos materiais

Vendas

Tubos de raios catódicos

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FIGURA 10 - Modelo de gestão de resíduos de equipamentos elétricos

e eletrônicos para o município de Belo Horizonte

Fonte: Franco (2008).

Uma das conclusões da pesquisa foi a constatação da inexistência de empresas de gestão de

resíduos eletrônicos no município de Belo Horizonte ou no estado de Minas Gerais, o que

se configura como uma potencial oportunidade para a implantação desse setor empresarial.

2.5.3.1 Impactos regionais dos resíduos de eletroeletrônicos

De acordo com pesquisa desenvolvida por Natume e Sant’Ana (2011), no Brasil é

crescente a necessidade de aprofundamento em estudos que levem em consideração os

problemas ambientais causados pelos REEEs, uma vez que pouco se sabe a respeito da

reciclagem ou de mecanismos de minimização dos impactos desses resíduos no país.

Recente pesquisa desenvolvida por Franco (2008) elucida o comportamento dos

consumidores em relação ao descarte de aparelhos eletrônicos, na cidade de Belo

Horizonte. A autora mostra que, na capital mineira, o gerenciamento ambientalmente

correto dos REEEs é muito incipiente. Os principais destinos dados aos aparelhos

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celulares, TVs e PCs ao final da primeira vida útil são a doação (34%, 44% e 36%,

respectivamente) e o armazenamento (23%, 24% e 6%, respectivamente) e 7% dos

aparelhos celulares se transformam em brinquedo para crianças. Apenas 2% dos telefones

celulares são enviados para reciclagem e nenhum dos outros equipamentos tem esse fim.

Finalmente, a partir da segunda vida útil, esses equipamentos são descartados no lixo

comum e acabam nos aterros sanitários e lixões.

Neste sentido, destaca-se também a recente promulgação da Lei que regula a Política

Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada em agosto de 2010 - Lei 12.305/10 (BRASIL,

2010). A referida lei trata das diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de

resíduos sólidos (incluídos os perigosos) e às responsabilidades das empresas geradoras,

abrangendo o poder público e os demais instrumentos econômicos aplicáveis. Um dos

pontos relevantes da nova legislação é que se estende a responsabilidade sobre os resíduos

eletroeletrônicos aos fabricantes, importadores e comerciantes desses produtos e demanda

que os envolvidos promovam a reciclabilidade, a logística reversa e a gestão adequada

desses resíduos.

O volume de REEE em fluxo na cidade de Belo Horizonte pode ser verificado junto às

cooperativas de materiais recicláveis e junto às empresas que comercializam sucata e nos

locais de disposição final. Contudo, os impactos ambientais provenientes desses

equipamentos em lixões e aterros sanitários na cidade de Belo Horizonte, até o momento,

não são quantificados.

Segundo o documento publicado pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) em

parceria com a Swiss Federal Laboratories for Materials Testing and Research (EMPA)

(FEAM; EMPA, 2009), estima-se que o Brasil produza cerca de 679.000 toneladas de lixo

eletroeletrônico por ano, sendo 68.600 no estado de Minas Gerais e 19.700 toneladas na

região metropolitana de Belo Horizonte, o que equivale a 29% do lixo gerado no estado. A

geração per capita dos brasileiros até o ano de 2030 deve ser em torno de 3,3 para o estado

de Minas Gerais; 3,4 para a região metropolitana de Belo Horizonte; e de 3,7 kg/habitante-

ano, se considerados todos os equipamentos eletroeletrônicos. Levando-se em conta apenas

resíduos a partir de telefones celular e fixo, televisores e computadores, esses valores

seriam, respectivamente, de 1,0, 1,0 e 1,1 kg/habitante-ano.

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O mesmo documento demonstra que, considerando todos os eletroeletrônicos, o acúmulo

desse fluxo de resíduos, em 2030, deve gerar aproximadamente 22,4 milhões de toneladas

de REEE no Brasil; 2,2 milhões de toneladas em Minas Gerais; e 625 mil na região

metropolitana de Belo Horizonte. Somente para os resíduos de telefones celulares, fixos,

computadores e televisores esses valores são, respectivamente, de 6,6 milhões, 677 mil e

194 mil toneladas. Vale ressaltar que, neste estudo, tomou-se como base que cada

domicílio possua apenas um produto eletrônico de cada tipo (QUADRO 3).

QUADRO 3 – Geração de REEE no Brasil, Minas Gerais e Belo Horizonte

Fonte: FEAM; EMPA (2009).

Estudos desenvolvidos por Franco e Lange (2011) alertam para a intensidade do fluxo de

REEE no município de Belo Horizonte, a partir do diagnóstico estimativo da quantidade,

em peso, dos materiais recicláveis e das substâncias tóxicas presentes nos equipamentos

descartados na cidade atualmente. O estudo mostra que o gerenciamento desses resíduos é

feito por iniciativa de raras associações entre a administração pública e iniciativas

privadas. No entanto, o sistema é aplicado somente em determinados equipamentos de

informática e de telefonia móvel, de pilhas e baterias. Os demais resíduos são manipulados

sem as devidas precauções de saúde e segurança do trabalhador e dispostos em lixões de

forma irregular. As autoras evidenciam a necessidade de delinear um sistema de

gerenciamento de REEE na cidade de Belo Horizonte.

Existe a crescente necessidade de regulação legislativa, no tocante a esses resíduos. Em

países onde ainda não existem políticas públicas para os REEEs, o armazenamento e/ou a

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disposição em aterros sanitários é a prática mais comumente utilizada. Em países onde a

legislação está consolidada, o reuso e a reciclagem são os destinos mais abrangentes. A

legislação específica adotada nesses países aplica o princípio de responsabilidade estendida

ao fabricante, levando as indústrias a desenvolver produtos a partir de conceitos de

ecodesign, investir em pesquisas sobre reciclagem e logística reversa (FRANCO; LANGE,

2011; GONÇALVES; TEODÓSIO, 2006; LEITE, 2006; ROGERS; TIBBEN-LEMBKE,

1998).

2.6 Legislação específica

Este capítulo contempla a análise das principais legislações e políticas públicas

relacionadas à regulação ambiental, no tocante à gestão dos REEEs, nos âmbitos

internacional, nacional e regional.

Notadamente, foi a partir da década de 1980 que emergiu a preocupação mundial com os

resíduos sólidos provenientes dos equipamentos eletroeletrônicos. Os governos,

percebendo o problema, procuram desenvolver legislações específicas, com o objetivo de

regulamentar a produção e o descarte dos REEEs, envolvendo mais responsabilidades por

parte dos fabricantes (ANSANELLI, 2010).

As leis ambientais dos países industrializados até então, direcionadas para a internalização

dos custos da disposição de resíduos perigosos, praticavam o comércio tóxico de lixo para

países em desenvolvimento e para a Europa Oriental. Quando essa atividade tomou fluxo

trafegando sem qualquer controle, surgiu a adoção da Convenção de Basileia. Essa

convenção foi o primeiro tratado abordando o assunto e serviu como base para a

elaboração de diversas legislações específicas aplicadas nos âmbitos internacional e

nacional, para regulamentação da exportação e importação de resíduos sólidos e líquidos

perigosos.

As principais iniciativas criadas para regulamentar a questão dos REEEs foram

promulgadas pelo Parlamento Europeu (2003a; 2003b) por meio da Diretiva 2002/96/CE

(WEEE) e a Diretiva 2002/95/CE (RoHS). Elas tiveram como meta levar à regulamentação

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os processos e materiais utilizados na produção de equipamentos elétricos e eletrônicos,

buscando minimizar os seus impactos ambientais.

Pode-se dizer que o gerenciamento dos REEEs nos países desenvolvidos foi bem-sucedido,

porque a legislação vigente privilegia a “responsabilidade estendida do produtor”

(Extended Producer Responsibility - EPR), o que leva os fabricantes a investir em

pesquisas de reciclagem e reciclabilidade dos materiais e componentes e a adotar a

logística reversa (FRANCO; LANGE, 2011). Essa responsabilidade incorpora os custos

ambientais aos produtos em seus ciclos de vida ao custo final da produção, como previsto

na Diretiva 2002/96/CE. Outro aspecto que também é visto como positivo na gestão dos

REEEs em países desenvolvidos é a “responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida

dos produtos”. Essa responsabilidade refere-se ao conjunto de atribuições individualizadas

e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores/comerciantes, dos consumidores

e titulares dos serviços públicos, de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos,

objetivando a minimização dos resíduos gerados, bem como a redução dos impactos

decorrentes do ciclo de vida dos produtos (BRASIL, 2010).

A “logística reversa” é outro fator importante nesse processo, pois nela é previsto o

planejamento, implementação e controle da eficiência e do custo efetivo do fluxo de

matérias-primas, estoque, produtos acabados e informações correspondentes, desde o ponto

de consumo até o ponto de origem, com o propósito de recapturar o valor ou destinar à

apropriada disposição final (LAMBERT, 2008). Para a Política Nacional dos Resíduos

Sólidos (PNRS), a logística reversa é o conjunto de ações e procedimentos destinados a

facilitar a coleta e restituição dos resíduos sólidos aos geradores, para o tratamento ou

reaproveitamento em seu próprio ciclo produtivo ou no ciclo produtivo de outros produtos

(BRASIL, 2010). A primeira definição de logística reversa foi publicada pelo Council of

Logistics Management (CLM) no início dos anos 1990 e ressalta o importante papel da

logística reversa em relação à reciclagem, controle de desperdício e gerenciamento de

materiais usados (LEITE, 2006).

Em abordagem mais ampla, a logística reversa inclui todas as atividades relacionadas a

redução, reciclagem, substituição e reutilização de materiais. Segundo Valle e Costa

(2006), ela pode também ser considerada uma área da logística empresarial que administra

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os fluxos reversos de mercadorias, serviços e informações, englobando o retorno dos bens

de pós-venda e pós-consumo ao ciclo de negócios ou ciclo produtivo. De forma

abrangente, essa atividade engloba a coleta dos materiais utilizados, danificados,

rejeitados, fora de validade e embalagens, desde a localidade do consumidor final até o

revendedor. Razões de legislações ecológicas que estão entrando em vigor abrangem

diferentes aspectos do ciclo de vida dos produtos, partindo da sua fabricação e uso devido

da matéria-prima até sua disposição final (LEITE; LAVEZ; SOUZA, 2009).

Em resposta ao crescente problema do excesso de lixo eletrônico, muitos países adotaram

políticas de gestão de resíduos nas quais os produtores são responsáveis por recolher (take-

back) seus produtos desde os usuários, ao final da vida útil, ou financiar uma infraestrutura

de coleta e reciclagem. Essas políticas foram adotadas pela falta de infraestrutura para a

coleta de determinados produtos contendo materiais tóxicos e os altos custos impostos aos

governos locais que promovem tais serviços de coleta.

Contudo, o objetivo principal dessas leis de recolha (take-back laws) é promover parcerias

entre os governos e o setor privado, a fim de assegurar que os resíduos de eletroeletrônicos

sejam administrados e que possa proteger a saúde pública e o meio ambiente. Com isso,

pretende-se estimular as empresas a desenvolverem seus produtos para o reuso e para a

recliclabilidade, incentivando inovações tecnológicas nos processos de reciclagem.

No Brasil, a PNRS, sancionada em 2010, constitui um marco para a regulação do REEE no

país ao classificá-lo como resíduo especial e estender a responsabilidade às indústrias

produtoras. Alguns estados brasileiros também desenvolvem suas próprias políticas, mas a

maioria não menciona a questão dos resíduos eletrônicos. Uma referência importante é a

Lei dos Eletrônicos, em vigor no estado de São Paulo desde 2008, que responsabiliza

fabricantes, importadores e comerciantes de equipamentos eletrônicos pela promoção de

logística reversa, reciclagem e disposição final dos produtos.

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2.6.1 Legislação internacional

As políticas internacionais sobre os resíduos sólidos tiveram como marco inicial as

Diretrizes do Cairo, elaboradas em 1987 com o propósito de orientar os países signatários

no gerenciamento dos resíduos perigosos. Essas diretrizes serviram de base para a

formulação da Convenção de Basileia e influenciaram diversas legislações específicas em

vários países.

• Convenção de Basileia

A Convenção de Basileia é um tratado internacional criado em 1989, que tem como

objetivo diminuir os impactos ambientais causados pela importação e exportação de

resíduos perigosos entre os países participantes. A legislação estabelece o direito e a

autoridade para qualquer país aceitar ou rejeitar a entrada de resíduos perigosos e outros

resíduos estrangeiros em seu território, preservando a vida e a saúde da população e o meio

ambiente. O tratado também permite a concessão prévia e explícita para a importação e

exportação dos resíduos autorizados entre os países, a fim de evitar o tráfico ilícito. Um

desses acordos foi firmado na Convenção de Bamako e trata da proibição de importação,

controle do movimento transfronteiriço e gestão de resíduos perigosos na África, que

entrou em vigor em 1998. Segundo esse acordo, somente será permitido o movimento

além-fronteiras quando o Estado de exportação não possuir competência técnica nem

condições necessárias à gestão desses resíduos ou quando os resíduos em questão forem

considerados matéria-prima para a produção no Estado de importação.

A Convenção de Basileia, portanto, idealizou-se sob a influência do Programa das Nações

Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e, após a sua adoção na conferência diplomática

de Basel, na Suíça, em 1992, entrou em vigor, tornando-se um documento

internacionalmente reconhecido. Em 1995 são estabelecidas a classificação e

caracterização dos resíduos perigosos e a convenção consolidou-se como tratado ambiental

mundial a partir de 1999. O Brasil aderiu ao tratado a partir do Decreto nº 875/93.

Em 1994 foi realizada a 2ª reunião entre os associados da Convenção de Basileia, sendo

proibida a movimentação transfronteiriça de resíduos perigosos de países-membros da

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Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para países não

membros. De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA, 2007), ainda é

preocupação dos países signatários as razões pelas quais os movimentos transfronteiriços

de resíduos perigosos ainda persistem, especialmente para os países em desenvolvimento, e

por que os países que não possuem capacidade para garantir a gestão desses resíduos

insistem em recebê-los.

• Diretiva Waste Electrical and Electronic Equipment - WEEE

A diretiva WEEE é um documento que regula a questão dos resíduos provenientes de

equipamentos elétricos e eletrônicos e procura introduzir mecanismos de controle para a

redução do fluxo crescente de geração de resíduos desses equipamentos. A diretiva atribui

aos fabricantes a responsabilidade pela reciclagem dos aparelhos ao final da vida útil, por

meio de práticas de logística reversa, e tem o intuito de encorajar os produtores a

projetarem equipamentos eletroeletrônicos de forma ambientalmente eficiente,

considerando-se o gerenciamento de resíduos desde a fase de concepção (FRANCO;

LANGE, 2011; PIDONE, 2011).

O documento foi incorporado pela União Europeia em fevereiro de 2003, determinando

metas para o desenvolvimento dos procedimentos relativos à coleta, reciclagem e

recuperação para todos os tipos de bens eletroeletrônicos, conforme descrito em

Parlamento Europeu (2003a). A legislação impõe, ainda, a responsabilidade sobre o lixo

eletroeletrônico aos fabricantes e distribuidores e requer dessas empresas o

estabelecimento de infraestrutura para a recolha dos produtos, de maneira a oferecer aos

usuários a possibilidade de retorná-los aos responsáveis sem custos. A WEEE tem como

fundamento os princípios de poluidor pagador e de responsabilidade estendida ao produtor,

sendo essa responsabilidade associada às etapas de coleta seletiva, tratamento, recuperação

e reciclagem, que podem ser realizadas pelo próprio produtor ou por terceiros, mas

financiadas pelo produtor (ANSANELLI, 2010).

A internalização dessas atividades, além de estimular o design ecológico dos produtos e o

fornecimento de informações relativas à questão, busca reduzir a quantidade de lixo

eletrônico que chega aos aterros sanitários, estabelecendo quotas de recuperação de

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produtos em torno de 70 a 80% do peso médio por utensílio e as taxas de reciclagem de

componentes, materiais e substâncias entre 50 e 75%, conforme Tabela 5.

TABELA 5 - Regulamentações WEEE por categorias de produtos cobertas

Produtos

Regulamentação WEEE

Recuperação

(% do peso)

Reciclagem

(% do peso)

Grandes eletrodomésticos 80 75

Pequenos eletrodomésticos 70 50

Tecnologia de informação/telecomunicações 75 65

Eletrônicos de consumo 75 65

Equipamentos de iluminação * 70 50

Ferramentas eletroeletrônicas 70 50

Brinquedos e produtos esportivos 70 50

Equipamentos médicos - -

Equipamentos de controle e monitoramento 70 50

Equipamentos de serviço automático 80 75 (*) exceto lâmpadas de descarga de gás. Fonte: Adaptado de Ansanelli (2010).

No âmbito de aplicação da diretiva WEEE, sua abrangência atinge produtos classificados

como:

• Eletrodomésticos de grande porte (lavadoras de louça e de roupa, fogões, fornos

elétricos e de micro-ondas, aparelhos de ar-condicionado, etc.).

• Eletrodomésticos de pequeno porte (ferros de passar roupa, cafeteiras, torradeiras,

batedeiras, etc.).

• Equipamentos de informática e telecomunicações (computadores, notebooks,

impressoras, telefones celulares, tablets, etc.).

• Equipamentos de consumo em som e imagem (televisores, rádios, câmeras

fotográficas, filmadoras, etc.).

• Brinquedos e equipamentos esportivos.

• Ferramentas eletroeletrônicas, equipamentos médicos, instrumentos de automação e

controle, e equipamentos de iluminação.

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A diretiva WEEE tende a ter impactos mais regionais sobre a indústria de reciclagem, mas

pouco foi registrado sobre os seus efeitos inovadores e estímulo ao redesign do produto

(ANSANELLI, 2010).

