memorial do convento narrador, espaço e tempo

47
Memorial do Convento Memorial do Convento , , de de José Saramago José Saramago (1982) (1982) Narrador Espaço Tempo

Upload: antonio-teixeira

Post on 21-Feb-2017

262 views

Category:

Education


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Memorial do Memorial do ConventoConvento,,

dede José Saramago José Saramago (1982)(1982)

NarradorEspaço Tempo

Page 2: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Narrador Narrador (quanto à participação)(quanto à participação)Geralmente, é HETERODIEGÉTICO (na 3.ª pessoa e não participa na ação p. 11)

Por vezes, assume o ponto de vista de algumas personagens (usando a 1.ª pessoa do singular e até do plural) sendo assim HOMODIEGÉTICO (quando assume o pensamento de algumas personagens, como o Patriarca ou o rei na procissão do Corpo de Deus (XIII, 162), ou o guai turístico (XIX, p, 254).

Há situações em que aparece como AUTODIEGÉTICO, quando é protagonista da sua própria narrativa, como acontece nos sete relatos pessoais dos trabalhadores no episódio da “epopeia da pedra”(cap. XVIII).

Page 3: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

HETERODIEGÉTICO “D. João, quinto na tabela real, irá

esta noite ao quarto de sua mulher, (…)” (p. 11)

HOMODIEGÉTICO“(…) e esta sou eu, Sebastiana Maria

de Jesus, um quarto de cristã-nova, que tenho visões e revelações (…)” (p. 53)

AUTODIEGÉTICO“O meu nome é João Anes, vim do

Porto, e sou tanoeiro (…)” (p. 241)

Page 4: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

NARRADOR NARRADOR ((quanto à quanto à focalização)focalização)Geralmente, o narrador assume uma focalização omnisciente

Revela assim uma perspetiva transcendente em relação às personagens e move-se à vontade no tempo, saltando facilmente entre passado, presente e futuro.

Page 5: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Focalização omniscienteFocalização omnisciente◦ "Mas também não faltam lazeres, por isso, quando a

comichão aperta, Baltasar pousa a cabeça no regaço de Blimunda e ela cata-lhe os bichos, que não é de espantar terem-nos os apaixonados e os construtores de aeronaves, se tal palavra já se diz nestas épocas, como se vai dizendo armistício em vez de pazes. " [pág. 91]

◦ "Mas em Lisboa dirá o guarda-livros a el-rei, Saiba vossa majestade que na inauguração do convento de Mafra se gastaram, números redondos, duzentos mil cruzados, e el-rei respondeu, Põe na conta, disse-o porque ainda estamos no princípio da obra, um dia virá em que quereremos saber, Afinal, quanto terá custado aquilo, e ninguém dará satisfação dos dinheiros gastos, nem facturas, nem recibos, nem boletins de registo de importação, sem falar de mortes e sacrifícios, que esses são baratos. " [pág. 138]

Page 6: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Focalização internaFocalização interna

Por vezes, o narrador assume a perspetiva das personagens que vivem a ação, conferindo mais vivacidade à narrativa.É o que se passa quando Sebastiana de Jesus, a mãe de Blimunda, descreve o desfile dos condenados num auto de fé (V, pp. 52-52)

Ou quando o rei pensa na forma como aplicar as suas riquezas: “Medita D. João V no que fará a tão grandes somas de dinheiro, a tão extrema riqueza (…) (XVIII, p. 234)

Page 7: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Focalização Focalização internainterna

“ (…) e esta sou eu, Sebastiana Maria de Jesus, um quarto de cristã-nova, que tenho visões e revelações, mas disseram-me no tribunal que era fingimento, que ouço vozes do céu, mas explicaram-me que era demoníaco, que sei que posso ser santa como os santos o são, (…), aqui vou (…) condenada a ser açoitada em público e a oito anos de degredo no reino de Angola (...)”

