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Memória social da Batalha do Jenipapo: narradores/as e romeiro/as e o direito à
memória e à educação patrimonial no sertão do Piauí
Juliana Rodrigues Cavalcante1
RESUMO
A presente proposta de trabalho aborda a diversidade cultural dentro de uma
memória social na face do reconhecimento de uma política pública de preservação do
patrimônio cultural da Batalha do Jenipapo, travada em 13 de março de 1823, no âmbito
do processo de independência do Brasil no, hoje, município de Campo Maior, Estado do
Piauí, Nordeste do Brasil. A intenção aqui é, pensar que como uma memória social da
Batalha do Jenipapo, em várias dimensões, interpela às políticas públicas patrimoniais
no sentido de serem formas de continuidade histórica e memorialística da nação
brasileira, piauiense e campomaiorense, práticas referidas a processos sociais e
(re)significadas no plano da cultura, como de fato, cada povo (re)significa seu processo
histórico e social de afirmação de identidades. Nesta direção, a construção dessa
memória social aponta para novas práticas políticas entre as quais sobressaem diversos
lugares de memória presentes em tradições orais o que pode ser pensado como acervos
patrimoniais imateriais referenciados em oralidades e rituais em seus diálogos com as
marcas materiais como o Monumento aos Heróis do Jenipapo, em Campo Maior, local
de celebrações cíveis e o “Cemitério do Batalhão”, local de romarias.As memórias
transmitidas na tradição oral e os rituais do catolicismo popular no Cemitério do
Batalhão são bens culturais identificado nesta pesquisa. E o/as próprio/as romeiros/as e
narradores/as externalizam interesse na preservação das histórias narradas seja sobre a
Batalha, seja das graças alcançadas por intermédio das “Almas do Batalhão”.
Palavras-chaves: Batalha do Jenipapo – Tradição oral- memória social-
patrimônio imaterial
1. Batalha do Jenipapo: delineamentos históricos
A historiografia oficial escrita sobre o evento, aqui brevemente abordada,
constrói interpretações da Batalha do Jenipapo, mostrando-a como resultado de um
processo marcado por conflitos. E para entender a conjuntura social, econômica e
política da Batalha, ancoramo-nos em autores/as que se dedicaram ao tema (CHAVES,
2005; DIAS, 1999; FONSECA NETO, 2010; NUNES, 1975; NEVES, 1985). A
compreensão do contexto histórico da Batalha do Jenipapo supõe falar sobre as
condições de vida da população da província do Piauí nos idos oitocentistas. Na
1 Bacharela em Ciências Sociais e Mestra em Política Públicas pela Universidade Federal do Piauí.
dimensão econômica, Brandão (1975) considera que apesar de o Piauí em 1821 não
oferecer quaisquer índices apreciáveis de desenvolvimento, contava com a pecuária
(criação de gado vacum), como sua principal base econômica, cujo comércio tinha como
grandes mercados as províncias do Ceará, Bahia, Pernambuco e Maranhão. No que
tange ao setor agrícola, a participação de produtos como fumo, algodão e cana-de-
açúcar, acrescentavam pouco às rendas da província (CHAVES, 2005; BRANDÂO,
1975; NUNES, 1975) que contava com aproximadamente 100 mil habitantes, sendo o
norte mais populoso (NUNES, 1975).
Naquela sociedade de base rural, a terra era monopólio de poucas famílias que
constituíam oligarquias locais (DIAS, 1999). Demais habitantes compunham-se de
pessoas que viviam em sua maioria na condição de posseiros, lavradores, vaqueiros e
roceiros (DIAS, 1999; NEVES, 1985; CHAVES, 2005), além da população escrava.
Assim, as condições sociais da maioria da população piauiense no início do século XIX,
eram de acesso precário à terra e à produção de alimentos, o que movia conflitos e
tensões. Para Claudete Dias, havia uma população faminta, um “material humano para
qualquer revolução” (DIAS, 1999, p.175), o que geraria insegurança na elite dominante.
Nesta direção, como diz a autora, havia um ambiente efervescente para ideias
emancipacionistas, como as de adesão da população brasileira aos ideais da Revolução
do Porto2 da qual, segundo Abdias Neves, surge a separação entre portugueses e
brasileiros: de um lado, os que abraçavam a revolução em todos os ideais e planos; do
outro, aqueles que queriam o governo constitucional e se opunham à ideia da
recolonização (NEVES, 1985). Segundo Dias (1999), desde 1817, idéias liberais
ecoavam nestes sertões de dentro, pelo advento da Insurreição Pernambucana de 18173.
E cresceram como forte expressão das províncias do Norte, no processo de
independência do Brasil.
Com a situação política da província confusa e com ares de intranquilidade,
agitações políticas pró-independência tornam-se conhecidas através de pasquins
sediciosos. Movimentos de cunho liberal liderados em sua maioria por grupos letrados e
homens da elite (DIAS, 1999) promovem a distribuição dos referidos pasquins nas vilas
2 Movimento militar ocorrido em agosto de 1820 em Portugal, na cidade de Porto, e que vai até Lisboa.
Teve apoio da burguesia, clero, nobreza e do exército (ANGELO, 2010). 3 O movimento tinha como foco político a independência do Brasil em relação a Portugal. Foi sufocado
de início por tropas portuguesas, e não teve forte repercussão na província do Piauí (DIAS, 1999;
BRANDÃO, 1985).
de Campo Maior, Parnaíba e Oeiras (BRANDÃO, 1975; CHAVES, 2005; DIAS, 1999;
NEVES, 1985).
No contexto de agitações e movimentos contrários aos interesses de Portugal, o
governo português envia ao Piauí o Governador das Armas o Major João José da Cunha
Fidié.
Fidié chega a Oeiras, via São Luis do Maranhão, na primeira semana de
agosto de 1822, menos de 30 dias para o 7 de setembro. Sua missão, tal dito,
não tem aparentemente nexos diretos com o que sucede na corte-regente
brasileira. Mas um mundo de significados logo terá sua presença em terras do
Piauí, logo se verá: garantir os interesses diretos do rei de Portugal, afastada
outra qualquer variável que não seja exprimir fidelidade ao soberano-pai,
João VI. Tivesse o governador [Fidié] acessado o Piauí pelas bandas do
Ceará, Pernambuco, ou ainda a Bahia, teria chamuscado seus pés em chamas
de revolucionarismo. Pelo Maranhão foi bafejado pelo incenso que lhe
sopravam os irmãos de Portugal, sem desconfiar que pisava em chão morno
de rebeldia, senão o da ilha-capital azulejada, mas certamente o do continente
expandido aos sertões (FONSECA NETO, 2010, p. 48) (grifo nosso).
