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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X MENINAS E MENINOS NO COLÉGIO MILITAR: PERCEPÇÕES DISCENTES DE RELAÇÕES DE GÊNERO E PODER NO ESPAÇO ESCOLAR Patrícia Rodrigues Augusto Carra 1 Resumo: O foco desta pesquisa é o Colégio Militar localizado na cidade de Porto Alegre (Brasil). Educandário criado para o sexo masculino, pertencente aos colégios militares mantidos pelo Exército Brasileiro, que funcionou como escola monoeducativa até o ano de 1989, quando passou a aceitar meninas em seu corpo discente. O recorte de tempo é do ano de 1989 ao ano de 2013. A investigação analisa alguns aspectos da cultura escolar, busca inferir o feminino e o masculino idealizado, considerando a existência de diferentes masculinidades e feminilidades circulantes no ambiente do colégio. O estudo, base para este artigo, aborda percepções de estudantes e ex-alunos de ambos os sexos, acerca da presença de desigualdades e preconceitos no espaço escolar e, como discentes homens e mulheres em construção percebem e resignificam as relações de gênero neste educandário. Apesar da crescente presença feminina nos seus quadros, a escola mantém o seu ethos masculino. O referencial teórico envolve os campos da História, da História da Educação, da Antropologia e da Sociologia, e as análises contemplam os aportes dedicados aos estudos de gênero. Palavras-chave: Educação de meninos e meninas; Colégio militar; Preconceitos; Cultura escolar Introdução A escola que abrigou o estudo, fonte deste artigo, é o Colégio Militar localizado na cidade de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul (Brasil): um educandário criado para o sexo masculino, pertencente ao conjunto de colégios militares, mantidos pelo Exército Brasileiro 2 , que aceitou meninas no seu corpo discente, somente, a partir do ano de 1989. Ser escola mista não significou a adoção de uma política e de práxis pedagógica preocupada com a igualdade de gêneros. Esta não foi uma questão considerada. Significou, apenas, a aceitação de mulheres na condição de estudantes. Representou a necessidade de pensar sobre ajustes no regulamento e na rotina escolar para tê-las no cotidiano da instituição. 1 Doutora pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professora no Sistema Colégio Militar do Brasil: Colégio Militar de Porto Alegre. Porto Alegre, Brasil. 2 O Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) considera 1912 como o ano de sua fundação. È necessário esclarecer que o tempo de sua existência, definido pela tradição, abrange duas fases distintas: a escola inaugurada no ano de 1912 foi extinta em 1938. O atual Colégio Militar de Porto Alegre iniciou suas atividades letivas no ano de 1962 (CARRA, 2008). Atualmente, o Sistema Colégio Militar do Brasil é composto por 13 colégios militares. Sobre ver página [on- line] da Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA) disponível em < http://www.depa.eb.mil.br/sistema- colegio-militar-do-brasil>, acesso: junho 2017.

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Page 1: MENINAS E MENINOS NO COLÉGIO MILITAR: PERCEPÇÕES … · Baleiros e baleiras no Velho Casarão: co-educação ou escola mista no Colégio Militar de Porto Alegre? RS – 1989 a

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

MENINAS E MENINOS NO COLÉGIO MILITAR: PERCEPÇÕES DISCENTES DE

RELAÇÕES DE GÊNERO E PODER NO ESPAÇO ESCOLAR

Patrícia Rodrigues Augusto Carra1

Resumo: O foco desta pesquisa é o Colégio Militar localizado na cidade de Porto Alegre (Brasil).

Educandário criado para o sexo masculino, pertencente aos colégios militares mantidos pelo

Exército Brasileiro, que funcionou como escola monoeducativa até o ano de 1989, quando passou a

aceitar meninas em seu corpo discente. O recorte de tempo é do ano de 1989 ao ano de 2013. A

investigação analisa alguns aspectos da cultura escolar, busca inferir o feminino e o masculino

idealizado, considerando a existência de diferentes masculinidades e feminilidades circulantes no

ambiente do colégio. O estudo, base para este artigo, aborda percepções de estudantes e ex-alunos

de ambos os sexos, acerca da presença de desigualdades e preconceitos no espaço escolar e, como

discentes – homens e mulheres em construção – percebem e resignificam as relações de gênero

neste educandário. Apesar da crescente presença feminina nos seus quadros, a escola mantém o seu

ethos masculino. O referencial teórico envolve os campos da História, da História da Educação, da

Antropologia e da Sociologia, e as análises contemplam os aportes dedicados aos estudos de gênero.