[págs. 52-53]

Page 8: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O narrador em Memorial do Convento (ex. 9.1., pág. 303)

Narrador polivalenteCumpre diversas funções

Narrador heterodiegético:

“El-rei foi a Mafra escolher o sítio onde há de ser

levantado o convento.” (l. 7)

Narrador homodiegético:

“[…] porém sosseguemos, a pobre não emprestes, a

rico não devas, a frade não prometas, e D. João V é rei

de palavra. Haveremos convento.” (ll. 5-6)

Narrador reflexivo e descritivo:

“[…] um homem pode ser grande voador, mas é-lhe muito conveniente que saia bacharel, licenciado e doutor, e então, ainda que não voe, o consideram.” (ll. 13-15)

“[…] estava a abegoaria em abandono, dispersos pelo chão os materiais que não valera a pena arrumar, ninguém adivinharia o que ali se andara perpetrando. Dentro do casarão esvoaçavam pardais […]” (ll. 17-20)

Page 9: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Narrador sentenciador e moralizador:

“Nem sempre se pode ter tudo […]” (l. 1)

“[…] a pobre não emprestes, a rico não devas, a frade não prometas […]” (ll. 5-6)

Narrador crítico e irónico:

“[…] com todas as disposições, licenças e matriculações necessárias, partiu o padre Bartolomeu Lourenço para Coimbra […]” (ll. 25-28)

“[…] uma multidão de homens, exagero será dizer multidão, enfim, umas centenas deles […]” (ll. 36-38)

“[…] como se vê não há diferença nenhuma.” (ll. 50-51)

Expressões, 12.º ano

O narrador em Memorial do Convento (ex. 9.1., pág. 303)

Page 10: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Narrador omnisciente (gestor da matéria

histórica e ficcional)

“Haveremos convento.” (l. 6)

“Até à vila de Mafra, aonde primeiro vai, não tem a viagem história, salvo a das pessoas que por estes lugares moram […].”

(ll. 29-32)

Page 11: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Narrador polivalenteCumpre diversas funções

Narra

Descreve

Reflete

Comenta Critica Ironiza

Manipula (o tempo/a História/a ficção)

Conversa com o(s) narrador(es) Julga

Moraliza

Recorda e prenunciaAdaptado de REAL, Miguel, 1996. Narração, Maravilhoso, Trágico e Sagrado em

Memorial do Convento de José Saramago. Lisboa: Caminho

Expressões, 12.º ano

O narrador em Memorial do Convento (ex. 9.1., pág. 303)

Page 12: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O espaçoO espaçoEspaço físico – cenários em que decorre a ação

Espaço social – local de acontecimentos sociais, encontro de multidões, para atos religiosos, trabalho ou diversão: autos de fé, procissão da Quaresma e do Corpo de Deus, sagração da basílica.

Page 13: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

São dois os espaços físicos fulcrais nos quais se desenrola a ação: Lisboa e Mafra.

Lisboa é um macroespaço que integra: ROSSIO, TERREIRO DO PAÇO, SÃO SEBASTIÃO DA PEDREIRA

Page 14: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Espaço Espaço físicofísicoTerreiro do PaçoLocal onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa. Aí decorre a procissão do Corpo de Deus.“Desce o povo ao Terreiro do Paço, a ver os preparos da

festa.” cap. XIII, p. 152)

RossioEste espaço aparece no início da obra como o local onde decorrem os autos-de-fé e a procissão da penitência na Quaresma. (cap III)

Page 15: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O Rossio, em Lisboa Um auto-de- fé

Aqui se faziam os autos de fé. “(…) está o Rossio cheio de povo, duas vezes em festa por ser domingo e haver auto-de-fé, nunca se chegará a saber de que mais gostam os moradores, se disto, se das touradas.” (cap. V, p. 50)Aqui se conheceram Blimunda e Baltasar, aqui ela o viu pela última vez – “(…) virou em direção ao Rossio, repetia um itinerário de há 28 anos. (…) Naquele extremo arde um homem a quem falta a mão esquerda. (cap. XXV, p. 373)

Page 16: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Terreiro do Paço, em Terreiro do Paço, em LisboaLisboa

Aqui decorriam as touradas“(…) vamos às touradas, que é bem bom divertimento. Em Mafra nunca as houve, diz Baltasar e, não chegando o dinheiro para os quatro dias da função, que este ano foi arrematado caro o Terreiro do Paço, iremos ao último, que é o fim da festa.” (cap. IX, p. 101)

Page 17: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

S. Sebastião da PedreiraS. Sebastião da PedreiraTrata-se de um espaço relacionado com a Trata-se de um espaço relacionado com a “passarola voadora”“passarola voadora”. . Era um Era um espaço ruralespaço rural, onde existiam várias quintas com , onde existiam várias quintas com palacetes.palacetes.