• Diretiva Restriction of the Use of Certain Hardous Substances – RoHs

A diretiva RoHs é um documento elaborado pelos organismos de controle ambiental da

União Europeia que, de forma complementar à diretiva WEEE, promove a substituição de

substâncias tóxicas e perigosas dos equipamentos eletroeletrônicos por materiais mais

seguros, como descrito em Parlamento Europeu (2003b). A RoHs tem impactos globais,

atingindo toda a cadeia produtores de diversos segmentos e impõe significativos desafios à

inovação, notadamente aos aspectos relacionados à eliminação do chumbo na solda

(ANSANELLI, 2010).

O documento, juntamente com a legislação de cada país-membro, passou a proibir, a partir

de 2003, a comercialização, na União Europeia, de equipamentos eletroeletrônicos que

contenham, na composição de seus componentes, metais pesados nocivos como o chumbo,

o cádmio, o cromo ou o mercúrio e os retardadores de chama bromados. Essa restrição se

aplica aos equipamentos montados e todos os componentes e subcomponentes do sistema,

incluindo placas de circuito integrado, semicondutores, cabos e conectores, juntas e soldas

(PIDONE, 2011).

A diretiva ainda determina que os produtos eletroeletrônicos que contenham em suas

composições essas substâncias (além das pilhas e baterias) devam ser devolvidos pelos

usuários aos estabelecimentos que os comercializaram ou à rede de assistência técnica

autorizada pelas indústrias, que são obrigados a aceitá-las e a encaminhá-las aos

fabricantes ou importadores. Por sua vez, os fabricantes ou importadores desses produtos

ficam obrigados a adotar procedimentos de reutilização, reciclagem, tratamento ou

disposição final ambientalmente adequada.

Nos artigos 7º e 9º, a diretiva recomenda que os fabricantes dos produtos conduzam

pesquisas para substituir ou reduzir substâncias tóxicas. Devem explicitar - nas matérias

publicitárias, embalagens e nos produtos - advertências sobre os riscos à saúde humana e

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ao meio ambiente. Devem informar a necessidade de devolução, por parte dos usuários,

aos revendedores ou à rede de assistência técnica autorizada para repasse aos fabricantes

ou importadores desses produtos (PARLAMENTO EUROPEU, 2003b).

Decidiu-se, por esse documento, que serão máximos os valores de concentração em 0,1%

por kg (ou 1.000 mg/kg) em material homogêneo para chumbo, mercúrio, cromo, bifenilos

polibromados (PBB) e éter difenil polibromados (PDBE) e em 0,01% (ou 100 mg/kg) de

material homogêneo para o cádmio. Isso se aplica aos equipamentos eletroeletrônicos

abrangidos por quase todas as categorias definidas na diretiva WEEE, incluindo as

lâmpadas elétricas e os aparelhos de iluminação de uso doméstico (ANSANELLI, 2010).

• Reflexos da legislação ambiental internacional

A partir dessas regulações internacionais, diversos países desenvolveram legislação e

programas específicos para a gestão ambiental do lixo eletrônico, como a versão chinesa da

RoHs, que restringe seis substâncias tóxicas em equipamentos eletrônicos, e a Home

Appliance Recycling Law, no Japão, que obriga à substituição de substâncias tóxicas,

aumento da reciclabilidade e incentivo à reciclagem, além da proibição de depósito

inadequado.

Nos Estados Unidos, o estado da Califórnia oficializa em 2003 o Decreto de Reciclagem

de Eletrônicos, baseado na RoHs e na WEEE, que estende a responsabilidade do produtor à

logística reversa e à reciclagem; e o estado de Nova Iorque, que a partir do Electronic

Equipment Collection também amplia a responsabilidade do produtor à logística reversa e

à reciclagem e estabelece metas e prazos gradativos. O QUADRO 4 mostra a descrição das

principais legislações e políticas ambientais relacionadas à produção de equipamentos

eletroeletrônicos.

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QUADRO 4 - Regulamentações internacionais: (REEE)

LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL COMPARADA SOBRE REEE

PAÍSES LEGISLAÇÃO PRINCÍPIO DESDE ETAPAS

E PRAZOS

RESPONSABI-LIDADES

OBSERVA-ÇÕES

União Europeia Diretiva RoHs

Restringe substâncias tóxicas na

fabricação de eletrônicos

2003

A serem definidos

por comitê

Produtor: diminuir gradativamente e

banir o uso de seis substâncias tóxicas

Chumbo, mercúrio,

cádmio, cromo hexavalente e polibromatos (PBB e BDE)

União Europeia

Diretiva REEE (WEEE)

Aumento da taxa de recicla-

bilidade, responsabilidade

estendida ao produtor e proi-bição de depósi-to inadequado

2002 Aumentos

gradativos - reciclagem

Estados: estabelecer

sistema de coleta Produtores: custos de

logística reversa e reciclagem

Estabelece prazos e metas

China RoHs China Restringe

substâncias tóxicas

2006 RoHs Produtor: redução do uso Idem RoHs

EUA-CA Decreto de

Reciclagem de Eletroeletrônicos

Responsabili-dade estendida

ao produtor 2003

Prazos específi-

cos

Produtor: rede de coleta

Centro das maiores

empresas de tecnologia do

mundo

EUA-NY Electronic Equipment Collection

Responsabilida-de estendida ao

produtor 2008

25% coletados em 2015

Produtor: apresentar plano

de manejo às prefeituras

_

Japão Home

Appliance Recycling Law

Substituição de substâncias

tóxicas e incentivos à reciclagem

1998 Aplicação imediata

Consumidor: taxa para

descarte/estado: coleta/produtor:

reciclagem

Alta taxa de consumo e

descarte per capita do mundo

Mundial Convenção de Basileia

Regula o movimento

transfronteiriço 1989 Aplicação

imediata

Fiscalização dos estados e

classificação dos resíduos

EUA, Afeganistão e

Haiti não ratificaram

Fonte: adaptado de Andueza (2009).

2.6.2 Legislação nacional

Os problemas relacionados à degradação e poluição do meio ambiente brasileiro não são

recentes, eles surgiram com a colonização do Brasil, ainda no século XVI, quando foi feita

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a demarcação territorial para a extração das riquezas naturais do litoral pelos portugueses.

Considerando a acelerada degradação ambiental apresentada nos últimos séculos, faz-se

necessária a associação de diferentes instrumentos, com o objetivo de se associar,

interdisciplinarmente, os diferentes conceitos e experiências, em função da mais

conscientização sobre as questões da preservação ambiental.

No Brasil, o marco inicial da legislação ambiental foi a sanção da Política Nacional do

Meio Ambiente, Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que tem por objetivo tornar efetivo

o princípio do art. 225 da Constituição Federal, que declara o direito de todos ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, entendendo-o como bem de uso comum do povo e

essencial à sadia qualidade de vida. Impõe-se, dessa forma, ao poder público e à

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações

(BRASIL, 1981). Instituiu-se, para tanto, o Sistema Nacional do Meio Ambiente

(SISNAMA), um conjunto articulado de órgãos, entidades, normas e práticas da União, dos

estados, do Distrito Federal, dos territórios, dos municípios e de fundações instituídas pelo

poder público, sob a coordenação do Conselho Nacional do Meio Ambiente.

Um importante conceito desenvolvido pelo SISNAMA é o da educação ambiental. Esse

conceito constitui-se de processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade

constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas

para a conservação do meio ambiente (artigos 1º e 2º da Política Nacional de Educação

Ambiental - Lei nº 9.795/99).

A educação ambiental em conjunto com outras áreas do conhecimento, em especial as

aplicadas ao design, auxilia o profissional na formação de sua percepção ambiental,

ressaltando seu papel no processo de preservação do meio ambiente. Entre as necessidades

de conscientização e preservação, os profissionais associados ao desenvolvimento de

produtos merecem destaque especial, exatamente pelo fato de que, muitas vezes, no setor

produtivo não existe preocupação relativa aos requisitos ambientais dos projetos,

ocasionando inúmeras consequências, sendo uma delas a poluição eletroeletrônica dos

componentes químicos, que causam prejuízos ao meio ambiente e danos à saúde

(MORAES; VAN DER LINDEN, 2010).

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• Resolução – CONAMA

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) é um órgão consultivo e

deliberativo que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, sendo presidido pelo

Ministério do Meio Ambiente. É um colegiado que representa cinco setores: órgãos

federais, estaduais e municipais, setor empresarial e sociedade civil. É de sua competência

estabelecer, mediante proposta do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis (IBAMA), dos demais órgãos integrantes do SISNAMA e dos

Conselheiros do CONAMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva

ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pela União, pelos estados, pelo Distrito

Federal e municípios e supervisionado pelo referido instituto.

As primeiras resoluções do Conama tangenciam a questão dos resíduos provenientes do

descarte de equipamentos eletroeletrônicos foram:

• Resolução nº 23, de 1996, que regula a importação de resíduos e produtos perigosos

em todo o território nacional e se relaciona com os conceitos e objetivos da

Convenção de Basileia.

• Resolução nº 257, de 1999, que estabelece procedimentos de reutilização,

reciclagem, tratamento e disposição final adequada para pilhas e baterias que

contenham em suas composições chumbo, cádmio, mercúrio e seus compostos.

• Resolução nº 401, de 2008, que estabelece redução nos limites de mercúrio, cádmio

e chumbo permitidos na composição de pilhas e baterias comercializadas no

território nacional, além dos critérios e padrões para o seu gerenciamento

ambientalmente adequado, a exemplo da diretiva europeia (RoHs) em seus artigos

1º, 7º e 9º (BRASIL, 2008).

Nesse sentido, a Resolução nº 401 responsabiliza o fabricante e o importador dos referidos

equipamentos eletroeletrônicos, pela obrigação de implantar os sistemas de reutilização,

reciclagem, tratamento ou disposição final e desenvolver mecanismos de gestão a fim de

assegurar que esses resíduos sejam tratados de forma tecnicamente segura e adequada, com

vistas a evitar riscos à saúde humana e ao meio ambiente.

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• Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS

Considerada um marco histórico da gestão ambiental no Brasil, a Lei nº 12.305/10

(BRASIL, 2010), regulamentada pelo Decreto 7.404/10, estabelece a PNRS. A lei

apresenta as diretrizes relativas à gestão integrada, ao gerenciamento de resíduos sólidos

(incluídos os perigosos), às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos

instrumentos econômicos aplicáveis.

Tendo como princípio a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e

população, a nova legislação incentiva o retorno dos produtos pós-consumo às indústrias e

obriga o poder público a realizar planos para o gerenciamento do lixo. Promulgada no dia

02 de agosto de 2010, após debate com governo, universidades, setor produtivo e entidades

civis, a PNRS promove mudanças no cenário desses resíduos. Segundo a associação sem

fins lucrativos Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), atualmente no

Brasil apenas 13% dos resíduos urbanos são reciclados ou passam pelo processo de

compostagem, embora o potencial para reciclagem seja muito maior (FIG. 11).

FIGURA 11 - Destinação final do lixo urbano

Fonte: adaptado de Cempre (2010).

Segundo o CEMPRE (2010), a PNRS estabelece no Brasil as bases para a gestão do lixo

sólido urbano, a partir do princípio da logística reversa, e compartilha a responsabilidade

sobre a recuperação de materiais pós-consumo, promovendo o seu retorno a novos ciclos

de vida como insumo para a fabricação de novos produtos. Portanto, as indústrias,

comerciantes, distribuidores e importadores devem, dessa forma, implementar sistemas de

logística reversa. Essas medidas são executadas progressivamente, criando mecanismos

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econômicos e financeiros focados no incentivo à atividade, contribuindo para que a nova

lei seja aplicada na prática.

Essas medidas são instrumentos que tornam o mercado da reciclagem mais rentável e

atraente a novas tecnologias e investimentos privados. Esse marco legal nacional denota

segurança às empresas para atuarem no setor de logística dos resíduos sólidos, tendo como

principais aspectos econômicos que a lei objetiva mudar, conforme resumidos na FIG. 12.

FIGURA 12 - O que muda com a Lei Política Nacional de Resíduos Sólidos

Antes

• Inexistência de lei nacional para

nortear os investimentos das

empresas;

• Falta de incentivos financeiros;

• Baixo retorno de produtos

eletroeletrônicos pós-consumo;

• Desperdício econômico sem a

reciclagem.

Depois

• Marco legal estimulará ações

empresariais;

• Novos instrumentos financeiros

impulsionarão a reciclagem;

• Mais produtos retomarão a indústria

após o uso pelo consumidor;

• Reciclagem avançará e gerara mais

negócios com impacto na geração de

renda.

Fonte: Cempre (2010).

Os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes têm responsabilidade que

abrange o recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, assim como

sua subsequente destinação final ambientalmente adequada, no caso de produtos objeto de

sistema de logística reversa (Cap. III, Seção II, Art. 31, IV, em BRASIL, 2010). Como

resultado, a expectativa é de mais absorção dos materiais separados do lixo urbano, com

menos pressão sobre os aterros sanitários e mais geração de emprego e renda.

O sistema da responsabilidade compartilhada pressiona o setor privado a partir de questões

econômicas, já que as empresas são responsáveis legalmente pela implementação da

logística reversa dos resíduos que geram. Uma mudança processual no desenvolvimento

dos produtos e no gerenciamento de sua obsolescência pode ser vislumbrada, por pressão

econômica. Novas redes de negócios são incentivadas, quando os resíduos podem ganhar

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valor como matéria-prima de outros processos produtivos. Recente estudo do Instituto de

Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA, 2011) indica que o país deixa de agregar à sua

economia cerca de oito bilhões de reais, por não aproveitar materiais recicláveis que

poderiam voltar à produção industrial. Nesse cenário surge o desafio da conscientização

dos consumidores sobre o descarte adequado dos equipamentos eletroeletrônicos, com o

suporte dos lojistas e dos fabricantes.

No âmbito público da responsabilidade compartilhada, cabe ao titular dos serviços públicos

de limpeza urbana adotar procedimentos para reaproveitar os resíduos sólidos reutilizáveis

e recicláveis, estabelecendo sistemas de coleta seletiva e provendo a disposição final

ambientalmente adequada dos rejeitos (Cap. III, Seção II, art. 33, em BRASIL, 2010).

Especificamente sobre a questão dos REEEs, a PNRS os classifica como resíduo especial e

determina que a gestão integrada desses produtos deva ser desenvolvida a partir do

conceito de responsabilidade compartilhada, com as seguintes atribuições:

• Aos produtores/fabricantes: terão responsabilidade sobre o produto eletroeletrônico

mesmo após o fim da sua vida útil, sendo obrigados a promover a logística reversa

(art. 33);

• adotar a ecoconcepção do produto, com o objetivo de prevenir os perigos

decorrentes da transformação do produto em resíduo (art. 31, inciso I);

• aplicar a correta rotulagem ambiental nos produtos e materiais (art. 7°, inciso XV);

• deverão obrigações financeiras para com a entidade gestora dos resíduos, caso

terceirizada (art. 33, §7°);

• aos comerciantes e distribuidores: deverão informar aos clientes e consumidores

sobre a logística reversa e proporcionar a recolha ao fim da vida útil dos produtos

(art. 31, inciso II);

• aos consumidores: assumem a obrigação de colaborar com a logística reversa, no

sentido de depositar corretamente o lixo eletrônico (art. 33, §4°) (BRASIL, 2010).

• Legislação estadual: Minas Gerais

O estado de Minas Gerais instituiu sua Política Estadual dos Resíduos Sólidos (PERS) a

partir da Lei nº 18.031, de 12 de janeiro de 2009, com o objetivo de orientar os municípios

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mineiros na gestão adequada dos resíduos sólidos urbanos. O objetivo foi fomentar a não

geração, redução, reutilização, reaproveitamento, reciclagem, tratamento e a disposição

final adequada dos resíduos sólidos. De forma mais ampla, a lei determina que os

municípios, as empresas fabricantes, os importadores, os distribuidores, os comerciantes e

os prestadores de serviços ficam obrigados a colaborar com o Plano de Gestão Integrada de

Resíduos Sólidos, promovendo formas de acondicionamento, transporte, armazenamento e

tratamento dos resíduos sólidos especiais, bem como a disposição final ambientalmente

adequada; a manutenção de centros de coleta; e desenvolvimento de estudos e pesquisas

orientadas à redução, processamento e gerenciamento dos resíduos. A lei considera que a

gestão integrada de resíduos sólidos seja um conjunto articulado de ações políticas,

normativas, operacionais, financeiras, de educação ambiental e de planejamento

desenvolvidas e aplicadas (MINAS GERAIS, 2009).

Entretanto, a PERS de Minas Gerais não menciona especificamente a questão dos resíduos

eletrônicos. As PERS dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Ceará,

Piauí e Paraná também não contemplam a questão. Apenas a de Pernambuco trata o lixo

eletrônico como resíduo especial e indica que a indústria de eletroeletrônicos deve

apresentar plano de gerenciamento de resíduos sólidos, mas apenas para a produção

industrial, ignorando a questão dos produtos comercializados.

Pioneiro, o estado de São Paulo promulgou em 2009 a denominada Lei dos Eletrônicos

(Lei 13.576/09), que institui normas para reciclagem, gerenciamento e destinação final do

lixo eletrônico. Todos os fabricantes, importadores e comerciantes de equipamentos

eletrônicos, com atuação no estado de São Paulo, devem recolher, reciclar ou reutilizar

total ou parcialmente o material descartado pelos consumidores com base na logística

reversa. O QUADRO 5 apresenta um comparativo da legislação brasileira, demonstrando

as principais leis e normas que regulamentam os resíduos sólidos e o lixo eletrônico no

Brasil.