Palavras-chave: Educação de meninos e meninas; Colégio militar; Preconceitos; Cultura escolar

Introdução

A escola que abrigou o estudo, fonte deste artigo, é o Colégio Militar localizado na cidade

de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul (Brasil): um educandário criado para o sexo

masculino, pertencente ao conjunto de colégios militares, mantidos pelo Exército Brasileiro2, que

aceitou meninas no seu corpo discente, somente, a partir do ano de 1989.

Ser escola mista não significou a adoção de uma política e de práxis pedagógica preocupada

com a igualdade de gêneros. Esta não foi uma questão considerada. Significou, apenas, a aceitação

de mulheres na condição de estudantes. Representou a necessidade de pensar sobre ajustes no

regulamento e na rotina escolar para tê-las no cotidiano da instituição.

1 Doutora pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professora no Sistema Colégio Militar

do Brasil: Colégio Militar de Porto Alegre. Porto Alegre, Brasil. 2 O Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) considera 1912 como o ano de sua fundação. È necessário esclarecer que

o tempo de sua existência, definido pela tradição, abrange duas fases distintas: a escola inaugurada no ano de 1912 foi

extinta em 1938. O atual Colégio Militar de Porto Alegre iniciou suas atividades letivas no ano de 1962 (CARRA,

2008). Atualmente, o Sistema Colégio Militar do Brasil é composto por 13 colégios militares. Sobre ver página [on-

line] da Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA) disponível em < http://www.depa.eb.mil.br/sistema-

colegio-militar-do-brasil>, acesso: junho 2017.

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A investigação3 que norteia este artigo abordou as percepções de estudantes e ex-alunos, de

ambos os sexos, acerca da presença de desigualdades e de preconceitos no espaço escolar e, como

discentes – homens e mulheres em construção – percebem e resignificam as relações de gênero

neste colégio.

Os fios condutores da pesquisa foram narrativas de estudantes e de ex-estudantes desta

escola. O recorte de tempo foi de 1989 ao ano de 20134. Ao longo deste período, mulheres

ingressaram nos quadros de trabalhadores civis e militares e no corpo de discente do Colégio

Militar de Porto Alegre (CMPA), contudo, a alma matter deste educandário continua masculina.

No cotidiano do educandário, meninos e meninas, igualados pelo peso do mérito acadêmico e

diferenciados através do entendido como particular de cada sexo, convivem capturados pelo discurso

institucional e/ou resistindo a este de formas explícitas ou em pequenas artes, ironias ou indisciplinas.

Eles e elas falam do seu dia-a-dia. Suas narrativas, construídas em diferentes textos e suportes,

mostram-nos, entre outros aspectos, que percebem e sentem desigualdades no cotidiano do CMPA.

Diferenças de tratamento justificadas pelo fato de serem do sexo masculino ou do feminino

são mais frequentes nas narrativas de estudantes matriculados nas turmas do 8 e 9° Ano do Ensino

Fundamental e nas do Ensino Médio. Alguns naturalizam a existência destas diferenças, outros as

questionam. Alunos e alunas pertencentes ao Ensino Médio e ex-estudantes narram, também,

situações envolvendo tratamento diferenciado em função das diferentes orientações sexuais

assumidas pelos (ou atribuídas aos) estudantes.

