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A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: AÇÃO-REFLEXÃO-AÇÃO.
Jonas Henrique Almeida da Silva (Discente do curso de especialização Saberes e Práticas na Educação Básica - Políticas Públicas e Projetos Socioculturais em Espaços Escolares - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Centro de Filosofia e Ciências Humanas - Faculdade de Educação e Docente da rede pública estadual )
RESUMO Este trabalho analisa a Educação Física como área de produção e reprodução de conhecimento que estabeleceu historicamente numa relação de poder agindo ora como protagonista num projeto de “assepsia social” (Ghiraldeli Jr, 1988) através da tendência higienista; ora através da tendência militarista; ou influenciada pela tendência pedagogicista ou ainda influenciada pela tendência competitivista. Vimos que todas as tendências da educação física serviram aos interesses das elites para manter o status
quo. O trabalho pretende ainda promover a discussão sobre a prática pedagógica da educação física, no sentido de estabelecer a mudança do status quo acreditando na escola pública como espaço-tempo de educação. As propostas deste trabalho são tentativas de inserção da Educação Física como componente curricular da escola, pois a Educação Física sempre esteve “ausente”. Mas para legitimar a Educação Física apresentamos argumentos plausíveis para a sua inclusão e permanência no currículo escolar. É importante lembrar que a inserção desta disciplina no currículo só terá relevância com a reflexão das nossas ações, participação na luta no processo de transformação social, rompendo com o desprazer estabelecido, com a passividade que parece permanente, com a supervalorização do trabalho, com a Educação Física servindo para restabelecer a força de trabalho para uma maior produção dos trabalhadores. As reflexões apresentadas neste trabalho são das discussões da disciplina Formação Continuada do curso de especialização Saberes e Práticas na Educação Básica - Políticas Públicas e Projetos Socioculturais em Espaços Escolares a partir da leitura dos textos: “Formação de professores: identidade e saberes da docência e Formação continuada de professores: tendências atuais.” Portanto, surgem questões inquietantes, a saber: Por que razões a Educação Física escolar está historicamente enraizadas nas meras praticas? A Educação Física tem transformado algo no seio da sociedade ao longo deste tempo ou ela tem-se prestado a servir de mascaramento ideológico, onde a inconsciência ocupa o lugar da consciência crítica?
Palavras-chave: Educação Física Escolar; Cultura corporal. Legitimação.
AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: ILUSÃO OU TRANSFORMAÇÃO?
Nas tentativas de legitimação da educação física utilizamos o currículo
ampliado:
“O currículo capaz de dar conta de uma reflexão pedagógica ampliada e
comprometida com os interesses das camadas populares tem como eixo a
constatação, a interpretação, a compreensão e a explicação da realidade
social complexa e contraditória. Isso vai exigir uma organização
curricular em outros moldes, de forma a desenvolver uma outra lógica
sobre a realidade, a lógica dialética, com a qual o aluno seja capaz de
fazer uma outra leitura. Nesta forma de organização curricular se
questiona o objeto de cada disciplina ou matéria curricular e coloca-se
em destaque a função social de cada uma delas no currículo. Busca
situar a sua contribuição particular para a realidade social e natural no
nível do pensamento/reflexão do aluno. Isso porque o conhecimento
matemático, geográfico, artístico, histórico, lingüístico, biológico ou
corporal expressa uma determinada dimensão da“realidade” e não a
sua totalidade” (COLETIVO DE AUTORES, p.28).
Nas aulas de Educação Física os conteúdos devem ser oferecidos para integrar e
introduzir os alunos na cultura corporal de movimento ajudando a transformar a prática
educativa.
O planejamento de ensino e aprendizagem deve buscar dialogar com o Projeto
Político-Pedagógico da escola, portanto, o planejamento deve ser construído de maneira
participativa, no qual os alunos devem ser motivados no primeiro momento a
conceituarem a Educação Física podendo discutir os conteúdos e objetivos propostos,
organizando-se para buscar modos de execução das atividades a serem planejadas; no
segundo momento os incentivado a experienciação das atividades e apreensão do
conhecimento; e no terceiro para conclusões, avaliação da aula e projetos para as aulas
seguintes. E por fim, como instrumento de coleta, podemos utilizar a observação
participante, respeitando o princípio da não exclusão, segundo o qual, nenhuma
atividade planejada possa excluir qualquer aluno das aulas de Educação Física, e o
princípio da diversidade, proporcionando atividades diferenciadas e não privilegiando
apenas um tipo, por exemplo, futebol, mas não existe um esporte que desenvolva a
cultura e a identidade nacional e também porque o futebol está muito presente nas
periferias, nas minorias sociais sendo um campo fértil de estudos e intervenções.
Mas vimos que muitas vezes o futebol acaba sendo negado como conteúdo das
aulas de educação física, pois se acha que outros conteúdos de devem serem ensinados e
que o futebol sempre os alunos praticam. Mas o problema não é só querer ampliar os
conteúdos e sim como esses conteúdos podem ser vivenciados. Por que não o futebol?