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QUADRO 5 - Regulamentações nacionais: REEE

LEGISLAÇÃO NACIONAL COMPARADA SOBRE REEE

ESTADO LEGISLAÇÃO PRINCÍPIO DESDE

União

(Federal)

Política Nacional

do Meio Ambiente

Atribuição da competência sobre a gestão do

lixo doméstico aos municípios 1981

União

(Federal)

Resoluções

CONAMA para

resíduos perigosos

Proibição e regulamentação de importação e

exportação de produtos tóxicos (relacionados

pela Convenção de Basileia)

1996

União

(Federal)

Resoluções

CONAMA para

pilhas e baterias

Estabelece limites para metais pesados em

pilhas e baterias comercializadas no país 2008

União

(Federal)

Política Nacional

dos Resíduos

Sólidos

Regulamenta resíduos sólidos especiais

(incluindo os eletroeletrônicos) 2010

Minas

Gerais

Política Estadual dos

Resíduos Sólidos

(Minas Gerais)

Sem menção aos resíduos eletroeletrônicos 2009

Fonte: adaptado de Andueza (2009).

Com o intuito de viabilizar o atendimento da população urbana do estado de Minas Gerais

com sistemas de tratamento e destinação final dos REEEs e regulamentar a questão dos

aterros sanitários, foi elaborado em 2009 um caderno técnico com base em uma parceria

entre a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e a Fundação Israel Pinheiro (FIP).

O documento, denominado Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos de

Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (PGIREEE), do estado de Minas Gerais, integra o

processo de licenciamento ambiental. Esse documento apresenta diretrizes básicas para a

elaboração e implantação de sistemas de gestão desse REEE, buscando alternativas para a

geração de renda e inclusão social. E apresenta um levantamento da situação do sistema de

manejo dos resíduos sólidos no estado, a pré-seleção, as alternativas mais viáveis e o

estabelecimento de ações integradas e diretrizes relativas aos aspectos ambientais,

educacionais, econômicos, financeiros, administrativos, técnicos, sociais e legais para

todas as fases de gestão dos resíduos sólidos, desde a sua geração até a destinação final

(FEAM; FIP, 2009).

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• Legislação municipal: Belo Horizonte

Com a necessidade de se resolver problemas locais, a partir do contexto regional, surge a

necessidade da construção de parcerias entre as autoridades locais e setores da sociedade

civil, buscando o desenvolvimento de políticas sustentáveis e a resolução de problemas

relacionados ao desenvolvimento econômico, à proteção ambiental e à justiça social da

cidade em questão. No município de Belo Horizonte a gestão de resíduos sólidos é de

responsabilidade da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), criada em 1973 sob a

forma jurídica de autarquia municipal, que tem como objetivo coordenar, planejar,

executar e fiscalizar os serviços de limpeza pública de Belo Horizonte (BELO

HORIZONTE, 2000).

Pesquisa desenvolvida por Franco (2008) mostra que o sistema de limpeza urbana de Belo

Horizonte não possui trabalho referente aos REEEs e que o destino dado aos computadores

obsoletos é o Programa de Desenvolvimento de Informática, Informações e Dados de Belo

Horizonte (PRODABEL). A diretora de planejamento e gestão da SLU-BH declarou não

existir coleta específica para esse material no município, por não haver demanda até aquela

data. Na página da SLU-BH na internet encontra-se apenas a seguinte recomendação:

Se você quer se desfazer de entulho, podas e bagulhos volumosos (colchões, eletrodomésticos, mobiliário), não jogue na rua, nem contrate serviço inadequado. Procure as Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV). Os carroceiros e a população em geral podem depositar, gratuitamente, pequenas quantidades desses materiais (BELO HORIZONTE, 2000).

De acordo com o diagnóstico realizado por Franco e Lange em 2011, ainda não foi

localizada alguma empresa de gestão de resíduos eletrônicos no município de Belo

Horizonte, nem mesmo no estado de Minas Gerais. As autoras veem a situação como uma

oportunidade para a implementação de aproveitamento REEE no setor empresarial para o

estado. De acordo com o estudo, a infraestrutura de coleta específica de resíduos

eletroeletrônicos é inexistente. As alternativas citadas pelas autoras em relação ao descarte

dos equipamentos eletroeletrônicos pós-consumo em Belo Horizonte são: disposição junto

aos resíduos domiciliares; operações especiais eventuais dos serviços de limpeza urbana;

doação direta a catadores ou outros pontos de entrega voluntária. A pesquisa mostra que

nas duas primeiras alternativas o destino final mais provável é o aterro sanitário. Os

catadores normalmente encaminham os materiais às cooperativas de recicláveis. Quanto

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aos pontos de entrega voluntária, podem ser encontrados sistemas pontuais de gestão

formal para resíduos de computadores e aparelhos celulares e seus acessórios.

Em relação às empresas fornecedoras de telefones celulares, algumas possuem canais

reversos estruturados para o retorno da bateria, do aparelho celular e seus acessórios, por

meio das lojas de assistência técnica e pontos de venda. A coleta dos celulares e periféricos

pós-consumo é feita por meio de urnas receptoras e posteriormente os equipamentos são

encaminhados para desmontagem e reciclagem. Por vezes a triagem consiste apenas na

separação das baterias e o restante do aparelho acaba nos lixões. Contudo, a divulgação

desse sistema de recolha para os usuários ainda é deficiente. As cooperativas de catadores

de materiais recicláveis e as empresas que comercializam sucatas não possuem controle de

recebimento desses resíduos (FRANCO; LANGE, 2011).

Essa realidade traz um grande desafio para a cidade de Belo Horizonte: o desenvolvimento

das leis que versam sobre a disposição final de resíduos perigosos conduz a substancial

aumento dos custos impostos às empresas geradoras desses resíduos, que começam a

buscar opções mais baratas. Faz-se necessário, portanto, rever não somente a forma de

descarte dos rejeitos de equipamentos eletroeletrônicos, mas a maneira como são

concebidos e projetados.

Pode-se perceber, dessa forma, uma pressão para mudança no processo de

desenvolvimento dos produtos e no gerenciamento de suas obsolescências. Na sequência

desta pesquisa procurou-se contemplar as questões dos requisitos de projeto de design

desses produtos, a partir do enfoque em seus aspectos ambientais. Foram consideradas

duas ferramentas principais: a análise do ciclo de vida e a flexibilidade. Os conceitos

relativos aos requisitos de projeto são apresentados a partir de seus potenciais benefícios

ambientais.

2.7 Requisitos ambientais de projeto no design

Os requisitos de projeto no design se constituem em um conjunto de exigências e

condições apresentadas pelos clientes e demais atores envolvidos, para o desenvolvimento

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do projeto do produto. Durante o processo de design, os requisitos de projeto levam em

consideração quesitos relacionados às questões de produção, distribuição, mercado,

público-alvo, comunicação, utilização (função, ergonomia, experiência e satisfação),

manutenção e descarte do produto a ser projetado.

Diferentes autores mostram que, na metodologia de design de produto, os requisitos de

projeto se posicionam em uma etapa analítica de coleta de informações e contextualização

do projeto, ou seja, em uma fase anterior à concepção propriamente dita do produto

(BAXTER, 1998; BÜRDEK, 2006; LOBACH, 2001). A Figura 13 exemplifica essa

metodologia em suas fases analítica, conceitual e tecnológica, consideradas também como

preconcepção, concepção e pós-concepção do produto, respectivamente.

FIGURA 13 - Metodologia de design

Fonte: adaptado de Baxter (1998), Lobach (2001) e Bürdek (2006).

Portanto, o processo de design relaciona-se intrinsecamente às questões relativas ao ciclo

de vida dos produtos, já que inclui, desde sua fase analítica, os aspectos relativos à

produção, à distribuição ao uso e ao descarte. Como atividade produtiva humana, portanto,

o design está intrinsecamente ligado à ecologia2, na medida em que a sua ocorrência

necessita e interfere - negativa ou positivamente - no meio ambiente. O design

contemporâneo, de maneira geral, reconhece a necessidade do conceito ecológico, mas na

prática os requisitos ambientais nem sempre são satisfeitos. A dimensão ambiental do

desenvolvimento de produtos no Brasil é ainda, muitas vezes, restrita apenas à adequação

2 O termo ecologia foi criado por Haeckel (1834-1919), em 1869, como sendo a ciência que estuda o conhecimento sobre as relações econômicas da natureza.

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aos padrões impostos pelas normas técnicas e legislações vigentes, revelando uma posição

de inércia frente às emergentes implicações ambientais da produção e consumo de

produtos em escala global.

Dessa forma, os requisitos ambientais de projeto podem ser entendidos como o conjunto de

exigências e condições para o projeto, no que concerne à questão dos impactos ambientais

dos produtos, materiais e processos utilizados. Esses impactos podem ser entendidos como

quaisquer modificações do meio ambiente causadas por processos, produtos ou serviços,

podendo ser negativas - quando as modificações provocam danos - ou positivas - quando

elas promovem melhorias ao meio ambiente (PÊGO, 2010). Segundo Malaguti (2005), os

requisitos ambientais podem e devem ser incorporados no design dos produtos, compondo

um documento denominado briefing (do inglês brief - resumo), que é o documento que

contém os principais requisitos para a concepção e desenvolvimento do projeto (BAXTER,

1998; BÜRDEK, 2006; LOBACH, 2001).

Muitos dos requisitos ambientais fazem parte das considerações técnicas, funcionais ou

mercadológicas dos designers, mesmo quando esses requisitos não são prioridades das

demandas do projeto fornecidas pelos atores envolvidos (MALAGUTI, 2005). A inserção

desses requisitos nas descrições processuais do desenvolvimento de produtos e serviços

leva em consideração todos os aspectos ambientais envolvidos em seus ciclos de vida

(Norma Brasileira de Referência International Standard Organization - NBR ISO 14.062).

Nessa etapa a flexibilidade também se torna ferramenta essencial ao processo para o

aumento da sustentabilidade na produção (MANZINI, VEZZOLI, 2008). Azevedo (2009)

acredita que, ao se integrar às questões ambientais na fase de pré-desenvolvimento do

produto, esta facilite a sua inserção nas demais etapas do processo produtivo, viabilizando

a criação de um sistema de produção ecoeficiente3.

A grande vantagem de se integrar os requisitos ambientais no design de produtos é que os

impactos podem ser evitados ou minimizados antes que ocorram. Essa abordagem permite,

3 A ecoeficiência relaciona os valores agregados em um produto e a sua influência ambiental, e, segundo o World Business Council for Sustainable Development, pode ser medida objetivamente pela aplicação da fórmula: Ecoeficiência = Valor do produto / influência ambiental.

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portanto, que se trate de problemas ecológicos de forma preventiva evitando-se soluções

paliativas, tomadas ao final dos processos produtivos, que são, na maioria das vezes, mais

onerosas e de funcionamento mais complexo. Em geral, o design embasado em critérios

ambientais de projeto trabalha buscando soluções com base nos conceitos de

sustentabilidade e ecoeficiência. Esses termos estão presentes nos debates sobre as

questões ambientais e atingem todos os segmentos da sociedade, mostrando ao setor

produtivo a necessidade de implementação de estratégias baseadas nesses conceitos

(MALAGUTI, 2005). A Figura 14 mostra um sistema de produção ecoeficiente proposto

por Manzini e Vezzoli (2008).

FIGURA 14 - Sistema de produção ecoeficiente

Fonte: Manzini e Vezzoli (2008).

Cada produto tem o potencial de carregar consigo a história de sua concepção, seus

materiais, suas formas e estruturas, construindo referências simbólicas e compondo a

imagem das empresas junto ao seu público. As empresas têm a possibilidade de agregar o

fator da responsabilidade ambiental como forma de diferenciação e fidelização dos

consumidores, além das possibilidades de exportação (MALAGUTI, 2005).

Segundo Pêgo (2010), a dificuldade encontrada hoje pelos designers envolvidos nas

questões ambientais não é mais a difusão de informações e parâmetros ambientais, mas sua

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inserção nas etapas de desenvolvimento de novos produtos e sua consolidação como parte

intrínseca da atividade projetual.

Atualmente, o mercado mundial começa a buscar um padrão de produção e consumo

otimizados do ponto de vista econômico, social e ambiental. O ecodesign consolida a

cultura da racionalidade numa empresa, que passa a gerar produtos concebidos à luz da

ecoeficiência, da adoção de tecnologias limpas e da prevenção à geração de resíduos

impactantes.

De acordo com Manzini (2007), o ecodesign é a atividade que busca conectar o que é

tecnicamente possível e economicamente viável ao que é ecologicamente necessário, de

modo a criar novas propostas cultural e socialmente aceitáveis. O modelo denominado

roda de estratégias de ecodesign, proposto por Brezet e Van Hemel (1997), apresenta oito

estratégias para projetos de design, ligadas a oito eixos, seguindo o fluxo do ciclo da vida

do produto no sentido horário. A figura 15 mostra os níveis relevantes de cada uma das

oito estratégias.

FIGURA 15 - Roda de estratégias de ecodesign

Fonte: adapatado de Brezet e Van Hemel (1997).

De acordo com o modelo, a primeira estratégia (0) - “novo conceito de desenvolvimento” -

diz respeito ao desenvolvimento de novos paradigmas conceituais, novas possibilidades de

soluções, que podem surgir a partir do trabalho interdisciplinar. A estratégia seguinte (1) é

relativa à seleção de materiais de baixo impacto e busca a identificação de materiais não

Novo conceito de desenvolvimento

Seleção de materiais de baixo impacto

Redução de materiais

Otimização da produção

Sistema de distribuição

Impacto do usuário

Impacto ambiental durante uso

Otimização do fim de vida

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agressivos, não exauríveis (fontes renováveis), de baixo conteúdo energético (minimizam a

energia de extração e transformação), reciclados e recicláveis. A redução de materiais é

conteúdo da estratégia 2 e se relaciona com a desmaterialização dos produtos e

virtualização dos serviços. A otimização das técnicas de produção - estratégia 3 implica a

busca de processos alternativos, diminuição de processos, de insumos, de desperdícios na

produção e de consumo de energia. O sistema de distribuição é analisado na estratégia 4,

buscando minimização e otimização de embalagens, sistema de transporte adequado e

logística eficiente. A estratégia 5 diz respeito ao impacto no nível do usuário e tem como

objetivos maximizar a experiência e satisfação do usuário e minimizar o consumo de

insumos e energia, assim como promover a utilização de energia e insumos limpos. Esses

aspectos também estão relacionados à estratégia 6, que procura minimizar o impacto

ambiental durante o uso, reduzindo e tratando adequadamente os resíduos e as emissões.

Por fim, a estratégia 7 trata do sistema de fim de vida, que geralmente é a etapa

responsável pelo maior impacto no meio ambiente. Esses princípios estabelecem relação

com todas as etapas do ciclo de vida do produto e se constituem em estímulos à concepção

ecoeficiente por parte dos designers.

O tema relacionado ao meio ambiente está reunido na subsérie NBR ISO 14062/2004,

denominada “Gestão ambiental: integração de aspectos ambientais no projeto e

desenvolvimento do produto.”, que descreve conceitos e técnicas associadas à orientação

do processo de tomada de decisão e controle de variáveis de projeto e desenvolvimento

(ABNT, 2004). A norma aborda os temas relacionados ao meio ambiente, aos aspectos e

impactos ambientais dos produtos industriais, auxiliando na avaliação do desempenho

ambiental dos produtos ao longo de seu ciclo de vida.

Um dos principais conceitos atuais no processo projetual, a partir do enfoque da

sustentabilidade e dos requisitos ambientais de projeto, está ligado à avaliação do ciclo de

vida dos produtos, seus potenciais impactos ambientais em casa etapa do processo de

produção e as consequências ambientais de todas as fases da vida de um produto.

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2.7.1 Avaliação de ciclo de vida (ACV)

A ferramenta de avaliação do ciclo de vida (ACV) consiste em um método para a avaliação

dos sistemas de produtos e serviços, considerando os impactos ambientais em todas as

etapas do ciclo de vida, estabelecendo vínculos entre esses aspectos e as categorias

potenciais: consumo de recursos não renováveis, riscos à saúde humana e ao meio

ambiente. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos,

Environmental Protection Agency (EPA), a ACV (Life Cycle Analysis - LCA) é uma

técnica para a análise dos aspectos ambientais associados a um produto, processo ou

serviço. Ela visa à compilação de um inventário sobre as entradas (inputs) de material e

energia e sobre as saídas (outputs) de resíduos e emissões atmosféricas; à avaliação dos

potenciais impactos ambientais relacionados; e à interpretação dos resultados para auxiliar

as tomadas de decisão de projeto. Em 1993, a ISO criou o Comitê Técnico 207 (TC, 207)

para elaborar normas de sistemas de gestão ambiental e suas ferramentas. Esse Comitê é o

responsável por umas das mais importantes séries de normas internacionais, a série ISO

14000, que inclui as normas de ACV.

As normas ISO14000 têm como finalidade minimizar os impactos ambientais oriundos dos

processos de fabricação, uso e descarte de um produto ou prestação de serviço, desde o

momento da extração do recurso natural ou fornecimento da matéria-prima até a

reciclagem. O conceito refere-se às trocas entrada/saída (inputs e outputs) entre o ambiente

e o conjunto de processos que acompanham a origem, a vida e a morte de um produto

(MANZINI; VEZZOLI, 2008). Para o estabelecimento de um programa de gestão

ambiental nas organizações, as normas NBR ISO 14040 e NBR ISO 14044 definem os

requisitos que podem ser auditados para fins de certificação, registro ou autodeclaração e

especificam as diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio para o

sistema de gestão ambiental (ABNT, 2001, 2009).

Segundo Shedroff (2009), o ciclo de vida de um produto pode ser classificado nas

seguintes etapas:

• Design - concepção, criação e viabilização do projeto;

• pré-produção - obtenção e o beneficiamento da matéria-prima;

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• produção - processos de transformação da matéria-prima, fabricação dos

componentes e montagem;

• distribuição - embalagem, transporte, armazenamento, divulgação e

comercialização dos produtos;

• uso - considerada a fase mais longa e a mais interessante para os profissionais de

design;

• descarte e recuperação - compreende o fim da vida útil do produto com

possibilidades de recuperação de componentes, materiais ou mesmo

aproveitamento do seu valor energético (incineração).