Fonseca Neto (2010) alude ao mundo de significados produzidos pela presença
de Fidié no imaginário popular da província4. Como diz o relato, a posse do Governador
das Armas se deu em “meio do entusiasmo festivo de uns, e da retração cautelosa de
outros” (NEVES, 1975, p. 53).
A posse de Fidié confunde e ainda sinaliza ao ativismo político local pelo
menos duas possibilidades: a) seria ele o homem que viera em nome da nova
ordem instauradora em Lisboa, consagradora da dualidade monárquica já
aludida, rigorosamente o projeto, pretendido pelas forças em disputa; b) sua
presença aqui seria uma daquelas “revivescência” das forças intrusas
articulando um sentido de poder já tido por decaído - nas linhagens do
absolutismo varrido na Europa. (FONSECA NETO, 2010, p. 48).
Assim que chega a terras piauienses, Fidié foi informado dos acontecimentos
pela Junta Governativa, ficando a par das tendências emancipacionistas do povo
(CHAVES, 2005; NEVES, 1975) e de que as vilas de Parnaíba e Campo Maior
expressavam forte adesão ao movimento. Fidié, então, desloca o destacamento da Vila
de Marvão5 para Campo Maior, onde pareciam ser mais pronunciadas as tendências
separatistas (CHAVES, 2005).
No Piauí, mas especificamente, na vila de Parnaíba, chegaram notícias do “grito
do Ipiranga”, ou da proclamação da Independência do Brasil por D. Pedro, em 7 de
4 O que podemos pressupor como um dos importantes pontos de partida da tradição oral da Batalha do
Jenipapo em Campo Maior, em cujo âmbito, Fidié é referido como “sanguinário”. 5Atual município de Castelo do Piauí, localizado na mesorregião Centro-Norte piauiense, na microrregião
de Campo Maior. Foi instalado como município em 1939 (IBGE, 2002).
setembro de 1822, e da adesão do Ceará. O juiz de fora João Cândido de Deus e Silva, e
o Coronel Simplício Dias da Silva, sabendo desses acontecidos, proclamam a
independência do Piauí em ralação a Portugal, na vila de Parnaíba, a 19 de outubro de
1822 (NUNES, 1975).
Este fato culminou na adesão de outras vilas, como a capital Oeiras, à causa da
independência. Enquanto Fidié marcha de Oeiras para Parnaíba, no intuito de conter a
adesão da vila de destino, Oeiras conspira a favor da causa. Na madrugada de 24 de
janeiro de 1823, movimentam-se os conjurados que ocupam pontos estratégicos da
cidade, tomam o quartel, a Casa da Pólvora, depõem a Junta Governativa e convocam a
população para o levante. Ao amanhecer, a independência estava proclamada em Oeiras
e D. Pedro declarado Imperador Constitucional (NEVES, 1985; DIAS, 1999).
Segundo Dias (1999), esta movimentação culmina no maior, mais violento e
sangrento combate considerado pela historiografia como o mais notável nas lutas pela
independência do Brasil: no Piauí, a batalha ou combate às margens do riacho Jenipapo,
em Campo Maior. Uma luta de sertanejos, vindos de várias partes do Piauí e do Ceará,
ocorrida a 13 de março de 1823. Assim, em Campo Maior, quando se soube que Fidié
vinha de Parnaíba, o Capitão Luis Rodrigues Chaves acelerou a mobilização na vila,
para o “tributo de sangue” (CHAVES, 2005, p. 307). O comandante português Fidié era
tido como “opressão” (DIAS, 1999. p. 286). A multidão engrossava fileiras no combate
“e nesse entusiasmo, surgiu o dia do encontro o 13 de março” (NEVES, 1985, p. 120),
quando
ao amanhecer o dia, a tropa formou no largo de Sto. Antonio. Dada à ordem
de marcha, todos caminharam para o rio Jenipapo, onde pretendiam barrar a
marcha aos portugueses. O terreno ali é plano; uma várzea imensa, aberta,
sem amparo. Aquele era um ano de grande estiagem. O rio estava seco. O
grosso da tropa ocultou-se no próprio leito do rio, enquanto que alguns outros
contingentes se abrigaram nos mufumbais das ribanceiras [...] O Cap.
Rodrigues Chaves enviou uma patrulha para explorar a estrada da direita.
Fidié descia com o grosso de sua força pela estrada da esquerda e explorava a
da direita com um pelotão de sua cavalaria. Este se havia distanciado da tropa
e foi ele que se chocou com os cearenses da patrulha. O reencontro foi brusco
e violento [...] ouvindo o tiroteio, as tropas que guarneciam as margens do rio
não atenderam mais o Comando. Fidié, sabedor do que havia acontecido, não
perdeu tempo, passou rapidamente o grosso de suas tropas para o outro lado
do rio [...] cavou trincheiras, dispôs a artilharia, distribuiu linha de caçadores
e esperou os brasileiros [...]. A fuzilaria e as peças dos portugueses varriam
os campos em todas as direções. As cargas se sucediam, heróicas, mas
inúteis. Muitos patriotas iam morrer a boca das peças com um desamor pela
vida que pasmava os soldados, pouco afeitos a semelhantes atos de heroísmo
[...]. Depois de cinco horas de combate, às 14 horas, começou a debandada
[...] Nunca se pode saber quantas foram às baixas de Fidié no Jenipapo. Ele
não as enumerou na sua parte (CHAVES, 2005, p. 152-153).
Este episódio da história do Brasil e piauiense já decorre 187 anos, perguntamos
como se dá os sentidos desta batalha no âmbito da tradição oral e da religiosidade
popular? “A memória e a história relacionadas ao Jenipapo, do enfrentamento de 1823
estão disponíveis no inventário das lembranças” (FONSECA NETO 2010, p. 15). Se a
memória social, em sentido lato, reconhece a historiografia como parte do inventário
das lembranças, através de textos escritos, assim como a monumentalização, através do
Monumento aos Heróis do Jenipapo, erigido em Campo Maior, e o Cemitério das almas
do Batalhão, qual a visibilidade e reconhecimento das fabulações tecidas na tradição
oral?