Somos sujeitos agentes de transformação ou conteudistas preocupados com a
quantidade de informação a ser transmitida ou ensinada?
A Problemática
A sociedade em que vivemos baseia-se na lógica do capital e a tendência que
predomina é a da destruição das forças produtivas.
Há na sociedade um grande complexo econômico: capital especulativo (sem controle);
capital produtivo (industrial e agrícola); capital estatal (PIB) e economia solidaria ou
não.
As transformações macro-sociais atingem diretamente a educação:
− Concentração de riquezas nas mãos de poucos;
− Mercado de trabalho competitivo e seletivo;
− Intensificação da migração (êxodo rural nos últimos 50 anos);
− Mudança do papel da mulher na sociedade (trabalho, família e política);
− Envelhecimento da população;
− O processo de globalização e o neoliberalismo não permitirão e não permitem a
ampliação da educação garantindo acesso e permanência para todos;
− Estreitamento do processo educativo (ênfase no ensino primário);
− A real consciência do que seja viver em uma sociedade de classes;
− Posse individual de bens coletivos de produção, e aí, se fundamenta a exclusão e a
exploração;
− As políticas públicas são verticalizadas.
Nos últimos dez anos as políticas educacionais sofreram mudanças profundas nas
reformas educacionais tirando, portanto, o papel do estado de garantir a educação:
− Reformas curriculares;
− Educação à distância;
− Centralização do controle do ensino através da avaliação;
− Parcerias público/privadas.
Desta forma alguns impactos atingem diretamente a educação:
− Transição de paradigma;
− Educação do campo com políticas compensatórias (reposição da escolarização
perdida);
− Crescimento da demanda da educação de jovens e adultos;
− Analfabetos funcionais, reprovação e evasão.
A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: FORMAÇÃO, CONTRUÇÃO DE
IDENTIDADE E PRÁTICA PEDAGÓGICA.
A Educação Física como área de produção e reprodução de conhecimento se
estabeleceu historicamente numa relação de poder agindo ora como protagonista num
projeto de “assepsia social” através da tendência higienista; ora através da tendência
militarista com uma concepção que visava impor a toda sociedade padrões de
comportamentos estereotipados, frutos da conduta disciplinar própria ao regime de
caserna, visando à formação do cidadão soldado; ou influenciada pela tendência
pedagogicista com a concepção que vai reclamar da sociedade a necessidade de encarar
a Educação Física não somente como uma prática capaz de promover saúde ou de
disciplinar a juventude, mas de encarar a Educação Física como uma prática
eminentemente educativa, e, mais que isso, ela vai advogar a “educação do movimento”
como a única forma de promover a educação integral; ou ainda influenciada pela
tendência competitivista que esteve a serviço de uma hierarquização e elitização social.
Seu objetivo principal foi à caracterização da competição e da superação individual
como valores fundamentais e desejados para uma sociedade moderna. A Educação
Física competitivista voltava-se, então, para o culto do atleta herói.
Vimos que todas as tendências da Educação Física serviram ou ainda servem aos
interesses da elite brasileira para manter o “status quo”. E aí surge uma questão
fundamental: como romper com esse modelo e transformar algo no seio da escola por
intermédio da Educação Física?
Podemos observar que ainda hoje depois de reflexões profundas acerca da
história da Educação Física no imaginário social impera a figura do professor
militarista, do professor formador de atleta e que os conteúdos a serem ensinados nas
aulas devem ser de preparação esportiva na busca de medalhas em competições. Tanto
que isso é verdade que nas últimas olimpíadas como fomos culpabilizados pelos
fracassos dos atletas brasileiros e vimos o Galvão Bueno incentivando a cobrança aos
professores de Educação Física esse papel. Os pais dos alunos quando nos encontram
perguntam logo se o filho será ou não um esportista.
Outro exemplo emblemático foi à exigência do teste físico no concurso da
Prefeitura de Barra Mansa 2010 que segundo o edital item 8.5.2:
“Serão convocados para a Avaliação Física os candidatos aos cargos de
Guarda Municipal Feminino e Guarda Municipal Masculino,
considerados aptos na Avaliação Psicológica, os candidatos ao cargo de
Auxiliar de Serviços Gerais aprovados na prova prática e os candidatos
ao cargo de Maqueiro e de Professor I – Educação Física aprovados e
classificados na Prova Objetiva em 4 (quatro) vezes o número de vagas
disponível em cada cargo, em ordem decrescente do total de pontos
observados os empates.”
E também a identidade do professor de Educação Física vista conforme figura
abaixo de uma apostila preparatória para concursos.