A partir da bibliografia consultada (BREZET; VAN HEMEL, 1997; MANZINI, 2007;

MCDONOUGH; BRAUNGART, 2002; SHERIN, 2009; SHEDROFF, 2009) percebe-se a

possibilidade de que o ciclo de vida do produto pode realmente se fechar (FIG. 16), quando

se unem a etapa final - disposição, recuperação e reciclagem - e a inicial - pré-produção

pela reciclagem ou remanufatura. Quando isso ocorre, tem-se um ciclo de vida

ecologicamente correto, conhecido como “do berço ao berço” (cradle to cradle), em vez de

um ciclo linear e aberto, conhecido como “do berço ao túmulo” (cradle to grave), que

moldou a produção industrial até os dias atuais.

FIGURA 16 – Ciclo de vida fechado do produto

Fonte: Carboclima Soluções Ambientais Ltda.

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A ACV é uma ferramenta de apoio à tomada de decisões de projeto que gera informações a

partir de uma análise comparativa do desempenho ambiental de produtos. A análise do

ciclo de vida, portanto, propõe um diagnóstico bastante complexo, com muitas variáveis.

Por esse motivo, há uma estrutura formal, dividida em etapas, para a realização de uma

ACV de um produto, que pode ser observada na Figura 17.

FIGURA 17 - Estrutura para avaliar o ciclo de vida

Fonte: Carboclima Soluções Ambientais Ltda.

Estudo desenvolvido por Sansão (2011) mostra que muitos estudos de ACV,

aparentemente iguais, chegam a diferentes conclusões, devido às considerações feitas,

fronteiras adotadas, idade dos dados, tecnologias, logística de abastecimento de matérias-

primas e matriz energética, que são fatores críticos para os parâmetros inventariados.

Na tentativa de padronizar a ACV, importante contribuição foi fornecida pela Society of

Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC), que reuniu pesquisadores líderes na

área para discutir o tema em cerca de nove conferências internacionais organizadas entre

os anos de 1990 e 1993. Desse esforço resultou a publicação Guidelines for Life Cycle

Assessment – a Code of Practice (COLTRO, 2007), que foi o primeiro documento voltado

para a padronização da metodologia de ACV e que, mais tarde, orientou os trabalhos de

normalização internacional da ISO.

Essas normas têm como objetivo fornecer ferramentas que avaliam os métodos de

fabricação, permitindo selecionar indicadores ambientais e rotular as empresas como

cumpridoras das regras ambientais (LIBRELOTTO, 2006). Os trabalhos de normalização

internacional da ACV pela ISO envolveram mais de 300 especialistas de quase 29 países,

que atuaram direta ou indiretamente na padronização e que geraram a série de normas ISO

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14040 relativas à ACV. A norma NBR ISO 14040 (2001) foi internalizada pela Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) mediante trabalho desenvolvido pelo Subcomitê

de Avaliação do Ciclo de Vida - SC-05 - do Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental -

ABNT/CB-38. A partir de 2006, as normas ISO 14040, ISO 14041, ISO 14042 e ISO

14043 foram compiladas nas normas ISO 14040 (2006) e 14044 (2006):

• ISO 14040. Life Cycle Assessment. Principles and Framework (2006) (Avaliação

do ciclo de vida - Princípios e Estrutura).

• ISO 14044. Life Cycle Assessment. Requirements and Guidelines (2006)

(Avaliação do ciclo de vida - Requisitos e Diretrizes).

No Brasil foram publicadas:

• ABNT NBR ISO 14040 - Gestão ambiental - Avaliação do ciclo de vida -

Princípios e estrutura (ABNT, 2001);

• ABNT NBR ISO 14044 - Gestão ambiental - Avaliação do ciclo de vida -

Requisitos e orientações (ABNT, 2009).

Segundo Kazazian (2005), diferentes abordagens são possíveis para aumentar a

durabilidade de um produto, conforme as etapas de seu ciclo de vida. Um dos caminhos

indicados para o desenvolvimento de produtos sustentáveis é buscar a otimização de sua

vida útil. Esse caminho pode ser utilizado como estratégia no desenvolvimento de novos

produtos intrinsecamente mais sustentáveis, podendo ainda dar suporte à implantação de

sistemas produto-serviço e de futuros novos cenários para estilos de vida sustentáveis.

Nessa direção, uma nova abordagem foi desenvolvida com o intuito de estimular mudanças

nos padrões de produção e consumo atuais e, consequentemente, nos estilos de vida. O

conceito de Sistema Produto-Serviço - PSS (Product-Service System) teve origem na

Escandinávia e Holanda durante os anos 1990, com contribuições vindas, principalmente,

de acadêmicos das áreas ambiental e social (BAINES et al., 2007).

Mas, ainda que as motivações das pessoas para a substituição de produtos sejam muito

diversas e de difícil previsão, Van Nes e Cramer (2003) referem que o que as pessoas em

geral desejam, basicamente, são produtos atualizados e que funcionem bem, adaptando-se

às suas necessidades cambiantes. Para as autoras, a natureza dinâmica desse contexto

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requer abordagem similar, ou seja, o desenvolvimento de produtos igualmente dinâmicos e

flexíveis.

Nesse sentido, duas mudanças significativas podem ser identificadas no processo projetual

de design de produtos, a partir do enfoque da sustentabilidade: a primeira é a consideração

de todo o ciclo de vida do produto nos requisitos ambientais de projeto, com a avaliação de

seus potenciais impactos ambientais, em cada etapa, em que é importante destacar que já

não é mais suficiente apenas comparar os impactos ambientais de materiais e processos de

produção sem considerar o ciclo como um todo. A segunda relaciona-se aos aspectos de

flexibilidade do ciclo de vida do produto e é aplicada à conceituação e à concepção dos

projetos, frente a um cenário de rápidas e constantes transformações nos aspectos

tecnológicos, culturais, sociais e ambientais. Ambas as interpretações são úteis para a

discussão acerca do design para a otimização da vida útil dos produtos. O conceito de

flexibilidade torna-se, portanto, fundamental para a reflexão sobre produtos duráveis e será

explorado no próximo subitem.

2.7.2 Flexibilidade

A flexibilidade pode ser entendida como a facilidade com que um sistema ou componente

é capaz de ser modificado para uso em aplicações ou ambientes diversos daqueles para os

quais foram originariamente projetados (GUEDES, 2008). Sua aplicação no design de

produtos procura favorecer processos de adaptação, customização, evolução, reutilização e

reaproveitamento. Não é um conceito inserido pontualmente no design, mas planejado

durante o processo projetual, quando são abertas possibilidades de futuras mudanças de

otimização da vida útil dos produtos, componentes e materiais. A flexibilidade, segundo

Guedes (2008), é uma ação e ao mesmo tempo um processo, que permite explorar

oportunidades imprevistas que possibilitam responder a um cenário em mutação a uma

velocidade sempre crescente e que produz resultados imprevisíveis. A incapacidade de

adaptação conduz à obsolescência e, ao contrário, toda adaptabilidade favorece uma vida

útil maior e mais satisfatória a partir da inter-relação entre usuário e objeto (MARLET,

2005).

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Existem diferentes tipos de flexibilidade no design. Galfetti (1997) classifica-a em dois

tipos: flexibilidade inicial e flexibilidade permanente. A primeira oferece a possibilidade

de escolha antes da compra e permite a participação do usuário em sua concepção (como

no setor dos automóveis, a escolha de configurações e acessórios promove certa

personalização do veículo). A flexibilidade permanente, entretanto, permite modificar o

produto ao longo do tempo. Nessa categoria percebe-se uma visão do design de forma mais

sistêmica: o produto não se limita às transformações anteriores à compra, mas mantém seu

potencial de mutabilidade durante todo seu ciclo de vida. O conceito de flexibilidade

permanente abrange a ideia de adaptabilidade do produto frente às diferentes necessidades,

que estão em constante transformação. Manzini e Vezzoli (2008) consideram outras duas

categorias: a flexibilidade como abertura - a capacidade de se adequar à variedade de usos;

e a flexibilidade como potencial evolutivo - a capacidade de se transformar ao longo do

tempo.

Zacar (2010) sugere a aplicação do conceito de flexibilidade na análise das dimensões

funcionais dos produtos, conforme classificadas por Lobach (2001): funções de uso,

funções técnicas e funções simbólicas. A síntese das estratégias apresentadas pode ser

visualizada no QUADRO 6.

QUADRO 6 - Estratégias de flexibilidade nas funções de uso, técnicas e simbólicas do projeto de design

Flexibilidade Estratégias de Design

Nas funções de uso Baixa especialização, multifuncionalidade

indefinida e simplicidade.

Nas funções técnicas Atualização tecnológica, modularização e

transparência.

Nas funções simbólicas

Atualização estética e exploração da estética

local.

Materiais que sofram alterações estéticas

positivas ao longo do tempo.

Customização, personalização e alteridade.

Fonte: adaptado de Lobach (2001) e Zacar (2010).

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• Funções de uso - permitem explorar a flexibilidade, por meio de indefinição e/ou

simplificação das funções. Podem ser alternativas viáveis para o desenvolvimento

de produtos mais abertos a alterações e ao mesmo tempo mais duráveis.

• Funções técnicas - possibilitam adaptação e atualização tecnológica. Promovem o

prolongamento da vida útil do produto, acompanhando as inovações tecnológicas.

• Funções simbólicas - estão relacionadas ao comportamento humano, motivações

psicológicas, sistemas de valores e referências socioculturais. Dizem respeito às

necessidades subjetivas, tais como status e aparência.

Essas estratégias podem contribuir para que o usuário vivencie experiências mais

significativas com o produto. Uma das causas da baixa durabilidade dos artefatos é

justamente o fato de que boa parte deles não foi projetada para proporcionar experiências

variadas e significativas ao usuário (ZACAR, 2010).

Outra questão determinante para a durabilidade dos objetos é o aspecto relacional que se

estabelece com estes. Para Kazazian (2005), essas relações podem ser utilitárias, cognitivas

e emocionais. Um objeto atrai se desperta os sentidos e nele se pode depositar significados

ao longo do uso. Em outras palavras, o objeto conta uma história quando “ele materializa

para nós um sentimento, a lembrança de um instante” (KAZAZIAN, 2005, p. 44).

Neste sentido, uma vertente do design surge como tentativa de facilitar e antecipar as

possibilidades de interação com os produtos, a partir de estratégias de flexibilidade na

concepção do projeto. Essa proposta não deixa de remeter ao velho sonho modernista dos

sistemas modulares, nos quais, por meio de conjuntos e módulos padronizados, é possível

montar diferentes estruturas. Contudo, a atual ideia de produtos interativos difere da

proposta anterior, na medida em que não se trata de variações previsíveis a partir de

elementos simplificados, mas, antes, de abrir possibilidades para gerar projetos com

densidade conceitual tal que seja possível desdobrar, ou mesmo desconstruir, as funções do

objeto (CARDOSO, 2004).

De acordo com Kronenburg (2007), produtos projetados a partir da flexibilização têm

vantagens consideráveis, pois podem ser utilizados por mais tempo, se adequam melhor às

suas finalidades, contemplam a experiência e a intervenção dos usuários, tiram partido das

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inovações tecnológicas com mais facilidade e são econômica e ecologicamente mais

viáveis.

2.7.2.1 Estratégias de flexibilidade para produtos eletroeletrônicos

Devido ao desenvolvimento das legislações ambientais relativas aos resíduos de

equipamentos eletroeletrônicos, as responsabilidades das empresas para com o destino

final de seus produtos, aos poucos, tendem a se consolidar. A seleção dos materiais e

componentes a serem utilizados nos produtos deve agora levar em conta a viabilidade

técnica e econômica dos processos de reutilização e reciclagem. Assim, para viabilidade

técnica, é importante que os materiais selecionados sejam passíveis de reciclagem, sem

perda de qualidade ou propriedades, levando-se em consideração que a mão de obra

envolvida não seja exposta à insegurança ou a elementos tóxicos. Quanto à viabilidade

econômica, os tempos e os custos envolvidos nos processos de desmontagem e triagem

devem ser otimizados, favorecendo a competitividade da matéria-prima reciclada em

relação à virgem, no mercado das commodities4. Atualmente os custos com o transporte e

com a mão de obra (desmonte artesanal) inviabilizam a recuperação mais ampla de alguns

materiais. Também é essencial que os processos de recuperação dos materiais provoquem

o menor impacto ambiental possível, minimizando o consumo de água, energia e as

emissões de poluentes.

Nesse sentido, o conceito de flexibilidade se apresenta como estratégia para prolongar a

vida útil dos produtos, componentes e materiais, em que diversas estratégias podem ser

utilizadas no design contemporâneo. Nessa categoria percebe-se uma visão do design de

forma mais sistêmica: o produto não se limita às transformações anteriores à compra, mas

mantém seu potencial de mutabilidade durante todo seu ciclo de vida e, além dele, na

recuperação dos materiais. A literatura pesquisada sugere algumas estratégias de

flexibilidade que são possíveis de se adotar no design de produtos eletroeletrônicos:

4 Commodities são produtos padronizados, sem diferenciação, cujo processo de produção é dominado por vários países (o que gera alta competitividade) e cujo preço não é definido pelo produtor, dada a sua pequena influência individual na oferta, mas é definido pelas condições do mercado.

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• Design para desmontagem (design for disassembly);

• design para durabilidade ou perdurabilidade adequada;

• design para atualização e adaptabilidade;

• design por componente;

• reparabilidade e manutenção;

• multifuncionalidade;

• modularidade;

• manufatura rápida e customização em massa (Rapid Manufacturing, Mass

Customization); e

• sistemas produto/serviço Product/Service System (PSS).

Design para desmontagem (design for disassembly) - procura analisar os processos

necessários, ao final da vida útil dos produtos, para permitir a reutilização e

reprocessamento dos materiais como matéria-prima para nova fabricação. Deve-se prever,

desde o início do processo do projeto de design, a facilidade e eficiência dos

procedimentos de separação dos diferentes componentes e materiais. Constitui-se em um

requisito prévio que possibilita a reparação, remanufatura, recuperação e reciclagem dos

materiais ou componentes de forma eficaz. As peças e os sistemas de fixação utilizados no

projeto devem ser de fácil e rápido acesso e é necessário que as partes não sofram avaria

no processo. Cada material deve ser separado de maneira limpa, sem contaminação de

outros materiais. Para tanto, é necessário conceber o produto utilizando-se de sistemas de

junção reversíveis, minimizar a diversidade de materiais e simplificar os componentes do

produto. Além disso, para otimização do processo de coleta e triagem, é necessário facilitar

a identificação dos materiais, utilizando simbologia internacional (BARBERO; COZZO,

2009; BREZET; VAN HEMEL, 1997; KLOHN; FERREIRA, 2009; MANZINI;

VEZZOLI, 2008; SHEDROFF, 2009).

Do ponto de vista econômico, o processo de desmontagem deve ser realizado com baixos

custos, para viabilizar a competitividade e a reciclagem, se comparado ao custo da matéria-

prima virgem. Shedroff (2009) critica a variedade de materiais utilizada em alguns

produtos e a dificuldade em separá-los (FIG. 18), criando o que o autor chama de monstros

híbridos (monstrous hybrid). Nos países desenvolvidos, as pesquisas sobre o design para

desmontagem estão sendo direcionadas para os produtos eletroeletrônicos. Isso se deve ao

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fato de que o ciclo de vida de produtos eletroeletrônico tem se tornado cada vez mais curto

e também devido a mais rigor das leis ambientais, conforme comentam Lima e Romeiro

(2003).

FIGURA 18 – Monstro híbrido (monstrous hybrid).

Fonte: Shedroff (2009).

Design para durabilidade e para a perdurabilidade adequada - trata-se de um conjunto

de estratégias no design de produtos que objetivam otimizar a vida útil dos produtos. A

durabilidade relaciona-se à capacidade dos materiais de resistirem à passagem do tempo,

mantendo-se funcionais e envelhecendo dignamente (MANZINI; VEZZOLI, 2008). A

perdurabilidade adequada, por sua vez, é uma qualidade de ordem conceitual e tem relação

com a harmonização entre os aspectos de durabilidade dos materiais e aos conteúdos

comunicativos, simbólicos, estéticos e culturais em que se inserem os produtos (MARLET,

2005). Nesse sentido, os autores Manzini e Vezzoli (2008) consideram desperdício projetar

componentes que durem mais que a vida útil do próprio produto. Um exemplo de produto

que utiliza o conceito de se projetar para a perdurabilidade adequada é o Recompute (FIG.

19), no qual a carenagem do produto é composta de papelão ondulado, material coerente

com produtos de curto ciclo de vida.

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FIGURA 19 – Recompute: computador desktop em papelão ondulado

Fonte: Recompute. Disponível em: http://recomputepc.com.

Outro exemplo dessa estratégia é o apresentado pelo setor de design e engenharia de

materiais da empresa chinesa Pegatron Corporation, que desenvolveu uma liga de papel e

polipropileno (PP) para as carcaças plásticas de produtos eletroeletrônicos. A liga Papel-PP

desenvolvida é resistente, reciclável, flexível, impermeável e pode ser moldada por

injeção. A Figura 20 ilustra uma aplicação da liga em uma carenagem para notebook.

FIGURA 20 – Carenagem para notebook em liga papel-PP.

Fonte: Pegatron Corporation. www.pegadesign.com.

Normalmente os produtos sujeitos a rápidas mudanças tecnológicas não são os melhores

candidatos à durabilidade: se um produto se torna rapidamente obsoleto, torná-lo durável é

um contrassenso. Nos produtos complexos, sujeitos a mudanças mais frequentes, a

adaptabilidade e a capacidade de atualização são mais pertinentes.

