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Tradução para português (de Portugal): Hugo Hoffman Revisão e Formatação: Hugo Hoffman Para Book 4 All

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Tradução para português (de Portugal): Hugo Hoffman

Revisão e Formatação: Hugo Hoffman

Para Book 4 All

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22 de Dezembro de 2011

Na cafeteria dum grande centro comercial de Madrid, Gema e Elena, duas boas

amigas, tomavam ao pequeno-almoço churros crocantes com café.

- A sério que a sonsa da administração meteu-se com o Jesús, o bonzão da

contabilidade?

- Digo-te. Confirmado – assentiu Gema.

Elena, depois de molhar um churro no café, deu-lhe uma mordida e sussurrou:

- Que cena!… Onde vamos chegar?

Riam e disfrutavam dos últimos cochichos do escritório, quando se aperceberam

que estava a ficar tarde. Chamaram o empregado e, depois de pagarem os seus

pequenos-almoços, encaminharam-se para a saída.

Era Natal. Uma época adorada por muitos, mas que Gema não gostava. Entristecia-

a demais. Sempre tinha acreditado na magia do Natal até que, no dia 18 de Dezembro

de há seis anos atrás, um acidente fatal levou o seu irmão e a sua cunhada e, no ano

seguinte, uma doença levou o seu pai. Isso tinha acabado com a magia e, em especial,

com as suas crenças.

- Ho, ho, ho! Feliz Natal! Uma ajuda para cumprir desejos natalícios?

Gema negou com a cabeça, mas ao ver a sua amiga abrir a carteira, decidiu imitá-

la. Depois de deitar alguns euros no mealheiro, este iluminou-se. Aquilo fê-las sorrir e o

enorme Pai Natal disse:

- Agora devem pedir um desejo de Natal.

As miúdas olharam-se e Elena, divertida, perguntou:

- Esta modalidade de pedir desejos é nova, certo?

O Pai Natal por sua vez assentiu e então Elena adicionou alegremente:

- Desejo um homem bonito, galã e com massa que fique louco por mim e queira

casar-se comigo no dia dos namorados, em Veneza.

Gema sorriu ao ouvi-la, e a amiga, encolhendo os ombros, exclamou:

- Olha, que não seja por não pedir! E olha… Há alguma coisa mais romântica do

que casar-se em Veneza no dia 14 de Fevereiro?

O suposto Pai Natal sorriu e, olhando para a outra jovem, perguntou-lhe:

- E o teu desejo, qual é?

- Saúde – disse suspirando.

- Pequena, a sério, és uma sonsa a pedir desejos – recriminou-a Elena, olhando-

a. – Pede algo que gostasses que acontecesse. E se não acreditas nos príncipes

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encantados e toda a sua parafernália, pede um lobo maciço, que ao menos te comerá

melhor.

Ainda que primeiro tenha ficado boquiaberta com o que a sua amiga acabava de

dizer diante daquele estranho, Gema começou a rir de imediato e repôs:

- Está bem, está bem… Desejo ver a minha mãe sorrir e que o meu sobrinho

esqueça as suas inseguranças. E olha, já agora, um lobo feroz.

O homem piscou-lhes o olho risonho e, antes de afastar-se dando uns saltos

cómicos, disse:

- Ho, ho, ho! Que a magia de Natal vos conceda os vossos desejos!

Meia hora depois, e já nos seus postos de trabalho, Gema, enquanto olhava pela

janela, queixou-se:

- Ai, Deus! Porquê? Porquê? Porque justamente hoje tem de estar a nevar?

Elena sorriu ao ouvi-la e deixando de lado uma carpete que levava na mão

aproximou-se da janela onde Gema, apoiada, olhava para o exterior e perguntou-lhe:

- Que esperavas, pequena? Estamos no Natal.

- Maldito Natal e maldita neve! Hoje não chego a minha casa, nem com mil

macacos. Já vais ver!

- Vá lá, vá lá… Rainha do drama, não exageres!

- Estou a falar a sério… Não sei conduzir, quando neva. Desajeitada como sou, de

certeza que me despisto.

Diante daquelas palavras e a cara simpática da sua amiga, Elena teve de sorrir. Se

alguém conhecia bem Gema, essa era ela. Trabalhavam juntas há mais de dez anos e

ambas se tinham contado as suas vidas de fio a pavio.

- Tranquiliza-te, mulher… Verás como logo deixará de nevar. Além do mais está a

chuviscar e quando isso acontece, a neve não coalha e…

- Não coalha, não coalha… Odeio o Natal! – Queixou-se Gema, sentando-se diante

da sua mesa.

Sem que pudesse evitá-lo, Elena suspirou e observando-a enquanto a outra

apanhava uns papéis, soube o porquê daquele mau humor. Nessa época do ano,

enquanto todos cantavam «Ay del chiquirritin!1», Gema revivia o drama acontecido

tempos atrás.

1 http://www.youtube.com/watch?v=Ne--VCZYpdQ – música espanhola de Natal

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Nos últimos anos, Elena tinha tentado que a sua amiga retomasse a sua vida. Mas

não era fácil. Da noite para o dia, tinham caído sobre a jovem centenas de obrigações

que se tinha empenhado a cumprir a cem por cento.

- Passa-me o contrato da tua direita, que arquivo-o – pediu-lhe Gema precisamente

no momento em que começou a soar a melodia Corazón latino2 no seu telemóvel. Era a

sua mãe – Olá mamã!

- Olá tia! Sou eu, David.

Ao reconhecer a voz do seu gracioso sobrinho de sete anos, sorriu e disse:

- Olá maestro Pokemón! Que se passa, querido?

O miúdo adorava que o chamasse assim.

- Tia, diz a vovó que te pergunte se quando vieres me levarás à papelaria de

Sagrario para dar a minha carta ao Pai Natal. Não quero que ele se esqueça de me trazer

o jogo da Play dos Pokémon e… e o cachorro.

- Fica sossegado, querido. O Pai Natal é muito astuto e de certeza que não se

esquece – sorriu Gema ao pensar que já tinha esse jogo guardado no seu armário. –

Quando ao do cachorro, o Pai Natal saberá se o traz ou não.

- Mas eu quero-o tia.

- Eu sei, céu… Eu sei.

David queria ter uma mascote há anos, mas Gema não podia dar-lhe esse capricho.

A sua mãe negava-se a andar na rua sozinha e o menino era muito pequeno para passear

um cão sem a companhia de um adulto e ela, com o seu trabalho e as centenas de

obrigações, não tinha tempo para se ocupar de um animal.

- Mas tia, vais levar-me à papelaria? – Insistiu o pequeno.

- Uf, céu! Com esta neve creio que vou demorar bastante. Além disso esta tarde

uns senhores têm de ir a casa e…

- Por favoooooooooooooooooooor tiaaaaaaaaaaaaaaaa. Por favoooooooor.

Ouvir a vozinha do seu sobrinho, a quem adorava, chegou-lhe ao coração. Desde

que o seu irmão Lolo morreu e ela tinha tomado as rédeas da vida do seu sobrinho,

sempre tinha tentado fazer o melhor por e para ele. Tinha passado de ser uma miúda

maluca que se divertia com as suas amigas a uma miúda responsável que tinha que

cuidar da sua mãe e de um menino introvertido e cm alguns problemas.

- Tentarei chegar cedoooooooooo.

2 http://www.youtube.com/watch?v=URyK9Gx4Abw – música de David Bisbal

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- Iupiiii! Adoro-te tia. És a melhor de todo o mundo. - Aquilo fê-la sorrir e depois

de ouvir o sonoro beijo que o seu sobrinho lhe enviou através do telefone, ouviu a voz

da sua mãe.

- Olá, vida. Quando saíres, vens direta para casa, certo?

- Tentarei, mamã. Tentarei – ofegou ao sentir-se pressionada.

- É que vi que começou a nevar e bom… Já sabes que fico angustiada por tudo. E

logo tem o menino, que quer ir ver o Pai Natal e…

- Não te preocupes, mamã; tentarei chegar a tempo – suspirou Gema -. Decerto

comeste algo e pedalaste na bicicleta?

- Não, tesouro. Já sabes que de manhã não me entra nada no estomago.

- Mas tem de comer de manhã. A médica disse-te claramente que para tomar a

medicação deves ter o estomago cheio. Por acaso esqueceste-te disso?

- Não, mas não me entra.

- Mamã, vamos lá – ofegou mal-humorada -, há duas coisas que tens de fazer. A

primeira é exercício, por isso comprei-te a bicicleta estática. O teu corpo precisa disse

e…

- Aiiiiiiii, minha vida! Não me agonies. E não comecemos com o de sempre.

- Mamãããããããã…

- Está bem, filha… Não fiques chata. Agora comerei um iogurtito ou algo assim e

pedalarei enquanto vejo a Ana rosa na televisão-

- Seria melhor que comesses uma sanduiche. Ouve o que digo.

- Olha não… Que até ao meio-dia tenho o estomago fechado – protestou a mulher

e tentou desviar o tema -. Por certo, acabo de telefonar ao ambulatório e pedi uma

consulta com a minha médica para amanhã de manhã, e na segunda com o calista…

- Com a médica? O que tens agora, mamã? – Suspirou Gema sem querer olhar

para Elena, que com certeza a observava com cara de reprovação.

- Estão a acabar-me as pastilhas e quero tê-las antes que fique sem nenhuma. Já

sabes que fico muito nervosa ao pensar que me acabam as pastilhas.

- Mas mamã – protestou Gema -, se ainda tens pastilhas para um mês.

- Um mês passa rápido – defendeu-se a mulher.

Gema quis gritar, quis dizer-lhe que precisava de espaço, que a deixasse respirar,

mas em vez disso murmurou:

- Ouve mamã: amanhã, que é sábado, tenho marcação na cabeleireira e…

- Aiiiiiiiii, vida…! – Interrompeu-a a mulher, alterada -, não me irrites que sabes

que rapidamente me dispara a tensão.

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- Mamãaaaaaaaaaaaaaa, não comeces com as tuas coiiiiiiiiiiiisas.

Mas, como sempre, depois de dizer aquilo ouviu-se um gemido lastimoso e, com

o coração em punho, Gema escutou:

- Não entendo porque te chateia tanto ter que me levar ao ambulatório quando

sabes que a única pessoa com que saio de casa à rua e vou no carro é contigo – soluçou

a mulher -. Não tenho mais ninguém. A quem vou eu pedir? Com quem vou sair à rua

senão é a minha filha?

Com resignação, Gema ouviu as desditas da sua mãe – algo que ouvia dia sim, dia

sim – e, depois de conseguir tranquiliza-la, antes de desligar, murmurou ante o sorriso

tonto da sua amiga Elena:

- De acordo, mamã… Levar-te-ei à médica. E à calista. Tranquila.

Sem perder um segundo, Elena, que tinha ouvido a conversa com cara de «outra

vez!», sibilou:

- Vamos… Vejo que a tua mami continua sem se dar conta que precisas de viver

a tua vida. Até quando vai durar isto? Até quando o vais permitir?

Gema não respondeu. Preferiu calar-se. Então, Elena, sentando-se na beira da

mesa, perguntou-lhe com astúcia:

- Por certo, Charo, Lorena e eu iremos no Natal e na Noite velha às festas do

Buddha, queres vir?

- Não. Cearei com a minha mãe, o meu sobrinho e os meus tios e não vou sair.

- Que grande plano! – Zombou a sua amiga ao ouvi-la. E ao ver que a outra não

se dava por achada, soltou: - Não me importunes, mulher! Como não vais vir? Vamos

todas as amigas juntas a um lugar cheio de bonitões famosos melhores do que tudo, e

tu não vens connosco?

- Não me apetece.

- Vá lá… Nisso tu não acreditas nem bêbada. Diz-me antes que não vens porque

te sentes na obrigação de não deixar sozinhos a tua mãe, o miúdo e aos teus tios. –

Gema não respondeu, e Elena prosseguiu - : Mas olha, vais dizer-me que ficar com o

Imserso3 na tua casa a jogar ao sete e meio ou à bisca dos cinco é melhor do que sair

connosco a festejar?

- Sim. A mim os bonitões famosos parecem-me homens insustentáveis. Vamos,

não podem trazer-me nada de bom, exceto problemas.

Incrédula por essa resposta, Elena gritou:

3 Instituto de Mayores y Servivios Sociales – Instituto para Idosos e Serviços Sociais

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- Ficaste maluca?

- Sim, rematadamente maluca, maluquíssima! Por certo, adoro jogar à bisca dos

cinco e à sueca com os do Imserso.

Com o cenho franzido, Elena levantou-se e voltou para o seu sítio. Uma vez ali,

apanhou uma caneta e, apontando a sua amiga, disse com afetação:

- Pequena, assumo. És um caso perdido. A rainha do drama! Perdeste a cabeça

com tantas responsabilidades e não a voltaste a recuperar. E não me interessa o que

digas. Não entendo! Não entendo que queiras perder um festão onde podes conhecer

homens interessantes que afaguem e te façam subir a moral.

Ao captar o dramatismo que destilava da voz da amiga, finalmente Gema, olhando-

a e sorrindo, murmurou:

- Vá lá, não fiques assim. Já sabes que não gosto dessas festas cheias de famosos.

Mas prometo sair com vocês na noite de Reis, está bem?

- Onde? O passeio para recolher caramelos com o teu sobrinho? Com um pouco

de sorte, Baltazar sentar-te-á nas suas pernas e dar-te-á açoites por seres uma menina

muito máááá.

Essa ocorrência fez com que ambas soltassem uma gargalhada e se sentissem já

mais tranquilas.

- Elena, não fiques assim – exortou-a Gema -. Quem sabe esta seja a minha vida

e não deva esperar nada mais.

- Não me digas palermices, pelo amor de Deuuus!

- A minha vida não é fácil, Elena. Já sabes que levo uma mochila às costas que

não estou disposta a deixar de atender por nenhum machoman, por muito bonito e

interessante que seja.

Elena pôs os olhos em branco.

- Olha, só te vou dizer uma coisa – disse. És jovem, bonita e estilosa, mas ainda

assim os homens interessantes, com substância ou sem ela, não vão ir a tua casa buscar-

te. Por isso, caso não ocorra um milagre ou esse machoman te saia num ovo Kinder,

não sei onde o vais encontrar.

- Está bem… Está bem… Acaba o filme que eu conheço-te – apressou-se a dizer

Gema sorrindo ao ver que a outra ia começar com a sua ladainha habitual. E para mudar

de assunto, acrescentou: – Por certo, sabes que hoje me vão dar um orçamento para

arranjar as portas de minha casa?

- Oh Deus! Que emocionante! – Zombou Elena enquanto começava a teclar no

computador.

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Às seis e meia, Gema, já no seu carro, circulava pela Castelhana Como era de

esperar havia muito tráfego e, por causa da neve, as pessoas iam aturdidas. Depois de

arrancar e travar várias vezes, optou por mudar de música. Meteu um CD de Chenoa e

pôs-se a cantar uma canção de que gostava.

Dibujo todo com color y siento nanananana

En mi corazón.

Ya nadie más puede pasar…

Dibujo cosas sin dolor y siento nananana sin

Ton ni son.

Que bueno es… sentirse bien

Y poder romper las rutinas que ciegan mi

Ser.4

A neve começou a cair de novo e Gema maldisse justo no momento em que o

semáforo passava para amarelo. Logo, vários carros que circulavam diante dela

chocaram e ela travou. Salvou-se do golpe. Mas ao olhar pelo espelho retrovisor intuiu

que o impressionante Porsche preto que tinha saltado, como ela, o semáforo amarelo,

não poderia travar. Assustada, agarrou-se com fora ao volante, tirou o pé do travou

como sempre tinha ouvido e esperou com os olhos fechados que aquele veículo lhe

batesse por trás- E assim foi. Zaaaaasssss! O seu carro deslocou-se uns metros depois

de um brusco golpe. Histérica e com as pulsações a mil, nem se moveu.

- Senhorita, está bem? – Ouviu segundos depois.

Como pode assentiu com a cabeça enquanto pensava: «Eu sabia… Sabia que o

raio da neve me ia lixar».

Quando o homem viu como ela sacudia a cabeça, tranquilizou-se, e depois de

respirar aliviado, disse movendo-se com celeridade:

- Dê-me um segundo que agora mesmo a tiro daí.

Ouviu-se um golpe seco ao abrir a porta com força, que tinha ficado travada. Em

seguida, Gema sentiu que as mãos fortes de alguém a agarravam para a tirar do carro.

As pessoas que havia ao redor se aglomerava, gritava, protestava e maldizia

enquanto ela, ainda assustada, se negava a abrir os olhos.

4 http://www.youtube.com/watch?v=QW4yFVU_X6U – “Rutinas” de Chenoa

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- Nicolay… Nicolay, estás bem? – Perguntou um homem aproximando-se do jovem

que tinha levado Gema em braços.

- Sim… Perfeitamente. E tu?

- Bem… Não te preocupes – respondeu, apurado.

Nicolay contemplou a jovem que tinha saído do carro e, enquanto tirava o abrigo

para o pôr a ela, disse ao outro:

- Chama o José. Diz-lhe o que nos aconteceu e que mande um carro para nos

buscar – indicou-lhe. – Ah, já agora, avisa o reboque. O carro, tal como ficou, não se

pode mover. – Depois de dar essas instruções, dirigiu-se a Gema: - Senhorita, olhe-me

e assim saberei que você está bem.

- Não posso.

- Porque não pode? – Perguntou surpreendido; com sotaque estrangeiro.

- Ai Deus…! – Gemeu a rapariga com os olhos fechados -. Acho que me entraram

vidros para os olhos. De certeza que vou ficar cegaaaaaaaaaaaaa. Mãezinha… Que

desgosto vou dar à minha mãe! Desta acusação não escapo!

Nicolay não queria sorrir, não era momento para isso, mas ao escutar o retalho de

coisas que dizia a jovem e contemplar os gestos que fazia com a boca e o nariz, não

pode evitá-lo. Olhou para o carro de onde a tinha tirado e, ao ver os vidros em perfeito

estado, aproximou-se mais dela e murmurou:

- Duvido que seja como você diz. Os vidros do carro estão intactos.

- A sério?

- Prometo-lhe, bombom. Abra os olhos.

Com cara de lamento, a jovem abriu primeiro um olho, e depois outro, mas em

vez de focar o seu olhar no homem que, abaixado em frente a ela, a observava, olhou

para o seu carro e exclamou:

- Ai deuuuuuuuuuuuus! Ai Deusssssssss! O meu pobre Arturo parece um acordeão.

E agora fico sem carro em plena época natalícia! Ai Deuuuuuus! Ainda por cima, hoje

não chegarei a tempo para que o meu sobrinho dê a sua carta ao Pai Natal. Porquê?

Porque tudo tem de me acontecer, a mim?

Nicolay entendeu que Arturo era o automóvel e indicou-lhe:

- Por isso não se preocupe. O carro é um bem material que se pode repor. O

importante é que não aconteceu nada a você.

Sem ouvi-lo, Gema levantou-se do chão e, depois de ver o Porsche preto

encachado por trás, disse:

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- Tudo culpa do imbecil do Porsche. Ele passou no semáforo que eu passei em

amarelo e por sua culpa agora estou assim, e Arturo pior. Uf! Estou um pouco enjoada.

- Não se mova, por favor – pediu-lhe o jovem, segurando-a -. O SAMUR5 já vem

até aqui e rapidamente a atenderão. E quanto ao imbecil do Porsche, talvez não tenha

tido tempo de travar. Por certo, chamo-me Nicolay. Como se chama você?

- Gema e, por favor, tratemo-nos por tu, que parece que estou no escritório a

falar com o esticadinho do meu chefe com tanto formalismo. – E levando as mãos à

cara, gemeu - : Ai Deuss!... Quando disser à minha mãe que não temos carro, vai-lhe

dar um piripeque.

Aquele comentário fez com que Nicolay sorrisse. Sem que pudesse evitá-lo

scaneou a jovem. O rabo-de-cavalo alto e ruivo deixava ver um bonito pescoço e os

olhos vivazes encantavam-no. Não era uma mulher espampanante, e ainda menos com

aquele traje azul, mas via-se que era bonita e a sua maneira de gesticular divertia-o.

Alheia o que o homem pensava, Gema olhou ao seu redor e grunhiu:

- Seguramente que o idiota do Porsche, ao que sairá dinheiro pelas orelhas,

amanhã mesmo tem outro carro de substituição esperando-o à porta da sua casa. A

diferença entre mim e ele, é que eu não tenho dinheiro para isso e… Onde está que lhe

vou dizer umas coisinhas?

Nicolay, que até ao momento tinha permanecido ao seu lado, pôs-se diante dela

e, sem dar-lhe tempo para que continuasse a procurar com o olhar, respondeu:

- Aqui me tens. Eu sou o imbecil do Porsche.

Nesse instante Gema sentiu que o sangue lhe gelava. Ela não era tão agressiva,

nem grossa. Levantando o olhar até o homem que tinha estado ao seu lado todo esse

tempo sentiu que ficava sem palavras. Era alto, olhos claros e… Onde tinha visto esse

rosto?

Mas soube-o rapidamente, quando vários dos condutores se aproximaram dele e,

um deles, enquanto os outros tiravam fotografias debaixo da neve com os telemóveis,

disse:

- Dar-me-ia um autógrafo, senhor Ratchenco?

Não podia acreditar que tivesse diante dela Nicolay Ratchenco, o menino bonito

da Liga espanhola, aquele a que chamavam o Lobo Feroz. Engoliu numa tentativa de

desfazer o nó de emoções que tinha ficado engasgado na garganta. O tipão que a olhava

5 Serviço de Assistência Médica (equivalente ao INEM em Portugal)

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com esses olhos claros era o mesmo que o seu sobrinho venerava e ao que via na

televisão dia sim, dia sim também.

O jovem jogador, com um incómodo sorriso, tirou uma caneta do bolso da camisa

caqui Ralph Lauren e começou a estampar a sua assinatura sem deixar de observar os

movimentos de Gema.

Ainda boquiaberta pelo efeito que lhe tinha causado que aquele tipo fosse

Ratchenco, afastou-se como pode do reboliço ao ver chegar a polícia e caminhou até o

seu carro. Observou-o com cara de horror e, sem que pudesse evitá-lo, pensou: «Ai

Arturo! O que te fizeram!»

O futebolista assinou autógrafos, sem muita vontade, durante uns minutos.

Apetecia-lhe prestar atenção à jovem pálida que, desesperada, olhava o seu carro e

gesticulava. Com a ajuda de vários polícias, conseguiu tirar-se de cima as pessoas, mas

logo ouviu uma voz a seu lado que lhe dizia:

- Acho que o mais sensato é que vás num táxi antes que chegue a imprensa. Eu

encarrego-me do carro e, por favor, coloca o abrigo ou adoecerás.

Nicolay sabia que o seu amigo tinha razão. O mais inteligente era abrigar-se e ir

embora desse lugar. Mas aquela miúda e a sua palidez atraíam-no como um íman. Por

isso, olhando-a, respondeu:

- Enrique, não irei embora sem solucionar antes o estrago que organizei.

O ruído de uma ambulância conseguiu que mais pessoas se amontoassem ao seu

redor. Enrique Sanz, amigo e representante de Nicolay, ao ver o alvoroço que estava a

originar a presença do futebolista ali, falou com os polícias e estes, dando-lhe uma mão,

começaram a retirar as pessoas para trás.

Nicolay, que nesse momento não se importava com nada, aproximou-se da jovem,

que com um gesto desconcertado tirava uns papéis da dianteira.

- Gema, quero que saibas que lamento o ocorrido - disse.

- Oh, sim! Não duvido – zombou ela.

- Estou a falar-te a sério, bombom.

- E eu também – E olhando-o com o cenho franzido, grunhiu: - E se me voltas a

chamar bombom, juro-te que engoles os dentes.

Assombrado por aquela ameaça, ia responder, mas ao ver que ela cravava os olhos

nele, calou-se, disposto a escutar.

- Olha, não me contes patetices que eu já tenho o suficiente com as minhas.

Preenchamos os papéis do seguro para que possa ir embora. Estou congelada e tenho

centenas de coisas para fazer e agora sem carro, graças a ti, tudo se complicará.

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Nicolay observou-a, surpreendido. Nenhuma mulher lhe falava assim. Pelo

contrário. Devido à sua condição, todas as fêmeas que se cruzavam no seu caminho

babavam por ele. Tal atitude chamou poderosamente a sua atenção.

- De acordo – respondeu. – Não voltarei a chamar-te bombom.

- Perfeito!

- E se me permites, faço um par de chamadas e antes de uma hora tens um carro

de substituição à tua porta até que consertem o teu. Não te preocupes com nada; eu

resolverei tudo.

«Eu resolverei tudo», repetiu ela mentalmente. Quanto tempo levava sem ouvir

isso?

A segurança que a sua voz transmitia e aquela maneira de olhá-la aqueceram

Gema até à alma. Nunca um homem tão bonito, e sobretudo tão desejado, lhe tinha

prestado a mínima atenção. E ali estava ela, junto ao homem fodidamente sexy por que

mais se suspirava em Espanha, calando-se debaixo da neve e com uma pinta que não

queria nem imaginar. Finalmente, repreendendo-se a si mesma por pensar no que não

devia, respondeu:

- Vamos lá ver, esclareçamos isto. Aceito as tuas desculpas; com certeza não

pretendias engavetar-te no meu pobre Arturo, mas foi isso que aconteceu e tenho de

aceitar! Não é preciso que faças nenhuma chamada, e menos ainda que mandes algum

carro à porta da minha casa. Só e exclusivamente necessito que preenchamos os papéis

do seguro para que me arranjem o carro e não me depenem.

Aquela resposta e a sinceridade do seu tom, fizeram-no sorrir, e sem dizer palavra

apertou-lhe o abrigo que lhe tinha deixado. Ficava-lhe enorme, mas estava muito frio e,

pela sua palidez, devia estar congelada. Depois desse gesto excessivamente íntimo,

Gema reparou que o futebolista estava em mangas de camisa e tentando desapertar o

que ele tinha apertado, indicou-lhe:

- Mas tu estás tonto. Anda, deixa-te de cavalheirismos e põe-te o abrigo. Vais

apanhar uma pneumonia.

- Não, por favor – insistiu ele com o seu sotaque russo -. Estás a tremer e é o

mínimo que posso fazer por ti.

Logo, uma estranha sensação atazanou a ambos no estomago. O que se passava

ali?

Nicolay estava disposto a alargar aquele momento com ela, por isso olhou ao redor

em busca de abrigo para tentar escapar do bulício e em especial de ser o centro dos

olhares de todos.

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- O que te parece se entramos nessa cafeteria e preenchamos os papéis? Convido-

te para um café, ou o que quiseres.

Gema, ainda tonta, olhou-o. Teria adorado entrar ali com ele e tomar um café, ou

inclusive vinte. Mas depois de olhar para a gente que se amontoava ao seu redor e os

sinalizava, respondeu com cara indiferente.

- Pois vai ser não.

- Não?

- Não – repetiu com a cara empapada pela neve -. Não quero nada de ti, exceto o

que te pedi, percebeste?

- Convido-te para jantar – insistiu ele. Gostava dos retos, e ela imediatamente

tinha-se convertido num.

- Não.

Boquiaberto pela segunda negativa, sorriu como só ele sabia que tinha que fazer

com as mulheres.

- Ninguém rejeita assim um convite. Pensa bem…, Gema.

Aquele comentário para ela teve graça e, depois de tirar os flocos de neve que

salpicavam a sua cara, respondeu:

-Olha, giraço, eu não janto com qualquer um, mas quem achas tu que és?

Aquela negativa fê-lo redobrar os esforços e fazendo uso de toda a sua galanteria,

murmurou aproximando-se dela:

- Mas eu não sou qualquer um. Eu…

- Ah, claro! – Respondeu, afastando-se dele. – Tu és Nicolay Ratchenco, alias Lobo

Feroz, um endeusado insubstancial que acredita que todas as mulheres devem cair

rendidas aos seus pés pela quantidade de zeros a seu favor que tem a conta corrente,

não é? – Surpreendido, não respondeu e ela prosseguiu: - Pois olha, chato… Lamento,

mas eu não sou nenhuma desamparada Capuchinho Vermelho. Sou loura, mas não

tonta, e também não sou uma caça-fortunas atontada que correrá desgrenhada para

jantar contigo. E sabes porquê? – Ele negou com a cabeça. – Porque tenho dignidade,

gosto de mim própria e o que ganho com o meu próprio trabalho chega-me e sobra-me

e…

- Quando te disse que não sou qualquer um, acho que não me entendeste – cortou,

chateado por como lhe falava. – Referia-me a que eu não sou um desconhecido, porque

sou o imbecil que passou o semáforo e deixei o teu Arturo como um acordeão. Ao menos

já sou alguém para ti.

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Gema, que esperava qualquer resposta menos aquela, sorriu e apoiando-se no seu

maltratado e enrugado carro, respondeu:

- Olha, nisso dou-te toda a razão. Tu…, sempre serás esse.

A sinceridade dela desconcertou-o, ainda que, de certo modo, também tivesse

gostado. E quando acreditou ter conseguido o efeito que pretendia, olhou-a e disse de

novo com o seu indiscutível sotaque russo:

- Deixa-me convidar-te para jantar.

- Nem sonhes.

Ele sorriu e, sem dar-se por vencido, voltou ao ataque:

- É Natal, bombom, e no Natal…

- Olha, Ratchenco – sussurrou ao mesmo tempo que as pernas lhe falhavam -, não

voltes a chamar-me bombom, e faz o favor de ter respeito pela minha pessoa. Não me

conheces para me chamares assim, e não gosto!

- Mas…

- Não há mas que cheguem – cortou, levando a mão à cabeça. Estava a ficar

ourada. – Preenchamos os papéis e… e… acabemos com isto de uma vez para que possa

ir-me embora.

- Estás bem? – Preocupou-se ele.

Gema olhou-o com intenção de assentir, mas sem aviso prévio e deslocando por

completo o jogador, pôs os olhos em branco e desmaiou. Nicolay colocou-a entre os

seus braços e gritando aos do SAMUR, que chegavam naquele momento, fê-los correr

até eles.

Com os olhos fechados, Gema notou como o calor regressava à sua cara. Começou

a mover lentamente a cabeça de um lado para o outro. Esticou os braços e as pernas;

parecia que levava séculos encolhida. Com parcimónia, abriu as pálpebras e os seus

claros olhos fixaram-se na lâmpada que luzia esplendorosa sobre ela. Surpresa, olhou

até um lado e os seus olhos enfrentaram um espaçoso quarto em tons de pêssego com

móveis claros e alegres.

Sem entender onde estava, sentou-se na cama de lençóis claros e revoltos e quase

gritou quando se viu vestida unicamente com um top rosa e umas cuecas.

Sem tempo a perder, saiu dos lençóis, pôs-se de pé e tapou-se com eles enquanto

ouvia o assobio de alguém e o som do duche.

A última coisa que recordava era o acidente com o carro. A neve. O bonito

futebolista famoso. Mas onde estava?

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Primeiro apoiou-se na parede e logo começou a caminhar até à janela. Quem sabe

aproximando-se do exterior entenderia o que fazia ali. Mas ao olhar e ver um amplo

jardim desconhecido para ela, murmurou:

- Onde raio estou eu?

- Boa tarde, bombom, disse alguém às suas costas.

Com rapidez, Gema deu a volta e a sua mandíbula desencaixou-se ao ver sair do

banho vestido unicamente com uma toalha branca amarrada à cintura de…, de… de…

Nicolay Ratchenco! O futebolista!

Viu caminhar com desenvoltura pelo quarto enquanto, sem palavras, observava

como as gotas do seu cabelo resvalavam pelas suas costas, até fundir-se com a toalha.

Sem saber o que dizer ou o que pensar, seguiu-o com o olhar, até que de repente viu

que tirava a toalha e ficava como Deus o pôs no mundo diante dela.

«Uau, que corpaço tem! Esses sim são uns oblíquos incríveis.»

Tão petrificada estava por aquela visão, que não se pode mover. Quase não podia

respirar, mas disfrutou do que lhe oferecia o futebolista sem nenhum pudor, tanto que

por momentos ficou com a boca seca.

- Querida – disse ele enquanto punha uns boxer pretos -, telefonei à tua mãe e

disse que chegaria um pouco mais tarde.

- A minha mãe?

- Sim.

- Telefonaste à minha mãe? – Perguntou de novo, perplexa.

Nicolay, depois de sorrir, aproximou-se dela, que recuou interpondo a cama entre

os dois.

- Sim – disse. Telefonei enquanto dormias. Pelos vistos saiu do ginásio e vai tomar

um café com a sua amiga Paqui.

Com a cabeça a mil, Gema pensou que devia de tratar-se de uma partida. A sua

mãe não costumava sair sozinha de casa se não estivesse com ela, a ainda menos iria

ao ginásio. Odiava fazer ginástica. Mas antes que pudesse responder-lhe aquele adónis,

cuja tablete de chocolate era da melhor qualidade, este saltou por cima da cama e,

encostando contra a parede, disse enquanto aproximava a sua boca perigosamente à

dela:

- Já te disse que hoje estás linda e apetecível?

E sem mais, beijou-a. Devorou-lhe a boca com tal veemência que Gema sentiu que

ia desmaiar. Durante uns segundos perdeu a noção do tempo. Nunca a tinham beijado

assim, ou melhor, nunca se tinha deixado beijar assim!

Page 17: Megan Maxwell - LLámame Bombón (B4A).pdf

Nicolay era pecaminoso, quente e isso excitou-a. Sabia que o que fazia não era

bom. Ela não era esse tipo de mulher. Mas o seu corpo, desejoso de ser explorado por

ele, simplesmente relaxou e disfrutou. Não obstante, quando o calor a ia fazer explodir,

deu-lhe tal empurrão que Nicolay caiu diretamente sobre a cama. A ele a situação devia

parecer-lhe divertida, porque sorriu e perguntou-lhe, olhando-a com desejo:

- Hoje levantaste-te brincalhona?

Assustada por como a olhava e pelo que aquele tórrido beijo a tinha feito sentir,

agarrou com a mão um porta-retratos e gritou, disposta a atirar-lho à cabeça e a resolver

aquilo.

- Posso saber o que faço eu aqui, meia despida, e porque me beijaste assim?

Surpreendido, Nicolay olhou-a e, deitando para trás o seu molhado e comprido

cabelo claro, murmurou enquanto recorria com deleite aquele corpo digno de adoração.

- O de meio despida, acho que o vou resolver agora mesmo, e, tranquiliza-te, vou

beijar-te ainda melhor. Anda aqui.

- Nem penses – sussurrou, olhando-o com uma cara furiosa.

Sem dar-lhe tempo de pensar, Nicolay levantou-se e de um puxão atraiu-a até ele.

Dois segundos depois, tinha-a deitada na cama à sua mercê. Faltava o ar a Gema. Mas

o que estava a fazer aquele louco? E sem pensar duas vezes, enquanto ele a beijava

com deleite o pescoço, abriu a boca e mordeu-lhe a orelha.

- Ahhhhhhhh!... – Gritou Nicolay.

A resposta foi imediata. O jovem parou e, saindo de cima dela, olhou-a chateado.

- Pode-se saber o que se passa? – Perguntou-lhe. – Foda-se, querida, mordeste-

me!

Gema, ao ver-se livre, levantou-se da cama, e então deu-se conta que ainda tinha

na mão o porta-retratos. Ia lançar-lho à cabeça, mas antes olhou para a fotografia e

ficou petrificada. Era de ela e Nicolay, beijando-se e vestidos de noivos!

- Oh, Deuuuuuuuuuus!... Oh, Deuuuusssssssssssss! – Gemeu, com os olhos como

pratos.

- Eu sei, céu… - eu sei – sorriu ele esquecendo-se da mordida. – Sempre gostaste

dessa foto da nossa boda, e cada vez que a vez, choras.

A ponto de um ataque de ansiedade, Gema ia a perguntar sobre aquilo de «nossa

boda!», quando logo se abriu a porta do dormitório e o seu sobrinho, David, aquele que

adorava acima de tudo, entrou correndo e gritando, atirando-se aos braços do

futebolista.

- Tio, tiooooooooo, vamos jogar futebol?

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Nicolay sorriu e concordou.

- Claro, mestre Pokemon. Estou à espera que a tua tia se centre, deixe de morder

e termine de vestir-se.

- A tia mordeu-te? – Perguntou a criança, alucinada.

- Sim, colega. Levantou-se com fome da sesta e quase me come – assentiu Nicolay,

fazendo rir o miúdo enquanto o deixava no chão.

Ver ao seu sobrinho com aquela expressão de felicidade e a bola debaixo do braço,

colocou o mundo de Gema de pernas para o ar. Desde quando é que o seu sobrinho

jogava futebol? Durante os últimos anos tinha tentado que o miúdo jogasse com ela a

outra coisa que não fosse as maquinetas e nunca tinha conseguido. Mas mais do que

isso, o que a surpreendeu foi que aquele anão inseguro se atirasse para os braços de

um desconhecido e o tivesse chamado de tio. O que estava acontecer ali? Decidida a

acabar com aquela loucura, aproximou-se do miúdo e pegou-lhe na mão.

- Vamos David. Regressemos a casa. Esta estúpida partida acabou-se.

- Partida? – Perguntaram em uníssono Nicolay e a criança.

- Mas bem, já basta! – Protestou Gema. E olhando ao seu redor gritou: - Onde

está a camara ocula? O que faz aqui o meu sobrinho? E o que é isso de te chamar tio?

- Tia, esta é a nossa casa e hoje temos uma festa de... Ui, tio, escapou-me! –

Disse de imediato a criança com cara de susto.

- Nossa casa? Festa? Tio!? – Gritou perdendo a paciência

Nicolay, com um sorriso que indicou à criança que não tinha importância, piscou-

lhe o olho, e voltando-se para a sua mulher amalucada, disse:

- Está bem, bombom. Apanhaste-me. Esta noite organizei uma festa para celebrar

que justamente hoje faz um ano que passei um semáforo amarelo, deixou como um

acordeão o teu Arturo e conhecemo-nos.

O quarto começou a dar voltas e Gema soltou a criança que rapidamente abrigou-

se junto a Nicolay. A jovem sentou-se sobra a enorme e fofa cama, debaixo do exame

atento do homem e da criança, que a olhavam assombrados. Um ano? Conheciam-se há

um ano e tinham-se casado? Levantou a mão direita e beliscou o braço esquerdo e

depois a cara, e inclusive puxou pelo cabelo. Necessitava de sentir dor para saber que

estava acordada.

Nicolay, preocupado pelas estranhas coisas que Gema fazia, aproximou-se dela e

tirou-lhe com mimo uma mecha da cara.

- Querida, estás doente? – Perguntou-lhe?

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Gema levantou a cabeça e olhou-o diretamente nos olhos. Como dia estar casada

com aquele homem e não recordar de nada? Era Nicolay Ratchenco. Um futebolista

russo, atraente e sexy. Finalmente, para que deixasse de olhá-la daquela maneira, a

jovem dedicou-lhe um sorriso e murmurou:

- Dói-me um pouco a cabeça- - E levantando-se da cama, sorriu também ao seu

sobrinho, que continuava de mão dada com Nicolay e disse: - Acho que vou tomar banho.

Com certeza um duche de certeza que me cairá bem.

Olhando ao redor, Gema viu quatro portas. Qual seria a do banho? Por fim optou

pela da direita, ainda que não chegasse a abri-la.

- Porque queres abrir a porta do armário? – Ouviu que dizia o sobrinho.

- Há algum problema que a abra? – Respondeu Gema, voltando-se para ele.

- Não tia, mas o duche é aqui.

E soltando-se da mão do futebolista, o miúdo foi até à porta do banho e abriu-a.

- Obrigada, espertinho – ofegou ela, caminhando até ali.

Nicolay, que observava a situação, sorriu. A sua vida tinha mudado gratamente

desde que Gema e a sua família tinham aparecido na sua vida. Ela, a sua mulher, era o

centro do seu mundo e vê-la sorrir era o que ele mais gostava. Por isso, e como já

conhecia as suas caras, ao advertir a cara com que olhava a criança, optou por apanhar

a criança entre os braços enquanto lhe dizia:

- Vamos, colega. Vamos dar uns toques na bola antes que comecem a chegar os

convidados. – E logo, olhando a sua mulher, acrescentou: - E tu, bombom, põe-te bonita,

ainda que mais do que já és, acho que será impossível.

Então, o futebolista deu-lhe um beijo suave à jovem, nos lábios e desapareceu do

quarto, deixando-a sozinha e terrivelmente desconcertada.

Dez minutos depois, e depois de um duche estupendo, Gema regressou de novo

ao quarto. Aquele quarto era digno de revista. Grande, espaçoso e decorado com gosto.

Atraída como um íman, aproximou-se até uma chaminé para observar as fotos que havia

na repisa. Aquelas fotos eram fotos dele e do futebolista em atitude carinhosa diante da

Torre Eiffel, o Big Ben e em Las Vegas. Havia inclusive fotos da sua mãe e do pequeno.

- Não posso acreditar – sussurrou, sentando-se na cama com um dos retratos na

mão. Tocou o telemóvel. Corazón latino. «O meu telemóvel», pensou e apanhou-o

rapidamente.

- Oláaaaaaaaaaaaaaaaa, pichorra, queria falar contigo.

Gema reconheceu-a imediatamente. Era a sua amiga Elena. Com certeza ela a

ajudaria a esclarecer tudo aquilo.

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- Elena… ouve, eu…

- Não, escuta-me tu a mim – interrompeu-a a outra -: se voltas a dizer ao idiota

do Luís onde estou, juro-te que não voltarei a falar-te pelo resto da vida. Disse-te que

não o quero voltar a ver. Que não o quero ouvir. Odeio-o. Ouviste-me. Odeio-o!

Surpreendida, Gema perguntou:

- Luis? Que Luis?

- Olha, linda, que ele seja tonto e, como diz a canção da grandíssima Jurado, “um

estúpido convencido”6, tudo bem… Mas que tu te faças de tonta, deixa-me sem palavras.

– E sem dar-lhe tempo para responder, prosseguiu: - Sabes que no outro dia cortei com

ele e não penso voltar a aproximar-me por muito que goste dele ou o necessite. Dá-me

igual se é o melhor amigo do teu maridito ou….

- Meu maridito?! Disseste maridito? – Gritou Gema.

Elena, um tanto perplexa, interrompeu a sua retaliação e afirmou:

- Sim, o teu maridito, ou seja, esse com quem te casaste há uns seis meses, que

está melhor que um Donuts bombom e que te tem nas palmas, conseguindo que todas

as tuas amigas, entre as quais me incluo, te odiemos cada dia mais.

Fechando os olhos, Gema gemeu. Mas o que estava a passar? O mundo tinha

ficado louco?

Elena, ao ouvir como a sua amiga murmurava através do telefone, perguntou-lhe:

- Pode-se saber o que te passa agora com tanto murmuro?

- Não sei quem sou…

- Sim, claro… e eu chamo-me Beyoncé – zombou…

- Não sei quem ele é… Não sei o que faço aqui…. Não recordo de ter-me casado

com ele.

- Como dizes!? – Gritou Elena.

- Que não me recordo de nada que não sejas tu, a minha mãe ou o meu sobrinho

– repetiu desesperada -. E… E estou aqui sentada num quarto fantástico recém-saída do

duche e não sei quem é o homem com quem supostamente estou casada. Oh Deus! Mas

quando é que eu me casei?

- Ui, pequena! Deste um golpe no duche?

- Não seeeeeeeeeeeeeeei!

- Deves ter dado, porque não recordar quem é o teu marido, tem delito! – Ironizou

-. Já quiseram muitas recordar o que tu não recordas.

6 Canção de Rocío Jurado “Ese hombre” http://www.youtube.com/watch?v=SlB5HSA5-Fc

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- O meu sobrinho abraça-o e chama-o tio – prosseguiu Gema sem escutá-la -. Vejo

fotos dele e de mim beijando-nos em centenas de sítios e não sei quando as tirei. Diz

que a minha mãe foi ao ginásio com a sua amiga Paqui, quando isso nunca ouvi falar

dela na sua vida, e agora tu, a minha amiga, a única pessoa que me pode ajudar a

entender o que está a acontecer, chama-me e confirma-me que estou casada com ele e

eu… eu… não recordo de nada!

Elena reagiu rapidamente e disse antes de desligar:

- Em meia hora estou em tua casa. E por favor, não digas a ninguém o que me

acabas de dizer a mim, ou vais direita para o Lopez Ibor7.

Depois de desligar, Gema suspirou. Ao menos alguém acudia em sua ajuda. Ao

sentir um calafrio, levantou-se da cama. Necessitava de se vestir. Olhou ao redor e viu

junto à porta do banho a porta do suposto armário. Sem vontade dirigiu-se a ela, e ao

abri-la, iluminou-se um quarto que a deixou sem fala.

Diante dela tinha o closet mais impressionante que nunca tinha visto. Era

igualzinho ao que Mr. Big encomendava para a Carrie Bradshaw no filme Sexo em Nova

Iorque. Branquinho, reluzente e todo ordenadinho. Sem que pudesse remediá-lo, entrou

e comprovou que à sua esquerda toda a roupa era de homem e à sua direita, de mulher.

Impressionada, tocou a tela das prendas até que chegou a um vestido de noite de cor

prata.

- Uau! Um Victorio e Lucchinoooooooooo! – Exclamou.

Durante um pouco disfrutou da visão daquelas maravilhosas vestimentas e, de

repente, os seus olhos deram com uns sapatos vermelhos de tacão alto; não altíssimo.

- Não pode ser…. Uns Manolos?

Apanhou-os e calçou-os. Era incrível que fossem o seu número. Pois claro,

supunha-se que eram seus, como não iam ser do seu número? Caminhou pelo closet e

sorriu ao comprovar o cómodos que eram aqueles fabulosos e caros sapatos; então a

sua vista cravou-se num vestido liso vermelho.

Cinco minutos depois, diante de um enorme espelho, gema olhava-se boquiaberta.

O vestido caía-lhe como uma luva e com aqueles sapatos o conjunto era um escândalo.

Logo, abriu-se a porta do quarto.

- Vida… já voltei – ouviu.

A sua mãe! Ela esclareceria toda aquela confusão. Tirou os sapatos com rapidez,

saiu do closet e, ao vê-la, ficou estatelada.

7 Instituição psiquiátrica, equivalente, em Portugal, ao Magalhães Lemos ou ao Júlio de Matos.

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- Mamã…? És tu…?

Uma mulher com a mesma cara que a sua mãe sorria-lhe vestida com um fato de

treino azul.

- Claro, vida! – Mas ao ver como a sua filha a olhava, levou as mãos à boca e

gritou, correndo até o espelho: - Ai, ai! Não me digas! Não me fica bem o que me fizeram

no cabeleireiro

- Mamã, o que aconteceu ao teu cabelo?

Em frente ao espelho, Soledad tocou-se com coqueteria e disse:

- Fui com a Conchita a…

- Conchita!? Quem é a Conchita?

Surpreendida por como a olhava, a mulher recordou que o seu neto lhe tinha dito

que a tia tinha-se levantado estranha.

- A rapariga que vocês contrataram para que me acompanhe – respondeu. E ao

ver que Gema nem balbuciava, continuou: - Pois como te dizia, fui com a Conchita ao

cabeleireiro e…

- Foste ao cabeleireiro sem mim? Desde quando? – Perguntou assombrada.

A mulher agarrou a sua filha pelo braço com amor. Beijou-a na bochecha e, depois

de admirar como ficava bem aquele vestido vermelho, murmurou com carinho:

- Eu sei, vida… Eu sei. Já sei que tu me levas encantada onde eu quiser, mas por

fim dei-me conta que mereces que não te agonies. Além disso, com Conchita gosto de

sair à rua, e vou muito segura no seu carro. Tão segura como contigo.

Tinha ficado atónita, e quando foi falar alguma coisa, a sua mãe adiantou-se:

- E ouve… Tenho inclusive de dizer-te que, às vezes, A Conchita começa a sobrar-

me. Conheci um par de amigas no ginásio e qualquer dia vou com elas para a farra.

Tal vivacidade inchou o coração de Gema. Aquela sim era a sua mãe. A mulher

que antigamente tinha conhecido. Não a mulher deprimida que a atazanava. Por isso,

foi incapaz de não sorrir e brincou:

- Tu, para a farra…? Mamãããã!

- Nem mamã, nem memé. Creio que já guardei luto suficiente pelo teu pai e graças

a Nicolay e às conversas que mantenho com ele, dei-me conta que a vida continua e eu

tenho de seguir em diante, por vocês e em especial pelo pequeno. – Gema estava tão

surpreendida que não podia nem falar -. Além do mais, Ágata, uma das amigas que

conheci no ginásio, convidou-me a ir com ela a Benidorm. É viúva como eu; tem um

apartamento ali e comentou comigo que passava muito bem de cada vez que ia. E olha…

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Acho que vou aceitar. David está bem aqui com vocês e quem sabe me possa escapar

uns diazitos.

- Adoro ver-te assim, mamã – assentiu emocionada.

- Ai, filha…! Desde que Nicolay apareceu nas nossas vidas, tudo mudou. Fico muito

feliz ao ver como esse rapaz gosta de ti e desvela-se por ti, como adora o David e como

respeita e cuida de mim. E quanto ao meu cabelo – disse ao comprovar que a sua filha

a observava -, animei-me e acabaram-se os brancos. Gostas?

- Estás estupenda. Pareces vinte anos mais nova.

- Ai, não sejas exagerada! – Riu a mulher. E vendo que não lhe tirava os olhos de

cima, perguntou-lhe: - Mas, vida, porque me olhas assim?

Sobrecarregada e emocionada por ver a sua mãe a sorrir como levava anos sem

fazer, abraçou-a; era incapaz de dizer-lhe o que lhe acontecia, assim comentou:

- É que fico muito feliz de ver-te assim, mamã. Adoro.

Durante um tempo, Soledade contou à filha centenas de coisas que esta escutou

com atenção. Falou-lhe de quão maravilhoso era Nicolay com a criança e o quanto se

preocupava com ele. Sem querer estragar esse momento tão especial, Gema só sorria.

Quando a sua mãe foi embora do quarto e ficou sozinha sentada sobre a cama,

não sabia se ria ou chorava. Qual era a sua vida? A de antes ou a de agora? Tentou

tranquilizar-se e centrar-se, mas durou pouco. A porta abriu-se de novo.

- Olá pequena! Já estou aqui. Vamos lá ver, o que se passa?

Com os olhos como pratos, Gema olhou a jovem que acabava de entrar e gritou:

- Elena!... Mas… mas… o que te aconteceu?

A sua amiga olhou-a surpreendida e correu até o espelho que tinha à sua direita.

- Não me chateies que já manchei o vestido. Se foi isso, sou a rainha das manchas

– disse. Mas ao olhar-se e ver que não tinha qualquer mancha, perguntou-lhe: - O que

acontece comigo?

Gema, engolindo saliva, indicou-a.

- Estás… Estás grávida?

Com carinho, Ele tocou a sua avultada barriga e, sorrindo, assentiu.

- Pois, sim, querida… De seis meses e duas semanas para ser mais exata. O que

se passa? Acabas de dar-te conta hoje?

Cada vez mais desconcertada, Gema sentou-se na cama e, tapando a cara,

murmurou:

- Meu Deus! Acho que estou a ficar louca…. Não disto pode ser real, ou pode?

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- Pois não é para chatear-te, mas tenho de dizer-te que isto está a acontecer, que

tu és real e que a minha gravidez também é.

-Mas como? Como podes estar grávida? – Perguntou com sorna Elena.

- Ai, não!

- Ouve… Se tu precisas – disse, fazendo-a rir -, não há problema! Rapidamente

ponho-te ao corrente e conto-te como o idiota do Luis conseguiu convencer-me a ter um

filho com ele e…

- Disseste-me que Luis era o melhor amigo de Nicolay, não?

- Sim, filha, sim. O seu melhor amigo, o seu companheiro de equipa e a minha

perdição.

- Ai Elena… Lamento muito!

Elena sorriu e, desconcertando-a, como sempre, afirmou:

- Eu não. Este bebé é uma criança muito desejada e estou convencida que me fará

muito feliz. E agora, vamos ver, conta-me o que te acontece e porque estás tão estranha.

Sem tempo a perder, Gema contou-lhe que a última coisa que recordava era a

manhã do pequeno-almoço no centro comercial onde tinham encontrado aquele Pai

Natal que concedia desejos e o acidente posterior com o carro.

- Pois, recordas, nem mais nem menos, o que aconteceu. Olha o que nos rimos tu

e eu quando me contaste que tinhas conhecido um tal Lobo Feroz e nos lembramos que

tinhas pedido ao Pai Natal um lobo, não um príncipe.

- É issooooooooooo!... – Assentiu Gema surpreendida. – Recordo isso.

- O que me parece muito forte é que não te lembres de mais nada.

- Pois é…. Eu estou a passar-me.

- A sério que não te lembras de nada deste último ano?

- Nada.

- Nem sequer os teus bons momentos com o teu maridito. Já sabes… Sexo, luxúria,

e desejo.

- Nada. Absolutamente nada.

- Não me gozes, pequena, que disseste-me mil vezes que este foi o melhor ano da

tua vida.

Aquilo fez Gema sorrir, que retirando o cabelo dos olhos, zombou:

- Não me digas isso. Que má sorte a minha! Acontece-me uma coisa boa e eu não

a recordo.

Ambas riram e Elena, sentando-se ao seu lado, comentou:

- Sabes o que me lembra isso que me contas?

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- O quê?

- Um filme que protagoniza Nicolas Cage.

Gema assentiu.

- Sim, Family Man, esse em que ele acorda numa família que não é a sua e vê o

diferente que poderia ser a sua vida se…

A porta abriu-se e apareceu o sobrinho de Gema. Estava lindíssimo vestido com

aquelas calças azul-marinho e aquela camisa de quadradinhos azulados. Os seus olhos

ficavam realçados e cheios de vida.

- Tia… Falta muito para desceres? – Perguntou o miúdo.

- Não querido. Vem e dá-me um beijo.

O pequeno correu até os seus braços e atirando-se sobre ela abraçou-a e beijou-

a. Aquela proximidade e o cheiro suave da sua pele tranquilizaram Gema e mais quando

a criança, ao separar-se dela, disse olhando as duas jovens:

- Vocês não sabem onde um dia destes o tio me vai levar? – Ao ver que ambas

esperavam uma resposta, gritou, abrindo os braços: - A jogar na casa de Iñaki e

Estefanía!

Gema não sabia quem eram de Iñaki e Estefanía, e olhando a Elena em busca de

uma resposta, esta disse:

- Oh! A casa dos filhos de Sergio Campos, companheiro de equipa de Nicolay e

Luis.

Gema assentiu. Agora já sabia de quem falavam.

- Isso é fantástico, querido. E a que vais jogar? – Disse, sorrindo.

- Não sei… Mas adora jogar com eles. Som muito enrolados.

Então, o miúdo baixou os braços e, tal como tinha entrado, saiu. Gema olhou a

sua amiga.

- Ai Deus! Como gosto de o ver tão feliz. O que aconteceu? O que aconteceu para

que David seja este aqui?

Elena, tentando compreender o que acontecia com a sua amiga, respondeu:

- Acho que David precisava de uma mudança- Recordo como era tímido há um

ano atrás, mas mulher, foi casar-te com Nicolay, mudar-te para esta casa e mudar de

colégio e o miúdo é outro.

- É que… É que se vê que está feliz.

- Bom… Desde o meu humilde ponto de vista, creio que Nicolay é o grande artífice

de tudo. Ele ocupa-se de levar-lho e trazer-lhe do colégio e isso parece que motivo David

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para tudo, inclusive para se relacionar com as pessoas. Pensa que antes ele só saía de

casa contigo. A tua mãe…

- Bom... Bom, a minha mãe… - riu Gema -, quando apareceu, fiquei sem palavras.

Viste de que cor pintou o cabelo?

- Não. Pintou o cabelo? – Perguntou surpreendida Elena.

- Já te digo… Preto… Preto… e está belíssima. E quando me contou que sai de

casa e vai ao ginásio e que até inclusive tem uma amiga que a convidou a ir de farra a

Benidorm…

- Olha, bombom… - zombou Elena – tenta recordar tudo de bom que foi a tua vida

desde que Nicolay entrou nela. É ele o verdadeiro artífice do que David e a tua mãe

estejam como estão. – Ao ver a sua cara de susto, prosseguiu: - Está bem… Não te

assustes. Eu estarei ao teu lado para tudo o que precises, e agora anda, desçamos para

a festa. De certeza que o teu belo marido está à tua espera.

- Ai Deus! Mas como vou eu poder… se… eu…

- Poderás. Anda, põe os Manolos vermelhos que compramos noutro dia para este

precioso vestido e baixemos.

Assombrada por Elena saber da existência dos Manolos, entrou no closet e, depois

de calçar os sapatos, saiu coma insegurança instalada na cara. Chegaram ao salão de

mãos dadas e ainda que Elena tentasse soltar-se quando vários amigos se aproximaram,

a outra não lhe permitiu. Depois de cumprimentar a várias pessoas a quem Gema não

recordava, Elena ficou tensa e murmurou:

- Anda, olha… Ali estão o teu maridito e o meu ex noivo.

Gema cravou o olhar no seu marido. Nicolay estava imponente com aquele traje

escuro e o seu cabelo louro caindo sobre os ombros. Era o homem que toda a mulher

queria para ela. Lindo, sexy, atraente e desportista.

- Minha mãe! – Sussurrou pasmada.

- Isso digo eu, minha mãe! – Assentiu Elena, repassando o seu ex de alto a baixo.

Mas virando-se para a sua amiga, perguntou: - A sério que não te lembras que esse

pedaço de mau caminho é o teu marido?

- Mesmo a sério.

Nicolay e Luis, ao reparar na sua presença. Sorriram, e depois de comentar algo

entre eles, caminharam até as jovens. Elena, ao ver que o seu ex se aproximava e que

a olhava com aqueles olhos que a deixavam KO, disse para surpresa de todos:

- Olha, Luis… Pela tua saúde, não te aproximes de mim, ou juro pelo que mais é

sagrado que…

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Não pode dizer mais nada, porque Luis tomou-a nos braços e beijou-a. Quando se

separou dela, declarou:

- Acabou-se. Quero-te e se tu queres que nos casemos em Veneza no dia dos

Namorados porque te parece romântico, ali nos casaremos.

Gema, boquiaberta, olhou para a sua amiga. Veneza e o Dia dos Namorados! Isso

também recordava e alegrou-se ao ver como Elena sorria com cara de tonta.

- Esse vestido fica-te maravilhosamente bem.

Aquela voz. Aquele sotaque. Aquela intimidade fez com que ficasse como um

tomate. Ele sorriu. Adorava ver como a sua mulherzinha, ainda tenta passado algum

tempo, continuasse a corar em algumas ocasiões quando se aproximava dela. E disposto

a ganhar um dos seus beijos, tomou-a pela cintura e sussurrou:

- Não vejo o momento de ficarmos só tu e eu, bombom.

Incapaz de respirar, Gema balbuciou e, depois de deixar-se beijar, algo que gostou

muito, perguntou:

- Porque te empenhas continuamente a chamar-me bombom?

Olhou-a, ufano, e sussurrou ao seu ouvido:

- Porque és doce, tentadora e tens um sabor maravilhoso. Além do mais, porque

sempre gostaste que te chamasse assim, esqueceste-te?

Ao sentir a rouquidão da sua voz e o seu olhar ardente, assentiu, e enquanto

notava que um estranho calor, chamado excitação, se apoderava dela, murmurou:

- Oh, sim!... Lembro-me.

A partir desse momento, Gema deixou-se levar e não foi difícil. Jantou rodeada da

sua família e amigos e todos pareciam estar felizes. Sentada junto a Nicolay, observou

que este se desvivia pelo seu sobrinho e fazia a sua mãe sorrir. Isso agradou-a, e gostou

ainda mais de ver que a olhava e que cada vez que se cruzava com ela a beijava com

amor.

Aquela noite, quando todos os convidados foram embora, Gema estava nervosa.

Estar a sós com Nicolay significava sexo e isso tinha-a em sobressalto. Quando ele entrou

no quarto, sentiu-se pequena, e quando ele a abraçou e a beijou, sentiu-se especial.

Incapaz de parar o arrebato de paixão que Nicolay lhe fazia sentir, decidiu não pensar e

disfrutar do momento. Ambos caíram sobre a cama e sorriram, e quando ela notou que

ele metia as mãos por baixo do vestido de cetim e o subia, acreditou que ia explodir.

Disposta a jogar, aproximou a sua boca da dele e mordeu-lhe o lábio inferior, algo que

o encantou. Quando as mãos dele chegaram até À tanga, de imediato ouviu-se uma voz:

- Tia… Tio… Vou vomitar.

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Ambos paralisaram e ao olhar até à porta, viram a criança ali parado e com a cara

com um tom verde. Sem tempo a perder, os dois levantaram-se e levaram-no até o

banheiro.

Logo que o menino vomitou, Nicolay telefonou ao médico de urgência e Gema pôs-

lhe o termómetro. Conhecia-o muito bem e sabia que o vómito era sempre acompanhado

de placas na garganta e febre. E assim foi. Depois de pôr-lhe várias vezes o termómetro

digital, este indicou que David tinha 39 de febre e o médico, depois de o visitar,

diagnosticou placas na garganta.

Às quatro da madrugada, após o médico se ter ido embora e depois de ter dado

Dalsy8 a David, os três descansavam sobre a enorme cama enquanto Nicolay contava ao

pequeno um conto sobre uma bruxa da sua terra chamada Matriuska.

- Mas tio, as bruxas são sempre más.

-Não necessariamente, maestro Pokémon – disse rindo o futebolista, o que fez

Gema sorrir -. Ninguém acredita na magia do Natal. Além do mais, se reparares,

Matriuska ainda que seja a bruxa do Natal, é boa. Ela ajuda a pequena Nadia a superar

os seus temores. Graças a ela, Nadia começa a ir ao colégio sem medo que ninguém a

chame de feia por ter o cabelo azul.

- É verdade… - E olhando com olhos sonolentos, o pequeno sussurrou: - Ela ajuda

a Nadia como tu me ajudaste a mim a não me preocupar por não poder correr tão

depressa como as outras crianças- E também me ajudaste a aprender a dar toques com

a bola.

- Claro – riu Nicolay divertido – E agora recordas o que tinha de pensar para

conseguir os propósitos?

A criança assentiu.

- Eu acredito e desejo-o. Eu acredito que vou conseguir.

- Exatamente – aplaudiu o futebolista.

Ao escutar aquilo, o coração de Gema encolheu. Esse era um tema tabu. David

sempre se tinha sentido inferior ao resto das crianças pela claudicação que lhe tinha

ficado como consequência do acidente que teve com os seus pais quando era bebé.

Nicolay, sem aperceber-se de que a ela se enchiam os olhos de lágrimas, prosseguiu:

- Recordo-te, mestre Pokémon, que tu me ajudaste a mim a conseguir um encontro

com a tua tia e a aprender a jogar na Playstation. – Surpreendida ao saber isso, Gema

sorriu e ele, depois de lhe piscar um olho, continuou: - Todos, sejamos grandes ou

8 Remédio infantil, em xarope, contendo ibuprofeno

Page 29: Megan Maxwell - LLámame Bombón (B4A).pdf

pequenos, temos a obrigação de ajudar a quem precisa. Tu precisavas de acreditar em

ti ara saber que podes fazer o mesmo que os outros meninos, e tu ajudaste-me a mim

no que eu precisava. Ou por acaso esqueceste que me chibaste o das flores naquele

dia?

- É verdade. A tia gosta de margaridas branquinhas – sorriu o pequeno, bocejando.

Dez minutos depois e depois de uma conversa em que Gema se limitou a escutar

o pequeno, este adormeceu e Nicolay viu-a bocejar. O futebolista, com carinho, pousou-

lhe uma mão sobre a cabeça e começou a massajar-lhe o couro cabeludo com

delicadeza.

- Oh Deus, adoro isso.

- Eu sei. Porque acreditas que o faço? – Disse ele, rindo. E vendo o seu gesto de

prazer, murmurou: - Tinha outros planos mais aprazíveis contigo, mas… com o pequeno

aqui…

- É melhor dormirmos – cortou, assustada, e aproximou-se do seu sobrinho.

- Sim… é o melhor, céus. Amanhã tenho um dia de loucos.

- O que acontece amanhã? – Perguntou-lhe e acalorou-se ao imaginar os planos

de Nicolay.

- Pela manhã tenho de ir com a equipa ao hospital La Milagrosa entregar presentes

às crianças, não te lembras?

- Ai, Deus, é verdade – mentiu ela.

- Às duas temos comida no clube e às cinco entrega de prémios das rochas.

Acredito que estarei aqui por volta das oito. Justo para o jantar de véspera de Natal.

- Amanhã é véspera de Natal?

- E vem o Pai Natal. Também esqueceste?

Ao ver o seu meloso e carinhoso sorriso, finalmente ela sorriu-

- Não, não me esqueci.

- Por certo, bombom. – Disse rindo em modo de provocação -, foste boa este ano?

Já sabes que o Pai Natal olha muito a isso antes de dar os presentes.

- Pois… Acredito que sim. Mas isso, mais do que eu, tens tu de dizer.

- Foste perfeita, meu amor – murmurou com o seu sotaque particular -. Perfeita.

Ela olhou-o e sorriu. E sem saber porquê, perguntou:

- Nicolay, és feliz?

O futebolista assentiu e beijou-a com o olhar de distância.

- Como nunca fui na minha vida, bombom.

- De verdade?

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- De verdade – afirmou ele. – Tu foste no ano passado o meu melhor presente te

Natal. E mais, sem ti a minha vida não teria sentido.

Com a ponta do cabelo por aquela resposta, Gema incorporou-se e aproximou-se

dele e beijou-o.

- Obrigada Nicolay – sussurrou.

Ele sorriu, e segundos depois, enquanto continuava ainda a olhá-la nos olhos,

adormeceu.

Na manhã seguinte, quando Gema acordou, estava sozinha na cama. Rapidamente

procurou uma bata ou algo para pôr-se, lavou os dentes, penteou-se e baixou à sala. Ao

entrar na sala viu o seu sobrinho deitado sobre uma almofada a jogar Playstation,

enquanto a sua mãe lia com tranquilidade um livro sentada no cadeirão.

Disfrutou da companhia deles num ambiente descontraído e quando chegou a

noite e Nicolay apareceu, surpreendeu-se ao ver que ela, gostosa, atirava-se nos seus

braços. Felizes e ditosos, os quatro disfrutaram dum maravilhoso jantar de véspera de

Natal. Soledad tinha-se preocupado em fazer o seu delicioso cordeiro e todos lamberam

os beiços.

Por volta das onze, convenceram David a que fosse para a cama. O Pai Natal podia

aparecer a qualquer momento e se o encontrava acordado, ia embora e não deixaria

presentes. Ao princípio a criança resistiu, mas finalmente Soledad, decidida a deixar a

sua filha e o seu genro sozinhos, apanhou-o em braços e levou-o. Quando se foram,

Nicolay olhou a sua preciosa mulher.

- Segue-me – disse-lhe.

Divertida, seguiu-o e ambos foram até à garagem. Ao acender a luz, Gema

surpreendeu-se ao ver um canto cheio de pacotes de cores vistosas e laços prateados.

- Não me digas que tudo isso é para o David? – Perguntou atónita.

Nicolay, feliz pelo afeto causado nela, beijou-a e respondeu:

- Para ele, para a minha maravilhosa sogra e para a minha preciosa mulher.

Logo, um ruido atraiu a atenção de Gema e Nicolay, com um sorriso de orelha a

orelha, abriu o todo terreno escuro e tirou de lá um cachorro terrier. Ao vê-lo, Gema

murmurou, emocionada:

- Oh Deus!... Quando o David o vir, vai dar-lhe alguma coisa. Durante toda a sua

vida quis ter um cãozinho.

- Eu sei, céu… Eu sei.

Sobrecarregada, acariciou o animal, que lhe lambeu as mãos em agradecimento a

que o mimasse.

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- Eu nunca lhe pude comprar um cachorro. Não tinha tempo para me ocupar de

mais um e…

- Chiuuuuuuuuuuuuuuu!... Não penses no passado, querida – sussurrou,

abraçando-a. – Pensa no presente. E o presente e o que importa é agora, de acordo?

Sorrindo pelo que ele dizia, assentiu. Nicolay tinha razão. Nesse momento

importava o presente e não queria pensar noutra coisa.

- Vamos – disse Nicolay ao notar que ela tinha arrepios – Levemos os presentes

para a sala para que, quando se levante o maestro Pokémon fique terrivelmente feliz.

- Acho que o mimas demasiado – comentou-lhe já carregada com os pacotes e

olhando-o.

Encantado e emocionado, Nicolay primeiro meteu o cãozinho dentro da sua caixa

e logo beijou-a.

- Adoro mimar-vos – disse.

Durante um par de horas os dois divertiram-se de lo lindo em el comedor,

colocando todos os pacotes para a manhã do dia seguinte. Havia presentes para todos,

e Gema surpreendeu-se ao ver a sua letra em alguns dos envoltórios. Depois de montar

a bicicleta de David e a gruta dos Gormiti, Gema comia um pedaço de torrão de

chocolate, quando Nicolay se inclinou sobre ela e a beijou.

- Hum… Sabes a doce! – Exclamou ele rindo e durante um pouco disfrutaram de

uma intimidade que queriam e necessitavam.

Quando o ambiente esquentou e desejaram fazer algo mais do que beijar-se com

paixão, Gema enroscou as suas pernas ao redor das ancas dele, e ele, divertido,

sussurrou:

- Senhora Ratchenco, Creio que chegou o momento de irmos para o nosso quarto,

ou não respondo por mim nem pelos meus atos.

Nicolay, levantando-se do solo com uma agilidade incrível com ela ao colo,

começou a subir as escadas entre beijos e risos. Uma vez que chegaram ao quarto,

Gema olhou-o nos olhos e, depois de lhe dar um beijo ardente, disse-lhe:

- Tenho de ir ao banheiro.

- Agora?!

- Sim, agora- afirmou ela rindo.

Sem querer soltá-la, passou-lhe a língua pelo pescoço.

- Acompanho-te?

- Nãoooo! Nem sonhes! – Responde entre mais risadas.

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Sem muita vontade, soltou-a e refastelou-se na cama enorme. Nicolay atirou para

trás o seu cabelo claro e murmurou com um sorriso perigoso:

- Não demores, bombom.

Ao perceber a sensualidade que transmitia o seu tom de voz e as suas palavras,

Gema lançou-se sobre ele e beijou-o como se a vida acabasse sem ele.

- Querida, antes que sintas falta de mim, já estarei aqui.

Depois de vários beijos quentes, ela escapou dos seus braços e afastou-se. Entrou

no banheiro espaçoso, fechou a porta e, com as pulsações a mil, disse a si mesma em

voz alta:

- Meu deus, como o desejo!

Estava nervosa, histérica, suada e excitada. Desejava fazer amor com o homem

que a fazia tão feliz e ia-o fazer. Não havia a menor dúvida. Ao deitar água na cara notou

uma pequena sacudida. Assustada, agarrou-se à bancada do banheiro. O que acontecia?

Dois segundos depois e um pouco temerosa, decidiu tomar um duche rápido. Isso ia

saber-lhe bem. Depois de tirar a camisola de Nicolay e cheirá-la, abriu a cabine e entrou.

Mas ao abrir o duche e sentir a água a cair sobre o seu rosto, de novo todo o seu corpo

estremeceu e….

- Senhorita, senhorita…. – Ouviu de imediato.

Tentou abrir os olhos, mas estes pareciam não querer responder. Sentiu frio, muito

frio, enquanto centenas de diminutas gotas caíam sobre a sua cara.

- Senhorita, pode ouvir-me?

Como pode, assentiu e segundos depois foi capaz de abrir os olhos. Mas a visão

surpreendeu-a. Quem eram aqueles homens de casaco amarelos que a observavam?

Aturdida e um pouco confundida, olhou à sua volta. Estava no interior do que parecia

uma ambulância, sobre uma maca, quando a última coisa que recordava era a casa de

banho de Nicolay. Nicolay! Onde estava ele?

- Está bem, senhorita? – Voltou a perguntar ao seu lado o rapaz da Samur que a

observava.

- Sim – assentiu. – O que se passou?

O jovem, depois de guardar vários aparelhos numa espécie de maleta, respondeu

enquanto o seu companheiro saía da ambulância:

- A neve originou um choque entre vários carros e você viajava num deles, lembra-

se?

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Nesse momento lembrou-se de tudo. Fechou os olhos com força, tentando

regressar ao lugar que desejava, mas ao abri-los comprovou que continuava ali. Tudo

tinha sido um sonho.

- Não se preocupe. A magia de Natal protegeu-a – brincou o da Samur.

- Sim, claro… Não duvido.

Uma voz atraiu o olhar do pessoal da Samur e o rapaz, depois de assentir com a

cabeça, olhou Gema e disse:

- Espere aqui uns minutos, volto em seguida.

Fechando os olhos, Gema suspirou com resignação, e pela primeira vez em muito

tempo, quis acreditar na magia de Natal. Com lágrimas nos olhos, recordou Nicolay, a

esse homem que nos seus sonhos a adorava e a tinha feito acreditar que existia um

mundo melhor para ela e a sua família. Contendo um soluço, tapou a cara e relembrou

o conto sobre a bruxa Matriuska que ele tinha contado ao seu sobrinho.

- Eu também acredito e desejo – sussurrou sem que pudesse impedir-se -. Eu

também acredito que vou conseguir.

E quando acreditava que a magia nunca regressaria, sentiu que alguém enredava

uma mão no seu cabelo.

- Eh… Olá! Estás melhor?

Essa voz. Esse sotaque. Esse cheiro. Esse tato. A ponto de enfartar, abriu os olhos.

Nicolay, o homem que no seu sonho era o homem ideal, estava ali, observando-a com

cara de preocupação. Quis gritar de satisfação. Quis gritar de gozo. O seu desejo de

Natal tinha-se tornado realidade. Incapaz de deixá-lo ir, Gema agarrou a mão dele e

murmurou:

- Sinto ter sinto tão rude contigo.

Olhou-a assombrado e tentou manter a formalidade da sua última conversa.

- Não foi nada, senhorita – respondeu o jogador -. Às vezes eu…

- Sim… Sim passa, às vezes sou excessivamente maldisposta e…

- A culpa foi minha.

- Chamas-te Nicolay, não é?

Ele sorriu e assentiu. Não entendia as mudanças de humor das mulheres e as

daquela em particular, desconcertavam-no. Mas algo nos seus olhos fê-lo intuir que

agora, nesse momento, olhava-o de outra forma.

- Sim e tu chamas-te Gema – respondeu.

Ambos sorriram e, de imediato, surpreendendo-se a si mesma, Gema murmurou:

- Gosto mais quando me chamas bombom.

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Então, o famoso futebolista soltou uma gargalhada e sentou-se ao seu lado e esse

foi o primeiro dia do resto das suas vidas.