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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Escola de Design
Programa de Pós-‐Graduação em Design – PPGD
REQUISITOS AMBIENTAIS NO PROCESSO
DE DESIGN DE PRODUTOS ELETROELETRÔNICOS: Contribuições para a Gestão da Obsolescência
IGOR GOULART TOSCANO RIOS
Belo Horizonte
2012
Programa de Pós-‐graduação em Design (PPGD)
MESTRADO EM DESIGN
IGOR GOULART TOSCANO RIOS
REQUISITOS AMBIENTAIS NO PROCESSO
DE DESIGN DE PRODUTOS ELETROELETRÔNICOS:
Contribuições para a Gestão da Obsolescência
Belo Horizonte
2012
IGOR GOULART TOSCANO RIOS
REQUISITOS AMBIENTAIS NO PROCESSO
DE DESIGN DE PRODUTOS ELETROELETRÔNICOS:
Contribuições para a Gestão da Obsolescência
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Design (PPGD) da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.
Linha de pesquisa: Design, materiais e processos. Orientadora: Profª. Drª. Rosemary do Bom Conselho Sales, Universidade do Estado de Minas Gerais. Coorientadora: Profª. Drª. Maria Regina Alvares Dias, Universidade do Estado de Minas Gerais.
Belo Horizonte
Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
2012
Aos meus pais e à minha irmã,
in memoriam:
Ana Lúcia Goulart Toscano Rios,
Kreuzer Toscano Rios e
Letícia Goulart Toscano Rios.
AGRADECIMENTOS
À Professora Rosemary Bom Conselho Sales, orientadora deste trabalho, pelo empenho e dedicação, assim como à coorientadora Professora Maria Regina Alvares Dias. A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Design da UEMG, além de todos os colegas de trabalho da Escola de Design. Um agradecimento especial a todos os designers que tiveram a disponibilidade de atender às entrevistas, cuja participação foi imprescindível para o desenvolvimento desta pesquisa.
RESUMO
RIOS, I.G.T. Requisitos ambientais no processo de design de produtos eletroeletrônicos: contribuições para a gestão da obsolescência. 2011. XXX f. Dissertação (Mestrado) - Escola de Design, Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012. A rápida obsolescência dos produtos eletrônicos de consumo tem provocado impactos ambientais, traduzidos pela redução de recursos naturais e aumento na produção de resíduos tóxicos, devido à aceleração da demanda por novos produtos. Os resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE), também denominados lixo eletrônico ou lixo tecnológico (e-waste), transformaram-se na mais rápida produção de fluxo de lixo do mundo pós-industrializado. Buscar soluções que venham minimizar os reflexos negativos da destinação inadequada ao final do ciclo de vida desses produtos vem se constituindo em preocupação mundial. As legislações específicas no cenário internacional buscam restringir o descarte inadequado desses resíduos, promovendo a substituição de substâncias tóxicas e incentivando a reciclagem e a reciclabilidade, a partir dos conceitos de responsabilidade estendida ao produtor, logística reversa e análise do ciclo de vida. O sistema de produção e de gestão da obsolescência desses produtos começa a ser revisto por força da legislação. No Brasil, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, sancionada em 2010, constitui um marco para a regulação dos REEE no país. Percebe-se que uma vertente de profissionais do design procura desenvolver estratégias de flexibilidade, a fim de contribuir para o gerenciamento da obsolescência, abrindo novas possibilidades de produção, de uso, de manutenção e de descarte de novos produtos. Nesse sentido, a presente pesquisa investigou a legislação atual e a literatura pertinente, buscando identificar os requisitos ambientais de projeto voltados para a gestão da obsolescência que são mais utilizados por empresas de design no desenvolvimento de projetos de produtos eletrônicos de consumo, atuantes na cidade de Belo Horizonte. Utilizaram-se, para a investigação, visitas técnicas e entrevistas semiestruturadas. Os resultados mostram que as práticas ambientais ainda são ações pontuais e superficiais, e distantes dos procedimentos da legislação específica. Palavras-chave: Design de Produto. Requisitos Ambientais. Produtos eletroeletrônicos. Obsolescência. Flexibilidade.
ABSTRACT
RIOS, I.G.T. Requisitos ambientais no processo de design de produtos eletroeletrônicos: contribuições para a gestão da obsolescência. 2011. XXX f. Dissertação (Mestrado) - Escola de Design, Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.
The quick obsolescence of consumer electronics has caused environmental problems, reflected in the reduction of natural resources and in the increase of waste production, due to the accelerating demand for new products. Waste electrical and electronic equipment (WEEE), also known as electronic waste (e-waste), became the fastest waste stream production of post-industrialized world. Seeking solutions to minimize the negative effects of production, use and improper disposal of these products are becoming an global concern. The development of specific legislation on the international scene, starting from the directives WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment) and RoHS (Restriction of Hazardous Substances) restricts the inadequate disposal, promotes the replacement of toxic substances and encourages recycling and recyclability, through concepts like extended producer responsibility, reverse logistics and life-cycle analysis. In Brazil, the National Solid Waste Policy, enacted in 2010, classifies e-waste as special waste, and requires manufacturers, importers and retailers of electronic equipment to promote reverse logistics, recycling and proper final disposal. The system of production and the obsolescence management of these products begins to be reviewed under the law. One aspect of product design seeks to develop new possibilities in obsolescence management, through new opportunities on production, use, maintenance and disposal. In this sense, this research aims to verify the state of art of consumer electronics design in Minas Gerais, regarding the identification of design environmental requirements.
Keywords: Product Design. Environmental Requirements. Electrical and Electronic Equipment. Obsolescence. Flexibility.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figuras
Figura 1 - Dimensões da sustentabilidade ...................................................................... 27
Figura 2 - Modelo de 1930 da DuPont para GM G Le Mans Speedster. ........................ 32
Figura 3 - Distribuição geográfica de trabalhadores do setor eletroeletrônico no
Brasil ......................................................................................................................... 38
Figura 4 - Total de computadores no Brasil até 2017 ..................................................... 39
Figura 5 - Importações em USD bilhões e participação das importações no mercado
doméstico de bens finais ........................................................................................... 41
Figura 6 - Composição comumente presente nos REEEs ............................................... 40
Figura 7 - Etapas de pós-consumo dos equipamentos eletrônicos .................................. 48
Figura 8 - Placas de circuito de equipamentos eletrônicos ............................................. 49
Figura 9 - Fluxograma simplificado do processo de reciclagem dos REEEs ................. 50
Figura 10 - Modelo de gestão de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos
para o município de Belo Horizonte. ........................................................................ 48
Figura 11 - Destinação final do lixo urbano ................................................................... 62
Figura 12 - O que muda com a Lei Política Nacional de Resíduos Sólidos ................... 63
Figura 13 - Metodologia de design ................................................................................. 72
Figura 14 - Sistema de produção ecoeficiente ................................................................ 71
Figura 15 - Roda de estratégias de ecodesign ................................................................. 72
Figura 16 - Ciclo de vida fechado do produto ................................................................ 75
Figura 17 - Estrutura para avaliar o ciclo de vida ........................................................... 79
Figura 18 - Monstro híbrido (monstrous hybrid). ........................................................... 83
Figura 19 - Recompute: computador desktop em papelão ondulado. ............................. 84
Figura 20 - Carenagem para notebook em liga papel-PP . .............................................. 84
Figura 21 - Design para a atualização e adaptabilidade: computador Dell. ................... 86
Figura 22 - iPhone .......................................................................................................... 90
Figura 23 - Projeto para um computador por criança: One Laptop Per Child
(OLPC). .................................................................................................................... 91
Figura 24 - Projeto conceitual: tablet OLPC .................................................................. 92
Figura 25 - Modular Sound System ................................................................................. 92
Figura 26 - Customização em massa promovida pela empresa Shapeways. .................. 90
Figura 27 - Headphone customizado .............................................................................. 91
Figura 28 - Infográfico: modelo tradicional de venda do produto eletroeletrônico ........ 92
Figura 29 - Infográfico comparativo consumo PSS ........................................................ 93
Figura 30 - Presença de trabalhadores no setor eletroeletrônıco no país. ....................... 96
Figura 31 – Localização geográfica dos polos de Belo Horizonte e Santa Rita do
Sapucaí. ................................................................................................................... 101
Gráficos
Gráfico 1 - Experiência profissional no setor eletroeletrônico. .................................... 103
Gráfico 2 - Quantidade de projetos desenvolvidos no setor eletroeletrônico. .............. 104
Gráfico 3 - Porte das indústrias de eletroeletrônicas atendidas. ................................... 105
Gráfico 4 - Destino dado aos produtos eletroeletrônicos. ............................................. 105
Gráfico 5 - Expectativa de vida de equipamentos. ....................................................... 106
Gráfico 6 - Importância da inserção de requisitos ambientais no briefing do projeto. . 106
Gráfico 7 - Prioridades de qualidade atribuídas ao design de eletroeletrônicos ........... 111
Gráfico 8 - Importância atribuída à sustentabilidade (média dos profissionais) .......... 112
Gráfico 9 - Fontes de informações utilizadas pelos profissionais ................................ 112
Gráfico 10 - Escolha de ferramentas de convencimento pelos profissionais ............... 113
Gráfico 11 - Conhecimento da legislação por parte dos profissionais ......................... 114
Gráfico 12 - Grau de conhecimento e conduta sobre “obsolescência, flexibilidade e
legislação” ............................................................................................................... 114
Gráfico 13 - Estratégias de flexibilidade empregadas (média dos profissionais) ......... 115
Gráfico 14 - Influência dos designers sobre os atributos de design (média dos
profissionais) ........................................................................................................... 116
Gráfico 15 - Necessidade de informações para designers (média dos profissionais) ... 117
Gráfico 16: Certificação ou norma ambiental nas empresas ........................................ 115
Gráfico 17: Políticas ambientais nas empresas ............................................................ 115
Gráfico 18: Certificação ou norma ambiental aplicável à indústria eletroeletrônico ... 116
Gráfico 19: Especificação de material em função da certificação ambiental ............... 116
Gráfico 20: Consequências dos componentes tóxicos dos aparelhos eletrônicos ........ 117
Gráfico 21: Requisitos ambientais de projeto aplicados à eletroeletrônicos ................ 117
Gráfico 22: Legislação ambiental aplicada à indústria de eletroeletrônico .................. 118
Quadros
Quadro 1 - Tipos de obsolescência..................................................................................31
Quadro 2 - Substâncias tóxicas presentes em equipamentos eletrônicos: efeitos ao
meio ambiente e à saúde. .......................................................................................... 42
Quadro 3 - Geração de REEE no Brasil, Minas Gerais e Belo Horizonte. ..................... 50
Quadro 4 - Regulamentações internacionais: REEE ...................................................... 62
Quadro 5 - Regulamentações nacionais: REEE .............................................................. 69
Quadro 6 - Estratégias de flexibilidade nas funções de uso, técnicas e simbólicas do
projeto de design....................................................................................................... 82
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Tempo médio para troca de eletroeletrônicos pelo consumidor de Belo
Horizonte .................................................................................................................. 35
Tabela 2 - Indicadores gerais da indústria eletroeletrônica ............................................ 39
Tabela 3 - Faturamento da indústria eletroeletrônica por área ....................................... 40
Tabela 4 - Balança comercial da indústria eletroeletrônica brasileira ............................ 41
Tabela 5 - Regulamentações WEEE por categorias de produtos cobertas ..................... 59
Tabela 6 - Entraves declarados para a adoção de requisitos ambientais ...................... 107
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
ABINEE Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACV Avaliação do Ciclo de Vida
ADP Associação dos Designers de Produto
APA Agência Portuguesa do Ambiente
BDMG Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais
CD Compact Disc
CEA Consumer Electronics Association
CEMPRE Compromisso Empresarial para Reciclagem
CFC Clorofluorcarbono
CLM Council of Logistics Management
CMD Centro Minas Design
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
CRT Cathode Ray Tube
DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
DVD Digital Versatile Disc
EMPA Swiss Federal Laboratories for Materials Testing and Research
EPA Environmental Protecion Agency
EPR Extended Producer Responsibility
EUA Estados Unidos da América
FEAM Fundação Estadual de Meio Ambiente
FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
FIP Fundação Israel Pinheiro
FUMEC Fundação Mineira de Educação e Cultura
GM General Motors
GPS Global Positioning System
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICSID International Council of Societies of Industrial Design
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IDSA Industrial Designers Society of America
IEL Instituto Euvaldo Lodi
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
ISO International Standard Organizarion
LCA Life Cycle Analysis
LCD Liquid crystal display
NBR Norma Brasileira de Referência
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OECD Organization for Economic Cooperation and Development
OLPC On Laptop Per Child
ONU Organização das Nações Unidas
PBB Bifenilos polibromados
PC Personal computer
PCB Bifenilas policloradas
PDBE Éter difenil polibromados
PERS Política Estadual dos Resíduos Sólidos
PGIREEE Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos de Equipamentos Elétricos
e Eletrônicos
PIB Produto interno bruto
PNRS Política Nacional dos Resíduos Sólidos
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PP Polipropileno
PRODABEL Programa de Desenvolvimento de Informática, Informações e Dados de
Belo Horizonte
PSS Product/Service System
PUC Pontifícia Universidade Católica
PVC Cloreto de polivinila
REEE Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos
RMBH Região Metropolitana de Belo Horizonte
RoHs Restriction of the Use of Certain Hazardous Substances in Electrical and
Electronic Equipment
SEBRAE Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SETAC Society of Environmental Toxicology and Chemistry
SINDVEL Sindicato dos Empregados em Empresas de Segurança, Vigilância,
Transporte de Valores, Segurança Orgânica e Escolta Armada
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente
SLU Serviço de Limpeza Urbana
TC Comitê Técnico
UEMG Universidade do Estado de Minas Gerais
UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UNA União de Negócios e Administração Ltda.
UNATEC Centro Universitário UNA
UNEP United Nations Environment Programme
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
UniBH Centro Universitário de Belo Horizonte
URPV Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes
VHS Video Home System
WEEE Waste Electrical and Electronic Equipment
WWF Rede independente de conservação da natureza
SUMÁRIO1
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 19
1.1 Objetivos ..................................................................................................................... 22
1.2 Justificativa ................................................................................................................. 23
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 25
2.1 Desenvolvimento sustentável ...................................................................................... 25
2.2 Design e sustentabilidade ............................................................................................ 28
2.3 Consumo, cultura e sociedade. .................................................................................... 29
2.4 Design e obsolescência ............................................................................................... 31
2.5 Indústria de equipamentos eletroeletrônicos ............................................................... 36
2.5.1 O setor de eletroeletrônico no Brasil .......................................................................... 37
2.5.2 Resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) ................................................ 42
2.5.3 Resíduos. coleta e reciclagem dos REEEs.................................................................. 43
2.5.3.1 Impactos regionais dos resíduos de eletroeletrônicos................................................48
2.6 Legislação específica.......................................................................................................51
2.6.1 Legislação internacional ............................................................................................ 54
2.6.2 Legislação nacional .................................................................................................... 62
2.7 Requisitos ambientais de projeto no design ................................................................ 71
2.7.1 Avaliação de ciclo de vida (ACV) ............................................................................. 74
2.7.2 Flexibilidade ............................................................................................................. ..81
2.7.2.1 Estratégias de flexibilidade para produtos eletroeletrônicos.................................... 81
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................... 95
3.1 Local de estudo e amostragem .................................................................................... 95
3.2 Etapas da pesquisa .................................................................................................... 102
3.3 Coleta de dados ......................................................................................................... 100
1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas aprovadas pelo Acordo Ortográfico assinado entre os países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em vigor no Brasil desde 2009. E foi formatado de acordo com a ABNT NBR 14724 de 17.04.2011.
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................... 103
4.1 Perfil dos entrevistados ............................................................................................. 103
4.2 Visão estratégica do profissional .............................................................................. 110
4.3 Conhecimento do profissional sobre certificações .................................................... 117
5 CONCLUSÕES .......................................................................................................... 122
5.1 Sugestões para estudos futuros.....................................................................................118
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 122
APÊNDICES......................................................................................................................129
19
INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea é caracterizada por rápidas e constantes transformações
sociais, culturais e econômicas: as pessoas modificam continuamente seu comportamento,
tornando suas necessidades sempre mutantes. Essa nova forma de ser é caracterizada pelo
aumento da mobilidade em paralelo à implantação do capital sobre o território. O
nomadismo do homem contemporâneo leva o indivíduo a desenvolver novas organizações
familiares menos duradouras, casais sem filhos e grupos vivendo em estruturas familiares
sem laços de parentesco. O homem do século XXI mostra-se um sujeito que se comunica e
trabalha à distância e que busca sua identidade a partir do contato com o outro, com a
informação, com a mídia e com os objetos de consumo (TRAMONTANO, 2003). Comprar
tornou-se, portanto, um ato de elaboração de identidade e, de certa forma, um ato de
expressão, identificação e comunicação (FEATHERSTONE, 1997).
A população do planeta, conforme o Census Bureau (2011), atinge hoje mais de 7 bilhões
de habitantes. A acelerada demanda por produtos e serviços para atender ao consumo dessa
população crescente vem se constituindo em grande preocupação tanto para o poder
público quanto para a sociedade. O forte incentivo por parte das autoridades
governamentais para elevar a competitividade entre as empresas e promover a dinamização
da economia leva ao estímulo da população ao consumo. Em consequência, tem-se um
avanço linear unidirecional das economias globais, gerando o desequilíbrio proveniente da
acelerada extração de matérias-primas, aumento do gasto de água e energia elétrica, além
da geração de poluição (KAZAZIAN, 2005). Segundo Mehta e Monteiro (2008), esse
desequilíbrio está fortemente relacionado ao crescimento populacional e à urbanização do
planeta. A previsão, segundo a Rede Independente de Conservação da Natureza (WWF) -
Relatório Planeta Vivo (WWF, 2010), é de que a humanidade irá utilizar recursos
equivalentes à taxa de dois planetas por ano em 2030 e de 2,8 planetas por ano em 2050.
Emerge dessa circunstância a obsolescência cada vez mais rápida dos produtos industriais,
reflexo da euforia que acompanhou o desenvolvimento industrial da Europa e dos Estados
Unidos, na primeira metade do século XX. Em pouco tempo a obsolescência colocou a
humanidade frente a um dos mais graves fatores de impacto ambiental a serem
20
enfrentados: a gestão dos resíduos desse processo (MARLET, 2005). Surge então a
necessidade de buscar alternativas para a destinação final dos resíduos provenientes da
sociedade de consumo.
O conceito de desenvolvimento sustentável converteu-se em um dos maiores desafios
históricos e políticos do nosso tempo. O termo sustentabilidade, muitas vezes usado para
dar força ao antigo desejo filosófico de uma sociedade mais humana, passa a dominar
grande parte do discurso atual, em diferentes campos de conhecimento (VEZZOLI, 2010).
Um segmento que vem chamando a atenção devido à sua rápida obsolescência são os
produtos eletroeletrônicos. Essa indústria transformou-se no maior fluxo de produtos
obsoletos do mundo pós-industrializado. De acordo com a organização não governamental
Greenpeace (2011), estima-se que são produzidos cerca de 50 milhões de toneladas de lixo
eletrônico no mundo a cada ano e esse tipo de rejeito responde hoje por 5% de todo o lixo
sólido do mundo. Além disso, esses resíduos contêm substâncias tóxicas danosas ao meio
ambiente e à saúde humana. Conhecidos pela sigla REEE, os resíduos de equipamentos
elétricos e eletrônicos protagonizam políticas ambientais dos governos, que começam a
implementar legislação específica.
A Convenção de Basileia (SÃO PAULO, 1997) forma a base para diversas legislações
internacionais específicas, regulando a importação e exportação de resíduos tóxicos e
perigosos. O crescente aumento da geração de REEE na União Europeia suscitou, em
2002, pelo Parlamento Europeu (2003a; 2003b), duas diretivas para Waste Electrical and
Electronic Equipment (WEEE) e outra para substâncias perigosas, Restriction of the Use of
Certain Hazardous Substances in Electrical and Electronic Equipment (RoHs), que
restringem o uso de substâncias tóxicas e perigosas nesses produtos e formaram a
referência para o desenvolvimento de legislações específicas em diversos países da Europa,
na China e nos Estados Unidos.
No Brasil, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº 12.305/10 sancionada
em 2010, regula a questão, classificando o lixo eletrônico como especial e
responsabilizando indústrias, importadores e comerciantes pela promoção da logística
reversa, reciclagem e disposição final adequada desses produtos. A legislação, embora
21
recente, fornece instrumentos importantes que permitem o avanço necessário ao
enfrentamento dos principais problemas ambientais do segmento (BRASIL, 2010).
Entender o processo de desenvolvimento de produtos no segmento industrial de
eletroeletrônicos, analisando o papel dos diferentes atores no processo de fabricação, na
tomada de decisão sobre os produtos e serviços, além dos aspectos ambientais relacionados
a eles, torna-se fator decisivo na busca da sustentabilidade desses sistemas produtivos.
Considerar que a responsabilidade dos produtores ultrapassa o bom funcionamento na fase
de uso, estendendo-se às questões de desuso e descarte final, torna-se fundamental.
Projetos que busquem repensar a gestão da obsolescência nesse cenário devem ser
priorizados e viabilizados, já que a preservação ambiental depende de diferentes fatores
que envolvem desde a legislação e as políticas públicas até aspectos sociais e culturais
(MANZINI; VEZZOLI, 2008).
Por muito tempo as áreas da publicidade e moda foram consideradas responsáveis pela
criação de novos desejos. Contudo, são raras, até o presente, as reflexões sobre o papel do
design para a consolidação desse quadro da obsolescência. Sudjic (2010) relata em seu
livro, “A linguagem das coisas”, passagens em que ele próprio se vê envolvido pelo poder
do design, adquirindo e enfarando-se dos objetos tão rapidamente quanto qualquer um de
nós. A constatação do autor é de que usamos o design não apenas para suprir necessidades,
mas para sedimentar, cada vez mais, as bases de uma sociedade regulada por moda,
aparência e ostentação, na qual a fugaz satisfação da aquisição é causa e consequência
direta da rapidez da obsolescência de nosso desejo. Sudjic (2010) disseca nossa vinculação
contemporânea com os objetos, o marketing e o design e afirma que a relação com nossas
posses nunca é direta, mas uma mescla de racionalidade e inocência. A ideia, segundo ele,
é de que os objetos, longe de serem inocentes, são interessantes demais para serem
ignorados.
A preocupação acerca destas questões se estende aos profissionais do design, visto que o
crescimento da oferta e da demanda por novos produtos está intimamente ligado ao
trabalho dos designers.
22
Neste sentido, a presente pesquisa teve como premissa investigar os principais requisitos
ambientais relacionados ao processo de desenvolvimento de projetos de design de produtos
eletroeletrônicos, voltados para a gestão da obsolescência. Analisaram-se as estratégias de
projeto empregadas por empresas de design em sua atuação nos principais polos industriais
de base tecnológica do estado de Minas Gerais. Para se atingir essas metas, foi realizada
revisão da literatura e da legislação pertinentes e foram realizadas visitas técnicas e
entrevistas semiestruturadas, a partir de investigação empírica das atividades da rotina de
trabalho, de empresas de design atuantes na cidade de Belo Horizonte e imediações. Os
dados coletados foram confrontados com as informações analisadas na revisão da
literatura.
1.1 Objetivos
Esta pesquisa tem como objetivo investigar os principais requisitos ambientais de projeto
utilizados por empresas de design no processo de desenvolvimento de produtos
eletroeletrônicos, relacionados às questões da legislação específica e da gestão da
obsolescência desse tipo de produto.
São objetivos específicos:
• Avaliar os principais problemas ambientais relacionados a produtos
eletroeletrônicos de consumo e os impactos de seus resíduos no meio ambiente.
• Levantar a legislação pertinente que regula as políticas de controle de REEE nos
âmbitos internacional, nacional e regional e seus impactos na produção desses
produtos.
• Verificar abordagens contemporâneas de design que contribuam para a gestão da
obsolescência dos produtos eletrônicos de consumo em seu ciclo de vida, buscando
recursos de flexibilidade.
• Identificar os requisitos ambientais e as estratégias de gerenciamento da
obsolescência que são utilizadas por designers atuantes no setor eletroeletrônico em
Belo Horizonte.
23
1.2 Justificativa
No Brasil, a indústria de eletroeletrônicos tem apresentado acentuado crescimento no
número de vendas nos últimos anos. Mais especificamente em Minas Gerais, o número de
domicílios com equipamentos dessa natureza mostra-se cada vez mais alto
(FECOMERCIO, 2010). O crescimento expressivo do comércio de produtos eletrônicos
vem atraindo empresas para esse mercado que, em alguns casos, iniciam suas operações
sem planejamento adequado aos requisitos ambientais ou à gestão da obsolescência da sua
produção. Cerca de 60% do lixo brasileiro incluem algum tipo de resíduo eletrônico. Boa
parte desse material acaba nos lixões, sem qualquer tipo de tratamento adequado.
Componentes tóxicos que normalmente fazem parte desses produtos, como: chumbo,
mercúrio, cádmio, arsênio, clorofluorcarbono (CFC), éter difenil polibromado (PBDE) e
bifenilas policloradas (PCB), pela ação da chuva, acabam alcançando e contaminando o
lençol freático (RODRIGUES, 2007; BEZERRA, 2009; DEA JÚNIOR; ROSA;
SAMPAIO, 2010; FRANCO; LANGE, 2011; NATUME; SANT´ANNA, 2011).
Apesar de serem caracterizados pelo curto ciclo de vida, os aparelhos eletroeletrônicos
normalmente são projetados com materiais duradouros, com componentes híbridos de
difícil reciclagem, além de não contemplarem possibilidades de adaptação, atualização,
transformação, personalização ou facilidade de desmontagem e separação de materiais.
Sendo assim, esta pesquisa se justifica, uma vez que pretende identificar requisitos e
estratégias ambientais utilizadas no processo de desenvolvimento de produtos, no sentido
de promover a gestão da obsolescência.
Apesar do crescente interesse sobre o tema, são poucas as pesquisas encontradas na
literatura que tangenciam os conceitos de gestão da obsolescência no processo de projeto
de design de produtos eletroeletrônicos. Podem-se destacar alguns estudos, como o de
Platcheck e Kindlein (2005), que propõem a inclusão de requisitos de ecodesign para o
desenvolvimento de equipamentos eletroeletrônicos mais sustentáveis. Outro estudo
relacionado aos produtos eletrônicos de consumo foi realizado Zacar (2010), que sugere
estratégias de flexibilidade para o gerenciamento da obsolescência de aparelhos celulares.
24
Silva e Oliveira (2008) relatam estudo realizado com designers atuantes em cinco estados
brasileiros a respeito do grau de conhecimento de ferramentas de ecodesign e quais seriam
suas expectativas sobre essas ferramentas para que sejam efetivamente úteis e de fácil
utilização. A pesquisa revelou que os designers são conscientes dos problemas ambientais
e são motivados a desenvolver produtos menos impactantes. No entanto, não sabem bem
como fazê-lo e desconhecem os recursos para apoiá-lo. Os autores chamam a atenção para
a formação deficiente dos cursos de design, o despreparo dos docentes em relação ao tema,
bem como a falta de entendimento dos empresários e consumidores sobre as questões
ambientais e suas consequências.