Design para a atualização e adaptabilidade - esta estratégia relaciona-se às

características que podem aumentar a vida útil do produto eletroeletrônico, considerando

os fenômenos de evolução e mudança, tanto em relação ao desenvolvimento das

tecnologias, quanto em relação ao contexto cultural em que o produto está inserido. Devem

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ser levados em consideração os aspectos de inter-relação do produto com o meio, com o

homem, além de seu diálogo com o restante dos objetos e com a evolução dos sistemas

tecnológicos. Manzini e Vezzoli (2008) fazem sugestões para facilitar a atualização e

adaptação dos produtos, das quais se destacam: predispor e facilitar a substituição para

atualização de partes de hardware e de software; modularizar componentes

reconfiguráveis e atualizáveis; proporcionar multifuncionalidade e possibilidade de

reconfiguração a panoramas culturais diversos. Essa estratégia é muito importante no

desenvolvimento de produtos complexos como os equipamentos eletrônicos e pode ser

propiciada a partir do desenvolvimento de plataformas e/ou de envoltórios reutilizáveis

cujo conteúdo tecnológico dos produtos possa ser desenvolvido em módulos ou projetado

para fácil substituição, enquanto as partes estruturais, que não se alteram tecnologicamente

com tanta frequência, possam ser feitas para perdurar (ZACAR, 2010). Produtos sujeitos à

rápida obsolescência tecnológica podem ter sua vida útil ampliada a partir da substituição

de componentes ultrapassados por outros mais recentes (upgrade) ou acréscimo de novos

componentes (MANZINI; VEZZOLI, 2008; UNEP, 2011; ZACAR, 2010). O objetivo é

adequar o tempo de vida de cada componente individual à durabilidade do produto como

um todo. Um exemplo é o computador Studio Hybrid, da fabricante Dell. O computador

com carenagem acrílica ou em bambu é passível de atualizações dos componentes internos

e adaptação da sua utilização vertical ou horizontal, o que permite diversas configurações

de materiais e de uso (FIG. 21).

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FIGURA 213 – Design para a atualização e adaptabilidade - computador Dell

Fonte: Dell Studio Hybrid Desktop - http://www.dell.com

Design por componentes (design by component) - estratégia que tem por objetivo

determinar as características do produto a partir da redefinição de seus componentes

internos essenciais e da otimização do sistema de fornecimento de componentes

industrializados disponível. Cada componente é considerado um produto acabado, com seu

ciclo de vida autônomo em relação aos outros elementos. O projeto de design é concebido

de dentro para fora, a partir da análise do layout dos componentes necessários para

promover o funcionamento, a usabilidade e a manutenção. O processo de projeto começa

com a análise de objetos desmontados, pertencentes à mesma tipologia, utilizando-se

conceitos associados à engenharia reversa. Os aspectos a se ter em conta são: as relações

entre os componentes, as leis físico-mecânicas que os caracterizam e as tecnologias de

produção. Algumas linhas de orientação podem ser delimitadas nessa estratégia: a

integração dos componentes do mesmo material e a possibilidade de separação dos

componentes de materiais diferentes; facilitação do processo de remoção das partes;

acessibilidade do produto em termos de utilização e manutenção (BARBERO; COZZO,

2009). Essa estratégia é caracterizada como uma das abordagens que mais promovem

inovações em projetos de produtos eletroeletrônicos, já que, frequentemente nesse setor, a

inovação no projeto de design se limita ao projeto da carenagem exterior (BISTAGNINO,

2008). Apresenta-se como um instrumento para promover a sustentabilidade ambiental no

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design industrial, redefinindo critérios de projeto, buscando a criação de produtos

industriais capazes de atender às novas demandas. O aparelho celular da empresa Apple,

iPhone (FIG. 22), ilustra o projeto desenvolvido com base na estratégia do design por

componente, em que cada subparte do produto é fabricada e montada por empresas

independentes e a logística do sistema é planejada em âmbito global.

FIGURA 22 - iPhone

Fonte: http://winexperience.wordpress.com

Reparabilidade e manutenção - esta estratégia se destaca no âmbito da sustentabilidade,

uma vez que objetiva facilitar o acesso e a troca de peças e componentes, tanto em relação

aos procedimentos técnico-operacionais no ato da substituição, quanto em termos de

disponibilidade e distribuição de peças de reposição avulsas no mercado. A concepção do

produto deve objetivar a sua fácil reparação, promovendo acesso aos componentes sujeitos

a desgaste, minimizando as operações de manutenção e promovendo sistemas de

diagnóstico. A estandardização ou padronização de componentes favorece o reparo, já que

possibilita que vários fabricantes ofereçam peças sobressalentes a preços competitivos

(MANZINI; VEZZOLI, 2008). Essa prática é muitas vezes evitada pelas indústrias que, na

tentativa de se proteger da concorrência, desenvolvem componentes exclusivos,

dificultando intencionalmente a reparação. Em contrapartida, algumas empresas

potencializam os seus serviços de assistência técnica como um meio de prolongar a vida

útil de seus produtos. A manutenção evita os custos econômicos e ambientais oriundos de

reparos ou substituições de peças danificadas pelo desgaste. O projeto One Laptop Per

Child (OLPC) - um computador por criança - apresentado na Figura 23 é um bom

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exemplo. O projeto objetiva suprir crianças de países da África e outras regiões carentes

com laptops, para fornecer suporte à educação e à inclusão digital.

FIGURA 23 – Projeto para um computador por criança: One Laptop Per Child (OLPC)

Fonte: Fuse Project. http://www.fuseproject.com

Multifuncionalidade - é a estratégia de projeto que conduz à síntese, reunindo em um

único sistema as utilidades específicas de vários produtos. Esta estratégia avança em

sentido contrário à da especialização dos produtos, que implica a proliferação, por vezes

injustificada, de objetos que respondem a necessidades cada vez mais específicas. A

convergência digital proporcionou uma espécie de desmaterialização de diversos

equipamentos eletrônicos e sua substituição por softwares com a mesma função. Os

diferentes aplicativos disponíveis atualmente para aparelhos celulares, por exemplo,

substituem relógios, despertadores, agendas e calendários eletrônicos, filmadoras e

câmeras fotográficas, bússolas e Global Positioning System (GPS), produtos para edição e

reprodução musical, entre vários outros produtos. A multifuncionalidade requer pensar

mais profundamente no processo do que no produto. O sistema adquire protagonismo, em

detrimento da forma (BARBERO; COZZO, 2009; MANZINI; VEZZOLI, 2008;

MARLET, 2005). O OLPC destaca-se como um projeto conceitual para tablet (FIG. 24)

que tem como premissa a multifuncionalidade de usos e aplicações.

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FIGURA 24 - Projeto conceitual: tablet OLPC

Fonte: Fuse Project. http://www.fuseproject.com

Modularidade - abordagem que permite, a partir de um conjunto de componentes padrão,

oferecer diversas configurações a um mesmo produto, atendendo a diferentes demandas

pessoais, espaciais e temporais. As soluções modulares, descentralizadas e diversificadas

podem ser interessantes para a construção de produtos mais flexíveis, com potencial de

evolução e tecnologicamente mais transparentes. Para tanto, é necessário que haja

simplicidade e transparência na modularização, de forma que o próprio usuário possa

manipular os componentes para sua atualização e/ou manutenção, aprimorando o processo

de utilização dos produtos (BARBERO; COZZO, 2009; GUEDES, 2008; MANZINI;

VEZZOLI, 2008). Como exemplo inovador pode-se observar na Figura 25 um sistema de

som modular, com múltiplas possibilidades de configuração, dos designers da Dotline

Collective.

FIGURA 25 - Modular Sound System

Fonte: Dotline Collective: David Letellier, Florian Brillet e Anne Derian. http://www.designboom.com.

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Customização em massa (mass customization) - é outra estratégia de projeto voltada para

a flexibilidade no desenvolvimento de produtos, que pode ser considerada a forma mais

recente de se personalizá-los, melhor adequando-os às necessidades e demandas de cada

consumidor. Segundo Pine e Gilmore (2000), por meio da customização em massa é

possível proporcionar ligações emocionais mais significativas entre os produtos e os

usuários, a partir da personalização, evitando-se o descarte prematuro dos artefatos. Se o

usuário se conecta emocionalmente a um artefato, irá manuseá-lo com cuidado, realizar

manutenção e mantê-lo em sua posse e uso. Os novos métodos de produção baseados na

modelos digitais tridimensionais não se destinam a produzir cópias idênticas de um mesmo

produto, mas a desenvolver sistemas suficientemente flexíveis para produzir um grande

espectro de formas diferentes (HAGUE, 2005; NORMAN, 2005; PINE; GILMORE,

2000). A empresa norte-americana Shapeways, por exemplo, promove a customização em

massa a partir da disponibilização de diversos modelos tridimensionais on-line, em

plataforma digital, e da possibilidade de alterações do modelo ou mesmo envio de um

desenho novo. A empresa ainda oferece o serviço de impressão tridimensional e entrega do

produto. A Figura 26 apresenta a plataforma digital e o produto final para o projeto

denominado Light Poem (poema luminoso, em português).

FIGURA 26 – Customização em massa promovida pela empresa Shapeways

Fonte: http:www.shapeways.com

Manufatura rápida (rapid manufacturing) - permite a customização individual na

produção industrial, mantendo a sustentabilidade econômica da indústria. A aplicação mais

recente das tecnologias de prototipagem rápida e impressão 3D é a sua associação ao

sistemas de fabricação de produtos finais. A tecnologia torna possível produzir, de forma

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economicamente viável, séries limitadas e até mesmo individualizadas, sem as limitações

impostas pela seriação (ferramentaria e moldes), além de possibilitar a execução de formas

com geometria complexa, que antes eram impossíveis ou difíceis de produzir (HAGUE,

2005). A empresa holandesa Freedom of Creation especializou-se em produzir, a partir dos

conceitos da customização em massa (com interface na internet) e de tecnologias de

manufatura rápida, produtos personalizados, como o headphone apresentado na Figura 27.

FIGURA 27 - Headphone customizado

Fonte: http://www.freedomofcreation.com/

Sistema Produto-Serviço - PSS (Product-Service System) - a ideia central do modelo

PSS é que os consumidores não comprem o produto em si, mas a utilidade que esses

produtos e serviços oferecem. Muda-se o foco de um produto físico tangível para um

serviço intangível que possa satisfazer as necessidades dos clientes, tendo-se a satisfação

como valor, em vez da propriedade física e funcional individual dos produtos. Nesse

sentido, mais demandas podem ser atendidas utilizando-se menos material e energia. O

conceito também pode ser entendido como a construção da interface do cliente com a

organização prestadora, ou seja, na estruturação dos seus pontos de contato com o usuário,

que geram a experiência de consumo (BAINES et al., 2007; BOSSE et al., 2006;

KAZAZIAN, 2005; MANZINI; VEZZOLI, 2008; ROOS et al., 2010; UNEP, 2011).

Adotar a mudança para o design de PSS possibilita às empresas evoluir em direção a uma

nova maneira de se relacionar com os clientes. A empresa que comercializa o sistema (o

usuário não adquire o produto, mas o resultado produto-serviço) estende a relação do

consumidor para além da venda do produto, em uma interação contínua na fase de uso, por

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meio de aquisição e entrega de suprimentos, manutenção e qualidade de serviço. A

empresa também pode desempenhar importante papel ao fim da vida-útil do produto, a

partir da reutilização, recuperação ou reciclagem de componentes e materiais,

possibilitando a utilização racional de recursos e reduzindo a geração de lixo (UNEP,

2011). Bosse et al. (2010) ressaltam que o PSS é uma tendência para soluções direcionadas

ao consumo sustentável de recursos, envolvendo a preocupação, por parte das empresas,

com todo o ciclo de vida dos sistemas. Os autores observam que os recursos são

otimizados, minimizando o impacto no meio ambiente: pela desmaterialização do consumo

de produtos, o design de PPS destaca-se em relação aos modelos de negócio tradicionais.

Nos modelos de negócio que envolvem a venda do produto eletroeletrônico (FIG. 28), o

produto tangível se torna propriedade e responsabilidade do consumidor, que por sua vez

deve cuidar da manutenção, utilização e descarte, sendo elevado o investimento inicial de

compra.

FIGURA 28 – Infográfico: modelo tradicional de venda do produto eletroeletrônico

Fonte: Adaptado de Baines et al. (2007) e Bosse et al. (2006).

Já os modelos de negócio baseados nos PSS (FIG. 29) reduzem as responsabilidades do

consumidor com o produto. A empresa que oferece o sistema se responsabiliza pela

atualização, manutenção e descarte, além de se envolver diretamente com o fornecimento

de produtos consumíveis associados (como exemplos, papel e tinta para impressora). Com

esse modelo de negócio alternativo, as empresas podem apresentar novas formas de

atender os clientes e satisfazê-los, cumprindo suas necessidades sem precisar oferecer a

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venda de produtos tangíveis, mas sim um conjunto de soluções (ROOS et al., 2010;

VEZZOLI, 2010).

FIGURA 29 – Infográfico comparativo consumo PSS

Fonte: Adaptado de Baines et al. (2007) e Bosse et al. (2006).

O modelo PPS pode ser válido apenas em determinados casos, uma vez que exige

mudanças culturais relacionadas à natureza da posse dos objetos e relativas a questões de

individualidade e expressão pessoal (BOSSE et al., 2006). Esses aspectos são valorizados

devido ao anseio pela facilidade de acesso, proximidade e liberdade de utilização

(KAZAZIAN, 2005).

Sob esse prisma, considera-se que a posse de certos bens eletroeletrônicos por parte dos

usuários continuará a existir e que esses bens, sendo mais flexíveis, podem apresentar

melhores performances socioambientais. A abordagem adequada pode ser a da oferta de

produtos mais adaptáveis e reconfiguráveis pelas indústrias, além de uma gama de serviços

relacionados à melhoria do produto durante todas as fases do seu ciclo de vida, otimizando

a produção, prolongando a fase de uso e recuperando os materiais ao final da vida útil.

Considerando a revisão da literatura pertinente, portanto, podem-se perceber diversas

estratégias relacionadas à flexibilidade e à gestão da obsolescência direcionadas ao design

de equipamentos eletroeletrônicos. Uma questão premente, entretanto, tem relação com a

análise da real viabilidade regional para efetivação dessas estratégias e com o nível de

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influência que os designers de produto conseguem exercer na concepção do projeto de

produtos eletroeletrônicos, assim como na gestão sustentável da obsolescência desses

produtos. Fomenta-se, desta forma, o papel de protagonismo dos designers na questão da

sustentabilidade, conforme já preconizado por Manzini e Vezzoli (2008).

Para contribuir com a análise dessas questões - de viabilidade contextual e competência do

design -, o presente estudo contempla uma pesquisa de campo exploratória que consiste em

uma série de entrevistas semiestruturadas aplicadas a designers atuantes no setor

eletroeletrônico de Minas Gerais, com o objetivo de identificar os principais entraves

relacionados à implementação da questão da sustentabilidade no setor.

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98

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia adotada para este estudo caracteriza-se por seu caráter qualitativo e

exploratório, tomando como referência investigativa os estudos de Yin (2001), Miles e

Huberman (1994) e Cooper e Schindler (2003). Segundo os autores, a pesquisa qualitativa

é caracterizada pela subjetividade, pela não representatividade e pelo planejamento não

sistemático. A adoção da pesquisa exploratória neste caso torna-se útil devido à

complexidade da investigação e a seu contexto extremamente atual e amplo.

Após a análise da revisão bibliográfica, da legislação pertinente e do estado da arte dos

conceitos apresentados, foram selecionadas empresas de design atuantes no setor de

eletrônicos de consumo e consideradas representativas para a amostragem. As empresas de

design foram selecionadas por meio de amostragem intencional, não probabilística, de

forma a privilegiar a coleta qualitativa das informações. Nesse tipo de abordagem, a

seleção da amostragem não é aleatória, há o interesse em se estudar apenas os tipos de

sujeitos selecionados e o pesquisador nomeia os membros da amostra por atenderem a

determinados critérios (COOPER; SCHINDLER, 2003).

Para se atingir estas metas foram realizadas, além das visitas técnicas às empresas e a

análise das atividades de projeto, entrevistas semiestruturadas presenciais com os designers

responsáveis pela tomada de decisão no setor de projetos. Para melhor elucidar o problema

foi feita uma investigação empírica das atividades na rotina de trabalho, considerando

múltiplos estudos de caso e a comparação entre eles. Os dados coletados foram

confrontados com as informações analisadas na revisão da literatura.

3.1 Local de estudo e amostragem

O local escolhido para a coleta de dados deste estudo foi a capital do estado de Minas

Gerais. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), a

cidade de Belo Horizonte tem população de 2.375.4444 habitantes, área de 331 km2 e

índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,839 ponto, com classificação nacional em

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71° lugar, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD,

2003).

O estado de Minas Gerais concentra grande parte dos trabalhadores no segmento de

produtos eletrônicos no Brasil (FIG. 30), com 7,9% de trabalhadores, seguindo os estados

do Paraná e Santa Catarina (9,2%) e São Paulo (48,8%), além da região da Zona Franca de

Manaus, com 10,1% de trabalhadores (DIEESE, 2010). A intenção da escolha foi eleger

um polo, dentro do país, que represente um potencial para o setor.

FIGURA 30 - Presença de trabalhadores no setor eletroeletrônıco no país

Fonte: adaptado de DIEESE (2010).

O complexo eletrônico em Minas Gerais abrange os setores que produzem bens de

consumo eletrônicos, equipamentos de telecomunicações, produtos de informática

(computadores e seus componentes), software e serviços de telecomunicações e

processamento de dados (PROCHNIK; VAZ, 2002).

Em Minas Gerais existem dois polos de fabricação de produtos eletrônicos: um na região

metropolitana de Belo Horizonte e outro em Santa Rita do Sapucaí e municípios vizinhos.

O município de Santa Rita do Sapucaí localiza-se na região sul de Minas Gerais, com IDH

de 7,9 pontos, e exerce certa liderança regional, com elevada renda per capita e PIB

municipal correspondente a 32% do PIB da microrregional. A história de Santa Rita do

Sapucaí mostra que a maioria das empresas tem origem em profissionais formados ou

ligados às instituições de ensino e pesquisa local. De posse de poupanças pessoais, eles

iniciam os negócios com recursos limitados (FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO

BELO HORIZONTE

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100

ESTADO DE MINAS GERAIS - FIEMG; INSTITUTO EUVALDO LODI - IEL MINAS;

Sindicato dos Empregados em Empresas de Segurança, Vigilância, Transporte de Valores,

Segurança Orgânica e Escolta Armada - SINDVEL, 2007).