O fato da instituição não valorizar as reflexões sobre questões de gênero, até por naturalizá-

las, não significa que estudantes e demais integrantes do CMPA não ‘façam gênero’. Segundo

Pereira (2012, p.15 -16):

Todos os dias fazemos género, isto é, interpretamos e julgamos os comportamentos dos/a

outros/as em função do seu sexo, fazemos comentários (e até anedotas) sobre os traços

típicos de mulheres e homens, organizamos a nossa aparência com base nas normas da

nossa sociedade sobre o que é um aspecto masculino e feminino, fazemos escolhas sobre

cores, brinquedos, passatempos, livros, filmes e tantas outras coisas em função daquilo que

julgamos ser mais indicado para homens e mulheres, sentamo-nos nos transportes públicos

(de pernas abertas ou fechadas, ocupando mais ou menos espaço), ou expressamos as

nossas emoções, da forma “correta” do ponto de vista de gênero.

Fazer gênero pode ser uma ação discriminatória ou emancipatória. A escola é, apenas, uma

3 CARRA, Patrícia Rodrigues Augusto. Baleiros e baleiras no Velho Casarão: co-educação ou escola mista no

Colégio Militar de Porto Alegre? RS – 1989 a 2013 (Tese de Doutorado), Faculdade de Educação. Programa de Pós-

Graduação em Educação, PUCRS. Porto Alegre, 2014 4 O término do estudo foi definido pelo cronograma de pesquisa, escrita e defesa da tese de doutoramento que abriga a

investigação orientadora deste artigo.

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das searas onde convivemos e fazemos gênero. Ainda, de acordo com Pereira (2012, p.15-16):

Fazer género é, para muitas/os de nós e muitas vezes, uma fonte de sensações positivas: é

algo confortável e familiar, que nos dá a segurança de saber o que devemos fazer, o que

esperar dos/as outras e como interagir com eles/as; que nos faz sentir atraentes e sensuais;

que nos dá prazer, recursos ou oportunidades. Mas fazer género é também uma experiência

de desconforto e até violência: faz-nos sentir dúvida, ansiedade embaraço e medo

(pensamentos, “será que a minha conduta, aparência ou escolha está 'correta'? O que vão

achar de mim se não estiver?”); impede-nos de fazer coisas que queremos, participar em

actividades que nos atraem, dizer o que nos vem à cabeça, confessar desejos e receios, amar

as pessoas que escolhemos; provoca e permite a desigualdade, a discriminação, a

segregação, o assédio; e, em muitos casos, serve de justificação para exercer violência dos

mais tipos sobre aquelas/es que não fazem género da forma que entendemos ser natural,

normal ou desejável.

Grande parte das questões levantadas, pelos discentes e ex-discentes do CMPA, pertencem a

um leque que extrapola os limites dos seus portões. Podem ser observadas em outras escolas, de

diferentes níveis de ensino, como atestam estudos realizados em outras instituições educativas, tanto

brasileiras quanto de outras nacionalidades.

Antes das meninas

O Colégio Militar, que iniciou as suas atividades no ano letivo de 1962, era uma escola

masculina e espartana. Muitos depoimentos e registros dizem que apenas homens trabalhavam ou

estudavam, nesta época, na instituição. Um olhar mais inquiridor para os documentos revela a

existência de, pelo menos, duas mulheres trabalhando no educandário5. Suas presenças silenciadas

levantam a questão: haveria outras mulheres trabalhando no CMPA durante os anos de 1960?

Depoimentos, de ex-alunos e de professores que vivenciaram o Colégio durante as duas

primeiras décadas pós 1962, e vestígios diversos dizem que, somente, no raiar da década de 1970

encontramos mulheres integrando os quadros de trabalhadores da escola. A inserção feminina

começou nos espaços da cozinha, da administração e da biblioteca.

Michelle Perrot (2005, p. 353) conclui que “qualquer mulher que se aproxima de uma

caserna é suspeita”. Esta colocação ilustra o abismo que, até a década de 1990, existia entre as

mulheres e o trabalho nas organizações militares ou os bancos escolares das suas instituições de

ensino.