O Monumento e Cemitério proporcionam essas formas de lembrar. São lugares
de memória, cuja razão é parar no tempo, é prender o máximo de sentidos em um
mínimo de sinais (NORA, 1993), isto é, fazer com que formas rituais se concretizem no
cotidiano como a calendarização do dia em que ocorreu um fato que marcou o passado
de um povo. Assim, participantes das solenidades que celebras a Batalha, acionam
sentidos diversos, inclusive, os de fazer parte da história do lugar.
A carga de sentidos atribuídos aos espaços consagrados à memória da Batalha
aponta para marcadores identitários e, como tal, para a importância do direito à
memória. Tais espaços simbolizados são bens culturais, patrimoniais, e tradição oral
que os cerca e (re)significa se põe como suporte não apenas do passado, mas também do
futuro. O desejo de continuidade da tradição se processa em rememorações de várias
ordens, como se pode ver nas práticas da religiosidade popular.
2. Sentidos e significados da memória social da Batalha do Jenipapo:
narradores/as e romeiros/as pagadores/as de promessas das “Almas do Batalhão”
O episódio da Batalha do Jenipapo reverbera de forma significativa na vida das
pessoas da cidade de Campo Maior, no Estado do Piauí, até hoje. A história vem sendo
(re)contada através de gerações, pelos fios condutores do escrito, do inscrito e da
oralidade, pelas lembranças de quem ouviu/reelaborou/transmitiu e/ou ainda transmite,
narrativas da Batalha. Tomar como objeto de estudo narrativo, cujo âmbito se dá em um
processo de atribuição de sentidos e significados à Batalha do Jenipapo entre
narradores/as, em Campo Maior e de como essa memória dialoga com a Política
Nacional de Patrimônio Imaterial. Um pressuposto inicial da existência de uma
memória subterrânea (POLLACK, 1989) eclipsada (MORAES, 2000), aponta para
possibilidades de apreender, nas narrativas orais sobre o passado, marcadores
identitários e virtualidades de patrimonialização oficial de uma memória que se
reelabora nas reverbações entre o oral, o escrito e o inscrito.
A tradição da escrita à base da produção historiográfica sobre a Batalha do
Jenipapo fundada, principalmente, em fontes documentais escritas, em larga medida,
produzidas a partir da narrativa oficial, legitimada por um discurso dominante, muitas
vezes com base na hagiografia de vultos “importantes”. Mas não se pode afirmar que
não haja elementos de oralidade na própria historiografia oficial. Como lembra Alberti
(2005), há uma relação entre o oral e o escrito, o que leva a pensar que um documento e
uma lembrança jamais são inócuos. Resultam de uma montagem tanto da sociedade que
os produziu quanto das sociedades onde continuam a existir, chegando até a nossa
(GONDAR, 2005) por diferentes vias de transmissão.
De fato, como lembra Gondar (2005), a memória social é polissêmica, pois
comporta diversas significações e uma variedade de sistemas de signos. Tal polissemia
pode ser entendida em duas vertentes: de um lado, a memória comporta diversas
significações; de outro, ela se abre a uma variedade de sistemas de signos, tanto
simbólicos (palavras orais ou escritas) quanto icônicos (imagens desenhadas) e mesmo
indiciais (marcas corporais). Nesta direção, Alessandro Portelli chama a atenção, na
análise das narrativas, para a percepção dos múltiplos fragmentos de memória
interrelacionadas. O autor compreende haver uma “multiplicidade de memórias
fragmentadas e internamente divididas, todas de uma forma ou de outra, ideológica e
culturalmente mediadas” (PORTELLI, 1996, p. 106). Assim, no âmbito de um grupo,
podem-se encontrar diferentes versões de uma mesma tradição oral (GODOI, 1999).
Junte-se a isto que no trabalho de construção na memória, dos significados
sociais, narradores/as selecionam suas rememorações de acordo com pontos de vista
particulares, e quando não têm dados podem até inventá-los (FENTRES E WICKHAN,
1992). Como afirmado por Sigmund Freud, a memória é em parte lembrança e em parte
invenção a qual tem sua carga de significados culturais em um processo no qual “para
algumas lembranças reais junta-se uma massa de lembranças fictícias” (HALBWACHS,
1990, p. 28 ). Assim não é a “verdade” nas narrativas inferidas a partir da memória oral
que se procura, mas a presença de mitos, valores, sentidos, significados, nela, envoltos.
Verena Alberti concebe tradição oral, a partir da Enciclopédia Britânica, como
“o agregado de costumes, crenças e práticas que não foram originariamente colocadas
na forma escrita, mas contribuem para a continuidade de um grupo social e ajudam a
formar sua visão de mundo” (ALBERTI, 2005, p. 24). Como pensar então, a tradição
oral relacionada a um evento com registro historiográfico?
Assim, trabalhar a tradição oral da Batalha do Jenipapo, leva a pensar o
quanto de historiografia há nas narrativas orais e o quanto de tradição oral há nos textos
historiográficos e outras inscrições.
São versões repassadas de uma geração a outra, podendo, como dito por
Pollak (1992), memória ser tomada como herança que preserva histórias de um tempo
pertencente ao grupo. Nesta direção, se expressa a relação entre memória e identidade
como refere: “a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade [...] é
também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de
coerência de uma pessoa ou de um grupo” (POLLAK, 1992, p. 204). Diz o autor, que
embora se trate de acontecimentos dos quais as pessoas não participaram, eles ganham
tamanho relevo, no imaginário, que narradores/as chegam a se sentir pertencentes
àquela história. E de fato o são: a narrativa traduz vínculos com o passado, embora
distante, presentificando-o no próprio ato de narrar que o (re)significa.
Na tradição oral da Batalha do Jenipapo entre idosos/as, encontram-se, no
tecido narrativo, temas como: Fidié, combatentes, a Batalha e vaqueiros. Tais temas
vêm permeados por subjetividades que expressam sentidos coletivos, como a bravura de
um exército sem armas, identificações com personagens etc;
Neste processo, práticas culturais da religiosidade popular ocupam um
espaço significativo na memória da Batalha, reafirmando o valor do sacrifício dos
combatentes, atribuindo-lhes santidade. Devotos/as recorrem a estes heróis santificados
não-canonicamente em pedidos que, tidos como atendidos, têm como consequência o
pagamento de promessas. Tal pagamento é traduzido, muitas vezes, em oferenda de ex-
votos e queima de velas. O pagamento de promessas no “Cemitério do Batalhão” já foi
tema abordado pela da imprensa local:
Pessoas pagam promessas para as “almas do batalhão”. Assim, relata a
publicação do Jornal A Luta de 13 de março de 1973: Inúmeras são as
pessoas que, não só no dia 13 de março como em qualquer época do ano
procuram os mortos do jenipapo com fim de fazerem promessas para
alcançarem graças. A base do vetusto Cruzeiro do Cemitério do Batalhão já
ardeu, muitas vezes, nas chamas de velas que são acesas ali pelos que
cumprem promessas pelas obtenções de benefícios de toda espécie (...). Lá
vai o moço vitorioso, a pé, em direção do Jenipapo, percorrendo mais de duas
léguas, ida e volta, pagando a promessas (maneira essa mais frequente) feitas
aos mártires da Pátria (JORNAL A LUTA, 197—, s/autor. Apud, LIMA,
2009, p. 87).