Para se entender melhor o conceito de identidade, utiliza-se o exemplo se Silva
(2000), quando afirma “sou brasileiro”, por trás da afirmação deve-se ler “não sou
argentino”, “não sou chinês”, “não sou japonês” e assim por diante Partindo para a
escola, o maior identificador da disciplina de Educação Física com outras disciplinas, o
que faz dela ser considerada um componente curricular igual às demais é a apresentação
da cultura, no caso, a corporal, como a matemática, apresenta a cultura numérica e as
outras disciplinas apresentam de forma didática as suas particularidades organizadas e
estruturadas durante séculos.
O que identifica a disciplina de Educação Física dentro do ensino tradicional é o
fato de não proporcionar conteúdos que ajudem diretamente na promoção do vestibular.
Ou seja, não é importante estudar e vivenciar a disciplina de Educação Física dentro da
escola, pois não aparece nos concursos de vestibulares.
Na escola a Educação Física pode ser considerada diferente pelo fato do seu
conteúdo salutar, como exemplo, os jogos, os esportes, as danças, as lutas, as ginásticas.
Em relação ao professor de Educação Física, pode-se citar em primeiro lugar a
vestimenta, pois sempre está usando roupas adequadas para a prática de atividade física
para ministrar a aula também é um diferenciador, pois o professor de Educação Física
utiliza apito, bolas de vários tipos, bambolês, cordas entre outras, são características da
Educação Física.
Vimos que muitas vezes a tarefa principal da aula de Educação Física é
introduzir os alunos nos modelos socialmente dominantes do esporte e qualificar os
indivíduos para participar dos contextos específicos de ação e normas do esporte.
Rendimento e competição possuem uma dimensão objetiva, isto é, uma comparação
possível de mensuração de movimentos, que são nada mais nada menos que as
concepções dominantes de normas e valores do esporte, oferecidas cotidianamente nas
práticas de Educação Física e que são vistas como desejáveis para transmitir, mas
também, estes valores e normas são imutáveis.
Mas para entendermos isso recorremos a Pimenta (1999) quando diz que a
profissão de professor, como as demais, emerge em dado contexto e momento
históricos, como resposta a necessidade que estão postas pelas sociedades, adquirindo
estatuto de legalidade.
Notamos que o desporto é um produto da sociedade, mas tem alguma autonomia
dela. Esta autonomia dá ao desporto a possibilidade de ser visto como ator que
influencia a sociedade.
Na sociedade capitalista moderna, o desporto tem de ser visto essencialmente em
termos econômicos, é um importante artigo de consumo.
Há, portanto, um grande poder do mito. Ele atua sobre a imaginação das pessoas,
cria um sentimento transcendente de unidade entre o ser e o universo, semelhante ao
efeito da poesia. Para ser efetivo, o mito deve criar claridade eufórica.
O mito tem a capacidade de fazer o indivíduo esquecer a realidade social em que
vive e passar a viver num mundo em que se sente.
O desporto hoje em nossa sociedade torna-se mito através das grandes
campanhas publicitárias, principalmente dos produtos Nike.
O desporto é uma agência social e econômica extremamente poderosa devido à
sua qualidade mitológica.
O mito tem a capacidade ideológica de apoiar a ordem social, econômica e
estrutura de poder vigente, escondendo as contradições e divisões da realidade social.
Vimos que somos cobrados a todo o momento a realizar a inclusão dos alunos
neste processo, na visão de que a sociedade é que deve facilitar a inclusão dos excluídos
e a outra visão é que os excluídos que devem promover a própria inclusão por
competências individuais e se não conseguem são culpados pelo fracasso por não terem
se esforçado o bastante, mas vimos que não existem excluídos deste processo, pois
todos nós fazemos parte dele, o que existe é que alguns são mais favorecidos que outros.
Precisamos refletir que a responsabilidade é da maioria desfavorecida de lutarem
pela transformação social.
Para escola que reproduz este imaginário social não há problemas, pois o
professor de Educação Física poder manter ainda a disciplina, a ação seletiva, a
organização dos eventos festivos e cívicos sem vínculo com ações pedagógicas, onde o
papel da Educação Física na escola é gastar as energias dos alunos para ficarem mais
calmos, atrelada aos ideais olímpicos.
O papel do professor de Educação Física se restringe a estabelecer a ordem.
Conforme diz Pimenta (1999) a identidade é um processo de construção do
sujeito historicamente situado.
A Educação Física e o conhecimento trabalhado ao longo da vida escolar
Nas aulas de Educação Física escolar, geralmente identificava-se o professor
desenvolvendo seu trabalho de forma mecânica, repetitiva, reproduzindo os mesmos
testes no início e no final dos períodos letivos, ao longo dos anos. Esse mesmo professor
“planejava” as aulas segundo uns modelos estanques, independentes do Projeto Político-
Pedagógico, que poderia ser resumido em: correr em coluna, por um ou por dois, no
sentido anti-horário, um determinado número de voltas ao redor da quadra – essa fase
denominada aquecimento; realizar uma série de exercícios ginásticos localizados, no
modelo e ritmo do professor e uma pratica desportiva na fase da aula denominada
principal.
