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“Gostaria de vos dizer o seguinte: por favor, façam o que puderem para que o mundo saiba o que nos está a acontecer, a nós, às crianças. Para que as outras crianças não tenham que sofrer esta mesma violência.”

Palavras de uma rapariga jovem de quinze anos que conseguiu escapar à Lord's Resistance Army (LRA), no Uganda.

As novas armas, que são ligeiras e simples de utilizar, permitem armar mais facilmente as crianças, com um treino reduzido ao mínimo. Actualmente, no mundo, em mais de 85 países, há mais de um milhão de crianças com menos de dezoito anos incorporadas nas forças armadas governamentais, nas forças paramilitares, nas milícias civis ou num grande número de grupos armados não governamentais. Diariamente, há mais de 300.000 crianças nas forças armadas nacionais ou grupos políticos armados a participarem directamente em combates como soldados.

Parte 1.As crianças-soldado(Amnistia Internacional)

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“Gostaria de vos dizer o seguinte: por favor, façam o que puderem para que o mundo saiba o que nos está a acontecer, a nós, às crianças. Para que as outras crianças não tenham que sofrer esta mesma violência.”

Palavras de uma rapariga jovem de quinze anos que conseguiu escapar à Lord's Resistance Army (LRA), no Uganda.

As novas armas, que são ligeiras e simples de utilizar, permitem armar mais facilmente as crianças, com um treino reduzido ao mínimo. Actualmente, no mundo, em mais de 85 países, há mais de um milhão de crianças com menos de dezoito anos incorporadas nas forças armadas governamentais, nas forças paramilitares, nas milícias civis ou num grande número de grupos armados não governamentais. Diariamente, há mais de 300.000 crianças nas forças armadas nacionais ou grupos políticos armados a participarem directamente em combates como soldados.

Parte 1.As crianças-soldado(Amnistia Internacional)

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Em geral, foram recrutados ou raptados para servirem nestas forças armadas e, muitos deles – alguns não têm sequer dez anos – assistiram ou participaram em actos de uma violência extrema, cometidos, frequentemente, contra membros da sua própria família ou habitantes da sua localidade. Estas crianças foram expostas aos piores perigos e sentiram os piores sofrimentos, tanto psicológicos como físicos. Além disso, são fáceis de manipular e, assim, são encorajadas a cometer actos terríveis dos quais são frequentemente incapazes de compreender a gravidade. Muitas raparigas têm, não somente que combater como soldados, mas também submeterem-se a actos sexuais.

As crianças-soldado: um problema mundial

Enquanto os conflitos armados se multiplicam através do mundo, há cada vez mais crianças expostas à violência da guerra. Em muitos países, rapazes e raparigas são recrutados, quer à força, quer aliciados, pelas forças governamentais e pelos grupos armados. Este recrutamento pode resultar de manipulação ou explicar-se por factores como a pobreza e a discriminação. Frequentemente, as crianças são arrancadas da escola, ou da rua ou da sua própria casa. Uma vez incorporadas, têm de sujeitar-se a toda uma série de tarefas. Se muitos delas tomam parte nos combates, outros são utilizadas para fins sexuais ou como espiões, mensageiros, carregadores ou nos trabalhos domésticos. Alguns têm igualmente de colocar ou desarmar minas terrestres. Muitas destas crianças desempenham as várias funções em simultâneo.

As crianças são meninos-soldado por diferentes razões. Nos países atingidos pela pobreza, a guerra tende a agravar a situação económica e social, o que faz com que as famílias conheçam ainda maiores dificuldades. De imediato, para poderem comer diariamente e sobreviver, certas crianças juntam-se às forças governamentais ou aos grupos armados. Além disso, os conflitos dificultam a educação das crianças. Quando as escolas são

fechadas, deixam de ter perspectivas e é mais fácil recrutá-las. Quando um conflito se prolonga, as forças governamentais e os grupos armados têm mais tendência a recorrer aos meninos-soldado para preencher as suas fileiras, tanto mais que hoje existem armas ligeiras e de pequeno calibre que são fáceis de transportar, que não são caras e que podem ser manuseadas facilmente por crianças de dez anos ou menos.

Os meninos-soldado vêem assim ser-lhes roubada a infância, sendo, frequentemente, vítimas de actos de uma grande brutalidade. Abundam os testemunhos de crianças que são drogadas antes de serem mandadas para combate e que são forçadas a cometer atrocidades contra a sua própria família, de forma a destruir qualquer relação familiar e social. As raparigas são, frequentemente, utilizadas para fins sexuais, sendo geralmente atribuídas a um chefe e, às vezes, vítimas de violações colectivas.

É difícil determinar o número de crianças recrutadas e utilizadas durante as hostilidades. Os estudos apontam para 300.000 crianças-soldado exploradas em mais de 30 conflitos no mundo mas, na verdade, ninguém conhece o seu número exacto. Actualmente são realizados esforços para reunir informações mais fiáveis sobre a utilização das crianças-soldado e para compilar sistematicamente dados relativos às consequências da guerra sobre as crianças.

A campanha internacional em prol do "Protocolo Facultativo"

Apesar dos progressos realizados nestes dez últimos anos no âmbito da campanha mundial que visa pôr termo ao recrutamento e à utilização de crianças-soldado, muitas crianças continuam a ser exploradas nos conflitos militares e enviadas para as linhas da frente. O "Protocolo Facultativo" insere-se na Convenção relativa aos direitos da criança, respeitando ao envolvimento de crianças nos conflitos armados, que entrou

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Em geral, foram recrutados ou raptados para servirem nestas forças armadas e, muitos deles – alguns não têm sequer dez anos – assistiram ou participaram em actos de uma violência extrema, cometidos, frequentemente, contra membros da sua própria família ou habitantes da sua localidade. Estas crianças foram expostas aos piores perigos e sentiram os piores sofrimentos, tanto psicológicos como físicos. Além disso, são fáceis de manipular e, assim, são encorajadas a cometer actos terríveis dos quais são frequentemente incapazes de compreender a gravidade. Muitas raparigas têm, não somente que combater como soldados, mas também submeterem-se a actos sexuais.

As crianças-soldado: um problema mundial

Enquanto os conflitos armados se multiplicam através do mundo, há cada vez mais crianças expostas à violência da guerra. Em muitos países, rapazes e raparigas são recrutados, quer à força, quer aliciados, pelas forças governamentais e pelos grupos armados. Este recrutamento pode resultar de manipulação ou explicar-se por factores como a pobreza e a discriminação. Frequentemente, as crianças são arrancadas da escola, ou da rua ou da sua própria casa. Uma vez incorporadas, têm de sujeitar-se a toda uma série de tarefas. Se muitos delas tomam parte nos combates, outros são utilizadas para fins sexuais ou como espiões, mensageiros, carregadores ou nos trabalhos domésticos. Alguns têm igualmente de colocar ou desarmar minas terrestres. Muitas destas crianças desempenham as várias funções em simultâneo.

As crianças são meninos-soldado por diferentes razões. Nos países atingidos pela pobreza, a guerra tende a agravar a situação económica e social, o que faz com que as famílias conheçam ainda maiores dificuldades. De imediato, para poderem comer diariamente e sobreviver, certas crianças juntam-se às forças governamentais ou aos grupos armados. Além disso, os conflitos dificultam a educação das crianças. Quando as escolas são

fechadas, deixam de ter perspectivas e é mais fácil recrutá-las. Quando um conflito se prolonga, as forças governamentais e os grupos armados têm mais tendência a recorrer aos meninos-soldado para preencher as suas fileiras, tanto mais que hoje existem armas ligeiras e de pequeno calibre que são fáceis de transportar, que não são caras e que podem ser manuseadas facilmente por crianças de dez anos ou menos.

Os meninos-soldado vêem assim ser-lhes roubada a infância, sendo, frequentemente, vítimas de actos de uma grande brutalidade. Abundam os testemunhos de crianças que são drogadas antes de serem mandadas para combate e que são forçadas a cometer atrocidades contra a sua própria família, de forma a destruir qualquer relação familiar e social. As raparigas são, frequentemente, utilizadas para fins sexuais, sendo geralmente atribuídas a um chefe e, às vezes, vítimas de violações colectivas.

