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Tchêmusic

e o Tradicionalismo

Revista-laboratório do Curso de Jornalismo da UFSM • campus Frederico Westphalen número 4

O cantor nativista Luiz Marenco falasobre tradicionalismo e novosrumos da música gaúcha

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Kiara Rock

414 anos de Detonautas

6Tradicionalismo x Tchê Music

8

Controle de tráfego aéreo

21

Intercâmbio Estudantil

20

Existe fala errada?

18

Eder Calegari

16

Agricultura familiar

14

A mulher dos 5 maridos

13

Patroa de CTG?

12

Cultura gaúcha

10

Uma cidade dividida

22Literatura de fantasia

24Artistas de rua

26Cinear-te

27

União Frederiquense

39

Brincadeira de criança

38

Novidades velhas

36

Ergonomia

35

Convivendo com celulite

34

Cheias de pose

30

Pressão pelo peso

28

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Meio Mundo é a revista-laboratório do Curso deJornalismo do Centro de Educação SuperiorNorte-RS/Universidade Federal de SantaMaria, campus de Frederico Westphalen,RS, Brasil.

Ano 4 – Número 4 – Agosto de 2011Publicação produzida pelos alunos do

6o semestre na disciplina de Laboratóriode Jornalismo Impresso II –2o semestre de 2011.

Professor responsável, edição:prof. José Antonio Meira da Rocha.

Textos, fotos, diagramação: Aila Wayhs Ferrari,Aliete do Prado Martins, Caroline Scolari,Chayenne Elis Cardoso, Débora GrützmannGiese, Diesmen Luis Dos Santos Rodrigues,Eduarda Regina Wagner, Fabiana Pelinson,Fabio Pelinson, Fernanda Puhl, IsabelaCastilhos Motta, Izadora, Castilhos Motta,Joana Strunz da Frota, João Marcelo Faxina,Josefina Maria Toniolo, Lara Silva, Fagundes,Lidia Paula Trentin, Lucas Michelon, LuizFernando Greiner Barp, Maira Cristiane, daSilva Cardoso, Marciana Rosilei Hences,Marcielle Martins De Faveri, Mariane, de

Oliveira, Martha Steffens, Mauricio EmanuelCattani, Mayara Andressa Bonn, NataliaNissen, Priscila da Silveira, Renata da SilvaCamargo, Rodolfo Sgorla da Silva, RossanaZott Enninger, Shana Rocha Nazário, TiagoOlympio Spezzatto, Vanessa Müller Haas.

Foto da capa: Fabio Pelisson.Foto da contracapa: Agência Da Hora.Impressão:Tiragem: 300 exemplares.Versão On Line em

http://decom.cesnors.ufsm.br/jornalismo.

Ministério da Educação do BrasilUniversidade Federal de Santa Maria

Centro de Educação Superior NorteRSDepartamento de Ciências da Comunicação

Curso de Jornalismo

Reitor: prof. Felipe Martins MüllerVice-Reitor: prof. Dalvan José Reinert

Pró-Reitor de Graduação: prof. Orlando FonsecaDiretor do CESNORS: prof. Genesio Mario da Rosa

Chefe do Departamento de Ciências da Comunicação: profa Helaine Abreu RosaCoordenador do Curso de Jornalismo: prof. Fábio Silva

FOTO

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ROSILEIH

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4 Dezembro de 2011

Na pegada da Kiara RocksA banda paul ista que resgata o rock de verdade no cenário musical brasi leiro faz umaparada em Cascavel para dois shows regados a muita energia e personal idade.

Débora G. Giese e Josefina Toniolodebora_ggiese@hotmail .com,josy.toniolo@hotmail .com

A penas três anos de estrada e a bandaKiara Rocks já possui um currículo in-vejável. Além de um álbum com com-posições próprias, eles contam com

participações em programas de TV, festivais eum legado de fãs na internet. Os caras fazem umsom verdadeiro, que busca reanimar o cenáriodo rock brasileiro e mostrar que, apesar das di-ficuldades, é possível trabalhar nesse meio semse corromper com as “modinhas”.

Formada por Cadu Pelegrini no vocal, Ansel-mo Fávaro na guitarra, Juninho no baixo e maisnovo integrante Ivan Copelli na bateria, a bandajá possui um legado de fãs que sempre a apóianas empreitadas, mesmo quando não alcançamo objetivo. Autodenominados de “máfia”, satiri-zando as “famílias” criadas pelas bandas colori-das, são muito leais e ajudam a divulgar os tra-balhos do quarteto. “A gente faz o que pode paracolaborar. Às vezes não conseguimos fazer tu-do que gostaríamos, mas se cada um fizer umpouco a Kiara vai ganhando espaço. Os caras sãobons e muito queridos, merecem nosso apoio erespeito”, afirma a estudante de 19 anos Daia-ne Girotto.

Mas não são só os fãs que se esforçam para

o reconhecimento da banda. Os integrantes tra-balham pesado para “fazer as coisas acontece-rem”. Todo esse empenho já rendeu bons frutos,entre eles está a mais nova conquista: Matt So-rum (ex Guns N’Roses) como produtor do novoálbum. O CD que está em fase de mixagem terá11 faixas autorais e ainda três versões acústi-cas das músicas “Últimos Dias”, ”Pode Apostar”e “Todos os Meus Passos”.. Essa última ganhouum clipe sobre o qual o Anselmo comenta umpouco: “Vai ter o Matt na bateria... A gravação foi

meio corrida, pois estávamos gravando os áudi-os naquela época. Vai ser uma coisa bem sim-ples, uma pegada mais acústica da música. Al-gumas cenas em estúdio, outras fora... é bem“Patience” do Guns, não sei porque né? (risos)Mas ficou legal”.

O orgulho pelo trabalho que estão realizan-do fica evidente quando falam entusiasmadossobre o assunto. “Ah, foi muito louco e ao mes-mo tempo dava medo, você sabia que estavaaprendendo coisas que não é com qualquer umque você vai aprender”, conta o guitarrista so-bre a experiência.

O primeiro álbum da Kiara Rocks foi produzi-do de maneira independente, da mesma manei-ra que o segundo, seguindo a filosofia “do ityourself” (faça você mesmo) e fez sucesso en-tre a crítica e os fãs. Prova de que o trabalho foibem feito e bem aceito, é que o single do primei-ro CD, “Últimos Dias”, ganhará uma versão acús-tica nesse próximo. As expectativas para o lan-çamento, cuja data ainda não foi divulgada, sãograndes. Afinal, não é qualquer banda que con-segue parceria com dois ex-Guns'r'Roses.

Em terras paranaenses

Em meio a esse turbilhão de novidades e comtoda a energia já característica da banda, doisshows em Cascavel foram marcados para os di-

Mais de três horas de show em duas noites agitaram Cascavel

Eu mesurpreendi

com Cascavel . Públ ico altonível , muito legal a cidade,eu esperava que fosse mais'interior'. Hoje já foi bom eamanhã será melhor ainda.Não adianta, não dá paracompetir com o Exalta.

Kiara Rocks

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5Dezembro de 2011

as 26 e 27 de agosto, no HooligansPub. A cidade ganhou a simpatia doscaras, que viajaram cerca de 900 kmpara que as apresentações se tornas-sem possíveis. “Eu me surpreendi comCascavel. Público alto nível, muito le-gal a cidade, eu esperava que fossemais 'interior'. Hoje já foi bom e ama-nhã será melhor ainda. Não adianta,não dá para competir com o Exalta”,comenta o guitarrista Anselmo.

Todo o alvoroço em torno do showda turnê de despedida do Exaltasam-ba, que movimentava a cidade na noi-te do dia 26, poderia diminuir o pú-blico e prejudicar a banda Kiara Rocks,mas não teve todo esse poder. “Agente não tem um histórico muitobom. Quando a gente vai numa cida-de ou tem rodeio com Luan Santana,ou tem o Chiclete com Banana, ou temcoisas excepcionais, como o últimoshow do Exaltasamba na carreira de-les. Mas beleza, sempre tem alguémque está querendo fugir dessas mo-dinhas, procurando um lugar comrock’n’roll”, comenta Anselmo. Com acasa cheia de verdadeiros admirado-res do estilo, foi uma noite memorá-vel, regada a bons e velhos clássicosdo rock. Assim como no segundo dia,quando o Hooligans lotou de genteque pulava e cantava junto com abanda todas as músicas.

Repertório

Foo Fighters, Guns N’ Roses, SkidRow, Motörhead, Aerosmith, Bon Jo-vi foram algumas das bandas que fi-zeram parte do repertório indefec-tível deles que, curiosamente, eraescolhido na hora. “Até é uma falhanossa, a gente não costuma fazerrepertório, de tanto tocar já temos

uma sintonia, aí fica fácil . Se você fi-zer um e começar a seguir ele semsentir como o público está receben-do, você pode não agradar, então émelhor você sentir e escolher asmúsicas na hora. Mas tem que sermeio discreto se não a galera fala'ih, tão perdidos'”.

Quando perguntado sobre a pou-ca quantidade de músicas própriasna apresentação, apenas duas noprimeiro dia e uma no segundo, An-selmo foi franco: “A gente vai tocan-do e vendo como a galera reage e de-pendendo como for, começamos acolocar só som nosso, ou ficamos noscovers, afinal, a gente não tá noFaustão ainda. (risos)”.

Independente de como é feito orepertório, se é escolhido antes, nahora ou mesmo que fosse psicogra-fado, o show é envolvente, de ótimaqualidade. A entrega de corpo e almados integrantes e a busca por dar oseu melhor é perceptível, quase pal-pável e essa é a magia da Kiara Rocks:juntar a técnica com a paixão pelamúsica.

Que mais bandas brasileiras nãose acomodem perante a situação queo rock brasileiro se econtra hoje e si-gam o exemplo da Kiara Rocks, sendoverdadeiros naquilo que fazem e nãose vendedo para o “sistema” aos pri-meiros obstáculos, tocado um somvisceral, que seja uma forma demanifestação às regras impostas pe-lo mercado fonográfico. Assim, tal-vez, o cenário musical do nosso paísmelhore e mais pessoas possam vi-ver noites memoráveis como foramessas e setir que o espírito dorock’n’roll ainda está vivo, é só saberonde resgatá-lo. ■

Mais de três horas de show em duas noites agitaram Cascavel

Integrantes da banda, da esquerda para a direita: Anselmo, Cadu, Juninho e Ivan

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Anselmo Fávaro durante o show no Hooligans Pub

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A gente não costuma fazerrepertório, de tanto tocar já

temos uma sintonia. Se você fizer um semsentir como o públ ico está recebendo, você

pode não agradar, então é melhor vocêsentir e escolher as músicas na hora.

Kiara Rocks

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6 Dezembro de 2011

Há 14 anos detonandoConheça a trajetetória desucesso do DetonautasIsabela e Izadora Mottabelcmotta@hotmail .com, docmotta@gmail .com

A banda Detonautas Roque Clube, mais co-nhecida como Detonautas, foi formadano ano de 1997 no Rio de Janeiro RJ. Osmúsicos se conheceram através da in-

ternet, ambos tinham o sonho de montar umabanda um rock.

Tico Santa cruz (vocalista) perguntou em umasala de bate papo da internet se alguém que es-tava ali tocava algum instrumento, Tchello (bai-xista) respondeu que sim. Os dois começaram aconversar. Tico morava no Rio de Janeiro e Tchel-lo na Bahia. Após algumas conversas pela inter-net, Tico e Tchello marcaram de se encontrar noRio de Janeiro, em um posto de gasolina em Ipa-nema. Ainda em 1997, Renato Rocha (guitarris-ta) entrou na banda com a intenção de tocar te-clado, mas acabou se tornando um dosguitarristas.

Em 1999 Rodrigo Netto (guitarrista) entroupara a banda, em 2000 o baterista Fábio Brasile em 2001 Cléston Oliveira (DJ e percussão) .

Suas canções se referem a amor, sexo, vio-lência e corrupção.

Foi com a ajuda do cantor Gabriel, O Pensa-dor, e a insistência de Tico Santa Cruz, que o De-tonautas foi conseguindo espaço, primeiro nasrádios e depois foram na estrada.

Questionado sobre quais as influências mu-sicais da banda, Tico Santa Cruz diz que algumasdelas foram: Cazuza, Raul Seixas e Legião Urbana.

O primeiro show da banda foi para idosos, eas músicas eram polêmicas e cheias de duplossentidos.

No ano de 2002 o Detonautas lança seu pri-meiro cd, Detonautas Roque Clube. “Ladrão degravata”, “Ei Peraê?”, “Que diferença faz” e “Obem e o mal” foram canções de destaque pelasletras polêmicas. Mas, as músicas que fizerammaior sucesso foram: “Outro Lugar”, “Olhos cer-tos” e “Quando o sol se for” (a música mais fa-mosa da banda) .

No mesmo ano o Detonautas abriu doisshows do Red Hot Chili Peppers, no Brasil. O pú-blico se surpreendeu, pois a banda que era no-va e pouco conhecida, já estava abrindo showsde um dos grupos de maior destaque internaci-onal. Porém pouco tempo depois os músicos jáestavam fazendo sucesso.

Em 2004 foi lançado o segundo álbum, Ro-

que Marciano. Esse álbum possui influências deHardcore melódico americano. As músicas can-ções de maior sucesso foram: “O Amanhã”, “ODia Que Não Terminou”, “Tênis Roque”, “Só PorHoje”, “Mercador Das Almas” e “Nada Vai Mudar”.Com esse cd, a banda ganhou o primeiro disco

de ouro. E ainda neste ano, gravaram o seu pri-meiro DVD, também intitulado Roque Marciano,com duas músicas inéditas, “Diz Quanto É Então”e “D Maior”.

Em 2006 a banda lança seu terceiro álbum,Psicodeliamorsexo&distorção. Esse cd possuium som mais pesado e uma forte presença davoz. O disco proporcionou à banda turnês naci-onais com recorde de público e turnês interna-cionais. As músicas: “Não Reclame Mais”, “Apa-gue A Luz”, “Assim Que Tem Que Ser” e “Insone”foram destaque, mas, o grande hit foi “Você MeFaz Tão Bem”. O CD ainda contém a faixa bônus“The Wrong Life In The Right Way”, cantada emespanhol por Tico Santa Cruz

As músicas: “Não Reclame Mais”, “Apague ALuz”, “Assim Que Tem Que Ser” e “Insone” foramdestaque, mas, o grande hit foi “Você Me Faz TãoBem”. O CD ainda contém a faixa bônus "TheWrong Life In The Right Way", cantada emespanhol por Tico Santa Cruz. Neste ano uma

Show do Detonautas em Frederico

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Renato Rocha fazendo seu solo

IZADO

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7Dezembro de 2011

Entrevista com a FãNome: Adriana CunhaIdade: 20 anosEstudante de Publicidade e PropagandaMora em Pelotas-RSQuando você conheceu a banda Detonautas, foiatravés do que?

Conheci a banda quando tinha 13/14 anos,em 2004, através da novela Malhação que tinhaa música Quando o sol se for como trilha.Desde quando você é fã da banda? O que chamou asua atenção para isso acontecer?

Sou fã da banda desde 2004.Assim que descobri o nome da banda que

tocava aquela música da Malhação, fui procuraro site deles.

Lá estavam disponibil izadas todas as músicasdo disco que eles estavam trabalhando na época(Roque Marciano) e logo me encantei com asimpatia dos integrantes e me identifiquei comas letras e mensagem positiva das músicas.

Comecei, então, a me comunicar com elesatravés de e-mail, comentários nos blogs efotoblogs, e depois de um ano acompanhando,pude ir ao meu primeiro show.

Nesse dia ficou consolidado meu carinho erespeito pela banda.

A forma receptiva e carinhosa com que fuirecebida me encantou e desde então sempre queposso vou aos shows e sigo trocando mensagenscom eles, porque acredito na verdade da banda.Qual a sua música preferida?

São tantas... Cada música do repertório delesme traz um sentimento. Meu cd preferido é oPsicodeliamorsexo&distorção, que tem músicascomo Insone e Você me faz tão bem que são umasdas minhas preferidas.Já foi em quantos shows?

Já fui a 10.Qual foi o teu show preferido?

Em Porto Alegre, em 2006.

tragédia marca a trajetória da banda. Em 4 dejunho, aos 29 anos de idade, o guitarrista RodrigoNetto foi assassinado ao passar com o seu carroem uma das avenidas mais importantes do Riode Janeiro.

Phil l ipe que era roadie da banda passou atocar guitarra no backstage do palco. Em 2007ele passou a tocar na banda como músicocontratado e em novembro de 2008 após umshow recebeu o convite para fazer parte dabanda.

Dois anos após a morte do guitarrista RodrigoNetto, a banda entrou em atrito com a entãogravadora Warner Music Brasil. Tico Santa Cruzse recusou a lançar um álbum acústico, o quegerou em uma rescisão de contrato. Pouco tempodepois a banda assina com a rival Sony Music. Nomesmo ano, gravam o seu quarto cd, O Retornode Saturno.

Ao contrário do disco anterior, este cd possuiuma influência mais leve e voltada ao Pop rock."O Retorno de Saturno" e "Verdades do Mundo"(uma homenagem a Rodrigo Netto, guitarristafalecido) são as músicas que fizeram maiorsucesso. Esse álbum recebeu indicação ao

Grammy Latino.Em 2009 a banda lançou o CD e DVD acústico.