Quadro 1 - Conhecimentos trabalhados ao longo da vida escolar.
ATIVIDADES ANOS ESCOLARES
Vivências motoras/recreação 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental
Iniciação esportiva 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental
Ensino dos desportos (futebol, voleibol,
handebol e basquetebol)
Ensino Médio
Concluímos que os resultados da Educação Física na escola são ações com
trabalhos repetitivos, falta de fundamentação teórica e conseqüentemente gera-se a falta
de legitimidade da disciplina.
Diante desta realidade devemos trabalhar a Educação Física numa perspectiva de
transformação, rompendo com os padrões impostos pela classe dominante do esporte de
rendimento. Pois este reflete os ideais do liberalismo econômico instalado em nossa
sociedade onde alguém tem que perder para que outro possa ganhar.
E de acordo com Pimenta (1999) não basta produzir conhecimento, é preciso
produzir condições de produção do conhecimento.
E ainda de acordo com Pimenta (1999):
“...a escola (e os professores) tem um grande trabalho a realizar com as
crianças e os jovens, que é proceder à mediação entre a sociedade da
informação e os alunos, no sentido de possibilitar-lhes pelo
desenvolvimento da reflexão adquirirem a sabedoria necessária à
permanente construção do humano.” (p.22)
Mas ainda encontramos algumas cadeias de resistência para manter o modelo
tradicional: a direção, a coordenação, professores, pais e alunos.
Aspectos legais
Quadro 2 – Comparação de aspectos legais da Educação Física.
LEI 5.692 - 1971 LEI 9.394 - 1996 E 2003
3 AULAS 2 AULAS
ATIVIDADE COMPONENTE CURRICULAR
DISPENSA DISPENSA
O artigo 26 da LBD 9.394/96 prevê:
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente
curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e as condições da
população escolar.
E ainda segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), as pessoas com
mais de 30 anos, que tenham prole, que tenham uma jornada de trabalho superior a seis
horas, podem optar por fazer ou não as aulas de Educação Física. Na própria lei já
encontramos um primeiro obstáculo para trabalhar, pois esta trata a Educação Física
ainda como uma simples atividade desprezando seu cunho pedagógico.
Mas Oliveira (1999) aponta a real situação da Educação Física no sistema de
ensino:
“... uma análise da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional
demonstra o espaço reservado hoje para a Educação Física (no sentido
mais amplo) nos currículos básicos: nenhum! A ambigüidade da lei não
garante qualquer possibilidade de permanência nos currículos da escola
básica”.
Hoje observamos algumas dificuldades enfrentadas pelos professores que
distanciam a Educação Física da legitimidade:
- Desinteresse e indisciplina dos alunos;
- Condições de trabalho (falta de espaço e material; muitas aulas para lecionarem;
escolas dominadas pelo crime organizado, etc.)
Mesmo com essas dificuldades encontramos uma realidade da Educação Física
na escola na qual os alunos consideram a disciplina como preferida, crescendo assim, a
sua importância; existe uma prática pedagógica diversa com diferentes exigências sobre
o perfil do professor; aconteceram também alguns avanços em políticas públicas, na
produção acadêmica, na sistematização dos conteúdos com propostas advindas de
algumas abordagens da Educação Física e por fim com a construção de alguns materiais
didáticos, como exemplo a Proposta Curricular do Estado de São Paulo para a disciplina
de Educação Física para o Ensino Fundamental (5º ao 9º ano) e Ensino Médio.
Para ilustrarmos esta realidade citamos uma pesquisa feita por Darido (2004)
intitulada “A educação física na escola e o processo de formação dos não praticantes
de atividade física, com o objetivo de verificar as origens e as razões pelas quais os
alunos se afastam da prática da atividade física regular analisando o universo da
Educação Física na escola. Especificamente procurou-se: a) levantar o número de
dispensados das aulas de Educação Física na escola; b) investigar as opiniões dos
alunos a respeito das aulas de Educação Física e como elas se modificam ao longo dos
ciclos escolares; c) verificar quando os alunos iniciam o afastamento das aulas de
Educação Física escolar e da prática da atividade física fora da escola; e d) levantar
informações do porque ocorre o afastamento dos alunos nas aulas de Educação Física.
Os dados foram coletados a partir da aplicação de um questionário contendo 14
questões a 1.172 alunos divididos entre a 5ª e 7ª série do Ensino Fundamental e 1º ano
do Ensino Médio da rede pública estadual de Rio Claro. Os resultados indicaram que
há um progressivo afastamento dos alunos das aulas de Educação Física e da prática
da atividade física fora da escola, além de um aumento do número de alunos que não
freqüentam/participam/apreciam as aulas regularmente.
Tabela 1 - Resultados referentes à questão a disciplina preferida dos alunos.