Diz o padre Bartolomeu: “Vou a S. Sebastião da Pedreira ver a minha máquina, queres tu vir comigo, a mula pode com os dois (…). Todas as portas e janelas do palácio estavam fechadas, a quinta abandonada, sem cultivo. A um lado do pátio espaçoso ficava um celeiro, ou abegoaria, ou adega, estando vazio não se podia saber que serventia fora a sua (…)” (cap. VI, p. 66-67)

Page 18: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Espaço físico Espaço físico MafraMafra Mafra é o segundo macroespaço. Até à

construçãodo convento, a vida de Mafra decorria na vila

velha e no antigo castelo, próximo da igreja de Sto.

André.

A Alto da Vela foi o local escolhido para aconstrução do convento, que deu lugar à vila

nova, à volta do edifício. Nas imediações da obra, surge a

"Ilha da Madeira", onde começaram por se alojar dez mil trabalhadores, ascendendo, mais tarde, a 52 mil (sendo 7 mil guardas).

Além de Mafra, são ainda referidos espaços como Pêro Pinheiro, a serra do Barregudo, Montejunto (onde aterrou a “Passarola Voadora) e a casa da família Sete-Sóis.

Page 19: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Outros espaços Outros espaços físicosfísicos

Há referências à Holanda, onde o padre foi estudar o segredo do éter, Espanha, onde Baltasar ficou ferido e onde o Padre Bartolomeu morreu louco; mas também a várias localidades do Sul, que Baltasar percorreu até chegar de Évora a Lisboa e Monte Junto, onde aterrou a “passarola voadora” após o primeiro voo.

Page 20: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O O espaço espaço socialsocialO espaço social é construído, na obra, através do relato de determinados momentos (ou episódios) e do percurso de personagens que tipificam um determinado grupo social, caracterizando-o.Ao nível da construção do espaço social, destacam-se:

PROCISSÃO DA QUARESMAAUTOS DE FÉA TOURADAPROCISSÃO DO CORPO DE DEUSO TRABALHO NO Obras e sagração do CONVENTO

Page 21: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Espaço Espaço socialsocial

Os autos de fé e as touradas caracterizam Lisboa como um espaço caótico, dominado por rituais religiosos cujo efeito exorcizante amaldiçoa um mal momentâneo que motiva a exaltação absurda que envolve os habitantes.

“(...) mas não faltou povo à festa [auto de fé]”

Page 22: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Espaço Espaço socialsocial

As touradas são vistas como um “(...) bom divertimento (...)” apreciadas por toda a população “Estão as bancadas e os terrados formigando de povo (...)” (IX, 101)

“Cheira a carne queimada, mas é um cheiro que não ofende estes narizes, habituados que estão ao churrasco do auto de fé, (...)”

Page 23: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O O espaço socialespaço social Procissão da Quaresma

excessos praticados durante o Entrudo (satisfação dos prazeres carnais) e brincadeiras carnavalescas - as pessoas comiam e bebiam demasiado, davam "umbigadas pelas esquinas", atiravam água à cara umas das outras, batiam nas mais desprevenidas, tocavam gaitas, espojavam-se nas ruas”. (p. 28)

penitência física e mortificação da alma após os desregramentos durante o Entrudo (é tempo de "mortificar a alma para que o corpo finja arrepender-se”. (p. 28)

Page 24: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O O espaço social espaço social Procissão da QuaresmaProcissão da Quaresma

descrição da procissão (os penitentes à cabeça, atrás dos frades, o bispo, as imagens nos andares, as confrarias e as irmandades)

manifestações de fé que tocavam a histeria (as pessoas arrastam-se pelo chão, arranham-se, puxam os cabelos, esbofeteiam-se) enquanto o bispo faz sinais da cruz e um acólito balança o incensório; os penitentes recorrem à autoflagelação

o narrador afirma que, apesar da tentativa de purificação através do incenso, Lisboa permanecia uma cidade suja, caótica e as suas gentes eram dominadas pela hipocrisia de uma alma que, ironicamente, este define como "perfumada“.