O relato da peregrinação ao Cemitério do Batalhão em busca dos milagres
realizados pelas almas dos mortos na Batalha fala da relação com o sagrado na busca de
soluções para os problemas. São práticas que atravessam séculos na existência humana
e caracterizam-se como aportes comportamentais da instituição religião a qual Émile
Durkheim define como “um sistema mais ou menos complexo de mitos, de dogmas, de
ritos, de cerimônias” (DURKHEIM, 2000, p. 18). São crenças e práticas relativas a
coisas sagradas, que se unem em uma comunidade moral única. A religião é um
fenômeno social predisposto à classificação das coisas entre profano e sagrado
(DURKHEIM, 2000).
a divisão do mundo em dois domínios que compreendem, um, tudo que é
sagrado, outro, tudo o que é profano, tal é o traço distintivo do pensamento
religioso: as crenças, os mitos, os gnomos, as lendas são representações ou
sistemas de representação que exprimem a natureza das coisas sagradas, as
virtudes e os poderes que lhe são atribuídos, sua história, suas relações
mútuas e com as coisas profanas (DURKHEIM, 2000, p.20).
Etimologicamente religião vem do latim “religio, cognato de religare,
“atar”, “ligar para tras” [...]. Comumente, pode-se defini-la como conjunto de relações
teóricas e práticas entre o homem e uma potência superior” (TELES, 1995, p. 255). A
religião, além de legitimar estilos de vida singulares, também desempenha funções
sociais; pode ser passível de uma análise sociológica, pois dela não se espera somente
refrigério para as angústias, busca da cura e alívio dos sofrimentos. A partir dela se
alcança também a compreensão das estruturas sociais na qual estão inseridos os sujeitos
sociais (BOURDIEU, 1996).
Na religião, “as crenças, rituais e objetos adquirem qualidade sacra não de
uma reação individual, mas através da reação coletiva do grupo [...] os indivíduos
adquirem suas ideias religiosas dos grupos em que vivem” (CHINOY, s/d, p. 492). As
práticas religiosas celebram muitas vezes acontecimentos significativos e simbólicos,
como a crucificação, a fuga dos judeus do Egito (Páscoa), o nascimento de Buda, dentre
outros (CHINOY, s/d). Autores clássicos que abordaram o tema da religião
(DURKHEIM, 2000; ELIADE, 1992; WEBER, 1971) a toma como expressão cultural.
É a religião um fenômeno importante para se compreender a cultura, no caso, a cultura
popular, como diz Carlos Rodrigues Brandão:
Talvez a melhor maneira de se compreender a cultura popular seja por meio
do estudo da religião. Ela existe em franco estado de luta acesa, ora por
sobrevivência, ora por autonomia, em meio a enfrentamentos profanos e
sagrados entre o domínio erudito dos dominantes e o domínio popular dos
subalternos (BRANDÃO, 1986, p.15).
Como referido, no interior das celebrações oficiais da Batalha do Jenipapo,
há celebrações religiosas oficiais, da tradição cristã católica e evangélica. No entanto,
não se pode ignorar que o campo da religiosidade envolvendo a Batalha adquire
sentidos específicos, de um acontecimento significativo para Campo Maior e
adjacências, com a devoção de pessoas comuns, com práticas religiosas do que a
literatura especializada denomina catolicismo popular com suas práticas
centradas no culto aos santos, sobretudo aos padroeiros locais, com
promessas e novenas e nas rezas católicas tradicionais, o catolicismo popular,
normalmente, um culto alegre com suas festas e danças nos dias dos santos
principais [...], [além dos] seus momentos de contrição, com mortificações e
penitências (NEGRÃO, 2008, p. 264).
O nome catolicismo precedido do termo popular parte da relação teórico-
política estabelecida entre cultura dominante e cultura popular6, a qual no que tange à
religião se constituiu por vertentes de um catolicismo oficial (cultura hegemônica) e
pela religiosidade popular, um catolicismo extraoficial praticado pelas, como diria
Gramsci (1998), classes subalternas.
Mas se a religiosidade popular com seus “santos do povo” (BRANDÃO,
1986), e seus lugares sagrados, pode ser tida como forma de contestação (CUCHE,
2000), pela modificação de visões de mundo, não se pode deixar de lembrar que no
6 Cuche (2002) faz menção em sua análise a duas teses a minimalista e a maximalista. A primeira diz que
tais culturas são derivações da cultura dominante a qual é tida como cultura central, de referência; a
segunda refere-se à cultura popular como autônoma sem derivação da cultura dominante. Estas teses se
colocam um tanto distante da complexidade que envolve a relação entre cultura popular e cultura
dominante, pois as culturas populares não são inteiramente dependentes, nem inteiramente autônomas,
não imitam e nem criam totalmente. “[...] toda cultura particular é uma reunião de elementos importados,
de invenções próprias e de empréstimos” (CUCHE, 2000, p. 14).
processo há uma “circularidade cultural” (GINZBURG, 1987, p.16) com elementos da
cultura dominante compondo a cultura popular, o mesmo ocorrendo em sentido
contrário, em um “influxo recíproco entre cultura subalterna e cultura hegemônica”
(GINZBURG, 1987, p. 20).
Tendo em conta a pluralidade no panorama das religiões populares no
Brasil, esta pesquisa foi delimitada à perspectiva do catolicismo popular brasileiro7
tradicional sua característica principal é a prática devocional, a qual se caracteriza como
uma garantia de auxílio celeste para as necessidades humanas. A fidelidade ao santo ou
a santa manifesta-se no cumprimento das promessas feitas (AZZI, 1994). É o que se
chama comumente de devoções populares, “devoções marginais” (PEREIRA, 2005, p.
