O VIOLO DE 8 CORDAS COMO INSTRUMENTO ACOMPANHADOR DO CANTO

POPULAR

Clidney de Amorim COUTEIRO, EMAC-UFG

neycouteiro@gmail.com

Werner AGUIAR, EMAC-UFG

werneraguiar@gmail.com

palavras-chave: violo; arranjo; MPB; acompanhamento.

1. INTRODUO

Esta pesquisa teve como preocupao analisar historicamente o

surgimento e aplicaes do violo de 8 cordas, com suas peculiaridades mpares, no

atual cenrio artstico popular brasileiro, tendo como eixo principal o

acompanhamento para o canto popular. Segundo VIANA (2001), o violo se

incorporou por excelncia na nossa cultura, tornando-se um dos instrumentos mais

populares e conhecidos do pas.

Atravs de um levantamento bibliogrfico inicial, constatou-se a escassez

de literatura sobre o assunto em questo, fazendo-se necessria uma busca mais

detalhada e especfica sobre o violo de 8 cordas. Neste levantamento, observou-se

uma vasta literatura sobre o violo de 6 e 7 cordas, desde sua introduo na nossa

cultura pelos jesutas e, posteriormente, atravs do seu emprego na execuo

musical dos lundus e modinhas, oriundos de Portugal, bem como sua utilizao de

forma marcante na nossa msica atual, atravs de gneros como o choro, a bossa-

nova, entre outros, tendo entre seus compositores de maior relevncia, Heitor Villa-

Lobos. Segundo MEDEIROS (2007): Villa-Lobos absorveu o conhecimento

meldico-harmnico herdado das rodas de choro que frequentou durante a

juventude. Sua formao erudita mesclou a caracterstica principal de suas primeiras

obras para o instrumento.

Nas primeiras trs dcadas do Sculo XX surgiram grandes

instrumentistas que levaram o violo s salas de concerto e s rdios. Podemos

citar nomes como Amrico Jacomino, o paraguaio Agustn Barrios e a espanhola

Josefina Robledo. Estes, segundo ANTUNES (2008), foram os propulsores da arte

2do violo solo no Brasil. Podemos destacar tambm compositores como Joo

Pernambuco, Garoto e Dilermando Reis, entre outros. Sobre Amrico Jacomino,

MEDEIROS (2007) afirma:

Canhoto pode ser considerado um dos primeiros violonistas importantes da histria do violo brasileiro, pela linguagem instrumental que adotou e pela influncia exercida para a gerao posterior de instrumentistas da qual faz parte Dilermando Reis.

TINHORO (1997) nos escreve que na Dcada de 60, no Rio de Janeiro,

sendo o violo um dos instrumentos mais populares, foi bastante utilizado pela

maioria dos novos compositores da poca que buscavam na simplicidade do canto

sincopado da bossa-nova uma nova forma de expresso. juno da voz tmida,

um banquinho e o violo, formou-se um trio que mudou a histria da msica popular

brasileira.

Podemos verificar que depois desse perodo, houve uma mudana na

maneira de acompanhar o canto popular. COSTA (2006) observa que o violo tinha

um papel de base harmnico/rtmico e de contraponto com a voz principal no

perodo que antecede a bossa-nova. Com o surgimento desta, houve uma

simplificao na forma de tocar o instrumento, que antes possua uma carga maior

de informao e que na bossa nova, ficou restrito ao acompanhamento rtmico/

harmnico, perdendo sua funo meldica. No podemos desprezar o crescimento

harmnico que o movimento da bossa nova trouxe MPB e consequentemente ao

violo, que segundo SCARABELOT (2005) foi resultado da simbiose com o jazz

norte-americano.

Durante o Sculo XX, entretanto, podemos identificar grandes violonistas

que sempre utilizam o instrumento de forma mais plena, incorporando novos

recursos e buscando uma sonoridade mais abrangente atravs da explorao de

novas texturas timbrsticas, meldicas, harmnicas e rtmicas. Exemplos disso

podemos ouvir desde as gravaes e composies de Garoto at as gravaes de

BELLINATI (1996), Marco Pereira no CD de DUNCAN (2005) e Raphael Rabello, no

CD de MATOGROSSO (1990) que serviram de embasamento para o incio de nossa

pesquisa.