É difícil determinar o número de crianças recrutadas e utilizadas durante as hostilidades. Os estudos apontam para 300.000 crianças-soldado exploradas em mais de 30 conflitos no mundo mas, na verdade, ninguém conhece o seu número exacto. Actualmente são realizados esforços para reunir informações mais fiáveis sobre a utilização das crianças-soldado e para compilar sistematicamente dados relativos às consequências da guerra sobre as crianças.

A campanha internacional em prol do "Protocolo Facultativo"

Apesar dos progressos realizados nestes dez últimos anos no âmbito da campanha mundial que visa pôr termo ao recrutamento e à utilização de crianças-soldado, muitas crianças continuam a ser exploradas nos conflitos militares e enviadas para as linhas da frente. O "Protocolo Facultativo" insere-se na Convenção relativa aos direitos da criança, respeitando ao envolvimento de crianças nos conflitos armados, que entrou

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em vigor em 12 de Fevereiro de 2002, e constitui um progresso importante, dado que reforça a protecção jurídica das crianças e contribui para impedir a sua utilização nos conflitos armados.

A idade mínima de participação directa nas hostilidades armadas, fixada em quinze anos na Convenção relativa aos direitos da criança e outros instrumentos jurídicos, é aumentada para dezoito anos no "Protocolo Facultativo". Além disso, este proíbe os menores de dezoito anos de serem objecto de recrutamento forçado nas forças armadas e exorta os Estados-membros a aumentar para quinze anos a idade mínima do alistamento voluntário. Os países que autorizam o recrutamento voluntário nas forças armadas nacionais antes da idade de dezoito anos são exortados a criar garantias rigorosas. Por último, e ainda no contexto do "Protocolo Facultativo", os grupos armados que não sejam forças armadas oficiais de um Estado não devem, em nenhuma circunstância, recrutar pessoas com menos de dezoito anos, quer estas sejam voluntárias ou não.

A entrada em vigor do "Protocolo Facultativo" representa um grande progresso para as crianças, mas não resolve o problema das infracções aos direitos humanos de que são vítima diariamente milhares de meninos-soldado. Deve ser encarada simplesmente como um progresso importante num processo que passa pela ratificação generalizada e pela aplicação sistemática do "Protocolo Facultativo". O objectivo final, acabar com o recrutamento e com a utilização de crianças-soldado, só será alcançado se existir vontade política, se a aplicação do "Protocolo Facultativo" pelos Estados for sujeita a um controlo rigoroso, se os países forem obrigados a prestar contas a este respeito e se os direitos de todas as crianças constituírem uma prioridade, não somente durante os conflitos, mas também depois destes terem acabado.

Uma infância roubada

O menino-soldado de África Adrien, hoje com quinze anos, serve no exército governamental do Burundi desde os dez anos. Fez sempre parte do exército, mas deseja sair, ir para a escola e ter um emprego.

O dia 16 de Junho, dia da criança africana, não deve ser apenas uma data simbólica, marcada por simples discursos. É necessário pôr termo ao sofrimento das dezenas de milhares de crianças-soldado que são utilizadas em conflitos em todo o continente africano e que vivem diariamente o horror: homicídios, actos de tortura, violações e escravidão sexual. P.K., hoje com a idade de treze anos, foi incorporado à força na Libéria, em 2002: "Os soldados do governo vieram e forçaram-nos a segui-los, a mim e ao meu pai. O meu pai recusou e cortaram-lhe a garganta. Bateram-me, ataram-me e obrigaram-me a juntar-me aos combatentes."

As crianças são recrutadas porque são consideradas como instrumentos de guerra baratos, facilmente substituíveis e fáceis de treinar para matar sem escrúpulos ou obedecer sem discussão. São frequentemente designadas para efectuar as missões mais perigosas ou forçados a participar em terríveis infracções aos direitos humanos, às vezes contra a sua própria família ou contra os seus amigos e conhecidos. Obrigam-nas, além disso, a carregar munições, a procurar alimentos, a preparar as refeições e realizar outras tarefas fora dos combates.

Albert tinha quinze anos quando um grupo armado da oposição o recrutou na República Democrática do Congo. "Davam-nos cânhamo (cannabis) e forçavam-nos a matar pessoas para ficarmos aguerridos. Às vezes, traziam-nos mulheres e raparigas jovens para que as violássemos... e se recusássemos, batiam-nos."

Acontece correntemente que as crianças-soldado sejam mortas, espancadas ou submetidas a outras formas de tortura e a maus-tratos, ou ainda a trabalhos forçados. As raparigas são violadas e reduzidas à

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em vigor em 12 de Fevereiro de 2002, e constitui um progresso importante, dado que reforça a protecção jurídica das crianças e contribui para impedir a sua utilização nos conflitos armados.

A idade mínima de participação directa nas hostilidades armadas, fixada em quinze anos na Convenção relativa aos direitos da criança e outros instrumentos jurídicos, é aumentada para dezoito anos no "Protocolo Facultativo". Além disso, este proíbe os menores de dezoito anos de serem objecto de recrutamento forçado nas forças armadas e exorta os Estados-membros a aumentar para quinze anos a idade mínima do alistamento voluntário. Os países que autorizam o recrutamento voluntário nas forças armadas nacionais antes da idade de dezoito anos são exortados a criar garantias rigorosas. Por último, e ainda no contexto do "Protocolo Facultativo", os grupos armados que não sejam forças armadas oficiais de um Estado não devem, em nenhuma circunstância, recrutar pessoas com menos de dezoito anos, quer estas sejam voluntárias ou não.

A entrada em vigor do "Protocolo Facultativo" representa um grande progresso para as crianças, mas não resolve o problema das infracções aos direitos humanos de que são vítima diariamente milhares de meninos-soldado. Deve ser encarada simplesmente como um progresso importante num processo que passa pela ratificação generalizada e pela aplicação sistemática do "Protocolo Facultativo". O objectivo final, acabar com o recrutamento e com a utilização de crianças-soldado, só será alcançado se existir vontade política, se a aplicação do "Protocolo Facultativo" pelos Estados for sujeita a um controlo rigoroso, se os países forem obrigados a prestar contas a este respeito e se os direitos de todas as crianças constituírem uma prioridade, não somente durante os conflitos, mas também depois destes terem acabado.

Uma infância roubada

O menino-soldado de África Adrien, hoje com quinze anos, serve no exército governamental do Burundi desde os dez anos. Fez sempre parte do exército, mas deseja sair, ir para a escola e ter um emprego.

O dia 16 de Junho, dia da criança africana, não deve ser apenas uma data simbólica, marcada por simples discursos. É necessário pôr termo ao sofrimento das dezenas de milhares de crianças-soldado que são utilizadas em conflitos em todo o continente africano e que vivem diariamente o horror: homicídios, actos de tortura, violações e escravidão sexual. P.K., hoje com a idade de treze anos, foi incorporado à força na Libéria, em 2002: "Os soldados do governo vieram e forçaram-nos a segui-los, a mim e ao meu pai. O meu pai recusou e cortaram-lhe a garganta. Bateram-me, ataram-me e obrigaram-me a juntar-me aos combatentes."

As crianças são recrutadas porque são consideradas como instrumentos de guerra baratos, facilmente substituíveis e fáceis de treinar para matar sem escrúpulos ou obedecer sem discussão. São frequentemente designadas para efectuar as missões mais perigosas ou forçados a participar em terríveis infracções aos direitos humanos, às vezes contra a sua própria família ou contra os seus amigos e conhecidos. Obrigam-nas, além disso, a carregar munições, a procurar alimentos, a preparar as refeições e realizar outras tarefas fora dos combates.

Albert tinha quinze anos quando um grupo armado da oposição o recrutou na República Democrática do Congo. "Davam-nos cânhamo (cannabis) e forçavam-nos a matar pessoas para ficarmos aguerridos. Às vezes, traziam-nos mulheres e raparigas jovens para que as violássemos... e se recusássemos, batiam-nos."

Acontece correntemente que as crianças-soldado sejam mortas, espancadas ou submetidas a outras formas de tortura e a maus-tratos, ou ainda a trabalhos forçados. As raparigas são violadas e reduzidas à

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escravidão sexual. Muitas destas crianças lutam para superar as sequelas físicas e psicológicas deixadas pelo seu passado. Demorarão talvez anos para serem reintegradas totalmente na sociedade e retomarem uma vida normal.