O polo de Santa Rita do Sapucaí, também conhecido como Vale da Eletrônica, é

caracterizado por concentrar grande quantidade de empresas atuantes no setor de

fabricação e montagem de equipamentos eletroeletrônicos, notadamente de porte pequeno

e médio. É muito próximo da cidade de São Paulo (cerca de 120 km) e a gestão do cluster

é eficiente. O polo industrial também se apoia em um conjunto de instituições locais de

ensino e pesquisa, fortemente comprometidas com o desenvolvimento econômico local

(PROCHNIK; VAZ, 2002).

Já o polo da região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), por sua vez, tem empresas

de maior porte, como a Jabil (hardware) e a Engetron (fabricante de nobreaks). O polo tem

as vantagens de ser um grande centro urbano, com melhor infraestrutura técnica e

científica, além de ter mais disponibilidade de empresas de software e de processamento de

dados, com grande potencial para atração de investimentos. O complexo eletrônico é

caracterizado por forte inter-relação entre os setores industriais e os de serviços: devido à

convergência tecnológica, os produtos eletrônicos são intensivos no uso de software e

outros serviços de teleinformática. O agrupamento de empresas de software, de serviços e

da produção de hardware, além da atuação de órgãos do governo do estado e universidades

em Minas Gerais, produziu uma comunidade com interesse em promover o

desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (PROCHNIK; VAZ,

2002). A Figura 31 ilustra a localização geográfica dos polos industriais eletroeletrônicos

mineiros em relação ao país e a São Paulo – importante centro comercial e de distribuição

desse tipo de produto.

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FIGURA 31 – Localização geográfica dos polos de Belo Horizonte e Santa Rita do Sapucaí

Fonte: G1 – Rede Globo - http://g1.globo.com.

Em relação ao setor de design de produtos, o município de Belo Horizonte tem se

configurado como um centro de referência para o design nacional, sediando, no ano de

2012, a IV Bienal Brasileira de Design e o 4th International Forum of Design as a

Process. De acordo com o levantamento realizado pelo Serviço de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas (SEBRAE, 2012), intitulado “Design no Brasil - Relatório 2011 do

Setor de Design”, e dados do Centro Minas Design (CMD), a cidade abriga cursos de

graduação e pós-graduação em Design em quatro das maiores universidades do país

(Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Universidade do Estado de Minas Gerais

- UEMG, Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, Fundação Mineira de Educação e

Cultura - FUMEC, Pontifícia Universidade Católica - PUC), além de centros universitários

(União de Negócios e Administração Ltda. - UNA, Centro Universitário de Belo Horizonte

- UniBH, Instituto Izabela Hendrix) e diversos cursos técnicos (Centro Universitário UNA

- UNATEC, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial - SENAC, Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas -

SEBRAE e Federação das Indústrias do Estados de Minas Gerais - FIEMG).

De acordo com o documento intitulado Cadeias Produtivas do Estado de Minas Gerais,

desenvolvido pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), existe a

necessidade de se fazer amplo diagnóstico do nível de uso do capital intelectual por parte

do parque industrial mineiro, no setor eletroeletrônico. De acordo com os autores, o grau

de difusão das tecnologias da informação e comunicação no estado é baixo: o

empresariado mineiro, conservador, não está a par nem do potencial dessas tecnologias

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102

nem das oportunidades de financiamento existentes para a integração entre a indústria e as

universidades ou outros centros de pesquisa (PROCHNIK; VAZ, 2002).

A partir dos dados da Associação dos Designers de Produto (ADP), do SEBRAE (2012) e

do CMD, além das consultas às universidades e centros universitários citados, foram

identificadas empresas de design de produtos que atendem às delimitações da amostragem:

• Foram consideradas aquelas sediadas no município de Belo Horizonte, que atuam

no setor de design de produtos eletroeletrônicos para os principais polos industriais

do estado de Minas Gerais (RMBH e Santa Rita do Sapucaí);

• a história das empresas também foi levada em consideração, a partir da análise dos

portfólios e das informações disponíveis em seus sítios na Internet.

Das 18 empresas selecionadas, 15 participaram efetivamente deste estudo. Os dados foram

coletados no período compreendido entre agosto e novembro de 2012.

3.2 Etapas da pesquisa

A presente pesquisa considerou quatro etapas básicas de ação:

a) Planejamento – esta etapa foi constituída pelas investigações preliminares,

percepção e definição do objeto de pesquisa, levantamento bibliográfico, definição

do local, empresas e profissionais, forma de abordagem e estratégias a serem

utilizadas para atingir o objetivo principal da pesquisa.

b) Estruturação – desenvolvimento da revisão da literatura, elaboração do material

necessário à coleta de informações e definição dos roteiros semiestruturados para as

entrevistas (APÊNDICES A, B e C);

c) Coleta de dados - visita às empresas selecionadas, entrevista com os profissionais,

levantamento de dados e das estratégias observadas e atuação do profissional de

design no desenvolvimento de práticas projetuais que considerem os requisitos

ambientais necessários à gestão da obsolescência dos produtos eletrônicos de

consumo.

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d) Análise de resultados - tratamento dos dados coletados e verificação qualitativa das

informações, validada por gráficos, tabelas e elucidações gráficas que permitam

apresentar os resultados encontrados e discuti-los.

3.3 Coleta de dados

Para a coleta dos dados elaborou-se um roteiro semiestruturado das entrevistas, seguindo

um framework conceitual no qual as perguntas podem ser formuladas, refinadas ou

reformuladas durante o período de trabalho de campo, conforme proposto por Miles e

Huberman (1994).

Utilizou-se como referência para o roteiro das entrevistas um estudo desenvolvido pela

Sociedade dos Designers Industriais da América do Norte (Industrial Designers Society of

America) - IDSA, em 2003, denominado Electronic Product Ecodesign Influence

(Influência do Ecodesign nos Produtos Eletrônicos, em português). O estudo, realizado

com 52 designers atuantes no Vale do Silício, buscou aferir o nível de compreensão e de

influência dos designers de produto nas questões ambientais relacionadas aos produtos

eletroeletrônicos por eles projetados. Divide alguns atributos de design, entre os quais a

presença de elementos tóxicos em componentes, tipos de solda, componentes híbridos,

facilidade de desmontagem, manutenção e reciclabilidade. Os resultados do relatório

mostram que os designers têm influência inquestionável nos atributos de forma, cor e

textura dos produtos (relativos à permanência e multiculturalidade), mas menos influência

sobre as características físicas e químicas dos tipos de materiais e acabamentos utilizados

nos produtos; ainda assim identificando grande possibilidade de intervenção do designer na

escolha do tipo de plástico e do tipo de acabamento utilizado (incluindo material

reciclado), além da atuação na facilidade de desmontagem e carenagem (incluindo o acesso

a partes internas e insertos em peças plásticas). Os relatórios revelam a mais baixa

influência dos designers na composição tóxica, nos tipos de solda ou aditivos utilizados

(IDSA, 2004).

Outra referência é o trabalho resultado da parceria entre o IDSA e a EPA, em São

Francisco, Califórnia (IDSA; EPA, 2004). Essa pesquisa documenta a necessidade atual de

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informações sobre design e sustentabilidade para designers de produto atuantes no

mercado eletroeletrônico. O estudo apresentou extensa lista de tópicos e utilizou escala de

zero a quatro, em uma “taxa de necessidade” para informações como: comparação dos

impactos ambientais dos processos e materiais; avaliação do impacto do ciclo de vida;

diretrizes do design para desmontagem; alternativas para substâncias potencialmente

tóxicas em cloreto de polivinila (PVC) e retardadores de chama utilizados em componentes

plásticos. De acordo com a pesquisa, muitos designers não estão familiarizados ou

confortáveis com o termo ACV, apesar de relatarem a necessidade das informações

fornecidas pela técnica. Embora as regras do design para a facilidade de desmontagem

sejam bastante claras para os designers, há certo grau de confusão entre elas e a simples

desmontagem manual e trituração do produto. Há também acentuada incompreensão sobre

os impactos ambientais da utilização de insertos metálicos em plásticos, além de certas

tintas, aditivos e moldes para peças termoplásticas. O tema que os entrevistados da

pesquisa relataram ser o mais carente por parte dos próprios designers foi o conhecimento

relacionado às normas ambientais internacionais.

Esses regulamentos incluem principalmente as diretivas europeias WEEE - que visa a

regular a gestão dos resíduos eletroeletrônicos - e RoHs - que busca a redução de uso de

substâncias perigosas. Essas diretivas têm começado a influenciar legislações específicas

que começam a entrar em vigor em diversos países. A partir dessas legislações, empresas e

designers estão sendo compelidos a prestar atenção às especificações de projeto

relacionadas aos requisitos ambientais, estipulando níveis para reciclagem e componentes

tóxicos, além de restrições de materiais para os produtos comercializados. Apesar dessas

questões, o tema que os entrevistados relataram a ser menos necessário foi o de

"oportunidades em ecodesign" (IDSA; EPA, 2004).

A partir dessas referências, foi elaborado um roteiro semiestruturado para entrevistas

(APÊNDICES A, B e C) a serem aplicadas aos responsáveis pelo projeto de design nas

empresas selecionadas. O roteiro foi constituído de perguntas abertas (discursivas) e

fechadas (múltipla escolha), buscando explanação das ideias e conhecimentos por parte dos

entrevistados. Foram abordadas questões relacionadas à contextualização das empresas e

dos profissionais, abordando os aspectos relativos aos requisitos ambientais utilizados nos

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projetos de design, certificações, escolha de materiais e componentes, além da atuação dos

entrevistados frente à questão da gestão da obsolescência dos produtos.

O procedimento das entrevistas, incluindo a fase de testes e entrevistas-piloto, se deu no

período compreendido entre os meses de agosto e novembro de 2012. As entrevistas foram

presenciais, realizadas nos locais de trabalho (sede dos escritórios) ou nas escolas de

design (para os entrevistados que lecionam nas universidades). Os encontros duraram

aproximadamente duas horas, período em que foram realizadas as perguntas abertas, o

questionário tabulado e a análise de casos e projetos, de acordo com o roteiro previamente

desenvolvido.

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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 Perfil dos entrevistados

As empresas de prestação de serviço de design de produtos que foram selecionadas para

esta pesquisa apresentam perfil diversificado no tocante à idade dos entrevistados, à

quantidade de projetos executados para o setor e à experiência profissional no segmento

eletroeletrônico. Das 18 empresas selecionadas, 15 fizeram parte da análise final desta

pesquisa. Duas empresas não responderam à solicitação e uma entrevista não pôde ser

concluída.

A faixa etária dos profissionais entrevistados variou de 28 a 65 anos, o que determina a

experiência desses profissionais no setor eletroeletrônico, como mostra o Gráfico 1.

Percebe-se que, apesar da maioria dos profissionais terem idade abaixo de 35 anos, que a

amostragem apresenta experiências bastante heterogêneas, ou seja, profissionais com

somente dois anos de experiência em projetos de produtos eletrônicos, incluindo três com

mais de 30 anos de experiência.

GRÁFICO 1 - Experiência profissional no setor eletroeletrônico

0

5

10

15

20

25

30

35

A B C D E F G H I J K L M N O

Anos  de  experiê

ncia

Empresas  entrevistadas

O número de produtos desenvolvidos pelos profissionais está em conformidade com a

amostragem e sinaliza que os entrevistados possuem boa experiência no desenvolvimento

de produtos no setor eletroeletrônico. O Gráfico 2 mostra que 47% das empresas

entrevistadas declararam ter desenvolvido mais de 20 produtos, 33% desenvolveram entre

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107

cinco e 10 produtos e apenas 20%, menos de cinco produtos. Destaca-se uma das empresas

que se sobressaiu às demais, afirmando ter desenvolvido quantidade superior a 300

produtos.

GRÁFICO 2 - Quantidade de projetos desenvolvidos no setor eletroeletrônico

Perguntados sobre suas expertises em relação aos campos de atuação no segmento

eletroeletrônico, os designers entrevistados declararam terem atuado em subsetores de

diferentes segmentos, sendo os de maior atuação os de comunicação, eletro-médicos,

luminotécnica, automação industrial, automação de serviços, odontoeletrônica,

Informática, eletrônicos de consumo, linha Branca e Marrom, eletrotécnicos,

biotecnologia, eletrônica de potência.

Uma característica percebida a respeito do setor de design regional é que as empresas

prestadoras de serviços de design de produtos para o setor eletroeletrônico têm reduzido

número de funcionários. Os entrevistados declararam prestar serviços de design com suas

próprias microempresas, nas quais atuam como projetistas e sócios proprietários, à exceção

de três entrevistados, que informaram atuar, atualmente, como profissionais liberais

autônomos. De acordo com o SEBRAE, (2012), empresas atuantes no setor de serviços

com número inferior a nove funcionários podem ser classificadas como microempresa.

Contudo, as indústrias, empresas clientes dos entrevistados para as quais esses

profissionais mencionaram prestar serviços, são de grande e médio porte 32%, enquanto

26% constituem as pequenas empresas e apenas 10% microempresas, conforme pode ser

visto no Gráfico 3. Das empresas de grande porte atendidas por estas empresas de design,

destacam-se a Philips, Itautec, Wolkswagen Brasil; GM Brasil, Ford Brasil, Leucotron-

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Telecon, Itatiaia; Nansen Instrumentos de Precisão S.A., Polar Refrigeração Ltda, mesmo

que não sediadas em Minas Gerais. Empresas de médio porte, como Batik Equipamentos

AS, Transil, Comex, Biometrus, Seva S.A., Fitec.

GRÁFICO 3 - Porte das indústrias de eletroeletrônicas atendidas

Considerando os entrevistados que prestam serviços de design com sua própria

microempresa (à exceção de três deles - profissionais liberais autônomos), percebe-se que

o porte das indústrias atendidas apresenta relevância e potencial de influência por parte dos

profissionais no que diz respeito à sua atuação no setor produtivo.

A atitude dos respondentes sobre a disposição dos produtos eletroeletrônicos que

consomem em suas empresas e residência ao final da primeira vida útil está em

conformidade com a literatura (FRANCO, 2008). O Gráfico 4 mostra que a maioria dos

produtos eletrônicos é doada (38%), enquanto 26% são guardados, 15% vão para a coleta

seletiva, 12% são descartados diretamente no lixo comum e 9% não possuem

conhecimento sobre a forma de descarte dos produtos inutilizados na empresa ou em casa.

GRÁFICO 4 - Destino dado aos produtos eletroeletrônicos

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A expectativa de vida útil para os produtos eletroeletrônicos, que os entrevistados

atribuíram, está abaixo do estabelecido pelo EPA (GRÁF. 5): para computadores com

menos de dois anos e meio (EPA 1-2 anos), celulares menos de um ano e meio (EPA 1-2

anos), para TVs menos de cinco anos (EPA 5-10 anos).

GRÁFICO 5 - Expectativa de vida de equipamentos

Estes resultados demonstram expectativa de vida útil dos produtos bastante reduzida, o que

justifica a adesão desses profissionais quando perguntados a respeito da importância dos

requisitos ambientais para o desenvolvimento do projeto na etapa do briefing; 80% dos

entrevistados declararam que esses requisitos são necessários à metodologia (GRÁF. 6).

GRÁFICO 6 - Importância da inserção de requisitos

ambientais no briefing do projeto

Na opinião dos entrevistados, que acreditam que os requisitos ambientais devam ser

incorporados ao processo de projeto de design dos produtos eletroeletrônicos (briefing),

eles classificam como entraves para a implementação das questões de sustentabilidade no

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110

setor aspectos como os apresentados na Tabela 6. Esses fatores foram declarados de forma

espontânea pelos entrevistados, uma vez que era uma questão aberta do questionário.

TABELA 6 - Entraves declarados para adoção de requisitos ambientais

Entraves para adoção de requisitos ambientais Quantidade

Empresas

Incremento nos custos de produção 6

Falta de interesse por parte dos empresários 4

Falta de adoção da legislação pertinente 3

Desconhecimento da legislação por parte dos empresários 3

Ausência de penalidades legais aos produtores 3

Falta de conscientização dos usuários 2

Falta de recolhimento de REER de forma eficiente 2

Necessidade de mudanças na cultura empresarial 2

Falta de interesse por parte dos usuários 2

Custos dos estudos de impacto ambiental 2

Desconhecimento legislação por parte dos designers 1

Falta de interesse econômico 1

Carência na divulgação das informações pertinentes 1

Percebe-se conscientização por parte das empresas de design sobre as dificuldades em

adotar os requisitos ambientais e as questões de sustentabilidade no setor. Eles ressaltam

aspectos importantes como o desconhecimento das legislações, a ineficiência na adoção de

estratégias de recolhimentos dos REEEs e a falta de interesse por parte das empresas e dos

profissionais.

4.2 Visão estratégica do profissional

A segunda parte das entrevistas consistiu em observar a visão estratégica do profissional

perante as questões da sustentabilidade, da obsolescência e da flexibilidade. Utilizou-se

uma escala de zero a cinco para atribuir a frequência aos quesitos avaliados em todas as

questões do segundo questionário (APÊNDICE B):

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111

Frequência Atribuída:

0 Nunca 1 Raramente 2 Esporadicamente 3 Sempre que possível 4 Frequentemente 5 Sempre

A prioridade atribuída pelos profissionais no tocante à qualidade de projeto de produtos

eletroeletrônicos é apresentada no Gráfico 7. Apesar dos profissionais darem significativa

importância às questões relacionadas à certificação e conformidades técnicas de segurança

(60%), a usabilidade e ergonomia mostraram ser a maior prioridade (67%) entre eles. O

conjunto de funções e a produção tiveram o mesmo grau de importância (53%), embora a

estética também se mostre como prioridade. A distribuição, manutenção, logística (27%) e

o impacto ambiental do produto foram considerados pelos profissionais como sendo a

prioridade mais baixa de todas as qualidades do produto em questão (20%). Isso indica

quão mal o desempenho ambiental dos produtos é integrado ao processo de

desenvolvimento de produto.