5ª série
7ª série
1º ano do EM
Educação Física
48,1%
49,7%
44%
Português
14,2%
5,4%
7,6%
Ciências
10,3%
13,5%
11,4%
Educação
Artística
10%
7,4%
8,3%
Matemática
7,2%
11,6%
14,8%
Geografia
5,6%
6%
1,5%
Inglês
3%
3,4%
8,1%
História
1,6%
3%
4,3%
Possibilidades de ampliação dos conteúdos da Educação Física
O professor de natação não pode ensinar o aluno a nadar na areia fazendo-o imitar
seus gestos, mas leva-o a lançar-se na água em sua companhia para que aprenda a
nadar lutando contra as ondas, fazendo seu corpo coexistir com o corpo ondulante que
o acolhe e repele, revelando que o diálogo do aluno não se trava com seu professor de
natação, mas com a água. O diálogo do aluno é com o pensamento, com a cultura
corporificada nas obras e nas práticas sociais e transmitidas pela linguagem e pelos
gestos do professor, simples mediador.
(Marilena Chaui)
Vivemos numa sociedade de classes em que as elites dominantes transmitem os
valores de seus interesses, procurando nos fazer crer que esses são os únicos e
verdadeiros. Essa inculcação de valores limita o nosso poder de reflexão e contribui no
sentido de amenizar os conflitos e perpetuar o sistema. Entendemos, também, que além
dos interesses de classe não podemos nos descuidar das questões individuais. Embora
nossa maneira de pensar seja bastante semelhante, somos seres individuais, com
necessidades diferenciadas.
Acreditamos, portanto que o ensino deve ter como objetivo contribuir para o
desenvolvimento da consciência individual e sobre a sociedade em que vivemos.
Vimos anteriormente que a Educação Física no seu processo histórico serviu e ainda ser
muitas das vezes de mascaramento ideológico e reproduziu todos os valores do sistema
capitalista.
A Educação Física tem transformado algo no seio da sociedade ao longo deste
tempo ou ela tem-se prestado a servir de mascaramento ideológico, onde a
inconsciência ocupa o lugar da consciência crítica?
De acordo com PARANÁ (2006):
“Refletir sobre as práticas corporais significa buscar a
superação de uma visão que vinculou, por muito tempo, a
Educação Física a uma perspectiva voltada para o
desenvolvimento de aptidões físicas, o que priorizou,
historicamente, na escola, a simples execução de exercícios
físicos destituídos de uma reflexão sobre o fazer corporal.”
Notamos que não existe tempo mais propício para a construção e ação de uma
práxis pedagógica revolucionária onde educação só pode ser vinculada a uma pedagogia
claramente socialista, cuja teoria seja alicerçada no materialismo histórico-dialético e no
marxismo como concepção de homem e de história comprometidos com a práxis
revolucionária.
Os conteúdos da Educação Física devem ser substanciados, significativos aos
alunos e desta forma transformados em objeto de estudo. Devendo, portanto, os atores
do processo educativo passar pelo processo de letramento dos elementos da cultura
corporal de movimento. E desta forma surgem perguntas inquietantes: quais conteúdos?
Haverá formas e meios de pensarmos em uma divisão sistematizada dos conteúdos da
Educação Física? Qual o conteúdo preferido? Qual o conteúdo mais importante?
Alguns autores defendem a sistematização, como Kunz, o coletivo de autores,
mas também existem outros que não defendem a sistematização, como por exemplo,
Daólio.
Na busca de legitimação surgiram historicamente contribuições apresentadas
segundo Darido (1998): Psicomotricidade, Desenvolvimentista, Construtivista, Críticas
(superadora e emancipatória), Jogos cooperativos, Saúde renovada e PCN.
Notamos que muitas dessas abordagens têm influenciado a prática pedagógica
aqui no Rio de Janeiro, mas podemos ver que nenhuma delas foram organizadas por
autores que atuam aqui no Rio de Janeiro. O que tem provocado certos problemas pela
diversidade de realidades encontradas aqui e que muitas das vezes a internacionalização
dessas abordagens provocam limitações no processo de ação-reflexão-ação.
Um dos grandes desafios seria pensarmos sim em uma organização de uma
proposta curricular partindo de debates, encontros, seminários e fóruns feitos por
professores e estudantes de Educação Física gerando uma orientação na prática
pedagógica aqui no Rio de Janeiro pensando na diversidade de realidades encontradas: a
cidade, o meio rural, as regiões praieiras, a baixada fluminense, as favelas, etc.
Desta forma não mais pensaríamos em trazer algo de fora, como uma “camisa de
força” uma “receita de bolo” a serem seguidas, como é o exemplo da proposta curricular
de São Paulo criada pelos seguintes autores Adalberto dos Santos Souza, Jocimar
Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Sérgio Roberto Silveira
como podemos observar abaixo:
Quadro 3 – Exemplo da sistematização dos conteúdos.
