mercurio- aspectos fisicos e toxicologicos
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Os Aspectos Ambientais e Toxicológicos do Mercúrio
Aspectos Físico-Químicos
O mercúrio é um elemento químico de número atômico 80 e massa atômica 200,5 u. É
um líquido prateado que na temperatura normal é metal e inodoro. Não é um bom
condutor de calor comparado com outros metais, entretanto é um bom condutor de
eletricidade. Estabelece liga metálica facilmente com muitos outros metais como o ouro
ou a prata produzindo amálgamas. É insolúvel em água e solúvel em ácido nítrico.
Quando a temperatura é aumentada transforma-se em vapores tóxicos e corrosivos
mais densos que o ar. É um produto perigoso quando inalado , ingerido ou em contato,
causando irritação na pele, olhos e vias respiratórias. É compatível com o ácido nítrico
concentrado, acetileno, amoníaco, cloro e com outros ametais. Normalmente utilizado
em instrumentos de medidas (termômetros e barômetros), lâmpadas fluorescentes e
como catalisador em reações químicas.
Características físico-químicas do mercúrio
Os efeitos toxicológicos do mercúrio são conhecidos há muito tempo, porém algumas
condições não foram antecipadas, suas características físico-químicas como a
volatilidade à temperatura ambiente, persistência ambiental além do efeito acumulativo
que pode refletir negativamente na saúde dos seres vivos muito tempo depois de
cessado à exposição, conferem a este metal grande mobilidade, capacidade de
proliferação sendo enquadrado como um poluente de elevada toxicidade.
As características físico-químicas do mercúrio fazem com que este metal seja
considerado como um poluente de elevada toxicidade. Além de poder afetar extensas
áreas muito distantes, seus efeitos podem surgir somente após longo tempo de
cessado seu uso, adquirindo assim um caráter defasado no espaço e no tempo. Esta
peculiaridade é muito importante, sobretudo em ambientes tropicais, onde as
características ecológicas intrínsecas desses ecossistemas, como a rápida e eficiente
ciclagem interna dos elementos, os tornam muito vulneráveis a poluentes como o
mercúrio.
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O mercúrio é o único metal que se mantém em estado líquido e é volátil à temperatura
ambiente, pois seu ponto de fusão é de -38,87°C. Por ser uma substância de difícil
manipulação apresenta característica daquelas substâncias tidas como incontroláveis
pelo homem dentro das diversas atividades humanas, tornando-se assim um veneno
em movimento que causa diversas doenças crônicas. O mercúrio pode correr
diretamente para os cursos de água alojando-se no fundo dos lagos rios e baías por
períodos muito longos, pois está protegido pelo espelho d’água, e assim da ação física
do tempo, pode também durante a manipulação ou despejos volatilizar para atmosfera
e condensar novamente na superfície do solo ou cursos de água por força das chuvas
ou das baixas temperaturas das camadas altas da atmosfera.
Livre no ambiente uma grande parte do mercúrio é absorvida direta ou indiretamente
por plantas e animais aquáticos, iniciando o processo de "bioacumulação". Esse
processo provoca a concentração de mercúrio em quantidades cada vez maiores nos
animais imediatamente acima na cadeia, até atingir o topo da cadeia alimentar, assim
os seres humanos acabam recebendo a maior carga química tóxica no final desse
processo acumulativo denominado “bio-magnificação”. O mercúrio bio-acumula nos
tecidos dos seres vivos. A atividade dos microorganismos e outros processos contidos
no ambiente, lagos, rios e oceanos convertem o mercúrio metálico em mercúrio
orgânico, a forma mais tóxica e letal do mercúrio, nesta forma poderá haver absorção
diretamente pela pele podendo causar estado de inconsciência, movimentos
involuntários, degeneração das células do cérebro, atrofiamento e degeneração do
sistema nervoso, falta de sensibilidade dos membros e dos lábios, distúrbio das
funções motoras, fala inarticulada, campo de visão alterado, defeitos congênitos.
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A exposição humana ao Mercúrio
Populações com maiores probabilidades de exposição a níveis perigosos do mercúrio
ou as portadoras de condições biológicas ou patológicas que podem exacerbar os
efeitos da intoxicação pelo agente, são aquelas de risco de intoxicação. Entre tais
grupos populacionais estão: a) trabalhadores expostos ocupacionalmente ao mercúrio;
b) populações gerais vizinhas a fontes de poluição por mercúrio (minas, indústrias); c)
populações de regiões com contaminação por mercúrio. Nas situações em que ocorra
tal contaminação, principalmente das águas, todos os habitantes locais que se
alimentam da fauna regional têm risco significativo de desenvolver intoxicação crônica;
d) pessoas que se alimentam preferencialmente de pescados e outros produtos
aquáticos; e) pessoas que usam prolongadamente medicamentos mercuriais; f)
doentes do Sistema Nervoso Central, doentes renais crônicos, doentes
broncopulmonares crônicos; g) gestantes e crianças.