O fosso que as separava do ambiente militar era profundo, tanto pela visão dos que

pertenciam aos quadros militares quanto pela ótica da sociedade civil. Quando, no ano de 1979, as

5 Exemplo: a revista Hiloea referente ao ano letivo de 1962 revela a presença da maestrina Dinah Néri, responsável pelo

coro orfeônico, e de uma professora de Artes Plásticas. As duas mulheres atuavam no conjunto de aulas e práticas

denominadas extraclasse, que, nessa época, eram obrigatórias e valorizadas no currículo escolar. O aluno, dentro do

conjunto oferecido ao seu nível de estudo, podia escolher a atividade extraclasse que desejasse participar.

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cinco primeiras professoras, aprovadas em concurso público, iniciaram as suas atividades no

Colégio parecia que a possibilidade de atuação das mulheres na caserna havia atingido o ponto

máximo.

Narrativas e documentos, produzidos por profissionais da Instituição, permitem concluir que

o processo de ingresso das docentes foi tenso e permeado por reações negativas ou de desconforto

de alguns homens que trabalhavam no educandário, desconhecimentos em relação à cultura militar

e receios alimentados em função do regime político que vigorava no Brasil (1964 a 1985). Podemos

inferir que foi, também, audaz: as primeiras professoras infligiram uma lógica social que

naturalizava serem as mulheres menos remuneradas que seus parceiros ou que grande parcela dos

homens do seu grupo profissional.

Professoras em uma instituição militar, escola masculina, recebendo salário equiparado ao

de um oficial de Exército com patente de capitão6, era novidade para a época. As narrativas das

aprovadas nos primeiros concursos, que aceitaram inscrições de mulheres para concorrerem aos

cargos de professores, revelam que a questão salarial foi o fator determinante para a participação

destas nos referidos processos seletivos.

Refletindo sobre a inserção, a presença e a atuação de mulheres professoras no CMPA,

recordo a ponderação de Louro (2002, p. 479 - 9):

As mulheres, nas salas de aulas brasileiras e nos outros espaços sociais, viveram, com

homens, crianças e outras mulheres, diferentes e intrincadas relações, nas quais sofreram e

exerceram poder. Pensá-las apenas como subjugadas talvez empobreça demasiadamente

sua história, uma vez que, mesmo nos momentos e nas situações em que mais se pretendeu

silenciá-las e submetê-las, elas também foram capazes de engendrar discursos discordantes,

construir resistências, subverter comportamentos.

Dez anos após, o ingresso das primeiras professoras, aconteceu o aceite de meninas na

qualidade de alunas. Esta decisão gerou um pouco de ansiedade na comunidade escolar e espaço

para algumas reflexões sobre relações aluno/professor, atividades, uniformes, alterações na

distribuição do espaço escolar, ‘universos femininos e masculinos’. Era o começo da trajetória do

CMPA como escola mista.

O Colégio Militar de Porto Alegre passou o ano de 1988 efetivando os preparativos para receber

a sua primeira turma composta por meninos e meninas. O prédio da escola não sofreu nenhuma

alteração significativa: um espaço foi destinado a servir como banheiro e vestuário para o corpo discente

feminino. Podemos inferir que, no final deste período letivo, a escola entendia que estava pronta. As

6 Na atualidade, os docentes civis do Colégio Militar de Porto Alegre fazem parte da carreira do Magistério do Ensino

Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT).

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alunas e os alunos deveriam adequar-se ao educandário e sua cultura. Segundo Takahashi (2002, p.17 -

20): “os diferentes papéis permitidos no espaço institucional não são alterados com o ingresso das

mulheres, elas têm que incorporar os papéis e os valores previstos”.

Quando as aulas de 1989 tiveram início, alguém percebeu que nem tudo estava planejado. As

meninas estavam cantando o verso da canção do Colégio que dizia: “temos no peito amor varonil”.

Como poderia uma mulher ter amor varonil? Ponderações foram feitas e ficaram duas certezas: as

estudantes não poderiam cantar terem amor varonil no peito e a canção da escola era insubstituível.

A solução foi fazer uma pequena alteração no verso que gerava desconforto: o “amor varonil”

foi substituído por “amor juvenil”.

Assim como o hino escolar, outros detalhes e acontecimentos cotidianos demandaram ajustes e

normas na busca da regulação do corpo discente, agora, composto, também, por meninas. De acordo

com Valéria (entrevista - 2012), antiga professora do educandário: “as coisas foram acontecendo e, à

medida que aconteciam, o Colégio as resolvia, deliberava sobre, ou silenciava de acordo com a

ótica institucional”.

O CMPA não alterou o seu caráter e nem o ideal de homem a ser formado. Podemos inferir

que o ideal de mulher não foi construído. Ele já existia na figura do par ideal para o homem

desejado.

Os estudantes sempre imprimiram suas marcas na escola. Alunos e, a partir de 1989,

também, as alunas, seguem inventando o seu cotidiano, vivenciando e administrando seus espaços

de não poder, resignificando, resistindo, burlando, reinventando (CERTEAU, 2000). Resistem,

contudo, são, também, cooptados pela mesma ordem que enfrentam. O que suas narrativas nos

contam sobre diferenças e preconceitos no espaço escolar? O que dizem sobre relações de gênero

no espaço e nas práticas escolares vivenciadas no CMPA?

Meninos e meninas: alguns aspectos do colégio pelas lentes discentes

De acordo com os discursos institucionais, todos são iguais nos espaços escolares e o

uniforme contribui para esta igualdade. Fardados todos são iguais. Trajando a vestimenta escolar,

todos vestem a ‘mesma pele’, pertencem ao Colégio Militar e não há característica peculiar que

esteja sobreposta a esta igualdade, exceto, o mérito pessoal. Sabemos que não é assim. Uniformes,

entre outras características e finalidades, trazem marcas dos tempos e dos corpos que o vestiram,

constituem-se como ferramentas de disciplinamento de corpos (FOUCAULT, 1994) e tecem uma

ordem discursiva acerca da instituição que representam.

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O conjunto de uniformes e as normas de apresentação pessoal somados aos discursos

institucionais sobre a farda constroem um ‘ideal de neutralidade e igualdade’ silenciador das

diferenças presentes nos seus espaços. Este ‘silenciamento’ pode contribuir para a manutenção ou

para a naturalização de discriminações diversas.

Se instituição silencia sobre parte das diferenças que povoam o seu espaço e busca cooptar,

a todos, forjando e alimentado o sentimento de pertença, jovens, que cursam grande parte do Ensino

Básico sob seu teto, dizem de diferenças diversas, de tratamentos diferenciados e de atitudes

preconceituosas por parte de trabalhadores da escola e de estudantes, muitas das quais

naturalizadas.

A decisão de aceitar o ingresso feminino na Força Terrestre provocou a criação de um

fardamento especifico para mulheres. Foi criado um conjunto de uniformes visando atender aos

códigos e simbolismos, já presentes nos uniformes masculinos, e contemplar o ditado pelo

imaginário da caserna sobre mulheres.

As alunas dos colégios militares foram as primeiras mulheres, estudantes, em

estabelecimentos formativos mantidos pelo Exército Brasileiro e, talvez, pelo fato de serem garotas,

a apresentação pessoal não foi, inicialmente, tão normatizada como é na atualidade.

No o ano de 1992, o aceite de mulheres adultas, em parte de suas fileiras, levou a Força

Terrestre a construir, detalhado, regulamento versando sobre aspectos dos uniformes, cabelos

(comprimentos, cores e penteados), maquiagem, coloração das unhas, adornos e calçados. Estas

regulações foram estendidas às meninas.

Os cabelos foram presos em coques e redes ou condenados a serem curtos e, depois de

algum tempo, ganharam a relativa liberdade de optarem pelo coque ou pelo rabo de cavalo durante

as atividades de rotina. Os brincos tornaram-se pequenos e discretos, reduziram os anéis e as

pulseiras a uma unidade, colares foram limitados a uma fina correntinha com um pequeno pingente.

O uniforme de gala teve sacramentado o scarpan preto7.

Os uniformes e a questão da apresentação pessoal é fonte de diversas e recorrentes

observações relacionadas ao ser homem ou ser mulher por parte de estudantes do CMPA.

Para os garotos, não é justa a obrigatoriedade do corte de cabelo bem curto, enquanto, as

colegas podem usar os cabelos no tamanho que preferirem ‘por conta de sua feminilidade’.

7 No dia a dia, as estudantes usam o calçado do tipo mocassim. Nas ocasiões especiais e nos desfiles militares, elas

calçam os sapatos sociais.

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Para as garotas, o desconforto dos uniformes que são acompanhados por meia calça e

scapan é uma marca de desigualdade, que sofrem, por serem mulheres. Sobre estes fardamentos,

recordo as ponderações de Mafalda, ex-aluna (entrevista 2011): “Não é adequado nem ao clima

[...]. Acho que é hábito de não estar confortável. Acho que é o espartilho da mulher”.

Comparar os uniformes sentidos como desconfortáveis com espartilhos pode soar

exagerado, contudo, observando as meninas em sua jornada ou presenciando o choro de algumas,

quando, durante os desfiles de Sete de Setembro, bolhas estouram nos pés e a pele gruda na meia,

ou ouvindo suas ponderações e narrativas, podemos compreender que, principalmente, pelo sapato e

pela meia, em nome de uma suposta elegância, elas sentem dor e mal estar. Os seus pares, homens,

cumprem as mesmas jornadas e atividades calçando os sapatos do dia-a-dia, moldados aos pés e

sem saltos.

Mafalda (entrevista 2013), conclui que a idealização da mulher deve ter provocado “a criação

de uniformes cruéis para marchas e para longas horas na escola: só quem nunca usou saltos criaria

estes uniformes com este calçado, ou pelo menos, com apenas, esta opção de sapato”. Rindo, ela e outra

colega, lembraram terem lido sobre a importância do calçado para os militares e concluíram: “ou eles

não entendem de mulheres, ou não as querem nos quartéis”.

Analisando discursos correntes na Instituição e em publicações do Exército, é perceptível

que, a Força Terrestre não pensa relações de gênero fora do masculino versus feminino

(complementaridade entre os gêneros). Aparentemente, é difícil a compreensão de que

representantes de cada um dos sexos traz, sempre, o outro em si; que as ‘pessoas possuem

identidades compostas: são masculinas e femininas; femininas e masculinas’ (STRATRERN,

2006). Nesta perspectiva, pelo menos em parte, Mafalda acerta quando diz que “militares não

entendem de mulheres”.

È comum ouvirmos que o ingresso de meninas no Colégio Militar de Porto Alegre teve

como consequência menor rigor para a questão disciplinar, contudo, o aceitar alunas não suavizou

rituais marciais e nem a prática da ordem unida entendida como relevante.

Ouvindo depoimentos de militares, que trabalhavam na escola no decorrer da década de

1980, e lendo documentos produzidos pela Diretoria, que nesta época, regulava os colégios

militares, concluímos que existiam diretrizes para suavizar o rigor das cobranças e das punições

disciplinares. O dizer aluno não é soldado refletia esta orientação. Podemos inferir que o imaginário

em torno da figura feminina e a convicção, de alguns profissionais, de que meninas necessitavam de

um olhar especial, podem ter contribuído para o cumprimento desta determinação.

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Uma das questões apresentadas pelos discentes, de ambos os sexos, envolve as cobranças

disciplinares, em relação à ordem unida, aos uniformes e ao cabelo, que são consideradas, tanto de

maior ocorrência, quanto de maior severidade, para o público masculino. A justificativa apresentada

para este maior rigor é o fato de que, até ano passado, a Academia Militar das Agulhas Negras,

formadora dos oficiais combatentes do Exército, não aceitava mulheres. Considerando que é

pequena a porcentagem dos estudantes do CMPA que seguem a carreira militar, podemos inferir

que esta diferença está pautada nos ideais de homem e de mulher ambicionados.