32. MATERIAIS E MTODOS

O foco desse projeto a investigao atravs de anlises auditiva,

musicogrfica e bibliogrfica das vrias fases que o violo passou, desde o incio no

choro, passando pela bossa-nova at chegar as novas sonoridades dos dias atuais.

A partir disso sero criados arranjos para o acompanhamento do canto popular que

contemplam tanto as caractersticas e possibilidades tradicionais do instrumento na

MPB, como aquelas ligadas s peculiaridades do violo de 8 cordas.

3. RESULTADOS E DISCUSSO

Podemos observar tais possibilidades usadas por Marco Pereira na

cano Capitu de DUNCAN (2005), onde o instrumentista faz uma conduo

meldica e rtmica caracterstica do contrabaixo nos primeiros 8 compassos:

Seguindo tal pensamento, arranjamos a cano A Lenda do Abaet.

Onde podemos observar nos compassos 8 e 14, tambm o uso de outra tcnica, a

aproximao cromtica, caracterstica do violo de 7 cordas no acompanhamento do

4choro, mostrando assim, um pouco da versatilidade que o instrumento em questo

oferece:

4. CONCLUSES

Como podemos constatar nas primeiras buscas por solues que

levassem ao esclarecimento e compreenso mais detalhada sobre o uso e forma de

explorar sonoramente todos os recursos que o violo de 8 cordas proporcionam,

esta pesquisa se apresenta como forma de contribuir para a difuso deste

instrumento na MPB.

Podemos observar o crescimento desse instrumento entre os violonistas

atuais, exemplo de Marco Pereira, ao fazer a juno das caractersticas da base

harmnica/meldica/rtmica do violo de 6 cordas, com a linha de contraponto do

5violo de 7 cordas e o apoio harmnico do contrabaixo, tudo distribudo no violo de

8 cordas. A preocupao que o instrumentista deve ter para acompanhar o cantor

popular, tambm se faz necessria, j que o canto popular e o violo sempre

estiveram em caminhos paralelos. A riqueza dos arranjos e da combinao voz e

violo encontradas no cd de SALMASO e BELLINATI (1996) nos levam a crer na

importncia e no cuidado com o arranjo violonstico para o canto na msica

brasileira, atento para os recursos jazzsticos, com suas harmonias ricas, ao choro,

com seus contrapontos meldicos e ao samba, com sua riqueza rtmica.

5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

ANTUNES, Gilson. Amrico Jacobino Canhoto e o Incio do Violo Solo e So

Paulo. In: Simpsio Acadmico de Violo da Embap, 2, 2008, Curitiba: Embap. 2008.

BELLINATI, Paulo; SALMASO, Mnica. Afro-Sambas. Atrao, So Paulo, 1996.

COSTA, Camila. O Violo de Seis Cordas na sua Funo de Instrumento

Acompanhador do Samba Urbano do Rio de Janeiro, Monografia, Rio de Janeiro,

2006.

DUNCAN, Zlia. Eu Me Transformo em Outras. Duncan Discos e Universal Music.

So Paulo, 2005.

MATOGROSSO, Ney; RABELLO, Raphael. Flor da Pele. Som Livre. Rio de

Janeiro, 1990.

MEDEIROS, Alan Rafael de. Abordagem Genealgica de sua Majestade, o

Violonista e Compositor Dilermando Reis (1916-1977). In: Simpsio Acadmico de

Violo da Embap, 1, 2007, Curitiba: Embap. 2007. p. 22.

SCARABELOT, Andr Luis. Msica Brasileira e Jazz - O Outro Lado da Histria.

Disponvel em . Acesso em 21/03/2011.

TINHORO, Jos Ramos. Msica Popular: um tema em debate; 3a edio revisada

e ampliada. So Paulo: Ed. 34, 1997.

VIANA, Andersen. A Escrita para Violo por Compositores e Arranjadores no

Violonistas. Disponivel em: . Acesso em: 20/06/2010.