Fabienne tinha treze anos quando um grupo de combatentes a levou, no Burundi. Pensa que se tratava de membros de um grupo armado da oposição ao governo: "Não sei quantas pessoas tiveram relações sexuais comigo. Um homem vinha, seguidamente outro, e ainda um outro, conta, mas não podia recusar... eles ameaçavam matar-nos se fugíssemos."

A Carta africana dos direitos e do bem-estar da criança proíbe o recrutamento de pessoas com menos de dezoito anos e a sua utilização em conflitos armados internos ou internacionais. Trata-se de um complemento importante a outras normas internacionais que proíbem o recurso às crianças-soldado. Institui claramente que a participação de crianças em conflitos é inaceitável e que não será tolerada pela comunidade internacional. Os Estados africanos que ainda não ratificaram a Carta, como, exemplo, a República Democrática do Congo, o Burundi e a Libéria, devem fazê-lo e empenharem-se em passar dos princípios deste texto aos factos, para pôr termo ao recrutamento e à utilização de crianças-soldado.

Aliás, em virtude do Estatuto do Tribunal Penal Internacional e do direito internacional consuetudinário, o recrutamento de crianças com menos de quinze anos e a sua utilização em hostilidades constitui um crime de guerra (como reafirmou o Tribunal especial para a Serra Leoa numa decisão expressa a 31 de Maio de 2004). Os Estados africanos devem, por conseguinte, zelar para que qualquer pessoa acusada de tal crime seja objecto de inquérito e, se os elementos de prova forem suficientes, que seja acusada judicialmente.

Contexto

Tendo entrado em vigor em Novembro de 1999, a Carta africana dos direitos e do bem-estar da criança é o primeiro tratado regional sobre os direitos fundamentais da criança. Proíbe, por exemplo, a aplicação da pena de morte para crimes cometidos por crianças, bem como práticas sociais e culturais prejudiciais à saúde ou à vida das crianças, que constituam discriminação em matéria de sexo ou outras. Tratando-se, além disso, do primeiro tratado regional que fixa em dezoito anos a idade mínima para qualquer forma de recrutamento e participação em hostilidades bélicas; a Carta reforça a esse respeito as normas inscritas no "Protocolo Facultativo" e na Convenção relativa aos direitos da criança, quanto ao envolvimento de crianças nos conflitos armados.

A Carta africana dos direitos e do bem-estar da criança, que complementa a Carta africana dos direitos do homem e dos povos e a Convenção relativa aos direitos da criança das Nações Unidas, toma em consideração os valores sociais e culturais africanos e estabelece normas de protecção contra as violações dos direitos da criança na África. A sua aplicação é controlada pelo Comité africano de peritos sobre os direitos e o bem-estar da criança. A 1 Junho 2004, 33 dos 53 Estados-membros da União Africana tinham ratificado a Carta, e dez tinham-na assinado.

Costa de Marfim: "Deixem as crianças viver em paz"

Esta iniciativa específica terminou. Um muito obrigado a todas as pessoas que participaram nesta acção em defesa do desarmamento, da desmobilização, da readaptação e da reintegração das crianças-soldado da Costa de Marfim.

A situação destas crianças não melhorou, mas a Amnistia Internacional continua a trabalhar na resolução deste problema.

Apelo inicial (27 de Abril de 2005)

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escravidão sexual. Muitas destas crianças lutam para superar as sequelas físicas e psicológicas deixadas pelo seu passado. Demorarão talvez anos para serem reintegradas totalmente na sociedade e retomarem uma vida normal.

Fabienne tinha treze anos quando um grupo de combatentes a levou, no Burundi. Pensa que se tratava de membros de um grupo armado da oposição ao governo: "Não sei quantas pessoas tiveram relações sexuais comigo. Um homem vinha, seguidamente outro, e ainda um outro, conta, mas não podia recusar... eles ameaçavam matar-nos se fugíssemos."

A Carta africana dos direitos e do bem-estar da criança proíbe o recrutamento de pessoas com menos de dezoito anos e a sua utilização em conflitos armados internos ou internacionais. Trata-se de um complemento importante a outras normas internacionais que proíbem o recurso às crianças-soldado. Institui claramente que a participação de crianças em conflitos é inaceitável e que não será tolerada pela comunidade internacional. Os Estados africanos que ainda não ratificaram a Carta, como, exemplo, a República Democrática do Congo, o Burundi e a Libéria, devem fazê-lo e empenharem-se em passar dos princípios deste texto aos factos, para pôr termo ao recrutamento e à utilização de crianças-soldado.

Aliás, em virtude do Estatuto do Tribunal Penal Internacional e do direito internacional consuetudinário, o recrutamento de crianças com menos de quinze anos e a sua utilização em hostilidades constitui um crime de guerra (como reafirmou o Tribunal especial para a Serra Leoa numa decisão expressa a 31 de Maio de 2004). Os Estados africanos devem, por conseguinte, zelar para que qualquer pessoa acusada de tal crime seja objecto de inquérito e, se os elementos de prova forem suficientes, que seja acusada judicialmente.

Contexto

Tendo entrado em vigor em Novembro de 1999, a Carta africana dos direitos e do bem-estar da criança é o primeiro tratado regional sobre os direitos fundamentais da criança. Proíbe, por exemplo, a aplicação da pena de morte para crimes cometidos por crianças, bem como práticas sociais e culturais prejudiciais à saúde ou à vida das crianças, que constituam discriminação em matéria de sexo ou outras. Tratando-se, além disso, do primeiro tratado regional que fixa em dezoito anos a idade mínima para qualquer forma de recrutamento e participação em hostilidades bélicas; a Carta reforça a esse respeito as normas inscritas no "Protocolo Facultativo" e na Convenção relativa aos direitos da criança, quanto ao envolvimento de crianças nos conflitos armados.

A Carta africana dos direitos e do bem-estar da criança, que complementa a Carta africana dos direitos do homem e dos povos e a Convenção relativa aos direitos da criança das Nações Unidas, toma em consideração os valores sociais e culturais africanos e estabelece normas de protecção contra as violações dos direitos da criança na África. A sua aplicação é controlada pelo Comité africano de peritos sobre os direitos e o bem-estar da criança. A 1 Junho 2004, 33 dos 53 Estados-membros da União Africana tinham ratificado a Carta, e dez tinham-na assinado.

Costa de Marfim: "Deixem as crianças viver em paz"

Esta iniciativa específica terminou. Um muito obrigado a todas as pessoas que participaram nesta acção em defesa do desarmamento, da desmobilização, da readaptação e da reintegração das crianças-soldado da Costa de Marfim.

A situação destas crianças não melhorou, mas a Amnistia Internacional continua a trabalhar na resolução deste problema.

Apelo inicial (27 de Abril de 2005)

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Desde o início do conflito armado na Costa do Marfim, em Setembro de 2002, as crianças são recrutadas tanto pelas forças armadas governamentais como pelos grupos de oposição armados. Forçadas a participar numa guerra que não é a deles, estas crianças-soldado, muitas fugitivas da Libéria, são brutalizadas e traumatizadas por esta experiência.

Pouco tempo depois do desencadeamento do conflito, uma delegação da Amnistia Internacional encontrou no Norte da Costa de Marfim duas crianças-soldado que estavam sob as ordens das "Forces Nouvelles", um grupo de oposição armado. Recentemente, em Fevereiro de 2005, dois rapazes de dez e onze anos, aparentemente de origem liberiana, foram salvos pelos Capacetes Azuis na Costa de Marfim. Pouco tempo depois, em Abril, a Missão das Nações Unidas na Libéria (MINUL) prendeu um homem acusado de recrutar crianças na Libéria por conta das forças governamentais da Costa do Marfim.

As autoridades de Costa de Marfim e as "Forces Nouvelles" não se comprometeram verdadeiramente em defesa do desarmamento, da desmobilização, da readaptação e da reintegração das crianças-soldado. É tempo de agirem de modo a que as crianças tenham possibilidade de viver em paz.