A exposição ambiental da população geral ao mercúrio é estimada em,
aproximadamente, 1 μg/dia pelo ar; até 2 μg/dia pela água e 20 μg/dia através dos
alimentos, podendo, neste caso, atingir até 75 μg/dia, conforme a quantidade de peixes
da dieta. Do ponto de vista de risco à saúde humana, as mais importantes formas do
mercúrio são: os vapores de mercúrio elementar e os alquilmercuriais de cadeia curta ,
nos quais o mercúrio pode estar ligado a um átomo de carbono de um grupo metila,
etila ou propila. Na verdade, de acordo com as diferentes toxicidades, propriedades
físico-químicas e riscos de dano à saúde humana e do ambiente, pode-se estabelecer
quatro categorias de mercúrio: o elementar, os compostos inorgânicos, os
alquilmercuriais e os demais compostos orgânicos.
Emissões globais de mercúrio
O mercúrio é liberado ou reemitido para a atmosfera através de um grande
número de fontes naturais e antrópicas .
Emissões de mercúrio naturais são definidas como a mobilização ou liberação
de mercúrio existente naturalmente na crosta terrestre através de processos
naturais, com transferência de massa de mercúrio para a atmosfera. As emissões
antrópicas são caracterizadas por mobilização ou liberação de mercúrio por
atividades humanas, com transferência de massa de mercúrio para a atmosfera. A
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reemissão de mercúrio é a transferência para a atmosfera, através de processos
geológicos e biológicos, do mercúrio depositado no solo, que foi previamente emitido
por atividades humanas ou naturais.
Emissões naturais de mercúrio para o ambiente originam-se de solo e
vegetação, queima de floresta, superfícies de águas, e fontes geológicas (como
emissões da crosta terrestre, atividades vulcânicas, e terremotos).
As emissões antrópicas, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental
Americana podem ser divididas em fontes pontuais e fontes difusas. As emissões de
fontes difusas são definidas como emissões tipicamente pequenas, porém
numerosas e, normalmente, não podem ser geograficamente localizadas. As
emissões de fonte pontual são as fontes antrópicas associadas a um ponto
geográfico fixo. As emissões pontuais são subdivididas em combustão, produção
industrializada e fontes mistas.
Exemplo de fontes de antrópicas de emissão de mercúrio de acordo com a classificação U.S.E.P.A..
A emissão de mercúrio na atmosfera por diferentes países não é homogênea.
A quantidade emitida não varia apenas pela diferença territorial de cada país ou o
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número de habitantes. Diferentes fontes apresentam diferentes contribuições para
emissão de mercúrio as quais são mais ou menos significativas para cada país.
O Canadá estimou que sua emissão antrópica de mercúrio atmosférico para o
ano de 1995 foi de 11.109 kg. Os Estados Unidos apresentaram uma taxa de
emissão de 158.100 kg/ano, referente ao ano de 1995. A maior contribuição é
devida à queima de carvão em caldeiras, para produção de energia elétrica (51.600
kg/ano), seguido da combustão de lixo municipal (29.600 kg/ano) e queima de
carvão em caldeiras industriais (20.700 kg/ano) .
As emissões européias de mercúrio de fontes antrópicas para a atmosfera
diminuíram de aproximadamente 630 toneladas em 1990, para 340 toneladas em
1995 e para, aproximadamente, 200 toneladas em 2000.
A Figura apresenta a distribuição espacial das emissões de mercúrio em
toneladas por ano.
Distribuição espacial das emissões globais de mercúrio (ton/ano/m²). Fonte: UNEP
(2002)
No Brasil, estudos mostraram que a principal fonte de emissão antrópica de
mercúrio são os garimpos de ouro, responsáveis por mais de 65% do total das
emissões antrópicas. Também foi constatado que as queimadas são o quarto setor
com maior contribuição para emissão de mercúrio (7,5%). Apesar da quantidade de
mercúrio na vegetação ser muito pequena, o grande volume de vegetação queimada
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anualmente no Brasil (principalmente na Amazônia), faz que este setor tenha uma
contribuição significativa.
Estimativas das emissões de mercúrio atmosférico no Brasil - fontes industriais e
mineração de ouro.
A utilização do mercúrio nas áreas de garimpo
Nas áreas de garimpo do Brasil o mercúrio é largamente utilizado no processo de
separação do ouro, presente na forma de pó na lama extraída pêlos garimpeiros. A
adição do mercúrio a essa lama dá origem a um amálgama de ouro, que é aquecido
pelos garimpeiros com um maçarico, até que ocorra a evaporação completa do
mercúrio e, conseqüentemente, a obtenção do ouro. Os vapores de mercúrio
produzidos nesse processo, bem como os restos do mercúrio presentes na lama
impregnada desse metal, provocam sérios problemas ambientais, entre os quais a
contaminação das águas pluviais (chuvas) e fluviais (rios) das áreas onde se
desenvolvem os trabalhos de garimpo. "O ataque de bactérias anaeróbicas, que vivem
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no fundo dos rios, pode transformar o metal em dimetilmercúrio, que passa a fazer
parte da cadeia alimentar. A via preferencial de intoxicação humana pelo
dimetilmercúrio ocorre por meio do consumo de peixes contaminados. A taxa média
aceitável de mercúrio é da ordem de 0,4 ppm (partes por milhão), mas foram
encontrados na região amazônica peixes com valores duzentas vezes superiores."