Pretende-se assim, gerar uma contribuição para a pesquisa em design e possíveis
aperfeiçoamentos nas relações econômicas entre projeto, produção, uso, reuso e descarte
dos produtos eletroeletrônicos de consumo. Além disso, pretende-se colaborar para
aperfeiçoar as disciplinas relacionadas ao projeto de design na formação acadêmica dos
designers industriais.
25
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Desenvolvimento sustentável
As primeiras preocupações ambientais datam da década de 1960, quando foram
identificados os primeiros sinais dos efeitos nocivos das atividades industriais e do
consumo excessivo sobre o meio ambiente. A ideia de desenvolvimento sustentável teve
origem no conceito de ecodesenvolvimento proposto em 1972 na Primeira Conferência
Internacional sobre o Meio Ambiente realizada em Estocolmo pela Organização das
Nações Unidas (ONU). As discussões ambientais começaram a ser compreendidas de
forma mais abrangente, evoluindo, mais tarde, para o discurso da sustentabilidade. Em
1987, publicou-se o documento “Nosso Futuro Comum” (Our Common Future), também
conhecido como Relatório Brundtland, conforme descrito em Comissão Mundial sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991. O documento defendia a ideia de que o
crescimento sustentável contempla crescimento econômico para humanidade, com a
preservação do meio ambiente e melhora das condições sociais para as gerações futuras.
Tal relatório serviu de base para a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, também denominada Eco-92,
quando o discurso foi legitimado e difundido amplamente. A Conferência Eco-92 serviu
como marco de alerta sobre as questões ambientais sofridas pelo meio ambiente e geradas
principalmente pelos países desenvolvidos, tornando-se uma das metas da Agenda 21.
Considerada uma grande iniciativa no âmbito da sustentabilidade, a Agenda 21 teve
aprovação por parte dos governos e instituições de 179 países, onde foi proposto que as
nações deveriam se comprometer a estudar soluções para os problemas socioambientais
como: combate à pobreza, ao desmatamento, à desertificação e à seca, fortalecimento do
comércio e da indústria e a gestão dos impactos e resíduos tóxicos (BRASIL, 2000).
A Rio +10, ou Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável, reuniu cerca de 100 chefes de Estado e mais de 15 mil representantes da
sociedade civil. O evento, que aconteceu em 2002 na cidade de Johannesburgo (África do
Sul), teve o intuito de avaliar o progresso feito na década transcorrida desde a Eco-92 na
questão ambiental. A assembleia detectou a necessidade de ratificação e implementação
26
mais eficiente das convenções e acordos internacionais referentes a ambiente e
desenvolvimento. Assim, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU sugeriu a
realização de uma nova cúpula mundial.
Em 2009, aconteceu a 15ª Conferência da ONU sobre o clima, com a participação de 194
países onde foi elaborado o Acordo de Copenhague. O acordo teve como premissa a
redução de 20% das emissões de gases do efeito estufa até 2020, pelos países
desenvolvidos. Esses países se comprometeram a cortar 80% de suas emissões até 2050,
limitando em 2oC o aumento médio da temperatura global. Em fevereiro de 2010 a ONU
divulgou que 55 países participantes da Conferência apresentaram suas metas em relação à
diminuição das mudanças climáticas. A União Europeia propõe corte de 20 a 30% nas
emissões em relação aos níveis de 1990, se outras nações ampliarem suas ações. Os
Estados Unidos da América (EUA) prometem corte de 17% em relação aos níveis de 2005.
A China se compromete a tentar reduzir 40 a 45% as emissões por unidade do produto
interno bruto (PIB) até 2020, em relação a 2005. A expectativa é firmar um novo tratado
climático global para entrar em vigor a partir de 2013, durante reunião no México
(INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA - IPEA, 2011).
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida também
como Rio+20, foi realizada em junho de 2012 na cidade brasileira do Rio de Janeiro, cujo
objetivo foi discutir por que os compromissos da Rio-92 não foram plenamente cumpridos
e sobre a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável. A
Rio+20 contou com a participação de chefes de estados de 190 nações e abordou
principalmente dois temas centrais: a economia verde, a partir de novos modelos de
produção, e a governança internacional, que indica estruturas para alcançar esse futuro
desejado. A expectativa de que a Rio+20 pudesse transformar conceitos adotados na Rio-
92 em ações concretas para o desenvolvimento sustentável não se confirmou - a cúpula
naquele ano foi bem mais fluida que a de 20 anos atrás (O GLOBO, 2012).
Como definição, o desenvolvimento sustentável é impreciso e ambíguo, sendo sua
definição mais conhecida a proposta no Relatório Nosso Futuro Comum: “aquele que
permite satisfazer nossas necessidades atuais sem comprometer a capacidade de satisfazer
as necessidades das gerações futuras”. Considerando o contexto atual do desenvolvimento
27
sustentável, autores como Norman e MacDonald (2003) afirmam que esse
desenvolvimento estabelece objetivos multidimensionais ao considerar aspectos
econômicos, ambientais e sociais, o Triple Bottom Line (ELKINGTON, 1994), também
conhecido como tripé da sustentabilidade (FIG. 1). A dimensão econômica é aquela em
que as organizações devem ser capazes de produzir produtos e serviços continuamente; a
dimensão ambiental procura reduzir as agressões ao meio ambiente, promover a melhoria
das condições ambientais e evitar o desperdício; e a dimensão social busca avaliar o
impacto do desenvolvimento econômico no sistema social em que ele atua. Essas
dimensões, definidas como metas, são ações ambientalmente responsáveis, socialmente
justas e economicamente viáveis.
FIGURA 1 - Dimensões da sustentabilidade
Fonte: adaptado de Elkington (1994).
A partir da conscientização sobre as consequências do modo de vida da humanidade sobre
o ambiente, a perspectiva da sustentabilidade coloca em discussão nosso atual modelo de
desenvolvimento. A procura por um novo pressuposto para o processo de desenvolvimento
busca soluções que podem seguir múltiplos caminhos, como os da eficiência, a partir de
soluções tecnológicas e mudanças culturais visando a não interferência no ambiente natural
(MANZINI; VEZZOLI, 2008).
Socioambiental Socioeconômico
Ecoeficiente
28
2.2 Design e sustentabilidade
De modo geral, a sustentabilidade é uma questão-chave da sociedade contemporânea e seu
significado não está ligado somente às questões ambientais, ainda que se encontre aí sua
origem. A atuação de profissionais de diferentes setores econômicos integra-se ao processo
de desenvolvimento sustentável, no sentido de minimizar os impactos (ambientais e
sociais) causados pela ação do profissional ao ambiente. Nesse sentido, a atuação do
designer é relevante, por tratar tanto das questões relacionadas ao processo produtivo,
quanto daquelas ligadas ao consumo e comportamento. Muitos dos produtos e serviços
estão, de alguma forma, vinculados às decisões dos designers, que exercem influência
sobre os processos de produção, os materiais utilizados, os processos de distribuição,
utilização e descarte. Eliminar o conceito de desperdício, reduzir o movimento e a
distribuição de bens, utilizar mais pessoas e menos matéria e contar com fluxos de energia
natural são atitudes atuais de sustentabilidade (THACKARA, 2008).
Manzini (1994) defende que os designers tomem a frente na solução dos problemas da
sustentabilidade, transformando-se em agentes ativos na transição da sociedade,
modificando sua cultura e sua práxis para a promoção de estilos de vida sustentáveis. Sob a
ótica do design para a sustentabilidade, Manzini (1994) considera que uma forma de se
criarem novas propostas cultural e socialmente aceitáveis e que vise conectar o que é
tecnicamente possível ao ecologicamente necessário é definido como ecodesign. O
conceito também é encontrado na definição proposta pelo International Council of
Societies of Industrial Design (Conselho Internacional das Sociedades de Design
Industrial) (ICSID, 2012), que diz que uma das principais missões do design é analisar e
avaliar as interconexões organizacionais, estruturais, funcionais, expressivas e econômicas,
com o objetivo de favorecer a sustentabilidade global e a proteção ambiental. O conceito se
estende quando diz que o design deve propiciar benefícios para toda a comunidade
humana, incluindo usuários, indústria e demais protagonistas do mercado na esfera social;
apoiando a diversidade cultural na esfera cultural; fornecendo produtos, serviços e sistemas
coerentes com sua própria complexidade.
Também é pertinente o conceito proposto por El-Haggar (2007), que indica 7 Rs como
uma evolução da regra dos 3 Rs (redução, reutilização, reciclagem). Ele introduz o R
29
para a recuperação de componentes e matérias-primas a partir do tratamento sustentável
do lixo. Insere também os termos repensar e renovar, que implicam uma revisão do
sistema de produção, distribuição e descarte, envolvendo inovações tecnológicas à solução
dos problemas; e, por último, a regulação, sem a qual se torna difícil a implementação de
qualquer outra das regras.
Desta forma, o design pode desempenhar importante papel na proposição de novos
cenários e sistemas baseados nos requisitos da sustentabilidade. Essa transição exige
abordagem ampla e integrada das competências e atribuições do profissional, tornando
possível passar do projeto focado no produto para projetos sistêmicos baseados nos
requisitos ambientais e sociais, além dos econômicos (BOSSE et al., 2006).
2.3 Consumo, cultura e sociedade
O consumo é um processo social que ganhou força e consolidou-se ao longo da história,
sendo o responsável pela denominação sociedade de consumo. Segundo Campbell e
Barbosa (2006), o termo deriva do latim consumere, que se refere ao esgotamento ou
destruição de algo, e do termo anglo-saxônico consummation, que, paradoxalmente,
significa somar e adicionar. Segundo os autores, apesar de elusivo e ambíguo, o termo tem
importante papel na mediação das relações sociais e na construção de identidades de
grupos e pessoas.
A expressão “sociedade de consumo" traz alguns embaraços conceituais, já que o ato de
consumir é uma atividade presente em toda e qualquer sociedade humana, para satisfazer
uma das necessidades básicas ou supérfluas, conforme define Barbosa (2010). Para a
autora, todas as sociedades humanas consomem para se reproduzir física e socialmente,
manipulando artefatos e objetos da cultura material para fins simbólicos de diferenciação,
pertencimento, identidade e gratificação individual. Portanto, o termo consumo, na
expressão “sociedade de consumo”, sinaliza para algum tipo de consumo particular e para
um tipo de sociedade específica com arranjos institucionais, princípios classificatórios e
valores particulares (BAUDRILLARD, 2000). O termo, para Barbosa (2010), está
frequentemente associado a outros conceitos como sociedade de consumidores, cultura de
30
consumo, cultura de consumidores e consumismo, que são, na maioria das vezes, usados
como sinônimos. Apesar dos termos designarem dimensões da realidade muito próximas
uma das outras, a autora considera possível diferenciar sociedade de consumo de cultura de
consumo, uma vez que elas representam esferas da vida social e arranjos institucionais
desvinculados uns dos outros. Julier (2008) refere que a cultura do consumo se ocupa de
um amplo panorama, em que a aquisição e o uso de determinado bem representam os
valores e sistemas que se reproduzem e articulam por meio do próprio consumo.
Portanto, existem duas vertentes no estudo do consumo: a sociologia do consumo e a
antropologia cultural. Para autores da sociologia do consumo, como Fredric Jameson,
Zygmunt Bauman, Jean Baudrillard, entre outros, a cultura do consumo é a cultura da
sociedade pós-moderna (BARBOSA, 2010). O estudo volta-se para a relação íntima e
causal entre consumo, estilo de vida, reprodução social e identidade e analisa um conjunto
de atributos negativos atribuídos ao consumo, como o materialismo, a superficialidade e a
perda de autenticidade das relações sociais. Para esses autores a crítica social sobressai-se
em relação à fundamentação empírica e sociológica.
No campo da antropologia cultural, Don Slater, Daniel Miller, Grant McCracken, Collin
Campbel, Pierre Bourdieu e Mary Douglas abordam a sociedade do consumo a partir de
temas que não são discutidos por autores pós-modernos. Eles analisam as razões que
determinam decisões de escolha de certos tipos de bens, em dada circunstância. Estudam o
significado do consumo como processo mediador de relações e práticas sociais, a cultura
material e o seu impacto no desenvolvimento da subjetividade humana. Investigam como o
consumo se conecta com outras esferas da experiência humana e permitem melhor
compreensão dos múltiplos processos sociais e culturais. Para Slater (2002, p. 17), o
consumo é sempre e em todo lugar um processo cultural, mas a “cultura do consumo é
singular e específica: é o modo dominante de reprodução cultural desenvolvido no
Ocidente durante a modernidade”.
O caráter negativo atribuído à atividade de consumir faz com que só seja percebida a
dimensão supérflua, ostentatória e de abundância. A consequência dessa associação
automática e inconsciente entre consumo e ostentação, normalmente acompanhada de
debates de cunho moral e moralizante, é a confusão entre análise sociológica e crítica
31
social. “Temas como materialismo, exclusão, individualismo, hedonismo, lassidão moral,
falta de autenticidade, desagregação dos laços sociais e decadência foram associados ao
consumo desde o início do século XVII e ainda hoje permeiam as discussões”
(BARBOSA, 2010, p. 12).
Nesse contexto a autora considera importante registrar a mudança que ocorreu a partir da
década de 1980, uma vez que a crítica moral sempre fez parte das discussões sobre o
consumo. A partir dessa década o “consumo passou a despertar interesse sociológico como
um tema em si mesmo”, que se origina em duas pressuposições teóricas: a de que todo e
qualquer ato de consumo é essencialmente cultural e a de que a sociedade moderna
contemporânea é uma sociedade de consumo, o que significa “admitir que o consumo está
preenchendo, entre nós, uma função acima e além daquela de satisfação de necessidades
materiais e de reprodução social comum a todos os demais grupos sociais” (BARBOSA,
2010, p. 14). O consumo adquiriu, na sociedade contemporânea, dimensão e espaço tais
que permitem discutir com base neles questões acerca na natureza da realidade.
Nesse sentido, o ato de consumir é inerente ao comportamento humano e não um fato
criado pelos padrões da vida moderna, a qual distorceu o conceito de consumo de forma
perversa. Para Canclini (2001), o consumo, entendido como o conjunto de processos
socioculturais nos quais se realizam a apropriação e os usos dos produtos, da cultura de
consumo e até da sociedade de consumo, só recentemente se tornou uma área conceitual de
importância para as ciências sociais e humanas. Esse conceito vai de encontro ao
pensamento de Douglas e Isherwood (2006), que acreditam que o consumo é algo ativo e
constante em nosso cotidiano, pois estrutura os nossos valores de identidade, as relações
sociais e define nossos mapas culturais. Por fim, pode-se dizer que os bens materiais
desempenham papel fundamental na organização social à medida que constituem formas
visíveis de estabelecer significados culturais.
2.4 Design e obsolescência
A obsolescência pode ser entendida como toda condição em que um produto, sistema ou
processo deixa de ter utilidade. De fato, analisar suas consequências é avaliar as
32
consequências do consumismo, já que a obsolescência se constitui em uma de suas
principais ferramentas junto ao sistema de criação. Como a obsolescência faz parte do
próprio sistema de produção, vários atores podem ser responsáveis pela sua ocorrência em
determinado contexto. Em um dado momento o responsável pode ser a empresa produtora;
em outro, o próprio designer; em outro, ainda, a publicidade que se difunde sobre os
produtos. Com muita frequência, a responsabilidade não recai sobre um único agente
social, mas sobre vários ou todos os agentes (MARLET, 2005).
O uso da palavra “obsolescência” para descrever produtos de consumo ultrapassados
começou a aparecer no início do século XX, quando dispositivos domésticos modernos
substituíram fornos e lareiras e os utensílios de aço substituíram os de ferro. Essa primeira
fase da obsolescência dos produtos é chamada de obsolescência tecnológica. A segunda
fase começa em 1923, com a migração de alguns executivos da DuPont para a General
Motors (GM), adaptando estratégias de marketing da indústria têxtil e de moda na indústria
automobilística. Sem aguardar pelas inovações tecnológicas que iriam motivar os
consumidores a trocar de carro, a GM inicia uma estilização para tornar os novos carros
mais atraentes para os consumidores (FIG. 2). As mudanças realizadas na estilização nos
automóveis demonstraram que os consumidores estavam dispostos a trocar de carro
também por estilo, não apenas por melhorias tecnológicas (SLADE, 2006).
FIGURA 2 - Modelo de 1930 da DuPont para GM G Le
Mans Speedster
Fonte: http://www.carpictures.com/.
Com a incorporação sistemática da dimensão estética na elaboração dos produtos
industriais, a expansão da forma encontra seu ponto de realização final. O passo decisivo
33
nesse avanço remonta aos anos 1920 e 1930, quando, após a grande depressão nos Estados
Unidos, os industriais descobriram o papel primordial que podia ganhar o aspecto externo
dos bens de consumo no aumento das vendas. Impôs-se cada vez mais o princípio de se
estudar esteticamente a linha e a apresentação dos produtos de grande série, evoluindo
constante e sistematicamente as suas características a fim de seduzir à compra
(LIPOVETSKY, 2009).
Os produtos atualmente saem das fábricas com programação de tempo de uso, que
geralmente é curto e sua substituição é necessária em pouco tempo. Esse fenômeno vem
sendo denominado de obsolescência programada. Esse termo é um dos conceitos mais
perigosos já cunhados pelo marketing: uma ferramenta que encoraja o descarte de produtos
funcionais em troca de similares a partir da manipulação da percepção de que não são mais
úteis ou elegantes (fashionable). O termo foi publicado nos anos de 1920, mas foi
popularizado pelo designer industrial Brooks Stevens, nos anos 1950, e foi muito bem-
sucedido na indústria automobilística para convencer os americanos a comprar novos
carros. Houve, na época, verdadeira obsessão sobre tendências e estilização (SHEDROFF,
2009).
A obsolescência, segundo Kazazian (2005), pode ser classificada em dois tipos - objetiva e
subjetiva. A partir de sua motivação a obsolescência é objetiva, o que está ligado a
questões tecnológicas; e a obsolescência subjetiva, motivada por questões de percepção
estética e pelo sistema da moda. Autores como Schewe e Smith (1982) a classificam em
quatro tipos - técnica, física, adiada e a de estilo. A primeira ocorre quando uma empresa
realmente efetua melhorias tecnológicas em um produto; a física, quando os produtos são
programados para durar por um período de tempo limitado; a adiada, quando a empresa,
apesar de possuir condições de introduzir melhorias tecnológicas, não as realiza até que a
demanda pelos produtos existentes diminua ou os estoques se esgotem; e a de estilo,
quando a aparência externa de um produto é alterada para que os existentes pareçam
desatualizados. Enquanto as obsolescências técnica, física e de estilo aceleram o processo,
a adiada retarda. Muitos aspectos podem influenciar a adoção ou não dessas estratégias,
como o comportamento das empresas concorrentes, pressões legais ou exigências dos
consumidores.
34
Shedroff (2009) também caracteriza a obsolescência de quatro formas, mas com uma visão
diferente da anterior - tecnológica, estética, funcional e cultural. Algumas delas podem ser
planejadas, mas a maioria, principalmente a tecnológica e a estética, é frequentemente a
evolução natural da compreensão humana e não pode ser ignorada pelas empresas. Embora
se possa lamentar o fato de computadores, televisões, telefones celulares ou iPods
comprados dois anos atrás agora parecerem obsoletos, isso não se enquadra como uma
evolução. Esse sentimento é baseado em novas versões recém-introduzidas, com novas
características formais e novos sistemas de operação, porém sem ganhos significativos em
termos de satisfação. Se as novas propriedades forem realmente relevantes (como a
tecnologia da tela plana nos televisores ou a substituição das fitas video home system -VHS
- pelo digital versatile disc - DVD), pode-se falar em obsolescência tecnológica.
Autores como Van Nes, Cramer e Stevels (1999) ressaltam diferentes tipos distintos de
obsolescência - técnica, econômica, ecológica, estética, de recursos e psicológica. A
obsolescência técnica acontece quando um produto perde sua funcionalidade apropriada. A
econômica se refere à depreciação do valor do produto no tempo e se relaciona com os
custos de uso, manutenção e aquisição. A obsolescência ecológica deriva do
desenvolvimento de produtos com menos impacto ambiental, como lâmpadas e
equipamentos de baixo consumo energético. A estética se dá em função do mecanismo da
moda e de aspectos da percepção do usuário. A de recursos se deve ao surgimento de
novos produtos com mais funções ou recursos. Finalmente, na psicológica é atribuído um
valor emocional negativo ao produto atual ou quando um novo produto proporciona um
mais valor emocional. O QUADRO 1 organiza os autores identificados pela pesquisa de
Zacar (2010) e as diferentes classificações de obsolescência.
QUADRO 1 - Tipos de obsolescência
Autor Classificação
Kazazian (2005) Objetiva e subjetiva
Schewe e Smith (1982) Técnica, física, adiada e de estilo
Shedroff (2009) Tecnológica, estética, funcional e cultural
Van Nes, Cramer e Stevels (1999) Técnica, econômica, ecológica, estética, de recursos
e psicológica
Fonte: adaptado de Shedroff (2009) e Zacar (2010).
35
Os artefatos, mesmo que produzidos industrialmente e de forma padronizada, são
continuamente significados e ressignificados pelos usuários, na medida em que as pessoas
se relacionam, interagem com os objetos e os utilizam. Na construção desses significados
desenvolvem-se complexas relações, que envolvem diretamente as esferas de produção,
distribuição, comunicação, consumo e acesso aos bens, além das dimensões subjetivas e
socioculturais (ONO, 2009).
A substituição de antigos produtos e hábitos de consumo por novos é, geralmente,
motivada pelo produtor, e não pelo consumidor. Nem todas as inovações são destinadas a
atender às necessidades existentes, a maioria busca criar novas necessidades. A criação e a
extinção contínua das necessidades e o necessitar incessantemente geram a alta taxa de
obsolescência dos produtos (CAMPBELL; BARBOSA, 2006).
Franco (2008) elucida o comportamento de consumidores na cidade de Belo Horizonte em
relação ao descarte de aparelhos eletroeletrônicos. A pesquisa foi realizada entre residentes
de apartamentos, em lares constituídos até 20 anos e faixa salarial que varia de R$ 412,00 a
6.180,00. A Tabela 1 mostra que os consumidores trocaram de aparelhos de telefone
celular, computadores pessoais, refrigeradores e televisores com mais frequência do que os
padrões de vida útil estabelecidos pelo Environmental Protection Agency (EPA, 2007), de
geração de REEE, que são dois anos para aparelhos celulares, cinco anos para
computadores, 15 anos para refrigeradores e 13 anos para televisores.
TABELA 1 – Tempo médio para troca de eletroeletrônicos pelo consumidor de
Belo Horizonte
Fonte: adaptada de Franco (2008).
Aparelho Tempo troca (%)
Celular De 1 a 2 anos 53
Computador De 1 a 2 anos 57
Geladeira De 5 a 10 anos 57
Televisor De 5 a 10 anos 37
36
2.5 Indústria de equipamentos eletroeletrônicos
A indústria de equipamentos eletroeletrônicos encontra-se entre os segmentos mais
beneficiados pelo incremento de inovações que transforma os padrões gerenciais,
produtivos e concorrenciais em nível mundial. Atualmente é considerado um dos
responsáveis pela difusão das inovações, ganhos de produtividade, redução de custos e
estabelecimento dos preços finais dos produtos e serviços. A rápida incorporação de inputs
e procedimentos tecnológicos, apoiados e direcionados ao processamento, transmissão e
recepção de informações, impulsiona esse processo em velocidade acelerada. A integração
com os segmentos produtores de bens de consumo, bem como o aumento de sua
participação no total de valor agregado na indústria, tem feito do complexo eletroeletrônico
um elemento central de dinamismo do padrão industrial desde meados dos anos de 1970.
Essa integração estratégica no âmbito das relações interindustriais tem incorporado com
rapidez os avanços e as inovações, permitindo a rápida adoção de novos produtos e
processos (SÁ; BONFIM; TEOBALDO, 2009).
Tradicionalmente, a indústria eletroeletrônica é dividida em quatro segmentos: informática,
telecomunicações, automação e bens eletrônicos de consumo. O termo bens eletrônicos de
consumo é comumente associado apenas aos produtos da chamada “linha marrom” (áudio
e vídeo). A Associação da Eletrônica de Consumo norte-americana Consumer Electronics
Association (CEA) apresenta uma definição mais abrangente, incluindo, além dos
equipamentos de informática e processamento de dados de uso doméstico, telefones
celulares, tablets e smartphones. Essa classificação mais ampla é pertinente, uma vez que,
muitas vezes, as grandes empresas fabricantes de aparelhos de áudio e vídeo também
produzem equipamentos de informática e telecomunicações.
Diferentes autores classificam a indústria de bens eletrônicos de consumo em três linhas
básicas: produtos de vídeo, produtos de áudio e outros equipamentos. Os vídeos incluem
televisores, videocassetes, câmeras fotográficas e filmadoras; os de áudio compreendem
rádios, compact disc (CD) players, sistemas de som integrados; e outros equipamentos são
os fornos de micro-ondas, calculadoras, aparelhos telefônicos, instrumentos musicais
eletrônicos, etc. (BALBINOT; MARQUES, 2009; GONÇALVES 1997; SÁ; BONFIM;
TEOBALDO, 2009).
37
2.5.1 O setor de eletroeletrônico no Brasil
No período entre 1950 e 1970 a indústria eletrônica brasileira era caracterizada pela
atividade de empresas produtoras de bens de consumo, na maior parte dos casos com
capital de origem multinacional. Na fase de implantação, o processo de produção
praticamente se reduzia à montagem dos bens. Na década de 1960, tem-se a instalação dos
primeiros computadores eletrônicos, a maioria orientada para processamento de dados em
universidades brasileiras. Até meados da década de 1970 houve predomínio de empresas
estrangeiras, à exceção do mercado de rádio e televisores. O início das operações na Zona
Franca de Manaus atraiu filiais de empresas multinacionais, em virtude dos incentivos
fiscais e tributários. Na década seguinte, empresas como a Sharp, a Philco, Gradiente e
Philips conseguiram assegurar mais de 50% de participação nos mercados de televisores,
videocassetes, sintonizadores, gravadores e rádios portáteis no país. Nos anos de 1990, o
processo de liberalização comercial ocorrida no Brasil impactou gravemente o complexo
eletrônico nacional, dada a concorrência com produtos importados (REIS, 2003).
