memorial do convento

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MEMORIAL DO CONVENTO ESTATUTO DO NARRADOR 1. Cincia do narrador - Heterodiegtico (no participante) e omnisciente; - Homodiegtico (tornando-se um narrador observador, misturado com a multido).

MEMORIAL DO CONVENTO O ESTATUTO DO NARRADORO narrador, de uma forma geral, conhece tudo: passado, presente, futuro das personagens e sentimentos. Frequentemente passa de um discurso na 3 pessoa para a 1 pessoa que representa j o pensamento da personagem (cap. XIX, 16 pargrafo). A alternncia entre a 3p. sing. para a 1 p. pl. provoca um sentimento de cumplicidade e proximidade com o narratrio e a implicao deste no relato das personagens (cap.IV, 5 pargrafo).

MEMORIAL DO CONVENTO O ESTATUTO DO NARRADOR2. Ponto de vista do narrador - Focalizao omnisciente O narrador faz uso de uma capacidade de conhecimento praticamente ilimitada, podendo, por isso, facultar todas as informaes que entender pertinentes para o conhecimento da histria.

MEMORIAL DO CONVENTO O ESTATUTO DO NARRADOR

Colocado numa posio de transcendncia em relao ao universo diegtico, o narrador comporta-se como uma entidade demirgica, controlando e manipulando soberanamente os eventos relatados, as personagens que os interpretam, o tempo em que se movem, os cenrios em que se situam.(Carlos Reis, Ana Cristina Lopes, Dicionrio de Narratologia)

MEMORIAL DO CONVENTO O ESTATUTO DO NARRADORO narrador opta por uma postura irreverente no modo como relata os acontecimentos evocados. O tom frequentemente irnico ou sarcstico serve a inteno de parodiar o passado histrico.

MEMORIAL DO CONVENTO O ESTATUTO DO NARRADOR

O discurso do narrador antipico ao rebaixar heris consagrados pela Histria e nos apresenta como heris gente annima, pessoas com defeitos fsicos ou homens andrajosos como os operrios que foram obrigados a trabalhar nas obras do Convento de Mafra, assumindo desta forma uma postura de contrapoder.

MEMORIAL DO CONVENTO O ESTATUTO DO NARRADOR

A sua postura do contra revela-se ainda no discurso dessacralizador dos poderes rgio, religioso e literrio (referncias parodsticas a outros escritores, nomeadamente Cames, Pe. Antnio Vieira e Fernando Pessoa).

MEMORIAL DO CONVENTO O ESPAO1. Espao fsico Dois macro-espaos Lisboa e Mafra. Lisboa: Terreiro do Pao e Rossio - locais onde se manifesta o obscurantismo do povo e a opresso do poder. S. Sebastio da Pedreira local de construo da passarola, da subverso do poder.

MEMORIAL DO CONVENTO O ESPAOMafra Vela local escolhido para edificar o convento, Ilha da Madeira local onde esto alojados os 40000 operrios da obra; Outros espaos: Alentejo lugar de famintos; Pro Pinheiro; Serra do Barregudo; Monte Junto.

MEMORIAL DO CONVENTO O ESPAO2. Espao social construdo atravs do relato de determinados momentos e do percurso de personagens que tipificam um determinado grupo social. Autos-de-f o povo revela um gosto sanguinrio e emoes fortes. Procisso do Corpo de Deus caracterizao da cidade de Lisboa, excessos praticados durante o Entrudo, penitentes autoflagelam-se.

MEMORIAL DO CONVENTO O ESPAOTouradas os touros so torturados e os espetadores deliram com o espetculo. O trabalho no Convento Mafra simboliza o espao da servido desumana a que D. Joo V sujeita o seu povo. Alentejo espao associado fome e a misria.

MEMORIAL DO CONVENTO O ESPAOEspao psicolgico conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens. Revela-se atravs dos sonhos e dos pensamentos: Sonhos de D. M Ana com o seu cunhado; Baltasar quando andava a lavrar o alto da Vela; pensamentos do Pe. Bartolomeu de Gusmo relativamente ao voo da passarola. 3.

MEMORIAL DO CONVENTO O TEMPOTempo da histria (tempo diegtico) Tempo histrico em que decorre a ao (1711/1739). 1711 Incio da aco - promessa de construo do convento; 1717 bno da primeira pedra (17/11/1717); 1730 Inaugurao do Convento , no dia do 41 aniversrio de D. Joo V (22/10/1730); 1739 Blimunda procurou Baltasar por terras de Portugal e Espanha durante 9 anos. Fim da ao.1.

MEMORIAL DO CONVENTO O TEMPO2. Tempo do discurso organizado pelo narrador, atravs da forma como relaciona os acontecimentos. O tempo do discurso pode ser apresentado de forma linear e/ou com recurso analepse e prolepse.