36), pois “subsistem às margens da Igreja oficial, muitas vezes, sem o conhecimento ou
reconhecimento da mesma, mas que são praticadas por fiéis que, nas pesquisas
censitárias, se denominam católicos” (PEREIRA, 2005, p. 36). Para o autor, as
devoções marginais mais comuns são aos “santos de cemitério”, esses “santos
populares”. Apesar de estarem à margem das devoções oficiais, nem por isso são menos
celebrados. Os espaços da devoção oficial e marginal são diferenciados em uma
configuração espacial por fiéis, que territorializam simbolicamente, outros espaços
como sagrados, para além dos espaços canônicos, no caso em questão, o lugar de
práticas rituais, o “Cemitério do Batalhão” no âmbito da devoção às “Almas do
Batalhão”8.
Tem-se aqui um catolicismo configurado na “devoção marginal”, que
transfere práticas devocionais de um território previamente estabelecido instituído como
sagrado (igrejas, capelas, santuários, templos), para “ocupar as fronteiras do profano e
dos locais incomuns, como cemitérios [...]. [Assim], (des)territorializa aquilo que foi
previamente territorializado, demarcado e defendido contra a invasão de outros
elementos, principalmente no que tange ao profano” (PEREIRA, 2005, p.34). No caso
do Cemitério do Monumento aos Heróis do Jenipapo, recriou-se este espaço por meio
da fixação de símbolos, e práticas devocionais. A devoção às “Almas do Batalhão”
volta-se para santos não-oficiais ou não-canônicos sem reconhecimento da Igreja
Católica. São reconhecidos apenas pela devoção popular, por isso, conhecidos como
7 Como um sistema híbrido de crenças, isto significa ignorar a presença local da religiosidade. No
entanto, nos limites desta pesquisa, focalizei as práticas referidas. 8 O grupo de pesquisa intitulado “Caçadores de Milagres”, coordenado por Dourado (2006), realizou o
mapeamento dos pontos de peregrinação no Piauí. E dentre os pontos mapeados, se encontra em Campo
Maior, o único Cemitério identificado como lugar de peregrinação, dentre os pontos mapeados.
“santos do povo [...]. [E] para cada santo popular há um mito nuclear que funda sua
“vida nesse mundo”, cercado de narrativas, às vezes de improviso, que colocam nos
santos casos de ousadia, sagacidade e poder” (BRANDÃO, 1986, p. 207. Aspas internas
no original).
Uma classificação tipológica dos santos-não canônicos da argentina feita
por Coluccio (1994) ajuda a melhor compreender o tema, segundo esta classificação, há
os 1/ iluminados: pessoas que em vida se dedicaram à pratica da caridade. Após sua
morte foram invocados na resolução de problemas, criando cultos populares. A Igreja
Católica vem-se apropriando destas formas devocionais e dos seus lugares de culto,
inclusive com reconhecimento canônico da santidade; 2/ vítimas de morte violenta ou
injusta: há três grupos: os chamados anjos - crianças que findaram a vida ainda na
primeira infância; as chamadas vítimas inocentes - adolescentes e adultos que foram
assassinado/as, espancado/as e estuprado/as; as chamadas pessoas de vida errada -
bandidos e prostitutas cujo/as devotos/as crêem que, em vida, tiveram a oportunidade do
arrependimento e obtenção do perdão por seus pecados.
Com base nesta tipologia as “Almas do Batalhão” se aproximam da
categoria vítimas inocentes. Na perspectiva mnemônica, a lembrança associa o martírio
dos combatentes às dores de devoto/as. Vítimas de uma guerra travada entre forças
desiguais transformam-se no imaginário popular em seres santificados que operam em
prol dos necessitados.
O culto popular às “Almas do Batalhão” põe o desafio de tentar
compreender como a relação devoto/as-santos se processa no imaginário religioso, a
partir de vivências e experiências individuais e coletivas, portadoras de sentidos
construídos em tradições culturais, como, diria Geertz (1989) teias de significados. Para
este autor, “o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo
teceu. Assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise” (GEERTZ, (1989, p.
15). E tais significados podem ser interpretados: “a cultura é publica porque seu
significado o é” (GEERTZ, 1989, p. 22).
Na tentativa de registrar e compreender expressões da cultura devocional às
“Almas do Batalhão”, volto-me para narrativas e rituais de pagadores/as de promessas e
devoto/as. Tal memória devocional traduz-se em práticas de significação do sagrado,
expressões de piedade popular como o cumprimento de promessas pelas graças
alcançadas, peregrinações, romarias e penitências. Na busca de compreender
(re)significações culturais, tenho em mente que determinados componentes do campo
religioso escapam à racionalização, dialogando com dimensões sobrenaturais, isto é,
percorre uma ordem inversa da lógica estruturada, faz com que homens e mulheres
inventem seu cotidiano, recorrendo à busca do imaterial, do invisível, pela fé.
O ritual do romeiro de deixar seu lar, sair do seu cotidiano impondo a si
mesmo um processo penitencial de uma caminhada longa e cansativa no movimento do
abandono do profano (espaço familiar), com o objetivo de ir ao encontro do sagrado
(POMPA, 2004), tem um significado simbólico do contrato cumprido. Um ato
devocional de gratidão pelo cumprimento das promessas relativas ao que for pedido e
alcançado por penitentes. São momentos que
constituem uma das mais tradicionais manifestações da devoção popular
brasileira [...] trata-se de peregrinações rumo a lugares sagrados, que podem
ser cruzeiros, pequenas capelas no mato ou grandes centros regionais de
romaria, realizadas normalmente em cumprimento de uma promessa
(POMPA, 2004, p. 78).
Na tradição religiosa da Batalha, esse penitencialismo está associado ao
sofrimento dos combatentes mortos no confronto. Relatos de devotos/as penitentes, nem
sempre ouvidos e gravados no Cemitério, exprimem identificação com o sofrimento dos
combatentes reafirmando o que a literatura (BRANDÃO, 1986; ZALUAR, 1983;
POMPA, 2004) diz sobre a relação no catolicismo popular, entre padecimento e
santificação.