Atualmente, percebe-se significativo aumento da demanda por produtos eletroeletrônicos,
fortemente pressionada pelo desenvolvimento dos setores de telecomunicações,
informática, indústria automotiva, exploração de petróleo e energia elétrica. De acordo
com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(DIEESE, 2010), na análise setorial a indústria de máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e
de comunicações foi um dos setores que mais contribuíram para o crescimento do emprego
no Brasil (6,1%) no ano de 2011. Regionalmente, os estados que mais geraram empregos
no setor no mesmo ano foram: Minas Gerais (2,3%), Paraná (5,4%), Rio de Janeiro (1,3%)
e Rio Grande do Sul (2,4%). A distribuição de trabalhadores em território nacional revela
concentração na região Sudeste (25,6%), a participação por unidade da federação revela
uma particularidade: apesar de São Paulo concentrar 48,8% do total do Brasil, o Amazonas
também se destaca como um polo importante, com 10,1% em decorrência da existência da
Zona Franca de Manaus (FIG. 3).
38
FIGURA 3 - Distribuição geográfica de trabalhadores do setor eletroeletrônico no Brasil
Fonte: DIEESE (2010).
.
A expansão do setor pode ser percebida principalmente pelo aumento da quantidade de
computadores no país. Segundo Balbinot e Marques (2009), o número de computadores em
uso em 1995 era cerca de 2.300 unidades. Pesquisa realizada pela Fundação Getúlio
Vargas em abril de 2012 mostra que atualmente esse número chega a 99 milhões, um
computador para cada dois habitantes. A pesquisa indica que o país deve alcançar a marca
de um computador para cada habitante até 2017. Nos últimos quatro anos, o número total
de computadores em uso no país praticamente dobrou (FIG. 4). O percentual de
computadores por habitante no Brasil (aproximadamente 51%) coloca o país acima da
média mundial (42%). Nos Estados Unidos, há cerca de 354 milhões de computadores ou
114% da população. A mesma pesquisa enfatiza que o número de telefones em uso no
Brasil, por sua vez, é de 300 milhões ou 153% da população, mesmo percentual
encontrado nos Estados Unidos; no mundo, a média é 108%.
39
FIGURA 4 – Total de computadores no Brasil até 2017
Fonte: Fundação Getúlio Vargas (2012).
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE
2012), o faturamento do complexo eletrônico em 2011 foi 14% maior se comparado ao ano
de 2010, que teve faturamento de R$ 138,1 bilhões, o que significa 3,3% do PIB (TAB. 2).
Apesar da valorização do Real e da crise econômica mundial, o crescimento no ano de
2011 foi de 8%.
TABELA 2 - Indicadores gerais da indústria eletroeletrônica
Fonte: ABINEE (2012).
No setor de eletroeletrônicos, o maior faturamento adveio da área de informática, com
43.561 milhões de reais, seguido do setor de equipamentos industriais (R$ 22.272 milhões)
40
e telecomunicações (R$ 19.901 milhões), áreas de mais crescimento entre os anos de 2010
e 2011 (TAB. 3).
TABELA 3 - Faturamento da indústria eletroeletrônica por área
Fonte: ABINEE (2012).
A trajetória das exportações foi ascendente até 2008. A crise de 2009 forçou a queda nas
exportações, que atualmente recuperam patamares de 2005. No total do período a
exportação cresceu 48%, embora a participação no faturamento anual diminuísse 9,6% do
faturamento, representando 3,1% das exportações totais do Brasil (TAB. 4). Por sua vez, as
importações equivalem a 17,5% da importação total do país e 21,3% do mercado interno
de bens finais (ABINEE, 2012).
A indústria conta com 180 mil empregados diretos e 4.828 empresas (PIA em ABINEE,
2012), sendo 67% na região Sudeste e 22% na região Sul.
41
TABELA 4 - Balança comercial da indústria eletroeletrônica brasileira
Fonte: ABINEE (2012).
Em 2011, o montante importado foi cinco vezes superior ao exportado, cuja proporção em
2004 foi de apenas duas vezes. Entre 2004 e 2011, as importações variaram USD 12,7
bilhões para USD 39,5 bilhões, ou seja, mais que triplicaram. Contudo, a participação das
importações no mercado de bens finais não variou tanto – de 18,3% para 21,7%, o que
indica que o mercado interno é que cresceu muito (FIG. 5).
FIGURA 5 - Importações em USD bilhões e participação das importações no
mercado doméstico de bens finais
Fonte: ABINEE (2012).
Autores como Balbinot e Marques (2009) classificam os principais problemas da indústria
eletroeletrônica brasileira em três frentes: grande velocidade de inovações, representando
42
curto ciclo de vida dos produtos, que varia entre dois e quatro anos; tipo de imposto sobre
importação, que privilegia a compra de produtos acabados no exterior; e a relação limitada
e inconsistente entre as empresas nacionais e as estrangeiras. A redução dos preços de
venda, a crescente demanda por inovação tecnológica e a diminuição do tempo de vida útil
desses produtos são alguns dos fatores que contribuem para o grande fluxo de descarte de
equipamentos eletroeletrônicos. Como consequência, evidenciam-se os problemas em
relação à gestão dos resíduos gerados por esse nicho de mercado. Os resíduos desse
processo são comumente conhecidos pelas expressões: lixo eletrônico, lixo tecnológico,
sucata eletrônica ou e-waste. E são denominados, pela legislação pertinente, de resíduos de
equipamentos eletroeletrônicos (PARLAMENTO EUROPEU, 2003a). Ao levarem-se em
conta os problemas ambientais e de saúde pública oriundos desse processo, a questão do
REEE vem atraindo a atenção dos governos, da iniciativa privada e da comunidade
acadêmica.
2.5.2 Resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE)
As pesquisas científicas relacionadas à caracterização e à gestão dos REEE surgiram, de
forma mais consistente, na segunda metade da década de 1990 (TOWNSEND, 2011).
Esses estudos incluem os diversos esforços de pesquisadores, com o objetivo de avaliar os
impactos dos produtos químicos potencialmente perigosos contidos nos equipamentos
eletroeletrônicos. Durante esse período, o conceito REEE e suas implicações legais foram
abordados de forma não consensual, tanto nas pesquisas acadêmicas quanto em
publicações na mídia geral.
Segundo a Organization for Economic Co-operation and Development (OECD, 2003),
esses resíduos podem ser entendidos como quaisquer aparelhos que utilizem fontes de
energia elétrica e que tenham atingido o fim da vida útil. Da mesma forma, Widmer et al.
(2005) consideram o REEE um termo genérico que abrange os diversos tipos de
equipamentos eletroeletrônicos que tenham deixado de ter qualquer valor para seus
proprietários, ou seja, os resíduos gerados por aparelhos eletroeletrônicos quebrados ou de
utilização indesejada.
43
No Brasil, a definição adotada é a mesma empregada pela legislação europeia Waste
Electrical and Electronic Equipment Directive (WEEE Directive), que os classifica como
resíduos de equipamentos que são dependentes de correntes elétricas ou de campos
eletromagnéticos, projetados para uso com tensão nominal não superior a 1.000 volts para
corrente alternada e 1.500 volts para corrente contínua. Portanto, os REEEs incluem os
equipamentos elétricos e eletrônicos de consumo, incluindo todos os equipamentos
eletrodomésticos e seus componentes, subconjuntos e materiais consumíveis necessários ao
seu funcionamento, tais como fios, cabos, mouses, teclados, impressoras, scanners,
estabilizadores, no-breaks e outros dispositivos acessórios.
Sendo assim, entende-se que os REEEs englobam vários tipos de equipamentos, desde os
eletrodomésticos de grande porte às peças pequenas, como é o caso de celulares, rádios,
aparelhos de microinformática, seus acessórios, equipamentos de som, foto e vídeo,
luminárias, televisores, brinquedos eletrônicos e diversos outros produtos. São esses
produtos idealizados para facilitar a vida moderna que estão sendo descartados de forma
acelerada, à medida que ficam tecnologicamente e/ou culturalmente ultrapassados.
A composição dos materiais comumente presentes nos REEEs, segundo Kang e Shoenung
(2005), caracteriza-se por grande quantidade de metais (ferrosos e não ferrosos), vidro e
plástico. A distribuição aproximada é de 49% do peso em metais, 33% em plásticos, 12%
em peso de tubos de raios catódicos e 6% de outros materiais, em resíduos de televisores,
computadores e monitores (FIG. 6). Vale ressaltar que a estimativa de 2005 não
considerava as novas tecnologias em monitores liquid crystal display (LCD), televisores de
plasma ou telas táteis.
FIGURA 6 – Composição comumente presente nos REEEs
Fonte: adaptado de Kang e Shoenung (2005).
Metais 49%
Plas-co 33%
Outros 6%
Tubos de raios catódicos 12%
44
Esses produtos, descartados em lixões, causam sérios riscos ao meio ambiente, uma vez
que possuem em sua composição metais pesados altamente tóxicos, como o mercúrio,
cádmio, berílio, chumbo, bário e cromo, além de retardadores de chama bromados. Esses
resíduos, em contato direto com o solo, contaminam os lençóis freáticos devido ao efeito
de lixiviação e, se incinerados (em condições inadequadas), formam outras substâncias
tóxicas que são também poluentes à atmosfera e em ambos os casos prejudicam a saúde do
ser humano (RODRIGUES, 2007; BEZERRA, 2009; DEA JÚNIOR; ROSA; SAMPAIO,
2010; FRANCO; LANGE, 2011; NATUME; SANT´ANNA, 2011).
No QUADRO 2 são apresentados os principais resíduos contidos no REEE, os potenciais
danos que eles podem causar à saúde humana e em quais produtos esses elementos e
compostos são frequentemente utilizados.
45
QUADRO 2 - Substâncias tóxicas presentes em equipamentos eletrônicos: efeitos ao meio ambiente e à saúde
Substância Prejuízo aos seres vivos Danos ao meio ambiente Utilização
Retardador de chama
Cancerígeno e neurotóxico: pode interferir na função reprodutora
Pode ser solúveL em água, volátil, bioacumulativo e persistente. Gera
dioxinas e furanos em incineradores
Computadores/ televisores
Cádmio
Possíveis efeitos irreversíveis nos rins podem provocar câncer,
desmineralização óssea; problemas digestivos (náusea, vômito, diarreia); problemas pulmonares; envenenamento
(quando ingerido); pneumonite (quando inalado)
Bioacumulativos, persistente tóxico
para o meio ambiente
Resistores, detectores de
infravermelho, nas versões mais antigas de raios catódicos, semicondutores, placas de circuito
impresso
Cromo Provoca reações alérgicas em
contato com a pele, é cáustico e genotóxico.
Absorção celular muito fácil pelas plantas e animais
dos efeitos tóxicos
Chumbo
Danos no sistema nervoso, endócrino, cardiovascular e rins;
dores abdominais (cólica, espasmo e rigidez); disfunção renal; anemia,
problemas pulmonares; neurite periférica (paralisia); encefalopatia
(sonolência, manias, delírio, convulsões e coma)
Acumulação no ecossistema, efeitos
tóxicos na flora e fauna e micro-organismos.
Soldas circuitos impressos e outros
componentes e tubos de raios catódicos em monitores e televisores
Mercúrio
Possíveis danos cerebrais cumulativos podem afetar o feto.
Gengivite, salivação, diarreia (com sangramento); dores abdominais
(epigástrio, vômitos, gosto metálico na boca); congestão, inapetência,
indigestão; dermatite e elevação da pressão arterial; estomatites
(inflamação da mucosa da boca), ulceração da faringe e do esôfago, lesões renais e no tubo digestivo; insônia, dores de cabeça, colapso,
delírio, convulsões
Pode tornar-se solúvel em água; pode acumular-se nos organismos
vivos
Termostatos, sensores de posição,
chaves, relés e lâmpadas
descartáveis, equipamentos
médicos, transmissão de dados, telecomu-nicações telefones celulares, interrup-
tores de residências e placas de circuito impresso, baterias
Bário Inchaço do cérebro, fraqueza muscular, danos ao coração,
fígado e no baço Painel frontal do
CRT
Cobre Pode gerar cirrose hepática Presente em vários
componentes eletrônicos
CRT: Cathode Ray Tube. Fonte – Adaptado de Bezerra (2009) E Natume e Sant´Anna (2011).
46
As recentes pesquisas internacionais sobre os REEEs têm direcionado seus esforços
principalmente para três grandes áreas: cadeias de logística reversa em diferentes locais e
países; fluxo internacional, em especial no referente às práticas informais de reciclagem
em países asiáticos e africanos; além de novas técnicas e procedimentos de reciclagem
(ONGONDO; WILLIAMS, 2011; ONGONDO; WILLIAMS; CHERRETT, 2011;
TUNESI, 2011; TOWNSEND, 2011).
2.5.3 Destino, coleta e reciclagem dos REEE
Atualmente, na maioria dos países em desenvolvimento, as atividades de coleta e
reciclagem e destino de equipamentos eletrônicos são realizadas pelo setor informal, sem
levar em conta preocupações ambientais e de segurança. De acordo com Franco (2008), a
diversidade de destinação pós-consumo está diretamente relacionada aos fatores culturais e
econômicos e às legislações específicas de cada país. Em países onde a legislação está
consolidada, o reuso e a reciclagem são os destinos mais abrangentes, porém, em países
onde não há políticas públicas para esses resíduos, o armazenamento e a disposição em
aterros são os mais praticados (OECD, 2003).
Materiais valiosos presentes nos REEEs normalmente são um incentivo monetário para a
reciclagem, como o cobre, o ouro e a prata. Materiais como o paládio são encontrados em
concentração 10 vezes maior em placas de circuito impresso do que em minerais
comercialmente extraídos (BETTS, 2008). Segundo a United Nations Educational,
Scientific and Cultural Organization (UNESCO, 2008), existe preocupação com a questão
da recuperação desses componentes, de forma que não cause riscos à saúde dos
trabalhadores ou ao meio ambiente. Portanto, ao estabelecer o adequado gerenciamento
dos resíduos a partir da logística reversa (GONÇALVES; TEODÓSIO, 2006; LEITE,
2006; ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998), existe a possibilidade de ocorrerem ganhos
nas três dimensões da sustentabilidade, tendo em vista que o meio ambiente é resguardado
da ação dos produtos tóxicos e químicos, a sociedade pode reaproveitar os equipamentos
que estão em condições de uso e a economia pode recuperar o valor monetário com a
reciclagem dos equipamentos inutilizados e, ainda, possibilitar a geração de empregos.
47
Os principais impactos decorrentes da recuperação desses materiais são as práticas caseiras
utilizadas principalmente nos países em desenvolvimento, como Brasil, Índia e Nigéria.
Nesses locais, um procedimento comum que ilustra essa prática refere-se aos fios dos
computadores, que são queimados em locais abertos para remover o plástico e recuperar o
cobre. As placas de circuito impresso também são processadas com métodos rudimentares,
muitas vezes ao lado de córregos e rios. Dessas placas, os trabalhadores extraem cobre e
metais preciosos usando ácido, cianeto e/ou mercúrio, sem as devidas precauções
(UNESCO, 2008). Determinados processos de reciclagem, inclusive os de trituração,
moagem, queima e derretimento de componentes, podem liberar gases ou pó nocivos que,
quando emitidos ou lixiviados no solo, podem ter impactos na saúde e no ambiente. Nesse
sentido, o processo de reciclagem dos REEEs deve seguir práticas seguras para a
recuperação dos materiais, além do devido tratamento e disposição adequada dos resíduos
perigosos.
O documento “WEEE – quantities, dangerous substances and treatment methods”,
publicado pela Agência Ambiental Europeia em 2003 (CROWE et al., 2003), mostra que o
processo de reciclagem dos REEEs pode ser subdividido nas seguintes etapas pós-consumo
(FIG. 7):
• Armazenamento ou estocagem;
• reuso ou segunda vida;
• desmontagem e reciclagem;
• disposição final em aterros sanitários ou incineração.
48
FIGURA 7 – Etapas de pós-consumo dos equipamentos eletrônicos
PC: personal computer; TV: televisão. Fonte: Franco (2008).
O armazenamento de REEE é uma prática comum nas residências, em empresas ou
repartições públicas, uma vez que os usuários esperam que seus eletrônicos obsoletos
possam ter alguma utilidade ou valor de revenda ou, ainda, por não saberem que destino
dar a eles.
O reuso, ou segundo ciclo de vida, é uma prática comum, principalmente entre
computadores e telefones celulares. O segundo ciclo de vida pode se dar por meio do reuso
direto - o equipamento é repassado diretamente a outro usuário - ou do reuso indireto -
quando é doado a entidades sociais que os destinam a instituições de ensino, órgãos
administrativos ou organizações não governamentais. Outra forma de reuso comum é a
recuperação e reaproveitamento de peças e componentes de fácil acesso, normalmente
realizada por empresas de assistência técnica em informática. Como última possibilidade
de reuso, o aproveitamento de componentes goza de um mercado considerável de revendas
de peças usadas (FRANCO, 2008).
Na etapa da reciclagem, são feitas a desmontagem e a remoção das partes que contêm
substâncias perigosas (mercúrio, clorofluorcarbono – CFC -, bifenilas policloradas, entre
49
outros) e dos componentes de fácil acesso que contenham materiais valiosos (cabos
contendo cobre, ferro, aço e placas de circuito contendo metais preciosos). Durante a
desmontagem é feita a separação dos materiais e segregam-se os metais ferrosos, metais
não ferrosos, plástico e vidro. Normalmente, esse processo é feito a partir da fragmentação
dos componentes e separação magnética. Entre os componentes resultantes dos desmontes,
estão as placas de circuito (FIG. 8). As placas feitas de papel e resina fenólica, também
denominadas de “placas marrom”, não são atrativas financeiramente na indústria de
reciclagem. Já as “placas verdes”, feitas tipicamente de resina epóxi (com retardantes de
chama tóxicos), fibra de vidro e cobre, possuem alto valor comercial (FRANCO, 2008).
FIGURA 8 – Placas de circuito de equipamentos eletrônicos
Fonte: Acervo do autor.
A reciclagem e a recuperação dos materiais valiosos normalmente são realizadas por
empresas específicas que recebem o material para recuperação, os metais ferrosos são
enviados para fornos elétricos, os não ferrosos para indústrias de fundição e os metais
preciosos para processos de separação manual (garimpo). Para a disposição final dos
resíduos e o tratamento dos materiais perigosos, o material leve é triturado e depositado em
aterros ou incinerados, os CFCs são tratados termicamente, o bifenilas policloradas (PCB)
é incinerado ou depositado em armazéns subterrâneos, o mercúrio é reciclado e as demais
substâncias tóxicas são neutralizadas e aterradas (CROWE et al., 2003). A FIG. 9
apresenta, de forma simplificada, o fluxograma do processo de reciclagem, proposto por
Franco (2008).
50
FIGURA 9 - Fluxograma simplificado do processo de reciclagem dos REEEs
Fonte: adaptado de Franco (2008).
Baseada na logística desse fluxograma, a autora realizou extenso estudo sobre o destino
que é dado aos bens de consumo duráveis quando não são mais úteis a seus possuidores;
como esses resíduos estavam sendo gerenciados na cidade de Belo Horizonte e por que
eles necessitam de gestão especial. Baseado nesses princípios, foi proposto um modelo de
gestão dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos domésticos para o município de
Belo Horizonte, envolvendo os diferentes atores necessários ao processo de logística
reversa, esquematizado no diagrama da Figura 10.
Produtos coletados
Classificação Revenda/Reuso produto
Revenda/Reuso partes
Disposição final
Separação dos componentes
Redução do tamanho
Separação dos materiais
Vendas
Tubos de raios catódicos
51
FIGURA 10 - Modelo de gestão de resíduos de equipamentos elétricos
e eletrônicos para o município de Belo Horizonte
Fonte: Franco (2008).
Uma das conclusões da pesquisa foi a constatação da inexistência de empresas de gestão de
resíduos eletrônicos no município de Belo Horizonte ou no estado de Minas Gerais, o que
se configura como uma potencial oportunidade para a implantação desse setor empresarial.
2.5.3.1 Impactos regionais dos resíduos de eletroeletrônicos
De acordo com pesquisa desenvolvida por Natume e Sant’Ana (2011), no Brasil é
crescente a necessidade de aprofundamento em estudos que levem em consideração os
problemas ambientais causados pelos REEEs, uma vez que pouco se sabe a respeito da
reciclagem ou de mecanismos de minimização dos impactos desses resíduos no país.
Recente pesquisa desenvolvida por Franco (2008) elucida o comportamento dos
consumidores em relação ao descarte de aparelhos eletrônicos, na cidade de Belo
Horizonte. A autora mostra que, na capital mineira, o gerenciamento ambientalmente
correto dos REEEs é muito incipiente. Os principais destinos dados aos aparelhos
52
celulares, TVs e PCs ao final da primeira vida útil são a doação (34%, 44% e 36%,
respectivamente) e o armazenamento (23%, 24% e 6%, respectivamente) e 7% dos
aparelhos celulares se transformam em brinquedo para crianças. Apenas 2% dos telefones
celulares são enviados para reciclagem e nenhum dos outros equipamentos tem esse fim.
Finalmente, a partir da segunda vida útil, esses equipamentos são descartados no lixo
comum e acabam nos aterros sanitários e lixões.
Neste sentido, destaca-se também a recente promulgação da Lei que regula a Política
Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada em agosto de 2010 - Lei 12.305/10 (BRASIL,
2010). A referida lei trata das diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de
resíduos sólidos (incluídos os perigosos) e às responsabilidades das empresas geradoras,
abrangendo o poder público e os demais instrumentos econômicos aplicáveis. Um dos
pontos relevantes da nova legislação é que se estende a responsabilidade sobre os resíduos
eletroeletrônicos aos fabricantes, importadores e comerciantes desses produtos e demanda
que os envolvidos promovam a reciclabilidade, a logística reversa e a gestão adequada
desses resíduos.
O volume de REEE em fluxo na cidade de Belo Horizonte pode ser verificado junto às
cooperativas de materiais recicláveis e junto às empresas que comercializam sucata e nos
locais de disposição final. Contudo, os impactos ambientais provenientes desses
equipamentos em lixões e aterros sanitários na cidade de Belo Horizonte, até o momento,
não são quantificados.
Segundo o documento publicado pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) em
parceria com a Swiss Federal Laboratories for Materials Testing and Research (EMPA)
(FEAM; EMPA, 2009), estima-se que o Brasil produza cerca de 679.000 toneladas de lixo
eletroeletrônico por ano, sendo 68.600 no estado de Minas Gerais e 19.700 toneladas na
região metropolitana de Belo Horizonte, o que equivale a 29% do lixo gerado no estado. A
geração per capita dos brasileiros até o ano de 2030 deve ser em torno de 3,3 para o estado
de Minas Gerais; 3,4 para a região metropolitana de Belo Horizonte; e de 3,7 kg/habitante-
ano, se considerados todos os equipamentos eletroeletrônicos. Levando-se em conta apenas
resíduos a partir de telefones celular e fixo, televisores e computadores, esses valores
seriam, respectivamente, de 1,0, 1,0 e 1,1 kg/habitante-ano.
53
O mesmo documento demonstra que, considerando todos os eletroeletrônicos, o acúmulo
desse fluxo de resíduos, em 2030, deve gerar aproximadamente 22,4 milhões de toneladas
de REEE no Brasil; 2,2 milhões de toneladas em Minas Gerais; e 625 mil na região
metropolitana de Belo Horizonte. Somente para os resíduos de telefones celulares, fixos,
computadores e televisores esses valores são, respectivamente, de 6,6 milhões, 677 mil e
194 mil toneladas. Vale ressaltar que, neste estudo, tomou-se como base que cada
domicílio possua apenas um produto eletrônico de cada tipo (QUADRO 3).
QUADRO 3 – Geração de REEE no Brasil, Minas Gerais e Belo Horizonte
Fonte: FEAM; EMPA (2009).
Estudos desenvolvidos por Franco e Lange (2011) alertam para a intensidade do fluxo de
REEE no município de Belo Horizonte, a partir do diagnóstico estimativo da quantidade,
em peso, dos materiais recicláveis e das substâncias tóxicas presentes nos equipamentos
descartados na cidade atualmente. O estudo mostra que o gerenciamento desses resíduos é
feito por iniciativa de raras associações entre a administração pública e iniciativas
privadas. No entanto, o sistema é aplicado somente em determinados equipamentos de
informática e de telefonia móvel, de pilhas e baterias. Os demais resíduos são manipulados
sem as devidas precauções de saúde e segurança do trabalhador e dispostos em lixões de
forma irregular. As autoras evidenciam a necessidade de delinear um sistema de
gerenciamento de REEE na cidade de Belo Horizonte.
Existe a crescente necessidade de regulação legislativa, no tocante a esses resíduos. Em
países onde ainda não existem políticas públicas para os REEEs, o armazenamento e/ou a
54
disposição em aterros sanitários é a prática mais comumente utilizada. Em países onde a
legislação está consolidada, o reuso e a reciclagem são os destinos mais abrangentes. A
legislação específica adotada nesses países aplica o princípio de responsabilidade estendida
ao fabricante, levando as indústrias a desenvolver produtos a partir de conceitos de
ecodesign, investir em pesquisas sobre reciclagem e logística reversa (FRANCO; LANGE,
2011; GONÇALVES; TEODÓSIO, 2006; LEITE, 2006; ROGERS; TIBBEN-LEMBKE,
1998).
2.6 Legislação específica
Este capítulo contempla a análise das principais legislações e políticas públicas
relacionadas à regulação ambiental, no tocante à gestão dos REEEs, nos âmbitos
internacional, nacional e regional.
Notadamente, foi a partir da década de 1980 que emergiu a preocupação mundial com os
resíduos sólidos provenientes dos equipamentos eletroeletrônicos. Os governos,
percebendo o problema, procuram desenvolver legislações específicas, com o objetivo de
regulamentar a produção e o descarte dos REEEs, envolvendo mais responsabilidades por
parte dos fabricantes (ANSANELLI, 2010).
As leis ambientais dos países industrializados até então, direcionadas para a internalização
dos custos da disposição de resíduos perigosos, praticavam o comércio tóxico de lixo para
países em desenvolvimento e para a Europa Oriental. Quando essa atividade tomou fluxo
trafegando sem qualquer controle, surgiu a adoção da Convenção de Basileia. Essa
convenção foi o primeiro tratado abordando o assunto e serviu como base para a
elaboração de diversas legislações específicas aplicadas nos âmbitos internacional e
nacional, para regulamentação da exportação e importação de resíduos sólidos e líquidos
perigosos.
As principais iniciativas criadas para regulamentar a questão dos REEEs foram
promulgadas pelo Parlamento Europeu (2003a; 2003b) por meio da Diretiva 2002/96/CE
(WEEE) e a Diretiva 2002/95/CE (RoHS). Elas tiveram como meta levar à regulamentação
55
os processos e materiais utilizados na produção de equipamentos elétricos e eletrônicos,
buscando minimizar os seus impactos ambientais.