8ª SÉRIE
1º Bimestre
2º Bimestre
3º Bimestre
4º Bimestre
Luta
Modalidade:
Capoeira
– Capoeira como
luta jogo e esporte
– Princípios técnicos
e táticos
– Processo histórico
Esporte
Modalidade coletiva:
a escolher
– Técnicas e táticas
como fatores de
aumento da
complexidade do jogo
– Noções de
arbitragem
O esporte na
comunidade escolar e
em seu entorno:
espaços, tempos e
interesses
Espetacularização do
esporte e o esporte
profissional
– O esporte na mídia
– Os grandes eventos
Esporte
Jogo e esporte:
diferenças
conceituais e na
experiência dos
jogadores
Modalidade
“alternativa” ou
popular em outros
países: rugby,
beisebol, badminton,
frisbee, ou outra
– Princípios técnicos
e táticos
– Principais regras
– Processo histórico
Atividade rítmica
Organização de
festivais de dança
esportivos
Atividade rítmica
As manifestações
rítmicas de
diferentes
Grupos
socioculturais
– As manifestações
rítmicas na
comunidade
Escolar e em seu
entorno: espaços,
tempos e interesses
Manifestações
rítmicas ligadas à
cultura jovem:
hip-hop, streetdance
e/ou outras
– Diferentes estilos
como expressão
sociocultural
– Principais passos/
movimentos
Atividade rítmica
Manifestações
rítmicas ligadas à
cultura jovem: hip-
hop, streetdance e/ou
outras
– Coreografias
Esporte
Organização de
campeonatos
Podemos observar que os conteúdos citados no quadro acima, como hip-hop,
streetdance, rugby, badminton, frisbee se tornariam difíceis de serem colocados em
prática primeiro pelo déficit no processo de formação de professores aqui no Rio de
Janeiro pelos currículos das universidades distantes desta realidade, outra dificuldade
seria a falta de uma política de formação continuada, como pensar nesta aplicação com
professores formados há muitos anos, isso seria um choque para estes professores, outra
dificuldade também seria a falta de espaços físicos e materiais nas escolas públicas.
Essa lógica reforça a perspectiva “clássica” da formação de professores apontada
por Candau (1997), aonde a universidade é o lócus do saber e cabe apenas aos
professores executarem as teorias construídas pelos “pensadores”
Estaríamos elaborando, portanto, uma orientação para o Rio de Janeiro através
de uma construção coletiva e não apenas por algumas pessoas.
Desta forma poderíamos levantar quantas manifestações de jogos e brincadeiras,
quantas danças e atividades rítmicas, quantos esportes, quantas lutas, quantas formas de
ginástica, atividades circenses podemos registrar aqui no Rio de Janeiro e confrontar
com todas as manifestações da cultura corporal do ser humano.
Nós podemos avançar na medida em que organizarmos as ações da Educação
Física no âmbito escolar como fundamentação teórica, planejamento adequado,
conteúdos sistematizados e metodologias participantes.
Na justificativa de legitimar a Educação Física, observamos o alcance da
especificidade que a ela é dada considerando-se que é finalidade da Educação Física na
escola, integrar e introduzir os alunos no mundo da cultura física, formando o cidadão
que vai usufruir partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da
atividade física (o jogo, o esporte, a dança, a ginástica).
Devemos, nesse sentido, trabalhar a Educação Física numa perspectiva de
transformação, rompendo com os padrões impostos pela classe dominante do esporte de
rendimento. Pois este reflete os ideais do liberalismo econômico instalado em nossa
sociedade onde alguém tem que perder para que outro possa ganhar.
Diante do exposto podemos compreender o nosso compromisso como
educadores desde já, pois as escolas da rede pública estadual são locais onde os alunos
passam horas diárias e podemos retratar a rotina: os alunos chegam à escola e são
obrigados a utilizar uniforme; muitos alunos vêm para escola direto do trabalho e
acabam por vários motivos chegando atrasados e são algumas vezes proibidos de entrar;
permanecem a maior em sala de aula, sem vivenciar os outros espaços importantes da
escola.
A partir de então, começamos a desenvolver um trabalho na condição de
professores de Educação Física da rede pública estadual, com várias tentativas de
legitimação da Educação Física, buscando a superação, primeiramente, da concepção de
Educação Física que alguns professores têm, de uma disciplina responsável apenas de
cuidar do corpo ou de recrear os alunos para passar o tempo, onde o lugar do raciocínio
e do pensamento é o espaço dentro da sala de aula. Mas a efetiva superação desta
concepção veio através de um processo árduo de auto-reflexão, debates, troca de
experiências no curso de especialização Saberes e Práticas na Educação Básica -
Políticas Públicas e Projetos Socioculturais em Espaços Escolares da UFRJ, e a
superação veio também com a participação no conselho de classe da escola,
conscientizando e refletindo sobre a importância da Educação Física.
O outro passo para vencer a falta de movimento, causada pela permanência em
sala de aula, sentados a maior parte do tempo, foi dar importância à experimentação dos
movimentos em situação prática, além do conhecimento cognitivo e da experiência
afetiva advindos da prática de movimentos.
