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Page 1: MELHORIA DA QUALIDADE DA ÁGUA TRATADA E AUMENTO … · VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental VII-009 – O IMPACTO DA URBANIZAÇÃO NA MELHORIA DA QUALIDADE

VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

VII-009 – O IMPACTO DA URBANIZAÇÃO NA MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA E NO RESPEITO AO MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO DO

BAIRRO RESISTÊNCIA – VITÓRIA – ES Letícia Beccalli Klug(1) Técnica em Meio Ambiente pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo (CEFET-ES). Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Maria Helena Brito Dias Técnica em Meio Ambiente pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo (CEFET-ES). Graduanda em Oceanografia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Edvaldo de Souza Técnico em Meio Ambiente pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo (CEFET-ES). Marluce Martins de Aguiar Engenheira Civil pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Pós-graduada em Engenharia de Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública. Mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Endereço(1): Rua Diógenes Nascimento das Neves, 165/503 A – Barro Vermelho - Vitória - ES - CEP: 29055 -540 - Brasil - Tel: +55 (27) 3227-9438 - e-mail: [email protected] RESUMO Este trabalho trata de um estudo de caso sobre o bairro Resistência localizado na região da Grande São Pedro, em Vitória – ES. Ele tem como objetivo verificar a melhoria da qualidade de vida conquistada pela população nele residente, por meio do conhecimento da relação saneamento-saúde e os benefícios proporcionados ao manguezal com a implantação do Projeto São Pedro. Inicia-se com o relato do processo de ocupação da região, sua transformação em depósito de lixo urbano da cidade, até a implantação do Projeto São Pedro. A metodologia utilizada foi o levantamento dos dados de saúde relacionados à região, além das políticas públicas implantadas pela municipalidade nos vários setores passando pela saúde, infra-estrutura urbana, habitação, meio ambiente, transporte, dentre outros. Foram levantadas, também, a situação de degradação ocorrida no manguezal e a melhoria do seu ecossistema após a sua delimitação e preservação com a implantação do Projeto São Pedro. Os dados obtidos, juntamente a análise de fotos antigas, as visitas ao bairro e as conversas com moradores permitiram concluir que a implantação do Projeto São Pedro trouxe benefícios e melhorias à qualidade de vida e ao nível de saúde da comunidade, como também ao ecossistema manguezal. PALAVRAS-CHAVE: Relação Saneamento-saúde, Qualidade de Vida, Políticas Públicas, Preservação do Manguezal, Indicadores de Saúde. INTRODUÇÃO O processo de expansão urbana que surgiu no Brasil a partir de 1960, fruto de um intenso êxodo rural e de disparidades de renda, provocou uma ocupação desordenada do solo pelas populações de baixa renda, aparecendo formas de ocupação irregulares conhecidas como favelas e invasões. As taxas elevadas e crescentes de urbanização, nas últimas duas décadas, provocaram o agravamento dos problemas urbanos devido à ausência ou carência de planejamento, demanda não atendida por recursos e serviços e agressões ao meio ambiente. Essa população passou a pressionar os governos pela implantação de todas as infra-estruturas sociais (educação, saúde, abastecimento de água, habitação, saneamento, transporte, drenagem, limpeza urbana, segurança e lazer). (Novaes, 2000) Em Vitória, esse processo não ocorreu de forma diferente. Até meados da década de 1970, a região noroeste da ilha, onde hoje se encontra a Grande São Pedro, resumia-se a uma pequena colônia de pescadores chamada Ilha das Caieiras. A partir de 1977, com o aumento da migração para cidade, essa região se tornou alternativa de moradia para os migrantes que estavam em busca de melhores empregos e condições de vida.