O repertório contém os sucessos, além de duasmusicas inéditas, “Só Nós 2” e “O Inferno São osOutros”. O DVD também contém os covers "AtéQuando Esperar" da Plebe Rude, e "Mais Uma Vez"do Renato Russo.

Atualmente a banda está gravando o seuquinto álbum, porém de forma independente.

No dia 19 de julho a banda lançou em seu siteoficial uma das canções que fará parte do quintocd. A música chama-se Combate e está liberadapara download.

Diia 8 de agosto foi lançada a música Um CaraDe Sorte também liberada para download.

Dia 7 de setembro a banda disponibil izoumais uma música nova para download que sechama Sua Alma Vai Vagar Por Aí.

E dia 27 de setembro foi lançada e tambémdisponibil izada para baixar a música“Conversando Com O Espelho”.

No dia 2 de outubro de 2011 a banda seapresentou no Rock in Rio, maior festival de Rockdo Brasil. Tocaram no mesmo palco que Guns N'Roses, System of a Down, Evanescence e Pitty. ■

Tchello e Renato agitando o show

IZADO

RAMO

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Camarim após o show

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8 Dezembro de 2011

As novas batidas polêmiA “evolução” ou revolução,

Fábio Pelinson e Lucas Michelonfabiopel inson@hotmail .com, luks2822@hotmail .com

A música gaúcha, que transcende o na-tivismo e o tradicionalismo, tem suasraízes na escola literária do parnasia-nismo, devida semelhança quando can-

ta coisas da natureza e do ambiente. Na músicatradicional gaúcha, isso se reflete na valorizaçãodos costumes do gaúcho, como o amor pela na-tureza, pelo cavalo e pela terra onde vive. Na le-tra, na melodia, na dramatização, os artistasbuscam retratar os costumes, as origens e su-as paixões.

Desde a sua disseminação, a música gaúchatraz consigo vários adeptos que até hoje man-tém a mesma linha e característica de composi-ção e melodias. Esse é o caso de Luiz Marenco,Pedro Ortaça, Élton Saldanha, Gaúcho da Frontei-ra entre outros, que até nos dias atuais carre-gam consigo os resquícios dos primeiros passosda música gaúcha, cantando o amor pelas suastradições.

Mas a música produzida no Rio Grande do Sultem passado por algumas modificações nas úl-timas décadas. Esse estilo de produção acaba-va se disseminando somente dentro do estado,chegando no máximo a alcançar algumas outrasregiões do sul do Brasil. Com objetivo de buscaruma abrangência nacional, alguns grupos musi-cais inovaram, incrementando a suas músicasnovas batidas e ritmos brasileiros, criando as-sim o “Tchê Music”. Esse novo ritmo ganhou oBrasil, mas abriu espaço para as divergências deopinião entre os músicos gaúchos. Enquanto osnativistas buscam manter as raízes e retratar ocampo, os “tchê's” buscam modernizá-la.

Com quase 20 anos de carreira, uma discogra-fia de 20 obras, 18 CDs e 2 DVDs, Luiz Marenco,cantor nativista, é uma das referências da músi-ca tradicionalista, não só no Rio Grande do Sul,mas em diversos estados do país, assim como noUruguai e Argentina. Sua história com a músicaestá completamente atrelada a sua vida no cam-po e aos compositores precursores de tal estilo.

— E eu tenho o Noel Guarany como ponto re-ferencial na nossa música, antes do Noel e de-pois do Noel. Tudo aquilo que ele cantava, eu vi-venciava lá fora, no rincãozinho da Quitéria,distrito de São Jerônimo. Eu fui me aprofundan-do nisso, querendo aprender, conhecer.

Mesmo cantando as músicas do campo, LuizMarenco canta para todas as “tribos”, e tem um

carinho especial pelo público jovem urbano, quemesmo gostando de outros estilos, como elemesmo diz, “ouvem o Marenco”. Porém, o cantordeixa transparecer certa apatia com a dita “evo-lução” da música gaúcha para o Tchê music.

— Há músicas, como o tchê music, que tu po-de dizer que é de qualquer lugar do planeta, masdaqui não é. É uma misturança de forró com

baião. É uma escolha. Eu fiz a minha, eles fize-ram a deles. Me dou bem com todos os guris, doTchê Garotos, Tchê Barbaridade. Agora, falandomusicalmente, eu não escuto, porque eu nãoconsigo escutar os discos deles, como tambémnão sei se eles escutam os meus.

Em meados dos anos 90, um grupo conside-rado tradicionalista, o Tchê Garotos, surge com

Luiz Marenco canta o que sente pela terra onde naseu

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9Dezembro de 2011

uma nova proposta. Como a própria banda defi-niu tinham o objetivo de juntar as batidas dasmúsicas gaúchas com compassos dançantes ealegres, com isso mostrarem aos brasileiros umnovo ritmo. Sabiam que essa inovação no esta-do seria um choque para a sociedade, que comoeles definem, é muito conservadora. Assim, como intuito de expandir o trabalho para o resto do

Brasil, nos anos 2000 surge um trabalho no seg-mento de tchê music, um estilo de vanerão commuita percussão e swing, como comenta Marky-nhos Ulyan, um dos fundadores do grupo.

— Quando começamos nossa carreira éramosuma banda bem tradicional. A gente foi moderni-zando e adaptando nossa música para que o pú-blico do resto do Brasil pudesse entender. Fomos

mudando as letras e os arranjos, adaptando a elaa pitada de uma batida diferenciada, balanceada.E isso tudo acabou abrindo as portas pro Tchê.

Essa nova roupagem do grupo ganhou o Bra-sil em termos de sucesso, mas com isso veio aantipatia dos órgãos mais tradicionais do esta-do. Essas mudanças acarretaram na censura eproibição do Tchê Garotos a tocaram no CTGs(Centro de Tradição Gaúcha) , e de usar a pilcha(bota, bombacha e guaiaca) , proibições do MTG(Movimento Tradicionalista Gaúcho) , que os acu-saram de desvalorizar a tradição do estado.

A discussão que permeia a música gaúcha élonga e se arrasta desde então. Cabe ao públicoapreciador julgar os prós e contras dessas mu-danças. Rodolfo Sgorla da Silva, estudante e mú-sico de final de semana, é rigoroso quanto as es-sa nova roupagem.

— Eu tenho uma ligação com o campo, a mú-sica tradicional canta aquilo que eu sempre vi-vi. A tchê music não tem essência, não tem per-sonalidade, é uma coisa só voltada para o lucro,por isso não escuto. A identidade se constituina diferença, e pra mim o tchê music é qualquercoisa, menos música gaúcha.

Tchê Music

Mas as opiniões entre divergem muito. Um fa-to que vai a favor dos “tchês” é que a maioria dasbandas que adotou esse inovador estilo acabouganhando o cenário nacional. O Professor deEducação Física Ezequiel Piccin, aprova esse avanço.

— Acho que o tempo da música gaúcha pas-sou! A inovação que a tchê music, com sua bati-da mais swingada, foi o que fez o estilo ganharproporções a nível nacional. Mesmo ele sendoconsiderado moderno pelos apreciadores da mú-sica gaúcha de raiz, acredito que esta moderni-dade foi o que fez o estilo ganhar adeptos portodo mundo - conclui Piccin.

O fenômeno que acontece com a música gaú-cha é parecido com o que passou o sertanejo.Este estilo, que surgiu no Cetro-Oeste do país,ganhou linhas românticas e hoje é impulsiona-do pelo chamado Sertanejo Universitário. O quecausou certo repúdio por parte dos sertanistasde raiz segue a mesma linha de “indigação” dostradicionalistas gaúchos. Desse balanço místi-co, o que fica é a valorização de quem canta oque sente e a sua tradição, mas também a novatendência da música “moderna”, que por fins lu-crativos ou não, está nos ouvidos do povo. ■

cas da música gaúchados tradicional istas aos “tchês"

Luiz Marenco canta o que sente pela terra onde naseu

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FÁBIO

PELIN

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10 Dezembro de 2011

Amor pela cultura gaúchaGaúchos de 20 de setembro ou Gaúchos o ano inteiro? O tradicional ismo, para muitaspessoas, faz parte da vida diária, independente de data ou evento comemorativo

Caroline Scolari e Rossana Enningercarol inescolari@gmail .com, rozenninger@gmail .com

S etembro é um mês movimentado paraos gaúchos. Em setembro, a cultura e atradição do Rio Grande do Sul são evi-denciadas na Semana Farroupilha. Tem-

po de recordar os feitos dos antepassados, a Re-volução e os costumes que são transmitidos degeração em geração.

Como bem diz a 1ª prenda juvenil do CTG Fo-go de Chão de Campina das Missões, Laís Cristi-ne Jung, 14 anos, a Semana Farroupilha é a se-mana mais importante do ano, já que nela serelembra a história do Rio Grande e tudo o quefoi feito para tornar o estado o que ele é hoje.“A tradição gaúcha representa um amor incon-dicional e procuro cultuá-la cada dia, por termuito orgulho de viver aqui”, finaliza a prenda,que participa da invernada artística do CTG des-de os três anos de idade.

Mas é setembro. É hora de tirar a pilcha doarmário, lustrar as botas e desfilar no dia doGaúcho. Esse tipo de gaúcho foi ironizado porJoão Luiz Corrêa na música “Gauchão de aparta-mento”. Na letra, o rapaz anda pilchado, com omate cevado e dizendo que é campeiro em fan-dangos e rodeios, mas quando fica sozinho noapartamento, deixa o tradicionalismo de lado,ouve músicas “indecentes” e bebe chocolatequente.

A respeito disso, a pesquisadora e mestran-da em Patrimônio Cultural, Jaqueline Domanski,diz que percebe dois tipos de pessoas: aquelasque só lembram a cultura gaúcha na SemanaFarroupilha e datas comemorativas e aquelaspessoas que convivem com a tradição no dia-a-dia, como uma espécie de “religião”.

O resgate da tradição gaúcha aconteceu nadécada de 1950 pelo conhecido “grupo dos 8”do Colégio Júlio de Castilhos em Porto Alegre, li-derados por Paixão Côrtes. Diante da moderni-zação da sociedade e surgimento de novos cos-tumes, mudou a forma como era vista a culturano Rio Grande do Sul. A partir daí, buscou-se re-tomar aqueles costumes da lida campeira e im-plantá-los na cidade, impondo para isso normase regras, que são subordinadas ao MovimentoTradicionalista Gaúcho, o MTG.

E esses costumes são revividos a cada anoem festivais, rodeios e no 20 de setembro, es-pecialmente, para que a tradição possa ser cul-

tuada e passada entre as gerações. Assim acon-teceu com a 1ª prenda do CTG Querência da Serrade Seberi, Eduarda Regina Wagner, 20 anos. Elaconta que foi incentivada pelo pai a participardo Movimento Tradicionalista, aos cinco anos deidade. A partir de então, começou a se interes-sar pelas tradições e pelo estudo da cultura doestado.

“A cultura gaúcha é para mim uma fonte quenunca se esgota, pois ela representa tudo o que

de melhor temos em nosso estado. Eu a cultuode muitas maneiras, não só indo em bailes ouparticipando de invernadas, pois como prendatenho o dever de manter sempre viva nossa cul-tura. Escolhi ser prenda justamente porque que-ro perpetuar essa tradição e sei que é atravésde uma geração para outra que ela sempre semanterá viva. E é por isso que trabalho, que mededico a minha entidade, para ensinar as crian-ças e jovens o gosto pela nossa cultura” – des-

Eduarda Wagner: a invernada é reviver e cultuar as tradições do Rio Grande do Sul

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taca a 1ª prenda.Como acrescenta Domanski, os Centros de

Tradições Gaúchas são entidades onde é possí-vel agregar e reunir toda a família, ao mesmotempo, em torno do tradicionalismo. Cada de-partamento das entidades, como as invernadascampeira, artística ou esportiva, tem caracte-rísticas próprias e conseguem atrair pais, filhos,irmãos e avôs para esta convivência.

Mesmo assim, há uma hora em que a evolu-

ção das tecnologias ecomunicações modifi-ca a rotina e os hábi-tos, principalmentedos jovens. Aliado aofato de estudar outrabalhar em outracidade, são motivosque contribuem paraque muitos jovenssaiam dos CTG's e dei-xem de lado essescostumes que até en-tão preservavam. “Ojovem apenas conti-nua vivendo a tradi-ção se a família acom-panha e permaneceenraizada no CTG”,afirma Domanski.

Rodolfo Sgorla daSilva, 20 anos, é na-tural da cidade de Es-meralda e estudantede Jornalismo naUFSM, campus de Fre-derico Westphalen.Na sua cidade natal, alida campeira faz par-te do cotidiano da fa-mília no campo, nãoficando restrita aprogramações de en-tidades tradicionalis-

tas ou Semana Farroupilha. No entanto, por cau-sa da rotina de estudos e da distância, essescostumes não são mais tão presentes no dia-a-dia.

“A tradição pra mim é uma coisa natural etento englobar ela no meu dia-a-dia. Eu faço por-que gosto. Tomar chimarrão, andar de bomba-cha, de cavalo ou tocar gaita representam essatradição. A Semana Farroupilha é um momentoem que apenas tem uma maior concentração de

programações, como bailes e rodeios, em tornodisso”, diz o estudante, que toca gaita desde2004 e vê no instrumento aquele que melhorrepresenta a música gaúcha.

Ouvir música gauchesca, tomar chimarrão,preparar um churrasco ou até mesmo o jeito defalar são maneiras de reviver a tradição todosos dias. Além disso, esses costumes represen-tam a cultura do Rio Grande do Sul e são conhe-cidos fora do estado.

Domanski afirma que a tradição é uma for-ma de preservar o passado, por isso é necessá-rio sempre trazer algo de lá para manter os cos-tumes presentes na atualidade.

Na música, por exemplo, tem-se uma repre-sentação muito forte dos gaúchos, tanto quan-to a bandeira do estado representa o território.

No entanto, preservar hábitos como o chi-marrão ou o churrasco não são vistos por Do-manski como um resgate da tradição, quandorevivido por apenas uma pessoa. O chimarrão éum símbolo representativo do Rio Grande do Sule da hospitalidade dos gaúchos. Porém, só setorna uma maneira de cultuar a tradição quan-do há um convívio, uma relação entre mais pes-soas que compartilham daquele mesmo senti-mento.

Mas tanto para a prenda Eduarda como parao gaiteiro Rodolfo, esses costumes simples ecorriqueiros dos gaúchos são sim marcos dacultura do Rio Grande do Sul. Muitas pessoasnão levam a sério as regras e responsabilidadesque os CTG's exigem, mas através desses hábi-tos diários procuram conservar essa tradição.

Ser tradicionalista, na sua essência, é terconsciência diária do papel que desempenha. Éconhecer o tradicionalismo e suas raízes, oscostumes e a história do Rio Grande do Sul. Res-peitar os valores e princípios e acolher maispessoas em torno desta tradição, repassando-a para as futuras gerações. Mais do que um sim-ples gosto ou interesse, preservar a cultura doestado é algo que exige dedicação, respeito eamor por este chão. ■

A tradição éuma coisa

natural pra mim e procuroenglobar ela no meu dia-a-d ia. Faço porque gosto.

Rodolfo da Silva

Símbolo do Rio Grande doSul, o chimarrão faz parte do

dia-a-dia dos gaúchos,acompanhando-os em todos

os lugares

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Por meio do instrumento, Rodolfo preserva a tradição gaúcha

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12 Dezembro de 2011

CTG Machista? Não Mais!Uma mulher mostra que CTGs não são mais os mesmos.Eduarda Wagnerdudarw@hotmail .com

A mulher está no co-mando não só dopaís como tambémdo CTG (Centro de

Tradições Gaúchas) Querênciada Serra de Seberi. A empre-sária Dorilda da Silva Rocha,55 anos, assumiu no começodeste ano a patronagem daentidade. O CTG de Seberi hámuitos anos vem cultivando atradição e mantendo vivos oscostumes gaúchos, mas temuma história longa e machistadentro de sua patronagem,pois, dos seus 62 anos dehistória e muitas patrona-gens, somente em 2011 asmulheres assumiram o con-trole administrativo.

Uma pessoa simples, hu-milde, com uma falar calmo, éuma das poucas mulheres emtodo o estado a se tornarempatroas de um CTG. O númeroexato não é conhecido, pois, segundo o MTG (Movi-mento Tradicionalista Gaúcho) , que é a entidade maiordo tradicionalismo, muitos CTG’s não repassam as in-formações de suas patronagens e por isso não se podeter um número específico de mulheres que um dia fo-ram patroas A entidade diz que é função das coorde-nadorias regionais em informar estes dados ao MTG.

Dorilda é quem toma as decisões do Querência daSerra: “eu sei que tenho um importante papel dentrodo CTG, pois em todas as decisões sou eu que dou aúltima palavra e isso afeta toda a família que é o CTGQuerência da Serra”. Mas Dona Dorilda, como muitos achamam, não está sozinha, pois nos cargos mais im-portantes de sua patronagem também assumirammulheres convidadas por ela. Como é o caso de Catia Pegoraro, que é a vi-ce patroa e, junto com Dorilda, administra o CTG.

Dorilda conta que a ideia de se tornar a primeira patroa partiu de den-tro da Invernada Artística Xirúa do CTG, onde ela dança com seu maridoRui desde que surgiu o grupo. E era sempre ela que tomava as decisõespara a Invernada e todos concordaram que ela seria uma boa patroa. Ex-plica que tudo que é assunto a ser discutido referente à entidade parteda Invernada Xirúa, pois são os mais velhos e praticamente todos estãona patronagem junto com ela ou em outros anos foram patrões ou mem-bros de patronagens.

Um detalhe interessante é que, no estatuto do MTG, em nenhum lugarconsta a palavra “patroa”. Então, todas as mulheres que assumiram e assu-

mirão patronagens deveriamser chamadas de “patrão”,mas, esta é uma regra quenão se segue ao pé da letra.Preconceito é uma coisa quenão se tem, ela diz, masconfirma que há muitaspessoas que veem com es-tranheza o fato de se ter umamulher no centro de um doslugares que é conhecido porser machista, e este concei-to é algo que vem desde acriação dos primeiros CTG’s,onde só homens foram osfundadores e somente elesparticipavam das reuniões etomavam todas as decisões.Mas ela diz que não estátendo dificuldades em admi-nistrar este local tão ma-chista, pois todos, homens emulheres, colaboram para obem da enidade.

Alguns realmente estra-nham o fato de se ter umamulher. É o caso de Márcio

Santos, 36 anos, que diz achar que as mulheres devemter seu espaço, mas, acredita que em alguns casos é re-almente estranho ver uma mulher “tomando as réde-as”. E esta é uma opinião de muitos, não só de Márcio.Apesar de acharem diferente, nninguém do CTG foi contra.

Um patrão ou patroa tem o dever de administraro seu CTG, mas, acima de tudo, deve sempre tentarmanter as tradições e isso não se resume a apenasà parte financeira ou à organização de bailes, jantas,reuniões. A Primeira Prenda do Rio Grande do Sul, Jo-elma Pauline, 22 anos, argumenta que o CTG é um lo-cal de respeito e de se repassar os costumes. Ela dizque a função de um patrão não é só administar, mas,é mostrar que um CTG não é só local de bailes e sim,

onde se ensina o que é união, respeito. “É um local onde se precisa saberouvir e não se ter preconceitos”, diz a prenda. “Também é um local ondese aprende danças tradicionais e a histórias do RS”. Joelma acredita queum CTG bem estruturado ajuda a sociedade a educar suas crianças e jovens.

A patroa Dorilda diz que adora ver as crianças dentro do CTG : “enquan-to existirem pessoas que gostam da nossa cultura, nunca se terminaráas tradições. Por isso, cuido e gosto muito das crianças dentro do CTG por-que serão elas que um dia estarão assumindo tudo quando nós não pu-dermos mais”. Ela também diz que nunca deixará de ajudar sua entida-de, mesmo não sendo mais patroa ou da patronagem, pois ama muito tudoo que faz em prol da cultura do Rio Grande e quer que os costumes queela repassa nunca se percam. ■

Sou euque

dou a ú ltima palavra eisso afeta toda afamíl ia que é o CTGQuerência da Serra.

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Patroa Dorilda, acompanhada de Rui, seu marido e ex-patrãoFO

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13Dezembro de 2011

Fôlego para 5 casamentosAos 86 anos, Irma Fritz está casada pela quinta vez com Enio, 40 anos mais jovem.Tiago O. Spezzattotiagospezzatto@gmail .com

I rma Fritz é uma mulher de modos simples,que gosta de conversar e aproveitar a vi-da. Há 78 anos, quando chegou a Mondaí,com os pais e três irmãos, pouco havia na

futura cidade. Juntos construíram uma barra-ca que servia de abrigo para toda famíl ia, paradepois se dedicarem à agricultura. Aos 23 anos,Irma saiu da casa dos pais para se casar pelaprimeira vez. O casamento rendeu três filhos,onze netos e onze bisnetos. Mas era apenas oprimeiro de cinco.

Trabalho pesado e bom humor

Irma fala português com alguma dificulda-de, prefere dialetos da Alemanha, terra de suamãe. Seu pai, apesar de ter nascido no Brasil, co-nhecia e falava o mesmo idioma da mãe. Então,em sua casa, raramente se falava português. Eaté hoje é assim.

Desde muito cedo Irma teve de colaborar comos pais no trabalho do campo. Irmã mais velha,precisou ajudar a manter a ordem da casa e acuidar os irmãos, que não eram poucos: nove.

Ela precisou trabalhar pesado para sobrevi-ver na região. Quando sua família chegou a Mon-daí, as condições eram bem diferentes das dehoje, ela se lembra bem: “Não tinha uma casa decomércio, nada. Era só mato”, comenta.

O bom humor é um companheiro inseparávelde dona Irma, que sempre gostou de ir à festas,beber cerveja e dançar. Seu marido, Enio, garan-te: “Nos sábados, ela aguenta até madrugadanos bailes. No domingo, está pronta para maisfesta, e é o que fazemos”.

Ela aproveita a boa saúde e diz sempre ter sealimentado da forma que preferiu, sem restri-ções médicas. “Quanto mais gorda for a carne,melhor”, comenta Irma.

A boa saúde é normal na família: seus paisviveram 89 anos. Irma diz que já brincou com osmédicos, dizendo que a única doença que tem éque, ao dormir, quando fecha um olho, o outrose fecha também. E ela é boa de sono: “Às vezes,chego a dormir por mais de doze horas consecu-tivas, e sempre dormi bem”, pondera.

Ao longo da vida, Irma trabalhou como agri-cultora, e algumas vezes também desempenhouessa atividade em paralelo com comércios naárea rural do município.

Até aí, tudo se encaixa perfeitamente na his-tória de vida de uma típica colonizadora.

Os casamentos

Para quem achaque casar várias vezesé privilégio de artista,dona Irma rebate:“Sempre morei no in-terior e casei cinco ve-zes”, diz a senhoracom bom humor.

Ela casou-se pela primeira vez aos 23 anoscom Alfredo Alberto Fritz. Com ele teve três fi-lhos: Nelson, Elza e Ilvo, falecido há sete anos.Ficaram casados por 32 anos, quando da mortede Alfredo. Até hoje Irma usa o sobrenome Fritz.

Depois, ficou sozinha por 14 anos, cuidandode sua propriedade no interior do município. Atéque, no grupo de idosos, conheceu Erwin, queseria seu segundo companheiro: “Ficamos jun-tos por quatro anos e 44 dias”, lembra em deta-lhes.

Ela se recorda e tem fotos de muitos momen-tos com ele. Porém, o relacionamento terminoude forma trágica, como o primeiro.

Depois que Erwin faleceu, Irma ficou sozinhapor mais um ano. Então, uma amiga lhe indicouum tio do Paraná, com quem acreditava que elapudesse namorar. Ele era Benno. Que veio do Pa-raná e comprovou que a amiga tinha razão: osdois ficaram juntos por mais de nove anos. Mas

Benno também faleceu.Mais uma vez Irma ficou sozinha por um ano,

até conhecer Antonio Moraes. Ele veio de Caxiasdo Sul. Era o começo de uma relação que durariamais de três anos. Assim como Benno e Erwin,ele era mais jovem que Irma. O destino, contu-do, lhe reserva outras semelhanças a Benno eErwin: depois de casado com Irma, faleceria. As-sim, dando fim ao quarto casamento dela.

A morte Antonio, em fevereiro deste ano, nãodesanimou dona Irma. Que não ficaria sozinhapor muito tempo. Ela diz que não consegue viverassim: “Desaprendi a viver sozinha”, explica.

Desde maio ela está com Enio, que é 40 anosmais jovem. Ela conta que conhece toda sua fa-mília, e o conhece desde pequeno. Enio está se-parado há pouco mais de um ano e tem três fi-lhos que o visitam com freqüência. Irma não vêproblemas nisso. E ele também não se importacom os outros casamentos dela.

Ao contrário, contam histórias sobre as ou-tras relações e, em sua casa, guardam fotos dosex-cônjuges.

Quando perguntada sobre o que seus filhosacham dos seus casamentos, ela responde como bom humor de sempre: “Eles não devem acharnada. Sempre que eu faço um negócio, está fei-to. Se eles falarem qualquer coisa, entram parao laço”, afirma com muitos risos. ■

Lembranças de outros relacionamentos são muito presentes na vida do novo casal

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Enio, 46 anos

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14 Dezembro de 2011

Os desafios da agriculturaA famíl ia Göcks trabalha com produção leiteira e é um exemplo de

Aliete do Prado e Lidia Trentinal ieteprado@hotmail .com, ly_l id ia@hotmail .com

A tualmente, a agricultura familiar repre-senta 27% do Produto Interno Bruto(PIB) do Rio Grande do Sul e as cadeiasprodutivas vinculadas ao campo repre-

sentam metade do PIB do Estado. No Brasil, es-sa participação é calculada em 31%.

No Censo Agropecuário de 2006 foram iden-tificados 4.367.902 estabelecimentos de agri-cultura familiar. Eles representavam 84,4% dototal, mas ocupavam apenas 24,3% (ou 80,25milhões de hectares) da área dos estabelecimen-tos agropecuários brasileiros. Já os estabeleci-mentos não familiares representavam 15,6% dototal e ocupavam 75,7% da sua área.

Dos 80,25 milhões de hectares da agricultu-ra familiar, 45% eram destinados a pastagens,28% a florestas e 22% a lavouras. Ainda assim,

a agricultura familiar mostrou seu peso na ces-ta básica do brasileiro, pois era responsável por87% da produção nacional de mandioca, 70%da produção de feijão, 46% do milho, 38% docafé, 34% do arroz, 21% do trigo e, na pecuá-ria, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50%das aves e 30% dos bovinos.

O processo de modernização da agriculturana década de 50 e 60 é uma modernização ex-cludente, pois muitos agricultores não conse-guiram acompanhar. Sobrou mão de obra, e mui-tos acabaram partindo para os grandes centrosurbanos em busca de melhores condições de vi-da. Outros financiaram esta modernização e aca-baram com endividamentos.

Adilson Martins, 36, é professor e fez umaespecialização em Estudos Latino Americanos.A monografia de conclusão de curso foi intitula-da “Impactos do Modo de Produção Capitalistana Vida Camponesa”. A partir deste estudo so-

bre uma comunidade do interior do município deSeberi, Martins concluiu que a introdução do mo-do de produção capitalista nas pequenas propri-edades rurais levou à descaracterização destae ao êxodo rural.

Martins ressalta que a organização é o cami-nho para os pequenos produtores rurais.

Um exemplo de agricultura familiar se ob-serva na propriedade de Semildo Göcks, 64, nointerior do município de Tenente Portela. Nos 15hectares e meio de terra, produzem mandioca ebatata para o próprio consumo, milho e soja quesão comercializados e principalmente leite, queé vendido para uma empresa de Ijuí.

A esposa de Semildo, agricultora TerezinhaMaria Göcks, 58, conta que eles sempre mora-ram no interior e que há 38 anos moram juntosna atual propriedade, dividindo as tarefas de or-denhar as vacas, alimentar os animais e cultivara terra.

Semildo e Terezinha Göcks ordenham 13 vacas, duas vezes por dia, de manhã e à tardinha

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15Dezembro de 2011

familiargnúcleo produtivo.

Na propriedade só reside o casal. Suas duasfilhas moram em outras cidades, uma em Gari-baldi e outra em Vista Gaúcha. Ambas vivem nomeio urbano. Esta última costuma visitar sema-nalmente os pais, ajudando no trabalho rural.

Quanto ao desafio da agricultura familiaratualmente, o engenheiro agrônomo Adriano La-go, 34, revela: “o maior desafio da agriculturafamiliar hoje é geração de renda”. Hoje há umfenômeno de masculinização e envelhecimentodo meio rural, ou seja, são mais frequentes ho-mens e idosos aposentados. Isto gera a falta desucessão na propriedade. Lago coloca tambémque a agricultura familiar tem função “econômi-ca e social”. Mas que precisa de uma organiza-ção produtiva. A organização é caminho, mastambém um desafio.

O modo de produção e a modernização leva-ram ao individualismo na propriedade, mas naagricultura familiar isso não é possível.

A lei número 11.326, de 24 de julho de 2006,estabelece os conceitos, princípios e instrume-ntos destinados à formulação das políticas pú-blicas direcionadas à Agricultura Familiar e Em-preendimetos Familiares Rurais. ■

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Na propriedade, o casal cria seisterneiros e quatro porcos para o

consumo da família

As vacas produzem cerca de 100 litros de leite por dia, que são entregues para uma empresa em Ijuí

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O maiordesafio

da agricu ltura fami l iarhoje é geração de

renda.

Adriano Lago

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16 Dezembro de 2011

Eder CalegariUm técnico em enfermagem que, com a necessidade de contar histórias e registrar

momentos, descobriu no jornal ismo uma forma de ajudar o próximo.

Diesmen Luís e Maíra Cardosodiesmenzito@hotmail .com, maireetti@hotmail .com

N ascido numa família simples de agri-cultores, no interior do pequeno mu-nicípio de Ibirapuitã, na região nortedo Rio Grande do Sul, Eder Calegari des-

de sempre soube que sua vida profissional es-taria ligada a ajudar o próximo de alguma for-ma. Primeiramente, viu na enfermagem apossibil idade de se fazer presente na vida daspessoas. Trabalhou como técnico em enferma-gem durante sete anos, mas, já naquela época,com o primeiro salário, comprou uma câmeracompacta VHS. A partir daí, começou a perceberque nos simples registros de imagens, poderiacontar histórias e ajudar mais pessoas do quecomo enfermeiro.

Antes de entrar no ramo da comunicação,passou pelo dilema de escolher entre continuarna enfermagem, buscando se aperfeiçoar comum curso superior, ou tentaruma carreira na área dacomunicação. Foi aí queseu desejo de contarhistórias falou maisalto, e decidiu fazerum curso de audiovi-sual. A formação jor-nalística surgiu pela ne-cessidade do diploma praque pudesse exercer o jorna-

lismo de fato e poder contar histórias.Sua carreira como jornalista começou na TV

Pampa de Passo Fundo, como estagiário. Após,foi designado a Ijuí para ser repórter nessa

mesma emissora. Porém, devido a cortesna empresa, voltou para Passo Fundo on-

de iniciou uma nova fase na sua carrei-ra, trabalhando na área de impresso, nojornal O Nacional. Nesse meio tempo,começou a trabalhar na RBS TV comoprodutor. Na parte da manhã produzia

para a TV, e à tarde escrevia no jornal.Quando surgiu o convite para tra-

balhar como freelancer, ainda na RBS TV, diz terficado receoso por trocar dois empregos está-veis por um trabalho que não lhe desse garan-tias. Mas, resolveu aceitar o desafio. Trabalhouum ano como freelancer, quando, então, teve asurpresa de ser chamado para trabalhar comorepórter na cidade de Frederico Westphalen.

Uma nova etapa.

Eder conta que os primeiros dias em Frede-rico Westphalen foram difíceis, tanto na partepessoal, pois não conhecia ninguém na cidade,quanto na parte profissional, por se tratar de umforasteiro recém chegado num lugar que, até en-tão, não tinha cobertura televisiva dos fatos. “Nocomeço era muito engraçado, eu pedia para aspessoas um depoimento, umas achavam que erapara jornal impresso ou para rádios locais, e ou-tras ficavam envergonhadas e até mesmo commedo de se comprometer de alguma forma”, dizo repórter.

Hoje, passado o estranhamento, percebe queas pessoas estão mais acostumadas com a pre-sença de um repórter de televisão. “Agora é maisfácil. Hoje, tanto na cidade, como no interior enas demais cidades da região, sinto que adqui-ri a confiança das pessoas, sou reconhecido, te-nho mais facilidade em conseguir entrevistas, oque colabora muito na produção das matérias.Fui verdadeiramente acolhido”, comenta Eder Ca-legari, que, por muitas vezes, fica constrangidoquando é chamado para cobrir algum evento que,

Eder durante entrevista no escritório daRBS TV, em Frederico Westphalen

Eu estava emSoledade

fazendo uma matéria sobrea fraude dos semáforos,

quando a minha chefe l igoude Passo Fundo e disse:

‘Eder, vem agora meencontrar! Tu quer ir para

Frederico?'

Eder Calegari

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17Dezembro de 2011

Curiosidades● Ele filma, entrevista, conta a história,

edita e apresenta a reportagem quefez. Suas matérias são diferentes dasque estamos acostumados a ver na te-linha, com repórter, produtor, editor,cinegrafista e iluminador. Discorremosa respeito do “repórter abelha”, ou vi-deorrepórter, que surgiu no Brasil nofinal de 1987.

● Nesta proposta revolucionária, o vide-orrepórter dirige todo o trabalho eproduz a matéria como autor. Suasimagens são mais dinâmicas que astradicionais, pois estão sempre emmovimento.

● O videorrepórter transmite muito maisempatia com o público porque estabe-lece uma relação de cumplicidade como telespectador. Talvez isso ocorra porcausa da conversa durante a matériae o uso de uma linguagem coloquial.

● Na videorreportagem, o trabalho émais ágil, uma vez que o próprio re-pórter se desloca em seu veículo.

● O videorrepórter também se envolvenas histórias, tornando-se testemu-nha e às vezes personagem dos acon-tecimentos. Isto faz com que haja umasobrecarga de emoções, já que o re-pórter narra os fatos como estãoacontecendo na sua visão.

● São comuns o panorâmico tremido e orosto deformado na imagem. Mas istonão tira a credibil idade da matéria. Otrabalho do videorrepórter util iza aimagem de uma forma diferente de umrepórter comum. Ele ganhou força comas novas tecnologias digitais e câme-ras de vídeo mais compactas.

● A tecnologia e a integração das mídi-as digitais - televisão, rádio, internet,jornal - trouxeram agilidade para o vi-deorrepórter e ofereceram uma alter-nativa para canais comunitários, emis-soras de TV pequenas e sindicatos.Sua imagem tem mais vida e pode ser“manipulada” de acordo com seu pon-to de vista.

● É necessário um bom treinamento pa-ra que o profissional aprenda a coor-denar a entrevista com o microfone,equilibrar a câmera no ombro e procu-rar a melhor imagem do entrevistado.A videorreportagem também não des-carta a pauta e a supervisão da chefiade reportagem.

"Repórter abelha" em ação

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na realidade, não tem cunho jornalístico ou nãotem relevância para a região de cobertura.

Por ser um vídeo-repórter, Eder conta quedeixa de cobrir alguns acontecimentos por faltade tempo e equipe. Seu trabalho como repórterem Frederico, faz com que ele tenha que, alémde entrevistar, filmar, produzir, editar e tambémproduzir conteúdos para outras mídias, como ojornal Zero Hora e Clic RBS.Meio Mundo: Você se auto-intitula “repórterabelha”?

Eder Calegari: Na verdade, eu nem conheciaesse termo. Fui conhecer em uma palestra quedei na UFSM, pois, na UPF e na RBS essa funçãoé conhecida como repórter multimídia. Então, meconsidero um repórter multimídia.Meio Mundo: Como é ter a função de repórter abelha,ou multimídia, tendo que cobrir váriosacontecimentos, em diferentes cidades?

Eder Calegari: Eu vim para cá sabendo que euteria que acumular várias funções e atender asoutras mídias, além do telejornal. Não sabia seia dar certo porque é muita coisa pra uma pessoasó. Apesar de ser um dificultoso, acho resultadoestá sendo positivo e satisfatório.Meio Mundo: E qual é o lado positivo e o ladonegativo de se trabalhar com uma equipe tãoreduzida?

Eder Calegari: O lado positivo é que eu já saiopara cobrir o fato sabendo as imagens que euquero, as pessoas que devo entrevistar, o tipode abordagem, sem perder tempo. A matéria saido início ao fim como eu planejei, sem surpresas.

As dificuldades são mais técnicas, pois precisoagir como motorista, câmera, repórter, produtore editor ao mesmo tempo. Uma das maioresdificuldades é a falta de um câmera, pois, alémde entrevistar, tenho que colocar a câmera emum ângulo que favoreça a matéria, nessa parte,perco na questão dos enquadramentos, pois nãoposso ousar.Meio Mundo: Sente uma maior cobrança por ser umjornalista que agrega várias funções?

Eder Calegari: Sim. Às vezes, quando estoucobrindo uma pauta, o telefone toca no meio daentrevista com um novo fato para cobrir e eu nãoposso sair do local. Sinto que falta compreensãode que estou sozinho cobrindo uma regiãointeira.Meio Mundo: Acha que a prática do jorrnalismo-abelha é prejudicial para o ofício do jornalismo?

Eder Calegari: Não. Acho que essa prática ébem vinda, porque só existe em lugaresafastados dos grandes centros, onde não se temcondições de abrir uma emissora com uma grandeequipe. Então essa seria a solução para que essasregiões mais remotas sejam notícia nas grandesmídias.Meio Mundo: Em algum momento você searrependeu de ter trocado a enfermagem pelojornalismo?

Eder Calegari: Olha, quando eu ainda estavacursando a faculdade de jornalismo, refleti seera isso mesmo o que eu queria. Hoje meconsidero realizado profissionalmente e tenho acerteza de que escolhi a profissão certa. ■

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18 Dezembro de 2011

“Abandonei meu jeito de

Falar, para muitaspessoas, tornou-se umproblema frequente.Chayenne Elis Cardoso e Fabiana Pelinsonchayennecardoso@gmail .com,fabianapel inson@gmail .com

E la rege nossa vida, se faz presente emtodas as atividades do nosso cotidianoe representa um conjunto estruturadodas nossas vivências. A língua, falada ou

escrita, é de suma importância à vida humana,mas também gera muita polêmica.

A última aconteceu em maio deste ano,quando o Ministério da Educação (MEC) distri-buiu para as escolas públicas de todo o país omanual de Língua Portuguesa “Por uma vida me-lhor”. O material didático provocou divergênciasde opiniões por levar aos estudantes a concep-

ção de que a língua é uma variante e pode in-fringir a gramática. O livro tem por objetivo mos-trar aos estudantes que existem diversos tiposde falantes e que a pronúncia e as expressõesusadas por eles não são erradas, existem fato-res externos que devem ser levados em consi-deração. Para os linguistas, a iniciativa do MECatua de forma determinante na diminuição deatitudes preconceituosas linguisticamente.

O professor Elias José Mengarda, Doutor emLinguística, esclarece como ocorre o preconcei-to linguístico.

— O preconceito se manifesta quando a lín-gua do outro é desvalorizada, ridicularizada, me-nosprezada. É necessário convencer-se de que,linguisticamente, a língua é definida como um“conjunto de variações”.

Além disso, Elias se posiciona a favor da ini-ciativa do Ministério da Educação, concordandocom o que declarou a Associação Brasileira de

Linguística (ABRALIN) .— Em meio a toda a polêmica que o livro

causou, a Associação Brasileira de Linguísticamanifestou-se a favor do manual. A associaçãodefende a ideia de ensinar aos jovens a Linguís-tica é uma ciência que se preocupa em descre-ver cientificamente os fatos da língua, e nãodescrever normas/regras. Os linguistas enten-dem o papel da escola como maneira de garan-tir o domínio da norma culta, mas não se devenegar o estudo da linguística. Esta como qual-quer outra ciência, não trabalha com a dicoto-mia certo/errado, mas sim estuda as situaçõesreais de fala – concluiu o linguista.

O Brasil é considerado um país plurilíngue:além do português, nosso território possuiaproximadamente 180 dialetos. Toda essa va-riedade linguística acabou gerando polêmica en-tre dois estudiosos da língua: o gramático e olinguista.

Fala: diversão para uns, sofrimento para outros.

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19Dezembro de 2011

falar para não sofrer”O gramático admite só uma forma de língua

“correta”, que é aquela que obedece as regrasda Língua Portuguesa. Essa doutrina conserva-dora do gramático desprestigia e tenta eliminaressas variações linguísticas.

Já o linguista considera a língua um fenô-meno dinâmico e que muda com o tempo. Paraele não existe o “certo” e o “errado”, a gramati-calidade explica a ocorrência.

É justamente essa visão dos gramáticos quegera o que chamamos de preconceito linguísti-co. O preconceito linguístico é uma forma de pre-conceito a determinadas variedades da língua.

Apesar do livro “Por uma vida melhor” seruma maneira de enfraquecer esse preconceitoe romper os laços do conservadorismo dos gra-máticos, o que muitos linguistas acreditam serperpetuador dessa visão é o ensino puramentegramatical das escolas.

Esse preconceito sustenta-se por meio dosveículos de comunicação e dos métodos didáti-cos das instituições de ensino. A desigualdadelinguística vem se fazendo presente em nossasociedade há muitos anos. Aceitando somentea língua padrão e tentando eliminar os demaisdialetos, a escola tem contribuído de maneiradecisiva para a construção do preconceito. Asinstituições de ensino não reconhecem a exis-tência de outras normas linguísticas e seus do-centes ignoram as mudanças e evoluções da lín-gua, oprimindo as outras variações usadas pelosestudantes.

Esse preconceito ocorre não só por parte dosprofessores, mas também por parte dos outrosalunos.

O preconceito ocorre principalmente devidoàs mudanças de localidade e a falta de escola-ridade de algumas pessoas. Os opressores atu-am tirando sarro do falante, rejeitando-o, iso-lando-o e muitas vezes usando de força física.

Foi o que aconteceu com Matheus Mendon-ça de 18 anos, no ano passado. Matheus saiu deUberlândia, interior do estado de Minas Geraise passou a residir em Frederico Westphalen,norte do Rio Grande do Sul. Como as duas loca-lidades possuem dialetos e sotaques bem dife-rentes, Matheus foi vítima constante do precon-ceito linguístico.

— Quando eu cheguei no Rio Grande do Sulas pessoas estranhavam algumas expressõescomo “uai”, “bão” e essas coisas. Também fazi-am piada ou não compreendiam a pronúncia dealgumas palavras, principalmente pela pronún-cia do “r” e a mudança do “e” em “i”. Acabei ten-

do que me adaptar para não ser motivo de pia-da e para que as pessoas entendessem o queeu estava dizendo.

O preconceito atua de forma agressiva, hu-milhando o falante e desprestigiando sua for-ma de falar. Luciano Valerio Júnior, 21 anos, afir-ma que essa atitude era frequente no ColégioEstadual Caetano Munhoz da Rocha, em Mafra,Santa Catarina.

— Na escola que eu estudava sempre exis-

tiram pessoas de baixa renda que utilizavamuma linguagem mais simples, diferente da nor-ma padrão. Assim, vários colegas humilhavameles e, até indiretamente, faziam correções. Per-cebi que muitos colegas participativos se tor-naram quietos.

As consequências que essa discriminaçãopode causar são muitas e em longo prazo. Alémdo isolamento, o falante pode apresentar baixaauto-estima, medo, ansiedade e por vezes, que-da no rendimento escolar, caso o ato de precon-ceito seja exercido em uma instituição de ensi-no. A principal consequência desse tipo dediscriminação é o abandono do dialeto e do so-taque por parte do falante.

Para evitar chacotas e até outro tipo de vi-olência, a vítima acaba por se adequar ao diale-to e/ou ao sotaque da região, eliminando ou en-fraquecendo sua cultura regional. MatheusBonamigo, de 13 anos, também enfrentou essetipo de situação após se mudar de Chapecó,Santa Catarina, para Campinas, São Paulo.Matheus relata: “me sentia muito mal, não tivemais vontade de ir para a escola e deixei de con-versar com os colegas. Era uma tortura ir paraa aula, pois sabia que ia ser motivo de piada.Pensei até em trocar de escola e conversandocom minha mãe comecei a ir ao psicólogo parasuperar esse medo”.

Em vez de tentar compreender os motivospelos quais ocorre essa variação linguística, amaioria das pessoas trata os falantes com infe-rioridade e exige que eles se adéquem ao dia-leto da região ou a norma padrão. “Abandoneimeu jeito de falar para não sofrer. Isso tambémacontecia por parte de alguns professores, quenão compreendiam algumas expressões usadase que não procuravam conhecer o que significa-vam, só pediam para que eu me expressasse deforma mais clara”, conclui o estudante.

Eliminar ou enfraquecer o preconceito lin-guístico requer uma série de ações contínuasque precisam ser trabalhadas principalmentena orientação tradicional da escola e no ensinoda escrita.

Os preconceitos impregnam-se de tal ma-neira na mentalidade das pessoas que as atitu-des precoceituosas se tornam parte integrantedo nosso próprio modo de ser e de estar nomundo. A par de toda a evolução social que associedades humanas atingiram, é inadmissívelque essas atitudes preconceituosas continuemsobrevivendo nas pessoas que usam a línguapara difundir a intolerâcia. ■

“Uma forma de preconceito particu-larmente sutil é a que se volta contra aidentidade linguística do indivíduo eque, mesmo sendo combatido, no Bra-sil, por estudiosos da sociolingüísticacontinua a ser relevado pela sociedadeem geral, inclusive na escola.

O reconhecimento da variaçãolinguística é condição necessária paraque os professores compreendam o seupapel de formar cidadãos capazes deusar a língua com flexibilidade, de acor-do com as exigências da vida e da soci-edade. Isso só pode ser feito mediantea explicitação da realidade na sala deaula.”

O que diz o MEC:fala é identidade

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Novo livro didático causa polêmica.FO

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20 Dezembro de 2011

Conhecimento sem fronteiraCada vez mais presente no meio acadêmico, o intercâmbio estudanti l é um diferencial .Vanessa Müller Haasvane.haas@gmail .com

E star numa outra cultura, conhecê-la e en-tendê-la, sem ter sua família ou seusamigos por perto, se adaptar a novos pa-drões e costumes, aprender a “se virar”

sozinho e, principalmente, ser vítima de precon-ceito enquanto não aprender a ser parte dessaoutra cultura. Essas e muitas outras situaçõessão enfrentadas por aqueles que se aventurampelo mundo e participam de intercâmbio.

As instituições de ensino possuem um pa-pel importante na conscientização do aluno deque é importante a participação em programasde intercâmbio. Essa conscientização é impor-tante inclusive para a universidade, pois estesprogramas formam profissionais com conheci-mento de novas culturas e, que possuem men-talidade mais aberta.

Nesse sentido, a estudante do curso de Far-mácia da Universidade Regional do Noroeste doEstado do Rio Grande do Sul – Unijuí, CristineScheuer, 21, realizou, de fevereiro a março de2010, intercâmbio pela Universidade do Porto –UP, na cidade de Porto, em Portugal.

— Esse intercâmbio foi um diferencial na mi-nha formação acadêmica, pois aprendi os proce-dimentos usados nas diversas áreas da farmá-cia por parte de uma instituição europeia. Alémdisso, aumentei o meu conhecimento histórico-cultural, pois havia boas condições de transpor-te econômico para viajar pelos diversos paíseseuropeus. Dessa forma pude expandir o meu co-nhecimento sobre esse novo mundo, tradiçõese culturas. Ainda, o intercâmbio abriu portas pa-ra que eu pudese fazer estágios e pesquisas queantes eu não conseguia.

— Portugal é um país fascinante, onde en-contramos uma mistura do antigo e históricocom o moderno e atual, onde cada rua, cada es-quina possui um monumento, escultura, cons-trução, para observar e registrar em nossas fo-tografias.

Mas apesar de todos os benefícios de um es-tudo no exterior existem diversos desafios.

— O mais difícil para mim foi a falta de conhe-cimento da língua inglesa, a saudade da família,o preconceito por parte de algumas pessoas malinstruídas sobre a mulher brasileira e sua famade prostituta, morar e dividir quarto, casa e roti-na com pessoas de diferentes personalidades, deforma que há conflitos de interesses.

— Mas, apesar das dificuldades, foi muito

proveitoso esse intercâmbio, e eu aconselho-opara todos, pois, em Portugal, existe a facilida-de da língua e o custo de vida é mais barato. Alémdisso, sinto-me hoje uma pessoa mais culta esensata. Entendo melhor a história e o motivode vários acontecimentos.

Passei por situações constrangedoras porcausa dos costumes diferentes, mas foi tudo óti-mo pro meu crescimento pessoal, coloca a estu-dante.

Até pouco tempo atrás, o intercâmbio era eli-tista e parecia inacessível ao estudante semgrandes posses. Hoje, porém, as grandes trans-formações do mercado de educação internacio-

nal tornaram possível adquirir experiência inter-cultural, por meio da introdução de programascomo os estágios e o trabalho remunerado e asbolsas estudantis.

É o caso do graduado em engenharia elétri-ca e computação pela Universidade Federal deSanta Maria – UFSM, Taimur Gibran RabuskeKuntz, o qual foi bolsista e pesquisador do GIST(Gwang ju Institute of Science and Technology) ,localizado na cidade de Gwang ju, sudoeste daCoreia do Sul, no período de agosto a dezembrode 2009.

Para Taimur, uma das coisas mais diferenci-adas na Coreia é o cardápio. “Come-se desde in-setos até cachorros. Eu tentei provar de tudo e,só não consegui experimentar carne de cachor-ro porque tenho muito apego pelos caninos. Masuma experiência legal foi ter comido polvo vivo”.

Frisando a importância de fazer um inter-câmbio, de conhecer outros lugares, outras cul-turas, ampliar os horizontes, Taimur cita AmirKlynk, o famoso viajante marítimo, do seu livro“Mar sem fim: 360 graus ao redor da Antártica”.

— “Um homem precisa viajar. Por sua conta,não por meio de histórias, imagens, livros ou TV.Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, paraentender o que é seu. Para um dia plantar as su-as próprias árvores e dar-lhes valor. Um homemprecisa viajar para lugares que não conhece pa-ra quebrar essa arrogância que nos faz ver omundo como o imaginamos, e não simplesmen-te como é ou pode ser. Que nos faz professorese doutores do que não vimos, quando devería-mos ser alunos, e simplesmente ir ver”. ■

● Em Portugal, encontra-se uma misturado antigo e histórico com o moderno eatual, onde quase cada rua, cada esqui-na possui um monumento, escultura ouconstrução.

● Existe muito preconceito por parte dealguns portugueses mal instruídos sobrea mulher brasileira e sua fama deprostituta.

● Uma das coisas mais diferenciadas naCoreia é o cardápio.

● No país coreano come-se desde insetos,cachorros e até polvo vivo, que pode ten-tar sair pelo nariz do degustador.

Curiosidades

Instituto de Ciência e Tecnologia de Gwang ju, destino de do estudante Taimur Kuntz.

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21Dezembro de 2011

Anônimos que garantemuma viagem seguraO controle de tráfego aéreo brasi leiro depende de vários profissionais que passamdespercebidos por quem não conhece a rotina de um aeroporto

Natalia Nissennissen.natal ia@gmail .com

O tráfego aéreo brasileirodepende de vários profissi-onais, entre eles está ocontrolador de tráfego aéreo

– ou controlador de voo - que é res-ponsável pela organização do espaçoaéreo, ou seja, ordenar as aeronavesde forma segura e rápida. Ao contrá-rio do que a maioria das pessoasacredita, para o trabalho deste pro-fissional ser realizado é necessário acooperação entre outras especialida-des, como meteorologistas, especia-listas de informações aeronáuticas eoperadores de estação rádio. Cadaprofissional envolvido no controle dotráfego aéreo tem uma função espe-cífica, e eventualmente, as pessoasassociam todas as tarefas ao contro-lador de voo.

O controlador de tráfego aéreo Silvio Luis daSilva Silvello, 45 anos, é Controlador de TráfegoAéreo há 7 anos e trabalhou no Controle de Apro-ximação - a área terminal corresponde a 27 mi-lhas náuticas, aproximadamente 48Km de raio- e Torre de Controle - organiza o espaço aéreode um determinado aeroporto com contato visu-al - em Ilhéus (Bahia) , Ribeirão Preto (São Pau-lo) e Navegantes (Santa Catarina) . Atualmenteexerce sua profissão na Navegação Aérea da Re-gional Sul da Infraero, em Porto Alegre.

Qualquer pessoa interessada pode partici-par do concurso público para Profissional de Trá-fego Aéreo (Infraero) ou para Sargento da Aero-náutica. Entretanto, muitos candidatos sãoreprovados nos testes que exigem rígidas ca-racterísticas de personalidade e comportamen-to, além de conhecimentos de língua inglesa. Ocurso de formação da Infraero acontece em SãoJosé dos Campos, no Instituto de Controle do Es-paço Aéreo – ICEA, já os controladores militaressão formados em Guaratinguetá na Escola de Es-pecialistas da Aeronáutica – EEAR, no estado deSão Paulo.

Aqueles que não conhecem a rotina da pro-fissão, geralmente, associam todas as tarefasde controle da navegação aérea a um mesmo pro-fissional. É normal que as pessoas perguntemao controlador sobre acidentes aéreos famosos,e ainda, acabem sugerindo que um profissionalda categoria tenha sido o culpado de determina-da fatalidade. O que acontece é que o controla-dor é o único profissional que faz contato com opiloto durante todas as fases de voo (decola-gem, voo em rota, aproximação e pouso) e tem

várias aeronaves sob sua responsabilidade, sen-do assim, está mais sujeito a erros. No entanto,a responsabilidade pode ser atribuída ao espe-cialista em informação aeronáutica se houver er-ro no preenchimento do plano de voo, ou ao me-teorologista se for comprovado que ele passouinformações meteorológicas incorretas. No ca-so de um acidente todos os processos são ana-lisados até ser encontrado o responsável e esteresponderá judicialmente por seu erro.

Com, no mínimo, 45 minutos de antecedênciada decolagem o piloto deve apresentear o planode voo ao especialista em informações aeronáu-ticas, este plano é um formulário que contém in-formações sobre a aeronave, o local de partida eo destino da viagem, rotas, velocidades, altitudes,e outras informações básicas para um voo segu-ro. Os dados deste documento são enviados a umCentro de Controle de Área (ACC) e a torre de con-trole do aeroporto de decolagem recebe um códi-go referente a este plano de voo. O piloto da aero-nave entra em contato com a torre de controle esolicita a autorização para acionar motores e ta-xiar até a pista de decolagem, caso o ACC já tenhaenviado o código Transponder.■

A Regional Sul, em Porto Alegre, coordena a navegação aérea de alguns aeroportos da região Sul.

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Asinformações

da áera são restritas e ocontrole da Aeronáuticareforça a impressão de

‘caixa-preta’.

Silvio Silvello

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22 Dezembro de 2011

Em Frederico Westphalen,as barreiras sociais eurbanísticas criaram umal inha divisória entre acidade e os bairrosperiféricosMarciane Hencesmarcihences@hotmail .com

F rederico Westphalen é uma cidade gaú-cha que possui 28.403 mil habitantes,segundo dados do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE) . O Municí-

pio se destaca por ser um pólo regional em di-versas áreas. O comércio representa o maior per-centual de seu PIB, com diversas indústrias demetalúrgica e fábricas de rações. Além disso,possui um dos maiores abatedouros de suínosdo estado, além do forte potencial agroindustrial.

Entretanto, do outro lado da BR 386, que cru-za a cidade, a Princesa do Médio Alto Uruguaipossui um outro lado, que não é tao rico e de-senvolvido. De um lado da rodovia ficam situa-dos os bairros mais nobres, e do outro, localiza-se a periferia. Dessa forma, se criou uma barrei-ra que não é apenas urbanística, mas tambémsocial.

No entanto, conforme o Prefeito José Alber-to Panosso, a atual organização urbana foi de-terminada por uma questão de logística. “As pes-soas foram chegando e se instalando próximasà rodovia. Diversos projetos habitacionais já fo-ram realizados. Muitas famílias foram transfe-ridas para outros bairros. Nesses locais, os imó-veis são mais baratos, o que facilita a aquisiçãodos mesmos pela prefeitura”, explica Panosso.

O Bairro Viaduto

Em torno de 30 famíl ias vivem no Bairro Vi-aduto, ocupando de forma irregular áreas depropriedade do Poder Públ ico Municipal . As mo-radias estão local izadas em áreas de risco - naencosta de um morro - e segundo estudos doCentro de Referência de Assistência Social(CRAS) , esses terrenos estão propensos a des-l izamentos, devido à alta decl ividade, em pe-ríodos de chuva. Nesses locais, não é permiti-da a construção e permanência de casas.Visando mudar essa real idade, a Administra-ção Públ ica do Município, através da Secretariade Habitação e Assistência Social , está desen-volvendo um projeto habitacional que preten-

de transferir as famíl ias irregulares para o bair-ro Distrito Industrial.

Terezinha Teixeira, 72 anos, aposentada, re-side há 30 anos no bairro e veio do campo na dé-cada de 80. O processo de industrialização queiniciou no século 20, ao mesmo tempo em quemodernizou a agricultura, causou um intensoêxodo rural. Não conseguindo mais sobreviver

no campo, essas pessoas migraram para as ci-dades. Porém, sem possuir meios para se man-ter e não conhecendo outro ofício que não aque-le que conheciam na roça, acabam indo para asperiferias. Terezinha reclama do esgoto a céuaberto que passa ao lado da sua casa. A Prefei-tura já foi notificada, mas até agora, nada foi fei-to. No verão, o mau cheiro se intensifica, além

De que lado

Zoraide Santos vive numa casa de tres cômodos, com o marido, dois filhos e um neto.

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O bairro Viaduto possui em torno de 30 famílias que vivem na encosta de um morro.

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23Dezembro de 2011

De que lado EntrevistaRoberto Torres Júnior,Presidente da CUFA/FWMeio Mundo - Como funciona o trabalho daCUFA com jovens e adolescentes da periferiade FredericoWestphalen? Quando surgiu?

CUFA - A Central Única das Favelas(CUFA) é uma Organização Não Governa-mental (ONG) que tem abrangência Mun-dial. Em Frederico Westphalen, a CUFAsurgiu em 2009. Inicialmente, o projetoatendia apenas aos jovens e adolescen-tes frederiquenses. Posteriormente, pas-sou a incluir os municípios de Iraí e Ro-deio Bonito. Mensalmente, cerca de miljovens são atendidos pela CUFA nessestrês Municípios. A CUFA tem como obje-tivo dar visibil idade aos jovens carentesque eram “invisíveis” na sociedade,oportunizando o acesso ao esporte, cul-tura, lazer, diversão e arte. Dessa forma,dar um sentido as suas vidas, fazendocom que se sintam valorizados e incluí-dos na comunidade. Aumentando a au-toestima desses jovens, a própria famí-lia e suas comunidades acabam sendobeneficiadas.MM - Existe uma barreira cultural/geográ-fica entre os bairros localizados acima doasfalto e àqueles do outro lado do asfalto?

CUFA - Com relação à discrepância en-tre os bairros da cidade, acredito que exis-te uma barreira cultural e que sempre vaiexistir entre centro e o “outro lado do as-falto”. Existem famílias que realmente sãoisoladas da sociedade, que passam difi-culdades, que não possuem um trabalhoe nem condições mínimas para viver comdignidade. No entanto, as diferenças hojesão menores, em virtude da expansão dacidade. Hoje, alguns desses bairros sãoautossustentáveis, como é o caso do Bair-ro Primavera, que tem lojas, mercados, es-colas, farmácias e pessoas com alto poderaquisitivo residindo lá. Somado a isso, nosúltimos anos, muitos projetos de inclusãosocial foram criados contribuindo parauma melhoria socioeconômica dos mora-dores desses bairros. Inclusive o precon-ceito diminuiu. A CUFA tem contribuídomuito nesse sentido, trazendo esses jo-vens para o centro da cidade. Com certezaainda falta muito para ser o ideal e hoje,nosso trabalho é formar pontes entre es-ses abismos.

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da disseminação de mosquitos.

O Preconceito

Wilson Ferigollo acredita que não existe pre-conceito com relação às pessoas que vivem embairros como Viaduto, Vila Verde, São José, en-tre outros. “Muitos moradores da periferia tra-balham em indústrias, como a Mabella, e em se-tores da construção civil”, explica Ferigollo.Entretanto, nem sempre a exclusão social é per-cebida pela população. Às vezes, a violência so-frida não é física, mas simbólica. Uma das for-mas de expressão da violência simbólica équando acreditamos que os mesmos estão nes-sas condições por vontade própria. A violênciasimbólica é tão destrutiva quanto à violência fí-sica, ou até pior, pois se torna aceitável, já queos danos são menos perceptíveis.

Entender que muitos não escolheram aque-las condições de vida e são vítimas de um sis-tema cíclico que não permite que os mesmos te-nham acesso à educação e ao trabalho é oprimeiro passo para diminuir essas barreiras.Por outro lado, esse fator cria nos próprios mo-radores das periferias um auto preconceito queos torna isolados e os faz crer que não são de-sejados em espaços dentro da cidade.

Já Helenice Dallanora, professora do Cursode Serviço Social da Universidade Regional Inte-

grada (URI) de Frederico Westphalen e integran-te do Conselho de Assistência Social, acreditaque não existe uma divisão socioeconômica, massim, cultural. Um exemplo disso é a resistênciaque os moradores do centro da cidade demons-traram quando souberam que o prédio do CRASviria para o centro da cidade. De acordo com He-lenice, muito desse imaginário é criado pela mí-dia, que só mostra o lado negativo dos bairrospobres. Os moradores são retratados por atoscomo roubo, prostituição e tráfico de drogas. Di-ficilmente é mostrado algo que os valorize. “Noentanto, o que a sociedade precisa entender éque ninguém é pobre porque gosta. Ninguémpassa fome porque gosta”, afirma Helenice.

Muitos habitantes da periferia trabalham eestudam no centro da cidade, inclusive no Ensi-no Superior. Portanto, os frederiquenses preci-sam aprender a conviver com diferentes cultu-ras, línguas e valores. Além disso, as autoridadesdevem promover políticas públicas de melhoriadas suas condições de vida. O preconceito dian-te das pessoas que vivem na periferia demons-tra o quanto a cidade precisa se conscientizarpara mudar essa realidade. Por outro lado, osmoradores da periferia precisam conhecer seusdireitos e fazer uso deles. Não através de polí-ticas assistenciais, mas sim, através do exercí-cio da cidadania. ■

O desenvolvimento econômico do centro da cidade aumenta a disparidade com a periferia.

você samba?

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24 Dezembro de 2011

Mayara Bonn e Renata Camargomayara_bonn@hotmail .com,[email protected]

C hamar ficção de irreal pode ser uma ofen-sa aos fãs. O mundo imaginário criado pa-ra satisfazer os anseios humanamenteimpossíveis, encanta leitores há muito

tempo. Criar um mundo onde se pode voar, ondeos seres têm super poderes, onde a magia é aarma mais forte, lutar contra o mal, é a maneirade fugir do real e completar o que falta no mun-do em que se vive. Para o jovem escritor Augus-to Gunner, “tudo o que o homem inventou exis-te sim, a magia não é invenção de ninguém, amagia permite que a imaginação tome o espaçoque é da vida chata e real da rotina. Quando vo-cê se permite mergulhar no mundo da fantasia,você deixa de ser um ser qualquer, você se tor-na especial por algum tempo”.

J. R. R. Tolkien conseguiu criar muito bem es-se imaginário que envolve leitores até hoje. Aobra O Senhor dos Anéis, escrita entre 1937 e1949, boa parte no período da II guerra mundi-al, é a mais fantástica e mais respeitada obra deficção a ser criada até hoje. “O Tolkien conseguiucriar uma história onde tudo é possível, onde amagia parece parte da nossa rotina e a gente sevê dentro dessa trama e com esses poderes ahistória envolve qualquer pessoa que conheça aTerra Média. Sem dúvidas O Senhor dos Anéis éa mais fascinante história inventada pelo ho-mem”. É com esse encantamento que a estudan-te de psicologia Liana Mello vê a saga.

A história foi originalmente criada para serum volume único, porém se transformou em tri-

logia, e assim se tornou a saga mais popular doséculo XX.

Os livros contam a história da Terra Média,habitada por vários seres fantásticos, incluindoelfos e anões, magos e dragões, trolls e orcs,hobbits e muitas outras criaturas e raças mági-cas e míticas, seres que encantam dos mais ve-lhos aos mais novos.

Os Filmes

Em 1999, o diretor Peter Jackson resolveuadaptar O Senhor dos Anéis para o cinema. Atrilogia foi filmada simultaneamente, e estáentre os recordes de bilheteria, além de ter acu -mulado dezessete prêmios Oscar. Os dois pri-meiros filmes de “O Senhor dos Anéis” ganha-

ram Oscar apenas nas chamadas categoriastécnicas. “A Sociedade do Anel” recebeu 13 in-dicações e levou quatro prêmios (tri lha sono-ra, maquiagem, edição e efeitos visuais) . “AsDuas Torres” foi indicado a seis Oscar e ganhoudois (edição de som e efeitos visuais) . Com odesempenho de “O Retorno do Rei”, a tri logiabaseada na obra de J.R.R Tolkien detém 17 Os-car, um feito comparável aos US$ 2,8 bilhõesde bilheteria arrecadados pelos três filmes atéagora. É o maior “espetáculo cinematográfico”já produzido.

O livro foi adaptado para o rádio três vezes. Em1955 e em 1956, a BBC passou O Senhor dos Anéis,uma adaptação em doze partes da história para orádio, da qual nenhuma gravação sobrou. Em 1979,uma dramatização da história foi transmitida nosEstados Unidos e depois colocadas em fita e CD.Em 1981, a BBC transmitiu uma nova dramatiza-ção em 26 partes de meia hora.

O Jogo

Os primeiros jogos de interpretação de per-sonagens RGP surgidos entre as décadas de 70e 80 tiveram grande inspiração no ambiente me-dieval-fantástico de O Senhor dos Anéis

Esses primeiros jogos inspiraram outros maismodernos e foi logo o tempo em que RPG ficoudiretamente ligado a um cenário de fantasia me-dieval. Apesar de toda a difusão do RPG e da va-riada gama de assuntos abordados por seus jo-gos, ainda hoje um dos mais populares jogos deRPG do mundo é primariamente ambientado emum cenário que em muitos aspectos lembra aterra criada por Tolkie. ■

Senhor dos Anéis, a sagaque atravessa geraçõesO número de fãs é cada vez maior, a identificação com a historia ultrapassa gerações

CuriosidadesOs atores que interpretaram os hobbits

(simpáticas criaturas de baixa estatura e péspeludos) usaram cerca de 1.600 pares depróteses de pés.

Para criar a Vila dos Hobbits, foramplantados 5 mil metros cúbicos de plantas emuma fazenda um ano antes do início das

filmagens.A preparação inclui ainda estudo de

línguas fictícias criadas por Tolkien para 30dos atores.

Antes de se tornar atração no cinema OSenhor dos Anéis já era um sucesso editorial.Ultrapassado em vendas somente pela Bíbliano Reino Unido, a publicação foi eleita pelo siteAmazon.com como "livro do milênio".

A trilogia já ultrapassou marca de 100milhões de cópias vendidas em todo o mundo.

Na Internet, O Senhor dos Anéis ASociedade do Anel também tem quebradosucessivos recordes. Logo nas primeiras 24horas após o lançamento do primeiro trailer,foram feitos 1,7 milhão de downloads, 700mil a mais do que o recordista anterior (Guerranas Estrelas Episódio I) .

Capa do primeiro livro do Senhor dos Anéis

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25Dezembro de 2011

CuriosidadesJ. K. Rowling foi a primeira pessoa a tornar-

se bilionária apenas com a venda de livros edireitos autorais sobre o uso de imagem deseus personagens, ela arrecadou mais de 1bilhão de dólares.

É a segunda personalidade feminina mais

rica do mundo, atrás apenas da apresentadoranorte-americana Ophah Winfrey.

J. K. Rowling foi eleita pela EnciclopédiaBritânica uma das 300 mulheres que mudaramo mundo.

Uma pesquisa realizada nos EUA confirmouque 51% das crianças e adolescentes entre5 e 17 anos não tinham o hábito de ler pordiversão antes do lançamento dos dois

primeiros livros do bruxinho.Os filmes de Harry Potter são a franquia

cinematográfica de maior lucro da história docinema, deixando para trás séries consagradascomo O Senhor dos Anéis, Star Wars, IndianaJones, entre outras.

Mais de 60 mil crianças fizeram teste parao papel de Harry Potter antes de DanielRadcliffe ser escolhido.

Os novosfenômenosA obra Harry Potter de J.K. Rowl l ing e GameofThrones de George R. R. Martin

Mayara Bonn e Renata Camargomayara_bonn@hotmail .com,[email protected]

H arry Potter iniciou de forma despreten-siosa durante uma viagem de trem daautora J. K. Rowling, entre as cidadesManchester e Londres no ano de 1990.

A história de um menino de óculos e cabelos pre-tos, que não sabia que era bruxo começou a serescrita durante as quatro horas de viagem daautora.

O manuscrito de Harry Potter e a Pedra Filo-sofal foi rejeitado por 8 editoras, até que a edi-tora Bloomsbury aceitou publicá-lo em 1997.Inicialmente, foi direcionada para crianças entre9 e 11 anos, mas J. K. sempre declarou que nãotinha como alvo nenhuma faixa etária em parti-cular quando começou a escrever sua história.

Após quase uma década da publicação doprimeiro livro, Harry Potter alcançou muito su-cesso em parte por causa de críticas positivas,mas também pela propaganda boca-a-boca en-tre muitos leitores. As editoras de Rowling es-tiveram aptas a aumentar este fervor pelo lan-çamento rápido e sucessivo dos três primeiroslivros, o que fez com que nem a excitação nemo interesse da audiência de Rowling caíssem. Asérie também conquistou fãs adultos, fazendocom que, em muitos países, cada livro tivesseduas edições, assim como os audio-books, comtexto ou áudio idênticos, mas com capas dife-

rentes, uma delas direcionada a crianças e aoutra, a adultos.

Para a estudante de jornalismo Chayen-ne Cardoso, “os livros da série Harry Potter

foram fundamentais na minha vida, pois eu ti-nha grande dificuldade com português e com asleituras fui superando minha dislexia. E hoje amoler, amo o português e escolhi como futura pro-fissão jornalismo”.

O mundo da ficção encanta não só crianças,mas também adultos e, se antes as grandes his-tórias eram Senhor dos Anéis e Star Wars, hojeHarry Potter aponta como um grande sucesso,pois o mundo da ficção encanta as pessoas poisnele podemos “ser o que você não pode ser. En-tramos no mundo da leitura e realmente mergu-lhamos nas histórias, assim nos identificandocom os personagens e sofrendo junto deles”.Chayenne Cardoso.

Os Filmes

A obra de J.K. Rowling foi transformada em8 filmes, sendo que o último livro foi dividido emduas partes.

Os jogos

Os livros de Harry Potter originaram 5 videogames, além de aplicativos para iPods.

Conheça Game ofThrones

O série de livros As Crônicas do Gelo e do Fo-go do norte-americano George R. R. Martin teveseu primeiro volume lançado em 1991. Desdeentão, a série épica tem ganhado força e con-quistado fãs em todo o mundo. O que seria uma

trilogia, passou para cinco livros com mais doisconfirmados, dentre estes, três traduzidos pa-ra português.

No início deste ano, a série literária passoupara a TV (HBO) no formato de seriado com 10episódios. O seriado Game of Thrones conseguiusintetizar muito bem o livro de Martin, principal-mente no ponto chave que da narrativa, que sãoos vários pontos de vista que expostos na tra-ma. O seriado também conseguiu amenizar umproblema nítido na literatura de Martin, a des-crição do continente fictício em que se passa atrama, Westeros.

A universo fictício sofreu inspiração das so-ciedades feudais da Europa medieval, e contacom várias pitadas de magia e mitologias quetornam a história mais interessante. Westerostem sete reinos, que obedecem a coroa de King’sLanding, que é um antro de intrigas e traiçõespor poder. Ao extremo norte de Westeros en-contra-se a muralha que é protegida pela Night’sWatch, que tem o dever de impedir tudo quetentar passar a muralha, inclusive os White Wal-kers, um povo primitivo com poderes sobrena-turais. O continente fictício não tem estações doano regulares, o último verão dura nove anos eo inverno está chegando.

O sexto e sétimo livros da série ainda nãotem data marcada para estréia, a segunda tem-porada de Game of Thrones está sendo gravadae deve estrear entre março e maio de 2012. Oseriado pretende englobar um livro por tempo-rada. Os fãs aguardam ansiosos o desenrolar datrama que não era tão bem aceita pelo públicodesde que Bilbo Bolseiro encontrou o anel. ■

Nem só crianças gostam de Harry Potter

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26 Dezembro de 2011

Cheios de GraçaUma pitada de bom humor, uma de dom, uma de vontade e outra de amor pela arte.

Marcielle Martinsmarcijornal ista@hotmail .com

D entre outras opções profissionais, umatem um brilho mais reluzente e os indí-cios de um dom: a de ser artista!

Desbravar cidades com culturas diferentesparece uma tarefa simples e até pode ser... Masnão quando se decide viver e entrar de cabeçano mundo da arte independente.

Se alguns pensam que é impossível viver pe-lo amor, aqui se encontra a prova real disso.

O palco do uruguaio Andres Rivero pode serdebaixo de algum semáforo, no canteiro de umaavenida movimentada ou onde sentir vontadede parar e mostrar seus dotes.

Seus instrumentos de trabalho são uma cor-da para fazer equilibrismo e bolinhas para fazeros malabarismos. Seu público transita... Transi-ta por onde ele estiver.

Nas costas, o moço sorridente carrega umamochila com muita história para contar e um vi-olão, onde nas horas vagas, faz um som para de-sopilar. “Não nasci com dom para cantar, faço umsom pra curar meu estresse. Aqui do Brasil, eucurto muito Mamonas Assassinas e Cazuza, can-to todos os dias a canção ‘O tempo não para’, es-sa música é como se fosse um hino para mim”,diz Andres.

Cada apresentação dura o tempo em que oscarros param no semáforo. Quando ele passa ochapéu, alguns dão um dinheiro, outros acenamou dão um sorriso renovador.

E assim segue o dia do artista... Para ele, to-do o dia é dia de trabalho, não importa se é do-mingo ou mesmo se está chovendo, embora atristeza pareça tomar conta do sorriso largo douruguaio quando conta que domingo é o dia maistriste, porque é quando bate a saudade da famí-lia da cultura e das coisas que por lá deixou.

O amor pela arte de viajar e fazer arte na ruacomeçou aos 20 anos, quando Andres desistiude cursar Serviço Social na cidade onde nasceu,Montevidéu, Uruguai. Ao longo desses 13 anosde trabalho, percorreu Chile, Bolívia, Paraguai,Argentina e veio parar no Brasil, completandoum ano que está na cidade de Passo Fundo.

Mas a vida de artista não é feita só de aplausos,não. “Aqui no Rio Grande do Sul, as pessoas têm mui-to preconceito, algumas pessoas acham que o ar-tista rua trabalha para comprar drogas, mas não,eu trabalho para pagar R$ 524,00 de aluguel por

mês, mandar dinheiro para minha filha e comer”.Inquieto e feliz com tantas perguntas, o ar-

tista de despede e continua sua trajetória de ri-sos e malabarismos.

Aquarelas

Eliane Giollo parece fazer o lápis aquareláveldeslizar sem esforço no papel quando desenha ca-ricaturas, dona de um carisma invejável conta comorgulho que é de origem italiana e que nasceu nacidade de Vila Maria, RS. Formou-se em artes plás-ticas no ano de 1998 pela Universidade de PassoFundo. Logo após, trabalhou em um shopping da

cidade de Passo Fundo. Por causa da família, foiparar em São Paulo, logo conseguiu se entrosarcom o mundo da arte. Foi quando apareceu umaoportunidade que faria com que ficasse conheci-da como caricaturista. Na época, estava estreadoa peça “Os monólogos da vagina”, dirigida e adap-tada por Miguel Falabella. As atrizes da peça FafiSiqueira, Vera Setta e Tânia Alves pediram paraque a artista fizesse uma caricatura e entregas-se a elas. Eliane fez e entregou. Hoje, guarda o tra-balho em sua sala.

Para completar o reconhecimento, Elianeconta: “A cidade de São Paulo estava completan-do 450 anos e uma das pessoas que estava fa-zendo homenagem ao estado era o caricaturis-ta Paulo Caruso. Pedi para que me apresentassema ele. Foi quando Caruso ficou curioso pelo meutrabalho. Então deixei com ele uma caricatura doPelé para ele avaliar. Esperei um tempo, ele ava-liou e me escreveu uma carta, foi a partir daqui-lo que me senti consagrada”.

Depois disso, fez outros trabalhos em SãoPaulo. Voltou para o Rio Grande do Sul e hoje tra-balha na sala do mesmo shopping que trabalhouno começo de sua carreira.

Entre caricaturas de famosos, como PauloCoelho, Beatles, Michael Jackson, Amy Winehou-se, Cazuza, Bon Jovi, Renato Russo e outras, temuma que ela sente muito orgulho por sua origem:é a de Laura Pausini. A artista conta emociona-da que seu sonho é entregar a caricatura para acantora italiana.■

Andres ganha a vida fazendo malabarismo e equilibrismo na corda bamba

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AmyWinehouse na arte de Eliane Giollo

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27Dezembro de 2011

O Cinear-te está de voltaFi lmes com nova temática são exibidos no segundo semestre de 2011Martha [email protected]

N o segundo semestre desse ano, 29 deagosto, em Frederico Westphalen – RS,após a pausa de um semestre, iniciou-se mais um ciclo do Cinear-te. As exi-

bições deste ciclo serão Crash – No Limite(29/08) , Os Sonhadores (12/09) , Adeus, Lênin!(26/09) , Assassinos por Natureza (10/10) ,1984 (24/10) , Fahrenheit 451 (07/11) e Quan-to Vale ou é Por Quilo? (21/11) . O formato des-se ano modificou-se em relação ao ano passado.No último ciclo, os filmes haviam sido escolhi-dos em forma de ciclos temáticos de acordo coma nacionalidade e todas as obras eram exibidasem uma semana, com um filme para cada dia. Co-mo muitas pessoas não conseguiam ir todos osdias e gostariam de ver todos os filmes do ciclo,esse ano resolveu-se mudar o formato e fazeras exibições dos filmes a cada quinze dias, exi-bindo-os nas segundas-feiras. O que de fato, fezcrescer o público presente nas sessões.

O projeto surgiu em Junho de 2010, com umaproposta de projeto de extensão, sendo umaparceria da UFSM/Cesnors, URI e CAFW, e consis-te em exibir filmes no auditório da URI para a so-ciedade frederiquense. Os coordernadores e fun-dadores do Cinear-te são os professores dessas

três instituições, Cássio dos Santos Tomaim(UFSM/Cesnors) , Leonardo Rocha Botega (CAFW)e Ricardo André Ferreira Martins (URI/FW) , as-sim como alunos de Jornalismo e mestrado deLetras, que atuam como colaboradores.

Segundo Leonardo Botega, “o objetivo do pro-jeto não é apenas buscar o lazer e o conhecimen-to cinematográfico, mas também buscar a dis-cussão desses filmes”. Por isso, os filmesescolhidos não são os do cinema convencional esim filmes com uma temática cinematográficadiferente, como temas sociais e históricos. Elessão escolhidos em consenso nas reuniões doscoordenadores com os colaboradores. Os filmesdesse ciclo têm temática social. Um exemplo é

o filme Crash, que mostra o choque de culturasnos EUA e demonstra o retrato de uma socieda-de marcada pelo preconceito. O ciclo será fecha-do com Quanto Vale ou é Por Quilo?, a ser exibi-do em 21/11, um dia após o dia da consciêncianegra, já que a obra tem como temática a aboli-ção da escravatura.

No fim de cada sessão, algum aluno colabo-rador faz a explicação e contextualização rápi-da do filme e assim gera uma discussão entretodos, inclusive a plateia que permanece após aexibição, mais como um bate papo informal, nãocomo um evento acadêmico.

Um dos alunos colaboradores do Cinear-te,Alisson Machado, 22, estudante de Jornalismoda UFSM/Cesnors, se interessou pelo projeto porser também um espaço de diálogo e de troca depercepções a respeito dos filmes. Segundo ele,“o debate que acontece após a exibição do filmeé justamente para isso, para que possamos di-alogar e debater sobre eles”. Para participar doCinear-te, Alisson conversou com um dos profes-sores organizadores e começou a participar dasreuniões para decidir os temas dos ciclos, aju-dando também na escolha dos filmes. A estu-dante Manoella Fiebig, que costuma prestigiar oCinear-te, diz: “este projeto é importante paraincentivar a cultura na cidade”. ■

Público presente no filme Adeus, Lênin!

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HASTEFFENS

O debate queacontece

após a exibição do fi lme éjustamente para isso, paraque possamos dialogar e

debater sobre eles.

Alisson Machado

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28 Dezembro de 2011

Beleza ou imposição?Eis a questão!

Aila Wayhs Ferrari e Fernanda Puhlai la.ferrari@hotmail .com &fernanda_puhl@hotmail .com

N a era da informação, das extravagân-cias e dos padrões perfeitos, estar fo-ra de forma é uma grande preocupa-ção – especialmente para as mulheres.

Cada vez mais, busca-se, de todas as formas,atingir o peso ideal e o corpo escultural. Masmuitas vezes o que não é observado é o limitepara chegar aonde se quer, esquecendo a saú-de do corpo.

A determinação de padrões criados pela In-dústria Cultural estrutura estereótipos que sãoimplantados nas cabeças humanas e determi-nam que os desiguais devem se assemelhar. Oconvencionado é aceito com facilidade, mas

quem não se enquadra no perfil, sofre com asconsequências disso. A questão da fixação pe-la perda de peso e pela magreza, é um exemploclaro de como as influências ditadas exercempoder sobre as pessoas.

Henrique Dalla Costa, 20 anos, técnico emmeio ambiente, afirma: “em função da mídia, opadrão de beleza que se criou não é compatívelcom a genética do nosso corpo, pois cada regiãobrasileira tem características físicas diferentesdevido às descendências. Em cima desse padrãohá muito comércio, muitas vezes as pessoasnem se gostam, não se sentem bem, por que sesentem excluídas”.

Elisiane Alba, 20 anos, estudante, conta quedesde sua adolescência vem lutando consigomesma e até contra suas próprias vontades pa-

ra se enquadrar no padrão corporal dito perfei-to. “Lembro que eu era muito magra lá pelosmeus 15 anos, mas quando começava o progra-ma “Domingão do Faustão” eu ia na frente da te-levisão e via as dançarinas magrelas, com o cor-po perfeito, e achava que eu era muito diferentedelas, que sempre algo sobrava em mim, meachava gorda”.

Os pais da estudante não concordavam comsuas idéias de se auto-criticar e impor os seuspróprios limites para chegar à tão sonhada “di-tadura feminina da beleza”, mas a influênciamassiva falava mais alto ao seu pensamento.As dietas eram baseadas basicamente em su-cos e frutas; o pão e as carnes foram cortadosdas refeições. Todo dia, quando Elisiane saía decasa para sua rotina diária, passava por uma

A "beleza" começa com uma alimentação saudável, independente do seu peso se alimentar bem é importanteFO

TOFERN

ANDA

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29Dezembro de 2011

farmácia, a fim de averi-guar se o seu peso haviase modificado. Elisianenunca procurou ajudaespecializada, apenas dosamigos, que às vezes adeixavam mais triste.Agora que ela está maisocupada com os estudos,diz que se preocupa me-nos com sua aparência,mas até hoje mantémuma dieta rica em vitaminas e conta os pontos(calorias contidas em relação à quantidade quese pode comer diariamente) dos alimentos.

A farmacêutica M. C., 29, fala que existe umacultura de se pesar e querer emagrecer, e que amulher sempre deseja ter 2 kg a menos. “Masexiste uma diferença entre beleza e saúde: oideal é que se procure um médico, uma nutrici-onista e se faça uma academia, não apenas serecorra a chás e cremes, como algumas pesso-as fazem”, comenta.

O que é preocupante nestas situações, é aquestão: como fica a saúde de alguém que es-quece a boa al imentação em troca do peso ide-al? Juntamente com isso, podem vir doençascomo anorexia, que é caracterizada como umadisfunção ou trastorno al imentar que envolvecomponentes psicológicos, fisiológicos e so-ciais. Também, a bul imia é outra conseqüên-cia, onde o indivíduo induz o vômito ou a eva-cuação após comer, para evitar o aumento depeso. Ambas as doenças, no caso principal-mente de jovens, estão l igadas a problemasde auto-imagem, dificuldade de ser aceito pordeterminado grupo ou de l idar com sua sexu-al idade.

Psicólogos afirmam que a pressão culturalpor manter-se magro, seja apenas para atendera um padrão estético, ou pela exigência de cer-

tas profissões(moda, esportes) ,aliada à presençade uma baixa auto-estima, tornam oindivíduo maispropenso a desen-volver um quadrode anorexia ou bu-limia.

Entre todos osindivíduos huma-

nos, existe uma preocupação com a aparência,assim como uma preocupação com os alimentosem geral, o que, de certa forma, é normal. Mas,como destaca a Nutricionista Luciana Inês De-carli: “isto se torna um problema quando a pre-ocupação passa a ser exagerada, muitas vezestorna-se uma obsessão em diminuir o peso, oque pode evoluir para algum tipo de transtornoalimentar: disfunção de imagem corporal, ano-rexia ou bulimia”.

Mas ainda, apesardesta procura incessantepela “beleza”, um levan-tamento divulgado nomês de abril deste ano,pelo Ministério da Saúde,mostra que quase me-tade – 48,1% – da po-pulação brasileira adultaestá acima do peso ade-quado, e que 15% dosbrasileiros são obesos.Também, a pesquisa daVigilância de Fatores de Risco e Proteção paraDoenças Crônicas por Inquérito Telefônico, de Vi-gitel Brasil, em 2010, revelou que mais da me-tade – 51,1% – dos homens está acima do peso.

Rodrigo Soares, 23, radialista e atendentede loja, assume sua preocupação com o peso:

“me preocupo, mas por uma questão de saúde,tanto que estou no momento fazendo uma die-ta, acompanhada por uma nutricionista”.

Luciana ainda destaca: “Emagrecer com saú-de é o mesmo que se gostar, pois o indivíduo te-rá atitudes corretas. O que é preciso é ter umarelação boa com o alimento, nada de exageros,como medo de comer porque irá engordar. O ali-mento existe para esta finalidade, é o nossocombustível para nos manter vivos, só vai de-pender da quantidade a ser consumida”. Assim,se você se aceitar como é, terá o reconhecimen-to por parte dos demais, que também o aceita-rão.

Rodrigo ainda coloca que, se não tivesseproblemas de saúde devido ao seu peso, não sepreocuparia em fazer dieta, pois se sente mui-to bem com sua aparência e não está preocupa-do com padrões de beleza, e ainda, que não gos-taria de ser bem magro. O radialista e atendentede loja – que tem um metro e setenta e oitocentímetros, e pesa cento e quinze quilos –, com

estusiasmo, aindacompleta: “tenhoolhos azuis, às ve-zes verdes... sougordinho, mas sougente fina... “uou”,um beijo do gordo”.

Beleza é algorelativo, é singular.De nada adiantaestar dentro dopadrão e não sersaudável. A felici-

dade de cada indivíduo independe de magreza,gordura, altura, cor de pele, sexo, classe soci-al… o que realmente importa é se sentir bem emrelação a si mesmo, seja inserido no “imposto”padrão universal ou no seu próprio estilo depensamento. ■

Eu viaas dançarinasmagrelas doFaustão e meachava gorda.

Elisiane Alba

Sougordinho, mas

sou gente fina. . .uou, um bei jo do

gordo!

Rodrigo Soares

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30 Dezembro de 2011

João Marcelo Faxina e Luiz Fernando Barpjoaomarcelof@hotmail .com e lf.barp@hotmail .com

A ideia surgiu de Yolanda Domínguez,artista espanhola que desenvolve pro-jetos sobre assuntos de gênero quequestionam a posição da mulher no

mundo atual. Yolanda trabalha com o que é in-quietante e com situações perturbadoras aosespectadores e, através de estrategias de iro-nia e descontextualização, incita-os a participare a interferir em sua proposta.

Suas intervenções críticas são bastante co-nhecidas, e o vídeo “Poses” já possui quase meiomilhão de visualizações no Youtube. Nele, Yolan-da dá uma agulhada nas poses patéticas dasmodelos em editoriais de moda: seleciona pes-soas reais, nas ruas de Madrid, e sugere que imi-tem a pose das modelos nas fo-tografias de revistas. O resultadoé tragicômico: as modelos sesubmetem a poses bizarras e ab-surdas para serem fotografadaspelas lentes de fotógrafos reno-mados.

Meio Mundo entrou na onda erepetiu a provocação com seismulheres normais nas ruas deFrederico Westphalen.

JOÃO

MARC

ELOFA

XINA

SSttrr ii kkee aa ppoossee!!

O padrão de beleza dos dias de hoje é algo surreal , só quemvive de moda se sujeita a enquadrar-se nele. Claro, quem não

gostaria de ser magra e l inda como uma modelo? Mas creio que a busca pelabeleza não pode u ltrapassar certos l imites, senão vira algo doentio

Bruna Molena, 20 anos, estudante

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31Dezembro de 2011

JOÃO

MARC

ELOFA

XINA

Para assistir ao vídeo'Poses', de YolandaDomínguez, acesse:

www.youtube.com/watch?v=GPEcdcmnAA0

JOÃO

MARC

ELOFA

XINA

JOÃO

MARC

ELOFA

XINA

Vejo o trabalhodessas meninas

como "cruel ", pois além do corpomoldado conforme a exigência dasagências de moda, fazendo com que

pareçam uns "esqueletosambulantes", ainda precisam estard ispostas à toda e qualquer "pose"para vender o produto que mostram

Aglaé Panosso, 53 anos, assistente social

Hoje em dia o padrão de beleza é de guriasmagérrimas, e isso acaba influenciando-as para

conseguir ser ou ter algo

Caroline Scolari, 22 anos, estudante

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32 Dezembro de 2011

Acredito quecada pessoa

deva usar a moda da formaque se sinta mais

confortável , adaptá-las aoseu esti lo, pois não há como

negar que sofremosinfluência dela no nosso

modo de vestir.

Josefina Toniolo, 19 anos,estudante

JOÃO

MARC

ELOFA

XINA

LUIZ

FERN

ANDO

BARP

Beleza é fundamental , todas as pessoas corrematrás disso. Esse exagero é tanto que o bem-estare os verdadeiros prazeres da vida são esquecidos.

Rossana Enninger, 20 anos, estudante

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33Dezembro de 2011

Este editorial foi produzido com a participação voluntária de seis mulheres deFrederico Westphalen:

Aglé PanossoBruna Carla Molena

Camila Pil la de Azevedo SouzaCaroline ScolariJosefina TonioloRossana Enninger

Como cenário foram escolhidos ambientes do dia-a-dia dos frederiquenses,como supermercado, praça e restaurante, não envolvendo nenhuma produção

por parte das modelos.

JOÃO

MARC

ELOFA

XINA

É claro que eugostaria de ter

'tempo' para consumir moda, masenquanto a indústria se mantiver

focada nas el ites, o resto dosmortais, como eu, se viram com oque temos para hoje, jogando

entre peças de lojas dedepartamento, imitações made inparaguai de grifes francesas eachados de brechôs [.. .] Aperseguição da magreza, docorpo perfeito se tornou uma

obsessão de toda sociedade. Masninguém lembra que somos tãovítimas da genética como dasforças sociais. Este é o meubiotipo, esta é minha herançagenética, e por mais que euprocure levar uma vida mais

saudável , eu nunca vou ser umaGisele. E nem quero ser umaGisele, já sou uma Cami la, com

toda dor e del ícia de assim o ser

Camila Souza, 29 anos, estudante

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34 Dezembro de 2011

De bem com o corpoSaiba quais são os estágios e como os seus hábitos podem interferir na celu l ite

Mariane de Oliveiramarianedeol iveira@hotmail .com

M uitas mulheres ficam apavoradas aoperceber um furinho na coxa ou nobumbum. A celulite é uma inflamaçãodo tecido subcutâneo e resulta de um

acúmulo de gordura na hipoderme (camada maisprofunda da pele) , que provoca nódulos, devidoao crescimento exagerado de células de gordu-ra, que, por serem resistentes e flexíveis, po-dem crescer até 100 vezes mais do que seu ta-manho normal. Ela pode atingir tanto pessoasgordas como magras.

A celulite também pode aparecer por outrosmotivos: aumento de gordura associado a alte-rações hormonais, retenção de líquido, má ali-mentação, sedentarismo, envelhecimento fisio-lógico, desidratação, radicais livres, genética ebiotipo. Afetando cerca de 90% da populaçãofeminina, compromete principalmente coxas enádegas. Mesmo sendo uma infecção, por si só,inofensiva, pode ser classificada em quatro es-tágios, sendo o último considerado o mais grave.

A fisioterapeuta Taciana Tagliapietra, 31,explica que hoje existem muitos tratamentospara combater ou minimizar a celul ite, mas que,antes de partir para um deles, é de extremaimportância aval iar a paciente: “a aval iação é aprimeira coisa a ser feita, ver a questão da al i-mentação, da prática de atividade física, da in-gestão de água. Só depois dessa etapa se ava-l ia cl inicamente, para ver em que grau está eque tipo de celul ite é”, recomenda a fisiotera-peuta.

Há tratamentos diferenciados para cada ti-po de celul ite, desde a flácida até a que atingecamadas mais profundas da pele. “Um trata-mento estético mais simples contra a celul iteque possui fibroses em estado avançado nãofunciona. É preciso partir para um tratamentomais profundo, que se chama subcisão (proce-dimento cirúrgico real izado com anestesia lo-cal , em que uma agulha especial rompe as fi-bras e solta a pele) para soltar as fibroses eassim poder melhorar a aparência da pele”, ex-pl ica Tagliapietra.

A celulite grau 1, presente na maioria dasmulheres, não exige muita preocupação. A es-tudante Maíra Cardoso, 20, diz que não faz ne-nhum tratamento para combatê-las, pois não seincomoda com elas, já que só as percebe apal-pando a região em que se encontram.

Segu nd o Tagl iapietra, em Fred ericoWestphal en, contu d o, há u ma grand e procu-ra por tratamentos anti-cel u l ite. U m d os mais

u sad os é o M anthu s, para gord u ra l ocal izad ae cel u l ite, u m u l trassom q u e, j u nto a corren-tes estereod inâmicas, faz a q u ebra d a gord u-ra e a d renagem. Ou tro tratamento bastanteprocu rad o é a d renagem l infática, q u e u samovimentos su aves e ritmad os, rel axand o ocorpo e estimu l and o a circu l ação l infática. Seassociad a ao M anthu s ou a massagem esté-tica, a d renagem apresenta u m mel hor resu l-tad o. O tempo d e sessões d a d renagem é,normal mente, d e 35 minu tos, e o id eal é fa-zer a massagem d e d u as a três vezes por se-mana. Al ém d esses tratamentos, existemmu itos ou tros, como carboxiterapia, end er-mol ogia, mesoterapia, radiofreqüência, ultras-som e hidratação externa.

Para prevenir e combater a celul ite, é im-portante ter alguns cuidados com o corpo. Boadica é evitar al imentos ricos em açúcar e gor-dura, l ipídios, álcool , cafeína, sal , produtos in-dustrial izados e frituras. Outrasrecomendações: consumir frutas e legumes(que têm ação diurética e produzem colágeno– substância essencial para uma pele saudá-vel) , beber pelo menos um litro e meio de águaao longo do dia. Praticar exercícios físicos tam-bém auxil ia na circulação sanguínea e evita aretenção de líquido, diminuindo, assim, a chan-ce de a celul ite aparecer. ■

EE SS TTÁÁGG II OO 11: há um leve acúmulo degordura na região, que pode ser percebidoatravés da apalpação ou contração.

EE SS TTÁÁGG II OO 22: visível em algumas regiõescom maior acúmulo de gordura, semapalpação, já apresenta um certo grau defibroses (excesso de tecido cicatricial) ,mas não apresenta dor.

EE SS TTÁÁGG II OO 33: as células continuamaumentando de tamanho por causa docontínuo volume de gordura, deixando asuperfície da pele com aspecto de “cascade laranja”. O endurecimento do tecidogorduroso provoca uma maior deficiênciacirculatória e maior acúmulo de toxinascelulares. Neste estágio, a celulite podeser dolorosa quando pressionada.

EE SS TTÁÁGG II OO 44: o inchaço nas célulasgordurosas é acentuado, o tecido desustentação se torna mais endurecido(fibroesclerose) e a superfície da peleapresenta aspecto de “casca de nozes”.As pernas ficam pesadas, inchadas,doloridas e com sensação de cansaço.

A fisioterapeuta Taciana em sessão anti-celulite com uma paciente.

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MARIA

NEDE

OLIVE

IRA

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35Dezembro de 2011

Ergonomia: garantia debem-estar nas atividadesAmbientes adequados a cada pessoa garantem melhor rendimentoShana Rocha NazárioShana.nazario@hotmail .com

C ada pessoa possuiparticularidades físi-cas e, por isso, é im-portante um ambiente

de trabalho projetado espe-cialmente pensando nessascaracterísticas. A ergonomiaderiva do grego ergon (tra-balho) e nomos (normas, leis,regras) e trata-se de umadisciplina orientada a umamelhor interação das pessoascom os outros elementos ousistemas, com o objetivo demelhorar o bem estar humanona realização das atividades etambém nas horas de lazer.

Uma pessoa que trabalhaem um escritório, por exem-plo, deve ter uma mesa adap-tada para que não fique de-bruçada sobre ela e nemmuito abaixo, forçando osbraços para cima. A cadeiradeve ser regulada de acordo com a sua altura eter um encosto para as costas e braços de mo-do que fique confortável, sem sobrecarregar acoluna. São detalhes que parecem muito óbviose que no dia a dia passam despercebidos, mascausam dores e problemas no futuro.

A fisioterapeuta Mercedita Piana Marquardt,29, especialista em Podoposturologia (métodode correção de desequilíbrios corporais relacio-nados à postura e a disfunções ortopédicas) ,complementa que, além das medidas de cadei-ra, mesa e monitor, existe o fator luminosidade:“a luminosidade deve ser adequada também,pois isso pode fazer com que a pessoa altere suapostura para poder enxergar”. A Associação Bra-sileira de Normas e Técnicas (ABNT) enfatiza arelevância do conforto visual e sua influência naprodutividade e qualidade final do trabalho. Nanorma de 2004, é determinada a quantidade mí-nima de iluminação para cada tipo de atividade.Segundo a ABNT, “seguir esta normatização éapenas o primeiro passo para se ter um ambien-

te saudável neste sentido. Na sequência, devevir a preocupação com a localização dos postosde trabalho em relação às luminárias e janelas.Deve-se ainda estar atento às diferenças entrecolaboradores destros e canhotos que ocuparãoos postos”. A dica é consultar um engenheiro es-pecialista em segurança do trabalho. Marquardtainda cita como exemplo o filme Tempos Moder-nos (1936), do cineasta britânico Charlie Cha-plin, que retrata a questão de movimentos re-petitivos e fadiga muscular ocasionada por umafalta de estrutura planejada. Nesse filme, o ope-rário acaba enlouquecendo por ser submetidoao ritmo e velocidade nas funções (repetitivas)de uma linha de produção.

O stress do operário ilustra o que ocorrequando o trabalho não obedece aos princípiosda ergonomia, que serve justamente para me-lhorar essa relação do homem e máquina semprejudicar a produtividade.

“Os arquitetos possuem aulas de ergonomiae projetam ambientes ótimos, mas ainda é im-

portante que as pessoas criemhábitos saudáveis, pois nãoadianta ter um ambiente er-gonômico se a pessoa passaroito horas digitando, o nossocorpo necessita descansar, as-sim como fazer alongamentosdiariamente”, diz a fisiotera-peuta.

A questão da ergonomia naarquitetura é um item funda-mental para garantia do bem-estar em ambientes de traba-lho, o mobiliário deve ser espe-cificado considerando nãoapenas o papel estético, mastambém o funcional.

O arquiteto Moacir JuniorOrtiz, 26, fala sobre um proce-dimento padrão “para maioriados arquitetos, antes de proje-tar analisa-se a Norma Regula-mentadora 17 – NR17 (normaencontrada na legislação do Mi-nistério do Trabalho) que é es-pecifica para ergonomia”. Para

Ortiz, em todos os projetos o ambiente deve sermodelado com atenção à ergonomia e regras bá-sicas para o atendimento pleno da atividade de-sempenhada, levando em conta as característi-cas físicas de cada pessoa. O arquiteto ainda citaErnst Neufert (A arte de projetar em Arquitetu-ra, 1965) como um grande autor nessa área.

Algumas universidades adotam disciplinasespecíficas sobre ergonomia, o que é considera-do mais apropriado, oferecendo uma visão maisampla e histórica aos estudantes. Outras abor-dam o assunto em determinadas disciplinas deprojeto, incluindo a ergonomia diretamente naprática dos estudos.

A ergonomia é fundamental para o bem es-tar, conforto e saúde do nosso corpo, por issodevemos dar mais atenção às regras, e respei-tar nossas condições de trabalho, não exagerarem uma mesma posição e descansar nos horá-rios de intervalo. É uma atitude de prevenção quedevemos ter, porque com saúde, sabemos quenão se brinca e nem se descuida! ■

Fazer intervalos e se alongar é essencial para não sobrecarregar a coluna.

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SHAN

ANA

ZÁRIO

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36 Dezembro de 2011

O avanço das tecnologiasé um apelo irresistívelCada vez mais pessoas abandonam tecnologias ultrapassadas em favor de novidades

Joana Frota e Lara [email protected], lara.lfg@gmail .com

E m meio a tanta modernidade tecnológi-ca, ainda encontramos os amantes da an-tiguidade. Objetos antigos, mas que me-recem ser guardados por aqueles que

vivenciaram a época. Como eles mesmos dizem:dinheiro nenhum compra a experiência de ter vi-vido em tempos onde a tecnologia era rara, e épor isso que ainda se guardam aqueles toca-dis-cos dos anos 60.

Modernidade

Há pessoas que nem pensam em continuara usar coisas de tempos passados. É o caso dojovem designer Cilas Gimenez. Com 26 anos, elese declara amanta da tecnologia, e não sonhaem viver sem ela. Além de trabalhar diretamen-te com o computador, com os famosos PC’s, Ci-las util iza muito o smartphone. Realizar liga-ções, verificação de e-mails, faz pesquisasrápidas na internet. Ele também usa um note-book: um PC com menos desempenho, mas commobilidade.

Em relação ao que era “tecnologia” há 10 ou20 anos, Cilas é categórico:

— Tecnologia de antigamente é modestodemais. Não podemos comparar os equipamen-tos de hoje com os equipamentos que tínhamosno mercado há 20 atrás.

No entanto, Cilas admite que muitas coisasque usamos hoje, e são indispensáveis para onosso dia-a-dia, são herdadas de outras déca-das, como a geladeira e o forno micro-ondas.

— O que se vê de moderno são funções eaparências novas, mas o princípio que faz essese outros equipamentos funcionarem foram in-ventados a gerações atrás. No caso da informá-tica tudo que é feito - softwares, sites e siste-mas operacionais - se devem às linguagens deprogramação que foram criadas na década de60, ainda usadas para criar o que todos usamatualmente em celulares e computadores.

Com toda essa evolução, podemos perceberque o mercado da informática faz com que te-nhamos mais variedade no mercado por contada concorrência. Cada dia, novos produtos são

criados, com mais novidades e mais marcas apa-recem. Quem agradece é o consumidor, porquetem mais variedades no mercados, com preçosdiferentes, podendo optar na hora da escolha.Antigamente existia somente uma marca de vi-deogame e hoje o mercado oferece diversas mar-cas e modelos.

— Acho que a demanda acabou criando anecessidade de equipamentos com custos maisbaratos para ganharem mercado. Imagine ummercado onde não se tem concorrência: você fazum produto X com qualidade superior e vendeao preço que quiser. Mas, no momento que tiverde competir em preço, vai inicialmente baixarcustos de produção atingindo a qualidade doproduto.

Cada vez mais, a evolução da criança está li-gada à tecnologia e muitos jovens tornam-se es-cravos das máquinas. O que deveria ser algo be-

néfico torna-se ruim pela dependência que issocausa em algumas pessoas.

— Sim, algumas pessoas que não veem limi-te no uso da máquina. Se tornar escravo paratrabalho não é prejudicial, da mesma forma queum jogador de futebol é escravo da bola ou ummarceneiro é escravo do serrote. São ferramen-tas que você usa muito porque é o seu trabalho,mas usar esses itens para deixar de lado outrascoisas da vida já se torna prejudicial.

O aparelho eletrônico que há 5 anos era su-cesso, hoje já é ultrapassado perto da infinida-de de tecnologias: são celulares multifuncionais,MP3, iPad, iPhone, smartphone, notebook, net-book. Novidades tentadoras que encantam cri-anças, jovens, adultos e idosos.

O pequeno Lucas Barth, de 11 anos, já é fa-miliarizado com o computador desde os 2 anosde idade. Entende tudo de jogos, não importaem que língua esteja. “Quando aprendi a ler foia melhor coisa pra aprender a jogar, se era eminglês eu traduzia e aprendia. Até sei falar umascoisas em inglês só aprendendo nos jogos”, con-ta Lucas.

A mãe, Iara Barth, não vê essa paixão do fi-lho por computador como um ponto negativo.“Acho que isso não é prejudicial a ele, porque es-timula também o raciocínio, ao pensamento, àlógica. Ele também não deixa de brincar combrinquedos físicos”, explica Iara.

Android é um sistema operacionalpara dispositivos móveis, como celulares,smartphones e tablets, que tem comobase o núcleo do Linux. Talvez a maneiramais fácil de explicar, seja dizer que oAndroid é o Windows de alguns celulares

TECNOLOGIA ANDROID

Cilas também aderiu a tecnologia 3D, a tecnologia em três dimensões.

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JOAN

AFR

OTA

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37Dezembro de 2011

VIDEO-GAMESDO FUTURO

XBOXÉ a linha de videogames produzida

pela empresa estadunidense MicrosoftCorporation, em colaboração com Intel eNvidia. O Xbox foi desenvolvido paracompetir com o PlayStation 2 da Sony eGamecube da Nintendo como parte dasexta geração de consoles.

XBOX 360

É um console de jogos da sétimageração de consoles de videogamesproduzido pela Microsoft.

As características principais do Xbox360 são o seu serviço Xbox Live quepermite aos jogadores competir online,baixar jogos arcade, demos de jogos,trailers, shows de TV, música e filmes.

KINECT

permite que o usuário controle einteraja com o Xbox 360 sem anecessidade de um comando por umjoystick. Ao invés disso, são usadosgestos, sinais de voz e/ou objetos.

Ao chegar ao Brasil, o Kinect aindanão teve reconhecimento de voz (queidentifica a pessoa pela voz) emportuguês, "ele terá de ser atualizadocom o tempo", diz a Microsoft Brasil.

Os video-games que antes erammovidos a controles-remoto hoje foramsubstituidos pela tecnologia de sétimageração e usa-se o corpo. O que o usuárioprecisa fazer é pular, correr e agir comoestivesse dentro do jogo. Fonte:www.xbox.com.

A inda existem pessoas que gostam e pre-servam antiguidades. É o caso do professor

universitário Luís Fernando Rabello Borges. Co-nhecido pela sua vasta coleção de revistas, dis-cos e quadrinhos,

Para conseguir suas relíquias, Luis gastabastante dinheiro. Ele admite que ficaria milio-nário se vendesse seus itens, não pelo o que cus-tou na época, mas pelo o que valem.

— Se eu fosse somar tudo, ver o quanto eugastei com cada um, daria uma boa grana. Se eufosse vender pelo que re-almente vale, e não pelovalor que eu gastei (boaparte custou uma merre-ca) , eu ficaria milionário.Mas eu gosto desse mate-rial, acho legal, então nãovendo. A não ser que umdia eu precise desespera-damente de dinheiro.

Desde que foi lançado oCD, discute-se a diferençade qualidadde em relaçãoao LP, que teria muitosruídos e chiados. No entanto, muitas bandas ain-da estão lançando a versão do seu disco em LPde vinil, também. Mas, com evolução da tecno-logia no âmbito musical, a qualidade sonora dosdois se equivalem.

Para Luís Fernando, a exclusividade é outraquestão importante: o item único torna-se es-pecial.

— Eu acho melhor aquilo que não existe emoutro suporte. Discos que não foram digitaliza-dos, revistas que não foram escaneadas... As-sim como mp3 que nunca foram lançados sequerem CD.

Apesar do valor da obra como objeto único,mídias do passado hoje são digitalizadas, trans-formando-se em arquivos dentro do computa-dor. Além de facilitar o acesso, ocupa-se menosespaço físico, mas perde-se espaço dentro doHD. Luis Fernando afirma ter digitalizado discose fitas K7, e promete digitalizar as fitas VHSquando sobrar um tempo.

Para Luis, a maior vantagem da digitalizaçãoestá não na qualidade das mídias ou artigos, masno armazenamento, na forma como guardar to-das essas obras, já que só basta somente umbom disco rígido com bastante espaço.

— A maior vantagem é que hoje é mais fácilde armazenar as “tralhas”, pois conteúdos digi-talizados ocupam bem menos espaço. Mas pra

mim não há maiores problemas, pois sempre fuium cara organizado.

E diz-se organizado graças a todos os itensque guarda em sua casa.

— Aliás, é graças a essas “tralhas” que eusou assim, elas me obrigaram a isso. Do contrá-rio, minha casa seria uma verdadeira Ilha dasFlores de lixo cerebral.

Ser colecionador de relíquias muitas vezesé um hobby, aprecia-se tanto as antiguidadesque pretende-se guardá-las para mostrar aos

netos. É o caso de CirleiPereira, 55 anos. Ela elaainda guarda objetos an-tigos como lembrança dospais. “Tenho a máquina decostura da minha mãe,aquelas de pedalar. Atéuso às vezes, mas guardoporque tenho uma lem-brança dela trabalhandona máquina. E isso é gra-tificante”, lembra Cirlei.

Quando questionadase não acha ruim acumu-

lar coisas velhas, ela esclarece:— Muita gente já veio me dizer que estou

guardado velharia, que eu deveria me desfazerdessas coisas e adquirir coisas novas. Admiroquem consegue colocar fora o passado assim,eu não consigo. Não me imagino jogando forauma coisa que marcou minha infância e o conví-vio com a minha mãe que hoje não está mais aqui.

O que Cirlei conta é bastante comum. Algu-mas pessoas acabam se desfazendo de objetosque foram marcantes na sua vida, mas não achamisso ruim. Pelo contrário, acreditam que o me-lhor a fazer é dar a alguém para receber em tro-ca. Lígia Silva conta que são poucas as coisasque guarda.

— Praticamente não tenho nada hoje, dei tu-do, troquei, emprestei e não pedi de volta, eacredito na premissa de que “quando nos des-fazemos de algo, abrimos espaço para adquirir-mos novas coisas”.

Mas ela admira quem conserva relíquias:— Acho lindo objetos antigos, rádios, to-

ca-discos, até os móveis de uma casa antiga,cheguei a trocar alguns móveis novos de casapor armários antigos em um brechó. Os deta-lhes nas madeiras eram muito finos. Eu admi-ro isso e também, me encanta quem guarda re-líquias bonitas do tempo onde tecnologia eraalgo raro.■

...mas, relíquias aindaatraem colecionadores

Achopositivo

tudo aqui lo que mepossibi l ita consumirmais e gastar menos.

Luis Fernando R. Borges

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38 Dezembro de 2011

Novos costumesda nova infânciaMaurício Cattanimauricioecattani@gmail .com

A marelinha, escon-de-esconde, pe-ga-pega, pula-tábua, perna de

pau, peteca, carrinho derolimã, soltar pipa etantas outras brinca-deiras da cultura po-pular fizeram parteda infância demuitas pessoasnas décadas an-teriores, proporcio-nando a socializaçãocom os outros. Um pe-ríodo totalmente diferente do encontradohoje em dia. Naquela época, o que falava maisalto era a ousadia da criatividade para inven-tar os próprios brinquedos.

Emilia Tissiani, 67, viveu sua infância no interior do estado do Paranáe relembra como era suas brincadeiras quando tinha seus dez anos de ida-de: “eu adorava jogar peteca com meus irmãos, também cantávamos atétarde da noite quando a gente chegava do serviço”. Ela ainda conta quefazia seus próprios brinquedos, como a boneca de milho, onde quebravaa espiga de milho e com os “cabelinhos” do sabugo enrolava um pano emvolta. Além disso, fazia os itens de uma casa para a boneca, como a cama,mesa e cadeira, com os pedacinhos de madeira que encontrava no chão,dando a forma dos móveis que pretendia. Emilia revela que naquela épo-ca não tinha muito tempo de brincar, pois tinha que trabalhar na roça, mas

conta que quando dava uma folga no trabalho ia logo correndo pegar su-as bonecas “improvisadas”.

Nos dias de hoje isso está cada vez menos freqüente, como conta ogaroto Lucas Ambrós, de apenas oito anos de idade, que prefere jogar vi-deogame em vez de jogar bola com os colegas da escola, pois acha mais

divertido do que ficar na rua. Sua mãe Maria de Vargas Silva, 40, mo-radora do bairro Fátima de Frederico Westphalen diz: “gostaria quemeu filho fosse brincar com os outros colegas, mas ele prefere ficarem casa jogando videogame”.

Entretanto, tudo se transforma, provocando novos costumes des-ta nova infância que procura cada vez mais por dispositivos tecnoló-gicos como: celulares, videogames, computadores, brinquedos que“brincam sozinhos”. É a famosa “geração Z” ou também chamada denativos digitais, que são aquelas pessoas que nasceram a partir doano de 1993 até os dias atuais. Isso reflete di-retamente no comportamento de-las, que acabam deixando de lado

as ditas brincadeiras do “passado”.Como é o caso de Isabelle Vitória

com dois anos de idade, já mostra in-teresse em usar o computador, alémdisso, sua mãe Kelly Mafessoni, conta queela já consegue até mexer no celular reali-zando operações simples como de atendê-lo.

Essa nova geração já sofre em virtude de seu comportamento seden-tário. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatística) que indica que uma em cada três criançasde 5 a 9 anos está com excesso de peso. Mas o que importa daqui parafrente é que as crianças brinquem de forma que elas se sintam bem, po-rém sempre pensando em brincadeiras que possam ajudar no seu desen-volvimento físico como intelectual. ■

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39Dezembro de 2011

Entre as dificuldadese a paixão pelo futebolConheça a luta de um jovem time de futebol no interior do Rio Grande do SulRodolfo Sgorla da Silvarodolfosgdasi lva@gmail .com

L onge de um numeroso público, afastadode recursos milionários para investir esem camarote para assistir aos jogos deseu time no estádio. Na maior parte dos

casos, assim é a rotina de um presidente de ti-me de futebol do interior do estado. Não é dife-rente com Celson Oliveira, presidente do maisnovo clube de futebol do Rio Grande do Sul, oUnião Frederiquense.

Para o União, clube da cidade de FredericoWestphalen, região noroeste do estado, outrodesafio era enfrentar a desconfiança, resulta-do dos recentes seis meses de vida. O clube,fundado em três de agosto de 2010, disputousua primeira competição oficial, a Segunda Di-visão Gaúcha, no primeiro semestre deste ano.

— A maior dificuldade no interior do estadoé conseguir patrocínio. É difícil porque um clu-be no interior dá pouca visibil idade. No nossocaso era ainda pior, porque ninguém queria in-vestir, afinal não se sabia que resultado teria anossa ideia. O que não reprovo, afinal era arris-cado mesmo – pondera Oliveira.

Com os patrocínios, o clube somou 570 milreais. O passo seguinte foi contratar o treina-dor Rodrigo Bandeira, graças ao apoio de Gis-card Salton, diretor do Internacional de PortoAlegre mas natural de Frederico Westphalen.Bandeira, então, se tornou um parceiro da dire-ção. O técnico dava conselhos para administraro clube e era cartão de referência para contra-tar jogadores. Outra ajuda veio do Esporte Clu-be Itapagé, que cedeu gratuitamente o seu es-tádio.

O torcedor também foi fundamental para oUnião. Contrariando o argumento de clubes in-terioranos de poucos torcedores nos estádios,os frederiquenses deram ao União a segundamelhor média de público da Segundona. O sal-do das bilheterias permitiu ao clube investir nofutebol. De uma folha salarial de 38 mil reais nocomeço da competição, o União passou a gastar58 mil reais a partir da metade da segunda fase.

De acordo com o diretor financeiro ViniciusGirardi, o União gastou 5 mil reais além do quehavia arrecadado com os patrocínios. Girardi

também cita algumas alternativas encontradaspelo clube: “Decidimos terceirizar o setor de be-bidas, nos dias de jogos. Além disso, um dos pa-trocinadores, ao invés de pagar o clube, forne-cia alimentação para alguns jogadores”.

Se encontrar patrocinadores foi um desafio,a arbitragem também foi uma pedra nas chutei-ras do União. Torcedores da dupla Gre-Nal recla-mam de favorecimento na arbitragem para ti-mes do eixo Rio-São Paulo, clubes do interior doestado se queixam de que são prejudicadosquando enfrentam os grandes de Porto Alegre.Por sua vez, clubes tradicionais do interior são

beneficiados pela arbitragem quando enfren-tam os mais novos. Esse é o argumento de mui-tos torcedores do União, e com o qual Oliveiraconcorda: “A arbitragem errou muito contra nós.E na minha opinião, em alguns jogos fomos pre-judicados unicamente pelo fato de sermos umaequipe nova”.

Apesar de ser um time novo, não faltam tor-cedores apaixonados pelo tricolor do Médio Al-to Uruguai, como por exemplo o técnico bancá-rio Charles Scopel: “Eu auxiliei em ações demarketing e trabalhei com a imprensa nas par-tidas, mesmo não tendo cargo nenhum no time.Isso porque eu sempre gostei de futebol. Me ar-repio só de lembrar o estádio lotado em dias dejogos”.

A mistura de paixão dos torcedores com al-gumas dificuldades para administrar o time é ocontexto onde o União traça os seus desafiospara 2012. O clube vai montar um projeto paraa temporada do ano que vem, que está orçadaem um milhão de reais. Tudo para disputar a Se-gundona Gaúcha e a Copa Dra. Laci Ughini (anti-ga Copa FGF) , além de montar uma categoria. ■

Contra a tradição dos adversários, estádio lotado nos jogos em casa.

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FredericoWestphalen

UNIDA O União Frederiquenseagradece à torcida da cidadepelo apoio na campanha deestréia na Segundona gaúcha

Revista-laboratório do Curso de Jornalismo da UFSM · campus Frederico Westphalen número 4