Diante do planejamento participativo procuramos vivenciar uma proposta
concreta e realizável, na qual, dividimos pedagogicamente em mapeamento, vivências e
aprofundamento. Em um primeiro momento os alunos foram conhecer a realidade local:
a história do município, a história da escola; os espaços públicos e privados de lazer do
município, os projetos da prefeitura para o esporte e lazer, o crescimento demográfico, a
estética urbana e o processo de favelarização. No segundo momento fizeram o
conhecimento real do espaço escolar realizando o levantamento do espaço físico e
material e dos horários da escola. Isso num processo de reflexão da escola que temos e a
que queremos. E completar este mapeamento, os alunos responderam três questões: O
que significa Educação Física e qual o seu objetivo? Que ações a Educação Física
deveria realizar para atingir os objetivos de mudança/transformação? Liste abaixo quais
conteúdos você gostaria que as aulas de Educação Física trabalhassem durante esse ano.
No terceiro momento a realização de debates envolvendo a comunidade escolar
e a comunidade local, no sentido de refletir a importância da Educação Física na vida
das pessoas, conscientizando-as em se organizarem para reivindicar aos poderes
públicos espaços e equipamentos para o lazer.
No processo pedagógico das vivências os alunos construíram e vivenciaram o
futebol e futsal, o voleibol, o handebol, o basquetebol e ampliaram para o cinema, o
grafite, o hip-hop, o funk, a capoeira, a poesia, o teatro, caminhadas nos bairros e
caminhadas ecológicas, o tênis, atividades de consciência corporal, atividades rítmicas e
expressivas, outras formas de manifestações da dança, a transformação e utilização de
materiais alternativos nas diversas lutas (barbante, cabo de vassoura, garrafa plástica,
TNT, bola de aniversário, papelão, etc.). Nesta fase das vivências puderam vivenciar os
elementos históricos de cada atividade planejada, compreendendo, analisando,
repensando, criando e recriando novas formas de manifestações corporais atuais.
Puderam também construir novos materiais para a realização das práticas corporais.
Tudo isso fazendo parte dos conteúdos específicos e planejados da Educação Física. E
com isso não havendo a exclusão, garantindo acesso de todos os alunos as atividades
planejadas anteriormente, incluindo homens e mulheres nas aulas, onde no primeiro
momento encontramos certas resistências por parte das mulheres, por estarem
condicionadas a estarem separadas em aulas de Educação Física vivenciadas há tempos
atrás, mas vimos outra resistência foi por parte dos jovens e dos idosos com alguns
conflitos geracionais, mas com o passar do tempo que as resistências foram vencidas,
pois as aulas promoviam um espaço de superação, confronto de diferenças e rupturas de
padrões preestabelecidos.
Além disso, não trabalhamos apenas com um tipo de conteúdo. Proporcionamos
vivências em todos os elementos da cultura corporal. Percebemos a importância da
aprendizagem de conteúdos diversos e significativos.
Na fase pedagógica do aprofundamento os alunos registram em seus cadernos
através de desenhos ou com construção de textos toda a fase das vivências. Pesquisam
temas vivenciados. Utilizamos para isso também o laboratório de informática e
biblioteca. Realizam entrevistas com os familiares, amigos e professores da escola sobre
as práticas corporais.
No processo avaliativo utilizamos um questionário aberto com as seguintes
perguntas: Do que mais gostou? Do que menos gostou? O que a Educação Física
contribuiu na sua formação como estudante e ser humano? O que você achou da
participação da turma e também da sua nas aulas de Educação Física? Que nota você
daria para a sua participação? Dê sugestões de atividades a serem vivenciadas nas
próximas aulas. Utilizamos também um quadro aonde os alunos são motivados a
responderem o que aprenderam nas aulas de Educação Física.
E para a avaliação individual utilizamos alguns critérios importantes:
1) Enfrentar desafios colocados em situações de vivências dos elementos da cultura
corporal de movimento, respeitando, questionando e resignificando as regras e
adotando uma postura cooperativa;
2) Estabelecer algumas relações entre a prática de atividades corporais e a
conjuntura social;
3) Valorizar e apreciar diversas manifestações da cultura corporal,
identificando suas possibilidades de lazer e aprendizagem e criar
possibilidades de ampliação dos conteúdos da educação física escolar.
Enfim, utilizamos neste processo avaliativo um quadro de referência para avaliação de
cada aluno.
Quadro 4 – Descritores para avaliação individual.