Olha, muita gente fala que [as almas são milagrosas] por conta do combate
por que eles foram mortos, o povo muito guerreiro, por isso operam muitos
milagres. Quem tem fé acredita nisso. Nossa fé é grande por isso a gente
conseguiu. (Sr. Davi Soares, Campo Maior, comunicação oral)9
Elas são milagrosas devido à forma delas ter ido guerrear, devido aquele
sufoco que elas tiveram elas tornaram-se milagrosas, sabe?. (Sr. Florisberto
Machado Sirqueira, 58 anos, vígia, Campo Maior, comunicação oral)10
Interessante constatar que há quem se identifica, no imaginário religioso de
devoção as “Almas do Batalhão”, não apenas com as almas dos combatentes locais mas
também com as de soldados da tropa portuguesa. Em sua memória religiosa, seu Eudes
Soares da Silva, 78 anos, significa a santificação não apenas pelo aspecto da luta injusta,
da guerra desigual, mas da morte violenta. Diz:
9 Entrevista concedida a Juliana Rodrigues Cavalcante em 13/03/2011.
10 Entrevista concedida a Juliana Rodrigues Cavalcante em 13/10/2011.
Todos os anos nós vamos acender velas [...].São milagrosas as almas.
Se pega com uma e é valido, Sofreram, foram mortas de bala, de facão
e a gente se apega não é só com os que morreram daqui [nordestinos],
mas com as almas dos de lá [portugueses] por que eles vieram para cá
e se acabaram [morreram] também! (Sr. Eudes Soares da Silva, 78
anos, aposentado, Campo Maior, comunicação oral).
Entrevistados chegam a dizer que o Cemitério do Batalhão é lugar sagrado.
Dona Tania Maria de Souza, em um momento da sua entrevista diz: “aquele lugar todo,
ali, é como se fosse sagrado porque lá é que está enterrado os corpos delas [almas]”. No
imaginário da narradora, o lugar se torna sagrado pelo fato de estarem enterrados, ali, os
corpos dos combatentes. Seu esposo seu Francisco, 49 anos, pedreiro, falou que também
paga promessas às almas e que leva fogos para soltar no cemitério, em homenagem às
almas.
tem gente que faz promessa de não vir de transporte, faz para vir
caminhando. Aí, vem bem cedinho umas seis [6] horas da manhã, acende as
velas e solta uns fogos. Eu mesmo já levei uns fogos para soltar! Foi uma
homenagem que eu fiz às almas (Sr. Francisco, 49 anos pedreiro, Altamira
zona rural de Campo Maior).
O lugar-cemitério torna-se referência simbólica ritualmente e na tradição oral.
Como dito por Michel de Certeau “o espaço é um lugar praticado” (CERTEAU, 2011,
p.184). No caso, por rituais que remetem ao sagrado o que, segundo Mircea Eliade
[...] se manifesta por uma hierofania11
qualquer não só na rotura na
homogeneidade do espaço como também revelação de uma realidade
absoluta, que se opõe à não realidade da imensa extensão envolvente. A
manifestação do sagrado funda ontologicamente o mundo. Na extensão
homogênea e infinita onde não é possível nenhum ponto de referência, onde
portanto, nenhuma orientação pode efetuar-se, hierofania revela um “ponto
fixo” absoluto, “Centro” (ELIADE, 1992, p. 17).
Assim, transcende-se do material, para o imaginado, para o subjetivo, para o
encantado, produzido em práticas rituais (re)significadoras do espaço, em lugar sagrado.
As práticas rituais de devoção/louvor às “Almas do Batalhão” apontam para um
imaginário12
popular sobre um povo pobre, desarmado, injustiçado, barbaramente
11
“Ato da manifestação do sagrado, propusemos o termo hierofania. Este termo é cômodo, pois não
implica nenhuma precisão suplementar: Exprime apenas o que está implicado no seu conteúdo
etimológico, a saber, que algo de sagrado se nos revela [ou seja] Não se trata de uma veneração da pedra
como pedra, de um culto da arvore como árvore, mas justamente porque são hierofanias, porque
“revelam” algo que já não é nem pedra, nem arvore, mas o sagrado, o ganz andere” (ELIADE, 1992,
p.13-18. Itálico e aspas internas no original). 12
“O imaginário é aquilo que pertence ao domínio da imaginação [...] pode ser entendido por “imagens”
que povoam as ideias ou a mente de pessoas ou grupos específicos e que são vistos a partir destes, como
axiomas que norteiam suas ações comportamentais” (PEREIRA, 2005, p. 30). Para Legros (2007) “o
morto, que é santificado. Brandão (1986) diz que a morte, no convívio coletivo, produz
fascinação, pois trata do fim da vida.
Neste sentido, Halbwachs (1990) refere à importância da ancoragem espacial da
memória, a respeito diz Pierre Nora: “a memória pendura-se em lugares” (NORA, 1993,
p. 25). No caso, esta ancoragem é (re)alimentada pela tradição de promessas feitas e
pagas com ex-votos e velas às “almas do Batalhão” e pelas narrativas de peregrino/as
sobre graças alcançadas. Nora (1993) fala de lugares de memória em três sentidos:
material, simbólico e funcional. Isto significa que um lugar materializado torna-se lugar
de memória pela imaginação que o investe de uma aura simbólica.
Considerações finais: memória e Educação patrimonial como direitos de
narradores/as e romeiros/as
Nesta direção, a construção desta memória social aponta para novas práticas
políticas e diversos lugares de memória trazidos pela tradição oral através de
narradores/as diversos, em suas inserções sociais de gênero e geração. E o/as próprio/as
narradores e narradoras podem ser pensados teoricamente como lugares de memória.
Além disto, no processo pelo qual histórias e práticas sociais são (re)construídas na
tradição oral, torna-se importante verificar como essa tradição oral interpela às novas
gerações13
e como é percebido este patrimônio cultural.