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No início da década de 1980, a região se tornou lugar de depósito de lixo da Prefeitura Municipal de Vitória, aparecendo a atividade de catação de lixo como fonte de renda. Com isso, surgiram as palafitas e o lixo foi usado como aterro no manguezal. Nesse período, as condições sanitárias e de saúde do local eram totalmente precárias devido à ausência de saneamento básico e à falta de postos de saúde para atender a essa população. Além disso, não havia nenhuma preocupação com a preservação do manguezal. Após diversas intervenções pontuais, buscando resolver os problemas que existiam em São Pedro, a Prefeitura de Vitória, no ano de 1989, lança o Projeto São Pedro, uma ação integrada de desenvolvimento urbano e preservação do mangue em Vitória. (PMV, 1996) Alguns bairros sofreram apenas intervenções pontuais, sem um planejamento total das ações. Porém, 5 bairros tiveram toda sua ação de saneamento planejada e implantada, com redes de água, esgoto e drenagem. Entre esses bairros está o de Resistência (objeto de estudo), que se localizava numa grande região de manguezal, próximo onde hoje se localiza a usina de lixo de Vitória. Vários estudos, já realizados, revelam que a implantação de saneamento básico no bairro de Resistência trouxe benefícios e melhoria na qualidade de vida dessa população. Essa melhoria é também perceptível por meio de observações visuais e de entrevistas com moradores antigos da região. Porém, sente-se a necessidade de levantar indicadores de saúde que possam comprovar essa melhoria também na saúde das pessoas. Este trabalho tem como objetivo apresentar um estudo de caso sobre o bairro de Resistência, localizado em Vitória – ES, com uma população de aproximadamente 4200 pessoas. O estudo relata a história da ocupação ilegal dessa região de manguezal da ilha, o processo de urbanização ocorrido, a degradação e a preservação do manguezal, a implantação das políticas públicas pela Prefeitura Municipal de Vitória e levanta, também, através de dados obtidos na Secretaria Municipal de Saúde, a evolução dos indicadores de saúde, entre 1993 e 1999, e sua relação com o saneamento. METODOLOGIA Foram realizadas pesquisas bibliográficas sobre o assunto saneamento e saúde e específica sobre a Região da Grande São Pedro. Foram coletados dados junto à biblioteca e aos setores de Informações e de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SEMUS), junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMAM), à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SEDUR), à Secretaria Estadual de Saúde (SESA),à Secretaria Municipal de Ação Social (SEMAS), à Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SEMURB) e aos Postos de Saúde localizados dentro da Grande São Pedro, principalmente ao posto localizado em Resistência. Foram utilizados como indicadores para se conhecer os dados de saúde da população da região o Índice de Swaroop & Uemura, o Coeficiente de Mortalidade Infantil, o Índice de Mortalidade Infantil Proporcional, a Curva de Mortalidade Proporcional, o Coeficiente de Mortalidade em Menores de 5 anos e o Coeficiente de Morbidade por Doenças Relacionadas ao Saneamento. Foram obtidos dados secundários de população e de alguns indicadores, coletados por outras fontes. No caso de Resistência , eles se apresentavam em sua forma bruta (não processados), tendo sido trabalhados e reorganizados para serem transformados em indicadores e utilizados no trabalho. Foram utilizados documentários em vídeo sobre a situação de São Pedro e de outras localidades com situação semelhante às apresentadas por essa região antes das intervenções urbanísticas. Foram realizadas entrevistas com moradores antigos da região, buscando identificar na fala dos mesmos, a percepção do processo de intervenção por que passou a região. O PROJETO SÃO PEDRO O Projeto São Pedro foi implantado pela Prefeitura Municipal de Vitória no ano de 1989, tendo como eixo central de suas ações a preservação/recuperação ambiental, com o envolvimento das comunidades locais em todo o processo. Nesses termos, buscou contribuir para construção da cidadania por meio da conscientização da importância das ações desenvolvidas, para a qualidade de vida e do ambiente saudável, na perspectiva do desenvolvimento sustentado.

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As ações do poder público sobre a região da Grande São Pedro podem ser dividida em 3 grandes etapas distintas e seqüenciais. Ao final da implantação do projeto foi desenvolvida uma quarta etapa com o objetivo de propor ações que viessem a consolidá-lo. A primeira etapa compreende o período anterior à implantação do Projeto São Pedro, destacando-se a luta pela moradia, a devastação do manguezal, a emergência da questão sanitária e a organização popular. A relação entre o poder municipal e os habitantes se configurava num processo assistemático e imediatista. A segunda etapa é caracterizada pelos três primeiros anos de implantação do projeto, onde foram desenvolvidas ações de delimitação e preservação do manguezal, urbanização e melhorias habitacionais. A terceira etapa foi realizada nos últimos três anos de implantação do Projeto, dando continuidade às ações desenvolvidas e ampliando o universo do projeto, com programas complementares de Regularização Fundiária, Geração de emprego e Renda, dentre outros. A quarta etapa, chamada o projeto de pós-urbanização, foi implantada com o objetivo de consolidar o Projeto São Pedro proporcionando melhoria das condições sócio-econômicas e habitacionais da população de baixa renda. O MANGUEZAL Santuário de preservação da fauna marinha, o manguezal sofreu, durante muito tempo, todo o tipo de agressões. Sua ocupação desregrada provocou desmatamentos, aterros e poluição, com conseqüências desastrosas, provocando modificações em sua fauna e flora. Com o objetivo de mudar essa realidade e preservar esse importante ecossistema, foi definida e implantada pela Prefeitura Municipal de Vitória (PMV), uma política de delimitação desse ecossistema no entorno dos bairros da Grande São Pedro, em especial, nos bairros de Resistência e Nova Palestina. Em primeira instância foram definidas as principais atividades que causam impacto negativo no manguezal. Além das causas naturais, as atividades humanas como os empreendimentos industriais, os empreendimento imobiliários, os esgotos sanitários da cidades, as drenagens e canais artificiais, os agrotóxicos, os desmatamentos, a pesca predatória, o turismo desordenado e a poluição atmosférica, estão entre as ações que mais degradam o estuário do manguezal. A grave situação relativa às condições de vida da população de São Pedro e da degradação do manguezal, acabaram por sensibilizar e convencer o poder púbico da necessidade das intervenções na região do manguezal. Foi criado um consórcio de órgãos ambientais que ficou responsável, juntamente com a Prefeitura Municipal de Vitória, por atuar na fiscalização e aprovação das medidas cujo objetivo era concluir o processo de preservação do manguezal e da urbanização da área (Zecchinelli, 2000). Foi realizada a delimitação do manguezal com uma via toda a extensão do projeto, sendo a mesma utilizada como um espaço de lazer. Vale ressaltar que a participação da comunidade em todas as fases do projeto, foi fundamental para alcançar as transformações da região, baseadas na conscientização da população para preservação do manguezal e no estabelecimento de critérios para urbanização e ocupação do solo. Atualmente, o manguezal encontra-se protegido pela legislação municipal, entre outras estaduais e federais. Foram criadas duas grandes Unidades de Conservação: a Estação Ecológica Municipal Ilha do Lameirão e o Parque Municipal da Baía Noroeste, que conta com equipamentos de lazer e um Centro de Educação Ambiental. POLÍTICAS PÚBLICAS DA PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA O poder público municipal, a partir de 1989, implantou uma nova forma de pensar e agir sobre a cidade. Essa política buscava desenvolver ações nas quais estivessem envolvidas várias Secretarias Municipais trabalhando conjuntamente com a população. Foram realizados projetos nas áreas de saúde, infra-estrutura urbana, transporte, meio ambiente, educação, habitação, lazer e ação social.

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Na área da saúde, a Prefeitura Municipal procurou construir unidades de atendimento à população nos bairros, além de uma policlínica para atendimento de casos mais graves. Em Resistência, foi construído um posto de saúde e implantado, em 1998, o Programa de Saúde da Família. Nesses termos, as notificações de doenças começaram a ser realizadas de forma mais rigorosa e completa. Na questão da infra-estrutura urbana, o bairro de Resistência recebeu maior atenção, sendo realizadas obras de terraplanagem, implantação de redes de drenagem, água, esgoto, pavimentação e iluminação pública. A rede de esgotamento sanitário é ligada a uma estação de tratamento, o que reduziu consideravelmente o lançamentos de efluentes no manguezal. Num estudo do Programa de Saúde da Família para levantar as condições de urbanização do bairro, em 1998, foi identificado que o abastecimento de água abrangia quase a totalidade das residências, com 99,71% das famílias sendo servidas pela rede pública. O lixo de 99,04% da população era recolhido pela coleta pública, o esgotamento sanitário atendia à 92,89%dos domicílios e a energia elétrica abrangia a 86,945 das residências. Esse levantamento identifica o alto grau de urbanização que se atingiu no bairro, demonstrando que no âmbito sanitário a população se encontrava em boas condições, garantindo, em parte, a qualidade e vida da população residente no bairro de Resistência. Na área da habitação, foram construídas novas moradias, em madeira, para as famílias que haviam sido removidas, com a Prefeitura fornecendo materiais como taipas, telhas, escoras e pregos. No levantamento do PSF de 1998, identificou-se que 64,55% dos moradores já possuíam casa de tijolo ou adobe; 26,99% tinham as casas construídas em madeira e 4,13% eram de material reciclado. Na questão ambiental, uma das mais relevantes ações foi a construção da Usina de Lixo de Vitória, eliminando o depósito de lixo no manguezal e gerando empregos para algumas das pessoas que viviam da cata de lixo. Com a delimitação e preservação do manguezal, foi possível o seu aproveitamento para o turismo, com a criação de estações ecológicas e o lançamento do projeto Rota Manguezal. No período de implantação do Projeto São Pedro houve a preocupação com o planejamento e a melhoria do sistema viário e do transporte coletivo, sendo que, atualmente, o bairro de Resistência é contemplado por duas linhas de ônibus. No setor de educação, foi construída uma escola de 1º Grau para atender a população da região. Em 1998, quando realizado o levantamento do Programa de Saúde da Família, foi obtido o índice de 96,60% de crianças entre 7 e 14 anos estavam estudando e que 86,25% das pessoas acima de 15 anos eram alfabetizadas. Enquanto as crianças eram atendidas nas escolas, a população adulta era enquadrada em projetos de capacitação para formação de empresas associativas, programas de treinamento e encaminhamento de profissionais formados em fábricas-escolas para o mercado de trabalho. Além disso, foram realizados programas de educação para cidadania através do fornecimento de documentos, palestras, seminários e cursos. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Com os dados do material bibliográfico, os dados existentes obtidos e as informações obtidas em entrevistas realizadas, buscou-se avaliar os impactos na qualidade de vida e de saúde da população residente em Resistência, resultantes das intervenções urbanísticas e ambientais realizadas. Para essa análise foram utilizados indicadores de saúde. Os dados obtidos permitiram tão somente o levantamento de hipóteses já que os estudos que buscam relacionar os benefícios do saneamento com a saúde dependem de uma avaliação mais sistêmica que considere aspectos sócio-econômicos, políticos e culturais da população. Os indicadores utilizados para análise foram o Coeficiente de Mortalidade Infantil, Índice de Mortalidade Infantil Proporcional, Índice de Swaroop & Uemura, Curva de Mortalidade Proporcional, Coeficiente de Mortalidade em Menores de 5 Anos, Coeficiente de Morbidade.

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COEFICIENTE DE MORTALIDADE INFANTIL O Coeficiente de Mortalidade Infantil, após o início da implantação das obras de saneamento, teve uma queda brusca, passando de uma proporção de 55.56/100 nv considerado pela OMS como alto para uma proporção de 7.63/1000 nv, que é considerado baixo, como podemos perceber na tabela 01 e no gráfico 01. Tabela 1: Dados dos Coeficientes de Mortalidade Infantil (fonte PMV).

Local 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Resistência 55.56 7.63 9.35 7.04 13.79 8.20 23.08

Gr. São Pedro 49.65 19.81 13.57 17.34 15.89 13.15 16.17 Vitória 25.23 20.27 16.19 18.45 11.34 14.70 12.65

Figura 1: Gráfico dos Coeficientes de Mortalidade Infantil.

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ANO

CM

I/100

0NV

Resistência São PedroVitória Parâmetro Alto (OMS)Parâmetro Baixo (OMS)

Durante todos os anos seguintes à implantação das melhorias sanitárias, nota-se que o coeficiente se mantém dentro dos níveis considerados bons e que apenas no ano de 1999, há um pequeno aumento. Possivelmente, esse fato ocorreu porque se trabalhou com números muito pequenos, onde qualquer óbito a mais provoca uma grande diferença no coeficiente. Esse problema ocorre quando se trabalha com as estatísticas dos pequenos números. ÍNDICE DE MORTALIDADE INFANTIL PROPORCIONAL O bairro Resistência, após a implantação das obras de saneamento, apresentou uma queda significativa neste indicador. Em alguns anos, chegou a números próximos à 3.00%, que é um número encontrado em países desenvolvidos, como percebemos na tabela 2 e na figura 2. Em 1997 e 1999, esse indicador sofreu variações para pior, fazendo a sua curva crescer, atingindo a faixa dos 10.00% (tabela 2 e figura 2). Esse fato pode ter ocorrido devido à estatística dos pequenos números, o que acarreta uma variação grande na porcentagem. Dentro do município de Vitória e da região de São Pedro, o bairro Resistência se encontra bem posicionado, ficando na maior parte dos anos abaixo da curva de Vitória e da Regional de São Pedro. Tabela 2: Dados dos Índices de Mortalidade Infantil Proporcional (fonte PMV).

Local 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Resistência 23.08% 4.35% 5.26% 4.17% 10.00% 3.33% 10.71%

Gr. São Pedro 21.64% 11.11% 7.38% 8.22% 7.74% 5.51% 9.02% Vitória 8.07% 6.93% 5.25% 6.23% 3.62% 4.38% 3.90%

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Figura 2: Gráfico dos Índices de Mortalidade Infantil Proporcional.

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AN O

POR

CEN

TAG

EM

R esistência São Pedro V itória

ÍNDICE DE SWAROOP & UEMURA Os países desenvolvidos têm baixa mortalidade de crianças e jovens, porém é grande a proporção de mortes acima de 50 anos. O inverso ocorre nos países em desenvolvimento. Diz-se, então, que, quanto maior o valor de Swaroop & Uemura, melhores são as condições de saúde da população. No início dos anos 90, o indicador de Swaroop & Uemura do bairro Resistência se encontrava próximo ao 4º nível de saúde (inferior a 25%), como se pode perceber na tabela 3 e no gráfico 3. Com o saneamento iniciado no ano de 1993, o indicador atingiu o 2º nível (indicador variando entre50% e 75%). Isso demonstra a melhoria na qualidade de vida da população, pois a mesma está vivendo mais tempo. Tabela 3: Dados dos Indicadores de Swaroop & Uemura (fonte PMV).

Local 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Resistência 30.77% 34.78% 52.63% 50.00% 50.00% 42.00% 50.00%

Gr. São Pedro 40.30% 39.32% 37.70% 44.52% 40.65% 39.75% 48.12% Vitória 64.76% 61.55% 64.68% 63.52% 60.73% 63.31% 63.85%

Figura 3: Gráfico dos Indicadores de Swaroop & Uemura.

01020

304050607080

93 94 95 96 97 98 99

ANO

POR

CEN

TAG

EM

1º Nível 2º Nível 3º Nível Resistência São Pedro Vitória

Em 1998, houve uma queda nesse indicador devido a um aumento geral do número de óbitos nesse ano (tabela 3 e figura 3). Entretanto, a principal causa de mortes foram as causas externas, principalmente as agressões, na faixa etária de 15 a 44 anos. Com isso, podemos entender que, atualmente, a principal causa de oscilações no indicador de Swaroop & Uemura, ou seja, na qualidade de vida, são problemas de ordem sócio-econômicas e não de ordem sanitária. O problema de mortalidade por agressões não é um problema enfrentado apenas em Resistência, mas no estado do Espírito Santo como um todo. Essa é a primeira maior causa de morte no Estado. No ano de 1998 para 1999, houve um aumento considerável nesse indicador (tabela 3 e figura 3). Uma das hipóteses para esse aumento foi a implantação, no ano de 1998, do Programa de Saúde da Família (PSF), quando começaram a ser tratados problemas de saúde que não chegavam aos postos de saúde como a hipertensão, sendo identificados apenas quando já se encontravam em estado grave. Foi nesse período que começou-se a trabalhar com ações preventivas no âmbito da saúde, no bairro. CURVA DE MORTALIDADE PROPORCIONAL

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Essa curva, de acordo com a sua conformação, é dividida em quatro tipos esquemáticos, caracterizando níveis de saúde diferentes. O TIPO I, representa o nível de saúde muito baixo, o TIPO II identifica o nível de saúde baixo, o TIPO III demonstra um nível de saúde regular e o TIPO IV representa um nível de saúde elevado. As faixas etárias mais significativas nessa curva são a de menores de um ano, que deve possuir um índice baixo para identificar um bom nível de saúde e a de maiores de 50, que deve ser alta, representando que as pessoas estão vivendo mais tempo e morrendo mais tarde. Figura 4: Gráficos das Curvas de Mortalidade Proporcional dos anos de 1993 e 1995.

Ano 1993

3,85

30,77

38,46

3,85

23,08

05

1015202530354045

-1 1-4 5-19 20-49 +50

FAIXA ETÁRIA

POR

CEN

TAG

EM

TIPO I - nível de saúde muito baixo

Ano 1995

0

15,79

26,32

52,63

5,26

0

10

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30

40

50

60

-1 1-4 5-19 20-49 +50

FAIXA ETÁRIA

POR

CEN

TAG

EM

TIPO IV - nível de saúde elevado

A Curva de Mortalidade Proporcional do ano de 1993 se enquadra na curva TIPO I, na qual se tem um alto índice de mortalidade no primeiro ano de vida e uma queda no índice de mortalidade acima de 50 anos, como identificamos no gráfico da figura 4. Isso demonstra que a qualidade de vida e da saúde dessa população era muito baixa. Com a implantação das obras de esgotamento sanitário, abastecimento de água, drenagem, pavimentação, dentre outras ações de Políticas Públicas, a Curva de Mortalidade Proporcional passou para o TIPO IV, demonstrando uma melhora bastante significativa, passando para um nível de saúde elevado, ou seja, começaram a morrer menos crianças menores de 1 ano e passaram a morrer mais indivíduos acima dos 50 anos de idade (figura 4). Através dessas duas curvas, pode-se perceber que as implementações na área de saneamento colaboraram juntamente com outras intervenções para a melhoria da qualidade de vida dessa comunidade. Vale ressaltar que a mortalidade nas idades de 5 a 19 anos, ainda encontravam-se altas, porém essas mortes foram provocadas por armas de fogo ou explosivos e não por doenças relacionadas ao saneamento, demonstrando um outro problema bastante grave nessa região que é a violência. COEFICIENTE DE MORTALIDADE EM MENORES DE 5 ANOS O gráfico da figura 5 apresenta uma queda bastante grande no índice entre os anos de 1993 e 1994, quando começaram as intervenções sanitárias. Durante os anos de implantação do Projeto São Pedro, esse índice se manteve baixo e quase constante. A partir do ano de 1997, quando as obras já estavam consolidadas, houve uma aumento nesse coeficiente. Há várias hipóteses levantadas para justificar esse aumento. Analisando as causas que levam à morte as crianças menores de 5 anos nesses últimos três anos do gráfico, percebe-se que em 1997, apenas uma morte ocorre por doença relacionada ao saneamento. O mesmo número se repete nos anos de 1998 e 1999, demonstrando que as doenças relacionadas à falta de saneamento não são a principal causa do aumento do número de mortes. Uma das hipóteses que se levanta para um aumento grande dos números de um ano para o outro é o problema de se trabalhar com pequenos números na estatística, onde apenas uma morte a mais causa uma grande mudança no número do indicador. A hipótese para a existência de mortes relacionadas à falta de saneamento é a de que após o saneamento ter sido implantado, não foram realizadas ações de educação em saúde.

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Figura 5: Gráfico do Coeficiente de Mortalidade em Menores de 5 anos.

64,81

7,639,35

7,04

20,69

16,39

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ANO

CM

M5/

1000

NA

SCID

OS

VIV

OS

RESISTÊNCIA

COEFICIENTE DE MORBIDADE De acordo com o gráfico do bairro Resistência, na figura 6, é possível identificar uma queda entre os anos de 1997 e 1998. Entretanto, há um aumento de notificações no ano de 1999. Analisando os dados de morbidade percebe-se que no ano de 1999, foram realizadas notificações de doenças que não haviam sido notificadas nos anos anteriores. Um outro aspecto levantado para o aumento, no ano de 1999, é a possibilidade de duplicidade de notificações, sendo um mesmo paciente notificado mais de uma vez, dependendo do tempo que ele apresenta para se tratar e curar. Uma outra hipótese para o aumento, no último ano, é o número populacional. Como se utilizou uma estimativa da SEMUS, há a possibilidade desses números não estarem representando a realidade que existe no bairro, atualmente. Figura 6: Gráfico do Coeficiente de Morbidade.

151,15

135,97

127,03

110115120125130135140145150155

97 98 99

ANO

CA

SOS/

1000

HA

B

CONCLUSÕES Fundamentados na análise dos dados de saúde, de documentos tais como: fotos, vídeos, bibliografia e de informações obtidas em conversas com moradores da região é possível concluir que a implantação do Projeto São Pedro proporcionou uma melhoria nas condições de saúde e da qualidade de vida da população, evidenciados quando se compara os dados obtidos com aqueles observados em regiões de baixa renda. O manguezal - foco principal na elaboração do projeto - após sua delimitação e a urbanização das áreas adjacentes a ele, está conseguindo passar por um rápido processo de regeneração natural, podendo trazer a dinamização da economia local, através do fornecimento de produtos e serviços de importância ecológica, social, cultural, entre outras. Vale ressaltar que a preservação do manguezal de Vitória não depende apenas de ações locais, mas sim, de ações conjuntas com outros municípios e que para sua efetiva manutenção é necessário ultrapassar barreiras territoriais e políticas, dentre outras. Ao levantar as políticas públicas que foram ou ainda estão sendo implantadas em Resistência, é possível verificar a preocupação que existe em integrar ao tecido social do restante da cidade, a população de baixa renda, levando toda a infra-estrutura de saneamento, transporte, saúde, educação, dentre outros, que se fazem necessárias a uma comunidade.

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Entretanto, problemas de ordem sócio-econômica e cultural ainda estão bastante presentes na comunidade, o que dificulta algumas ações de caráter social e educacional. Todas as ações implementadas no bairro Resistência buscam eliminar a exclusão social e propiciar a melhoria da qualidade de vida para todos. A busca de uma qualidade de vida melhor é uma necessidade constante que perpassa por muitos setores da sociedade e do poder, o que a torna de difícil realização. O primeiro passo já foi dado. Espera-se que essa busca continue e que, no futuro, todos os níveis da sociedade possam desfrutar dos mesmos benefícios oferecidos pelo poder público. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. HELLER, L. Saneamento e Saúde. OPAS/OMS – Representação do Brasil. Brasília, 1997. 2. LAURENTI, R. et al. Estatísticas de saúde. São Paulo: EPU, Edusp, 1985. 3. DALLARI, S. G. A saúde do brasileiro. São Paulo: Moderna, 1987. 4. NOVAES, Washington; RIBAS, Otto; NOVAES, Pedro da Costa. Agenda 21 Brasileira – Bases para

discussão. Brasília MMA/PNUD 2000. 5. PMV. Projeto São Pedro – desenvolvimento urbano integrado e preservação ambiental. Relatório Final.

Vitória, 1996. 6. PMV. Sistema de Informações de Mortalidade (SIM). Relatório da Secretaria Municipal de Saúde –

Departamento de Avaliação e Controle. Vitória, 2000. 7. ZECCHINELLI, I. S. Projeto São Pedro – Desenvolvimento urbano integrado e preservação do

manguezal. Rio de Janeiro, 2000. Dissertação de mestrado – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2000.

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