Page 25: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

EEspaço social spaço social Os autos-de-féOs autos-de-fé Autos de fé no Rossio.

Neste relato, são de salientar os seguintes aspetos:

o Rossio está novamente cheio de assistência; a população está duplamente em festa, porque é domingo e porque vai assistir a um auto de fé (passaram dois anos após o último evento deste tipo).

o narrador revela a sua dificuldade em perceber se o povo gosta mais de autos de fé ou de touradas, evidenciando com esta afirmação a sua ironia crítica perante um povo que revela um gosto sanguinário e procura nas emoções fortes uma forma de preencher o vazio da sua existência.

Page 26: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O O espaço social - espaço social - Os autos de féOs autos de fé

a assistência feminina, à janela, exibe as suas toilettes, preocupa-se com pormenores fúteis relativos à sua aparência (a segurança dos sinaizinhos no rosto, a borbulha encoberta), e aproveita a ocasião para se entregar a jogos de sedução com os pretendentes que se passeiam em baixo.

a proximidade da morte dos condenados constitui o motivo do ambiente de festa; esta constatação suscita, mais uma vez, a crítica do narrador - na realidade, o facto de as pessoas saberem que alguns dos sentenciados iriam, em breve, arder nas fogueiras não as inibia de se refrescarem com água, limonada e talhadas de melancia e de se consolarem com tremoços, pinhões, tâmaras e queijadas.

“Grita o povinho furiosos impropérios aos condenados, guincham as mulheres (…)” (cap. V, p. 52)

Page 27: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O O espaço social – espaço social – os autos os autos de féde fé

Autos de féAutos de fé sai a procissão - à frente os dominicanos; depois, os inquisidores

distinção entre os vários sentenciados (através do gorro e sambenito), assim como o crucifixo de costas voltadas, para as mulheres que irão arder na fogueira;

menção dos nomes de alguns dos condenados (inclusive o de Sebastiana Maria de Jesus, mãe de Blimunda)

punição dos condenados pelo Santo Ofício – o povo dança perante as fogueiras.

Page 28: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O O espaço social espaço social TouradaTourada

Page 29: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O O espaço social - espaço social - TouradaTourada

Tourada (Terreiro do Paço) o espetáculo começa e o narrador enfatiza a forma

como os touros são torturados, exibindo o sangue, as feridas, as "tripas“ ao público que, em exaltação, se liberta de inibições (“os homens em delírio apalpam as mulheres delirantes, e elas esfregam-se por eles sem disfarce” (cap. IX, p. 102)

Page 30: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Dois toiros saem do curro e investem contra bonecos de barro colocados na praça; de um saem coelhos que acabam por ser mortos pelos capinhas, de outro, pombas que acabam por ser apanhadas pela multidão.

A ironia do narrador é ainda traduzida pela constatação de que, em Lisboa, as pessoas não estranham o cheiro a carne queimada, acrescentando ainda numa perspectiva crítica, que a morte dos judeus é positiva, pois os seus bens são deixados à Coroa.

Page 31: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O O espaço espaço social social Procissão do Procissão do Corpo de DeusCorpo de Deus

descrição dos "preparos da festa” feita pelo narrador, que assume o olhar do povo (as colunas, as figuras, os medalhões, as ruas toldadas, os mastros enfeitados com seda e ouro, as janelas ornamentadas com cortinas e sanefas de damasco e franjas de ouro), que se sente maravilhado com a riqueza da decoração).