24 de Julho de 2006Sr. Presidente, Excelências, Senhoras e Senhores

Tenho a honra de exprimir o meu profundo reconhecimento ao governo da França por ter organizado este debate e ter convidado a vir ao Conselho de Segurança um representante da sociedade civil da RDC. Gostaria, em especial, de agradecer à Missão Permanente da França junto das Nações Unidas pela sua notável liderança na presidência do recente Grupo de Trabalho do Conselho de Segurança sobre as crianças nos conflitos armados.

Chamo-me Bukeni Waruzi. Sou director da Ajedi-Ka/Projecto Crianças-Soldado, uma ONG congolesa que trabalha na região de Uvira, no Sul-Kivu. A minha organização é membro activo da rede mundial "Watchlist on Children and Armed Conflict", dedicada à

Parte 2.Observações de Bukeni Beck, Director da Ajedi-Ka/Projecto Crianças-Soldado numa reunião governamental do Conselho de Segurança sobre a protecção das crianças nos conflitos armados

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Desde o início do conflito armado na Costa do Marfim, em Setembro de 2002, as crianças são recrutadas tanto pelas forças armadas governamentais como pelos grupos de oposição armados. Forçadas a participar numa guerra que não é a deles, estas crianças-soldado, muitas fugitivas da Libéria, são brutalizadas e traumatizadas por esta experiência.

Pouco tempo depois do desencadeamento do conflito, uma delegação da Amnistia Internacional encontrou no Norte da Costa de Marfim duas crianças-soldado que estavam sob as ordens das "Forces Nouvelles", um grupo de oposição armado. Recentemente, em Fevereiro de 2005, dois rapazes de dez e onze anos, aparentemente de origem liberiana, foram salvos pelos Capacetes Azuis na Costa de Marfim. Pouco tempo depois, em Abril, a Missão das Nações Unidas na Libéria (MINUL) prendeu um homem acusado de recrutar crianças na Libéria por conta das forças governamentais da Costa do Marfim.

As autoridades de Costa de Marfim e as "Forces Nouvelles" não se comprometeram verdadeiramente em defesa do desarmamento, da desmobilização, da readaptação e da reintegração das crianças-soldado. É tempo de agirem de modo a que as crianças tenham possibilidade de viver em paz.

24 de Julho de 2006Sr. Presidente, Excelências, Senhoras e Senhores

Tenho a honra de exprimir o meu profundo reconhecimento ao governo da França por ter organizado este debate e ter convidado a vir ao Conselho de Segurança um representante da sociedade civil da RDC. Gostaria, em especial, de agradecer à Missão Permanente da França junto das Nações Unidas pela sua notável liderança na presidência do recente Grupo de Trabalho do Conselho de Segurança sobre as crianças nos conflitos armados.

Chamo-me Bukeni Waruzi. Sou director da Ajedi-Ka/Projecto Crianças-Soldado, uma ONG congolesa que trabalha na região de Uvira, no Sul-Kivu. A minha organização é membro activo da rede mundial "Watchlist on Children and Armed Conflict", dedicada à

Parte 2.Observações de Bukeni Beck, Director da Ajedi-Ka/Projecto Crianças-Soldado numa reunião governamental do Conselho de Segurança sobre a protecção das crianças nos conflitos armados

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protecção das crianças, à vigilância e a elaborar relatórios sobre os abusos cometidos.

Custa-me vir aqui dizer-vos que na região do Leste da RDC perduram, e intensificam-se mesmo, graves violações dos direitos das crianças, sobretudo nos meios rurais. A razão é simples: não há ninguém, nestes lugares, para as proteger.

A acção das Nações Unidas na RDC revelou-se certamente benéfica, é certo, mas tem alcance limitado. A resposta às violações deve ser reforçada nas cidades, e até nos campos, para pôr termo ao assassínio, à mutilação e à tortura das crianças; ao recrutamento de meninos-soldado; aos ataques contra escolas e contra hospitais; às violações e outras violências sexuais; à propagação do VHI/SIDA; e para assegurar o acesso das crianças aos recursos humanitários, incluindo o acesso ao apoio psico-social.

A vigilância e o relatório sobre abusos contra crianças constituem um ponto de partida essencial para assegurar a sua protecção. Mas o nosso dever não acaba aqui. Devemos também fazer frente às violações declaradas e pôr termo à impunidade dos seus autores.

Parece-me particularmente desconcertante que continuemos a saber que os rebeldes de Bania continuam a recrutar crianças para o seu exército. "Mas, para que servem todos os relatórios e quadros sobre os abusos de que são vítima as nossas crianças", interrogam-me os habitantes da minha aldeia, "se os culpados continuam a ficar impunes?"

Sr. Presidente, Excelências

Hoje, no entanto, graças à resolução 1612, o Conselho de Segurança e a estrutura da ONU como um todo estão em condições, como nunca estiveram no passado, de levar a Tribunal milhares de culpados por

crimes contra a infância.

Cabe-me a honra de vos apresentar algumas recomendações para transformar a vida das crianças na RDC:

— O Conselho de Segurança deve mobilizar as vontades políticas necessárias para, após tantos anos de promessas, passar à incriminação dos culpados e ajudar o governo da RDC a criar os tribunais nacionais encarregados de mandar prender e julgar os violadores dos direitos das crianças.

— Incumbe aos Estados-membros apoiarem o Conselho de Segurança e a ONU para que as medidas definidas para melhorar a protecção das crianças possam ser levadas a efeito.

— Os financiadores externos podem assegurar o financiamento de organizações de vigilância e de elaboração de relatórios dedicadas não somente ao desarmamento e à desmobilização mas também à reintegração a longo prazo, sobretudo de raparigas envolvidas em combates militares.

— Os organismos da ONU devem, de resto, empenhar-se em parcerias solidárias e transparentes com a sociedade civil, para a produção de controlos e de relatórios, com o objectivo final de uma resposta adequada às violações conhecidas.

— O Governo da RDC deve aceitar a aplicação das sanções decididas pelo Conselho de Segurança para com os responsáveis das violações dos direitos das crianças.

A comunidade internacional já realizou muitos progressos na luta contra os terríveis crimes perpetrados contra as crianças nos conflitos

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protecção das crianças, à vigilância e a elaborar relatórios sobre os abusos cometidos.

Custa-me vir aqui dizer-vos que na região do Leste da RDC perduram, e intensificam-se mesmo, graves violações dos direitos das crianças, sobretudo nos meios rurais. A razão é simples: não há ninguém, nestes lugares, para as proteger.

A acção das Nações Unidas na RDC revelou-se certamente benéfica, é certo, mas tem alcance limitado. A resposta às violações deve ser reforçada nas cidades, e até nos campos, para pôr termo ao assassínio, à mutilação e à tortura das crianças; ao recrutamento de meninos-soldado; aos ataques contra escolas e contra hospitais; às violações e outras violências sexuais; à propagação do VHI/SIDA; e para assegurar o acesso das crianças aos recursos humanitários, incluindo o acesso ao apoio psico-social.

A vigilância e o relatório sobre abusos contra crianças constituem um ponto de partida essencial para assegurar a sua protecção. Mas o nosso dever não acaba aqui. Devemos também fazer frente às violações declaradas e pôr termo à impunidade dos seus autores.

Parece-me particularmente desconcertante que continuemos a saber que os rebeldes de Bania continuam a recrutar crianças para o seu exército. "Mas, para que servem todos os relatórios e quadros sobre os abusos de que são vítima as nossas crianças", interrogam-me os habitantes da minha aldeia, "se os culpados continuam a ficar impunes?"

Sr. Presidente, Excelências

Hoje, no entanto, graças à resolução 1612, o Conselho de Segurança e a estrutura da ONU como um todo estão em condições, como nunca estiveram no passado, de levar a Tribunal milhares de culpados por

crimes contra a infância.

Cabe-me a honra de vos apresentar algumas recomendações para transformar a vida das crianças na RDC:

— O Conselho de Segurança deve mobilizar as vontades políticas necessárias para, após tantos anos de promessas, passar à incriminação dos culpados e ajudar o governo da RDC a criar os tribunais nacionais encarregados de mandar prender e julgar os violadores dos direitos das crianças.