A mulher idealizada nos discursos circulantes no educandário possui atributos como:

sensibilidade, delicadeza, cuidado, serenidade, instrução, dedicação, fibra, ‘vocação maternal’,

‘companheira do homem’, detalhe, beleza, emoção, graça. Esta mulher é complementar ao

arquétipo masculino de força, competição, instrução, lógica, viril, bom desempenho acadêmico,

forte fisicamente, heterossexual, estrategista, bem sucedido.

A mulher deste homem contempla um arquétipo polido, elegante, espartano e independente

(a mulher do militar deve ser capaz de resolver as necessidades cotidianas sem contar com o seu

auxílio, pois este pode estar comprometido com as necessidades do Exército, da pátria), uma mulher

dedicada à família, culta e dona de uma profissão. Entretanto, o lado profissional desta mulher

estará, pelas contingências, submetido aos incômodos presentes na carreira militar de seu

companheiro. É ela quem, se necessário, abandonará suas ambições profissionais para seguir o

marido.

Apesar de existirem mulheres militares no Colégio, a presença feminina nas organizações

militares, ainda, é vista com cuidado, em especial, se fogem das esferas e papéis, tradicionalmente,

entendidos como possíveis e/ou adequados ao sexo feminino, como, administração e cuidados com

documentos; saúde; docência; pedagogia.

Relatos estudantis (entrevistas - 2007 a 2013) dizem que os alunos são incentivados a

seguirem as carreiras militares e que, o mesmo, não acontece com as meninas. Segundo os

depoimentos discentes, quase nada é falado sobre esta possibilidade com o público feminino. Os

poucos momentos, onde meninas têm notícias sobre estas possibilidades, são motivados por

questionamentos discentes, quando é falado sobre o IME (Instituto Militar de Engenharia) ou,

quando, alguma ex-aluna, que seguiu carreira militar, é destacada pela mídia.

Um exemplo citado, da preferência pelo público masculino, são as excursões anuais para as

escolas militares localizadas nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, em especial, à Escola

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Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) e à Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).

Até o ano de 2013, apenas, os garotos podiam participar deste passeio8.

O silêncio sobre as possibilidades de carreiras militares para as meninas é atribuído ao fato

de que, até o ano passado, a AMAN não aceitava mulheres na condição de cadetes. No CMPA, a

novidade do aceite feminino, nesta escola formadora de oficiais do Exército, provocou pouco

movimento. No ano de 2013, a tradicional excursão anual às escolas militares foi, apenas, para as

alunas.

As meninas, inicialmente, não tiveram acesso a todos os fazeres e possibilidades legados aos

meninos. Em relação à cultura militar, até o ano de 2009, apenas, estudantes do sexo masculino

participavam da ordem unida com armamento9, da guarda de honra e da guarda-bandeira10. A

primeira participação das alunas nestas atividades, representativas da tradição escolar e da

marcialidade, foi comemorada, no discurso institucional, como ‘mais uma conquista feminina no

universo masculino’. Conquista? Depoimentos de jovens estudantes da turma, cujas meninas são

consideradas as pioneiras na participação das atividades citadas, nos induzem a outros substantivos:

convite; oferta; convocação; obrigatório.

As moças, da turma de formandos do ano de 2009, ficaram conhecidas como as pioneiras na

participação de atividades simbólicas envolvendo o uso de armamentos, entretanto, a narrativa de

Ana (ex-aluna dos anos de 1990) recorda, com saudade, o Batalhão Águia: pelotão de estudantes,

do sexo feminino, criado para a prática de ordem unida com fuzis.

Segundo Ana (entrevista 2007), ela e suas companheiras, integrantes do Batalhão Águia,

ficaram decepcionadas, quando após semanas de esforço e de uma apresentação elogiada, o

Batalhão foi extinto, esquecido e, apenas, os garotos continuaram tendo o privilégio de certas

experiências.

O Batalhão Águia não faz parte das recordações da escola. Quando, ao final do ano letivo de

2009, alunas do Ensino Médio, tiveram prática de ordem unida com armas, tudo era novidade. O

que levou o Batalhão Águia ao esquecimento? O que mudou no pensamento institucional? Silêncio

8 Uma das escolas militares, geralmente, visitadas é a AFA. O corpo de alunos deste educandário é misto e contou com

ex-alunas do CMPA entre suas estudantes, inclusive, Camila Bolzan, integrante da primeira turma que aceitou mulheres

no Curso de Formação de Oficiais – Aviadores. 9 È necessário explicar que os fuzis, tanto os usados pelas meninas quanto os usados pelos meninos, não possuem sua

função de arma de fogo. 10

Guarda-Bandeira é um grupamento especial com a missão de conduzir a Bandeira Nacional e o Estandarte Histórico do

CMPA. Guarda de Honra é um grupamento especialmente constituído para prestar honras militares a alguma autoridade

quando de sua visita (normalmente a primeira) à organização militar, no caso CMPA.

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para além do velho discurso da conquista feminina. Uma conquista não pleiteada pelas alunas de

2009: estes espaços já estavam naturalizados como, essencialmente, masculinos.

Uma pista para entender a mudança de diretriz, em relação ao envolvimento de meninas

nestas atividades, é ser o incentivo à carreira militar uma das finalidades dos colégios militares. A

Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN)11 aceitará mulheres nos seus quadros de Intendência e

de Material Bélico. Neste sentido, práticas simbólicas de marcialidade, devem ser possibilitadas,

também, às alunas.

Os discentes percebem que os espaços de poder da escola são masculinos. Apontam que os

postos de decisão final, na hierarquia do educandário, são ocupados, sempre, por homens, assim como, a

maior parte, dos cargos de chefia. Lembram que poucas mulheres são citadas como heroínas e que, a

maioria dos patronos, escolhidos para nomear as turmas de formandos do Colégio, são, também,

homens12.

As relações de gênero, vivenciadas no espaço escolar do Colégio Militar de Porto Alegre,

reafirmam ou se contrapõe a ensinamentos oportunizados por outras instituições e instâncias sociais.

O conteúdo deste artigo apresenta, apenas, algumas das muitas observações, situações ou

reflexões narradas por pessoas que estudaram no CMPA no intervalo temporal de 1998 a 2013. A

escolha dos recortes foi realizada considerando o título do simpósio que abriga este texto e o fato da

recente permissão para o ingresso de mulheres na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).

As diferenças apoiadas nas categorias ‘masculino’ e ‘feminino’ estão presentes nas

vivências cotidianas de estudantes (e nas lembranças de ex-alunos e ex-alunas) do Colégio Militar

de Porto Alegre.

Pensar gênero entre estudantes, crianças e jovens do CMPA, deve considerar a existência de

diferentes masculinidades e feminilidades circulantes no espaço escolar, assim como, categorias

formadas, em função de hierarquias constituídas, por outras desigualdades.

11 A EsSa (Escola de Sargento das Armas ), localizada na cidade de Três Corações, no Estado de Minas Gerais,

também, aceitará mulheres, entretanto, no CMPA, só é mencionada a possibilidade de ingresso das alunas nas escolas

formadoras de oficiais. Pouco é falado nas escolas formadoras de praças (militares não oficiais). É importante observar

que o modelo de homem, desejado pelas escolas militares do Exército Brasileiro, é pautado no modelo do oficial

formado pela AMAN. 12 Apenas a turma de formandos do ano de 1999 homenageou uma mulher: Maria Quitéria.

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Girls and boys in the Military College: perceptions of gender relations and power in school

Astract: This research has been focused on the Military School located in the city of Porto Alegre

(Brazil), an educational institution created for males, belonging to the military schools that are

maintained by the Brazilian Army, which worked as a mono-educational school until 1989, though,

since then, it began accepting girls in its student group. This research ranges from 1989 to 2013.

Furthermore, the investigation has analyzed some aspects of the school culture, searching for

inferring an idealized male and female, considering the existence of different masculinities and

femininities, surrounding the school environment. Despite of a growing female presence in the staff,

the school has maintained its male ethos. The theoretical reference involves the fields of History,

History of Education, Anthropology and Sociology, along with analyses that contemplate the effort

dedicated to gender studies.

Keywords: Education of boys and girls; Military school; Masculinity/femininity; School culture