Page 32: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O O espaço espaço social social Procissão do Procissão do Corpo de DeusCorpo de Deus

referência do narrador às damas que aparecem às janelas, exibindo penteados, rivalizando com as vizinhas e gritando motes

à noite, passam pessoas que tocam e dançam, improvisa-se uma tourada

de madrugada, reúnem-se aqueles que irão formar as alas da procissão, devidamente fardados

Page 33: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O O espaço espaço social social Procissão do Corpo Procissão do Corpo de Deusde Deus

Começa logo de manhã cedo. Descrição do aparato: à frente, as bandeiras dos ofícios da Casa dos Vinte e

Quatro, em primeiro lugar a dos carpinteiros em honra a S. José;

atrás, a imagem de S. Jorge, os tambores, os trombeteiros, as irmandades, o estandarte do Santíssimo Sacramento, as comunidades (de S. Francisco, capuchinhos, carmelitas, dominicanos, entre outros)

e o rei, atrás, segurando uma vara dourada, Cristo crucificado e cantores de hinos sacros

Realização da procissão:

Page 34: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O O espaço espaço social social Procissão do Procissão do Corpo de DeusCorpo de Deus

crítica do narrador às crenças e interditos religiosos;

visão oficial da procissão como forma de purificação das almas, que tentam libertar-se dos pecados cometidos

CRÍTICAS DO NARRADOR:

Page 35: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Censura ao luxo da igreja e à luxúria do Rei (“varrasco”) (Cap. XIII)

histeria coletiva das pessoas que se batem a si próprias e aos outros como manifestação da sua condição de pecadores.

CRÍTICAS DO NARRADOR

Page 36: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

EM EM SÍNTESESÍNTESE

As procissões e os autos de fé caracterizam Lisboa como um espaço caótico, dominado por rituais religiosos cujo efeito exorcizante esconjura um mal momentâneo que motiva a exaltação absurda que envolve os habitantes.

A desmistificação dos dogmas e a crítica irónica do narrador ao clero subjazem ao ideário marxista que condena a religião enquanto "ópio do povo", isto é, condena-se a visão redutora do mundo apresentada pela Igreja, que condiciona os comportamentos, manipula os sentimentos e conduz os fiéis a atitudes estereotipadas.

A violência das touradas ou dos autos de fé apraz ao povo que, obscuro e ignorante, se diverte sensualmente com as imagens de morte, esquecendo a miséria em que vive.

Page 37: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

O TRABALHO NO CONVENTOO TRABALHO NO CONVENTOMafra simboliza o espaço da servidão

desumana a que D. João V sujeitou todos os seus súbditos para alimentar a sua vaidade.

“Ordeno que a todos os corregedores do reino se mande que reúnam e enviem para Mafra quantos operários se encontrarem” (XXI, 302)

Vivendo em condições deploráveis, os cerca de quarenta mil portugueses foram obrigados, à força de armas, o abandonar as suas casas e a erigir o convento para cumprir a promessa do seu rei e aumentar a sua glória.

Page 38: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Espaço psicológicoEspaço psicológicoo espaço psicológico é constituído pelo

conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens.

Nesta obra, o espaço psicológico é constituído fundamentalmente através de dois processos: os sonhos das personagens, que funcionam como forma de caracterização das mesmas ou que, num processo que lhes confere densidade humana, traduzem relações com as suas vivências (rainha X, 118);

e os seus pensamentos (Patriarca e rei, XIII, 162).

Page 39: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

Os sonhosOs sonhosSalienta-se o sonho do rei e da rainha.O rei sonha com a sua descendência e com o

convento.“Também D. João V sonhará esta noite. Verá erguer-se

do seu exo uma árvore de Jessé frondosa e toda povoada dos ascendentes de Cristo (…) um convento de franciscanos. (Cap. I, p. 18)

A rainha tem sonhos eróticos co o infante D. Francisco

“Porém vossa majestade sonha comigo quase todas as noites, que eu bem no sei, É verdade que sonho, são fraquezas de mulher guardadas no meu coração. (cap. X, p. 118)

Page 40: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

TEMPO

Page 41: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

TEMPO TEMPO O tempo diegético O tempo diegético

(tempo da história(tempo da história)) Trata-se do tempo em que decorre a acção.