Um dos mais dramáticos desastres ocorridos no mundo por causa da contaminação
por mercúrio das águas de uma região aconteceu em Minamata, cidade costeira da
porção meridional do território japonês. A população dessa cidade consumiu, durante
um longo período, grande quantidade de peixes contaminados por dimetilmercúrio, o
que provocou um mal que afe-ta o sistema nervoso central. A chamada doença de
Minamata já levou à morte, nas últimas décadas, mais de 880 pessoas e provocou
lesões irreversíveis em mais de 2200 habitantes da região.
Ciclo biogeoquímico do mercúrio
O mercúrio, em pequenas concentrações, pode ser encontrado em todos os
meios geológicos, e é permanentemente liberado para a atmosfera devido à sua
volatilidade. As elevadas temperaturas no manto da Terra resultam na alta
mobilidade do mercúrio à superfície. Em zonas de fraturas geológicas profundas
estes processos acontecem mais intensamente. Nesses locais estão localizados os
cinturões geoquímicos de mercúrio, onde as concentrações de mercúrio da camada
superior excedem seus valores médios. Em algumas partes desses cinturões a
acumulação intensiva de mercúrio resulta na formação de depósitos extraíveis.
Uma vez liberado para a atmosfera, seja através de fontes naturais ou
antrópicas e independente da forma química, se estabelece o ciclo do mercúrio.
Através deste ciclo, o mercúrio é transportado e distribuído entre os compartimentos
ambientais. Durante o seu ciclo, o mercúrio sofre uma serie de transformações
químicas, mudando de um estado de oxidação para outro. Essas transformações
envolvem uma série de reações químicas complexas denominadas de ciclo
biogeoquímico do mercúrio, onde os compostos de mercúrio e o mercúrio elementar
são interconvertidos nos sistemas atmosféricos, aquáticos e terrestres. A conversão
entre as diferentes espécies do mercúrio é a base do complexo padrão de
distribuição do mercúrio em ciclos locais e globais e de seu enriquecimento biológico.
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A transferência do Hg gasoso entre os diversos compartimentos é controlada
pela temperatura, pressão, umidade e pelo gradiente de concentração. Se um
compartimento tem uma concentração de Hg° maior que outro, se dará uma
emissão do compartimento de maior para o de menor concentração.
Importantes processos regulam as interações do mercúrio no meio ambiente,
influenciando seu comportamento químico, como adsorção e precipitação em óxidos
e hidróxidos de ferro e alumínio, e formação de complexos com a matéria orgânica.
A complexidade da química do mercúrio deve-se ao fato desse elemento formar
vários complexos iônicos solúveis, com variados graus de estabilidade, e a
possibilidade de vários estados de oxidação. A formação de complexos mercuriais
depende do tipo e concentração dos ligantes envolvidos. Portanto, a especiação e
complexação do Hg, assim como os parâmetros físico-químicos do sistema,
determinam a divisão do metal entre fases sólidas e liquidas, controlando a
mobilidade e disponibilidade do Hg no meio ambiente.
Ciclo biogeoquímico do Mercúrio no ambiente.
Mercúrio na Sociedade e no Meio Ambiente
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Conheça fontes que levam à contaminação por mercúrio:
amálgama dentário, cimentos dentais
baterias elétricas
bronzes
bulbos de lâmpadas florescentes “e vapor de mercúrio”
branqueadores de pele
células eletrolíticas da produção de cloro e soda cáustica
cosméticos em geral (preservativos)
desinfetantes
detonadores
calibração de vidros e de cristais
conservação de sementes de batata
crematórios (divido as próteses)
equipamentos elétricos e eletrônicos (retificadores, relés, interruptores etc)
esterilização de instrumentos controle e cirúrgicos (termômetros, barômetros,
esfingnomanômtros)
espelhos (fabricação)
feltro
fornos de cimento ( principalmente durante a injeção de resíduos)
fotogravuras
fotografia industrial
fungicidas (preservação de madeira, papel, plásticos etc)
garimpo (catalisadores e na extração de ouro – “amalgamação”)
galvanização (dourado, prateado e bronzeado)
germicidas
geléias anticoncepcionais
incineradores (sobretudo de lixo urbano e hospitalares)
inseticidas
laboratórios químicos
leites de colônia
lâmpadas fluorescentes
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litografia
minas de mercúrio produtivas
madeiras
medicamentos anti-sardas e para a psoríase
óleos lubrificantes
óxido amarelo de mercúrio
mercúrio amoniacal
pigmentos
pintura de pisos de navios
preparações farmacêuticas
reservatórios de drogas
reagente analítico
produção de compostos de mercúrio
sabões sublimados
seda artificial
solução para taxidermia
soluções antimofo em pintura
supositórios hemorroidários
soluções embalsamantes
soda cáustica
tanagem (mordente)
tatuagem (principalmente vermelho)
tecidos estampados
tecidos (pintura)
termômetro
tinta anti-ferrugem
tinta de escrever
tinta para quadros
tônicos capilares
vacinas (thimerosal)
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