GRÁFICO 7 - Prioridades de qualidade atribuídas ao design de eletroeletrônicos

O Gráfico 8 apresenta o grau de importância dado à questão da sustentabilidade, dos

diferentes atores do processo (indústrias, designers e usuários), considerando-se a média de

respostas. Segundo a percepção dos designers entrevistados, pode-se perceber que a menor

importância é atribuída pelas indústrias fabricantes de produtos eletroeletrônicos, seguida

pelos próprios usuários dos produtos, que atribuem importância mediana (sempre que

possível, por 53% dos respondentes). Igualmente, em uma espécie de autoavaliação, os

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profissionais do design entrevistados afirmaram que, em média, o nível de importância

também é mediano (“sempre que possível”, por 53% dos respondentes), o que sugere

situação supostamente de subordinação desses profissionais às forças produtivas.

GRÁFICO 8 - Importância atribuída à sustentabilidade (média dos profissionais)

Os resultados relativos às principais fontes de informação utilizada pelos profissionais para

analisar os requisitos ambientais dos projetos estão abordados no Gráfico 9. Fica claro que

a web atualmente é a fonte mais consultada pelos designers (on-line 53%), seguida

igualmente pelas consultas em livros e fornecedores (33%). Percebe-se certo desinteresse

pelas conferências em design (7%) e pelas informações fornecidas pelos clientes e pela

indústria (20%). As informações relativas a selos e indicadores também não é uma das

melhores opções, no entendimento dos entrevistados (27%).

GRÁFICO 9 - Fontes de informações utilizadas pelos profissionais

As principais ferramentas utilizadas pelos profissionais para convencerem seus clientes

produtores (indústria) a adotarem os requisitos ambientais são apresentadas no Gráfico 10.

Nota-se que a análise de custos foi a ferramenta mais utilizada (3,8), seguida pela

legislação específica (3,6) e o marketing (3,5). Na sequência do grau de importância têm-se

as informações fornecidas pelos próprios fornecedores de materiais e componentes, que de

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certa forma ressaltam as características positivas de desempenho ambiental dos seus

produtos (3,2). A publicidade espontânea normalmente gerada a partir da divulgação

advinda de premiações, concursos ou reportagens jornalísticas é a ferramenta de menor

convencimento (1,6), seguida da ACV (2,8) e dos selos indicadores (2,6).

GRÁFICO 10 - Escolha de ferramentas de convencimento pelos profissionais

No tocante à legislação específica, os profissionais entrevistados deixam claro

desconhecerem completamente a legislação dos equipamentos eletroeletrônicos. Ao

analisar o Gráfico 11 percebe-se que a legislação europeia WEEE e RoHs são as menos

conhecidas (60 e 67%, respectivamente). Durante a entrevista, constatou-se, por parte de

alguns profissionais entrevistados, o conhecimento das legislações nacionais, mas a

maioria desconhece completamente. Em ordem de desconhecimento, são elas: Política

Nacional dos Resíduos Sólidos (40%), resoluções do CONAMA (47%) e a Convenção de

Basileia (53%). Em relação às legislações regionais, a partir da referência da Lei dos

Eletrônicos de São Paulo e do Plano de Gerenciamento Integrado dos Resíduos de

Equipamentos Eletroeletrônicos da própria cidade de Belo Horizonte, 60% dos

respondentes também relataram total desconhecimento.

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GRÁFICO 11 - Conhecimento da legislação por parte dos profissionais

Quanto aos questionamentos relativos aos aspectos de obsolescência, flexibilidade e

legislação, fica evidente, ao analisar o Gráfico 12, que a conduta dos profissionais não é

influenciada pela legislação (47%), o que pode ser justificado tanto pelo desconhecimento

acerca da mesma (GRÁF. 11), quanto pela ausência de mecanismos reguladores e sistemas

de fiscalização e penalidade (TAB. 6). A flexibilidade e a obsolescência, no entanto,

podem ser vistas como uma discreta preocupação dos profissionais quando se trata dos

produtos projetados por eles. Dos profissionais entrevistados, 13% admitem sempre

considerar a flexibilidade e a obsolescência quando projetam. Contudo, 33% acreditam que

a legislação específica afeta a forma de projetar em design. Isso mostra que, de uma forma

ou de outra, a legislação específica possui reflexos positivos entre os profissionais que

atuam no ramo de equipamentos eletroeletrônicos.

GRÁFICO 12 - Grau de conhecimento e conduta sobre “obsolescência, flexibilidade e legislação”

O Gráfico 13 exibe as estratégias de projeto voltadas para a flexibilidade mais utilizadas na

concepção dos produtos eletroeletrônicos. De acordo com os profissionais entrevistados,

nos produtos projetados por eles as estratégias mais utilizadas são, por grau de

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importância: reparabilidade e manutenção (3,8), seguidas das estratégias do design for

disassembly e design para durabilidade adequada (ambas 3,6). Em um segundo

agrupamento de estratégia, pode-se considerar a modularidade (3,2); multifuncionalidade

(3,1), design por componente (2,8); e design para atualização e adaptabilidade (2,7). Entre

as estratégias menos utilizadas estão o design para PSS (2,4), a manufatura rápida (2,3) e a

customização em massa (2,2).

GRÁFICO 13 - Estratégias de flexibilidade empregadas (média dos profissionais)

Pode-se inferir pelo Gráfico 14 a influência que os designers entrevistados julgam exercer

sobre os atributos mecânicos, físicos e químicos dos produtos que projetam. A análise das

respostas evidencia que, assim como na pesquisa realizada pelo IDSA (2004), pode-se

perceber quatro grupos de níveis de influência do profissional do design sobre os atributos

do produto: o mais alto nível de influência relaciona-se a forma, cor e textura utilizadas

(4,7), assim como a escolha do tipo de material (4) e os acabamentos utilizados (4,5). Em

um segundo nível, encontram-se a facilitação de acesso aos componentes internos (3,9) e a

influência sobre a utilização de insertos metálicos em plásticos (3,4). Em um terceiro nível,

detecta-se a capacidade de definir os aditivos (2,7) e retardantes de chama (2,5) utilizados

nos polímeros. No último nível, os profissionais consideram os praticamente incapazes de

influenciar, a utilização de elementos tóxicos (0,9) ou decidir sobre o tipo de solda (0,7)

utilizado em componentes.

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GRÁFICO 14 - Influência dos designers sobre os atributos de design (média dos profissionais)

O Gráfico 15 apresenta uma classificação sobre a frequência de necessidade de

informações, segundo os próprios profissionais, para os designers atuantes na indústria

eletroeletrônica. Vê-se claramente o quão é necessário ao profissional do design obter

informações específicas acerca de sua área de atuação. De modo geral, os profissionais

posicionam a simbologia de identificação de materiais para reciclagem, seguida das linhas-

guia para desmontagem (design for disassembly), avaliação dos impactos ambientais dos

materiais e acabamentos utilizados, além das informações sobre metais elastômeros e

plásticos recicláveis, polímeros biodegradáveis e regulações ambientais nacionais como os

níveis mais carentes.

Em um segundo nível de importância estão as oportunidades econômicas em ecodesign, as

certificações e selos, o engajamento dos stakeholders, os bioplásticos e as energias

alternativas, além da avaliação do impacto dos processos, educação ambiental e

conscientização, até a análise de ciclo de vida e regulações internacionais.

A necessidade de informações sobre alternativas para solda e exclusão do chumbo do

processo de fabricação de componentes obteve importância em reduzido nível, enquanto os

softwares de análise de impacto ambiental, além dos ecocritérios usados por concursos e

premiações, obtiveram os mais baixos graus de importância: 2,4 e 2,3, respectivamente.

Essa necessidade de informação justifica a análise do Gráfico 15.

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GRÁFICO 15 - Necessidade de informações para designers (média dos profissionais)

4.3 Percepção do profissional sobre certificações

A terceira e última parte das entrevistas (Apêndice C) consistiu em uma série de perguntas

que versavam sobre as práticas ambientais das indústrias clientes dos entrevistados, além

do posicionamento destes com relação às certificações e normas ambientais. Buscou-se

investigar qual a posição desses profissionais entrevistados, bem como o nível de

conhecimento percebido das empresas e clientes que atendem, a respeito dos requisitos

ambientais específicos para o setor eletroeletrônico.

Quando questionados sobre as certificações e normas ambientais adotadas pelas indústrias

em que atuam, os entrevistados, em sua maioria (54%), declararam que as empresas

adotam algum tipo de certificação, notadamente as normas da ABNT, da Anatel, ou da

NBR ISO 14.000 e 14.001, conforme área de atuação. Pode-se perceber pelo Gráfico 16,

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que estas informações muitas vezes não são do conhecimento do prestador de serviços,

uma vez que 23% destes profissionais desconhecem este tipo de procedimento dentro da

empresa. O número de indústrias que não adotam certificação ou norma, segundo a ótica

dos entrevistados, também foi de 23%.

GRÁFICO 16: Certificação ou norma ambiental nas empresas

No entanto, quando questionados sobre as principais políticas de meio ambiente e práticas

ambientais adotadas por estas indústrias (Gráfico 17), 23% dos profissionais demonstraram

desconhecimento das informações, outros 23% declararam que as indústrias aparentemente

não possuem políticas ambientais. Os 23% que declararam que as empresas adotam

políticas de preservação do meio ambiente, não declararam quais são estas políticas.

Embora grande parte dos entrevistados tenha declarado que as indústrias adotam práticas

ambientais, a maioria dos entrevistados (31%) declarou que as práticas ambientais

utilizadas se resumem a atividades de conscientização dos funcionários, o que indica que

estas ações estão distantes das atuais legislações ambientais.

GRÁFICO 17: Políticas ambientais nas empresas

Com relação ao grau de conhecimento sobre os sistemas de certificação ambiental

aplicáveis aos produtos eletroeletrônicos (Gráfico 18), 46% dos entrevistados declarou não

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ter conhecimento, 39% disseram que possuem conhecimento superficial, enquanto 15%

deles declarou possuír conhecimento razoável, mas que não se preocupam muito com o

assunto. Nenhum entrevistado declarou possuir pleno conhecimento ou preocupar-se com

o assunto de forma relevante, o que indica a necessidade da divulgação das informações

sobre certificações e normas ambientais entre os profissionais do design.

GRÁFICO 18: Certificações ou normas ambientais aplicáveis à indústria eletroeletrônico

O Gráfico 19 mostra que a grande maioria dos profissionais entrevistados (92%) não

considera as certificações ambientais quando seleciona e especifica materiais ou

componentes utilizados nos projetos. Apenas 8% admite adotar esta prática, o que

demonstra que a performance ambiental dos materiais não é prioridade no processo de

seleção ou especificação dos mesmos nos projetos. Desta forma, percebe-se a importância

de consolidar a adoção desta prática ambiental, tendo em vista que os próprios

profissionais já percebem uma expectativa de vida útil para os produtos eletroeletrônicos

abaixo daquela estabelecida pelo EPA (Ver Gráfico 5).

GRÁFICO 19: Especificação de material em função da certificação ambiental

Entretanto, o Gráfico 20 mostra que a maioria destes profissionais (80%) demonstra estar

consciente e preocupada com as consequências dos danos que os componentes químicos

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tóxicos e perigosos presentes nos produtos eletroeletrônicos podem causar ao meio

ambiente e ao ser humano se descartados ou manuseados de forma inadequada. 15% dos

profissionais entrevistados ainda resistem a esta questão, uma vez que declararam estar

conscientes, mas não preocupados com o assunto.

GRÁFICO 20: Consequências dos componentes tóxicos presentes nos aparelhos eletrônicos

No Gráfico 21 são apresentados os resultados referentes aos requisitos ambientais de

projeto aplicáveis ao desenvolvimento de produtos eletroeletrônicos. Apesar da maioria

dos entrevistados os considerarem necessários para a metodologia de design (ver Gráfico

6), apenas 15% destes entrevistados mostram conhecimento e preocupação com o assunto,

enquanto 39% declaram conhecimento superficial. Dos respondentes, 46% declararam não

ter conhecimento dos requisitos ambientais de projeto aplicáveis à indústria de

eletroeletrônicos, mas se preocupar com o assunto. Percebe-se que é incipiente a

participação dos designers na tomada de decisão de projeto, no tocante à soluções que

contemplem a questão ambiental. Isto está em conformidade com os resultados mostrados

no Gráfico 19, onde a maioria dos profissionais entrevistados (92%) não considera as

certificações ambientais quando especificam ou determinam os materiais e componentes

utilizados em projetos.

GRÁFICO 21: Requisitos ambientais de projeto aplicados à eletroeletrônicos

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Outro fator que reforça a necessidade de divulgar informações e rever a forma de se

projetar, no campo do design de produtos eletroeletrônicos, é mostrado no Gráfico 22.

Quando indagados sobre o nível de conhecimento com relação à legislação ambiental

específica, os resultados foram compatíveis aos obtidos pelo questionário sobre visão

estratégica, apresentados no Gráfico 11. Apenas 8% dos entrevistados mostram

conhecimento e preocupação com a legislação pertinente, enquanto 31% declaram não ter

conhecimento. A maior parte dos respondentes (61%) declarou ter conhecimento

superficial sobre as legislações ambientais aplicáveis à indústria de eletroeletrônicos.

GRÁFICO 22: Legislação ambiental aplicada à indústria de eletroeletrônico

Ao final das entrevistas, no tempo destinado às considerações finais dos entrevistados, os

próprios designers declararam que o conhecimento e a difusão de informações referentes

aos requisitos ambientais para produtos eletroeletrônicos ainda são restritos, tanto para os

designers, quanto para a indústria. Ainda é superficial a atuação dos profissionais em

relação às soluções de projeto ambientalmente adequadas. Os principais entraves

apontados neste momento foram os relacionados à dificuldade de se obter informações

sobre a questão ambiental aplicadas ao setor, além da falta de demanda, falta de interesse

ou resistência à mudanças, por parte das indústrias/clientes.

Desta forma, através da análise dos dados, reforça-se a necessidade de maior difusão de

informações referentes aos requisitos ambientais no processo de design de produtos

eletroeletrônicos, já que existe um descompasso entre os aspectos preconizados pela

legislação pertinente e a atuação dos profissionais junto à indústria de eletroeletrônicos.

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5 CONCLUSÕES

Neste capítulo são apresentados os resultados finais da pesquisa, contemplando o

atendimento aos objetivos e questionamentos feitos inicialmente e as sugestões para

pesquisas futuras.

Avaliar os principais problemas ambientais relacionados a produtos eletroeletrônicos e os

impactos de seus resíduos no meio ambiente propiciou a compreensão dos aspectos do

desenvolvimento sustentável e suas implicações na área do design. Ficou clara a existência

de uma estreita relação entre design e sustentabilidade e o nível de responsabilidade do

profissional no cenário atual de alto consumo e de obsolescência de bens.

Os produtos e serviços estão de alguma forma vinculados às decisões dos designers, que

exercem influência sobre os processos de produção, materiais utilizados, distribuição,

utilização e descarte, evidenciando que o profissional é capaz de desempenhar importante

papel na proposição de novos cenários e sistemas baseados nos requisitos da

sustentabilidade.

O perfil das indústrias brasileiras de equipamentos eletroeletrônicos pode ser percebido a

partir da revisão da literatura, bem como os tipos de resíduos resultantes da fabricação, uso

e descarte e os principais impactos desses resíduos, destacando-se as implicações

regionais. Constatou-se que o descarte desses resíduos feitos diretamente nos lixões e de

formas inadequadas causa sérios riscos ao meio ambiente e prejuízos à saúde humana e dos

animais, devido à sua alta toxidade.

A revisão da literatura também mostrou que na cidade de Belo Horizonte o gerenciamento

dos REEEs é incipiente e, quando realizado, é feito por iniciativa de associações,

administração pública e/ou iniciativa privada.

O levantamento da legislação possibilitou perceber que os REEEs passaram a ser

preocupação mundial a partir da década de 1980. A Convenção de Basileia surgiu para

inibir o comércio de lixo tóxico para países em desenvolvimento e para a Europa Oriental.

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O tratado teve como meta reduzir os impactos gerados por esse tipo de comércio, dando

aos países participantes o direito de escolha em aceitar ou não a entrada dos resíduos

perigosos em seu território.

O Parlamento Europeu aprovou duas diretivas para a regulamentação de resíduos de

equipamentos eletroeletrônicos - WEEE e a RoHs. A gestão em países desenvolvidos

privilegia a responsabilidade estendida pelos produtos e a responsabilidade compartilhada,

envolvendo fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e

responsáveis pela limpeza urbana. Essa iniciativa internacional deu forças a outros países

para desenvolver suas próprias legislações como a China, Japão e Estados Unidos.

No Brasil, a Lei nº 12.305/10, em 2010, estabelece as PNRS, que têm como princípio a

responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e população. A nova legislação

incentiva o retorno dos produtos pós-consumo às indústrias e obriga o poder público a

realizar planos para o gerenciamento do lixo eletrônico. Embora em vigor, ela não está

bem consolidada, mas existem desafios para as partes envolvidas, sejam culturais, sociais e

econômicos.

O aprofundamento da pesquisa foi possível por meio da revisão da literatura, ampla e

atualizada, baseada em vários autores, de maneira a contemplar as questões dos requisitos

de projeto de design a partir do enfoque em seus aspectos ambientais. Evidenciou-se o

papel relevante do designer na aplicação dos conceitos de sustentabilidade, na análise do

ciclo de vida de produto ou serviço. Tais estratégias são utilizadas para aperfeiçoar e

aumentar a vida útil dos produtos por meio de ações ambientalmente mais sustentáveis.

A revisão dos conceitos de flexibilidade aplicados ao design de produtos eletroeletrônicos

evidenciou sua aplicação como ferramenta passível de promover a durabilidade,

perdurabilidade, desmontagem, atualização, adaptabilidade, reparabilidade e manutenção,

de forma multifuncional, modular, produzido por poucos componentes, de forma rápida e

barata. Constatou-se que, ao se integrar os requisitos ambientais na fase projetual, é

possível evitar ou minimizar os impactos ambientais antes que eles ocorram, evitando-se

preventivamente problemas ecológicos.

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124

A pesquisa realizada com os profissionais nas empresas de design permitiu detectar que o

processo de inserção dos requisitos ambientais no processo de design de produto

eletroeletrônico é notadamente caracterizado por fatores externos, oriundos de eventuais

demandas de fabricantes, e das tomadas de decisão nos projetos, que estão subordinadas

aos aspectos econômicos de curto prazo das indústrias fabricantes. Na maior parte dos

casos, os requisitos ambientais limitam-se às questões relacionadas à minimização de

materiais, moldes e processos, normalmente motivadas pelas questões econômicas como a

desmontabilidade e fácil acesso a componentes internos.

A pesquisa possibilitou confrontar aspectos relevantes apresentados por diferentes autores

cujos profissionais, apesar de motivados para as questões ambientais, desconhecem não

somente os impactos negativos da produção e uso dos produtos, mas também da legislação

específica vigente. A partir da visão estratégica dos designers entrevistados e das

atividades de desenvolvimento de produtos relacionadas aos requisitos ambientais, pôde-se

identificar as práticas que são mais valorizadas pelos profissionais e as que são passíveis de

serem influenciadas por eles. No entanto, constata-se que elas são ações pontuais e

superficiais e não estão condizentes com os procedimentos previstos pelas leis vigentes

específicas às questões dos REEEs.

A partir dos objetivos propostos por esta pesquisa, pode-se inferir que existem lacunas para

a implementação dos requisitos ambientais no processo de design dos produtos

eletroeletrônicos. A análise dos principais problemas ambientais relacionados à

obsolescência e ao descarte dos produtos eletroeletrônicos, assim como o estudo da

legislação pertinente específica, propiciou avaliar a importância da implementação dos

requisitos ambientais nas fases iniciais do projeto de design, no sentido de promover o

planejamento sustentável do ciclo de vida durante o processo de desenvolvimento dos

produtos.

Os conceitos de responsabilidade compartilhada e responsabilidade estendida ao produtor,

descritos na legislação, ainda não foram incorporados no rol de demandas por parte das

indústrias, provavelmente devido à falta de mecanismos de fiscalização e controle, além de

instrumentos de punição, por parte da administração pública. Desta forma, a atuação dos

profissionais de design, muitas vezes, desconsidera ou pouco valoriza os aspectos

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ambientais, concentrando no atendimento das demandas estético-funcionais dos produtos e

nos aspectos relacionados às tecnologias de produção.

As iniciativas voltadas para a sustentabilidade dos produtos, quando presentes, direcionam-

se para ações corretivas, de caráter reativo, no processo de desenvolvimento dos produtos.

Percebe-se, a partir dos resultados, que a atuação dos designers nas indústrias carece de

ampliação à um nível estratégico de participação nas tomadas de decisão das empresas.

Uma atuação mais efetiva possibilitaria contribuições colaborativas, em direção ao

planejamento sistêmico de produtos e serviços, envolvendo o compartilhamento de

responsabilidades. Tal atuação tende a gerar ajustes na organização do processo produtivo

e no planejamento de ações ambientais proativas, no entanto, os processos de gestão desse

tipo de produto ainda são incipientes e os próprios designers demonstram dificuldade em

exercer o protagonismo preconizado por Manzini e Vezolli em 2008.

5.1 Sugestões para estudos futuros

Os resultados e conclusões deste trabalho não esgotam o tema abordado. Sugere-se que

outros estudos sejam feitos, a fim de complementá-lo a partir das análises desta pesquisa.

• Estudo com os demais atores do processo: fabricantes, distribuidores, comerciantes,

usuários e profissionais envolvidos na gestão dos resíduos, de maneira a investigar

as questões aqui apontadas.

• Estudo avaliativo quanto à percepção dos consumidores/usuários em relação às

mudanças de comportamento, buscando-se reduzir a obsolescência dos produtos

eletroeletrônicos, em especial os de alto consumo.

• Aprofundamento de diretrizes pontuais para estratégias de flexibilidade aplicadas a

produtos eletroeletrônicos, seguidos de estudos de casos realizados por designers.

• Material didático para o ensino e prática na área do design de produtos

eletroeletrônicos, contemplando legislação, estratégias e a incorporação prática dos

requisitos ambientais.

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APÊNDICES Apêndice A - Pesquisa aplicada: entrevista semiestruturada _______________________________________________________________________________________

Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG

Mestrado em Design da Escola de Design Novembro de 2012

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

APRESENTAÇÃO

A presente entrevista contribui para uma pesquisa de mestrado que está sendo realizada na Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais - ED/UEMG, como parte dos requisitos para a conclusão do curso de Mestrado em Design. Este questionário é destinado a profissionais atuantes na área do design de produtos eletroeletrônicos na cidade de Belo Horizonte-MG e região. A entrevista procura identificar as questões relacionadas aos requisitos ambientais desses produtos e os principais entraves relacionados à implementação da questão da sustentabilidade no setor. Tempo previsto: 30 minutos.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Solicito sua colaboração em responder a este questionário. Os dados aqui fornecidos só serão utilizados em trabalho de pesquisa acadêmica, tendo o autor o compromisso de não repassar as informações coletadas a outros meios, tampouco identificar os respondentes. Aceitar responder às questões significa a autorização para uso dos dados. Agradeço sua disposição em colaborar com o presente estudo. Obrigado! Nome: Igor Toscano Rios Endereço eletrônico: [email protected]

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ROTEIRO

1- Identificação do Entrevistado Data da entrevista (_____/_____/2012) Nome:__________________________________________________________________________ Idade:________________________ Formação_______________________________________________________________________ Curso:_______________________________________Escola______________________________ Ano de formatura: (_______________________________________________________________) Cidade:______________________________________Estado:_____________________________ Contato:_________________________________________________________________________

2- Contextualização do profissional Quanto tempo trabalha na área de design? (_____anos), Experiência de atuação no segmento eletroeletrônico? (_____anos), Campos de atuação dentro do segmento? (eletrônicos de consumo, linha branca, linha marrom, eletromédico, etetrotécnico, odontoeletrônica, luminotécnica, informática e telecomunicação, etc.) _______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Quantos produtos desenvolveu para esse segmento? ( ) até 5 produtos ( ) entre 5 e 10 produtos ( ) entre 10 e 20 produtos ( ) acima de 20 produtos Outro: Especificar: __________________________________________________________________ Empresa de design em que trabalha___________________________________ Porte:__________ Quantidade de sócios:___, estagiários:___, funcionários:___ colaboradores:___. Vínculo com a empresa___________________________________________________________

3- Contextualização da empresa de design Identificação dos principais clientes no setor eletroeletrônico: Empresa_________________________________________________________Porte:__________ Quantidade de funcionários/sócios-colaboradores/estagiários:______________________________ Vínculo com a empresa____________________________________________________________ Empresa________________________________________________________Porte:___________ Quantidade de funcionários/sócios-colaboradores/estagiários:______________________________ Vínculo com a empresa____________________________________________________________ Empresa________________________________________________________Porte:___________ Quantidade de funcionários/sócios-colaboradores/estagiários:______________________________ Vínculo com a empresa____________________________________________________________

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Principais projetos: ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ A sua empresa/ e você: ( ) ( ) Efetua o descarte dos aparelhos eletrônicos inutilizados no lixo comum ( ) ( ) Doa os equipamentos (pra quem/como?): _____________________|__________________ ( ) ( ) Guarda ( ) ( ) Localiza coleta especializada desses equipamentos ( ) ( ) Não possuo conhecimento sobre a forma de descarte inutilizado na empresa/casa Outro. Especificar: ________________________________________________________________ (expectativa de vida dos produtos: computador, celular, TV, tablet) Você acredita que os requisitos ambientais devem ser incorporados ao processo de projeto de design dos produtos eletroeletrônicos (briefing)? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não tenho conhecimento dessa informação; Em caso afirmativo, na sua opinião, quais são os principais entraves à implementação da questão da sustentabilidade no setor? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Apêndice B - Pesquisa aplicada: visão estratégica do profissional INFORMAÇÕES GERAIS Por favor, marque os valores de zero a cinco nos quadros a seguir, conforme a frequência dos quesitos, usando o seguinte critério: 0- Nunca 1- Raramente 2- Esporadicamente 3- Sempre que possível 4- Frequentemente 5- Sempre

Exemplo: Frequência Atribuída 0 1 2 3 4 5

QUESTIONÁRIO:

Como você considera as prioridades de qualidade no projeto de design de

eletroeletrônicos?

Impacto ambiental 0 1 2 3 4 5

Certificações/conformidade de segurança 0 1 2 3 4 5

Distribuição/manutenção/logística 0 1 2 3 4 5

Produção 0 1 2 3 4 5

Estética/atratividade 0 1 2 3 4 5

Usabilidade e ergonomia 0 1 2 3 4 5

Conjunto de recursos/funções 0 1 2 3 4 5

Fortalecimento da marca da empresa 0 1 2 3 4 5

Como você avalia a importância dada à questão da sustentabilidade ambiental dos produtos por

parte dos:

Usuários 0 1 2 3 4 5

Designers 0 1 2 3 4 5

Indústrias 0 1 2 3 4 5

Em sua opinião, projetos voltados para a sustentabilidade aumentam os custos do:

Produto 0 1 2 3 4 5

Projeto 0 1 2 3 4 5

Produção 0 1 2 3 4 5

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A sua empresa considera requisitos ambientais

nos projetos?

Quando solicitado 0 1 2 3 4 5

Por iniciativa própria 0 1 2 3 4 5

Para preservar a imagem da empresa 0 1 2 3 4 5

Outro (qual?) 0 1 2 3 4 5

Quais fontes utiliza para obtenção de informações sobre os requisitos ambientais de

projeto?

On-line 0 1 2 3 4 5

Livros 0 1 2 3 4 5

Fornecedores 0 1 2 3 4 5

Selos e indicadores 0 1 2 3 4 5

Clientes/Indústria 0 1 2 3 4 5

Conferências de design 0 1 2 3 4 5

Outras (quais?) 0 1 2 3 4 5

Quais ferramentas são mais eficientes no convencimento dos clientes/indústria, a adotar

requisitos ambientais?

Índices industriais 0 1 2 3 4 5

Análise de custos 0 1 2 3 4 5

Selos e indicadores 0 1 2 3 4 5

Fornecedores 0 1 2 3 4 5

Legislação 0 1 2 3 4 5

Avaliação de ciclo de vida 0 1 2 3 4 5

Marketing 0 1 2 3 4 5

Eventos e conferências de design/ publicidade espontânea 0 1 2 3 4 5

Outras (quais?) 0 1 2 3 4 5

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Quais demandas dos clientes (indústria) em relação ao projeto são mais frequentes?

Utilização de materiais menos agressivos ou com mais facilidade de reciclagem

0 1 2 3 4 5

Restrição do uso de substâncias tóxicas 0 1 2 3 4 5

Design para fácil desmontagem 0 1 2 3 4 5

Componentes com materiais reciclados/recicláveis 0 1 2 3 4 5

Quais conceitos relacionados às demandas dos clientes (indústria) são mais frequentes?

Responsabilidade compartilhada sobre os resíduos (produtos obsoletos) 0 1 2 3 4 5

Responsabilidade estendida ao produtor 0 1 2 3 4 5

Logística reversa 0 1 2 3 4 5

Avaliação de ciclo de vida 0 1 2 3 4 5

Reciclabilidade 0 1 2 3 4 5

Conhecimento das legislações pertinentes: WEEE (REEE) 0 1 2 3 4 5

RoHS 0 1 2 3 4 5

Convenção de Basileia 0 1 2 3 4 5

Política Nacional dos Resíduos Sólidos 0 1 2 3 4 5

Resoluções CONAMA 0 1 2 3 4 5

Lei de Eletrônicos (SP) 0 1 2 3 4 5 PGIREEE - Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos

(BH)

0 1 2 3 4 5

Você acredita que o desenvolvimento das

legislações específicas afeta a metodologia de projeto de design?

Importância 0 1 2 3 4 5

Você mudou sua conduta em função das mais recentes legislações ambientais específicas sobre

eletroeletrônicos?

Importância 0 1 2 3 4 5

Você considera a questão da obsolescência do

Produto eletroeletrônico quando projeta?

Importância 0 1 2 3 4 5

Como?

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Você considera as seguintes estratégias de flexibilidade no design de produtos

eletroeletrônicos?

Design para desmontagem (design for disassembly) 0 1 2 3 4 5

Design para durabilidade/perdurabilidade adequada 0 1 2 3 4 5

Design para atualização e adaptabilidade 0 1 2 3 4 5

Design por componente 0 1 2 3 4 5

Reparabilidade e manutenção 0 1 2 3 4 5

Multifuncionalidade 0 1 2 3 4 5

Modularidade 0 1 2 3 4 5

Customização em massa (mass customization) 0 1 2 3 4 5

Manufatura Rápida (rapid manufacturing) 0 1 2 3 4 5

Sistemas produto/serviço (PSS) 0 1 2 3 4 5

Você considera a questão da flexibilidade no produto quando projeta?

Importância 0 1 2 3 4 5

Como?

Identifique com que intensidade os designers conseguem influenciar os atributos dos

produtos:

Tipo de solda utilizada nas placas de circuito 0 1 2 3 4 5

Elementos tóxicos em componentes eletrônicos 0 1 2 3 4 5

Tipos de plásticos (polímeros) utilizados 0 1 2 3 4 5

Aditivos em plásticos 0 1 2 3 4 5

Insertos metálicos em plásticos 0 1 2 3 4 5

Retardantes de chama bromados 0 1 2 3 4 5

Acesso aos componentes internos/manutenção 0 1 2 3 4 5

Tipo de acabamento 0 1 2 3 4 5

Forma, cor e textura 0 1 2 3 4 5

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Como você classifica a necessidade de informações/conhecimentos por parte dos

profissionais do design de produtos eletroeletrônicos:

Regulações ambientais internacionais 0 1 2 3 4 5

Regulações ambientais nacionais 0 1 2 3 4 5

Avaliação do impacto ambiental dos processos industriais 0 1 2 3 4 5

Avaliação do impacto ambiental dos materiais utilizados 0 1 2 3 4 5

Avaliação do impacto ambiental dos acabamentos e pinturas 0 1 2 3 4 5

Simbologia para reciclagem 0 1 2 3 4 5

Linhas-guia do design para desmontagem 0 1 2 3 4 5

Avaliação de ciclo de vida 0 1 2 3 4 5

Educação ambiental e conscientização 0 1 2 3 4 5 Mercado verde e pesquisas de comportamento de

consumidores 0 1 2 3 4 5

Teoria de ecodesign e design sustentável 0 1 2 3 4 5

Plásticos recicláveis/reciclados 0 1 2 3 4 5

Elastômeros recicláveis/reciclados 0 1 2 3 4 5

Metais recicláveis/reciclados 0 1 2 3 4 5

Polímeros biodegradáveis 0 1 2 3 4 5

Bioplásticos 0 1 2 3 4 5

Energias alternativas 0 1 2 3 4 5

Certificações e selos ambientais 0 1 2 3 4 5

Ecocritérios de concursos e premiações 0 1 2 3 4 5

Engajamento dos stakeholders 0 1 2 3 4 5

Alternativas para soldas (chumbo) 0 1 2 3 4 5

Softwares de análise de impacto ambiental 0 1 2 3 4 5

Oportunidades econômicas do ecodesign 0 1 2 3 4 5

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Apêndice C - Pesquisa aplicada: certificações Questionário – Certificações: As empresas em que atua possuem: ( ) Políticas de preservação do meio ambiente ( ) Práticas de conscientização dos funcionários ( ) Não possui políticas ambientais ( ) Não tenho conhecimento dessa informação Outro. Especificar: _______________________________________________________________ As empresas para as quais atua adotam algum tipo de certificação ou norma ambiental? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não tenho conhecimento Em caso afirmativo, quais?_________________________________________________________ Você conhece algum sistema de certificação ou norma ambiental que possa ser aplicado à indústria eletroeletrônico? ( ) Não tenho conhecimento ( ) Tenho conhecimento superficial ( ) Tenho conhecimento, mas não me preocupo com o assunto ( ) Tenho pleno conhecimento, e me preocupo com o assunto Nos casos afirmativos, quais?______________________________________________________ Você já utilizou algum material em função de determinado tipo de certificação ambiental? ( ) Sim ( ) Não Em caso afirmativo, qual?_________________________________________________________ Você possui conhecimento das consequências ao meio ambiente e ao ser humano, do contato dos componentes químicos tóxicos presentes nos aparelhos eletrônicos, com o solo? ( ) Não tenho conhecimento ( ) Tenho conhecimento, mas não me preocupo com o assunto ( ) Tenho conhecimento e, me preocupo com o assunto Outro. Especificar: ________________________________________________________ Você conhece algum tipo de requisito ambiental de projeto que possa ser aplicado na indústria eletroeletrônica? ( ) Não tenho conhecimento ( ) Tenho conhecimento superficial ( ) Tenho conhecimento, mas não me preocupo com o assunto ( ) Tenho pleno conhecimento e me preocupo com o assunto Em caso afirmativo, quais?___________________________________________________ Você conhece a legislação ambiental aplicada à indústria de eletroeletrônico? ( ) Não tenho conhecimento ( ) Tenho conhecimento superficial ( ) Tenho conhecimento, mas não me preocupo com o assunto ( ) Tenho pleno conhecimento e me preocupo com o assunto Em caso afirmativo, quais?____________________________________________________

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Considerações finais do entrevistado, anotações: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Referências das imagens e documentos de projeto coletadas: _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________