O tempo da história é constituído por algumas datas fundamentais.

A acção inicia-se em 1711. D. João V ainda não fizera vinte e dois anos e D. Maria Ana Josefa chegara há mais de dois anos da Áustria.

O fluir do tempo, mais do que através da recorrência a marcos cronológicos específicos, é sugerido pelas transformações sofridas pelas personagens e por alguns espaços e objetos ao longo da obra.

Page 42: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

TEMPOTEMPO O tempo diegético (tempo da O tempo diegético (tempo da

históriahistória)) O tempo histórico

Logo no início do romance, podemos inferir que a acção tem início no ano de 1711, através da seguinte referência do narrador:

"(. ..) S. Francisco andava pelo mundo, precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze (. . .)"

Page 43: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

TEMPOTEMPO Referências cronológicas

Em 1717, tem lugar a bênção da primeira pedra do Convento de Mafra

em 1717, Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa para trabalhar na passarola do padre Bartolomeu de Gusmão

em 1729, celebra-se o casamento de D. José com Mariana Vitória e de Maria Bárbara com o príncipe D. Fernando (VI de Espanha) ( XXII, 211)

em 1730, mais propriamente no dia 22 de Outubro, o dia do quadragésimo primeiro aniversário do rei, realiza-se a sagração da basílica do Convento de Mafra

a ação termina em 1739, no momento em que Blimunda vê Baltasar a ser queimado em Lisboa, num auto-de-fé. (28 anos após o início da ação)

Page 44: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

TEMPOTEMPO O tempo diegético (tempo da históriaO tempo diegético (tempo da história)) Muitas vezes, a passagem do tempo é anunciada por

situações precisas "Para D. Maria Ana é que lhe vem chegando o tempo. A barriga não aguenta crescer mais por muito que a pele estique (.. .)"

ou por referências temporais que se integram em marcações referenciais

"(…) tendo partido daqui há vinte meses (…)" p. 72 "Meses inteiros se passaram desde então, o ano é já

outro" p. 77 "Entretanto, nasceu o infante D. Pedro (...)" p. 88 "Bartolomeu Lourenço foi à quinta de S. Sebastião da

Pedreira, três anos inteiros haviam passado desde que partira (. .)” p. 117

"(...) é certo que há seis anos que vivem como marido e mulher (…)" p. 130

"(...) se não ficou dito já, sempre são seis anos de casos acontecidos (…) " p. 134

"(…) e já vão onze anos passados (...)" p. 162 "(...) passaram catorze anos (…) " p. 214 "Desde que na vila de Mafra, já lá vão oito anos, foi

lançada a primeira pedra da basílica (…)" p. 231

Page 45: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

TEMPO TEMPO O tempo do discursoO tempo do discurso

O tempo do discurso é revelado através da forma como o narrador relata os acontecimentos.

Este pode apresentá-los de forma linear,

optar por retroceder no tempo em relação ao momento da narrativa em que se encontra

ou antecipar situações (prolepses).

Page 46: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

TEMPOTEMPOAs analepses (recuos no tempo)

As analepses explicam, geralmente, acontecimentos anteriores, contribuindo para a coesão da narrativa.

É de assinalar, anteriormente ao ano do início da acção (1711 ), a analepse que explica, em parte, a construção do convento como consequência do desejo expresso, em 1624, pelos franciscanos, de possuírem um convento em Mafra.

Page 47: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo

TEMPO TEMPO O tempo do discursoO tempo do discurso

a visão globalizante de tempos distintos por parte do narrador (o tempo da história e, num tempo futuro, o do momento da escrita) –

cabem aqui as referências aos cravos (outrora, nas pontas das varas dos capelães; muito mais tarde, símbolos da revolução do 25 de Abril)(XIII, 161), a associação entre os possíveis voos da

passarola e o facto de os homens terem ido à Lua, no século XX,

a alusão ao tipo de diversões que se vivia no século XVII e ao cinema, entre outras.

As prolepses (ações futuras) A antecipação de alguns acontecimentos serve os

seguintes objectivos: