memorial coletivo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO CED CURSO DE PEDAGOGIA MEMORIAL DO ESTÁGIO EM EDUCAÇÃO INFANTIL (2014.1) NO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO INFANTIL COLÔNIA Z11 Catrine de Moraes Pereira Daniela Fonseca Fernanda Hartmann Ramos Francine Gomes da Silva Gabriela Botelho P. Korus Giselli de Oliveira da Silveira Kachiri Carminati dos Santos Karla Regina de Souza Kenya Gladys Paulo Campagnolo Este memorial tem como objetivo compartilhar nossas observações, aprendizagens e reflexões referentes ao nosso estágio supervisionado na Educação Infantil, realizado no NEI Colônia Z11, localizado no bairro Barra da Lagoa, em Florianópolis, sob a orientação da professora Drª Kátia Adair Agostinho. Florianópolis 2014

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Memorial de estágio na Educação Infantil

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    CENTRO DE CINCIAS DA EDUCAO CED

    CURSO DE PEDAGOGIA

    MEMORIAL DO ESTGIO EM EDUCAO INFANTIL (2014.1)

    NO NCLEO DE EDUCAO INFANTIL COLNIA Z11

    Catrine de Moraes Pereira

    Daniela Fonseca

    Fernanda Hartmann Ramos

    Francine Gomes da Silva

    Gabriela Botelho P. Korus

    Giselli de Oliveira da Silveira

    Kachiri Carminati dos Santos

    Karla Regina de Souza

    Kenya Gladys Paulo Campagnolo

    Este memorial tem como objetivo

    compartilhar nossas observaes,

    aprendizagens e reflexes referentes ao nosso

    estgio supervisionado na Educao Infantil,

    realizado no NEI Colnia Z11, localizado no

    bairro Barra da Lagoa, em Florianpolis, sob a

    orientao da professora Dr Ktia Adair

    Agostinho.

    Florianpolis

    2014

  • 2

    AGRADECIMENTOS

    Em especial a todas as crianas do Ncleo de Educao Infantil NEI Colnia Z -11, por

    permitir a nossa presena em sala, dividindo suas vivncias e espaos, a fim de que

    pudssemos vivenciar a docncia em sua plenitude.

    A nossas famlias, pela compreenso e pacincia.

    A toda equipe da unidade por ter nos recebido de forma acolhedora.

    E principalmente, nossa orientadora de estgio, Prof. Dr. Ktia Adair Agostinho, por

    contribuir em nossas reflexes com tamanha dedicao e amabilidade.

  • 3

    SUMRIO

    1 APRESENTAO as concepes que orientam o campo...................................04

    2 O CAMPO: Ncleo de Desenvolvimento Infantil Colnia Z11...............................06

    3 VIVNCIAS DE L E C: PLANEJANDO E REPLANEJANDO NA

    EDUCAO INFANTIL...........................................................................................09

    4 IMAGINAO E BRINCADEIRAS NO DIA A DIA COM AS CRIANAS.....30

    5 VIVENCIANDO E COMPARTILHANDO EXPERINCIAS COM O G5: O

    FOCO NOS DESENHOS DAS CRIANAS...........................................................47

    6 LINGUAGENS ORAL E ESCRITA: DA BRINCADEIRA AO LETRAMENTO

    O LUGAR DO ESTGIO..........................................................................................73

    7 REGISTRO FOTOGRFICO NA EDUCAO INFANTIL: capturando

    movimentos, sons, e cores das infncia - uma experincia docente no NEI

    Colnia Z-11.................................................................................................................92

    8 O DIREITO DE PARTICIPAO DAS CRIANAS E SUA EFETIVAO

    NAS PRTICAS EDUCACIONAIS.......................................................................118

  • 4

    1. APRESENTAO as concepes que orientaram o campo

    A Educao Infantil a primeira etapa da Educao Bsica. oferecida em creches e

    pr-escolas, que se constituem em estabelecimentos educacionais pblicos e privados, onde o

    cuidar e o educar devem ser indissociveis. importante compreender que alm da

    especificidade j conhecida, o cuidar e o educar, h existncia de outras, tais como: o recente

    reconhecimento da profisso, a docncia compartilhada, o sujeito da educao infantil

    crianas de zero a seis anos, a necessidade de considerar a criana como ponto de partida para

    a construo da proposta/interveno pedaggica.

    O reconhecimento profissional ocorreu h dezoito anos quando a LDB 9.394/96 previu

    que [...] a educao infantil passou a fazer parte da educao bsica como sua primeira etapa,

    e o professor tornou-se o profissional exigido para atuar junto s crianas (FERNANDES,

    2012, p. 1).

    O eixo Educao e Infncia nos acompanha durante todo o curso, mas ao iniciar essa

    fase de estgio, preciso relembrar alguns conceitos, e, o principal deles o conceito de

    criana e infncia que temos. A criana no deve ser vista como um vir a ser um sujeito de

    diretos, que produz cultura e deve ter seu direito garantido infncia e instituio de

    Educao Infantil. Segundo Rocha e Ostetto, sujeito social de direitos, um ser completo em

    si mesmo, que pensa, se expressa por meio de mltiplas linguagens, que produz cultura e

    produzido numa cultura (2008, p. 104).

    Entendemos que o estgio, o exerccio da docncia, em que no encontro com a

    realidade educativa fazemos o cruzamento de olhares, ao pensar os projetos educativos dos

    diferentes grupos e o Projeto Poltico e Pedaggico da Unidade, tudo isso por meio do

    exerccio das ferramentas da ao pedaggica, que so: observao, registro, planejamento,

    avaliao e documentao, portanto:

    [...] o estgio pressupe o cruzamento de diversos olhares e saberes,

    advindos de lugares igualmente diferenciados: das crianas, das alunas

    estagirias, dos professores e demais profissionais de educao infantil e dos

    professores orientadores de estgio. (ROCHA & OSTETTO, 2008, 107).

  • 5

    Na prtica, o estgio o momento de apreender a realidade, adentrar na instituio de

    educao infantil, lugar este at ento desconhecido por alguns de ns discentes; propor e

    vivenciar aes que contribuiro efetivamente para nossa formao e concomitantemente para

    a formao das crianas e/ou bebs. Portanto, ao oportunizar a docncia compartilhada aos

    estudantes de pedagogia, os mesmos exercero a observao do espao, das crianas, do

    relacionamento entre criana-criana e criana-adulto; exercitaro o registro, a reflexo, o

    planejamento e a avaliao do processo proposto e vivido, deste modo pautaro as aes e

    reflexes embasadas no conhecimento terico. Deste modo, necessrio cultivar a

    sensibilidade do olhar, como afirmam Rocha e Ostetto (2008) em uma postura de observar a

    criana em um todo, ou seja, o olhar do professor por meio da sensibilidade, a fim de perceber

    as manifestaes to sutis, que nos permitir conhecer melhor os modos de ser e fazer das

    crianas.

    Falar sobre o cotidiano institucional ocupando um lugar de estagiria (o) docente

    uma questo um tanto delicada na medida em que no estamos integralmente imersos na

    rotina da instituio, considerando o tempo do estgio que um recorte. No entanto, medida

    que nos aproximamos do contexto cultural, do espao e das vivncias, buscamos compreender

    e refletir cuidadosamente sobre o cotidiano do NEI Colnia Z-11, sua Pedagogia, seu fazer

    pedaggico na Educao Infantil e a partir dessas vivncias ento traamos nosso percurso de

    estgio.

  • 6

    2. O CAMPO: Ncleo de Desenvolvimento Infantil Colnia Z11

    O Ncleo de Educao Infantil (NEI) Colnia Z11, na comunidade da Barra da Lagoa,

    leste da Ilha de Florianpolis, prximo ao mar, est localizado na Rua Desembargador Ivo

    Guilhon Pereira de Mello, n 1. A unidade tem uma infraestrutura grande, arejada e com

    bastante verde, que comporta em seus espaos 6 salas, do G2 ao G6; parque com banco de

    areia e casinha de boneca; espao para horta; espao ao ar livre para oficina com mesa da

    altura das crianas, secretaria, biblioteca, sala de professores, cozinha, um refeitrio para as

    crianas, cujas mesas, pia e buffet so da altura das mesmas; sala de materiais de limpeza;

    espao para oficinas, alm de banheiros proporcionais ao tamanho das crianas e outro para

    uso dos adultos. O espao do NEI plano, sem obstculo, amplo e com apoiadores que

    facilitam tambm a passagem de pessoas com deficincia.

    vlido ressaltar que o NEI Z-11 fica bem prximo da praia e do projeto TAMAR, o

    qu contribui para sadas das crianas para alm da instituio, a fim de auxiliar e ser uma

    ferramenta facilitadora do contato das crianas com a natureza, alm de estar rodeado por

    prdios e casas residenciais.

    O NEI Z -11, atende 235 crianas, cuja faixa etria varia de 4 meses a 6 anos de idade,

    a instituio conta com uma equipe de 39 profissionais, sendo 8 professoras com graduao e

    ps-graduao; 12 auxiliares de sala com magistrio; 4 merendeiras; 5 auxiliares de servios

    gerais; 4 auxiliares de ensino; 1 supervisora e 1 diretora; 1 professora; 1 professora

    readaptada, 1auxiliar de servios gerias e 2 cozinheiras readaptadas, alm de uma

    nutricionista. A instituio funciona todos os dias das 07h00min s 13h00min no horrio

    matutino e das 13h00min s 19h00min no horrio vespertino, sendo os grupos vespertinos

    (G2 G6) so divididos e mistos, ou seja, recebem meninos e meninas na mesma sala.

    A nova unidade foi construda no ano de 2004, em decorrncia da necessidade de uma

    estrutura fsica apropriada para as crianas, substituindo a unidade antiga construda em 1992

    em outro local da comunidade. Desde ento, no mesmo ano teve uma ampliao para mais

    duas salas. Atende seis grupos no perodo matutino e outros seis no perodo vespertino.

    Conhecer a comunidade e os espaos fsicos e geogrficos da unidade tem seu papel

    fundamental em nosso estgio no NEI, j que precisamos nos aproximar e conhecer o mximo

    possvel desse contexto em que as crianas esto inseridas para uma melhor aproximao e

  • 7

    interao com as mesmas. Assim, ainda em nossa primeira ida unidade fomos passear pelo

    bairro e pudemos perceber o contexto que nos cercaria nesse perodo de estgio e de onde

    viriam as crianas.

    Passamos pela praia, pela beira do canal da Barra e pela avenida principal. Na beira do

    canal pudemos perceber os barcos pesqueiros, os pescadores, as redes de pesca e os inmeros

    pontos de vendas de frutos do mar. A comunidade basicamente formada por pescadores. O

    bairro pequeno, em poucas ruas conseguimos conhec-lo de uma forma bem panormica,

    porm a populao numerosa, nota-se isso devido presena de muitas casas e apartamentos

    dentro do mesmo terreno, j que a estrutura fsica/geogrfica do local limitada.

    Antes de nossa visita ao campo j tnhamos lido o Projeto Poltico Pedaggico (PPP)

    do NEI Colnia Z-11. O PPP, construdo coletivamente, elemento fundamental na

    organizao das atividades, mediador das decises e conduo das aes do espao educativo,

    permitindo a anlise dos seus resultados e impactos. Ainda segundo o documento o PPP se

    constitui num retrato da memria histrica construda, num registro que permite a escola rever

    sua intencionalidade e sua histria (SOUZA, 2005). Assim, destacamos o PPP como um

    fruto da interao entre os objetivos e prioridades estabelecidas pela coletividade, que

    estabelece, atravs da reflexo, as aes necessrias construo de uma nova realidade. ,

    antes de tudo, um trabalho que exige comprometimento de todos os envolvidos no processo

    educativo: os professores, as crianas, os pais e a comunidade como um todo.

    Ao nos aproximarmos das vivncias no Nei tomamos conhecimento das formas como

    essas experincias so elaboradas pelas crianas e por todos envolvidos no fazer pedaggico.

    Um dos objetivos especficos da unidade est em Desenvolver um trabalho integrado com as

    crianas, famlias e educadores do N.E.I. Colnia Z 11, (PPP, 2014, p. 8). Desta forma, o

    PPP da unidade discorre sobre os projetos coletivos que envolve todos do NEI Z11:

    _ Projeto Educao Ambiental do qual pudemos presenciar e viver a relao com a

    horta e a composteira.

    _ O Projeto Atividade Integrada em que as propostas so planejadas para a vivncia

    coletiva. Presenciamos alguns momentos desse projeto proposto pela unidade e tambm ns

    estagirias propomos em nossa ltima docncia propostas coletivas no parque da unidade.

    _ Projeto Um Lugar, Um Olhar, Um Sonho que prev uma organizao semanal do

    parque com brincadeiras dirigidas que envolvero adultos e crianas, como momento de

  • 8

    descontrao, de vivenciar experincias novas e interaes com as crianas do prprio grupo

    como dos outros e os diferentes adultos.

    _ Projeto Com Alegria Comendo Todo Dia que objetiva a autonomia e a integrao

    das crianas nos momentos das refeies.

    _ Projeto Um mar de histrias elaborado partindo do principio que O acesso

    literatura infantil um direito do cidado. Toda semana, as crianas so levadas at a

    biblioteca para escolherem um livro e levar para casa pra ler com a famlia.

    _ Projeto Alevanta Boi Malhado Faz Sorrir a Multido que perpetua a prtica

    popular da dana do boi de mamo.

    Aps essa breve apresentao do NEI Z11, seguimos agora no memorial socializando

    o vivido por ns.

  • 9

    3. VIVNCIAS DE L E C: PLANEJANDO E REPLANEJANDO NA

    EDUCAO INFANTIL

    Fernanda Hartmann Ramos

    Kenya Gladys Paulo Campagnolo

  • 10

    A alegria no chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca.

    E ensinar e aprender no pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.

    Paulo Freire

    Apresentao

    O memorial tem por objetivo relatar um pouco da nossa anlise entre as teorias da qual

    tivemos subsdios desde o incio do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa

    Catarina (UFSC) com as prticas, na qual se realizou na creche Ncleo de Educao Infantil

    Colnia Z-11, localizada na Barra da Lagoa, em Florianpolis.

    No primeiro momento, falaremos sobre a nossa preparao para adentrarmos ao

    campo do estgio na Educao Infantil, que no nosso caso no tnhamos nenhuma

    experincia. Portanto as teorias se tornaram importante para a nossa preparao, como no

    tnhamos a prtica, o estgio seria o momento para colocarmos em prtica as teorias at ento

    estudadas.

    Logo em seguida, iremos escrever o nosso olhar sobre este espao e estas crianas,

    colocando em destaque alguns recortes do nosso cotidiano observado. Mas queremos deixar

    claro que ramos observadoras participativas. Ao mesmo tempo em que estvamos ali

    observando e registrando, tambm participvamos efetivamente de cada momento junto s

    crianas, queramos sentir de perto o que as nossas propostas proporcionava aos bebs.

    Apresentaremos a nossa viso sobre o que planejar na Educao Infantil,

    principalmente para o Grupo 2, como construmos o nosso planejamento, quais propostas

    realizaremos na Docncia Compartilhada.

    Tambm iremos relatar as nossas experincias, o vivido e refletido enquanto

    professoras-estagiria na Educao Infantil, para e com crianas de um ano e dois meses a

    dois anos, onde apresentaremos alguns relatos deste cotidiano e reflexes sobre os mesmos

    que possam lanar luz sobre a especificidade dessa docncia.

    Para finalizar, apresentaremos as nossas consideraes finais relatando o que

    aprendemos, e refletimos, atravs do estgio com as crianas do Grupo 2, com as professoras,

    o espao e o que permeou esta experincia para ns na Educao Infantil.

  • 11

    Grupo G2

    A turma escolhida por ns foi o Grupo II. um grupo de 12 crianas de um ano e dois

    meses dois anos, sendo 8 meninas e 4 meninos, a maioria so moradoras do bairro Barra da

    Lagoa, tinha 1 professora com Formao em Pedagogia (que ficou at o fim do ms de Abril,

    e depois houve a troca de professora e a mesma permanece com o grupo at hoje, com

    formao em Magistrio e tambm Pedagogia) e uma auxiliar com formao em Magistrio e

    finalizando a graduao de Pedagogia.

    Ao entrarmos na sala do G2 nos deparamos com um amplo espao, onde as crianas

    podem circular livremente, uma vez que h poucos obstculos que impedem ou dificultam a

    explorao do espao pelas crianas. Perto de uma das paredes prxima s janelas h um

    bero e um chiqueiro que est disposio das crianas para que elas possam explorar, seja

    brincando em cima do bero ou dentro do chiqueiro, seja jogando brinquedos ou dormindo.

    H tambm uma prateleira grande onde ficam os brinquedos, livros infantis, material

    didticos da professora, como rdio, pinceis, caixa com tesoura, colo; canetas; lpis; fita

    crepe, alm da caixa com os copos todos identificado com os nomes das crianas. Tanto o

    trocador como porta mochila (identificados com os nomes das crianas), tambm ficam na

    parede.

    Pelo cho possvel observar um tapete colorido onde s crianas costumam levar

    brinquedos, livros e almofadas para interagirem entre si e com os materiais, ali tambm ocorre

    o momento em que as crianas fazem o lanche da tarde, ou tiram um cochilo no beb

    conforto, ou ouvem histrias narradas pela professora.

    Ainda no espao h um banheiro cujo espelho, a pia e os vasos sanitrios so da altura

    e proporo das crianas, o que facilita sua autonomia e independncia, no que tange a

    higiene das mos, boca e necessidades fisiolgicas. Alm do espao da sala as crianas

    tambm tem acesso ao solrio, que por sua vez d para um dos parques da instituio.

    Os espaos de referncias para as crianas so a sala, o solrio, os dois parques o

    refeitrio e o banheiro. Quando as crianas vo a outros espaos com a professora de

    Educao Fsica, elas se divertem e exploram o mximo que podem. A turma bem

    participativa e aberta s proposies. Entretanto, tem situaes que elas precisam sair da sala,

    ir para um espao maior para correr mais e se soltar, como o parque, que parece ser um dos

  • 12

    lugares mais adorado por elas, pois sempre que as crianas esto no parque, percebemos que

    elas ficam mais independentes nas suas aes, como sentar e embalar-se no balano sem o

    auxlio de um adulto ou outra criana, ou quando escalam obstculos sozinhos como subir nos

    pneus ou na casinha do escorregador, tambm observamos que mesmo estando dentro da sala,

    as crianas ficam de olho nas demais crianas que esto no parque e interagem com esses pela

    janela ao chamar com balbucios ou gritos, com acenos de mo ou se a porta que d acesso ao

    solrio est aberta, os bebs ficam por ali e solicitam a professora para irem at o parque.

    Ao identificarmos as crianas do G2, usamos como base de informao o nome, idade,

    com quem mora, se tem irmos(s), a permisso de imagens, e tambm se houvesse alguma

    observao especfica escrita na ficha.

    NOME IDADE MORA COM: ONDE MORA

    Maria Ravasio

    Teixeira

    1 ano e 7 meses mora com os pais e

    um irmo e uma

    irm mais velhos

    Rio Vermelho

    Ceclia Martins

    Sobral

    1 ano e 9 meses mora com os pais,

    filha nica

    Barra da Lagoa

    Ceclia Almeida

    1 ano e 8 meses filha nica, mora

    com a me (menor

    de idade) e a av

    materna

    Barra da Lagoa

    Isabela Vitria

    Lima

    1 ano e 11 meses filha nica, mora

    com a me e os

    avs maternos

    Barra da Lagoa

    Marcela Florindo

    1 ano e 9 meses mora com os pais e

    uma irm mais

    Barra da Lagoa

  • 13

    velha

    Pietra Coelho 1 ano e 10 meses mora com os pais Rio Vermelho

    Zoe Oliveira 1 ano e 11 meses filha nica, mora

    com os pais

    Barra da Lagoa

    Sophia Valentina

    Antunes

    1 ano e 10 meses filha nica, mora

    com os pais

    Lagoa da Conceio

    Francisco Maciel 1 ano e 7 meses mora com os pais e

    um irmo

    Lagoa da Conceio

    Pedro Henrique

    Santos

    1 ano e 3 meses Mora com os pais e

    uma irm mais

    velha

    Barra da Lagoa

    Vitor Souza

    1 ano e 9 meses Mora com os pais e

    uma irm mais

    velha

    Barra da Lagoa

    Vitor Martins 1 ano e 9 meses Mora com os pais Barra da Lagoa

    O exerccio nas ferramentas da ao:

    Aps a leitura das Orientaes Curriculares da Rede Municipal de Florianpolis,

    especificamente o texto Estratgias de Ao Pedaggica (2012) fundamentalmente,

    entendemos que para conseguirmos nos aproximar das crianas e de suas mltiplas linguagens

    precisamos estar atentas at no que no ouvimos, observando os gestos, os movimentos que

    mesmo com a ausncia da fala, so momentos de conhecimentos, de produes de cultura, de

    troca e de interaes entre elas.

  • 14

    Logo, necessrio tirarmos o olhar s do plano horizontal, s do que est a nossa

    frente, e direcionar o olhar verticalmente, lateralmente, at mesmo o que est cima de ns,

    como as rvores no ptio, os brinquedos mais altos do parque entre outros.

    E para conseguirmos dar conta de ambos os planos tanto verticais quanto o

    horizontais, visando criana na sua subjetividade e percebendo suas mltiplas linguagens,

    extremamente necessrio que faamos o uso das ferramentas de ao pedaggica, que seriam:

    Observao;

    Registro;

    Planejamento;

    Anlise/reflexo desses registros;

    Documentao;

    Avaliao:

    Sendo que todas essas ferramentas so indissociveis para a realizao da prtica

    pedaggica, a prtica docente. Uma complementa a outra, o registro nasce da observao das

    crianas ao realizarem a vivncia de um planejamento que est sendo refletida, analisada,

    documentada e avaliada sistematicamente, essa ltima, a avaliao, sem o objetivo de seleo

    ou classificao, e sim de revelar e documentar a proposta pedaggica, as vivncias e

    aprendizagens e o desenvolvimento das crianas, em suas experincias no cotidiano da

    educao infantil, para em fim tornar-se um documento do respectivo grupo.

    Assim, no estgio vamos gradativamente sendo introduzidas na prtica destas

    ferramentas da ao pedaggica.

    Observao

    Dentre todas as ferramentas de ao e mesmo elas sendo indissociveis, a observao

    a principal delas, o ponto de partida que abre um caminho para uma prtica pedaggica

    significativa, onde entenderemos pontos fundamentais das produes e reprodues culturais

    das crianas, assim com diz a citao:

    Observar atentamente as crianas ponto de partida para uma aproximao

    s crianas reais, concretas, com o intuito de saber quem so o que fazem

    como vivem suas infncias, uma aproximao aos possveis modos com

    estabelecem relaes com seus pares, como significam as proposies feitas

  • 15

    pelas profissionais, como interagem com ambientes e materiais

    (FLORIANPOLIS SME, 2012 p.05).

    Entendemos que a observao constri o registro e ao registrar trazemos novos

    elementos s nossas observaes e nossas prticas pedaggicas, pois ao escrevermos o

    registro estamos construindo uma memria, um documento com acontecimentos e

    informaes importantes para nossa ao educativa. E na escrita do registro podemos sentir

    falta de especificidades de alguns acontecimentos e de alguns elementos que se tivssemos

    realizado uma observao mais criteriosa, mais detalhada, mais focada em alguns detalhes,

    tais elementos enriqueceriam o atual e os prximos registros, bem como a nossa ao

    educativa.

    Ento como um ciclo no qual vamos planejando e replanejando as propostas

    pedaggicas com intencionalidade, pensando na organizao dos espaos, dos tempos

    (principalmente no tempo da criana) e dos materiais utilizados nas respectivas propostas,

    alimentado pelas observaes que vamos realizando do vivido.

    Registro

    Aps as primeiras aulas acerca das bases fundamentais da rea e do que o estgio na

    mesma, fomos nos encontrar com o campo de estgio, local onde nossos registros nasceram

    das nossas observaes, indo ao encontro com as teorias at ento estudadas.

    Em nosso primeiro dia de observao e registro no grupo G2, sentamos no canto da

    sala, com uma caneta e um bloco de anotaes, para registrarmos momentos que nos

    chamassem ateno, mas tivemos que deixar de lado o registro escrito porque os bebs

    pegavam nossas canetas e papis e faziam desenhos em nossos blocos de anotao. Ento a

    partir desse dia optamos por realizar registros imagticos, batendo fotos com nossos celulares.

    Nossos registros imagticos, no tem a inteno de ser ilustrativos, ns procuramos

    realizar o que nos apresenta a autora Stela Guedes Caputo em seu artigo Fotografia e

    pesquisa em dilogo sobre o olhar e a construo do objeto 2001, de que a fotografia

    contribui para um olhar ativo, um olhar observador, um olhar examinador, um olhar

    intencional, com isso iremos olhar ativamente, portanto iremos ver ao invs de somente olhar.

  • 16

    Com a leitura de Caputo (2001), percebemos que nossos registros imagticos no

    poderiam ser fotos de qualquer momento, nem de qualquer local da instituio, por se tratar

    de um texto sensvel que d ao leitor uma leitura por outras vias que no s a via cognitiva.

    Os nossos registros imagticos tiveram um foco, pois os mesmos nos revelaram

    acontecimentos que analisamos e refletimos posteriormente, nos auxiliando na elaborao dos

    planejamentos e replanejamento das vivncias.

    Ao realizarmos as vivncias ns sempre participamos das mesmas, seja na organizao

    do espao bem como dos materiais a serem utilizados, auxiliando a professora e a auxiliar

    quanto ao cuidado das crianas diante das vivncias propostas por ns, ou participando

    diretamente junto s crianas quando necessrio (quando as mesmas nos pegavam pelas mos

    ou nos puxavam pela roupa, nos levando onde queriam) no foi possvel termos em mos

    cadernos e canetas para realizarmos o registro escrito durante as vivncias.

    Por sentirmos essa dificuldade de realizarmos o registro escrito, optamos pelo registro

    imagtico em todas as vivncias, sendo esses ferramentas para a construo posterior do

    registro escrito, consequentemente do planejamento/replanejamento e tambm a avaliao do

    vivido,

    (...) outra razo para registrarmos, encontra-se no fato dos registros serem

    fundamentais para a construo do planejamento e de aes intencionais nos

    contextos de educao infantil, assim como sua avaliao permanente, (...)

    para avaliar o proposto, planejar e replanejar as experincias educativas a

    serem propostas e as formas de organizao dos espaos, dos tempos e dos

    materiais (FLORIANPOLIS SME, 2012 p.06-07).

    Avaliao

    Avaliao, uma das ferramentas de ao pedaggica, um instrumento fundamental

    para a reflexo sobre a nossa prtica docente. Ao buscar sempre melhorar nossas propostas

    para as crianas a dupla decidiu participar ativamente em todas as vivncias junto aos bebs,

    para podermos experimentar e enxergar o que eles tambm esto experimentando e

    vivenciando com as propostas.

    Com a nossa participao ativa em todas as vivncias, priorizamos focar na

    observao minuciosa dos acontecimentos, a fim de memorizar detalhes primorosos sendo

  • 17

    importantes informantes acerca do grupo, que poderiam ser gestos, sorrisos, gritos, balbucios,

    pulos, ou qualquer reao vinda das crianas em relao a cada vivncia. Tambm

    observamos se houve alguma diferena na reao das crianas em relao s vivncias

    realizadas dentro e fora da sala.

    Realizamos nossa avaliao no com fins de seleo, nem de comparao, nem de

    classificao, mas levamos em considerao s especificidades, a subjetividade, as

    particularidades de cada criana, assim como consta no prprio Projeto Poltico Pedaggico

    da Instituio:

    importante considerar que cada criana nica e como tal, adjetivar seu

    processo de desenvolvimento enquadr-la e resumi-la a padres que negam

    as diferenas e as relaes sociais, econmicas e culturais em que cada

    sujeito se constitui, negar o desejo de fazer a diferena com as propostas e

    vivncias que cotidianamente planejamos, reduzi-la a modelos de

    desenvolvimento que massificam e subjugam... Queremos trazer o que

    constitui cada criana como ser nico, em processo de desenvolvimento,

    com um mundo repleto de desafios e possibilidades a serem explorados

    (PPP, 2014, p.29).

    Planejamento

    Para realizar o planejamento na Educao Infantil essencial a utilizao das

    ferramentas de ao pedaggica como j apresentamos anteriormente. Ferramentas estas, que

    vo desde a observao diria do cotidiano das crianas, seguida do registro das mesmas

    sejam eles de origem escrita, imagtica ou filmagens, junto anlise desses registros, vo

    permitir que o(a) professor(a) avalie o proposto, pois vai conhecendo as crianas do seu grupo

    em suas interaes sociais, suas brincadeiras, nas mais diversas formas de linguagens e

    contextos comunicativos, possibilitando planejamentos e replanejamentos da sua prtica

    docente.

    Concordando com as Orientaes Curriculares de Florianpolis (2012), ns

    elaboramos os nossos planejamentos a partir dos registros das observaes feitas durante os

    dias em que estivemos presentes no G2 no NEI Colnia Z-11, onde ao conhecermos as

    crianas, identificamos alguns interesses por parte das mesmas no que tange ao manuseio de

  • 18

    caneta esferogrfica, lpis e os nossos cadernos de registros, a professora do grupo nos

    informou que as crianas ainda no tinham contato com esses materiais em sala e a mesma

    exps na reunio pedaggica com as famlias que a introduo de tais materiais faz parte do

    seu projeto pedaggico.

    Nossos registros nos levaram a planejar vivncias nas linguagens plsticas mais

    expressivas, que sugerimos o uso da tinta guache para proporcionar as crianas esse momento

    de expressarem-se atravs do guache.

    Consideramos a importncia de

    Pensar na presena da arte como um componente do projeto educacional-

    pedaggico na educao infantil considerar a caracterstica de um campo

    de conhecimento que no se define pela norma, pois no h regras fixas no

    modo de produo da arte, suas linguagens so territrios sem fronteiras

    (FLORIANOPOLIS-SME, 2010, p. 56).

    Trazemos a contribuio de Ostetto (2000), para traduzir o que a dupla sentiu, e o

    que compreendeu sobre o ato de planejar, e tambm porque concordamos com a autora, no

    que se refere em buscarmos propostas que consideramos significativas para aquele grupo,

    segundo nossos apontamentos referidos anteriormente.

    Planejar essa atitude de traar, projetar, programar, elaborar um roteiro

    para compreender uma viagem de conhecimento, de interao, de

    experincias mltiplas e significativas para/com o grupo de crianas.

    Planejamento pedaggico atitude critica do educador diante de seu trabalho

    docente. (OSTETTO, 2000, p.177).

    Concordamos com a autora quando afirma que o ato de elaborar um planejamento

    envolve escolhas de contedos e formas advindas do modo como o professor v educao, a

    criana, o mundo ao seu redor e atento s necessidades das crianas em sala, ele vai lapidando

    o seu planejamento a partir do que acha importante ou no abordar com as crianas, foi

    pensando assim que realizamos nossos planejamentos para as crianas do GII, e sem esquecer

    que devemos ter cautela quanto aprendizagem, uma vez que no devemos fazer um

    planejamento voltado para a existncia da criana ideal, ou seja, devemos levar em conta

    que cada criana um ser, um sujeito histrico e de direito, e com isso cada uma possui uma

  • 19

    caracterstica histrica de contexto e origem sociocultural que diferencia das demais,

    conforme nos alerta Ostetto (2000).

    Outro aspecto que foi fundamental para execuo de nossos planejamentos, o fato

    de acreditarmos que o tempo da criana diferente do tempo do adulto, no que se refere s

    produes, a realizao das vivncias, a plenitude com que as crianas se entregam

    literalmente da cabea aos ps, sem pensar no depois, sem preocupaes com horas nem

    minutos, eles simplesmente vivem aquele momento com intensidade.

    Por isso, decidimos respeitar esse tempo das crianas ao realizarmos nossos

    planejamentos, mesmo estando cientes de que existe uma rotina da prpria instituio, isso

    no nos impediu de planejar momentos flexveis, no sendo estticos e nem rgidos. Pois a

    rigidez da rotina no pode se tornar uma barreira, ela limitadora e tem que ser respeitada em

    muitos aspectos, mas isso no nos impede de pensarmos em possibilidades de driblar essa

    rotina.

    Trazemos como base Tristo, que vai ao encontro do que pensamos referente a no

    deixar que a rotina impea a realizao se novas experincias:

    (...) bastante tnue a fronteira entre os reais impedimentos estruturais e a

    acomodao ou o temor de fazer diferente, ou ainda, o deixar que a rotina

    atropele oportunidades de novas experincias (TRISTO, 2006, p.42).

    Ao concluir trazemos como referencia Ostteto, ao esclarecer que um planejamento

    bem feito traz em si, a entrega do professor ao se permitir mergulhar juntamente com as

    crianas no mundo da descoberta, do desconhecido, ao construir junto com seus educandos, a

    identidade do grupo e de cada criana e complementa sua fala ao citar Machado (1996, p. 8)

    que diz o pedaggico no a atividade em si que ensina, mas que a possibilidade de

    interagir, de trocar experincias e partilhar significados que possibilita s crianas o acesso a

    novos conhecimentos.

    Aprofundando saberes sobre o replanejamento

    Nesse eixo do memorial iremos destacar brevemente as principais vivncias que

    marcaram a nossa experincia do estgio no NEI Z-11, onde cruzaremos os textos tericos

    com as aes vividas nele, aprofundaremos a cerca da necessidade e da importncia do

  • 20

    replanejamento pelo o que vivemos contundentemente junto ao G2, haja vista que situaes

    ou acontecimentos imprevistos ocorrem e precisam ser pensados de modo que o planejamento

    possa ser organizado prevendo as possibilidades dos mesmos terem de ser replanejados.

    Ao buscarmos embasamento terico que abordasse sobre o imprevisto no

    planejamento, nos deparamos com Catarsi (1994) o mesmo defende que o planejamento

    enquanto uma programao, no precisa ser composta com extrema rigidez e defende um

    planejamento cuja elaborao todos participem e que leve em conta a observao constante

    das necessidades infantis, onde:

    Em primeiro lugar, se os objetivos so adotados como referncias pelo

    educador, para seu prprio consumo, a situao real continua aberta s

    experincias das crianas, que podem inclusive contribuir para enriquecer

    estes objetivos. Por outro lado, quando os objetivos so previamente

    definidos, tornam possvel a verificao e avaliao dos resultados obtidos

    (BUFALO apud CATARSI, 1999, pg. 121).

    E quando ns pensamos, planejamos vivncias para o G2, foi principalmente

    pensando em cada beb, o que cada um poderia ou no poderia fazer, o que cada um gostaria

    ou no gostaria de fazer, e a cada planejamento, a cada observao e registros das vivncias,

    amos nos surpreendendo mais e mais com todos eles, aconteciam imprevistos que ns no

    tnhamos pensado o que fazer, ou no tnhamos nos preparado para um plano B, mas

    mesmo com estes imprevistos, em nossos planejamentos e vivncias os bebs no s

    alcanaram nossos objetivos, como tambm os superaram nos surpreendendo bastante.

    Fizemos vivncias com tinta guache, com livros na biblioteca, com argila, entre

    outras, e em cada uma delas, aprendemos que o planejamento no rgido e nem esttico, ele

    tem que ser flexvel malevel a modo de contemplar o momento e o ritmo dos bebs, as suas

    contribuies, suas manifestaes e suas diferentes formas de expresso. Como podemos

    perceber nos registros escritos e imagticos que seguem:

    No dia 05 de maio do decorrente ano, cuja proposta planejada era uma

    vivncia com tinta guache, proporcionamos s crianas uma vivncia em que

    pudessem se exercitar atravs das linguagens plsticas mais expressivas,

    uma vez que o grupo ainda no havia passado por essa experincia. Ento no

    cho da rea externa da sala (denominada Solrio), esticamos grandes folhas

    de papel pardo, com diversas cores de tinta guache que colocamos em 6

    bandejas de isopor sem antes pensar na quantidade de tinta que

  • 21

    disponibilizaramos em cada bandeja. Nossa intencionalidade nessa ao

    pedaggica era que as crianas pudessem expressar-se livremente sob o

    papel, sejam com os ps, com as mos, ou com os braos e pernas, nossa

    inteno era que seus pequenos corpos fossem a principal ferramenta,

    visando dessa forma expresso corporal das crianas. (Registro de

    Fernanda e Kenya, Maio, 2014).

    A princpio tnhamos como objetivo, observar as aes das crianas ao se depararem

    com as bandejas cheias de tintas, bem como as grandes folhas de papel pardo espalhadas pelo

    cho como se fossem tapetes para caminhar, deitar e rolar, assim como fazem no espao da

    sala do G2.

    Porm ao levarmos os 12 bebs para o local das tintas, ns nos deparamos com a

    necessidade do nosso primeiro replanejamento, pois fomos orientadas pela professora de sala

    que seria muito difcil ou quase impossvel realizar a vivncia com todo o grupo, pois para

    muitos deles seria o primeiro contato com tinta, ento teramos que ter bastante ateno em

    cada beb ao primeiro toque da tinta, o que seria muito difcil fazer com os 12 bebs ao

    mesmo tempo, ento replanejamos o planejamento ao realizarmos a vivncia em trs grupos

    de quatro bebs a cada vez.

    Nessa vivncia, ns nunca imaginamos que os bebs iriam explorar as tintas ao

    mesmo tempo e se surpreender com a criao de outras cores, e foi isso que aconteceu, por

    exemplo, com a beb Zo.

    Inicialmente ela estava com a tinta azul nas duas mos, e colocou uma das

    mos na bandeja com a tinta amarela, passou uma mo sobre a outra e notou

    a mudana das cores, transformando-se em verde. Na mesma hora ela

    esticou os braos abrindo as mos dizendo assim: Vedi, vedi foi uma descoberta, um aprendizado, uma conquista que ela mesma realizou

    literalmente com as prprias mos, e para ns estagirias foi muito

    gratificando ter proporcionado esse momento Zo. (Registro Fernanda e

    Kenya, Maio, 2014).

    Essa vivncia em especial experimentada pela Zo, nos fez refletir no trecho do NAP

    de Linguagem Visual, onde:

    Devemos ter presente que os bebs, de modo mais intenso, descobrem o

    mudo atravs do prprio corpo, dos objetos e dos elementos da natureza com

    os quais eles tm possibilidade de interagir, descobrir e experimentar. Assim,

    os bebs devem ser inseridos no mundo das sensaes, das materialidades,

    formas, linhas, cores, espao, pontos, imagens, texturas e volumes diversos e

    desafiados a desvendar de modo sistemtico, e cada vez mais complexa esse

    mundo [...]. Devemos propor situaes nas quais crianas pequenas

  • 22

    investiguem maneiras de criar e deixar marcar feitas pelo movimento das

    mos, dos ps, enfim, do corpo todo em diferentes suportes

    (FLORIANPOLIS, 2012, p.08).

    Aps a descoberta da Zo, observamos que os demais bebs tambm mostraram

    interesse em misturar as cores, ento novamente nos deparamos com o replanejamento da

    vivncia j planejada, uma vez que pegamos as bandejas das tintas azul, verde, amarelo,

    vermelho e branco, convidamos os bebs para tambm passarem as mos sobre diferentes

    cores de tintas, a fim de mistur-las obtendo novas cores.

    Diante dessa situao criada por Zo, ns estagirias, nos identificamos na condio

    de aprendiz, e mais uma vez concordamos com a autora ao destacar que o imprevisto no

    importante somente para a criana, tambm importante para o adulto, pois lhe proporciona a

    possibilidade de descobrir e conhecer a criana, logo o adulto tambm posto na condio de

    aprendiz. E por meio da observao que o adulto se coloca na posio de aprendiz, e passa a

    conhecer melhor a criana, permitindo responder ou ao menos tentar responder s suas

    necessidades e ao inesperado.

    E pensando nas instituies de educao infantil como um local de educao no s

    das crianas, mas tambm do adulto, trazemos o seguinte excerto:

    [...] a partir da iniciativa da criana, que introduz o inesperado e o no

    planejado, necessrio que o adulto seja capaz de interpretar e

    reorganizar as condies do momento sem, no entanto, esquecer-se dos

    objetivos propostos. Nessa perspectiva, o adulto pode ser considerado

    tambm um aprendiz na medida em que, ao observar, conhece a criana e

    responde (ou ao menos tenta) s necessidades e ao inesperado (BUFALO,

    1999, p.12. Grifo nosso).

    Diante do excerto citado, consideramos que ao aceitarmos os momentos inesperados,

    criados pelas crianas nas propostas de vivncias, vamos dar maior voz a elas e nos

    posicionarmos como ouvintes e observadores, sendo assim, demonstramos que as crianas

    ocupam um lugar muito importante dentro da proposta educativa do grupo e da unidade.

    O registro imagtico a seguir, elucida alguns momentos da vivncia relatada acima.

  • 23

    Joseane Maria Patrice Bufalo em seu artigo O imprevisto previsto (1999), ressalta

    a importncia dos momentos de expresso da criana, momentos estes onde ir expressar sua

    criatividade, sua iniciativa, e tambm a sua forma de ver e pensar o mundo. Podemos assim

    compreender que ao efetivarmos os nossos planejamentos teremos toda a contribuio das

    diferentes crianas que compe o grupo. Indicando assim a importncia de mantermos

    ateno nesses possveis contributos. Podemos visibilizar pelos registros escritos e imagticos

    do dia 19 de maio importantes elementos para esta reflexo:

    Na vivncia da ida biblioteca, nossa proposta era levarmos os bebs at a biblioteca

    da instituio para que pudessem manusear outros livros alm dos que eles j tinham em sala,

    cuja intencionalidade era deix-los escolher quais livros quisessem, dos quais ns j havamos

    pr-selecionado, organizando o local, colocando um livro em cada almofada sobre o tapete,

    pensando que os bebs chegariam e iriam pegar um dos livros sentar-se no tapete ou na

    almofada.

    Nesse momento nos deparamos com o inesperado, foi bem difcil darmos conta do

    imprevisto, pois ao organizarmos a sala para os bebs explorarem os livros que j estavam

    pr-selecionados e posicionados sobre as almofadas, queramos que cada um escolhesse 1

    livro para explor-lo, e naquele momento perdemos o controle da situao pois

  • 24

    Ao chegarem na biblioteca, os bebs foram explorar o espao, o tempo, os

    objetos e os movimentos, demonstrando interesse nos livros que estavam nas

    prateleiras e no nos pr-selecionados por ns. Tamanha era a interao, que

    eles acharam uma forma divertida de brincar em derrubar os livros das

    prateleiras para o cho, o que na nossa viso de adulto, os livros jogados no

    cho viraram uma baguna, mas aos olhos dos bebs, aquela ao era mais

    uma descoberta em ver os livros carem, em ouvir as folhas baterem uma nas

    outras ao cair no cho, o qu gerou risadas nos bebs e ao mesmo tempo nos

    deixou tensas por no conseguirmos dar continuidade ao nosso

    planejamento. (Registro Fernanda e Kenya, Maio, 2014).

    Essa ao dos bebs nos fez refletir e questionar o nosso planejamento, e

    concordamos com Bufalo ao pontuar a importncia da observao, pois ao sairmos dali, ao

    registrarmos e refletirmos sobre esta vivncia, vimos necessidade de mantermos em ateno,

    a convico de que os planejamentos no so rgidos, como j tnhamos afirmado

    anteriormente, haja vista que o mesmo precisa ter essa abertura para a participao das

    crianas.

    Dessa vivncia, o que ficou para ns que as crianas do novos sentidos aos

    objetos, criam um novo olhar para a proposta apresentada e com isso vo descobrindo novos

    sentidos e funes, seja para um objeto, brinquedo ou uma brincadeira, seja para o mundo ao

    seu redor, onde cada criana desenvolve-se em ritmo e tempo diferente umas das outras, todos

    esses aspectos chamam a ateno para a importncia do professor manter em seu

    planejamento espao e tempo para o contributo das crianas sem cair em prticas

    espontanestas.

    Fica assim ressaltada a importncia da observao dos professores em que

    aprendemos a manter a ateno s contribuies que as crianas vo trazendo ao longo do

    nosso planejamento. E essa observao mais atenta se efetiva mais contundentemente no

    momento do registro, quando resgatamos os pequenos apontamentos em presena e as

    memrias, e ao refletir sobre o vivido cruzamos com as teorias e adensamos nossa

    compreenso sobre a prtica pedaggica, assim como ocorreu na vivencia da ida biblioteca,

    primeira experincia das crianas naquele espao, gerando dessa forma a curiosidade de

    explorar aquele espao, bem como os objetos que tinham l, esta novidade instaurou a

  • 25

    necessidade de explorao por parte dos bebes e novos aprendizados e sensibilidades em ns

    estagirias-professoras.

    O registro imagtico que segue abaixo contempla os dois momentos, o planejado

    (almofadas organizadas) e o inesperado (livros no cho).

    Tambm concordamos com Bufalo, quanto importncia da criatividade na prtica

    educativa, quanto possibilidade de replanejar a proposta sem perder seus objetivos, sua

    intencionalidade. Podemos visibilizar um exemplo dessa ao atravs do registro escrito e

    imagtico do dia 26 de maio que seguem abaixo:

    Nessa vivncia realizamos a pintura das peas de argila produzidas pelas

    crianas em um momento anterior, a princpio o planejamento era levarmos

    o grupo para o espao de artes da instituio que fica na rea externa ao lado

    do parque. Chegando ao local, aconteceu algo que no tnhamos previsto no

    planejamento e novamente nos deparamos com o imprevisto, os bebs se

    dispersaram e foram correndo para o parque, o que no teria problema

    adaptar essa ao vivncia, se o parque no estivesse todo molhado da

    chuva, ento nossa professora orientadora de estgio, nos sugeriu voltarmos

    para a sala e replanejarmos a vivncia no solrio, onde tambm um espao

    amplo, porm no molhado por ser coberto, para este replanejamento.

    Para esse replanejamento imprevisto, por sugesto da professora orientadora

    de estgio, colocamos a mesa que fica na sala do G2 no solrio e forramos

  • 26

    com a toalha j utilizada na mesa do espao de artes, e ao invs de dividi-los

    em pequenos grupos como nas vivncias anteriores, deixamos todos os bebs

    participarem simultaneamente, para que dessa forma pudessem vivenciar

    junto a pintura das peas de argila feitas por eles. (Registro Fernanda e

    Kenya, Maio, 2014).

    Aqui tambm ficou de aprendizado para ns que em alguns casos teremos que

    replanejar o planejamento, e ter criatividade para contornar situaes onde a natureza

    intervm, pois assim como nas vivncias anteriores, o inesperado pode surgir no s por parte

    das crianas, mas tambm pela natureza ou impasses de ltima hora, ento, por exemplo, no

    podemos deixar que um parque molhado pela chuva, acaba com o proposto. Abaixo

    apresentamos o registro imagtico da vivncia relatada a cima.

    Consideraes finais

    Antes de iniciarmos a escrita do memorial, ao olharmos para trs, vamos o estgio

    como algo assustador e tnhamos medo do desconhecido, pois estvamos invadindo o espao

    que no nos pertencia, ramos estranhos em meio s crianas, a professora, a instituio, a

  • 27

    sensao que tnhamos que ramos como os bonecos de Olinda, desengonadas em meio

    aos olhares atentos das crianas, atropeladas pelo carro alegrico que a observao, o

    registro, a reflexo.

    Ao partirmos para as vivncias da docncia no NEI, chegamos ali cheias de receios e

    angstias, mas tambm iniciamos essa docncia com olhares curiosos, animados, apaixonados

    e sonhadores, e era com esses olhares sonhadores que tivemos que ter cautela, haja vista que

    como iniciantes, tudo era novo, grande e rpido aos nossos olhos, nos programamos em olhar

    tudo o que estava ao nosso redor para que dessa forma nada passasse despercebido, porm

    tivemos que silenciar em alguns momentos a fim de observarmos os movimentos, os gestos, o

    modo como s crianas pensavam, expressavam seus desejos, preferncias, como entendiam o

    mundo ao seu redor, foi preciso olhar as crianas como sujeitos em diferentes contextos

    sociais, suas culturas, suas capacidades intelectuais, criativas, expressivas e emocionais,

    conforme nos mostra Rocha e Ostetto (2008, p. 104).

    Aprendemos durante a vivncia do estgio que no devemos subestimar as crianas,

    pois nem sempre a proposta ser feita com as crianas pequenas, realizada como o previsto,

    uma vez que elas do novas funes aos objetos, as brincadeiras, e para isso temos que estar

    preparadas para surpresas vindas das crianas, e foi dessas surpresas que trabalhamos e

    focamos o nosso memorial no planejamento e replanejamento.

    Ressaltamos aqui a importncia de permitirmos a expresso das crianas ao gerarem

    os momentos imprevistos, porque alm de possibilitar ao professor ser ouvinte e tambm

    observador, de conhecer as crianas com que trabalha, os momentos imprevistos podem ser

    extremamente enriquecedores, pois trazem expresses do imaginrio infantil, permitindo

    trocas de experincias entre as crianas, dando a oportunidade de a criana aprender a

    conviver com as diferenas, de ampliar seu repertrio de conhecimentos revelando a criana

    como sujeito ativo no processo educativo na Educao Infantil, e fundamentalmente permitem

    aos adultos conhecerem a criana atravs de suas formas de comunicao e expresso.

    Considerando a especificidade da Educao Infantil como sendo a primeira etapa da

    educao bsica cuja importncia do educar e cuidar so indissociveis, e tratando-se de um

    grupo de bebs com idades entre um ano e dois meses a dois anos, tomamos como

    aprofundamento da experincia que foi o estgio docente na educao infantil, os momentos

    imprevistos criados pelos bebs nas vivncias propostas, onde demos maior voz a elas e nos

  • 28

    posicionamos como ouvintes e observadoras, sendo assim, demonstramos que os bebs

    ocupam um lugar muito importante dentro da proposta educativa do grupo e da unidade, haja

    vista que as crianas so sujeitos de direitos.

    Iniciamos a escrita do memorial com muitas incertezas e inseguranas, uma vez que

    escrever produzir o memorial doloroso, porque samos da nossa zona de conforto em

    somente observar, precisamos colocar para o papel nossas aes e emoes, porm ao

    finalizarmos o terminamos com o sentimento de satisfao. Satisfao pela nossa parceria

    enquanto dupla, pelo aprendizado desse tempo de estgio, pela oportunidade de poder

    vivenciar, na prtica, os preceitos tericos que estudamos at o momento.

    Pensando profundamente sobre o que ns estagirias aprendemos com nossas

    experincias realizadas nas vivncias propostas no grupo G2, podemos afirmar que foram

    aprendizados no somente para nossa formao acadmica, nem formao profissional, foram

    tambm para nossa formao de vida.

    Referncias:

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  • 30

    4. IMAGINAO E BRINCADEIRAS NO DIA A DIA COM AS CRIANAS

    Francine Gomes da Silva

    Kachiri Carminati dos Santos

    Cantinho das crianas

    O Grupo 3 e 4 composto por 20 crianas entre a faixa etria de 2 anos 4 anos, que

    frequentam o NEI no perodo vespertino. Uma professora efetiva, com pedagogia e vinte e

    sete anos de docncia e uma auxiliar do Grupo, efetiva, com magistrio, pedagogia e ps-

    graduao em Gesto e tm doze anos de docncia. chamado de grupo misto, o grupo

    tambm tem a professora de Educao Fsica efetiva, formada em Educao Fsica, com dez

    anos de docncia na Educao infantil.

    O espao da creche bem amplo e verde, alm das salas serem bem espaosas e a

    colhedoras, tambm possui um parque com caixa de areia, balanos de pneu, balanos de

    avio, gangorra, escorregador com tnel, escorregador, casinha, entre outros e no tempo que

    ficamos, percebemos como o espao do parque bem explorado pelas crianas, um

    momento que elas adoram. Percebemos isso atravs dos sinais que elas nos diziam, como por

    exemplo, a euforia ao dizer que amos para o parque. Ou at mesmo quando fazamos

    atividades fora da sala o primeiro lugar para onde as crianas iam era o parque.

    No espao da sala contm duas mesas uma retangular e outra hexagonal com

    bancos e cadeiras, um espelho mdio fixado na parede na altura das crianas. Possui um

    cantinho da leitura onde tem livros e banquinhos, cantinho da casinha onde se encontra

    bonecas, varal, loucinhas. Localizada no funda da sala h um armrio grande que fecha toda a

    parede onde so armazenados os materiais, a bandeja com copos e gua, caixa com os itens de

    higiene de cada criana. Localizada a frente, h trs janelas de frente para o parque. No

    espao entre as duas salas encontram-se o banheiro, que usado pelas crianas dos dois

    grupos. Nas paredes esto expostas as atividades realizadas com as crianas.

    Moradores da Barra da Lagoa, as crianas e os profissionais do NEI tm o privilgio

    de possuir espaos que possibilitam o contato dos mesmos com a natureza. Um espao que

  • 31

    possui um parque bem estruturado, com areia e demais elementos que ampliam as

    possibilidades de movimentao corporal das crianas.

    Ao conviver com as crianas e professoras do Grupo 3 e 4, do NEI Colnia Z 11,

    pudemos melhor compreender o que indica Tristo (2006) sobre o entendimento de que

    educar crianas to pequenas em ambientes coletivos uma profisso caracterizada pela

    sutileza.

    As professoras do Grupo 3 e 4 tm uma prtica reflexiva acerca dos indicativos que as

    crianas do no dia-a-dia. Toda a prtica desenvolvida proposta atravs de indicaes

    voluntrias que as crianas expressam em suas vivncias. E em grande parte do tempo, em

    que permanecem no NEI, as crianas e as professoras esto envolvidas em atividades como:

    chegada, momento da roda, da chamada, alimentao, vivncias, parque, higiene e sada. Em

    todos esses momentos podemos observar que as professoras objetivam as suas prticas

    sempre com um propsito pedaggico.

    Nas prticas pedaggicas desenvolvidas pela professora e auxiliar fica evidente a

    sutileza com que elas interagem e se relacionam com as crianas. Exemplos simples que

    mostram essa sutileza, so os momentos da roda, que s vezes algumas crianas no esto se

    concentrando a professora chama a criana com calma sem alterar a voz e a trs de volta

    para o ambiente da sala e ao momento da roda. Momentos das vivncias, algumas crianas

    no querem fazer, ento as professoras conversam com as crianas, mostram como legal e

    interessante a atividade e fazem com que elas realizem a atividade.

    A perspectiva da Pedagogia da Educao Infantil tem indicado a necessidade

    de colocar a criana como ponto de partida para a organizao do trabalho

    pedaggico e de ensaiar uma aproximao aos universos infantis buscando

    estranhar o que parece familiar, pois todos os dias vemos as crianas

    brincando, chorando, dormindo, comendo, desenhando... e isto no tem

    ressonncia, no tem eco na organizao do trabalho pedaggico.

    Conseqentemente estes e tantos outros dos seus modos de viver no tm

    sido considerados pontos relevantes para refletirmos sobre a organizao do

    cotidiano das crianas e o viver da infncia nas instituies de educao

    infantil. (CERISARA, 2002, [s/p]).

    Essa perspectiva da Pedagogia na Educao Infantil nos possibilitou enquanto alunas

    do curso de Pedagogia ter uma aproximao com esse universo, muitas vezes ainda

    desconhecido por ns.

  • 32

    Ao olhar as fichas das crianas, percebemos e conhecemos um pouco da vida da

    criana, de onde vieram, onde moram, com quem moram, profisses dos pais ou responsveis

    e a renda, nessa turma a renda da famlia das crianas vai de R$530,00 R$5.350.00 reais.

    Atualmente todas as crianas do grupo moram na Barra da Lagoa e Fortaleza da Barra.

    Abaixo os dados obtidos das fichas de cada criana:

    Crianas Data de

    Nascimento

    Natural de: Mora com:

    Ana Paula 05/07/2010 Ararangu Pais e irmos

    Carolinna Minorelli 17/04/2010 Torino-Itlia Pais e irm

    Catharina Felippe Martins 28/08/2011 Florianpolis Pais

    Davi Bittencourt Furtuoso 16/12/2011 Florianpolis, Pais.

    Diego Vieira de Oliveira

    Ferreira

    01/12/2010 Florianpolis Pais e trs irmos

    Felipe Ribas Funagali 16/09/2010 Rio Grande do

    Sul

    Av e tia menor

    de idade

    Isadora de Bastian Lemos 29/11/2010 Florianpolis Pais e Irm

    Julia Vitria Florindo 01/03/2011 Florianpolis Pais

    Karina Sagaz Lemos 28/03/2011 Florianpolis Pais e irmos

    Luiza dos Santos Eufrzio 17/07/2010 Florianpolis Pais e irm

    Luiza Luz da Silva 20/05/2011 Florianpolis Pais

    Maria Eduarda Da Silva do

    Esprito Santo

    03/03/2011 Florianpolis Pais e trs irmos

    Marina da Fonseca Silva 06/10/3011 Florianpolis -

  • 33

    Alves

    Matheus Carvalho da Silva 07/06/2011 Florianpolis Pais

    Miguel Gonalves Arago

    Sena

    26/05/2011 Florianpolis Pais

    Natally Garbim Ribeiro 25/08/2011 Florianpolis Pais

    Rafaela Rocha Ferreira 22/04/2011 Porto Alegre Pais e Irmos

    Sophia Flor Esteves 20/01/2011 Florianpolis Pais

    Vicente Miranda Vieira 03/01/2011 - Pais

    Aprendendo a ser professora das crianas pequenas

    Assim que chegamos para nossas primeiras observaes nos Grupos 3 e 4, percebemos

    que tnhamos que chegar com muita naturalidade, pois nossa preocupao tambm era uma

    possvel rejeio por parte das crianas, j que ramos adultos estranhos dentro de um espao

    que era somente delas e das professoras responsveis.

    Porm desde o primeiro dia de observao fomos muito bem recebidas pelas crianas

    e pelas professoras, claro que tivemos que encarar alguns olhares e algumas atitudes de

    distanciamentos porque alguns ainda estavam desconfiados de ns. Mas com o passar dos dias

    e das nossas aproximaes se tornarem constantes fomos ganhando o carinho e a confianas

    dos pequenos, com a parceria das professoras que em todos os momentos estavam sempre

    dispostas a nos ajudar, nos dando dicas, nos ensinando por meio de seus gestos de muita

    delicadeza, muito carinho, muita compreenso com cada uma das crianas nos ajudavam

    principalmente a perceber o que ser professora na Educao Infantil.

    Percebemos ao longo das nossas observaes e evidenciamos isso em nossos registros,

    o quanto importante a parceria entre as professoras e do quanto a docncia compartilhada se

    faz presente na rotina do grupo. Alm da ajuda das professoras, nossa querida orientadora foi

  • 34

    tambm grande responsvel por esse trabalho, sempre intervindo quando necessrio, nos

    ajudando nas observaes, registros, planejamentos, enfim nos ajudando a abrir nosso

    caminho para nossa iniciao na Educao Infantil.

    Planejar: Um olhar atento aos indicativos das crianas

    Aps o perodo de observao, demos inicio a elaborao do planejamento da nossa

    docncia com o Grupo III e IV. Nossas reflexes tiveram como base o texto Planejar na

    Educao Infantil: mais que atividade, a criana em foco, de Luciana Ostetto (2000), e nas

    Orientaes Curriculares. Esses textos nos deram subsdios para entendermos o que planejar

    na educao infantil, nos indicando, assim como outros textos j estudados, que nessa etapa

    da educao se visa planejar aes a serem desenvolvidas junto s crianas partindo de sua

    rotina.

    Segundo Ostetto (2000), no processo de elaborao do planejamento o educador vai

    aprendendo e exercitando sua capacidade de perceber as necessidades do grupo de crianas

    (p.178). E a partir disto que percebemos a importncia do registro dirio, pois como

    professoras devemos estar atentas a toda forma de expresso das crianas que indicam suas

    necessidades.

    Ao fazer nossos registros de observao, alm da folha e da caneta, usamos o registro

    fotogrfico. O registro de imagens uma interpretao do fotgrafo, mas, ao mesmo tempo,

    um redefinidor de significaes e sentido.

    ao regular a abertura de sua mquina, ao optar por este ou aquele filtro de

    luz, ao decidir que velocidade ser usada na hora do clic, ou seja, no exato momento da captura do objeto a ser fotografado, o fotgrafo o faz baseado em seus pressupostos tericos. (CAPUTO, 2001, p. 6).

    Estar atento, observar e registrar as relaes das e entre as crianas no espao

    educativo pea chave para o rendimento de um bom planejamento, j que planejamento no

    tem receita e um exerccio constante de questionamento sobre o que fazer, mas,

    principalmente, sobre para que e para quem fazer (OSTETTO, 2000, p.176). importante,

  • 35

    tambm, que o planejamento seja flexvel, em constante movimento e no engessado,

    contento sim a participao das crianas.

    Comeamos a planejar em dilogo com as aes da observao e do registro escrito e

    visual. Foi partindo de nossos registros que nossos planejamentos estiveram todos voltados

    para a brincadeira e a imaginao. No ato de planejar estivemos atentas orientao de que na

    educao infantil o desenvolvimento das proposies se preocupa em ampliar e diversificar o

    acesso das crianas a outras linguagens, sempre por meio da brincadeira na qual a imaginao

    e a fantasia esto presentes, resultando na produo de novas aes pelas crianas e

    possibilitando o surgimento de relaes entre as crianas e os adultos.

    Nossas proposies foram elaboradas de modo que as crianas pudessem explorar de

    modo significativo os espaos da instituio e at mesmo o da prpria sala. Nesse sentido,

    planejamos proposies para os espaos da sala e tambm para o parque.

    Contribuindo para a imaginao em nossas vivncias

    Todas as nossas proposies tiveram como objetivo desenvolver ainda mais a

    imaginao das crianas, pois, nesse grupo as crianas nos deram indicativos de que a

    imaginao um dos principais combustveis que movimentam suas vivncias na Educao

    Infantil j que A infncia a grande fonte da nossa vitalidade imaginria. (GIRARDELLO,

    2005, p. 03). Nossos principais instrumentos para que pudssemos desenvolver ainda mais a

    imaginao das crianas foram propor vivncias que estivessem presentes as contaes de

    histrias, as artes, as rodas de conversas com as crianas e principalmente as brincadeiras dos

    diversos espaos da instituio.

    Em muitas de nossas primeiras observaes pudemos perceber a presena dos livros

    de histrias na sala, e como as crianas ficavam envolvidas com eles nas suas brincadeiras.

    Elas traziam para as suas brincadeiras personagens e palavras que ouviam durante a contao

    da professora, que sempre utilizava tambm da sua imaginao para chamar ateno e deixar

  • 36

    a histria mais interessantes, despertando assim o interesse nas crianas em ouvir determinada

    histria.

    Observando-as e escutando-as aprendemos a respeit-las, a compreender

    suas aes e experincias, seus processos de desenvolvimento,

    conhecimentos, e modos de expresso. A construo de um olhar

    constantemente voltado s crianas e suas experincias abre caminho para

    uma prtica pedaggica significativa que efetivamente considera e qualifica suas produes e reprodues culturais. (FLORIANPOLIS, 2012,

    p.43)

    Ao propormos a contao de histria, desde o incio, tentamos utilizar dos mesmos

    artifcios que a professora, pois sabamos que surtiria talvez o efeito que desejvamos o

    mesmo efeito que ela causava nas crianas. Claro que no ficou igual, porm as crianas no

    se mostraram menos interessadas. Durante o decorrer de toda docncia pudemos notar o

    quanto importante o uso da literatura na educao infantil para desenvolver a imaginao

    das crianas.

    Nas histria desenhadas e contadas pelas crianas apareceram: Meninos e

    meninas, jacar, dinossauro, tartarugas, prncipes e princesas, carro, boi,

    cavalo, bernuna, drago de quatro dentes e at o Bem 10. Essas vivncias

    serviram para desenvolver ainda mais a imaginao das crianas, pois se no

    for desenvolvida a criana ter uma imaginao limitada. (Registro:

    05/05/14)

    Nessa proposio em especial conseguimos unir narrativa e imaginao. Depois de

    narrarmos histria s crianas, demos a elas a oportunidade de fazer a sua prpria histria.

    Cada criana usou sua autonomia para criar suas histrias e ao narrarem cada uma a sua

    histria podemos conhecer um pouco mais de cada uma, pois, em suas histrias algumas

    desenharam e contaram mostrando acontecimentos e pessoas presentes em sua vida. Isso

    oportunizou tambm a busca em suas lembranas talvez desses momentos e pessoas.

  • 37

    Foto1: contao de histria

    Ao continuarmos nossa busca de nos formarmos professoras da Educao Infantil e

    alimentar os repertrios imaginativos das crianas propusemos a caa ao Livro perdido, pois

    durante o tempo que ficamos na instituio pudemos perceber que o espao tambm se

    constitui como um terceiro educador, e isso efetivamente se confirma na organizao do

    espao feita pelas professoras, alguns cantinhos, como da leitura, chamada, de brinquedos e o

    que nos abriu o caminho para essa vivncia que foi o cantinho das fantasias.

    O espao nessa perspectiva representa um terceiro educador, junto com os

    demais profissionais da sala. Contudo no um educador, formado por si

    mesmo ou pelo acaso, mas sim pela ao humana, primeiramente pela ao

    dos adultos que, de forma consciente ou no, vo circunscrevendo nele suas

    concepes a respeito das crianas, de seu papel e das relaes a serem ali

    vivenciadas. Ele se transforma num lugar pelas marcas sociais e pessoais que

    os sujeitos vo lhe conferindo em suas relaes, (SCHMITT, 2011, p. 25).

    Podemos visualizar a vivncia da proposta em nosso registro do dia 20 de maio, que

    segue:

    medida que amos encontrando as pistas as crianas ficavam mais

    ouriadas e empolgadas para encontrar mais pistas que chegasse at o

    tesouro. Vicente estava muito feliz e assim que achou sozinho uma das pistas ele disse para ns: Pode deixar que eu vou encontrar mais pista! Era

    um tal de empurra empurra que a estagiria Francine chegava a quase cair no

    cho.

  • 38

    Quando a estagiria Francine entrou na sala fantasiada de pirata as crianas ficaram

    assustadas - olhos arregalados, sussurros e trocas de olhares entre eles e as professoras

    algumas falavam que era a estagiria Francine outras diziam que era mesmo a pirata.

    Entretanto, ao longo da roda de conversa, as crianas ficaram convencidas ou entraram na

    brincadeira de que era realmente um pirata que estava falando com elas e lhes pedindo uma

    ajuda para encontrar seu tesouro.

    Queramos utilizar todos os recursos disponveis na instituio para proporcionar

    momentos j conhecidos por elas, porm explorados em lugares diferentes. Por isso

    escolhemos a parte externa da creche, muito ampla, rica em verde e com outras

    possibilidades. Foi interessante o desenrolar dessa vivncia, pois, usamos imagens parecidas

    com os locais existentes na creche, com dicas escritas que auxiliassem as crianas a

    descobrirem que lugar era aquele onde estaria escondida a prxima pista e assim chegar ao

    tesouro: O Livro! Foi um momento onde as crianas tiveram que usar seus conhecimentos

    prvios e sua imaginao para chegarem ao lugar certo e enfim achar o tesouro do Pirata.

    Pensar o espao da creche, a forma como ele se torna lugar socialmente

    construdo pelas crianas e adultos que o habitam, exige que incluamos as

    crianas, que consideremos suas manifestaes e expresses e seus pontos de

    vista, concebendo-as como seres sociais plenos, com especificidades

    prprias desta etapa da vida. (AGOSTINHO, 2003, p. 05).

    Foto 2: contao de histria com a pirata

  • 39

    Observamos do aqui apresentado na vivncia do pirata o quanto as prticas na

    Educao Infantil precisam estar atentas a diferenciar os espaos e os elementos constitutivos

    do mesmo, assim proporcionando criana a ampliao das suas possibilidades de

    manifestaes, expresses e ponto de vista.

    Depois de utilizarmos a fantasia como um elemento de ampliao dos repertrios de

    brincadeiras e imaginao das crianas, propomos uma vivncia em que elas continuassem

    ampliando ainda mais a sua imaginao, pois segundo GIRARDELLO (2005) possvel

    educar a imaginao infantil, cultiv-la como se faz com a inteligncia ou a sensibilidade. H

    mesmo quem diga que a tarefa mais importante da educao a educao da imaginao,

    (p.04).

    Desde o inicio a proposio da massinha foi muito interessante, pois, como houve um

    imprevisto tivemos que fazer uma massinha caseira, para substituir a massinha pronta. Esse

    imprevisto no poderia ter vindo em melhor hora, pois fizemos juntos com as crianas e isso

    fez com que a vivncia ficasse melhor do que o que tnhamos planejado. As crianas estavam

    atentas a cada ingrediente colocado na bacia pela estagiria Francine. Ela mostrava e elas

    quase entravam na bacia, tamanha era curiosidade para ver como estava ficando.

    Foi ento que a estagiria Francine colocou a mo na massa, comeou a

    fazer a massinha, com as crianas ao seu redor olhando enquanto a estagiria

    Kachiri colocava os ingredientes. As crianas ficaram observando e olhando

    atentamente cada movimento das estagirias, at que Luiza Eufrzio falou

    que nojo pois, a massinha no estava no ponto e grudava na mo da estagiria Francine.(Registro: 19/05/2014)

    Nessa proposio, as crianas utilizaram muito os seus conhecimentos prvios, sua

    cultura e seus gostos. Cada uma modelou figuras que fazem parte da sua vida. As figuras que

    saram foram: cachorro, drago, microfones, sorvete, caracol, panquecas, bolinhas, bonecos,

    princesas. Figuras sempre muito presentes na dia a dia das crianas na instituio, vindas das

    suas relaes com as brincadeiras de parque e das contaes de histrias. Isso nos deixa claro

    que Os diversos aspectos sobre criana que aparecem nas diferentes produes artsticas

    mostram que a imaginao um lugar de memria. um lugar de ao. (HONORATO. p.

    01).

  • 40

    Foto 3: modelando com massinha

    E sendo assim da responsabilidade do professor enriquecer na imaginao da criana

    aspectos que tenham significado para a ela, com isso tornando a vivncia proposta mais

    prazerosa. O imaginrio infantil um elemento nuclear das culturas da infncia. As crianas

    desenvolvem a imaginao atravs das suas experincias de vida e as situaes que imaginam

    do-lhes o poder de compreender o mundo que habitam, (MARIA, p, 02).

    Ainda mais instigadas com os nossos objetivos j alcanados, muitas ideias vinham a

    nossa mente, a grande tarefa era selecionar aquela que fosse bem aceita pelas crianas do

    grupo. Sempre na busca por trazer vivncias em que pudssemos explorar a imaginao das

    crianas e tambm de proporcionar a elas momentos agradveis, de aprendizados de contato,

    de estmulo s relaes entre o grupo de uma forma geral, trouxemos para nossa docncia o

    contato com os fantoches. Junto com eles trouxemos tambm para a docncia livros

    disponveis na sala. A inteno era que eles utilizassem os fantoches juntos com os livros, que

    pudessem manuse-los a fim de contar as histrias disponveis, cada um claro, do seu jeito.

    A estagiria Francine, tambm entrou na brincadeira para convida-los a usar os dois recursos.

    Houve disputa pelos fantoches disponveis, principalmente por aqueles j bem conhecidos por

    eles de outras contaes de histrias.

    Levamos os fantoches dentro de uma sacola, a estagiria Francine fez um

    suspense a fim de deix-los curiosos com o contedo que havia dentro da

    sacola. Assim que tirou o primeiro fantoche percebeu que um dos nossos

    objetivos havia se efetivado, pois era ntido no olhar de cada um a surpresa e

    o encanto com aquele boneco. Foi tirando um por um: mdico, cachorro,

    saci, curupira, rato, ndio, foram muitos, at que chegou ao jacar e no lobo,

    e a foi um alvoroo s! Era quem mais podia chegar perto dos bonecos e a

  • 41

    disputa para t-los nas mos foi grande. Separou alguns livros que estavam

    na sala para que eles fizessem a utilizao do livro junto com os fantoches.

    Felipe queria muito brincar com o fantoche do lobo e assim que o conseguiu

    no o largou mais. (Registro: 21/05/2014).

    Nesse momento j havias alcanado mais um objetivo, pois as crianas ficaram muito

    envolvidas com ambos os recursos disponveis. A estagiria Francine pegou um livro que

    contava a histria de uma borboleta e usou o curupira para contar a histria. Eles ficaram

    concentradssimos ouvindo as histrias, com o olhar fixo na estagiria ao mesmo tempo

    alguns at interagiam respondendo aos questionamentos da estagiria sobre a histria, isso nos

    confirma que A necessidade de histrias tem sido identificada como um aspecto central na

    vida imaginativa das crianas. (GIRARDELLO, 2011, p. 82).

    Vicente pegou um livro e comeou a folhe-lo, pediu que a estagiria Francine

    contasse a histria e assim ela o fez. A maioria pegou um fantoche para brincar. O fantoche

    serviu como um instrumento de exerccio da imaginao juntamente com os livros, mesmo

    porque era esse o nosso objetivo, que as crianas fizessem uso dos dois.

    Nossa proposio coletiva foi importante para todas as estagirias, crianas,

    professoras e instituio, pois, houve um encontro planejado pelas estagirias com a ajuda

    tambm das professoras.

    Propomos um cantinho de leitura no parque. Colocamos um tapete, com a

    ideia e ajuda da professora Ktia colocamos um tecido verde, como se fosse

    uma tenda, e duas caixas dessas de madeira que tem nas feiras para colocar

    as frutas, para que colocssemos os livros. Ficou um cantinho muito

    aconchegante, no imaginvamos que ficaria desse jeito. (Registro:

    04/06/2014)

    Contamos histria e conversamos com muitas crianas de diferentes grupos. Foi um

    momento muito prazeroso e de muitas interaes com as outras crianas que no tnhamos

    muito contato. Elas ficaram ali sentadas, folheando, lendo os livros, pedindo para que

    lssemos os livros para elas. Nosso cantinho at que ficou bem movimentado, quase nem deu

    tempo de passarmos nas outras propostas. Algumas passavam de longe, s observando,

    chegavam perto, pegavam um livro queriam lev-lo para outro lugar.

    Percebendo o espao do parque como um lugar institudo nas instituies

    para a brincadeira livre, mas tambm, uma oportunidade para a criana se movimentar amplamente, fazer escolhas, determinar seus prprios tempos,

  • 42

    no qual a professora interfere pouco, deixando apenas seus olhos sobre elas,

    vejo o quanto importante refletir sobre a dicotomia instaurada entre

    espaos construdos (internos) e no construdos (externos), intramuros no

    cotidiano das Instituies de Educao Infantil. (FRANCISCO, 2005, p. 20).

    Foto 4: contao de histria no parque

    Uma menina a Jlia, acredito que ela do Grupo V, sentou e pediu para a estagiria

    Francine contar a histria da Chapeuzinho Vermelho, no incio ela estava bem concentrada,

    porm foi se dispersando, a estagiria comeou a dar mais nfase na histria mudando o tom

    da voz, lendo mais alto, pois no queria que ela sasse dali. Conseguiu fazer com que ela

    ficasse at o fim, e logo ela escolheu outra histria para ela contar de novamente.

    Com tudo isso, percebemos o quando importante o desenvolvimento da imaginao

    na educao infantil, pois, a criana brinca e constri o imaginrio a partir do seu contexto de

    vida. Cabe s professoras criar espaos para que as crianas possam realizar o mesmo.

    O brincar a condio da aprendizagem e, desde logo, da aprendizagem da

    sociabilidade. No espanta, por isso, que o brincar, o jogo e o brinquedo

    acompanhem as crianas nas diversas fases da construo das suas relaes

    sociais. (SARMENTO, 2002, P.12)

    Atravs dessa aprendizagem da sociabilidade que as crianas interagem entre si e

    com os outros, aprendendo e trocando conhecimento com o prximo. Segundo Sarmento

  • 43

    (2002) as crianas, nas suas interaes com os pares e com os adultos, estabelecem processos

    comunicativos configuradores dos seus mundos de vida. (p. 15).

    Percebemos ao longo de nossa observao e docncia, como as crianas desenvolvem

    sua imaginao atravs da brincadeira, da sua imaginao, criando e revivendo momentos do

    seu dia-a-dia e imitando as atividades realizadas pelos adultos no seu convvio.

    As crianas desenvolvem a sua imaginao sistematicamente a partir do que

    observam, experimentam, ouvem e interpretam da sua experincia vital, ao

    mesmo tempo que as situaes que imaginam lhes permite compreender o

    que observam, interpretando novas situaes e experincias de modo

    fantasista, at incorporarem como experincia vivida e interpretada.

    (SARMENTO, 2002, p.14).

    Percebemos, por fim, que todas as crianas so diferentes e cada uma tem seu tempo

    de aprendizagem e de realizar suas experincias e as atividades. E cabe a ns, professoras,

    colaborar e no forar as crianas em suas vivncias. Criana tambm precisa de respeito,

    ateno, carinho e amor. E o importante respeitar as diferenas.

    Consideraes finais

    De nossa experincia, realizando o estgio com as crianas, retiramos de aprendizado

    que cada criana apreende e significa suas experincias de modo diferente, e que no h uma

    homogeneidade nesse processo de explorao e reconhecimento do mundo ao seu redor, pois

    cada criana estabelece diferentes relaes com os objetos e com o outro, seja criana ou

    adulto. Aprendemos, tambm, que ns professoras precisamos estar atentas a cada movimento

    e significao que cada criana nos mostra em seus momentos de experincias e de

    explorao.

    Com nossas observaes e prticas pedaggicas, assim como, observando as aes

    cotidianas das professoras, aprendemos o quanto o dilogo, a conversa constante com as

    crianas seja nos momentos de roda, alimentao ou brincadeiras importante e apresenta

    a sutiliza do que trabalhar crianas pequenas, j que a todo o momento estamos

    (re)significando suas aes, ampliando seu vocabulrio e construindo relaes afetivas.

  • 44

    Em nosso estgio e tambm nas reflexes que buscamos construir neste memorial

    pudemos melhor compreender o que indica Schmitt (2011):

    importante observar que nas relaes entre crianas pequenas e com

    crianas pequenas, no est presente apenas a quantidade de experincia, na

    definio do mais ou menos experiente, daquele que sabe mais ou daquele

    que sabe menos, mas essencialmente a diversidade dessas experincias que

    forjam a infncia ou a idade adulta no como uma, mas reconhecidamente

    composta por mltiplos outros. (p. 20-21).

    Pudemos observar e vivenciar com as crianas o que reflete a autora e nesse sentido

    ficou muito claro para ns que o ambiente educacional um espao de trocas e aprendizado

    entre criana-criana, criana-professor e entre todos os sujeitos que fazem parte deste espao

    e tempo.

    Tambm refletimos neste trabalho sobre as mltiplas linguagens, as interaes entre as

    crianas e a explorao dos diferentes espaos da creche. Todo esse processo reflexivo nos

    proporcionou grande aprendizado, levando-nos a compreender como as crianas estabelecem

    relaes e transformam estes espaos a todo o momento e que esse movimento muito

    importante para o desenvolvimento das dimenses que constituem esses sujeitos de pouco

    idade.

    O desenvolvimento de nossa ao pedaggica surgiu por meio dos indcios que as

    crianas demonstravam, atravs das suas brincadeiras e tambm das atividades propostas pela

    professora regente. Foi com base nessas observaes que voltamos nossas proposies para a

    temtica exposta durante todo o memorial, a imaginao.

    As crianas exploraram seus limites e nos surpreenderam. Foram muito alm do que

    espervamos delas. E foram assim, partindo das observaes e das situaes em sala, que

    procuramos ampliar seus conhecimentos cotidianos, trazendo ao grupo diversos materiais e

    proposies que viessem enriquecer os nossos saberes, os saberes das crianas e dos

    profissionais da Colnia Z11.

    Aprendemos com nossas proposies que a imaginao um elemento fundamental na

    Educao Infantil, que ela deve ser sempre enriquecida e estimula na criana atravs da

    ludicidade, das brincadeiras, das artes e das contaes de histrias. Instrumentos esses que

    utilizamos para proporcionar elas momentos prazerosos, de trocas e de aprendizado.

  • 45

    principalmente na infncia que desenvolvemos nossa imaginao e levamos para toda nossa

    vida.

    Referncias:

    AGOSTINHO, Ktia A. O Espao da Creche: que lugar este? Florianpolis, SC.

    Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade Federal de Santa Catarina, 2003.

    CAPUTO, Stela Guedes. Fotografia e pesquisa em dilogo sobre o olhar e a construo do

    objeto.TEIAS, Rio de Janeiro, ano 2, n. 4, jul/dez 2001.

    CERISARA. Ana Beatriz et al. Partilhando olhares sobre as crianas pequenas: reflexes

    sobre o estgio na educao infantil. Revista Zero a Seis. 2002.

    FLORIANPOLIS/PMF/SME. Prefeitura Municipal de Educao. Secretaria Municipal de

    Educao. Orientaes Curriculares para a educao infantil da rede municipal de

    ensino de Florianpolis. 2012.

    FRANCISCO, Zenilda Ferreira. Z, t pertinho de ir pro parque? O tempo e o espao do

    parque em uma instituio de educao infantil. Dissertao (Mestrado em Educao).

    UFSC, 2005.

    GIRARDELLO, Gilka. O florescimento da imaginao: crianas, histrias e TV. 2005, p.

    01 10.

    GIRARDELLO, Gilka. Imaginao: arte e cincia na infncia. Revista Pro-posies

    (UNICAMP) , v. 22, n.02,2011. p. 75-90

    HONORATO, Aurlia Regina de Souza. A imaginao e a infncia.

    OSTETTO, Luciana Esmeralda. Planejamento na educao infantil: mais que a atividade, a

    criana em foco. In: OSTETTO, Luciana Esmeralda (org). Encontros e encantamentos na

    educao infantil: partilhando experincias de estgios. Campinas: Papirus, 2000. p. 175 -

    200.

  • 46

    ROCHA. Eloisa A. C. OSTETTO, Luciana Esmeralda. O estgio na formao de professores

    de educao infantil. In: SEARA, Izabel Christine et al. (Orgs.). Prticas pedaggicas e

    estgios: dilogos com a cultura escolar. Florianpolis: Letras Contemporneas, 2008, p. 103

    116.

    SCHMITT, Rosinete V. O encontro com bebs e entre bebs: uma anlise do entrelaamento

    das relaes. In: ROCHA, Eloisa A.C.; KRAMER, Snia. Educao Infantil: enfoques em

    dilogo. Campinas: Papirus, 2011, p.17-35.

    TRISTO, Fernanda. A sutil complexidade da prtica pedaggica com bebs: In: MARTINS

    FILHO, Altino Jos (Org.). Infncia plural: crianas do nosso tempo. Porto Alegre:

    Mediao, 2006, p.39-58.

  • 47

    5. VIVENCIANDO E COMPARTILHANDO EXPERINCIAS COM O G5: O

    FOCO NOS DESENHOS DAS CRIANAS

    Karla Regina de Souza

    Contemplaes e perspectivas sobre o estgio

    O ano letivo na Universidade Federal de Santa Catarina teve incio no dia 17 de Maro

    de 2014 e junto a ele iniciou-se uma nova caminhada. Dava incio preparao de um

    momento to esperado por mim ao longo do curso de Pedagogia e de extrema importncia

    para a minha formao: o estgio!

    Depois da teoria, chegara a hora de traduzir todo o conhecimento apreendido na

    prtica, que era concedida atravs do estgio. Essa etapa era uma oportunidade de exercitar-

    me como professora da Educao Infantil, e tambm uma caminhada que me causava certa

    aflio, um receio talvez do que ainda no conhecia, ou do que ainda estava para ser

    descoberto.

    Finalmente iria a campo, era chegada a hora de aprender a olhar para as crianas,

    observar suas aes, brincadeiras, manifestaes e formas de se relacionar, para poder

    entender, refletir e conhecer as crianas concretas com que me depararia. Poderia ento

    apreciar, contemplar, conhecer de perto, vivenciar e experi