MEMORIAL DO CONVENTO O TEMPOO emprego do adv. hoje no incio do texto d- -nos conta do tempo do discurso; O uso da palavra hoje leva-nos a fazer coincidir o tempo da Histria com o tempo do discurso; O recurso s prolepses do-nos conta da omniscincia de um narrador que se movimenta num espao ficcional e por isso intemporal, num tempo uno, sem marcas cronolgicas.

MEMORIAL DO CONVENTO O TEMPOA situao do narrador nesse tempo, fora do tempo cronolgico, explica as analepses e prolepses que encontramos no texto; A suspeita sobre o milagre da gravidez da rainha sugerido, entre outros elementos, por uma analepse que nos faz recuar at 1624 para percebermos a m-f dos frades franciscanos (final do cap. II)

MEMORIAL DO CONVENTO O TEMPO

As localizaes temporais no so precisas(o auto de f onde Blimunda e Baltasar se conhecem ocorre no 5 ms de gravidez da rainha)

O tempo da Histria dura vinte e oito anos (1711-1739) mas o tempo do discurso abre brechas nesse perodo cronolgico para o integrar num tempo uno, em que passado, presente e futuro se misturam.

MEMORIAL DO CONVENTO O TEMPO

Em Memorial do Convento a passagem do tempo sugerida pelas transformaes que opera nas personagens e nas coisas e no atravs de datas.

MEMORIAL DO CONVENTO O TEMPOConcluso: Se podemos relacionar o desprezo pelas datas com a intemporalidade do tema os mecanismos de controlo social utilizados pelo poder em Portugal no sc. XVIII continuam noutros tempos e noutros espaos - tambm podemos ver, na preocupao em sugerir a passagem do tempo, um sinal da esperana que a obra veicula. A irreversibilidade do tempo destri tambm os agentes da represso social.

MEMORIAL DO CONVENTO LINGUAGEM E ESTILOParodiando o estilo arquitetnico barroco do Convento, o discurso de Saramago tambm barroco. Mimetismo (imitao) do estilo barroco, lembrando o Pe. Antnio Vieira.

MEMORIAL DO CONVENTO LINGUAGEM E ESTILO

Recursos utilizados:

anstrofe e hiprbato para variar a ordem das palavras na frase : Vestem o rei e a rainha camisas compridas; (p. 17)metforas - figura predileta do autor barroco Comendo pouco purificam-se os humores, sofrendo alguma coisa escovam-se as costuras da alma;

MEMORIAL DO CONVENTO LINGUAGEM E ESTILOcomparaes surgem geralmente em srie; personificaes; ironia constante nas observaes do narrador.

MEMORIAL DO CONVENTO LINGUAGEM E ESTILOE ainda: O jogo de palavras e conceitos A construo explicativa (pp. 11/12) A construo paralelstica se vivo fizera a caridade, defunto obrara milagres. Traos latinizantes; Superlativos sintticos

MEMORIAL DO CONVENTO LINGUAGEM E ESTILOAproximao dos registos prosaico e potico, erudito e corriqueiro; Perodo longo;

MEMORIAL DO CONVENTO LINGUAGEM E ESTILOPara alm dos traos barrocos constatam-se tambm: O uso frequente da forma verbal do futuro sinal do saber omnisciente do narrador e que nos d a conhecer antecipadamente o destino das personagens e o rumo dos acontecimentos. O uso do presente, raramente empregando o pret. perf. ou o pret. imp., tempos especficos da narrativa.

MEMORIAL DO CONVENTO LINGUAGEM E ESTILO

Discurso indireto livre A voz da personagem penetra a estrutura formal do discurso do narrador, como se ambos falassem em unssono. A oscilao entre a voz do narrador e a voz da personagem, permite representar os pensamentos da personagem, revelar a sua interioridade sem que o narrador abdique da sua posio de mediador.

MEMORIAL DO CONVENTO LINGUAGEM E ESTILOPontuao inusitada transgride deliberadamente as regras da gramtica. Estrutura sinttica que infringe intencionalmente a norma, alternando o discurso escrito com um discurso marcadamente oral.

O desrespeito pela pontuao poder ser tambm uma marca de um texto que se assume como contrapoder.

MEMORIAL DO CONVENTO LINGUAGEM E ESTILOCada frase, ou discurso, ou o perodo, criase dentro de mim mais como uma fala do que uma escrita. A possibilidade da espontaneidade, a possibilidade do discurso em linha reta, enfim, a direito, muito maior do que se eu me colocasse na posio de quem escreve. No fundo, ao escrever estou colocado na posio de quem fala.Jos Saramago