Pode-se dizer que o gerenciamento dos REEEs nos países desenvolvidos foi bem-sucedido,
porque a legislação vigente privilegia a “responsabilidade estendida do produtor”
(Extended Producer Responsibility - EPR), o que leva os fabricantes a investir em
pesquisas de reciclagem e reciclabilidade dos materiais e componentes e a adotar a
logística reversa (FRANCO; LANGE, 2011). Essa responsabilidade incorpora os custos
ambientais aos produtos em seus ciclos de vida ao custo final da produção, como previsto
na Diretiva 2002/96/CE. Outro aspecto que também é visto como positivo na gestão dos
REEEs em países desenvolvidos é a “responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
dos produtos”. Essa responsabilidade refere-se ao conjunto de atribuições individualizadas
e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores/comerciantes, dos consumidores
e titulares dos serviços públicos, de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos,
objetivando a minimização dos resíduos gerados, bem como a redução dos impactos
decorrentes do ciclo de vida dos produtos (BRASIL, 2010).
A “logística reversa” é outro fator importante nesse processo, pois nela é previsto o
planejamento, implementação e controle da eficiência e do custo efetivo do fluxo de
matérias-primas, estoque, produtos acabados e informações correspondentes, desde o ponto
de consumo até o ponto de origem, com o propósito de recapturar o valor ou destinar à
apropriada disposição final (LAMBERT, 2008). Para a Política Nacional dos Resíduos
Sólidos (PNRS), a logística reversa é o conjunto de ações e procedimentos destinados a
facilitar a coleta e restituição dos resíduos sólidos aos geradores, para o tratamento ou
reaproveitamento em seu próprio ciclo produtivo ou no ciclo produtivo de outros produtos
(BRASIL, 2010). A primeira definição de logística reversa foi publicada pelo Council of
Logistics Management (CLM) no início dos anos 1990 e ressalta o importante papel da
logística reversa em relação à reciclagem, controle de desperdício e gerenciamento de
materiais usados (LEITE, 2006).
Em abordagem mais ampla, a logística reversa inclui todas as atividades relacionadas a
redução, reciclagem, substituição e reutilização de materiais. Segundo Valle e Costa
(2006), ela pode também ser considerada uma área da logística empresarial que administra
56
os fluxos reversos de mercadorias, serviços e informações, englobando o retorno dos bens
de pós-venda e pós-consumo ao ciclo de negócios ou ciclo produtivo. De forma
abrangente, essa atividade engloba a coleta dos materiais utilizados, danificados,
rejeitados, fora de validade e embalagens, desde a localidade do consumidor final até o
revendedor. Razões de legislações ecológicas que estão entrando em vigor abrangem
diferentes aspectos do ciclo de vida dos produtos, partindo da sua fabricação e uso devido
da matéria-prima até sua disposição final (LEITE; LAVEZ; SOUZA, 2009).
Em resposta ao crescente problema do excesso de lixo eletrônico, muitos países adotaram
políticas de gestão de resíduos nas quais os produtores são responsáveis por recolher (take-
back) seus produtos desde os usuários, ao final da vida útil, ou financiar uma infraestrutura
de coleta e reciclagem. Essas políticas foram adotadas pela falta de infraestrutura para a
coleta de determinados produtos contendo materiais tóxicos e os altos custos impostos aos
governos locais que promovem tais serviços de coleta.
Contudo, o objetivo principal dessas leis de recolha (take-back laws) é promover parcerias
entre os governos e o setor privado, a fim de assegurar que os resíduos de eletroeletrônicos
sejam administrados e que possa proteger a saúde pública e o meio ambiente. Com isso,
pretende-se estimular as empresas a desenvolverem seus produtos para o reuso e para a
recliclabilidade, incentivando inovações tecnológicas nos processos de reciclagem.
No Brasil, a PNRS, sancionada em 2010, constitui um marco para a regulação do REEE no
país ao classificá-lo como resíduo especial e estender a responsabilidade às indústrias
produtoras. Alguns estados brasileiros também desenvolvem suas próprias políticas, mas a
maioria não menciona a questão dos resíduos eletrônicos. Uma referência importante é a
Lei dos Eletrônicos, em vigor no estado de São Paulo desde 2008, que responsabiliza
fabricantes, importadores e comerciantes de equipamentos eletrônicos pela promoção de
logística reversa, reciclagem e disposição final dos produtos.
57
2.6.1 Legislação internacional
As políticas internacionais sobre os resíduos sólidos tiveram como marco inicial as
Diretrizes do Cairo, elaboradas em 1987 com o propósito de orientar os países signatários
no gerenciamento dos resíduos perigosos. Essas diretrizes serviram de base para a
formulação da Convenção de Basileia e influenciaram diversas legislações específicas em
vários países.
• Convenção de Basileia
A Convenção de Basileia é um tratado internacional criado em 1989, que tem como
objetivo diminuir os impactos ambientais causados pela importação e exportação de
resíduos perigosos entre os países participantes. A legislação estabelece o direito e a
autoridade para qualquer país aceitar ou rejeitar a entrada de resíduos perigosos e outros
resíduos estrangeiros em seu território, preservando a vida e a saúde da população e o meio
ambiente. O tratado também permite a concessão prévia e explícita para a importação e
exportação dos resíduos autorizados entre os países, a fim de evitar o tráfico ilícito. Um
desses acordos foi firmado na Convenção de Bamako e trata da proibição de importação,
controle do movimento transfronteiriço e gestão de resíduos perigosos na África, que
entrou em vigor em 1998. Segundo esse acordo, somente será permitido o movimento
além-fronteiras quando o Estado de exportação não possuir competência técnica nem
condições necessárias à gestão desses resíduos ou quando os resíduos em questão forem
considerados matéria-prima para a produção no Estado de importação.
A Convenção de Basileia, portanto, idealizou-se sob a influência do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e, após a sua adoção na conferência diplomática
de Basel, na Suíça, em 1992, entrou em vigor, tornando-se um documento
internacionalmente reconhecido. Em 1995 são estabelecidas a classificação e
caracterização dos resíduos perigosos e a convenção consolidou-se como tratado ambiental
mundial a partir de 1999. O Brasil aderiu ao tratado a partir do Decreto nº 875/93.
Em 1994 foi realizada a 2ª reunião entre os associados da Convenção de Basileia, sendo
proibida a movimentação transfronteiriça de resíduos perigosos de países-membros da
58
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para países não
membros. De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA, 2007), ainda é
preocupação dos países signatários as razões pelas quais os movimentos transfronteiriços
de resíduos perigosos ainda persistem, especialmente para os países em desenvolvimento, e
por que os países que não possuem capacidade para garantir a gestão desses resíduos
insistem em recebê-los.
• Diretiva Waste Electrical and Electronic Equipment - WEEE
A diretiva WEEE é um documento que regula a questão dos resíduos provenientes de
equipamentos elétricos e eletrônicos e procura introduzir mecanismos de controle para a
redução do fluxo crescente de geração de resíduos desses equipamentos. A diretiva atribui
aos fabricantes a responsabilidade pela reciclagem dos aparelhos ao final da vida útil, por
meio de práticas de logística reversa, e tem o intuito de encorajar os produtores a
projetarem equipamentos eletroeletrônicos de forma ambientalmente eficiente,
considerando-se o gerenciamento de resíduos desde a fase de concepção (FRANCO;
LANGE, 2011; PIDONE, 2011).
O documento foi incorporado pela União Europeia em fevereiro de 2003, determinando
metas para o desenvolvimento dos procedimentos relativos à coleta, reciclagem e
recuperação para todos os tipos de bens eletroeletrônicos, conforme descrito em
Parlamento Europeu (2003a). A legislação impõe, ainda, a responsabilidade sobre o lixo
eletroeletrônico aos fabricantes e distribuidores e requer dessas empresas o
estabelecimento de infraestrutura para a recolha dos produtos, de maneira a oferecer aos
usuários a possibilidade de retorná-los aos responsáveis sem custos. A WEEE tem como
fundamento os princípios de poluidor pagador e de responsabilidade estendida ao produtor,
sendo essa responsabilidade associada às etapas de coleta seletiva, tratamento, recuperação
e reciclagem, que podem ser realizadas pelo próprio produtor ou por terceiros, mas
financiadas pelo produtor (ANSANELLI, 2010).
A internalização dessas atividades, além de estimular o design ecológico dos produtos e o
fornecimento de informações relativas à questão, busca reduzir a quantidade de lixo
eletrônico que chega aos aterros sanitários, estabelecendo quotas de recuperação de
59
produtos em torno de 70 a 80% do peso médio por utensílio e as taxas de reciclagem de
componentes, materiais e substâncias entre 50 e 75%, conforme Tabela 5.
TABELA 5 - Regulamentações WEEE por categorias de produtos cobertas
Produtos
Regulamentação WEEE
Recuperação
(% do peso)
Reciclagem
(% do peso)
Grandes eletrodomésticos 80 75
Pequenos eletrodomésticos 70 50
Tecnologia de informação/telecomunicações 75 65
Eletrônicos de consumo 75 65
Equipamentos de iluminação * 70 50
Ferramentas eletroeletrônicas 70 50
Brinquedos e produtos esportivos 70 50
Equipamentos médicos - -
Equipamentos de controle e monitoramento 70 50
Equipamentos de serviço automático 80 75 (*) exceto lâmpadas de descarga de gás. Fonte: Adaptado de Ansanelli (2010).
No âmbito de aplicação da diretiva WEEE, sua abrangência atinge produtos classificados
como:
• Eletrodomésticos de grande porte (lavadoras de louça e de roupa, fogões, fornos
elétricos e de micro-ondas, aparelhos de ar-condicionado, etc.).
• Eletrodomésticos de pequeno porte (ferros de passar roupa, cafeteiras, torradeiras,
batedeiras, etc.).
• Equipamentos de informática e telecomunicações (computadores, notebooks,
impressoras, telefones celulares, tablets, etc.).
• Equipamentos de consumo em som e imagem (televisores, rádios, câmeras
fotográficas, filmadoras, etc.).
• Brinquedos e equipamentos esportivos.
• Ferramentas eletroeletrônicas, equipamentos médicos, instrumentos de automação e
controle, e equipamentos de iluminação.
60
A diretiva WEEE tende a ter impactos mais regionais sobre a indústria de reciclagem, mas
pouco foi registrado sobre os seus efeitos inovadores e estímulo ao redesign do produto
(ANSANELLI, 2010).
• Diretiva Restriction of the Use of Certain Hardous Substances – RoHs
A diretiva RoHs é um documento elaborado pelos organismos de controle ambiental da
União Europeia que, de forma complementar à diretiva WEEE, promove a substituição de
substâncias tóxicas e perigosas dos equipamentos eletroeletrônicos por materiais mais
seguros, como descrito em Parlamento Europeu (2003b). A RoHs tem impactos globais,
atingindo toda a cadeia produtores de diversos segmentos e impõe significativos desafios à
inovação, notadamente aos aspectos relacionados à eliminação do chumbo na solda
(ANSANELLI, 2010).
O documento, juntamente com a legislação de cada país-membro, passou a proibir, a partir
de 2003, a comercialização, na União Europeia, de equipamentos eletroeletrônicos que
contenham, na composição de seus componentes, metais pesados nocivos como o chumbo,
o cádmio, o cromo ou o mercúrio e os retardadores de chama bromados. Essa restrição se
aplica aos equipamentos montados e todos os componentes e subcomponentes do sistema,
incluindo placas de circuito integrado, semicondutores, cabos e conectores, juntas e soldas
(PIDONE, 2011).
A diretiva ainda determina que os produtos eletroeletrônicos que contenham em suas
composições essas substâncias (além das pilhas e baterias) devam ser devolvidos pelos
usuários aos estabelecimentos que os comercializaram ou à rede de assistência técnica
autorizada pelas indústrias, que são obrigados a aceitá-las e a encaminhá-las aos
fabricantes ou importadores. Por sua vez, os fabricantes ou importadores desses produtos
ficam obrigados a adotar procedimentos de reutilização, reciclagem, tratamento ou
disposição final ambientalmente adequada.
Nos artigos 7º e 9º, a diretiva recomenda que os fabricantes dos produtos conduzam
pesquisas para substituir ou reduzir substâncias tóxicas. Devem explicitar - nas matérias
publicitárias, embalagens e nos produtos - advertências sobre os riscos à saúde humana e
61
ao meio ambiente. Devem informar a necessidade de devolução, por parte dos usuários,
aos revendedores ou à rede de assistência técnica autorizada para repasse aos fabricantes
ou importadores desses produtos (PARLAMENTO EUROPEU, 2003b).
Decidiu-se, por esse documento, que serão máximos os valores de concentração em 0,1%
por kg (ou 1.000 mg/kg) em material homogêneo para chumbo, mercúrio, cromo, bifenilos
polibromados (PBB) e éter difenil polibromados (PDBE) e em 0,01% (ou 100 mg/kg) de
material homogêneo para o cádmio. Isso se aplica aos equipamentos eletroeletrônicos
abrangidos por quase todas as categorias definidas na diretiva WEEE, incluindo as
lâmpadas elétricas e os aparelhos de iluminação de uso doméstico (ANSANELLI, 2010).
• Reflexos da legislação ambiental internacional
A partir dessas regulações internacionais, diversos países desenvolveram legislação e
programas específicos para a gestão ambiental do lixo eletrônico, como a versão chinesa da
RoHs, que restringe seis substâncias tóxicas em equipamentos eletrônicos, e a Home
Appliance Recycling Law, no Japão, que obriga à substituição de substâncias tóxicas,
aumento da reciclabilidade e incentivo à reciclagem, além da proibição de depósito
inadequado.
Nos Estados Unidos, o estado da Califórnia oficializa em 2003 o Decreto de Reciclagem
de Eletrônicos, baseado na RoHs e na WEEE, que estende a responsabilidade do produtor à
logística reversa e à reciclagem; e o estado de Nova Iorque, que a partir do Electronic
Equipment Collection também amplia a responsabilidade do produtor à logística reversa e
à reciclagem e estabelece metas e prazos gradativos. O QUADRO 4 mostra a descrição das
principais legislações e políticas ambientais relacionadas à produção de equipamentos
eletroeletrônicos.
62
QUADRO 4 - Regulamentações internacionais: (REEE)
LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL COMPARADA SOBRE REEE
PAÍSES LEGISLAÇÃO PRINCÍPIO DESDE ETAPAS
E PRAZOS
RESPONSABI-LIDADES
OBSERVA-ÇÕES
União Europeia Diretiva RoHs
Restringe substâncias tóxicas na
fabricação de eletrônicos
2003
A serem definidos
por comitê
Produtor: diminuir gradativamente e
banir o uso de seis substâncias tóxicas
Chumbo, mercúrio,
cádmio, cromo hexavalente e polibromatos (PBB e BDE)
União Europeia
Diretiva REEE (WEEE)
Aumento da taxa de recicla-
bilidade, responsabilidade
estendida ao produtor e proi-bição de depósi-to inadequado
2002 Aumentos
gradativos - reciclagem
Estados: estabelecer
sistema de coleta Produtores: custos de
logística reversa e reciclagem
Estabelece prazos e metas
China RoHs China Restringe
substâncias tóxicas
2006 RoHs Produtor: redução do uso Idem RoHs
EUA-CA Decreto de
Reciclagem de Eletroeletrônicos
Responsabili-dade estendida
ao produtor 2003
Prazos específi-
cos
Produtor: rede de coleta
Centro das maiores
empresas de tecnologia do
mundo
EUA-NY Electronic Equipment Collection
Responsabilida-de estendida ao
produtor 2008
25% coletados em 2015
Produtor: apresentar plano
de manejo às prefeituras
_
Japão Home
Appliance Recycling Law
Substituição de substâncias
tóxicas e incentivos à reciclagem
1998 Aplicação imediata
Consumidor: taxa para
descarte/estado: coleta/produtor:
reciclagem
Alta taxa de consumo e
descarte per capita do mundo
Mundial Convenção de Basileia
Regula o movimento
transfronteiriço 1989 Aplicação
imediata
Fiscalização dos estados e
classificação dos resíduos
EUA, Afeganistão e
Haiti não ratificaram
Fonte: adaptado de Andueza (2009).
2.6.2 Legislação nacional
Os problemas relacionados à degradação e poluição do meio ambiente brasileiro não são
recentes, eles surgiram com a colonização do Brasil, ainda no século XVI, quando foi feita
63
a demarcação territorial para a extração das riquezas naturais do litoral pelos portugueses.
Considerando a acelerada degradação ambiental apresentada nos últimos séculos, faz-se
necessária a associação de diferentes instrumentos, com o objetivo de se associar,
interdisciplinarmente, os diferentes conceitos e experiências, em função da mais
conscientização sobre as questões da preservação ambiental.
No Brasil, o marco inicial da legislação ambiental foi a sanção da Política Nacional do
Meio Ambiente, Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que tem por objetivo tornar efetivo
o princípio do art. 225 da Constituição Federal, que declara o direito de todos ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, entendendo-o como bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida. Impõe-se, dessa forma, ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações
(BRASIL, 1981). Instituiu-se, para tanto, o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA), um conjunto articulado de órgãos, entidades, normas e práticas da União, dos
estados, do Distrito Federal, dos territórios, dos municípios e de fundações instituídas pelo
poder público, sob a coordenação do Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Um importante conceito desenvolvido pelo SISNAMA é o da educação ambiental. Esse
conceito constitui-se de processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas
para a conservação do meio ambiente (artigos 1º e 2º da Política Nacional de Educação
Ambiental - Lei nº 9.795/99).
A educação ambiental em conjunto com outras áreas do conhecimento, em especial as
aplicadas ao design, auxilia o profissional na formação de sua percepção ambiental,
ressaltando seu papel no processo de preservação do meio ambiente. Entre as necessidades
de conscientização e preservação, os profissionais associados ao desenvolvimento de
produtos merecem destaque especial, exatamente pelo fato de que, muitas vezes, no setor
produtivo não existe preocupação relativa aos requisitos ambientais dos projetos,
ocasionando inúmeras consequências, sendo uma delas a poluição eletroeletrônica dos
componentes químicos, que causam prejuízos ao meio ambiente e danos à saúde
(MORAES; VAN DER LINDEN, 2010).
64
• Resolução – CONAMA
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) é um órgão consultivo e
deliberativo que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, sendo presidido pelo
Ministério do Meio Ambiente. É um colegiado que representa cinco setores: órgãos
federais, estaduais e municipais, setor empresarial e sociedade civil. É de sua competência
estabelecer, mediante proposta do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA), dos demais órgãos integrantes do SISNAMA e dos
Conselheiros do CONAMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva
ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pela União, pelos estados, pelo Distrito
Federal e municípios e supervisionado pelo referido instituto.
As primeiras resoluções do Conama tangenciam a questão dos resíduos provenientes do
descarte de equipamentos eletroeletrônicos foram:
• Resolução nº 23, de 1996, que regula a importação de resíduos e produtos perigosos
em todo o território nacional e se relaciona com os conceitos e objetivos da
Convenção de Basileia.
• Resolução nº 257, de 1999, que estabelece procedimentos de reutilização,
reciclagem, tratamento e disposição final adequada para pilhas e baterias que
contenham em suas composições chumbo, cádmio, mercúrio e seus compostos.
• Resolução nº 401, de 2008, que estabelece redução nos limites de mercúrio, cádmio
e chumbo permitidos na composição de pilhas e baterias comercializadas no
território nacional, além dos critérios e padrões para o seu gerenciamento
ambientalmente adequado, a exemplo da diretiva europeia (RoHs) em seus artigos
1º, 7º e 9º (BRASIL, 2008).
Nesse sentido, a Resolução nº 401 responsabiliza o fabricante e o importador dos referidos
equipamentos eletroeletrônicos, pela obrigação de implantar os sistemas de reutilização,
reciclagem, tratamento ou disposição final e desenvolver mecanismos de gestão a fim de
assegurar que esses resíduos sejam tratados de forma tecnicamente segura e adequada, com
vistas a evitar riscos à saúde humana e ao meio ambiente.
65
• Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS
Considerada um marco histórico da gestão ambiental no Brasil, a Lei nº 12.305/10
(BRASIL, 2010), regulamentada pelo Decreto 7.404/10, estabelece a PNRS. A lei
apresenta as diretrizes relativas à gestão integrada, ao gerenciamento de resíduos sólidos
(incluídos os perigosos), às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos
instrumentos econômicos aplicáveis.
Tendo como princípio a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e
população, a nova legislação incentiva o retorno dos produtos pós-consumo às indústrias e
obriga o poder público a realizar planos para o gerenciamento do lixo. Promulgada no dia
02 de agosto de 2010, após debate com governo, universidades, setor produtivo e entidades
civis, a PNRS promove mudanças no cenário desses resíduos. Segundo a associação sem
fins lucrativos Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), atualmente no
Brasil apenas 13% dos resíduos urbanos são reciclados ou passam pelo processo de
compostagem, embora o potencial para reciclagem seja muito maior (FIG. 11).
FIGURA 11 - Destinação final do lixo urbano
Fonte: adaptado de Cempre (2010).
Segundo o CEMPRE (2010), a PNRS estabelece no Brasil as bases para a gestão do lixo
sólido urbano, a partir do princípio da logística reversa, e compartilha a responsabilidade
sobre a recuperação de materiais pós-consumo, promovendo o seu retorno a novos ciclos
de vida como insumo para a fabricação de novos produtos. Portanto, as indústrias,
comerciantes, distribuidores e importadores devem, dessa forma, implementar sistemas de
logística reversa. Essas medidas são executadas progressivamente, criando mecanismos
66
econômicos e financeiros focados no incentivo à atividade, contribuindo para que a nova
lei seja aplicada na prática.
Essas medidas são instrumentos que tornam o mercado da reciclagem mais rentável e
atraente a novas tecnologias e investimentos privados. Esse marco legal nacional denota
segurança às empresas para atuarem no setor de logística dos resíduos sólidos, tendo como
principais aspectos econômicos que a lei objetiva mudar, conforme resumidos na FIG. 12.
FIGURA 12 - O que muda com a Lei Política Nacional de Resíduos Sólidos
Antes
• Inexistência de lei nacional para
nortear os investimentos das
empresas;
• Falta de incentivos financeiros;
• Baixo retorno de produtos
eletroeletrônicos pós-consumo;
• Desperdício econômico sem a
reciclagem.
Depois
• Marco legal estimulará ações
empresariais;
• Novos instrumentos financeiros
impulsionarão a reciclagem;
• Mais produtos retomarão a indústria
após o uso pelo consumidor;
• Reciclagem avançará e gerara mais
negócios com impacto na geração de
renda.
Fonte: Cempre (2010).
Os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes têm responsabilidade que
abrange o recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, assim como
sua subsequente destinação final ambientalmente adequada, no caso de produtos objeto de
sistema de logística reversa (Cap. III, Seção II, Art. 31, IV, em BRASIL, 2010). Como
resultado, a expectativa é de mais absorção dos materiais separados do lixo urbano, com
menos pressão sobre os aterros sanitários e mais geração de emprego e renda.
O sistema da responsabilidade compartilhada pressiona o setor privado a partir de questões
econômicas, já que as empresas são responsáveis legalmente pela implementação da
logística reversa dos resíduos que geram. Uma mudança processual no desenvolvimento
dos produtos e no gerenciamento de sua obsolescência pode ser vislumbrada, por pressão
econômica. Novas redes de negócios são incentivadas, quando os resíduos podem ganhar
67
valor como matéria-prima de outros processos produtivos. Recente estudo do Instituto de
Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA, 2011) indica que o país deixa de agregar à sua
economia cerca de oito bilhões de reais, por não aproveitar materiais recicláveis que
poderiam voltar à produção industrial. Nesse cenário surge o desafio da conscientização
dos consumidores sobre o descarte adequado dos equipamentos eletroeletrônicos, com o
suporte dos lojistas e dos fabricantes.
No âmbito público da responsabilidade compartilhada, cabe ao titular dos serviços públicos
de limpeza urbana adotar procedimentos para reaproveitar os resíduos sólidos reutilizáveis
e recicláveis, estabelecendo sistemas de coleta seletiva e provendo a disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos (Cap. III, Seção II, art. 33, em BRASIL, 2010).
Especificamente sobre a questão dos REEEs, a PNRS os classifica como resíduo especial e
determina que a gestão integrada desses produtos deva ser desenvolvida a partir do
conceito de responsabilidade compartilhada, com as seguintes atribuições:
• Aos produtores/fabricantes: terão responsabilidade sobre o produto eletroeletrônico
mesmo após o fim da sua vida útil, sendo obrigados a promover a logística reversa
(art. 33);
• adotar a ecoconcepção do produto, com o objetivo de prevenir os perigos
decorrentes da transformação do produto em resíduo (art. 31, inciso I);
• aplicar a correta rotulagem ambiental nos produtos e materiais (art. 7°, inciso XV);
• deverão obrigações financeiras para com a entidade gestora dos resíduos, caso
terceirizada (art. 33, §7°);
• aos comerciantes e distribuidores: deverão informar aos clientes e consumidores
sobre a logística reversa e proporcionar a recolha ao fim da vida útil dos produtos
(art. 31, inciso II);
• aos consumidores: assumem a obrigação de colaborar com a logística reversa, no
sentido de depositar corretamente o lixo eletrônico (art. 33, §4°) (BRASIL, 2010).
• Legislação estadual: Minas Gerais
O estado de Minas Gerais instituiu sua Política Estadual dos Resíduos Sólidos (PERS) a
partir da Lei nº 18.031, de 12 de janeiro de 2009, com o objetivo de orientar os municípios
68
mineiros na gestão adequada dos resíduos sólidos urbanos. O objetivo foi fomentar a não
geração, redução, reutilização, reaproveitamento, reciclagem, tratamento e a disposição
final adequada dos resíduos sólidos. De forma mais ampla, a lei determina que os
municípios, as empresas fabricantes, os importadores, os distribuidores, os comerciantes e
os prestadores de serviços ficam obrigados a colaborar com o Plano de Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos, promovendo formas de acondicionamento, transporte, armazenamento e
tratamento dos resíduos sólidos especiais, bem como a disposição final ambientalmente
adequada; a manutenção de centros de coleta; e desenvolvimento de estudos e pesquisas
orientadas à redução, processamento e gerenciamento dos resíduos. A lei considera que a
gestão integrada de resíduos sólidos seja um conjunto articulado de ações políticas,
normativas, operacionais, financeiras, de educação ambiental e de planejamento
desenvolvidas e aplicadas (MINAS GERAIS, 2009).
Entretanto, a PERS de Minas Gerais não menciona especificamente a questão dos resíduos
eletrônicos. As PERS dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Ceará,
Piauí e Paraná também não contemplam a questão. Apenas a de Pernambuco trata o lixo
eletrônico como resíduo especial e indica que a indústria de eletroeletrônicos deve
apresentar plano de gerenciamento de resíduos sólidos, mas apenas para a produção
industrial, ignorando a questão dos produtos comercializados.
Pioneiro, o estado de São Paulo promulgou em 2009 a denominada Lei dos Eletrônicos
(Lei 13.576/09), que institui normas para reciclagem, gerenciamento e destinação final do
lixo eletrônico. Todos os fabricantes, importadores e comerciantes de equipamentos
eletrônicos, com atuação no estado de São Paulo, devem recolher, reciclar ou reutilizar
total ou parcialmente o material descartado pelos consumidores com base na logística
reversa. O QUADRO 5 apresenta um comparativo da legislação brasileira, demonstrando
as principais leis e normas que regulamentam os resíduos sólidos e o lixo eletrônico no
Brasil.
69
QUADRO 5 - Regulamentações nacionais: REEE
LEGISLAÇÃO NACIONAL COMPARADA SOBRE REEE
ESTADO LEGISLAÇÃO PRINCÍPIO DESDE
União
(Federal)
Política Nacional
do Meio Ambiente
Atribuição da competência sobre a gestão do
lixo doméstico aos municípios 1981
União
(Federal)
Resoluções
CONAMA para
resíduos perigosos
Proibição e regulamentação de importação e
exportação de produtos tóxicos (relacionados
pela Convenção de Basileia)
1996
União
(Federal)
Resoluções
CONAMA para
pilhas e baterias
Estabelece limites para metais pesados em
pilhas e baterias comercializadas no país 2008
União
(Federal)
Política Nacional
dos Resíduos
Sólidos
Regulamenta resíduos sólidos especiais
(incluindo os eletroeletrônicos) 2010
Minas
Gerais
Política Estadual dos
Resíduos Sólidos
(Minas Gerais)
Sem menção aos resíduos eletroeletrônicos 2009
Fonte: adaptado de Andueza (2009).
Com o intuito de viabilizar o atendimento da população urbana do estado de Minas Gerais
com sistemas de tratamento e destinação final dos REEEs e regulamentar a questão dos
aterros sanitários, foi elaborado em 2009 um caderno técnico com base em uma parceria
entre a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e a Fundação Israel Pinheiro (FIP).
O documento, denominado Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos de
Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (PGIREEE), do estado de Minas Gerais, integra o
processo de licenciamento ambiental. Esse documento apresenta diretrizes básicas para a
elaboração e implantação de sistemas de gestão desse REEE, buscando alternativas para a
geração de renda e inclusão social. E apresenta um levantamento da situação do sistema de
manejo dos resíduos sólidos no estado, a pré-seleção, as alternativas mais viáveis e o
estabelecimento de ações integradas e diretrizes relativas aos aspectos ambientais,
educacionais, econômicos, financeiros, administrativos, técnicos, sociais e legais para
todas as fases de gestão dos resíduos sólidos, desde a sua geração até a destinação final
(FEAM; FIP, 2009).
70
• Legislação municipal: Belo Horizonte
Com a necessidade de se resolver problemas locais, a partir do contexto regional, surge a
necessidade da construção de parcerias entre as autoridades locais e setores da sociedade
civil, buscando o desenvolvimento de políticas sustentáveis e a resolução de problemas
relacionados ao desenvolvimento econômico, à proteção ambiental e à justiça social da
cidade em questão. No município de Belo Horizonte a gestão de resíduos sólidos é de
responsabilidade da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), criada em 1973 sob a
forma jurídica de autarquia municipal, que tem como objetivo coordenar, planejar,
executar e fiscalizar os serviços de limpeza pública de Belo Horizonte (BELO
HORIZONTE, 2000).
Pesquisa desenvolvida por Franco (2008) mostra que o sistema de limpeza urbana de Belo
Horizonte não possui trabalho referente aos REEEs e que o destino dado aos computadores
obsoletos é o Programa de Desenvolvimento de Informática, Informações e Dados de Belo
Horizonte (PRODABEL). A diretora de planejamento e gestão da SLU-BH declarou não
existir coleta específica para esse material no município, por não haver demanda até aquela
data. Na página da SLU-BH na internet encontra-se apenas a seguinte recomendação:
Se você quer se desfazer de entulho, podas e bagulhos volumosos (colchões, eletrodomésticos, mobiliário), não jogue na rua, nem contrate serviço inadequado. Procure as Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV). Os carroceiros e a população em geral podem depositar, gratuitamente, pequenas quantidades desses materiais (BELO HORIZONTE, 2000).
De acordo com o diagnóstico realizado por Franco e Lange em 2011, ainda não foi
localizada alguma empresa de gestão de resíduos eletrônicos no município de Belo
Horizonte, nem mesmo no estado de Minas Gerais. As autoras veem a situação como uma
oportunidade para a implementação de aproveitamento REEE no setor empresarial para o
estado. De acordo com o estudo, a infraestrutura de coleta específica de resíduos
eletroeletrônicos é inexistente. As alternativas citadas pelas autoras em relação ao descarte
dos equipamentos eletroeletrônicos pós-consumo em Belo Horizonte são: disposição junto
aos resíduos domiciliares; operações especiais eventuais dos serviços de limpeza urbana;
doação direta a catadores ou outros pontos de entrega voluntária. A pesquisa mostra que
nas duas primeiras alternativas o destino final mais provável é o aterro sanitário. Os
catadores normalmente encaminham os materiais às cooperativas de recicláveis. Quanto
71
aos pontos de entrega voluntária, podem ser encontrados sistemas pontuais de gestão
formal para resíduos de computadores e aparelhos celulares e seus acessórios.
Em relação às empresas fornecedoras de telefones celulares, algumas possuem canais
reversos estruturados para o retorno da bateria, do aparelho celular e seus acessórios, por
meio das lojas de assistência técnica e pontos de venda. A coleta dos celulares e periféricos
pós-consumo é feita por meio de urnas receptoras e posteriormente os equipamentos são
encaminhados para desmontagem e reciclagem. Por vezes a triagem consiste apenas na
separação das baterias e o restante do aparelho acaba nos lixões. Contudo, a divulgação
desse sistema de recolha para os usuários ainda é deficiente. As cooperativas de catadores
de materiais recicláveis e as empresas que comercializam sucatas não possuem controle de
recebimento desses resíduos (FRANCO; LANGE, 2011).
Essa realidade traz um grande desafio para a cidade de Belo Horizonte: o desenvolvimento
das leis que versam sobre a disposição final de resíduos perigosos conduz a substancial
aumento dos custos impostos às empresas geradoras desses resíduos, que começam a
buscar opções mais baratas. Faz-se necessário, portanto, rever não somente a forma de
descarte dos rejeitos de equipamentos eletroeletrônicos, mas a maneira como são
concebidos e projetados.
Pode-se perceber, dessa forma, uma pressão para mudança no processo de
desenvolvimento dos produtos e no gerenciamento de suas obsolescências. Na sequência
desta pesquisa procurou-se contemplar as questões dos requisitos de projeto de design
desses produtos, a partir do enfoque em seus aspectos ambientais. Foram consideradas
duas ferramentas principais: a análise do ciclo de vida e a flexibilidade. Os conceitos
relativos aos requisitos de projeto são apresentados a partir de seus potenciais benefícios
ambientais.
2.7 Requisitos ambientais de projeto no design
Os requisitos de projeto no design se constituem em um conjunto de exigências e
condições apresentadas pelos clientes e demais atores envolvidos, para o desenvolvimento
72
do projeto do produto. Durante o processo de design, os requisitos de projeto levam em
consideração quesitos relacionados às questões de produção, distribuição, mercado,
público-alvo, comunicação, utilização (função, ergonomia, experiência e satisfação),
manutenção e descarte do produto a ser projetado.
Diferentes autores mostram que, na metodologia de design de produto, os requisitos de
projeto se posicionam em uma etapa analítica de coleta de informações e contextualização
do projeto, ou seja, em uma fase anterior à concepção propriamente dita do produto
(BAXTER, 1998; BÜRDEK, 2006; LOBACH, 2001). A Figura 13 exemplifica essa
metodologia em suas fases analítica, conceitual e tecnológica, consideradas também como
preconcepção, concepção e pós-concepção do produto, respectivamente.
FIGURA 13 - Metodologia de design
Fonte: adaptado de Baxter (1998), Lobach (2001) e Bürdek (2006).
Portanto, o processo de design relaciona-se intrinsecamente às questões relativas ao ciclo
de vida dos produtos, já que inclui, desde sua fase analítica, os aspectos relativos à
produção, à distribuição ao uso e ao descarte. Como atividade produtiva humana, portanto,
o design está intrinsecamente ligado à ecologia2, na medida em que a sua ocorrência
necessita e interfere - negativa ou positivamente - no meio ambiente. O design
contemporâneo, de maneira geral, reconhece a necessidade do conceito ecológico, mas na
prática os requisitos ambientais nem sempre são satisfeitos. A dimensão ambiental do
desenvolvimento de produtos no Brasil é ainda, muitas vezes, restrita apenas à adequação
2 O termo ecologia foi criado por Haeckel (1834-1919), em 1869, como sendo a ciência que estuda o conhecimento sobre as relações econômicas da natureza.
73
aos padrões impostos pelas normas técnicas e legislações vigentes, revelando uma posição
de inércia frente às emergentes implicações ambientais da produção e consumo de
produtos em escala global.
Dessa forma, os requisitos ambientais de projeto podem ser entendidos como o conjunto de
exigências e condições para o projeto, no que concerne à questão dos impactos ambientais
dos produtos, materiais e processos utilizados. Esses impactos podem ser entendidos como
quaisquer modificações do meio ambiente causadas por processos, produtos ou serviços,
podendo ser negativas - quando as modificações provocam danos - ou positivas - quando
elas promovem melhorias ao meio ambiente (PÊGO, 2010). Segundo Malaguti (2005), os
requisitos ambientais podem e devem ser incorporados no design dos produtos, compondo
um documento denominado briefing (do inglês brief - resumo), que é o documento que
contém os principais requisitos para a concepção e desenvolvimento do projeto (BAXTER,
1998; BÜRDEK, 2006; LOBACH, 2001).
Muitos dos requisitos ambientais fazem parte das considerações técnicas, funcionais ou
mercadológicas dos designers, mesmo quando esses requisitos não são prioridades das
demandas do projeto fornecidas pelos atores envolvidos (MALAGUTI, 2005). A inserção
desses requisitos nas descrições processuais do desenvolvimento de produtos e serviços
leva em consideração todos os aspectos ambientais envolvidos em seus ciclos de vida
(Norma Brasileira de Referência International Standard Organization - NBR ISO 14.062).
Nessa etapa a flexibilidade também se torna ferramenta essencial ao processo para o
aumento da sustentabilidade na produção (MANZINI, VEZZOLI, 2008). Azevedo (2009)
acredita que, ao se integrar às questões ambientais na fase de pré-desenvolvimento do
produto, esta facilite a sua inserção nas demais etapas do processo produtivo, viabilizando
a criação de um sistema de produção ecoeficiente3.
A grande vantagem de se integrar os requisitos ambientais no design de produtos é que os
impactos podem ser evitados ou minimizados antes que ocorram. Essa abordagem permite,
3 A ecoeficiência relaciona os valores agregados em um produto e a sua influência ambiental, e, segundo o World Business Council for Sustainable Development, pode ser medida objetivamente pela aplicação da fórmula: Ecoeficiência = Valor do produto / influência ambiental.
74
portanto, que se trate de problemas ecológicos de forma preventiva evitando-se soluções
paliativas, tomadas ao final dos processos produtivos, que são, na maioria das vezes, mais
onerosas e de funcionamento mais complexo. Em geral, o design embasado em critérios
ambientais de projeto trabalha buscando soluções com base nos conceitos de
sustentabilidade e ecoeficiência. Esses termos estão presentes nos debates sobre as
questões ambientais e atingem todos os segmentos da sociedade, mostrando ao setor
produtivo a necessidade de implementação de estratégias baseadas nesses conceitos
(MALAGUTI, 2005). A Figura 14 mostra um sistema de produção ecoeficiente proposto
por Manzini e Vezzoli (2008).
FIGURA 14 - Sistema de produção ecoeficiente
Fonte: Manzini e Vezzoli (2008).
Cada produto tem o potencial de carregar consigo a história de sua concepção, seus
materiais, suas formas e estruturas, construindo referências simbólicas e compondo a
imagem das empresas junto ao seu público. As empresas têm a possibilidade de agregar o
fator da responsabilidade ambiental como forma de diferenciação e fidelização dos
consumidores, além das possibilidades de exportação (MALAGUTI, 2005).
Segundo Pêgo (2010), a dificuldade encontrada hoje pelos designers envolvidos nas
questões ambientais não é mais a difusão de informações e parâmetros ambientais, mas sua
75
inserção nas etapas de desenvolvimento de novos produtos e sua consolidação como parte
intrínseca da atividade projetual.
Atualmente, o mercado mundial começa a buscar um padrão de produção e consumo
otimizados do ponto de vista econômico, social e ambiental. O ecodesign consolida a
cultura da racionalidade numa empresa, que passa a gerar produtos concebidos à luz da
ecoeficiência, da adoção de tecnologias limpas e da prevenção à geração de resíduos
impactantes.
De acordo com Manzini (2007), o ecodesign é a atividade que busca conectar o que é
tecnicamente possível e economicamente viável ao que é ecologicamente necessário, de
modo a criar novas propostas cultural e socialmente aceitáveis. O modelo denominado
roda de estratégias de ecodesign, proposto por Brezet e Van Hemel (1997), apresenta oito
estratégias para projetos de design, ligadas a oito eixos, seguindo o fluxo do ciclo da vida
do produto no sentido horário. A figura 15 mostra os níveis relevantes de cada uma das
oito estratégias.
FIGURA 15 - Roda de estratégias de ecodesign
Fonte: adapatado de Brezet e Van Hemel (1997).
De acordo com o modelo, a primeira estratégia (0) - “novo conceito de desenvolvimento” -
diz respeito ao desenvolvimento de novos paradigmas conceituais, novas possibilidades de
soluções, que podem surgir a partir do trabalho interdisciplinar. A estratégia seguinte (1) é
relativa à seleção de materiais de baixo impacto e busca a identificação de materiais não
Novo conceito de desenvolvimento
Seleção de materiais de baixo impacto
Redução de materiais
Otimização da produção
Sistema de distribuição
Impacto do usuário
Impacto ambiental durante uso
Otimização do fim de vida
76
agressivos, não exauríveis (fontes renováveis), de baixo conteúdo energético (minimizam a
energia de extração e transformação), reciclados e recicláveis. A redução de materiais é
conteúdo da estratégia 2 e se relaciona com a desmaterialização dos produtos e
virtualização dos serviços. A otimização das técnicas de produção - estratégia 3 implica a
busca de processos alternativos, diminuição de processos, de insumos, de desperdícios na
produção e de consumo de energia. O sistema de distribuição é analisado na estratégia 4,
buscando minimização e otimização de embalagens, sistema de transporte adequado e
logística eficiente. A estratégia 5 diz respeito ao impacto no nível do usuário e tem como
objetivos maximizar a experiência e satisfação do usuário e minimizar o consumo de
insumos e energia, assim como promover a utilização de energia e insumos limpos. Esses
aspectos também estão relacionados à estratégia 6, que procura minimizar o impacto
ambiental durante o uso, reduzindo e tratando adequadamente os resíduos e as emissões.
Por fim, a estratégia 7 trata do sistema de fim de vida, que geralmente é a etapa
responsável pelo maior impacto no meio ambiente. Esses princípios estabelecem relação
com todas as etapas do ciclo de vida do produto e se constituem em estímulos à concepção
ecoeficiente por parte dos designers.
O tema relacionado ao meio ambiente está reunido na subsérie NBR ISO 14062/2004,
denominada “Gestão ambiental: integração de aspectos ambientais no projeto e
desenvolvimento do produto.”, que descreve conceitos e técnicas associadas à orientação
do processo de tomada de decisão e controle de variáveis de projeto e desenvolvimento
(ABNT, 2004). A norma aborda os temas relacionados ao meio ambiente, aos aspectos e
impactos ambientais dos produtos industriais, auxiliando na avaliação do desempenho
ambiental dos produtos ao longo de seu ciclo de vida.
Um dos principais conceitos atuais no processo projetual, a partir do enfoque da
sustentabilidade e dos requisitos ambientais de projeto, está ligado à avaliação do ciclo de
vida dos produtos, seus potenciais impactos ambientais em casa etapa do processo de
produção e as consequências ambientais de todas as fases da vida de um produto.
77
2.7.1 Avaliação de ciclo de vida (ACV)
A ferramenta de avaliação do ciclo de vida (ACV) consiste em um método para a avaliação
dos sistemas de produtos e serviços, considerando os impactos ambientais em todas as
etapas do ciclo de vida, estabelecendo vínculos entre esses aspectos e as categorias
potenciais: consumo de recursos não renováveis, riscos à saúde humana e ao meio
ambiente. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos,
Environmental Protection Agency (EPA), a ACV (Life Cycle Analysis - LCA) é uma
técnica para a análise dos aspectos ambientais associados a um produto, processo ou
serviço. Ela visa à compilação de um inventário sobre as entradas (inputs) de material e
energia e sobre as saídas (outputs) de resíduos e emissões atmosféricas; à avaliação dos
potenciais impactos ambientais relacionados; e à interpretação dos resultados para auxiliar
as tomadas de decisão de projeto. Em 1993, a ISO criou o Comitê Técnico 207 (TC, 207)
para elaborar normas de sistemas de gestão ambiental e suas ferramentas. Esse Comitê é o
responsável por umas das mais importantes séries de normas internacionais, a série ISO
14000, que inclui as normas de ACV.
As normas ISO14000 têm como finalidade minimizar os impactos ambientais oriundos dos
processos de fabricação, uso e descarte de um produto ou prestação de serviço, desde o
momento da extração do recurso natural ou fornecimento da matéria-prima até a
reciclagem. O conceito refere-se às trocas entrada/saída (inputs e outputs) entre o ambiente
e o conjunto de processos que acompanham a origem, a vida e a morte de um produto
(MANZINI; VEZZOLI, 2008). Para o estabelecimento de um programa de gestão
ambiental nas organizações, as normas NBR ISO 14040 e NBR ISO 14044 definem os
requisitos que podem ser auditados para fins de certificação, registro ou autodeclaração e
especificam as diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio para o
sistema de gestão ambiental (ABNT, 2001, 2009).
Segundo Shedroff (2009), o ciclo de vida de um produto pode ser classificado nas
seguintes etapas:
• Design - concepção, criação e viabilização do projeto;
• pré-produção - obtenção e o beneficiamento da matéria-prima;
78
• produção - processos de transformação da matéria-prima, fabricação dos
componentes e montagem;
• distribuição - embalagem, transporte, armazenamento, divulgação e
comercialização dos produtos;
• uso - considerada a fase mais longa e a mais interessante para os profissionais de
design;
• descarte e recuperação - compreende o fim da vida útil do produto com
possibilidades de recuperação de componentes, materiais ou mesmo
aproveitamento do seu valor energético (incineração).
A partir da bibliografia consultada (BREZET; VAN HEMEL, 1997; MANZINI, 2007;
MCDONOUGH; BRAUNGART, 2002; SHERIN, 2009; SHEDROFF, 2009) percebe-se a
possibilidade de que o ciclo de vida do produto pode realmente se fechar (FIG. 16), quando
se unem a etapa final - disposição, recuperação e reciclagem - e a inicial - pré-produção
pela reciclagem ou remanufatura. Quando isso ocorre, tem-se um ciclo de vida
ecologicamente correto, conhecido como “do berço ao berço” (cradle to cradle), em vez de
um ciclo linear e aberto, conhecido como “do berço ao túmulo” (cradle to grave), que
moldou a produção industrial até os dias atuais.
FIGURA 16 – Ciclo de vida fechado do produto
Fonte: Carboclima Soluções Ambientais Ltda.
79
A ACV é uma ferramenta de apoio à tomada de decisões de projeto que gera informações a
partir de uma análise comparativa do desempenho ambiental de produtos. A análise do
ciclo de vida, portanto, propõe um diagnóstico bastante complexo, com muitas variáveis.
Por esse motivo, há uma estrutura formal, dividida em etapas, para a realização de uma
ACV de um produto, que pode ser observada na Figura 17.
FIGURA 17 - Estrutura para avaliar o ciclo de vida
Fonte: Carboclima Soluções Ambientais Ltda.
Estudo desenvolvido por Sansão (2011) mostra que muitos estudos de ACV,
aparentemente iguais, chegam a diferentes conclusões, devido às considerações feitas,
fronteiras adotadas, idade dos dados, tecnologias, logística de abastecimento de matérias-
primas e matriz energética, que são fatores críticos para os parâmetros inventariados.
Na tentativa de padronizar a ACV, importante contribuição foi fornecida pela Society of
Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC), que reuniu pesquisadores líderes na
área para discutir o tema em cerca de nove conferências internacionais organizadas entre
os anos de 1990 e 1993. Desse esforço resultou a publicação Guidelines for Life Cycle
Assessment – a Code of Practice (COLTRO, 2007), que foi o primeiro documento voltado
para a padronização da metodologia de ACV e que, mais tarde, orientou os trabalhos de
normalização internacional da ISO.
Essas normas têm como objetivo fornecer ferramentas que avaliam os métodos de
fabricação, permitindo selecionar indicadores ambientais e rotular as empresas como
cumpridoras das regras ambientais (LIBRELOTTO, 2006). Os trabalhos de normalização
internacional da ACV pela ISO envolveram mais de 300 especialistas de quase 29 países,
que atuaram direta ou indiretamente na padronização e que geraram a série de normas ISO
80
14040 relativas à ACV. A norma NBR ISO 14040 (2001) foi internalizada pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) mediante trabalho desenvolvido pelo Subcomitê
de Avaliação do Ciclo de Vida - SC-05 - do Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental -
ABNT/CB-38. A partir de 2006, as normas ISO 14040, ISO 14041, ISO 14042 e ISO
14043 foram compiladas nas normas ISO 14040 (2006) e 14044 (2006):
• ISO 14040. Life Cycle Assessment. Principles and Framework (2006) (Avaliação
do ciclo de vida - Princípios e Estrutura).
• ISO 14044. Life Cycle Assessment. Requirements and Guidelines (2006)
(Avaliação do ciclo de vida - Requisitos e Diretrizes).
No Brasil foram publicadas:
• ABNT NBR ISO 14040 - Gestão ambiental - Avaliação do ciclo de vida -
Princípios e estrutura (ABNT, 2001);
• ABNT NBR ISO 14044 - Gestão ambiental - Avaliação do ciclo de vida -
Requisitos e orientações (ABNT, 2009).
Segundo Kazazian (2005), diferentes abordagens são possíveis para aumentar a
durabilidade de um produto, conforme as etapas de seu ciclo de vida. Um dos caminhos
indicados para o desenvolvimento de produtos sustentáveis é buscar a otimização de sua
vida útil. Esse caminho pode ser utilizado como estratégia no desenvolvimento de novos
produtos intrinsecamente mais sustentáveis, podendo ainda dar suporte à implantação de
sistemas produto-serviço e de futuros novos cenários para estilos de vida sustentáveis.
Nessa direção, uma nova abordagem foi desenvolvida com o intuito de estimular mudanças
nos padrões de produção e consumo atuais e, consequentemente, nos estilos de vida. O
conceito de Sistema Produto-Serviço - PSS (Product-Service System) teve origem na
Escandinávia e Holanda durante os anos 1990, com contribuições vindas, principalmente,
de acadêmicos das áreas ambiental e social (BAINES et al., 2007).
Mas, ainda que as motivações das pessoas para a substituição de produtos sejam muito
diversas e de difícil previsão, Van Nes e Cramer (2003) referem que o que as pessoas em
geral desejam, basicamente, são produtos atualizados e que funcionem bem, adaptando-se
às suas necessidades cambiantes. Para as autoras, a natureza dinâmica desse contexto
81
requer abordagem similar, ou seja, o desenvolvimento de produtos igualmente dinâmicos e
flexíveis.
Nesse sentido, duas mudanças significativas podem ser identificadas no processo projetual
de design de produtos, a partir do enfoque da sustentabilidade: a primeira é a consideração
de todo o ciclo de vida do produto nos requisitos ambientais de projeto, com a avaliação de
seus potenciais impactos ambientais, em cada etapa, em que é importante destacar que já
não é mais suficiente apenas comparar os impactos ambientais de materiais e processos de
produção sem considerar o ciclo como um todo. A segunda relaciona-se aos aspectos de
flexibilidade do ciclo de vida do produto e é aplicada à conceituação e à concepção dos
projetos, frente a um cenário de rápidas e constantes transformações nos aspectos
tecnológicos, culturais, sociais e ambientais. Ambas as interpretações são úteis para a
discussão acerca do design para a otimização da vida útil dos produtos. O conceito de
flexibilidade torna-se, portanto, fundamental para a reflexão sobre produtos duráveis e será
explorado no próximo subitem.
2.7.2 Flexibilidade
A flexibilidade pode ser entendida como a facilidade com que um sistema ou componente
é capaz de ser modificado para uso em aplicações ou ambientes diversos daqueles para os
quais foram originariamente projetados (GUEDES, 2008). Sua aplicação no design de
produtos procura favorecer processos de adaptação, customização, evolução, reutilização e
reaproveitamento. Não é um conceito inserido pontualmente no design, mas planejado
durante o processo projetual, quando são abertas possibilidades de futuras mudanças de
otimização da vida útil dos produtos, componentes e materiais. A flexibilidade, segundo
Guedes (2008), é uma ação e ao mesmo tempo um processo, que permite explorar
oportunidades imprevistas que possibilitam responder a um cenário em mutação a uma
velocidade sempre crescente e que produz resultados imprevisíveis. A incapacidade de
adaptação conduz à obsolescência e, ao contrário, toda adaptabilidade favorece uma vida
útil maior e mais satisfatória a partir da inter-relação entre usuário e objeto (MARLET,
2005).
82
Existem diferentes tipos de flexibilidade no design. Galfetti (1997) classifica-a em dois
tipos: flexibilidade inicial e flexibilidade permanente. A primeira oferece a possibilidade
de escolha antes da compra e permite a participação do usuário em sua concepção (como
no setor dos automóveis, a escolha de configurações e acessórios promove certa
personalização do veículo). A flexibilidade permanente, entretanto, permite modificar o
produto ao longo do tempo. Nessa categoria percebe-se uma visão do design de forma mais
sistêmica: o produto não se limita às transformações anteriores à compra, mas mantém seu
potencial de mutabilidade durante todo seu ciclo de vida. O conceito de flexibilidade
permanente abrange a ideia de adaptabilidade do produto frente às diferentes necessidades,
que estão em constante transformação. Manzini e Vezzoli (2008) consideram outras duas
categorias: a flexibilidade como abertura - a capacidade de se adequar à variedade de usos;
e a flexibilidade como potencial evolutivo - a capacidade de se transformar ao longo do
tempo.
Zacar (2010) sugere a aplicação do conceito de flexibilidade na análise das dimensões
funcionais dos produtos, conforme classificadas por Lobach (2001): funções de uso,
funções técnicas e funções simbólicas. A síntese das estratégias apresentadas pode ser
visualizada no QUADRO 6.
QUADRO 6 - Estratégias de flexibilidade nas funções de uso, técnicas e simbólicas do projeto de design
Flexibilidade Estratégias de Design
Nas funções de uso Baixa especialização, multifuncionalidade
indefinida e simplicidade.
Nas funções técnicas Atualização tecnológica, modularização e
transparência.
Nas funções simbólicas
Atualização estética e exploração da estética
local.
Materiais que sofram alterações estéticas
positivas ao longo do tempo.
Customização, personalização e alteridade.
Fonte: adaptado de Lobach (2001) e Zacar (2010).
83
• Funções de uso - permitem explorar a flexibilidade, por meio de indefinição e/ou
simplificação das funções. Podem ser alternativas viáveis para o desenvolvimento
de produtos mais abertos a alterações e ao mesmo tempo mais duráveis.
• Funções técnicas - possibilitam adaptação e atualização tecnológica. Promovem o
prolongamento da vida útil do produto, acompanhando as inovações tecnológicas.
• Funções simbólicas - estão relacionadas ao comportamento humano, motivações
psicológicas, sistemas de valores e referências socioculturais. Dizem respeito às
necessidades subjetivas, tais como status e aparência.
Essas estratégias podem contribuir para que o usuário vivencie experiências mais
significativas com o produto. Uma das causas da baixa durabilidade dos artefatos é
justamente o fato de que boa parte deles não foi projetada para proporcionar experiências
variadas e significativas ao usuário (ZACAR, 2010).
Outra questão determinante para a durabilidade dos objetos é o aspecto relacional que se
estabelece com estes. Para Kazazian (2005), essas relações podem ser utilitárias, cognitivas
e emocionais. Um objeto atrai se desperta os sentidos e nele se pode depositar significados
ao longo do uso. Em outras palavras, o objeto conta uma história quando “ele materializa
para nós um sentimento, a lembrança de um instante” (KAZAZIAN, 2005, p. 44).
Neste sentido, uma vertente do design surge como tentativa de facilitar e antecipar as
possibilidades de interação com os produtos, a partir de estratégias de flexibilidade na
concepção do projeto. Essa proposta não deixa de remeter ao velho sonho modernista dos
sistemas modulares, nos quais, por meio de conjuntos e módulos padronizados, é possível
montar diferentes estruturas. Contudo, a atual ideia de produtos interativos difere da
proposta anterior, na medida em que não se trata de variações previsíveis a partir de
elementos simplificados, mas, antes, de abrir possibilidades para gerar projetos com
densidade conceitual tal que seja possível desdobrar, ou mesmo desconstruir, as funções do
objeto (CARDOSO, 2004).
De acordo com Kronenburg (2007), produtos projetados a partir da flexibilização têm
vantagens consideráveis, pois podem ser utilizados por mais tempo, se adequam melhor às
suas finalidades, contemplam a experiência e a intervenção dos usuários, tiram partido das
84
inovações tecnológicas com mais facilidade e são econômica e ecologicamente mais
viáveis.
2.7.2.1 Estratégias de flexibilidade para produtos eletroeletrônicos
Devido ao desenvolvimento das legislações ambientais relativas aos resíduos de
equipamentos eletroeletrônicos, as responsabilidades das empresas para com o destino
final de seus produtos, aos poucos, tendem a se consolidar. A seleção dos materiais e
componentes a serem utilizados nos produtos deve agora levar em conta a viabilidade
técnica e econômica dos processos de reutilização e reciclagem. Assim, para viabilidade
técnica, é importante que os materiais selecionados sejam passíveis de reciclagem, sem
perda de qualidade ou propriedades, levando-se em consideração que a mão de obra
envolvida não seja exposta à insegurança ou a elementos tóxicos. Quanto à viabilidade
econômica, os tempos e os custos envolvidos nos processos de desmontagem e triagem
devem ser otimizados, favorecendo a competitividade da matéria-prima reciclada em
relação à virgem, no mercado das commodities4. Atualmente os custos com o transporte e
com a mão de obra (desmonte artesanal) inviabilizam a recuperação mais ampla de alguns
materiais. Também é essencial que os processos de recuperação dos materiais provoquem
o menor impacto ambiental possível, minimizando o consumo de água, energia e as
emissões de poluentes.
Nesse sentido, o conceito de flexibilidade se apresenta como estratégia para prolongar a
vida útil dos produtos, componentes e materiais, em que diversas estratégias podem ser
utilizadas no design contemporâneo. Nessa categoria percebe-se uma visão do design de
forma mais sistêmica: o produto não se limita às transformações anteriores à compra, mas
mantém seu potencial de mutabilidade durante todo seu ciclo de vida e, além dele, na
recuperação dos materiais. A literatura pesquisada sugere algumas estratégias de
flexibilidade que são possíveis de se adotar no design de produtos eletroeletrônicos:
4 Commodities são produtos padronizados, sem diferenciação, cujo processo de produção é dominado por vários países (o que gera alta competitividade) e cujo preço não é definido pelo produtor, dada a sua pequena influência individual na oferta, mas é definido pelas condições do mercado.
85
• Design para desmontagem (design for disassembly);
• design para durabilidade ou perdurabilidade adequada;
• design para atualização e adaptabilidade;
• design por componente;
• reparabilidade e manutenção;
• multifuncionalidade;
• modularidade;
• manufatura rápida e customização em massa (Rapid Manufacturing, Mass
Customization); e
• sistemas produto/serviço Product/Service System (PSS).
Design para desmontagem (design for disassembly) - procura analisar os processos
necessários, ao final da vida útil dos produtos, para permitir a reutilização e
reprocessamento dos materiais como matéria-prima para nova fabricação. Deve-se prever,
desde o início do processo do projeto de design, a facilidade e eficiência dos
procedimentos de separação dos diferentes componentes e materiais. Constitui-se em um
requisito prévio que possibilita a reparação, remanufatura, recuperação e reciclagem dos
materiais ou componentes de forma eficaz. As peças e os sistemas de fixação utilizados no
projeto devem ser de fácil e rápido acesso e é necessário que as partes não sofram avaria
no processo. Cada material deve ser separado de maneira limpa, sem contaminação de
outros materiais. Para tanto, é necessário conceber o produto utilizando-se de sistemas de
junção reversíveis, minimizar a diversidade de materiais e simplificar os componentes do
produto. Além disso, para otimização do processo de coleta e triagem, é necessário facilitar
a identificação dos materiais, utilizando simbologia internacional (BARBERO; COZZO,
2009; BREZET; VAN HEMEL, 1997; KLOHN; FERREIRA, 2009; MANZINI;
VEZZOLI, 2008; SHEDROFF, 2009).
Do ponto de vista econômico, o processo de desmontagem deve ser realizado com baixos
custos, para viabilizar a competitividade e a reciclagem, se comparado ao custo da matéria-
prima virgem. Shedroff (2009) critica a variedade de materiais utilizada em alguns
produtos e a dificuldade em separá-los (FIG. 18), criando o que o autor chama de monstros
híbridos (monstrous hybrid). Nos países desenvolvidos, as pesquisas sobre o design para
desmontagem estão sendo direcionadas para os produtos eletroeletrônicos. Isso se deve ao
86
fato de que o ciclo de vida de produtos eletroeletrônico tem se tornado cada vez mais curto
e também devido a mais rigor das leis ambientais, conforme comentam Lima e Romeiro
(2003).
FIGURA 18 – Monstro híbrido (monstrous hybrid).
Fonte: Shedroff (2009).
Design para durabilidade e para a perdurabilidade adequada - trata-se de um conjunto
de estratégias no design de produtos que objetivam otimizar a vida útil dos produtos. A
durabilidade relaciona-se à capacidade dos materiais de resistirem à passagem do tempo,
mantendo-se funcionais e envelhecendo dignamente (MANZINI; VEZZOLI, 2008). A
perdurabilidade adequada, por sua vez, é uma qualidade de ordem conceitual e tem relação
com a harmonização entre os aspectos de durabilidade dos materiais e aos conteúdos
comunicativos, simbólicos, estéticos e culturais em que se inserem os produtos (MARLET,
2005). Nesse sentido, os autores Manzini e Vezzoli (2008) consideram desperdício projetar
componentes que durem mais que a vida útil do próprio produto. Um exemplo de produto
que utiliza o conceito de se projetar para a perdurabilidade adequada é o Recompute (FIG.
19), no qual a carenagem do produto é composta de papelão ondulado, material coerente
com produtos de curto ciclo de vida.
87
FIGURA 19 – Recompute: computador desktop em papelão ondulado
Fonte: Recompute. Disponível em: http://recomputepc.com.
Outro exemplo dessa estratégia é o apresentado pelo setor de design e engenharia de
materiais da empresa chinesa Pegatron Corporation, que desenvolveu uma liga de papel e
polipropileno (PP) para as carcaças plásticas de produtos eletroeletrônicos. A liga Papel-PP
desenvolvida é resistente, reciclável, flexível, impermeável e pode ser moldada por
injeção. A Figura 20 ilustra uma aplicação da liga em uma carenagem para notebook.
FIGURA 20 – Carenagem para notebook em liga papel-PP.
Fonte: Pegatron Corporation. www.pegadesign.com.
Normalmente os produtos sujeitos a rápidas mudanças tecnológicas não são os melhores
candidatos à durabilidade: se um produto se torna rapidamente obsoleto, torná-lo durável é
um contrassenso. Nos produtos complexos, sujeitos a mudanças mais frequentes, a
adaptabilidade e a capacidade de atualização são mais pertinentes.
Design para a atualização e adaptabilidade - esta estratégia relaciona-se às
características que podem aumentar a vida útil do produto eletroeletrônico, considerando
os fenômenos de evolução e mudança, tanto em relação ao desenvolvimento das
tecnologias, quanto em relação ao contexto cultural em que o produto está inserido. Devem
88
ser levados em consideração os aspectos de inter-relação do produto com o meio, com o
homem, além de seu diálogo com o restante dos objetos e com a evolução dos sistemas
tecnológicos. Manzini e Vezzoli (2008) fazem sugestões para facilitar a atualização e
adaptação dos produtos, das quais se destacam: predispor e facilitar a substituição para
atualização de partes de hardware e de software; modularizar componentes
reconfiguráveis e atualizáveis; proporcionar multifuncionalidade e possibilidade de
reconfiguração a panoramas culturais diversos. Essa estratégia é muito importante no
desenvolvimento de produtos complexos como os equipamentos eletrônicos e pode ser
propiciada a partir do desenvolvimento de plataformas e/ou de envoltórios reutilizáveis
cujo conteúdo tecnológico dos produtos possa ser desenvolvido em módulos ou projetado
para fácil substituição, enquanto as partes estruturais, que não se alteram tecnologicamente
com tanta frequência, possam ser feitas para perdurar (ZACAR, 2010). Produtos sujeitos à
rápida obsolescência tecnológica podem ter sua vida útil ampliada a partir da substituição
de componentes ultrapassados por outros mais recentes (upgrade) ou acréscimo de novos
componentes (MANZINI; VEZZOLI, 2008; UNEP, 2011; ZACAR, 2010). O objetivo é
adequar o tempo de vida de cada componente individual à durabilidade do produto como
um todo. Um exemplo é o computador Studio Hybrid, da fabricante Dell. O computador
com carenagem acrílica ou em bambu é passível de atualizações dos componentes internos
e adaptação da sua utilização vertical ou horizontal, o que permite diversas configurações
de materiais e de uso (FIG. 21).
89
FIGURA 213 – Design para a atualização e adaptabilidade - computador Dell
Fonte: Dell Studio Hybrid Desktop - http://www.dell.com
Design por componentes (design by component) - estratégia que tem por objetivo
determinar as características do produto a partir da redefinição de seus componentes
internos essenciais e da otimização do sistema de fornecimento de componentes
industrializados disponível. Cada componente é considerado um produto acabado, com seu
ciclo de vida autônomo em relação aos outros elementos. O projeto de design é concebido
de dentro para fora, a partir da análise do layout dos componentes necessários para
promover o funcionamento, a usabilidade e a manutenção. O processo de projeto começa
com a análise de objetos desmontados, pertencentes à mesma tipologia, utilizando-se
conceitos associados à engenharia reversa. Os aspectos a se ter em conta são: as relações
entre os componentes, as leis físico-mecânicas que os caracterizam e as tecnologias de
produção. Algumas linhas de orientação podem ser delimitadas nessa estratégia: a
integração dos componentes do mesmo material e a possibilidade de separação dos
componentes de materiais diferentes; facilitação do processo de remoção das partes;
acessibilidade do produto em termos de utilização e manutenção (BARBERO; COZZO,
2009). Essa estratégia é caracterizada como uma das abordagens que mais promovem
inovações em projetos de produtos eletroeletrônicos, já que, frequentemente nesse setor, a
inovação no projeto de design se limita ao projeto da carenagem exterior (BISTAGNINO,
2008). Apresenta-se como um instrumento para promover a sustentabilidade ambiental no
90
design industrial, redefinindo critérios de projeto, buscando a criação de produtos
industriais capazes de atender às novas demandas. O aparelho celular da empresa Apple,
iPhone (FIG. 22), ilustra o projeto desenvolvido com base na estratégia do design por
componente, em que cada subparte do produto é fabricada e montada por empresas
independentes e a logística do sistema é planejada em âmbito global.
FIGURA 22 - iPhone
Fonte: http://winexperience.wordpress.com
Reparabilidade e manutenção - esta estratégia se destaca no âmbito da sustentabilidade,
uma vez que objetiva facilitar o acesso e a troca de peças e componentes, tanto em relação
aos procedimentos técnico-operacionais no ato da substituição, quanto em termos de
disponibilidade e distribuição de peças de reposição avulsas no mercado. A concepção do
produto deve objetivar a sua fácil reparação, promovendo acesso aos componentes sujeitos
a desgaste, minimizando as operações de manutenção e promovendo sistemas de
diagnóstico. A estandardização ou padronização de componentes favorece o reparo, já que
possibilita que vários fabricantes ofereçam peças sobressalentes a preços competitivos
(MANZINI; VEZZOLI, 2008). Essa prática é muitas vezes evitada pelas indústrias que, na
tentativa de se proteger da concorrência, desenvolvem componentes exclusivos,
dificultando intencionalmente a reparação. Em contrapartida, algumas empresas
potencializam os seus serviços de assistência técnica como um meio de prolongar a vida
útil de seus produtos. A manutenção evita os custos econômicos e ambientais oriundos de
reparos ou substituições de peças danificadas pelo desgaste. O projeto One Laptop Per
Child (OLPC) - um computador por criança - apresentado na Figura 23 é um bom
91
exemplo. O projeto objetiva suprir crianças de países da África e outras regiões carentes
com laptops, para fornecer suporte à educação e à inclusão digital.
FIGURA 23 – Projeto para um computador por criança: One Laptop Per Child (OLPC)
Fonte: Fuse Project. http://www.fuseproject.com
Multifuncionalidade - é a estratégia de projeto que conduz à síntese, reunindo em um
único sistema as utilidades específicas de vários produtos. Esta estratégia avança em
sentido contrário à da especialização dos produtos, que implica a proliferação, por vezes
injustificada, de objetos que respondem a necessidades cada vez mais específicas. A
convergência digital proporcionou uma espécie de desmaterialização de diversos
equipamentos eletrônicos e sua substituição por softwares com a mesma função. Os
diferentes aplicativos disponíveis atualmente para aparelhos celulares, por exemplo,
substituem relógios, despertadores, agendas e calendários eletrônicos, filmadoras e
câmeras fotográficas, bússolas e Global Positioning System (GPS), produtos para edição e
reprodução musical, entre vários outros produtos. A multifuncionalidade requer pensar
mais profundamente no processo do que no produto. O sistema adquire protagonismo, em
detrimento da forma (BARBERO; COZZO, 2009; MANZINI; VEZZOLI, 2008;
MARLET, 2005). O OLPC destaca-se como um projeto conceitual para tablet (FIG. 24)
que tem como premissa a multifuncionalidade de usos e aplicações.
92
FIGURA 24 - Projeto conceitual: tablet OLPC
Fonte: Fuse Project. http://www.fuseproject.com
Modularidade - abordagem que permite, a partir de um conjunto de componentes padrão,
oferecer diversas configurações a um mesmo produto, atendendo a diferentes demandas
pessoais, espaciais e temporais. As soluções modulares, descentralizadas e diversificadas
podem ser interessantes para a construção de produtos mais flexíveis, com potencial de
evolução e tecnologicamente mais transparentes. Para tanto, é necessário que haja
simplicidade e transparência na modularização, de forma que o próprio usuário possa
manipular os componentes para sua atualização e/ou manutenção, aprimorando o processo
de utilização dos produtos (BARBERO; COZZO, 2009; GUEDES, 2008; MANZINI;
VEZZOLI, 2008). Como exemplo inovador pode-se observar na Figura 25 um sistema de
som modular, com múltiplas possibilidades de configuração, dos designers da Dotline
Collective.
FIGURA 25 - Modular Sound System
Fonte: Dotline Collective: David Letellier, Florian Brillet e Anne Derian. http://www.designboom.com.
93
Customização em massa (mass customization) - é outra estratégia de projeto voltada para
a flexibilidade no desenvolvimento de produtos, que pode ser considerada a forma mais
recente de se personalizá-los, melhor adequando-os às necessidades e demandas de cada
consumidor. Segundo Pine e Gilmore (2000), por meio da customização em massa é
possível proporcionar ligações emocionais mais significativas entre os produtos e os
usuários, a partir da personalização, evitando-se o descarte prematuro dos artefatos. Se o
usuário se conecta emocionalmente a um artefato, irá manuseá-lo com cuidado, realizar
manutenção e mantê-lo em sua posse e uso. Os novos métodos de produção baseados na
modelos digitais tridimensionais não se destinam a produzir cópias idênticas de um mesmo
produto, mas a desenvolver sistemas suficientemente flexíveis para produzir um grande
espectro de formas diferentes (HAGUE, 2005; NORMAN, 2005; PINE; GILMORE,
2000). A empresa norte-americana Shapeways, por exemplo, promove a customização em
massa a partir da disponibilização de diversos modelos tridimensionais on-line, em
plataforma digital, e da possibilidade de alterações do modelo ou mesmo envio de um
desenho novo. A empresa ainda oferece o serviço de impressão tridimensional e entrega do
produto. A Figura 26 apresenta a plataforma digital e o produto final para o projeto
denominado Light Poem (poema luminoso, em português).
FIGURA 26 – Customização em massa promovida pela empresa Shapeways
Fonte: http:www.shapeways.com
Manufatura rápida (rapid manufacturing) - permite a customização individual na
produção industrial, mantendo a sustentabilidade econômica da indústria. A aplicação mais
recente das tecnologias de prototipagem rápida e impressão 3D é a sua associação ao
sistemas de fabricação de produtos finais. A tecnologia torna possível produzir, de forma
94
economicamente viável, séries limitadas e até mesmo individualizadas, sem as limitações
impostas pela seriação (ferramentaria e moldes), além de possibilitar a execução de formas
com geometria complexa, que antes eram impossíveis ou difíceis de produzir (HAGUE,
2005). A empresa holandesa Freedom of Creation especializou-se em produzir, a partir dos
conceitos da customização em massa (com interface na internet) e de tecnologias de
manufatura rápida, produtos personalizados, como o headphone apresentado na Figura 27.
FIGURA 27 - Headphone customizado
Fonte: http://www.freedomofcreation.com/
Sistema Produto-Serviço - PSS (Product-Service System) - a ideia central do modelo
PSS é que os consumidores não comprem o produto em si, mas a utilidade que esses
produtos e serviços oferecem. Muda-se o foco de um produto físico tangível para um
serviço intangível que possa satisfazer as necessidades dos clientes, tendo-se a satisfação
como valor, em vez da propriedade física e funcional individual dos produtos. Nesse
sentido, mais demandas podem ser atendidas utilizando-se menos material e energia. O
conceito também pode ser entendido como a construção da interface do cliente com a
organização prestadora, ou seja, na estruturação dos seus pontos de contato com o usuário,
que geram a experiência de consumo (BAINES et al., 2007; BOSSE et al., 2006;
KAZAZIAN, 2005; MANZINI; VEZZOLI, 2008; ROOS et al., 2010; UNEP, 2011).
Adotar a mudança para o design de PSS possibilita às empresas evoluir em direção a uma
nova maneira de se relacionar com os clientes. A empresa que comercializa o sistema (o
usuário não adquire o produto, mas o resultado produto-serviço) estende a relação do
consumidor para além da venda do produto, em uma interação contínua na fase de uso, por
95
meio de aquisição e entrega de suprimentos, manutenção e qualidade de serviço. A
empresa também pode desempenhar importante papel ao fim da vida-útil do produto, a
partir da reutilização, recuperação ou reciclagem de componentes e materiais,
possibilitando a utilização racional de recursos e reduzindo a geração de lixo (UNEP,
2011). Bosse et al. (2010) ressaltam que o PSS é uma tendência para soluções direcionadas
ao consumo sustentável de recursos, envolvendo a preocupação, por parte das empresas,
com todo o ciclo de vida dos sistemas. Os autores observam que os recursos são
otimizados, minimizando o impacto no meio ambiente: pela desmaterialização do consumo
de produtos, o design de PPS destaca-se em relação aos modelos de negócio tradicionais.
Nos modelos de negócio que envolvem a venda do produto eletroeletrônico (FIG. 28), o
produto tangível se torna propriedade e responsabilidade do consumidor, que por sua vez
deve cuidar da manutenção, utilização e descarte, sendo elevado o investimento inicial de
compra.
FIGURA 28 – Infográfico: modelo tradicional de venda do produto eletroeletrônico
Fonte: Adaptado de Baines et al. (2007) e Bosse et al. (2006).
Já os modelos de negócio baseados nos PSS (FIG. 29) reduzem as responsabilidades do
consumidor com o produto. A empresa que oferece o sistema se responsabiliza pela
atualização, manutenção e descarte, além de se envolver diretamente com o fornecimento
de produtos consumíveis associados (como exemplos, papel e tinta para impressora). Com
esse modelo de negócio alternativo, as empresas podem apresentar novas formas de
atender os clientes e satisfazê-los, cumprindo suas necessidades sem precisar oferecer a
96
venda de produtos tangíveis, mas sim um conjunto de soluções (ROOS et al., 2010;
VEZZOLI, 2010).
FIGURA 29 – Infográfico comparativo consumo PSS
Fonte: Adaptado de Baines et al. (2007) e Bosse et al. (2006).
O modelo PPS pode ser válido apenas em determinados casos, uma vez que exige
mudanças culturais relacionadas à natureza da posse dos objetos e relativas a questões de
individualidade e expressão pessoal (BOSSE et al., 2006). Esses aspectos são valorizados
devido ao anseio pela facilidade de acesso, proximidade e liberdade de utilização
(KAZAZIAN, 2005).
Sob esse prisma, considera-se que a posse de certos bens eletroeletrônicos por parte dos
usuários continuará a existir e que esses bens, sendo mais flexíveis, podem apresentar
melhores performances socioambientais. A abordagem adequada pode ser a da oferta de
produtos mais adaptáveis e reconfiguráveis pelas indústrias, além de uma gama de serviços
relacionados à melhoria do produto durante todas as fases do seu ciclo de vida, otimizando
a produção, prolongando a fase de uso e recuperando os materiais ao final da vida útil.
Considerando a revisão da literatura pertinente, portanto, podem-se perceber diversas
estratégias relacionadas à flexibilidade e à gestão da obsolescência direcionadas ao design
de equipamentos eletroeletrônicos. Uma questão premente, entretanto, tem relação com a
análise da real viabilidade regional para efetivação dessas estratégias e com o nível de
97
influência que os designers de produto conseguem exercer na concepção do projeto de
produtos eletroeletrônicos, assim como na gestão sustentável da obsolescência desses
produtos. Fomenta-se, desta forma, o papel de protagonismo dos designers na questão da
sustentabilidade, conforme já preconizado por Manzini e Vezzoli (2008).
Para contribuir com a análise dessas questões - de viabilidade contextual e competência do
design -, o presente estudo contempla uma pesquisa de campo exploratória que consiste em
uma série de entrevistas semiestruturadas aplicadas a designers atuantes no setor
eletroeletrônico de Minas Gerais, com o objetivo de identificar os principais entraves
relacionados à implementação da questão da sustentabilidade no setor.
98
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia adotada para este estudo caracteriza-se por seu caráter qualitativo e
exploratório, tomando como referência investigativa os estudos de Yin (2001), Miles e
Huberman (1994) e Cooper e Schindler (2003). Segundo os autores, a pesquisa qualitativa
é caracterizada pela subjetividade, pela não representatividade e pelo planejamento não
sistemático. A adoção da pesquisa exploratória neste caso torna-se útil devido à
complexidade da investigação e a seu contexto extremamente atual e amplo.
Após a análise da revisão bibliográfica, da legislação pertinente e do estado da arte dos
conceitos apresentados, foram selecionadas empresas de design atuantes no setor de
eletrônicos de consumo e consideradas representativas para a amostragem. As empresas de
design foram selecionadas por meio de amostragem intencional, não probabilística, de
forma a privilegiar a coleta qualitativa das informações. Nesse tipo de abordagem, a
seleção da amostragem não é aleatória, há o interesse em se estudar apenas os tipos de
sujeitos selecionados e o pesquisador nomeia os membros da amostra por atenderem a
determinados critérios (COOPER; SCHINDLER, 2003).
Para se atingir estas metas foram realizadas, além das visitas técnicas às empresas e a
análise das atividades de projeto, entrevistas semiestruturadas presenciais com os designers
responsáveis pela tomada de decisão no setor de projetos. Para melhor elucidar o problema
foi feita uma investigação empírica das atividades na rotina de trabalho, considerando
múltiplos estudos de caso e a comparação entre eles. Os dados coletados foram
confrontados com as informações analisadas na revisão da literatura.
3.1 Local de estudo e amostragem
O local escolhido para a coleta de dados deste estudo foi a capital do estado de Minas
Gerais. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), a
cidade de Belo Horizonte tem população de 2.375.4444 habitantes, área de 331 km2 e
índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,839 ponto, com classificação nacional em
99
71° lugar, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD,
2003).
O estado de Minas Gerais concentra grande parte dos trabalhadores no segmento de
produtos eletrônicos no Brasil (FIG. 30), com 7,9% de trabalhadores, seguindo os estados
do Paraná e Santa Catarina (9,2%) e São Paulo (48,8%), além da região da Zona Franca de
Manaus, com 10,1% de trabalhadores (DIEESE, 2010). A intenção da escolha foi eleger
um polo, dentro do país, que represente um potencial para o setor.
FIGURA 30 - Presença de trabalhadores no setor eletroeletrônıco no país
Fonte: adaptado de DIEESE (2010).
O complexo eletrônico em Minas Gerais abrange os setores que produzem bens de
consumo eletrônicos, equipamentos de telecomunicações, produtos de informática
(computadores e seus componentes), software e serviços de telecomunicações e
processamento de dados (PROCHNIK; VAZ, 2002).
Em Minas Gerais existem dois polos de fabricação de produtos eletrônicos: um na região
metropolitana de Belo Horizonte e outro em Santa Rita do Sapucaí e municípios vizinhos.
O município de Santa Rita do Sapucaí localiza-se na região sul de Minas Gerais, com IDH
de 7,9 pontos, e exerce certa liderança regional, com elevada renda per capita e PIB
municipal correspondente a 32% do PIB da microrregional. A história de Santa Rita do
Sapucaí mostra que a maioria das empresas tem origem em profissionais formados ou
ligados às instituições de ensino e pesquisa local. De posse de poupanças pessoais, eles
iniciam os negócios com recursos limitados (FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO
BELO HORIZONTE
100
ESTADO DE MINAS GERAIS - FIEMG; INSTITUTO EUVALDO LODI - IEL MINAS;
Sindicato dos Empregados em Empresas de Segurança, Vigilância, Transporte de Valores,
Segurança Orgânica e Escolta Armada - SINDVEL, 2007).
O polo de Santa Rita do Sapucaí, também conhecido como Vale da Eletrônica, é
caracterizado por concentrar grande quantidade de empresas atuantes no setor de
fabricação e montagem de equipamentos eletroeletrônicos, notadamente de porte pequeno
e médio. É muito próximo da cidade de São Paulo (cerca de 120 km) e a gestão do cluster
é eficiente. O polo industrial também se apoia em um conjunto de instituições locais de
ensino e pesquisa, fortemente comprometidas com o desenvolvimento econômico local
(PROCHNIK; VAZ, 2002).
Já o polo da região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), por sua vez, tem empresas
de maior porte, como a Jabil (hardware) e a Engetron (fabricante de nobreaks). O polo tem
as vantagens de ser um grande centro urbano, com melhor infraestrutura técnica e
científica, além de ter mais disponibilidade de empresas de software e de processamento de
dados, com grande potencial para atração de investimentos. O complexo eletrônico é
caracterizado por forte inter-relação entre os setores industriais e os de serviços: devido à
convergência tecnológica, os produtos eletrônicos são intensivos no uso de software e
outros serviços de teleinformática. O agrupamento de empresas de software, de serviços e
da produção de hardware, além da atuação de órgãos do governo do estado e universidades
em Minas Gerais, produziu uma comunidade com interesse em promover o
desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (PROCHNIK; VAZ,
2002). A Figura 31 ilustra a localização geográfica dos polos industriais eletroeletrônicos
mineiros em relação ao país e a São Paulo – importante centro comercial e de distribuição
desse tipo de produto.
101
FIGURA 31 – Localização geográfica dos polos de Belo Horizonte e Santa Rita do Sapucaí
Fonte: G1 – Rede Globo - http://g1.globo.com.
Em relação ao setor de design de produtos, o município de Belo Horizonte tem se
configurado como um centro de referência para o design nacional, sediando, no ano de
2012, a IV Bienal Brasileira de Design e o 4th International Forum of Design as a
Process. De acordo com o levantamento realizado pelo Serviço de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE, 2012), intitulado “Design no Brasil - Relatório 2011 do
Setor de Design”, e dados do Centro Minas Design (CMD), a cidade abriga cursos de
graduação e pós-graduação em Design em quatro das maiores universidades do país
(Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Universidade do Estado de Minas Gerais
- UEMG, Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, Fundação Mineira de Educação e
Cultura - FUMEC, Pontifícia Universidade Católica - PUC), além de centros universitários
(União de Negócios e Administração Ltda. - UNA, Centro Universitário de Belo Horizonte
- UniBH, Instituto Izabela Hendrix) e diversos cursos técnicos (Centro Universitário UNA
- UNATEC, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial - SENAC, Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas -
SEBRAE e Federação das Indústrias do Estados de Minas Gerais - FIEMG).
De acordo com o documento intitulado Cadeias Produtivas do Estado de Minas Gerais,
desenvolvido pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), existe a
necessidade de se fazer amplo diagnóstico do nível de uso do capital intelectual por parte
do parque industrial mineiro, no setor eletroeletrônico. De acordo com os autores, o grau
de difusão das tecnologias da informação e comunicação no estado é baixo: o
empresariado mineiro, conservador, não está a par nem do potencial dessas tecnologias
102
nem das oportunidades de financiamento existentes para a integração entre a indústria e as
universidades ou outros centros de pesquisa (PROCHNIK; VAZ, 2002).
A partir dos dados da Associação dos Designers de Produto (ADP), do SEBRAE (2012) e
do CMD, além das consultas às universidades e centros universitários citados, foram
identificadas empresas de design de produtos que atendem às delimitações da amostragem:
• Foram consideradas aquelas sediadas no município de Belo Horizonte, que atuam
no setor de design de produtos eletroeletrônicos para os principais polos industriais
do estado de Minas Gerais (RMBH e Santa Rita do Sapucaí);
• a história das empresas também foi levada em consideração, a partir da análise dos
portfólios e das informações disponíveis em seus sítios na Internet.
Das 18 empresas selecionadas, 15 participaram efetivamente deste estudo. Os dados foram
coletados no período compreendido entre agosto e novembro de 2012.
3.2 Etapas da pesquisa
A presente pesquisa considerou quatro etapas básicas de ação:
a) Planejamento – esta etapa foi constituída pelas investigações preliminares,
percepção e definição do objeto de pesquisa, levantamento bibliográfico, definição
do local, empresas e profissionais, forma de abordagem e estratégias a serem
utilizadas para atingir o objetivo principal da pesquisa.
b) Estruturação – desenvolvimento da revisão da literatura, elaboração do material
necessário à coleta de informações e definição dos roteiros semiestruturados para as
entrevistas (APÊNDICES A, B e C);
c) Coleta de dados - visita às empresas selecionadas, entrevista com os profissionais,
levantamento de dados e das estratégias observadas e atuação do profissional de
design no desenvolvimento de práticas projetuais que considerem os requisitos
ambientais necessários à gestão da obsolescência dos produtos eletrônicos de
consumo.
103
d) Análise de resultados - tratamento dos dados coletados e verificação qualitativa das
informações, validada por gráficos, tabelas e elucidações gráficas que permitam
apresentar os resultados encontrados e discuti-los.
3.3 Coleta de dados
Para a coleta dos dados elaborou-se um roteiro semiestruturado das entrevistas, seguindo
um framework conceitual no qual as perguntas podem ser formuladas, refinadas ou
reformuladas durante o período de trabalho de campo, conforme proposto por Miles e
Huberman (1994).
Utilizou-se como referência para o roteiro das entrevistas um estudo desenvolvido pela
Sociedade dos Designers Industriais da América do Norte (Industrial Designers Society of
America) - IDSA, em 2003, denominado Electronic Product Ecodesign Influence
(Influência do Ecodesign nos Produtos Eletrônicos, em português). O estudo, realizado
com 52 designers atuantes no Vale do Silício, buscou aferir o nível de compreensão e de
influência dos designers de produto nas questões ambientais relacionadas aos produtos
eletroeletrônicos por eles projetados. Divide alguns atributos de design, entre os quais a
presença de elementos tóxicos em componentes, tipos de solda, componentes híbridos,
facilidade de desmontagem, manutenção e reciclabilidade. Os resultados do relatório
mostram que os designers têm influência inquestionável nos atributos de forma, cor e
textura dos produtos (relativos à permanência e multiculturalidade), mas menos influência
sobre as características físicas e químicas dos tipos de materiais e acabamentos utilizados
nos produtos; ainda assim identificando grande possibilidade de intervenção do designer na
escolha do tipo de plástico e do tipo de acabamento utilizado (incluindo material
reciclado), além da atuação na facilidade de desmontagem e carenagem (incluindo o acesso
a partes internas e insertos em peças plásticas). Os relatórios revelam a mais baixa
influência dos designers na composição tóxica, nos tipos de solda ou aditivos utilizados
(IDSA, 2004).
Outra referência é o trabalho resultado da parceria entre o IDSA e a EPA, em São
Francisco, Califórnia (IDSA; EPA, 2004). Essa pesquisa documenta a necessidade atual de
104
informações sobre design e sustentabilidade para designers de produto atuantes no
mercado eletroeletrônico. O estudo apresentou extensa lista de tópicos e utilizou escala de
zero a quatro, em uma “taxa de necessidade” para informações como: comparação dos
impactos ambientais dos processos e materiais; avaliação do impacto do ciclo de vida;
diretrizes do design para desmontagem; alternativas para substâncias potencialmente
tóxicas em cloreto de polivinila (PVC) e retardadores de chama utilizados em componentes
plásticos. De acordo com a pesquisa, muitos designers não estão familiarizados ou
confortáveis com o termo ACV, apesar de relatarem a necessidade das informações
fornecidas pela técnica. Embora as regras do design para a facilidade de desmontagem
sejam bastante claras para os designers, há certo grau de confusão entre elas e a simples
desmontagem manual e trituração do produto. Há também acentuada incompreensão sobre
os impactos ambientais da utilização de insertos metálicos em plásticos, além de certas
tintas, aditivos e moldes para peças termoplásticas. O tema que os entrevistados da
pesquisa relataram ser o mais carente por parte dos próprios designers foi o conhecimento
relacionado às normas ambientais internacionais.
Esses regulamentos incluem principalmente as diretivas europeias WEEE - que visa a
regular a gestão dos resíduos eletroeletrônicos - e RoHs - que busca a redução de uso de
substâncias perigosas. Essas diretivas têm começado a influenciar legislações específicas
que começam a entrar em vigor em diversos países. A partir dessas legislações, empresas e
designers estão sendo compelidos a prestar atenção às especificações de projeto
relacionadas aos requisitos ambientais, estipulando níveis para reciclagem e componentes
tóxicos, além de restrições de materiais para os produtos comercializados. Apesar dessas
questões, o tema que os entrevistados relataram a ser menos necessário foi o de
"oportunidades em ecodesign" (IDSA; EPA, 2004).
A partir dessas referências, foi elaborado um roteiro semiestruturado para entrevistas
(APÊNDICES A, B e C) a serem aplicadas aos responsáveis pelo projeto de design nas
empresas selecionadas. O roteiro foi constituído de perguntas abertas (discursivas) e
fechadas (múltipla escolha), buscando explanação das ideias e conhecimentos por parte dos
entrevistados. Foram abordadas questões relacionadas à contextualização das empresas e
dos profissionais, abordando os aspectos relativos aos requisitos ambientais utilizados nos
105
projetos de design, certificações, escolha de materiais e componentes, além da atuação dos
entrevistados frente à questão da gestão da obsolescência dos produtos.
O procedimento das entrevistas, incluindo a fase de testes e entrevistas-piloto, se deu no
período compreendido entre os meses de agosto e novembro de 2012. As entrevistas foram
presenciais, realizadas nos locais de trabalho (sede dos escritórios) ou nas escolas de
design (para os entrevistados que lecionam nas universidades). Os encontros duraram
aproximadamente duas horas, período em que foram realizadas as perguntas abertas, o
questionário tabulado e a análise de casos e projetos, de acordo com o roteiro previamente
desenvolvido.
106
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 Perfil dos entrevistados
As empresas de prestação de serviço de design de produtos que foram selecionadas para
esta pesquisa apresentam perfil diversificado no tocante à idade dos entrevistados, à
quantidade de projetos executados para o setor e à experiência profissional no segmento
eletroeletrônico. Das 18 empresas selecionadas, 15 fizeram parte da análise final desta
pesquisa. Duas empresas não responderam à solicitação e uma entrevista não pôde ser
concluída.
A faixa etária dos profissionais entrevistados variou de 28 a 65 anos, o que determina a
experiência desses profissionais no setor eletroeletrônico, como mostra o Gráfico 1.
Percebe-se que, apesar da maioria dos profissionais terem idade abaixo de 35 anos, que a
amostragem apresenta experiências bastante heterogêneas, ou seja, profissionais com
somente dois anos de experiência em projetos de produtos eletrônicos, incluindo três com
mais de 30 anos de experiência.
GRÁFICO 1 - Experiência profissional no setor eletroeletrônico
0
5
10
15
20
25
30
35
A B C D E F G H I J K L M N O
Anos de experiê
ncia
Empresas entrevistadas
O número de produtos desenvolvidos pelos profissionais está em conformidade com a
amostragem e sinaliza que os entrevistados possuem boa experiência no desenvolvimento
de produtos no setor eletroeletrônico. O Gráfico 2 mostra que 47% das empresas
entrevistadas declararam ter desenvolvido mais de 20 produtos, 33% desenvolveram entre
107
cinco e 10 produtos e apenas 20%, menos de cinco produtos. Destaca-se uma das empresas
que se sobressaiu às demais, afirmando ter desenvolvido quantidade superior a 300
produtos.
GRÁFICO 2 - Quantidade de projetos desenvolvidos no setor eletroeletrônico
Perguntados sobre suas expertises em relação aos campos de atuação no segmento
eletroeletrônico, os designers entrevistados declararam terem atuado em subsetores de
diferentes segmentos, sendo os de maior atuação os de comunicação, eletro-médicos,
luminotécnica, automação industrial, automação de serviços, odontoeletrônica,
Informática, eletrônicos de consumo, linha Branca e Marrom, eletrotécnicos,
biotecnologia, eletrônica de potência.
Uma característica percebida a respeito do setor de design regional é que as empresas
prestadoras de serviços de design de produtos para o setor eletroeletrônico têm reduzido
número de funcionários. Os entrevistados declararam prestar serviços de design com suas
próprias microempresas, nas quais atuam como projetistas e sócios proprietários, à exceção
de três entrevistados, que informaram atuar, atualmente, como profissionais liberais
autônomos. De acordo com o SEBRAE, (2012), empresas atuantes no setor de serviços
com número inferior a nove funcionários podem ser classificadas como microempresa.
Contudo, as indústrias, empresas clientes dos entrevistados para as quais esses
profissionais mencionaram prestar serviços, são de grande e médio porte 32%, enquanto
26% constituem as pequenas empresas e apenas 10% microempresas, conforme pode ser
visto no Gráfico 3. Das empresas de grande porte atendidas por estas empresas de design,
destacam-se a Philips, Itautec, Wolkswagen Brasil; GM Brasil, Ford Brasil, Leucotron-
108
Telecon, Itatiaia; Nansen Instrumentos de Precisão S.A., Polar Refrigeração Ltda, mesmo
que não sediadas em Minas Gerais. Empresas de médio porte, como Batik Equipamentos
AS, Transil, Comex, Biometrus, Seva S.A., Fitec.
GRÁFICO 3 - Porte das indústrias de eletroeletrônicas atendidas
Considerando os entrevistados que prestam serviços de design com sua própria
microempresa (à exceção de três deles - profissionais liberais autônomos), percebe-se que
o porte das indústrias atendidas apresenta relevância e potencial de influência por parte dos
profissionais no que diz respeito à sua atuação no setor produtivo.
A atitude dos respondentes sobre a disposição dos produtos eletroeletrônicos que
consomem em suas empresas e residência ao final da primeira vida útil está em
conformidade com a literatura (FRANCO, 2008). O Gráfico 4 mostra que a maioria dos
produtos eletrônicos é doada (38%), enquanto 26% são guardados, 15% vão para a coleta
seletiva, 12% são descartados diretamente no lixo comum e 9% não possuem
conhecimento sobre a forma de descarte dos produtos inutilizados na empresa ou em casa.
GRÁFICO 4 - Destino dado aos produtos eletroeletrônicos
109
A expectativa de vida útil para os produtos eletroeletrônicos, que os entrevistados
atribuíram, está abaixo do estabelecido pelo EPA (GRÁF. 5): para computadores com
menos de dois anos e meio (EPA 1-2 anos), celulares menos de um ano e meio (EPA 1-2
anos), para TVs menos de cinco anos (EPA 5-10 anos).
GRÁFICO 5 - Expectativa de vida de equipamentos
Estes resultados demonstram expectativa de vida útil dos produtos bastante reduzida, o que
justifica a adesão desses profissionais quando perguntados a respeito da importância dos
requisitos ambientais para o desenvolvimento do projeto na etapa do briefing; 80% dos
entrevistados declararam que esses requisitos são necessários à metodologia (GRÁF. 6).
GRÁFICO 6 - Importância da inserção de requisitos
ambientais no briefing do projeto
Na opinião dos entrevistados, que acreditam que os requisitos ambientais devam ser
incorporados ao processo de projeto de design dos produtos eletroeletrônicos (briefing),
eles classificam como entraves para a implementação das questões de sustentabilidade no
110
setor aspectos como os apresentados na Tabela 6. Esses fatores foram declarados de forma
espontânea pelos entrevistados, uma vez que era uma questão aberta do questionário.
TABELA 6 - Entraves declarados para adoção de requisitos ambientais
Entraves para adoção de requisitos ambientais Quantidade
Empresas
Incremento nos custos de produção 6
Falta de interesse por parte dos empresários 4
Falta de adoção da legislação pertinente 3
Desconhecimento da legislação por parte dos empresários 3
Ausência de penalidades legais aos produtores 3
Falta de conscientização dos usuários 2
Falta de recolhimento de REER de forma eficiente 2
Necessidade de mudanças na cultura empresarial 2
Falta de interesse por parte dos usuários 2
Custos dos estudos de impacto ambiental 2
Desconhecimento legislação por parte dos designers 1
Falta de interesse econômico 1
Carência na divulgação das informações pertinentes 1
Percebe-se conscientização por parte das empresas de design sobre as dificuldades em
adotar os requisitos ambientais e as questões de sustentabilidade no setor. Eles ressaltam
aspectos importantes como o desconhecimento das legislações, a ineficiência na adoção de
estratégias de recolhimentos dos REEEs e a falta de interesse por parte das empresas e dos
profissionais.
4.2 Visão estratégica do profissional
A segunda parte das entrevistas consistiu em observar a visão estratégica do profissional
perante as questões da sustentabilidade, da obsolescência e da flexibilidade. Utilizou-se
uma escala de zero a cinco para atribuir a frequência aos quesitos avaliados em todas as
questões do segundo questionário (APÊNDICE B):
111
Frequência Atribuída:
0 Nunca 1 Raramente 2 Esporadicamente 3 Sempre que possível 4 Frequentemente 5 Sempre
A prioridade atribuída pelos profissionais no tocante à qualidade de projeto de produtos
eletroeletrônicos é apresentada no Gráfico 7. Apesar dos profissionais darem significativa
importância às questões relacionadas à certificação e conformidades técnicas de segurança
(60%), a usabilidade e ergonomia mostraram ser a maior prioridade (67%) entre eles. O
conjunto de funções e a produção tiveram o mesmo grau de importância (53%), embora a
estética também se mostre como prioridade. A distribuição, manutenção, logística (27%) e
o impacto ambiental do produto foram considerados pelos profissionais como sendo a
prioridade mais baixa de todas as qualidades do produto em questão (20%). Isso indica
quão mal o desempenho ambiental dos produtos é integrado ao processo de
desenvolvimento de produto.
GRÁFICO 7 - Prioridades de qualidade atribuídas ao design de eletroeletrônicos
O Gráfico 8 apresenta o grau de importância dado à questão da sustentabilidade, dos
diferentes atores do processo (indústrias, designers e usuários), considerando-se a média de
respostas. Segundo a percepção dos designers entrevistados, pode-se perceber que a menor
importância é atribuída pelas indústrias fabricantes de produtos eletroeletrônicos, seguida
pelos próprios usuários dos produtos, que atribuem importância mediana (sempre que
possível, por 53% dos respondentes). Igualmente, em uma espécie de autoavaliação, os
112
profissionais do design entrevistados afirmaram que, em média, o nível de importância
também é mediano (“sempre que possível”, por 53% dos respondentes), o que sugere
situação supostamente de subordinação desses profissionais às forças produtivas.
GRÁFICO 8 - Importância atribuída à sustentabilidade (média dos profissionais)
Os resultados relativos às principais fontes de informação utilizada pelos profissionais para
analisar os requisitos ambientais dos projetos estão abordados no Gráfico 9. Fica claro que
a web atualmente é a fonte mais consultada pelos designers (on-line 53%), seguida
igualmente pelas consultas em livros e fornecedores (33%). Percebe-se certo desinteresse
pelas conferências em design (7%) e pelas informações fornecidas pelos clientes e pela
indústria (20%). As informações relativas a selos e indicadores também não é uma das
melhores opções, no entendimento dos entrevistados (27%).
GRÁFICO 9 - Fontes de informações utilizadas pelos profissionais
As principais ferramentas utilizadas pelos profissionais para convencerem seus clientes
produtores (indústria) a adotarem os requisitos ambientais são apresentadas no Gráfico 10.
Nota-se que a análise de custos foi a ferramenta mais utilizada (3,8), seguida pela
legislação específica (3,6) e o marketing (3,5). Na sequência do grau de importância têm-se
as informações fornecidas pelos próprios fornecedores de materiais e componentes, que de
113
certa forma ressaltam as características positivas de desempenho ambiental dos seus
produtos (3,2). A publicidade espontânea normalmente gerada a partir da divulgação
advinda de premiações, concursos ou reportagens jornalísticas é a ferramenta de menor
convencimento (1,6), seguida da ACV (2,8) e dos selos indicadores (2,6).
GRÁFICO 10 - Escolha de ferramentas de convencimento pelos profissionais
No tocante à legislação específica, os profissionais entrevistados deixam claro
desconhecerem completamente a legislação dos equipamentos eletroeletrônicos. Ao
analisar o Gráfico 11 percebe-se que a legislação europeia WEEE e RoHs são as menos
conhecidas (60 e 67%, respectivamente). Durante a entrevista, constatou-se, por parte de
alguns profissionais entrevistados, o conhecimento das legislações nacionais, mas a
maioria desconhece completamente. Em ordem de desconhecimento, são elas: Política
Nacional dos Resíduos Sólidos (40%), resoluções do CONAMA (47%) e a Convenção de
Basileia (53%). Em relação às legislações regionais, a partir da referência da Lei dos
Eletrônicos de São Paulo e do Plano de Gerenciamento Integrado dos Resíduos de
Equipamentos Eletroeletrônicos da própria cidade de Belo Horizonte, 60% dos
respondentes também relataram total desconhecimento.
114
GRÁFICO 11 - Conhecimento da legislação por parte dos profissionais
Quanto aos questionamentos relativos aos aspectos de obsolescência, flexibilidade e
legislação, fica evidente, ao analisar o Gráfico 12, que a conduta dos profissionais não é
influenciada pela legislação (47%), o que pode ser justificado tanto pelo desconhecimento
acerca da mesma (GRÁF. 11), quanto pela ausência de mecanismos reguladores e sistemas
de fiscalização e penalidade (TAB. 6). A flexibilidade e a obsolescência, no entanto,
podem ser vistas como uma discreta preocupação dos profissionais quando se trata dos
produtos projetados por eles. Dos profissionais entrevistados, 13% admitem sempre
considerar a flexibilidade e a obsolescência quando projetam. Contudo, 33% acreditam que
a legislação específica afeta a forma de projetar em design. Isso mostra que, de uma forma
ou de outra, a legislação específica possui reflexos positivos entre os profissionais que
atuam no ramo de equipamentos eletroeletrônicos.
GRÁFICO 12 - Grau de conhecimento e conduta sobre “obsolescência, flexibilidade e legislação”
O Gráfico 13 exibe as estratégias de projeto voltadas para a flexibilidade mais utilizadas na
concepção dos produtos eletroeletrônicos. De acordo com os profissionais entrevistados,
nos produtos projetados por eles as estratégias mais utilizadas são, por grau de
115
importância: reparabilidade e manutenção (3,8), seguidas das estratégias do design for
disassembly e design para durabilidade adequada (ambas 3,6). Em um segundo
agrupamento de estratégia, pode-se considerar a modularidade (3,2); multifuncionalidade
(3,1), design por componente (2,8); e design para atualização e adaptabilidade (2,7). Entre
as estratégias menos utilizadas estão o design para PSS (2,4), a manufatura rápida (2,3) e a
customização em massa (2,2).
GRÁFICO 13 - Estratégias de flexibilidade empregadas (média dos profissionais)
Pode-se inferir pelo Gráfico 14 a influência que os designers entrevistados julgam exercer
sobre os atributos mecânicos, físicos e químicos dos produtos que projetam. A análise das
respostas evidencia que, assim como na pesquisa realizada pelo IDSA (2004), pode-se
perceber quatro grupos de níveis de influência do profissional do design sobre os atributos
do produto: o mais alto nível de influência relaciona-se a forma, cor e textura utilizadas
(4,7), assim como a escolha do tipo de material (4) e os acabamentos utilizados (4,5). Em
um segundo nível, encontram-se a facilitação de acesso aos componentes internos (3,9) e a
influência sobre a utilização de insertos metálicos em plásticos (3,4). Em um terceiro nível,
detecta-se a capacidade de definir os aditivos (2,7) e retardantes de chama (2,5) utilizados
nos polímeros. No último nível, os profissionais consideram os praticamente incapazes de
influenciar, a utilização de elementos tóxicos (0,9) ou decidir sobre o tipo de solda (0,7)
utilizado em componentes.
116
GRÁFICO 14 - Influência dos designers sobre os atributos de design (média dos profissionais)
O Gráfico 15 apresenta uma classificação sobre a frequência de necessidade de
informações, segundo os próprios profissionais, para os designers atuantes na indústria
eletroeletrônica. Vê-se claramente o quão é necessário ao profissional do design obter
informações específicas acerca de sua área de atuação. De modo geral, os profissionais
posicionam a simbologia de identificação de materiais para reciclagem, seguida das linhas-
guia para desmontagem (design for disassembly), avaliação dos impactos ambientais dos
materiais e acabamentos utilizados, além das informações sobre metais elastômeros e
plásticos recicláveis, polímeros biodegradáveis e regulações ambientais nacionais como os
níveis mais carentes.
Em um segundo nível de importância estão as oportunidades econômicas em ecodesign, as
certificações e selos, o engajamento dos stakeholders, os bioplásticos e as energias
alternativas, além da avaliação do impacto dos processos, educação ambiental e
conscientização, até a análise de ciclo de vida e regulações internacionais.
A necessidade de informações sobre alternativas para solda e exclusão do chumbo do
processo de fabricação de componentes obteve importância em reduzido nível, enquanto os
softwares de análise de impacto ambiental, além dos ecocritérios usados por concursos e
premiações, obtiveram os mais baixos graus de importância: 2,4 e 2,3, respectivamente.
Essa necessidade de informação justifica a análise do Gráfico 15.
117
GRÁFICO 15 - Necessidade de informações para designers (média dos profissionais)
4.3 Percepção do profissional sobre certificações
A terceira e última parte das entrevistas (Apêndice C) consistiu em uma série de perguntas
que versavam sobre as práticas ambientais das indústrias clientes dos entrevistados, além
do posicionamento destes com relação às certificações e normas ambientais. Buscou-se
investigar qual a posição desses profissionais entrevistados, bem como o nível de
conhecimento percebido das empresas e clientes que atendem, a respeito dos requisitos
ambientais específicos para o setor eletroeletrônico.
Quando questionados sobre as certificações e normas ambientais adotadas pelas indústrias
em que atuam, os entrevistados, em sua maioria (54%), declararam que as empresas
adotam algum tipo de certificação, notadamente as normas da ABNT, da Anatel, ou da
NBR ISO 14.000 e 14.001, conforme área de atuação. Pode-se perceber pelo Gráfico 16,
118
que estas informações muitas vezes não são do conhecimento do prestador de serviços,
uma vez que 23% destes profissionais desconhecem este tipo de procedimento dentro da
empresa. O número de indústrias que não adotam certificação ou norma, segundo a ótica
dos entrevistados, também foi de 23%.
GRÁFICO 16: Certificação ou norma ambiental nas empresas
No entanto, quando questionados sobre as principais políticas de meio ambiente e práticas
ambientais adotadas por estas indústrias (Gráfico 17), 23% dos profissionais demonstraram
desconhecimento das informações, outros 23% declararam que as indústrias aparentemente
não possuem políticas ambientais. Os 23% que declararam que as empresas adotam
políticas de preservação do meio ambiente, não declararam quais são estas políticas.
Embora grande parte dos entrevistados tenha declarado que as indústrias adotam práticas
ambientais, a maioria dos entrevistados (31%) declarou que as práticas ambientais
utilizadas se resumem a atividades de conscientização dos funcionários, o que indica que
estas ações estão distantes das atuais legislações ambientais.
GRÁFICO 17: Políticas ambientais nas empresas
Com relação ao grau de conhecimento sobre os sistemas de certificação ambiental
aplicáveis aos produtos eletroeletrônicos (Gráfico 18), 46% dos entrevistados declarou não
119
ter conhecimento, 39% disseram que possuem conhecimento superficial, enquanto 15%
deles declarou possuír conhecimento razoável, mas que não se preocupam muito com o
assunto. Nenhum entrevistado declarou possuir pleno conhecimento ou preocupar-se com
o assunto de forma relevante, o que indica a necessidade da divulgação das informações
sobre certificações e normas ambientais entre os profissionais do design.
GRÁFICO 18: Certificações ou normas ambientais aplicáveis à indústria eletroeletrônico
O Gráfico 19 mostra que a grande maioria dos profissionais entrevistados (92%) não
considera as certificações ambientais quando seleciona e especifica materiais ou
componentes utilizados nos projetos. Apenas 8% admite adotar esta prática, o que
demonstra que a performance ambiental dos materiais não é prioridade no processo de
seleção ou especificação dos mesmos nos projetos. Desta forma, percebe-se a importância
de consolidar a adoção desta prática ambiental, tendo em vista que os próprios
profissionais já percebem uma expectativa de vida útil para os produtos eletroeletrônicos
abaixo daquela estabelecida pelo EPA (Ver Gráfico 5).
GRÁFICO 19: Especificação de material em função da certificação ambiental
Entretanto, o Gráfico 20 mostra que a maioria destes profissionais (80%) demonstra estar
consciente e preocupada com as consequências dos danos que os componentes químicos
120
tóxicos e perigosos presentes nos produtos eletroeletrônicos podem causar ao meio
ambiente e ao ser humano se descartados ou manuseados de forma inadequada. 15% dos
profissionais entrevistados ainda resistem a esta questão, uma vez que declararam estar
conscientes, mas não preocupados com o assunto.
GRÁFICO 20: Consequências dos componentes tóxicos presentes nos aparelhos eletrônicos
No Gráfico 21 são apresentados os resultados referentes aos requisitos ambientais de
projeto aplicáveis ao desenvolvimento de produtos eletroeletrônicos. Apesar da maioria
dos entrevistados os considerarem necessários para a metodologia de design (ver Gráfico
6), apenas 15% destes entrevistados mostram conhecimento e preocupação com o assunto,
enquanto 39% declaram conhecimento superficial. Dos respondentes, 46% declararam não
ter conhecimento dos requisitos ambientais de projeto aplicáveis à indústria de
eletroeletrônicos, mas se preocupar com o assunto. Percebe-se que é incipiente a
participação dos designers na tomada de decisão de projeto, no tocante à soluções que
contemplem a questão ambiental. Isto está em conformidade com os resultados mostrados
no Gráfico 19, onde a maioria dos profissionais entrevistados (92%) não considera as
certificações ambientais quando especificam ou determinam os materiais e componentes
utilizados em projetos.
GRÁFICO 21: Requisitos ambientais de projeto aplicados à eletroeletrônicos
121
Outro fator que reforça a necessidade de divulgar informações e rever a forma de se
projetar, no campo do design de produtos eletroeletrônicos, é mostrado no Gráfico 22.
Quando indagados sobre o nível de conhecimento com relação à legislação ambiental
específica, os resultados foram compatíveis aos obtidos pelo questionário sobre visão
estratégica, apresentados no Gráfico 11. Apenas 8% dos entrevistados mostram
conhecimento e preocupação com a legislação pertinente, enquanto 31% declaram não ter
conhecimento. A maior parte dos respondentes (61%) declarou ter conhecimento
superficial sobre as legislações ambientais aplicáveis à indústria de eletroeletrônicos.
GRÁFICO 22: Legislação ambiental aplicada à indústria de eletroeletrônico
Ao final das entrevistas, no tempo destinado às considerações finais dos entrevistados, os
próprios designers declararam que o conhecimento e a difusão de informações referentes
aos requisitos ambientais para produtos eletroeletrônicos ainda são restritos, tanto para os
designers, quanto para a indústria. Ainda é superficial a atuação dos profissionais em
relação às soluções de projeto ambientalmente adequadas. Os principais entraves
apontados neste momento foram os relacionados à dificuldade de se obter informações
sobre a questão ambiental aplicadas ao setor, além da falta de demanda, falta de interesse
ou resistência à mudanças, por parte das indústrias/clientes.
Desta forma, através da análise dos dados, reforça-se a necessidade de maior difusão de
informações referentes aos requisitos ambientais no processo de design de produtos
eletroeletrônicos, já que existe um descompasso entre os aspectos preconizados pela
legislação pertinente e a atuação dos profissionais junto à indústria de eletroeletrônicos.
122
5 CONCLUSÕES
Neste capítulo são apresentados os resultados finais da pesquisa, contemplando o
atendimento aos objetivos e questionamentos feitos inicialmente e as sugestões para
pesquisas futuras.
Avaliar os principais problemas ambientais relacionados a produtos eletroeletrônicos e os
impactos de seus resíduos no meio ambiente propiciou a compreensão dos aspectos do
desenvolvimento sustentável e suas implicações na área do design. Ficou clara a existência
de uma estreita relação entre design e sustentabilidade e o nível de responsabilidade do
profissional no cenário atual de alto consumo e de obsolescência de bens.
Os produtos e serviços estão de alguma forma vinculados às decisões dos designers, que
exercem influência sobre os processos de produção, materiais utilizados, distribuição,
utilização e descarte, evidenciando que o profissional é capaz de desempenhar importante
papel na proposição de novos cenários e sistemas baseados nos requisitos da
sustentabilidade.
O perfil das indústrias brasileiras de equipamentos eletroeletrônicos pode ser percebido a
partir da revisão da literatura, bem como os tipos de resíduos resultantes da fabricação, uso
e descarte e os principais impactos desses resíduos, destacando-se as implicações
regionais. Constatou-se que o descarte desses resíduos feitos diretamente nos lixões e de
formas inadequadas causa sérios riscos ao meio ambiente e prejuízos à saúde humana e dos
animais, devido à sua alta toxidade.
A revisão da literatura também mostrou que na cidade de Belo Horizonte o gerenciamento
dos REEEs é incipiente e, quando realizado, é feito por iniciativa de associações,
administração pública e/ou iniciativa privada.
O levantamento da legislação possibilitou perceber que os REEEs passaram a ser
preocupação mundial a partir da década de 1980. A Convenção de Basileia surgiu para
inibir o comércio de lixo tóxico para países em desenvolvimento e para a Europa Oriental.
123
O tratado teve como meta reduzir os impactos gerados por esse tipo de comércio, dando
aos países participantes o direito de escolha em aceitar ou não a entrada dos resíduos
perigosos em seu território.
O Parlamento Europeu aprovou duas diretivas para a regulamentação de resíduos de
equipamentos eletroeletrônicos - WEEE e a RoHs. A gestão em países desenvolvidos
privilegia a responsabilidade estendida pelos produtos e a responsabilidade compartilhada,
envolvendo fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e
responsáveis pela limpeza urbana. Essa iniciativa internacional deu forças a outros países
para desenvolver suas próprias legislações como a China, Japão e Estados Unidos.
No Brasil, a Lei nº 12.305/10, em 2010, estabelece as PNRS, que têm como princípio a
responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e população. A nova legislação
incentiva o retorno dos produtos pós-consumo às indústrias e obriga o poder público a
realizar planos para o gerenciamento do lixo eletrônico. Embora em vigor, ela não está
bem consolidada, mas existem desafios para as partes envolvidas, sejam culturais, sociais e
econômicos.
O aprofundamento da pesquisa foi possível por meio da revisão da literatura, ampla e
atualizada, baseada em vários autores, de maneira a contemplar as questões dos requisitos
de projeto de design a partir do enfoque em seus aspectos ambientais. Evidenciou-se o
papel relevante do designer na aplicação dos conceitos de sustentabilidade, na análise do
ciclo de vida de produto ou serviço. Tais estratégias são utilizadas para aperfeiçoar e
aumentar a vida útil dos produtos por meio de ações ambientalmente mais sustentáveis.
A revisão dos conceitos de flexibilidade aplicados ao design de produtos eletroeletrônicos
evidenciou sua aplicação como ferramenta passível de promover a durabilidade,
perdurabilidade, desmontagem, atualização, adaptabilidade, reparabilidade e manutenção,
de forma multifuncional, modular, produzido por poucos componentes, de forma rápida e
barata. Constatou-se que, ao se integrar os requisitos ambientais na fase projetual, é
possível evitar ou minimizar os impactos ambientais antes que eles ocorram, evitando-se
preventivamente problemas ecológicos.
124
A pesquisa realizada com os profissionais nas empresas de design permitiu detectar que o
processo de inserção dos requisitos ambientais no processo de design de produto
eletroeletrônico é notadamente caracterizado por fatores externos, oriundos de eventuais
demandas de fabricantes, e das tomadas de decisão nos projetos, que estão subordinadas
aos aspectos econômicos de curto prazo das indústrias fabricantes. Na maior parte dos
casos, os requisitos ambientais limitam-se às questões relacionadas à minimização de
materiais, moldes e processos, normalmente motivadas pelas questões econômicas como a
desmontabilidade e fácil acesso a componentes internos.
A pesquisa possibilitou confrontar aspectos relevantes apresentados por diferentes autores
cujos profissionais, apesar de motivados para as questões ambientais, desconhecem não
somente os impactos negativos da produção e uso dos produtos, mas também da legislação
específica vigente. A partir da visão estratégica dos designers entrevistados e das
atividades de desenvolvimento de produtos relacionadas aos requisitos ambientais, pôde-se
identificar as práticas que são mais valorizadas pelos profissionais e as que são passíveis de
serem influenciadas por eles. No entanto, constata-se que elas são ações pontuais e
superficiais e não estão condizentes com os procedimentos previstos pelas leis vigentes
específicas às questões dos REEEs.
A partir dos objetivos propostos por esta pesquisa, pode-se inferir que existem lacunas para
a implementação dos requisitos ambientais no processo de design dos produtos
eletroeletrônicos. A análise dos principais problemas ambientais relacionados à
obsolescência e ao descarte dos produtos eletroeletrônicos, assim como o estudo da
legislação pertinente específica, propiciou avaliar a importância da implementação dos
requisitos ambientais nas fases iniciais do projeto de design, no sentido de promover o
planejamento sustentável do ciclo de vida durante o processo de desenvolvimento dos
produtos.
Os conceitos de responsabilidade compartilhada e responsabilidade estendida ao produtor,
descritos na legislação, ainda não foram incorporados no rol de demandas por parte das
indústrias, provavelmente devido à falta de mecanismos de fiscalização e controle, além de
instrumentos de punição, por parte da administração pública. Desta forma, a atuação dos
profissionais de design, muitas vezes, desconsidera ou pouco valoriza os aspectos
125
ambientais, concentrando no atendimento das demandas estético-funcionais dos produtos e
nos aspectos relacionados às tecnologias de produção.
As iniciativas voltadas para a sustentabilidade dos produtos, quando presentes, direcionam-
se para ações corretivas, de caráter reativo, no processo de desenvolvimento dos produtos.
Percebe-se, a partir dos resultados, que a atuação dos designers nas indústrias carece de
ampliação à um nível estratégico de participação nas tomadas de decisão das empresas.
Uma atuação mais efetiva possibilitaria contribuições colaborativas, em direção ao
planejamento sistêmico de produtos e serviços, envolvendo o compartilhamento de
responsabilidades. Tal atuação tende a gerar ajustes na organização do processo produtivo
e no planejamento de ações ambientais proativas, no entanto, os processos de gestão desse
tipo de produto ainda são incipientes e os próprios designers demonstram dificuldade em
exercer o protagonismo preconizado por Manzini e Vezolli em 2008.
5.1 Sugestões para estudos futuros
Os resultados e conclusões deste trabalho não esgotam o tema abordado. Sugere-se que
outros estudos sejam feitos, a fim de complementá-lo a partir das análises desta pesquisa.
• Estudo com os demais atores do processo: fabricantes, distribuidores, comerciantes,
usuários e profissionais envolvidos na gestão dos resíduos, de maneira a investigar
as questões aqui apontadas.
• Estudo avaliativo quanto à percepção dos consumidores/usuários em relação às
mudanças de comportamento, buscando-se reduzir a obsolescência dos produtos
eletroeletrônicos, em especial os de alto consumo.
• Aprofundamento de diretrizes pontuais para estratégias de flexibilidade aplicadas a
produtos eletroeletrônicos, seguidos de estudos de casos realizados por designers.
• Material didático para o ensino e prática na área do design de produtos
eletroeletrônicos, contemplando legislação, estratégias e a incorporação prática dos
requisitos ambientais.
126
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APÊNDICES Apêndice A - Pesquisa aplicada: entrevista semiestruturada _______________________________________________________________________________________
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
Mestrado em Design da Escola de Design Novembro de 2012
ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
APRESENTAÇÃO
A presente entrevista contribui para uma pesquisa de mestrado que está sendo realizada na Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais - ED/UEMG, como parte dos requisitos para a conclusão do curso de Mestrado em Design. Este questionário é destinado a profissionais atuantes na área do design de produtos eletroeletrônicos na cidade de Belo Horizonte-MG e região. A entrevista procura identificar as questões relacionadas aos requisitos ambientais desses produtos e os principais entraves relacionados à implementação da questão da sustentabilidade no setor. Tempo previsto: 30 minutos.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Solicito sua colaboração em responder a este questionário. Os dados aqui fornecidos só serão utilizados em trabalho de pesquisa acadêmica, tendo o autor o compromisso de não repassar as informações coletadas a outros meios, tampouco identificar os respondentes. Aceitar responder às questões significa a autorização para uso dos dados. Agradeço sua disposição em colaborar com o presente estudo. Obrigado! Nome: Igor Toscano Rios Endereço eletrônico: [email protected]
136
ROTEIRO
1- Identificação do Entrevistado Data da entrevista (_____/_____/2012) Nome:__________________________________________________________________________ Idade:________________________ Formação_______________________________________________________________________ Curso:_______________________________________Escola______________________________ Ano de formatura: (_______________________________________________________________) Cidade:______________________________________Estado:_____________________________ Contato:_________________________________________________________________________
2- Contextualização do profissional Quanto tempo trabalha na área de design? (_____anos), Experiência de atuação no segmento eletroeletrônico? (_____anos), Campos de atuação dentro do segmento? (eletrônicos de consumo, linha branca, linha marrom, eletromédico, etetrotécnico, odontoeletrônica, luminotécnica, informática e telecomunicação, etc.) _______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Quantos produtos desenvolveu para esse segmento? ( ) até 5 produtos ( ) entre 5 e 10 produtos ( ) entre 10 e 20 produtos ( ) acima de 20 produtos Outro: Especificar: __________________________________________________________________ Empresa de design em que trabalha___________________________________ Porte:__________ Quantidade de sócios:___, estagiários:___, funcionários:___ colaboradores:___. Vínculo com a empresa___________________________________________________________
3- Contextualização da empresa de design Identificação dos principais clientes no setor eletroeletrônico: Empresa_________________________________________________________Porte:__________ Quantidade de funcionários/sócios-colaboradores/estagiários:______________________________ Vínculo com a empresa____________________________________________________________ Empresa________________________________________________________Porte:___________ Quantidade de funcionários/sócios-colaboradores/estagiários:______________________________ Vínculo com a empresa____________________________________________________________ Empresa________________________________________________________Porte:___________ Quantidade de funcionários/sócios-colaboradores/estagiários:______________________________ Vínculo com a empresa____________________________________________________________
137
Principais projetos: ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ A sua empresa/ e você: ( ) ( ) Efetua o descarte dos aparelhos eletrônicos inutilizados no lixo comum ( ) ( ) Doa os equipamentos (pra quem/como?): _____________________|__________________ ( ) ( ) Guarda ( ) ( ) Localiza coleta especializada desses equipamentos ( ) ( ) Não possuo conhecimento sobre a forma de descarte inutilizado na empresa/casa Outro. Especificar: ________________________________________________________________ (expectativa de vida dos produtos: computador, celular, TV, tablet) Você acredita que os requisitos ambientais devem ser incorporados ao processo de projeto de design dos produtos eletroeletrônicos (briefing)? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não tenho conhecimento dessa informação; Em caso afirmativo, na sua opinião, quais são os principais entraves à implementação da questão da sustentabilidade no setor? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
138
Apêndice B - Pesquisa aplicada: visão estratégica do profissional INFORMAÇÕES GERAIS Por favor, marque os valores de zero a cinco nos quadros a seguir, conforme a frequência dos quesitos, usando o seguinte critério: 0- Nunca 1- Raramente 2- Esporadicamente 3- Sempre que possível 4- Frequentemente 5- Sempre
Exemplo: Frequência Atribuída 0 1 2 3 4 5
QUESTIONÁRIO:
Como você considera as prioridades de qualidade no projeto de design de
eletroeletrônicos?
Impacto ambiental 0 1 2 3 4 5
Certificações/conformidade de segurança 0 1 2 3 4 5
Distribuição/manutenção/logística 0 1 2 3 4 5
Produção 0 1 2 3 4 5
Estética/atratividade 0 1 2 3 4 5
Usabilidade e ergonomia 0 1 2 3 4 5
Conjunto de recursos/funções 0 1 2 3 4 5
Fortalecimento da marca da empresa 0 1 2 3 4 5
Como você avalia a importância dada à questão da sustentabilidade ambiental dos produtos por
parte dos:
Usuários 0 1 2 3 4 5
Designers 0 1 2 3 4 5
Indústrias 0 1 2 3 4 5
Em sua opinião, projetos voltados para a sustentabilidade aumentam os custos do:
Produto 0 1 2 3 4 5
Projeto 0 1 2 3 4 5
Produção 0 1 2 3 4 5
139
A sua empresa considera requisitos ambientais
nos projetos?
Quando solicitado 0 1 2 3 4 5
Por iniciativa própria 0 1 2 3 4 5
Para preservar a imagem da empresa 0 1 2 3 4 5
Outro (qual?) 0 1 2 3 4 5
Quais fontes utiliza para obtenção de informações sobre os requisitos ambientais de
projeto?
On-line 0 1 2 3 4 5
Livros 0 1 2 3 4 5
Fornecedores 0 1 2 3 4 5
Selos e indicadores 0 1 2 3 4 5
Clientes/Indústria 0 1 2 3 4 5
Conferências de design 0 1 2 3 4 5
Outras (quais?) 0 1 2 3 4 5
Quais ferramentas são mais eficientes no convencimento dos clientes/indústria, a adotar
requisitos ambientais?
Índices industriais 0 1 2 3 4 5
Análise de custos 0 1 2 3 4 5
Selos e indicadores 0 1 2 3 4 5
Fornecedores 0 1 2 3 4 5
Legislação 0 1 2 3 4 5
Avaliação de ciclo de vida 0 1 2 3 4 5
Marketing 0 1 2 3 4 5
Eventos e conferências de design/ publicidade espontânea 0 1 2 3 4 5
Outras (quais?) 0 1 2 3 4 5
140
Quais demandas dos clientes (indústria) em relação ao projeto são mais frequentes?
Utilização de materiais menos agressivos ou com mais facilidade de reciclagem
0 1 2 3 4 5
Restrição do uso de substâncias tóxicas 0 1 2 3 4 5
Design para fácil desmontagem 0 1 2 3 4 5
Componentes com materiais reciclados/recicláveis 0 1 2 3 4 5
Quais conceitos relacionados às demandas dos clientes (indústria) são mais frequentes?
Responsabilidade compartilhada sobre os resíduos (produtos obsoletos) 0 1 2 3 4 5
Responsabilidade estendida ao produtor 0 1 2 3 4 5
Logística reversa 0 1 2 3 4 5
Avaliação de ciclo de vida 0 1 2 3 4 5
Reciclabilidade 0 1 2 3 4 5
Conhecimento das legislações pertinentes: WEEE (REEE) 0 1 2 3 4 5
RoHS 0 1 2 3 4 5
Convenção de Basileia 0 1 2 3 4 5
Política Nacional dos Resíduos Sólidos 0 1 2 3 4 5
Resoluções CONAMA 0 1 2 3 4 5
Lei de Eletrônicos (SP) 0 1 2 3 4 5 PGIREEE - Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos
(BH)
0 1 2 3 4 5
Você acredita que o desenvolvimento das
legislações específicas afeta a metodologia de projeto de design?
Importância 0 1 2 3 4 5
Você mudou sua conduta em função das mais recentes legislações ambientais específicas sobre
eletroeletrônicos?
Importância 0 1 2 3 4 5
Você considera a questão da obsolescência do
Produto eletroeletrônico quando projeta?
Importância 0 1 2 3 4 5
Como?
141
Você considera as seguintes estratégias de flexibilidade no design de produtos
eletroeletrônicos?
Design para desmontagem (design for disassembly) 0 1 2 3 4 5
Design para durabilidade/perdurabilidade adequada 0 1 2 3 4 5
Design para atualização e adaptabilidade 0 1 2 3 4 5
Design por componente 0 1 2 3 4 5
Reparabilidade e manutenção 0 1 2 3 4 5
Multifuncionalidade 0 1 2 3 4 5
Modularidade 0 1 2 3 4 5
Customização em massa (mass customization) 0 1 2 3 4 5
Manufatura Rápida (rapid manufacturing) 0 1 2 3 4 5
Sistemas produto/serviço (PSS) 0 1 2 3 4 5
Você considera a questão da flexibilidade no produto quando projeta?
Importância 0 1 2 3 4 5
Como?
Identifique com que intensidade os designers conseguem influenciar os atributos dos
produtos:
Tipo de solda utilizada nas placas de circuito 0 1 2 3 4 5
Elementos tóxicos em componentes eletrônicos 0 1 2 3 4 5
Tipos de plásticos (polímeros) utilizados 0 1 2 3 4 5
Aditivos em plásticos 0 1 2 3 4 5
Insertos metálicos em plásticos 0 1 2 3 4 5
Retardantes de chama bromados 0 1 2 3 4 5
Acesso aos componentes internos/manutenção 0 1 2 3 4 5
Tipo de acabamento 0 1 2 3 4 5
Forma, cor e textura 0 1 2 3 4 5
142
Como você classifica a necessidade de informações/conhecimentos por parte dos
profissionais do design de produtos eletroeletrônicos:
Regulações ambientais internacionais 0 1 2 3 4 5
Regulações ambientais nacionais 0 1 2 3 4 5
Avaliação do impacto ambiental dos processos industriais 0 1 2 3 4 5
Avaliação do impacto ambiental dos materiais utilizados 0 1 2 3 4 5
Avaliação do impacto ambiental dos acabamentos e pinturas 0 1 2 3 4 5
Simbologia para reciclagem 0 1 2 3 4 5
Linhas-guia do design para desmontagem 0 1 2 3 4 5
Avaliação de ciclo de vida 0 1 2 3 4 5
Educação ambiental e conscientização 0 1 2 3 4 5 Mercado verde e pesquisas de comportamento de
consumidores 0 1 2 3 4 5
Teoria de ecodesign e design sustentável 0 1 2 3 4 5
Plásticos recicláveis/reciclados 0 1 2 3 4 5
Elastômeros recicláveis/reciclados 0 1 2 3 4 5
Metais recicláveis/reciclados 0 1 2 3 4 5
Polímeros biodegradáveis 0 1 2 3 4 5
Bioplásticos 0 1 2 3 4 5
Energias alternativas 0 1 2 3 4 5
Certificações e selos ambientais 0 1 2 3 4 5
Ecocritérios de concursos e premiações 0 1 2 3 4 5
Engajamento dos stakeholders 0 1 2 3 4 5
Alternativas para soldas (chumbo) 0 1 2 3 4 5
Softwares de análise de impacto ambiental 0 1 2 3 4 5
Oportunidades econômicas do ecodesign 0 1 2 3 4 5
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Apêndice C - Pesquisa aplicada: certificações Questionário – Certificações: As empresas em que atua possuem: ( ) Políticas de preservação do meio ambiente ( ) Práticas de conscientização dos funcionários ( ) Não possui políticas ambientais ( ) Não tenho conhecimento dessa informação Outro. Especificar: _______________________________________________________________ As empresas para as quais atua adotam algum tipo de certificação ou norma ambiental? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não tenho conhecimento Em caso afirmativo, quais?_________________________________________________________ Você conhece algum sistema de certificação ou norma ambiental que possa ser aplicado à indústria eletroeletrônico? ( ) Não tenho conhecimento ( ) Tenho conhecimento superficial ( ) Tenho conhecimento, mas não me preocupo com o assunto ( ) Tenho pleno conhecimento, e me preocupo com o assunto Nos casos afirmativos, quais?______________________________________________________ Você já utilizou algum material em função de determinado tipo de certificação ambiental? ( ) Sim ( ) Não Em caso afirmativo, qual?_________________________________________________________ Você possui conhecimento das consequências ao meio ambiente e ao ser humano, do contato dos componentes químicos tóxicos presentes nos aparelhos eletrônicos, com o solo? ( ) Não tenho conhecimento ( ) Tenho conhecimento, mas não me preocupo com o assunto ( ) Tenho conhecimento e, me preocupo com o assunto Outro. Especificar: ________________________________________________________ Você conhece algum tipo de requisito ambiental de projeto que possa ser aplicado na indústria eletroeletrônica? ( ) Não tenho conhecimento ( ) Tenho conhecimento superficial ( ) Tenho conhecimento, mas não me preocupo com o assunto ( ) Tenho pleno conhecimento e me preocupo com o assunto Em caso afirmativo, quais?___________________________________________________ Você conhece a legislação ambiental aplicada à indústria de eletroeletrônico? ( ) Não tenho conhecimento ( ) Tenho conhecimento superficial ( ) Tenho conhecimento, mas não me preocupo com o assunto ( ) Tenho pleno conhecimento e me preocupo com o assunto Em caso afirmativo, quais?____________________________________________________
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Considerações finais do entrevistado, anotações: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Referências das imagens e documentos de projeto coletadas: _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________