— Incumbe aos Estados-membros apoiarem o Conselho de Segurança e a ONU para que as medidas definidas para melhorar a protecção das crianças possam ser levadas a efeito.

— Os financiadores externos podem assegurar o financiamento de organizações de vigilância e de elaboração de relatórios dedicadas não somente ao desarmamento e à desmobilização mas também à reintegração a longo prazo, sobretudo de raparigas envolvidas em combates militares.

— Os organismos da ONU devem, de resto, empenhar-se em parcerias solidárias e transparentes com a sociedade civil, para a produção de controlos e de relatórios, com o objectivo final de uma resposta adequada às violações conhecidas.

— O Governo da RDC deve aceitar a aplicação das sanções decididas pelo Conselho de Segurança para com os responsáveis das violações dos direitos das crianças.

A comunidade internacional já realizou muitos progressos na luta contra os terríveis crimes perpetrados contra as crianças nos conflitos

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Radhika Coomaraswamy, Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para as Crianças e os Conflitos Armados

Paris, 5 Fevereiro de 2007

Sr. Ministro, Sra. Veneman, Senhoras e Senhores representantes, e caros colegas:

Estou encantada por estar aqui nesta grande manifestação, agradecendo ao Governo francês e à UNICEF ter-nos reunido com a finalidade de nos empenharmos conjuntamente na protecção das crianças, em impedir que sejam recrutadas ilegalmente e enviadas para combates militares e zelar pelos seus mais ignorados direitos fundamentais em tempo

armados no mundo. Contudo, as crianças da RDC — e, aliás, do mundo —– continuam à espera que acabemos com os crimes e com a impunidade que permite que a violência se perpetue. Chegou a altura de agir: As crianças não podem esperar mais.

Obrigado, Sr. Presidente, pelo privilégio que me deu ao conceder-me a possibilidade de me dirigir a esta importante assembleia.

Parte 3.Conferência Internacional de Paris "Libertemos as Crianças da Guerra"

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Radhika Coomaraswamy, Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para as Crianças e os Conflitos Armados

Paris, 5 Fevereiro de 2007

Sr. Ministro, Sra. Veneman, Senhoras e Senhores representantes, e caros colegas:

Estou encantada por estar aqui nesta grande manifestação, agradecendo ao Governo francês e à UNICEF ter-nos reunido com a finalidade de nos empenharmos conjuntamente na protecção das crianças, em impedir que sejam recrutadas ilegalmente e enviadas para combates militares e zelar pelos seus mais ignorados direitos fundamentais em tempo

armados no mundo. Contudo, as crianças da RDC — e, aliás, do mundo —– continuam à espera que acabemos com os crimes e com a impunidade que permite que a violência se perpetue. Chegou a altura de agir: As crianças não podem esperar mais.

Obrigado, Sr. Presidente, pelo privilégio que me deu ao conceder-me a possibilidade de me dirigir a esta importante assembleia.

Parte 3.Conferência Internacional de Paris "Libertemos as Crianças da Guerra"

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de guerra.

Já avançámos bastante desde a apresentação do notável relatório Graça Machel na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas em 1996, que chamou a atenção do mundo inteiro para os problemas específicos das crianças nos conflitos armados. Ainda que tenhamos evoluído no bom sentido, as crianças são, hoje ainda, em mais de cerca de trinta situações consideradas preocupantes no mundo, brutalizadas e utilizadas de maneira impiedosa para promover os interesses de certos adultos. Avalia-se em mais de 2 milhões o número de crianças mortas pela guerra, em mais de 6 milhões o número de crianças deficientes de guerra. Estima-se que o número de crianças-soldado seja superior a 250.000. Neste número incluem-se milhares de raparigas jovens que são vítimas de violações e outras formas de violência ou de exploração sexual. O número de raparigas e rapazes jovens arrancados do seu lar e da sua colectividade atingiu um nível sem precedentes. As escolas e os hospitais, que deveriam ser abrigo seguro para as crianças, são cada vez mais frequentemente os alvos predilectos dos grupos armados. Em muitos casos, as partes em conflito recusam sistematicamente aos organismos humanitários o acesso aos territórios sob o seu controlo, o que tem consequências desastrosas para as populações civis e, em especial, para as crianças.

Nestes 10 últimos anos, as crianças viveram experiências trágicas de terror e de privação em numerosas situações de conflito, nomeadamente no Médio Oriente, em Darfour e no Leste do Chade. Noutros lugares como, por exemplo, no Haiti, onde as tensões são de um outro tipo, as crianças são vítimas de recrutamento sistemático por grupos armados, são vítimas de assassinato, de mutilações, de raptos e de violência sexual. Além do mais, considera-se que estas realidades de violações graves dos seus direitos fundamentais começam "a migrar", a atravessar as fronteiras, como, por exemplo, na região dos Grandes Lagos. Apesar dos grandes esforços realizados para recensear, desmobilizar e recuperar as

crianças-soldado, a insuficiência de financiamentos a longo prazo e a falta de coerência dos programas de reconstrução alimentaram a vulnerabilidade da população de crianças abandonadas, que continuam a ser chamadas ou forçadas a participar em conflitos armados nos países vizinhos.

Acabo de passar uma semana no Sudão. Esta visita permitiu-me constatar os sofrimentos que as crianças suportam em situações de conflito armado. Encontrei pais de crianças mortas pela guerra, crianças que tinham sido recrutadas pelos vários grupos armados, raparigas jovens vítimas de violências sexuais e crianças deslocadas de guerra que não têm acesso à ajuda humanitária. Já não têm escola, não dispõem de hospitais suficientes e são prisioneiras de uma pobreza abjecta. Contudo, sinto-me encorajada, na sequência das minhas entrevistas com o Governo sudanês e com outras partes em conflito, que se comprometeram a parar o recrutamento e o uso de crianças-soldado, assim como pela vontade manifestada em combaterem a violência sexual. Espero que a sua concretização se torne efectiva rapidamente.

Instrumentos internacionais de protecção: acabar com a impunidade

Tenho visitado zonas de conflitos e fui testemunha do sofrimento e da esperança das crianças reintegradas nas suas comunidades ou que esperam vir a sê-lo, penso eu. Como é que é possível que 10 anos depois do relatório Machel e 5 anos após a primeira Conferência da Cidade do Cabo sobre a reintegração das crianças-soldado, ainda se continue a falar na reintegração das crianças de um mundo onde foram combatentes, carregadores, espiões ou escravos sexuais? É necessário fazer muito mais para acabar com os abusos, para levar os responsáveis a julgamento.

Enquanto a situação no terreno nos recorda que não há lugar para a complacência, devemos, no entanto, reconhecer que importantes

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de guerra.

Já avançámos bastante desde a apresentação do notável relatório Graça Machel na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas em 1996, que chamou a atenção do mundo inteiro para os problemas específicos das crianças nos conflitos armados. Ainda que tenhamos evoluído no bom sentido, as crianças são, hoje ainda, em mais de cerca de trinta situações consideradas preocupantes no mundo, brutalizadas e utilizadas de maneira impiedosa para promover os interesses de certos adultos. Avalia-se em mais de 2 milhões o número de crianças mortas pela guerra, em mais de 6 milhões o número de crianças deficientes de guerra. Estima-se que o número de crianças-soldado seja superior a 250.000. Neste número incluem-se milhares de raparigas jovens que são vítimas de violações e outras formas de violência ou de exploração sexual. O número de raparigas e rapazes jovens arrancados do seu lar e da sua colectividade atingiu um nível sem precedentes. As escolas e os hospitais, que deveriam ser abrigo seguro para as crianças, são cada vez mais frequentemente os alvos predilectos dos grupos armados. Em muitos casos, as partes em conflito recusam sistematicamente aos organismos humanitários o acesso aos territórios sob o seu controlo, o que tem consequências desastrosas para as populações civis e, em especial, para as crianças.

Nestes 10 últimos anos, as crianças viveram experiências trágicas de terror e de privação em numerosas situações de conflito, nomeadamente no Médio Oriente, em Darfour e no Leste do Chade. Noutros lugares como, por exemplo, no Haiti, onde as tensões são de um outro tipo, as crianças são vítimas de recrutamento sistemático por grupos armados, são vítimas de assassinato, de mutilações, de raptos e de violência sexual. Além do mais, considera-se que estas realidades de violações graves dos seus direitos fundamentais começam "a migrar", a atravessar as fronteiras, como, por exemplo, na região dos Grandes Lagos. Apesar dos grandes esforços realizados para recensear, desmobilizar e recuperar as

crianças-soldado, a insuficiência de financiamentos a longo prazo e a falta de coerência dos programas de reconstrução alimentaram a vulnerabilidade da população de crianças abandonadas, que continuam a ser chamadas ou forçadas a participar em conflitos armados nos países vizinhos.

Acabo de passar uma semana no Sudão. Esta visita permitiu-me constatar os sofrimentos que as crianças suportam em situações de conflito armado. Encontrei pais de crianças mortas pela guerra, crianças que tinham sido recrutadas pelos vários grupos armados, raparigas jovens vítimas de violências sexuais e crianças deslocadas de guerra que não têm acesso à ajuda humanitária. Já não têm escola, não dispõem de hospitais suficientes e são prisioneiras de uma pobreza abjecta. Contudo, sinto-me encorajada, na sequência das minhas entrevistas com o Governo sudanês e com outras partes em conflito, que se comprometeram a parar o recrutamento e o uso de crianças-soldado, assim como pela vontade manifestada em combaterem a violência sexual. Espero que a sua concretização se torne efectiva rapidamente.

Instrumentos internacionais de protecção: acabar com a impunidade

Tenho visitado zonas de conflitos e fui testemunha do sofrimento e da esperança das crianças reintegradas nas suas comunidades ou que esperam vir a sê-lo, penso eu. Como é que é possível que 10 anos depois do relatório Machel e 5 anos após a primeira Conferência da Cidade do Cabo sobre a reintegração das crianças-soldado, ainda se continue a falar na reintegração das crianças de um mundo onde foram combatentes, carregadores, espiões ou escravos sexuais? É necessário fazer muito mais para acabar com os abusos, para levar os responsáveis a julgamento.

Enquanto a situação no terreno nos recorda que não há lugar para a complacência, devemos, no entanto, reconhecer que importantes

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etapas já têm sido ultrapassadas na protecção das crianças em situação de guerra. Hoje, 114 países ratificaram o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança relativo ao Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados. Este apelo à acção em defesa das crianças nos conflitos armados foi reafirmado pelos Chefes de Estado aquando da Cimeira Mundial de 2005. Peço urgentemente aos governos que ainda não o tenham feito, que encarem fazê-lo e tomem medidas a esse respeito; e, aos que já o ratificaram, que apliquem as medidas necessárias para proibir e impossibilitar práticas como o recrutamento e a utilização de crianças por grupos armados. Estão actualmente a ser desenvolvidas importantes iniciativas para acabar definitivamente com a impunidade dos grupos que, de maneira repetida, cometem graves violações dos direitos da criança em situações de conflito e para proteger as crianças das calamidades em situação de guerra.

Em 2005, o Conselho de Segurança adoptou a Resolução 1612 que apelava à criação de um mecanismo de acompanhamento, com a elaboração de relatórios, e à criação de um Grupo de Trabalho sobre as crianças nos conflitos armados. No ano seguinte à adopção desta Resolução, o Grupo de Trabalho do Conselho de Segurança reuniu-se regularmente sob a presidência empenhada do Embaixador Sablière, Embaixador da França junto das Nações Unidas. No mesmo período, foram realizados progressos na aplicação do mecanismo de acompanhamento e de elaboração de relatórios em sete países designados como prioritários para a primeira fase da sua aplicação, nomeadamente o Burundi, a República Democrática do Congo, a Costa de Marfim, a Somália, o Sudão, o Nepal e o Sri Lanka. Até hoje, o Grupo de Trabalho examinou relatórios sobre todos os países referidos, excepto o Sri Lanka e o Nepal, que serão examinados a seguir. Além disso, o Grupo de Trabalho recebe, de dois em dois meses, uma nota de informação global que cobre as outras situações preocupantes ou assinala os últimos desenvolvimentos ocorridos desde a reunião precedente. O objectivo é que os relatórios do Grupo de Trabalho sirvam "para

desencadear" a acção por parte do Conselho e dos outros actores, pressionando assim as partes em conflito para pôr termo às violações dos direitos da criança.

Já podemos evidenciar resultados significativos. Certos grupos armados decidiram iniciar o diálogo com as equipas das Nações Unidas no terreno e comprometeram-se em executar planos de acção para libertar as crianças que se encontram nas suas fileiras. É o caso das "Forces Nouvelles" na Costa do Marfim que, sob a pressão coordenada do Representante Especial do Secretário-Geral da ONU na Costa de Marfim e da UNICEF subscreveram o plano de acção para parar o recrutamento de crianças-soldado e libertar as crianças que integravam as suas fileiras. Mais recentemente, a UNICEF e a ONU obtiveram, da parte do coronel Karuna, chefe dos Tigres Tamil Makkal Viduthalai Pulighal (TMVP), no Sri Lanka, um compromisso em colaborar com a UNICEF para elaborar um plano de acção para parar o recrutamento e libertar as crianças existentes nas suas fileiras. Também o Karen National Liberation Army (KNLA), que recrutava crianças nos campos de refugiados na Tailândia, comunicou igualmente à equipa das Nações Unidas na Tailândia, por carta enviada aos nossos serviços, que já não tinha crianças nas suas fileiras e que autorizaria as Nações Unidas a acederem, sem obstáculos, à verificação da cessação deste recrutamento. Os nossos serviços estão a finalizar uma declaração de compromisso e um plano de acção, em colaboração com a equipa das Nações Unidas no local, em resposta às indicações do KNLA.

Foram igualmente estabelecidos importantes precedentes na luta contra a impunidade, graças à aplicação de normas internacionais em matéria de protecção das crianças. O Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou Segunda-feira passada a confirmação das acusações contra Thomas Lubanga Dyilo, fundador e chefe da União dos Patriotas Congoleses, na região de Ituri, na República Democrática do Congo, por crimes de guerra, de alistamento forçado, de recrutamento e utilização

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etapas já têm sido ultrapassadas na protecção das crianças em situação de guerra. Hoje, 114 países ratificaram o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança relativo ao Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados. Este apelo à acção em defesa das crianças nos conflitos armados foi reafirmado pelos Chefes de Estado aquando da Cimeira Mundial de 2005. Peço urgentemente aos governos que ainda não o tenham feito, que encarem fazê-lo e tomem medidas a esse respeito; e, aos que já o ratificaram, que apliquem as medidas necessárias para proibir e impossibilitar práticas como o recrutamento e a utilização de crianças por grupos armados. Estão actualmente a ser desenvolvidas importantes iniciativas para acabar definitivamente com a impunidade dos grupos que, de maneira repetida, cometem graves violações dos direitos da criança em situações de conflito e para proteger as crianças das calamidades em situação de guerra.

Em 2005, o Conselho de Segurança adoptou a Resolução 1612 que apelava à criação de um mecanismo de acompanhamento, com a elaboração de relatórios, e à criação de um Grupo de Trabalho sobre as crianças nos conflitos armados. No ano seguinte à adopção desta Resolução, o Grupo de Trabalho do Conselho de Segurança reuniu-se regularmente sob a presidência empenhada do Embaixador Sablière, Embaixador da França junto das Nações Unidas. No mesmo período, foram realizados progressos na aplicação do mecanismo de acompanhamento e de elaboração de relatórios em sete países designados como prioritários para a primeira fase da sua aplicação, nomeadamente o Burundi, a República Democrática do Congo, a Costa de Marfim, a Somália, o Sudão, o Nepal e o Sri Lanka. Até hoje, o Grupo de Trabalho examinou relatórios sobre todos os países referidos, excepto o Sri Lanka e o Nepal, que serão examinados a seguir. Além disso, o Grupo de Trabalho recebe, de dois em dois meses, uma nota de informação global que cobre as outras situações preocupantes ou assinala os últimos desenvolvimentos ocorridos desde a reunião precedente. O objectivo é que os relatórios do Grupo de Trabalho sirvam "para

desencadear" a acção por parte do Conselho e dos outros actores, pressionando assim as partes em conflito para pôr termo às violações dos direitos da criança.

Já podemos evidenciar resultados significativos. Certos grupos armados decidiram iniciar o diálogo com as equipas das Nações Unidas no terreno e comprometeram-se em executar planos de acção para libertar as crianças que se encontram nas suas fileiras. É o caso das "Forces Nouvelles" na Costa do Marfim que, sob a pressão coordenada do Representante Especial do Secretário-Geral da ONU na Costa de Marfim e da UNICEF subscreveram o plano de acção para parar o recrutamento de crianças-soldado e libertar as crianças que integravam as suas fileiras. Mais recentemente, a UNICEF e a ONU obtiveram, da parte do coronel Karuna, chefe dos Tigres Tamil Makkal Viduthalai Pulighal (TMVP), no Sri Lanka, um compromisso em colaborar com a UNICEF para elaborar um plano de acção para parar o recrutamento e libertar as crianças existentes nas suas fileiras. Também o Karen National Liberation Army (KNLA), que recrutava crianças nos campos de refugiados na Tailândia, comunicou igualmente à equipa das Nações Unidas na Tailândia, por carta enviada aos nossos serviços, que já não tinha crianças nas suas fileiras e que autorizaria as Nações Unidas a acederem, sem obstáculos, à verificação da cessação deste recrutamento. Os nossos serviços estão a finalizar uma declaração de compromisso e um plano de acção, em colaboração com a equipa das Nações Unidas no local, em resposta às indicações do KNLA.

Foram igualmente estabelecidos importantes precedentes na luta contra a impunidade, graças à aplicação de normas internacionais em matéria de protecção das crianças. O Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou Segunda-feira passada a confirmação das acusações contra Thomas Lubanga Dyilo, fundador e chefe da União dos Patriotas Congoleses, na região de Ituri, na República Democrática do Congo, por crimes de guerra, de alistamento forçado, de recrutamento e utilização

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activa de crianças com menos de 15 anos nas hostilidades. O TPI também emitiu mandatos de prisão contra cinco dos principais membros do Lord's Resistance Army (LRA), nomeadamente o chefe rebelde, Joseph Kony, contra quem existem 33 acusações por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, em especial por assassinato, violação, escravatura, escravatura sexual, recrutamento forçado e utilização de crianças com menos de 15 anos em conflitos armados.

E os processos judiciais desencadeados a nível nacional na República Democrática do Congo conduziram recentemente à acusação e à condenação do comandante Jean-Pierre Biyoyo, do grupo armado Mudundu Forty, pelo Tribunal Militar Nacional do Sul-Kivu, por recrutamento e utilização de crianças num conflito armado. Além disso, e pela primeira vez, um antigo Chefe de Estado, Charles Ghankay Taylor, da Libéria, foi colocado sob custódia do Tribunal Especial para a Serra Leoa, acusado de 11 crimes de guerra e crimes contra a humanidade, nomeadamente "por recrutar ou ter recrutado crianças com menos de 15 anos para as forças ou grupos armados e por tê-los feito participar activamente nas hostilidades".

Abarcar todas as situações de conflitos armados e assegurar condições equitativas de todas as crianças, onde quer que vivam

Enquanto os exemplos que acabo de mencionar confirmam os progressos em matéria de luta contra a impunidade dos violadores dos direitos da criança e, em especial, no que diz respeito às crianças-soldado, devemos, no entanto, alargar os nossos horizontes a todas as situações de conflito, de modo que as crianças sejam tratadas de maneira equitativa onde quer que vivam. Além disso, deveríamos atribuir mais importância às outras violações graves dos direitos da criança, como os assassinatos ou mutilações de crianças, os ataques dirigidos contra escolas ou hospitais, os raptos, as violações ou outros actos graves de violência sexual, a recusa de autorizar o

acesso dos organismos humanitários às próprias crianças.

Assegurar maior protecção às crianças mais vulneráveis: as raparigas jovens e as crianças deslocadas dentro do seu próprio país

As realidades que nos são evidenciadas são muito explícitas. As raparigas jovens são particularmente vulneráveis nas situações de conflito armado. São forçadas, muito frequentemente, a desempenharem papéis múltiplos. São, ao mesmo tempo, escravas sexuais, mães, ajudantes de campo e combatentes. Infelizmente, têm sido negligenciadas nas situações de desmobilização e de reintegração. Devem ser tomadas medidas específicas e devem ser assumidos compromissos dinâmicos por todos os actores de modo a que as raparigas jovens sejam, não somente mais bem protegidas, como também possam ter os meios para se autonomizarem aquando da sua reintegração nas suas comunidades.

Os refugiados e as crianças deslocadas no seu próprio país, bem como as crianças não acompanhadas, as crianças isoladas e os lares que integram crianças são particularmente vulneráveis em tempos de guerra. Devemos zelar para que se desenvolvam estratégias de modo a evitar que se deixem levar ou recrutar à força por grupos armados.

Incluir cláusulas sobre as crianças nos acordos de paz favorece a sua desmobilização e a sua reintegração

Desde há alguns anos, vários acordos de paz entre os quais os da Costa de Marfim, do Burundi e do Sudão contêm cláusulas sobre a protecção das crianças e sobre a sua desmobilização. Tais elementos fazem cada vez mais parte integrante dos acordos de paz e esperamos que sejam prática normal em todos os acordos de paz onde se coloca a questão das crianças-soldado.

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activa de crianças com menos de 15 anos nas hostilidades. O TPI também emitiu mandatos de prisão contra cinco dos principais membros do Lord's Resistance Army (LRA), nomeadamente o chefe rebelde, Joseph Kony, contra quem existem 33 acusações por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, em especial por assassinato, violação, escravatura, escravatura sexual, recrutamento forçado e utilização de crianças com menos de 15 anos em conflitos armados.

E os processos judiciais desencadeados a nível nacional na República Democrática do Congo conduziram recentemente à acusação e à condenação do comandante Jean-Pierre Biyoyo, do grupo armado Mudundu Forty, pelo Tribunal Militar Nacional do Sul-Kivu, por recrutamento e utilização de crianças num conflito armado. Além disso, e pela primeira vez, um antigo Chefe de Estado, Charles Ghankay Taylor, da Libéria, foi colocado sob custódia do Tribunal Especial para a Serra Leoa, acusado de 11 crimes de guerra e crimes contra a humanidade, nomeadamente "por recrutar ou ter recrutado crianças com menos de 15 anos para as forças ou grupos armados e por tê-los feito participar activamente nas hostilidades".

Abarcar todas as situações de conflitos armados e assegurar condições equitativas de todas as crianças, onde quer que vivam

Enquanto os exemplos que acabo de mencionar confirmam os progressos em matéria de luta contra a impunidade dos violadores dos direitos da criança e, em especial, no que diz respeito às crianças-soldado, devemos, no entanto, alargar os nossos horizontes a todas as situações de conflito, de modo que as crianças sejam tratadas de maneira equitativa onde quer que vivam. Além disso, deveríamos atribuir mais importância às outras violações graves dos direitos da criança, como os assassinatos ou mutilações de crianças, os ataques dirigidos contra escolas ou hospitais, os raptos, as violações ou outros actos graves de violência sexual, a recusa de autorizar o

acesso dos organismos humanitários às próprias crianças.

Assegurar maior protecção às crianças mais vulneráveis: as raparigas jovens e as crianças deslocadas dentro do seu próprio país

As realidades que nos são evidenciadas são muito explícitas. As raparigas jovens são particularmente vulneráveis nas situações de conflito armado. São forçadas, muito frequentemente, a desempenharem papéis múltiplos. São, ao mesmo tempo, escravas sexuais, mães, ajudantes de campo e combatentes. Infelizmente, têm sido negligenciadas nas situações de desmobilização e de reintegração. Devem ser tomadas medidas específicas e devem ser assumidos compromissos dinâmicos por todos os actores de modo a que as raparigas jovens sejam, não somente mais bem protegidas, como também possam ter os meios para se autonomizarem aquando da sua reintegração nas suas comunidades.

Os refugiados e as crianças deslocadas no seu próprio país, bem como as crianças não acompanhadas, as crianças isoladas e os lares que integram crianças são particularmente vulneráveis em tempos de guerra. Devemos zelar para que se desenvolvam estratégias de modo a evitar que se deixem levar ou recrutar à força por grupos armados.

Incluir cláusulas sobre as crianças nos acordos de paz favorece a sua desmobilização e a sua reintegração

Desde há alguns anos, vários acordos de paz entre os quais os da Costa de Marfim, do Burundi e do Sudão contêm cláusulas sobre a protecção das crianças e sobre a sua desmobilização. Tais elementos fazem cada vez mais parte integrante dos acordos de paz e esperamos que sejam prática normal em todos os acordos de paz onde se coloca a questão das crianças-soldado.

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As linhas de orientação em questão põem, hoje, a tónica na importância da adopção de uma abordagem de fundo que responda às necessidades específicas da desmobilização e da reintegração. Os acordos de desmobilização das crianças requerem uma resposta imediata, enquanto a sua reintegração nas suas comunidades exige mais tempo e necessita de uma abordagem a longo prazo. Esta dicotomia deve ser tida em conta nas diferentes fases dos esforços humanitários, na consolidação da paz e no desenvolvimento nacional. Muito frequentemente, as necessidades ligadas à vertente da reintegração caem no esquecimento das estratégias de financiamento dos doadores no momento em que a ajuda de emergência se transforma em ajuda ao desenvolvimento. É, por conseguinte, indispensável apoiar os esforços de reintegração a longo prazo e favorecer o emprego dos jovens.

Para concluir, gostaria de vos falar sobre aquilo que as minhas visitas no terreno me permitiram perceber. O sofrimento das crianças é intolerável. Mas a sua capacidade em se recomporem é espantosa. Têm necessidade de todos nós e dos nossos incentivos, do nosso apoio. Se recebem a ajuda adequada, podem tornar-se seres excepcionais e reencontrar um lugar de eleição na sociedade. Ishmael Beah que está hoje aqui connosco é um belo exemplo. Antigo menino-soldado na Serra Leoa, foi adoptado por um mãe americana, passou a ir à escola e, depois, à universidade nos Estados Unidos e formou-se com sucesso. Acaba de escrever um livro para nos permitir compartilhar a sua experiência de menino-soldado. A sua história é comovente, dura, cheia de sabedoria e de compreensão. Ela evidencia o facto de as crianças poderem conseguir libertar-se e curar os seus traumatismos, transmitindo-nos claros sinais de esperança.

T r a d u ç ã o l i v r e d e : http://www.un.org/children/conflict/french/5feb2007internat162.html

A União Europeia congratula-se com a entrega de Thomas Lubanga Dyilo pelas autoridades da República Democrática do Congo e com a sua transferência para França, para o Tribunal Penal Internacional, em 17 de Março de 2006. Thomas Lubanga é acusado de ter cometido crimes de guerra, nomeadamente de ter alistado e recrutado crianças como soldados e tê-las feito participar activamente nas hostilidades. É o primeiro suspeito a ser detido e transferido para o Tribunal Penal Internacional para ser julgado em Haia.Esta detenção constitui um passo importante na luta contra a impunidade na Região dos Grandes Lagos, e visa a reforçar a estabilidade a longo prazo na região. Além disso, esta detenção atesta o empenhamento da comunidade internacional e o seu apoio à República Democrática do Congo e aos seus cidadãos nos seus esforços em prol da paz e da reconciliação. A este respeito a UE congratula-se com o facto de a República Democrática do Congo estar a preparar-se para as primeiras eleições

Parte 4.Declaração da Presidência, em nome da União Europeia, sobre a detenção e transferência de Thomas Lubanga

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As linhas de orientação em questão põem, hoje, a tónica na importância da adopção de uma abordagem de fundo que responda às necessidades específicas da desmobilização e da reintegração. Os acordos de desmobilização das crianças requerem uma resposta imediata, enquanto a sua reintegração nas suas comunidades exige mais tempo e necessita de uma abordagem a longo prazo. Esta dicotomia deve ser tida em conta nas diferentes fases dos esforços humanitários, na consolidação da paz e no desenvolvimento nacional. Muito frequentemente, as necessidades ligadas à vertente da reintegração caem no esquecimento das estratégias de financiamento dos doadores no momento em que a ajuda de emergência se transforma em ajuda ao desenvolvimento. É, por conseguinte, indispensável apoiar os esforços de reintegração a longo prazo e favorecer o emprego dos jovens.

Para concluir, gostaria de vos falar sobre aquilo que as minhas visitas no terreno me permitiram perceber. O sofrimento das crianças é intolerável. Mas a sua capacidade em se recomporem é espantosa. Têm necessidade de todos nós e dos nossos incentivos, do nosso apoio. Se recebem a ajuda adequada, podem tornar-se seres excepcionais e reencontrar um lugar de eleição na sociedade. Ishmael Beah que está hoje aqui connosco é um belo exemplo. Antigo menino-soldado na Serra Leoa, foi adoptado por um mãe americana, passou a ir à escola e, depois, à universidade nos Estados Unidos e formou-se com sucesso. Acaba de escrever um livro para nos permitir compartilhar a sua experiência de menino-soldado. A sua história é comovente, dura, cheia de sabedoria e de compreensão. Ela evidencia o facto de as crianças poderem conseguir libertar-se e curar os seus traumatismos, transmitindo-nos claros sinais de esperança.

T r a d u ç ã o l i v r e d e : http://www.un.org/children/conflict/french/5feb2007internat162.html

A União Europeia congratula-se com a entrega de Thomas Lubanga Dyilo pelas autoridades da República Democrática do Congo e com a sua transferência para França, para o Tribunal Penal Internacional, em 17 de Março de 2006. Thomas Lubanga é acusado de ter cometido crimes de guerra, nomeadamente de ter alistado e recrutado crianças como soldados e tê-las feito participar activamente nas hostilidades. É o primeiro suspeito a ser detido e transferido para o Tribunal Penal Internacional para ser julgado em Haia.Esta detenção constitui um passo importante na luta contra a impunidade na Região dos Grandes Lagos, e visa a reforçar a estabilidade a longo prazo na região. Além disso, esta detenção atesta o empenhamento da comunidade internacional e o seu apoio à República Democrática do Congo e aos seus cidadãos nos seus esforços em prol da paz e da reconciliação. A este respeito a UE congratula-se com o facto de a República Democrática do Congo estar a preparar-se para as primeiras eleições

Parte 4.Declaração da Presidência, em nome da União Europeia, sobre a detenção e transferência de Thomas Lubanga

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democráticas em quarenta anos.A detenção e transferência de Thomas Lubanga prova que o Tribunal Penal Internacional está plenamente operacional. A UE está confiante em que o Tribunal Penal Internacional funcionará como elemento dissuasor e meio de resolução de conflitos com o apoio da comunidade internacional.A Bulgária e a Roménia – países aderentes –, a Turquia, a Croácia* e a Antiga República Jugoslava da Macedónia* – países candidatos –, a Albânia, a Bósnia e Herzegovina e a Sérvia e Montenegro – países do Processo de Estabilização e de Associação e potenciais candidatos – e a Islândia, o Liechtenstein e a Noruega – países da EFTA membros do Espaço Económico Europeu –, bem como a Ucrânia e a Moldávia, subscrevem igualmente a presente declaração.* A Croácia e a Antiga República Jugoslava da Macedónia continuam a fazer parte do Processo de Estabilização e de Associação.

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democráticas em quarenta anos.A detenção e transferência de Thomas Lubanga prova que o Tribunal Penal Internacional está plenamente operacional. A UE está confiante em que o Tribunal Penal Internacional funcionará como elemento dissuasor e meio de resolução de conflitos com o apoio da comunidade internacional.A Bulgária e a Roménia – países aderentes –, a Turquia, a Croácia* e a Antiga República Jugoslava da Macedónia* – países candidatos –, a Albânia, a Bósnia e Herzegovina e a Sérvia e Montenegro – países do Processo de Estabilização e de Associação e potenciais candidatos – e a Islândia, o Liechtenstein e a Noruega – países da EFTA membros do Espaço Económico Europeu –, bem como a Ucrânia e a Moldávia, subscrevem igualmente a presente declaração.* A Croácia e a Antiga República Jugoslava da Macedónia continuam a fazer parte do Processo de Estabilização e de Associação.

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