O termo patrimônio, de origem latina, significa “em nome do pai”, ou seja, em
nome da herança paterna, ou de bens familiares (CHOAY, 2001). Refere-se,
historicamente, à carga de herança das gerações passadas e está ligada a processos da
memória, os quais retiram seus repertórios de signos como pontos de referências
imaginário é um pensamento simbólico total na medida em que este último “ativa” os diferentes sentidos
de compreensão do mundo. Ao mesmo tempo que “reúne” ao construir os esquemas de reconhecimento
social: ou seja, “dinamiza” ao fazer variar e evoluir sua própria produção. E é pelo fato de este
pensamento simbólico ser um “mundo criado” que ele se torna dificiilmente acessível” (LEGROS et al,
2007, p.112). No campo da relação religião e imaginário Legros (2007, p. 112) enfatiza que “religião e
imaginário, por terem em comum uma característica fundamental-atividade simbólica-, são dois domínios
que se aproximam, assimilando-se mutuamente”. 13 Jean - François Sirinelli concebe geração como escala móvel do tempo. O autor chama a atenção para
a categoria conceitual de geração na análise da divisão do tempo que possui sentidos diferenciados, como
o “biológico”, aparentemente natural, mas também cultural, por um lado modelado por acontecimentos e
por outro derivado de auto-representação: o sentimento de pertencer a uma faixa etária com forte
identidade diferencial, no caso, novas e velhas gerações fazendo alusão a jovens e idosos/as. Não se pode
ignorar que as gerações apreendem discursos, vivencias e experiências em contextos históricos diferentes,
por isso despontam visões diferenciadas (SIRINELLI, 2006). Sobre geração, ver, ainda, Segalen (1999).
individuais e coletivos (CORRÊA, 2008)14
. Assim, patrimônio se enquadra nos recortes
da memória histórica (HALBWACHS, 1990) e deve, “ser compreendido como o
conjunto de informações que caracterizam as ordens de significado dentro de um grupo,
povo ou nação” (DOBEDEI, 2005, p. 47). A tradição oral da Batalha do Jenipapo, em
Campo Maior, no sentido aqui exposto, é um patrimônio cultural e como tal interpela a
política Pública Nacional de Proteção ao Patrimônio Imaterial.
A pesquisa sobre tradição oral da Batalha do Jenipapo, em suas diversas
reverberações, traz à tona memórias periféricas (POLACK, 1989) com narradores/as
expressando versões da história a partir das (re)significações pelas quais se
reelaboram/transmitem sentidos na vida sociocultural dos grupos aos quais pertencem, e
como dito por Albert (2005) constitui-se tal memória em patrimônio imaterial do grupo
Assim, o tema se insere no debate atual da Política Nacional de Preservação ao
Patrimônio Imaterial15
.
A construção/ narração da memória do passado, tanto coletiva quanto individual,
constituída de processos sociais que vão desde o aprendizado com outros até o vigor
imaginativo (THOMPSON, 1992), se encontram ordenadas culturalmente pela história
de diferentes formas e nas diversas sociedades, de acordo com os esquemas de
significação das coisas, pois em alguma medida os significados são revalidados na
prática (SAHLINS, 1997). Nisso, a construção de sentidos referentes à Batalha do
Jenipapo sofre processos ordenados pelos cenários culturais (GIDDENS, 2005), ou seja,
a história dos grupos promovem relações simbólicas com o seu passado de formas
diversas, como no contar e (re)contar essa história.
Nesse sentido, Nilson Moraes afirma que memórias coexistem na cultura, seja de
maneira conflituosa/pacífica ou mais ou menos integrada como sinalização de
expectativas em termos relacionais/conceituais/empíricos, isto é, a memória constitui do
ponto de vista político uma forma de estratégia para afirmação de identidades e culturas
(MORAES, 2005). Ao conceber cultura como uma teia de significados que o homem
mesmo tece Geertz (1989) também concebe que a compreensão destes significados leva
à interpretação da cultura. Nesta direção, apontam para a construção de identidades
locais a partir do sentimento de pertença (POLACK, 1988). No caso da memória oral
da Batalha do Jenipapo em Campo Maior este é um aporte relevante para pensar
14
Este autor amplia o conceito, referindo-as a patrimônios bioculturais (CORRÊA, 2008). 15
A propósito, ver Costa (2010), sobre a relação entre memória oral da Balaiada e políticas públicas de
patrimônio imaterial.
marcadores identitários nacionais, regionais e locais a partir das narrativas tecidas por
narradores/as comuns, via tradição oral.
Pensamos esta tradição em diálogo com a referida política patrimonial,
porquanto a noção de patrimônio cultural imaterial, no Brasil, está pautada numa
concepção que abrange as dimensões do reconhecimento da diversidade cultural e traz
consigo proposições de inclusão cultural através de políticas públicas “relacionadas à
cultura e nas referências de memória e de identidade que o país produz para si mesmo
[...]. Trata-se de um instrumento de reconhecimento da diversidade cultural que vive no
território brasileiro e traz consigo o relevante tema da inclusão cultural”
(CAVALCANTI, 2008, p. 12). Assim, patrimônio se relaciona tanto à memória
histórica (HALBWACHS, 1990) quanto deve “[...] ser compreendido como o conjunto
de informações que caracterizam as ordens de significado dentro de um grupo, povo ou
nação” (DOBEDEI, 2005, p. 47).
O Estado brasileiro institui o decreto n° 3. 551 em 04 de agosto de 2000 e abre
caminhos para o registro de bens culturais imateriais ao criar o Programa Nacional de
Patrimônio Imaterial. Segundo o decreto, patrimônio imaterial se constitui de saberes,
ofícios, festas, rituais, lugares, formas de expressão e celebrações. “O conceito de
patrimônio cultural imaterial é, portanto, amplo, dotado de forte viés antropológico e
abarca expressões de todos os grupos e camadas sociais” (CAVALCANTI, 2008, p. 12).
Assim, o direito à preservação de bens culturais dialoga com o exercício da cidadania,
sendo uma conquista de cidadania cultural como o direito à fruição, a experimentação, à
informação, à memória e à participação, vista como importante elemento de construção
de identidades e cidadania (CHAUÍ, 1995).
Como dito por Fonseca (2008) a conquista do direito à cidadania cultural está
ligada diretamente à ampliação do conceito de patrimônio cultural que gradualmente
cria novos instrumentos de proteção. No caso brasileiro, os artigos 215 e 216 da
Constituição Federal Brasileira de 1988 constituem o marco inicial das políticas
públicas que incorporam a dimensão imaterial à concepção de patrimônio cultural.
Nisso,
Estado e a sociedade são apresentados como parceiros na formulação e
implementação das políticas culturais. Importante ressaltar a menção dada,
no art. 215, aos direitos culturais, dentre os quais se inclui o direito à
memória dos grupos formadores da sociedade brasileira. São mencionadas
explicitamente as culturas indígenas e afro-brasileiras, e também as culturas
populares, todas até então praticamente ausentes das vias de tombamento o
que evidência o caráter compensatório e inclusivo das políticas voltadas para
o patrimônio (FONSECA, 2008, p. 40).
A noção de patrimônio cultural imaterial no Brasil pauta-se numa concepção
voltada ao reconhecimento da diversidade cultural e à inclusão cultural com proposições
de políticas públicas as quais estão
relacionadas à cultura e nas referências de memória e de identidade que o
país produz para si mesmo (...) trata-se de um instrumento de reconhecimento
da diversidade cultural que vive no território brasileiro e traz consigo o
relevante tema da inclusão cultural (CAVALCANTI, 2008, p. 12).