01 Expressa com clareza as dúvidas e busca
assegurar a compreensão das mesmas
S QS R N SCO
02 Demonstra entusiasmo pelo conteúdo
apresentado
S QS R N SCO
03 Relaciona os conteúdos a realidade,
aproveitando analogias com a vida real
S QS R N SCO
04 Usa a criatividade e o senso crítico S QS R N SCO
05 Participa ativamente das aulas S QS R N SCO
06 É uma pessoa dinâmica e produtiva, com
bom aproveitamento do tempo
S QS R N SCO
07 Questiona e critica sobre os temas propostos
na aula
S QS R N SCO
08 Apresenta personalidade adequada S QS R N SCO
09 Promove clima favorável às atividades
propostas
S QS R N SCO
10 Relaciona a utilidade dos trabalhos
realizados na aula com a formação
pretendida
S QS R N SCO
11 Apresenta adequada comunicação S QS R N SCO
12 Respeita o colega como pessoa S QS R N SCO
13 Respeita a duração prevista para a aula S QS R N SCO
14 Pontualidade S QS R N SCO
15 Assiduidade S QS R N SCO
S SEMPRE
QS QUASE SEMPRE
R RARAMENTE
N NUNCA
SCO SEM CONDIÇÕES DE OBSERVAR
CONCLUSÃO
Podemos concluir que a mudança estrutural da sociedade deve perpassar pela
educação. E segundo Aranha (1996):
“E aí reside nossa tarefa: repensar os rumos da escola sem otimismo
ingênuo, mas também sem pessimismo derrotista. O que, afinal, é
possível fazer dentro dos limites da escola e a partir se suas reais
possibilidades?... queremos reforçar a importância da dupla função da
escola: a de transmissora da herança cultural e a de local privilegiado
para a crítica do saber apropriado. Tarefa difícil essa, uma vez que já
nos referimos à crise (mundial) pela qual passa a escola nos tempos
atuais. Se é certo que ela reflete também a crise da cultura, podemos
compreender a dimensão do desafio posto aos educadores.
Se essa instituição torna-se indispensável como instância mediadora,
estabelecendo o vínculo entre as novas gerações e a cultura acumulada,
à medida que a sociedade contemporânea se torna mais complexa a
escola adquire, cada vez mais, um papel insubstituível”. (p.69)
Mas para isso é necessário repensar todo o currículo das licenciaturas, pois
atualmente vimos que a didática, a psicologia, a prática de ensino ainda é voltada para o
ensino e aprendizagem apenas de crianças das grandes cidades. E os adultos e idosos? O
meio rural? A região dos Lagos do nosso Estado? Portanto, é necessária a construção
coletiva de um currículo, onde a educação seja voltada para a prática social
considerando todas as especificidades. Vimos que é impossível educar crianças, jovens
e adultos se os educadores são desvalorizados. Com isso, se faz urgente o lançamento
do movimento de trabalhadores da Educação Física, mas para isso devemos saber quem
são esses trabalhadores do ponto de vista da sobrevivência e do trabalho (quais são as
atividades remuneradas, níveis de ganho, gastos correntes e extraordinários de todos os
membros da família), levantar algumas histórias de vida; promover atividades
curriculares e extracurriculares que possam favorecer sua organização; gradativamente
articular redes de trabalhadores e educadores organizando feiras de troca; colocar em
debate o mundo do trabalho, a economia, a política e a sociedade; o educador deve
acordar o desejo de aprender nas crianças, jovens e adultos e refletir que desafios a
Educação Física pode trabalhar para estabelecer outra sociedade? As tentativas de
legitimação de a Educação Física devem ser grandes avanços, mas não depende
somente das nossas aulas, é preciso compreender em que ideologia a escola está situada,
pois a escola ainda é o lugar de transmissão de conhecimentos, do pensamento único, do
poder estabelecido, onde os professores mandam e os alunos obedecem, são eles que
dominam os conteúdos e os transmitem como donos da verdade. E o mecanismo de
controle está presente em todos os espaços, considera-se que o importante são os
comportamentos manifestos, observáveis, mensuráveis. E para romper com esta lógica
se fazem necessárias mudanças estruturais, que acabem com todo o sistema neoliberal.
Enfim, concluímos que as nossas tentativas de legitimação devem procurar
romper com toda a ideologia dominante e de não ser apenas uma disciplina qualquer,
sem nenhuma relevância para os alunos e nem somente legal, mas sim legítima.
“Venho do porão. Lugar de minoria, mas gente rebelde, de mente que pensa, e voz que
não cala. Gente que luta, resiste, e mesmo reluta, mas se atreve a pensar. Ser
consciente. Ver o que vive, e vivendo a vida, a vida enxergar. Discuto, analiso, revejo
valores, corto as amarras. Sem a certeza do certo, me agonio. Nem sempre, tenho a
resposta que quero, nem sempre a resposta que espero. Penso em mim, nos outros, na
fome, na miséria, no preconceito. Quero um mundo mais justo, mais fraterno, mais
solidário. Utopia. Responde a ideologia. Digo que não. A resposta respondo, com
elaboração e ação. Respondo com práxis”. (Caderno de textos da disciplina Didática
Geral do Curso XVII em especialização em Educação Física Escolar da Universidade
Federal Fluminense - Professor Waldyr Lins de Castro)
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