Esse processo deve-se também, em larga medida, à abertura na plataforma de
discussão envolvendo a participação da sociedade civil nos espaços públicos de
discussão, até mesmo no curso e gestão de políticas. A abertura democrática ampliou os
espaços públicos de interlocução com o Estado, como conferências, fóruns de
discussão, que tratam das temáticas das políticas públicas (ARRETCHE, 2007;
DAGNINO, 2002), formas pelas quais os órgãos de proteção/preservação dialogam com
a sociedade16
.
Nesta direção, a memória oral da Batalha do Jenipapo pode ser pensada, em
larga medida, como patrimônio imaterial nacional, regional e local, pois esta luta é
significada tanto histórica quanto memorialmente, como uma das lutas importantes no
processo de independência do Brasil, das colônias do Norte (parte da atual região
Nordeste), do Piauí e, em especial, de Campo Maior. Tais memórias das populações
piauiense e campomaiorense e, merecem ser inventariadas e postas a interpelar à
política patrimonial, com vistas a reconhecimento, preservação e proteção.
Representantes das novas gerações se dizem interessado/as em narrativas do
passado do lugar onde vivem, associando-o ao Estado do Piauí e ao Brasil. Ao mesmo
tempo, demonstram curiosidade por mais informações sobre um passado do qual se
sentem herdeiro/as. E (re)significam este passado em um processo de construção
identitária. Tais inferências empíricas leva a se pensar, com base em Horta (1999), sobre
a necessidade de uma educação patrimonial, “um instrumento de “alfabetização
cultural”, o qual permite ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o
16 A exemplo, seminários promovidos por Aluisio Magalhães à frente do Centro Nacional de Referências
Culturais (CNRC) com as comunidades das cidades históricas de Ouro Preto e Diamantina (Minas
Gerais), como outras formas de espaço de interlocução com grupos como as ONGS e até mesmo a
iniciativa privada (CAVALCANTI, 2008).
à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórica temporal na qual ele
está inserido” (HORTA et al., 1999).
Insiro o tema da educação patrimonial como mais uma perspectiva de
diálogos com a memória social da Batalha, uma vez que uma “meta das políticas de
educação patrimonial é a intensificação dos sentimentos de identidade e cidadania, com
base no reconhecimento e valorização do patrimônio local, seja ele material e imaterial”
(ROLIN, 2010, p.12). No caso, acrescento: não se poderia pensar um projeto de
educação patrimonial sem a participação de narradore/as e devoto/as das ‘ Almas do
Batalhão”.
Isto vai ao encontro da ideia de cidadania17
, em especial, de uma de suas
dimensões, qual seja, a cidadania cultural. Lembro com José Ricardo Oriá Fernandes,
que os direitos culturais se configuram em direitos sociais. Segundo o autor, os direitos
culturais “são aqueles que o indivíduo tem em relação à cultura da sociedade da qual faz
parte, que vão desde o direito à produção cultural, passando pelo direito de acesso à
cultura até a memória histórica” (FERNANDES, 1993, p. 271). Diz, ainda, que uma
política eficaz para o patrimônio está na articulação entre Estado e sociedade civil,
atuando nas áreas de pesquisa, preservação e educação patrimonial. Na Educação
Patrimonial,
entende-se a utilização de museus, monumentos, arquivos, bibliotecas - os
“lugares de memória” [...], no processo educativo, a fim de desenvolver a
sensibilidade e a consciência dos educandos e futuros cidadãos da
importância da preservação destes bens culturais. A educação patrimonial
nada mais é do que a educação voltada para questões atinentes ao Patrimônio
Cultural, que compreende desde a inclusão nos currículos escolares de todos
os níveis de ensino, de disciplinas ou conteúdos programáticos que versem
sobre o conhecimento e a conservação do Patrimônio Histórico, até a
realização de cursos de aperfeiçoamento e extensão para os educadores e a
comunidade em geral a fim de lhes proporcionar informações acerca do
patrimônio Cultural, de forma a habilitá-los a despertar nos educandos e na
sociedade o senso de preservação da memória histórica e o consequente
interesse pelo tema (FERNANDES, 1993, p. 274) (aspas internas no
original).
17
“Para Marshall, a cidadania é formada pelo conjunto de direitos civis, direitos políticos e direitos
sociais, que corresponderia cada um desses conjuntos de direitos à Cidadania Civil, Cidadania Política e
Cidadania social, respectivamente. Como Cidadania Civil, ele enquadrou os direitos necessários à
liberdade individual e o direito à justiça; como Cidadania Política, encontra-se o direito à participação no
exercício do poder político, seja indiretamente, por ocasião das eleições, na escolha de nossos
representantes, seja participando diretamente da vida política nacional. Cidadania Social compreende
desde o direito a um mínimo de bem-estar social e econômico, à segurança, à educação e à cultural até o
direito à prestação de serviços assistencial e de previdência social” (FERNANDES, 1993, p. 270).
Entendendo lugares de memória para além dos citados por Fernandes
(1993), penso ser interessante, no que tange ao caso em estudo, políticas públicas de
educação patrimonial, as quais visem à promoção da inclusão social da comunidade ao
patrimônio por meio de atividades culturais em cujo âmbito também se identifiquem
mestres populares, narradore/as e mantenedores dos rituais devocionais, por excelência.
Nesse processo, o acervo cultural assume a representatividade dos seus valores com
estas políticas projetando-se de forma significativa para afirmação de culturas históricas
locais, regionais, nacionais, ao mesmo tempo em que desenvolvem e ou se apropriam de
instrumentos e meios para uma cultura de preservação, pois ele/as ajudam na
interpretação e compreensão do bem cultural (ROLIM, 2010).
Com base no exposto, dentre diversas possibilidades, poder-se-ia pensar em
uma proposta de educação patrimonial no âmbito da memória social da Batalha que
inclua, por exemplo: 1/ produção videográfica de narradores/as idosos/as que contam
sobre a Batalha; 2/ rodas de história da Batalha do Jenipapo em escolas e no próprio
Monumento aos Heróis do Jenipapo; 3/ concursos de narrativas; 4/oficinas de produção
de cordel nas escolas; 5/articulação das universidades do Piauí com o Memorial,
incentivando-se pesquisas e debates.
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